ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE TERRITÓRIOS RURAIS NO ESTADO DO CEARÁ UTILIZANDO O ÍNDICE DE CAPACIDADES INSTITUCIONAIS1 Edgar Marcal de Barros Filho - UFC; Araguacy Paixão Almeida Filgueiras - UFC; José Cesar Vieira Pinheiro - UFC; Jose Newton Pires Reis - UFC; Nilo Moreira de Souza Junior – CAI Território Inhamuns Cratéus Grupo de Pesquisa: Desenvolvimento Rural RESUMO O Índice das Capacidades Institucionais de um território permite avaliar como se encontram as condições e os recursos disponíveis às estruturas organizativas territoriais. Este artigo apresenta um comparativo entre territórios rurais cearenses utilizando como base esse índice. Pode-se observar que, mesmo distantes geograficamente, os territórios do Ceará são bastante semelhantes com relação às capacidades institucionais, com poucas diferenças que merecem atenção. Além da comparação interna, é feita uma análise dos valores médios das capacidades institucionais cearenses com os valores médios nacionais e da região nordeste. Os resultados mostram que o Ceará apresenta indicadores superiores em quase todas as áreas. A única exceção é a área Participação, que também apresenta os menores índices nas comparações entre os territórios cearenses. Reflexões são feitas sobre as análises comparativas entre os resultados dos territórios do próprio estado e do Ceará com a região Nordeste e com o Brasil. Palavras-chaves: Capacidades Institucionais, Territórios Rurais, Ceará. COMPARATIVE ANALYSIS BETWEEN RURAL TERRITORIES IN THE STATE OF CEARÁ USING THE INDEX OF INSTITUTIONAL CAPACITIES ABSTRACT The index of institutional capacities to assess how an area can meet the conditions and resources available to regional organizational structures. This article presents a comparison between rural Ceará using this index as a basis. It can be seen that even geographically distant, the territories of Ceará are quite similar with respect to institutional capacity, with few differences deserve attention. In the internal comparison, an analysis is made of the mean values of the institutional capacities of Ceará with national averages and the Northeast. The results show that the Ceará has higher indicators in nearly all areas. The only exception is the area of participation, which also has the lowest rates in comparisons between the territories of Ceará. Reflections are made on the comparative analysis between the results of the territories of their own state and Ceará with the Northeast region and Brazil. Key Words: Institutional Capacity, Rural Territory, Ceara-Brazil. 1 Este trabalho é resultado de pesquisa vinculada ao Termo de Cooperação entre a Secretaria do Desenvolvimento Territorial do Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, por ocasião do Edital MDA/SDT/CNPq – Gestão de Territórios Rurais Nº. 05/2009. 1 Ilhéus, 3 a 5 de outubro de 2012 Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VII SOBER Nordeste 1. INTRODUÇÃO A política de desenvolvimento territorial da SDT (Secretaria de Desenvolvimento Territorial) do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) é essencialmente integradora de espaços, atores sociais, agentes, mercados e políticas públicas. O território é mediador entre a dimensão do município e a dimensão micro regional. Passa a ser uma nova escala intermediária que contempla dimensões múltiplas, dentre as quais se privilegiam as variáveis sociais, econômicas, ambientais e político-institucionais. A implantação do Programa de Desenvolvimento Sustentável dos Territórios Rurais (PDSTR) pela SDT-MDA criou uma demanda crescente de trabalhos de pesquisa e de extensão adequadas à realidade da agricultura familiar. Estas mudanças nas abordagens de