O DECLÍNIO DOS NÍVEIS GLOBAIS DE EMPREGO: DISTRIBUIÇÃO DE RIQUEZA E SOCIALISMO CIENTÍFICO José Manuel de Sacadura Rocha * Resumo Este artigo trabalha o livro de Jeremy Rifkin, O Fim dos Empregos(1). A sua leitura originou uma reflexão sobre o futuro do sistema produtivo contemporâneo, intitulado pelo autor de pós-mercado. Conquanto sua análise seja um marco importante nas condições do trabalho humano hoje, não posso deixar de reconhecer que muito do que se está escrevendo sobre o fenômeno do desemprego, gerado pela evolução da tecnologia moderna, não constitui exatamente uma constatação nova. Na verdade, há pelo menos um século e meio que tal fenômeno, e suas conseqüências, estavam estudadas e descritas na obra dos pensadores de esquerda de meados do século passado, principalmente na obra de Friedrich Engels e Karl Marx. Assim, sem pretensões de escrever um artigo marxista, não pude deixar de recorrer à obra destes dois autores, no sentido de esclarecer certas questões fundamentais, nomeadamente, a de que a solução definitiva para o problema do desemprego global, motivado pelo desenvolvimento inexorável das forças produtivas, está numa mudança radical da forma de distribuir riqueza, o que só é possível através da revolução do Estado moderno, já produto das novas relações sociais de propriedade atualmente existentes. Como o próprio leitor vai verificar, não acredito que essa revolução possa se efetivar nos moldes como a esquerda do século passado e do inicio deste século imaginou e apregoou. E neste sentido, Rifkin tem algo a contribuir com sua preposição do ressurgimento do terceiro setor, a economia centralizada em comunidades independentes. Mais do que tudo, a releitura aqui efetuada, dos clássicos de esquerda, de forma introdutória apenas, têm a pretensão de fugir do pessimismo preponderante de parte significativa da intelectualidade mundial, e da esquerda mais retrograda global, principalmente a da América Latina, do Leste Europeu e de alguns países da Ásia. Portanto, esta não deixa de ser uma mensagem otimista em relação ao futuro, principalmente para os jovens. Tudo está aí para ser construído! Este artigo é dedicado a meu pai, em certa medida, um produto prematuro desta realidade. Palavras chave: Emprego, Desemprego, Globalização, Tecnologia, Reengenharia, Capitalismo, Socialismo. Introdução Para bem entendermos o fenômeno moderno da redução significativa nos níveis de emprego, cujas proporções alarmantes estão presentes em escala mundial, e para entendermos as tendências do capitalismo moderno, nomeadamente em relação às mudanças no emprego com a substituição do capital variável (mão-de-obra) por capital constante (maquinário e tecnologia), devemos primeiramente nos debruçar sobre as duas formas de gerar mais valor no modo de produção capitalista. O aumento deste excedente de riqueza pode ser efetuado de duas formas básicas: 1. Aumentando a jornada de trabalho (mais-valia absoluta); 2. Diminuindo o tempo necessário de trabalho para produzir uma determinada mercadoria, bem ou serviço (mais-valia relativa). Em ambas situações mais unidades se produzirão. A primeira forma data do início da indústria manufatureira, onde o interesse era produzir mais unidades alongando-se o tempo trabalhado pelos operários, mantendo-se baixo o valor pago por esse trabalho. A Segunda forma já é decorrência do * Mestre em Administração de Serviços – Qualidade; Pós-Graduação em Sistemas de Informação; PósGraduação em Marketing de Varejo; Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais. Autor do Livro "Análise de Sistemas como Atividade de Mudança" - Ed. Érica. Professor, Consultor e Autor. Currículo Lattes. desenvolvimento das forças produtivas. Meios e formas de produção mais avançadas, levam a uma capacidade produtiva maior, diminuindo o tempo unitário de produção de cada mercadoria. Mantendo-se estável os salários, produzindo-se mais mercadorias, o excedente tem que ser maior, se todas as mercadorias produzidas forem vendidas. Como neste caso o valor do trabalho é dividido por um número maior de itens, o valor de cada mercadoria diminui (ganhos de escala), possibilitando a realização desses produtos em milhões de unidades. Por outro lado, a inversão de parte do capital excedente nos meios e formas de produção, cria outras circunstâncias, que a sociedade capitalista moderna sente de forma gigantesca e inexorável: o desemprego estrutural. Ao inverter parte do capital geral em capital constante, não só assistimos à diminuição do tempo necessário de produção, mas à eliminação gradual, mas constante e irrefreável, do capital variável necessário (mão-deobra). Este fenômeno diminui o valor do trabalho necessário à produção de mercadorias: primeiro porque baixa o tempo necessário para produzir, portanto o valor do trabalho incorporado à mercadoria é menor; segundo porque o valor do trabalho humano é regulado pelas mercadorias que precisa para se reproduzir – se essas mercadorias baixaram de valor, porque o tempo de produzi-las baixou, o salário pago também baixará, e o valor do tempo de trabalho incorporado nos produtos necessários à sua subsistência baixará igualmente, isto é, precisa de menos valor para se reproduzir; e em terceiro lugar porque a inversão desordenada e anárquica de capital geral em capital constante, libera mais e mais trabalho assalariado, e cria um excedente de mão-de-obra, cuja oferta superior à procura baixa o valor da mesma. O modo de produção capitalista não é apenas gerador de desemprego, mas antes, é responsável pela diminuição dos salários de todos aqueles que possuem apenas sua força de trabalho como mercadoria. E isto se dá em todas as esferas do trabalho e conhecimento humanos, mesmo em profissões não manufatureiras, como as profissões ligadas diretamente ao conhecimento humano, característica das sociedades contemporâneas. É que, o exército de reserva, as centenas de milhares de desempregados