UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO ANDRÉ ROCHA DE ALBUQUERQUE MARANHÃO FATORES DETERMINANTES DA EXPERIÊNCIA DO CLIENTE: UM ESTUDO EM BARES E RESTAURANTES DO RIO DE JANEIRO E VITÓRIA. Rio de Janeiro 2011 ANDRÉ ROCHA DE ALBUQUERQUE MARANHÃO FATORES DETERMINANTES DA EXPERIÊNCIA DO CLIENTE: UM ESTUDO EM BARES E RESTAURANTES DO RIO DE JANEIRO E VITÓRIA Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Administração. Orientador: Prof. Kleber Fossati Figueiredo, D. Sc. Rio de Janeiro 2011 FATORES DETERMINANTES DA EXPERIÊNCIA DO CLIENTE: UM ESTUDO EM BARES E RESTAURANTES DO RIO DE JANEIRO E VITÓRIA. ANDRÉ ROCHA DE ALBUQUERQUE MARANHÃO Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Administração. Aprovada por: _________________________________________________ Prof. Kléber Fossati Figueiredo – Orientador COPPEAD / UFRJ _________________________________________________ Prof. Otávio Henrique dos Santos Figueiredo COPPEAD / UFRJ _________________________________________________ Prof. Jorge Manoel Teixeira Carneiro IAG PUC-RIO Rio de Janeiro 2011 AGRADECIMENTOS Agradeço, em primeiro lugar, a Deus, por ter me guiado nessa longa jornada de dois anos e meio e me iluminado para concluir essa dissertação. Gostaria de agradecer aos meus pais por todo o apoio que me deram desde quando tomei a difícil decisão de vir para o Rio de Janeiro fazer o mestrado. Jamais teria chegado até aqui sem o suporte e o amor de vocês, que me ajudaram incondicionalmente nessa conquista. Agradeço também à Carol por toda a paciência, companheirismo e amizade. Obrigado por sempre estar ao meu lado e por ser meu porto seguro nos momentos mais difíceis. Agradeço também aos meus familiares e amigos de Vitória e Recife que sempre me apoiaram e me deram forças para persistir. Apesar da distância, eles sempre se fizeram presentes nessa jornada. Também gostaria de agradecer aos meus amigos da turma 2009 por estarem próximos quando precisei superar obstáculos e também nos momentos de descontração. Quero agradecer ao meu orientador, professor Kleber Figueiredo, pela atenção e dedicação ao longo do desenvolvimento da minha dissertação, e por estar sempre disposto a me ajudar nas minhas dúvidas e preocupações. Estendo também o agradecimento a todos os professores do COPPEAD por compartilharem o seu conhecimento e me ajudar nessa fase de crescimento, em especial ao professor Otávio Figueiredo, sempre disponível para me ajudar nos desafios da estatística. Também agradeço a todos os funcionários do COPPEAD pela presteza de sempre. Por fim, gostaria de agradecer aos profissionais que me concederam um espaço nas suas agendas para realizar as entrevistas e contribuíram muito para o resultado final deste trabalho. Muito obrigado a todos! RESUMO Maranhão, André Rocha de Albuquerque. Fatores determinantes da experiência do cliente: um estudo em bares do Rio de Janeiro e Vitória. Rio de Janeiro, 2011. Dissertação (Mestrado em Administração de Empresas) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, instituto COPPEAD de Administração. Este trabalho teve como principal objetivo entender a experiência do cliente em bares e restaurantes, estudando como uma experiência positiva é formada e quais são os seus efeitos no negócio de bares e restaurantes. Para isso, o primeiro passo foi identificar os fatores que compõem a experiência em bares e restaurantes, enquanto o segundo passo dado foi o estudo da relação entre esses fatores e o valor percebido pelo cliente, sua satisfação e sua lealdade. O caminho percorrido teve início em uma extensa revisão da literatura acerca do tema. Buscou-se entender melhor o que é a experiência do consumidor, o que a forma, e como esse construto está inserido no contexto da indústria de bares e restaurantes. A partir daí, foi desenhado um modelo que baseou todo o estudo e auxiliou na reflexão acerca dos resultados do mesmo. O produto final da revisão de literatura foi uma lista de itens relacionados à experiência em bares e restaurantes, da qual se extraiu o questionário para a pesquisa quantitativa. Para contrastar os principais insights obtidos na revisão de literatura com a realidade local – tendo em vista que a maioria dos artigos estudados foi produzida no exterior –, foi realizada uma etapa qualitativa de entrevistas com especialistas no tema do trabalho. Foram consultados seis especialistas em bares e restaurantes, que analisaram a relação de itens obtida na revisão de literatura e corroboraram – ou rejeitaram – as ideias propostas. Após este confronto, foi produzido o questionário que, após passar por pré-testes para verificar sua clareza e aplicabilidade, foi transferido para uma plataforma online de aplicação e enviado para os respondentes através de e-mail e redes sociais. Foram selecionados para compor a amostra indivíduos adultos, frequentadores de bares e restaurantes, residentes nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e Vitória. No total, 189 indivíduos participaram da pesquisa, sendo aproveitados somente 148 questionários. Os dados obtidos foram tratados e submetidos à análise de distribuição de frequência, análise fatorial e análise de regressão múltipla. Os resultados indicaram a existência de cinco fatores ou dimensões que compõem a experiência do cliente em bares e restaurantes, sendo que apenas três deles – o Bem-Estar, a Comida e as Bebidas – têm influência sobre o Valor Percebido pelo Cliente, sua Satisfação e sua Lealdade. Palavras-chave: Experiência do cliente, Marketing de serviços, Bares e restaurantes. ABSTRACT Maranhão, André Rocha de Albuquerque. Fatores determinantes da experiência do cliente: um estudo em bares do Rio de Janeiro e Vitória. Rio de Janeiro, 2011. Dissertação (Mestrado em Administração de Empresas) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, instituto COPPEAD de Administração. This work aimed to understand customer experience in bars and restaurants, studying how a positive experience is forged and what are its effects on those businesses. With this goal, the first step was to identify factors that build customer experience in bars and restaurants, while the second step was to study the relationship between these factors and customer perceived value, satisfaction and loyalty. The work began with an extensive literature review on the subject. We sought to better understand what consumer experience is, what shapes this construct, and how it is inserted in the context of the restaurant industry. Thereafter, a model that gave foundation for the study and also helped to think about the results found was designed. The final product of the literature review was a list of items related to the experience in bars and restaurants, from which the questionnaire for the quantitative research was extracted. To contrast the main insights obtained in the literature review with the local reality given that most of the articles studied was produced abroad - a qualitative analysis was performed through interviews with experts in the field of work. Six experts in bars and restaurants were consulted, which examined the list of items obtained in the literature review and corroborated - or rejected - the ideas proposed. After this confrontation, a questionnaire was produced, and after undergoing pre-tests to check its clarity and applicability, it was transferred to an online platform for application and sent to respondents via e-mail and social networks. To compose the sample we selected adults, customers of bars and restaurants, residents in the metropolitan regions of Rio de Janeiro and Vitoria. In total, 189 individuals participated in the survey, but only 148 questionnaires could be used in the analysis. The data obtained were submitted to treatment and subjected to frequency analysis, factor analysis and multiple regression analysis. The results indicated the existence of five factors or dimensions that comprise the customer experience in bars and restaurants, with only three of them - Welfare, Food, and Drinks - having influence on Customer Perceived Value, Satisfaction, and Loyalty. Keywords: Customer experience, Services marketing, Bars and restaurants. ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 – Os Quatro Reinos da Experiência.............................................................31 Figura 2 – Modelo para a experiência do consumidor...............................................36 Figura 3 – Representações da relação entre Satisfação Lealdade...........................41 Figura 4 – A cadeia Serviço-Lucro.............................................................................44 Figura 5 – Expectativas, Confiança e Experiência em serviço...................................60 Figura 6 – Relação entre o ritmo da experiência em restaurantes e a satisfação.....65 Figura 7 – Five Aspect Meal Model………………………………………………………66 Figura 8 – Fatores que influenciam a experiência do cliente em um restaurante......68 Figura 9 – Modelo conceitual proposto......................................................................73 Figura 10 – Resumo das principais conclusões do estudo......................................118 ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1 – Distinção entre as ofertas econômicas....................................................38 Quadro 2 – Elementos do serviço..............................................................................57 Quadro 3 – Elementos do consumidor.......................................................................61 Quadro 4 – Elementos importantes para desenvolver a experiência em restaurantes................................................................................................................71 Quadro 5 – Variáveis independentes que representam os fatores da experiência positiva do cliente em bares e restaurantes...............................................................80 Quadro 6 – R² mínimo que pode ser considerado estatisticamente significativo, com um poder de 80%, de acordo com o número de variáveis independentes e o tamanho da amostra...................................................................................................91 Quadro 7 – Motivações para a experiência em bares e restaurantes........................95 Quadro 8 – Itens com maior grau de importância dentre as categorias da amostra.....................................................................................................................99 ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1 – Análise descritiva da variável Idade.........................................................93 Tabela 2 – Distribuição da variável Gênero...............................................................94 Tabela 3 – Distribuição da variável Estado civil.........................................................94 Tabela 4 – Distribuição da variável Grau de formação..............................................94 Tabela 5 – Distribuição da variável Local de residência............................................94 Tabela 6 – Grau de importância dos itens relacionados à experiência do cliente.........................................................................................................................98 Tabela 7 – Total da Variância Explicada..................................................................101 Tabela 8 – Teste de esfericidade de Bartlett e Medida de Adequação da Amostra....................................................................................................................102 Tabela 9 – Fatores encontrados e variáveis relacionadas.......................................103 Tabela 10 – Teste de confiabilidade das escalas dos fatores..................................106 Tabela 11 – Análise descritiva dos escores fatoriais obtidos...................................106 Tabela 12 – Dados descritivos para os itens do Valor Percebido, Satisfação e Lealdade...................................................................................................................108 Tabela 13 – Teste da escala do Valor Percebido pelo Cliente................................109 Tabela 14 – Teste da escala da Satisfação.............................................................109 Tabela 15 – Teste da escala da Lealdade...............................................................109 Tabela 16 – Resultados da regressão linear múltipla pelo método Enter................110 SIGLAS ABRASEL – Associação Brasileira de Bares e Restaurantes AMA – American Marketing Association CVP – Customer Perceived Value FAMM – Five Aspect Meal Model FGV – Fundação Getúlio Vargas IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística JUCERJA – Junta Comercial do Rio de Janeiro KMO – Kaiser-Meyer-Olkin MEEs – Módulos Experimentais Estratégicos PIB – Produto Interno Bruto POF – Pesquisa de Orçamentos Familiares ProEx – Provedores de Experiência SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15 1.1 OBJETIVOS DO ESTUDO ............................................................................... 17 1.2 RELEVÂNCIA DO ESTUDO ............................................................................ 18 1.3 LOCUS E DELIMITAÇÃO DO ESTUDO .......................................................... 20 1.4 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO ........................................................................ 23 2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................. 24 2.1 O CONCEITO DE EXPERIÊNCIA EM SERVIÇOS.......................................... 25 2.2 DIMENSÕES DA EXPERIÊNCIA DO CONSUMIDOR .................................... 29 2.3 A IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA PARA O MARKETING DE SERVIÇOS 37 2.3.1 A experiência potencializa a satisfação e a lealdade ................................. 39 2.3.2 A experiência impacta a atitude em relação à marca ................................ 41 2.3.3 A experiência pode aumentar as receitas e a lucratividade ....................... 43 2.3.4 A experiência atua na percepção de valor ................................................. 45 2.3.5 A experiência tem impacto no comportamento dos clientes ...................... 46 2.4 ELEMENTOS IMPORTANTES PARA O DESENVOLVIMENTO DA EXPERIÊNCIA ....................................................................................................... 47 2.4.1 Elementos do serviço................................................................................. 48 2.4.2 Elementos do consumidor ......................................................................... 58 2.5 A EXPERIÊNCIA NO SERVIÇO DE BARES E RESTAURANTES .................. 62 2.6 GERENCIANDO A EXPERIÊNCIA NO SERVIÇO DE BARES E RESTAURANTES .................................................................................................. 66 2.7 RESUMO E MODELO CONCEITUAL ............................................................. 72 3 METODOLOGIA .................................................................................................... 76 3.1 PRIMEIRA ETAPA: ENTREVISTA COM ESPECIALISTAS ............................ 76 3.2 SEGUNDA ETAPA: PESQUISA QUANTITATIVA ........................................... 78 3.3 PERGUNTAS DE PESQUISA.......................................................................... 78 3.4 OPERACIONALIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS E CONSTRUTOS ........................ 79 3.4.1 Variáveis associadas à Experiência do cliente em bares e restaurantes... 79 3.4.2 Variáveis associadas ao Valor Percebido pelo Cliente .............................. 79 3.4.3 Variáveis associadas ao construto da Satisfação ...................................... 80 3.4.4 Variáveis associadas ao construto da Lealdade ........................................ 81 3.4.5 Variáveis do Perfil Sócio-Demográfico....................................................... 82 3.5 UNIVERSO E AMOSTRA ................................................................................ 82 3.6 COLETA DE DADOS E INSTRUMENTO DE PESQUISA ............................... 84 3.7 TRATAMENTO DOS DADOS .......................................................................... 85 3.7.1 Confiabilidade da escala ............................................................................ 86 3.7.2 Teste de Kruskal-Wallis e U de Mann-Whitney .......................................... 86 3.7.3 Análise fatorial exploratória ........................................................................ 87 3.7.4 Regressão linear múltipla .......................................................................... 