Começo por manifestar o meu apreço pela razão que hoje nos
traz aqui: o debate e a procura de consensos sobre as linhas de
orientação que vão consignar o Plano de Acção para o
Desenvolvimentodo Turismo em Portugal, no universo temporal
de 2020. Um processo que, estou certo, nos mobilizará a todos
para a necessidade de se racionalizar recursos e coordenar
esforços no sentido de tornar o sector mais competitivo.
O desenho e a implementação de um sólido referencial para o
Turismo no âmbito do novo período de programação
comunitária exigem uma efectiva integração de escalas e uma
participação abrangente dos actores sectoriais. Só assim se
poderá definir uma estratégia promocional e uma política de
atracão de investimentos consentâneas com os objectivos que se
pretendem alcançar.
O contexto de contracção da procura interna que atravessamos,
os constrangimentos do crédito e o aumento das exportações
nacionais próximo da capacidade instalada, reforçam a
necessidade de introduzirmos inovação nos sectores em que
podemos ser mais competitivos. O Turismo é claramente um
deles e tem-se constituído nos últimos anos como um dos
principais motores da recuperação económica do País, atentos
os seus efeitos multiplicadores e redistributivos.
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Em 2013, o Turismo e a Restauração criaram em Portugal, por si
só, em termos líquidos, cerca de 25.000 postos de trabalho,
dando um contributo importante para a sustentabilidade da
nossa autonomia económica e financeira. A evolução nos
proveitos tem sido igualmente importante, com um crescimento
global de 5,4%, para os 1.957,5 milhões de euros.
Desde 2009, a contribuição do sector para as exportações tem
sido crescente, representando já mais de 46% dos serviços
exportados.
De forma inequívoca, o Porto e Norte, têm vindo a alicerçar o
seu potencial turístico, numa conquista que resulta em grande
medida da forma transversal como o destino tem sido
promovido e desenvolvido. A conjugação certa do património
histórico, arquitectónico e paisagístico, da farta e variada
gastronomia e dos vinhos, da animação cultural, da simpatia e do
bem receber das gentes do Norte representa hoje um vector
económico regional de primeira valia.
Os números falam por si: o boom turístico que se observa no
Porto consolidou-se em 2013, com um aumento de 15% nas
dormidas de estrangeiros na cidade, num total de mais de 2,2
milhões de estadias. São esperadas em 2014 mais 140 mil
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dormidas e um aumento do consumo médio global dos turistas,
que ronda actualmente os 720 euros.
Entre Janeiro e Junho deste ano verificou-se já um acréscimo de
16% nas dormidas face ao período homólogo de 2013.
Em termos nacionais, Porto e Norte foi o segundo destino
regional com maior taxa de crescimento no 1º semestre deste
ano e nos proveitos totais, o destino atingiu os 106 milhões de
euros (cerca de 12% do País), superando o mesmo período de
2013 em mais 9,9 milhões de euros.
O que estará, então, por trás deste sucesso?
O destino Porto e Norte oferece aos turistas experiências
diversificadas, marcadas, todas elas, por um irresistível cunho de
autenticidade, com crescente sofisticação de ambientes e
atmosferas;
É o destino português que concentra o maior número de
subprodutos turísticos, direccionados para múltiplos segmentos;
É um destino com uma excelente relação preço-qualidade. Em
nenhum outro país da Europa os turistas aterram num dos três
melhores aeroportos europeus, viajam no metro premiado pela
Universidade de Harvard, põe-se em 30 minutos na Baixa por
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menos de dois euros, instalam-se em guest-houses que já
conquistaram o mundo e comem principescamente em tascas
que ainda lhes oferecem animação;
É um destino “sexy”, que está na moda e onde se localizam
muitas das indústrias que estão também na moda, como o vinho,
a gastronomia ou o calçado;
É um destino servido por um aeroporto internacional que tem
capacidade instalada, boas acessibilidades, Metro directo, uma
área de influência que se estende à Galiza, um número elevado
de ligações directas a destinos relevantes e que agora irá ter
também um Terminal de Cruzeiros que lhe permitirá aumentar
os tempos de escala na Região;
É um destino que encerra em si, quatro Patrimónios da
Humanidade, distinções que conferiram um novo valor ao
património da Região, através de uma certificação internacional.
