Anais da
Semana de Pedagogia da UEM
ISSN Online: 2316-9435
XX Semana de Pedagogia da UEM
VIII Encontro de Pesquisa em Educação / I Jornada Parfor
ANÁLSE SOBRE O CONHECIMENTO CIENTÍFICO ATUAL ACERCA DO TEMA
FRACASSO ESCOLAR
SANTOS, Jéssica Carvalho
[email protected]
LUNARDELLI-LARA, Aline Frollini (Orientadora)
[email protected]
Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Psicologia da Educação
INTRODUÇÃO
No início dos anos 1990, Maria Helena Souza Patto publicou a primeira edição do
livro A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia1, fruto de longa
pesquisa realizada sobre os diferentes fatores envolvidos na produção das dificuldades de
escolarização. Trata-se de um marco na história da Educação e, principalmente, da
Psicologia, pois essa era uma obra que denunciava os tradicionais preconceitos contra as
crianças das camadas populares que impediam seu acesso a um ensino de qualidade, ao
mesmo tempo que anunciava que a dificuldade enfrentada pelo aluno para se apropriar dos
conteúdos escolares não podia ser localizada nele, individualmente, como portador de
alguma doença ou distúrbio, nem em sua família, como representante da carência de
estímulos econômicos e sociais atribuída, em geral, às famílias pobres.
A pesquisa da autora foi desenvolvida em uma escola pública municipal localizada na
periferia da cidade de São Paulo. Teve como principal objetivo acompanhar e analisar por um
longo período de tempo o processo de escolarização de crianças pobres, especialmente
daquelas que possuíam dificuldades para aprender, do ponto de vista da escola. Do estudo
participaram equipe pedagógica, professores, familiares e crianças.
Sem desconsiderar as relações das crianças para além do espaço escolar, Patto (1996)
investigou principalmente sua rotina na escola. Buscou entender como as diferentes pessoas
se relacionam com o processo de escolarização da criança, sem que as causas para as
dificuldades encontradas estivessem fora da dinâmica escolar. A autora ainda frisa em sua
obra que não é possível obter resultados de total confiança quando todas as circunstâncias que
contribuem para a produção do fracasso escolar não foram analisadas. Ressalta também que a
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heterogeneidade é característica dos processos de ensino e aprendizagem, ao contrário da
homogeneidade tão almejada.
Nesse sentido, Asbahr e Lopes (2006) investigam os discursos sobre a temática na
visão dos professores e alunos, visando identificar quais os conceitos da Psicologia estão
incorporados em suas falas. Assim, as pesquisadoras foram a uma escola municipal e, por
meio de entrevistas feitas com alunos e professores, coletaram materiais para analisar e
refletir quais as contribuições da área da Psicologia na compreensão dos assuntos escolares.
Concluíram que culpar alunos e famílias gera, na maioria das vezes, encaminhamentos para
profissionais da saúde, acarretando, assim, um descuido da prática pedagógica por parte do
grupo escolar para oferecer melhores condições de aprendizagem aos alunos. Segundo Asbahr
e Lopes (2006, p. 67):
Comum a todas essas hipóteses é o foco no aluno: ora é o seu aparato
biológico, ora a sua família incapaz, ora suas aptidões insuficientes ou
distúrbios psíquicos são produtores do fracasso. Às vezes é a criança em si
mesma, entendida como um ser abstrato e vago, que não quer aprender.
Pode-se citar ainda a desnutrição como motivo destacado por professores para a não
aprendizagem. Sawaya (2006) analisa e reflete sobre a verdadeira relação entre fracasso
escolar e desnutrição. Apesar de já ser comprovado que as crianças que sofreram de
desnutrição em grau elevado não frequentam a escola, devido à alta taxa de mortalidade, este
discurso ainda é predominante. A autora destaca que “Muito se tem afirmado que a
desnutrição – um dos mais graves problemas sociais do Brasil – é também um dos grandes
responsáveis pelo baixo rendimento escolar” (SAWAYA, 2006, p. 133), embora isso não
possa ser confirmado pelos estudos científicos que abordam a temática.
