INSTRUÇÕES PARA OS AUTORES A Revista Brasileira de Reumatologia (RBR), órgão oficial da Sociedade Brasileira de Reumatologia, foi fundada em 1957 e é publicada bimestralmente. A revista publica artigos originais, artigos de revisão, comunicações breves, relatos de casos e cartas aos editores. A submissão dos manuscritos deve ser realizada online pelos sites: http://ees.elsevier.com/bjr/ ou www.reumatologia.com.br/rbr. A RBR segue as normas do Uniform Requirements for Manuscripts (URM) Submitted to Biomedical Journals desenvolvidas pelo The International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE) – fevereiro de 2006. Apresentação do manuscrito O manuscrito pode ser submetido em português ou inglês e deve ser conciso, em espaço duplo, com margens de 2,5 cm. No texto não devem ser empregadas abreviaturas não convencionais, gírias (jargões) médicas ou redação tipo telegráfica. A citação de medicamentos e produtos farmacêuticos deve ser feita utilizando-se apenas a nomenclatura farmacológica, sem menção do nome comercial. Quando necessário, é possível utilizar abreviaturas convencionais, desde que o significado apareça por extenso pelo menos na primeira vez em que forem citadas. Uma autorização para publicação do manuscrito (Author Agreement) deve ser enviada online no ato da submissão, e uma cópia impressa enviada para a Secretaria da SBR. Secretaria Editorial RBR Revista Brasileira de Reumatologia Av. Brigadeiro Luiz Antonio, 2.466 – conjs. 93-94 CEP: 01402-000 – São Paulo – SP – Brasil Tel./fax: (11) 3289-7165 e-mail: [email protected] Estrutura do manuscrito Manuscript*, Title Page*, Cover Letter e Author Agreement* devem ser enviados em arquivos separados, com páginas numeradas. Tabelas e figuras devem ser numeradas conforme citadas no texto e enviadas em arquivos separados, com títulos e legendas correspondentes. (*arquivos obrigatórios) Página do título Deve conter: a) título do artigo; b) nome completo dos autores e sua titulação mais importante; c) departamento(s) e instituição(ões) onde se originou o trabalho; d) nome, endereço completo e e-mail válido do autor responsável para correspondência; e) conflito de interesse e agências financiadoras relevantes; f) título resumido com no máximo 60 caracteres. Artigo Original O artigo original deve conter: página do título, página de resumo com palavras-chave, introdução, material e métodos ou pacientes e métodos, resultados e discussão, agradecimentos, referências, tabelas, figuras e legendas das figuras. Não deve exceder 5.000 palavras, incluindo-se as referências e excluindo-se a página do título, resumo, tabelas e legendas. Pode exibir até seis figuras ou tabelas e até 50 referências. Resultados Devem ser claros e concisos. Tabelas e gráficos não devem duplicar informações. Discussão Deve ser concisa, interpretando os resultados no contexto da literatura atual. É conveniente não ultrapassar a metade do número de páginas do trabalho completo. Agradecimentos Apenas às pessoas que contribuíram, por exemplo, com técnicas, discussão e envio de pacientes. Auxílio financeiro deve ser referido na página do título. Referências Devem ser citadas no texto em algarismos arábicos, sobrescritos e depois da pontuação, sem parênteses ou colchetes. A numeração deve ser sequencial, de acordo com a ordem de citação no texto. Nas referências com mais de seis autores, devem ser citados os seis primeiros, seguidos pela expressão et al. Sugere-se a utilização dos programas Reference Manager ou Endnote, seguindo-se o estilo Vancouver. Exemplos de referência para diferentes formatos são apresentados a seguir. Os autores devem consultar o NLM’s Citing Medicine para mais informações sobre os formatos das referências. Artigo de revista 1. Rivero MG, Salvatore AJ, Gomez-Puerta JA, Mascaro JM, Jr., Canete JD, Munoz-Gomez J et al. Accelerated nodulosis during methotrexate therapy in a patient with systemic lupus erythematosus and Jaccoud’s arthropathy. Rheumatology (Oxford) 2004; 43(12):1587-8. Artigo extraído de endereço eletrônico 2. Cardozo JB, Andrade DMS, Santiago MB. The use of bisphosphonate in the treatment of avascular necrosis: a systematic review. Clin Rheumatol 2008. Available from http://www.springerlink.com.w10069.dotlib.com.br/ content/l05j4j3332041225/fulltext. pdf. [Accessed in February 24, 2008]. Livro 3. Murray PR, Rosenthal KS, Kobayashi GS, Pfaller MA. Medical microbiology. 4th ed. St. Louis: Mosby; 2002. Tabelas e Figuras Cada tabela ou figura deverá ser numerada em algarismo arábico e enviada em arquivo separado (.jpg, .tif, .png, .xls, .doc) com 300 dpi no mínimo. Título e legenda devem estar no mesmo arquivo da figura ou tabela a que se referem. Tabelas e ilustrações devem ser autoexplicativas, incluindo informações suficientes para sua compreensão sem que se tenha de recorrer ao trabalho. Fotomicrografias devem incluir a escala apropriada. Artigo de Revisão Revisões, preferencialmente sistemáticas, podem ser submetidas à RBR, devendo abordar com profundidade um tema de interesse para o reumatologista. Não apresentam estruturação padronizada, prescindindo de introdução ou discussão. Devem apresentar resumo sem subdivisões, com três a cinco palavras-chave, e não devem exceder 6.000 palavras, incluindo-se as referências e excluindo-se a página do título, resumo, tabelas e legendas. Podem exibir até cinco figuras ou tabelas e até 70 referências. Relato de Caso A finalidade dessa seção é definir o propósito e as razões para a realização trabalho. Não se recomenda extensa revisão da literatura. Deve incluir resumo e palavras-chave, sem necessidade de subdivisões. O texto, porém, apresenta as seguintes seções: introdução, que deve ser concisa; relato de caso, contendo a descrição e a evolução do quadro clínico, exames laboratoriais, ilustrações e tabelas (que substituem as seções material e métodos e resultados); e discussão. Deve conter no máximo seis autores, e não deve exceder 1.500 palavras, incluindo-se as referências e excluindo-se a página do título, resumo, tabelas e legendas. Pode exibir até duas figuras ou tabelas e até 15 referências. Pacientes e métodos ou Material e métodos Comunicação breve Deve incluir informações suficientes que permitam a reprodução do trabalho e, quando pertinente, a aprovação pelo Comitê de Ética institucional. Os métodos empregados na análise estatística devem sempre ser citados. Aborda um ponto ou detalhe específico de um tema. Deve incluir resumo com no máximo 250 palavras, e três a cinco palavras-chave. O texto não necessita subdivisões, deve ter até 2.500 palavras incluindo-se as referências e excluindo-se a página do título, resumo, tabelas e legendas. Pode exibir até três figuras ou tabelas e até 25 referências. Página de resumo Deve conter: a) objetivo, métodos, resultados e conclusões, não excedendo 250 palavras; b) três a cinco palavras-chave. Introdução Regras para aplicar tempos verbais apropriados de acordo com o contexto ou seção Contexto ou seção Resumo Introdução Métodos, materiais e resultados Discussão/Conclusão Atribuições Descrição de Tabelas e Figuras Conhecimento estabelecido e resultados prévios Tempo verbal apropriado Passado Presente, quando se referir a fatos estabelecidos e conhecimento prévio Passado Combinado de passado (quando se referir a resultados obtidos no trabalho) e presente (quando se referir a fatos estabelecidos e conhecimento prévio); às vezes pode ser utilizado o futuro (especialmente quando se referir a perspectivas de trabalhos a serem realizados) Passado Ex.: Andrade et al. relataram... Presente Presente Regras gerais para se obter uma boa escrita em um artigo científico: 1. Prefira a voz ativa. Evite excesso de uso da voz passiva. 2. As sentenças devem ser curtas. Evite sentenças longas e complicadas. 3. Inconsistência do uso de termos técnicos ou unidades. A unidade de medida deve ser abreviada quando empregada com valores numéricos (p. ex., 1 mg), mas escrita por extenso quando separada de valor numérico. Utilize o Sistema Internacional de Unidades (SI units) para definir as unidades de medida. Lembre-se de deixar um espaço entre o número e a unidade (p. ex., 10 mg/dL), exceto quando for porcentagem, que deve estar junto (p. ex., 70%). O plural das unidades de medida é a mesma forma do singular (p. ex., 1 mL, 10 mL; 1 h, 10 h). Quando iniciarem a frase, os números devem estar por extenso, e não em algarismo arábico. 4. Defina a abreviação na primeira vez que aparecer no texto principal. Após a definição, use sempre a abreviação em vez da forma por extenso. Evite o uso de abreviações no título e no resumo. 5. Ao escrever em inglês, não utilize contrações (p. ex., prefira does not em vez de doesn't). Livro recomendado: Rogers SM. Mastering scientific and medical writing: a self-help guide. Berlin: Springer; 2007. Considerações éticas e legais Segue as normas do Uniform Requirements for Manuscripts (URM) Submitted to Biomedical Journals desenvolvidas pelo The International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE) – fevereiro de 2006. Conflito de interesse A confiança pública no processo de revisão por pares e a credibilidade dos artigos publicados dependem, em parte, de como o conflito de interesse é administrado durante a redação, a revisão por pares e a decisão editorial. O conflito de interesse existe quando um autor (ou instituição do autor), revisor ou editor tem relações financeiras ou pessoais que influenciem de forma inadequada (viés) suas ações (tais relações são também conhecidas como duplo compromisso, interesses conflitantes ou fidelidades conflitantes). Essas relações variam entre aquelas com potencial insignificante até as com grande potencial para influenciar o julgamento, e nem todas as relações representam verdadeiro conflito de interesse. O potencial conflito de interesse pode existir dependendo se o indivíduo acredita ou não que a relação afete seu julgamento científico. Relações financeiras (tais como emprego, consultorias, posse de ações, testemunho de especialista pago) são os conflitos de interesse mais facilmente identificáveis e os mais suscetíveis de minar a credibilidade da revista, dos autores e da própria ciência. No entanto, podem ocorrer conflitos por outras razões, tais como relações pessoais, competição acadêmica e paixão intelectual. Consentimento informado Os pacientes têm o direito à privacidade, que não deve ser infringida sem o consentimento informado. A identificação de informações, incluindo os nomes dos pacientes, iniciais ou números no hospital, não devem ser publicadas em descrições, fotografias e genealogias, a menos que a informação seja essencial para os propósitos científicos e o paciente (ou responsável) dê o consentimento livre e esclarecido para a publicação. O consentimento informado para este propósito requer que o manuscrito a ser publicado seja mostrado ao paciente. Os autores devem identificar os indivíduos que prestam assistência a escrever e divulgar a fonte de financiamento para essa assistência. Detalhes identificadores devem ser omitidos se não são essenciais. O anonimato completo é difícil de se conseguir; no entanto, no caso de qualquer dúvida, o consentimento deve ser obtido. Por exemplo, mascarar a região ocular em fotografias de pacientes é uma proteção de anonimato inadequada. Se as características de identificação são alteradas para proteger o anonimato, como na linhagem genética, os autores devem garantir que as alterações não distorçam o significado científico. Quando o consentimento informado foi obtido, ele deve ser indicado no artigo publicado. Princípios éticos Ao relatar experimentos em seres humanos, os autores devem indicar se os procedimentos seguidos estiveram de acordo com os padrões éticos do comitê responsável por experimentação humana (institucional e nacional) e com a Declaração de Helsinki de 1975, revisado em 2000. Se houver dúvida se a pesquisa foi realizada em conformidade com a Declaração de Helsinki, os autores devem explicar a razão para sua abordagem e demonstrar que o corpo de revisão institucional aprovou explicitamente os aspectos duvidosos do estudo. Ao relatar experimentos com animais, os autores devem indicar se as orientações institucionais e nacionais para o cuidado e a utilização de animais de laboratório foram seguidas. Registro de ensaios clínicos Os ensaios clínicos devem ser registrados segundo recomendação da OMS em www.who.int/ictrp/en/. A definição de ensaios clínicos incluem ensaios preliminares (fase I): um estudo prospectivo com o recrutamento de indivíduos submetidos a qualquer intervenção relacionada à saúde (medicamentos, procedimentos cirúrgicos, aparelhos, terapias comportamentais, regime alimentar, mudanças nos cuidados de saúde) para avaliar os efeitos em desfechos clínicos (qualquer parâmetro biomédico e de saúde, inclusive medidas farmacocinéticas e reações adversas). A RBR tem o direito de não publicar trabalhos que não cumpram estas e outras normas legais e éticas explicitadas nas diretrizes internacionais. Financiamento e apoio Os autores devem, também, informar se receberam financiamento ou apoio de instituições como CNPq, CAPES, Fundos Remanescentes da SBR, instituições universitárias, laboratórios etc. BRAZILIAN JOURNAL OF RHEUMATOLOGY REVISTA BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA Official Organ of Brazilian Society of Rheumatology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Reumatologia MARCH/APRIL 2012 • VOLUME 52 • NUMBER 2 MARÇO/ABRIL 2012 • VOLUME 52 • NÚMERO 2 ISSN: 0482-5004 EDITORIAL | EDITORIAL 131 133 On mosaics and consensus: Gaudí, Brazil and rheumatoid arthritis Sobre mosaicos e consensos: Gaudí, o Brasil e a artrite reumatoide Licia Maria Henrique da Mota ORIGINAL ARTICLE | ARTIGO ORIGINAL 135 152 2012 Brazilian Society of Rheumatology Consensus for the treatment of rheumatoid arthritis Consenso 2012 da Sociedade Brasileira de Reumatologia para o tratamento da artrite reumatoide Licia Maria Henrique da Mota, Boris Afonso Cruz, Claiton Viegas Brenol, Ivanio Alves Pereira, Lucila Stange Rezende-Fronza, Manoel Barros Bertolo, Max Victor Carioca de Freitas, Nilzio Antonio da Silva, Paulo Louzada-Júnior, Rina Dalva Neubarth Giorgi, Rodrigo Aires Corrêa Lima, Geraldo da Rocha Castelar Pinheiro 175 181 Neuropsychological assessment of cognitive disorders in patients with fibromyalgia, rheumatoid arthritis, and systemic lupus erythematosus Análise neuropsicológica de distúrbios cognitivos em pacientes com fibromialgia, artrite reumatoide e lúpus eritematoso sistêmico Lucylle Fróis de Melo, Sérgio Leme Da-Silva 189 195 Work and power of the knee flexor and extensor muscles in patients with osteoarthritis and after total knee arthroplasty Trabalho e potência dos músculos extensores e flexores do joelho de pacientes com osteoartrite e com artroplastia total de joelho Denise Bastiani, Cintia Helena Ritzel, Silvia Manfrin Bortoluzzi, Marco Aurelio Vaz 203 208 Profile of users of anticytokines offered by the health care system in the state of Paraná for the treatment of rheumatoid arthritis Perfil dos usuários de anticitocinas disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde no estado do Paraná para o tratamento da artrite reumatoide Astrid Wiens, Mônica Cavichiolo Grochocki, Deise Regina Sprada Pontarolli, Rafael Venson, Cassyano Januário Correr, Roberto Pontarolo 214 220 Use of high-voltage cathodic current for pain in experimental nerve compression Uso da corrente catódica de alta voltagem sobre a dor em compressão nervosa experimental Gladson Ricardo Flor Bertolini, Cassiane Merigo do Nascimento, Daniela Martins Cunha, Elisangela Lourdes Artifon, Anamaria Meireles 227 231 Laryngeal and tracheobronchial involvement in Wegener’s granulomatosis Comprometimento da árvore respiratória na granulomatose de Wegener Ascedio Jose Rodrigues, Marcia Jacomelli, Renata Xavier Baldow, Carmen Valente Barbas, Viviane Rossi Figueiredo 236 241 Rheumatic fever presentation and outcome: a case-series report Apresentação e desfecho da febre reumática em uma série de casos Simone Manso de Carvalho, Ivete Dalben, José Eduardo Corrente, Claudia Saad Magalhães REVIEW ARTICLE | ARTIGO DE REVISÃO 247 252 Mechanisms of muscle wasting in sarcopenia Mecanismos de perda muscular da sarcopenia Vivian de Oliveira Nunes Teixeira, Lidiane Isabel Filippin, Ricardo Machado Xavier 260 265 Bisphosphonate-related osteonecrosis of the jaw Osteonecrose maxilar associada ao uso de bisfosfonatos Mariana Aparecida Brozoski, Andreia Aparecida Traina, Maria Cristina Zindel Deboni, Márcia Martins Marques, Maria da Graça Naclério-Homem 271 278 Possible role of adipokines in systemic lupus erythematosus and rheumatoid arthritis Possível papel das adipocinas no lúpus eritematoso sistêmico e na artrite reumatoide Vitalina de Souza Barbosa, Jozelia Rêgo, Nílzio Antônio da Silva CASE REPORT | RELATO DE CASO 288 291 Erythema elevatum diutinum as a differential diagnosis of rheumatic diseases: case report Eritema elevatum diutinum como diagnóstico diferencial das doenças reumatológicas: relato de caso Dário Júnior de Freitas Rosa, Ronaldo Figueiredo Machado, Rafael de Oliveira Fraga, Antônio Scafuto Scotton, Viviane Angelina de Souza, Bruno Fernandes 295 297 Mycophenolate mofetil in primary Sjögren’s syndrome: a treatment option for agranulocytosis Micofenolato mofetil na síndrome de Sjögren primária: uma opção para o tratamento da agranulocitose Sonia Cristina de Magalhães Souza Fialho, Samuel Bergamaschi, Fabrício Souza Neves, Adriana Fontes Zimmermann, Gláucio Ricardo Werner de Castro, Ivânio Alves Pereira LETTER TO THE EDITORS | CARTA AOS EDITORES 300 301 Nazi past and changes in disease names: the Wegener’s disease case Passado nazista e mudança do nome de uma doença: o caso da doença de Wegener Morton Aaron Scheinberg EDITORIAL Sobre mosaicos e consensos: Gaudí, o Brasil e a artrite reumatoide © 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. artrite reumatoide (AR) é uma doença sistêmica, crônica e progressiva, caracterizada pelo comprometimento da membrana sinovial, predominantemente das articulações periféricas. A doença não tratada ocasiona dano radiográfico, incapacidade funcional e mortalidade precoce. Sua prevalência é estimada em 0,5%–1% da população mundial.1 Acredita-se que entre as diversas personalidades possivelmente acometidas pela AR estaria o arquiteto catalão neogótico Antoni Placid Gaudí i Cornet (1852–1926), cujas concepções plásticas tornaram-se mundialmente famosas e viraram símbolos de Barcelona, cidade onde passou a maior parte de sua vida.2 Gaudí teria sido acometido desde sua infância por um tipo de reumatismo, possivelmente uma artrite idiopática juvenil, embora não haja registros de deformidades características da doença no artista. Os longos períodos de repouso e limitação impostos ao jovem pela possível doença articular teriam influenciado profundamente sua forma de observar e retratar a natureza.2 Entre as diversas modalidades de representação artística nas quais Gaudí se destacou, podemos sublinhar o mosaico, forma de arte decorativa milenar caracterizada por um embutido de pequenas peças de pedra ou outros materiais formando desenhos, integrados de maneira harmoniosa. O Brasil, com sua mistura harmônica de etnias, culturas e credos pontilhando sua vasta extensão territorial, pode ser comparado, simbolicamente, a um fabuloso mosaico de Gaudí – peças muito diferentes entre si compõem um todo coeso e único em sua diversidade. No entanto, manter a coesão e a harmonia ao lidar com toda a diversidade das macrorregiões brasileiras, com seus cenários econômicos e sociais tão distintos, a fim de homogeneizar condutas e práticas para o manejo de doenças crônicas, não é tarefa das mais fáceis. Foi esse o desafio da Comissão de Artrite Reumatoide da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) ao escrever o A Rev Bras Reumatol 2012;52(2):131-134 Consenso 2012 da SBR para o tratamento da AR.3 O consenso é um instrumento educativo, mais que uma diretriz normativa, que permite a seus autores acrescentar dados da experiência e a opinião de especialistas à evidência científica. Se, como publicação, o consenso perde em grau de recomendação e força de evidência, ganha como ferramenta educativa, ao valorizar a experiência de quem convive com as dificuldades da prática diária no manejo da doença. Assemelhase também a um mosaico, com as opiniões dos especialistas que participam de sua elaboração, muitas vezes diversas e conflitantes, harmonizando-se em um documento final unido pelo amálgama da evidência científica. Avaliando as características tão peculiares de um país gigantesco e singular em seus aspectos socioeconômicos como o Brasil, de que forma montar um mosaico/consenso harmonioso utilizando peças tão díspares entre si? Haveríamos de considerar, sem dúvida, a evidência científica e os grandes avanços no conhecimento dos mecanismos fisiopatológicos da AR, com o desenvolvimento de novas classes terapêuticas e a implementação de diferentes estratégias de tratamento e acompanhamento dos pacientes, como controle intensivo da doença e intervenção na fase inicial dos sintomas.1 Mas também urgia levantar o impacto dos elevados custos relacionados ao cuidado da AR, que decorrem tanto de fatores diretos quanto indiretos, e que competem com os (limitados) recursos para a saúde em outras intervenções essenciais. De forma às vezes conflitante, ao consenso/mosaico caberia pontuar, em um momento de transição epidemiológica, que ao mesmo tempo que comorbidades como hipertensão arterial sistêmica, doença coronariana e diabetes mellitus, tão prevalentes em nossa população, deveriam ser consideradas como fatores importantes no acompanhamento dos pacientes com AR, as doenças transmissíveis endêmico-epidêmicas (que ainda são um importante problema de saúde pública no Brasil) também deveriam ser contempladas no documento. 133 EDITORIAL E assim foi elaborado o Consenso 2012 da SBR para o tratamento da AR, com o objetivo de fazer recomendações sobre o tratamento da AR no Brasil, considerando-se as características peculiares de nosso país, como disponibilidade de drogas, nível socioeconômico da população, aspectos farmacoeconômicos e ocorrência de diversas endemias. Em consonância com a publicação próxima das Diretrizes para o Tratamento de AR, o Consenso apresenta 20 recomendações e um fluxograma de manejo medicamentoso da doença. Gaudí, tão conhecido pela estética de sua arte, era também homem de espiritualidade elevada – tanto que no Vaticano está em andamento o processo de beatificação do arquiteto.4 Em seus momentos de introspecção, Gaudí escrevia pensamentos, dentre os quais notabilizou-se o seguinte: “A criação prossegue incessantemente por meio do homem, mas o homem não cria: descobre.” Recentes diretrizes norte-americanas e europeias para o tratamento da AR foram publicadas, e a evidência científica que serviu de lastro para elas é a mesma que nos embasa. Assim, não foi nosso objetivo criar recomendações completamente diferentes do que é cientificamente comprovado e atualmente 134 aceito como correto para o tratamento da AR, mas descobrir uma forma de adaptá-las à realidade brasileira. Eis, então, nosso mosaico. Licia Maria Henrique da Mota Doutora em Ciências Médicas, Faculdade de Medicina, Universidade de Brasília – FMUnB; Professora Colaboradora de Clínica Médica e do Serviço de Reumatologia, FMUnB; Orientadora do Programa de Pós-graduação, FMUnB REFERENCES REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. Mota LMH, Cruz BA, Brenol CV, Pereira IA, Fronza LS, Bertolo MB et al. 2011 Consensus of the Brazilian Society of Rheumatology for diagnosis and early assessment of rheumatoid arthritis. Rev Bras Reumatol 2011; 51(3):199–219. Azevedo VF, Diaz-Torne C. The arthritis of Antoni Gaudí. J Clin Rheumatol 2008; 14(6):367–9. Mota LMH, Cruz BA, Brenol CV, Pereira IA, Fronza LS, Bertolo MB et al. 2012 Consensus of the Brazilian Society of Rheumatology for treatment of rheumatoid arthritis. Rev Bras Reumatol 2012; 52(2):135–74. Terragona JM. Antoni’s Gaudí beatifi cation. Available from: http://www.antonigaudi.org/Eng/443/443/1.htm. [Acessed on December 17, 2011]. Rev Bras Reumatol 2012;52(2):131-134 ARTIGO ORIGINAL Consenso 2012 da Sociedade Brasileira de Reumatologia para o tratamento da artrite reumatoide Licia Maria Henrique da Mota1, Boris Afonso Cruz2, Claiton Viegas Brenol3, Ivanio Alves Pereira4, Lucila Stange Rezende-Fronza5, Manoel Barros Bertolo6, Max Victor Carioca de Freitas7, Nilzio Antonio da Silva8, Paulo Louzada-Júnior9, Rina Dalva Neubarth Giorgi10, Rodrigo Aires Corrêa Lima11, Geraldo da Rocha Castelar Pinheiro12 RESUMO Objetivo: Elaborar recomendações para o tratamento da artrite reumatoide no Brasil. Método: Revisão da literatura com seleção de artigos baseados em evidência e opinião de especialistas da Comissão de Artrite Reumatoide da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Resultados e conclusões: 1) A decisão terapêutica deve ser compartilhada com o paciente; 2) imediatamente após o diagnóstico, uma droga modificadora do curso da doença (DMCD) deve ser prescrita e o tratamento ajustado para atingir remissão; 3) o tratamento deverá ser conduzido por reumatologista; 4) o tratamento inicial inclui DMCD sintéticas; 5) o metotrexato é a droga de escolha; 6) pacientes que não alcançaram resposta após a utilização de dois esquemas de DMCD sintéticas devem ser avaliados para DMCD biológicas; 7) excepcionalmente, DMCD biológicas poderão ser consideradas mais precocemente; 8) recomenda-se preferencialmente o uso de agentes anti-TNF como terapia biológica inicial; 9) após falha terapêutica a uma primeira DMCD biológica, outros biológicos poderão ser utilizados; 10) ciclofosfamida e azatioprina podem ser consideradas em manifestações extra-articulares graves; 11) recomenda-se a utilização de corticoide oral em baixas doses e por curtos períodos; 12) os anti-inflamatórios não hormonais devem sempre ser prescritos em associação à DMCD; 13) avaliações clínicas devem ser mensais no início do tratamento; 14) terapia física, reabilitação e terapia ocupacional são indicadas; 15) deve-se recomendar tratamento cirúrgico para correção de sequelas; 16) métodos de terapia alternativa não substituem a terapia tradicional; 17) deve-se orientar planejamento familiar; 18) orienta-se a busca ativa e o manejo de comorbidades; 19) atualizar e documentar a vacinação do paciente; 20) doenças transmissíveis endêmico-epidêmicas devem ser investigadas e tratadas. Palavras-chave: artrite reumatoide, terapêutica, Brasil, antirreumáticos, consenso. © 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. Recebido em 19/11/2011. Aprovado, após revisão, em 13/12/2011. Os conflitos de interesse estão declarados ao final deste artigo. Sociedade Brasileira de Reumatologia. 1. Doutora em Ciências Médicas, Faculdade de Medicina, Universidade de Brasília – FM-UnB; Orientadora do Programa de Pós-graduação em Ciências Médicas, UnB 2. Médico Reumatologista do Biocor Instituto, Belo Horizonte 3. Professor Adjunto do Departamento de Medicina Interna, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS; Coordenador do Centro de Referência de Artrite Reumatoide, Hospital de Clínicas de Porto Alegre/SES-RS 4. Doutor em Reumatologia, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo – FMUSP; Chefe do Núcleo de Reumatologia, Hospital Universitário, Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC 5. Médica Reumatologista, Hospital de Clínicas, Universidade Federal do Paraná – HC-UFPR; Ex-fellow do Serviço de Reumatologia, Hospital Geral AKH, Áustria; Médica Investigadora do Centro de Estudos em Terapias Inovadoras – CETI 6. Professor-Associado e Coordenador da Disciplina de Reumatologia, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas – Unicamp; Superintendente do Hospital de Clínicas, Unicamp 7. Professor Adjunto, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Ceará – UFCE 8. Professor Titular de Reumatologia, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Goiás – UFG 9. Professor-Associado, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo – FMUSP 10. Médica Reumatologista, Chefe da Seção de Diagnóstico e Terapêutica do Serviço de Reumatologia, Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo – HSPE-FMO 11. Médico Reumatologista, Chefe do Serviço de Reumatologia do HUB e preceptor da Residência médica do HBDF 12. Professor Adjunto e Coordenador da Disciplina de Reumatologia, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ Correspondência para: Licia Maria Henrique da Mota. Av. Brigadeiro Luís Antônio, 2466 – Jardim Paulista. CEP: 01402-000. São Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected] 152 Rev Bras Reumatol 2012;52(2):135-174 Consenso 2012 da Sociedade Brasileira de Reumatologia para o tratamento da artrite reumatoide INTRODUÇÃO A artrite reumatoide (AR) é uma doença autoimune inflamatória sistêmica caracterizada pelo comprometimento da membrana sinovial das articulações periféricas. A prevalência da AR é estimada em 0,5%–1% da população, com predomínio em mulheres e maior incidência na faixa etária de 30–50 anos.1,2 A característica principal da AR é o acometimento simétrico das pequenas e das grandes articulações, com maior frequência de envolvimento das mãos e dos pés. O caráter crônico e destrutivo da doença pode levar a importante limitação funcional, com perda de capacidade laboral e de qualidade de vida, a menos que o diagnóstico seja feito em fase inicial da doença e o tratamento determine melhora clínica.3 Além de deformidade irreversível e de limitação funcional, pacientes com AR e doença avançada podem apresentar menor sobrevida, o que confirma a gravidade dessa doença.4,5 Os custos relacionados à AR são elevados, o que decorre tanto de fatores diretos (gastos com diversos medicamentos, alguns deles de alto custo, como as drogas biológicas, além de despesas médicas e hospitalares) quanto indiretos (perda da produtividade pessoal, absenteísmo e pagamento de aposentadorias por invalidez, para aqueles com perda total da capacidade laboral).6 Nos últimos 10 anos houve grande avanço no conhecimento dos mecanismos fisiopatológicos da AR, com o desenvolvimento de novas classes terapêuticas e a implementação de diferentes estratégias de tratamento e de acompanhamento dos pacientes, como controle intensivo da doença e intervenção na fase inicial dos sintomas.7 O período inicial da doença, em especial seus 12 primeiros meses (AR inicial),5 é considerado uma janela de oportunidade terapêutica, ou seja, um momento em que a intervenção farmacológica rápida e efetiva pode mudar o curso da doença em longo prazo. Esses fatores resultaram em melhor controle clínico da doença, com a possibilidade de remissão sustentada da AR.7,8 O presente consenso tem o objetivo de elaborar recomendações para o manejo da AR, com enfoque no tratamento da doença, levando em consideração aspectos peculiares da realidade socioeconômica brasileira. A finalidade deste documento é sintetizar a posição atual da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) sobre o tema, objetivando orientar os médicos brasileiros, em especial os reumatologistas, sobre o manejo terapêutico racional da AR no Brasil. MÉTODO DE ELABORAÇÃO DO CONSENSO O método de elaboração do consenso para o desenvolvimento das recomendações incluiu revisão da literatura e opinião de Rev Bras Reumatol 2012;52(2):135-174 especialistas membros da Comissão de Artrite Reumatoide da SBR. O levantamento bibliográfico abrangeu publicações existentes nas bases MEDLINE, SciELO, PubMed e EMBASE até novembro de 2011. As recomendações foram escritas e reavaliadas por todos os participantes durante cinco reuniões presenciais, ocorridas em outubro e dezembro de 2010, e fevereiro, julho e outubro de 2011, além de múltiplas rodadas de questionamentos e correções realizadas via internet. TRATAMENTO DA ARTRITE REUMATOIDE O tratamento da AR inclui educação do paciente e de sua família, terapia medicamentosa, fisioterapia, apoio psicossocial, terapia ocupacional e abordagens cirúrgicas. As terapias medicamentosas incluem uso de anti-inflamatórios não hormonais (AINH), corticoides, drogas modificadoras do curso da doença (DMCD) sintéticas e biológicas e drogas imunossupressoras. Medidas educativas Antes de iniciar qualquer forma de tratamento, o paciente deve ser esclarecido sobre sua enfermidade e, particularmente, quanto às possibilidades evolutivas, terapêuticas e de prognóstico. É preciso alertar sobre informações inadequadas veiculadas pelos meios de comunicação, em especial a internet. A educação deve ser iniciada desde o primeiro atendimento e deve incluir os familiares, para que todos compartilhem das informações sobre a doença, o que resulta em melhor manejo dos tratamentos medicamentosos e não medicamentosos.9,10 Atividades educativas são essenciais para que se obtenha a colaboração do paciente. Ele tem o direito de saber sobre suas condições e sobre as opções terapêuticas disponíveis, e de participar ativamente das escolhas. O paciente que entende sua condição e compreende a ação dos medicamentos, os métodos de prevenção de deformidades e o processo de reabilitação apresenta melhor evolução clínica.11 O paciente deve ser informado sobre o papel dos exercícios e da proteção articular e as técnicas específicas de fisioterapia e de reabilitação, para que possa dedicar-se às atividades de prevenção de deformidades articulares. Além disso, deve ser orientado sobre as possibilidades de ajuste de equipamentos domésticos e de modificação do ambiente de trabalho.12 Como o paciente é muitas vezes acompanhado por uma equipe multidisciplinar, é necessário que todos tenham os mesmos objetivos e trabalhem em conjunto e em harmonia.13 153 Mota et al. Tratamento medicamentoso Drogas modificadoras do curso da doença – DMCD Anti-inflamatórios não hormonais – AINH As DMCD devem ser indicadas ao paciente a partir da definição do diagnóstico de AR.23 A utilização de DMCD em pacientes com artrite indiferenciada e biomarcadores preditores de AR, como positividade dos anticorpos antipeptídeos citrulinados cíclicos (anti-CCP) e/ou fator reumatoide (FR), pode ser considerada.24 A Tabela 1 resume as principais DMCD utilizadas no Brasil, sua apresentação, dose e considerações sobre monitoração.20,25–94 Os AINH são úteis para diminuir o processo inflamatório e a dor, principalmente no início da doença, pois as DMCD não têm ação imediata. Podem ser empregados, também, quando não se obtém controle completo da atividade e em reagudizações da AR.14,15 A escolha dos AINH deve ser individualizada, pois não há superioridade conhecida de qualquer fármaco dessa classe. Maior controle, substituição, suspensão, diminuição do tempo de utilização e redução das doses devem ser os cuidados se houver condições clínicas que possam ser agravadas pelos AINH, como, por exemplo, hipersensibilidade prévia a AINH, hipertensão arterial sistêmica (HAS), insuficiência cardíaca, insuficiência renal, doença gastrintestinal, insuficiência arterial, hepatopatia e distúrbios de coagulação.16 Para os pacientes com história prévia de doença gastrintestinal, os inibidores seletivos de ciclo-oxigenase 2 apresentam menor risco em relação aos demais AINH.17 Para pacientes com maior risco de doença cardiovascular, o uso de anti-inflamatórios, em geral, deve ser cauteloso.18 Corticoides O efeito mais conhecido e esperado dos corticoides na AR é a melhora do processo inflamatório e da dor. Contudo, atualmente há evidência para indicá-los como participantes na modificação do curso da doença, em associação com as DMCD.19,20 A maioria dos estudos sobre o uso de corticoides no tratamento da AR sugere a utilização da prednisona ou prednisolona em doses baixas (≤ 15 mg/dia). Não há estudos comparativos que permitam indicar preferencialmente doses mais altas no início do tratamento.19,20 Como os corticoides podem causar vários efeitos colaterais, seu tempo de uso deve ser abreviado ao mínimo possível. Se a previsão for de três ou mais meses de uso, deve-se fazer suplementação de cálcio e de vitamina D. Dependendo do resultado de densitometria óssea, e em pacientes com fatores de risco para fraturas, a utilização de drogas antirreabsortivas, como os bisfosfonatos, pode ser considerada.21 Em pacientes que mantêm a doença ativa em poucas articulações pode-se usar o corticoide intra-articular a qualquer momento do tratamento22 – porém, uma mesma articulação não deve ser infiltrada mais de três a quatro vezes ao ano. Para pacientes em uso concomitante de corticoide e AINH, recomenda-se proteção gástrica com inibidor de bomba de próton.22 154 DMCD sintéticas a) Metotrexato – MTX O MTX é um agente imunomodulador cuja ação consiste na inibição da síntese de DNA, RNA, timidinato e proteínas. Os efeitos anti-inflamatórios do MTX na AR parecem estar relacionados, pelo menos em parte, com a modulação do metabolismo da adenosina e com os efeitos possíveis nas vias do fator de necrose tumoral (TNF, do inglês, tumor necrosis factor). Os efeitos imunossupressivos e tóxicos do MTX são devido à inibição do diidrofolato redutase, enzima envolvida no metabolismo do ácido fólico, o que evita a redução do diidrofolato a tetraidrofolato ativo. O tempo até a concentração máxima é de 1–5 horas por via oral (VO) e de 30–60 minutos por via intramuscular (IM) ou subcutânea (SC). Elimina-se por via renal entre 40% e 90% de forma inalterada.25 O MTX é atualmente considerado o fármaco padrão no tratamento da AR.26 Sua capacidade de reduzir sinais e sintomas de atividade da AR e de melhorar o estado funcional do paciente foi demonstrada.27 Ele também reduz a progressão das lesões radiográficas. Recomenda-se dose inicial de 10–15 mg/semana, VO ou parenteral (IM ou SC). Caso não se observe melhora ou controle da doença com a dose inicial, deve-se aumentar progressivamente a cada 2–4 semanas até alcançar a dose de 20–30 mg/semana, preferencialmente nas primeiras 12 semanas. A apresentação parenteral pode ser indicada em pacientes com intolerância gastrintestinal ou com resposta inadequada à forma oral.28 Os efeitos adversos mais frequentemente observados são anemia, neutropenia, náuseas e vômitos, mucosite e elevação de enzimas hepáticas. A pneumonia intersticial é uma manifestação menos frequente. Sugere-se a associação do MTX ao ácido fólico na dose de 5–10 mg/semana, 24–48 horas após o MTX, a fim de minimizar efeitos adversos.28 O MTX está contraindicado em pacientes com insuficiência renal, hepatopatias, etilismo, supressão da Rev Bras Reumatol 2012;52(2):135-174 Consenso 2012 da Sociedade Brasileira de Reumatologia para o tratamento da artrite reumatoide medula óssea e em mulheres em idade fértil que não estejam utilizando métodos anticoncepcionais. A gestação e a amamentação estão formalmente contraindicadas nas pacientes em uso do MTX. O medicamento deve ser usado com cautela em pacientes com pneumopatias leves, e deve ser evitado em indivíduos com comprometimento pulmonar moderado ou grave.28 b) Sulfassalazina – SSZ A SSZ pertence ao grupo dos salicilatos e sulfamidas, e é desdobrada pelas bactérias intestinais na sulfapiridina e no ácido 5-aminosalicílico. A sulfapiridina tem vários efeitos imunomodulatórios, como inibição da produção de prostaglandinas, de diversas funções neutrofílicas e linfocitárias e da quimiotaxia. É também um inibidor de enzimas folato-dependentes. O pico de concentração sérica da SSZ é de aproximadamente 1,5–6 horas, e sua meia-vida de eliminação é de 5–10 horas. O metabolismo ocorre no trato gastrintestinal (via flora intestinal), e a excreção é renal (75%–91%).29 A SSZ é considerada mais efetiva que o placebo na redução da atividade da doença, no controle da dor e na avaliação clínica global. Sua eficácia clínica e a interferência sobre a progressão radiográfica estão confirmadas.29 Usualmente, é prescrita na dose de 1–3 g/dia (VO).29,30 Os efeitos colaterais incluem intolerância gastrintestinal (anorexia, náuseas, vômitos), exantema cutâneo, elevação de enzimas hepáticas, úlceras orais e mielossupressão (leucopenia com neutropenia). Raramente observam-se pneumonia de hipersensibilidade, manifestações neurológicas ou alterações da fertilidade masculina. A maioria dos efeitos é de caráter benigno, reversível com a retirada da droga. 30 A SSZ está contraindicada em pacientes com história de hipersensibilidade a sulfas, salicilatos ou a qualquer componente da fórmula, e em indivíduos com porfiria.29,30 c) Leflunomida – LEF A LEF é um agente imunomodulador com atividade antiproliferativa que inibe a enzima diidroorotato desidrogenase, envolvida na síntese da pirimidina. É absorvida no trato gastrintestinal, e a biotransformação ocorre provavelmente no fígado e na parede gastrintestinal, onde a LEF é transformada principalmente em M1, o metabólito ativo responsável por todas as ações da medicação. O tempo para a concentração máxima (pico) da M1 é de 6–12 horas, e a eliminação é renal e intestinal.31 A LEF melhora a atividade da doença e a qualidade de vida e reduz a progressão radiográfica.32,33 É prescrita na dose de Rev Bras Reumatol 2012;52(2):135-174 20 mg/dia (VO),31–33 mas pode-se prescrever dose de 20 mg em dias alternados. Os efeitos adversos incluem náuseas, vômitos, dor abdominal e diarreia, alterações das enzimas hepáticas, exantema cutâneo e HAS.31 Está contraindicada em mulheres em idade fértil que não estejam utilizando métodos anticoncepcionais, e em pacientes com insuficiência renal e hepatopatias. A gestação e a amamentação estão formalmente contraindicadas nas pacientes em uso da LEF. Sua suspensão é recomendada até dois anos antes de uma possível gravidez. Em casos de intercorrências, em especial na gravidez, a LEF pode ser eliminada com a utilização de colestiramina na dosagem de 8 g três vezes ao dia, por 11 dias.31 d) Antimaláricos (difosfato de cloroquina – DCQ e sulfato de hidroxicloroquina – HCQ) Os antimaláricos vêm sendo usados no tratamento da AR há mais de 50 anos. São medicamentos seguros e eficazes, sobretudo para formas iniciais e leves. Seu mecanismo de ação ainda é pouco conhecido, mas parece envolver múltiplos fatores: atividade anti-inflamatória (estabilização das membranas lisossomais, inibição de enzimas lisossômicas e da quimiotaxia e fagocitose de polimorfonucleares), interferência na produção de prostaglandinas, entre outros. 