O somatório de investimentos autárquicos, com a aposta, nos
últimos anos, na promoção de grandes eventos como foi o
RedBullAirRace, o NOS Primavera Sound, a Feira do Livro, a
Debandada, a Capital Europeia da Cultura 2001, mas também a
Essência do Vinho, ou mesmo o S. João, vieram dar uma nova
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visibilidade ao Porto, visibilidade que se tem vindo a difundir por
toda a Região.
As múltiplas distinções internacionais de que a Região tem sido
alvo são de extrema importância, quer do ponto de vista da
divulgação e sedimentação da marca “Porto e Norte”, quer na
perspetiva de elevação do sentimento de pertença dos seus
habitantes, que vêem cada vez mais a sua cidade e a sua região
como locais economicamente dinâmicos, confortáveis para se
viver e vibrantes para visitar.
Um sentimento mobilizador do investimento que se tem
realizado na hotelaria, na restauração e nos novos negócios que
gravitam em torno do sector. Há uma dinâmica empreendedora
associada ao Turismo que está a motivar os investidoresa arriscar
mesmo quando o clima económico é menos favorável.
Muito deste sucesso se deve também à acção de promoção
externa que a Associação de Turismo do Porto e Norte tem
levado a cabo, e que compreende ainda a concepção e
implementação de uma estratégia que visa posicionar e afirmar a
marca Porto e Norte como uma das principais insígnias do
panorama turístico nacional.
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Em articulação com os referenciais definidos pelo Turismo de
Portugal, a ATP tem procurado desenvolver, na Cidade e na
Região, um espírito de colaboração e de trabalho em rede entre
os principais stakeholders públicos e privados do sector,
perspectivando a alavancagem da referida dinâmica empresarial.
Os agentes privados da Região têm demonstrado o seu empenho
em assegurar uma comparticipação neste esforço promocional,
num modelo que se tem revelado claramente eficaz no aumento
da notoriedade do destino.
São visíveis os resultados obtidos através desta parceria, que se
reflectem não apenas no crescimento e diversificação dos
turistas que visitam hoje a Região, cumprindo e superando, aliás,
as metas traçadas pelo Turismo de Portugal, como também e
fundamentalmente, na consolidação da imagem de excelência
regional – HOJE TEMOS:
- Um território mais qualificado;
- Uma valorização inequívoca da oferta de alojamento;
- Um network de ligações aéreas que triplicou nos últimos 5
anos, com mais de 6 milhões de passageiros a passar anualmente
pelo Aeroporto do Porto;
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- Uma proliferação de turistas oriundos dos sítios mais
improváveis do planeta, num fenómeno impensável há 10 anos
atrás;
- O “fenómeno espanhol”. Os espanhóis parecem finalmente ter
descoberto os encantos do turismo em Portugal e vêm em força
ao longo de todo o ano;
- O aumento da notoriedade do Douro, nos segmentos
Gastronomia, Turismo de Natureza, Enoturismo e Aventura;
- Melhoramentos significativos do nosso posicionamento nos
segmentos Touring/ Turismo de Negócios e Sol e Mar;
Uma palavra também para o trabalho que tem sido realizado ao
nível da simplificação do sector, como o novo Regime Jurídico
dos Empreendimentos Turísticos, o Regime Jurídico do
Alojamento Local, a diminuição dos custos de contexto das
agências de viagens, ou o novo regime que liberalizou a
actividade de animação turística.