89 3.7.5 Análise descritiva dos dados sócio-demográficos ..................................... 91 3.8 LIMITAÇÕES DA PESQUISA .......................................................................... 92 4 RESULTADOS DA PESQUISA: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO ................... 93 4.1 PERFIL DA AMOSTRA .................................................................................... 93 4.2 A EXPERIÊNCIA DO CLIENTE EM BARES E RESTAURANTES .................. 96 4.3 FATORES DA EXPERIÊNCIA DO CLIENTE QUE MAIS CONTRIBUEM PARA O VALOR PERCEBIDO, A SATISFAÇÃO E A LEALDADE................................. 107 4.3.1 Análise descritiva do Valor Percebido pelo Cliente, Satisfação e Lealdade .......................................................................................................................... 107 4.3.2 Análise de regressão para identificar os fatores que mais contribuem para os construtos .................................................................................................... 110 5 RESUMO E CONCLUSÕES ................................................................................ 113 5.1 RESUMO DO ESTUDO ................................................................................. 113 5.2 CONCLUSÕES .............................................................................................. 114 5.3 CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA ................................................................ 117 5.4 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS .............................................. 119 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 121 ANEXOS ................................................................................................................. 128 ANEXO 1 – ENTREVISTAS COM ESPECIALISTAS........................................... 128 ANEXO 2 – QUESTIONÁRIO ONLINE ................................................................ 132 ANEXO 3 – ANÁLISE DE RESÍDUOS DO MODELO DE REGRESSÃO LINEAR MÚLTIPLA ........................................................................................................... 137 15 1 INTRODUÇÃO Na economia atual, em que a comoditização afeta muitos setores de atividade, as empresas se veem forçadas a buscar novas formas de diferenciar suas ofertas das de seus competidores (PINE II e GILMORE, 1998). Hoje, descobrir algo que não tenha sido feito por ninguém é muito difícil e, com a rápida disseminação da informação que se vive, é ainda mais difícil manter esse diferencial protegido da concorrência por muito tempo. No setor de serviços, essa dificuldade se potencializa devido à característica intangível das ofertas. É muito complexo proteger, através de patentes, processos e serviços, o que torna a competição nesse segmento ainda mais acirrada. Assim, percebe-se que, nos últimos anos, a forma encontrada para ampliar o valor das ofertas é a entrega de experiências (PINE II e GILMORE, 1998). Para fazer essa entrega, empresas que já se alinharam a esse novo paradigma buscam combinar elementos presentes no serviço de uma forma que extrapole a simples execução do serviço, transformando o que seria algo comum em um momento repleto de sensações e memórias (ELLIS e ROSSMAN, 2008). Contudo, ainda se podem encontrar muitos gestores de empresas de serviço que não entendem plenamente o significado da palavra “experiência” e como podem estimular a sua entrega (FROW e PAYNE, 2007). Por isso, percebe-se que é importante auxiliá-los a manipular os elementos que estão ao seu alcance de forma a proporcionar uma experiência superior aos clientes. Bares e restaurantes são apontados na literatura como tipos de estabelecimento em que a entrega do serviço central da alimentação não é suficiente e, por isso, têm um alto teor experiencial (HANEFORS e MOSSBERG, 2003). Muito mais que um local em que ocorre o consumo de produtos e serviços, os bares e restaurantes assumiram o papel de ser uma opção de entretenimento para aqueles que buscam interagir com outras pessoas, desfrutar de um ambiente agradável e, também, consumir alimentos e bebidas de qualidade. Por isso, a experiência em serviços de bares e restaurantes é um assunto rico e que incita a curiosidade de muitos 16 acadêmicos que veem na experiência um novo paradigma da entrega de valor aos consumidores (PINE II e GILMORE, 1998). Além de ser um setor em que a experiência do cliente é um fator primordial para o sucesso dos negócios, percebe-se que os bares e restaurantes ganham mais importância na economia nos últimos anos, com a ascensão de milhões de consumidores que hoje possuem renda disponível para usufruir de serviços de lazer e entretenimento. De acordo com o estudo “Turismo no Brasil 2011-2014”, realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) a pedido do Ministério do Turismo, cerca de 31 milhões de brasileiros ascenderam de classe social entre os anos de 2003 e 2008, sendo que 19,4 milhões deixaram a classe E e 1,5 milhão migraram da classe D para classes superiores. Assim, as classes média e alta ganharam maior representatividade populacional, abrindo as portas para um novo mercado consumidor, ávido por adquirir produtos e serviços que antes não podia. Ainda de acordo com esse estudo, existe uma forte correlação entre o ambiente econômico e a expansão da atividade turística. Quando a economia cresce, como tem acontecido nos últimos anos no Brasil, o nível da receita disponível aumenta e parte desta receita é gasta com atividades afetas ao Turismo, dentre as quais estão os bares e restaurantes. Diante desse panorama, é importante entender como a experiência dos clientes de bares e restaurantes ganha forma, auxiliando gestores e empreendedores desse ramo a aproveitar esse momento favorável aos seus negócios. Quais serão os elementos essenciais para criar uma experiência positiva em bares e restaurantes? Além disso, será que é realmente compensador para os gestores imprimir esforços nesse sentido? Que vantagens os bares e restaurantes podem conquistar ao fornecer uma boa experiência aos seus clientes? As respostas dessas questões podem ajudar empreendedores que atuam nessa indústria ou pretendem fazê-lo a alcançar um desempenho superior e, surfando a onda da economia brasileira, atingir o sucesso em médio e longo prazo. 17 1.1 OBJETIVOS DO ESTUDO O objetivo final dessa pesquisa é investigar os fatores que contribuem para uma experiência positiva em bares e restaurantes, e qual seu impacto no negócio. Dessa forma, busca-se compreender de que maneira as empresas atuantes no setor de bares e restaurantes podem proporcionar aos seus clientes experiências positivas no seu serviço e quais os benefícios que podem obter ao buscar isso. Para cumprir essa agenda, o estudo investigará primeiro quais são os elementos do serviço de bares e restaurantes que mais contribuem para a construção da experiência do cliente. Utilizando a literatura sobre o tema, a pesquisa seguirá um caminho semelhante ao estudo de Anderson e Mossberg (2004), tentando identificar quais são os fatores que têm maior relevância para a experiência do consumidor de bares e restaurantes e, por isso, devem ganhar maior atenção de seus gestores. Serão realizadas também análises para identificar diferenças na construção da experiência de clientes de diferentes segmentos de público, o que pode contribuir para a melhor adequação do negócio ao seu público-alvo. O segundo objetivo da pesquisa consiste em identificar o que uma boa experiência no serviço pode trazer em termos de atitude do cliente com relação ao estabelecimento. A ideia é a de verificar se é vantajoso para os gestores de bares e restaurantes investir nos elementos necessários para entregar uma experiência positiva aos seus clientes. O presente estudo tem inspiração no trabalho de Grace e O’Cass (2004), que examinaram a experiência em serviços de bancos, procurando identificar os impactos desse construto na satisfação do cliente, na atitude frente à marca e nos sentimentos evocados nos clientes. Traçando um caminho similar ao proposto nesta pesquisa, os autores identificaram os fatores que compõem a experiência do cliente no contexto escolhido e conseguiram mostrar que ela pode causar impactos na satisfação e na atitude em relação à marca dos bancos abrangidos. Ao afirmar que a compreensão da forma como os clientes avaliam um serviço é muito importante para 18 aqueles que precisam usar as ferramentas de marketing para promovê-los (GRACE e O’CASS, 2004), os autores ratificam os objetivos definidos para essa pesquisa. Vale ressaltar, por fim, que optou-se estudar somente experiências positivas no serviço de bares e restaurantes por se entender que estas são mais relevantes do ponto de vista gerencial. Em poucas palavras, o que se pretende com esse estudo é indicar para gestores de bares e restaurantes o que eles devem fazer para melhorar a experiência do cliente e seu negócio e não relacionar o que não deve ser feito para não deixar seus clientes insatisfeitos. 1.2 RELEVÂNCIA DO ESTUDO Conforme citado anteriormente, um dos maiores motivos do otimismo nesse setor é o aumento da renda discricionária do consumidor brasileiro, que pode ampliar seus gastos com produtos e serviços que não são considerados de primeira necessidade. Outro fator que contribui para um maior aquecimento nesse setor é a realização dos maiores eventos esportivos no Brasil nos próximos cinco anos – a Copa do Mundo em 2014 e outros eventos futebolísticos e as Olimpíadas de Verão em 2016 – que potencializam especialmente o mercado de turismo receptivo da cidade do Rio de Janeiro, conforme veiculado na mídia: “A Junta Comercial do Rio de Janeiro (JUCERJA) registrou, no primeiro semestre deste ano, a abertura de 18.837 empresas no estado, superando em 11,13% o movimento de igual período do ano passado (16.950). (...) O presidente da JUCERJA, Carlos De La Roque, atribuiu o crescimento dos negócios ao ‘momento bom’ vivido pelo estado do Rio de Janeiro, com a perspectiva da realização de megaeventos esportivos, como os Jogos Mundiais Militares em 2011, a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016. (...) A ascensão da nova classe social C, que permitiu o aumento do consumo, também favorece o surgimento de novas empresas. (...) As áreas com maior crescimento de novos empreendimentos são o comércio varejista de vestuário, com 6.481 empresas, bebidas, bares, restaurantes, cabeleireiros, informática” 1. 1 Em http://portalexame.abril.com.br/pequenas-empresas/noticias/numero-empresas-abertas-rjcresce-11-3-semestre-578242.html. Acessado em 15/07/2010. 19 Segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL), o setor de bares e restaurantes congrega, aproximadamente, cerca de um milhão de empresas que representam 2,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro2. A entidade também indica que o potencial desse setor ainda é grande, visto que, de acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o hábito de consumir alimentos fora de casa corresponde a 26% dos gastos da população urbana com alimentos e cresce em um bom ritmo. Na região Sudeste, onde está o foco deste trabalho, este percentual chega a 37%. Pode-se encontrar na literatura indicativos da relevância desse estudo para o tema em que se insere. Frow e Payne (2007) sugerem que é importante desenvolver métricas para gerenciar a experiência do cliente em diferentes contextos. Outros autores afirmam que uma perspectiva quantitativa sobre esse tema pode auxiliar no entendimento de quais elementos podem contribuir para uma conexão emocional dos clientes com o serviço, suscitando neles comportamentos de lealdade (PULLMAN e GROSS, 2004). Sulek e Hensley (2004) propõem a metodologia utilizada em seu estudo para garantir a satisfação total com o serviço de restaurantes e repetição do consumo. Tal metodologia é parecida com a proposta nessa pesquisa, sendo composta por seis etapas que incluem o levantamento dos atributos importantes e da sua relação com a satisfação e a lealdade, a priorização desses atributos e a constante avaliação e melhoria do serviço. Realizado em um contexto diferente – uma cadeia de fast-food norte-americana –, o estudo desses autores trouxe resultados interessantes que podem ser usados como parâmetro de comparação futura com os resultados dessa pesquisa. 2 Em http://www.abrasel.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=6&Itemid=50. Acessado em 24/04/2011. 20 Em outro estudo, Slatten et al. (2009) indicam vários hiatos na pesquisa sobre a experiência do cliente que este estudo pretende atender. Dentre eles, podem ser citados a avaliação da importância da experiência para o aumento do valor percebido pelo cliente, a análise de uma ampla de gama de elementos que compõem a experiência e um olhar mais apurado sobre o construto da lealdade. 1.3 LOCUS E DELIMITAÇÃO DO ESTUDO É importante esclarecer a motivação de estudar o setor de bares e restaurantes e também apresentar uma definição do que compreende esse setor e suas principais características. Pode-se atribuir o foco do estudo em bares e restaurantes por dois motivos. Primeiramente, devido ao interesse pessoal do autor em um tipo de serviço que é consumido com frequência por uma enorme quantidade de pessoas, mas é pouco estudado pela academia. Como foi dito no capítulo anterior, é difícil encontrar publicações acadêmicas especializadas nesse setor de atividade, ou mesmo que deem alguma atenção ao tema. Em segundo lugar, os bares e restaurantes têm como característica um alto nível de interação entre os clientes e os elementos do serviço – instalações, funcionários etc. – e, por isso, podem ser apontados como um dos tipos de serviço em que a experiência do consumidor é essencial para a proposição e efetiva criação de valor das empresas (WALTER, EDVARSSON e ÖSTRÖM, 2010). Mas, então, do que se fala nesse trabalho ao mencionar bares e restaurantes? Para tentar responder essa questão, pode-se recorrer a algumas fontes que esclarecem de onde surgiu e qual o significado dessa nomenclatura. O termo restaurante surgiu como consequência da Revolução Francesa, no final do século XVIII (GUSTAFSSON ET AL., 2006). Muitos cozinheiros experientes que trabalhavam em casas da decadente aristocracia francesa ficaram desempregados e, como alternativa, iniciaram seu próprio negócio para oferecer à nascente burguesia uma 21 comida que restaurasse as energias e um lugar para descansar. Surgia, assim, o restaurant3. Recorrendo ao dicionário, se encontram definições semelhantes para a palavra restaurante: 1. (de restaurar) Que restaura. Aquilo que restaura. 2. (fr restaurant) Casa onde se servem 4 refeições ao público, mediante pagamento . Uma definição que vai de encontro à que será usada nesse trabalho é encontrada na Wikipédia, enciclopédia eletrônica construída pelos próprios usuários que, de certa forma, representa bem o conhecimento popular sobre o tema. Segundo o site, “um restaurante é um estabelecimento destinado ao preparo e comércio de refeições, normalmente servindo também bebidas alcoólicas ou não5”. Essa definição justifica a inclusão do termo bar6 ao nome desse tipo de estabelecimento, pois a venda de bebidas é uma prática comum e importante para o negócio dessas empresas. Por isso, é comum encontrar nas ruas das grandes cidades brasileiras diversos estabelecimentos que se classificam como bar e restaurante, uma vez que eles tem como proposta de negócio oferecer opções de alimentação aliadas à oferta de bebidas alcoólicas e não alcoólicas. Esses estabelecimentos tornam-se, então, uma opção de entretenimento para milhares de consumidores. A denominação bares e restaurantes, inclusive, é adotada pela principal entidade nacional da classe. De acordo com o Código de Conduta da ABRASEL, estão incluídas no setor de alimentação fora do lar “as empresas não industriais que prestam serviços de bares, de restaurantes, ou que atuem no preparo de alimentação fora do lar, bem como em outras atividades afins”. Essa definição é mais abrangente e busca englobar quaisquer empresas que tenham como objetivo 3 Essa palavra é oriunda do termo francês restaurer, que significa restaurar. 4 Fonte: Dicionário Online Michaelis. Em http://michaelis.uol.com.br/. Acessado em 06/01/2010. 5 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Restaurante. Acessado em 06/01/2010. 6 A palavra bar significa “Estabelecimento ou parte de estabelecimento com um balcão onde ser servem bebidas”. Fonte: Dicionário Online Michaelis. Em http://michaelis.uol.com.br/. Acessado em 06/01/2010. 