O ALCANCE DAS TICs NA PRÁTICA PEDAGÓGICA
Rodrigo Rocha Ribeiro de Souza
Universidade Tuiuti do Paraná
[email protected]
Resumo:
Os avanços tecnológicos mudaram por completo as relações até hoje estabelecidas entre o ser
humano e o seu cotidiano. Esta reflexão objetiva discutir os avanços tecnológicos, em especial as
Tecnologias de Informação e Comunicação - TICs, cada vez mais freqüentes dentro da prática
pedagógica. O acesso a estas novas tecnologias é cada vez mais facilitado e hoje é difícil imaginar
qualquer atividade realizada sem elas. Atualmente, a popularização das TICs, do computador, da
Internet, das salas de multi-meios, laboratórios e das salas-ambiente nas escolas, vêm configurandose como um recurso poderoso no processo de ensino-aprendizagem, tendo-se a perspectiva de que
as novas tecnologias educacionais trarão mudanças ainda mais significativas às práticas
pedagógicas. O uso das TICs no incremento do trabalho pedagógico, é relevante na construção do
conhecimento, e deve ser utilizado como catalisador de mudanças do modelo educacional vigente,
reforçando um paradigma que promova a aprendizagem, ao invés do ensino, que coloque parte do
controle do processo nas mãos do aluno e que auxilie o professor a compreender que a educação é
um processo de edificação de conhecimento pelo aluno, como fruto de seu próprio engajamento
intelectual e não uma mera transferência de conteúdos. As TICs não podem ser somente mais um
elemento de apoio didático ao educador, mas auxiliar na caracterização de uma nova prática
pedagógica, ratificando a necessidade do professor adotar uma atitude para além do simples
transmissor do saber instituído. Não se trata apenas de seguir um novo procedimento ou uma nova
técnica de ensino, na qual tudo se altera de modo superficial, mas tudo continua idêntico na
essência. Estamos fazendo referência a novas estratégias e metodologias de investigação, de atuação
e de concepção, que induzem os educadores a interrogarem si mesmos, a sua prática e a sua escola,
o sistema educacional e a sociedade.
Palavras-chave: TICs, prática pedagógica, aprendizagem.
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Os avanços tecnológicos mudaram por completo as relações até hoje estabelecidas entre o
ser humano e o seu cotidiano.
Atualmente, a popularização das TICs, do computador, da Internet, das salas de multimeios1, laboratórios e das salas-ambiente2 nas escolas, vêm configurando-se como um recurso
poderoso no processo de ensino-aprendizagem, tendo-se a perspectiva de que as novas tecnologias
educacionais3 trarão mudanças ainda mais significativas às práticas pedagógicas
A revolução tecnológica possibilitou a uma geração de alunos utilizar-se de ambientes ricos
de multimídia4, com expectativas e visão de mundo distintas das gerações anteriores. A reflexão e
revisão das práticas educacionais, considerando a presença das TICs, é condição para que possamos
dar-lhes uma educação adequada.
Cabe-nos, inicialmente, apresentar alguns conceitos com os quais trabalharemos neste texto.
Usaremos a definição de Samuel Lago de conhecimento, que é compreendido como o ato pelo qual
alguém assimila um novo conceito, que pode conduzi-lo a novas formas de agir sobre o ambiente
externo ou mesmo sobre o próprio pensamento. (LAGO, 2004). Segundo Lago, a partir do
conhecimento, se estabelecem, as múltiplas possibilidades de ação no mundo: ações externas quanto
internas, objetivas e subjetivas.
Tecnologia, nesse contexto, é entendida como sendo um processo essencialmente humano e
intencional, com o qual se aplica um conhecimento sistematizado na solução de um problema
específico, o que ocasiona um melhoramento de resultados práticos na realização de determinada
tarefa ou trabalho (CORTELAZZO, 2005).
Tecnologias educacionais são compreendidas como práticas sistemáticas de planejar,
concretizar e avaliar o processo total de aprendizagem, com o emprego de uma combinação de
recursos humanos e não-humanos, a fim de produzir um ensino mais efetivo (PFROMM NETO,
2001 p.34).