Zucoloto (2007) analisa o assunto por outra vertente que é bastante utilizada no
contexto escolar: a medicalização das crianças que apresentam algum tipo de “problema”.
Parte-se do princípio que a dificuldade é estritamente do aluno e de sua família, atribuindo às
crianças doenças e distúrbios muitas vezes inexistentes. Deste modo, a escola acaba por
reproduzir a realidade da criança, na qual ela é vista como incapaz e, consequentemente, não
se aprimora o aspecto pedagógico. Desde sempre é possível observar a interferência médica
nas escolas, de início o que acontecia para controle de pragas e para impedir que houvesse
manifestações de epidemias, mais tardar passou a ditar regras e definir como seria o
funcionamento da mesma. Assim, a medicina instituiu várias doenças que impedem a criança
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de aprender. Acerca da medicalização do fracasso escolar, Zucoloto (2007, p. 137) afirma
que:
Medicalizar o fracasso escolar é interpretar o desempenho escolar do aluno
que contraria aquilo que a instituição espera dele em termos de
comportamento ou de rendimento como sintoma de uma doença localizada
no indivíduo, cujas causas devem ser diagnosticadas.
A interferência da medicina no campo escolar acabou tendo uma relação negativa,
pois foram criadas doenças inexistentes (ZUCOLOTO, 2007). Para justificar os problemas
daquelas crianças que não aprendem no meio escolar, os integrantes que o compõem
acabaram por confiar o trabalho que deveria ser feito por professores e equipe pedagógica a
médicos e psicólogos, contribuindo para a medicalização das crianças com supostas
dificuldades de aprendizagem.
Raras são as investigações sobre fracasso escolar que se apóiam em conhecimentos da
educação de modo mais amplo. Discutindo criticamente não apenas o conhecimento
produzido, mas também as características daquilo que se denomina científico, será possível
analisar formas de enfrentamento das relações que contribuem para a manutenção do
fracasso escolar.
Cabe ao pesquisador, ao estudar a temática, a busca de possíveis soluções, deve
examinar todas as vertentes que a compõem. É a partir da visão da própria criança acerca do
problema que se deve dar o ponto de partida a fim de obter resultados que sejam benéficos
para a criança e sua vida escolar.
Desse modo, velhas explicações e práticas pedagógicas persistem. O trabalho
realizado por Patto (1996) ainda critica os laudos que expõem questões subjetivas da criança e
não a sua real dificuldade escolar, o que, consequentemente, acaba exercendo a função de
explicar o problema focando somente no indivíduo, tirando o olhar para a escola e seu papel
para a formação básica do aluno.
A partir dessas conclusões precipitadas relativas ao processo de não aprendizagem do
aluno, ele acaba incorporando o diagnóstico e acreditando que o problema é individual,
aceitando a sua possível condição. O mesmo acontece com o educador que, por meio dos
laudos elaborados por profissionais da saúde sobre o diagnóstico do suposto distúrbio da
criança, sente-se incapaz de ensiná-la, encaminhando as crianças para tratamentos sem
necessidade. Dessa forma, a dificuldade que era de caráter coletivo passa a ser particular, ou
seja, está centrada somente no aluno. Na maioria dos casos, não há problemas de saúde
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interferindo na aprendizagem; trata-se somente da melhoria do aparato pedagógico da escola,
sendo desnecessária a interferência de outras áreas de conhecimento para explicar as
dificuldades no processo de escolarização.
Esta pesquisa teve o intuito de examinar artigos científicos que relatam os
conhecimentos produzidos atualmente sobre o fracasso escolar e analisá-los tendo como
principal referência a obra de Maria Helena Souza Patto (1996), visto que é crescente o
número de alunos com dificuldades de escolarização nos bancos das escolas públicas
brasileiras nas últimas décadas. Não nos interessa a busca por culpados, mas sim o
entendimento das relações que produzem e reproduzem o não aprender.
