O que NÃO é empreendedorismo
*Marcos Hashimoto
Eu vejo constantemente publicações, artigos, livros, textos, uma miríade de conhecimento
desenvolvido sobre o tema empreendedorismo, nas mais diversas áreas e mídias, algumas
fidedignas, outras, nem tanto. A segmentação do assunto parece não ter fim:
Empreendedorismo corporativo, empreendedorismo social, empreendedorismo em empresas
familiares, empreendedorismo étnico, empreendedorismo de start-up, e assim por diante.
Diante de tantas explicações sobre o assunto, fica cada vez mais difícil saber o que realmente
significa o termo Empreendedorismo. Eu mesmo me vejo, em algumas situações, com dúvidas
sobre a legitimidade da presença de alguns termos nas definições que vejo, e o pior é que não
consigo perceber nenhuma tendência de se chegar a um consenso em torno de uma definição
única.
Assim, prefiro seguir o caminho contrário e procurar aqui definir o que eu NÃO considero
empreendedorismo. Desta forma, posso dar espaço para que cada um construa sua própria
definição, numa atitude mais democrática e mais condizente com o que o ensino do
empreendedorismo deve ser: a construção do conhecimento ponderado pela união entre
próprias convicções e informações externas, dando o máximo de liberdade de interpretação e
contribuindo para ampliar ainda mais as distintas visões sobre o tema.
Empresários: Esta é a primeira e mais comum confusão que se criou nesta profusão de
nomenclaturas. Muitas definições colocam empresários e empreendedores como sinônimos,
quando, na verdade, o empreendedor é mais do que um empresário. Qualquer cidadão que
abre um negócio é, a rigor, um empresário. Um empreendedor, por outro lado, vai além,
constrói uma organização de sucesso com base em ousadia, determinação, criatividade,
relacionamentos, realizações, auto-confiança, flexibilidade e visão. O empresário que não
possui pelo menos metade destas características não pode ser considerado um
empreendedor. Quem abre mais uma padaria ou posto de gasolina, sem ter vislumbrado uma
oportunidade, sem ter construído uma sólida e factível visão do futuro ou se preparado para
toda e qualquer vicissitude que encontrar no caminho, pode ser um empresário, mas
dificilmente o consideraria um empreendedor.
Franquia: Ainda que seja possível ver um empreendedor conduzindo uma franquia, acredito
que a franquia representa um tipo de modelo de negócio que afasta, ou deveria afastar, o
verdadeiro empreendedor pelo simples motivo que uma franquia limita uma das coisas que o
empreendedor mais preza: a liberdade. Com maior ou menor grau, todas as franquias
oferecem como benefício aquilo que o empreendedor enxerga como restrição: Identidade
visual, padronização de metodologia e processos, cadastro único de fornecedores, políticas de
preços uniformes, infra-estrutura centralizada, marca e imagem, além de outros elementos
que, no conjunto, trazem a segurança de um modelo de negócios já testado e, provavelmente,
com riscos bastante reduzidos. Um empreendedor pode até colocar a experiência de
franqueado como uma etapa de seu processo de aprendizado, mas dificilmente vê uma
franquia como seu objetivo final.
Herança: Empresas familiares podem ser de dois tipos: Aquelas originadas pelo empreendedor
como fundador e aquelas que foram entregues já constituídas para as gerações seguintes.
Posso afirmar com certa segurança que verdadeiros empreendedores se preocupam mais com
a sustentabilidade do seu negócio no longo prazo do que a lucratividade por si só. Este fato já
pode aumentar as chances de vermos sucessores empreendedores à frente de negócios de
sucesso criados por uma ou mais gerações anteriores. Empreendedores formam (ou melhor,
‘forjam’) empreendedores para dar continuidade à seus negócios, mesmo que estes não sejam
seus sucessores diretos, ou sequer familiares. Entretanto, ainda é grande o número de
herdeiros que se dizem empreendedores sem saber que não detém as qualificações que
colocaram o fundador à frente do processo de criação e desenvolvimento da organização que
assumiu.
Líderes: Também existe uma grande confusão em torno das definições de empreendedores
como líderes. Líderes são diferentes de empreendedores. Alguns tipos de empreendedores
podem ser influentes, cativantes, capazes de mobilizar pessoas em torno de causas comuns,
viabilizar grandes realizações através de equipes, compreender e explorar o que existe de
melhor de cada pessoa. Mas isso, por si só, não faz de um líder um empreendedor. Um líder
não necessariamente é dotado de alta flexibilidade e adaptabilidade, embora saiba praticar o
modelo de gestão participativo. Um líder não é necessariamente perseverante e determinado,
embora saiba construir e transmitir visões positivas do futuro que influenciam seguidores mais
do que a si mesmo. Um líder também não costuma colocar ‘a mão na massa’, ao conduzir
projetos. Embora costume atuar mais como um facilitador para deixar as pessoas mais livres,
prefere ser o maestro e reger os esforços da equipe, do que sujar as próprias mãos.
Inovadores: O economista Joseph Schumpeter foi um dos mais proeminentes estudiosos do
empreendedorismo. Sua linha de estudos vincula a figura do empreendedor à do inovador. A
maior parte dos estudos acadêmicos no Brasil também segue por esta linha. Antes de
prosseguir na argumentação, é importante diferenciar uma ideia de uma inovação. Uma ideia
é qualquer manifestação do pensamento criativo, enquanto uma inovação é o resultado do
processo evolutivo de uma ideia em termos de valor agregado. Uma inovação é, portanto, uma
ideia que serve para alguém ou alguma coisa. Isto posto, fica estabelecido o ponto de
intersecção entre o inovador e o empreendedor. Toda iniciativa do empreendedor está
cercada por algum grau de inovação. Não precisa ser um novo produto ou serviço, pode ser
uma simples mudança ou melhoria num processo. Se ninguém havia pensado naquilo, então é
uma inovação. O empreendedor é aquele que coloca a inovação em prática, realiza-a e gera
resultados perceptíveis. Pessoas que são boas em gerar inovação, como cientistas e
pesquisadores, não necessariamente são empreendedores. O empreendedor transforma a
inovação em negócio.
E então, você já tem elementos suficientes para escrever sua própria definição de
empreendedor ou empreendedorismo
Marcos Hashimoto é consultor e palestrante em empreendedorismo,
planos de negócios e intraempreendedorismo. Coordenador e Professor
do Centro de Criatividade e Empreendedorismo da Faap. Doutor em
Empreendedorismo pela EAESP/ FGV. Coordenou o Centro de
Empreendedorismo do Insper, Pesquisador na Faculdade Campo Limpo
Paulista, autor do software SP Plan de Planos de Negócios, Autor dos
livros 'Espírito Empreendedor nas Organizações'
'Lições de
Empreendedorismo' e 'Práticas de Empreendedorismo'. Professor
visitante da Universidade do Texas em San Antonio (EUA) e Universidad
de Los Andes na Colômbia. Colunista do site da Revista Pequenas
Empresas Grandes Negócios, colaborador do Instituto Empreender Endeavor. Presta serviços
de consultoria em Estratégia Empresarial, Liderança e Empreendedorismo Corporativo.
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