INCLUSÃO E AS IMAGENS NO LIVRO DIDÁTICO Arlete Rodrigues dos Santos Mestranda em Educação brasileira – UFAL RESUMO Nesta pesquisa foram tomados como objeto de estudo os textos e as ilustrações dos livros didáticos de Português da 2ª e 3º ano do ensino fundamental de duas editoras distintas, utilizados por duas escolas particulares de grande porte na cidade de Maceió. Objetivamos com a pesquisa, identificar, nessas publicações a existência de formas discriminatórias, repassadas aos alunos-leitores. Tomando por base os estudos de Carlos (2008) , que afirma que “a imagem é uma espécie de signo que serve, dentre outras coisas, para representar o mundo e mediar o contato do homem com o e mundo” fizemos uma reflexão em torno da importância da imagem em nossa vida, conectando-nos, a medida que nos proporciona com o uma representação da realidade. A imagem age como mediador de sociabilidade humana, e exige que a educação escolar exerça uma conscientização crítica em torno da imagem, tornando o educando capaz de detectar a intencionalidade camuflada pelo uso da linguagem imagética. Após análise de conteúdo, e das imagens encontradas encontramos marcas preconceituosas e discriminatórias nos livros analisados, mas também percebemos avanços, sobretudo no que se refere as questões raciais, o que nos permite concluir que há um movimento por mudanças , e que essas vem ocorrendo de forma gradual , continua, mas muito lenta, indiferente a nossa pressa em construir uma nova realidade social e escolar menos excludente,e que privilegie e celebre a diversidade inerente a pessoa humana, e defendida hoje pela legislação brasileira. Palavras-chave: pessoa com deficiência; livro didático; imagem Vivemos um momento histórico especial, permeado de constantes reflexões em torno das mudanças dos preceitos, e da ruptura de modelos antigos em várias áreas do conhecimento, dentre elas a educação. A inclusão de alunos com necessidades educativas especiais nas escolas regulares faz parte de um vasto movimento em prol dos Direitos Humanos, e que goza de um estatuto elevado em todo o mundo, em virtude de sua incorporação nos documentos referentes à política de inúmeras organizações internacionais como as Nações Unidas e UNESCO, que em inúmeros documentos reiteram os direitos das crianças a uma educação igual, sem discriminação e dentro do sistema de ensino regular sempre que possível. A Declaração de Salamanca vem reafirmar o direito de todos à educação independentemente de suas diferenças. No entanto a existência de avanços na esfera conceitual e nos documentos nacionais e internacionais, não conseguem atuar junto às representações sociais e míticas, os preconceitos e estereótipos a cerca das pessoas com deficiência construídas culturalmente, e que muitas vezes ainda determinam e expressam atitudes e ações que pouco tem avançado em relação a inclusão e o direito da criança em todos os espaços, seja, familiar, escolar ou comunitário. Segundo Monteiro, essas barreiras atitudinais são, por vezes, evidenciadas pelos mecanismos de negação das possibilidades dessas pessoas, fortemente firmados no conceito de limitação e incapacidade, são manifestadas pelo assistencialismo e paternalismo ainda vigentes em nosso meio.(Monteiro,2004) A necessidade de garantir a educação para todos é uma antiga e importante exigência de educadores e trabalhadores organizados. Ao longo do tempo, as exigências no cumprimento dos direitos das minorias, de um modo geral, vêm se sofisticando, de modo que, hoje, os pleitos levantados em nome dessas categorias não podem prescindir daquilo que se denomina inclusão social. Por inclusão social se entende o acesso pleno aos bens e serviços comunitários, o usufruto integral e incondicional das conquistas científicas, sociais e culturais da modernidade, bem como o favorecimento à participação e à representatividade políticas. No que tange aos deficientes, a inclusão social vem se traduzindo, então, basicamente, nas demandas por maior acessibilidade urbana, pela adequação da escola regular aos alunos com deficiência e pela inserção competitiva das pessoas deficientes no mundo do trabalho. (Reily,2004) Mesmo pautando-se em diferentes compromissos políticos, muitas ações