planejamento trouxeram grandes impactos. O programa saiu do controle municipal para um controle territorial, mais abrangente, com profundas alterações na estrutura de poder, que secularmente orientaram a política de desenvolvimento rural brasileira. No Ceará, está sendo desenvolvido o um Projeto (Monitoramento e Avaliação de Territórios Rurais do Ceará) para articular institucionalmente e operacionalmente a Universidade Federal do Ceará (UFC), os territórios rurais e a SDT, estimulando o processo de monitoramento, avaliação e informação nos territórios através de Células de Acompanhamento e Informação (CAI). Entre as informações que foram monitoradas pelo Projeto encontra-se o Índice das Capacidades Institucionais (ICI). Este índice refere-se às condições e recursos disponíveis às estruturas organizativas do Território e às organizações autônomas da sociedade civil e de representação estatal/social. Especificamente, sobre as organizações de gestão dos territórios rurais, a compreensão das capacidades institucionais deve considerar as principais áreas de desenvolvimento institucional referidas aos territórios rurais no marco da política de desenvolvimento rural sustentável. As áreas identificadas no Projeto para o cálculo do ICI foram: Gestão dos Conselhos, Capacidade das Organizações, Serviços Institucionais Disponíveis, Instrumentos de Gestão Municipal, Mecanismos de Solução de Conflitos, Infraestrutura Institucional e, por fim, Iniciativas Comunitárias e Participação. Cada uma destas áreas fornece informações importantes e permitem que se conheçam as capacidades das organizações por território, porém de forma individual. Este artigo apresenta uma análise comparativa entre quatro territórios rurais do estado do Ceará tendo como base as áreas do Índice das Capacidades Institucionais. Os territórios abrangidos nesse trabalho foram: Inhamuns/ Crateús, Sertão Central, Sertões de Canindé e Curu / Aracatiaçu. Na próxima seção é apresentada a metodologia para o levantamento dos dados para o cálculo do indicador de capacidades institucionais e para o estudo comparativo entre os territórios. A terceira seção detalha os resultados obtidos na análise comparativa entre as áreas das capacidades institucionais dos quatro territórios. Por fim, a última seção apresenta uma discussão crítica sobre os resultados obtidos após as comparações entre os quatro territórios. 2 Ilhéus, 3 a 5 de outubro de 2012 Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VII SOBER Nordeste 2. METODOLOGIA Foi utilizada uma amostra aleatória para obtenção dos dados mediante entrevistas com representantes do poder público, sendo gestores ou assessores das prefeituras designados para participar das plenárias do colegiado consistindo na aplicação de apenas um questionário por município. O Quadro 1 apresenta as áreas que foram utilizadas como diretrizes para a realização das entrevistas e os seus principais indicadores. Quadro 1: Áreas que compõem o Índice de Capacidades Institucionais. Áreas Indicadores Gestão dos Conselhos Gestão dos conselhos territoriais. Análise dos componentes sociais e ambientais dos Projetos. Busca por fontes de financiamento. Promoção da integração dos projetos. Capacidade das Gestão das organizações presentes e atuantes nos territórios, tais Organizações como: cooperativas, sindicatos, associações de agricultores familiares, entre outras. Serviços Serviços de assistência técnica. institucionais Serviços de apoio tecnológico. disponíveis Serviços de informações sobre preços. Instrumentos de Estratégias de coordenação com instituições estaduais e federais. Gestão Municipal Monitoramento do uso de produtos perigosos. Manejo de dejetos. Normas sobre impactos