acabam pressionando os salários para baixo indistintamente, pela simples comparação de salários entre assalariados. Além disso, porque a procura por essas profissões das áreas de conhecimento cresce em índices geométricos, elevando a disponibilidade de mão-de-obra adequada a estas novas necessidades, aumentando assim a concorrência, e a diminuição decorrente de salários. Por fim, o próprio desemprego se instala mesmo em áreas ditas de conhecimento tecnológico avançado. A verdade é que nenhuma atividade humana será suficiente para abrigar o contingente de desempregados dos setores primário, secundário e terciário. Nesta espiral, o sistema sofre pela diminuição de demanda, inevitável quando o exército de capital variável se agiganta: onde há desemprego não há demanda; sem demanda o valor das mercadorias decresce, e em última análise, a produção sofre fortes retrações (recessão). Portanto, a realização do capital fica comprometida, impossibilitando a sua reprodução e acumulação, pelo menos nos mesmos moldes que vinham acontecendo. De forma geral, é a este processo de paradoxal retração do modelo capitalista de produção, que chamamos de "animal autofágico", aquele que se devora a si mesmo. Claro que vamos sobreviver, mas não poderemos fazê-lo de forma igual: o avanço determinado e histórico das forças produtivas, meios e formas avançadas de produção de mercadorias, bens e serviços, cria um potencial de riqueza fantástico, mas destrói concomitantemente seu fundamento primeiro de geração de valor, o trabalho humano, de um lado não usando-o como fonte de valor(2) e de outro, não possibilitando o consumo por esta mesma força de trabalho. Nos capítulos seguintes veremos as conseqüências deste problema, e como na tentativa de resolvê-lo o capitalismo se aproxima do socialismo científico. Tecnologia, Reengenharia e Desemprego No passado, quando novas tecnologias substituíam trabalhadores em determinado setor, novos setores sempre surgiam para absorver os trabalhadores demitidos. Hoje, todos os três setores tradicionais da economia – agricultura, indústria e serviços –, estão vivenciando deslocamentos tecnológicos, forçando milhões de trabalhadores para as filas do desemprego. O único novo setor emergente é o setor do conhecimento, formado por um pequeno contingente de empreendedores, cientistas, técnicos, programadores de computador, profissionais, educadores e consultores. Enquanto este setor está crescendo, criando rapidamente um volume de profissionais acima da real necessidade de mercado, reproduzindo-se em velocidade astronômica o mesmo contingente de reserva, não se pode esperar que absorva mais do que uma fração das centenas de milhões que serão eliminados nas próximas décadas, no despertar dos avanços revolucionários em ciências da informação e das comunicações. A terceira Revolução Industrial é uma poderosa força para o bem e para o mal. As novas tecnologias da informação e das telecomunicações têm potencial tanto para libertar quanto para desequilibrar a civilização no próximo século. Se as novas tecnologias vão nos libertar para uma vida de mais lazer ou resultarão em desemprego maciço e depressão global, dependerá em grande parte de como cada nação vai enfrentar a questão dos avanços de produtividade. A produção da existência humana é geradora de novas formas e tecnologias de trabalho. A cada nova necessidade o homem produz novos processos e novas ferramentas de produção. A necessidades crescentes correspondem formas e mecanismos produtivos mais avançados. Assim, de forma inexorável, destarte o conservadorismo de alguns, e destarte as crises sócio-econômicas e políticas que o avanço dessas forças produtivas acaba provocando, a humanidade, e o sistema capitalista em especial, produzem uma constante revolução na base produtiva material, cujas conseqüências deverão acabar por mudar mais ou menos radicalmente as relações sociais, legais e políticas instituídas. Portanto, devemos perceber porquê o capitalismo é especial neste profícuo desenvolvimento, e como ele mesmo acaba sofrendo de suas conseqüências mais rapidamente que outros sistemas produtivos. Além disso, faz-se mister entender como a superestrutura social moderna deve mudar e precisa mudar para sustentar a própria sobrevivência da sociedade. E este é indubitavelmente um problema político! O modo capitalista de produção é uma "onda" gigantesca rumo à produção, à produtividade global e ao consumo. Na esteira desta capacidade, investidores e empreendedores se confrontam ferozmente na procura da máxima lucratividade, da mesma forma que milhões de consumidores, hoje globalizados, se digladiam para efetivarem um maior consumo de produtos e bens que, teoricamente(3), lhes darão um padrão de vida melhores. Como o fundamento impregnado na mente das pessoas é a propriedade privada, como a força gigantesca que se esconde por detrás dessa "onda" é a acumulação privada de dinheiro e bens, na arena do mercado os primeiros procuram maximizar seus lucros, remunerando "adequadamente" seus investimentos, e os segundos procuram usufruir a máxima capacidade de comprar bens e serviços que elevem seu padrão de vida, e seu patrimônio. Assim, a geração de riqueza no modelo produtivo que tem como mola propulsora o sentimento e a valorização máxima da propriedade privada, cujo palco é um ambiente onde as regras incentivam drasticamente a concorrência, a geração de riqueza, dizia eu, só pode ser fantástica. E é essa geração descomunal de capital que possibilita que as forças produtivas se desenvolvam mais fortemente e mais rapidamente. Por isso o modo capitalista de produção tem um papel importante na civilização humana: gerar riqueza! Mas existe um preço a pagar. Como dissemos, o avanço das forças produtivas na sociedade moderna e contemporânea, se verifica através da ação premeditada em duas frentes: nos meios de trabalho e nas formas de trabalho. De um lado substituímos o trabalho