22 oferecer aos consumidores uma opção de alimentação fora de suas casas ou de bar, como restaurantes a quilo, fast-foods e mesmo pequenos bares e botequins. Seguindo essa definição, pode-se chegar a uma infinita extensão de estabelecimentos que poderiam compor o escopo deste trabalho. Contudo, limitar a presente pesquisa a um ou a poucos bares e restaurantes poderia trazer problemas na aplicação dos questionários junto ao público-alvo, além de limitar demais a abrangência das conclusões do estudo. Essa limitação poderia, por exemplo, exigir uma abordagem muito extensa aos entrevistados, explicando a que bares e restaurantes a pesquisa se refere, o que poderia desestimulá-los para responder. Assim, quaisquer estabelecimentos que, para o entrevistado, se encaixem na definição de bares e restaurantes e se enquadrem no contexto da pesquisa serão englobados por ela. Uma limitação desse estudo é que ele desconsiderou outros tipos de serviço relacionados à alimentação ou lazer. Com relação à experiência do cliente, o foco do trabalho está apenas em experiências positivas, não havendo preocupação com o que pode afetar negativamente a experiência do cliente em bares e restaurantes. Além disso, foram tratados somente aspectos do serviço, isentando-se de tratar elementos externos que possam impactar a experiência do cliente. Outra delimitação diz respeito à abrangência geográfica do estudo, uma vez que serão entrevistados somente indivíduos que residem em duas cidades do Sudeste brasileiro. Por fim, a pesquisa é feita em um período específico de tempo (aproximadamente um ano), excluindo a possibilidade de se realizar uma análise longitudinal. 23 1.4 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO O documento atual apresenta as etapas do estudo que foram desenvolvidas até agora. O presente capítulo faz uma introdução ao tema da pesquisa, apresenta os objetivos do estudo, sua relevância e delimitação. O segundo capítulo trata da revisão de literatura que dá suporte à pesquisa. Serão apresentadas observações de outros autores sobre a experiência do consumidor inserida no contexto de serviços, bem como sobre a identificação das dimensões que compõem esse construto. Também será discutida a importância do desenvolvimento de experiências em serviços. A seguir, o conceito da experiência do cliente é trazido para o universo dos bares e restaurantes, no qual se busca entender como ela se desenvolve. Por fim, será apresentado o modelo conceitual da pesquisa. A terceira parte do presente trabalho explica a metodologia que será utilizada para desenvolver a pesquisa. Primeiramente, serão apresentadas as duas etapas da pesquisa. Depois, o capítulo irá discorrer sobre as perguntas de pesquisa, o universo e a amostra, o método de coleta de dados e o instrumento utilizado para tal e a forma de tratamento das informações coletadas. A próxima seção se dedicará à apresentação e análise dos resultados obtidos através da pesquisa aplicada. Será apresentado um perfil sócio-demográfico da amostra e, em seguida, serão discutidos os aspectos mais relevantes dos resultados obtidos. Após essa discussão, a última parte do trabalho fará um resumo do trabalho e apresentará as conclusões acerca do estudo realizado. Além disso, serão apontadas as contribuições acadêmica e gerenciais do trabalho e dadas recomendações para futuros estudos sobre o tema. 24 2 REVISÃO DE LITERATURA A experiência é um construto complexo e já foi observado por diversos acadêmicos que, sob diferentes perspectivas, tentaram dar significado a ele. Por isso, a primeira seção desta revisão bibliográfica – O conceito de experiência em serviços – confronta os diferentes conceitos de experiência encontrados na literatura. Primeiro, é feita uma tentativa de explicar a experiência do consumidor de uma forma mais ampla. Depois, esse conceito é trazido para o contexto dos serviços, dentro do qual será realizado o estudo. A segunda seção da revisão de literatura – Dimensões da experiência – dá um zoom no conceito de experiência para enxergar as suas dimensões. Serão abordadas ideias de alguns autores sobre as diferentes facetas do conceito para, então, ser gerada uma síntese das dimensões da experiência em serviços. Por sua vez, a terceira parte do presente capítulo, denominada A importância da experiência para o Marketing de Serviços, dará destaque para o papel deste construto para o Marketing de Serviços, compreendendo os efeitos que o mesmo pode ter para clientes e empresas. Sabendo o que é a experiência, quais são suas dimensões e qual sua importância para empresas prestadoras de serviços, serão expostos os Elementos importantes para o desenvolvimento da experiência. De acordo com o que se pode encontrar na literatura, tais elementos são divididos em dois grupos. Os elementos do serviço compreendem aqueles que se encontram dentro do próprio ambiente de serviço e são mais facilmente controláveis pela empresa. Já os elementos do consumidor dizem respeito a fatores que não estão diretamente sob controle dos executivos, mas podem ser influenciados por eles. A seção seguinte – A experiência no serviço de bares e restaurantes – irá estreitar o foco do trabalho para um segmento específico de prestadores de serviços: os bares e restaurantes. Esse setor será o objeto de estudo desta dissertação e, por isso, é importante investigar como o conceito de experiência é inserido nesse ambiente. 25 Como consequência, a sexta seção dessa revisão de literatura irá abordar os elementos importantes para o Gerenciamento da experiência no serviço de bares e restaurantes, buscando traduzir as ideias citadas na quarta seção para esse contexto específico com o auxílio de outros autores. Por fim, será apresentado um resumo da revisão de literatura e o modelo conceitual que servirá como base para o trabalho de campo que será levado a cabo na sequência. 2.1 O CONCEITO DE EXPERIÊNCIA EM SERVIÇOS O conceito de experiência foi introduzido nos estudos acerca do comportamento do consumidor por Holbrook e Hirschman (1982), pesquisadores pioneiros ao tratar dos aspectos experienciais do consumo (FROW e PAYNE, 2007). Os autores propuseram uma nova linha de pesquisa que enxerga os inputs do ambiente e do consumidor, bem como o processo de interação do indivíduo com esses inputs e as respostas geradas, sob uma perspectiva experiencial. Essa perspectiva surgiu como uma forma alternativa ao paradigma vigente até então, que via o comportamento do consumidor como um sistema de processamento de informações. Com esse objetivo, foram expostos aspectos simbólicos, hedônicos e estéticos do consumo, mostrando que a compra – tanto de produtos quanto de serviços – vai além da busca por características funcionais e benefícios. Em suma, compreender o comportamento do consumidor através de suas experiências permite enxergar questões como o papel estético dos produtos, aspectos multissensoriais dos produtos, fantasias e imaginário relacionados a bens e os sentimentos evocados pelo consumo (HOLBROOK e HIRSCHMAN, 1982). Desde a introdução desse novo conceito, muitos autores acrescentaram novas ideias ao entendimento da experiência do consumidor. No livro em que constata um novo paradigma do marketing, Schmitt (2001) afirma que “as experiências são 26 acontecimentos individuais que ocorrem como resposta a algum estímulo” criado para os sentidos, para os sentimentos e para a mente e são resultado do encontro e da vivência de situações. Segundo o autor, ainda, as experiências duram a vida toda. Knutson et al. (2009) postulam que a essência das experiências é que elas envolvem a participação do indivíduo e, portanto, são internas e individuais por natureza. Assim, descrever uma experiência de consumo para alguém nunca terá o mesmo efeito que inseri-lo no contexto de consumo em questão. Além disso, o julgamento que essa pessoa terá dessa experiência será, provavelmente, diferente da nossa própria opinião. A dificuldade em transmitir ou compartilhar uma experiência se dá porque cada experiência apresenta um perfil afetivo distinto (DUBÉ, LE BEL e SEARS, 2003). Gentile, Spiller e Noci (2007), por sua vez, definem a experiência do consumidor como “uma estrutura multidimensional composta por componentes elementares”. Segundo os autores, é esperado que os clientes percebam cada experiência como complexa e única e não consigam distinguir cada um dos seus componentes. Na mesma linha, diversos autores reforçam o caráter único (PALMEIRA ET AL., 2009; PADGET e ALLEN, 1997) e a multiplicidade de dimensões (VERHOEF ET AL., 2009; PALMER, 2008) que compõem a experiência do consumidor. De acordo com o que foi visto até aqui, a experiência do consumidor é um construto holístico que integra centenas de estímulos (PALMER, 2008) e envolve respostas cognitivas, afetivas, emocionais, sociais e físicas dos clientes às empresas com que se relacionam (VERHOEF ET AL., 2009; MEYER e SCHWAGER, 2007). Seguindo uma linha alternativa, Carù e Cova (2003) atestam que a experiência pode ser definida como um episódio subjetivo na construção/transformação do indivíduo, com uma ênfase nas emoções e sentidos em detrimento da dimensão cognitiva. Assim, podemos entender a experiência como um momento em que a emoção se sobrepõe à razão. 27 É possível estender o conceito de experiência para além do consumo em si, levando em consideração que ela é um construto intangível que permanece na mente do consumidor durante um longo tempo. Frow e Payne (2007) defendem a ideia de que a experiência do consumidor deve estar presente durante toda a relação com o cliente, e não só no momento da venda do produto ou da prestação do serviço. Assim, ao desenhar e avaliar a experiência do consumidor, as empresas devem considerar também as etapas de procura, compra e pós-compra (VERHOEF ET AL., 2009). Sob uma perspectiva de mercado, o estudo da experiência se preocupa primariamente com os elementos necessários para gerar significados na mente do consumidor. Palmeira et al. (2009) indicam que a experiência só ocorre quando as empresas utilizam elementos facilitadores como a comunicação, o ambiente e as pessoas para prover um evento memorável ao cliente. Este evento proporcionado pela empresa, por sua vez, gerará uma experiência inerentemente pessoal e que estará presente na mente do indivíduo. À luz dessa perspectiva de mercado, podemos observar como o conceito de experiência do consumidor se aplica aos serviços. Dentro desse contexto, a experiência pode ser vista como um processo que provoca nos clientes respostas cognitivas, emocionais e comportamentais, tendo como consequência uma marca ou uma memória na mente dos consumidores (EDVARSSON, ENQUIST e JOHNSTON, 2005). Em consonância com as definições gerais de experiência do consumidor, o conceito de experiência em serviços é usado para descrever situações ricas em experimentação, nas quais os indivíduos integram o que percebem e encontram no ambiente de serviços, seguindo um roteiro durante e após o consumo (EDVARSSON, ENQUIST e JOHNSTON, 2005). Ainda sob uma ótica comercial, Walter, Edvarsson e Öström (2010) enxergam a experiência em serviços como o resultado da interação do cliente com o processo do serviço, a organização, suas instalações e seus funcionários. Para eles, o foco das empresas prestadoras de serviço ao proporcionar uma experiência aos seus clientes 28 deve ser primariamente comercial. Por outro lado, Zomerdijk e Voss (2011) acreditam que prestadores de serviço centrados na experiência devem ter o cliente como foco da sua oferta. O fato é que o foco no cliente e o foco comercial não se excluem e, sim, se complementam. Outra definição para esse construto é dada por Sandström et al. (2008), que veem a experiência em serviços como “a soma total das dimensões funcionais e emocionais do efeito causado por qualquer tipo de serviço”, podendo ser evidenciada tanto pela presença quanto pela falta de algum elemento na prestação do serviço. Um aspecto importante ressaltado por esses autores é que a experiência em serviços tem o cliente como uma parte co-criadora ativa no processo. Outros autores apontam a importância da co-criação da experiência para os serviços (EDVARSSON, ENQUIST e JOHNSTON, 2005; VERHOEF ET AL., 2009; ELLIS e ROSSMAN, 2008), destacando, inclusive, que os clientes podem estar dispostos a pagar mais caro para ter a oportunidade de participar ativamente na produção do serviço (PUCCINELLI ET AL., 2009). Um ponto que gera discordância diz respeito à profundidade da relação entre experiências e serviços. Padgett e Allen (1997) evidenciam mais a relação entre os serviços e o conceito de experiência ao afirmar que o consumo do serviço em si pode ser considerado uma experiência, declarando, assim, que a experiência é intrínseca aos serviços. Para esses autores, a experiência em serviços pode ser definida como “as reações cognitivas, afetivas e comportamentais associadas a um evento de serviço específico”, surgindo a partir da construção de significados associados ao comportamento, às ideias e aos sentimentos evocados pelo consumidor durante o consumo do serviço. Em concordância, Sandström et al. (2008) sugerem que seria impossível separar essas duas ofertas – experiência e serviço – e pagar por elas separadamente. Por outro lado, Pine II e Gilmore (1998) destacam que, apesar muitos economistas unirem os conceitos de experiência e serviços, as experiências são uma oferta tão diferente de serviços quanto esses se diferem dos produtos. Para os autores, uma 29 experiência acontece quando uma empresa utiliza serviços e produtos para envolver os clientes e criar um evento memorável. A grande diferença entre a experiência e outros tipos de oferta, então, é que ela é “essencialmente pessoal e só existe na mente do indivíduo” (PINE II e GILMORE, 1998), fato já destacado por outros autores acima mencionados. Já Knutson e Beck (2003) chegam a um meio termo ao afirmar que a experiência pode ser “fundida a um produto, usada para melhorar um serviço ou criada como uma entidade em si mesma”. Assim, coloca-se à nossa frente a questão de como enxergar ou mesmo medir a experiência no ambiente de serviços (KNUTSON ET AL., 2009). Apesar de muitos outros construtos complexos do contexto de serviços – como satisfação, qualidade e lealdade – já estarem devidamente elucidados e com métricas definidas, a experiência ainda carece de parâmetros adequados para uma melhor análise. Palmer (2010) frisa bem a dificuldade em se medir a experiência do consumidor devido à existência de variáveis específicas do contexto, como diferenças de personalidade de cada indivíduo, estado emocional e fatores específicos de cada situação em que ocorre a experiência. 2.2 DIMENSÕES DA EXPERIÊNCIA DO CONSUMIDOR Conforme citado anteriormente, a experiência do consumidor é um construto multidimensional (GENTILE, SPILLER e NOCI, 2007), que engloba diversos aspectos subjetivos do indivíduo nela envolvido. Palmeira et al. (2009) indicam que a experiência é inerentemente pessoal e existe na mente do indivíduo no nível emocional, físico, intelectual e espiritual. Por essas características, pode ser difícil para os executivos entender a experiência dos seus clientes no serviço, suas dimensões e como a experiência está relacionada com a percepção de valor da oferta pelos consumidores (SANDSTRÖM ET AL., 2008). Assim, nesta seção serão abordadas perspectivas de diferentes autores sobre as dimensões da experiência do consumidor, tentando compreender melhor como esse construto é formado e internalizado pelos indivíduos. 