ambientais. Ordenamento do uso do solo. Mecanismos de Estratégias para solução de discussões e discórdias solução de Envolve os movimentos e expressões sociais presentes nos conflitos territórios, tais como: autoridades locais, comitês comunitários e mobilizações de grupos locais. Infraestrutura Existência de infraestrutura pública para o desenvolvimento de Institucional atividades econômicas, sociais, culturais e políticas. Iniciativas Expressão política territorial. Comunitárias Capacidade para estabelecer alianças para defender interesses. Capacidade para estabelecer projetos e alianças. Participação Grau de participação das organizações municipais nas ações territoriais Participação dos beneficiários de projetos locais na sua demanda, elaboração e gestão. Cada uma das áreas apresentadas no Quadro 1 tem indicador que varia entre 0 (zero) e 1 (um), sendo que, o valor 1(um) indica maior capacidade, e, 0 (zero), menor capacidade das instituições do território. A coleta dos dados referentes às capacidades institucionais foi realizada a partir dos questionários: Capacidades Institucionais (Q1), Acompanhamento da Gestão dos 3 Ilhéus, 3 a 5 de outubro de 2012 Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VII SOBER Nordeste Colegiados Territoriais (Q3) e Avaliação de Projetos de Investimento (Q5). Os questionários são compostos, além das questões de identificação da entrevista, por perguntas de múltipla escolha, dicotômicas (sim ou não), escala e abertas. Cada um deles contribui com diferentes questões para a construção do ICI. Os questionários têm unidades de coleta diferenciadas: i) o questionário de Capacidades Institucionais é aplicado, por município, sendo que o entrevistador busca pessoas conhecedoras dos conteúdos abordados, para serem entrevistadas e concluírem a aplicação do questionário; ii) o questionário de Acompanhamento da Gestão do Colegiado é aplicado a todos os membros da plenária do Colegiado Territorial, em cada território rural; iii) o questionário Avaliação de Projetos de Investimento é aplicado, por projeto, sendo que três unidades são aplicadas: a um representante dos executores do projeto, a um representante dos beneficiários e a um representante do colegiado. O cálculo das Capacidades Institucionais é aferido a partir da média aritmética simples dos itens que compõem cada área de desenvolvimento institucional - Gestão dos Conselhos, Capacidade das Organizações, Serviços Institucionais Disponíveis, Instrumentos de Gestão Municipal, Mecanismos de Solução de Conflitos, Infraestrutura Institucional e, por fim, Iniciativas Comunitárias e Participação –, e padronizados, de 0 a 1, dividindo o somatório das médias de cada item, pelo número total de itens, conforme pode ser visto no Quadro 2. Para representação dos cálculos no Quadro 2 são utilizados os seguintes símbolos: Q, para indicar a numeração do questionário; P, para indicar a pergunta daquele questionário; R, para indicar a resposta de uma determinada pergunta. Quadro 2: Cálculo das áreas que compõem o Índice de Capacidades Institucionais. Área Gestão dos Conselhos Capacidades Organizacionais Serviços Institucionais Fórmula [(Q3_P9)+Σ(Q3_P11_Rn)/2+Σ(Q3_P12_Rn)/5+(Q3_P14)/5+(Q 3_P15)/5+(Q3_P16_R1)/5+(Q3_P16_R2)/5+ (Q3_P16_R3)/5+ (Q3_P16_R4)/5+(Q3_P16_R5)/5 +(Q3_P16_R6)/5+ (Q3_P16_R7)/5+(Q3_P16_R8)/5+ (Q3_P16_R9)/5+ (Q3_P16_R10)/5+ Σ(Q3_P17_Rn)/8+(Q3_P19_R1)/5+ (Q3_P19_R2)/5+ (Q3_P19_R3)/5+(Q 3_P19_R4)/5+ (Q3_P19_R5)/5+ (Q3_P19_R6)/5 + (Q3_P19_R7)/5+ (Q3_P19_R8)/5+ (Q3_P19_R9)/5+ (Q3_P19_R10)/5+(Q3_P19_R11)/5 + (Q3_P19_R12)/5+ (Q3_P19_R13)/5 + (Q3_P19_R14)/5 + (Q3_P19_R15)/5 + (Q3_P19_R16)/5+ (Q3_P20_R1)/5 + (Q3_P20_R2)/5 + (Q3_P20_R3)/5+ (Q3_P20_R4)/5 + (Q3_P20_R5)/5 + (Q3_P20_R6)/5+(Q3_P20_R7)/5 + Σ(Q3_P21_Rn)/4 + (Q3_P22)+Σ(Q3_P23_Rn)/4 + Σ(Q3_P24_Rn)/4 + Σ(Q3_P25_Rn)/5 + Σ(Q3_P26_Rn)/5 + Σ(Q3_P27_Rn)/10 +Σ(Q5_P25_Rn)/6]/48 (Q1_P10)+(Q1_P11)+(Q1_P12)+(Q1_P13)/4 (Q1_P14)+(Q1_P15)/2 4 Ilhéus, 3 a 5 de outubro de 2012 Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VII SOBER Nordeste Disponíveis Instrumentos de Gestão Municipal Mecanismos de Solução de Conflitos Infraestrutura Institucional Iniciativas Comunitárias Participação (Q1_P16)+(Q1_P17)+(Q1_P18)+(Q1_P24)/4 (Q1_P19) (Q1_P21)+(Q1_P22)+(Q1_P23) +(Q1_P27)/4 (Q1_P25)+(Q1_P26)/2 (Q1_P20)+(Q5_P12)+(Q5_P13)+(Q5_P14)+(Q5_P23)/5+ (Q5_P24)/9+(Q5_P34)/7 Tendo calculado cada dimensão de desenvolvimento institucional, o Índice de Capacidades Institucionais foi inferido a partir da média harmônica dos indicadores de Capacidades, de acordo com a fórmula abaixo: Índice de Capacidades Institucionais = 7/[(1/ Gestão dos Colegiados) + (1/Capacidades Organizacionais) + (1/ Serviços Institucionais Disponíveis) + (1/Instrumentos de Gestão Municipal) + (1/ Mecanismos de Solução de Conflitos) + (1/ Infraestrutura Institucional) + (1/Iniciativas Comunitárias) ] Os resultados obtidos pelo Índice de Capacidades Institucionais de cada município foram caracterizados a partir da qualificação estabelecida no Quadro 3. Essa classificação será utilizada ao longo deste artigo. Quadro 3: Valores adotados para qualificação dos municípios a partir do ICI. Valor do Índice Classificação ICI < 0,2 Muito Baixo 0,2 < ICI < 0,4 Baixo 0,4 < ICI < 0,6 Médio 0,6 < ICI < 0,8 Alto ICI> 0,8 Muito Alto 3. RESULTADOS Este trabalho abrange quatro territórios que englobam boa parte do Estado do Ceará, nas áreas sudoeste, oeste, centro oeste e noroeste. Foram contemplados 56 (cinquenta e seis) municípios com área total de 69.728,14 km2 e população de 1.518.964 habitantes. Na zona rural destes municípios residem aproximadamente 761.000 pessoas (50,1% do total). Estes territórios ainda são de natureza fortemente rural se considerado o conceito de ruralidade adotado pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial do MDA. 5 Ilhéus, 3 a 5 de outubro de 2012 Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VII SOBER Nordeste A Tabela 1 apresenta os resultados do estudo obtidos a partir da consolidação dos questionários e do cálculo das diferentes áreas do índice de capacidade institucionais. Tabela 1: Resultados das capacidades institucionais nos territórios estudados. Áreas Território Inhamuns / Crateus ICI Sertão Central Sertões de Canindé Curu / Aracatiaçu 0,451 0,429 0,479 0,467 0,592 0,590 0,590 0,600 Capacidade das Organizações Serviços Institucionais 0,617 0,485 0,591 0,608 0,373 0,340 0,394 0,363 Instrumentos de Gestão Municipal Mecanismos de Solução de Conflitos Infraestrutura Institucional Iniciativas Comunitárias Participação 0,370 0,336 0,504 0,488 0,389 0,449 0,491 0,426 0,625 0,605 0,766 0,632 0,513 0,456 0,524 0,537 0,340 0,346 0,283 0,309 Gestão dos Conselhos Fonte: SGE/MDA. Observando-se apenas o Índice das Capacidades Institucionais percebe-se que os quatro territórios aparentemente apresentam a mesma situação. Porém, analisando-se as áreas separadamente podem-se identificar muitas diferenças entre os territórios e dentro do próprio território. Ao se analisar isoladamente os dados do território Inhamuns/Crateús (ver Gráfico 1), percebe-se que metade das áreas está com resultado classificado como Baixo. Sendo o pior resultado na área Participação (0,340). A principal causa apontada para esse baixo índice é a falta de planejamento e organização para formação das parcerias para o desenvolvimento de projetos sociais, culturais, ambientais, entre outros. Por outro lado, a área de infraestrutura institucional merece destaque, com a nota 0,625 (classificação alta). O fator apontado como responsável por esse bom indicador é a existência, em 95% dos municípios desse território, de uma secretaria para o desenvolvimento rural ou similar. 