Constata-se, desse modo, que, embora haja estudos que confirmem que a realidade –
social, econômica, cultural e de saúde – que o aluno vive não é motivo para o seu não
aprendizado, muitos educadores insistem em explicações que permanecem no âmbito
individual. Ensina-se com base em um aluno ideal e, quando não se atinge as expectativas de
aprendizagem padronizadas, a responsabilidade por algo que é essencialmente coletivo, como
o processo de ensino-aprendizagem, é deslocada para o indivíduo, geralmente situado nas
classes mais desfavorecidas economicamente.
O que se pode destacar nas pesquisas analisadas sobre o tema até agora, é a
predominância de repetições para a explicação do fracasso escolar, como a família,
comprometimento cognitivo da criança, contexto social desfavorável, doenças, entre outros.
De acordo com Patto (1996), estamos diante do preconceito estruturante das práticas
pedagógicas desta sociedade de classes. A própria escola apresenta um sistema hierárquico,
beneficiando quem se encontra no topo da pirâmide, predominando, assim, o poder do mais
forte sobre o mais fraco.
OBJETIVOS
Esta pesquisa insere-se nas discussões anteriores sobre a produção de conhecimento
científico acerca do fracasso escolar ou das dificuldades do processo de escolarização. E teve
o objetivo geral de identificar e analisar os estudos sobre fracasso escolar publicados nos
últimos cinco anos em revistas científicas de educação, psicologia e medicina.
Apresenta, também, como objetivos específicos:
 Investigar as temáticas predominantes nas pesquisas sobre fracasso escolar, bem como
as explicações para as dificuldades de escolarização;
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
Comparar os resultados dos estudos selecionados com as conclusões daqueles
desenvolvidos na década de 1990 que se constituem como referência teórica desta
pesquisa;

Analisar as implicações e/ou contribuições das pesquisas para a formação de
professores.
METODOLOGIA
Os artigos científicos utilizados foram coletados na base de dados virtual scielo2.
Foram empregados os seguintes critérios para selecionar a amostra dos materiais que
compuseram o corpus de análise desta pesquisa:

Artigos publicados nos últimos cinco anos, ou seja, referentes ao período de 2008 a
2012;

Foram selecionadas publicações de revistas de educação, psicologia e medicina;

A busca foi feita por palavras-chave: fracasso escolar, distúrbios de aprendizagem e
problemas de aprendizagem;

Selecionados os artigos por palavras-chave, foi feita a leitura dos títulos e dos resumos
para verificar se o material apresentava relato de pesquisa sobre a temática aqui
destacada.
Num primeiro momento foi feita a busca dos artigos por meio das seguintes palavras-
chave: fracasso escolar (somando 36 artigos), distúrbios de aprendizagem (totalizando 16
artigos) e problemas de aprendizagem (com o resultado de 61 artigos).
A partir dos critérios destacados acima, como tempo de abrangência da pesquisa, e
temática estudada, chegou-se ao resultado final de 56 textos que se enquadravam no tema. Por
fim, após a leitura dos resumos dos artigos encontrados foi feita uma seleção daqueles que
eram pertinentes ao tema fracasso escolar, chegando a um resultado final de sete artigos que
foram estudados.
O exame e interpretação dos dados ocorreram conforme o procedimento de análise de
conteúdo descrito por Bardin (1977). De acordo com a autora, a organização da análise de
conteúdo é dividida em três etapas: 1) a pré-análise; 2) a exploração do material; 3) o
tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.
Nesta pesquisa, a pré-análise do material se deu com a seleção dos artigos. A partir da
leitura inicial dos textos elencados, foi possível identificar temáticas frequentemente
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abordadas e teve-se uma primeira visão sobre as perspectivas de análise para o fracasso
escolar utilizadas pelos autores.