humano por máquinas, num ritmo fantástico de substituição de mão-de-obra, mesmo a mais especializada. Quem imaginou e imagina que em funções mais intelectuais, como aquelas ligadas à administração dos negócios e distribuição de mercadorias(4), ou que em funções ligadas ao moderno setor do conhecimento, como aquelas ligadas à informática e Reengenharia organizacional, a substituição do trabalho humano por maquinário não seria efetivado, apostou na realidade errada. Máquinas cada vez mais especialistas, combinação da mecânica com o processamento eletrônico, e estas operando através de softwares mais inteligentes, acabam substituindo o trabalho humano em todas as esferas produtivas. Este investimento em tecnologia acabou levando à maximização do segundo elemento: a revolução nas formas de trabalho. As empresas, ao apostarem na capacidade e potencialidade das máquinas computadorizadas, acabaram verificando que funções e setores inteiros de suas empresas não são mais necessários. Assim o investimento em instrumentos produtivos mais avançados leva à reorganização maciça e radical do organograma da empresa. O avanço das forças produtivas se dá pela substituição da mãode-obra em todos os setores da organização, e atividades até então fundamentais simplesmente perdem seu sentido. Quando a empresa passa por um processo de investimentos em tecnologia e executa Reengenharia de seus sistemas e procedimentos, centenas de trabalhadores são despejadas, engordando os altos índices do desemprego mundial. As empresas têm substituído o trabalho humano por máquinas a um ritmo acelerado, e recentemente as corporações começaram a reestruturar a ambiente de trabalho para torná-lo compatível com a nova cultura das máquinas de alta tecnologia. "A Reengenharia resulta na perda de mais de 40% dos empregos numa empresa e pode levar a uma redução de até 75% dos funcionários. A gerência média está especialmente vulnerável e a estimativa é que 80% das pessoas envolvidas em funções de gerência intermediária são suscetíveis à demissão".(5) A sociedade sem trabalhadores evoca a idéia de um futuro sombrio de desemprego em massa e pobreza generalizada, acentuada por tumultos sociais e revoluções. Trabalhadores com anos de estudo, habilidades e experiência enfrentam a perspectiva muito real de serem declarados excedentes pelas novas forças da automação e da informação. Os capitalistas privados têm que continuar invertendo parte dos lucros em novas tecnologias, como forma de criar um diferencial de competitividade, que em última análise, será a garantia desses mesmos lucros. Ao mesmo tempo em que a produtividade aumenta, aumenta igualmente o exército de desempregados e os índices de miséria e abstinência ao mercado de consumo. A Eminência do Colapso do Sistema Finalmente o paradoxo incontrolável: ao dispensar trabalhadores com tecnologias economizadoras de mão-de-obra, as empresas aumentaram a produtividade, mas às custas de números cada vez maiores de trabalhadores desempregados e subempregados(6), a quem falta o poder aquisitivo para comprar seus produtos. O animal começa a morder seu próprio rabo! Uma tendência mundial atual é a redução da jornada de trabalho. Todos os países atingidos pelos altos índices de desemprego têm admitido medidas para reduzir o número de horas diárias dos trabalhadores, medidas essas defendidas até enfaticamente pela classe trabalhadora organizada, inclusive atualmente no Brasil. Medidas anteriores, e que vão neste sentido, quer dizer, tentar manter o maior número de pessoas empregadas, foram aquelas que possibilitam a contratação de trabalho temporário em condições que fogem em muito às conquistas históricas por melhores salários, maiores benefícios e uma relação mais justa e democrática entre capital e trabalho. O Brasil adotou recentemente medidas neste sentido, já envolvido no turbilhão da recessão mundial e na onda do desemprego global. Estas medidas, no entanto, além de serem extremamente impopulares, podem minimizar só circunstancialmente o problema, porque reduzem o padrão de vida dos trabalhadores, uma vez que haverá redução do poder de compra. Se as novas tecnologias aumentam a produtividade, a diminuição do consumo, motivada pela diminuição dos salários, agrava exponencialmente o problema. Os índices de desemprego podem crescer numa velocidade menor, mas não haverá aumento do consumo em níveis suficientes para que o sistema continue se reproduzindo. Mais do que trabalho, o sistema precisa de rendimento e poder aquisitivo suficiente para absorver o aumento da produção. Estas são as questões mais fundamentais, essenciais para a sobrevivência democrática e segura da sociedade industrial contemporânea. E isto não parece, ou não quer, ser percebido por governos, políticos, empresários e investidores, classe trabalhadora organizada e sociedade de forma geral! Porquê? Nos últimos 50 anos observamos uma mudança paralela nas atitudes e comportamentos das pessoas em todo mundo industrializado. Menos visível para as centenas de milhões de consumidores das economias de mercado na face da terra, uma sutil mudança se processou em seus hábitos e princípios: o valor da poupança deu lugar ao valor das mercadorias. Na primeira metade deste século, a poupança ainda era o patrimônio maior que uma nação e as pessoas poderiam ter. Mas o decréscimo nos níveis de consumo, quando relacionados com a capacidade produtiva crescente, fez com que empresas e governos incentivassem a construção do patrimônio embasado por bens. Na tentativa de aumentar os índices de demanda, foi criada uma poderosa ciência, o marketing, que com suas ferramentas de incentivo (propaganda) e auxilio (crédito) ao consumo, ajudaram e ajudam a manter este espírito consumista vivo(7). Não só o patrimônio, mas a própria referência social para o que seja um cidadão de sucesso, mudou. O paradigma de sucesso se confundiu com o de status, e a felicidade passou a estar