6 Ilhéus, 3 a 5 de outubro de 2012 Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VII SOBER Nordeste Gráfico 1: Áreas de capacidades institucionais do território Inhamuns/Crateús. Fonte: SGE/MDA. Observando-se os outros três territórios individualmente, percebe-se a mesma tendência nos indicadores: as áreas com os menores e maiores valores são as mesmas. Porém, o território Sertões de Canindé apresenta um contraste que chama atenção (ver Gráfico 2). Enquanto a área de Infraestrutura Institucional apresenta um indicador excelente (0,766), quase na classificação Muito Alto, a área Participação apresenta um indicador quase na classificação Muito Baixo (0,283). As razões apontadas para o bom resultado na área de Infraestrutura Institucional são: a existência em todos os municípios de uma secretaria para o desenvolvimento rural, sendo que praticamente todas possuem técnicos rurais permanentes; e todos os municípios possuem salões de festas para realização de atividades culturais. Por outro lado, as respostas das entrevistas apontam que a área Participação apresentou um baixo resultado pelos seguintes motivos: na maioria dos municípios (67%) não aconteceram manifestações sociais no último ano; 53% dos beneficiários não participaram da elaboração dos projetos; o colegiado territorial é responsável por apenas 28% das indicações para os beneficiados dos projetos. Fazendo uma análise dos resultados por área observa-se a mesma uniformidade dos ICIs entre os territórios. As que apresentam os melhores indicadores em todos os territórios são: Gestão dos Conselhos, Capacidade das Organizações, Infraestrutura Institucional e Iniciativas Comunitárias. As outras quatro áreas apresentam resultados igualmente baixos, sendo a área Participação a que apresentou os menores valores em todos os territórios pesquisados. Em geral, as diferenças dos resultados por área entre os territórios são pequenas. 7 Ilhéus, 3 a 5 de outubro de 2012 Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VII SOBER Nordeste Gráfico 2: Áreas de capacidades institucionais do território Sertões de Canindé. Fonte: SGE/MDA. Uma área que apresenta diferença considerável entre os municípios é a Instrumentos de Gestão Municipal, onde os resultados colocam dois territórios na classificação Médio e dois na classificação Alto (Ver Gráfico 3). Gráfico 3: Valores da área Instrumentos de Gestão Municipal para os quatro territórios pesquisados. Fonte: SGE/MDA. 8 Ilhéus, 3 a 5 de outubro de 2012 Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VII SOBER Nordeste As principais razões apontadas para os territórios de Sertões de Canindé e Curu/Aracatiaçu apresentarem um melhor resultado na área Instrumentos de Gestão Municipal foram: maior controle dos municípios no cadastro das propriedades rurais; forte atuação das secretarias de desenvolvimento rural; e existência na maioria dos municípios de mapas das áreas degradadas e de risco de degradação. A partir do Sistema de Gestão Estratégica (SGE) do Ministério do Desenvolvimento Agrário do Brasil, foi feito um levantamento dos resultados do ICI em todos os estados que fazem parte do projeto de monitoramento do Ministério. A Tabela 2 apresenta um resumo das médias dos resultados dos 17 estados participantes do projeto, que englobam todas as regiões. Tanto pela Tabela 2 como pelo Gráfico 4, pode-se observar que o estado do Ceará tem a média do ICI maior que a média do Nordeste e maior que a média