30 No artigo que, pela primeira vez, tratou da experiência do consumidor, Holbrook e Hirschman (1982) trataram a experiência como um construto composto por fantasias, sentimentos e diversão. As fantasias estão relacionadas a aspectos cognitivos da experiência, como desejos subconscientes do indivíduo, sonhos, projeções e imaginários. Podemos exemplificar essa dimensão como o “serviço idealizado” pelo consumidor, aquilo que ele vislumbra como o resultado perfeito da sua experiência de consumo. Já a segunda dimensão proposta pelos autores diz respeito aos sentimentos evocados na relação com o produto/serviço, como amor, ódio, raiva, prazer ou tristeza. Por sua vez, a diversão proposta pelos autores compreende o prazer hedônico que é consequência do consumo de um produto ou serviço, como fica claro, por exemplo, entre os visitantes de um parque de diversões como o Disney World, na Flórida. Podemos também classificar as dimensões da experiência de uma forma mais objetiva. Sob uma perspectiva simplista, a experiência seria composta, basicamente, por duas dimensões: sua funcionalidade e suas emoções (BERRY, CARBONE e HAECKEL, 2002). A funcionalidade corresponde à efetiva execução e ao resultado do serviço, ou seja, a forma como o serviço foi prestado e se ele atendeu à necessidade do cliente. Já o lado emocional da experiência compreende não só as emoções em si do consumidor, mas também pistas como os cheiros, sons, visuais, gostos e texturas do bem ou serviço, bem como do ambiente em que ele é oferecido (BERRY, CARBONE e HAECKEL, 2002). A dimensão emocional pode ser dividida entre as pistas mecânicas – aquelas possibilitadas pelos objetos – e as humanas – criadas pelas pessoas envolvidas no serviço. Outra forma de enxergar as dimensões da experiência é apresentada por Pine II e Gilmore (1998), que propõem classificações para os muitos tipos de experiências vividas pelos indivíduos em sua relação com as organizações. Em seu clássico artigo Welcome to the Experience Economy, os autores apresentam uma matriz bidimensional que engloba os quatro reinos da experiência (Figura 1) – o reino do entretenimento, o educacional, o estético e o escapista. Esses reinos são definidos 31 através de dois eixos, que correspondem ao tipo de participação (eixo horizontal) – ativa, em que o cliente tem um papel central na criação da experiência, ou passiva, em que o cliente não afeta a performance do serviço – e à relação ou conexão do cliente com o evento (eixo vertical). Esse vetor diferencia a absorção, em que o consumidor vivencia a experiência de fora e a internaliza (como no caso da leitura de um livro), da imersão, em que o cliente efetivamente se percebe envolvido pela experiência (como ao assistir um filme em uma sala de cinema IMAX 3D7). Figura 1 – Os Quatro Reinos da Experiência. Fonte: Pine II e Gilmore (1998). Cruzando as duas dimensões do modelo proposto, temos os quatro reinos que englobam as diversas experiências pelas quais os consumidores podem passar (PINE II e GILMORE, 1998). O primeiro deles – a do entretenimento – diz respeito a experiências de absorção e com participação passiva dos indivíduos. No contexto de serviços, esse reino pode ser exemplificado por peças de teatro em que o público assiste passivamente ao espetáculo e absorve o conteúdo criado por autores, diretores e cenógrafos e representado pelos atores no palco. O segundo reino da experiência é o educacional, e inclui eventos em que o consumidor tem participação ativa e passa por um processo de absorção. Como o próprio nome sugere, incluem7 Tecnologia de filmagem e projeção que comporta imagens em maior tamanho e resolução. Uma de suas variações, o IMAX 3D, efetivamente faz com que a plateia se sinta “dentro do filme”. 32 se nessa dimensão as diversas instituições de ensino, bem como atividades de aprendizagem como aulas de dança ou de atividades esportivas. Já o reino escapista envolve experiências de imersão e que exigem participação ativa do cliente. São experiências ricas em envolvimento do indivíduo como as oferecidas por empresas de turismo de aventura – que incluem atividades como rapel, rafting, arvorismo, dentre outras. Por fim, o reino estético corresponde a experiências em que o indivíduo participa passivamente, mas se encontra imerso no evento como, por exemplo, em bares e restaurantes. Dubé, Le Bel e Sears (2003) apresentam uma categorização das dimensões da experiência que está, em certa medida, relacionada com os quatro reinos da experiência supracitados. Os autores definem quatro tipos de prazer que podem ser extraídos de uma experiência: (1) o prazer sensorial ou físico que é oriundo das sensações prazerosas incitadas durante a experiência; (2) o prazer social derivado da interação do consumidor com os outros, ou da falta de interação (prazer na solidão); (3) o prazer emocional, nascido a partir de sentimentos, ideias ou do imaginário; e (4) o prazer intelectual, que surge a partir da apreciação da complexidade e das sutilezas do ambiente experiencial. Percebe-se que os quatro tipos de prazer descritos pelos autores são frutos do processo de absorção ou imersão e do nível de participação do cliente com o produto/serviço, o que aproxima os dois modelos em certo nível. Uma contribuição importante para essa área é dada por Schmitt (2001). O autor apresenta a experiência como uma estrutura holística, composta por cinco módulos experimentais estratégicos (MEEs). São eles: os (1) sentidos – visão, tato, olfato, paladar e audição; (2) o sentimento – ou as emoções pessoais do consumidor; (3) o pensamento – aquilo que engaja o cliente através da resolução de problemas de forma criativa; (4) a ação – a forma como o cliente faz as coisas e se comporta no ambiente de consumo; e (5) a identificação – a capacidade da experiência de relacionar o self com outras pessoas, culturas e valores. Cada um desses MEEs está relacionado à experiência do cliente e podem ser influenciados pelas empresas através de estímulos de marketing. 33 Em consonância com as ideias desse autor, Gentile, Spiller e Noci (2007) descrevem de uma forma mais completa seis componentes da experiência – sensorial, emocional, cognitivo, pragmático, de estilo de vida e relacional. Segundo os autores, esses componentes estão interligados e, por isso, os consumidores não conseguem separá-los no contexto experiencial. Juntos, esses componentes elementares são responsáveis por criar a experiência e, além disso, co-criar valor com o cliente. A descrição dos seis componentes da experiência, conforme exposta pelos autores, é: a) Componente sensorial: sua estimulação afeta os sentidos. Assim, um serviço que deseje entregar uma experiência sensorial favorável deve atingir a visão, audição, olfato, tato e paladar para incitar prazer estético, excitação, satisfação e um “senso de beleza” (GENTILE, SPILLER e NOCI, 2007). b) Componente emocional: envolve o sistema afetivo do indivíduo através do estímulo ao estado de espírito, aos sentimentos e às emoções. Construir uma boa experiência emocional pode ajudar a empresa na criação de um relacionamento afetivo entre o cliente e sua marca, produto ou serviço. c) Componente cognitivo: esse componente está ligado ao pensamento ou processo mental consciente do consumidor. Uma experiência cognitiva engaja o cliente através do uso de sua criatividade ou em situações que demandam a resolução de problemas. Além disso, uma empresa pode levar o consumidor a rever a ideia de um produto ou de alguns pressupostos mental comum, auxiliando a companhia a melhorar sua oferta. d) Componente pragmático: é o componente utilitário da experiência, oriundo de alguma espécie de atividade do cliente. Assim, o componente pragmático inclui a utilidade do produto ou serviço, mas não se resume a isso. Esse componente se refere não apenas ao uso do produto/serviço em um 34 momento pós-aquisição; ele se estende para todos os estágios do ciclo de vida. e) Componente de estilo de vida: esse componente surge a partir da afirmação de sistemas de valores e de crenças do indivíduo, que são assumidos com a adoção de um estilo de vida e comportamento. Uma empresa pode oferecer uma experiência de estilo de vida a partir do momento em que o consumo de sua oferta se torna um meio de adesão a um conjunto de valores que sua marca incorpora e é compartilhado com seus clientes. f) Componente relacional: o último componente da experiência envolve o indivíduo e seu contexto social, suas relações com outras pessoas e seu self ideal. Produtos ou serviços podem alavancar esse componente encorajando o seu consumo junto com outras pessoas ou fazendo parte de uma paixão comum que, eventualmente, pode levar à criação de uma comunidade ou tribo de seguidores. A oferta também exalta seu componente relacional quando se torna um meio de afirmação de uma identidade social, induzindo uma noção de pertencimento a ou distinção de um grupo social. Assim, a relação desse componente com o de estilo de vida é muito relevante. Ellis e Rossman (2008) apresentam uma visão diferenciada ao propor um modelo que explica a experiência de participantes de atividades de recreação ou turismo. A experiência do cliente, nesses contextos, é composta por três dimensões que incitam a co-criação da mesma – em outras palavras, cliente e empresa, juntos, são responsáveis pela geração da experiência. Essas dimensões são (1) a encenação multissensorial, que pode ser entendida como a maneira pela qual os sentidos do indivíduo são estimulados, (2) o tema, que envolve os sinais fornecidos pela experiência e o “personagem” adotado por funcionários e clientes, de acordo com uma temática escolhida para o ambiente do serviço e (3) valores não antecipados, que incluem a empatia, a surpresa e a memorabilia, ou aspectos tangíveis e intangíveis que trarão ao cliente lembranças da experiência vivenciada. Zomerdijk e Voss (2011) reforçam esse modelo em seu estudo, no qual chegaram à conclusão 35 que os serviços focados em experiências são caracterizados por uma série de encontros, preocupam-se com o desenho sensorial do serviço e têm uma estrutura dramática ou um tema que guia todo o processo do serviço. Esses autores ainda indicam a importância de todas as áreas do serviço, das atividades de bastidores às realizadas na presença do cliente, para uma boa experiência. Podemos encontrar também na literatura uma abordagem mais gerencial para as dimensões da experiência. Sob essa ótica, o foco está em auxiliar executivos responsáveis pela gestão da experiência do cliente a entender como esse construto se forma e como é possível “manuseá-lo”. Essa perspectiva é importante, pois, se por um lado, a experiência é um resultado aprendido que é associado a comportamentos previsíveis, por outro lado, pode ser associado a um processo cuja novidade hedonista pode resultar em uma resposta imprevisível dos consumidores (PALMER, 2008). Assim, Palmer (2008) aponta cinco dimensões da experiência, que estão ligadas tanto a aspectos do processo pelo qual o cliente passa quanto a suas reações aos estímulos fornecidos no ambiente do serviço. A primeira dessas dimensões é o fluxo, que pode ser entendido como a sequência e o ritmo de eventos sucessivos durante o consumo do serviço. A segunda dimensão corresponde às emoções específicas do indivíduo que são incitadas no contexto da experiência. Essa dimensão se aproxima mais dos demais autores citados anteriormente e é bastante recorrente na literatura. A próxima dimensão da experiência é a antecipação. A antecipação pode ser compreendida como o efeito do momento pré-experiencial sobre o indivíduo, como no caso da espera em uma fila para participar de algum evento. A quarta dimensão, por sua vez, inclui as percepções que os clientes têm do serviço, considerando sua formação e sustentação na mente do indivíduo ao longo do tempo. Por fim, a última dimensão é a da atitude, que representa tanto a atitude que o cliente tem com relação a um serviço quanto à disposição prévia do indivíduo ou estado de espírito em que ele se encontra no ato do seu consumo. Em um estudo mais recente, seguindo essa mesma concepção, Palmer (2010) apresenta a experiência em forma de um processo mais bem estruturado, que indica o início nos 36 estímulos fornecidos ao consumidor, passa pelo processamento e percepção desses estímulos, e chega até o desenvolvimento de uma atitude do indivíduo (Figura 2). Segundo esse modelo, a experiência do cliente começa a partir de estímulos básicos que se apresentam a ele: os aspectos tangíveis e os processos do serviço, a relação do cliente com a marca e os relacionamentos interpessoais entre o cliente e os prestadores do serviço. Esses estímulos são processados como uma sequência de pistas ou eventos que ocorrem ao longo do processo do serviço, bem como o relacionamento que se dá entre consumidor e funcionários. Entram em campo, então, o estado emocional e o processo de codificação do indivíduo, que vão mediar o processo de transformação dos estímulos em uma atitude do cliente perante o serviço. Por fim, Palmer (2010) destaca que a percepção do consumidor pode mudar com o passar do tempo e, por isso, o poder moderador dessa distorção perceptual no tempo deve ser levado em conta. Figura 2 – Modelo para a experiência do consumidor. Adaptado de Palmer (2010). Por fim, Knutson e Beck (2003) fazem um bom resumo das diferentes dimensões da experiência que podem ser encontradas na literatura para compor seu modelo proposto. De uma maneira geral, os autores mostram que as experiências podem variar de acordo com o seu nível de excitação, sua forma de inclusão do indivíduo 37 no processo, seu grau de familiaridade ou pela presença ou não de interação com outros. Os diversos modelos expostos aqui são importantes para melhor compreender o complexo construto da experiência. Na seção seguinte, será dado foco à importância da experiência para as empresas prestadoras de serviço, apontando os benefícios que ela pode trazer para os executivos e seus clientes. 2.3 A IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA PARA O MARKETING DE SERVIÇOS Podemos compreender o Marketing de Serviços como uma extensão do composto de Marketing tradicional. Além dos conhecidos elementos que as empresas produtoras de bens usam para adequar sua oferta ao seu público-alvo – produto, preço, praça e promoção –, as empresas de serviços precisam estar atentas também aos processos desenvolvidos para a prestação do serviço, às pessoas envolvidas (funcionários e outros indivíduos envolvidos direta ou indiretamente na produção e consumo do serviço) e às evidências físicas, ou ambiente, do serviço (ZEITHAML e BITNER, 2003). O Marketing de Serviços ganhou importância com o crescimento do setor terciário na economia. Zeithaml e Bitner (2003) destacam que há uma dominância dos serviços em economias de muitos países, tendo destaque os Estados Unidos – uma das principais economias do planeta. No Brasil, por exemplo, os serviços respondem por 67,4% do PIB nacional8, seguindo a tendência das maiores economias do mundo. Porém, mudanças nesse panorama podem ser percebidas na economia atual. Em um excelente trabalho, já citado na seção anterior, Pine II e Gilmore (1998) apontaram a experiência como o novo paradigma da economia – e chama a atenção que o fizeram ainda no final do século passado. O valor econômico, que inicialmente 8 Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,servicos-ja-respondem-por-674-do-pibbrasileiro,716344,0.htm. Acessado em 15/06/2011. 38 era obtido através da extração de commodities, teve sua evolução passando pela produção de bens para, até o final do século XX, se firmar na entrega de serviços aos clientes. Segundo os autores, a evolução dessas ofertas econômicas pode ser analisada com base em oito critérios, conforme observado no Quadro 1. Oferta Commodities Bens Serviços Experiências econômica Economia Agrária Industrial De Serviços Da Experiência Função Extrair Fazer Entregar Desenvolver Econômica Natureza da Fungível Tangível Intangível Memorável Oferta Atributo-chave Natural Padronizado Customizado Pessoal Armazenado a Estocado após a Entregue sob Revelada ao Método de Suprimento Granel produção demanda longo do tempo Vendedor Comerciante Fabricante Fornecedor Desenvolvedor Comprador Mercado Usuário Cliente Convidado Fatores da Características Recursos Benefícios Sensações Demanda Quadro 1 – Distinção entre as ofertas econômicas. Fonte: Pine II e Gilmore (1998). Como podemos perceber, as experiências vêm mudando substancialmente a economia. O foco das organizações passa a ser o desenvolvimento de uma oferta memorável e pessoal que não é mais entregue em um momento determinado, mas é revelada ao longo do tempo. A figura do fornecedor é substituída pela do desenvolvedor, que tem por objetivo receber um convidado, e não mais atender um cliente. Por fim, a demanda – que era movida pelos benefícios proporcionados pela oferta – passa a ser direcionada pelas sensações ofertadas pelas companhias. Com o advento desse novo paradigma, tornou-se necessário para empresas (tanto B2C quanto B2B) que quisessem estar à frente em seus mercados se preparar para o novo campo de batalha competitivo – o do desenvolvimento de experiências memoráveis (PINE II e GILMORE, 1998). Tendo em vista que vivemos, hoje, em uma economia cada vez mais dominada por empresas do setor de serviços (ou de experiências), e que o Marketing, de uma maneira geral, dá um significado mais objetivo às experiências – com foco nos seus resultados e significância para o consumidor (CARÙ e COVA, 2003) – é importante avaliar os impactos da 39 experiência nos clientes, nas receitas geradas pela empresa e em construtos importantes no contexto de Marketing de Serviços como satisfação, lealdade e valor. 