Não obstante este sucesso, há constrangimentos que ainda não
conseguimos superar:
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- Persiste ainda uma excessiva dependência dos mercados
externos, com um mercado interno em queda contínua nos
últimos quatro anos;
- Verifica-se ainda uma insuficiente taxa de ocupação por cama,
agravada por níveis de sazonalidade elevados, sobretudo fora do
Porto, uma vez que a cidade tem vindo a diluir o gap entre as
épocas de maior e menor movimento;
- A estada média é ainda baixa, inferior à média nacional, e
reflecte-se também no rendimento médio por quarto disponível,
indicador em que o Norte está abaixo da média nacional;
- Persiste alguma atomização de iniciativas, que se reflecte ao
nível do que foi a execução do QREN na Região, onde foi ainda
visível uma dispersão de fundos em acções sem grande escala.
Segundo dados fornecidos pela Comissão de Coordenação e
Desenvolvimento Regional do Norte, foram apoiados pelo QREN,
entre 2007 e Março de 2013, 182 projectos, num investimento
total de 456 milhões de euros.
Cerca de 66% do investimento realizado concentrou-se no
Alojamento e 7% no Turismo no Espaço Rural. Os restantes 27%
distribuíram-se por actividades recreativas e de animação e
diversão.
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As lições da experiência de aplicação dos fundos demonstram
que as intervenções demasiado atomizadas, seja no âmbito
municipal, seja no âmbito dos apoios empresariais ou mesmo no
âmbito da qualificação das pessoas, tendem a produzir
resultados aquém dos desejáveis.
Como tem vindo a ser apontado, o balanço de 25 anos de Fundos
Comunitários em Portugal denota uma aposta na melhoria das
infra-estruturas do País, mas numa lógica não raras vezes pouco
coordenada
e
monitorizada.
Demonstra
também
falhas
sucessivas nas acções de formação e resultados ainda frágeis nas
áreas essenciais da inovação, conhecimento e competitividade.
Neste quadro, não existe ainda tecido social sustentado e uma
verdadeira capacidade estratégica de sinalizar recursos para os
sectores essenciais ao País, como é o caso do Turismo.
O que na prática se tem vindo a verificar é que há um
considerável volume de verbas afectas a programas, que, ao
contrário do que seria esperado e desejável face à escassez de
recursos, não estão a contribuir para a modernização do tecido
económico do país e para a requalificação do território.
Os
pressupostos
para
aplicação
do
próximo
ciclo
de
financiamento comunitário assinalam que a reorientação para os
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resultados implica a valorização de intervenções devidamente
interligadas e cujos efeitos se reforcem mutuamente.
Tendo em conta as recomendações exaradas do próprio
Observatório do QREN e reuniões tidas com o Senhor Professor
Emídio Gomes, Presidente da CCDR-N, estou em crer que o
próximo ciclo de apoios será reforçado em componentes como:
-
Projectos
inovadores
e
estruturantes
com
efeitos
demonstráveis de arrastamento sobre outras organizações e
actividades, seja no âmbito de uma “Valorização Económica da
Excelência Turística Regional”, seja no domínio da “Valorização
Económica
de
Recursos
Específicos”,
que
cruzaram
transversalmente a “Promoção da Marca Porto-Norte de
Portugal” no anterior quadro comunitário;
- Mecanismos de engenharia financeira, através da promoção de
soluções de financiamento complementares relativamente aos
sistemas de incentivo, a nível de capitais próprios (capital de
risco) ou capitais alheios (financiamento, bonificação juros,
garantias, etc.), que se vêm revelando imprescindíveis, quer para
o fomento da inovação e empreendedorismo, quer para a
promoção de novas empresas, em termos de capital semente;
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- Medidas que mitiguem a destruição da capacidade produtiva
em empresas estruturalmente competitivas mas que atravessam
períodos críticos face à dificuldade de retorno de investimentos
no actual contexto de crise;
- No âmbito da formação, reforço dos apoios às acções que
produzam quadros efectivamente reconhecidos pelo mercado,
fomentando a implementação de mecanismos mais eficazes de
transferência e disseminação de know-how entre entidades e
recursos humanos envolvidos em projectos co-financiados e
valorizando, por essa via, o potencial de criação de emprego
qualificado na atribuição de incentivos;
- Face ao contexto de contracção do mercado de trabalho,
reforço das majorações dos apoios aos projectos que gerem
emprego sustentado.
