Movimento Católico Fanuel Retiro de Servos – Galaad A Divina Eucaristia O amor, centro da vida. Todo amor tem um centro, o da mãe é o filho, dos amigos é a afeição pelos outros, do avarento, seus tesouros e do soldado, sua glória. Qual deve ser o centro do amor cristão e principalmente do adorador? Só um centro humano não basta, é necessário que seja infinito, vivo, acessível e reparador para poder alimentar em si mesmo esse foco de amor, porque são infinitos os desejos de seu coração. O homem precisa ser feliz em seu centro para não procurar outro. Artigo I O homem não pode permanecer sempre em um calvário, por isso, as virtudes, por mais perfeitas que sejam não podem ser o centro da vida do cristão. Nosso Senhor nunca disse aos seus discípulos: “permanecei na humildade, pobreza e na obediência”. Seria fazer do meio um fim. Muitas pessoas piedosas se entregam à tristeza e ao desânimo na busca das virtudes. Elas se deixam prender pelos sacrifícios e perdem a liberdade da santa dileção. É um fogo comprimido e privado de expansão e de chama. Uma criança, por exemplo, é livre e totalmente submissa. Ela não permanece nas dificuldades de sua educação e obediência, mas no princípio do amor que a inspira. Exemplo: um anjo, um santo. Nosso Senhor não quer que permaneçamos num centro criado. Jesus não nos deu Maria Santíssima para ser nosso centro, esta teve seu Coração partido, a fim de nos servir de passagem maternal para que atingíssemos o Coração de Jesus, aberto para nos receber, mas é na dileção divina que nos mandou ficar. “Como o Pai me amou, assim também eu vos amei; permanecei no meu amor.” (Jo 15,9) E qual é esse amor? “Assim como o ramo não pode dar fruto de si mesmo, a menos que permaneça na videira, do mesmo modo tampouco vós podeis, a menos que permaneçais em união comigo. Eu sou a videira, vós sois os ramos. Quem permanece em união comigo, e eu em união com ele, este dá muito fruto; porque separados de mim não podeis fazer nada.” (Jo 15, 4-6). Jesus Cristo é o centro de operação do cristão. Quem agir fora desse centro divino, corre o risco de se paralisar, de se perder, acaba fazendo do seu amor próprio e do amor mundano o centro da sua vida. A alma que permanece em Jesus recebe o sinal que ele mesmo dá: “Onde estiver o vosso tesouro, aí também estará o vosso coração.” (Mt 6,21). O amor de Jesus não é só um centro de operação, mas um centro de sociedade, um laço que une Deus ao homem.” Deus é a caridade, diz São João, e aquele que permanece na caridade, permanece em Deus e Deus nele.” (1 Jo 4,16). Nosso Senhor exprime está verdade de modo admirável. “Aquele que me ama, guardará minha palavra e o meu pai o amará e a ele viremos e nele faremos morada.” (Jo 14, 23). Assim a Santíssima Trindade vem toda coabitar naquele que ama a Jesus Cristo. Deus se revela em toda ternura de seu coração. “Aquele que me ama, diz o salvador, será amado de meu Pai e eu o amarei e a ele me manifestarei.” (Jo 14, 21). Qual será essa manifestação de Jesus? É a revelação da sua verdade, de sua bondade e de sua adorável perfeição. O cenáculo de amor. Artigo II Nosso centro de vida não deve ser colocado em um estado já passado da vida de Jesus, pois o amor não vive de passado e sim de presente. Assim como Madalena e os apóstolos, devemos querer ver nosso Mestre vivo. As mulheres perto do túmulo de Jesus não foram repreendidas? “Por que procurais entre os mortos aquele que está vivo?” (Lc 24,5). Ide e anunciai a sua ressurreição. Por que quereis ficar no presépio em Belém, na casa de Nazaré, no próprio Calvário? Não encontrareis Jesus, ele apenas passou por aí. Honrai sua passagem, bendizei as virtudes que seu amor aí soube praticar, mas ide adiante, procurai-o no presente. Onde está Jesus Cristo para que possamos viver com Ele e Nele permanecermos? Está no céu para os eleitos e no Santíssimo