2.3.1 A experiência potencializa a satisfação e a lealdade A satisfação é um conceito fundamental para empresas prestadoras de serviços e é um dos principais objetivos do Marketing de Serviços. Podemos definir satisfação como “uma avaliação feita pelo cliente com respeito a um produto ou serviço como contemplando ou não as necessidades e expectativas do próprio cliente” (ZEITHAML e BITNER, 2003). Podemos definir esse conceito ainda em termos da diferença entre a expectativa e o resultado ou desempenho do produto ou serviço (KOTLER e KELLER, 2006). O impacto da experiência do consumidor na sua satisfação pode ser percebido através da entrega de experiências singulares – ou experiências de pico – ao longo do processo do serviço. As empresas prestadoras de serviços não devem se preocupar somente em ter uma performance consistente durante o encontro com o cliente, mas também em fornecer uma experiência de pico positiva que possa aumentar a satisfação do consumidor com o desempenho do serviço (VERHOEF, ANTONIDES e DE HOOG, 2004). Grace e O’Cass (2004) também apontam que a experiência em serviços tem um efeito positivo na satisfação do cliente, bem como na sua atitude em relação à marca. Mais adiante, poderemos entender melhor como a experiência afeta a marca de empresas de serviços. Outro conceito muito importante para o Marketing de Serviços é o de lealdade. Segundo Oliver (1999), a lealdade é um “compromisso profundo de recomprar um produto/serviço preferido consistentemente no futuro, causando assim compras repetidas da mesma marca ou mesmo conjunto de marcas, apesar das influências situacionais e dos esforços de marketing com potencial para causar comportamento de mudança”. Então, vemos que estabelecer esse relacionamento de longo prazo com o cliente é algo essencial para empresas que queiram se manter no topo do seu mercado competitivo. Isso porque a lealdade está diretamente ligada à criação de 40 valor, ao aumento de receitas e market share e à redução de custos (REICHHELD, MARKEY JR e HOPTON, 2000). Ramos, Mazza e Costa (2009) afirmam que a análise do ponto de venda e a experiência que o cliente tem com esse local contribuem para a lealdade do consumidor. As experiências, se bem executadas, podem encorajar a lealdade não só através de um desenho funcional do processo, mas também através de uma conexão emocional causada pelo contexto envolvente, convincente e consistente (PULLMAN e GROSS, 2004). Porém, o desenho experiencial eficaz só é capaz de criar lealdade com o auxílio dos funcionários e dos próprios clientes, que são responsáveis por promover uma identidade partilhada e uma conexão emocional durante a experiência de consumo. A relação causa e consequência entre satisfação e lealdade é complexa e já foi bastante explorada na literatura. Heskett et al. (1994) mostraram que a lealdade – refletida pela efetiva recompra dos clientes – é uma função exponencial da satisfação. Por isso, a diferença entre um cliente satisfeito e outro muito satisfeito é bastante significativa, tendo consequência direta também na lucratividade do negócio (ZEITHAML e BITNER, 2003). Essa ideia é reiterada por Terblanche e Boshoff (2006), que, ao estudarem a compra no ambiente de varejo, concluíram que a experiência do cliente influencia a satisfação que, por sua vez, é acumulada após experiências sucessivas e pode impactar a lealdade dos compradores. Resumidamente, podemos ver a relação satisfação-lealdade de seis formas distintas (OLIVER, 1999). Uma delas é considerando-as (1) manifestações diferentes de um único construto. Outra é enxergando a satisfação como um (2) construto central da lealdade, ou, de forma semelhante, como (3) uma de suas componentes. Podemos ainda ver satisfação e lealdade como (4) partes de uma “lealdade final”, como (5) compartilhantes frações comuns, ou como (6) fases de um processo de transição. A Figura 3 ilustra todas essas relações. 41 Figura 3 – Representações da relação entre Satisfação Lealdade. Fonte: Oliver (1999). 2.3.2 A experiência impacta a atitude em relação à marca Uma definição bastante difundida de marca é dada pela American Marketing Association (AMA), que postula que a marca é um “nome, termo, sinal, símbolo, ou desenho, ou uma combinação destes, com o propósito de identificar os bens e serviços de um vendedor ou grupo de vendedores e diferenciá-los dos bens e serviços da competição” (KELLER, 2007). Porém, para Keller (2007), as marcas hoje vão além dessa funcionalidade, e criaram reconhecimento, reputação e proeminência no mercado. Além disso, as associações e a imagem que a marca carrega consigo e transfere para os produtos e serviços são de vital importância para o sucesso de qualquer negócio. A atitude em relação à marca pode ser entendida como uma avaliação geral feita pelo consumidor da marca de um produto ou serviço (GRACE e O’CASS, 2004). Considerando essa definição, fica esclarecida a influência que uma boa experiência pode ter sobre a percepção que o cliente tem da marca de um restaurante. Palmeira et al. (2009) defendem que as empresas deveriam vender experiências, em vez de somente serviços, para tentar manter seus clientes apaixonados por suas marcas. Como a maioria dos serviços é experiencial por natureza (PADGET e ALLEN, 1997), a experiência tem a capacidade de influenciar a imagem da marca de serviços e as 42 associações feitas pelos consumidores a eles. A imagem da marca de serviços é composta tanto pelos atributos funcionais quanto pelos significados simbólicos associados pelos consumidores, que por sua vez são ligados a um serviço pelas experiências pessoais, pela comunicação com outras pessoas e pela propaganda (PADGET e ALLEN, 1997). A marca também é um importante caminho para a lealdade do cliente. Viver uma experiência pode gerar um laço emocional entre o consumidor e a marca, o que, por consequência, reforçará a lealdade do cliente à empresa (GENTILLE, SPILLER e NOCI, 2007). Então, além de trazer benefícios para a marca em si, uma experiência favorável no ambiente de serviços pode, através da marca, gerar resultados positivos para a organização em termos de índices de recompra e de receitas. Essa relação duradoura entre cliente e empresa (e sua marca) pode ser mantida se o prestador de serviços criar sentimentos positivos para o cliente durante o consumo, envolvendo todos os seus sentidos na experiência do serviço (PALMEIRA ET AL., 2009). Conforme dito acima, a marca tem como uma de suas principais funções diferenciar a oferta da companhia de ofertas concorrentes. Para que isso ocorra de forma favorável, é necessário que a organização identifique uma posição experiencial estratégica, avaliando os tipos apropriados de experiências prazerosas que pode fornecer e focando em um tipo específico de experiência para diferenciar sua marca dos competidores (DUBÉ, LEBEL e SEARS, 2003). Christopher et al. (1991 apud PALMER, 2008) vão mais além e apontam que as experiências são, hoje, a principal fonte de diferenciação em mercados competitivos. Segundo os autores, a diferenciação, que até a década de 1970 era possibilitada pelos atributos tangíveis, passou a ser baseada em serviços, que também se tornaram genéricos até os anos 1980. A partir daí, os relacionamentos passaram a ser o principal diferencial competitivo das empresas. No entanto, com a possível comoditização dos padrões de relacionamento entre empresas de um mesmo setor, experiências que resultem em reações positivas dos clientes tendem a ser a melhor forma para as empresas – 43 especialmente as do setor de serviços – encontrarem um diferencial competitivo sustentável (SLATTEN ET AL., 2009). 2.3.3 A experiência pode aumentar as receitas e a lucratividade Na economia capitalista, o objetivo final de qualquer empresa é gerar lucro. Assim, a experiência em serviços não será levada em consideração pelas organizações se não trouxer um benefício adicional em termos de geração de receita e lucratividade para elas. Essa premissa torna-se ainda mais forte se considerarmos que, para gerar uma experiência em serviços favorável, provavelmente as empresas deverão incorrer maiores custos de Marketing, gastos para a otimização processos, preparar o pessoal ou melhorar o ambiente do serviço. Será, então, que a experiência em serviços pode aumentar as receitas e a lucratividade dos negócios? Muitos autores respondem a essa pergunta positivamente. Frow e Payne (2007), por exemplo, argumentam que entregar uma experiência perfeita ao consumidor deve ser uma meta para organizações que pretendam aumentar a lealdade dos seus clientes e, consequentemente, aumentar a lucratividade. Isso ocorre porque as experiências podem aumentar a chance de um cliente retornar à loja, gastar mais e, além disso, compartilhar essa experiência positiva com amigos e familiares (GREWAL, LEVY e KUMAR, 2009). Stuart (2006), por sua vez, explica que a relação entre experiência, lealdade e lucratividade se dá porque experiências memoráveis “invocam emoções, comprometimento e laços de relacionamento mais fortes”. Em um estudo sobre a precificação de produtos e serviços, D’Aveni (2007) concluiu que a experiência pode ser importante para o aumento das receitas, especialmente quando se fala em restaurantes. O autor aponta que as variáveis que compõem a experiência do cliente são os maiores responsáveis pela prática de maiores preços pelos restaurantes, aumentando assim a sua lucratividade. A experiência do cliente, inclusive, pode ser uma importante ferramenta ao se enfrentar concorrentes de baixo 44 custo, possibilitando a diferenciação da oferta daqueles que são atacados por competidores que praticam preços baixos (D’AVENI, 2007). Já Terblanche e Boshoff (2006) afirmam que, no contexto do varejo, a satisfação com a experiência dentro da loja pode determinar a atitude dos consumidores com relação à empresa, o que pode influenciar a quantia de dinheiro que eles gastam nela ao longo do tempo. Porém, ainda não fica clara a relação direta entre uma experiência positiva no ambiente de serviços e maiores receitas e lucros. O que pode explicar melhor essa relação é a cadeia serviço-lucro, apresentada por Heskett et al. (1994) (Figura 4). Segundo os autores, a preocupação com a qualidade do serviço interno é o principal motor para se atingir a lealdade dos clientes que, por sua vez, levará a empresa a um aumento nas receitas e maior lucratividade. O primeiro passo na cadeia serviço-lucro é proporcionar boas condições de trabalho – ambiente, descrição clara de tarefas, desenvolvimento e treinamento, recompensas e ferramentas – aos funcionários. Com isso, se garante a retenção e satisfação dos colaboradores que, por sua vez, entregarão aos clientes um resultado excelente do serviço. Assim, a empresa conquistará a satisfação e, com o tempo a lealdade dos clientes. Por fim, a lealdade, caracterizada pela retenção dos clientes e pela repetição de compra, gerará maiores receitas e melhor lucratividade. Figura 4 – A cadeia Serviço-Lucro. Fonte: Heskett et al. (1994). 45 2.3.4 A experiência atua na percepção de valor Segundo Kotler e Keller (2006), um conceito muito importante para o Marketing é o de Valor Percebido pelo Cliente – do original em inglês Customer Perceived Value (CPV). O Valor Percebido pelo Cliente ou CPV é a diferença entre a avaliação prospectiva do cliente de todos os benefícios e todos os custos de uma oferta e suas alternativas. Então, podemos entender o valor como a relação entre a qualidade do produto/serviço e o seu custo para o cliente. Esse custo inclui não só o valor monetário, mas também outros custos como o tempo, o esforço necessário ou o custo emocional da compra. As empresas podem fazer uso das experiências para ampliar sua proposta de valor e efetivamente entregar maior valor para os clientes. Gentile, Spiller e Noci (2007) concluem que boa parte do valor proposto para os clientes, e realmente reconhecido por eles, está ligada a atributos experienciais. De acordo com os autores, independente do contexto, os clientes querem vivenciar experiências positivas de consumo. Por isso, deixar de lado o desenvolvimento de experiências para o consumidor e focar os esforços apenas na redução de custos – com o objetivo de oferecer menores preços – pode diminuir o valor das ofertas de empresas produtoras de bens e prestadores de serviços (BERRY, CARBONE e HAECKEL, 2002). Muito mais que vivenciar experiências positivas e receber valor das empresas, os clientes também desejam fazer parte do processo de criação de valor. Clientes podem co-criar valor de forma customizada e tangível através da experiência em serviços (EDVARSSON, ENQUIST e JOHNSTON, 2005). Essa co-criação ocorre de uma forma relacional, através do uso dos produtos ou da experiência de interação no serviço (PATRÍCIO, FISK e FALCÃO E CUNHA, 2008), envolvendo o cliente emocional e cognitivamente, e fazendo-o perceber maior valor na oferta da empresa. Sandström et al. (2008) estudaram mais a fundo a criação de valor através da experiência em serviços. O modelo proposto pelos autores atesta que a proposta de 46 valor do serviço – dividida em funcional e emocional – passa por um filtro individual e situacional para gerar um resultado funcional e emocional. Este, por sua vez, é o que fornece a experiência no serviço, que, enfim, gera valor no uso para o cliente. Por isso, segundo os autores, as empresas deveriam mudar o foco de produtos e serviços para a criação de um ambiente atrativo, capaz de facilitar a co-criação da experiência. 2.3.5 A experiência tem impacto no comportamento dos clientes Dado o que já foi explorado até aqui, fica bastante claro que proporcionar experiências no ambiente de serviços tem efeitos diretos nos clientes que o consomem. Porém, é importante reforçar aqui de que forma essas experiências impactam os consumidores e quais as consequências que elas podem trazer em termos de comportamento. Em primeiro lugar, deve ser destacado que a experiência é um fenômeno que existe tanto no ambiente quanto internamente ao indivíduo. Como vimos, cabe ao prestador de serviços selecionar elementos que criem uma experiência favorável ao cliente, mas também é necessário que o consumidor reaja emocionalmente e cognitivamente aos estímulos para que a experiência efetiva ocorra. Assim, uma primeira conclusão a que podemos chegar é que os elementos da experiência no serviço podem influenciar as emoções dos clientes, ampliando o seu envolvimento através de uma experiência personalizada (PUCCINELLI ET AL., 2009). Porém, é interessante destacar que, da mesma forma que uma experiência que supera as expectativas pode causar reações emocionais positivas, aquelas que falham em atingir as expectativas podem gerar experiências negativas, destruindo a relação do cliente com a empresa (ROOS e FRIMAN, 2008). Outro efeito importante da experiência sobre os clientes é a sua capacidade de influenciar o comportamento de compra. Gentille, Spiller e Noci (2007) atestam que a experiência tem um papel fundamental na determinação das preferências dos clientes, as quais, por sua vez, irão influenciar suas decisões de compra. A 47 experiência no ambiente de varejo, por exemplo, pode não só mudar as decisões de compra, como também incentivar compras não planejadas, por impulso (RAMOS, MAZZA e COSTA, 2009). As experiências, tanto no ambiente de varejo quanto de quaisquer outros serviços, pode ser um grande diferencial para atrair clientes e delinear o seu comportamento dentro da loja. Pine II e Gilmore (1998), aliás, concluíram que, em uma economia totalmente norteada pelas experiências, os varejistas seriam capazes de cobrar não só pelos produtos adquiridos, mas também pela admissão dos clientes em seu ambiente preparado para entregar uma boa experiência. Por fim, podemos concluir que as experiências são muito importantes na relação cliente-empresa. As experiências ligam a empresa e a marca com o estilo de vida do consumidor, fazendo com que as atitudes e a ocasião da compra por parte do consumidor componham um contexto social mais amplo (SCHMITT, 2001). Portanto, muito mais que um fenômeno de consumo, a experiência também é importante para a construção da identidade do indivíduo. 2.4 ELEMENTOS IMPORTANTES PARA O DESENVOLVIMENTO DA EXPERIÊNCIA Dada a importância da experiência para os serviços, fica claro que as empresas devem mudar o foco de seus esforços para desenvolver serviços que permitam a criação de experiências únicas para os clientes (PATRÍCIO, FISK e FALCÃO E CUNHA, 2008). Conforme afirmam Pullman e Gross (2004), o objetivo do planejador do serviço – e também do seu gerente de operações – deve ser o de criar um ambiente que facilite a experiência através da manipulação de elementos-chave. Por isso, essa seção se dedicará a descrever esses elementos-chave, dividindo-os em duas categorias: elementos do serviço e elementos do consumidor. Por elementos do serviço são entendidos aqueles elementos que podem ser identificados sob a perspectiva do prestador de serviços e, assim, podem ser 48 manipulados por seus executivos. Já os elementos do consumidor compreendem aqueles que estão interiorizados nos indivíduos que consomem os serviços e somente podem ser influenciados pelas empresas. 