Com relação à expressão informática na Educação, usaremos a definição dos pesquisadores
da Unicamp citados por Freire e Valente (2001,p. 31), qual seja:
[...] Informática na Educação significa a integração do computador no processo de
aprendizagem dos conteúdos curriculares de todos os níveis e modalidades de
1
Salas-Multimeios – salas de aulas em que há diversos meios como TV, áudio, videocassete, projetor de slides, etc.
Salas-Ambiente – salas que propiciam diferentes ambientes de acordo com a área de conhecimento que vai ser
abordado.
3 Tecnologias Educacionais - todos os recursos que permitem enriquecer a arte de ensinar.
4
Multimídia – tecnologia que permite a combinação de sons, gráficos, textos, animação e vídeo em um programa de
computador.
2
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educação. A informática na Educação de que estamos tratando enfatiza o fato de o
professor da disciplina curricular ter conhecimentos dos potenciais educacionais do
computador e ser capaz de alternar, adequadamente, atividades não informatizadas
de ensino-aprendizagem e atividades que usam o computador. No entanto, a
atividade de uso do computador pode ser feita tanto para continuar transmitindo a
informação para o aluno e, portanto, para reforçar o processo instrucionista de
ensino, quanto para criar condições para o aluno construir seu conhecimento em
ambientes de aprendizagem que incorporem o uso do computador.
Tecnologias de Informação e de Comunicação (TICs) podem ser definidas como tecnologias
e instrumentos usados para compartilhar, distribuir e reunir informação, bem como para comunicarse umas com as outras, individualmente ou em grupo, mediante o uso de computadores e redes de
computadores interconectados.
O uso das TICs no incremento do trabalho pedagógico, é relevante na construção do
conhecimento:
O uso das TICs no ambiente escolar como formas de mediação pode contribuir
para melhorar a aprendizagem devido a versatilidade de linguagens envolvidas.
Elas podem ser usadas para integrar vários conteúdos, ensinando, revisando,
corrigindo e reforçando conhecimentos, usando diferentes tipos de representações
que são trabalhadas por diferentes estilos de aprendizagem e diferentes talentos.
Isso porque revestem os processos educativos com movimentos, cores, sons,
emoções, relacionamentos com pessoas e dados concretos, além de permitirem que
a aprendizagem se constitua por meio de outras abordagens. (CORTELAZZO,
1996, p.57).
As transformações na sociedade com o uso das TICs são uma preocupação da Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO-BRASIL), que declara o
seguinte sobre as tecnologias para o desenvolvimento:
Uma das áreas de maior prioridade da UNESCO em Comunicação e Informação
(CI) é a promoção do uso de tecnologias de informação e comunicação (TICs) para
o desenvolvimento econômico e social. Os avanços tecnológicos em comunicação
e informação devem ser apropriados pela sociedade para facilitar a modernização
da gestão do Estado, a participação nas decisões e a inclusão social. Para atingir tal
fim, a UNESCO incentiva a capacitação para o uso responsável e eficiente de TICs
na administração pública, na oferta de serviços públicos e na formação continuada
de gestores e tomadores de decisão.(UNESCO-BRASIL, 2006).
O mesmo documento declara que as TICS na educação são:
A UNESCO confere alta prioridade ao uso das Tecnologias de Informação e
Comunicação para o desenvolvimento mais equitativo e pluralista da
educação.[...] As TICs são apenas uma parte de um contínuo de tecnologias, a
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começar pelo giz e os livros, todos podendo apoiar e enriquecer a aprendizagem.
Segundo, as TICs, como qualquer ferramenta, devem ser usadas e adaptadas para
servir a fins educacionais. Terceiro, várias questões éticas e legais, como as
vinculadas à propriedade do conhecimento, ao crescente tratamento da educação
como uma mercadoria, à globalização da educação face à diversidade cultural,
interferem no amplo uso das TICs na educação. Na busca de soluções a essas
questões, a UNESCO coopera com o Ministério da Educação nos projetos
Informática na Educação, com o objetivo de aplicar tecnologias de informação e
comunicação no processo ensino-aprendizagem, (UNESCO - BRASIL,2006).