Sacramento para os peregrinos. “Aquele que come meu corpo e bebe meu sangue, permanece em mim e eu nele.” (Jo 6, 56) A Divina Eucaristia é a sua morada de amor, é o céu na terra, o centro mais santo e amável do homem aqui na terra. “Eis o que diz o Senhor, pois eu vou criar novos céus e nova terra;” (Is 65, 17) “ Eis o Tabernáculo de Deus com os homens, e Deus habitará com eles, e eles serão o seu povo e Deus mesmo estará com eles, como Deus deles.” (Ap 21,3) É no Santíssimo Sacramento que a alma amante deve procurar a Jesus que é o centro para o qual somos atraídos. Com a Hóstia Santa, o adorador está bem em todo o lugar, não há exilio, deserto, privação e desgraça. Tudo ele possui na adorável Eucaristia. Castigo, infelicidade e tristeza acontecem quando lhe é tirado Deus do Tabernáculo. A vida torna-se uma longa agonia, todos os bens, todas as glórias desse mundo são tristes cadeias. Quando o homem entra no Templo Sagrado e vê a lâmpada misteriosa que lhe revela a presença de Jesus, com alegria e felicidade prostra-se aos pés desse amável Tabernáculo, como o seu coração vence obstáculos e passa através das grades dessa prisão eucarística, rasga o véu sacramental e lança-se com todo o afeto de seu coração aos pés do Bem Amado, do Mestre, de Jesus , Hóstia de amor. Então ele repete com júbilo estas palavras do Tabor “Senhor, bom estamos aqui” (Mt 17,4) e como o real profeta cantar com regozijo. “Quão amáveis são os nossos Tabernáculos, ó Deus das virtudes, minha alma suspira e desfalece de alegria nos átrios do Senhor, meu coração e minha carne exultam de júbilo em vossa presença.” (Sl 83, 2-3). Artigo III Como fazer da Santíssima Eucaristia nosso centro de vida? Sabendo Nela encontrar Jesus com os mistérios de sua Vida pública, de sua Vida crucificada, de sua vida ressuscitada. Vendo na Eucaristia a Jesus, honrando e continuando sua vida ressuscitada, procurando se parecer cada vez mais com Ele e quando souber em tudo encontrar Jesus e ter amor por sua cruz, participará de todos os seus bens e fará como que um feixe, como que um foco de todos os seus atos particulares do seu amor. No céu os santos veem tudo em Deus no ato da Visão Beatífica, os discípulos da Eucaristia há de ver tudo em Jesus Cristo, no ato eucarístico de seu Amor. Segundo o salmista, a Eucaristia é o memorial vivo de todas as maravilhas do Senhor. Para alcançar esse centro eucarístico de vida, temos que fazer de Jesus, no Santissímo Sacramento, o motivo dominante de nossas intenções; a meditação do nosso Espírito, a presença de Deus. II- O amor, fim do adorador. Jesus no Santíssimo Sacramento deve ser não somente o centro como o fim do cristão. Mas que é viver para Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento? É viver todo inteiro para o seu amor e sua glória, é fazê-lo a mais nobre paixão de toda nossa vida. Artigo I: A Eucaristia, fim dos dons e da graça. Todos os dons do adorador, de natureza e de graça devem ser uma homenagem a Jesus sacramentado. O Pai celeste nos deu para que possamos adorar, amar e servir ao seu divino Filho. Deu-nos a língua e a voz para cantar louvores, os olhos para ver a Hóstia Santa, ouvidos para escutar-lhe os louvores, os sentidos para servi-lo, inteligência para adorá-lo, razão para conversar com sabedoria, memória para lembrar sua verdade e um coração sensível para amálo. Todos os dons e todas as graças de Deus em nós devem se referir ao nosso princípio e fim divino, Jesus Cristo Sacramentado. Santo Agostinho procurava a Jesus nos livros “Jesum quaerens in libris.” Santo Tomás na ciência, São Francisco nas criaturas e o adorador deve procurá-lo no Tabernáculo santo. Artigo II: A Eucaristia, fim da piedade cristã. A devoção eucarística deve ser a régia cristã. A Sagrada comunhão é o ato supremo do amor de Jesus Cristo pelo homem, o derradeiro limite