34,35 As duas formas disponíveis dos antimaláricos são o DCQ e o HCQ, das quais a última é preferível por seu melhor perfil de segurança, sobretudo oftalmológico. A dose máxima diária do DCQ é de 4 mg/kg/dia, e a do HCQ é de 6 mg/kg/dia VO. O início de ação é lento, levando de 3–4 meses para atingir o pico de eficácia em cerca de 50% dos pacientes. Os efeitos colaterais são diversos e incluem, entre outros, intolerância gastrintestinal (náuseas, vômitos, dor abdominal), hiperpigmentação da pele, cefaleia, tontura, miopatia e retinopatia. Este último é infrequente, mas indica-se monitoração oftalmológica regular (avaliação inicial e anual após cinco anos, ou anual desde o princípio, se houver fatores de risco: pacientes com disfunção renal ou hepática, com maculopatia, idosos ou dose cumulativa superior a 1000 g para o HCQ ou 460 g para o DCQ).36 O HCQ é eficaz em comparação ao placebo, reduzindo os parâmetros clínicos e laboratoriais (velocidade de hemosedimentação, VHS) analisados, embora isoladamente não tenha alterado a progressão radiográfica.34,35,37 Resultados similares foram observados com o DCQ, que tem menor custo. Ambos são contraindicadas em pacientes com alterações retinianas e de campo visual.36,37 155 Mota et al. Embora seu uso seja tradicional no Brasil, muitas vezes em associação a outras DMCD, os antimaláricos atualmente são considerados drogas menos potentes, devendo ser usados em casos iniciais de AR ou artrite indiferenciada, com baixo potencial erosivo. e) Sais de ouro Os sais de ouro, especificamente sob as formas injetáveis (aurotioglicose e aurotiomalato) são capazes tanto de reduzir os sintomas constitucionais e articulares quanto de retardar a evolução radiográfica da AR.38 Podem ser usados em monoterapia ou em combinação com outros agentes.39 A dose habitual é de 50 mg/semana, iniciando-se geralmente com 25 mg/semana, com possibilidade de aumento dos intervalos de aplicações para doses quinzenais e mensais após controle do quadro. A dose cumulativa não deve ultrapassar 3 g.38,39 Seu perfil de toxicidade inclui mielotoxicidade (marcadamente trombocitopenia), úlceras orais, reações cutâneas (dermatite esfoliativa), nefropatia (podendo haver proteinúria nefrótica) e doença intersticial pulmonar.38,39 Embora tenham sido citados em recentes recomendações internacionais,20 atualmente os sais de ouro são bem pouco utilizados no Brasil, dados seus efeitos adversos e a dificuldade de aquisição da droga em nosso meio. DMCD biológicas Um dos mais relevantes avanços na terapia da AR foi o desenvolvimento das DMCD biológicas.40 Embora essas medicações sejam eficazes no controle da AR, sua segurança a longo prazo ainda não está estabelecida.41 Encontram-se aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para uso no Brasil as seguintes DMCD biológicas:42 l Anti-TNF: adalimumabe, certolizumabe, etanercepte, infliximabe e golimumabe; l Depletor de linfócito B: rituximabe; l Bloqueador da coestimulação do linfócito T: abatacepte; l Bloqueador do receptor de interleucina-6 (IL-6): tocilizumabe. As DMCD biológicas estão indicadas para os pacientes que persistam com atividade da doença, apesar do tratamento com pelo menos dois esquemas de DMCD sintéticas, dos quais pelo menos um deles é combinação de DMCD. O uso de agentes biológicos deve ser feito associado a uma DMCD, preferencialmente MTX. Excepcionalmente, como discutido a seguir, uma DMCD biológica pode ser prescrita mais precocemente no curso do tratamento da AR, sobretudo em 156 casos de doença com combinação de sinais de pior prognóstico (elevado número de articulações acometidas, erosões radiográficas na fase inicial da doença, FR e/ou anti-CCP presentes em altos títulos).13,20,43–46 Características sociais/educacionais/demográficas das diferentes macrorregiões brasileiras, como a dificuldade de aplicação de medicação SC por alguns pacientes e seus familiares, bem como a inexistência de centros de infusão para aplicação de medicação intravenosa (IV) em certos locais, podem determinar a escolha de uma ou outra DMCD biológica. Os centros de dispensação/infusão das drogas, públicos ou privados, devem informar aos pacientes e aos seus familiares o adequado acondicionamento de cada medicação, ou enviá-las diretamente para o local de infusão, para evitar perda de eficácia do tratamento. Recomenda-se que o uso desses fármacos seja indicado e monitorado por um reumatologista.47 A associação de DMCD biológicas não deve ser utilizada, devido ao potencial risco de infecções graves.48,49 Atualmente, as DMCD biológicas mais utilizadas são os anti-TNF, mas há evidências de que as demais DMCD biológicas também promovam o controle de sinais e sintomas da AR e a inibição da progressão radiográfica. a) Anti-TNF O TNF é uma potente citocina inflamatória expressa em grandes quantidades no soro e no líquido sinovial de indivíduos com AR. Ele promove a liberação de outras citocinas inflamatórias, particularmente as interleucinas IL-1, IL-6 e IL-8, e estimula a produção de proteases. A inibição do TNF demonstrou ser uma forma efetiva e rápida de controlar a atividade da doença.50 Em termos de eficácia, não há dados que permitam afirmar a superioridade de qualquer um dos cinco agentes anti-TNF aprovados no Brasil para tratamento da AR.51,52 Os anti-TNF devem ser utilizados em associação ao MTX ou a outras DMCD, pois o uso combinado mostrou-se seguro e propiciou rápido benefício no controle da atividade da doença, comparado ao uso do anti-TNF como monoterapia. Em pacientes que apresentem contraindicações ao uso de DMCD sintéticas, os anti-TNF podem eventualmente ser prescritos em monoterapia.46,53–63 l Adalimumabe – ADA O ADA é um anticorpo humano contra o TNF, prescrito para aplicação SC na dose de 40 mg uma vez a cada duas semanas.55,56,64–68 Rev Bras Reumatol 2012;52(2):135-174 Consenso 2012 da Sociedade Brasileira de Reumatologia para o tratamento da artrite reumatoide Certolizumabe – CERT O CERT pegol é um fragmento Fab de um anticorpo anti-TNF humanizado, com alta afinidade ao TNF, conjugado com duas moléculas de polietilenoglicol. É prescrito para aplicação SC na dose de 400 mg a cada duas semanas, nas semanas 0, 2 e 4, e, após isso, na dose de 200 mg a cada duas semanas ou 400 mg a cada quatro semanas.61,62,69 l l Etanercepte – ETN O ETN é uma proteína de fusão composta pelo receptor solúvel do TNF mais a região Fc da IgG, prescrita em dose única semanal de 50 mg por via SC.57,58,68,70 l Infliximabe – IFX O IFX é um anticorpo monoclonal anti-TNF quimérico humano-murino, prescrito na dose inicial de 3 mg/kg IV, seguida da mesma dose nas segunda e sexta semanas e, depois, a cada oito semanas. Em pacientes com resposta insuficiente, a dose pode ser elevada para 5 mg/kg por infusão, ou o intervalo entre as doses pode ser reduzido. Doses mais altas trazem pouco benefício terapêutico e maior risco de complicações infecciosas, portanto devem ser evitadas no tratamento da AR.54,59,63,68,71 Golimumabe – GOL O GOL é um anticorpo monoclonal humano anti-TNF administrado mensalmente na dose de 50 mg por via SC.60,72 l Efeitos adversos e contraindicações dos anti-TNF Os efeitos adversos incluem reações infusionais para as drogas IV (febre, calafrios, dor torácica, oscilação de pressão arterial, dispneia, prurido e/ou urticária) e manifestações nos locais de injeção para as drogas SC (eritema, prurido, dor local e/ou urticária). Essas drogas aumentam a chance de infecções, especialmente no primeiro ano de uso, incluindo infecções graves e aquelas causadas por patógenos intracelulares (como bacilo da tuberculose, listeria, histoplasma, micobacterias atípicas e legionella), além de disfunção cardíaca, doenças desmielinizantes, fenômenos autoimunes (produção de autoanticorpos), vasculites cutâneas, doença pulmonar intersticial e eventual aumento do risco de linfoma.68,73–75 Anticorpos antiquiméricos humanos podem ocorrer com todas as drogas da classe, mas seu efeito sobre a eficácia da terapia é incerto.76,77 As medicações anti-TNF são contraindicadas em mulheres grávidas ou que estejam amamentando e em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva classe III e IV (segundo a classificação da New York Heart Association), em vigência de l Rev Bras Reumatol 2012;52(2):135-174 infecção ativa ou com elevado risco para o desenvolvimento de infecções (úlcera crônica de membros inferiores, artrite séptica nos últimos 12 meses), com infecções pulmonares recorrentes, esclerose múltipla e diagnóstico atual ou pregresso de neoplasias (menos de cinco anos). Deve-se acompanhar o paciente de maneira cuidadosa, avaliando o possível surgimento de sinais de infecção, que deve ser tratada de forma pronta e imediata.73–75 b) Modulador da coestimulação l Abatacepte – ABAT O ABAT é uma proteína de fusão CTLA-4-IgG que atua como inibidor de moléculas de coestimulação dos linfócitos T. É indicado para pacientes com AR ativa que tenham apresentado falha terapêutica à DMCD ou aos agentes anti-TNF. Pode ser utilizado associado às DMCD ou em monoterapia. O ABAT deve ser administrado como infusão IV, durante 30 min, na dose de 500 mg nos pacientes com menos de 60 kg, 750 mg nos pacientes entre 60–100 kg e 1.000 mg naqueles com mais de 100 kg de peso corporal. A dose seguinte deve ser administrada duas e quatro semanas após a dose inicial, e depois a cada quatro semanas.78–80 O uso do ABAT está associado à maior ocorrência de complicações infecciosas quando comparado ao placebo, assim como observado com outras DMCD biológicas. As reações infusionais com o ABAT são pouco frequentes e são, principalmente, reações de hipersensibilidade que se manifestam por exantema ou broncoespasmo. Está contraindicado em pacientes com quadro de doença pulmonar obstrutiva crônica, por exacerbação do quadro de dispneia e maior ocorrência de infecções.78,81 c) Depletor de linfócitos B l Rituximabe – RTX O RTX é um anticorpo monoclonal quimérico dirigido contra o linfócito CD20+, indicado em pacientes com AR em atividade moderada a grave com falha terapêutica ao agente anti-TNF. É administrado na dose de 1.000 mg em duas infusões IV em um intervalo de 14 dias. Cada infusão é precedida de 100 mg de metilprednisolona IV 60 min antes e de 1 g de paracetamol e anti-histamínico, para diminuir a gravidade e a frequência das reações infusionais.82–85 O RTX é utilizado preferencialmente em associação com o MTX, podendo ser prescrito em associação com outras DMCD. É importante ressaltar que pode haver retardo em três a quatro meses para que se observe o início da melhora sintomática. 82–84 Indivíduos com sorologia positiva para FR e/ou anti-CCP apresentam melhor 157 Mota et al. resposta terapêutica. 86 Os pacientes com boa resposta ao tratamento podem ser submetidos a novo curso de RTX, caso reativem a doença, em intervalo de tempo não inferior a seis meses.82–85 Os eventos adversos mais frequentes são as reações infusionais, que acometem 35% dos pacientes na primeira infusão e cerca de 10% na segunda infusão. Complicações infecciosas podem ocorrer, bem como pneumonia intersticial, neutropenia e trombocitopenia.82–85 d) Bloqueador do receptor de IL-6 l Tocilizumabe – TOCI O TOCI é um anticorpo monoclonal humanizado que se liga ao receptor de IL-6, inibindo o efeito biológico da IL-6. Pode ser usado em monoterapia, associado ao MTX ou a outras DMCD. A incidência de infecções e de infecções graves é equivalente aos outros agentes biológicos. É prescrito na dose de 8 mg/kg por via IV, a cada quatro semanas.87–89 O uso de TOCI pode ocasionar neutropenia, plaquetopenia e elevação de transaminases como efeitos adversos dosedependentes. Pode ainda ocorrer elevação do colesterol total e da lipoproteína de baixa densidade, bem como aumento da ocorrência de infecções.87–89 Deve-se evitar sua utilização em pacientes com maior chance de perfuração intestinal, como indivíduos com doença diverticular do cólon.90 Infecção em pacientes em uso de DMCD biológicas Recomenda-se a triagem para doenças infecciosas antes do início de DMCD biológicas, incluindo avaliação clínica minuciosa, sorologias para hepatite B e C, e, quando pertinente, HIV e/ou outras doenças endêmicas. A triagem para doenças endêmicas será mais bem detalhada em tópico posterior. Drogas imunossupressoras A base do uso de imunossupressores para o tratamento da AR é a evidência de múltiplos mecanismos imunológicos mediando sinovite e outras manifestações extra-articulares da doença. Diversos mecanismos de ação são descritos, incluindo redução da resposta celular (e menos efetivamente da humoral) e propriedades anti-inflamatórias (interferência sobre a migração e a ação de neutrófilos, linfócitos e monócitos). O uso dos imunossupressores está restrito para as formas mais severas da AR, já que a maioria dessas drogas apresenta considerável toxicidade (mielossupressão grave, aumento 158 da ocorrência de infecções, esterilidade, toxicidade vesical e aumento da ocorrência de neoplasias). Azatioprina – AZA Embora apresente perfil de segurança aceitável, há controvérsias sobre sua ação como DMCD. A AZA é considerada uma opção terapêutica;91 entretanto, seu menor efeito no controle de sinais e sintomas e a ausência de comprovação na redução da progressão radiográfica colocam-na como uma alternativa apenas em casos excepcionais.20 A dose habitual é de 1–3 mg/kg/dia VO. Ela é usada no tratamento de formas moderadas a severas da AR, refratárias a outros tratamentos ou para controle de manifestações extra-articulares graves, como a vasculite.20,91 Ciclofosfamida – CF Agente alquilante com perfil de toxicidade desfavorável e limitado benefício para controle da sinovite, a CF pode ser usada por VO (1–2 mg/kg/dia) ou preferencialmente por via IV (pulsos de 0,5–1 g/m2 de superfície corpórea). Seu uso só se justifica nas formas extra-articulares graves, sobretudo na vasculite.92 Ciclosporina – CS A CS é uma alternativa eficaz no controle de sinais e sintomas da AR. Pode retardar a progressão do dano articular, mesmo em pacientes com AR grave e refratária a outros tratamentos, embora seu efeito pareça ser inferior ao do MTX, da SSZ e da LEF. Pode ser usada em monoterapia, mas é geralmente prescrita em associação com o MTX. 20,93,94 O mecanismo proposto é de uma ação imunomoduladora, relativamente específica para os linfócitos T. É prescrita por VO, com dose de 3–5 mg/kg/dia. Está contraindicada em pacientes com alteração da função renal, hipertensão não controlada e malignidade. Sua toxicidade, entretanto, limita a utilização por pacientes com doença não responsiva a outras DMCD, tornando-a uma droga de exceção para tratamento da doença. É prescrita preferencialmente para pacientes com manifestações extra-articulares, incluindo vasculite, além de ser uma alternativa segura para pacientes com hepatopatia e envolvimento pulmonar. Se houver desenvolvimento de hipertensão ou aumento de creatinina em 30% do valor basal, deve ser realizada redução de 25%–50% da dose. Persistindo a hipertensão ou o aumento de creatinina, o tratamento deve ser descontinuado.20,93,94 Rev Bras Reumatol 2012;52(2):135-174 Apresentação Rev Bras Reumatol 2012;52(2):135-174 Até 4 mg/kg/dia (VO) Comprimidos ou cápsulas: 150 mg ou 250 mg Solucão injetável: 50 mg/0,5 mL Difosfato de cloroquina Sais de ouro (aurotioglicose ou aurotiomalato de sódio) 50 mg/semana Seringas preenchidas: 200 mg Frascos: 25 mg e 50 mg de solução para reconstituição Seringas preenchidas: 50 mg Certolizumabe Etanercepte (Continua...) 400 mg (SC) a cada duas semanas nas semanas 0, 2 e 4; após, 200 mg a cada duas semanas ou 400 mg a cada quatro semanas Seringas preenchidas: 40 mg 40 mg (SC) a cada 15 dias 50 mg/semana (IM profunda), iniciando-se habitualmente com 25 mg/semana. Espaçamento para doses quinzenais e mensais após controle do quadro. A dose cumulativa não deve ultrapassar 3 g Adalimumabe Bloqueadores de fator de necrose tumoral Drogas modificadoras do curso da doença biológicas Até 6 mg/kg/dia (VO) Comprimidos: 400 mg Sulfato de hidroxicloroquina Eficazes no controle de sinais e sintomas da AR e na redução da progressão radiográfica. Devem ser preferencialmente prescritos após falha a dois esquemas com DMCD sintéticas (dos quais um deve incluir terapia de combinação com DMCD sintéticas, com MTX preferencialmente como a droga âncora da combinação), em associação ao MTX ou a outra DMCD sintética. Monitoração: avaliação de tuberculose latente antes do início do tratamento (história clínica, radiografia de tórax, PPD e/ou IGRA), hemograma e enzimas hepáticas a cada 4–12 semanas. Monitoração cuidadosa da ocorrência de infecção, em particular no primeiro ano de uso. Eficazes no controle de sintomas e na redução da progressão radiográfica. São pouco utilizados no Brasil devido a os efeitos adversos e à dificuldade de aquisição da droga em nosso meio. Monitoração: mensal, com hemograma, enzimas hepáticas e exame sumário de urina. Os antimaláricos são atualmente considerados drogas menos potentes, e devem ser usados em casos iniciais de AR ou artrite indiferenciada, com baixo potencial erosivo. Podem ser usados associados ao MTX ou a outros DMCD. Monitoração: exame oftalmológico inicial e anual após cinco anos (ou anualmente desde o princípio, se houver fatores de risco para maculopatia ou retinopatia). Reduz sinais e sintomas de atividade da AR, melhora o estado funcional e reduz a progressão das lesões radiográficas. Monitoração: hemograma, creatinina e enzimas hepáticas a cada 4–12 semanas. Pode ser usada associada ao MTX e a outras DMCD. 20 mg/dia ou em dias alternados (VO) Comprimidos: 20 mg Leflunomida Reduz sinais e sintomas de atividade da AR, melhora o estado funcional e reduz a progressão das lesões radiográficas. Monitoração: hemograma e enzimas hepáticas a cada 8–12 semanas. Pode ser usada associada ao MTX e a outras DMCD. Sulfassalazina Considerado atualmente o fármaco padrão no tratamanto da AR, reduz sinais e sintomas de atividade da doença, melhora o estado funcional e reduz a progressão das lesões radiográficas. Monitoração: hemograma, creatinina e enzimas hepáticas a cada 4–12 semanas. Resposta clínica e monitoração 1–3 g/dia (VO) Comprimidos: 500 mg Metotrexato 10–30 mg/semana (VO, IM ou SC) Dose Comprimidos: 2,5 mg Solução injetável: 50 mg/2 mL Drogas modificadoras do curso da doença sintéticas Droga Tabela 1 Drogas modificadoras do curso da doença utilizadas no tratamento da artrite reumatoide no Brasil20,25–94 Consenso 2012 da Sociedade Brasileira de Reumatologia para o tratamento da artrite reumatoide 159 160 Monitoração: hemograma e enzimas hepáticas a cada 4–8 semanas. Comprimidos: 50 mg Frascos: 200 mg ou 1000 mg Comprimidos: 50 mg e 100 mg Ciclofosfamida Ciclosporina Pressão arterial e função renal a cada 2–4 semanas. AR: artrite reumatoide; DMCD: droga modificadora do curso da doença; IGRA: ensaios de liberação do interferon gama; IM: intramuscular; IV: intravenoso; MTX: metotrexato; PPD: teste tuberculínico; RTX: rituximabe; SC: subcutânea; VO: via oral. 3–5,0 mg/kg/dia (VO) 2–2,5 mg/kg/dia (VO) ou pulsoterapia Reservado para pacientes com manifestações extra-articulares graves. mensal com 750 mg a 1 g/m2 de Monitoração: a cada quatro semanas com hemograma, enzimas hepáticas e exame de urina superfície corporal (IV) a cada quatro (pelo risco de cistite hemorrágica). semanas Comprimidos: 50 mg Eficaz na redução de sinais e sintomas da AR e na redução da progressão radiográfica. Pode ser prescrito após falha a DMCD sintéticas ou após falha e/ou intolerância aos anti-TNF ou a outras DMCD biológicas. Uso preferencial associado ao MTX ou a outras DMCD sintéticas, embora possa ser utilizado em monoterapia. Monitoração: hemograma, enzimas hepáticas e lipidograma a cada infusão. Azatioprina 1–3 mg/kg/dia (VO) 8 mg/kg/dose (IV) a cada quatro semanas 500 mg a 1 g (IV) nos dias 0 e 14 (1–2 g/ciclo) Eficaz na redução de sinais e sintomas da AR e na redução da progressão radiográfica. Pode ser prescrito após falha e/ou intolerância aos anti-TNF ou a outras DMCD biológicas. Não deve ser prescrito após falha a DMCD sintéticas, exceto em situações excepcionais. A presença de FR e/ou anti-CCP prediz melhor resposta terapêutica ao RTX. Deve ser prescrito preferencialmente associado ao MTX ou a outra DMCD sintética. Os ciclos podem ser repetidos em intervalos mínimos de seis meses, de acordo com a evolução da doença. Monitoração: hemograma e enzimas hepáticas a cada 4–12 semanas. Avaliar a ocorrência de infecção. Consideradas menos eficazes no controle de sinais e sintomas da AR e na redução da progressão radiográfica. São opções inferiores às demais DMCD. Sua principal indicação é para o tratamento de manifestações extra-articulares e vasculite. Frascos: 80 mg ou 200 mg Frascos: 500 mg Frascos: 250 mg Eficaz na redução de sinais e sintomas da AR e na redução da progressão radiográfica. Pode ser prescrito após falha de DMCD sintéticas ou após falha e/ou intolerância a DMCD biológicas. Uso preferencial associado ao MTX ou a outras DMCD sintéticas. Monitoração: hemograma e enzimas hepáticas a cada 4–8 semanas. Monitorar ocorrência de infecção. Resposta clínica e monitoração Drogas imunossupressoras Tocilizumabe Bloqueador do receptor de IL-6 Rituximabe Depletor de linfócitos B Abatacepte 500 mg (IV) nos pacientes com menos de 60 kg, 750 mg (IV) nospacientes com 60–100 kg e 1.000 mg naqueles com mais de 100 kg, a cada quatro semanas 50 mg (SC) mensalmente Caneta aplicadora preenchida: 50 mg Golimumabe Modulador da coestimulação 3–5 mg/kg/dose (IV) nas semanas 0, 2 e 6, seguida pela mesma dose a cada 6–8 semanas Dose Frascos: 100 mg Apresentação Infliximabe Droga Mota et al. Rev Bras Reumatol 2012;52(2):135-174 Consenso 2012 da Sociedade Brasileira de Reumatologia para o tratamento da artrite reumatoide ESTRATÉGIAS TERAPÊUTICAS PARA O TRATAMENTO DA AR NO BRASIL As DMCD devem ser iniciadas imediatamente após o diagnóstico. Sempre que necessário, o tratamento deve ser ajustado em avaliações clínicas frequentes em um período de 30–90 dias. Estratégias terapêuticas com base em metas específicas produzem melhores desfechos clínicos e capacidade funcional, além de menor dano estrutural radiológico, em comparação com tratamentos convencionais.95 A meta a ser alcançada é a remissão, ou pelo menos a baixa atividade, avaliada por índices compostos de atividade da doença (ICAD), considerando-se como resposta terapêutica a redução do valor do ICAD, conforme estabelecido no consenso 2011 da Sociedade Brasileira de Reumatologia para diagnóstico e avaliação inicial da AR.5 A Figura 1 sintetiza o fluxograma de tratamento medicamentoso para a AR no Brasil, proposto pela Comissão de Artrite Reumatoide da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Primeira linha – DMCD sintéticas O MTX deve ser a DMCD de primeira escolha.20,96,97 Havendo contraindicação, SSZ98 ou LEF99 podem ser utilizadas como primeira opção.100 Os antimaláricos (DCQ e HCQ)101 devem ser indicados apenas para pacientes com doença leve ou artrite indiferenciada com baixo potencial erosivo. Em casos excepcionais, como pacientes com hipersensibilidade a outras DMCD ou com hepatite viral, sais de ouro podem ser utilizados. O MTX deve ser prescrito preferencialmente em monoterapia, no início do tratamento.102 Não havendo a resposta clínica objetivada (remissão ou baixa atividade da doença) com dose máxima tolerada de MTX, ou na presença de efeitos adversos, recomenda-se a troca por outra DMCD em monoterapia ou o uso de combinações de DMCD. As combinações mais utilizadas são MTX com DCQ/ HCQ, com SSZ ou a associação dessas três drogas,27 bem como MTX associado à LEF.103 A progressão da terapia deve ser rápida, com avaliações mensais do paciente nos primeiros seis meses de tratamento e ajuste de doses e esquemas, conforme necessário. Deve-se aguardar um período máximo de seis meses para definir ausência de resposta à primeira linha de tratamento instituída.20 Doses baixas de corticoides (máximo de 15 mg de prednisona ao dia ou equivalente) podem ser utilizadas no início do tratamento, bem como anti-inflamatórios, recomendando-se, no entanto, cautela e uso pelo menor tempo possível, para minorar a ocorrência de efeitos adversos.20 Rev Bras Reumatol 2012;52(2):135-174 Segunda linha – DMCD biológicas A terapia imunobiológica na AR está indicada para os pacientes que persistem com atividade da doença moderada a alta (conforme ICAD), apesar do tratamento com pelo menos dois dos esquemas propostos na primeira linha de tratamento. As drogas anti-TNF são a primeira opção no Brasil, dentre os biológicos, após falha dos esquemas com DMCD sintéticas. Isto é justificável pela experiência mais abrangente pós-comercialização, bem como pelo maior volume de informações de segurança oriundas de estudos clínicos, registros e recomendações nacionais104 e internacionais.20 Entretanto, outras drogas, como o ABAT e o TOCI, podem ser prescritas a critério do médico-assistente após falha da DMCD sintética, tendo em vista a publicação de ensaios clínicos randomizados que embasam essa indicação.78,89 A prescrição de RTX deve ser evitada como biológico de primeira escolha,20 a não ser em casos específicos (pacientes com contraindicação a outros biológicos, preferencialmente que sejam positivos para FR e/ou anti-CCP, ou aqueles que apresentam diagnóstico associado de linfoma, por exemplo). Em situações excepcionais, a DMCD biológica pode ser indicada após falha do primeiro esquema de DMCD sintética naqueles pacientes com vários fatores de mau prognóstico, incluindo doença com atividade muito intensa, elevado número de articulações dolorosas/inflamadas, FR e/ou anti-CCP em altos títulos e ocorrência precoce de erosões radiográficas.20 Os fatores de pior prognóstico foram mais bem detalhados no consenso 2011 da Sociedade Brasileira de Reumatologia para diagnóstico e avaliação inicial da AR.5 O uso de DMCD biológicas como primeira linha para o tratamento da AR não está indicado no Brasil, pois não há evidências de custo-efetividade dessa indicação em nosso país. Terceira linha – falha/intolerância à DMCD biológica Em cenários clínicos que cursam com ausência de resposta ao tratamento biológico inicial, evolução para perda da resposta obtida ou presença de eventos adversos importantes, pode ser feita a troca de um agente biológico por outro. Os biológicos que apresentaram benefícios em ensaios clínicos randomizados com pacientes que falharam ao anti-TNF são ABAT, RTX e TOCI.105 Pacientes que apresentaram falha ao primeiro agente anti-TNF também demonstraram benefício com o uso de uma segunda droga da mesma classe, incluindo ADA, CERT, ETN, IFX ou GOL em estudos observacionais prospectivos e também randomizado controlado duplo-cego (GOL), mas persistem incertezas sobre a magnitude de seus efeitos terapêuticos e a custo-efetividade dessa estratégia.106 A escolha da sequência do tratamento a ser empregado fica a critério médico, dependendo de particularidades de cada caso. 161 Mota et al. Recomenda-se um período mínimo de três meses e máximo de seis meses de avaliação clínica para realizar a troca de esquema terapêutico (mudança entre DMCD biológicas). Retirada de medicações e eventual suspensão de terapia Não há dados que permitam definir o tempo de uso de terapia para a AR. No momento, a medicação indicada e à qual o paciente apresente resposta adequada deve ser mantida por período indefinido, a critério médico. Em caso de reposta completa (remissão) e sustentada (por mais de 6–12 meses), pode-se tentar a retirada gradual e cuidadosa na seguinte sequência: primeiramente AINH, seguido por corticoides e DMCD biológicas, mantendo-se o uso de DMCD sintéticas.107 Excepcionalmente, se a remissão se mantiver, pode-se com muita cautela tentar a retirada da DMCD sintética.20 A remissão sustentada livre de drogas é pouco frequente, especialmente em pacientes com biomarcadores como anti-CCP e/ou FR. Monoterapia (preferencialmente MTX) Na doença inicial em pacientes que tenham doença ativa com até um ano de sintomas, recomenda-se o acompanhamento intensivo com visitas mensais e progressão medicamentosa rápida, quando necessário.108,109 Os esquemas terapêuticos e seus possíveis efeitos adversos foram abordados em itens anteriores. Em cada visita deve-se avaliar a eficácia e a segurança da intervenção terapêutica, considerando as comorbidades do paciente e visando preferencialmente remissão ou menor atividade da doença possível, assim como melhora funcional e da qualidade de vida. Em paciente com doença estabelecida, e especialmente naqueles com doença controlada, as visitas podem ser realizadas a cada três meses.108,109 A Tabela 2 resume, de forma esquemática, a frequência de monitoração dos principais parâmetros considerados para avaliação adequada de um paciente com AR em tratamento. Em todas as fases: •Prednisona até 15 mg/dia ou equivalente (usar pelo menor tempo possível) Falha após 3 meses Primeira linha Monitoração do tratamento •Corticoide intra-articular e/ou AINH e analgésicos Resposta parcial ao MTX Intolerância ao MTX Falha após 3 meses Combinação de DMCD sintéticas Troca entre os DMCD sintéticas Segunda linha Falha após 3 meses DMCD sintética (preferencialmente MTX) + DMCD biológica (anti-TNF como primeira opção ou ABAT ou TOCI) Terceira linha Falha após 3–6 meses Figura 1 Fluxograma para o tratamento medicamentoso da artrite reumatoide. Falha ou intolerância à DMCD biológica: Manter DMCD sintética (preferencialmente MTX) e mudar DMCD biológica para outro anti-TNF ou ABAT ou RTX ou TOCI Falha após 3–6 meses Doença ativa: Considerar os ICAD visando remissão, ou pelo menos baixa atividade de doença 162 ABAT: abatacepte; AINH: antiinflamatórios não hormonais; DMCD: droga modificadora do curso da doença; ICAD: índices compostos de atividade da doença; MTX: metotrexato; RTX: rituximabe; TOCI: tocilizumabe. Rev Bras Reumatol 2012;52(2):135-174 Consenso 2012 da Sociedade Brasileira de Reumatologia para o tratamento da artrite reumatoide Tabela 2 Monitoração do tratamento da artrite reumatoide Parâmetro Educação de paciente e familiares ICAD + HAQm ou HAQ DI (0–3 pontos) Avaliação inicial Avaliação mensal (AR inicial) Consultas extras Avaliação trimestral (AR estabelecida) Avaliação anual X X X X X X X X X X X X X (redução mínima desejada de 0,22 pontos) X X (nos dois anos iniciais podem ser repetidos, caso sejam negativos na primeira avaliação) FR/anti-CCP X Radiografia convencional (mãos e punhos, pés e tornozelos, outras articulações acometidas) X Ressonância ou ultrassonografia articular (em caso de dúvida quanto à sinovite) X *Pesquisa de manifestações extra-articulares X X X X X **Avaliação de comorbidades X X X X X Provas de atividade inflamatória (VHS e PCR) X X X X X ***Avaliação laboratorial X X X X X Avaliação vacinal X ****Tratamento medicamentoso específico para AR X X X X X Tratamento medicamentoso de comorbidades X X X X X PPD (ou IGRA) e radiografia do tórax (em caso de prescrição de DMCD biológica, em especial anti-TNF) X Terapia ocupacional X X X X X Reabilitação X X X X X Avaliação da indicação de órteses X X X X X Avaliação de indicação cirúrgica X X X X X Coordenação de equipe multidisciplinar X X X X X Aconselhamento gestacional X X X X X X Sorologias (hepatite B e C no início da investigação, HIV em situações selecionadas) X X X X X X X X X Avaliação de infecções (avaliação clínica e eventualmente exames complementares) *****Avaliação e orientação quanto a situações de urgências X X ICAD: índices compostos de atividade da doença (SDAI – índice simplificado de atividade de doença; CDAI – índice clínico de atividade de doença; DAS28 – índice de atividade de doença – 28 articulações); +: para metas dos ICAD, vide publicação do Consenso 2011 da SBR para Diagnóstico e Avaliação Inicial da AR; mHAQ: health assessment questionnaire modificado; HAQ-DI: health assessment questionnaire – índice de incapacidade; VHS: velocidade de hemossedimentação; PCR: proteína C-reativa; PPD: teste tuberculínico; IGRA: ensaios de liberação do interferon gama. *Manifestações extra-articulares: nódulos reumatoides, doença pulmonar intersticial, serosites, inflamação ocular e vasculites. **Comorbidades: hipertensão arterial, isquemia cardiovascular, diabetes mellitus, aterosclerose, baixa massa óssea, depressão, fibromialgia etc. ***Exames laboratoriais: hemograma, função hepática, lipidograma e função renal; dependendo das comorbidades, considerar exames adicionais. ****Medicação para AR: considerar as questões de eficácia e segurança de cada medicação detalhadas ao longo do texto. *****Urgências na AR: escleromalácea perfurante, mielopatias, mononeurite múltipla e vasculite, gravidez de pacientes em uso de medicações teratogênicas. Rev Bras Reumatol 2012;52(2):135-174 163 Mota et al. Terapia física e reabilitação Durante as fases de atividade da doença, o repouso contribui para a redução do processo inflamatório, devendo-se atentar, porém, para a possibilidade de complicações, como rigidez articular e deformidades em flexão.110 A cinesioterapia pode incluir exercícios passivos, nas fases iniciais, e exercícios ativos, isométricos e/ou isotônicos. A finalidade desses programas de exercícios é garantir manutenção, restauração ou ganho da amplitude de movimento articular, fortalecimento e alongamento muscular, capacidade aeróbica e desempenho para habilidades específicas.110 A maioria dos programas de exercícios dinâmicos segue as recomendações do American College of Sports Medicine (ACSM).111 Recomendamos que o exercício tenha duração de 20 minutos ou mais, que seja realizado no mínimo duas vezes por semana e leve a um aumento de 60% da frequência cardíaca prevista para a idade, para apresentar efeitos clínicos positivos e sem detrimento à doença, ou seja, sem piora da atividade da AR e sem causar dor. Quando se compara o exercício dinâmico ao programa de reabilitação articular convencional, observa-se melhora significativa na qualidade de vida de pacientes com AR.112–114 Atividades aeróbicas como bicicleta, caminhada, corrida, hidroginástica e natação possibilitam melhor condicionamento cardiovascular e podem auxiliar na prevenção da limitação relacionada à AR.110 Os meios físicos podem ser utilizados como adjuvantes no controle da dor, da contratura muscular e da rigidez da articulação.115–119 Terapia ocupacional A terapia ocupacional emprega diversas técnicas para proteção articular e conservação de energia. O alvo do tratamento é a redução da dor por meio do planejamento de atividades de estimulação, repouso regular, alternância nos padrões de movimento articular e uso de órteses e outros dispositivos.120 Adaptações nos ambientes doméstico e de trabalho auxiliam na preservação da independência do indivíduo com limitações pela AR.121 Órtese é qualquer dispositivo médico usado no corpo do paciente para suportar, alinhar, posicionar, imobilizar, prevenir ou corrigir deformidades, auxiliar na força muscular ou melhorar a função articular. A órtese reduz a dor e a inflamação locais pelo alívio da tensão e da carga sobre determinada articulação.121,122 O uso de órteses/talas de repouso (para punhos, por exemplo) previne a ocorrência de contraturas em flexão. As talas funcionais de punho devem ser usadas intermitentemente durante as atividades para restrição de 164 movimento, objetivando proteção articular.123 As órteses para coluna cervical têm indicação para limitação da mobilidade, especialmente a flexão, com consequente redução da dor, da tensão muscular e da parestesia em casos de subluxação atlanto-axial.120 Tratamento cirúrgico O tratamento cirúrgico bem indicado contribui para melhora da função, da mobilidade, do controle da dor e da qualidade de vida do paciente com AR. Os procedimentos cirúrgicos incluem, entre outros: sinovectomia, liberação de neuropatias compressivas (p. ex., túnel do carpo), reparo e transferência de tendões, artroplastia total e estabilização de vértebras cervicais instáveis.124,125 Sinovectomia radioisotópica A sinovectomia radioisotópica com ítrio (90Y) ou samário (153SmPHYP) pode ser indicada para pacientes que apresentem sinovite residual em poucas articulações apesar da otimização dos demais tratamentos instituídos, como uma alternativa à sinovectomia cirúrgica.126 Terapias alternativas Pacientes com doenças crônicas, como é o caso da AR, frequentemente buscam terapias alternativas, algumas vezes em detrimento do tratamento tradicional. Essas terapias incluem dietas, meditação, biofeedback, acupuntura, massagens, quiropraxia, homeopatia, entre outras. Na maioria das vezes, faltam estudos científicos sobre a segurança e a eficácia desses tratamentos.127 O paciente deve ser orientado a sempre consultar seu médico antes do início de uma dessas terapias. Cabe ao médico avaliar se o pretendido tratamento alternativo pode induzir algum dano ao paciente, e então é sua responsabilidade orientá-lo no sentido de que tais métodos não devem substituir a terapia tradicional para a AR. Manejo de comorbidades Comorbidades em pacientes com AR são frequentes, e incluem HAS, diabetes mellitus tipo 2, dislipidemia e osteoporose.128–130 Além disso, neoplasias, infecções e doenças pulmonares como bronquiectasia e pneumonite intersticial são também mais prevalentes nesses pacientes.131–134 A presença dessas comorbidades contribui para a diminuição da qualidade de vida e aumenta a mortalidade dos pacientes com AR – por isso elas devem ser diagnosticadas e tratadas na fase inicial.135 Rev Bras Reumatol 2012;52(2):135-174 Consenso 2012 da Sociedade Brasileira de Reumatologia para o tratamento da artrite reumatoide O manejo das comorbidades será revisado em recomendação específica pela SBR. Tratamento das manifestações extra-articulares da artrite reumatoide O tratamento da maioria das manifestações extra-articulares graves da AR (vasculite reumatoide, esclerite, alguns subtipos histológicos da doença intersticial pulmonar, serosite recalcitrante) inclui corticoides sistêmicos (orais ou venosos) e imunossupressores, incluindo CF, CS e AZA.136 Resultados anedotais de melhora clínica de casos de vasculite reumatoide e envolvimento pulmonar estão relatados, mas são conflitantes e carecem de estudos para confirmação. Transplante de células autólogas Até o momento, faltam dados conclusivos para referendar o papel do transplante de células-tronco hematopoiéticas como indutor de remissão prolongada na AR do adulto.137 Como a toxicidade e a mortalidade associada ao procedimento ainda são significativas, o transplante de células autólogas no Brasil fica reservado para formas graves, com múltiplas manifestações extra-articulares, refratária aos tratamentos instituídos e com risco de óbito. CONSIDERAÇÕES SOBRE FARMACOECONOMIA DO TRATAMENTO DA ARTRITE REUMATOIDE NO BRASIL A introdução de potentes DMCD biológicas ampliou as alternativas para um tratamento efetivo da AR.138 No entanto, essas drogas apresentam custos substancialmente altos em comparação às DMCD sintéticas tradicionais, competindo com os limitados recursos da saúde em outras intervenções essenciais. De maneira geral, o uso de MTX, SSZ e LFN em pacientes com AR ativa sem tratamento prévio com DMCD tem se mostrado custo-efetivo em comparação ao uso de AINH e corticoides em estudos internacionais.139,140 Por outro lado, o uso de terapia biológica em monoterapia ou em combinação com MTX nesse perfil de pacientes não é custo-efetivo em comparação ao MTX em monoterapia.139 Após falha à primeira DMCD sintética, a introdução de LEF pode ser uma estratégia custo-efetiva, à medida que posterga o uso de biológicos.141 Podemos encontrar dados semelhantes na literatura nacional. Em um estudo que utilizou modelo econômico segundo os princípios da análise de Markov, observou-se que o MTX em monoterapia foi o mais custo-efetivo em um período de 48 meses.142 Rev Bras Reumatol 2012;52(2):135-174 Na falha de tratamento com agentes anti-TNF, o RTX143 e o ABAT144 podem ser custo-efetivos. Já com relação ao uso do segundo e terceiro agentes anti-TNF, nesse contexto, não há ensaios clínicos randomizados que permitam a análise de custo-efetividade. Quanto à realidade da prática reumatológica brasileira, Ferraz et al.145 publicaram os resultados de um questionário aplicado a reumatologistas brasileiros sobre diagnóstico e tratamento da AR. Verificou-se que aproximadamente 50% dos pacientes com AR estão sendo diagnosticados adequadamente, e que apenas metade deles está em tratamento regular. A prática terapêutica realizada nos serviços públicos e privados não variou de maneira marcante. Em ambos os serviços, a associação MTX + DCQ foi a terapia combinada (dois ou mais DMCD) mais comumente utilizada, seguida de MTX + DCQ + SSZ no serviço público e de MTX + LEF no serviço privado. Após a falha dessas terapias, o agente biológico mais utilizado foi o IFX, provavelmente por ser a única opção terapêutica no Sistema Único de Saúde (SUS) durante o período de realização da pesquisa. As principais dificuldades apontadas para o tratamento dos pacientes foram o acesso ao sistema de saúde (serviço público) e o custo da medicação (sistema privado). Outros aspectos que impõem desafios ao manejo adequado dos pacientes reumatoides em nível nacional são diferenças regionais de acesso aos serviços de saúde, distribuição não homogênea de reumatologistas no território nacional e escassez de serviços especializados.146 É necessário desenvolver estudos farmacoeconômicos com base na realidade nacional capazes de gerar informações que orientem racionalmente as tomadas de decisão no tratamento dos pacientes com AR. SITUAÇÕES ESPECIAIS Artrite reumatoide e gravidez A AR não altera por si só a fertilidade, embora alguns medicamentos possam reduzir a taxa de ovulação. Também não há aumento na ocorrência de complicações fetais ou maternas pela doença, excetuando-se as formas graves que cursam com vasculite sistêmica.147 Durante o período gestacional, observa-se geralmente melhora das manifestações clínicas da AR em até 75% das pacientes, embora 90% apresentem recaída nos primeiros seis meses do puerpério.147 A maioria das drogas utilizadas no tratamento da AR é contraindicada durante a gestação e a lactação, com exceção da HCQ e da SSZ, que parecem ser relativamente 165 Mota et al. seguras. 