governamentais vieram ao encontro dessa reivindicação implementando políticas públicas que possibilitaram o aumento do acesso e do tempo de permanência dos alunos nas escolas , e a qualidade destes serviços. Um grande desafio, porém, ainda está por ser enfrentado: tornar essa escolaridade significativa para o desenvolvimento intelectual dos alunos, e que de fato ela se torne acessível a todos. Isto é, não apenas mais a garantia de matriculas, mas uma educação na qual estejam assegurados garantidos a permanência e o sucesso de todas as pessoas. De acordo com Mendes (2002), foi a partir da Declaração de Salamanca que a maioria dos países começou a implantar políticas de inclusão no ensino regular de alunos com deficiências. No entanto a existência de avanços na esfera conceitual e nos documentos nacionais e internacionais, pouco efeito tem sobre as representações sociais e míticas, os preconceitos e estereótipos a cerca das pessoas com deficiência construídas culturalmente e muitas vezes determinam e expressam atitudes e ações que tem dificultado a inclusão e o direito pleno da criança, isto é, seu ingresso, sucesso e permanência nas escolas regulares e os espaços comuns a todas as pessoas, contudo, embora que seja ainda muito contestado, pelo caráter ameaçador de toda e qualquer mudança, especialmente no meio educacional, sabe-se que este é irreversível e convence a todos pela sua lógica, pela ética de seu posicionamento social. Ao longo da história das civilizações, a atitude das sociedades frente aos indivíduos com deficiência vem se transformando. Inicialmente destinados à segregação explícita através do extermínio ou do confinamento, e amparados pelos mitos gregos e bíblicos , o que se tem, na contemporaneidade, são posturas que buscam o reconhecimento e o valor dessas pessoas, mas que simultaneamente mescla atitudes de assistencialismo de cunho paternalista e o investimento nas potencialidades dessas pessoas através da educação e da reabilitação. No que tange aos deficientes, a inclusão social vem se traduzindo, então, basicamente, nas demandas por maior acessibilidade urbana, pela adequação da escola regular aos alunos com deficiência e pela inserção competitiva das pessoas deficientes no mundo do trabalho. Sabemos que a educação brasileira, por estar pautada em atender a um aluno idealizado,ensinando a partir de um projeto escolar elitista, e historicamente marcado pela segregação e competição de classes,e que ao reproduzir este cruel modelo , e tem prejudicado injustamente, milhares de pessoas. Mas, se melhoramos as condições da escola, formamos gerações mais preparadas para viver a vida na sua plenitude, livremente, sem preconceitos, sem barreiras. Pois acreditamos que se escola prepará-las, no futuro, serão pessoas que saberão conviver e a valorizar a diversidade nas suas salas de aula, e na vida cotidiana. Leitura da imagem Uma prática humana e social tem sido recorrente desde os mais distantes homens: o uso da imagem. Na pré-história, a imagem era utilizada pelos homens primatas para registrar fatos importantes. Encontradas ainda hoje em alguns sítios históricos, as pinturas rupestres atiçam a curiosidade de leigos e estudiosos; testemunham a necessidade do homem em representar o seu redor. Sua real finalidade ainda é desconhecida. A teoria mais aceita é a de que esses desenhos eram feitos por caçadores: “Tudo o que conseguissem desenhar poderiam dominar.” A recepção desses bens simbólicos pode ser compreendida como leitura, na medida em que todo recorte na rede de significações é considerado um texto. Assim, é possível ler o traçado de uma cidade, um filme, uma coreografia. Imagem e escrita são códigos em constante interação. Há vários motivos pelos quais se deve estudar a imagem, todos eles muito importantes, pois são as imagens elementos vitais para a nossa cognição. Da interação entre a imagem e as palavras criam-se mensagens. Eis, portanto, abaixo, alguns desses motivos: Explorar os discursos sobre os quais as representações constroem relatos do mundo social e favorecem determinadas visões sobre ele e sobre nós mesmos; Questionar a tentativa de fixar significados às representações e como isso afeta nossas vidas; Discutir as relações de poder