direcionada para um padrão de vida onde as mercadorias valem mais do que qualquer outra coisa, inclusive a poupança(8). Atualmente, menos de 50 anos depois, grande parte das crises econômicas do sistema capitalista provém deste fato. Muitos países, sem terem sequer uma economia capaz de suprir as necessidades básicas de seu povo, entraram inadvertidamente neste processo de consumo sem dar o devido valor à capitalização interna, e estão hoje à mercê do sistema financeiro internacional, que está agonizando e se mostra incapaz de suprir as deficiências e os desmandos dos países ditos emergentes. Temos assistido diariamente nos meios de comunicação as conseqüências deste fenômeno para a economia mundial globalizada. "A comunidade empresarial americana decidiu modificar radicalmente a psicologia que havia construído uma nação - transformar os trabalhadores americanos de investidores no futuro em consumidores do presente... A chave para a prosperidade econômica é a criação organizada da insatisfação... Assim, da noite para o dia, a cultura do produtor transformavase na cultura do consumidor, com apelos emocionais por status e diferenciação social, no sentido de que a classe trabalhadora fosse conscientizada para o "consumo dinâmico do supérfluo"... O principal alvo eram os jovens, que eram influenciados com a questão de ser "moderno" ou "antiquado"... O receio de ficar para trás mostrou-se uma poderosa força motivadora para estimular o poder de compra" (9). As novas realidades econômicas do próximo século distanciam-se igualmente das probabilidades de que o mercado será capaz novamente de resgatar a economia do crescente desemprego tecnológico e do enfraquecimento da demanda do consumidor. Essa premissa estaria ligada inclusive à capacidade do setor público absorver grandes contingentes de trabalhadores expulsos da iniciativa privada. Infelizmente esta não será uma alternativa viável. Todos os países com algum desenvolvimento econômico estão abandonando a fórmula do Estado-Empresa, privatizando todas as organizações que não estão diretamente ligadas a atividades sociais básicas. Este fenômeno já foi concretizado praticamente em todos os países desenvolvidos e está em marcha acelerada nos países em desenvolvimento. Uma vez privatizadas estas empresas passam pela mesma inversão de tecnologia avançada e conseqüente Reengenharia de processos, engordando o contingente de desempregados mundiais, inclusive naqueles países onde sequer a revolução industrial se consolidou perfeitamente, como é o caso da América Latina, Ásia, Oceania e Leste Europeu. Outra visão otimista acredita que a nova tecnologia disponibilizará produtos e serviços que gerarão novos empregos. A favor deste argumento está a própria revolução industrial que aboliu enormemente o trabalho no campo, mas direcionou a mão-de-obra para a produção fabril; outro exemplo é o automóvel que no início do século tornou absoletos o cavalo e a charrete, mas criou centenas de milhares de empregos diretos e indiretos em todos os países industrializados. No entanto, o problema que a revolução tecnológica atual cria, é qualitativamente diferente. Governos e empresários em todo mundo aceitam que a terceira revolução, imprimida nas sociedades industrializadas deste final de século, tem um componente que não esteve presente em nenhuma etapa precedente do desenvolvimento humano: ela elimina a necessidade do trabalho humano na produção dos bens e serviços necessários à produção e reprodução do homem! A Era da Tecnologia de Informação, embora possa tornar obsoletos produtos e serviços antigos, não precisa do mesmo número de trabalhadores para produzir suas novas mercadorias. Existe ainda uma outra corrente. Aquela que acredita que os níveis de desemprego global começarão a refluir na medida do incremento do comércio internacional, tanto pela demanda que países menos desenvolvidos acrescentarão ao consumo global, como à própria abertura para investimentos nesses novos mercados. Não podemos negar que novas frentes de mercado global estão surgindo: alguns países da América Latina, Ásia, Oceania, Oriente Médio e principalmente todo o potencial dos países do Leste Europeu, recém ingressos na economia de mercado. Neste sentido, observamos atualmente uma luta feroz entre governos e empresas privadas no sentido de serem criadas facilidades comerciais transacionais, que permitam o fluxo de capitais e mercadorias em condições vantajosas para investidores e produtores. Mas seria ingênuo imaginar que esses capitais não levariam para esses países as mesmas tecnologias de automação e processos minimizados já postos em prática nos países de origem. Assim, nos países desenvolvidos este incremento no comércio internacional muito pouco fará para aumentar o emprego, e nas novas fronteiras comerciais, o número de empregos criados será muito abaixo daquilo que seria necessário para fazer diferença nas estatísticas de desemprego global. No caso dos países emergentes, isto é, com algum potencial econômico, e onde a tecnologia de informação já chegou, pouco ou nada tem adiantado esta abertura de mercado, pois apesar do investimento internacional em novos empreendimentos (indústrias) ou aquisição de outros já existentes (privatização), o número de desempregados não pára de crescer alarmantemente. Este é o caso do Brasil (10). Uma Alternativa? Desde a década de 80 que uma pretensa alternativa a todo este fenômeno vem se consolidando entre os países desenvolvidos, principalmente nos E.U.A.; a auto-ajuda comunitária. É evidente que a história recente daquele país demonstra condições concretas propícias ao surgimento deste tipo de formação econômica e política. "A auto-ajuda sempre foi parte da vida americana. Na década de 70 tornou-se mais uma vez um movimento que se sobrepôs a instituições, disciplinas, áreas geográficas e ideologias políticas. A auto-ajuda significa comunidades atuando para a prevenção do crime, o