148–150 Pacientes em uso de MTX, LEF, agentes imunossupressores e DMCD biológicas devem sempre ser orientadas a utilizar métodos contraceptivos seguros, a fim de evitar a gestação.150,151 Artrite reumatoide e vacinação Reconhecidamente, o risco global de infecção está aumentado na AR, particularmente para os pacientes em uso de agentes imunobiológicos. Dessa forma, a necessidade de vacinação para tais pacientes deve ser considerada.152–154 Antes de iniciar DMCD sintéticas ou biológicas, deve-se pedir e atualizar o cartão vacinal do paciente. Vacinas que não contenham organismos vivos, como é o caso daquelas contra influenza (IM), pneumocócica (7V e 23V), tétano, difteria, coqueluche, hemófilos tipo B, hepatite viral A e B, poliomielite (inativada – VIP), meningocócica, HPV, febre tifoide (IM) e raiva, podem ser realizadas com segurança e devem ser administradas preferencialmente 14 dias antes do início da medicação. De maneira mais sistematizada, a maioria dos protocolos recomenda ao menos a vacina antiinfluenza (sazonal, anualmente, entre abril e setembro) e a antipneumocócica (inicialmente, e reforço após cinco anos) antes do início da terapia com DMCD biológicas.154 Vacinas com organismos vivos são contraindicadas durante a imunossupressão e pelo menos três meses após o uso de tais drogas. Esse grupo de vacinas inclui tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), BCG, vacinas contra influenza (nasal), varicela zoster, febre tifoide, poliomielite (oral – VOP), varíola e febre amarela.154 Devemos, no entanto, levar em consideração algumas situações específicas, como é o caso da indicação da vacina contra febre amarela para a população residente em área endêmica para a doença.155,156 É importante observar que as vacinas, quando indicadas, devem ser administradas preferencialmente antes do tratamento com os imunossupressores ou DMCD biológicas, pois a resposta à vacina pode ser diminuída.153 O manejo da vacinação em pacientes com AR será revisado em recomendação específica pela SBR. Endemias brasileiras As doenças transmissíveis endêmico-epidêmicas, como tuberculose (TB), hanseníase, malária, doença de Chagas, esquistossomose, febre amarela, dengue, filarioses, helmintíases e hepatite B e C, ainda são relevante problema de saúde pública no Brasil.157 Embora haja poucos estudos sobre a relação entre as endemias infecto-contagiosas e a AR, é importante considerar que 166 essas condições podem afetar tanto o diagnóstico (algumas vezes mimetizando,5 outras vezes superpondo-se aos sintomas articulares e sistêmicos da AR, além da possível ocorrência de marcadores sorológicos como o anti-CCP e o FR em doenças infecciosas158) quanto o manejo da doença. De especial interesse, o uso de terapias imunossupressoras, destacando aqui as DMCD biológicas, deve ser cuidadosamente avaliado nessas situações específicas.159 Em virtude da alta prevalência de TB em nosso meio e dos relatos de reativação da doença em vigência de tratamento imunossupressor, 104,160–164 as DMCD biológicas devem ser empregadas com extrema cautela em pacientes com suscetibilidade ou história prévia de TB, recomendando-se a realização de radiografia de tórax e do teste da tuberculina (PPD) antes do início da terapêutica em todos os pacientes. 165 O risco é maior para pacientes que farão uso de anti-TNF, em especial anticorpos monoclonais. 166 No Brasil não há estudos controlados que demonstrem a relação custo-efetividade do teste tuberculínico em duas etapas para pesquisa de fenômeno “booster” na população de pacientes com AR que serão submetidos à terapia biológica. O PPD pode ser negativo em pacientes com AR em função do distúrbio imunológico subjacente ou da terapia em uso. 167 Embora os testes de liberação de gamainterferon (IGRA, do inglês, interferon gamma release assays) in vitro, como Quantiferon® ou Elispot®, sejam promissores, 168–170 já que são mais específicos, seu papel na investigação da TB latente em nosso meio não está bem definido. 168–171 A realização de TC de tórax de alta resolução para investigação de TB latente deve ser avaliada caso a caso. O tratamento com isoniazida na dose de 5–10 mg/kg/dia, até a dose máxima de 300 mg/dia, por período de seis meses, deve ser realizado nos pacientes com PPD ≥ 5 mm (ou IGRA positivo) ou naqueles com alterações radiológicas compatíveis com TB prévia, ou ainda em pacientes que tiveram contato íntimo com indivíduos com TB ativa.165,172–174 O tratamento da forma latente deve ser iniciado pelo menos um mês antes do início da DMCD biológica. Excepcionalmente, porém, o início pode ser concomitante, quando a atividade da doença inflamatória exigir urgência na introdução de terapia biológica. Embora os estudos até o momento não tenham mostrado aumento da ocorrência de casos de TB com o uso de DMCD biológicas não anti-TNF, recomenda-se a realização de triagem para infecção latente. Sugere-se a pesquisa de hepatite viral B e C, além de HIV, antes do uso de DMCD biológica. Na presença de uma dessas infecções virais, o uso de DMCD biológica deve ser evitado. Rev Bras Reumatol 2012;52(2):135-174 Consenso 2012 da Sociedade Brasileira de Reumatologia para o tratamento da artrite reumatoide Em casos excepcionais de infecção pelo vírus C da hepatite, a DMCD biológica pode ser utilizada em associação com o tratamento antiviral.175,176 Pesquisas de infecções específicas, como a doença de Chagas, devem ser realizadas nas regiões endêmicas. Recomenda-se, ainda, a rotina de avaliação e de cuidados odontológicos antes e durante o tratamento, para profilaxia e tratamento de infecções periodontais.177 RECOMENDAÇÕES DA SBR PARA O TRATAMENTO DA ARTRITE REUMATOIDE Com base nas considerações feitas e em aspectos peculiares da realidade socioeconômica brasileira, os especialistas membros da Comissão de Artrite Reumatoide da Sociedade Brasileira de Reumatologia fazem as recomendações resumidas na Tabela 3 para o tratamento de pacientes com diagnóstico de AR. Tabela 3 Recomendações da Sociedade Brasileira de Reumatologia para o tratamento da artrite reumatoide Recomendação 1: Antes de administrar qualquer forma de tratamento, o paciente deve ser esclarecido sobre sua enfermidade e, particularmente, quanto às possibilidades evolutivas e de prognóstico. A decisão do tratamento deve ser compartilhada com o paciente. Recomendação 2: Imediatamente após o diagnóstico deve-se prescrever uma DMCD e ajustar o tratamento, com o objetivo de atingir remissão ou baixa atividade da doença (de acordo com o ICAD) em avaliações clínicas frequentes, em um período de 30–90 dias. Recomendação 3: O tratamento da AR deverá ser conduzido por um reumatologista, que é o especialista com maior conhecimento sobre as opções terapêuticas disponíveis, suas indicações e efeitos adversos. Recomendação 4: O tratamento de primeira linha inclui DMCD sintéticas como MTX, LEF e SSZ. Os antimaláricos HCQ e DCQ são menos eficazes e devem ser reservados para formas leves e de baixo potencial erosivo. CS ou ouro parenteral podem ser utilizados em condições excepcionais. Recomendação 5: O MTX é a droga de escolha para o tratamento da AR, mas se houver contraindicações e/ou a critério médico, outras DMCD sintéticas podem ser utilizadas como primeira escolha. Combinações de DMCD sintéticas podem ser prescritas, mesmo como primeira opção, em AR estabelecida com fatores preditores de mau prognóstico. Recomendação 6: Pacientes que não alcançaram resposta, caracterizada por remissão clínica ou pelo menos baixa atividade da doença (conforme avaliação por um dos ICAD) após a utilização de ao menos dois esquemas de DMCD sintéticas, incluindo pelo menos uma combinação de DMCD sintéticas, devem ser avaliados quanto ao uso de DMCD biológicas. Recomendação 7: Excepcionalmente, em pacientes com combinação de características de pior prognóstico e doença rapidamente progressiva, DMCD biológicas poderão ser consideradas após um único esquema de DMCD sintéticas. Recomendação 8: Recomenda-se preferencialmente o uso de agentes anti-TNF (ADA, CERT, ETN, IFX ou GOL) como terapia biológica inicial. No entanto, se houver contraindicações ou em situações clínicas individualizadas, a terapia biológica pode ser iniciada com outras DMCD biológicas, como drogas depletoras de células B (RTX), moduladores da coestimulação da célula T (ABAT) e anticorpos contra o receptor da IL-6 (TOCI). Recomendação 9: Após falha terapêutica a uma primeira DMCD biológica (anti-TNF ou não), outras DMCD biológicas (anti-TNF ou não) poderão ser utilizadas. A escolha de qual DMCD biológica será utilizada em pacientes que já falharam a DMCD biológicas ocorrerá a critério médico. Recomendação 10: CF e AZA podem ser utilizadas em pacientes com manifestações extra-articulares graves como vasculite e/ou envolvimento pulmonar. Recomendação 11: O uso de corticoide intra-articular é válido em qualquer momento do tratamento. O uso de corticoide oral tem efeito DMCD e melhora a resposta clínica na fase inicial, mas recomenda-se sua utilização em baixas doses (< 15 mg de prednisona ao dia, ou equivalente) e pelo menor período de tempo necessário. Recomendação 12: Os AINH são úteis para diminuir o processo inflamatório e a dor, principalmente no início da doença, mas devem sempre ser prescritos em associação à DMCD. Recomendação 13: No início do tratamento da AR, recomenda-se que o paciente seja avaliado mensalmente. Avaliações mais espaçadas, com intervalos de até três meses, podem ser feitas naqueles que estejam com a doença sob controle. Recomendação 14: Terapia física, reabilitação e terapia ocupacional são indicadas desde a avaliação inicial do paciente. Recomendação 15: O tratamento cirúrgico, quando bem indicado e no momento correto, contribui para melhora da função, da mobilidade, do controle da dor e da qualidade de vida do paciente com AR. Recomendação 16: Recomenda-se orientar o paciente a sempre consultar o médico antes do início de uma terapia alternativa (acupuntura, dietoterapia, homeopatia, fitoterapia etc.). Ao médico, cabe avaliar se o pretendido tratamento alternativo pode induzir algum dano ao paciente e orientá-lo no sentido de que tais métodos não devem substituir a terapia tradicional para a AR. Recomendação 17: Recomenda-se a orientação das pacientes quanto ao planejamento familiar, ao momento adequado da gestação (em função da atividade da doença e do uso de medicações) e à prescrição de métodos anticonceptivos eficazes para mulheres em uso de drogas teratogênicas, como MTX e LEF. Recomendação 18: Orienta-se a busca ativa e o manejo adequado de comorbidades (HAS, diabetes mellitus, dislipidemia etc.), uma vez que sua presença contribui para menor qualidade de vida e aumenta a mortalidade dos pacientes com AR. Recomendação 19: Antes de iniciar DMCD sintéticas ou biológicas, deve-se atualizar o cartão vacinal do paciente. As vacinas indicadas devem ser administradas preferencialmente antes do tratamento com os imunossupressores ou com os agentes biológicos, pois a resposta à vacina pode ser diminuída. Recomendação 20: Doenças transmissíveis endêmico-epidêmicas no Brasil, como tuberculose, hanseníase, malária, doença de Chagas, esquistossomose, febre amarela, dengue, filarioses e helmintíases, devem ser avaliadas e tratadas adequadamente em pacientes com AR. ABAT: abatacepte; ADA: adalimumabe; AINH: anti-inflamatórios não hormonais; AR: artrite reumatoide; AZA: azatioprina; CERT: certolizumabe; CF: ciclofosfamida; CS: ciclosporina; DCQ: difosfato de cloroquina; DMCD: droga modificadora do curso da doença; ETN: etanercepte; GOL: golimumabe; HAS: hipertensão arterial sistêmica; HCQ: sulfato de hidroxicloroquina; ICAD: índice composto de atividade da doença; IFX: infliximabe; LEF: leflunomida; MTX: metotrexato; RTX: rituximabe; SSZ: sulfassalazina; TOCI: tocilizumabe. Rev Bras Reumatol 2012;52(2):135-174 167 Mota et al. CONCLUSÕES Este consenso tem o objetivo de listar as recomendações para o tratamento da AR no Brasil, considerando as características peculiares de nosso país, como a disponibilidade de drogas, o nível socioeconômico da população, os aspectos farmacoeconômicos e a ocorrência de diversas endemias. Embora recentes diretrizes norte-americanas e europeias para o tratamento da AR tenham sido publicadas, é importante rever o assunto, considerando aspectos específicos da realidade brasileira. Dessa forma, o propósito final de estabelecer diretrizes consensuais para o tratamento da AR no Brasil é definir o tratamento e embasar os reumatologistas brasileiros, considerando-se as evidências obtidas em estudos científicos e a experiência de uma comissão de especialistas no assunto, a fim de homogeneizar a abordagem terapêutica da AR no contexto socioeconômico brasileiro, mantendo a autonomia do médico na indicação/escolha das alternativas terapêuticas disponíveis. Como há rápida evolução do conhecimento nesse campo da ciência, sugerimos a atualização destas recomendações a cada dois anos. REFERENCES REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Alamanos Y, Voulgari PV, Drosos AA. 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Elaborou textos científicos em periódicos patrocinados pela IF (Abbot e Pfizer). 2. Participou de estudos clínicos e/ou experimentais patrocinados pela IF (Roche) relacionados ao consenso em questão; recebeu auxílio pessoal ou institucional da IF (Abbott, BMS, Mantecorp, MSD, Novartis, Roche, Wyeth e Pfizer); ministrou palestra em eventos ou atividades patrocinadas pela IF (Abbott, MSD, Novartis, Roche, Wyeth) relacionados ao consenso em questão. 3. Participou de estudos clínicos e/ou experimentais patrocinados pela IF (BMS, Pfizer, Roche e Wyeth) relacionados ao consenso em questão; recebeu auxílio pessoal ou institucional da IF (Abbott, BMS, Mantecorp, MSD, Roche e Wyeth); ministrou palestra em eventos ou atividades patrocinadas pela IF (Abbott e Roche) relacionados ao consenso em questão. 4. Recebeu auxílio pessoal ou institucional da IF (Abbott, MSD, Janssen, Roche, BMS e Pfizer); ministrou palestra em eventos ou atividades patrocinadas pela IF (Abbott, MSD, Janssen, Roche, BMS e Pfizer) relacionados ao consenso em questão. Foi/é membro do Conselho Consultivo ou Diretivo da IF ou de comitês normativos de estudos científicos patrocinados pela IF (Pfizer, Abbott, MSD e BMS). 5. Participou de estudos clínicos e/ou experimentais patrocinados pela IF (BMS, Pfizer e Roche) relacionados ao consenso em questão; recebeu auxílio pessoal ou institucional da IF (Abbott); elaborou textos científicos em periódicos patrocinados pela IF (Wyeth). 6. Ministrou palestra em eventos ou atividades patrocinadas pela IF (Abbott, Sanofi-Aventis e Pfizer) relacionados ao consenso em questão. 7. Recebeu auxílio pessoal ou institucional da IF (Abbott, MSD, Wyeth, Pfizer e Roche); ministrou palestra em eventos ou atividades patrocinadas pela IF (Abbott, MSD, Wyeth, Pfizer e Roche) relacionados ao consenso em questão. Foi/é membro do Conselho Consultivo ou Diretivo da IF ou de comitês normativos de estudos científicos patrocinados pela IF (Wyeth, MSD e AstraZeneca). Elaborou textos científicos em periódicos patrocinados pela IF (Abbott, Wyeth, BMS e AstraZeneca). 8. Participou de estudos clínicos e/ou experimentais patrocinados pela IF (BMS e Roche) relacionados ao consenso em questão; recebeu auxílio pessoal ou institucional da IF (Roche, MSD, Wyeth/Pfizer e Abbott); ministrou palestra em eventos ou atividades patrocinadas pela IF (Roche, MSD, Janssen e Mantecorp) relacionados ao consenso em questão. 9. O autor declara a inexistência de conflito de interesse. 10. Ministrou palestra em eventos ou atividades patrocinadas pela IF (Roche e BMS) relacionados ao consenso em questão. Foi/é membro do Conselho Consultivo ou Diretivo da IF ou de comitês normativos de estudos científicos patrocinados pela IF (AstraZeneca). 11. Participou de estudos clínicos e/ou experimentais patrocinados pela IF (Roche e Mantecorp) relacionados ao consenso em questão; recebeu auxílio pessoal ou institucional da IF (Lilly, Pfizer e Actelion); ministrou palestra em eventos ou atividades patrocinadas pela IF (Lilly, Pfizer e Actelion) relacionados ao consenso em questão. Foi/é membro do Conselho Consultivo ou Diretivo da IF ou de comitês normativos de estudos científicos patrocinados pela IF (MSD). 12. Recebeu auxílio pessoal ou institucional da IF (Roche e Janssen-Cillag). 168 Rev Bras Reumatol 2012;52(2):135-174 Consenso 2012 da Sociedade Brasileira de Reumatologia para o tratamento da artrite reumatoide 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. Klarenbeek NB, Kerstens PJ, Huizinga TW, Dijkmans BA, Allaart CF. Recent advances in the management of rheumatoid arthritis. 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O desempenho dos participantes da amostra nos testes neuropsicológicos de memória, linguagem, funções executivas e inventário neuropsiquiátrico foi analisado considerando-se os grupos conforme tipo de doença crônica, escolaridade e idade. Também foi realizada a comparação entre os pontos de corte de normalidade cognitiva em amostras populacionais com os desempenhos desses participantes. Resultados: Os dados revelaram presença de distúrbios cognitivos associados às três patologias, porém com diferenças significativas entre os grupos. Conclusão: As variáveis estudadas (baixa escolaridade e idade elevada) revelaram-se associadas a diversos graus de declínio em diferentes funções cognitivas com os três grupos patológicos. Entretanto, os grupos FM e LES apresentaram médias de sintomas neuropsiquiátricos de ansiedade, irritabilidade e alucinações significativamente maiores que o grupo AR no inventário neuropsiquiátrico. Palavras-chave: cognição, doença crônica, fibromialgia, artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico. © 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. DOENÇAS DE DOR CRÔNICA E SEUS ASPECTOS COGNITIVOS Fibromialgia A fibromialgia (FM) é considerada uma síndrome musculoesquelética de dor crônica e difusa, devido a seu grande número de sintomas. É diagnosticada na presença de dor generalizada durante três meses, em combinação com sensibilidade em 11 ou mais dos 18 pontos sensíveis à palpação das diversas partes do corpo, conforme o American College of Rheumatology.1 A dor na FM é diferente de qualquer outra impressão sensorial, já que caracteriza-se não somente pela dimensão sensório-discriminativa, mas também pelo importante componente afetivo-emocional, constituído pela dimensão afetivo-motivacional da dor.2 Na FM, a atividade do sistema nervoso central é modulada por variáveis psicológicas, que contribuem para o estabelecimento de uma conduta anormal perante a dor, como distorções cognitivas, excessiva atenção a estímulos nocivos, atitudes inadequadas para enfrentamento da dor e labilidade emocional na recordação de experiências dolorosas.2 O sistema nervoso autônomo simpático apresenta-se hiperativo durante todo o tempo, especialmente durante o sono, fase em que muitos neurotransmissores, hormônios e anticorpos são sintetizados ou regulados, como acontece com a serotonina, Recebido em 30/09/2010. Aprovado, após revisão, em 14/12/2011. Os autores declaram a inexistência de conflito de interesse. Suporte Financeiro: CAPES. Comitê de Ética: FS-UnB 020/10. Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília – UnB. 1. Mestre em Ciências do Comportamento, Universidade de Brasília – UnB 2. Pós-doutorado em Neuropsicologia, Centro de Ciências, Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN; Doutor em Ciências, Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, Professor Adjunto, Instituto de Psicologia – UnB Correspondência para: Lucylle Fróis de Melo. Campus Universitário Darcy Ribeiro, Instituto Central de Ciências Sul, prédio Minhocão. CEP: 70910-900. Brasília, DF, Brasil. E-mail: [email protected]; [email protected] Rev Bras Reumatol 2012;52(2):175-188 181 Melo et al. a substância P, o hormônio de crescimento, o cortisol e outros. Assim, alguns distúrbios metabólicos têm origem nas transições dos estágios do sono não REM, principalmente no estágio 4, que é o último estágio antes do sono REM, fase com grande atividade cerebral,caracterizada pela ocorrência de sonhos e pela consolidação da memória. Pacientes com FM não apresentam danos nos tecidos afetados pela dor, mas sofrem alterações metabólicas, como altas concentrações de substância P no líquido cefalorraquidiano, assim como concentrações reduzidas de neurotransmissores inibidores da dor, provocando alta sensibilidade.3 A cronicidade da doença afeta a qualidade de vida dos pacientes, bem como suas relações sociais, hábitos e rotinas, provocando aumento das anormalidades psicológicas comuns à doença, especialmente em estados de depressão e alterações psiquiátricas.4 Artrite reumatoide A artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória sistêmica crônica, autoimune, que afeta as articulações e associa-se com manifestações sistêmicas como rigidez matinal, fadiga e perda de peso. O envolvimento com outros órgãos reduz a expectativa de vida em cinco a 10 anos. A progressão da doença torna os pacientes incapazes de realizar atividades da vida diária.5,6 Pacientes com AR podem apresentar alterações cognitivas decorrentes da própria doença ou da condição de dor crônica. A depressão é fator constantemente presente nesse processo, comprometendo a qualidade de vida do paciente. Nos estágios iniciais da doença também ocorrem sintomas de ansiedade.7 Entretanto, a personalidade prévia e o estresse social são os dois aspectos mais importantes em relação ao surgimento de alterações psicológicas na AR.8 As alterações psicológicas também se desenvolvem quando correlacionadas ao comprometimento físico. No entanto, o tratamento com fármacos não surte efeito sobre os quadros psiquiátricos, quando então são necessários outros recursos.8 Lúpus eritematoso sistêmico O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença crônica de causa desconhecida. Ela envolve processos autoimunes e inflamatórios de forma multissistêmica, que atingem frequentemente o sistema nervoso central, periférico e autônomo, podendo gerar comprometimentos neurológicos, síndromes neuropsiquiátricas e psicofuncionais, como convulsões, cefaleia, síndrome orgânica cerebral e psicose. O comprometimento 182 neurológico pode ocorrer simultaneamente a outros sintomas ou após o início da doença.9–11 O LES pode ser decorrente de dano imunológico ou de diversas manifestações sistêmicas. Nesse sentido, a literatura vem divulgando consensos entre a comunidade científica quanto à etiologia multifatorial da doença, sugerindo como causa fatores hormonais, genéticos, infecciosos, ambientais e psicológicos.9–12 Porém, muitos pesquisadores associam o agravamento do LES primeiramente a fatores psicológicos.11–13 O diagnóstico de LES deve ser realizado tendo como base ao menos quatro de 11 critérios: eritema malar, lesão discoide, fotossensibilidade, úlceras orais e nasais, artrite, serosite, comprometimento renal, alterações neurológicas, alterações hematológicas, alterações imunológicas e anticorpos nucleares.14 Pesquisadores observaram incidência de 75% de alterações cognitivas, ansiedade e depressão no LES.9 Para esses pesquisadores, as alterações cognitivas não se revelaram diferentes entre os pacientes ao se comparar variáveis relacionadas a gênero, raça, tempo de doença, atividade da doença ou quaisquer manifestações clínicas. Também não foi identificada relação de distúrbios cognitivos com medicamentos utilizados pelos pacientes. O objetivo do presente estudo foi investigar a existência de distúrbios cognitivos associados à presença de FM, LES e AR, por meio da aplicação de testes neuropsicológicos, tendo como parâmetro de normalidade os pontos de corte de consenso clínico. Os desempenhos cognitivos foram analisados considerando-se a influência das variáveis idade, escolaridade e sintomas psiquiátricos. MATERIAIS E MÉTODOS Esta pesquisa constituiu-se como um estudo-piloto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília sob o nº 20/2010. A coleta de dados foi realizada no Hospital Universitário de Brasília, da Universidade de Brasília (HUB/UnB), com os pacientes encaminhados pelo Ambulatório de Reumatologia que se submeteram voluntariamente ao estudo, após esclarecimentos sobre o teor da pesquisa e depois de assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Participaram da pesquisa 37 pacientes divididos em três grupos, compostos por 13 pacientes com FM, outros 13 com AR e 11 pacientes portadores de LES, com idades Rev Bras Reumatol 2012;52(2):175-188 Análise neuropsicológica de distúrbios cognitivos em pacientes com fibromialgia, artrite reumatoide e lúpus eritematoso sistêmico entre 30 e 80 anos. Apenas um paciente era do gênero masculino. A escolaridade variou entre um e 12 anos de estudo. Foram utilizados como instrumentos de avaliação neuropsicológica o Miniexame do Estado Mental (MEEM), 15 os subtestes Dígito ordem Direta (DD) e ordem Inversa (DI) e Memória Lógica I (ML-I) e II (ML-II) da Escala de Memória Wechsler (EMW), 16 o subteste Semelhanças (SEM) da Escala de Inteligência Adulta Wechsler (EIAWIII),17 os testes de Fluência de Linguagem Verbal Fonêmica (FLV-Fo) e Semântica – categorias animais (FLV-SeAn) e frutas (FLV-SeFr) 18 –, o Teste do Desenho do Relógio (TDR), 19 o Teste dos 5 Pontos (T5P) 20 e o inventário neuropsiquiátrico (IN). 21 A possibilidade de associação entre doenças de dor crônica (FM, AR e LES) e distúrbios cognitivos foi verificada pela correlação entre o desempenho dos pacientes nos testes neuropsicológicos aplicados e os pontos de corte considerados normais nesses testes, divulgados na literatura. Também analisou-se a associação dos distúrbios cognitivos com as variáveis idade, escolaridade, sintomas psiquiátricos e tempo de doença. Análise estatística A análise dos dados foi realizada por meio de estatística robusta, que é o conjunto de técnicas empregadas para atenuar o efeito dos pontos fora da curva e que preserva a forma de distribuição mais aderente aos dados empíricos. Wilcox22 afirma que as médias dos dados podem ser distorcidas pelos valores fora da curva, não refletindo a acurácia do valor central dos dados. Assim, o autor recomenda o uso da mediana, que é uma forma extrema da média aparada, na qual descarta-se qualquer valor acima ou abaixo do ponto fixo em 20% e obtém-se o valor central dos dados originais com maior acurácia. Seguindo essa linha, utilizamos a técnica de Keselman,23 na qual primeiro os escores dos dados são colocados em ordem crescente, e 20% dos dados menores e maiores são removidos. Em seguida, os escores restantes são remanejados de forma a substituir aqueles anteriormente descartados. É o que se chama de escores aparados. A análise de variância dos escores aparados foi calculada utilizando os seguintes testes: a) teste de Kruskal-Wallis, método não paramétrico empregado para testar a igualdade de medianas da população com mais de dois grupos, tendo por objetivo obter uma análise sobre a existência de diferenças entre as medianas das amostras dos três grupos de enfermidades (FM, LES, AR) em relação aos desempenhos cognitivos, Rev Bras Reumatol 2012;52(2):175-188 além de analisar a influência da idade e da escolaridade quanto à presença de sintomas psiquiátricos; b) teste de Mann-Whitney, utilizado para avaliar se duas amostras independentes provêm da mesma distribuição – nesse sentido, avaliamos todos os pacientes, organizados em amostras de dois grupos, de acordo com as seguintes variáveis: idade (adultos jovens, até 49 anos, e adultos idosos, até 80 anos), escolaridade (baixa escolaridade, com até cinco anos de estudo, e média-alta escolaridade, com pelo menos seis anos de estudo) e tempo de doença (descoberta recente, enfermidade com até três anos; e descoberta tardia, enfermidade com mais de quatro anos). RESULTADOS A análise não paramétrica de Kruskal-Wallis revelou que há diferenças significativas entre os grupos de doenças crônicas. A mesma apontou que o grupo de pacientes com FM apresentou, em relação aos demais grupos, reduzido desempenho nos subtestes ML-I da EMW [(K = 7,73) *P < 0,05], SEM da EIAW-III [(K = 22,94) *P < 0,05], FLV-SeAn [(K = 5,98) *P < 0,05] e DI da EMW [(K = 11,02) *P < 0,05] e aumento na taxa de erros de perseverações no T5P [K = 9,41 *P < 0,05]. O grupo de pacientes com AR apresentou reduzido desempenho em relação aos outros grupos nos seguintes subtestes: TDR [(K = 16,43) *P < 0,05], FLV-Fo [(K = 7,12) *P < 0,05] e T5P [(K = 9,16) *P < 0,05]. Os grupos FM e AR apresentaram desempenho abaixo do ponto de corte esperado nos subtestes ML-I da EMW, FLV-Fo, FLV-SeAn, FLV-SeFr e T5P, conforme a Tabela 1. Por outro lado, o grupo LES apresentou os melhores desempenhos nos subtestes ML-I e DI da EMW, SEM da EIAW-III, TDR, FLV-Fo, FLV-SeAn, FLV-SeFr e T5P. Entretanto, em relação aos pontos de corte que representam normalidade de desempenho cognitivo, o grupo LES esteve abaixo da faixa esperada nos subtestes FLV-Fo, FLV-SeAn, FLV-SeFr. Além disso, os grupos LES e FM apresentaram índices de frequência de sintomas significativamente superiores ao grupo AR em relação à alucinação [(K = 8,14) *P < 0,01] e à irritabilidade [(K = 7,36) *P < 0,02], assim como em relação aos níveis de intensidade de sintomas, no qual a ansiedade [(K = 6,04) *P < 0,05] apresentou-se significativamente elevada em ambos os grupos, conforme Tabela 1. Os demais sintomas psiquiátricos (desilusão, agitação, disforia, euforia, apatia, desinibição e atividade motora aberrante) não se apresentaram diferentes entre os grupos patológicos em relação à intensidade ou à frequência. 183 Melo et al. Tabela 1 Desempenho neuropsicológico dos grupos de doenças crônicas reumatológicas em relação ao tipo de enfermidade e diferenças significativas entre os grupos conforme análise não paramétrica de Kruskal-Wallis Testes (pontos de corte)Ref. AR (n = 13) FM (n = 13) LES (n = 11) Estatística e valor P 1 MEEM (< 24) 23,07 (1,70) 23,07 (1,84) 23,45 (1,77) (K = 4,05) P = 0,13 ML-I (< 7,5)2 6,80 (0,72) 6,11 (1,24) 7,77 (1,21) (K = 7,73) *P < 0,05 ML-II (4,5)2 4,61 (0,84) 4,42 (1,09) 7,59 (3,35) (K = 5,34) P = 0,94 SEM (< 10)3 11,15 (1,72) 10,61 (3,04) 18,18 (1,47) (K = 22,94) *P < 0,05 7,61 (1,89) 7,84 (1,51) 9,63 (0,50) (K = 16,43) *P < 0,05 19,38 (6,87) 22,15 (4,41) 26,45 (6,81) (K = 7,12) *P < 0,05 FLV-SeAn (≤ 15) 11,07 (2,39) 10,61 (2,18) 12,90 (1,81) (K = 5,98) *P < 0,05 5 11,61 (2,18) 11,53 (0,51) 12,72 (2,37) (K = 2,00) P = 0,36 12,76 (3,60) 13,76 (3,56) 18,00 (2,79) (K = 9,16) *P < 0,05 T5P-perseveração 3,38 (3,47) 6,46 (4,19) 1,54 (1,43) (K = 9,41) *P < 0,05 7 DD (< 6) 9,76 (1,92) 10,15 (1,34) 8,90 (0,94) (K = 4,09) P = 0,12 DI (< 4)7 11,15 (1,72) 10,61 (3,04) 18,18 (1,47) (K = 11,02) *P < 0,05 IN alucinações 0,30 (0,75) 1,84 (1,67) 2,0 (1,94) (K = 8,14) *P < 0,01 IN irritabilidade 0,53 (1,45) 1,84 (2,15) 2,81 (2,04) (K = 7,36) *P < 0,02 IN ansiedade 2,46 (1,50) 3,30 (1,10) 3,45 (1,80) (K = 6,04) *P < 0,05 TDR (< 6)4 5 FLV-Fo (< 30) 5 FLV-SeFr (≤ 15) 6 T5P (≤ 15) 6 MEEM: miniexame do estado mental; ML-I: subteste memória lógica I da escala de memória Wechsler; ML-II: subteste memória lógica II da escala de memória Wechsler; SEM: subteste semelhanças da Escala de Inteligência Adulta Wechsler; TDR: teste do desenho do relógio; FLV-Fo: teste de fluência de linguagem verbal fonêmica; FLV-SeAn: teste de fluência de linguagem verbal semântica categoria animais; FLV-SeFr: teste de fluência de linguagem verbal semântica categoria frutas; T5P: teste dos 5 pontos; DD: subteste dígito ordem direta da escala de memória Wechsler; DI: subteste dígito ordem inversa da escala de memória Wechsler; IN: inventário neuropsiquiátrico. Os dados estão organizados conforme os tipos de patologias (AR, FM e LES) com diferenças significativas apontadas pelo K no teste Kruskal-Wallis, com significância em *(P > 0,05). Referências de pontos de corte: 1) Bertolucci, Brucki, Campacci e Juliano (1994); 2) Hodges & Patterson (1995); 3) Nascimento (1998); 4) Sunderland et al. (1989); 5) Bayles, Kasniak (1987); 6) Bayles, Kasniak (1987), Andreas et al. (1992); 7) Regard, Strauss & Knapp (1982); 8) Nascimento (1998). Também foi realizada análise não paramétrica para avaliar se as enfermidades estudadas diferenciavam-se em relação à média de idade e aos anos de estudo. Assim, o teste de Kruskal-Wallis revelou que AR, FM e LES não se diferenciavam quanto aos anos de estudo. Quanto à idade, porém, o grupo LES diferenciou-se significativamente dos demais [(K = 20,28) *P < 0,05], possivelmente por ser um grupo com média de idade menor (Tabela 2). Tabela 2 Idade e anos de estudo dos grupos de doenças crônicas reumatológicas (AR, FM e LES) conforme análise não paramétrica de Kruskal-Wallis Idade Anos de estudo AR (n = 13) 55,07 (8,33) 1,84 (0,68) FM (n = 13) 53,30 (3,85) 2,07 (0,75) LES (n = 11) 37,54 (5,90) 2,27 (0,78) Estatística e valor P (K = 20,28) *P < 0,05 (K = 2,03) P = 0,36 A análise não paramétrica de Mann-Whitney revelou diferença significativa de desempenho entre os grupos divididos conforme a idade nos subtestes MEEM [(Z = -2,13) *P < 0,05], ML-I da EMW [(Z = -2,14) *P < 0,05], ML-II da EMW [(Z = -2,29) *P < 0,05], TDR [(Z = -3,24) *P < 0,05], FLV-Fo [(Z = -2,63) *P < 0,05], FLV-SeAn [(Z = -2,49) *P < 0,05] e T5P [(Z = -2,51) *P < 0,05]. Em todos eles os jovens apresentaram melhor desempenho (Tabela 3). O teste de Mann-Whitney apontou diferenças significativas entre os grupos com baixa e média-alta escolaridade nos seguintes subtestes: MEEM [(Z = -2,36) *P < 0,05]; ML-I da EMW [(Z = -1,99) *P < 0,05]; ML-II da EMW [(Z = -2,03) *P < 0,05]; SEM da EIAW-III [(Z = -2,10) *P < 0,05]; TDR [(Z = -2,13) *P < 0,05]; FLV-Fo [(Z = -2,36) *P < 0,05]; FLV-SeAn [(Z = -1,98) *P < 0,05]; FLV-SeFr [(Z = 1,99) *P < 0,05] e T5P [(Z = -2,26) *P < 0,05]. Média, desvio-padrão e diferenças entre medianas, com diferenças significativas apontadas pelo K no teste Kruskal-Wallis com significância em *(P > 0,05). 184 Rev Bras Reumatol 2012;52(2):175-188 Análise neuropsicológica de distúrbios cognitivos em pacientes com fibromialgia, artrite reumatoide e lúpus eritematoso sistêmico Tabela 3 Desempenho neuropsicológico dos pacientes de doenças crônicas reumatológicas organizados em faixas etárias e diferenças significativas conforme análise não paramétrica de Mann-Whitney Testes (pontos de corte)Ref. Adultos jovens (n = 19) Adultos idosos (n = 18) Estatística e valor P 24,11 (1,60) 22,84 (1,74) (Z = -2,13) *P < 0,05 7,33 (1,29) 6,39 (1,03) (Z = -2,14) *P < 0,05 6,52 (2,96) 4,39 (0,96) (Z = -2,29) *P < 0,05 SEM 15,55 (3,86) 10,68 (2,45) (Z = -3,65) P = 0,70 TDR (≤ 6)4 9,11 (1,07) 7,52 (1,80) (Z = -3,24) *P < 0,05 FLV-Fo (≤ 30)5 25,11 (6,64) 19,94 (5,61) (Z = -2,63) *P < 0,05 FLV-SeAn (≤ 15)6 12,44 (2,17) 10,52 (2,09) (Z = -2,49) *P < 0,05 12,55 (2,09) 11,31 (1,45) (Z = -1,68) P = 0,09 16,50 (3,41) 12,94 (3,73) (Z = -2,51) *P < 0,05 T5P-perseveração 3,38 (3,48) 4,42 (4,15) (Z = -0,66) P = 0,51 8 9,55 (1,54) 9,73 (1,55) (Z = -0,37) P = 0,07 9,33 (1,57) 10,10 (1,62) (Z = -1,54) P = 0,12 1 MEEM (< 24) 2 ML-I (< 7,5) 2 ML-II (4,5) 3 6 FLV-SeFr (< 15) 7 T5P DD (< 6) 8 DI (< 4) MEEM: miniexame do estado mental; ML-I: subteste memória lógica I da escala de memória Wechsler; ML-II: subteste memória lógica II da escala de memória Wechsler; SEM: subteste semelhanças da Escala de Inteligência Adulta Wechsler TDR: teste do desenho do relógio; FLV-Fo: teste de fluência de linguagem verbal fonêmica; FLV-SeAn: teste de fluência de linguagem verbal semântica categoria animais; FLV-SeFr: teste de fluência de linguagem verbal semântica categoria frutas; T5P: teste dos 5 pontos; DD: subteste dígito ordem direta da escala de memória Wechsler; DI: subteste dígito ordem inversa da escala de memória Wechsler. Os dados estão organizados em faixas etárias com diferenças significativas apontadas pelo Z no teste Mann-Whitney com significância em *(P > 0,05) entre os grupos de adultos jovens e adultos idosos. Referências de pontos de corte: 1) Bertolucci, Brucki, Campacci e Juliano (1994); 2) Hodges & Patterson (1995); 3) Nascimento (1998); 4) Sunderland et al. (1989); 5) Bayles, Kasniak (1987); 6) Bayles, Kasniak (1987), Andreas et al. (1992); 7) Regard, Strauss & Knapp (1982); 8) Nascimento (1998). Tabela 4 Desempenho neuropsicológico dos pacientes de doenças crônicas reumatológicas organizados em grupos de escolaridade e diferenças significativas conforme análise não paramétrica de Mann-Whitney Testes (pontos de corte)Ref. 1 MEEM (< 24) ML-I (< 7,5) 2 Baixa escolaridade (n = 22) Média-alta escolaridade (n = 15) Estatística e valor P 22,90 (1,60) 24,26 (1,75) (Z = -2,36) *P < 0,05 6,47 (0,99) 7,40 (1,40) (Z = -1,99) *P < 0,05 ML-II (4,5)2 4,50 (0,93) 6,80 (3,19) (Z = -2,03) *P < 0,05 SEM (≤ 10)3 11,86 (3,28) 14,80 (4,45) (Z = -2,10) *P < 0,05 TDR (≤ 6)4 7,86 (1,80) 8,93 (1,27) (Z = -2,13) *P < 0,05 20,40 (6,16) 25,46 (6,20) (Z = -2,36) *P < 0,05 10,81 (2,17) 12,40 (2,26) (Z = -1,98) *P < 0,05 11,36 (1,64) 12,73 (1,94) (Z = 1,99) *P < 0,05 13,36 (3,65) 16,60 (3,69) (Z = -2,26) *P < 0,05 T5P-perseveração 3,50 (3,97) 4,53 (3,64) (Z = -1,34) P = 0,17 8 9,50 (1,68) 9,86 (1,30) (Z = -1,18) P = 0,23 9,63 (1,76) 9,86 (1,45) (Z = -0,83) P = 0,40 FLV-Fo (≤ 30) 5 FLV-SeAn (≤ 15) FLV-SeFr (≤ 15) T5P (15) 6 6 7 DD (< 6) DI (< 4)8 MEEM: miniexame do estado mental; ML-I: subteste memória lógica I da escala de memória Wechsler; ML-II: subteste memória lógica II da escala de memória Wechsler; SEM: subteste semelhanças da Escala de Inteligência Adulta Wechsler TDR: teste do desenho do relógio; FLV-Fo: teste de fluência de linguagem verbal fonêmica; FLV-SeAn: teste de fluência de linguagem verbal semântica categoria animais; FLV-SeFr: teste de fluência de linguagem verbal semântica categoria frutas; T5P: teste dos 5 pontos; DD: subteste dígito ordem direta da escala de memória Wechsler; DI: subteste dígito ordem inversa da escala de memória Wechsler. Os dados estão organizados em grupos de escolaridade com diferenças significativas apontadas pelo Z no teste Mann-Whitney com significância em *(P > 0,05) entre os grupos de baixa e média-alta escolaridade. Referências de pontos de corte: 1) Bertolucci, Brucki, Campacci e Juliano (1994); 2) Hodges & Patterson (1995); 3) Nascimento (1998); 4) Sunderland et al. (1989); 5) Bayles, Kasniak (1987); 6) Bayles, Kasniak (1987), Andreas et al. (1992); 7) Regard, Strauss & Knapp (1982); 8) Nascimento (1998). Rev Bras Reumatol 2012;52(2):175-188 185 Melo et al. Todos esses resultados indicaram que nos subtestes houve desempenho significativamente reduzido no grupo de escolaridade baixa, conforme revela a Tabela 4. Por último, em se tratando do tempo de descoberta da enfermidade, o teste de Mann-Whitney não encontrou diferença significativa nos desempenhos cognitivos em testes neuropsicológicos, quando consideramos os pacientes divididos em grupos de descoberta de doenças de dor crônica recente e tardia (*P > 0,05). DISCUSSÃO Os resultados confirmam a existência de distúrbios cognitivos associados a FM, LES e AR. Foi possível observar que os pacientes com AR obtiveram desempenho reduzido nos testes que avaliam as esferas cognitivas referentes à apraxia vísuo-construtiva (TDR e FLV-Fo), ou seja, habilidade de construir um desenho a partir de uma referência visual de memória e produção de fluência de linguagem verbal fonêmica. Podemos concluir que esses pacientes apresentam alterações cognitivas apráxicas, possivelmente em função da correlação entre o desenvolvimento do comprometimento físico e motor da doença e os prejuízos cognitivos observados nessa enfermidade. Já a redução da fluência de linguagem verbal fonêmica observada nesses pacientes possivelmente está relacionada ao estresse social presente na AR.8 Os pacientes com FM, por outro lado, apresentaram prejuízos em testes que avaliam a memória operacional (ML-I, FLV-SeAn, SEM e DI), bem como erros de perseveração no T5P, que também dizem respeito à dificuldade de função executiva. A literatura já demonstrou que pacientes com FM apresentam diminuição da concentração e perda da memória,24 e que esses prejuízos cognitivos da atenção estão diretamente ligados aos déficits de memória operacional e de função executiva.25 Os pacientes com LES apresentaram os melhores desempenhos comparados aos outros dois grupos. Entretanto, o grupo LES apresentou desempenho abaixo do ponto de corte de normalidade cognitiva nos testes de fluência de linguagem verbal fonêmica e semântica (FLV-Fo, FLV-SeAn e FLV-SeFr), além de configurar significativamente como o grupo com maior taxa indicadora de alteração psiquiátrica (ansiedade, irritabilidade e alucinação). Pesquisas com pacientes com LES indicam que 75% deles apresentam quadros de deterioração cognitiva associados a estados de alterações psiquiátricas, como depressão, ansiedade e irritabilidade.9,11 Analisando ainda os tipos de doenças crônicas, verificamos que elas não se diferenciaram quanto ao nível de escolaridade. Entretanto, quanto à idade, o grupo LES diferenciou-se 186 significativamente dos demais grupos por apresentar menor média de idade. Em relação aos aspectos cognitivos, os idosos normais, comparados aos jovens, apresentam uma leve e generalizada lentidão, além de perda de precisão,26,27 o que pode ter influenciado nos resultados encontrados neste estudo, favorecendo o grupo LES em relação aos grupos AR e FM nesse aspecto. Ao analisarmos ainda as faixas etárias, sem levar em consideração os tipos de doenças crônicas, os adultos jovens apresentaram melhor desempenho em todos os testes em relação aos adultos idosos. Nesse sentido, a literatura confirma o baixo desempenho cognitivo em pessoas mais velhas desprovidas de enfermidades, sugerindo que esse declínio em idosos seja decorrente primariamente do envelhecimento, caracterizando declínio normal do funcionamento dos processos básicos de memória. Quando as atividades de vida diária do idoso decaem junto com o desempenho cognitivo, porém, é suposto tratar-se de uma entidade nosológica.26,27 Os dados relacionados à influência da escolaridade encontrados neste estudo revelaram reduzido desempenho cognitivo principalmente na esfera da memória operacional no grupo de baixa escolaridade, sugerindo que os testes de memória muitas vezes podem ser dependentes do nível educacional.25 Os desempenhos coincidentes abaixo dos pontos de corte de normalidade cognitiva nos testes de fluência de linguagem verbal fonêmica e semântica apresentados pelos grupos FM e LES possivelmente estão associados aos altos níveis de intensidade e frequência dos estados psiquiátricos de alucinação, irritabilidade e ansiedade informados no IN desses dois grupos – principalmente pelo grupo LES, que mostrou a maior taxa indicadora de presença desses estados. Esses dados vão ao encontro de estudos que apontam que pacientes com alterações psiquiátricas demonstram dificuldades fortemente relacionadas a prejuízos funcionais que incidem no desempenho acadêmico, na produtividade, no trabalho e nos relacionamentos sociais, familiares e afetivos.28 Tais dificuldades funcionais associadas à ansiedade ocorrem de forma similar em outras doenças, como na demência, por exemplo, potencializando o comprometimento de participação ou o engajamento em atividades essenciais da vida social cotidiana, levando à queda de desempenho em tarefas que envolvam atenção, psicomotricidade, memória verbal e não verbal, compreensão, funções executivas, fluência verbal e planejamento.29 Segundo pesquisas, o aumento das disfunções cognitivas no LES não apresenta relação com o tempo de instalação da doença crônica reumatológica,30 o que confirma nossos resultados relacionados com tempo da doença e sua influência nos desempenhos dos pacientes nos testes cognitivos. Rev Bras Reumatol 2012;52(2):175-188 Análise neuropsicológica de distúrbios cognitivos em pacientes com fibromialgia, artrite reumatoide e lúpus eritematoso sistêmico Em pacientes com FM, a liberação aumentada da substância P é influenciada pelos baixos níveis de serotonina e pela presença do sono não reparador ou superficial. Esses pacientes podem apresentar níveis de substância P até três vezes maiores que em indivíduos normais.31 É importante ressaltar que as vias serotoninérgicas ascendentes, coincidentemente as de níveis reduzidos em pacientes com FM, projetam-se para as áreas da rafe e daí para o tálamo e áreas inervadas pelo feixe prosencefálico medial, com destaque para o hipocampo – áreas essas de importante relevância para o armazenamento das memórias operacionais e de longo prazo.32 Vários estudos demonstram que a substância P possui efeitos diversos com relação à aprendizagem de ratos33 e peixes,34 variando de efeito facilitador, quando aplicada imediatamente ou até três dias após treino de aquisição de aprendizado, ou sem efeito sobre a consolidação da memória, quando aplicada a partir do quarto dia de treino.35 Diante dessas informações, podemos supor que os prejuízos de memória operacional e das funções executivas encontrados em pacientes com FM neste estudo estejam de alguma forma relacionados aos níveis reduzidos de serotonina nessa enfermidade. Recentemente, um consenso publicado revelou a importância de programas de reabilitação que fazem uso da terapia cognitivo-comportamental, visando à melhora das doenças de dor crônica como a FM e o LES.36 É grande a relevância de estudos neuropsicológicos sobre as doenças de dor crônica e suas disfunções cognitivas, já que o conhecimento aprofundado sobre os aspectos cognitivos de uma determinada enfermidade traz consigo pistas efetivas para a construção de programas de reabilitação.37,38 A estimulação cognitiva é algo possível em função da plasticidade cerebral, e a reabilitação com exercícios cognitivos pode modular processos plásticos no cérebro, influenciando positivamente a organização funcional de conexões neurais envolvidas na memória.37,38 Enfim, é por meio da estimulação cognitiva em programas de reabilitação que podemos amenizar os prejuízos cognitivos encontrados e, por conseguinte, promover melhor qualidade de vida ou até mesmo prevenir o agravamento dos prejuízos cognitivos e emocionais que vêm sendo identificados em pacientes com AR, FM e LES. AGRADECIMENTOS Agradecemos ao Dr. Rodrigo Aires, do Ambulatório de Reumatologia do Hospital Universitário de Brasília, pelo encaminhamento dos pacientes. Ao Prof. Ms. Danilo Assis Pereira, do Instituto Brasileiro de Neuropsicologia – IBNeuro, Rev Bras Reumatol 2012;52(2):175-188 pelas sugestões na análise estatística. E à Profª Gianna Lanz, pela revisão do texto. REFERENCES REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. Saltareli S, Pedrosa DFA, Hortense P, Sousa FAEF. Avaliação de aspectos quantitativos e qualitativos da dor na fibromialgia. Rev Bras Reumatol 2008; 48(3):151–6. Ferreira EAG, Marques AP, Matsutani LA, Vasconcellos EG, Mendonça LF. Avaliação da dor e estresse em pacientes com fibromialgia. Rev Bras Reumatol 2002; 42(2):104–10. Montoya P, Stiges C, García-Herrera M, Izquierdo R, Truyols M, Collado D. Consideraciones acerca de las alteraciones de la actividad cerebral en pacientes con fibromialgia. Reumatol Clin 2006; 2(5):251–60. 