2.4.1 Elementos do serviço De forma geral, os serviços exigem do Marketing um maior nível de sofisticação, uma vez que suas características básicas – a intangibilidade, a perecibilidade, a heterogeneidade e a simultaneidade – ampliam bastante a tarefa da gestão de serviços. Por isso, para explicar como as empresas podem gerenciar o seu serviço para proporcionar aos clientes uma experiência favorável, é importante retomar o conceito básico do marketing mix estendido para serviços – os sete “Ps”. O marketing mix estendido foi proposto por Bitner e Booms (1981), buscando agregar o conhecimento adquirido com a gestão de serviços. Segundo os autores, além dos quatro “Ps” originais – produto, preço, praça e promoção – o marketing mix deveria também incluir três novos elementos ou “Ps”: pessoas, processo e evidências físicas9. As pessoas correspondem a todos os envolvidos direta ou indiretamente no processo do serviço, sejam eles clientes, funcionários ou executivos. Processo é o termo que se refere ao fluxo de atividades necessárias para a execução do serviço. E evidências físicas são todas as pistas tangíveis de um serviço, como o ambiente, o equipamento disponível ou impressos utilizados durante a prestação do serviço. Assim, serão utilizados os elementos do marketing mix de serviços para apresentar as ferramentas que podem ser utilizadas para desenvolver a experiência em serviços. 9 Em inglês: People, Process e Physical Evidence. 49 a) Serviço O primeiro elemento do mix se refere ao produto em si ou, no contexto deste trabalho, ao serviço propriamente dito. Grace e O’Cass (2004) apontam a importância do serviço central para a experiência do cliente. Um serviço que atende às necessidades do consumidor, é confiável e considerado de qualidade – sendo esta um construto importante desde a etapa pré-experiencial, uma vez que é fortemente impactado pela expectativa do cliente (KNUTSON e BECK, 2003) – pode proporcionar uma experiência positiva aos clientes, afetando também a sua percepção de valor do serviço. Isso chama a atenção para o fato de que, por mais que haja esforço para atrair clientes e encantá-los através de diversos artifícios, o princípio básico para qualquer empresa é que ela preste um serviço que cumpra suas promessas e efetivamente entregue valor ao cliente. Schmitt (2001) aponta também a presença do produto – traduzida no seu design, na embalagem e nas características da marca – como uma ferramenta importante na etapa inicial da experiência. Essa ideia pode ser transportada para o contexto de serviços como o blueprint do serviço e as características do ambiente e da marca de serviços, que serão discutidos mais adiante. Muito importante também para os serviços – especificamente os de varejo – são a entrega da mercadoria certa, na quantidade certa e na hora em que os clientes necessitam (GREWAL, LEVY e KUMAR, 2009). Vários autores destacam também que a variedade e o sortimento das mercadorias também influenciam a experiência do cliente (TERBLANCHE e BOSHOFF, 2006; VERHOEF ET AL., 2009). De uma maneira mais geral, pode-se entender que a capacidade de um prestador de serviços de atender a diferentes demandas de seus clientes é importante para que os mesmos tenham uma experiência positiva com a empresa. 50 b) Preço O preço também é um aspecto que pode afetar a experiência do cliente. Grewal, Levy e Kumar (2009) reforçam que, enquanto preços muito altos podem fazer com que os clientes percebam pouco valor no produto/serviço, preços muito baixos podem sinalizar baixa qualidade, performance e outros atributos negativos. Essa percepção do cliente, por sua vez, irá modificar a experiência no serviço. Além disso, o valor da oferta, que é obtido a partir da relação custo/benefício percebida pelo cliente, também é um fator que influencia a experiência (TERBLANCHE e BOSHOFF, 2006). Uma vez que o benefício obtido com o serviço já está estabelecido, a sua precificação torna-se uma arma importante para ajustar essa percepção do consumidor. Outra forma através da qual o preço pode influenciar a experiência do cliente é com promoções temporárias (liquidações, descontos etc.) ou através de programas de fidelidade que tenham o preço como principal atrativo (VERHOEF ET AL., 2009). c) Distribuição É difícil perceber como a distribuição, que normalmente está relacionada com a produção de bens, pode afetar a experiência do cliente nos serviços em geral. Se o foco for fechado para o varejo, esta relação fica mais clara, mas ainda assim deixa dúvidas quanto a muitas atividades importantes do setor de serviços. No caso do setor de varejo, já é sabido que a gestão da cadeia de suprimentos é uma fonte de vantagem competitiva para as empresas (GREWAL, LEVY e KUMAR, 2009). Porém, a construção de relacionamentos que formem uma cadeia de suprimentos forte pode ajudar o varejista também a melhorar a experiência do cliente em suas lojas. De acordo com Grewal, Levy e Kumar (2009), isso pode ser feito através (a) da oferta de produtos private label, em que aspectos como qualidade, segurança e responsabilidade social se tornam importantes para a experiência, (b) da gestão do ambiente multicanal, garantindo que a exclusividade 51 de oferta de alguns bens dê mais valor à experiência do cliente no canal, ou (c) da troca de informações entre varejista e fornecedores, buscando inovar e desenvolver ofertas que atendam às necessidades dos clientes e os leve a uma experiência extraordinária. Esses autores também postulam a importância da localização para a experiência do cliente. A bastante difundida ideia de que os três aspectos mais importantes no varejo são a “localização, a localização e localização” (GREWAL, LEVY e KUMAR, 2009) pode ser estendida para outras atividades de serviços, uma vez que a prédisposição dos consumidores para se dirigirem ao local onde o serviço é prestado é um fator onipresente que pode afetar a experiência que eles têm no serviço. d) Promoção As atividades promocionais também podem agir sobre a experiência do cliente de diversas formas (GREWAL, LEVY e KUMAR, 2009). Sua influência se dá tanto através da informação e persuasão do cliente quanto através do seu envolvimento com a marca da empresa. Schmitt (2001) apresenta os elementos Provedores de Experiência (ProEx), que são “componentes táticos de implementação à disposição do profissional de marketing para criar uma campanha de sensação, sentimento, pensamento ou ação”. Dentre eles, podem-se destacar aqui (a) as comunicações (propaganda, comunicação interna e externa e relações públicas), (b) a identidade visual e verbal (nomes, logotipos e sinais/símbolos), (c) as co-marcas (marketing de eventos e patrocínios e merchandising), e (d) web sites e mídia eletrônica como ferramentas importantes para proporcionar uma experiência favorável aos clientes. É importante notar que os ProEx atuam não somente no momento do consumo do serviço, mas em todas as etapas da relação do cliente com a empresa. Knutson e Beck (2003) reforçam a ideia de que a promoção é importante não só durante o consumo do serviço. Segundo os autores, as atividades promocionais, bem como a comunicação boca a boca e a imagem da marca são importantes na geração de expectativas no cliente, o que, por sua vez, irá influenciar a experiência 52 no ambiente de serviço. Sobre o boca a boca, Ferguson, Paulin e Bergeron (2010) indicam que os gestores de serviços devem investir em clientes que possam gerá-lo para seu negócio, sendo importante também ouvi-los para corrigir falhas e acabar com o boca a boca negativo. Nesse contexto, a imagem da marca também merece destaque, uma vez que ela afeta tanto as percepções do cliente acerca do serviço quanto é modificada com o tempo, a partir das interações que o cliente tem com a empresa (VERHOEF ET AL., 2009). e) Pessoas Schmitt (2001) define as pessoas como “provedores poderosos de experiência”. Para o autor, vendedores, representantes, prestadores de serviços ao cliente e qualquer outra pessoa que tenha ligação com a empresa e com a marca são importantes para criar um momento único para os consumidores. Em concordância com essa afirmação, Grace e O’Cass (2004) atestam que o serviço dos funcionários é muito importante para a experiência no serviço, a satisfação dos clientes e sua relação com a empresa e a marca de serviços. Quando se fala das pessoas envolvidas no ambiente de serviço, deve-se incluir não só os funcionários da empresa, mas também os clientes que estão consumindo, ou não, o serviço. Stuart e Tax (2004), em uma comparação do ambiente de serviços com o teatro, dão importância para os atores (prestadores de serviço) e para a plateia (clientes) para a criação da experiência. No entanto, a nomenclatura dada pelos acadêmicos conota maior atividade por parte dos funcionários e uma participação mais passiva dos consumidores. Seria mais interessante falar da interação pessoal no ambiente de serviço, incluindo aí todas as interações face a face entre funcionários e clientes (TERBLANCHE e BOSHOFF, 2006; SLATTEN ET AL., 2009). Nessas interações, contudo, é essencial a performance interpessoal dos prestadores de serviço, que devem demonstrar cortesia, segurança, confiança, responsividade e capacidade de recuperação durante a execução de suas tarefas (ELLIS e ROSSMAN, 2008). 53 Verhoef et al. (2009) reiteram a importância da interação no local do serviço, dando destaque para o ambiente social no varejo: “A experiência do cliente é impactada pelo ambiente social. Há, geralmente, múltiplos clientes em uma loja simultaneamente e a experiência de cada cliente pode impactar a dos outros. por exemplo, se há um cliente exigindo atenção de um vendedor, isso pode prejudicar a experiência de outro cliente que está precisando de ajuda. Além disso, os clientes geralmente visitam o espaço de varejo com amigos e familiares. Isso também pode afetar a experiência do próprio cliente, bem como a de seus companheiros. Assim, um elemento da experiência do cliente que é importante considerar é o ambiente social”. (p. 34) Essa afirmação vai de encontro com o estudo de Grove e Fisk (1997), que concluíram que a experiência de um indivíduo no serviço pode ser afetada positiva ou negativamente por outros clientes. Assim, percebe-se que a interação entre os consumidores que compartilham um mesmo ambiente de serviços é importante para a experiência de todos os clientes envolvidos. Por fim, Stuart e Tax (2004) destacam também a importância dos executivos e gerentes – comparados aos produtores e diretores de teatro, respectivamente – na criação da experiência. Enquanto os primeiros têm a função de dar visão estratégica e foco à companhia, além de planejar o escopo do serviço e garantir o fit entre todas as capacitações da organização, os outros cumprem o papel de planejar as atividades e articular todas as peças para a execução do serviço. f) Processos Os processos, ou o fluxo de atividades que compõem a prestação do serviço, têm um papel fundamental na geração de experiências. Ellis e Rossman (2008) entendem esse elemento como a performance de habilidade técnica, que representa “o nível em que o evento é executado corretamente com relação às expectativas do cliente e/ou às melhores práticas”. Essa performance atua sobre a co-criação de valor com o cliente e, consequentemente, sobre sua experiência. 54 Uma forma mais abrangente de compreender como os processos afetam a experiência no serviço é observando o “script” desenvolvido para a oferta. O treinamento dado para clientes e funcionários, o contato com o cliente (ou os momentos da verdade), os processos propriamente ditos do serviço e o envolvimento do cliente neles (STUART e TAX, 2004) definitivamente influenciam a experiência que é vivida pelos consumidores. Já Verhoef et al. (2009) indicam que a experiência cognitiva, afetiva, social e física do cliente é moldada também pela interface do serviço, que inclui o pessoal de serviço, o grau de co-criação e customização e a tecnologia utilizada pelo prestador. Esta última pode não se referir somente ao uso de tecnologias de comunicação e informação, mas também à hiper-realidade criada através de simulações e da forma com que as atividades e processos do serviço são levados para sensibilizar o cliente (EDVARSSON, ENQUIST e JOHNSTON, 2005). Terblanche e Boshoff (2006), por sua vez, afirmam que a capacidade da empresa de lidar com reclamações, entendida através da resposta dada às necessidades dos clientes pelas suas políticas internas, também compõe a experiência do consumidor no serviço. Pode-se destacar, então, a importância não só dos processos que estão visíveis aos clientes, mas também da produção nos bastidores, ou na “fábrica escondida” do serviço (STUART e TAX, 2004). Além disso, a execução de testes piloto (ensaios) antes de colocar o serviço para funcionar se mostra essencial para evitar experiências negativas para os clientes (STUART e TAX, 2004). A união das ferramentas de gestão do cliente e de gestão do serviço pode auxiliar na criação de uma experiência favorável ao cliente nos serviços. Kwortnik Jr. e Thompson (2009) propõem a Gestão da Experiência em Serviço, um modelo organizacional que tem por objetivo alinhar os processos relacionados a clientes, funcionários, tecnologia e serviço para entregar uma experiência única. Nesse modelo, Marketing e Operações definem, em conjunto, o desenho do sistema de serviço, a adaptação de serviços que não estão funcionando ou mesmo a exclusão 55 de atividades que não dão mais resultados e não têm mais recuperação (KWORTNIK JR. e THOMPSON, 2009). g) Evidências Físicas O último composto do marketing mix de serviços são as evidências físicas que ajudam a reduzir os efeitos da intangibilidade do serviço. Na verdade, esse elemento “não só fornece pistas tangíveis da marca antes da compra, mas é também uma importante dimensão da experiência no serviço por causa do seu impacto nos clientes durante o consumo” (GRACE e O’CASS, 2004). Em seu clássico artigo, Bitner (1992) apresenta o conceito de servicescapes, que pode ser entendido como o ambiente físico do serviço. Segundo a autora, o ambiente é composto por três dimensões, que são (1) as condições do ambiente, (2) o espaço/função e (3) os sinais, símbolos e artefatos. Na primeira dimensão, estão incluídos a temperatura, a qualidade do ar, os ruídos, a música, os odores e todos os demais aspectos sensoriais do ambiente de serviço. A dimensão espaço/função corresponde, como o nome sugere, às características funcionais do local, como o layout, os equipamentos, mobiliário etc. Por fim, a terceira dimensão do ambiente de serviço engloba elementos como a sinalização do ambiente (placas com nome da empresa ou de departamentos, de direcionamento ou de regras de conduta), artefatos pessoais e o estilo da decoração. Esse mix de características ambientais constitui o servicescape e influencia as respostas internas e comportamentos dos consumidores (BITNER, 1992). Slatten et al. (2009) ampliam a ideia de servicescapes proposta por Bitner (1992), indicando que a atmosfera é um construto mais abrangente que engloba a ambiência (som, iluminação e odor), a interação com o (s) prestador (es) de serviço e o design do espaço físico. Ao se referirem aos artefatos físicos do serviço, Edvarsson, Enquist e Johnston (2005) chamam atenção para o fato de que, enquanto alguns deles têm um impacto 56 direto na experiência do cliente – aqueles com os quais o cliente tem um contato mais intenso –, outros apenas a afetam indiretamente. Esses autores também falam de artefatos intangíveis, se referindo às associações imagéticas, à marca e à temática do ambiente. Diversos outros autores citam a importância das evidências físicas para a experiência do cliente, dando a esse construto diferentes nomenclaturas e composições. Pode-se citar, dentre outras, a atmosfera do ambiente (design, odor, temperatura e música) (VERHOEF ET AL., 2009), o ambiente interno da loja (layout, facilidade de movimentação, limpeza, displays e decoração atrativa) (TERBLANCHE e BOSHOFF, 2006), a decoração e adereços de cena e o figurino (STUART e TAX, 2004), a performance do cenário (ELLIS e ROSSMAN, 2008) e, finalmente, os espaços ambientais do serviço (SCHMITT, 2001). Um resumo dos elementos do serviço apresentados nessa seção pode ser encontrado no Quadro 2. h) O todo é maior que a soma das partes Para finalizar, é importante frisar que a entrega de uma experiência é muito mais que a soma de todos esses elementos individuais apresentados (STUART, 2006). Para criar uma experiência inesquecível, as empresas devem ser capazes de gerenciar o todo, integrando cada um desses elementos para compor algo maior. Stuart (2006) defende essa ideia apresentando sete passos para o desenvolvimento de uma experiência memorável que culminam com a importância da integração e do papel facilitador do gerente no serviço. Os passos propostos pelo autor podem ser resumidos conforme segue: 1. Mantenha o foco dentro de suas capacitações e recursos. 