que se produzem e se articulam por meio das representações, e que podem ser reforçadas pela maneira de ver e produzir essas representações; Elaborar representações por procedimentos diversos, como forma, resposta e modo de diálogo com as representações existentes; Construir relatos visuais utilizando diferentes suportes (papel, tela de computador, televisão, etc.) relacionados com a própria identidade e contexto sociocultural que ajudem a construir um posicionamento. Apesar da constante presença da escrita no cotidiano do homem social, a imagem já está presente em nossas vidas muito antes da aparição da linguagemverbal. As pinturas rupestres do passado mais remoto da humanidade, demonstram a visão de mundo que o homem já buscava transmitir, mesmo com a escassez de instrumentos e de noção mais complexa da realidade que o cercava. Assim como afirma Carlos (2008), o cenário histórico cultural marcado pelo signo da imagem e da cultura visual, nos exige uma educação do olhar, a necessidade de ver o mundo criticamente. E se contrapondo a tudo isso que foi afirmado até então, muitas escolas se detêm ao paradigma da escrita. Longe de defender a subordinação da escrita pela imagem, mas a inclusão da última no cenário escolar, de maneira tal a usufruir dos vários meios possíveis de utilização da mesma no âmbito educacional como filmes, revistas, fotografias, charges, desenhos animados, pinturas etc. O livro didático e a pessoa com deficiência Em algumas sociedades, ser negro (a), ser velho (a), ser mulher, ser criança, etc, representou ao longo dos tempos, como ainda representa, uma condição de subalternidade de direitos e desempenho de funções sociais. E é neste contexto de complexa trama de relações sociais, dentro e fora da escola, que se manifestam as diversas formas de controle, discriminação e opressão em relação aos ditos desviantes, ou seja, é no contexto social que se manifestam as mais variadas formas de preconceito e/ou aceitação daquilo que se apresenta como “diferente” .No caso específico da deficiência, pode-se afirmar, em conformidade com Fonseca (1987), que a mesma reflete, em muitos aspectos, a maturidade humana e cultural de uma determinada comunidade. O que não se pode negar é que há, implicitamente, uma importante variável cultural e que se encontra na base do julgamento que estabelece a distinção entre “deficientes” e “não deficientes”. Segundo Fonseca (1987), “Essa relatividade obscura, tênue, sutil e confusa, procura, de alguma forma, afastar ou excluir os indesejáveis, cuja presença ofende, perturba e ameaça a ordem social” No livro didático, de qualquer conteúdo curricular, requer que seu discurso explicativo esteja sustentado por gravuras e desenhos (dada à inconsistência com a qual crianças dominam a língua escrita e dada à dificuldade em manter-lhes a atenção concentrada em estímulos de uma única ordem) os livros de Português, destacáveis pelo apelo às tais narrativas de múltiplos gêneros, propiciam ainda mais a representação figurada de vários contextos de significação – das artes visuais, das ciências, da religião, da literatura, das conjunturas política e econômica. Desse modo, livros didáticos de Português, talvez mais do que outros, guardam amostras significativas, de valores e veículos de nossa cultura. Tendo em conta o panorama então apresentado, foi empreendida uma pesquisa cujo objetivo era de descrever e analisar a imagem da pessoa com deficiência livros didáticos de Português de 2ª. e 3ª.anos , do ensino fundamental de duas editoras distintas e adotado por duas escolas diferentes , ambas particulares na cidade de Maceió. É importante salientar que os livros de Português foram escolhidos por são os mais propícios para essas análises porque, em função de seus compromissos didático-metodológicos com o ensino/aprendizagem, se apropriam de narrativas das mais variadas ordens: contos da tradição popular, composições infantis, histórias em quadrinhos, peças publicitárias, receitas da culinária, cartas, matérias de jornal, dentre outras tantas. A nossa pesquisa se justifica pela necessidade de verificar se o livro didático de português das séries iniciais, cumpre o papel da escola em relação à discussão acerca das