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Objetivo: Comparar o trabalho total e a potência dos extensores e flexores do joelho de indivíduos com OA (20) e ATJ (12) em duas velocidades angulares de flexo-extensão de joelho (60°/s e 240°/s). Métodos: O dinamômetro isocinético Biodex foi utilizado para avaliar a potência e o trabalho musculares em contrações isocinéticas. A ANOVA Two-Way para medidas repetidas foi utilizada para comparar os dados de trabalho total e potência entre os grupos (SPSS versão 13.0; nível de significância P < 0,05). Resultados: Não houve diferença entre os grupos OA e ATJ para o trabalho total dos extensores e flexores tanto em 60°/s quanto em 240°/s (P ≥ 0,05). Também não houve diferença para a potência entre os grupos (extensores e flexores) (P ≥ 0,05). Conclusão: O trabalho total e a potência não diferiram entre os grupos com OA e com ATJ, sugerindo que a ATJ não produziu melhora na capacidade funcional, que foi semelhante entre os dois grupos. Palavras-chave: osteoartrite de joelho, artroplastia total de joelho, dinamômetro. © 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. INTRODUÇÃO O envelhecimento populacional é uma realidade no Brasil, assim como em todo o mundo. Como consequência, um aumento das doenças associadas ao avanço da idade, especialmente as crônicodegenerativas, tem sido observado.1 Com o envelhecimento, há redução na massa muscular esquelética (sarcopenia) e consequentes fraqueza muscular e aumento da sobrecarga articular.2,3 Devido às alterações na mecânica muscular e à sobrecarga das articulações, ocorrem adaptações que podem levar a instabilidade articular, alteração da força e inibição muscular, tornando o indivíduo mais vulnerável às lesões e à fadiga musculares.3,4 Isso pode resultar em alteração da sobrecarga e degeneração da articulação devido à pouca habilidade do sistema muscular em absorver impactos repetidos, o que tem sido sugerido como fator de risco para o desenvolvimento e/ou agravamento da osteoartrite (OA).4–6 A OA é a doença articular mais prevalente e também a principal causa de dor e de incapacidade física na população idosa.5–7 Caracteriza-se por ser uma doença degenerativa que leva a perda da cartilagem articular, formação marginal osteofitária e alterações ligamentares, sinoviais, meniscal e do osso subcondral.8 Embora suas causas sejam ainda mal-compreendidas, estresses biomecânicos, alterações bioquímicas na Recebido em 30/05/2011. Aprovado, após revisão, em 14/12/2011. Os autores declaram a inexistência de conflito de interesse. Suporte Financeiro: CAPES, CNPQ e FINEP. Comitê de Ética: 2007740. Laboratório de Pesquisa do Exercício, Escola de Educação Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. 1. Especialista em Cinesiologia, UFRGS; Mestranda em Geriatria, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUC-RS 2. Mestre em Ciências do Movimento Humano, Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS; Pesquisadora e Doutoranda, UFRGS 3. Mestre em Ciências do Movimento Humano, UFRGS 4. Doutor em Cinesiologia, University of Calgary; Professor Adjunto, UFRGS Correspondência para: Cintia Helena Ritzel. Departamento de Cirurgia Ortopédica e Traumatológica, Escola de Medicina – UFRGS. Rua Ramiro Barcellos, 2400 – Santana. CEP: 90035-003. Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: [email protected] Rev Bras Reumatol 2012;52(2):189-202 195 Bastiani et al. cartilagem e membrana sinovial, além de fatores genéticos, são itens importantes em sua patogênese.9,10 Nos membros inferiores, a OA tem grande impacto nos joelhos e quadris, já que essas articulações recebem todo o peso corporal e são fundamentais para marcha, transposição de obstáculos (como escadas) e atividades domésticas.11 Na OA do joelho, o edema e o espessamento sinovial levam a uma inibição reflexa do músculo quadríceps, causando subsequente hipotrofia muscular. Dor, hipotrofia e falha na ativação muscular voluntária do quadríceps têm sido sugeridas como causas da diminuição da força tanto em indivíduos com OA de joelho quanto em idosos, gerando importante impacto funcional.4,9,12–14 A cirurgia está indicada para os estágios mais avançados da doença, quando se evidenciam maiores degenerações cartilaginosas e ósseas e já existe comprometimento das três superfícies articulares do joelho, alterações da função articular e dor.15 Os pacientes com OA graus II e III com comprometimento progressivo de independência nas atividades de vida diária e falha do tratamento conservador devem ser referidos para o ortopedista, que fará a indicação do tratamento cirúrgico.16 O procedimento mais utilizado nesses casos é a artroplastia total de joelho (ATJ),17 na qual é realizada a substituição completa da articulação por uma prótese total. Seus principais objetivos são diminuição da dor, reabilitação funcional e melhora da qualidade de vida.18–22 Grande parte dos pacientes submetidos à ATJ apresenta excelentes resultados clínicos; entretanto, em muitos casos, podem persistir disfunções relacionadas com problemas funcionais que nem sempre são evidentes clínica ou radiograficamente.17,18,22,23 Fraqueza muscular do quadríceps após a ATJ tem sido relatada por diversos autores como normal.19,23,24 Muitos estudos encontraram diminuição da força do quadríceps, da ativação muscular voluntária e da área de secção transversa (AST) após a cirurgia, em comparação com os valores pré-operatórios.22,23,25 Mesmo autores que encontraram melhora da força do quadríceps em sujeitos após a ATJ não observaram recuperação total quando comparando-os a indivíduos saudáveis da mesma faixa etária.18,26,27 Acredita-se que as manifestações inflamatórias, o déficit na ativação muscular voluntária e a hipotrofia apresentados tanto pelos pacientes com OA de joelho quanto pelos submetidos à ATJ levam a menor trabalho muscular total,28,29 acarretando diminuição do torque e da potência muscular30 e decréscimo da resistência, o que gera importante perda da capacidade funcional e os torna mais predispostos à fadiga.12 A redução do trabalho muscular total e a consequente perda de potência muscular em função das doenças osteoarticulares comumente prejudicam a autonomia e a qualidade de vida dos indivíduos.2,29–31 Apesar do impacto nos resultados funcionais, o trabalho e a potência musculares do quadríceps não 196 são tipicamente avaliados nos estudos de pós-operatórios de ATJ. Por isso, torna-se relevante que tais variáveis funcionais também sejam investigadas nos estudos de populações com OA de joelho e com ATJ. Além disso, os processos adaptativos dos tecidos musculoesqueléticos à degeneração articular e à substituição da articulação lesada por uma prótese necessitam ser mais bem estabelecidos. Qualquer esforço para esclarecer os mecanismos relacionados com essa doença a fim de reduzir ou postergar seus efeitos é de grande importância. Assim, o presente estudo teve como objetivo comparar o desempenho muscular com relação ao trabalho total e à potência dos músculos flexores e extensores de joelhos em indivíduos portadores de OA de joelho e pós-ATJ. MATERIAL E MÉTODOS Amostra A amostra foi composta por 32 indivíduos de ambos os gêneros, com idade acima de 50 anos, divididos em dois grupos. O grupo OA foi composto por 20 indivíduos com OA de joelho graus II, III e IV (classificação de Dejour, 1991), 15 e o grupo ATJ foi composto por 12 indivíduos submetidos à ATJ com tempo de pós-operatório compreendido entre um e três anos. Os indivíduos foram selecionados conforme os seguintes critérios de inclusão: seleção de forma intencional a partir da avaliação clínica realizada por um médico especialista em Ortopedia e Traumatologia (Serviço de Ortopedia e Traumatologia do Hospital São Lucas da PUC-RS). Para os indivíduos com OA foram solicitados exames de raios X (nas incidências anteroposterior e perfil, monopodal chapa longa), a fim de se confirmar o diagnóstico e o grau de OA. Para participar do grupo com ATJ foram aceitos apenas os indivíduos submetidos à cirurgia a partir de história prévia de OA de joelho primária, com período de evolução cirúrgica entre um e três anos, buscando-se garantir que o procedimento cirúrgico tivesse sido realizado por meio da mesma técnica, com o mesmo modelo de prótese (MB-VI, Metabio) e mesmo período pós-operatório. Este estudo teve como critérios de exclusão: história prévia de cirurgia na articulação do quadril e/ou de cirurgia de revisão de prótese de joelho, dor elevada avaliada pela escala analógica visual de dor (EAVD), limitação da amplitude de movimento (ADM) do joelho e alterações neurológicas, musculoesqueléticas, metabólicas e cardiológicas que impossibilitassem a execução de testes de contração voluntária máxima.32 As recomendações do Humac® também foram respeitadas.33 Os participantes foram avaliados quanto aos graus de funcionalidade (questionário WOMAC)34,35 e de dor (EAVD).36 Rev Bras Reumatol 2012;52(2):189-202 Trabalho e potência dos músculos extensores e flexores do joelho de pacientes com osteoartrite e com artroplastia total de joelho O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) sob parecer nº 2007740. Os participantes assinaram termo de consentimento livre e esclarecido, assegurando seus direitos de acordo com a resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, e receberam todas as informações sobre os procedimentos que seriam efetuados. Instrumentação Para avaliação do trabalho total e da potência muscular utilizou-se o dinamômetro isocinético Biodex System 3 Pro (Biodex Medical Systems, Shirley, Nova York, EUA).33 Procedimentos Os indivíduos foram posicionados no dinamômetro de acordo com as instruções do fabricante. Em seguida, realizou-se uma sessão de aquecimento e familiarização, com uma série de 10 repetições submáximas de flexão e extensão do joelho a uma velocidade de 120º/s. Após 2 minutos de repouso, foi realizada a avaliação do trabalho total e da potência muscular com uma série de cinco repetições na velocidade de 60º/s, e uma série de 20 repetições na velocidade de 240°/s.37,38 Entre cada série observou-se um intervalo de 2 minutos para minimizar os efeitos da fadiga. Durante a realização dos testes isocinéticos, o mesmo estímulo verbal para obtenção de esforço máximo foi dado a todos os participantes.39 Ao término do protocolo de avaliação foram realizados alongamentos e aplicação de compressa de gelo na articulação do joelho durante 20 minutos, com o objetivo de prevenir possíveis desconfortos musculares devido ao esforço máximo não habitual. Todos os indivíduos receberam um programa de exercícios domiciliares, com exercícios de reforço muscular e alongamentos para auxiliar em sua recuperação funcional. Análise estatística As variáveis quantitativas foram descritas por média, desviopadrão, mediana, Skewness e Kurtosis. Para a verificação da normalidade e da homogeneidade dos dados foram utilizados os testes de Shapiro Wilk e Levene, respectivamente. A partir dessa análise, os dados foram considerados normais e adotou-se a análise estatística paramétrica. Análise de variância de dois fatores (ANOVA two-way) para medidas repetidas foi utilizada para comparar as diferenças entre os grupos em relação às variáveis trabalho total e potência. O teste post-hoc de Bonferoni foi utilizado para identificar as diferenças entre os grupos. Análise de variância de um fator (ANOVA Rev Bras Reumatol 2012;52(2):189-202 one-way) com post-hoc de Bonferoni foi utilizada para comparar as variáveis de caracterização da amostra entre os grupos. Para a análise estatística utilizou-se o software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 13.0, e o nível de significância adotado foi de P < 0,05 para todas as análises realizadas. RESULTADOS A amostra foi composta por 32 indivíduos, divididos em dois grupos. O grupo com OA de joelho foi composto por 20 indivíduos (14 mulheres e seis homens) com idades entre 52 e 76 anos (63,0 ± 7,24), e o grupo com ATJ foi composto por 12 indivíduos (seis mulheres e seis homens) com idades entre 56 e 81 anos (69,9 ± 7,83). A Tabela 1 apresenta os dados referentes à caracterização da amostra em relação à idade e ao índice de massa corporal (IMC). Houve diferença entre os grupos com relação à idade (P = 0,028) – o grupo ATJ apresentou faixa etária mais elevada. Não houve diferença para o IMC entre os grupos avaliados (P = 0,493). As Figuras 1 e 2 ilustram os resultados de trabalho total dos músculos extensores e flexores de joelho obtidos para os dois grupos nas duas velocidades angulares avaliadas. Na comparação entre os grupos não houve diferença entre o trabalho total realizado tanto pelos músculos extensores na velocidade de 60°/s (P = 0,198) e na velocidade de 240°/s (P = 0,125), quanto pelos flexores em 60°/s (P = 0,180) e em 240°/s (P = 0,081). Ambos os grupos apresentaram comportamentos semelhantes quanto ao trabalho total realizado pelos grupos musculares do joelho nas velocidades angulares de 60°/s e 240°/s. Assim como para o trabalho total, os grupos com OA e com ATJ também apresentaram comportamentos semelhantes quanto à potência muscular em ambas as velocidades angulares, não havendo diferença tanto para os músculos extensores nas velocidades de 60°/s (P = 0,297) e de 240°/s (P = 0,163) quanto para os flexores do joelho nas velocidades de 60°/s (P = 0,300) e de 240°/s (P = 0,121), como pode ser observado nas Figuras 3 e 4. Tabela 1 Caracterização da amostra por idade e índice de massa corporal (média ± DP) Grupo n Homens Mulheres Idade (anos) IMC OA 20 6 14 63,0 ± 7,24 30,45 ± 3,77 ATJ 12 6 6 69,9 ± 7,83* 31,65 ± 7,17 *P = 0,028. IMC: índice de massa corporal. 197 Bastiani et al. 900 Trabalho total dos extensores 100 Potência dos extensores 600 300 0 OA ATJ Potência (Was) Trabalho total (J) OA ATJ 50 0 60 60 240 Figura 1 Trabalho total dos músculos extensores do joelho dos grupos OA e ATJ nas velocidades angulares de 60°/s (P = 0,198) e de 240°/s (P = 0,125). 900 240 Velocidade (°/s) Velocidade (°/s) Figura 3 Potência dos músculos extensores do joelho dos grupos OA e ATJ nas velocidades angulares de 60°/s (P = 0,297) e de 240°/s (P = 0,163). Trabalho total dos flexores Potência dos flexores 100 OA ATJ OA ATJ Potência (Was) Trabalho total (J) 600 300 0 50 0 60 60 240 240 Velocidade (°/s) Velocidade (°/s) Figura 2 Trabalho total dos músculos flexores do joelho dos grupos OA e ATJ nas velocidades angulares de 60°/s (P = 0,180) e de 240°/s (P = 0,081). Figura 4 Potência dos músculos flexores do joelho dos grupos OA e ATJ nas velocidades angulares de 60°/s (P = 0,300) e de 240°/s (P = 0,121). Encontrou-se diferença significativa (P = 0,022) no WOMAC total entre os grupos OA e ATJ, com valores maiores para o grupo OA. De forma geral, os valores de dor foram próximos a zero, principalmente ao final das avaliações. Na comparação dos valores de dor entre os grupos, houve diferença significativa na média da dor, com valores menores para o grupo ATJ (P < 0,05), conforme dados apresentados na Tabela 2. Porém, não houve diferença entre a dor avaliada no pré-teste e a dor pós-teste, nem entre os grupos. Tabela 2 Escala analítica visual da dor em três segmentos: dor, dor préavaliação e dor pós-avaliação, média 198 Grupo OA Grupo ATJ P Dor 0,45 0,04 0,014* Dor pré-avaliação 0,37 0,03 0,207 Dor pós-avaliação 0,17 0,00 0,258 P = (pré- x pós-) 0,352 0,337 - *Diferença significativa. Rev Bras Reumatol 2012;52(2):189-202 Trabalho e potência dos músculos extensores e flexores do joelho de pacientes com osteoartrite e com artroplastia total de joelho DISCUSSÃO Muitos pesquisadores têm investigado as alterações da força muscular de indivíduos com OA e ATJ por meio da avaliação do torque.3,13,15,18,26,27 Como o pico de torque representa o desempenho em um único ponto da ADM, ele pode não ser um bom indicador da capacidade funcional total e, dessa forma, a força em toda ADM (trabalho) e a força por unidade de tempo (potência) seriam mais relevantes clinicamente. Entretanto, essas variáveis não são tipicamente avaliadas nos estudos de populações com OA de joelho e de resultados pós-operatórios de ATJ.31 Assim, o presente estudo teve como objetivo comparar o desempenho muscular com relação ao trabalho total e à potência dos músculos extensores e flexores do joelho entre um grupo de indivíduos portadores de OA de joelho e um grupo de indivíduos submetidos à ATJ. O trabalho total muscular é a ação da força por meio de uma distância específica, ou seja, ação do torque durante a ADM. Essa variável é calculada pela área sob a curva do torque, que fisicamente é a energia desenvolvida pelo músculo. Se esse valor é baixo, pode representar que clinicamente a função muscular está alterada e que a energia despendida durante uma ADM não é adequada ou apresenta déficit muscular.12,32 Já a potência muscular, expressa em Watts (W), representa o trabalho total dividido pelo tempo atual de contração – ou seja, a energia despendida durante a contração em um determinado tempo. Ela representa clinicamente a quantidade de energia que o músculo é capaz de gastar em menor tempo para gerar o torque, e pode estar alterada devido a algum déficit funcional muscular.12,32 Como a OA de joelho provoca redução da massa muscular devido à inibição muscular reflexa decorrente da dor,10,14 e a ATJ busca reverter os efeitos da dor pela remoção dos tecidos degenerados pela OA,20,27 era esperado que o grupo ATJ apresentasse trabalho e potência musculares maiores quando comparado ao grupo OA. Entretanto, os resultados encontrados demonstram que não houve diferença entre os grupos nas velocidades angulares avaliadas tanto para os músculos extensores quanto para os flexores do joelho. Byrne et al.22 investigaram as alterações da função das articulações dos membros inferiores pelos efeitos da ATJ por meio da comparação de trabalho e potência musculares entre indivíduos saudáveis e indivíduos submetidos à ATJ. Os pacientes com ATJ apresentaram menor trabalho para os músculos do joelho que o grupo-controle, e esse déficit foi compensado pelo aumento do trabalho realizado pelos extensores do quadril. Um estudo realizado por Walsh et al.25 avaliou velocidade de caminhada, habilidade de subida em escadas, torque do Rev Bras Reumatol 2012;52(2):189-202 joelho e trabalho total em 29 mulheres um ano após a ATJ e em 40 mulheres saudáveis. Os indivíduos com ATJ apresentaram valores menores para todas as variáveis quando comparados com o grupo-controle. Os autores afirmam que o déficit da força do joelho não operado permanece até um ano após a cirurgia, o que explica o decréscimo no trabalho dos músculos extensores. Por outro lado, Aquino e Leme40 não encontraram diferenças na relação do trabalho total flexor e extensor entre pacientes com ATJ e indivíduos saudáveis. O trabalho e a potência dos músculos do joelho também foram investigados em estudos referentes a outros acometimentos musculoesqueléticos do joelho. Meireles et al.12 avaliaram pico de torque, trabalho total e potência do joelho de 50 pacientes com artrite reumatoide (AR) e 50 indivíduos saudáveis, comparando-os nas velocidades angulares de 60°/s, 80°/s e 300°/s. Os pacientes com AR apresentaram valores menores que os indivíduos do grupo-controle em todas as variáveis analisadas. Lennox et al.41 avaliaram 16 pacientes que tiveram patelectomia unilateral, e a média da potência muscular do quadríceps foi de 60% em comparação ao lado saudável contralateral. O torque máximo e o trabalho médio produzido durante contrações excêntricas e concêntricas foram 1/3 menores no lado operado, em comparação com o contralateral. Os autores relataram que a força muscular não é recuperada imediatamente após a patelectomia, mas com um programa de reabilitação de longa duração ela pode ser restaurada. Neeter et al.42 analisaram a potência muscular dos extensores e flexores do joelho de 23 pacientes com lesão do ligamento cruzado anterior (LCA) e de 44 pacientes pós-reconstrução do mesmo ligamento, após seis meses da lesão e da cirurgia, respectivamente. Compararam então com o lado não acometido desses pacientes e com outros 13 indivíduos saudáveis. Em 90% dos pacientes com lesão do LCA e em 60% dos que tiveram o ligamento reconstituído houve déficit na potência muscular. Embora a literatura não seja clara sobre se o que é válido para o pico de torque é válido para a produção de trabalho e para potência média,28–30 é relevante que os dados de estudos que avaliaram a força muscular somente por meio do torque sejam analisados juntamente com os resultados encontrados no presente estudo. Alguns autores que compararam a força e a ativação muscular voluntária de pacientes com OA de joelho primária antes e depois da ATJ observaram diminuição da força do quadríceps e da ativação muscular após a cirurgia. Eles afirmam que, apesar da redução da dor e da melhora da ADM do joelho, a fraqueza do quadríceps e a diminuição da capacidade 199 Bastiani et al. funcional estão tipicamente presentes, mesmo um ano após a cirurgia.13,21 A redução da força do quadríceps é observada em avaliações pós-operatórias em longo prazo, e está correlacionada com limitações funcionais prévias ao procedimento cirúrgico dos indivíduos com OA do joelho.3 A ocorrência do déficit da força muscular após a ATJ tem sido relatada como normal em alguns estudos.12,15 Por outro lado, Berth et al.,18 em um estudo com pacientes avaliados três anos após a ATJ, demonstraram que a ativação muscular voluntária melhorava ao longo do tempo, embora não chegasse aos níveis apresentados por indivíduos saudáveis. Anchuela et al.26 e Lorentzen et al.27 também obtiveram resultados semelhantes, com maior capacidade de produção de força após a cirurgia. É unanimidade entre os autores que encontraram déficit na capacidade funcional após a ATJ que a fraqueza persistente do quadríceps desses pacientes seja provavelmente devida à falha nos atuais programas de reabilitação em direcionar sua ação para o déficit de ativação logo na primeira semana após a cirurgia. Parece provável que os resultados encontrados neste estudo, demonstrando não haver diferenças no desempenho muscular quanto ao trabalho e à potência entre pacientes com OA e com ATJ, possam ser, pelo menos em parte, devido ao fato de que os indivíduos submetidos à cirurgia não receberam nenhuma intervenção fisioterapêutica além do atendimento hospitalar, contribuindo para a permanência do déficit funcional. Lennox et al.41 sugerem que se os pacientes avaliados em seu estudo tivessem passado por um processo de reabilitação, o índice de sucesso da cirurgia poderia ter sido mais alto. A ATJ é executada como último recurso para indivíduos com OA degenerativa, a fim de eliminar a dor e melhorar a função. Existem várias formas de avaliar a evolução do indivíduo com ATJ: além da avaliação do trabalho total e da potência musculares, também podemos avaliar a funcionalidade do indivíduo e a qualidade de vida por meio de questionários, como o WOMAC. Os resultados dos escores do questionário WOMAC revelaram que a pontuação entre os grupos OA e ATJ foi diferente. O grupo ATJ apresentou pontuação inferior ao grupo OA, tanto no WOMAC total como na dor, na rigidez e na funcionalidade. Apesar de os grupos avaliados não terem diferença quanto ao trabalho e à potência musculares, apresentaram diferença no WOMAC. Dessa forma, a colocação de prótese total de joelho com a realização de fisioterapia não melhora as propriedades mecânicas avaliadas neste trabalho, porém melhora a qualidade de vida e a dor do indivíduo. Todos os indivíduos foram questionados com relação à dor no joelho lesionado, desde a entrevista inicial no dia da 200 avaliação até o final da avaliação. Foi apresentada aos indivíduos uma régua representando a EAVD, com escala de 0–10. De forma geral, os valores de dor foram próximos a zero, principalmente ao final das avaliações. Ao compararmos os valores de dor entre os grupos, houve diferença significativa na média da dor, com valores menores para o grupo ATJ. Ao compararmos os valores de dor no pré- e no pós-teste, não foi encontrada diferença entre os grupos nem entre os momentos de avaliação. Muitos trabalhos demonstraram melhora significativa das capacidades físicas e psicológicas no período pós-operatório da ATJ quando comparado ao período pré-operatório. Nos trabalhos que mostram essa melhora do indivíduo, todos receberam atenção fisioterapêutica após o procedimento cirúrgico até a total reabilitação.43,44 Já outros autores encontraram correlação entre presença de dor, depressão, OA e alteração na funcionalidade.45 Muitos pacientes podem vir a apresentar problemas, como fraqueza e contratura musculares, diminuição da ADM, dificuldade de locomoção e limitação das atividades de vida diária, apesar de terem realizado a substituição da articulação doente por uma prótese. Infelizmente, essa redução na capacidade funcional tem sido aceita por diversos autores como déficit funcional normal.25,45 Ulrich et al.23 acreditam ser importante utilizar algumas técnicas para identificar problemas funcionais após a ATJ, permitindo que o tratamento seja focado especificamente no tipo de acometimento, o que levaria ao sucesso dos resultados clínicos para essa população. O uso de programas de reabilitação mais apropriados, com exercícios que enfatizem contrações musculares fortes, e de ferramentas clínicas que facilitem a ativação muscular, como o biofeedback e a estimulação elétrica neuromuscular, pode ser necessário para reverter a falha na ativação muscular e a fraqueza em pacientes com OA e após a ATJ, embora os efeitos dessas terapias ainda não estejam bem esclarecidos.14,18,30 Esses programas devem beneficiar pacientes com problemas ortopédicos nos anos imediatamente após a cirurgia, e, talvez mais importante, devem ajudar a preservar sua capacidade funcional e manter sua independência por um longo período de tempo.25,46 A literatura a respeito dos resultados funcionais da cirurgia de ATJ, especialmente com relação ao trabalho total e à potência dos músculos do joelho, ainda é inconsistente, o que aponta para a necessidade de novos estudos direcionados a essa população. Pesquisas referentes às diferentes modalidades de reabilitação também são relevantes na busca de esclarecimentos sobre os mecanismos relacionados com OA e sobre os fatores que podem potencializar os benefícios da ATJ. Rev Bras Reumatol 2012;52(2):189-202 Trabalho e potência dos músculos extensores e flexores do joelho de pacientes com osteoartrite e com artroplastia total de joelho CONCLUSÃO Não houve diferença entre os grupos OA e ATJ para os valores de trabalho total e potência nas velocidades angulares de 60°/s e 240°/s, tanto para os músculos extensores quanto para os flexores de joelho. Os resultados deste estudo, para os pacientes avaliados, sugerem que a ATJ não melhora a capacidade funcional do sistema musculoesquelético desses pacientes, quando comparada à capacidade funcional de pacientes com OA. REFERENCES REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. Maciel ACC, Guerra RO. Fatores associados à alteração da mobilidade em idosos residentes na comunidade. 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O Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para o tratamento da AR descreve o esquema terapêutico para a patologia, inclusive com as anticitocinas adalimumabe, etanercepte ou infliximabe. Objetivo: Traçar o perfil dos usuários de anticitocinas, medicamentos biológicos cadastrados no Sistema de Informação do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica, gerenciado pelo Centro de Medicamentos do Paraná. Métodos: Foi realizado um estudo transversal tomando como referência o mês de março de 2010. Com base em dados de dispensação, foram coletadas informações relativas a idade, gênero, regional de saúde (RS), Código Internacional de Doenças (CID) e medicamento dispensado. Calculou-se também o custo mensal com anticitocinas para o SUS. Resultados: No estado do Paraná foram encontrados 923 pacientes recebendo anticitocinas, dos quais 40% recebiam adalimumabe, 44% etanercepte e 16% infliximabe, gerando um custo mensal de R$3.403.195,59. Com relação ao CID, 55% dos indivíduos apresentavam CID M05.8, 27% CID M06.0, 9% CID M6.8, 8% CID M5.0 e 1% dos indivíduos apresentava os outros CIDs relacionados com a doença. As RS do Paraná com o maior número de indivíduos em tratamento com anticitocinas foram as de Ponta Grossa, Cornélio Procópio, Londrina, Cianorte, Maringá, Irati e Campo Mourão. Conclusão: Por meio deste estudo foi possível verificar a distribuição e o perfil dos usuários de anticitocinas para o tratamento da AR no Paraná no âmbito do SUS no mês de março de 2010. Palavras-chave: artrite reumatoide, terapêutica, medicamentos excepcionais. © 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. INTRODUÇÃO A artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória crônica, caracterizada por poliartrite periférica simétrica, que leva à deformidade e à destruição das articulações por erosão do osso e da cartilagem.1–3 Tem prevalência de aproximadamente 1% na população mundial;4 no Brasil, um estudo multicêntrico verificou a prevalência da AR variando de 0,2%–1%.5 Pacientes com AR têm risco de mortalidade aumentado em duas vezes. Quando a AR envolve outros órgãos, a morbidade e a gravidade da doença são maiores, podendo diminuir a expectativa de vida em 5–10 anos.6 Com a progressão da doença, os pacientes desenvolvem incapacidade para realização de suas atividades tanto da vida diária quanto da profissional. Além disso, por sua natureza crônica e pelo fato de acometer indivíduos em idade produtiva, a AR é uma doença com grande impacto econômico para o paciente e para a sociedade.3,7 Recebido em 03/06/2011. Aprovado, após revisão, em 14/12/2011. Os autores declaram a inexistência de conflito de interesse. Universidade Federal do Paraná – UFPR. 1. Doutora em Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal do Paraná – UFPR 2. Direção Técnica do Consórcio Intergestores Paraná Saúde 3. Diretora da Assistência Farmacêutica, Secretaria de Estado da Saúde do Paraná - CEMEPAR, SESA/PR 4. Mestre em Ciências Farmacêuticas, UFPR 5. Doutor em Medicina Interna; Professor Adjunto, UFPR 6. Doutor em Bioquímica; Professor-Associado, UFPR Correspondência para: Roberto Pontarolo. Universidade Federal do Paraná – Departamento de Farmácia. Av. Prof. Lothário Meissner, 632 – Jardim Botânico. CEP: 80210-170. Curitiba, PR, Brasil. E-mail: [email protected] 208 Rev Bras Reumatol 2012;52(2):203-213 Perfil dos usuários de anticitocinas disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde no estado do Paraná para o tratamento da artrite reumatoide Os tratamentos para AR objetivam prevenir ou controlar a lesão articular, prevenir a perda de função, diminuir a dor e maximizar a qualidade de vida dos pacientes. Os tipos de tratamento variam de acordo com o estágio da doença, raramente alcançando a remissão completa.1 Para o controle da dor e do processo inflamatório são utilizados anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e glicocorticoides. A partir do diagnóstico de AR, recomenda-se o tratamento com drogas modificadoras do curso da doença (DMCDs), que reduzem sinais e sintomas, além de reduzir a progressão radiológica. Dentre as DMCDs estão indicadas o metotrexato (MTX), a leflunomida (LFN), a sulfassalazina (SFZ) e a hidroxicloroquina (HCQ). Os agentes modificadores da resposta biológica estão indicados para os pacientes que persistam com atividade da doença, apesar dos tratamentos com AINEs e DMCDs. Entre eles estão os bloqueadores do fator de necrose tumoral (anti-TNF) e as anticitocinas adalimumabe (ADA), etanercepte (ETA) e infliximabe (INF).1,8,9 De acordo com as Diretrizes Metodológicas para Elaboração de Pareceres Técnico-Científicos, o Ministério da Saúde considera que as três anticitocinas (ADA, ETA e INF) apresentam mesma eficácia.10 Dessa forma, cabe ao médico a escolha entre os tratamentos disponíveis. Os medicamentos para tratamento da AR integram o elenco do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (CEAF) – Portaria GM/MS nº 2.981/2009, anteriormente Componente de Medicamentos de Dispensação Excepcional, regulamentado pela Portaria GM/MS nº 2.577/2006. O Sistema Único de Saúde (SUS) no Paraná disponibiliza tratamento aos pacientes com AR por meio de financiamento federal (Ministério da Saúde), com cofinanciamento estadual (Secretaria de Estado da Saúde do Paraná – SESA/PR). A SESA/PR, por intermédio do Centro de Medicamentos do Paraná (CEMEPAR), é a responsável pelo gerenciamento da Assistência Farmacêutica no estado. O CEMEPAR tem suas atividades estruturadas no ciclo da Assistência Farmacêutica: programação, encaminhamento da aquisição, recebimento, armazenamento e distribuição dos medicamentos integrantes do elenco do CEAF às Regionais de Saúde (RS) da SESA/PR. Os medicamentos são dispensados aos pacientes residentes no Paraná pelas Farmácias Especiais das 22 RS. Para ser cadastrado no programa, o paciente deve atender aos critérios estabelecidos no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para AR.10 Controle do número de pacientes cadastrados, variações nas doses prescritas pelos médicos, substituição e/ou suspensão dos medicamentos, entrada de novos pacientes e Rev Bras Reumatol 2012;52(2):203-213 saída de outros (alta, cura, abandono ou óbito) são fatores de extrema importância para o planejamento da aquisição dos medicamentos e o gerenciamento do programa. Com base nessa demanda, o CEMEPAR, juntamente com a Companhia de Informática do Paraná (CELEPAR), desenvolveu, a partir de 2004, um sistema de informação denominado SESAFARM, que foi a base para a criação do sistema empregado atualmente em nível nacional pelo Ministério da Saúde, o Sistema de Informação do CEAF (SISMEDEX), implantado em todas as Farmácias Especiais. O SISMEDEX apresenta as seguintes funcionalidades: (I) cadastramento das farmácias e dos colaboradores com permissão de uso ao sistema; (II) dados referentes aos medicamentos e aos PCDTs vigentes; (III) cadastramento do usuário e do Laudo de Solicitação de Medicamento Excepcional (LME); (IV) cadastramento de renovações e adequações do LME; (V) avaliação e autorização do processo de solicitação de medicamentos; (VI) registro da dispensação dos medicamentos autorizados; (VII) registro e acompanhamento do trâmite do processo na RS e/ou CEMEPAR; (VIII) manutenção de registro dos médicos prescritores e dos Centros de Referência vinculados ao Programa; (IX) fluxo de estoque; (X) geração automática de Autorização de Procedimento de Alta Complexidade (APAC); (XI) geração de relatórios e consultas gerais. Este trabalho foi realizado com o objetivo de traçar o perfil dos usuários de anticitocinas cadastrados no programa CEAF para o tratamento da AR, com base em dados de dispensação obtidos do SISMEDEX, e analisar as variáveis Código Internacional de Doenças (CID), gênero, idade, RS e medicamento utilizado. Além disso, também foi avaliado o custo mensal para o SUS para a aquisição desses medicamentos. Neste estudo não se pretende realizar uma discussão sobre acesso ao diagnóstico da doença, tratando-se exclusivamente do fornecimento de medicamentos aos pacientes com diagnóstico cadastrados no programa. MATERIAL E MÉTODOS Realizou-se um estudo transversal com coleta de dados de usuários cadastrados no SISMEDEX no estado do Paraná no mês de março de 2010. Os dados foram coletados por meio de busca por patologia, com base no PCDT para AR. Para avaliação foram considerados os dados de pacientes que apresentavam os seguintes CIDs: M05.0 – Síndrome de Felty; M05.1 – Doença reumatoide do pulmão; M05.2 – Vasculite reumatoide; 209 Wiens et al. M05.3 – Artrite reumatoide com comprometimento de outros órgãos ou sistemas; M05.8 – Outras artrites reumatoides soropositivas; M06.0 – Artrite reumatoide soronegativa; M06.8 – Outras artrites reumatoides. As informações sobre CID, gênero, idade, RS e medicamento dispensado foram coletadas para cada paciente, com o cuidado de manter seu anonimato. Para todas as variáveis foi calculado o número e a porcentagem de pacientes relacionados. Para a variável idade, calculou-se o valor médio e o desvio-padrão, além da tabulação do número de indivíduos de cada faixa etária (cada cinco anos). Para calcular os recursos despendidos mensalmente para os tratamentos da AR no estado do Paraná, foram considerados apenas os custos dos medicamentos obtidos nas tabelas do banco de dados do SUS (DATASUS), na dose usual recomendada no PCDT.10 RESULTADOS 140 120 100 60 40 20 0 Idade (anos) Figura 1 Gráfico representando a idade em função do número de usuários de anticitocinas cadastrados no SISMEDEX. 