Cabe salientar que ao falarmos em Educação, percebemos a Pedagogia a partir da visão
construcionista, apoiada no Construcionismo de Seymour Papert (1994), referindo-se a uma
proposta educacional cuja característica fundamental é o fato de analisar de perto a idéia de
construção mental, ponderando as construções já vigentes no mundo como base, e formulando
questões, ou seja, refletindo sobre o problema.
Papert propôs um conjunto de princípios norteadores que conduzem à aprendizagem, ou
seja, a arte de aprender, que ele denominou de Matética. Um destes princípios que promove e
clarifica a aprendizagem, reforça a importância de relacionar a atividade a ser aprendida com algo
que já se sabe, que é familiar. Outro princípio matético importante é tomar a coisa nova e torná-la
sua, fazendo algo com ela, construindo, brincando, explorando, desvendando-a, enfim tornando-a
própria. Mais um princípio matético relevante para o autor são as conexões, que permitem descobrir
a riqueza e a relação das coisas entre si, pois segundo o autor, a aprendizagem consiste em fazer
conexões entre entidades mentais já existentes com novas entidades mentais presentes em
configurações mais sutis que fogem do domínio consciente.
Difere da abordagem Instrucionista, precisamente por estimular a reflexão e a construção do
conhecimento pelos alunos, num ambiente de aprendizagem que os permita construir algo
significativo, de seu interesse e que propicie um ciclo reflexivo de aprendizagem. O prioritário é
instigar o aluno a desvendar por si mesmo o conhecimento que mais necessita, pois, para esse autor,
o tipo de conhecimento imprescindível é o que ajuda a obter mais conhecimento.
Por outro lado, a concepção instrucionista é fundamentada em procedimentos tradicionais de
seguir as instruções, que são comunicadas em um encadeamento pré-estabelecido, para que um
determinado fim seja alcançado.
O uso das TICs, em especial, na Educação, o computador tem-se fundamentado igualmente,
segundo estas duas concepções citadas acima, ou segundo Valente(1999):
O instrucionismo pode ser visto como a informatização dos métodos de ensino
tradicionais e o computador tem a função de "entregar" a informação: alguém
implementa no computador uma série de informações que devem ser passadas ao
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aluno na forma de um tutorial, exercício-e-prática ou jogo. Neste caso, o
computador é usado para passar informação para o aluno. Isto é feito como que se
o conhecimento fosse tijolos que devem ser justapostos e sobrepostos na
construção de uma parede. O computador tem a finalidade de facilitar a construção
desta "parede", fornecendo "tijolos" de tamanhos adequados, em pequenas doses e
de acordo com a capacidade individual de cada aluno. Já, no construcionismo, o
computador requer certas ações que são bastante efetivas no processo de
construção do conhecimento. Para "ensinar" o computador, o aluno deve utilizar
conteúdos e estratégias. No caso da resolução de um problema via computador o
aluno tem que combinar estes conteúdos e estratégias em um programa que resolve
este problema. A análise da tarefa de programar o computador tem permitido
identificar diversos passos que o usuário realiza e que são de extrema importância
na aquisição de novos conhecimentos (Valente, 1999, p.103).
Assim, a abordagem instrucionista, segundo Valente, é aquela que utiliza o computador para
fornecer instruções programadas e apresentadas por meio de etapas a serem percorridas de maneira
seqüencial, em ordem crescente de dificuldade. Consiste, portanto na mera informatização dos
métodos de ensino tradicionais, em que o professor é visto como o transmissor de informações.
Segundo as palavras de Valente (2001):
A abordagem que usa o computador, como meio para transmitir informação ao
aluno, mantém a prática pedagógica vigente na maioria das nossas escolas. Na
verdade, o computador está sendo usado para informatizar os processos de ensino
já existentes. (VALENTE, 2001, p. 32).