A exploração do material envolveu nova leitura dos artigos tendo como referência os
seguintes eixos de análise: a) Causas ou motivos que explicam as dificuldades para aprender;
b) Áreas do conhecimento envolvidas nas explicações para as dificuldades de aprendizagem;
c) Indivíduos ou contextos que participam tanto da produção quanto das formas de superação
das dificuldades de escolarização; d) Conclusões ou indicações dos estudos sobre as
possibilidades de superação dos problemas de aprendizagem enfrentados pelas crianças nas
escolas brasileiras; e) Repercussões dos conhecimentos produzidos/elaborados pelas
pesquisas selecionadas para a formação de professores.
Tendo também como referência esses cinco eixos de análise foram feitos o tratamento
dos resultados e a categorização dos elementos dos artigos em comparação com aqueles
contidos no livro A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia (1996),
escrito por Maria Helena Souza Patto, como expressão de pesquisa desenvolvida na década de
1980 acerca dos fatores envolvidos na produção das dificuldades de escolarização.
O livro, que se constitui como principal referência teórica desta pesquisa serviu como
fonte de comparação entre os dados encontrados e discutidos por Patto, e aqueles verificados
nos artigos que compuseram nosso corpus de coleta e análise de dados.
Nesse sentido, essa etapa de análise consistiu na produção científica – reconhecida
tanto por seus resultados como pelas repercussões que trouxe para a atuação e formação de
professores e psicólogos desde sua publicação – com os atuais conhecimentos sobre fracasso
escolar fruto de pesquisas nas áreas da educação, psicologia e medicina, que, sabe-se, têm
influências na formação docente.
Portanto, foi elaborado quadro comparativo entre os conhecimentos produzidos no
final da década de 1980, que já denunciavam as tradicionais explicações individualistas para o
fracasso escolar, reconhecendo o preconceito contra os pobres na educação brasileira e a
influência negativa da saúde para a atuação dos professores, e os atuais conhecimentos
veiculados por profissionais da saúde e da educação. Teve-se a finalidade de verificar se as
críticas já anunciadas na década de 1980 foram incorporadas ao conhecimento científico atual,
ou, pelo contrário, se ainda permanecem explicações centradas na criança, no professor ou na
família, individualmente.
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A partir dos dados comparados, foi possível traçar repercussões de tais conhecimentos
para a formação de professores, além de vislumbrar outros caminhos para os processos de
preparação para o magistério que articulem os saberes da educação e da saúde.
RESULTADOS
Atentando-se para os objetivos iniciais do trabalho pudemos constatar que os artigos
publicados nos últimos anos nas áreas de Medicina, Psicologia e Educação não seguem uma
linha cronológica de avanço e, por muitas vezes, ainda persistem conceitos ultrapassados
acerca dos problemas escolares. Nesse sentido, o quadro comparativo a seguir expõe esses
dados com mais clareza, a fim de demonstrar a linha de investigação do fracasso escolar por
mais de uma visão.
Com relação à prática pedagógica do professor e quais as contribuições, bem como a
reflexão do exercício da profissão, essas pesquisas, sejam elas na mesma linha de raciocínio
de Patto (1996) ou não, são de suma importância, visto que é por meio delas que o
profissional da educação pode re-avaliar a própria prática. Cabe a ele, se auto-avaliar e repensar sua atuação em sala de aula, sempre visando qualidade e apreensão dos conteúdos por
partes dos educandos.
A seguir será apresentado quadro síntese dos sete artigos analisados.
Quadro 1. Explicações para o fracasso escolar encontradas nos artigos
TRADICIONAIS EXPLICAÇÕES
EXEMPLOS DOS ARTIGOS
PARA O FRACASSO ESCOLAR
ANALISADOS
“Em relação às salas de ensino regular, a
distribuição dos alunos também toma por
base inferências sobre o nível de aprendizado
em que estes se encontram, dando a
impressão
de
promover
uma
homogeneização
desses
escolares”
(OLIVEIRA et al, 2012, p. 99).