210 Tabela 1 Distribuição dos pacientes recebendo anticitocinas nas Regionais de Saúde do Paraná Regional de Saúde n % Total de habitantes Indivíduos/milhão de habitantes 01 – Paranaguá 20 2,2 287.633 70 02 – Metropolitana 319 34,6 3.385.145 94 03 – Ponta Grossa 60 6,5 579.827 103 04 – Irati 26 2,8 157.604 165 05 – Guarapuava 10 1,1 457.361 22 06 – União da Vitória 10 1,1 168.137 59 07 – Pato Branco 4 0,4 244.406 16 08 – Francisco Beltrão 11 1,2 313.370 35 09 – Foz do Iguaçu 31 3,4 450.893 69 10 – Cascavel 48 5,2 501.851 96 11 – Campo Mourão 59 6,4 311.945 189 12 – Umuarama 7 0,8 234.251 30 13 – Cianorte 16 1,7 130.687 122 14 – Paranavaí 18 2,0 254.256 71 15 – Maringá 108 11,7 716.273 151 16 – Apucarana 7 0,8 21 17 – Londrina 98 10,6 846.428 116 18 – Cornélio Procópio 26 2,8 243.178 107 19 – Jacarezinho 6 0,7 271.897 22 20 – Toledo 29 3,1 323.537 90 21 – Telêmaco Borba 7 0,8 166.466 42 22 – Ivaiporã 3 0,3 128.764 23 Total 923 100 10.511.862 88 80 05 61 11 0 -1 16 5 -2 21 0 -2 26 5 -3 31 0 -3 36 5 -4 41 0 -4 46 5 -5 51 0 -5 56 5 -6 61 0 -6 66 5 -7 71 0 -7 76 5 -8 81 0 -8 86 5 -9 0 Usuários de ancitocinas cadastrados no SISMEDEX (n) No censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2007, a população do Paraná somou 10.511.862 habitantes, distribuídos por 399 municípios.11 O número de usuários cadastrados no programa SISMEDEX recebendo tratamento com anticitocinas para AR no mês de março de 2010 foi de 923 pacientes, dos quais 258 (28%) eram homens e 665 (72%) eram mulheres. A idade variou entre 2–91 anos, com média de 50 ± 13,8 anos. Mais da metade dos indivíduos (54,9%) tinha entre 40–60 anos. A distribuição da idade dos pacientes está demonstrada na Figura 1. Com relação ao CID, 55% dos indivíduos apresentavam CID M05.8, 27% CID M06.0, 9% CID M06.8, 8% CID M05.0 e 1% dos indivíduos apresentava os outros CIDs (M05.1, M05.2, M05.3 e M06.8). Dos 923 pacientes cadastrados no SISMEDEX, 403 (44%) recebiam tratamento com ETA, 372 (40%) com ADA e 148 (16%) com IFX. A distribuição dos pacientes com AR no Paraná recebendo anticitocinas está detalhada na Tabela 1, e as RS estão identificadas na Figura 2. 337.953 Rev Bras Reumatol 2012;52(2):203-213 Perfil dos usuários de anticitocinas disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde no estado do Paraná para o tratamento da artrite reumatoide acima de 100 habitantes por milhão acima de 50 habitantes por milhão abaixo de 50 habitantes por milhão Figura 2 Mapa das Regionais de Saúde do estado do Paraná. Com relação ao custo dos medicamentos, cada injeção de ADA custa ao SUS R$1.670,18, totalizando 27 doses ao ano (média mensal de 2,25 doses). Dessa forma, o custo mensal por paciente é de R$3.757,90. Multiplicando-se pelo número de pacientes (372), chega-se a um custo mensal total de R$1.397.940,66. Para o ETA, o custo unitário da dose de 25 mg é de R$523,32, enquanto a dose de 50 mg custa R$1.046,65. Duzentos e cinquenta e sete pacientes recebem uma média de 8,7 doses/mês de 25 mg (total de 104 doses/ano/paciente), e 146 pacientes recebem uma média de 4,3 doses/mês de 50 mg (total de 52 doses/ano/paciente), o que gera um custo mensal total de R$1.827.788,13. Já a dose do IFX custa R$1.713,00, e cada paciente recebe, em média, oito doses anuais. Considerando-se o número de usuários (148), chega-se a um custo mensal total de R$177.466,80. O valor mensal total dos gastos com anticitocinas no Paraná em março de 2010 foi de R$3.403.195,59, dos quais 41% foram destinados ao ADA, 54% ao ETA e 5% ao IFX. DISCUSSÃO Apesar da identificação de mais de 100 diferentes tipos de citocinas e outros fatores envolvidos na patogênese da AR, o TNF-α continua ocupando lugar de destaque na doença erosiva da articulação por meio da ativação dos osteoclastos.12–15 Os antagonistas TNF-α têm claramente mostrado benefícios em estudos randomizados e em ensaios controlados.16 A AR pode iniciar em qualquer idade, mas sua prevalência está em pessoas Rev Bras Reumatol 2012;52(2):203-213 de 40–60 anos.1,4 No presente estudo, verificamos que mais da metade dos indivíduos avaliados pertence a essa faixa etária, em conformidade com dados da literatura. A AR afeta duas vezes mais mulheres que homens, e sua incidência aumenta com a idade. No entanto, as diferenças de gênero não são tão marcantes à medida que a faixa etária cresce.1,17,18 Nos usuários de anticitocinas avaliados, verificamos valores semelhantes aos descritos. A causa da AR é desconhecida, mas é possível que muitos agentes artritogênicos estimulem a resposta imune em indivíduos geneticamente suscetíveis.18 As RS do Paraná com o maior número de indivíduos em tratamento com anticitocinas foram as de Ponta Grossa, Cornélio Procópio, Londrina, Cianorte, Maringá, Irati e Campo Mourão. É claro que é preciso levar em consideração que o presente estudo trata do perfil dos pacientes atualmente em tratamento, e não diretamente dos pacientes com a doença, que em alguns locais têm dificuldade de acesso à RS ou ao médico, ou até mesmo dificuldade do diagnóstico da AR, deixando de receber o tratamento adequado. Há também indivíduos que compram o medicamento com recursos próprios, não sendo, portando, contabilizados no SISMEDEX. A incidência da AR no Brasil ainda é subestimada. Um estudo realizado em 200919 estimou que apenas metade dos brasileiros com AR tem diagnóstico estabelecido. O tempo entre o início dos sintomas e o diagnóstico da doença foi, em média, 1,8 ano, o que pode ter acontecido principalmente por dificuldades de acesso ao sistema público de saúde. Outras barreiras ainda encontradas para o tratamento da AR no Brasil incluem baixo número de reumatologistas, dificuldade de acesso da população aos medicamentos e demora para agendamento de consultas, que pode variar entre quatro e dez meses em diferentes regiões do País.20 Consta no PCDT para AR10 que as três anticitocinas apresentam a mesma eficácia. Alguns estudos21–23 compararam a eficácia e a segurança desses medicamentos ao placebo, e não diretamente entre si. Na metanálise de Wiens et al., realizada em 2010,24 verificou-se que pode haver diferenças na eficácia e na segurança desses medicamentos, cabendo ao médico prescritor avaliar os riscos e os benefícios oferecidos por cada um deles. Atualmente está sendo realizado no Brasil o estudo epidemiológico prospectivo BiobadaBrasil,25,26 que em janeiro de 2011 contava com 1.785 pacientes distribuídos em 32 centros. O BiobadaBrasil tem como objetivo apresentar dados de efetividade e de segurança das anticitocinas na população brasileira. Os pacientes recebem agentes biológicos ou DMCDs (grupo-controle) para doenças reumáticas 211 Wiens et al. (69,7% dos pacientes com AR). Os resultados até o momento descreveram o IFX como a droga mais utilizada (39% dos pacientes). Em nosso estudo, observamos menor quantidade de usuários de IFX no Paraná quando comparado às outras anticitocinas. Um dos fatores que pode gerar essa diferença talvez seja a escolha entre as anticitocinas pelos médicos. A anticitocina mais utilizada em março de 2010 no Paraná foi o ADA. A prescrição e a utilização de uma anticitocina é uma importante decisão, pois pode gerar grande impacto na redução dos sintomas da AR e, consequentemente, melhora na qualidade de vida do paciente, acompanhada de significativa elevação dos custos para o SUS.27 Avaliamos o custo de cada medicamento para o SUS, porém tal informação é insuficiente para subsidiar a escolha do médico na indicação das anticitocinas, pois há poucos estudos farmacoeconômicos no Brasil. Uma avaliação econômica foi realizada recentemente por Venson et al.,28 a fim de verificar a relação custo-efetividade das anticitocinas para o tratamento da AR sob a perspectiva do SUS. Verificou-se que entre tais medicamentos, o ADA e o ETA apresentaram melhores valores de custo-efetividade (R$511.633,00 e R$437.486,00, respectivamente) em relação ao IFX (R$657.593,00). O IFX também apresentou maiores valores da razão custo-efetividade incremental por unidade de desfecho (RCEI), que foi de R$965.927,00, enquanto para o ADA e para o ETA esses valores foram, respectivamente, R$628.124,00 e R$509.974,00. No entanto, apesar das diferenças na relação custo-efetividade entre as anticitocinas, é importante que as três continuem sendo disponibilizadas à população, pois cada paciente pode responder de forma diferente ao tratamento. Este estudo permitiu-nos traçar um perfil dos usuários de anticitocinas para o tratamento da AR no estado do Paraná, cadastrados no CEMEPAR. Além disso, foi possível verificar o custo mensal com medicamentos para o tratamento da AR no estado. Esses valores podem ser utilizados em posteriores avaliações econômicas do tipo custo-efetividade ou mesmo para avaliar o custo direto, sob perspectiva do SUS, do tratamento da AR no Paraná. REFERENCES 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 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Physis 2011; 21(2):359–76. 213 ARTIGO ORIGINAL Uso da corrente catódica de alta voltagem sobre a dor em compressão nervosa experimental Gladson Ricardo Flor Bertolini1, Cassiane Merigo do Nascimento2, Daniela Martins Cunha2, Elisangela Lourdes Artifon2, Anamaria Meireles3 RESUMO Objetivo: Avaliar o efeito da corrente catódica de alta voltagem sobre a dor em um modelo experimental de ciatalgia. Métodos: Foram utilizados 16 ratos Wistar, machos, submetidos a um modelo de ciatalgia experimental no membro pélvico direito. Os sujeitos foram divididos em grupo simulacro (GS) e grupo tratado com corrente catódica (GP-) por 20 min diários durante 10 dias. O modelo de compressão foi realizado com amarria por fio catgut 4.0 cromado, em quatro pontos ao longo do nervo isquiático. A avaliação da nocicepção foi realizada, de forma funcional, com o tempo de elevação da pata (TEP), e à pressão, pelo limiar de retirada, via analgesímetro eletrônico. Os dados foram coletados antes do modelo de ciatalgia (AV1), três dias depois da compressão (antes, AV2, e após o tratamento, AV3), após o quinto dia de tratamento (AV4) e em seguida ao décimo dia de tratamento (AV5). Resultados: Pela avaliação funcional, em ambos os grupos houve aumento da nocicepção, sem redução da mesma em qualquer momento da avaliação. À pressão, no entanto, o GS mostrou redução do limiar de retirada em todos os momentos, enquanto o GP- apresentou redução do limiar apenas inicialmente – em AV5 o limiar foi restaurado. Conclusão: Não houve alteração na nocicepção pela avaliação funcional; porém, à pressão, o tratamento com corrente catódica mostrou efeito com a somatória de terapias. Palavras-chave: estimulação elétrica nervosa transcutânea, neuropatia ciática, medição da dor. © 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. INTRODUÇÃO Pacientes com sintomas de dor lombar relatam substancial melhora na dor e na função quando realizam tanto tratamento cirúrgico quanto conservador.1 A ciatalgia, porém, é um importante fator de pior prognóstico nesses casos,2 pois gera maior custo financeiro, além de maior incapacidade laboral e ausência no trabalho.3 Ciatalgia pode ser definida como dor neuropática originada por lesão do sistema nervoso, causada por compressão, diabetes mellitus, infecção, trauma e doenças autoimunes.4 Para alguns autores, o termo refere-se apenas a radiculopatias. Contudo, é amplamente conhecida como a dor que surge da região lombar baixa, ou ao longo do trajeto nervoso, e que irradia em direção à perna.5 É associada a parestesias, além de possível déficit neurológico, como paresia e alterações reflexas. A principal causa dos sintomas é uma reação inflamatória que resulta em irritação ou em compressão nervosa. A prevalência de sintomas varia muito na literatura, entre 1,6%–46%, o que pode ser explicado por diferenças nas definições, nos métodos de coleta de dados e nas populações estudadas. Hérnia discal e estenose lombar ou foraminal são doenças típicas que causam ciatalgia; porém, há diversas outras razões, como tumores, cistos ou outras razões extraespinhais.3 Postura inadequada, submissão à vibração corporal e longos períodos em posição sentada também relacionam-se com maior risco de desenvolvimento da ciatalgia.6 Os tratamentos são diversos. A terapia medicamentosa, apesar de ser a mais utilizada, tem efeitos colaterais que colocam em dúvida a relação riscos/benefícios.7 Outra modalidade terapêutica é a de intervenções não cirúrgicas, porém poucas Recebido em 14/06/2011. Aprovado, após revisão, em 14/12/2011. Os autores declaram a inexistência de conflito de interesse. Suporte Financeiro: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Processo 480748/2008. Comitê de Ética: 0209. Laboratório de Estudo das Lesões e Recursos Fisioterapêuticos, Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste. 1. Doutor em Ciências da Saúde Aplicadas ao Aparelho Locomotor, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo – FMRP-USP; Professor Adjunto, Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste 2. Fisioterapeuta, Unioeste 3. Estudante do curso de Graduação em Fisioterapia, Unioeste Correspondência para: Gladson Ricardo Flor Bertolini. Rua Universitária, 2069 – Jardim Universitário. Colegiado de Fisioterapia. CEP: 85819-110. Caixa Postal: 711. Cascavel, PR, Brasil. E-mail: [email protected] 220 Rev Bras Reumatol 2012;52(2):214-226 Uso da corrente catódica de alta voltagem sobre a dor em compressão nervosa experimental delas se mostram efetivas.8 O tratamento cirúrgico apresenta-se como o mais efetivo em curto prazo, mas em longo prazo os benefícios diminuem.9 Finalmente, há o tratamento conservador, não farmacológico, incluindo modalidades fisioterapêuticas, para as quais os riscos são raros mas as evidências ainda são insuficientes.10 Desse modo, estudos que abordam modalidades fisioterapêuticas para o tratamento da ciatalgia ganham importância. Mostra-se útil o uso de animais de experimentação para avaliar, de forma pré-clínica, a nocicepção causada por lesões nervosas,11 como no modelo de compressão nervosa apresentado por Bennett e Xie,12 que simula um quadro de ciatalgia. Uma das modalidades de eletroestimulação utilizadas na prática clínica é a corrente de alta voltagem. Segundo Davini et al.,13 há evidências de que essa terapia diminui a dor e facilita o reparo tecidual. A corrente de alta voltagem pode ser descrita como pulsada, monofásica, de pico duplo, com duração de pulso de 5–100 μs, amplitude de pico elevada, de alta voltagem (acima de 100 V). Essas características possibilitam uma estimulação relativamente agradável, capaz de atingir as fibras nervosas sensoriais e motoras, além daquelas responsáveis pela condução de impulsos nociceptivos. Ela tem aplicações especialmente em casos de úlceras cutâneas e para redução de edema, principalmente com estimulação catódica. Assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar o aumento de nocicepção, advindo de quadro de ciatalgia experimental, com uso de corrente catódica de alta voltagem. MATERIAIS E MÉTODOS Grupos experimentais Foram utilizados 16 ratos (Rattus norvergicus) da linhagem Wistar, machos, com peso de 376,80 ± 24,68 g e 14 ± 2 semanas de idade. Os animais foram alojados em caixas de polipropileno, submetidos a ciclo claro/escuro de 12 horas, com temperatura de 25 ± 1 ºC, e receberam água e ração ad libitum durante todo o período experimental. Os animais foram divididos aleatoriamente em dois grupos: Grupo simulacro (GS, n = 8): submetido a ciatalgia no membro pélvico direito e a tratamento placebo; Grupo tratado com corrente catódica (GP-, n = 8): submetido a ciatalgia e tratado com corrente catódica no local da cirurgia. O projeto foi conduzido segundo as normas internacionais de ética em experimentação animal, e aprovado pelo Comitê de Ética em Experimentação Animal e Aulas Práticas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), sob protocolo número 0209. A Tabela 1 apresenta a sequência temporal da pesquisa. Rev Bras Reumatol 2012;52(2):214-226 Tabela 1 Apresentação dos diferentes momentos de avaliação e procedimentos realizados na pesquisa Dia de pesquisa Dias de PO Forma de avaliação AV1 1º dia Lesão 1º dia TEP, pressão AV2 4º dia 3º PO TEP, pressão Tratamento 4º dia 3º PO 3º PO AV3 4º dia 3º PO TEP, pressão AV4 8º dia 7º PO TEP, pressão AV5 13º dia 12º PO TEP, pressão AV: momento de avaliação (p. ex., AV1, primeira avaliação); TEP: tempo de elevação da pata, realizado no teste de incapacidade funcional; PO: pós-operatório; pressão: avaliação do limiar de retirada do membro. Protocolo de lesão experimental Os animais foram anestesiados com xilazina (12 mg/kg) e quetamina (95 mg/kg) intraperitoneal e, em seguida, realizou-se a tricotomia no local do procedimento cirúrgico. Uma incisão paralela às fibras do músculo bíceps femoral da coxa direita do animal foi realizada, expondo, assim, o nervo isquiático. Seguindo o modelo descrito por Bennett e Xie,12 efetuou-se a compressão ao redor do nervo em quatro regiões distintas ao longo do mesmo, com distância aproximada de 1 mm uma da outra, utilizando-se fio catgut 4.0 cromado, reproduzindo os sintomas de ciatalgia. Em seguida, realizou-se sutura por planos. Teste de incapacidade funcional Os animais foram submetidos ao teste de incapacidade funcional, descrito originalmente por Tonussi e Ferreira,14 que avaliaram a nocicepção durante a marcha em um cilindro com aproximadamente 30 cm de diâmetro recoberto por uma tela de aço inoxidável, que girava a 3 rpm acionado por um motor elétrico. Nas patas posteriores dos animais foram acopladas botas de metal. A bota da pata posterior direita transmitia informações ao computador, no qual um programa indicava os valores de tempo de ausência de contato da bota do animal ao deambular em um minuto. Dessa forma foi possível mensurar o tempo (em segundos) em que o membro pélvico direito manteve-se no cilindro, além do tempo em que ficou sem contato (tempo de elevação da pata – TEP). A pata posterior esquerda permaneceu com a bota, mas sem transmitir informações, no intuito de que ambos os membros experimentassem as mesmas sensações. Tonussi e Ferreira14 descreveram que, normalmente, animais sem alterações exibem em sua marcha, durante 1 min, a manutenção da pata no ar por cerca de 10 s. 221 Bertolini et al. O experimento foi iniciado após o terceiro dia de treinamento dos animais, que consistia em deambulação sobre o cilindro. Iniciou-se a coleta de dados antes da cirurgia (primeira avaliação, AV1). No dia seguinte ao término dos treinos foi realizado o modelo experimental de ciatalgia, procedendo com a coleta de dados do teste de incapacidade ao terceiro dia de pós-operatório (PO), antes e após o primeiro tratamento (AV2 e AV3), depois do quinto dia de tratamento (AV4) e, finalmente, em seguida ao décimo dia de tratamento (AV5). As avaliações que ocorreram depois da terapia foram realizadas 30 min após a recuperação anestésica dos animais. Análise dos resultados A normalidade dos resultados foi analisada pelo teste de Kolmogorov-Smirnov. Os resultados foram expressos por meio da estatística descritiva (média e desvio-padrão) e analisados pela estatística inferencial, com uso da análise de variância com medidas repetidas, com pós-teste de Tukey para análise intragrupo, e teste t não pareado para análise intergrupos, respectivamente. Em ambos os testes o nível de significância foi α = 0,05. RESULTADOS Avaliação do limiar de retirada Teste de incapacidade funcional A nocicepção também foi avaliada pelo limiar de retirada do membro ao estímulo mecânico. O equipamento utilizado para realizar o teste de nocicepção foi o analgesímetro eletrônico de pressão da marca Insight®. O equipamento consiste em um braço transdutor com uma ponteira de polipropileno descartável, com variação de 0,1–1.000 g, ligado a uma caixa amplificadora, medindo a pressão realizada sobre a superfície do animal. Os animais foram contidos manualmente, e a ponteira de polipropileno foi aplicada na região da compressão nervosa, perpendicularmente à área, com gradual aumento de pressão. Assim que o animal retirou o membro posterior direito, o teste foi interrompido para registro do limiar de retirada. Houve um tempo de adaptação e treino dos animais com duração de três dias. As avaliações ocorreram sempre na sequência do TEP. Os resultados foram analisados comparando-se os momentos pré-lesão com os momentos posteriores e os valores pós-lesão com os subsequentes. Para o GS houve aumento significativo da nocicepção entre o momento pré-lesão e todos os momentos posteriores. Não houve diminuição significativa ao se comparar o momento prévio ao primeiro tratamento (AV2) com os seguintes (Figura 1). Na avaliação da nocicepção foi possível observar, com o teste de incapacidade funcional, que a corrente catódica não produziu diminuição do quadro nociceptivo de forma significativa. Em nenhum momento de avaliação posterior ao AV1 houve restauração dos valores. Também não houve diminuição 50 Protocolo de tratamento 222 30 TEP (s) 20 10 AV 5 AV 4 AV 3 AV 2 0 AV 1 No terceiro dia PO deu-se início ao tratamento, de forma diária, por 10 dias seguidos, por 20 min cada terapia, utilizando-se o equipamento de alta voltagem Neurodyn High Volt, da marca IBRAMED®, com certificado de calibração válido para o período da pesquisa. Para a aplicação da corrente de alta voltagem, especificamente sobre a incisão cirúrgica, os animais foram anestesiados e posicionados em decúbito lateral esquerdo. Os eletrodos utilizados eram de borracha-silicone, e foram posicionados sobre a região da incisão cirúrgica e na região lombar dos animais. O eletrodo ativo (local da cirurgia) tinha 1 cm2, e o eletrodo passivo (região lombar) tinha 4 cm2 de área. A intensidade da corrente era aumentada até que se observasse contração muscular – então, era reduzida em 10% desse valor, produzindo, assim, estimulação apenas no nível sensitivo. A frequência utilizada foi de 50 Hz. 40 Momentos de avaliação – Controle Figura 1 Avaliação do teste de incapacidade funcional para o grupo simulacro, com os valores de tempo de elevação da pata para os diferentes momentos de avaliação (AV). *Diferença estatisticamente significativa ao comparar com os valores de AV1. Rev Bras Reumatol 2012;52(2):214-226 Uso da corrente catódica de alta voltagem sobre a dor em compressão nervosa experimental 600 400 Pressão local (g) significativa ao comparar o AV2 (momento prévio à primeira terapia) com os momentos seguintes, ou em comparação com o GS. Ou seja, a funcionalidade permaneceu prejudicada pelo aumento da nocicepção, percebida pelo animal devido à ciatalgia experimental (Figura 2). Não houve variação significativa na comparação entre o GS e o GP- nos diferentes momentos de avaliação. 200 50 AV 5 AV 4 Momentos de avaliação – Controle 30 TEP (s) AV 3 AV 1 40 AV 2 0 Figura 3 Avaliação da pressão na região da compressão nervosa para os diferentes momentos de avaliação (AV) do grupo simulacro. 20 10 *Variação estatisticamente significativa ao comparar com AV1. AV 5 AV 4 AV 3 AV 2 AV 1 0 1500 Momentos de avaliação – Corrente catódica *Diferença estatisticamente significativa ao comparar com os valores de AV1. 1000 Pressão local (g) Figura 2 Avaliação do teste de incapacidade funcional para o grupo de corrente catódica, com os valores de tempo de elevação da pata para os diferentes momentos de avaliação (AV). 500 Avaliação do limiar de retirada Rev Bras Reumatol 2012;52(2):214-226 AV 5 AV 4 AV 3 AV 2 AV 1 0 A avaliação do limiar nociceptivo à pressão mostrou diminuição do limiar de retirada para ambos os grupos – ao comparar os valores pré-cirurgia (AV1) com os valores pré-tratamento no terceiro PO (AV2), houve redução de forma significativa, fato que permaneceu após a primeira terapia (AV3). No entanto, o GP- (Figura 3) apresentou restauração dos valores iniciais nas avaliações posteriores à quinta e décima terapias, fato não observado para o GS (Figura 4), que continuou diferente estatisticamente em relação ao AV1. Além disso, o AV5, no GP-, apresentou diferença significativa em comparação com o AV2, demonstrando aumento significativo do limiar nociceptivo à pressão. Na comparação entre GS e GP- nos diferentes momentos de avaliação, foi possível observar que não houve diferença significativa de AV1 até AV4, com diferença significativa apenas na comparação entre os dois grupos para AV5. Momentos de avaliação – Corrente catódica Figura 4 Avaliação da pressão na região da compressão nervosa para os diferentes momentos de avaliação (AV) do grupo de corrente catódica. *Variação estatisticamente significativa ao comparar com AV1. θ Variação estatisticamente significativa ao comparar com AV2. DISCUSSÃO Visto que o nervo isquiático é o maior nervo do corpo humano e está sujeito a diversos tipos de lesões, como esmagamento, transecção, estiramento e congelamento, tornam-se 223 Bertolini et al. importantes os estudos que investigam métodos para o tratamento do mesmo quando exposto a lesões. Modelos experimentais de compressão nervosa em ratos são utilizados devido à sua semelhança com o nervo de humanos.15 É preciso levar em consideração também que experimentos com animais, além de gerar conhecimento, podem ser reprodutíveis e servem como fonte valiosa de informações para a saúde em geral – experimentos com medidas comportamentais de dor neuropática em animais estão se tornando cada vez mais comuns.11 Neste estudo optou-se pelo modelo de compressão nervosa descrito por Bennett e Xie,12 que reproduz a sintomatologia da ciatalgia visando a avaliar o efeito da corrente de alta voltagem, com uso do polo negativo atuando como polo ativo (corrente catódica) sobre a evolução da nocicepção, com dois diferentes estímulos – um funcional e um pressórico. Vale salientar que a nocicepção é definida como "resposta a estímulos potencialmente capazes de lesar tecidos”.16 Assim, o processo de nocicepção tem por finalidade detectar estímulos de dano presente ou potencial.17 De acordo com Sandercock et al.,18 alterações no limiar mecânico nociceptivo podem demonstrar hiperalgesia primária ou redução da mesma – ou seja, o aumento do limiar mecânico pode demonstrar a diminuição do quadro de hiperalgesia. O sistema nociceptivo existe para concentrar atenção em um estímulo perigoso, iniciar uma resposta de fuga ou suprimir esses reflexos para permitir uma resposta motora mais bem organizada. O estímulo doloroso é transmitido da periferia para a medula espinhal e para o tronco cerebral por fibras pequenas mielinizadas Aδ e fibras C amielínicas. As primeiras fibras recrutadas são de alto limiar, e as fibras Aδ transmitem a “primeira dor”, percebida como claramente localizada e discriminada por sua duração, proporcional à aplicação do estímulo doloroso. No caso de estímulos mais intensos, a ativação de nociceptores polimodais promove um espalhamento desagradável e persistente da sensação dolorosa, com maior duração que a dor aguda e com ligeiro atraso no início. Essa “segunda dor” é associada a características afetivas e aspectos motivacionais, e pode tornar-se proeminente durante o curso de dor crônica.16 As avaliações mostraram que houve aumento da nocicepção no terceiro PO para os dois grupos, pois os valores tanto do TEP quanto da pressão necessária para a retirada do membro apresentaram diferença significativa com relação aos valores iniciais. Segundo Bertolini et al.,19 em animais submetidos ao modelo de compressão nervosa os valores do TEP são maiores que 10 s, levando-se em consideração que para animais sem aumento da nocicepção esperam-se valores próximos a 10 s.14 Tal fato vai de encontro ao observado neste estudo para os dois grupos. 224 No teste de incapacidade funcional foi possível observar que a corrente catódica não produziu diminuição do quadro nociceptivo. Ou seja, os animais continuaram claudicando devido ao aumento da nocicepção percebida em razão da ciatalgia experimental, indicando que o TEP, apesar de utilizado em outros estudos para analisar a dor neuropática do isquiático,19,20 tem menor sensibilidade a pequenas variações, como a avaliação por pressão local. Resultado idêntico foi encontrado quando utilizada metodologia semelhante de lesão, porém com tratamento com corrente de alta voltagem anódica.20 De acordo com Bennett e Xie,12 os animais apresentam, após o modelo de compressão do nervo isquiático, claudicação da pata submetida à cirurgia. Tanto humanos quanto animais tendem a apresentar a disfunção no uso do membro lesado. Bennett21 relata que o aumento da nocicepção nos animais inicia a partir do segundo PO, atingindo seu máximo por volta do 10º ao 14º dias. Assim, no presente estudo foram avaliados a nocicepção e o efeito do tratamento a partir do terceiro PO, compreendendo um período no qual a literatura aponta haver diminuição do limiar nociceptivo. Tais alterações foram analisadas neste estudo, refletindo diretamente no contato da pata com o solo, o que foi observado nos testes antes e após a cirurgia. Em ambos os grupos houve diminuição do limiar nociceptivo à pressão. Tal diminuição se manteve para o GS, enquanto para o GP- houve aumento significativo dos valores após a quinta e a décima terapias, apontando que, se não houve restauração de valores, ao menos o limiar que estava baixo no terceiro PO aumentou na comparação com o oitavo e o 13º PO. Essa diferença entre os grupos ficou evidente na comparação entre ambos em AV5, pois o GP- apresentou limiar nociceptivo mais alto, indicando efeito somatório analgésico da corrente. Deve-se levar em consideração que os animais eram avaliados somente depois de se recuperarem da anestesia, e que também não foi observada analgesia após a primeira terapia, havendo, assim, necessidade de somação de terapias. Ou seja, prováveis efeitos analgésicos, como a teoria das comportas, ou o bloqueio da condução nervosa, podem ser descartados como causa da redução da nocicepção aqui encontrada.22 A corrente de alta voltagem tem, em diversos trabalhos, apresentado efeitos positivos quando utilizada com estimulação de corrente catódica.23–27 O presente estudo teve por objetivo, portanto, avaliar o uso dessa corrente sobre a nocicepção de animais submetidos à ciatalgia experimental, tanto com avaliação funcional quanto com avaliação por pressão local. Segundo Davini et al.,13 há evidências de que a corrente de alta voltagem possa reduzir o quadro álgico. Porém, ainda Rev Bras Reumatol 2012;52(2):214-226 Uso da corrente catódica de alta voltagem sobre a dor em compressão nervosa experimental são necessários mais estudos relacionados ao uso da corrente de alta voltagem em casos de ciatalgia, experimental ou em casos clínicos, e até mesmo com relação à analgesia em modelos experimentais. Stralka et al.28 utilizaram alta voltagem em indivíduos com lesões por esforços repetitivos e observaram que, além da redução do edema e do ganho de força, houve diminuição da dor. No entanto, Holcomb et al.,29 utilizando a corrente de alta voltagem catódica para inibir o estímulo doloroso da eletroestimulação neuromuscular, possibilitando, assim, maior intensidade de corrente e consequentemente maior torque muscular, não observaram resposta neuromuscular facilitada. Vale ressaltar que o estudo trabalhou com indivíduos saudáveis, ou seja, que não apresentavam qualquer doença capaz de induzir a dor – o que os autores desejavam era a alteração no limiar da percepção dolorosa. É possível inferir que prováveis efeitos anti-inflamatórios da corrente tenham ocorrido, como aumento do fluxo linfático,30 redução de edema23–27 e aceleração do reparo tecidual.31 Tais efeitos podem ter auxiliado na remoção de substâncias álgicas e na redução na estase, favorecendo um possível efeito analgésico da corrente, porém não suficiente para melhorar uma prova funcional, como o TEP. Ressalta-se, como limitações técnicas do presente estudo, a ausência de avaliação dos parâmetros histológicos ou eletrofisiológicos, o que aprofundaria as respostas sobre os mecanismos de efeitos, deixando-se essas sugestões para futuras pesquisas. Além disso, sugere-se também comparar a eletroestimulação com corrente de alta voltagem a outras formas já estabelecidas para tratamento de ciatalgia, como anti-inflamatórios não hormonais, por exemplo. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. CONCLUSÃO Com base nos resultados encontrados e na metodologia utilizada, conclui-se que não houve redução da nocicepção, favorecendo a função do animal. Contudo, o limiar nociceptivo à pressão foi reduzido de forma significativa, após cinco e 10 dias de terapia. 16. 17. 18. REFERENCES REFERÊNCIAS 1. 2. Atlas SJ, Tosteson TD, Blood EA, Skinner JS, Pransky GS, Weinstein JN. The impact of workers’ compensation on outcomes of surgical and nonoperative therapy for patients with a lumbar disc herniation: SPORT. Spine 2010; 35(1):89–97. Hayden JA, Chou R, Hogg-Johnson S, Bombardier C. Systematic reviews of low back pain prognosis had variable methods and results guidance for future prognosis reviews. J Clin Epidemiol 2009; 62(8):781–96. Rev Bras Reumatol 2012;52(2):214-226 19. 20. 21. Konstantinou K, Dunn KM. Sciatica: review of epidemiological studies and prevalence estimates. Spine 2008; 33(22):2464–72. Campbell JN, Meyer RA. Mechanisms of neuropathic pain. Neuron 2006; 52(1):77–92. 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Rev Bras Reumatol 2012;52(2):214-226 ARTIGO ORIGINAL Comprometimento da árvore respiratória na granulomatose de Wegener Ascedio Jose Rodrigues1, Marcia Jacomelli2, Renata Xavier Baldow3, Carmen Valente Barbas4, Viviane Rossi Figueiredo5 RESUMO Introdução: A granulomatose de Wegener (GW) é uma forma de vasculite sistêmica que envolve primariamente as vias aéreas superiores e inferiores e os rins. As manifestações mais frequentes nas vias aéreas são estenose subglótica e inflamações, estenoses da traqueia e dos brônquios. A visualização endoscópica das vias aéreas é a melhor ferramenta para avaliação, diagnóstico e manejo dessas alterações. Objetivos: Descrever as alterações endoscópicas encontradas na mucosa das vias aéreas de um grupo de pacientes com GW submetido à broncoscopia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) e relatar as intervenções terapêuticas broncoscópicas utilizadas em alguns casos. Métodos: Foram estudados 15 pacientes com diagnóstico de GW provenientes do Ambulatório de Vasculites da Disciplina de Pneumologia do HC-FMUSP, encaminhados para a realização de broncoscopia no serviço de Endoscopia Respiratória do HC-FMUSP no período de 2003 a 2007. Resultados: Dos 15 pacientes avaliados, 11 eram mulheres (73,33%) com idade média de 34 ± 11,5 anos. Foram encontradas alterações das vias aéreas em 80% dos pacientes, e o achado endoscópico mais frequente foi estenose subglótica (n = 6). Realizou-se broncoscopia terapêutica em três pacientes com estenose subglótica e em outros três com estenose brônquica, todos apresentando bons resultados. Conclusão: A broncoscopia permite diagnóstico, acompanhamento e tratamento das lesões de vias aéreas na GW, constituindo-se um recurso terapêutico pouco invasivo em casos selecionados. Palavras-chave: granulomatose de Wegener, estenose traqueal, laringoestenose, broncoscopia. © 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. INTRODUÇÃO Inicialmente descrita em 1936,1 a granulomatose de Wegener (GW) é caracterizada por inflamação granulomatosa e vasculite necrosante que afetam predominantemente pequenas artérias, arteríolas, capilares e vênulas das vias aéreas superiores e inferiores e dos rins.2,3 O envolvimento das vias aéreas é uma das principais características da GW, e ocorre em 15%–55% dos pacientes.4–7 Os sintomas incluem tosse, hemoptise, estridor, sibilos e dispneia.7,8 As manifestações da GW no sistema respiratório incluem estenose nasal, necrose de cartilagem nasal, estenose subglótica, estenose da traqueia e dos brônquios, nódulos e massas granulomatosas, infiltrados alveolares e cavitações.9,10 Pode haver, ainda, acometimento cutâneo, musculoesquelético e ocular. Lesões cardíacas e do sistema nervoso central são mais raras. Laboratorialmente, a análise do sedimento urinário com hematúria e cilindros hemáticos indica lesão renal associada. Na vigência de doença generalizada em atividade, o ANCA-c tem sensibilidade de 90%–95% e especificidade de 90%. O ANCA-p pode estar presente em 20% dos casos. Provas de atividade inflamatória devem estar elevadas. Nos casos de ANCA-c negativo e dúvida diagnóstica, deve-se tentar biópsia tecidual. Apesar da Recebido em 12/07/2011. Aprovado, após revisão, em 14/12/2011. Os autores declaram a inexistência de conflito de interesse. Comitê de Ética: 341/2011. Serviço de Endoscopia Respiratória do Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo – HC-FMUSP. 1. Médico-Assistente do Serviço de Endoscopia Respiratória do Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo – HC-FMUSP 2. Doutora em Pneumologia, FMUSP; Médica-Assistente do Serviço de Endoscopia Respiratória do Hospital das Clínicas, HC-FMUSP 3. Médica-Estagiária do Serviço de Endoscopia Respiratória do Hospital das Clínicas, HC-FMUSP 4. Doutora em Pneumologia, FMUSP; Médica-Assistente do Serviço de Pneumologia do Hospital das Clínicas, HC-FMUSP 5. Doutora em Pneumologia, FMUSP; Médica Diretora do Serviço de Endoscopia Respiratória do Hospital das Clínicas, HC-FMUSP Correspondência para: Ascedio Jose Rodrigues. Serviço de Endoscopia Respiratória HC-FMUSP. Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 255 – Cerqueira César. Prédio dos Ambulatórios, 6º andar – bl.3. CEP: 05017-000. São Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected] Rev Bras Reumatol 2012;52(2):227-235 231 Rodrigues et al. menor sensibilidade, as biópsias das lesões cutâneas e das vias aéreas superiores devem preceder a pulmonar, por serem menos invasivas. No caso de acometimento renal, a biópsia dos rins evidencia glomerulonefrite focal necrosante pauci-imune. 