Na abordagem construcionista, as TICs são vistas como instrumentos de construção do
conhecimento, e as propostas educacionais necessitam ser diferenciadas, propiciando a construção
de ambientes de aprendizagem, com os quais o aluno pode acompanhar o percurso de suas
construções através de propostas e projetos significativos e interessantes. O professor, neste
contexto, deve modificar certas estruturas do processo educacional, sendo o mediador, não o centro
do processo de ensino-aprendizagem, estimulando os alunos para a criatividade, para a autonomia e
utilizando os conhecimentos dos alunos num espírito colaborativo, sobretudo, trocando experiências
e informações, refletindo, discutindo e expressando suas idéias.
A proeminência das TICs, em particular a do computador e Internet na vida quotidiana das
pessoas têm despertado especial interesse dos professores e educadores no sentido de construir e
empregar as múltiplas potencialidades desses recursos no trabalho pedagógico.
Este desafio tem gerado inúmeros projetos e produtos, e as mais diversificadas formas de
aplicação. Porém, a implementação de procedimentos para atender as nuances e complexidades no
cenário da educação brasileira não tem sido bem sucedida; e mesmo que as novas tecnologias
educacionais possam ser um poderoso instrumento de melhoria da educação, é possível que em
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muitas escolas, mesmo com os mais modernos equipamentos, os professores e educadores
continuem praticando uma pedagogia "senil", instrucionista, explorando as TICs, sem superar o
modelo tradicional de ensino.
Os computadores comumente são introduzidos nas escolas antes mesmo de se saber ao certo
como empregá-los sob a perspectiva construcionista, e como redimensionar a função do professor,
já que a adequada preparação dos educadores exige muito mais recursos e tempo do que a aquisição
e disponibilização de equipamentos. Neste sentido, muitos professores, na sua prática pedagógica,
fazem uso do computador como um mero instrumento tecnológico desvinculado do processo
educativo.
O computador pode vir a ser utilizado com a mesma finalidade limitada do caderno e do
quadro negro, e seus inúmeros recursos educacionais não são explorados a contento sendo, por
exemplo, sua utilidade restrita ao editor de textos e ao bloco de desenhos, tudo continua a ser como
está, e o computador passa a ser um recurso a mais do processo de transmissão da informação para
o aluno.
Porém, mesmo com o computador e a Internet aprender depende também do aluno, ou seja,
que ele esteja pronto, maduro para incorporar a real significação que essa informação tem para ele,
para incorporá-la vivencialmente, emocionalmente. Enquanto a informação não fizer parte do
contexto pessoal, intelectual e emocional, não se tornará verdadeiramente significativa; não será
aprendida verdadeiramente, não se tornará conhecimento.
O sucesso das TICs nas escolas está em dar livre-arbítrio aos alunos para que possam usá-la
como uma “ferramenta de aprendizagem”, e não de ensino, elegendo as informações de seu
interesse, no momento em que precisarem. Conseqüentemente, quando o aluno "ensina" o
computador, usando uma abordagem construcionista, o computador passa a ser uma máquina a ser
ensinada, propiciando condições ao aluno de construir o seu conhecimento e representar suas idéias.
O computador pode ser visto como uma ferramenta que permite ao aluno resolver problemas,
realizar tarefas, desenvolver hipóteses, testá-las, analisar resultados e refinar conceitos.