2. Comunique e compartilhe a visão do serviço, principalmente com aqueles com responsabilidades gerenciais. 57 Elementos do Serviço PRODUTO Serviço central Qualidade do serviço Presença do serviço Mercadorias Variedade e sortimento Sortimento PREÇO Preço Preço (Promoções, Programas de Fidelidade) Valor da mercadoria DISTRIBUIÇÃO Cadeia de suprimentos Localização PROMOÇÃO Comunicações Identidade visual/verbal Co-marcas Web sites e mídia eletrônica Promoção Atividades promocionais Comunicação boca a boca Imagem da marca PESSOAS Pessoas (vendedores, representantes, prestadores de serviços etc.) Serviço dos funcionários Atores (prestadores de serviço) Plateia (clientes) Produtores (executivos) Diretores (gerentes) Interação pessoal Performance interpessoal Ambiente social PROCESSOS Performance de habilidade técnica Interface do serviço (pessoal, tecnologia, co-criação e customização) Tecnologia Lidar com reclamações (políticas) Script do serviço Produção nos bastidores ("fábrica escondida") Ensaios (testes piloto) Gestão da Experiência em Serviço EVIDÊNCIAS FÍSICAS Servicescapes (condições do ambiente, espaço/função, sinais, símbolos e artefatos Servicescapes Artefatos físicos Artefatos intangíveis Atmosfera do ambiente (design, odor, temperatura e música) Ambiente interno da loja (layout, facilidade de movimentação, limpeza, displays e decoração atrativa) Ambiência (som, iluminação, odores) Design do espaço físico Decoração e adereços de cena Figurino Performance do cenário Espaços ambientais Autor (es) Grace e O'Cass (2004) Knutson e Beck (2003) Schmitt (2001) Grewal, Levy e Kumar (2009) Terblanche e Boshoff (2006) Verhoef et al. (2009) Grewal, Levy e Kumar (2009) Verhoef et al. (2009) Terblanche e Boshoff (2006) Grewal, Levy e Kumar (2009) Schmitt (2001) Grewal, Levy e Kumar (2009) Knutson e Beck (2003) Knutson e Beck (2003); Verhoef et al. (2009) Schmitt (2001) Grace e O'Cass (2004) Stuart e Tax (2004) Terblanche e Boshoff (2006); Slatten et al. (2009) Ellis e Rossman (2008) Verhoef et al. (2009) Ellis e Rossman (2008) Verhoef et al. (2009) Edvarsson, Enquist e Johnston (2005) Terblanche e Boshoff (2006) Stuart e Tax (2004) Kwortnik Jr. e Thompson (2009) Bitner, M.J. Grace e O'Cass (2004) Edvarsson, Enquist e Johnston (2005) Verhoef et al. (2009) Terblanche e Boshoff (2006) Slatten et al. (2009) Stuart e Tax (2004) Ellis e Rossman (2008) Schmitt (2001) Quadro 2 – Elementos do serviço. 58 3. Permaneça vigilante para garantir consistência e autenticidade em todos os aspectos do serviço. 4. Integre todos os elementos (incluindo técnicos, de performance e do negócio), usando mecanismos de comunicação estruturados ou não. 5. Crie um espírito de experimentação e inovação entre os empregados, envolvendo todos no processo criativo. 6. Busque imersão total no papel e na performance de todos os funcionários da linha de frente através de treinamento e ensaio extensivos. 7. Facilite, não dirija. Integre e lidere, não comande e controle. 2.4.2 Elementos do consumidor Conforme dito anteriormente, são chamados nesse trabalho de elementos do consumidor os fatores que agem sobre a experiência do cliente, mas não estão sob controle direto das organizações. Contudo, tais elementos são afetados, influenciados ou direcionados pelas empresas através de suas capacitações e das ferramentas de marketing usadas para informar e persuadir os consumidores. Holbrook e Hirschman (1982), ao apresentarem seu modelo comparativo entre os paradigmas de processamento de informação e experiencial, se referem a esses elementos como inputs do consumidor no processo de consumo. Assim, sob a perspectiva dos aspectos experienciais do consumo, tais inputs são os recursos, a definição do papel do consumidor, seu tipo de envolvimento, a atividade de busca e suas diferenças individuais. De forma resumida, os autores afirmam que, sob a ótica da experiência, os consumidores usam o tempo como principal recurso, dão respostas hedônicas aos estímulos do ambiente, têm seu envolvimento baseado na excitação e nas emoções, apresentam um comportamento exploratório e são diferenciados pela sua personalidade. São esses inputs do consumidor que vão 59 ajudá-lo a avaliar uma compra de acordo com critérios estéticos e psicossociais e, por fim, encontrar diversão, gozo e prazer através do consumo. Ao propor o modelo de Sistemas de Operações de Serviços (SOS), Kwortnik Jr. e Thompson (2009) também chamam atenção para quatro inputs do cliente – as expectativas, as experiências prévias, o conhecimento e as habilidades dos clientes – que são processados na operação do serviço para gerar resultados aos consumidores – satisfação, experiências e conhecimento – e às empresas – lealdade do cliente. Assim, a capacidade das empresas de entregar o serviço de forma eficiente é reduzida pela variabilidade dos inputs do cliente (KWORTNIK e THOMPSON, 2009). Por outro lado, as organizações podem moldar as expectativas, informar e educar os clientes previamente sobre o que devem ser capazes de fazer através da comunicação de sua promessa de serviço, reduzindo o risco de essa variabilidade prejudicar a experiência do cliente (KWORTNIK e THOMPSON, 2009). Outra contribuição para este tópico é feita por Hanefors e Mossberg (2003). Em um estudo sobre a experiência proporcionada por uma refeição, as autoras apresentam cinco fatores que diferenciam uma experiência normal de uma extraordinária, classificados nas etapas de pré-consumo, consumo e pós-consumo. Esses fatores podem ser estendidos para outros tipos de experiência, uma vez que se referem a aspectos dos indivíduos que estão presentes em muitas situações de consumo, especialmente em serviços. Na etapa pré-consumo, os elementos que podem afetar a experiência são a motivação e a expectativa. A motivação é um elemento extremamente individual que pode incluir a fuga da rotina ou a busca por uma experiência singular (HANEFORS e MOSSBERG, 2003). Já a expectativa pode ser criada pelo posicionamento da marca, por atividades promocionais da organização, pela propaganda boca a boca ou por memórias pessoais de experiências passadas (KNUTSON e BECK, 2003). A ideia de que a experiência do cliente começa a ser moldada antes mesmo do consumo é corroborada por Flanagan, Johnston e Talbot (2005). Os autores 60 propõem em seu modelo (Figura 5) que a experiência no serviço é influenciada pela confiança que os indivíduos têm para com o prestador. Essa confiança é gerada a partir das crenças pessoais, da mídia e da comunicação boca a boca, que também geram expectativas acerca do serviço a ser consumido. Assim, expectativas e confiança formam a disposição do indivíduo com relação ao serviço que, caso seja avaliado positivamente, trará satisfação e, consequentemente, qualidade de vida ao consumidor. Figura 5 – Expectativas, Confiança e Experiência em serviço. Fonte: Flanagan, Johnston e Talbot (2005). Já no momento do consumo, são dois os elementos que influenciam a experiência do cliente: a interação e o envolvimento. O primeiro elemento é, talvez, o mais fácil de ser controlado pelas organizações e diz respeito ao grau de participação do cliente na produção da experiência, às oportunidades que são dadas a ele para agir e ao reconhecimento que a experiência fornece ao consumidor (HANEFORS e MOSSBERG, 2003). O outro também é possibilitado pelas atividades da empresa e é formado pelo nível de absorção em que o cliente se encontra durante o consumo, ao grau de familiaridade que a experiência proporciona e também às emoções suscitadas pelo consumo. Por fim, o elemento que está relacionado à etapa pós-consumo é a satisfação do consumidor. No entanto, a satisfação com experiências extraordinárias transcende o 61 simples atendimento da necessidade do cliente, englobando outros aspectos como a surpresa, o prazer, o gozo e as lembranças que elas possibilitaram ao indivíduo (HANEFORS e MOSSBERG, 2003). Uma última contribuição aos elementos do consumidor que afetam a experiência no serviço é feita por Verhoef et al. (2009). Além dos elementos já citados na seção anterior, esses autores também indicam que a experiência prévia do cliente, bem como a experiência em canais alternativos. Esses dois últimos elementos ratificam a noção de que a experiência é um construto dinâmico, que evolui com o tempo e que se retroalimenta, provocando mudanças na sua avaliação por um mesmo indivíduo (VERHOEF ET AL., 2009). Enfim, o que se pode dizer, de uma maneira geral, é que a experiência do cliente no ambiente de serviços é afetada também por fatores que partem de dentro do próprio cliente e exigem uma visão holística dos profissionais que pretendem lidar com esse construto. Para melhor entendimento das ideias descritas acima, os elementos do consumidor encontrados na literatura estão sumarizados no Quadro 3. Elementos do Consumidor Recursos Definição do papel do consumidor Tipo de envolvimento Atividade de busca Diferenças individuais Expectativas Autor (es) Holbrook e Hirschman (1982) Kwortnik Jr. e Thompson (2009); Hanefors e Mossberg (2003); Knutson e Beck (2003); Flanagan, Johnston e Talbot (2005) Experiência Conhecimento Kwortnik Jr. e Thompson (2009) Habilidades Motivação Interação Hanefors e Mossberg (2003) Envolvimento (absorção, grau de familiaridade, emoções) Satisfação Confiança Flanagan, Johnston e Talbot (2005) Experiência em canais alternativos Verhoef et al. (2009) Experiência prévia Quadro 3 – Elementos do consumidor. 62 2.5 A EXPERIÊNCIA NO SERVIÇO DE BARES E RESTAURANTES O objetivo dessa seção é trazer o conceito da experiência para uma categoria específica de prestadores de serviços – os bares e restaurantes. Contribuições acerca da experiência do cliente em serviços de bares e restaurantes são difíceis de encontrar na literatura. Isso pode ser explicado tanto pela limitada quantidade de autores que investigam a experiência do consumidor (VERHOEF ET AL., 2009) quanto pelo reduzido número de publicações acadêmicas (revistas, jornais e afins) que se dedicam a esse setor. Apesar disso, as ideias expostas por alguns autores sobre o tema são bastante relevantes para o propósito desse trabalho e serão apresentadas a seguir. Em um estudo que busca compreender o que é uma experiência extraordinária de alimentação, Hanefors e Mossberg (2003) definem que uma experiência de alimentação deve ser associada com sentimentos de prazer e devem ser lembradas como algo novo ou extraordinário que surpreende o cliente. Segundo as autoras, a experiência em serviços de alimentação é resultado de uma coprodução entre o prestador de serviços (o restaurante) e o cliente, sendo tanto a oferta quanto o indivíduo vitais para que ela exista. Ainda nesse estudo, Hanefors e Mossberg (2003) avaliaram 18 experiências em restaurantes e afins de Hong Kong, dentre as quais duas foram avaliadas como extraordinárias. Para as autoras, o principal aspecto que diferencia essas experiências das regulares é a ausência de um script ou de um esquema prédefinido para a prestação do serviço. Isso faz com que o cliente não saiba o que esperar, estando sujeito a situações surpreendentes que ele não imaginava antes de chegar ao restaurante. Por isso, enquanto experiências rotineiras – como um almoço do dia-a-dia – representam o ordinário, experiências extraordinárias em restaurantes possibilitam ao indivíduo uma fuga do cotidiano (HANEFORS e MOSSBERG, 2003). A experiência de um cliente em um restaurante também pode ser avaliada como positiva ou negativa, de acordo com o prazer hedônico que a mesma proporciona ao 63 indivíduo. Enquanto uma experiência negativa é aquela que não atende às necessidades do consumidor de formar favorável, uma experiência positiva é aquela que proporciona ao cliente uma resposta sensorial prazerosa, causando nele uma sensação de contentamento e satisfação (ANDERSSON e MOSSBERG, 2004). As experiências em bares e restaurantes também podem ser avaliadas de acordo com a atitude, com o sentimento ou com a tendência comportamental do cliente em relação a ela (WALTER, EDVARSSON e ÖSTRÖM, 2010). Outra contribuição para o tema é dada por Sulek e Hensley (2004) em seu estudo sobre a satisfação que a experiência em restaurantes proporciona aos clientes. Segundo as autoras, a experiência nesse tipo de estabelecimento tem o poder tanto de criar clientes leais quanto de afastar um indivíduo e todo o seu círculo de convivência. Enquanto a comida pode trazer um cliente de volta se preparada da forma que lhe agrada, o tratamento dado para o cliente durante o consumo pode prejudicar a percepção que ele tem da experiência como um todo. E isso se torna preocupante, pois uma experiência insatisfatória pode não só fazer o cliente não retornar mais, mas também transformá-lo em um agente de comunicação boca a boca negativa, afastando também o seu grupo social do restaurante (SULEK e HENSLEY, 2004). A ideia de que outros aspectos além da comida são importantes para a experiência em um restaurante é apresentada por Gustafsson et al. (2006). Para os autores, “as pessoas procuram por experiências que vão além da comida em si e usam o restaurante como uma arena onde eles podem relaxar, divertir-se e socializar”. Ainda segundo esses autores, a forma como percebemos a experiência em um restaurante também depende de nossas experiências prévias. Nossos sentidos e qualquer experiência que o cliente teve enquanto consumia alimento em um ambiente semelhante pode afetar a sua avaliação de uma refeição em diferentes contextos (GUSTAFSSON ET AL. 2006). Já Morgan, Watson e Hemmington (2008) indicam que a experiência em restaurantes apresenta um nível de interpretação e avaliação subjetivas. Assim, o 64 valor da experiência é criado pelo significado dado pelo participante e seu grupo social a ela. Por exemplo, enquanto um grupo de adultos pode valorizar um bom jantar em um restaurante, essa experiência pode ser menos prazerosa para crianças que os estejam acompanhando (WALTER, EDVARSSON e ÖSTRÖM, 2010). Esses autores defendem que a experiência é co-criada através da interação do cliente com o ambiente e os acessórios fornecidos pela empresa. Trazendo essa ideia para o contexto de restaurantes, pode-se compreender que a experiência é criada a partir da interação social proporcionada por um ambiente agradável e também pela performance dos funcionários que prestam serviço ao cliente (MORGAN, WATSON e HEMMINGTON, 2008). Assim, a questão da co-criação da experiência, já discutida anteriormente, não pode deixar de ser inserida no contexto dos bares e restaurantes. Watz (2008) apresenta uma abordagem da área de Arte e Design à experiência em restaurantes. A autora destaca que a experiência em restaurantes depende em grande parte das experiências sensoriais pela qual o cliente passa ou, em outras palavras, das informações sensoriais que ele absorve consciente ou inconscientemente. Por isso, “criar a totalidade da refeição envolve toda a paleta de ingredientes que acaba por influenciar os sentidos do cliente”. Com uma visão mais pragmática, Walter (2008) afirma que a experiência no restaurante é um processo que consiste de diversos eventos memoráveis que ocorrem durante a refeição. Para esse autor, cabe ao gerente do restaurante garantir que o cliente sairá feliz do local, e ele deve atingir esse objetivo controlando as variáveis presentes no restaurante (cliente, ambiente e comida) e dando atenção ao envolvimento que o cliente tem durante sua visita. Uma última contribuição, mais recente, é feita por Noone et al. (2009). Os autores destacam a importância de controlar a duração da experiência em restaurantes, uma vez que essa é a principal oferta desse tipo de estabelecimento. Em ambientes como restaurantes e outros serviços de entretenimento e lazer, os clientes podem não desejar uma experiência apressada, mas sim uma experiência estendida que 65 maximize o seu prazer. Contudo, no contexto de serviços de lazer e entretenimento, como no caso de restaurantes, o tempo em que o cliente passará pela experiência dificilmente será definido previamente. Assim, “a maximização das receitas depende da efetiva gestão da duração do encontro de serviço” (NOONE ET AL., 2009). Os mesmos autores propõem, ainda, que a relação entre o ritmo da experiência hedônica no restaurante e a satisfação segue uma curva em U invertida. Ou seja, a satisfação cresce à medida que a experiência é percebida como rápida até certo ponto, a partir do qual essa relação se inverte e a satisfação decresce com o aumento do ritmo percebido da experiência (Figura 6). Figura 6 – Relação entre o ritmo da experiência em restaurantes e a satisfação. Fonte: Noone et al. (2009). Pode-se concluir, a partir das contribuições apresentadas, que a experiência em bares e restaurantes é muito importante para empresas que atuam nesse setor e querem encantar os seus clientes de uma forma única. Proporcionar uma experiência que saia do comum e permita ao cliente um momento memorável pode garantir aos proprietários de bares e restaurantes maiores receitas em longo prazo, uma vez que seus clientes tenderão a voltar mais vezes para experimentar esse evento singular. Assim, após essa breve discussão sobre como a experiência no serviço de bares e restaurantes beneficia tanto o restaurante quanto os clientes, serão apresentados alguns modelos que tentam ajudar os executivos a gerenciá-la no ambiente do serviço. 