fortalecimento das comunidades, a garantia de alimentos para os idosos, e a reconstrução de casa sem a ajuda do governo ou pelo menos com o controle local sobre a aplicação da ajuda governamental... A auto-ajuda é o florescimento do movimento empresarial americano, que rejeita as grandes corporações em favor do auto-emprego e dos pequenos negócios"(11). A globalização do setor de mercado, estendendo a automação, a Reengenharia de processos e a tecnologia de informação por toda a face da Terra, e a diminuição do papel do setor governamental, levam as pessoas a se organizarem em comunidades de interesses próprios para garantirem seu próprio futuro. Segundo alguns autores, somente a construção de comunidades locais fortes, que possam se ajudar mutuamente poderá garantir a sobrevivência de grande parte das pessoas num futuro próximo. Essas comunidades seriam a alternativa viável ao esmagador processo de desemprego mundial e ao retrocesso inevitável nos índices de consumo. Na verdade, esta proposta aparece entre os autores de forma dúbia. Em alguns casos ela é mais uma alternativa ao próprio consumo de massa, uma alternativa ao próprio sistema produtivo de massa e até à própria sociedade, economicamente regida pela contemporânea tecnologia de automação e informação. Paira no ar um sentimento nostálgico que procura capturar romanticamente valores e formas de vida bastante simples, mais naturalistas, mais ecológicas, mais religiosas, enfim mais "feudais". Evidentemente a história não anda para trás! Infelizmente, ou não, uma vez em movimento a genialidade do ser humano, e uma vez que as necessidades são o próprio porvir da humanidade, o desenvolvimento das formas e ferramentas de produção, não podem ser refreadas por sentimentos românticos de eras passadas. Ressuscitar formas e condições de vida feudais no limiar do novo milênio constitui pura utopia. É claro que pessoas isoladamente, ou pequenos grupos isolados, podem tentar alternativas de vida de relativo isolacionismo, de não aderência ao sistema econômico e político local. Isto sempre existiu, e sempre existirá. Mas tais situações pouco ou nada têm a ver com a solução para os problemas globais da humanidade. A menos que a alternativa a esses problemas seja o colapso total de toda a inteligência humana, a estagnação total de toda a tecnologia e ciência humana! "Esse fenômeno total (necessidade, trabalho, gozo sensível do objeto sensível) se encontra em todos os níveis. O trabalho é produtor de novas necessidades; necessidades na produção e necessidades da produção. As necessidades novas em quantidade e qualidade reagem sobre aqueles que lhe deram origem... Em certo sentido, a História inteira pode caracterizar-se pelo crescimento e desenvolvimento das necessidades... A finalidade é a supressão do trabalho pela técnica, porém esse termo do desenvolvimento previsível supõe uma mediação: o trabalho como necessidade primeira. A contradição entre o trabalho e o não-trabalho (entre o esforço humano e os meios que visam diminuir e suprimir esse esforço, inclusive as técnicas e as máquinas ) é uma das mais estimulantes"(12). Ou se quisermos, numa abordagem mais psicológica: "O animal é contentado se suas necessidades fisiológicas – sua fome, sua sede, e suas necessidades sexuais – são satisfeitas. Na medida em que o homem também é um animal, essas necessidades são nele igualmente imperativas e devem ser satisfeitas. Mas na medida em que o homem é humano, a satisfação dessas necessidades instintivas não é suficiente para fazê-lo feliz; não é sequer suficiente para fazê-lo mentalmente sadio. O ponto arquimédico do dinamismo especificamente humano está nessa singularidade da situação humana; o conhecimento da psique humana tem de basear-se na análise das necessidades do homem resultantes das condições de sua existência"(13). Por outro lado, aqueles que vêm neste tipo de formação econômica e política, as comunidades de auto-ajuda, uma solução para geração de riqueza e aumento de consumo, portanto a possibilidade de evitar o colapso do sistema capitalista, que desta forma mesma já pouco se parece com ele, pelo menos no que concerne à formação social tradicional, ainda precisam explicar como em tais condições se geraria, no meio destas comunidades, ditas pertencentes ao terceiro setor da economia, renda suficiente para continuar mantendo a demanda em níveis compatíveis com o incremento estonteante da produtividade da Era da Tecnologia de informação. O máximo que podemos dizer do terceiro setor é pode ser uma alternativa temporária para alocação de mão-de-obra deserdada pelo sistema produtivo global. O terceiro setor já abriu um largo caminho na sociedade. Atividades comunitárias variam desde serviços sociais no atendimento à saúde, educação e pesquisa, às artes, religião e advocacia. "O serviço do terceiro setor e os grupos de defesa são as hastes dos pára-raios para redirecionar a crescente frustração de um grande número de desempregados. Seus esforços para reascender o espírito de participação democrática, bem como para forjar um senso comunitário renovado, determinará em grande parte o sucesso do setor independente como agente transformador para a era pós-mercado. Se o terceiro setor será capaz de crescer e diversificar com rapidez suficiente para acompanhar as crescentes reivindicações que lhe são impostas por uma força de trabalho deserdada é uma pergunta em aberto. Ainda assim, com o enxugamento do trabalho do mercado formal e a diminuição do papel dos governos centrais nos assuntos cotidianos do povo, a economia social torna-se a última esperança viável para o restabelecimento de um estrutura institucional alternativa para uma civilização em transição"(14). Podemos perceber, portanto, que estes grupos conquanto possam ser uma tendência na sociedade moderna, não são uma solução propriamente dita à sociedade da Tecnologia de Informação. No máximo, uma alternativa econômica