2,3 Os achados radiológicos mais frequentes são infiltrados pulmonares (67%) e nódulos (58%) – estes geralmente múltiplos, bilaterais e com cavitação em cerca de 50% dos casos. A tomografia computadorizada de tórax revela infiltrados e nódulos não observados na radiografia convencional em 43%–63% dos pacientes. Áreas de consolidação e vidro fosco são vistos em até 50% dos casos e podem seguir diversos padrões, dentre os quais destacam-se: consolidação com distribuição peribrônquica, consolidação focal com ou sem cavitação, bandas parenquimatosas, áreas de consolidação periférica mimetizando infartos pulmonares e áreas de vidro fosco difusas e bilaterais, em geral representando hemorragia alveolar. Manifestações menos frequentes incluem derrame pleural (5%–20%), massas mediastinais e aumento de linfonodos, em geral associados a infiltrados parenquimatosos.2,3 A endoscopia respiratória permite avaliação, diagnóstico e tratamento minimamente invasivo de algumas alterações das vias aéreas na GW. Nosso trabalho teve como objetivos descrever as alterações endoscópicas encontradas nas vias aéreas de um grupo de pacientes com GW submetido à broncoscopia em nosso serviço, e relatar as intervenções terapêuticas broncoscópicas utilizadas em alguns casos. MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética Médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – HC-FMUSP. Avaliamos retrospectivamente os prontuários de pacientes com diagnóstico de GW (baseado nos critérios clínicos, radiológicos, sorológicos e anatomopatológicos propostos pelo American College of Rheumatology) provenientes do Ambulatório de Vasculites da Disciplina de Pneumologia do HC-FMUSP, encaminhados para a realização de broncoscopia no Serviço de Endoscopia respiratória do HC-FMUSP no período de 2003 a 2007. As principais indicações para o procedimento endoscópico foram dispneia persistente ou progressiva, investigação de infiltrado pulmonar e hemoptise. Todos os pacientes foram submetidos à broncoscopia flexível com broncoscópio de 5 mm e canal de trabalho de 232 2,0 mm (Olympus, P20D), sob sedação endovenosa com midazolam e fentanila, anestesia tópica com lidocaína 1%, oxigênio suplementar e monitoração de saturação de oxigênio na hemoglobina. Foram avaliadas as cavidades nasais, a laringe e a árvore traqueobrônquica. Os pacientes com indicação de tratamento endoscópico foram submetidos à broncoscopia terapêutica sob anestesia geral e receberam acompanhamento mensal até a resolução ou a estabilidade do quadro, quando então foram avaliados apenas clinicamente. Laringoscopia de suspensão e sondas metálicas foram utilizadas para dilatação das estenoses subglóticas. As estenoses brônquicas foram dilatadas com sondas metálicas e cateter-balão. A análise estatística foi realizada utilizando-se o programa SPSS versão 12.0, e a estatística descritiva deu-se por meio da distribuição de frequências. As variáveis contínuas foram expressas como média ± desvio-padrão (SD), e as variáveis categóricas, em porcentagens. RESULTADOS Foram avaliados 15 pacientes com diagnóstico de GW, dos quais 11 eram mulheres e quatro eram homens, com média de idade 34 ± 11,5 anos. A Tabela 1 apresenta a frequência e as características das lesões de via aérea. Nas cavidades nasais houve ocorrência de destruição nasal completa com áreas extensas de necrose em cinco casos (33,3 %), inflamação intensa da mucosa em quatro casos (26,7%) e estenose bilateral de fossas nasais, tratada com dilatação e colocação de prótese nasal de silicone em apenas um caso (6,7%). Na laringe, a estenose subglótica foi a alteração mais frequente (n = 6, 40%). Um paciente foi submetido a três sessões de dilatação mecânica com injeção de corticosteroide intralesional (dexametasona 2 mg), com resolução completa da estenose nas avaliações endoscópicas posteriores. Dois pacientes com estenoses subglóticas complexas, refratárias ao tratamento com dilatações mecânicas com sondas metálicas de Chevalier Jackson, receberam endopróteses de silicone, um Dumon e um tubo T de Montgomery. Os demais pacientes apresentaram inflamação de mucosa (n = 1) e ulceração (n = 2). Na árvore traqueobrônquica, a manifestação mais comum em nossos pacientes foi a inflamação. Quatro pacientes (26,7%) apresentavam áreas de edema e eritema, dilatação de ductos glandulares e atrofia de mucosa; quatro (26,7%) Rev Bras Reumatol 2012;52(2):227-235 Comprometimento da árvore respiratória na granulomatose de Wegener encontravam-se com processo inflamatório exuberante da mucosa brônquica, áreas de ulceração difusa e lesões elevadas descritas como “pedra de calçamento”. Observou-se estenose brônquica em três casos (20%), que foram tratados com dilatação mecânica com sondas metálicas tipo olivas (Figuras 1–3). Uma paciente realizou dilatação brônquica complementar com cateter-balão de um subsegmento brônquico do lobo inferior direito. Tabela 1 Frequência e características das lesões de via aérea Localização da lesão Cavidades nasais Característica da lesão (n = 15) Frequência (%) Normal Destruição nasal/necrose Inflamação Estenose n = 5 (33,3) n = 5 (33,3) n = 4 (26,7) n = 1 (6,7) Laringe Normal Estenose da subglote Ulceração Inflamação n = 6 (40) n = 6 (40) n = 2 (13,3) n = 1 (6,6) Árvore traqueobrônquica Normal Edema e eritema da mucosa Ulceração/pedra em calçamento Estenose brônquica Cavitação brônquica n = 3 (20) n = 4 (26,7) n = 4 (26,7) n = 3 (20) n = 1 (6,6) Figura 2 Estenose subglótica. Figura 3 Estenose subglótica após dilatação com sonda metálica. DISCUSSÃO Figura 1 Estenose brônquica dilatada com cateter-balão com abertura do pertuito, permitindo bom fluxo aéreo. Rev Bras Reumatol 2012;52(2):227-235 O comprometimento da mucosa respiratória pode ocorrer em toda a extensão das vias aéreas superiores e inferiores em 15%–55% dos pacientes com GW.4–7 Em aproximadamente 25% dos casos de GW o envolvimento das vias aéreas pode ser a única manifestação da doença.11 233 Rodrigues et al. Pacientes jovens, com idade inferior a 30 anos, são mais propensos a apresentar manifestações nas vias aéreas.12 A idade média dos nossos pacientes foi de 34 ± 11,5 anos. Essas manifestações também são mais observadas em mulheres,6,13 concordando com nossa casuística, na qual 73,3% dos pacientes eram do gênero feminino. A endoscopia respiratória auxilia no diagnóstico e no acompanhamento dessas alterações, possibilitando também, por meio da broncoscopia terapêutica, o restabelecimento da patência funcional das vias aéreas.14 As cavidades nasais merecem especial atenção, pois estão frequentemente comprometidas nos pacientes com GW. Em nosso grupo, 10 pacientes apresentavam algum tipo de lesão nasal (66,7% dos casos). Fauci et al.15 encontraram anormalidades endobrônquicas em 12 (15%) de 80 pacientes com GW e doença pulmonar. Cordier et al.7 encontraram anormalidades endobrônquicas ou hemorragia em 41 (55%) de 74 pacientes com GW. A estenose subglótica foi a manifestação mais encontrada em nossa casuística (n = 6; 40%), o que é compatível com a literatura.14,16,17 A estenose cicatricial fibrótica encontrada na GW não responde à terapia imunossupressora,18 e o tratamento endoscópico é uma boa alternativa. Outras causas de estenose subglótica devem ser afastadas, como pós-intubação, pós-infecciosa e outras doenças sistêmicas, como Crohn, sarcoidose e Behçet.19,20 Nosso estudo encontrou inflamação das vias aéreas inferiores em quatro casos (26,7%), ulceração e mucosa em “pedras de calçamento” na árvore traqueobrônquica em outros quatro (26,7%) e estenose brônquica em mais três casos (20%). Injeção intralesional de corticosteroides, dilatação por balão, dilatação por sondas metálicas, laser, endoprótese, traqueostomia, ressecção cirúrgica e reanastomose são opções no tratamento das estenoses.8,16,18,21–27 Na série de Gluth et al.,5 dos 27 pacientes com GW e estenose subglótica, 11 (40,7%) sofreram traqueostomia e 13 (48,1%) necessitaram de múltiplos procedimentos cirúrgicos. O diagnóstico endoscópico das estenoses laringotraqueobrônquicas permite, em alguns casos, tratamento minimamente invasivo como alternativa para o tratamento cirúrgico. Em nossa casuística, todas as estenoses foram tratadas endoscopicamente: uma estenose subglótica com dilatação mecânica por sondas metálicas e injeção de corticosteroide intralesional, com resolução completa da estenose; duas estenoses subglóticas complexas com tratamento endoscópico com dilatação mecânica por sondas metálicas e colocação de endopróteses; e três estenoses brônquicas dilatadas com sondas metálicas do tipo olivas, das quais uma 234 necessitou de dilatação complementar com cateter-balão por ser subsegmentar. Não houve complicações relacionadas com o procedimento de dilatação. Todos os pacientes ficaram em observação na recuperação anestésica, e foram dispensados após duas horas. A principal limitação do estudo é que todos os pacientes incluídos apresentavam indicação de avaliação endoscópica, principalmente por dispneia progressiva ou persistente. A ausência de pacientes com GW sem sintomas respiratórios nos impede de explorar os resultados para todos os pacientes com GW. A GW pode acarretar alterações em qualquer segmento das vias aéreas do paciente, incluindo inflamação, ulceração, pseudomembranas, traqueobroncomalácia, destruição de cartilagens, massas endobrônquicas e estenoses laringotraqueobrônquicas. A endoscopia respiratória permite o diagnóstico e o tratamento de diversas manifestações de modo minimamente invasivo, evitando procedimentos cirúrgicos. REFERENCES REFERÊNCIAS 1. Wegener F. 50 years of Wegener’s granulomatosis. Immun Infekt 1990; 18(1):11–9. 2. See CQ, Jaffe HA, Schraufnagel DE. Dyspnea and hemoptysis develop in a young man with prostatitis. Chest 2005; 128(5):3625–8. 3. Hoffman GS, Kerr GS, Leavitt RY, Hallahan CW, Lebovics RS, Travis WD et al. Wegener granulomatosis: an analysis of 158 patients. Ann Int Med 1992; 116(6):488–98. 4. Daum TE, Specks U, Colby TV, Edell ES, Brutinel MW, Prakash UB et al. 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Pacientes e métodos: Pacientes com menos de 18 anos e diagnóstico de febre reumática, entre 1986 e 2007, foram avaliados retrospectivamente a partir da última consulta, para análise descritiva e de sobrevida, estimando-se a probabilidade de cardite e de recorrência. Resultados: Dos 178 casos identificados, 134 foram incluídos. Desses, durante a fase aguda, 66,4% apresentaram poliartrite, 56,8% cardite, 28,6% coreia, 1,5% nódulos subcutâneos e 1,5% eritema marginado; cardite foi associada com poliartrite em 40%. Cardite e coreia predominaram no gênero feminino. Antiestreptolisina-O elevada ocorreu em 58,3% dos pacientes, e história familiar de febre reumática em 14,5%. O tempo de seguimento foi em média 6,8 anos (variando de 1,1 a 16,9 anos). Houve recorrência em 15% dos pacientes, hospitalização durante a fase aguda em 27,6%, e descontinuidade de seguimento em 47,4%, após 5,1 anos em média. As probabilidades de cardite e de recorrência foram 17,5% e 13,2%, respectivamente, após cinco anos do surto inicial. Conclusão: Observou-se maior risco de evolução com cardite e de recorrências de febre reumática nos primeiros cinco anos. A descontinuidade de seguimento foi frequente, indicando serem necessárias medidas para melhorar a adesão à profilaxia e ao seguimento. Palavras-chave: artrite, coreia, avaliação de resultados (cuidados de saúde), febre reumática. © 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. INTRODUÇÃO A febre reumática (FR) é um distúrbio inflamatório multissistêmico, que se apresenta com artrite migratória autolimitada. Também pode ser acompanhada ou seguida por cardite e, menos frequentemente, por coreia e envolvimento cutâneo. Encontrase relacionada a mecanismos autoimunes pós-infecciosos direcionados aos antígenos estreptocócicos do grupo A. Seu diagnóstico baseia-se principalmente nos critérios de Jones, que combinam sinais maiores e menores à apresentação. Não existe um único biomarcador da doença, e seu curso caracteriza-se por recorrência após reexposição aos antígenos estreptocócicos.1–6 Não há um fator preditivo de desfecho claro, e a adesão à profilaxia de longo prazo com penicilina é ainda um desafio. Estima-se que a cardite possa ocorrer em até 60% dos casos.5,6 A doença valvular reumática pode ser causada por apenas um surto grave, mas com frequência relaciona-se a surtos recorrentes. No entanto, os riscos de recaída devem ser considerados até para as formas leves de FR. A penicilina é prescrita para o surto inicial e para profilaxia de novos surtos; o seguimento atento é atualmente recomendado por consenso de especialistas.1,5–7 A penicilina benzatina de ação prolongada é o tratamento indicado, e a primeira dose deve ser prescrita por ocasião do diagnóstico, seguindo-se novas doses a cada três semanas, com dosagem apropriada à idade, de acordo com as diretrizes da OMS5,6 e do comitê multidisciplinar brasileiro de especialistas.7 A duração da profilaxia com penicilina ainda é controversa – de acordo Recebido em 23/08/2011. Aprovado, após revisão, em 14/12/2011. Os autores declaram a inexistência de conflito de interesse. Suporte Financeiro: CNPQ (Research scholarship 301644/2010-1 para C Saad Magalhães). Comitê de Ética: 142-08. Departamento de Pediatria, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista – UNESP. 1. Mestre em Saúde Coletiva, Universidade Estadual Paulista – UNESP; Reumatologista Pediátrica, UNESP 2. Professora-Assistente Doutora em Epidemiologia, UNESP 3. Professor-Associado de Bioestatística, UNESP 4. Professora-Associada de Reumatologia Pediátrica, UNESP Correspondência para: Claudia Saad Magalhães. Unidade de Reumatologia Pediátrica, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista – UNESP. Distrito Rubião Júnior, Anexo Azul. CEP: 18618-970. Botucatu, SP, Brasil. E-mail: [email protected] Rev Bras Reumatol 2012;52(2):236-246 241 Carvalho et al. com diretrizes atuais do comitê multidisciplinar brasileiro de especialistas, pode variar de um mínimo de cinco anos até 25 anos, ou ainda durar toda a vida, dependendo do risco de recorrência.7 A adesão à profilaxia com penicilina é uma preocupação importante nas camadas da população de menor nível socioeconômico.8 Recomenda-se seguimento cuidadoso para que se mantenham registros atualizados da prescrição de penicilina por meio de preenchimento de prescrição em calendários preestabelecidos, uma prática comum na maioria das clínicas especializadas. A FR causa grande impacto no sistema de saúde devido à cardite e ao dano cardíaco. Os custos do tratamento são altos, como estimado por Terreri et al.9 em uma população urbana brasileira, devido a medicação, consultas clínicas, internações hospitalares e ausência no trabalho por parte dos pacientes ou de seus responsáveis. O diagnóstico preciso da FR depende da experiência do médico-assistente ou do especialista. Sua incidência após a industrialização declinou na maioria dos países desenvolvidos, mas a FR ainda é endêmica em países em desenvolvimento.5,6 Há muitos fatores sociais e geográficos envolvidos em sua epidemiologia – portanto, faz-se necessária a avaliação periódica do desfecho. O objetivo deste estudo foi examinar o perfil de apresentação, a sobreposição de características clínicas e os desfechos em uma série de casos de uma clínica especializada ao longo dos últimos 20 anos. PACIENTES E MÉTODOS Dos 178 casos diagnosticados entre 1986 e 2007, 134 foram selecionados e examinados retrospectivamente da primeira até a última consulta clínica. A revisão de casos notificados foi realizada por um investigador treinado (SMC), utilizando um formulário padrão de relato de caso. Os critérios de inclusão foram: diagnósticos estabelecidos com base nos critérios de Jones4 para o primeiro surto e recorrências, idade inferior a 18 anos, seguimento regular por pelo menos um ano, e avaliação clínica completa em todas as consultas. Todos os casos foram acompanhados por um dos autores (CSM). Os critérios de exclusão foram idade superior a 18 anos, artrite crônica presente e seguimento inferior a um ano. Após a seleção dos casos, realizou-se revisão abrangente das consultas clínicas, das internações hospitalares e do tempo de recorrência. Durante todas as consultas de seguimento, as evidências de disfunção cardíaca foram registradas por meio de avaliação tanto clínica quanto ecocardiográfica. Dados descritivos demográficos e clínicos, incluindo os exames laboratoriais e as variáveis de desfecho, 242 são apresentados como frequência para as variáveis categóricas e como estatística descritiva para as variáveis contínuas. As probabilidades de recorrência e de cardite foram examinadas por análise atuarial de sobrevida, com intervalo de censura de um ano. Os eventos estudados na análise de sobrevida foram documentação de evidência clínica de recorrência por meio de surto recente de FR ou evidência clínica e/ou ecocardiográfica de cardite, todos observados na ocasião do diagnóstico e nas consultas de seguimento e ajustadas para intervalos de um ano.10 O protocolo foi aprovado pelo Comitê de Ética institucional (protocolo nº 142/08 de 5 de maio de 2008), e o termo de consentimento livre e esclarecido foi assinado pelos pais ou pelos próprios pacientes, quando aplicável. RESULTADOS Pacientes Dos 178 pacientes identificados, 134 foram selecionados. Quarenta e quatro foram excluídos: 39 devido a falta de dados médicos, três devido a seguimento inferior a um ano, e dois que desenvolveram artrite crônica, tendo sido diagnosticados com artrite juvenil idiopática concomitante. A proporção de casos diagnosticados nos primeiros 10 anos foi de 86 (64%), e nos últimos 10 anos foi de 48 (36%). Os pacientes foram encaminhados de 41 cidades do estado de São Paulo. A idade de início variou de 4–14 anos (mediana 9,5 anos). A distribuição por gênero foi de 65 mulheres (48,5%) e 69 homens (51,5%). História familiar de FR foi descrita em 17 pacientes (14,5%). Os diagnósticos foram confirmados pela recuperação de dados clínicos e laboratoriais no formulário de relato de caso. A frequência de sinais maiores e menores no início está apresentada na Tabela 1. Em 22 pacientes (17%) havia registro de infecção de trato respiratório superior nas duas semanas que antecederam o diagnóstico. Em 37 pacientes (28%) havia registro de internação hospitalar durante surto inicial ou recorrência. Houve concomitância dos seguintes achados: artrite e cardite em 52 pacientes (40%), coreia e cardite em 14 (11%), coreia e artrite em seis (4,5%), e coreia concomitante a artrite e cardite em apenas dois pacientes (1,5%). A apresentação de apenas um sinal maior foi como se segue: a chamada poliartrite isolada, em 31 pacientes (23%); coreia isolada em 16 (12%); e cardite isolada em sete (5%). Nódulos subcutâneos foram observados em dois pacientes (1,5%), e eritema marginado em outros dois (1,5%) – todos eles tinham cardite concomitante. Sinais maiores isolados foram acompanhados por pelo menos dois sinais menores, e todos os casos satisfizeram aos critérios de Jones.4 Rev Bras Reumatol 2012;52(2):236-246 Apresentação e desfecho da febre reumática em uma série de casos Tabela 1 Frequência de sinais maiores e menores durante apresentação de febre reumática Sinal Sinal/registros§ Frequência Febre 60/131 45,8% Artralgia 43/130 33,1% Artrite 87/131 66,4% Cardite 75/132 56,8% Coreia 38/133 28,6% Nódulos subcutâneos 2/133 1,5% Eritema marginado 2/132 1,5% Aumento do intervalo P-R no eletrocardiograma 1/72 1,4% Altos títulos de antiestreptolisina-O 71/121 58,7% Altos títulos de proteína C-reativa 56/122 45,9% Alta velocidade de hemossedimentação 74/127 58,3% § Porcentagem corrigida para a falta de dados. Elevação da velocidade de hemossedimentação e dos níveis de proteína C-reativa foram observados em 58% (74 de 127) e 46% (56 de 122) dos pacientes, respectivamente. Títulos de antiestreptolisina-O superiores a 320 IU/mL foram encontrados em 71 de 121 pacientes (58%), tendo variado de 320 a 4.370 IU/mL (mediana 722 IU/mL). A descrição completa de um padrão de artrite foi observada em 80 das 131 notificações de casos. Ela foi migratória em 58 pacientes (67%) e aditiva em 22 (25%). Com relação à primeira articulação afetada, observou-se o seguinte: tornozelo, 30 pacientes (37%); joelho, 24 (30%); quadril, nove (11%); punho, seis (7,4%); ombro, cinco (6,2%); e cotovelo, seis pacientes (5%). No geral, o número de articulações com artrite variou de 3–20, e a duração da artrite variou de 1–123 dias (mediana de seis dias, com variação interquartil de duração da artrite de 2–20). Apenas dois pacientes apresentaram artrite prolongada (83 e 123 dias). Considerando-se todo o curso da doença, diagnosticou-se cardite em 75 pacientes: 53 mulheres (71%) e 22 homens (30%). Todos foram avaliados por um cardiologista pelo menos uma vez. Por ocasião do diagnóstico, 61 pacientes (81%) submeteram-se a avaliação ecocardiográfica. Nesses, insuficiência mitral foi diagnosticada em 45 (74%), insuficiência aórtica em um (1,6%), e estenose aórtica em um (1,6%) – 14 pacientes (23%) apresentavam exames normais. Entre aqueles com cardite aguda, 13 (17%) tinham insuficiência cardíaca congestiva. No único paciente com diagnóstico de Rev Bras Reumatol 2012;52(2):236-246 estenose aórtica, suspeitou-se de valvulopatia congênita; no entanto, não havia avaliação prévia desse paciente. Durante o seguimento, 85 pacientes fizeram um ou mais ecocardiogramas. Sopro persistente e anormalidade ecocardiográfica foram considerados para o escore do “evento” cardite na análise de sobrevida. A coreia predominou nas meninas, afetando 24 (63%) das 38 pacientes. A duração do surto de coreia variou de duas semanas a 1,4 anos (mediana 3,3 meses). Os seguintes sintomas foram apresentados: movimentos involuntários de extremidades em 36 pacientes (95%), disartria em 26 (68%), distúrbios da caligrafia em 24 (63%), déficit de coordenação e de equilíbrio em 30 (79%), choro fácil em 13 (34%), alterações comportamentais recentes em 13 (34%) e distúrbio do sono em três (8%). Tiques, déficit de atenção e sintomas obsessivo-compulsivos não foram descritos no início nem no seguimento. Desfecho da FR Dos 134 pacientes acompanhados ao longo de 1,1–16,9 anos (mediana 6,9 anos), dois apresentaram cardite grave e foram submetidos à cirurgia, um deles vindo a falecer logo depois. Dos 133 acompanhados regularmente, 53 (40%) fizeram a profilaxia programada com penicilina até completarem 18 anos de idade, tendo recebido alta depois que a lesão cardíaca foi descartada. Dezessete pacientes (13%) ainda estavam sendo acompanhados, mas surpreendentemente 63 (47%) interromperam o seguimento. A duração do seguimento, quando interrompido, variou de 1,7–13,7 anos (mediana 4,7 anos). Todos os pacientes que interromperam o seguimento haviam atualizado o esquema de penicilina durante as consultas, não tendo sido identificado nenhum dano cardíaco até a última consulta. A razão da descontinuação não é conhecida. Vinte pacientes (15%) apresentaram pelo menos uma recorrência. Apenas um paciente apresentou duas recorrências de surtos de FR, ambas com artrite. Outro paciente apresentou três recorrências de episódios de coreia, a despeito da profilaxia regular com penicilina. Portanto, questiona-se se foi uma verdadeira recorrência de FR ou uma recorrência de episódio de coreia. A análise de sobrevida para cardite e recorrência está apresentada nas Figuras 1A e 1B, respectivamente. O valor complementar da probabilidade de cada evento (1-p) é representada no eixo y. A probabilidade de cardite foi de 17,5% com cinco anos (Figura 1A). A probabilidade total de recorrência foi de 13% com cinco anos após o início da doença (Figura 1B). 243 A Probabilidade de cardite (1-p) 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 Probabilidade de recorrência (1-p) Carvalho et al. B 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 1 2 0,0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 10 9 11 12 13 14 15 16 Seguimento (anos) 1 0,0 0 1 2 3 4 5 6 1 Em risco Censurado 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Seguimento (anos) Casos 17 9 17 11 19 6 27 13 26 11 16 6 6 1 2 0 Casos 1 Em risco Censurado 2 Em risco Censurado 2 2 15 7 3 2 14 9 Recorrência: = probabilidade = intervalo de confiança 95% 2 0 17 6 5 2 22 11 3 1 22 9 2 0 14 6 2 1 4 0 1 0 1 0 = presente = ausente Figura 1 Curva de sobrevida para febre reumática com probabilidade complementar [1-p] de cardite (1-A) e recorrência (1-B). DISCUSSÃO A FR é um problema de saúde pública devido à cardite e à lesão cardíaca, e pode ser agravada pelo diagnóstico tardio e pela deficiente adesão à profilaxia com penicilina. Uma avaliação sistemática do cuidado com os pacientes é importante para que se defina uma estratégia de controle e tratamento da doença. A Tabela 2 mostra uma comparação sistemática da presente série com outras séries já publicadas.11–18 A idade de início foi comparável. A história familiar também foi comparável àquela de um estudo multicêntrico do estado de São Paulo, o único a avaliar a história familiar de FR.11 Na presente série, a artrite foi o sinal maior mais frequente, seguida da cardite. Em uma série brasileira do Acre14 e em outras do Líbano12 e do Canadá,17 a cardite foi o sinal maior mais frequente. A artrite apresentou um padrão migratório ou aditivo na maioria de nossos casos, afetando predominantemente grandes articulações, como descrito originalmente nos anos de 1950.4 Interessante notar que o padrão migratório predominou nos membros inferiores. Não se observou a apresentação com envolvimento simétrico de pequenas articulações, pescoço e quadril, nem duração maior, como descrito em outra série brasileira de um único centro.18 Artrite prolongada com mais de seis semanas de duração foi observada apenas em dois casos. O envolvimento de pequenas articulações e da coluna cervical, assim como maior duração da artrite, requer que se faça o diagnóstico diferencial com artrite reativa pós-estreptocócica.19,20 Na população pediátrica, no entanto, essa característica ainda é controversa, podendo representar um tipo de FR atípica. Concomitância de artrite e cardite foi relatada em alta proporção em nossos casos, assim como em outras séries.11,15 A cardite foi o segundo sinal maior mais frequente, enquanto a insuficiência mitral foi o envolvimento valvular mais comum. 244 Nas reavaliações de longo prazo, nossa análise de sobrevida revelou 17,5% de probabilidade de cardite em cinco anos. Há apenas um estudo que avaliou desfechos de longo prazo,21 embora somente casos de cardite tenham sido avaliados naquela série, e a gravidade da cardite foi o desfecho. Não pudemos avaliar a gravidade da cardite com ferramentas mais refinadas, tais como ecocardiografia feita pelo mesmo examinador ou reavaliações ecocardiográficas precisas e sistemáticas, porque os dados foram obtidos durante prática padrão, tendo a indicação dos exames ficado a critério dos médicos. Não há outros relatos de avaliação longitudinal sobre todas as características da FR. É importante ressaltar que apesar de a cardite ter maior impacto na morbimortalidade, o diagnóstico de FR por si só implica risco de recorrência, que pode aumentar o risco de cardite. A frequência de coreia em nossa série (28%) foi maior que a relatada na literatura internacional,2,4,6 estimada em 15%–20%, mas semelhante àquela de séries brasileiras,11,14,22 em torno de 30%. A coreia caracteriza-se por movimentos involuntários das extremidades, hipotonia muscular, disartria, distúrbios da marcha e tiques, assim como distúrbios comportamentais. Em geral, os sintomas são autolimitados e têm duração variável; porém, discreta disfunção cognitiva pode persistir até a idade adulta,23 reforçando a necessidade de seguimento de longo prazo, que requer ferramentas mais refinadas. Sinais cutâneos são pouco frequentes, o que foi confirmado em nossa série, na qual foi relatada cardite concomitante.1–4 Um elemento importante para a acurácia no diagnóstico são os altos títulos de antiestreptolisina-O ou sua elevação. Em nossa série, apenas 58,2% dos pacientes apresentavam títulos altos de antiestreptolisina-O. A Tabela 2 apresenta a comparação com séries anteriores,11–18 além de uma revisão sistemática recentemente publicada por Costa et al.24 avaliando todas as séries brasileiras publicadas desde os anos 1980. Tal Rev Bras Reumatol 2012;52(2):236-246 Apresentação e desfecho da febre reumática em uma série de casos Tabela 2 Frequência de parâmetros diagnósticos de febre reumatoide e comparação com séries publicadas anteriormente SP, Brasil, 199911 Líbano, 200012 Índia, 200313 AC, Brasil, 200514 SP, Brasil, 200615 Turquia, 200616 Canadá, 200717 SP, Brasil, 2011 Febre 58% 62% ___ ___ ___ ___ 41,8% 45,8% Artralgia 43,5% 55% ___ ___ ___ ___ 32,7% 33,1% Artrite 57,6% 39% ___ 21,4% 70,5% 61,4% 37,8% 66,4% Cardite 50,4% 93% 42% 69,7% 50,8% 46,1% 72,4% 56% Coreia 34,8% 2% 18,8% 6,1% 35,2% 6,9% 49% 28,6% Nódulos subcutâneos 1,5% ___ 1,2% ___ 2,1% 0,2% 3,1% 1,5% Eritema marginado 1,6% 4% 1,6% 3% 2,6% 2,5% 23,5% 1,5% ASO elevada 63,5% 82% ___ 58,8% 68,1% ___ 81,4% 58,2% PCR elevada ___ 83% ___ 24% ___ ___ 28,2% 45,9% VHS elevada 63,2% ___ ___ ___ ___ ___ 66,7% 58,3% ASO: antiestreptolisina-O; VHS: velocidade de hemossedimentação; PCR: proteína C-reativa; ___: dados não disponíveis. comparação mostra grande variação (48,7%–84,5%) entre os diferentes estudos nas diversas partes do país. Os casos de FR com títulos crescentes de antiestreptolisina-O de nossa unidade foram previamente examinados, enfatizando-se a importância de sua medida seriada nos primeiros dois meses.25 Os exames de resposta de fase aguda indicaram elevação da velocidade de hemossedimentação em 58,3% dos pacientes, e da proteína C-reativa em 45,9%, uma vez mais uma grande variação entre as séries publicadas.11–18,24 É possível que diferentes técnicas laboratoriais tenham influenciado tais resultados, da mesma forma que com a antiestreptolisina-O, mas não foi possível chegar a uma conclusão devido à característica retrospectiva do estudo. Não pudemos controlar outras variáveis sociodemográficas em nossa série. Talvez os riscos de recorrência de longo prazo tenham sido subestimados pelos pais dos pacientes, o que pode ser um dos fatores relacionados à interrupção do seguimento. Em estudo recente, Pelajo et al.26 relataram uma pobre adesão à profilaxia com penicilina em uma coorte brasileira, observada em 35%–42% durante o seguimento, dos quais 33,5% de seus pacientes faltaram às consultas de seguimento mais prolongado. A despeito de todas as limitações já comentadas acerca de um estudo retrospectivo, essa é a nossa prática atual de cuidado. Nosso estudo reforça a necessidade de diagnóstico precoce e de seguimento de longo prazo, para que se obtenha melhor controle da doença a fim de que se evite lesão cardíaca. REFERENCES 6. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. Carapetis JR, McDonald M, Wilson NJ. Acute rheumatic fever. Lancet 2005; 366(9480):155–68. Carapetis JR, Steer AC, Mulholland EK, Weber M. The global burden of group A streptococcal disease. Lancet Infect Dis 2005; 5(11):685–94. Carapetis JR, Mayosi BM, Kaplan EL. Controlling rheumatic heart disease in developing countries. Cardiovasc J S Afr 2006; 17(4):164–5. Ferrieri P; Jones Criteria Working Group. 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Pacientes com AR apresentam uma redução significativa na força muscular, causada pela perda de proteínas musculares, alterando sua funcionalidade. As diversas condições que levam à perda de massa muscular envolvem distintas cascatas de sinalização intracelular, que podem levar: (i) à morte celular programada (apoptose); (ii) ao aumento da degradação proteica, por meio de autofagia, de proteases dependentes de cálcio (calpaínas e caspases) e do sistema proteossomo; e (iii) à diminuição da ativação das células-satélite responsáveis pela regeneração muscular. Este artigo tem como objetivo revisar esses mecanismos gerais de sarcopenia e seu envolvimento na AR. O melhor conhecimento desses mecanismos pode levar ao desenvolvimento de terapias inovadoras para essa debilitante complicação. Palavras-chave: atrofia muscular, inflamação, regeneração, artrite reumatoide. © 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. INTRODUÇÃO A artrite reumatoide (AR) é uma doença sistêmica inflamatória de etiologia desconhecida, com manifestações autoimunes e caracterizada por sinovite crônica, simétrica e erosiva, preferencialmente de articulações periféricas.1 A maioria dos pacientes apresenta o autoanticorpo fator reumatoide reagente. A AR tem prevalência de aproximadamente 0,46% na população brasileira2 e 1% na população mundial,3 acometendo preferencialmente mulheres na faixa etária entre 30 e 60 anos. Além das manifestações articulares, a AR apresenta diversas manifestações de cunho sistêmico que impactam significativamente em sua morbimortalidade. A caquexia reumatoide4 ocorre em aproximadamente 66% dos pacientes com AR, e é caracterizada por perda de massa celular, predominantemente de músculo esquelético (sarcopenia reumatoide), e com manutenção ou leve elevação da massa gorda (total de tecido adiposo), resultando em limitada ou nenhuma perda de peso (massa total). A etiologia da caquexia reumatoide é multifatorial, incluindo a produção acentuada de citocinas pró-inflamatórias, principalmente TNF-α e IL-1β, alterações hormonais e inatividade física. Não há, até o momento, proposta terapêutica bem padronizada visando especificamente a esse aspecto da AR, e os efeitos dos tratamentos atuais ainda não foram bem estudados. Este artigo tem como objetivo revisar os mecanismos moleculares envolvidos na sarcopenia, mais especificamente na sarcopenia reumatoide. Para uma revisão dos aspectos clínicos da sarcopenia reumatoide, sugere-se a leitura do artigo de Rocha et al.4 SARCOPENIA Sarcopenia é a perda de massa muscular associada a prejuízos de função. Ela é decorrente de diversos fatores, como distúrbios da inervação, diminuição da atividade física, Recebido em 17/02/2011. Aprovado, após revisão, em 14/12/2011. Os autores declaram a inexistência de conflito de interesse. Suporte Financeiro: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – Edital Universal CNPq/Bolsa CNPq/PDJ – e Fundo de Incentivo à Pesquisa e Eventos (FIPE). Serviço de Reumatologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. 1. Aluna do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS; Licenciada e Bacharel em Ciências Biológicas, UFRGS 2. Doutora em Ciências Médicas, UFRGS; Professora do Centro Universitário Franciscano – UNIFRA 3. Doutor em Imunologia, Shimane Medical University; Professor do Departamento de Medicina Interna, Faculdade de Medicina, UFRGS Correspondência para: Vivian de Oliveira Nunes Teixeira. Rua Ramiro Barcelos, 2350/645 – Rio Branco. CEP: 90035-903. Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: [email protected] 252 Rev Bras Reumatol 2012;52(2):247-259 Mecanismos de perda muscular da sarcopenia envelhecimento, anormalidades metabólicas (especialmente em proteínas, carboidratos e lipídios), além de alterações na ativação das células-satélite.4,5 Na AR, acredita-se que ação de citocinas pró-inflamatórias, redução da síntese proteica em miócitos, limitação da atividade física, resistência insulínica e ingestão proteica inadequada também tenham papel em seu desenvolvimento.6,7 O diagnóstico de sarcopenia pode ser realizado por diversos métodos, como ressonância nuclear magnética, tomografia computadorizada, bioimpedância, ultrassonografia, densitometria óssea corporal total e medidas antropométricas. Um método muito utilizado é a densitometria, que permite a avaliação da composição corporal, massa óssea, massa magra e massa adiposa total.8 As medidas antropométricas propostas por Ashwell também têm sido utilizadas para avaliar a sarcopenia, empregando a relação cintura-quadril.9 MECANISMOS MOLECULARES ENVOLVIDOS NA SARCOPENIA As diversas condições que levam à perda de massa muscular envolvem distintas cascatas de sinalização intracelular que podem levar à morte celular programada (apoptose), ao aumento da degradação proteica ou ainda à diminuição da ativação das células-satélite responsáveis pela regeneração muscular (Figura 1). A maior parte do conhecimento sobre esses mecanismos é derivada de estudos em modelos experimentais de atrofia, como modelo de denervação, suspensão da pata, desuso, jejum,10 Miofibra Células satélites Sarcômero Apoptose Déficit de regeneração (Células satélites) Proteólise Autofagia Proteases atividades por Ca2+ Proteossomo Figura 1 Mecanismos moleculares envolvidos na sarcopenia. A perda muscular pode ocorrer por distintos mecanismos, como um déficit de regeneração pela inatividade de células-satélite, apoptose e vias de degradação proteica, como por exemplo, proteases ativadas por cálcio, proteossomo e autofagia. Rev Bras Reumatol 2012;52(2):247-259 diabetes mellitus e câncer,11 bem como estudos em biópsias de músculo em pacientes voluntários.12 A seguir, discutimos esses mecanismos e o conhecimento atual sobre o envolvimento na sarcopenia reumatoide. Perda de massa celular A apoptose é um importante processo que ocorre em organismos multicelulares, tanto durante o desenvolvimento quanto para a manutenção da homeostase do tecido.13 Entretanto, o papel da apoptose em tecidos pós-mitóticos, como o músculo esquelético, não é bem claro. Estágios iniciais da apoptose envolvem sinais indutores de morte celular, que causam desequilíbrio na regulação de cálcio livre e alteração na composição de algumas famílias de proteínas.14 Após esse estágio, receptores de superfície celular ou vias mitocondriais são ativados, desencadeando eventos citoplasmáticos e nucleares que levam à morte celular.15 As caspases são as principais enzimas envolvidas no início e na execução da apoptose. Elas são responsáveis pela clivagem proteolítica de um amplo espectro de alvos celulares,16 embora não sejam exclusivamente iniciadoras desse processo.17 Com relação à potencial participação da apoptose na sarcopenia, observou-se que mesmo em modelo de marcada atrofia, como o modelo de denervação muscular em camundongos, evidências de apoptose significativa só foram observadas após dois meses, indicando um papel limitado desse mecanismo nos estágios iniciais da atrofia.18 Proteólise muscular A sarcopenia é o resultado do desequilíbrio entre degradação e síntese de proteínas, embora aparentemente a exata contribuição de cada um desses fatores seja variável conforme o modelo estudado. Alguns sistemas proteolíticos têm sido descritos como participantes na degradação muscular. Entre eles, podem ser citados o processo de autofagia, as proteases ativadas por cálcio, como a calpaína e as caspases, e o sistema ubiquitina-proteossomo (Figura 1).19,20 Em modelos experimentais in vivo e em humanos não existe consenso sobre a importância relativa das diferentes vias de degradação proteica. Purintrapiban et al.20 estudaram o papel desses diferentes mecanismos de proteólise em cultura de células musculares. A inibição dos sistemas enzimáticos calpaína, proteossomo e lisossomo ocasionou 20%, 62% e 40% de redução na degradação de proteínas totais, respectivamente. Entretanto, parece claro que há significativa variação na participação de cada uma dessas vias, dependendo da situação clínica envolvida (p. ex., denervação, imobilização, caquexia da malignidade, inflamação crônica).19–21 253 Teixeira et al. A B Actina Nebulina Calpaína Miosina Autofagossomo inativa Titina Ca2+ Lisossomo fusão Calpaínaativa Liberação de miofilamentos Autolisossomo Caspase-12 [Calpastatina] Degradação de miofilamentos Caspase-3 Proteossomo 20S/26S Peptídeos Autofagia A autofagia é um mecanismo ancestral de sobrevivência celular que permite que as células se autoconsumam em períodos de extrema privação nutricional.22 Esse processo ocorre com o consumo de componentes citoplasmáticos, como o citosol e as organelas celulares, e é lisossomo-dependente. Durante a autofagia, vesículas de membrana dupla (os autofagossomos) formam-se em torno de grande parte do citoplasma ou de organelas inteiras, sequestrando os substratos proteicos no sistema vacuolar. Depois ocorre a fusão do autofagossomo com o lisossomo, formando o autolisossomo, e logo depois a hidrólise dos substratos pelas hidrolases lisossomais23 (Figura 2). As hidrolases estão fisicamente isoladas dos constituintes citoplasmáticos pela membrana lisossomal, e por isso apresentam maior capacidade de degradar os componentes citoplasmáticos em comparação aos componentes miofibrilares.24 Evidências de estudos in vitro25 e in vivo26 demonstram a presença de autofagossomos em fibras musculares de cultura de miotubos e em camundongos. Um estudo in vitro em cultura de miócitos com restrição de aminoácidos demonstrou que a aceleração do catabolismo proteico deve-se principalmente à indução de autofagia.25 Mizushima et al.,26 em estudo in vivo, demonstraram por observação de superexpressão de LC3 (microtubule-associated protein 1 light chain 3) a ativação do sistema de autofagia no músculo esquelético de camundongos expostos ao jejum. A LC3 é essencial para manter a integridade da membrana e o crescimento celular, e está superexpressa, junto a outros genes envolvidos na autofagia e na perda muscular, em diferentes modelos de atrofia,27,28 além de ser indicadora de atividade autofágica.29 Apesar dos distintos mecanismos de sarcopenia, as vias que ativam os sistemas de autofagia e de ubiquitina-proteossomo 254 Figura 2 Vias de proteólise muscular. Em “A”, ativação de proteases ativadas por cálcio. As calpaínas clivam as proteínas que ancoram o complexo actina-miosina liberando essas proteínas para serem degradadas por outro sistema de proteólise celular (proteossomo). Em “B” é demonstrado o sistema da autofagia, em que os constituintes citoplasmáticos são isolados e degradados no autolisossomo. são comuns. Ambas envolvem o fator de transcrição FOXO3 (forkhead box O3) e o fator de transcrição nuclear kappa-B (NF-κB). A FOXO3 é translocada para o núcleo na ausência de estímulos de síntese proteica,30 enquanto o NF-κB é translocado quando há inflamação.31 A FOXO3 foi identificada como fator crítico para o controle da autofagia muscular,32 e vários genes de autofagia estão sob a regulação desse fator de transcrição.30 Proteases ativadas por cálcio: calpaína e caspases O sistema calpaína constitui uma via de degradação de proteínas de células eucarióticas composta de duas enzimas (calpaínas) e da calpastatina. Essas proteases são cisteíno-proteases não lisossomais dependentes de cálcio livre citoplasmático,33 e possuem um inibidor endógeno, a calpastatina, que regula sua atividade21 (Figura 2). As calpaínas não são capazes de degradar proteínas em aminoácidos ou pequenos peptídeos e não catalizam a degradação do complexo de proteínas sarcoplasmáticas. Apesar de não degradarem diretamente as proteínas contráteis do músculo, as calpaínas clivam as proteínas que ancoram o complexo actina-miosina, liberando os componentes proteicos do sarcômero para serem degradados por outro sistema de proteólise celular.20,34 Dentre os substratos da calpaína, podemos citar a titina, a nebulina, a desmina e a filamina – proteínas que ancoram o sarcômero33,35 –, além da troponina e da tropomiosina,33,36 o que propiciaria a liberação do complexo actina-miosina. A ativação do sistema calpaína já foi demonstrada em diversas situações de atrofia muscular, tais como no músculo durante períodos prolongados de inatividade,33 envelhecimento, Rev Bras Reumatol 2012;52(2):247-259 Mecanismos de perda muscular da sarcopenia distrofias e outras patologias que acompanham a perda de massa muscular.24 Caspases são cisteíno-proteases citoplasmáticas não dependentes de cálcio capazes de clivar outras proteínas depois de um resíduo de ácido aspartático – uma especificidade incomum entre proteases.24 A caspase-3 parece ser capaz de degradar o complexo actina-miosina. Du et al.37 demonstraram que a caspase-3 purificada e ativada consegue clivar a actina, desfazendo o complexo actina-miosina do músculo e liberando essas proteínas para serem degradadas por outros complexos proteolíticos16 (Figura 2). Apesar de ativadas na perda muscular, o real papel desempenhado pelas caspases ainda é controverso. Miofibra Protosossomo 265 Proteínas Ex.: MuRF-1 e atrogina-1 Peptideos Proteossomo Outro sistema proteolítico relacionado com sarcopenia e atualmente considerado um dos mais importantes é o sistema ubiquitina-proteossomo. Esse sistema altamente conservado é a principal maquinaria de degradação proteica não lisossomal em células eucarióticas38 (Figura 2). O sistema ubiquitina-proteossomo é responsável por processar e degradar proteínas celulares essenciais para a regulação de desenvolvimento, diferenciação, proliferação, apoptose, transdução de sinal, respostas imune e inflamatória, entre outros, governando, assim, processos celulares básicos.39,40 Proteínas celulares destinadas à degradação pelo proteossomo devem estar devidamente marcadas com uma ligação covalente de múltiplos monômeros de ubiquitina, peptídeos compostos de 76 aminoácidos. A ubiquitina pode ser conjugada a substratos proteicos específicos, processo que requer três componentes enzimáticos (Figura 3): E1, uma enzima ativadora de ubiquitina; E2, uma enzima conjugadora de ubiquitina; e E3, uma enzima ligante de ubiquitina. Inicialmente, a E1 é ativada e, em uma reação dependente de energia, transfere, através da E2, a ubiquitina para a E3, que catalisa a ligação da ubiquitina à proteína, marcando-a para ser degradada.41 Esse processo de degradação de proteínas poliubiquitinadas ocorre no proteossomo (20S ou 26S), que é um complexo composto de uma ou três grandes enzimas com a função de degradar proteínas desnecessárias ou danificadas da célula.19 As enzimas do tipo E3 conferem especificidade à proteína-alvo para degradação. Centenas de diferentes E3 já foram identificadas, e parece que cada uma modula a ubiquitinização de um grupo de substratos proteicos.41 No músculo esquelético foram