Nas palavras de Valente (1999):
O aprendizado de um determinado conceito deve ser construído pelo aluno por
meio do desenvolvimento de projetos que tenham um caráter interdisciplinar onde
o computador é usado como fonte de informação e recurso para resolução de
problemas, como propõe a abordagem construcionista. A implementação de
projetos propicia ao aluno a possibilidade de aprender a buscar as informações
necessárias para a implementação dos mesmos (aprender a aprender); de ser crítico
em relação aos resultados obtidos; de desenvolver a noção de depuração de idéias
como o motor propulsor da aprendizagem; e de estabelecer relações entre
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diferentes conteúdos disciplinares. O aluno acaba por adquirir habilidades e valores
da sociedade do conhecimento porque as vivencia e, não, porque elas são
transmitidas ao aluno.(VALENTE, 1999,p. 85 )
Verificam-se também, situações nas quais a escola, tentando se atualizar vem incorporando
ao seu cotidiano alguns elementos tecnológicos, que lhe dão uma aparência renovada. Porém o foco
não está na aprendizagem, mas na utilização de (equipamentos e softwares), priorizando-se o meio
em lugar do fim e atendendo apenas a metas quantitativas, sem distinção de uso quanto aos
fundamentos filosóficos e psicopedagógicos que o orienta, convertendo-se num “modismo
pedagógico”.
Ao serem introduzidas na escola, as tecnologias, precisam passar por uma adequação aos
propósitos educativos. Os professores devem ser capacitados a utilizar essas tecnologias de maneira
pedagógica inovadora e construcionista, pois a essência do trabalho escolar, na maioria das escolas,
ainda está centrada na ação do professor, na execução dos conteúdos que precisam ser cumpridos e
numa preocupação com os aspectos administrativos.
A importância da capacitação e reelaboração de sua prática pedagógica pelo trabalho
docente está embasada na afirmação contida no livro 1 da Coleção: Informática para a mudança na
Educação, do Programa Nacional de Informática na Educação – PROINFO (2000), que se refere a
uma transformação na atitude dos educadores e profissionais da educação, no sentido de dominar os
recursos tecnológicos, (re)significando as práticas educativas, elaborando projetos que integrem a
escola e seus participantes tendo as novas tecnologias como estruturantes desse processo,
significando a construção de novas educações.
A tecnologia na educação encontrará seu espaço, desde que haja uma mudança na
atitude dos professores, que devem passar por um trabalho de autovalorização,
enfatizando seu saber para que possam apropriar-se da tecnologia com o objetivo
de otimizar o processo de aprendizagem. A mudança de atitudes é uma condição
necessária, não só para os professores, como também para os diretores e demais
colaboradores, pos estes devem conceber a sua posição e a sua autoridade de forma
diferente – como agentes formadores, incentivadores, atuando, sobretudo como
mediadores do processo e co-participantes do trabalho escolar. [...] Para assumir
esta perspectiva em que a prática pedagógica com o uso das novas tecnologias é
concebida como um processo de reflexão-ação, o professor precisa ser capacitado
para dominar os recursos tecnológicos, elaborar atividades de aplicação desses
recursos escolhendo os mais adequados aos objetivos pedagógicos, analisar os
fundamentos dessa prática e as respectivas consequências produzidas em seus
alunos. (BRASIL, 2000 p.19 e 74).
1231
É necessário ainda, refletir sobre o uso das tecnologias na educação quando empregado de
forma lúdica para preencher um tempo ocioso, deste ou daquele professor e de sua classe. Nas
palavras de Samuel Pfromm Neto (2001):
O uso sistemático das TICs não se resumem a substituição do trabalho do professor
por um filme ou tempo no laboratório de informática. O trabalho precisa ser
minucioso e não admite improvisações ou adaptações ao acaso. Demandam
materiais e programas bem estruturados, sistemáticos, com informações
organizadas em seqüências apropriadas, com palavras e imagens cuidadosamente
selecionadas para facilitar a compreensão, a retenção e a execução dos
conhecimentos (PFROMM NETO, 2001, p.74).
Nesse modelo, as TICs poderiam ser as mais avançadas, mas a concepção pedagógica e a
metodologia de ensino permaneceriam no modelo tradicional da transmissão de conhecimentos;
podendo tornar o processo ainda menos producente, no sentido da aprendizagem, do que a aula
expositiva presencial, reforçando uma cultura escolar de passividade e reprodução, convertendo-se
em uma atividade parcial, simplificada, desarticulada e desvalorizada.