à subsistência das centenas de milhões de desempregados, numa situação de transição. E ainda precisaremos entender melhor como estruturar, organizar e concretizar este tipo de alternativa, tanto do ponto de vista econômico como político, para ser uma alternativa viável, não para pequenos grupos contestatórios, mas para a maioria da população mundial. De qualquer forma, isto não constitui exatamente uma novidade. Sempre a sociedade humana nestas situações se une de forma alternativa na procura de sua própria sobrevivência. Mas não é disto que estamos tratando. Qual a solução para não colapsar o modelo produtivo vigente sobre a égide do modo de produção capitalista; como evitar a derrocada da ciência humana regida pelos valores da propriedade privada? A Verdadeira Questão As pessoas deixadas à margem da Terceira Revolução Industrial estão começando a questionar de onde os novos empregos virão. Não há porque acreditar que as forças tecnológicas de mercado já acionadas serão eficazmente retardadas ou contidas por qualquer movimento de resistência organizado nos próximos anos. Os empregos não virão! Mas esta não é uma posição pessimista. Pelo contrário. Nosso entendimento do processo de liberação do trabalho humano, não passa pelo mesmo (trabalho) como condição absolutamente necessária à produção de bens e serviços essenciais à existência humana. Desde o início, o homem colocou forças fantásticas em movimento, cujo objetivo legítimo é exatamente a emancipação do trabalho como necessidade de sobrevivência. Mesmo fazendo-o inconscientemente durante pelo menos 2/3 de sua existência, ou através de necessidades econômicas determinadas pelo modo de produção específico, e nenhum pode ser comparado neste detalhe ao capitalismo, o fato é que uma nova era de relacionamento entre trabalho e sobrevivência humana se coloca de forma contundente e revolucionária. Nunca a espécie humana esteve tão perto de conquistar, quiçá, o seu maior sonho. Marx escreveu: "Na fase superior da sociedade comunista, quando houver desaparecido a subordinação escravizadora dos indivíduos à divisão do trabalho e, com ela, o contraste entre o trabalho intelectual e o trabalho manual; quando o trabalho não for somente um meio de vida, mas a primeira necessidade vital; quando, com o desenvolvimento dos indivíduos em todos os seus aspectos, crescerem também as forças produtivas e jorrarem em caudais os mananciais da riqueza coletiva, só então será possível ultrapassar-se totalmente o estreito horizonte do direito burguês e a sociedade poderá inscrever em suas bandeiras: De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades”(15). E em outro lugar de forma mais direta: "O comunismo não retira a ninguém o poder de apropriar-se de sua parte dos produtos sociais, apenas suprime o poder de escravizar o trabalho de outrem por meio dessa apropriação"(16). Estamos entrando em um novo período da História em que as máquinas, cada vez mais, substituirão o trabalho humano na produção de bens e serviços. Estamos caminhando sistematicamente para um futuro automatizado e provavelmente chegaremos a uma era sem trabalhadores. O emergente setor do conhecimento será capaz de absorver uma pequena porcentagem da mão-de-obra deslocada, mas não em número suficiente para fazer uma substancial diferença no crescente número do desemprego. Centenas de milhões de trabalhadores serão feitos permanentemente ociosos pelas forças gêmeas da globalização e da automação. Outros, ainda empregados, trabalharão muitas horas a menos, para distribuir mais eqüitativamente o trabalho restante e proporcionar poder aquisitivo adequado para absorver os aumentos na produção. Mão-de-obra não aproveitada é a principal realidade da próxima era e a questão que precisará ser enfrentada e administrada por cada país, para que a civilização sobreviva ao impacto da Terceira Revolução Industrial. O modo capitalista de produção, a propriedade privada, o consumo de massa, o mercado concorrencial e a geração fantástica de riqueza, são os causadores desta ociosidade; prevista ociosidade. A pobreza e o pauperismo que nos assusta atualmente, e a visualização de que o fim dos empregos arrastará o sistema para o colapso, ao provocar um distanciamento entre renda e produção, são legítimos, mas contêm uma visão tradicional e restrita da situação. Daí o pessimismo. Na verdade, estamos angustiados porque nossa análise está restrita aos mesmos paradigmas sócio-econômicos e políticos que nos orientam há aproximadamente dois séculos. As mudanças tecnológicas e organizacionais atuais, e a conseqüente eliminação de mão-de-obra vão provocar uma mudança estrutural que revolucionará definitivamente toda a superestrutura social (política). Neste sentido, a alternativa de comunidades de auto-ajuda são apenas os primeiros sinais de que a sociedade humana, na medida exata em que se desenvolve, torna-se mais associativa - mais socialista para alguns -, mais comunista para outros. Mas, independente da forma como enxerguemos, o fato é que a comunidade se estabelecerá de forma mais eqüidistante, onde o sonho da distribuição democrática dos produtos sociais, porque toda a produção é social, se verificará sem a égide restrita da propriedade privada, pelo menos não nos moldes que conhecemos. O que os autores omitem, o que a sociedade como um todo, governos, empresários e trabalhadores organizados parecem temer, é exatamente terem de admitir que, por vias não teorizadas pela esquerda rançosa, o capitalismo se transforma lenta, mas inexoravelmente em um modo de distribuição socializado, condição última para não colapsar. Mas tinha de ser ele a libertar a humanidade do julgo do trabalho como meio de vida. "Com a mesma nitidez com destaca os lados maus da produção capitalista, Marx ressalta que essa formação social era necessária para desenvolver as forças produtivas sociais até um nível que torne possível um desenvolvimento igual e humanamente