diversidades; possibilita, ainda, a reflexão sobre a manifestação das várias formas de preconceito materializadas no discurso do livro didático . Um livro didático é marcadamente distinguível de outras produções literárias porque está voltado, prioritariamente, para o ensino e a aprendizagem, no decurso de um tempo “letivo” estabelecido. Por isso, busca adequar as complexidades das narrativas, em geral curtas, ao estágio de desenvolvimento intelectual do públicoalvo, sem perder de vista o papel da oferta progressiva de tarefas sucessivamente mais desafiadoras. Assim, expõe os assuntos por etapas, sintetiza a temática em títulos introdutórios e em palavras-chaves, faz recapitulações freqüentes dos conteúdos de aprendizagem em resumos e em exercícios, diversifica os métodos e técnicas e, acima de tudo, explora exaustivamente os recursos visuais de que dispõe: destaques com letras em negrito e/ou em caixa alta, cores e contrastes, arranjo espacial de boxes e figuras na página do livro. Além disso, contextualiza as temáticas às realidades dos alunos, enfatiza curiosidades e aspectos prosaicos e anedóticos. Reitera-se, ainda, que o que se analisou foi o conjunto dos vários recursos expressivos de cada livro. Isto é importante ao se tomar um livro didático como objeto de análise, uma vez que uma característica marcante deste tipo de livro é ancorar as narrativas escritas nas ilustrações (Camargo, 1990). Dadas estas considerações teórico-metodológicas, procedeu-se à contagem do número de vezes, que, em cada um dos livros, apareciam pessoas com deficiência em ilustrações ou em menções no corpo dos textos escritos. Para fins de quantificação, foram consideradas como inserções válidas tanto a reprodução de figuras, fotos, gravuras, desenhos de pessoas – crianças, adolescentes ou adultos – com deficiências, quanto os recursos e acessórios de que fazem uso e que, portanto, simbolizam essa condição: muletas, cadeiras de rodas, bengalas, mãos sinalizando o alfabeto de sinais. Considerou-se, na coleta de dados, aquelas inserções cuja referência fosse direta e imediatamente dirigida à deficiência, como também aquelas que, mais uma vez, simbolizassem a condição de deficiência, a exemplo das placas de sinalização urbana que contêm a figura de uma cadeira de rodas. Os textos escritos foram considerados em quaisquer gêneros narrativos, nos quais se identificassem os termos: deficiente físico, deficiente mental, deficiente visual, deficiente auditivo, cego, surdo, aleijado, portador de necessidades especiais, criança excepcional, síndrome de Down. Assim sendo, foram quantificadas as inserções que evocassem a imagem da pessoa com deficiência em três categorias de circunstância, convencionadas a seguir: 1) Aparições incidentais: tidas como aquelas gratuitas, ou seja, que aparecem “disfarçadamente” em meio aos demais recursos didáticos nas páginas de um livro : conjunto das gravuras, ou dos textos de leitura, sem que se espere que sirvam de apoio necessário à discussão subjacente à unidade temática do livro, e menos ainda, a um questionamento sobre a condição de deficiência. Passam quase despercebidas e sua qualidade sutil é, possivelmente, a força diferencial de uma possível mensagem em favor da positivação da imagem da pessoa com deficiência. 2) Aparições propositais: tidas como aquelas relacionadas ao tópico específico, objeto da unidade ou capítulo do livro. Para atender as recomendações do MEC, o tratamento transversal dos conteúdos em temáticas contemporâneas e de relevância - como a pluralidade cultural, a saúde e o meio ambiente - tem sido a tônica das propostas didático-metodológicas da maior parte das editoras. Por isso, é muito comum se encontrar, mesmo nos livros de Língua Portuguesa, capítulos ou unidades inteiramente destinadas à questão do direito à diversidade ou à importância de hábitos saudáveis de higiene e nutrição. Nessas situações, discutir a temática da tolerância frente à diferença, por exemplo, é o foco de atenção primário e é, nesse sentido, que se abre espaço para fazer constar uma matéria de jornal que relate, por exemplo, a história de vida de uma criança cega por exemplo. 