Centradas na criança
“Ainda que o aluno, ora mais, ora menos
afeito a traços de natureza intelectual. Ainda
que intelectualmente capaz de ser aprovado
por intervenção de seu duplo familiar, à
medida que este lhe confira traços de
aceitabilidade no meio escolar. Ao mesmo
tempo, um indivíduo intelectualmente capaz
pode ser reprovado, se a escola não
identificar em seu duplo familiar, um sujeito
escolar tolerável” (SENNA, 2008, p. 203).
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Centradas na família
Centradas no professor
Centradas na escola
Vinculadas à carência cultural
Centradas nos aspectos biológicos,
cognitivos e/ou emocionais da criança
“A grande maioria dos participantes
relacionou o meio familiar em o aluno está
inserido como causa das dificuldades de
aprendizagem” (OLIVEIRA et al, 2012, p.
105).
“Muitos professores demonstraram muita
descrença na capacidade de alguns alunos
(inclusive daqueles avaliados positivamente
por outros professores), e isso causava uma
tensão na relação entre os professores, que
muitas vezes não reconheciam o trabalho
desenvolvido – alguns acusavam seus pares
de pouca seriedade nos critérios de avaliação
adotados” (BAHIA, 2009, p. 326).
“Sua prática não envolvia os alunos, mas sim
o cumprimento do currículo, não havendo
necessidade de as crianças pensarem ou
proporem novas ideias: as crianças deviam
lembrar (repetir) do que leram, viram ou
ouviram
da
professora”
(TACCA;
BRANCO, 2008, p. 46).
“A bem da verdade, a escola há muito deixou
de ser a fonte mais confiável do saber”
(SENNA, 2008, p. 215).
“O fracasso escolar é produto, ao mesmo
tempo, de uma vocação social para a
exclusão e de um sem-número de
mecanismos de banimento que reforçam a
condição alienada dos sujeitos marginais,
interditando-lhes a possibilidade de serem
sujeitos na esfera pública” (SENNA, 2008, p.
1999).
“Sabe-se que componentes de aprendizagem
motora exercem influências significativas na
aquisição de habilidades de aprendizagem
cognitiva, pois estas capacidades serão
solicitadas posteriormente no processo de
aprendizagem de leitura e escrita” (ROSA
NETO et al, 2011, p. 19).
“Consequentemente,
encontra-se
a
afetividade como um recurso que legitima as
reflexões sobre as desigualdades sociais, a
diversidade, a discriminação e preocupação
com a classe popular no que tange ao
sofrimento do pobre frente à falta das
condições
essenciais
básicas
de
sobrevivência, dentre elas a educação”
(MATTOS, 2012, p. 225).
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“Os principais fatores relacionados à
caracterização dos alunos com dificuldades
de
aprendizagem,
apontados
pelos
entrevistados, foram de origem cognitiva.
Assim, a maioria dos entrevistados descreveu
esses alunos como lentos, desatentos e com
possíveis
alterações
cognitivas.
Os
professores relacionaram ainda fatores
sociais e psicossociais à identificação dessa
parcela do alunado” (OLIVEIRA et al, 2012,
p. 103).
O quadro comparativo foi elaborado e utilizado como recurso representativo das
principais explicações que norteiam o fracasso escolar. Desse modo, foram retirados os
trechos dos artigos científicos de maior relevância que ainda apresentam as tradicionais
explicações para o não aprender, já criticadas por Patto desde a década de 1980.
Por meio dos artigos aqui expostos, pode-se observar que são inúmeras as
explicações para os fatores que resultam nas dificuldades de aprendizagem. Entretanto, todas
vistas de forma desarticulada, ou seja, os autores quase sempre buscam um único motivo para
o fracasso do aluno, ora atribuem ao indivíduo e sua natureza ou a sua família e condição
social.