digno para todos os membros da sociedade. Todas formações sociais anteriores eram demasiado pobres para isso. Somente a produção capitalista cria as riquezas e as forças produtivas necessárias para atingir esse objetivo; mas cria também, ao mesmo tempo, com a massa dos operários oprimidos, uma classe social mais e mais obrigada a tomar em suas mãos essas riquezas e forças produtivas, para fazer com que sejam aproveitadas no interesse de toda a sociedade e não, como sucede hoje, no interesse de uma classe monopolista"(17). A época das grandes revoluções está há muito aniquilada como já o havia dito (18). Mas formas novas de reorganização social urgem com um dinamismo precursor de uma nova realidade econômica e política. A situação do exército mundial de desempregados, sujeitados à previdência pública para poderem sobreviver, pressiona os governos a tomarem medidas urgentes na reorganização econômica dos países desenvolvidos e de seus satélites. A ressurreição do terceiro setor pode ser capaz de absorver parte da enchente de trabalhadores deslocados, demitidos pelo setor de mercado, mas não pode constituir-se como um plano independente capaz de resistir ao avanço tecnológico que se aproxima, como afirma Rifkin. A sua verdadeira força e utilidade estão na possibilidade de constituirse numa forma organizada, aceita pelas forças produtoras de riqueza, capaz de "... transferir uma parcela crescente dos ganhos de produtividade da Terceira Revolução Industrial do mercado para o terceiro setor..."(19). De qualquer forma, a sobrevivência do terceiro setor só poderá se consignar se houver distribuição de riqueza, por exemplo, através de uma política de renda mínima e salário indireto, medidas já implantadas em alguns países, mesmo em países emergentes (20). Estes salários indiretos, como bônus de troca por mercadorias(21), e algumas outras remunerações, podem estar diretamente ligadas a atividades culturais, de ensino e pesquisa, e atividades sociais de ajuda comunitária, de acordo com o tempo voluntário dedicado por cada um. Como a sociedade humana vai resolver o problema da falta de emprego, como vai solucionar a situação crescente de diminuição de demanda, sem, contudo, se submeter ao retrocesso do desenvolvimento das forças produtivas e mergulhar na barbárie do colapso produtivo, econômico e político, ninguém sabe. Mas as alternativas parecem estar claras: ou distribuímos a riqueza de forma democrática, até porque toda riqueza é produto da sociedade como um todo, ou destruiremos toda a civilização, mergulhando-a na barbárie da miséria e selvajaria que ela provocará. Os pessimistas, e os intelectuais rançosos presos às etapas precedentes do desenvolvimento político da era industrial, acreditam na destruição e colapso total da humanidade. Rançosos sim, porque não querem entender que estamos chegando numa época em que a questão não é mais ser a favor de um modo de produção específico, ou contra ele(22). "Além das misérias modernas, oprime-nos toda uma série de misérias herdadas, decorrentes do fato de continuarem vegetando entre nós formas de produção antigas e caducas que acarretam um conjunto de relações sociais e políticas anacrônicas. Não sofremos apenas por causa dos vivos, mas igualmente por causa dos mortos"(23). Trata-se de uma era de pós-mercado. Portanto, a questão hoje é ser a favor da humanidade usufruindo plenamente de sua genialidade e libertação conseqüente das amarras do trabalho escravizante da sobrevivência, ou deixar a civilização mergulhar nas trevas da miséria e barbárie pós-moderna. Alguns são capazes de preferirem a barbárie, porque nela podem perpetuar seus poderes ilícitos e continuarem a fomentar a constituição de um Estado despótico e tirano, de direita ou de esquerda. Vivemos numa época à beira da convulsão social e política. Todos precisamos estar atentos e trabalhar serenamente para fazer a transição para o pós-mercado de forma responsável e conseqüente. O fim do trabalho pode ser a condição de transformação social, um presságio do renascimento do verdadeiro espírito humano. "O resultado geral a que cheguei ... pode resumir-se assim: na produção social de sua vida, os homens contraem determinadas relações necessárias e independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada fase de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta a superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social... Ao chegar a uma determinada fase de desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade se chocam com as relações de produção existentes, ou, o que não é senão a sua expressão jurídica, com as relações de propriedade dentro das quais se desenvolveram até ali. De forma de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações se convertem em obstáculos a elas. E se abre, assim, uma época de revolução social. Ao mudar a base econômica revoluciona-se, mais ou menos rapidamente, toda a imensa superestrutura erigida sobre ela"(24). Me lembro de um professor que há muitos anos atrás me disse: "Quando o ser humano puder destruir definitivamente os laços que mantém com a propriedade privada, poderá, então, e só então, enxergar claramente o leque vasto de suas realizações e o futuro deslumbrante que sua genialidade pode construir". A verdadeira felicidade está lá; mas precisamos nos livrar antes dos grilhões que nos amarram a uma realidade desumanizante. O futuro pode não ser a barbárie. Pode ser o renascimento do espírito humano em toda a sua plenitude. Pode ser, finalmente, a liberdade. Mas depende de nós! Bibliografia e Notas 1. Rifkin, Jeremy. O Fim Dos Empregos. Makron Books,1996. 2. Para melhor compreensão do conceito de valor, e de seu fundamento no trabalho humano concreto: Rocha, José Manuel Sacadura. Capital Intelectual no Pós Mercantilismo e a Desmistificação do Conceito Valor. Dezembro de 1998. 