Sem perceber que o objetivo educacional, não é a reprodução de conteúdos, mas o desafio
dos questionamentos entre os alunos via problematização e não meramente a transmissão de
conteúdos pouco expressivos socialmente, a prática pedagógica, mesmo com os novos recursos
tecnológicos, se torna mera cópia de velhos hábitos existentes, transformando-se numa prática
pedagógica reprodutivista.
O trabalho docente deve combinar múltiplos aspectos, que vão do intelectual ao profissional,
passando pela ética, interdisciplinaridade, parceria, participação e trabalho de equipe, não se
limitando apenas ao domínio de conhecimentos específicos, impondo-se e para isso o
desenvolvimento da capacidade de reelaborar conhecimentos, uma vez que a atuação do pedagogo
não se restringe mais à sala de aula formal.
O professor necessita repensar sua ação e procurar novas maneiras de desempenho que
suplantem a idéia do conhecimento como fechado, acabado, reprodutivo e acrítico que assinalou sua
prática ao longo dos séculos, e converter-se em parceiro de seus alunos no processo de
aprendizagem onde os seus conhecimentos, tanto quanto dos alunos são trabalhados; e os alunos
igualmente, precisam ir além de uma atitude passiva de reprodução dos conhecimentos transmitidos
e dar início a sua auto-organização no processo de aprendizagem.
Por conseguinte, é essencial expor aos profissionais que atuam na administração escolar e
coordenação pedagógica a importância de integrar as tecnologias ao cotidiano escolar, a fim de que
ao agregar as TICs à rotina escolar, todos os participantes da sociedade – alunos, professores,
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gestores, funcionários e entorno da escola – possam usufruir dos benefícios, como inclusão digital e
acesso às novas tecnologias.
O valor das TICs na escola depende muito mais da preparação de professores, alunos e
comunidade para usá-la. Tem esse sentido o comentário de Paulo Freire (1995):
Penso que a educação não é redutível à técnica, mas não se faz educação sem ela.
Não é possível, ao meu ver, começar um novo século sem terminar este. Acho que
o uso de computadores no processo de ensino/aprendizagem, em lugar de reduzir,
pode expandir a capacidade crítica e criativa de nossos meninos e meninas.
Depende de quem o usa, a favor de quê e de quem, e para quê. Já colocamos o
essencial nas escolas; agora podemos pensar em colocar computadores. (FREIRE,
1995, p.98).
Valente (2003) comenta que a formação do professor para a incorporação da tecnologia
informatizada necessita abordar pelo menos quatro pontos, quais sejam:
1. Propiciar ao professor condições para entender o computador como uma nova
maneira de representar o conhecimento, provocando um redimensionamento dos
conceitos já conhecidos e possibilitando a busca e compreensão de novas idéias e
valores;
2. Propiciar ao professor a vivência de uma experiência que contextualiza o
conhecimento que ele constrói. É o contexto da escola e a prática dos professores
que determinam o que deve ser abordado nas atividades de formação;
3. Prover condições para o professor construir conhecimento sobre as técnicas
computacionais, entender como e porque integrar o computador em sua prática
pedagógica e ser capaz de superar barreiras de ordem administrativa e pedagógica.
4. Criar condições para que o professor saiba recontextualizar o que foi aprendido
e a experiência vivida durante a formação para a sua realidade de sala de aula,
compatibilizando as necessidades de seus alunos e os objetivos pedagógicos que se
dispõe a atingir. (VALENTE, 2003, p.2).
Neste sentido, o papel do professor, agora, é o de gerenciador do processo de aprendizagem,
é o coordenador do andamento, do ritmo adequado, o gestor das diferenças e das convergências.
Neste novo cotidiano escolar, permeado pelas novas tecnologias, o professor motiva, incentiva, dá
os primeiros passos para sensibilizar o aluno para o valor do que vai fazer. Isto demanda do
professor uma considerável transformação, não só nas suas práticas pedagógicas, mas ao mesmo
tempo em termos de valores, atitudes, capacidade, identidade e projetos. O aluno motivado e com
participação ativa avança ainda mais, facilitando a prática escolar. Professores e alunos, ambos
sujeitos de aprendizagem, podem agir em companhia na investigação, seleção e articulação entre
elementos expressivos para integrá-los com conhecimentos já adquiridos na construção ou
reconstrução de novos saberes.