3) Aparições instrumentais: Logo, essa terceira categoria, que circunstanciou a identificação de representações de pessoas com deficiência nos livros didáticos de Língua Portuguesa, diz respeito àquelas imagens - ilustrações ou narrativas textuais - cuja finalidade primeira é explanar os usos da língua e/ou a função da linguagem. Os livros analisados foram os seguintes tiveram seus nomes e autores suprimidos e mencionados como 1,2,3 e 3 de agora em diante, já que em nossa pesquisa,não é apontar esta ou aquela obra didática como modelo, mas apreciar de que forma as pessoas com deficiência são tratadas nessas publicações. Nos livros analisados, pouco espaço foi destinado para representar a imagem da pessoa com deficiência, foram identificadas apenas três inserções relativas à deficiência física, nenhuma sobre a deficiência mental , duas inserções relativas à deficiência visual e uma inserção relativa à deficiência auditiva, sendo que em alguns casos o discurso apresentado está impregnado de preconceito e induzem os alunos- leitores a intolerância em relação as pessoas com deficiência, como a encontrada no livro 1 no texto intitulado “Divirta-se” pag 119 : _Quantos dedos eu tenho nesta mão Joãozinho? _Cinco professora! _Se eu tirar três o que acontece? _A senhora fica aleijada! No mesmo livro o texto: Chapeuzinho Vermelho de Raiva, (pag. 156) retrata a adolescente personagem criticando severamente a avó por não corresponder ao padrão ideal de beleza. Neste livro nenhuma imagem de criança com deficiência foi encontrada, embora crianças de diferentes feições apareçam brincando juntas. No livro 2 o texto da pag 118, “ Tem de brincar, tem de correr, tem de suar”, o seu título denota desde o titulo conotações autoritárias e preconceito, pois exclui as pessoas que não podem por razões as mais diversas como a deficiência física por exemplo, realizar estas atividades : “... se você não puder praticar algum esporte regularmente, ótimo. Se não puder, chame os amigos par brincar de pique, apostar corrida...” Nenhuma menção as pessoas com deficiência ou necessidades especiais é encontrada embora imagens de pessoas de diferentes feições como no livro 1 apareçam com bastante freqüência. No livro 3, percebemos sutil mudança de postura em relação as pessoas com deficiência , pois logo na sua primeira unidade, uma imagem de pagina inteira representa uma sala de aula, crianças de diferentes tipos físicos estudando sentadas, enquanto outra é atendida pela professora, uma criança esperando em uma cadeira de rodas aparece me segundo plano aguardando ser atendido pela professora em companhia de um amigo que segura as alças da cadeira. O título “Descobrindo a escrita” colabora ao lançar questões sobre a figura, inclusive sobre a criança na cadeira de rodas, pedindo que o colega que ajuda seja circulada. Crianças e pessoas de diferentes tipos físicos aparecem em convivência durante toda a obra e no capítulo 4 outra imagem de página inteira intitulada “ Nossa Terra nossa gente”, outra criança sentada em uma cadeira de rodas aparece, entre a outras pessoas, o contexto é uma feira cultural, onde aparecem imagens de muitas pessoas em diferentes modalidades culturais, do circo ao teatro; o exercício que vem a seguir pede entre outras coisas que a cena onde a criança aparece na cadeira de rodas seja circulada. Apesar desses notórios avanços no que se refere a pessoa com deficiência , nota-se que esta mais uma vez quando aparece, é em segundo plano, e sendo ajudada , nunca em situação de igualdade, atividade ou protagonismo, como a reforçar sua impossibilidade neste sentido, o que se constitui em barreiras atitudinais são, por vezes, evidenciadas pelos mecanismos de negação das possibilidades dessas pessoas, fortemente firmados no conceito de limitação e incapacidade, são manifestadas pelo assistencialismo e paternalismo ainda vigentes em nosso meio. No livro 4 percebemos um nítido esforço dos autores, quando ao iniciar o livro propõem o tema: “Tão iguais e tão diferentes”, onde pessoas em uma foto aparecem sentadas em circulo, estas possuem diferentes tipos físicos, e as perguntas sugeridas relacionam a foto ao titulo, o texto que se segue continua com a mesma temática , quando descreve os amigos da autora, revela traços da personalidade nem sempre politicamente corretos “usa botina até na piscina”, quando tem medo mama no dedo”meu amigo não tem umbigo, mas eu não ligo...” e como os demais inclui em suas imagens de apoio ao textos pessoas de diferentes aspectos físicos e diferentes status sociais, como a bailarina negra da página 215. No ultimo capítulo o autor termina convidando o leitor- estudante a construir uma história, nesta página a pessoa com deficiência está na cadeira de rodas, entre outra imagens, mas diferentes das outras imagens analisadas está em atividade, brinca com uma colega com a bola, e interagem em situação de igualdade. Numa segunda etapa e no mesmo capítulo apresenta quatro personagens: um em uma cadeira de rodas o Caio, o outro é o Rafael que é cego, e os outros dois são uma dupla de crianças surdas Pedro e Mirela, que “falam” em Libras. São tirinhas , o autor incita a reflexão e apresenta temas como a inclusão, racismo, e diferenças. Na terceira etapa no mesmo capitulo a música Deveres direitos de Toquinho é apresentada, nela em suas estrofes pode-se ler “ amizade é um tesouro, viver sem preconceito é bem melhor...e lança uma pergunta: Você já ouviu falar dos Direitos e Deveres das crianças? O que há para lamentar neste contexto é que tão importante tema só seja abordado nas ultimas páginas do livro, o que pode inviabilizar sua leitura e execução em sala de aula. É muito interessante confrontar esses dados com o ultimo censo e perceber que embora o a deficiência mental seja a mais expressiva numericamente ela continua inexistente nos livros escolares. O que comprova infelizmente que o que se verifica na prática é que as limitações físicas e intelectuais são vistas como barreiras, que muitas vezes as impedem de construir como as outras pessoas vivências no cotidiano, e de desenvolver-se plenamente de forma integrada na família, na escola e na comunidade de qual faz parte, e de interagir com o mundo, como portadoras de voz, vez e materialidade. Considerações Finais Concluímos que a militância em defesa dos direitos de minorias tem apontado sugestões numéricas para a participação equânime das pessoas que representam as várias etnias nos meios de comunicação, de tal sorte que, a visibilidade alcançada por negros e nos livros didáticos analisados é expressiva e patente. Em oposição a uma educação que não considera a diversidade expressa no cotidiano, em sala de aula, ou seja, que não compreende o espaço escolar como um lugar essencialmente coletivo, de encontro de diferenças, Freire ressalta a característica de inconclusão do ser humano, apontando por uma educação que reconheça e respeite os diferentes tempos de cada sujeito para que possa estabelecer as relações necessárias à constituição de conhecimentos e valores. A escola precisa refletir o momento histórico que estamos atravessando, considerando a diversidade como característica do sujeito em processo de constante transformação, a fim de oferecer uma educação de qualidade para todos, independente das suas diferenças, isto é , que seja verdadeiramente de todos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: CARLOS, Erenildo João. Sob o signo da imagem: outras aprendizagens e competências. In: _____. (Org.). Educação e Visualidade: Reflexões, estudos e experiências pedagógicas com a imagem. João Pessoa: UFPB, 2008. p. 13-35. CAMARGO, L. O papel da ilustração nos livros para crianças. Jornal da Alfabetizadora. Rio de Janeiro, n. 8, 1990. CANDAU,V. M. (Coord.) Somos tod@s iguais? Escola, discriminação e educação em direitos humanos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 24ed.São Paulo: Paz e Terra, 2002. _______. Educação como prática da liberdade. 22ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. FREITAG, B.; COSTA, W.F.; MOTTA, V.R. O livro didático em questão. São Paulo: Cortez/ Autores Associados, 1989. GILL, R. Análise de Discurso. In: BAUER, M.W.; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2004 NOSELLA, M. L. C. D. As belas mentiras: a ideologia subjacente aos textos didáticos. São Paulo: Cortez/Moraes, 1979. REILY, L. Escola Inclusiva: linguagem e mediação. Campinas: Papirus, 2004. SKLIAR, C. (Org.) Educação e Exclusão: abordagens sócio-antropológicas em Educação Especial. Porto Alegre: Mediação, 2004.