3. Dizemos "teoricamente" porque consumimos muita coisa supérflua. De qualquer forma, não podemos duvidar das melhorias que o projeto burguês do modernismo trouxe ao ser humano. A expectativa de vida no início do século não passava de 45 anos. 4. Os conhecidos "colarinhos brancos", trabalhadores administrativos, escritórios; praticamente todo o setor de serviços. De uma forma científica, também existe intelectualidade na mais simples e rotineira atividade, assim como existe nas atividades manufatureiras, diretamente ligadas às máquinas. Usamos o termo " atividades intelectuais" no sentido clássico entre trabalho fabril e administrativo. 5. Rifkin, Jeremy. Ob. Cit. Pág. 7. 6. Exemplo disto é o contingente de pessoas que estão hoje na chamada economia informal. No Brasil, sem trabalho, milhares de trabalhadores se aglutinam nos grandes centros urbanos vendendo e comprando nas calçadas e espaços públicos de grande movimentação. Fazem concorrência direta ao comércio oficialmente estabelecido, sem terem o compromisso de impostos. No momento em que redigo esta nota, uma dezena de pessoas se acorrentou num ponto da cidade, entrando em greve de fome voluntária, reclamando do poder público a permissão para montarem suas barracas. 7. Em trabalho recente, tivemos oportunidade de demonstrar como o marketing, principalmente sua ferramenta mais contundente, a propaganda, é peça fundamental na reprodução do sistema de consumo preconizado pelo modo capitalista de produção, estando presente em todas as fases da produção e realização das mercadorias. Além disso, ainda podemos comentar de que forma, a propaganda cria mais-valor às mercadorias. 8. Há alguns dias atrás, o governo japonês lançou um programa de ajuste econômico, onde, entre outras coisas, colocou à disposição da população bônus com descontos significativos, que podem ser trocados por mercadorias genuinamente nacionais. O Japão parece Ter fugido á regra: o seu povo não consome, e continua poupando muito. Com isso o consumo interno é insuficiente para manter funcionando a produção maximizada pela fantástica automação existente naquele país. Pelos vistos a propaganda e a ciência mercadológica tem sido ineficiente no estímulo desenfreado ao consumo. Mas o Japão tem uma cultura peculiar, e, além disso, não podemos esquecer que em pouco mais de 50 anos passou da economia agrícola para a Era da tecnologia de Informação. Não foi possível a população absorver ainda totalmente o fetichismo do consumo. 9. Rifkin, Jeremy. Ob.Cit. Pág. 20 a 24. 10. O Brasil tem comprovado atualmente este fato. A venda de grandes conglomerados estatais trouxe divisas para o país, ao mesmo tempo em que desafogou o Estado de deslocamentos pesados, e sempre insuficientes, de capital. O preço disso tem sido as demissões em massa que os novos acionistas têm promovido, engordando o exército de desempregados nacionais. É verdade que o país tem recebido investimentos produtivos de capital externos, que por aqui têm construído suas filiais e subsidiários. Mas o emprego que estes empreendimentos têm conseguido arregimentar, não cobre o volume de desempregos que suas co-irmãs de capital têm provocado. 11. Naisbitt, John. Megatendências - pág. 131. Ed. Círculo do Livro, 1985. 12. Lefebvre, Henri. A "praxis": a relação social como processo. In Sociologia e Sociedade - pág.182/183. Marialice Foracchi e José Souza Martins. Livros Técnicos e Científicos Editora, 1980. 13. Fromm, Erich. Psicanálise da Sociedade Contemporânea – pág. 34. Ed. Círculo do Livro, 1984. 14. Rifkin, Jeremy. Ob. Cit. Pág.310. 15. Marx, Karl. Crítica ao Programa de Gotha. In Karl Marx e Friedrich Engels Obras Escolhidas, Vol. 2, pág. 214/215. Ed. Alfa-Omega, 1984. 16. Marx, Karl. Manifesto do Partido Comunista. In Ob. Cit. Vol. 1, pág. 33. 17. Engels, Friedrich. O Capital de Marx. In Ob. Cit.Vol. 2, pág. 3. 18. Rifkin, Jeremy. Ob. Cit. Pág. 314. 19. Rocha, José Manuel de Sacadura. Análise de Sistemas como Atividade de Mudança - pág. 140. Ed. Érica, 1990. 20. No Canadá já há alguns anos que foi implantada uma política de renda mínima, onde famílias são subsidiadas pelo Estado quando sua renda não atingem um determinado valor mínimo. No Brasil o Senador Eduardo Suplicy tem um projeto no Congresso Nacional propondo o mesmo modelo de renda mínima. Em algumas prefeituras do interior do estado de São Paulo, este modelo de subsídio foi implantado. O fato desta política de distribuição de renda estar começando em cidades menores, pode revelar que efetivamente é mais viável tal implementação a partir de pequenas comunidades, e não de grandes centros ou mesmo do poder governamental central. Talvez este tipo de política tenha mesmo que se verificar da periferia para o centro, levadas em considerações as particularidades históricas de cada país, e seu grau de produção de riqueza. 21. Uma prefeitura de uma cidade do interior do estado do Paraná, sem condições de pagar o 13o salário para seus funcionários, emitiu bônus para desconto em supermercados e outros estabelecimentos comerciais, que deviam impostos à prefeitura e não tinham como pagá-los. Esta alternativa não deixa de ser uma forma comunitária de auto-ajuda. 22. "Não pintei com cores róseas o capitalista e o latifundiário. Mas não se trata aqui das pessoas senão como personificação de categorias econômicas, como portadores de determinadas relações ou interesses de classe. Meu ponto de vista, que enfoca o desenvolvimento da formação econômica da sociedade como um processo histórico-natural, pode menos do que qualquer outro fazer do indivíduo o responsável por relações das quais ele é socialmente a criatura, por mais que faça para se colocar acima delas". Marx, Karl. Prefácio à primeira edição alemã do primeiro tomo de O Capital. In Ob. Cit. Vol. 2, pág. 9. 23. Marx, Karl. Prefácio à primeira edição alemã do primeiro tomo de O Capital. In Ob. Cit. Vol. 2, pág. 8 24. Marx, Karl. Prefácio à "Contribuição à Crítica da Economia Política". In Ob. Cit. Vol. 1, pág. 301. JMSR/