do Brasil. Ao se comparar individualmente, o Ceará obteve resultados superiores aos nacionais e aos da região Nordeste em quase todas as áreas. A única exceção foi a área Participação. Nas comparações feitas nos parágrafos anteriores entre os territórios dentro do Ceará, foram apresentadas as justificativas apontadas como responsáveis por esse baixo desempenho. Tabela 2: Valores médios das áreas do ICI no Ceará, na região Nordeste e no Brasil. Média do Ceará (CE) Áreas ICI 1. Gestão dos Conselhos 2. Capacidade das Organizações 3. Serviços Institucionais 4. Instrumentos de Gestão Municipal 5. Mecanismos de Solução de Conflitos 6. Infraestrutura Institucional 7. Iniciativas Comunitárias 8. Participação Fonte: SGE/MDA. Média do Nordeste (NE) Média do Brasil (BR) 0,457 0,411 0,404 0,593 0,570 0,486 0,317 0,401 0,351 0,592 0,422 0,404 0,566 0,485 0,307 0,402 0,348 0,581 0,426 0,388 0,575 0,368 0,425 0,439 0,657 0,508 0,320 4. CONCLUSÕES O Índice das Capacidades Institucionais (ICI) é um importante indicador de como se encontra o território no que diz respeito ao suporte de recursos às estruturas organizativas presentes nele. Desta forma, o seu resultado indica se as organizações podem contar ou não com apoio e infraestrutura necessários para o desenvolvimento de atividades econômicas, sociais, culturais e políticas nos territórios. Com base nos comparativos apresentados neste artigo, pode-se observar que os quatro territórios estudados no Ceará apresentam grande similaridade nos Índices das Capacidades Institucionais (variação entre 0,429 e 0,479). Isto demonstra que não há grandes 9 Ilhéus, 3 a 5 de outubro de 2012 Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VII SOBER Nordeste disparidades entre esses territórios com relação às capacidades institucionais, implicando que as organizações em diferentes territórios dispõem em média do mesmo suporte institucional. Gráfico 4: Comparativo entre as médias das áreas do ICI do Ceará, da região Nordeste e do Brasil. Fonte: SGE/MDA. Este artigo também mostra que além dos ICIs dos territórios pesquisados apresentarem médias aproximadas, as áreas com maiores indicadores e com menores indicadores são as mesmas nos quatro territórios: Infraestrutura Institucional e Participação, respectivamente. Esta informação é importante porque permite que ações semelhantes possam ser desenvolvidas nos diferentes territórios para melhoria dos índices. Mesmo tendo muitas semelhanças entre os resultados das áreas do ICI entre os territórios, algumas diferenças devem ser observadas atentamente. Por exemplo: na área Instrumentos de Gestão Municipal, o território de Sertões de Canindé obteve 0,504 enquanto o território Sertão Central obteve 0,336. Essa desigualdade implica que ações devem ser tomadas e sugere a troca de experiências entre os territórios nessa área. Além da análise entre os territórios estaduais, foi feita uma comparação entre os resultados médios do ICI do Ceará, da região Nordeste e do Brasil. Observou-se que os índices de capacidades institucionais cearenses estão acima da média tanto do nordeste 10 Ilhéus, 3 a 5 de outubro de 2012 Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VII SOBER Nordeste quanto da média nacional. A única área que apresentou resultados inferiores foi a Participação, demonstrando que ela precisa de atenção especial dos gestores cearenses. 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SGE, Sistema de Gestão Estratégica, Ministério do Desenvolvimento Agrário do Brasil, disponível em http://sge.mda.gov.br/sge/index.html, último acesso em 10 de agosto de 2012. 11 Ilhéus, 3 a 5 de outubro de 2012 Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural – VII SOBER Nordeste