O próximo ciclo de fundos estruturais será vital para que o País
retome uma trajectória de crescimento sustentado mas terá
sempre um impacto limitado se as empresas não puderem
contar com um quadro fiscal claro e estável e uma Justiça célere
e eficaz.
Para o Turismo, será igualmente sensível a questão da
reabilitação urbana. É fundamental que as autarquias e o
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governo central mantenham a aposta na valorização do seu
património edificado e que se encontrem os mecanismos
adequados para estimular o investimento privado nesta matéria.
Também no plano da promoção e venda há trabalho a fazer. No
âmbito do novo quadro de atuação do Turismo de Portugal, a
ATP está a mobilizar os seus associados para a necessidade de se
adoptar um novo modelo de governação, de gestão e de
financiamento que lhe permita congregar o acolhimento, a
comercialização, o apoio à venda e a comunicação da marca
Porto e Norte, para que seja possível a implementação de uma
estratégia de promoção conjunta e mais eficaz junto dos
principais mercados-alvo. É um processo que já está em curso e
que gradualmente se pretende consolidar.
É incontornável, nesta fase de contenção, que se evite a
dispersão de recursos e que esses se concentrem no
desenvolvimento do sector, para que seja possível organizar a
oferta de forma mais consistente e com maior relevância para o
cliente.
A ATP está também a trabalhar para que se encontrem as
parcerias nacionais e internacionais mais eficazes, que permitam
à Região ganhar a escala e a visibilidade de que necessita para se
reposicionar face aos principais concorrentes.
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Tomando como enquadramento as directrizes emanadas pelo
Turismo de Portugal, sustentadas no PENT - Plano Estratégico
Nacional do Turismo, apontam-se sumariamente os seguintes
objectivos de curto e médio prazo para o destino Porto e Norte:
- Crescer no mercado internacional, equilibrando a posição com
o mercado interno e acelerar o crescimento dos proveitos;
- Reforçar a promoção nos quatro mercados estratégicos de
Espanha, Alemanha, Reino Unido e França mas procurar
gradualmente uma maior diversificação junto de destinos
competitivos, como a China, Rússia ou Índia;
- Focalizar a actuação na redução da sazonalidade, potenciando
as operações de Inverno, de forma a alargar a Época Alta;
- Aumentar os investimentos nos canais on-line, dando especial
destaque ao desenvolvimento de novos canais de apoio à
distribuição e venda, por forma a aumentar a eficácia do
marketing e do targeting;
- Priorizar a actuação junto do consumidor final, quer através dos
canais on-line, quer potenciando a estruturação da oferta
comercial e o apoio às acções de vendas de parceiros, numa
estratégia de inovação orientada para a experiência do cliente e
suportada por um trabalho em rede.
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Trata-se, em linhas gerais, de trabalhar a segmentação da oferta,
de inovar no marketing digital e de prosseguir uma reorientação
gradual para mercados alvo mais sofisticados, que permitam a
obtenção de ganhos superiores por cliente.
Portugal não tem, para o exterior, uma marca claramente
distintiva, através da qual o turista tem a percepção do que cada
região lhe pode oferecer. Mas o destino Porto e Norte pode
contribuir de forma mais consistente para a consolidação da
imagem de excelência do turismo português, sugerindo
experiências diferentes e alternativas, que traduzem de forma
sublime o que a “The Essence of Portugal” verdadeiramente é.
Para isso devo enaltecer a excelente relação institucional
existente entre a ATP, a CCDR-N, todos os municípios envolvidos,
bem como associações empresariais da Região em prol deste
objectivo comum - a promoção do destino. Estamos certamente
todos empenhados nesse objectivo.
Muito obrigado
NUNO BOTELHO
Associação Comercial do Porto
Porto, 29 de Outubro de 2014
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