identificadas duas E3 específicas que estão relacionadas ao processo de atrofia: a atrogina-1 (Muscle Atrophy F-box) ou Rev Bras Reumatol 2012;52(2):247-259 Figura 3 Sistema proteossomo de degradação muscular. O sistema ubiquitina-proteossomo é um complexo multiproteico citoplasmático que degrada proteínas marcadas por ubiquitina. Essa degradação requer a participação de três proteínas distintas (E1, E2 e E3). As proteínas E3 conferem especificidade às proteínas que serão degradas. Na atrofia muscular foram descritas algumas enzimas E3, como a MuRF-1 e a atrogina-1. MAF-bx, e a MuRF-1 (Muscle Ring Finger-1).42 Foi descrita uma terceira ubiquitina ligase E3, a NEDD-4, que parece facilitar a atrofia muscular em modelos de denervação e de suspensão da pata traseira.43 A MuRF-1 é uma enzima ubiquitina ligase E3 reconhecida como marcador do processo de atrofia muscular em diversos modelos experimentais.44 Essa proteína tem a capacidade de se ligar à titina da linha M,45 a terceira em abundância dentre as proteínas musculares (10%).46 Alguns estudos descreveram o aumento da expressão de subunidades do proteossomo e de enzimas ubiquitinantes durante a atrofia muscular,47 bem como o aumento da expressão de E3 ligases em modelos de denervação, imobilização, restrição alimentar, diabetes mellitus e uremia.44 Esses estudos sugerem que a perda muscular está relacionada com a atividade das E3 ligases MuRF-1 e atrogina-1.44 Em modelos murinos, a inibição do proteossomo pode reduzir a degradação proteica durante a atrofia,48 indicando um importante papel da via ubiquitina-proteossomo na sarcopenia – mas não é possível extrapolar esses resultados para humanos.49 Inibidores biológicos e sintéticos do proteossomo podem inibir o ciclo celular e induzir apoptose preferencialmente em células neoplásicas.50 255 Teixeira et al. O papel dessa via na perda muscular de humanos foi revisado por Murton et al.,12 sugerindo que a ativação das ubiquitinas-ligases MAF-bx/atrogina-1 e MuRF-1 ocorre principalmente durante processos inflamatórios. A atrofia muscular que ocorre pela superexpressão do sistema ubiquitina-proteossomo parece envolver vias distintas. Estudos têm demonstrado essa sinalização via NF-κB, que induz a expressão de genes relacionados com o processo de sarcopenia, tais como MuRF-1 e MAF-bx, além de citocinas pró-inflamatórias. A ativação do NF-κB está envolvida na atrofia muscular causada pelo desuso e por caquexia, embora os mecanismos não estejam completamente esclarecidos.51 Existem evidências do envolvimento do estresse oxidativo nessa ativação.52 Além da via do NF-κB, o aumento da expressão de MuRF-1 e MAF-bx31 também pode ocorrer via FOXO330 e miogenina.53 Células-satélite Além da degradação proteica, déficits no processo de regeneração muscular também podem estar envolvidos na sarcopenia (Figura 1). Células-satélite (CS) são precursores miogênicos quiescentes encontrados no músculo adulto entre a lâmina basal e o sarcolema, e apresentam algumas propriedades de células-tronco.54 As CS podem ser ativadas em resposta a estímulos de crescimento, remodelamento ou lesão muscular.55,56 Na ativação, elas entram no ciclo celular, dividem-se, diferenciam-se em mioblastos e fundem-se para formar miotubos, que então se desenvolvem em uma nova fibra ou se fundem com fibras musculares já existentes para reparar miofibras danificadas e/ou para aumentar a hipertrofia das fibras musculares.57 Quando ativadas, as CS podem ser identificadas pela expressão de marcadores, tais como MyoD e miogenina, que são indicadores de proliferação e de diferenciação de CS, respectivamente.58 Alguns estudos demonstraram que a cocultura de precursores musculares com macrófagos aumenta a proliferação e a diferenciação de mioblastos, sugerindo o envolvimento de mediadores inflamatórios na ativação de CS.59 Entre os mediadores inflamatórios, o TNF-α está aumentado no tecido muscular pós-lesão, mas também parece estar envolvido na regeneração muscular.60,61 Nosso grupo, estudando processos inflamatórios agudos em modelo experimental de contusão muscular, demonstrou o importante envolvimento da produção local de óxido nítrico na proliferação e na diferenciação das CS.56,62 Entretanto, pouco se conhece da via pela qual a sarcopenia é ativada e qual é o estímulo inicial que desencadeia a ativação 256 das CS na vigência de processo inflamatório crônico. Existe uma aparente contradição entre o aumento de ativação dessas células regenerativas e o resultado final, que é atrofia muscular. Há necessidade de mais estudos para esclarecer se essa ativação de CS, que ocorre provavelmente como uma tentativa de regenerar o músculo atrófico, é insuficiente para compensar a perda proteica ou se o processo de miogênese não se completa devido, por exemplo, à apoptose. SARCOPENIA NA ARTRITE REUMATOIDE Apesar do progresso no conhecimento dos mecanismos moleculares que levam à atrofia muscular em diversas situações, a sarcopenia reumatoide ainda é muito pouco estudada. Funcionalmente, os pacientes com AR apresentam redução significativa na força muscular, mas a velocidade e as propriedades contráteis musculares mantêm-se inalteradas.6 Esses dados demonstram que o impacto da doença ocorre por meio de perda proteica, afetando principalmente sarcômeros em paralelo e preservando o número de sarcômeros em série. Existe uma escassez de informação das vias de perda muscular na AR, especialmente pelo mecanismo de apoptose. Até o momento, não há estudos de indivíduos com AR ou de modelos animais com artrite crônica demonstrando o real papel da apoptose na perda muscular. Em estudos em nosso laboratório, não observamos corpos apoptóticos ou marcação com caspase-3 em músculo gastrocnêmio de camundongos com artrite induzida por colágeno (CIA) (dados não publicados), sugerindo que esse mecanismo não tenha um papel marcante na sarcopenia reumatoide. Da mesma forma, não existem estudos em modelos experimentais ou em pacientes com AR avaliando a participação de mecanismos de autofagia, ativação de calpaínas e caspases. Quanto à via do proteossomo, o aumento das enzimas ligantes de ubiquitina E3 associadas à proteólise muscular já foi identificado no músculo esquelético de modelos murinos de artrite,63,64 mas os outros componentes da via ubiquitina-proteossomo ainda não foram estudados, como a ubiquitina e subunidades proteossomais, bem como em que estágio da doença ocorre o desenvolvimento da atrofia. Pela via ubiquitina-proteossomo, observou-se o aumento da expressão de MuRF-1 e de MAF-bx31 pela NF-κB, FOXO330 e miogenina,53 dados não confirmados em músculo de humanos com artrite. Dessa forma, embora seja a via proteolítica mais estudada em geral, sua importância ainda não foi confirmada em pacientes com artropatia crônica. Finalmente, Castillero et al.64 demonstraram que na atrofia do músculo gastrocnêmio em modelo de artrite induzida por Rev Bras Reumatol 2012;52(2):247-259 Mecanismos de perda muscular da sarcopenia adjuvante de Freund (CFA) havia ativação e proliferação de CS por seus marcadores miogenina e MyoD. Esses achados necessitam de confirmação em outros modelos experimentais, bem como em estudos com pacientes. 6. CONCLUSÃO 8. Discutimos como diversas vias intracelulares estão envolvidas, de maneira inter-relacionada, com o processo de perda de massa muscular. Essas vias, divididas em mecanismos de apoptose celular, proteólise das miofibrilas e alteração na regeneração da célula por meio das CS, vêm sendo ativamente estudadas em diversas condições clínicas e experimentais. Observa-se que esses mecanismos não estão presentes de maneira uniforme nessas condições, havendo variação significativa na importância relativa de cada uma, conforme a situação clínica. Portanto, é provável que os melhores manejos preventivo e terapêutico também não sejam os mesmos para todas as situações de atrofia muscular. Apesar da significativa perda de massa muscular que ocorre na maioria dos pacientes com AR, com um profundo impacto socioeconômico e funcional nessa população, não há, até o momento, proposta terapêutica padronizada para essa complicação. Há poucos estudos avaliando o impacto das terapias atuais na perda de massa muscular.4 Da mesma forma, conforme discutimos anteriormente, praticamente não existem estudos sobre a participação das diversas cascatas que levam à atrofia e à regeneração muscular em modelos experimentais ou em pacientes com artropatias crônicas. Mais estudos nessa área serão de grande relevância, pois maior compreensão dos mecanismos de modulação entre catabolismo e anabolismo muscular deverá resultar em desenvolvimento de estratégias terapêuticas inovadoras mais eficazes e melhor qualidade de vida a esses pacientes. 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Até o presente, não se sabe ao certo qual é o mecanismo de desenvolvimento da osteonecrose dos maxilares induzida por bisfosfonatos (ONMB), nem qual deve ser o tratamento estabelecido perante essa manifestação. Apesar de a literatura apresentar formas variadas de tratamento, não existe um protocolo definido. Apresentamos uma revisão sobre a ONMB, enfocando sua etiopatogenia e as formas reportadas de tratamento. Palavras-chave: osteonecrose, alendronato, doenças maxilares. © 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. INTRODUÇÃO Os bisfosfonatos (BFs) vêm sendo utilizados desde 1960 para o tratamento de metástases ósseas, câncer de pulmão, mieloma múltiplo, doença de Paget, controle de doenças do metabolismo do cálcio, entre outros.1,2 Seu emprego terapêutico tem aumentado principalmente para tratamento e prevenção de osteoporose e osteopenia. Estima-se que no período de maio de 2003 a abril de 2004 foram realizadas aproximadamente 22 milhões de prescrições de alendronato nos EUA.2 Os BFs têm sido considerados a droga mais prescrita para tratamento da osteoporose no mundo.2 Os BFs alteram o mecanismo de reabsorção e remodelação óssea e, por esse motivo, teriam ação terapêutica nas doenças citadas anteriormente.1 Com o crescimento da utilização dos BFs e o aumento do tempo de uso desses medicamentos, surgiram os primeiros relatos de complicações associadas à sua utilização, dos quais os mais comuns são em relação à mialgia e à esofagite.3,4 A osteonecrose em maxilares induzida por bisfosfonatos (ONMB) foi relatada pela primeira vez em 2003, quando foram demonstradas 36 lesões ósseas em mandíbula e/ou maxila em pacientes que faziam uso de pamidronato ou zoledronato, descrevendo as lesões como decorrentes de efeito adverso desconhecido grave.5 Desde então, a ONMB passou a ser reconhecida como uma entidade com impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes que utilizam esse fármaco.5 A variedade de sinais e sintomas clínicos da ONMB, as medidas preventivas, os efeitos da interrupção do uso dos BFs, bem como os indicadores de prognóstico e a etiologia dessa doença permanecem indefinidos. Além disso, a efetividade e a eficiência de tratamento para a ONMB não têm sido adequadamente caracterizadas. MECANISMO DE AÇÃO DOS BISFOSFONATOS Os BFs são análogos não metabolizáveis dos pirofosfatos inorgânicos, utilizados na indústria de cremes dentais para Recebido em 23/02/2011. Aprovado, após revisão, em 14/12/2011. Os autores declaram a inexistência de conflito de interesse. Faculdade de Odontologia, Universidade de São Paulo – USP. 1. Mestrado em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Universidade de São Paulo – USP 2. Professora Doutora do Departamento de Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilofaciais, USP 3. Professora Associada do Departamento de Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilofaciais, USP; Livre-docente em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, USP 4. Professora Titular do Departamento de Dentística, USP; Livre-docente em Patologia Bucal, USP Correspondência para: Profa. Dra. Maria da Graça Naclério-Homem. Av. Professor Lineu Prestes, 2227 – Cidade Universitária. CEP: 05508-000. São Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected] Rev Bras Reumatol 2012;52(2):260-270 265 Brozoski et al. diminuir a formação de cálculo por meio da inibição da precipitação do cálcio.1,6 Quando utilizados como agentes farmacológicos, os BFs têm efeitos biológicos fundamentais no metabolismo do cálcio, inibindo a calcificação e a reabsorção óssea.1 Eles atuam por meio de dois mecanismos de ação relacionados com atividade antiosteoclástica e antiangiogênica.7 A meia-vida plasmática dos BFs é de aproximadamente 10 anos, e seu uso prolongado pode resultar em acúmulo substancial da droga no esqueleto.8 Os BFs alteram o mecanismo do tecido ósseo em vários níveis, inibindo a reabsorção e diminuindo o turnover ósseo. Em nível celular, eles atuam sobre o recrutamento de osteoclastos, sua viabilidade, a bioviabilidade de seu progenitor e sua atividade sobre o osso. Do ponto de vista molecular, postula-se que os BFs possam modular a função dos osteoclastos reagindo com um receptor de superfície ou com uma enzima intracelular.6 Em relação à atividade antirreabsortiva, um dos fatores mais importantes do efeito dos BFs está na inibição da atividade osteoclástica. Essa função está implicada com sua ação terapêutica no tratamento da osteoporose e do câncer no sistema esquelético.1 A diminuição do processo de reabsorção óssea pelos BFs pode ser explicada considerando-se que os metabólitos dos compostos não nitrogenados são tóxicos aos osteoclastos, levando-os à morte. Os compostos nitrogenados, por sua vez, bloqueiam a diferenciação dos osteoclastos e estimulam os osteoblastos a produzir fator de inibição dos osteoclastos, acarretando em diminuição na reabsorção óssea. Como o processo de metabolismo ósseo está baseado nos processos de reabsorção e deposição, a remodelação óssea fica comprometida. Contudo, o tecido ósseo continua a mineralizar, podendo tornar-se frágil, quebradiço e menos elástico.8 CONCEITO A ONMB foi conceituada em 2007 pela American Association of Oral and Maxillofacial Surgeons (AAOMS) como sendo caracterizada por uma área de exposição óssea na maxila ou na mandíbula que não se repara em oito semanas e acomete pacientes que estejam recebendo ou que receberam BF sistemicamente e não sofreram irradiação no complexo maxilomandibular.9 ETIOPATOGENIA Até o momento, a etiopatogenia da ONMB permanece incerta. Lembramos que os BFs atuam em diversos níveis: físico-químico, tecidual, celular e molecular.1,6,7 Estudos6,8 aludem que a ONMB é secundária aos mecanismos de ação dos BFs, que resultam 266 em atividade antiosteoclástica e antiangiogênica, o que altera o metabolismo ósseo, inibindo a reabsorção óssea e diminuindo o turnover ósseo. Associam-se a isso as singularidades anatômicas que envolvem os ossos da maxila e da mandíbula, separados da cavidade bucal por uma mucosa fina e delgada, sendo essa uma barreira que pode ser facilmente rompida por atividades fisiológicas como a mastigação.8 Como essas características são mais marcantes na mandíbula que na maxila,8,10–12 maiores índices de prevalência naqueles ossos poderiam ser justificados. A boca é colonizada por um grande número de bactérias, e os ossos maxilares frequentemente estão envolvidos em processos sépticos de origem periodontal ou pulpar.9 Quando ocorre um acúmulo de BF capaz de diminuir o metabolismo ósseo, a reparação tecidual após um trauma, induzido ou fisiológico, não ocorre adequadamente, levando à exposição de uma área de osso necrótico ao meio bucal.8 Portanto, a hipótese que melhor explica o desenvolvimento da ONMB seria uma alteração do turnover ósseo associada às características particulares dos ossos dos maxilares, como revestimento mucoso, risco frequente de infecção e potencial constante de trauma.8,13 Alguns autores discutem o aparecimento da ONMB e a infecção por Actinomyces e descrevem muitos casos que associam necrose óssea e osteomielite provocada pelo microrganismo.14 Alguns fatores predisponentes para o desenvolvimento de ONMB são citados na literatura, incluindo tipo, via de administração e tempo de uso do BF, administração concomitante de outros fármacos (principalmente corticosteroides, quimioterápicos e estrógeno),12,15 bem como a realização de procedimentos cruen tos intrabucais.16–18 Fármacos antiangiogênicos e quimioterápicos, como a talidomida ou o bevacizumabe, têm sido sugeridos como fatores que podem predispor ou aumentar o risco do desenvolvimento da ONMB.19 Alguns estudos descrevem que, no uso do ácido zoledrônico para o controle de metástases ósseas, são necessárias aproximadamente seis doses mensais de BF endovenoso para que o paciente apresente risco de desenvolver ONMB. Para os BFs administrados por via oral, como o alendronato, por sua vez, seriam necessários três anos ou 156 doses semanais. Essa diferença, segundo os autores, ocorre devido à baixa solubilidade lipídica dos BFs administrados por via oral, fazendo com que haja uma absorção intestinal de apenas 0,63% da droga. Os BFs de uso oral acumulam-se lentamente nos ossos, e a exposição clínica do osso necrótico não acontece antes de três anos de administração do medicamento, com incidência e gravidade aumentadas a cada ano adicional de uso.8,12,20 A via de administração do BF pode ser associada à ocorrência da ONMB. Pacientes que utilizam a via endovenosa Rev Bras Reumatol 2012;52(2):260-270 Osteonecrose maxilar associada ao uso de bisfosfonatos apresentam prevalência entre 1%–10%, enquanto os que empregam a via oral apresentam prevalência entre 0,00007%– 0,04%.10 Não há dúvidas de que pacientes usuários de BFs por via endovenosa correm mais risco de desenvolver ONMB que pacientes que utilizam a via oral.10 A American Dental Association (ADA)2 e a AAOMS21 corroboram que tal risco é dose/tempo-dependente, porém esse fato é baseado apenas nas observações clínicas dos autores. O uso concomitante de outros medicamentos, como corticosteroides e quimioterápicos, pode potencializar o risco de ONMB.15 O tempo de uso dos BFs, a utilização concomitante com estrógeno e idade superior a 65 anos também podem potencializar o risco de ONMB.2 Um estudo retrospectivo multicêntrico22 envolvendo 78 pacientes com ONMB descreveu que a maioria dos pacientes estava em uso de BF por via endovenosa para tratamento oncológico há mais de um ano, e havia recebido tratamento prévio por meio de quimioterapia ou esteroides. Algumas teorias tentam explicar que a ausência de reparo epitelial das exposições ósseas intraorais secundárias ao uso dos BFs pode ser atribuída à toxicidade dos BFs sobre o tecido epitelial provocada pelas altas concentrações do fármaco no tecido ósseo.23 Os pacientes que recebem a droga por via oral necessitam de um tempo maior de uso do medicamento para apresentar exposição óssea, a qual é geralmente menor em comparação aos que recebem a droga sistematicamente. Os sintomas são menos intensos, e há chance de melhora dos mesmos fazendo um intervalo no uso do medicamento.17 Uma definição do estágio clínico da ONMB e o tratamento proposto pela AAOMS para cada estágio estão representados na Tabela 1.21 Os diferentes estágios da doença podem ser observados nas Figuras 2, 3 e 4. DIAGNÓSTICO E CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Figura 1 Tomografia computadorizada de mandíbula – corte axial demonstrando área com sequestro ósseo. O diagnóstico de ONMB é primeiramente baseado na história e no exame clínico do paciente. Na maioria das vezes os pacientes apresentam exposição óssea necrótica, variando de poucos milímetros a áreas maiores, podendo permanecer assintomáticos por semanas, meses ou anos. Frequentemente, a lesão torna-se sintomática quando ocorre inflamação ou infecção dos tecidos adjacentes, e em 60% dos casos é referida dor no local de exposição óssea.9,24 Os primeiros sinais e sintomas descritos são dor profunda no osso e mobilidade dental sem relação com doenças periodontais, traumas dentais ou outras lesões, como aumento de volume, eritema, ulceração e fístula sinusal.12 A ONMB apresenta maior incidência na mandíbula em comparação com a maxila em uma proporção de 2:1, em áreas com mucosa menos espessa, como as de proeminências ósseas, tórus e linha milo-hioidea. A quantidade de osso exposta é muito variável em suas dimensões. Inicia-se com uma exposição pontual que pode permanecer ou progredir para uma exposição maior.8,10–12 Radiograficamente, é possível observar espessamento da lâmina dura e aumento do ligamento periodontal no osso alveolar no ponto de início da ONMB12 (Figura 1). Rev Bras Reumatol 2012;52(2):260-270 Tabela 1 Definição do estágio clínico da ONMB e tratamento proposto pela AAOMS para cada estágio Estágios de ONMB e seus tratamentos Estágio Apresentação clínica Conduta Em risco Sem exposição óssea Orientações ao paciente 1 Exposição óssea assintomática com pequena inflamação de tecido mole Orientações ao paciente, bochechos com soluções antibacterianas e acompanhamento criterioso 2 Osso exposto com dor, inflamação ou infecção de tecido mole adjacente Orientações ao paciente, bochechos com soluções antibacterianas, antibioticoterapia, desbridamento ósseo superficial e acompanhamento criterioso 3 Osso exposto com dor, inflamação ou infecção de tecido mole adjacente, podendo apresentar osteólise estendendo-se até a borda inferior da mandíbula ou fraturas patológicas e fístulas extraorais Orientações ao paciente, bochechos com soluções antibacterianas, cirurgias paliativas e acompanhamento criterioso Adaptado de: Ruggiero SL et al.21 267 Brozoski et al. TRATAMENTO E PREVENÇÃO Figura 2 Pequena área de exposição óssea assintomática. Figura 3 Exposição óssea sintomática em mandíbula. Figura 4 Exposição óssea em região mandibular atingindo borda inferior da mandíbula em região lingual. 268 Os microrganismos encontrados com maior frequência nos ossos expostos são das espécies Actinomyces, Veillonella, Eikenella, Moraxella, Fusobacterium, Bacillus, Staphylococcus,Streptococcus e Selenomona. Todos esses microrganismos são sensíveis à penicilina, portanto essa é a droga de escolha para o tratamento não cirúrgico da doença.7,12,24 O principal objetivo da atuação preventiva para os pacientes que apresentam risco, ou do tratamento para aqueles que já desenvolveram a ONMB, é a preservação da qualidade de vida, controlando a dor e os quadros de infecção e prevenindo o desenvolvimento de novas áreas de necrose.8 O risco está associado ao acúmulo das doses da droga, ocorrido por anos de tratamento. Os pacientes devem receber avaliação odontológica cuidadosa, incluindo exames radiográficos, e orientação quanto à possibilidade de desenvolvimento de ONMB. Quando há necessidade de algum procedimento cirúrgico, alguns autores2,8 sugerem que os indivíduos assinem um termo de ciência de riscos concordando com o tratamento. A ênfase para o tratamento dos pacientes que recebem BFs endovenoso é diminuir o risco de ONMB, minimizando-se a necessidade de procedimentos cirúrgicos. Os pacientes, nesses casos, devem ser muito bem orientados quanto aos cuidados necessários à manutenção da saúde bucal e quanto aos métodos de higienização, e devem ser avaliados clínica e radiograficamente, de preferência antes do início da terapêutica farmacológica. O tratamento odontológico que inclui restaurações, tratamento endodôntico ou procedimentos cirúrgicos deve ser realizado previamente ao início da terapia com BFs.2,8 Como opções de tratamento das lesões de ONMB, lembramos o controle da dor, antibioticoterapia, uso de enxaguatórios bucais, suspensão do BF, terapia em câmara hiperbárica, laserterapia25 e desbridamento cirúrgico.11,26,27 Esses tratamentos, porém, nem sempre alcançam a resolução do quadro clínico – a prevenção é, sempre, a melhor opção.2,8 O teste do CTx (telopeptídeo carboxiterminal do colágeno tipo I, ou ICTP) sérico, marcador de reabsorção óssea que avalia a eliminação de fragmentos específicos produzidos pela hidrólise de colágeno tipo I, pode ser utilizado como parâmetro para avaliar o risco de desenvolvimento de ONMB.17 Existe uma relação exponencial direta entre o tempo de uso dos BFs e o tamanho da exposição óssea. Recomenda-se que os pacientes com valores de CTx inferiores a 150 pg/mL entrem em contato com o médico que os assiste e que seja considerada a possibilidade de suspensão da droga por um período de 4–6 meses. Após esse período, o teste deve ser repetido, e se o valor ainda estiver abaixo de 150 pg/mL a recomendação da Rev Bras Reumatol 2012;52(2):260-270 Osteonecrose maxilar associada ao uso de bisfosfonatos literatura17 é que se estenda o tempo de suspensão da droga por um período de 6–9 meses. Quando os valores do CTx não forem superiores a 150 pg/mL e a suspensão da droga não for possível, as orientações para o paciente quanto ao risco de desenvolvimento de ONMB devem ser reforçadas. Buscar uma forma de tratamento não invasiva deve ser sempre recomendado.17,24 É importante distinguir e ressaltar que a ONMB por BFs administrados por via oral parece ser menos frequente, menos grave e responde melhor ao tratamento com suspensão da droga e desbridamento cirúrgico.8,15 Os pacientes que recebem a droga por via oral parecem ter maior chance de melhora quando há intervalo no uso do medicamento.15 A afirmação de que a suspensão de BF por três meses antes da cirurgia, como indicado pela AAOMS21 e pela ADA,2 poderia modificar ou não o risco de o paciente desenvolver ONMB é controversa. Isso porque a meia-vida dos BFs é de aproximadamente 10 anos, e seu uso prolongado resulta em acúmulo substancial da droga no esqueleto.8 Dessa forma, seria necessário um longo período de interrupção para eliminar o fármaco do organismo. Essa suspensão de medicação muitas vezes não é possível devido aos benefícios que a droga proporciona para o tratamento na prevenção de osteoporose e de metástases ósseas. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 14. A comunicação do médico que realiza a prescrição da medicação com o cirurgião-dentista do paciente é fundamental para se tentar estabelecer um tratamento preventivo para a ONMB antes do início da terapia medicamentosa. Estudos experimentais in vitro, in vivo e clínicos são necessários para que se possa compreender melhor o desenvolvimento da ONMB. Resultados de pesquisas futuras poderão contribuir para o delineamento de protocolos de prevenção e de tratamento adequados para os pacientes. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 15. 16. 17. 18. REFERENCES REFERÊNCIAS 1. 2. 3. Fleisch H. Bisphosphonates: mechanisms of action. Endocr Rev 1998; 19(1):80–100. ADA. Dental management of patients receiving oral bisphosphonate therapy: expert panel recommendations. J Am Dent Assoc 2006; 137(8):1144–50. 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Estudos mostram níveis elevados de leptina e de adiponectina no LES, porém a correlação com a atividade da doença ainda é discutida. Na AR, os estudos também mostram aumento dos níveis de leptina e de adiponectina, observando-se correlação com a atividade da doença e a erosão articular; os resultados, porém, são conflitantes. Esta revisão descreve os papéis da leptina e da adiponectina no sistema imune e suas atuações no LES e na AR. Palavras-chave: adipocinas, leptina, adiponectina, lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide. © 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. INTRODUÇÃO O sistema imune requer um balanço energético adequado para suas funções fisiológicas. Nos últimos anos, uma importante via de ligação tem sido identificada entre esse sistema e o metabolismo,1 com a verificação da existência de obesidade predispondo o indivíduo ao desenvolvimento de vários distúrbios, tais como aterosclerose, diabetes mellitus e algumas doenças imunomediadas. O tecido adiposo não é um tecido inerte, e vem sendo considerado um órgão com funções neuroendócrinas e imune. Esse tecido produz vários mediadores, como o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), a interleucina 6 (IL-6), a interleucina 1 (IL-1), a quimiocina ligante 2 (CCL2), o inibidor do ativador do plasminogênio tipo 1 e as frações do complemento, todos participantes da resposta imune inata como mediadores pró-inflamatórios.1 Embora os macrófagos no tecido adiposo sejam a principal fonte de TNF, os adipócitos contribuem com quase 1/3 da concentração de IL-6 na circulação dos pacientes obesos, e a CCL2, produzida pelos adipócitos, é um fator importante na infiltração de macrófagos nesse tecido. A presença dos macrófagos ativos, juntamente com os adipócitos e outras células do tecido imune, pode perpetuar um círculo vicioso, com recrutamento de mais macrófagos e produção de mais citocinas pró-inflamatórias.1 Todas essas citocinas estão também implicadas nas doenças autoimunes. A inter-relação entre o tecido adiposo e o sistema imune está cada vez mais evidente. Recentemente, demonstrou-se que o receptor NLRP3 inflamassoma, presente nas células imunes inatas, detecta sinais de perigo associados à obesidade e leva à ativação da caspase-1 e à produção de interleucina 1b e interleucina 18, contribuindo para a inflamação crônica induzida pela obesidade.2 Atualmente, o tecido adiposo branco é considerado o maior órgão endócrino, secretor de uma variedade de mediadores denominados adipocinas (adipocitocinas). Os mais importantes são a leptina, a adiponectina, a visfatina e a resistina, que atuam como hormônios na homeostasia da glicose e na regulação do apetite e como citocinas, promovendo a ligação da obesidade e a resistência à insulina com o sistema imune e o processo inflamatório.1,3,4 Algumas adipocinas, como a leptina, atuam de Recebido em 31/03/2011. Aprovado, após revisão, em 14/12/2011. Os autores declaram a inexistência de conflito de interesse. Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás – FM/UFG. 1. Professora-Assistente do Serviço de Reumatologia do Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Goiás – FM/UFG; Doutoranda em Ciências da Saúde, FM/UFG 2. Professora Adjunta de Reumatologia, FM/UFG 3. Professor Titular de Reumatologia do Departamento de Clínica Médica, FM/UFG Correspondência para: Vitalina de Souza Barbosa. Instituto Médico Cora Coralina. Rua 1124, nº 469 – Setor Marista. CEP: 74175-080. Goiânia, GO, Brasil. E-mail: [email protected] 278 Rev Bras Reumatol 2012;52(2):271-287 Possível papel das adipocinas no lúpus eritematoso sistêmico e na artrite reumatoide forma semelhante às citocinas inflamatórias, como o TNF-α, a IL-6 e a IL-1.5 Outras, como a adiponectina, atuam com efeitos antidiabético, antiaterogênico e anti-inflamatório.1,4,6 Com a compreensão da natureza e do mecanismo de ação das adipocinas, torna-se claro que o tecido adiposo não é apenas um órgão endócrino, mas também um órgão imune. A leptina e a adiponectina são as adipocinas produzidas mais abundantemente nos adipócitos, estudadas em doenças autoimunes reumáticas como a artrite reumatoide (AR),7,8 a doença de Behçet9 e o lúpus eritematoso sistêmico (LES).10 Assim, o conhecimento da participação desses mediadores nos mecanismos patogênicos das doenças reumáticas autoimunes pode contribuir para melhor compreensão desse grupo de doenças. Torna-se oportuna uma revisão das atuações da leptina e da adiponectina no sistema imune e seus possíveis papéis no LES e na AR. LEPTINA E O SISTEMA IMUNE A leptina (do grego leptos = magro) foi a primeira adipocina identificada. Ela é uma proteína (16kDa) de 167 aminoácidos codificada pelo gene obese (ob) no cromossomo 7q31.3,11 com estrutura tridimensional semelhante à citocina da família da IL-6. Atua por meio de receptores OBR,12,13 membros da superfamília de receptores das citocinas classe 1, codificados pelo gene diabetes, expressos em diferentes tecidos, como o sistema nervoso central (SNC) e o sistema cardiovascular, e as células do sistema imune, como os monócitos, as células natural killer (NK)14 e os linfócitos T CD4+ e CD8+. Sua concentração sérica é medida em ng/mL, e seus níveis correlacionam-se com a massa corporal. A leptina atua no controle do apetite no eixo intestino-SNC, promovendo saciedade por ação em receptores no hipotálamo.15 Os camundongos com mutação no gene ob (camundongo ob/ob)16 ou com deficiência do receptor para leptina (camundongo db/db) desenvolvem obesidade grave por falta dessa sinalização. Outras anormalidades secundárias também são observadas na reprodução,17 na hematopoiese,18 na angiogênese,19 na secreção de insulina,20 no metabolismo ósseo,21 nos metabolismos lipídicos e da glicose20 e no sistema imune inato e adaptativo.5,22,23 Trata-se, portanto, de uma molécula pleiomórfica com várias ações biológicas. Essa citocina possui atividade pró-inflamatória, atuando como proteína de fase aguda5 de modo semelhante à IL-1 e ao TNF-α. Nos monócitos e nos macrófagos, ela aumenta a função fagocítica e a produção de citocinas pró-inflamatórias, como o TNF-α, a IL-6 e a interleucina 12 (IL-12),24 e estimula a proliferação e a ativação dos monócitos. Nos neutrófilos, aumenta a expressão de CD11b, bem como a quimiotaxia e a explosão oxidativa,25 e está envolvida no desenvolvimento, na diferenciação, na proliferação, na ativação e na citotoxicidade das células NK.26 Rev Bras Reumatol 2012;52(2):271-287 A leptina está aumentada durante a infecção aguda, o que sugere seu papel na resposta imune inata.5,27 A deficiência humana congênita é rara e está associada a maior incidência de morte por infecções durante a adolescência.28 Está associada também a uma diminuição do linfócito T CD4+ circulante e suas citocinas.29 Essas alterações podem ser revertidas com a administração de leptina recombinante, concluindo-se por um efeito protetor contra a infecção. Porém, o obeso tem maior incidência de infecções, apesar do nível aumentado de leptina, o que poderia indicar um estado de resistência em tais indivíduos. A presença de receptores OBR nos linfócitos T e B indica o possível papel da leptina na ativação do sistema imune adaptativo.23 A principal ação parece ocorrer na regulação do linfócito T CD4+,22,29 promovendo diferenciação do linfócito T auxiliar 1 (Th1). Em cultura de linfócitos, observou-se que a leptina induz a proliferação do linfócito T CD4+CD45RA+ e inibe a proliferação do linfócito T CD4+CD45RO+ (células de memória). A leptina aumenta a produção de citocinas Th1, como a interleucina 2 (IL-2) e o interferon gama (IFN-γ), e suprime a produção de citocinas do linfócito T auxiliar 2 (Th2), como a interleucina 4 (IL-4);30 protege o linfócito T da apoptose induzida pelo corticosteroide31 e aumenta a expressão de moléculas de adesão, como a molécula de adesão intercelular 1 (ICAM1) e a very late antigen 2 (VLA2), o que pode contribuir para a ativação e a migração das células imunes para o sítio da inflamação.5 Em humanos, o aumento da leptina está associado a várias condições inflamatórias crônicas, como hepatite não alcoólica,32 inflamação pulmonar crônica,33,34 doença inflamatória intestinal,35 nefrite,36 doença de Behçet,9,37 doença de Graves,38 diabetes mellitus tipo 1,39 AR7,8,40 e LES.10,41 Camundongos com deficiência de leptina têm uma grave atrofia do timo, sugerindo a importância da proteína na timopoiese e na resposta imune adaptativa.16,22,42 A administração exógena de leptina previne a imunossupressão22 e a atrofia do timo e aumenta sua celularidade.42 Esses camundongos também apresentam resistência às doenças autoimunes do tipo encefalomielite autoimune experimental,43–45 diabetes mellitus tipo 1,46 colite experimental,47 artrite induzida por antígeno48 e glomerulonefrite experimental.49 A administração de leptina estabelece a suscetibilidade à autoimunidade. Outro indicador do envolvimento da leptina na autoimunidade é a concentração sérica duas a três vezes mais elevada em mulheres que em homens,50,51 bem como a potencialização de encefalomielite experimental em camundongos fêmeas.45 A leptina é um dos hormônios que favorece a maior predisposição das mulheres ao desenvolvimento de doenças autoimunes. 279 Barbosa et al. ADIPONECTINA E O SISTEMA IMUNE A adiponectina é uma proteína monomérica globular com 244 aminoácidos que formam um trímero (30 kDa), o qual se polimeriza e forma um grande polímero complexo variando de 180 kDa a 400–600 kDa.1,6,52 Possui estrutura semelhante aos colágenos VIII e X e à fração do complemento C1q, é sintetizada principalmente pelos adipócitos, mas também é produzida nos músculos esqueléticos, nos miócitos cardíacos e nas células endoteliais.1 O gene da adiponectina humana localiza-se no cromossomo 3q27. Possui três receptores: AdipoR1, AdipoR253e T-caderina,54 dos quais o primeiro é expresso mais abundantemente no músculo esquelético, o segundo no fígado, e o terceiro no coração e nas artérias. No soro, a adiponectina pode ser encontrada como polímeros ou como fragmentos proteolíticos.6 Sua concentração sérica humana está entre 5–10 mg/mL.4 A adiponectina está diminuída no sangue em casos de obesidade visceral e naqueles com resistência à insulina, bem como na esteatose hepática não alcoólica e no diabetes mellitus tipo 2.55 Animais obesos tratados com adiponectina diminuem a hiperglicemia e o nível de lipemia e melhoram a sensibilidade à insulina.56 Portanto, admite-se uma atividade de proteção contra a resistência à insulina e um efeito antidiabético. Enquanto a leptina tem atividade pró-inflamatória, a adiponectina parece apresentar atividade anti-inflamatória,4,6 com efeito sobre as células endoteliais pela inibição da expressão das moléculas de adesão induzidas pelo TNF.57 No sistema imune inato, a adiponectina suprime o aumento da atividade citotóxica das células NK pela IL-2 e também a produção de IFN-γ.58 Ela exerce efeito anti-inflamatório por reduzir a produção e a atividade do TNF-α e da IL-6, e também por induzir a produção de mediadores anti-inflamatórios como a interleucina 10 (IL-10) e o antagonista do receptor da interleucina 1 (IL-1 RA).59 Inibe, ainda, a proliferação e a atividade fagocítica dos monócitos, e reduz a capacidade fagocítica do macrófago.59 Entretanto, promove a fagocitose das células apoptóticas pelos macrófagos, cujo acúmulo é capaz de desencadear inflamação ou disfunção do sistema imune.60 Embora a adiponectina atue de forma contrária à leptina, inibindo a ativação e a proliferação dos linfócitos T e a linfopoiese do B,61 seu efeito na produção das citocinas parece depender da isoforma,62 do tipo e da ativação da célula-alvo, bem como da presença de citocinas pró-inflamatórias que possam modificar sua expressão.1 ADIPOCINAS E AS DOENÇAS AUTOIMUNES REUMÁTICAS Nos últimos anos houve esforços para esclarecer o papel das adipocinas, principalmente da leptina e da adiponectina, nas doenças autoimunes, particularmente nas doenças reumáticas como AR63–67e LES.68 Adipocinas e lúpus eritematoso sistêmico As adipocinas estão aumentadas no LES,10,68–71 porém a maioria dos artigos não mostra correlação das mesmas com a atividade da doença (Tabela 1). Tabela 1 Dosagem de adipocinas no lúpus eritematoso sistêmico Autor e ano Tipo de estudo Pacientes Controles *Dosagem de leptina *Dosagem de adiponectina Atividade da doença Garcia-Gonzalez et al., 200210 Transversal 41 23 Aumentada (sérica) Não realizada Não houve correlação Sada et al., 200669 Transversal 37 80 Aumentada (sérica) Aumentada (sérica) Não avaliada Al et al., 200971 Coorte 105 77 Aumentada (sérica) Não houve diferença Não houve correlação Wislowska et al., 200841 Transversal 30 30 Não houve diferença (sérica) Não realizada Não houve correlação Rovin et al., 200570 Coorte 47 (ativos) 33 (inativos) 28 Não realizada Aumentada (sérica e urinária) Correlação com A adiponectina urinária pode atividade renal ser um marcador renal Chung et al., 200968 Transversal 109 78 Aumentada (sérica) Aumentada (sérica) Não houve correlação Observações A leptina sérica foi menor nos pacientes com artrite e envolvimento do SNC A leptina sérica correlacionou-se com resistência à insulina *Dosagem de leptina ou adiponectina em comparação aos controles. SNC: sistema nervoso central. 