As TICs não podem ser somente mais um elemento de apoio didático ao educador, mas
auxiliar na caracterização de uma nova prática pedagógica, ratificando a necessidade do professor
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adotar uma atitude para além do simples transmissor do saber instituído. Não se trata apenas de
seguir um novo procedimento ou uma nova técnica de ensino, na qual tudo se altera de modo
superficial, mas tudo continua idêntico na essência. Estamos fazendo referência a novas estratégias
e metodologias de investigação, de atuação e de concepção, que induzem os educadores a
interrogarem si mesmos, a sua prática e a sua escola, o sistema educacional e a sociedade.
Por isso, todas as melhorias tecnológicas, ocorridas na escola, são de suma importância para
uma educação de qualidade, visto que a educação é historicamente percebida como um dos
caminhos apontados para a transformação da sociedade. De acordo com esta transformação, os
avanços tecnológicos têm se mostrado cada vez mais freqüentes dentro da prática pedagógica, e esta
prática é vital para a construção da cidadania e da justiça social, na medida que se apresenta como
uma alternativa concreta e possível de acesso ao saber. E este saber, ultrapassa sua dimensão
meramente tecnológica, para atingir uma dimensão política, que permite-nos compreender a história
e modificá-la.
Entretanto, modernizar a educação não significa mudanças físicas no ambiente ou
investimentos em equipamentos de última geração. A colocação do computador na sala de aula não
garante um ensino inovador, crítico e transformador. Conserva-se ainda, na sociedade, uma forte
intenção à mitificar as tecnologias educacionais, como se a modernização fosse mera decorrência da
admissão dessa tecnologia, legitimando deste modo à transformação necessária no ensino e na
educação, resolvendo as dificuldades de ensino e da aprendizagem.
O maior responsável por uma alteração mais intensa é o professor, com atitudes pedagógicas
que envolvam o emprego das TICs nos seus projetos, levando a teoria à pratica, e até que esse
paradigma seja substituído, o impacto das tecnologias na reinvenção da escola será pequeno.
Outro mito a ser superado é o que diz que a tecnologia está à disposição de todos de forma
igualitária e que ela é neutra, e que o ingresso das novas tecnologias desconsidera as antigas
tecnologias educacionais há muito empregadas na educação.
As palavras de Paulo Freire reiteram o que foi comentado sobre o “novo que não pode ser
negado ou acolhido só porque é novo, assim como o critério de recusa ao velho não é apenas
cronológico” (FREIRE, 1998.p.39).
Como considerações finais sobre o uso das TICs na prática pedagógica, e a partir da reflexão
das palavras de Paulo Freire, sobre o novo e o velho, consideramos que o computador, a Internet, e
outras novas tecnologias educacionais podem ser preciosos instrumentos educativos nas mãos de
professores e alunos críticos, imaginativos, pró-ativos e entusiastas, acolhidas não só porque são
1234
novas, mas pelas evidências de que podem ser valiosas no processo de ensino/aprendizagem e pelo
múltiplo potencial pedagógico que elas agregam às práticas educacionais.
Gostaríamos, ainda, de reforçar a idéia de que o saber precisa ser, sempre que
possível, complementado pelo saber fazer, pois de nada valem as novas tecnologias educacionais,
os computadores de última geração, a modernização das escolas sem conhecimento e sem ação
transformadora, no mínimo, ação. É necessário que a comunidade escolar se constitua como uma
equipe que assuma atitudes crítico-reflexivas, que o professor seja parceiro dos alunos na
construção cooperativa do conhecimento, na formação contínua, na transformação do processo
educacional, na investigação da própria ação, na superação das dificuldades e não na manutenção e
reprodução dos velhos hábitos já fossilizados de uma educação que já não tem mais vida.
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