Ao analisarmos os materiais produzidos por esses autores, foi possível constatar que
eles têm um olhar sobre o fracasso escolar totalmente diferente de Patto (1996). Pois, detêm
como subsídio explicações de cunho social, cognitivo e psicológico para justificar os
problemas no processo de escolarização das crianças. O que pode ser exemplificado com o
trabalho de Mattos (2012), que reduz o processo de ensino e aprendizagem à afetividade.
A afetividade é um caminho para incluir qualquer educando no
ambiente escolar. É a mediadora entre a aprendizagem e os
relacionamentos desenvolvidos em sala de aula, na busca da inclusão
de qualquer educando na escola (MATTOS, 2012, p. 226).
Nesse sentido, a autora indica em seu trabalho que a afetividade faz-se necessária para
que haja o aprendizado: “A afetividade precisa estar presente em todos os momentos na sala
de aula para efetivar a inclusão em educação” (MATTOS, 2012, p. 226). A autora
complementa:
De introduzir a afetividade para enfrentar a exclusão social e, por
consequência, escolar. De colocar a felicidade – entendida como
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centrar-se na humanização – como critério para definir maneiras de
inclusão, vista como o cuidado com o outro pela sociedade e pela
escola, sem negar sua particularidade em meio à pluralidade de
identidades existentes (MATTOS, 2012, p. 231).
A respeito da atuação do professor em sala de aula a autora afirma:
O educador pode dar apoio ao educando, ajudando-o a superar os
bloqueios emocionais com relação a uma determinada disciplina.
Outrossim, o educador possibilita a identificação e a gestão das
emoções nocivas à aprendizagem (MATTOS, 2012, p. 227).
Essa forma de reducionismo ainda predomina nas investigações consultadas. Ora
situa-se nas emoções, ora no aspecto motor, ora na família que supostamente não se
compromete com a aprendizagem da criança, ora no professor que não se qualifica. A escola
como instituição e as relações ensino-aprendizagem são deixadas de lado como se aprender
não dependesse ou não estivesse vinculado ao espaço educativo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo como objetivo primordial a investigação das pesquisas sobre a temática nos
dias atuais, constatamos que diversos são os olhares para um mesmo tema que, em geral,
adotam uma perspectiva reducionista.
Verificamos que é de suma importância analisar o fracasso escolar de modo que todas
as raízes estejam interligadas, e não observar somente por um único fator, como a questão
familiar, por exemplo. Pois, se o problema for observado por um único viés, não é possível
obter soluções para as dificuldades de escolarização destacadas. “As dificuldades
identificadas na ação pedagógica não permitem mais afirmar que os problemas escolares são
problemas das crianças pobres e de suas famílias, considerados de forma isolada”
(SAWAYA, 2006, p. 138).
Por meio desta pesquisa concluímos que ainda há muito que avançar no quesito
fracasso escolar e pesquisas científicas, principalmente na área da educação, visto que outras
áreas o abordam com maior abrangência, entretanto não o fazem com o domínio do assunto.
Nesse sentido, é de incumbência dos professores estarem atentos para sua prática pedagógica,
visto que esta interferirá no desempenho escolar de seus educandos, bem como para a sua
produção científica de qualidade.
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Em suma, a obra de Patto (1996) muito nos auxiliou na compreensão do fracasso
escolar e suas concepções, não na busca de um culpado para o problema, mas como um
subsídio para o entendimento dos processos de escolarização dos educandos.
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Notas de rodapé:
1
A primeira edição do livro data de 1990. Além dessa, outras cinco reimpressões foram feitas pela Editora T. A.
Queiroz. A última edição foi publicada pela Editora Casa do Psicólogo, em 2010.
²Scientific Electronic Library Online – SCIELO é uma biblioteca eletrônica que abrange uma coleção
selecionada de periódicos científicos brasileiros. Endereço eletrônico: www.scielo.br.
Universidade Estadual de Maringá, 17 a 20 de setembro de 2013.
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