280 Rev Bras Reumatol 2012;52(2):271-287 Possível papel das adipocinas no lúpus eritematoso sistêmico e na artrite reumatoide Em 2002, Garcia-Gonzalez et al.10 avaliaram 41 mulheres com LES com níveis aumentados de leptina quando comparadas aos controles, embora sem correlação com a atividade ou a duração da doença ou com a idade das pacientes. Estudo de Sada et al.69 mostrou maior concentração de leptina e de adiponectina em pacientes com LES. A adiponectina foi significativamente elevada nas pacientes lúpicas sem resistência à insulina, sugerindo um papel dessa adipocina na resistência à insulina. Al et al.,71 avaliando crianças lúpicas, observaram maior concentração da leptina (34%) em comparação aos controles, porém nenhuma diferença na concentração da adiponectina. Foram avaliados 105 pacientes com LES (21 do gênero masculino e 84 do gênero feminino) com média de idade de 14,98 anos, que foram comparados com crianças saudáveis. Como nos estudos em adultos, não houve correlação da leptina com os índices de atividade da doença. Os autores sugeriram, então, que as adipocinas não são marcadores de atividade. Wislowska et al.,41 avaliando 30 pacientes lúpicas e 30 controles, mostraram que não houve diferença no nível sérico de leptina entre pacientes com LES e o grupo-controle. Porém, o nível de leptina foi menor nas pacientes com artrite e envolvimento do SNC que naquelas sem essas manifestações. Os autores sugeriram que a inflamação crônica ativa poderia diminuir a concentração de leptina. Rovin et al.70 relataram que o nível plasmático de adiponectina estava aumentado nos pacientes com LES com envolvimento renal, quando comparados aos pacientes sem envolvimento renal e aos controles saudáveis. O nível urinário da adiponectina aumentava significativamente na atividade renal, sugerindo que a adiponectina urinária poderia ser um marcador de atividade renal. Chung et al.68 investigaram a concentração de resistina, visfatina, leptina e adiponectina em 109 pacientes com LES e suas correlações com aterosclerose coronariana, resistência à insulina e inflamação. As pacientes com LES apresentaram maior concentração de adiponectina, leptina e visfatina em comparação ao grupo-controle, porém nenhuma adipocina correlacionou-se com aterosclerose coronariana. A baixa concentração de adiponectina e a alta concentração de leptina foram associadas à resistência à insulina, ao índice de massa corporal (IMC) e à proteína C-reativa (PCR). Os autores sugeriram que as adipocinas promovem a ligação entre a resistência à insulina e a inflamação. Adipocinas e artrite reumatoide Com relação à AR, os trabalhos mostram resultados conflitantes em relação ao papel das adipocinas.72 Leptina e artrite reumatoide Em vários estudos, a dosagem de leptina em pacientes com AR tem-se mostrado maior que em controles,40,63–65,73,74 e alguns trabalhos demonstram correlação com atividade de doença40,63,64,73 (Tabela 2). Tabela 2 Dosagem de leptina na artrite reumatoide Autor e ano Tipo de estudo Pacientes Controles *Dosagem de leptina Atividade da doença Observação Bokarewa et al., 200340 Transversal 76 34 Aumentada (sérica e sinovial) Houve correlação Menor nível no líquido sinovial foi associado à doença não erosiva Otero et al., 200673 Transversal 31 18 Aumentada (sérica) Houve correlação Lee et al., 2007 Transversal 50 Não Aumentada (sérica) Houve correlação Targonska-Stepniak et al., 200864 Transversal 37 Não Aumentada (sérica) Houve correlação Salazar-Paramo et al., 200175 Transversal 30 30 Aumentada (sérica) Não houve correlação Gunaydin et al., 200674 Transversal 50 34 Seven et al., 200965 Transversal 20 25 Aumentada (sérica e sinovial) Não houve correlação Anders et al., 1999 Transversal 58 16 Não houve diferença (sérica) Não houve correlação Popa et al., 200578 Transversal 31 18 Não houve diferença (sérica) Correlação inversa Transversal 41 25 Não houve diferença (sérica) Não houve correlação Transversal 30 30 Não houve diferença (sérica) Não houve correlação 63 8 Hizmetli et al., 200777 76 Wislowska et al., 2007 Aumentada (sérica) Correlação com AR erosiva e longa duração Não houve correlação Anti-TNF-α não alterou os níveis de leptina *Dosagem de leptina em comparação aos controles. AR: artrite reumatoide. Rev Bras Reumatol 2012;52(2):271-287 281 Barbosa et al. Em 2003, Bokarewa et al.40 avaliaram o nível de leptina sérica e no líquido sinovial de 76 pacientes com AR e os correlacionaram com duração, atividade e alterações radiológicas. Os autores encontraram aumento significativo de leptina no sangue dos pacientes em comparação aos controles saudáveis, e esse nível foi maior que o sinovial. Não houve correlação com a duração da doença, e o menor nível de leptina no líquido sinovial foi associado à doença não erosiva. Os autores sugeriram que o menor nível encontrado no líquido sinovial deveu-se ao consumo local, e que ele poderia exercer efeito protetor para o dano articular. Otero et al.73 também observaram maior nível plasmático de leptina, adiponectina e visfatina em pacientes com AR que nos controles, sugerindo papel modulador da inflamação nesses pacientes. Lee et al.63 investigaram se os níveis de leptina estavam elevados nos pacientes com AR em atividade e se esses níveis correlacionavam-se com a atividade da doença. Os autores encontraram aumento significativo da leptina nos pacientes com alta atividade da doença e correlação positiva entre a leptina, o DAS28 e a PCR. Nos pacientes com alta atividade de doença, que foram acompanhados e tiveram redução do DAS28, também houve redução significativa do nível da leptina. Os autores concluíram que os níveis de leptina correlacionaram-se com a atividade da doença. Targonska-Stepniak et al.64 avaliaram 37 pacientes com AR e encontraram aumento significativo da concentração de leptina na doença erosiva e nos pacientes com doença de longa duração. O nível de leptina correlacionou-se positivamente com o valor do DAS28, com a velocidade de hemossedimentação (VHS) e com o número de articulações dolorosas, sugerindo que a leptina está associada à atividade da doença e a um risco de destruição progressivo da articulação. Em outros estudos,65,74,75 embora o nível de leptina estivesse mais elevado nos pacientes com AR em comparação aos controles, não foi observada correlação clínica e laboratorial com a atividade da doença. Em 2001, Salazar-Paramo et al.75 observaram que a média do nível de leptina foi duas vezes maior nos pacientes com AR que nos controles, e não observaram nenhuma associação a números de articulações edemaciadas, duração da rigidez matinal e VHS. Comparando-se o nível de leptina dos pacientes com atividade de doença ao dos pacientes em remissão, não houve diferença significativa. Gunaydin et al.74 avaliaram os níveis séricos de leptina nos pacientes com AR e os correlacionaram com os parâmetros clínicos e laboratoriais de atividade da doença. Embora o nível sérico tenha sido maior nos pacientes com AR, não houve correlação entre o nível de leptina e a duração da doença, contagem de articulações dolorosas e edemaciadas, DAS28, PCR, VHS, 282 TNF-α e uso de corticoide e metotrexato (MTX). Não houve diferença significativa entre o nível de leptina nos pacientes com alta ou baixa atividade de doença. O nível de leptina foi significativamente mais elevado nos pacientes com AR que nos controles, porém sem correlação clínica e laboratorial com a atividade da doença. Em 2009, Seven et al.65 encontraram níveis significativamente maiores de leptina sérica e no líquido sinovial nos pacientes com AR comparados aos controles, e nos pacientes com moderada atividade comparados aos com baixa atividade. Os níveis séricos de leptina foram independentes da idade e dos marcadores de inflamação. Os autores sugeriram que os níveis não poderiam ser usados para avaliar a atividade da doença. Apesar desses achados, alguns estudos8,76,77 mostram que a concentração da leptina nos pacientes com AR é similar aos controles saudáveis. Em 1999, Anders et al.8 determinaram o nível sérico da leptina em 58 pacientes com AR e em 16 controles, e não encontraram diferença significativa entre os grupos. A leptina correlacionou-se com a porcentagem de gordura corporal, mas não com a atividade da doença. Popa et al.78 tentaram correlacionar a leptina com a inflamação e investigaram se o anti-TNF-α modulava sua concentração. Os autores não encontraram diferença na concentração de leptina entre os pacientes com AR e os controles, e ainda encontraram correlação inversa com a inflamação. Após duas semanas de tratamento com anti-TNF-α, não foi observada mudança na concentração de leptina. Os autores sugeriram que a inflamação crônica poderia diminuir os níveis de leptina. Hizmetli et al.77 não encontraram diferença significativa do nível de leptina entre os pacientes com AR e os controles saudáveis. Tanto o nível sérico quanto o do líquido sinovial não se correlacionaram com duração da doença, VHS, PCR, fator reumatoide e erosões articulares. Os autores concluíram que a leptina não se correlaciona com a atividade de doença. Wislowska et al.76 também não encontraram diferença significativa da leptina sérica entre pacientes com AR e os controles com osteoartrite. Adiponectina e artrite reumatoide O aumento da adiponectina, observado nos pacientes com AR,79–81 tem sugerido uma atividade pró-inflamatória, mais que anti-inflamatória (Tabela 3). Senolt et al.79 encontraram nível sérico de adiponectina significativamente maior nos pacientes com AR que nos controles saudáveis, comparável ao nível dos pacientes com osteoartrite – a concentração no líquido sinovial nos pacientes com AR, porém, foi maior que naqueles com osteoartrite. Os Rev Bras Reumatol 2012;52(2):271-287 Possível papel das adipocinas no lúpus eritematoso sistêmico e na artrite reumatoide autores concluíram que o aumento da adiponectina do líquido sinovial dos pacientes com AR pode contrapor ao processo inflamatório local. Em 2009, Laurberg et al.80 compararam o nível de adiponectina em pacientes com AR inicial sem DMARDs a pacientes com AR crônica, com osteoartrite e indivíduos saudáveis. Eles também avaliaram a mudança do nível de adiponectina durante o tratamento com MTX em um subgrupo de AR crônica. A adiponectina foi significativamente menor nos indivíduos saudáveis em comparação aos pacientes com AR inicial, AR crônica ou osteoartrite. Nos pacientes com AR crônica tratados com MTX houve aumento de 13% no nível da adiponectina. Ebina et al.81 compararam os níveis séricos de adiponectina em pacientes com AR severa, leve e em controles, e observaram que houve correlação da adiponectina com o grau de severidade da doença, mas não houve correlação com marcadores inflamatórios (PCR e DAS28), sugerindo associação entre o número de articulações destruídas e a elevação da proteína. No estudo de Targonska-Stepniak et al.,82 a adiponectina correlacionou-se com a doença de longa duração (> 10 anos), apresentando relação positiva com o aumento da idade e o tempo de doença e relação negativa com a atividade da doença. Ao contrário da leptina, cujos níveis não se alteram com o uso do anti-TNF-α,78 alguns estudos têm demonstrado ação dessa droga sobre os níveis de adiponectina.83–85 No trabalho de Härle et al.,86 no entanto, essa correlação não foi evidenciada. Nagashima et al.83 observaram que o nível de adiponectina não apresentou diferença significativa entre os controles saudáveis e os pacientes com AR. Porém, no grupo de mulheres tratadas com infliximabe e etanercepte, o nível de adiponectina foi significativamente maior. No estudo de Komai et al.,84 os autores observaram aumento significativo do nível de adiponectina na segunda e na sexta semanas de aplicação do infliximabe, e sugeriram um papel do TNF-α na expressão dessa adipocina. Nashida et al.85 avaliaram 97 pacientes com AR ativa tratados com infliximabe a cada oito semanas, por 52 semanas, e observaram aumento significativo da adiponectina e melhora da atividade da doença e dos marcadores inflamatórios. Os autores sugeriram que essa proteína e o TNF-α têm efeitos opostos, e o bloqueio do TNF-α pode interferir na aterosclerose, direta ou indiretamente, por meio da adiponectina, melhorando a morbimortalidade cardiovascular da doença inflamatória crônica. Tabela 3 Dosagem de adiponectina na artrite reumatoide Autor e ano Tipo de estudo Pacientes Controles *Dosagem de adiponectina Atividade da doença Observações Senolt et al., 200679 Transversal 20 21 (OA) 23 (sadios) Aumentada (sérica e LS) Não houve correlação No LS houve correlação negativa com a contagem de leucócitos do LS na AR 114 35 (OA) 45 (sadios) Aumentada (sérica) Não houve correlação Aumento maior nos pacientes tratados com MTX Coorte 37 (AR leve) 53 (AR severa) 42 Aumentada (sérica) Não houve correlação Houve correlação com o grau de severidade Targonska-Stepniak et al., 201082 Transversal 80 Não Não avaliado Correlação negativa Correlação com doença de longa duração Nagashima et al., 200883 Coorte 46 (IFX) 28 (etanercepte) 37 (sem antiTNF-α) 19 Não houve diferença (sérica) Não demonstrado Aumento da dosagem sérica após tratamento com antiTNF-α Komai et al., 200784 Coorte 15 (IFX) Não Não avaliado Correlação negativa Aumento da dosagem sérica após tratamento com antiTNF-α Nashida et al., 200885 Coorte 97 (IFX) Não Não avaliado Não houve correlação Aumento da dosagem sérica após tratamento com antiTNF-α Härle et al., 200686 32 (ADA) Não Não avaliado Não houve correlação Não alterou a dosagem sérica com o tratamento com antiTNF-α Laurberg et al., 200980 Coorte Ebina et al., 200981 Coorte *Dosagem de adiponectina em comparação aos controles. OA: osteoartrite; LS: líquido sinovial; AR: artrite reumatoide; MTX: metotrexato; IFX: infliximabe; ADA: adalimumabe. Rev Bras Reumatol 2012;52(2):271-287 283 Barbosa et al. Härle et al.86 avaliaram os níveis de leptina e de adiponectina em 32 pacientes com AR tratados com adalimumabe por 12 semanas, e não encontraram mudança durante o tratamento. Nos 16 pacientes previamente tratados com prednisona os níveis de adiponectina foram significativamente menores que nos pacientes sem corticoide, e essa diferença permaneceu durante todo o período. Os autores concluíram que nos pacientes com AR os níveis séricos de leptina e de adiponectina não são ligados à inflamação e não diminuem após 12 semanas de tratamento com anti-TNF-α. O aumento da adiponectina observado nos pacientes com AR após o tratamento com anti-TNF-α sugere sua atividade anti-inflamatória. Portanto, o efeito (pró-inflamatório ou anti-inflamatório) da adiponectina na AR ainda permanece em aberto. ADIPOCINAS E DANO ARTICULAR REFERENCES REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 14,87,88 Alguns trabalhos mostram que a obesidade protege contra o dano articular na AR. Embora o mecanismo não seja bem conhecido, as adipocinas parecem estar envolvidas. No estudo de Giles et al. 66 a adiponectina mostrou forte associação ao dano radiológico. O mesmo, porém, não foi observado com a resistina e a leptina. Os autores concluíram que a adiponectina pode representar a ligação entre a menor massa gordurosa e o dano radiológico e também pode ser uma nova estratégia terapêutica para atenuação do mesmo. Rho et al.67 avaliaram a concentração sérica de leptina, resistina, adiponectina e visfatina em 167 pacientes com AR e encontraram maior concentração de todas as adipocinas, quando comparadas aos controles. A visfatina mostrou associação positiva com maior dano radiológico, enquanto a leptina mostrou associação negativa. Os autores sugerem que as adipocinas estão aumentadas nos pacientes com AR e que podem modular o dano articular. COMENTÁRIOS FINAIS A descoberta das adipocinas revelou o importante papel das células adiposas na homeostasia, e que seus produtos, citocinas e hormônios, exercem ação no sistema imune. Contudo, ainda são controversos os resultados dos estudos desses mediadores nas enfermidades reumáticas. Julgamos necessários mais estudos comparativos, em diferentes fases das doenças, em diferentes populações, com métodos reprodutíveis, para compreender melhor a função e a importância dessas substâncias nesse subgrupo de pacientes. 284 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. Tilg H, Moschen AR. Adipocytokines: mediators linking adipose tissue, inflammation and immunity. Nat Rev Immunol 2006; 6(10):772–83. Vandanmagsar B, Youm YH, Ravussin A, Galgani JE, Stadler K, Mynatt RL et al. The NLRP3 inflammasome instigates obesityinduced inflammation and insulin resistance. 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Artralgia e artrite são sintomas frequentes, que afetam por volta de 40% dos pacientes, o que indica a necessidade de sua inclusão no diagnóstico diferencial das doenças reumatológicas, principalmente se em conjunto com outras apresentações da vasculite leucocitoclástica, caracterizadas pela combinação de manifestações reumáticas com alterações cutâneas características. Descrevemos o caso de uma paciente de 18 anos que desenvolveu eritema elevatum diutinum, cujo diagnóstico baseou-se nas características morfológicas, no padrão de distribuição das lesões cutâneas e nos achados histopatológicos de vasculite leucocitoclástica. O principal sintoma sistêmico era uma artrite severa. Palavras-chave: artrite, dapsona, dermatopatias, eritema, vasculite. © 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. INTRODUÇÃO O eritema elevatum diutinum (EED) é uma dermatose crônica e rara, considerada uma variante da vasculite leucocitoclástica. Foi originalmente descrita por Hutchinson1 em 1888 e por Bury2 em 1889; entretanto, o nome eritema elevatum diutinum foi utilizado pela primeira vez em 1894, por Radcliffe-Crocker et al.,3 que encontraram similaridades entre os achados clínicos apresentados por seus pacientes e os casos descritos por Hutchinson e Bury. O nome EED explica-se pelas características das lesões cutâneas, que são avermelhadas (eritema), elevadas (elevatum) e persistentes (diutinum), tendendo a uma distribuição simétrica nas superfícies extensoras das articulações das extremidades e nas nádegas.4 A etiologia do EED permanece desconhecida. Acreditase que seja mediada pela deposição de imunocomplexos circulantes nos espaços da derme perivascular, secundário a infecções estreptocócicas e a doenças hematológicas ou autoimunes, induzindo uma cascata inflamatória que causaria dano à parede dos vasos e consequente fibrose.5 Essa doença pode ocorrer em qualquer idade, com pico de incidência entre a terceira e a sexta décadas de vida, com poucos casos descritos em pacientes pediátricos. O EED é visto igualmente em ambos os gêneros. Os casos femininos geralmente ocorrem em idade mais precoce e apresentam frequentemente uma doença reumatológica concomitante.6 A artralgia é o sintoma mais comum, verificado em até 40% dos casos.7 O EED pode também estar associado a artrite importante e a elevação das provas de atividade inflamatória, devendo ser sempre considerado no diagnóstico diferencial das doenças reumatológicas. Recebido em 21/12/2010. Aprovado, após revisão, em 14/12/2011. Os autores declaram a inexistência de conflito de interesse. Serviços de Dermatologia e Reumatologia do Hospital Universitário, Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF. 1. Especialista em Clínica Médica, Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora; Dermatologista, Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF 2. Dermatologista, UFJF 3. Professor e Preceptor de Reumatologia, UFJF; Presidente da Sociedade Mineira de Reumatologia 2011–2012 4. Professor de Reumatologia, UFJF; Chefe do Serviço e da Disciplina de Reumatologia, UFJF 5. Professora de Reumatologia, UFJF 6. Estudante do curso de Graduação em Medicina, UFMG Correspondência para: Dário Júnior de Freitas Rosa. Rua Catulo Breviglieri, s/n – Santa Catarina. CEP: 36.036-110. Juiz de Fora, MG, Brasil. E-mail: [email protected] Rev Bras Reumatol 2012;52(2):288-294 291 Rosa et al. Descrevemos o caso de uma paciente com 18 anos cujas lesões cutâneas apresentavam características morfológicas, padrão de distribuição e achados histopatológicos de uma vasculite leucocitoclástica, consistentes com o diagnóstico de EED, em que o principal sintoma sistêmico associado era a queixa de intensa artrite nos punhos, cotovelos e joelhos. Mediante esses achados, a paciente iniciou tratamento com dapsona (100 mg/dia) e prednisona (20 mg/dia), evoluindo com melhora parcial dos sintomas articulares e das lesões cutâneas após três meses de tratamento, persistindo algumas lesões sobre as articulações metacarpofalangeanas de ambas as mãos e do dorso dos pés. Ocorreu hipercromia residual nas superfícies extensoras dos punhos, cotovelos e joelhos. RELATO DE CASO Paciente do gênero feminino, 18 anos, branca, solteira, estudante, encaminhada para avaliação reumatológica por apresentar há cerca de três anos quadro de poliartrite associada a fenômeno de Raynaud e lesões cutâneas nos membros superiores e inferiores. Negava uso de medicações precedendo o quadro clínico. Ao exame físico, apresentava eritema, edema, calor e dor acometendo predominantemente articulações dos punhos, cotovelos e joelhos. As lesões cutâneas eram caracterizadas por pápulas e placas eritêmato-purpúreas e acastanhadas simetricamente distribuídas sobre as superfícies extensoras das articulações metacarpofalangeanas, punhos, cotovelos, joelhos, pernas, dorso dos pés e nádegas, de caráter persistente. Notavam-se também placas eritêmato-purpúreas de aspecto xantomatoso na região anterior das pernas (Figura 1). A paciente referia tratamento por cinco meses com prednisona (40 mg/dia) e anti-inflamatórios não hormonais, com pouca melhora dos quadros cutâneo e articular. O diagnóstico de EED foi proposto em avaliação conjunta com o serviço de dermatologia, e foram solicitados exames complementares, incluindo hemograma, dosagem de plaquetas, bioquímica, função hepática e renal, glicemia de jejum, colesterol total e frações, triglicerídeos séricos, dosagem de glicose 6-fosfato desidrogenase, creatinofosfoquinase, desidrogenase lática, VDRL, ASLO, hormônios tireoidianos, sorologia para HIV e hepatites, fator reumatoide, Waaler-Rose, anticorpos antinucleares, autoanticorpos (anti-Ro, anti-La, anti-DNA e anti-RNP), dosagem de crioglobulinas e crioaglutininas, radiografia de tórax e tomografia computadorizada dos seios da face – todos sem alteração. Havia, no entanto, elevação das provas de atividade inflamatória (velocidade de hemossedimentação de 66 mm na primeira hora e proteína C-reativa de 10,91 mg/L), P-ANCA positivo na titulação de 1:40 e pico de gamaglobulina (30%) na eletroforese de proteínas. A paciente foi submetida a estudo histopatológico de lesão na perna esquerda, que evidenciou área focal de necrose epidérmica, com derme superficial e profunda apresentando infiltrado inflamatório perivascular composto por linfócitos, neutrófilos e eosinófilos, além de infiltração neutrofílica endotelial, leucocitoclasia e extravasamento de hemácias (Figura 2), quadro histológico de uma vasculite leucocitoclástica. 292 Figura 1 Lesões papulonodulares acastanhadas e violáceas e placas eritêmato-purpúreas na região anterior dos membros inferiores. Figura 2 Vasculite leucocitoclástica. Epiderme sem alterações no local. Na derme nota-se infiltrado disperso e perivascular composto predominantemente por neutrófilos, com alguns linfócitos e eosinófilos, associado à fragmentação nuclear (leucocitoclasia), além de infiltração neutrofílica endotelial. Os vasos dérmicos mostram edema das células endoteliais e depósitos fortemente eosinofílicos em sua parede, compatível com degeneração fibrinoide. Nota-se discreto extravasamento de hemácias. (Hematoxilina-eosina – 100x). Rev Bras Reumatol 2012;52(2):288-294 Eritema elevatum diutinum como diagnóstico diferencial das doenças reumatológicas: relato de caso DISCUSSÃO O EED é uma doença crônica rara que se manifesta com placas, pápulas e nódulos eritêmato-purpúreos que, na maioria das vezes, assumem distribuição simétrica, persistente e de localização acral, preferencialmente nas superfícies extensoras de mãos, pés, cotovelos e joelhos, além de nádegas, pernas e tendões de Aquiles. As lesões iniciais tendem a ser macias, mas com o passar do tempo tornam-se duras e firmes, refletindo sua tendência à fibrose.8 Na paciente relatada, as lesões apresentavam padrão de distribuição típico sobre faces extensoras das articulações de mãos, cotovelos, joelhos e nádegas, associadas a lesões purpúreas e acastanhadas nos membros inferiores. Menos comumente, localizações atípicas das lesões cutâneas têm sido referidas no tronco, retroauricular, em palmas e plantas.9 Burnett et al.10 relatam a possibilidade de exacerbação das lesões cutâneas com infecção bacteriana concomitante. O estado geral do paciente geralmente não é afetado, havendo pouco ou nenhum envolvimento sistêmico.4 A artralgia é o sintoma sistêmico mais comum, com relatos também de dor em queimação acentuada e vespertina nas áreas de pele envolvidas, prurido e sintomas constitucionais.7 Notamos, no caso relatado, presença de importante artrite em punhos, cotovelos e joelhos, e do fenômeno de Raynaud, associados à elevação das provas de atividade inflamatória (velocidade de hemossedimentação e proteína C-reativa), tornando necessário o diagnóstico diferencial para diversas doenças reumatológicas que cursam com essas alterações. As malignidades hematológicas são consideradas os fatores mais comumente associados, presentes em aproximadamente 30% dos casos, das quais a mais frequente é a gamopatia monoclonal por IgA.11,12 A paciente referida apresentava como anomalia hematológica um pico de gamaglobulina de 30%. Relata-se também a associação dessa vasculite com doenças neoplásicas, autoimunes e infecciosas, destacando-se a infecção pelo vírus da imunodeficiência adquirida. Neste último, a apresentação clínica pode ser alterada com presença de lesões nodulares e envolvimento palmoplantar.10 As principais doenças reumatológicas já relacionadas com o quadro são artrite reumatoide, policondrite recidivante, lúpus eritematoso sistêmico, síndrome de Sjögren e artrite idiopática juvenil.4,8,13 Essas associações são mais frequentemente evidenciadas em pacientes jovens do gênero feminino.6 Embora não tenha sido caracterizada qualquer doença reumatológica associada no caso relatado, a artrite era intensa e motivou a consulta inicial da paciente. Rev Bras Reumatol 2012;52(2):288-294 Os achados histopatológicos não são patognomônicos, embora possam ser altamente sugestivos.4 Nas lesões precoces de EED evidenciam-se sinais de uma vasculite leucocitoclástica, demonstrando fibrina, neutrófilos e fragmentos de neutrófilos na parede dos pequenos vasos da derme média e superficial.13,14 Todos esses elementos são compatíveis com a descrição dos achados histopatológicos da paciente. Nas lesões tardias, os achados incluem a combinação de tecido de granulação ou cicatrização com a proliferação de células fusiformes na derme, associadas ou não a células gigantes multinucleadas. O depósito de complexos imunes circulantes na derme perivascular induz uma cascata inflamatória, que provoca dano vascular e consequente fibrose.9,11 Algumas doenças reumatológicas podem apresentar os achados histopatológicos de vasculite leucocitoclástica associados a manifestações cutâneas características (notadamente doença de Behçet, vasculite crioglobulinêmica, púrpura de Henoch-Schönlein e as vasculites por hipersensibilidade) e devem, sempre, ser consideradas no diagnóstico diferencial do EED. O padrão de distribuição típico das lesões de pele nessa patologia ajuda a confirmar o diagnóstico.8 O tratamento do EED é dificultado porque a doença assume um curso crônico e recorrente.9 O tratamento de escolha e mais eficaz é a dapsona.14,15 O mecanismo exato de ação da dapsona não é totalmente conhecido, mas sabe-se que essa droga atua estabilizando os lisossomas dos neutrófilos ou interferindo na deposição de fator C3 do complemento. Outras hipóteses seriam a ação da dapsona na supressão do excesso de atividade quimiotática dos neutrófilos, na inibição da citotoxicidade dos neutrófilos, além da diminuição da concentração de intermediários oxigenados induzidos pela inflamação e da inibição das prostaglandinas D2, que são vasoativas e aumentam o potencial quimiotático dos leucotrienos B4.4 Nos casos em que há resistência à dapsona, algumas opções terapêuticas encontradas são colchicina, niacinamida associada à tetraciclina, corticosteroides sistêmicos e até troca intermitente de plasma, nos casos em que há associação a paraproteinemias por IgA.8,13 Embora as lesões sejam caracteristicamente persistentes, sua evolução é variável e imprevisível, havendo relatos de resolução espontânea sem recidiva e casos de recorrência em locais previamente envolvidos.10 Com a regressão das lesões, é comum a hiperpigmentação residual com atrofia ocasional.4 Descrevemos um caso de EED, uma forma crônica rara de vasculite leucocitoclástica, cujo diagnóstico deve ser sempre cogitado em pacientes que apresentam queixas reumatológicas associadas a manifestações cutâneas características e estudo histopatológico compatível. 293 Rosa et al. REFERENCES 9. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 294 Hutchinson J. On two remarkable cases of symmetrical purple congestion of the skin in patches, with induration. Br J Dermatol 1888; 1:10–5. Bury JS. A case of erythema with remarkable nodular thickening and induration of the skin associated with intermittent albuminuria. Illus Med News 1889; 3:145–7. Radcliffe-Crocker H, Williams C. Erythema elevatum diutinum. Br J Dermatol 1894; 6:33–8. Antonio JR, Antonio CR, Balau JP, Miguel D, d’Ávila SCGP. Eritema elevatum diutinum: relato de caso e revisão da literatura. An Bras Dermatol 2002; 77(4):481–7. Rover PA, Bittencourt C, Discacciati MP, Zaniboni MC, Arruda LHF, Cintra ML. Erythema elevatum diutinum as a first clinical manifestation for diagnosing HIV infection: case history. São Paulo Med J 2005; 123(4):201–3. Tomasini C, Seia Z, Dapavo P, Soro E, Addese C, Pippione M. Infantile erythema elevatum diutinum: report of a vesico-bullous case. Eur J Dermatol 2006; 16(6):683–6. 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Manifestações hematológicas da síndrome de Sjögren primária (SSp) geralmente consistem em anemia leve, trombocitopenia, neutropenia moderada e linfopenia. Agranulocitose é raramente descrita e, em geral, responde bem ao tratamento de imunossupressão. Neste trabalho, descrevemos o caso de uma paciente portadora de SSp que apresentou quadro de agranulocitose refratária ao tratamento. A biópsia de medula revelou medula óssea hipocelular com maturação normal da série granulocítica. A paciente foi sucessivamente tratada com prednisona em altas doses, fator estimulador de colônia de macrófagos e ciclosporina, todos sem resposta hematológica. Micofenolato mofetil (MMF) foi iniciado, e após dois meses houve aumento na contagem das células brancas. Após um ano de seguimento a paciente não apresentou novos episódios de neutropenia, nem complicações infecciosas. Concluímos que, na agranulocitose refratária associada à SSp, o tratamento com MMF pode ser uma opção eficaz e bem tolerada. Palavras-chave: neutropenia, agranulocitose, resultado de tratamento, imunossupressores, síndrome de Sjögren. © 2012 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. INTRODUÇÃO A síndrome de Sjögren (SS) é uma doença crônica autoimune caracterizada por infiltração linfocítica das glândulas salivares e lacrimais, que leva à progressiva destruição dessas glândulas.1 Pode ocorrer como uma síndrome localizada, que causa primariamente secura de boca e olhos (síndrome sica), ou como uma doença sistêmica, afetando múltiplos órgãos. Pode ainda ocorrer como um distúrbio primário ou secundário. No distúrbio primário, um paciente sem doença conhecida do tecido conjuntivo desenvolve os sintomas clássicos da síndrome sica. Em geral, as manifestações hematológicas da SS primária (SSp) consistem em anemia e trombocitopenia leves, além de neutropenia e linfopenia moderadas.1 Há relatos de agranulocitose inexplicada em pacientes com SSp.2–4 A produção de neutrófilos na medula óssea pode estar afetada, ou os neutrófilos podem ser destruídos na circulação por mecanismos imunes tanto humorais quanto celulares. A agranulocitose associada à SSp em geral responde aos esteroides usados isolados ou associados a imunossupressores.2,4,5 De modo diferente, um estudo relatou que esteroides isolados não foram eficazes e sua associação com metotrexato resultou apenas em resposta parcial e transitória.6 Recebido em 28/12/2010. Aprovado, após revisão, em 14/12/2011. Os autores declaram a inexistência de conflito de interesse. Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. 1. Doutora em Reumatologia, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP; Médica-Assistente dos Serviços de Reumatologia e Clínica Médica, Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC; Médica-Assistente do Serviço de Reumatologia do Hospital Governador Celso Ramos 2. Aluno do curso de Graduação em Medicina, UFSC 3. Doutor em Ciências Médicas, FMUSP; Professor Adjunto do Departamento de Clínica Médica, UFSC 4. Pós-graduando em Ciências, UFSC; Médico-Assistente do Núcleo de Reumatologia, UFSC 5. Doutor em Reumatologia, FMUSP; Chefe do Núcleo de Reumatologia do Hospital Universitário, UFSC Correspondência para: Sonia Cristina de Magalhães Souza Fialho. Rodovia Virgílio Várzea, 1510 – Bloco H-101 – Saco Grande. CEP: 88032-001. Florianópolis, SC, Brasil. E-mail: fi[email protected] Rev Bras Reumatol 2012;52(2):295-299 297 Fialho et al. Relatamos o caso de uma paciente com SSp que desenvolveu agranulocitose refratária, tendo sido tratada com sucesso com micofenolato mofetil (MMF). RELATO DE CASO A paciente é uma mulher de 69 anos com xerostomia e xeroftalmia crônicas, admitida em nosso hospital devido a pneumonia comunitária. Ela já havia apresentado pancitopenia, e fora submetida em outro centro médico a esfregaço e biópsia de medula óssea, que resultaram normais. Na admissão, os exames sanguíneos mostraram hemoglobina 11,4 g/dL, hematócrito 34,3% e plaquetas 317.000. A contagem de leucócitos foi de 2.800, com 392 neutrófilos (14%). A velocidade de hemossedimentação foi de 19 mm/h, o nível de proteína C-reativa foi de 2 mg/L, e o nível de creatinina, 1 mg/L. A eletroforese de proteínas séricas mostrou hipergamaglobulinemia policlonal. As pesquisas dos fatores reumatoide e antinuclear (1:320) foram positivas, mas a pesquisa de anti-SSA/SSB foi negativa. A avaliação oftalmológica confirmou ceratoconjuntivite seca e úlcera de córnea. A biópsia de medula óssea revelou hipocelularidade com maturação normal da série granulocítica e imunofenotipagem normal. A paciente foi inicialmente tratada com 1 g de ceftazidima endovenosa a cada 8 horas, prednisona 60 mg/dia e fator estimulador de colônias de macrófagos e granulócitos (GM-CSF). Após estabilização clínica, a paciente teve alta e foi encaminhada para acompanhamento ambulatorial, mas foi readmitida três outras vezes com agranulocitose, sendo novamente tratada com altas doses de corticosteroides e GM-CSF. A despeito disso, ela ainda apresentava contagem de leucócitos de 5.130, com 0 neutrófilos. O tratamento com ciclosporina até 100 mg duas vezes ao dia por oito meses não teve resposta hematológica (contagem de leucócitos de 3.180, com 60 neutrófilos). Decidimos finalmente iniciar 2 g/dia de MMF, e após dois meses a contagem de leucócitos foi de 3.510, com 2.200 neutrófilos. A dose de prednisona foi progressivamente reduzida para 2,5 mg/dia. Depois de oito meses, a contagem de leucócitos foi de 4.620, com 2.543 neutrófilos. Após acompanhamento de um ano, embora a paciente não tivesse apresentado melhora da secura ocular e oral, já não apresentou episódios de neutropenia nem complicações infecciosas. A paciente assinou termo de consentimento livre e informado, de acordo com a declaração de Helsinque. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil. 298 DISCUSSÃO O ácido micofenólico (MPA) é um inibidor seletivo da inosina monofosfato desidrogenase, que leva à inibição da via “de novo” da síntese de nucleotídeos. O efeito antiproliferativo do MPA afeta principalmente linfócitos T e B ativados, pois a proliferação dessas células depende da síntese de purina “de novo”, em comparação a outras células eucariontes.7 Uma vez sugerido que esses linfócitos desempenham papel importante na imunopatogênese de SSp,8 o MPA pode ser um agente promissor no tratamento dessa síndrome. Ainda são necessários estudos sobre a eficácia e a segurança do MMF na SSp em um maior número pacientes. Entretanto, o MMF tem sido usado como terapia de manutenção após o tratamento com rituximabe (anticorpo anti-CD20)9 e no tratamento da vasculite associada à SSp.10 Tais observações e o efeito imunossupressor do MPA em outras doenças autoimunes levaram Willeke et al.10 a avaliar (em um ensaio piloto controlado aberto) a eficácia e a segurança do tratamento com MMF em pacientes com SSp refratária aos outros agentes imunossupressores. Em geral, o tratamento com MMF resultou em melhora subjetiva da secura ocular na escala visual analógica e em redução da demanda por suplementação com lágrima artificial. No entanto, não houve alteração significativa dos parâmetros objetivos de secura de olhos e boca. O tratamento com MMF resultou ainda em uma redução significativa da hipergamaglobulinemia e do fator reumatoide, além de um aumento nos níveis do complemento e na contagem de leucócitos/neutrófilos, sugerindo que o MMF também possa ser eficaz para o tratamento da leucopenia associada à SSp. Em resumo, a associação de agranulocitose com SSp é rara, mas bem conhecida. Em geral, a agranulocitose responde aos esteroides usados isoladamente ou em associação com imunossupressores. Entretanto, em um estudo e no caso aqui relatado, os esteroides usados isoladamente não foram eficazes, tendo a associação com imunossupressores resultado apenas em resposta parcial e transitória. Nesses casos, o MMF pode ser uma opção de tratamento eficaz. REFERENCES REFERÊNCIAS 1. 2. Fox RI, Howell FV, Bone RC, Michelson P. Primary Sjögren syndrome: clinical and immunopathologic features. Semin Arthritis Rheum 1984; 14(2):77–105. Starkebaum G, Dancey JT, Arend WP. Chronic neutropenia: possible association with Sjögren’s syndrome. J Rheumatol 1981; 8(4):679–84. Rev Bras Reumatol 2012;52(2):295-299 Micofenolato mofetil na síndrome de Sjögren primária: uma opção para o tratamento da agranulocitose 3. 4. 5. 6. Petrasovicová V, Pavelka K Jr, Neuwirtová R, Korinková P, Alusík S, Trnavský K. Agranulocytosis in a patient with primary Sjögren’s syndrome. Clin Rheumatol 1990; 9(4):530–4. Ramakrishna R, Chaudhuri K, Sturgess A, Manoharan A. Haematological manifestations of primary Sjögren’s syndrome: a clinicopathological study. Q J Med 1992; 83(303):547–54. Yamato E, Fujioka Y, Masugi F, Nakamaru M, Tahara Y, Murata Y et al. 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Ann Rheum Dis 2003; 62(Suppl 1):352. 299 CARTA AOS EDITORES Passado nazista e mudança do nome de uma doença: o caso da doença de Wegener © 2011 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. Um dos reconhecimentos na vida de um médico é quando a descoberta de uma enfermidade recebe seu nome. Há um grande número de situações desse tipo, prática secular com muitos exemplos conhecidos. Um deles é a doença de Alzheimer, que provoca perda da memória. Outro exemplo é a doença de Crohn, uma forma de inflamação dos intestinos de natureza crônica conhecida pelo nome de um famoso gastroenterologista, Harold Crohn, do Hospital Mount Sinai de Nova York. Em 2001, na Revista Brasileira de Reumatologia, tive a oportunidade de ser um dos reumatologistas do mundo a divulgar embaraço que o nome atribuído a uma forma de artrite, conhecida como síndrome de Reiter,1 estava causando na literatura médica. Descobriu-se que Hans Reiter foi adepto de Hitler, líder nazista, tendo participado de experimentos em humanos nos campos de concentração. Várias sociedades médicas sugeriram a mudança do nome de "síndrome de Reiter" para "artrite reativa". Uma forma de inflamação das artérias e veias dos pulmões, dos seios da face e dos rins foi identificada como um tipo específico de inflamação crônica de natureza granulomatosa. Friedrich Wegener, patologista em Berlim, identificou essa enfermidade em 1937.2 A doença ficou conhecida como granulomatose de Wegener, e é considerada uma doença autoimune, na qual os anticorpos atacam o próprio corpo.3 Apesar de suspeitas de sua participação e colaboração na medicina nazista, os aliados o libertaram sem provas evidentes de que tenha tomado parte no hitlerismo. Entretanto, investigações subsequentes e mais recentes, capitaneadas por Eric Matteson (reumatologista de um dos mais prestigiosos centros médicos americanos, a Mayo Clinic), mostraram que Wegener foi um dedicado nazista, tendo inclusive se filiado ao partido meses antes de Hitler ascender ao poder – ao contrário de outros médicos, que tiveram que filiar-se ao nazismo para continuar exercendo a Medicina. Wegener trabalhou como patologista militar em Lodz, na Polônia, onde foi instalado o primeiro “ghetto” do nazismo, com mais de 250 mil judeus. Segundo o Dr. Matteson, Friedrich Wegener foi um nazista convicto – era Rev Bras Reumatol 2012;52(2):300-302 impossível ele não saber o que estava acontecendo. Wegener faleceu em 1990, aos 83 anos de idade, tendo recebido em vida várias homenagens da British Thoracic Society e da American Thoracic Society, entre outras.4 Existe um movimento nas sociedades médicas a fim de que se substitua o nome vasculite de Wegener para vasculite granulomatosa associada ao ANCA (teste laboratorial de natureza diagnóstica).5 A American Lung Association possuía um prêmio denominado Wegener, para jovens pneumologistas, e o eliminou. Um ano antes de sua morte (1989), Wegener recebeu o título de Master Physician do American College of Chest Physicians, que também foi destituído. Em minha produção científica tenho alguns trabalhos sobre essa enfermidade, mas pretendo, também, que modifiquem o título dos mesmos.5,6 Muitos progressos ocorreram no tratamento dessa doença, mas ela pode ter um curso fatal quando há perda de resposta ao tratamento. Esperamos que pacientes para os quais esses diagnósticos venham a ser feitos não mais apresentem doença de Wegener, mas vasculite ANCA positiva. Aos que tiverem oportunidade de ler este texto, divulguem-no, para que situações dessa natureza não continuem ocorrendo – qual seja, homenagear criminosos de guerra com seu próprio nome em caso de descobertas de vulto na história da Medicina. Em artigo recente, o American College of Rheumatology, a European League Against Rheumatism e a American Society of Nephrology propuseram o nome de poliangeíte granulomatosa.7 Morton Aaron Scheinberg, PhD REFERENCES REFERÊNCIAS 1. 2. 3. Scheinberg MA. O passado nazista do Dr. Reiter e a doença de Reiter. Rev Bras Reumatol 2001; 41(6):vi. Wegener F. Uber Generalisierte, septische Gefaesser – krankungen. Verh Dtsch Ges Pathol 1937; 29:202–10. Geller M, Scheinberg MA. Diagnóstico e tratamento das doenças imunológicas. São Paulo: Elsevier, 2005. 301 CARTA AOS EDITORES 4. 5. 302 Lefrak SS, Matteson EL. Friedrich Wegener: the past and present. Chest 2007; 132(6):2065. [Comment on: Chest 2007; 132(3):739–41] Maciel SB, Scheinberg MA, Kumar V. Specificity of antineutrophil cytoplasmic antibody: comment on the article by Choi et al. Arthritis Rheum 1999; 42(11):2494–5. [Comment on: Arthritis Rheum 1999; 42(2):384–8] 6. 7. Diniz R, Scheinberg MA. Granulomatose de Wegener. Diagnóstico diferencial e Revisão da Literatura. Rev Bras Reumatol 1979; 19(1):27–30. Falk RJ, Gross WL, Guillevin L, Hoffman GS, Jayne DR, Jennett JC et al.; American College of Rheumatology; American Society of Nephrology; European League Against Rheumatism. Granulomatosis with polyangiitis (Wegener’s): an alternative name for Wegener’s granulomatosis. Arthritis Rheum 2011; 63(4):863–4. Rev Bras Reumatol 2012;52(2):300-302