de sua graça e a extensão da encarnação: é Jesus Cristo unindo-se a cada comungante. Se invocamos os santos é para encontrar mediadores mais poderosos junto ao nosso Rei, se nos colocamos aos pés de Maria é para ela nos conduzir ao seu Divino Filho e se honramos os mistérios anteriores da vida de Jesus é para neles descobrirmos o seu amor preparando seu estado sacramental. Os riachos e os rios correm para o mar. Na vida cristã, tudo vai se lançar no oceano do adorável Sacramento. Artigo III: A Eucaristia, fim das virtudes cristãs e religiosas. O adorador, em espírito e em verdade, só deve amar, estimar e praticar as virtudes, como pregação, conveniência e perfeição do serviço eucarístico de Jesus. Como preparação, temos as virtudes que nos corrigem os defeitos e destroem os vícios e o orgulho. Um servo não ousa se apresentar diante do seu amo em trajes menos dignos. Um odiento, um orgulhoso perante Deus imolado. O adorador deve tentar corrigir nele tudo o que possa ofender o olhar de Deus. O servo fiel sabe o que seu amo gosta e vai ao encontro dos seus desejos, lisonjeia-lhe o amor e honrando aquilo que lhe apraz. Jesus Cristo disse: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração.” (Mt 11,29), sabendo disso, o adorador ama com amor de predileção a humildade, a doçura de coração e as virtudes religiosas de pobreza, castidade e obediência. Saberá abraçar com ardor o estudo e as práticas dessas virtudes evangélicas nelas se inspirando, se revestindo e servindo a Jesus com as mesmas virtudes que distinguem e coroam o divino Salvador. Só quer ser agradável ao bom mestre. A Eucaristia sendo o fim de todo cristão é também o sustento e a perfeição. O cristão carece sempre dum modelo para progredir nas virtudes, uma força atual e crescente, um amor que excite e sustente. Somente na Santíssima Eucaristia se encontra esses três bens, é Nela que as virtudes de Jesus revestem as formas definitivas de amor e graça. Jesus acrescenta a graça para nos tornar a virtude fácil e amável, que chega a nós pela comunhão, vem se unir a nós para nos comunicar sua Sabedoria, sua Prudência, sua força divina. Jesus Cristo disse: “Meu julgo é suave e meu fardo é leve.” (Mt 11,30). É na Sagrada comunhão que as virtudes se impregnam da suavidade de Cristo. O amor é que sustenta e aperfeiçoa a virtude, um mestre hábil, possuidor duma força invencível, sob cuja a ação poderosa o homem se purifica se transforma rapidamente na face de Jesus. É pela comunhão que Jesus se entrega inteiro e pessoalmente e que o cristão aprende a se dar inteiramente. Artigo IV: A Eucaristia, fim do zelo cristão. O verdadeiro apóstolo da Eucaristia quer que todos conheçam, amem e sirvam a Jesus em seu estado sacramental. Foi à fração do pão, que os discípulos de Emaús reconheceram o Salvador e só depois que comungaram que Jesus lhes revelou o evangelho do seu amor. É só na Sagrada Comunhão que a alma prova o amor de seu Deus, ela aprende a darse, dedicar-se e tornar o Deus da Eucaristia conhecido, amado, servido e recebido dignamente. Essa é a mais bela e santa missão que cabe a um apóstolo. Artigo V: A Eucaristia paixão nobre do coração. A felicidade do homem está na paixão do seu amor. Mas há só uma paixão divina apta a beatificar o coração humano e torná-lo bom e generoso: é a paixão nobre da divina Eucaristia. A Sagrada Eucaristia para o coração que se abrasa é sempre alimento novo, poderoso, é algo celestial: uma fome e uma sede de Deus sempre viva. É a alma amante que penetra as profundezes do amor divino e vai descobrindo riquezas sempre novas. É Jesus se manifestando pouco a pouco à alma para atraí-la a si com pureza e força sempre crescente. O apóstolo que tem paixão pela Eucaristia só quer viver para seu Bem-amado, que o inspira e inflama o seu coração. “Vivo, já não eu, porém, Jesus em mim.” (Gl 2, 20).