66 2.6 GERENCIANDO A EXPERIÊNCIA NO SERVIÇO DE BARES E RESTAURANTES Pode-se encontrar na literatura alguns autores que já focaram sua atenção para o desenvolvimento de experiências em restaurantes. De maneira geral, o objetivo dos acadêmicos é entender como esses estabelecimentos devem manipular os elementos que compõem o ambiente do serviço para proporcionar aos clientes uma experiência prazerosa. Um dos modelos mais citados na literatura é o Five Aspect Meal Model (FAMM), de Gustafsson et al. (2006) (Figura 7). Os autores apresentam cinco elementos que são essenciais para a entrega do serviço e para o aumento da satisfação dos clientes, e que podem ser relacionados com a experiência do cliente no serviço. Figura 7 – Five Aspect Meal Model. Adaptado de Gustafsson et al. (2006). O primeiro elemento com o qual o cliente tem contato é o local ou o ambiente, que é equivalente ao que Bitner (1992) chamou de servicescapes. A seguir, surge o elemento denominado “encontro”, que se refere não só à interação entre clientes e funcionários do restaurante (garçons, maîtres e outros que estão na linha de frente), como também à interação de clientes entre si e também entre todos os colaboradores da empresa. O elemento do “encontro” também é destacado em outro 67 artigo que aponta que, para oferecer aos clientes experiências únicas, proprietários de restaurantes precisam entender que as interações – tanto com pessoas quanto com o ambiente físico – formam a percepção e o pensamento deles (WALTER, 2008). O próximo elemento é o produto em si, que é representado pela comida e bebida que são servidas no restaurante, bem como sua preparação. Esses três elementos são os que saltam às vistas dos clientes ao visitar o restaurante e têm um grande peso na sua avaliação do serviço prestado. Os outros dois elementos do FAMM são mais intangíveis e não afetam diretamente a experiência do cliente no restaurante. Um deles é o sistema de controle gerencial, que diz respeito a questões de natureza administrativa, financeira, legal e de liderança (GUSTAFSSON ET AL., 2006). Todos esses elementos anteriores, juntos, ajudam na criação do quinto elemento: a atmosfera do restaurante. Esse elemento corresponde ao restaurante como um todo e é “onde os clientes se sentem confortáveis e à vontade” (GUSTAFSSON ET AL., 2006). Andersson e Mossberg (2004) apresentam outro modelo que é bastante relevante na literatura sobre o tema. Os autores propõem um modelo pentagonal para avaliar se os restaurantes atendem às necessidades dos clientes (Figura 8). De acordo com o modelo, os fatores que influenciam a experiência em um restaurante são (1) o serviço prestado, (2) a cozinha – que pode ser relacionada ao menu do restaurante, ao modo como a comida é preparada e à qualidade percebida dos alimentos –, (3) o interior do restaurante (ou o ambiente), (4) a companhia que o cliente tem no local e (5) os outros clientes. Esses cinco elementos podem garantir a satisfação do cliente, ao passo que outro elemento – a comida – é obrigatório em um restaurante e, por isso, está no centro do modelo, uma vez que está ligado à função básica desse tipo de estabelecimento (ANDERSSON e MOSSBERG, 2004). Existem ainda alguns elementos que são os encantadores, que têm como papel surpreender de maneira prazerosa os clientes – como, por exemplo, alguma atração musical contratada pelo restaurante em uma data especial. 68 Figura 8 – Fatores que influenciam a experiência do cliente em um restaurante. Fonte: Andersson e Mossberg (2004) Sobre a música, especificamente, Demoulin (2011) conduziu um interessante estudo em que mediu o papel mediador desse fator sobre o prazer sentido pelos clientes no ambiente de serviço. O autor concluiu que a congruência musical influencia positivamente a avaliação que os clientes fazem da qualidade do ambiente e do serviço, o que também “afeta positivamente a sua intenção de retornar” (DEMOULIN, 2011) A importância de outros aspectos além da comida em si também é pontuada por Hanefors e Mossberg (2003), que na sua avaliação de experiências de alimentação em diferentes restaurantes indicam que o que diferencia as experiências extraordinárias são os outros clientes presentes no momento, o engajamento do cliente no serviço (atividades desenvolvidas e interação social), a localização do restaurante, os servicescapes (como o tamanho do local e a decoração) e o serviço prestado. Pullman e Gross (2004) seguem um caminho semelhante ao sugerir que, além da comida e da bebida, a interação, a acomodação dos clientes e os estímulos sensoriais compõem a experiência e podem incitar a lealdade dos clientes – tanto para retornar ao local quanto para recomendá-lo a outros. D’Aveni (2007) também indica que os fatores que fazem a diferença para o consumidor vão além da localização ou do tipo de comida servida pelo restaurante. Para o autor, o composto 69 denominado experiência do cliente, que engloba o ambiente, o sabor da comida e o atendimento, é o fator-chave para o sucesso desses estabelecimentos. Um estudo interessante sobre os fatores determinantes da experiência do cliente em bares e restaurantes na Suécia, usando a técnica do incidente crítico, chegou à conclusão de que os atributos mais importantes nesse contexto estão relacionados à interação social, o serviço central e ao ambiente físico (WALTER, EDVARSSON e ÖSTRÖM, 2010). Além desses, outros fatores foram indicados com menor frequência pelos entrevistados, como o restaurante em si – características, proprietários e sua localização –, métodos de precificação e pagamento, a atmosfera, a ocasião e o próprio cliente. Em contrapartida, Gupta, McLaughlin e Gomez (2007) postulam que nem todos os elementos que compõem a experiência em um restaurante são relevantes para a decisão do cliente de retornar ou não ao local. Em um estudo sobre a satisfação dos clientes com a performance de uma cadeia de restaurantes norte-americana, os autores chegaram à conclusão de que os fatores que impactam mais os clientes são a qualidade da comida, a precificação, a forma como são recebidos e a atenção dada no serviço. Essa constatação é interessante, pois mostra que, apesar de muitos esforços empreendidos pelos restaurantes, o mais importante é manter o foco no “cerne de sua operação” (GUPTA, MCLAUGHLIN e GOMEZ, 2007). Outro estudo também aponta que são poucos os elementos que são essenciais para a satisfação do cliente com a experiência em restaurantes (SULEK e HENSLEY, 2004). Ao medir a importância da qualidade da comida, do ambiente físico – decoração, nível de ruído, temperatura, limpeza, odores, iluminação, cores, música e conforto dos assentos – e o serviço (tempo de espera, justiça percebida na ordem das reservas de mesa, atenção dada etc.), os autores concluíram que somente três atributos dos restaurantes – a comida, a atmosfera da área de refeição e a justiça da ordem de espera por mesas – são significativos para a satisfação do cliente com a experiência. Similarmente, Aksoydan (2007) acrescenta o fator higiene aos 70 elementos da experiência que determinam a escolha de um restaurante, que são o serviço, o ambiente e a comida. Já Wall e Berry (2007) apresentam a perspectiva do cliente ao indicar a forma como ele julga a experiência em restaurantes. As dimensões da experiência propostas por Berry, Carbone e Haeckel (2002) podem ser traduzidas para o contexto do restaurante, obtendo pistas funcionais, mecânicas e humanas desse tipo de experiência. As pistas funcionais podem ser entendidas como a qualidade técnica da comida e do serviço. As pistas mecânicas, por sua vez, correspondem à ambientação e aos demais elementos técnicos e de design do serviço. Por fim, as pistas humanas são a performance, o comportamento e a aparência dos funcionários do restaurante (WALL e BERRY, 2007). Confirmando as ideias apresentadas acima, esses autores afirmam, ainda, que uma refeição saborosa, completa e servida na temperatura apropriada é essencial para uma experiência positiva em um restaurante. É importante refletir também sobre o papel que os personagens presentes no ambiente de serviço devem executar para o desenvolvimento da experiência. Ao comparar o restaurante a uma experiência dramática, Morgan, Watson e Hemmington (2008) fazem conclusões relevantes sobre esse tópico. Os autores sugerem que os clientes, o restaurante – personificado pelo proprietário ou pelo maître – e os funcionários devem ter funções diferentes durante a “encenação” na experiência no restaurante. O proprietário ou o maître deve garantir a continuidade da “cena”, fazendo com que o fluxo do serviço seja prazeroso e haja consistência na oferta da empresa. Já os clientes devem ter seu desejo atendido no que tange ao nível de participação na “peça”. Se eles desejam “atuar”, devem ser inseridos de forma ativa na prestação do serviço. Se, por outro lado, preferem assistir ao “espetáculo”, deve-se garantir que tudo ocorra sem a necessidade de sua participação. Finalmente, o papel dos funcionários deve ser o de “atores coadjuvantes” que estão ali para dar suporte ao personagem principal da peça – o cliente. 71 Um último insight pode ser tirado de um artigo que apresenta a perspectiva de uma designer sobre o tema. Em sua visão particular sobre a experiência em restaurantes, Watz (2008) apresenta sete ingredientes que podem ajudar os proprietários de restaurantes na missão de proporcionar aos clientes uma experiência prazerosa, através do estímulo a todos os seus sentidos. Esse trabalho é relevante porque o prisma de Artes e Design ajuda a compreender os aspectos visuais do ambiente de um restaurante e sua influência sobre a experiência do cliente. Assim, segundo a autora, para criar uma experiência prazerosa devem ser utilizados (1) ideias criativas, (2) arte, equilíbrio e complexidade, (3) linhas e formas, (4) luzes e cores, (5) sons, música, ritmo e movimento, (6) a comida em si e deve-se, por fim, (7) agregar os demais ingredientes em uma composição harmônica. Autor (es) Gustafsson et al. (2006) Andersson e Mossberg (2004) Hanefors e Mossberg (2003) Pullman e Gross (2004) D’Aveni (2007) Elementos da experiência em restaurantes Ambiente; Encontro; Produto; Sistema de Controle Gerencial; Atmosfera. Serviço; Cozinha; Interior do restaurante; Companhia; Outros clientes. Outros clientes; Engajamento do cliente; Localização; Serviço. Comida; Bebida; Interação; Acomodação; Estímulos sensoriais. Ambiente; Sabor da comida; Atendimento. Interação social; Serviço central; Ambiente físico. Comida; preço; Recepção; Atenção no Gupta, McLaughlin e Gomez (2007) serviço. Qualidade da comida; Ambiente físico; Sulek e Hensley (2004) Serviço. Aksoydan (2007) Higiene; Serviço; Ambiente; Comida. Qualidade técnica da comida e do serviço; Ambientação e elementos de design; Wall e Berry (2007) Performance, comportamento e aparência dos funcionários Papel do cliente, do proprietário (ou do maître) Morgan, Watson e Hemmington (2008) e dos funcionários. Ideias criativas; Arte, equilíbrio e complexidade; Linhas e formas; Luzes e Watz (2008) cores; Sons, música, ritmo e movimento; Comida; Composição harmônica. Quadro 4 – Elementos importantes para desenvolver a experiência em restaurantes. Walter, Edvarsson e Öström (2010) As diversas contribuições apresentadas aqui, resumidas no Quadro 4, podem auxiliar no entendimento de como se desenvolve a experiência em bares e 72 restaurantes. O que se pode concluir, de maneira geral, é que muitos são os elementos que ajudam a compor a experiência do cliente nesse contexto e que combiná-los da melhor forma possível é uma tarefa que exige tato e conhecimento das necessidades dos clientes. 2.7 RESUMO E MODELO CONCEITUAL A partir da literatura revista e apresentada no presente capítulo, será descrito a seguir um modelo conceitual que apresenta as conexões entre as variáveis relacionadas com a experiência do cliente em bares e restaurantes encontradas nos trabalhos dos autores previamente citados (Figura 9). O principal objetivo deste modelo é indicar quais os itens que compõem uma experiência positiva do cliente em serviços de bares e restaurantes e que consequências esse construto pode ter na relação entre os clientes e as empresas desse setor, contemplando não somente as variáveis que podem contribuir para uma boa experiência, mas também os benefícios que esta pode trazer para o negócio. O modelo conceitual proposto tem como base o modelo de Grace e O’Cass (2004), que estudaram a influência da experiência em serviços na avaliação que os clientes fazem após o consumo. No estudo em questão, os autores apontaram que a experiência no serviço é composta por três fatores – o serviço central, o serviço dos funcionários e os servicescapes – e que tem influência sobre os construtos da satisfação, da atitude com relação à marca e dos sentimentos evocados. No entanto, algumas modificações foram realizadas, de acordo com o que foi postulado por outros autores estudados na presente revisão, de forma a aproximar mais esse modelo ao contexto do serviço de bares e restaurantes. Uma das mudanças aconteceu na nomenclatura dos construtos que compõem a experiência do cliente, além da inclusão de um quarto importante elemento. Outra mudança significativa foi a substituição de dois dos construtos considerados pelos autores como consequências da experiência do cliente, adequando assim o modelo ao que foi 73 discutido ao longo deste capítulo. Segue, então, uma descrição detalhada do modelo conceitual proposto. Figura 9 – Modelo conceitual proposto. Adaptado de Grace e O’Cass (2004). Primeiramente, o modelo proposto neste trabalho contempla os atributos que auxiliam na construção da experiência positiva do cliente. A partir da reflexão acerca dos diversos elementos que foram relacionados à experiência do cliente em bares e restaurantes na revisão de literatura, foi proposta a organização de todos os itens que serão utilizados na pesquisa em quatro grupos de variáveis que influenciam tal construto: a (1) expectativa do cliente (quatro itens), que, segundo apontado por diversos autores (KWORTNIK JR. e THOMPSON, 2009; HANEFORS e MOSSBERG, 2003; KNUTSON E BECK, 2003; FLANAGAN, JOHNSTON e TALBOT, 2005), influencia a percepção que o cliente tem da experiência e do seu resultado final, além de moldar, em certa medida, o comportamento do indivíduo no momento em que ele vivencia a experiência; o (2) ambiente (11 itens), que se refere aos servicescapes no modelo de Grace e O’Cass (2004); a (3) comida e bebida (oito itens), referentes ao serviço central de bares e restaurantes; e o (4) serviço dos funcionários (cinco itens), que se iguala ao construto existente no modelo original. Formada pelas experiências prévias do cliente (VERHOEF ET AL., 2009), pela propaganda, pela recomendação de outras pessoas (FLANAGAN, JOHNSTON e TALBOT, 2005; KNUTSON e BECK, 2003) e pela imagem da marca do serviço 74 (KNUTSON e BECK, 2003; VERHOEF ET AL., 2009), a expectativa serve como parâmetro para a avaliação que o indivíduo faz da experiência e tem um papel essencial na determinação da satisfação do cliente (ZEITHAML e BITNER, 2003; KOTLER e KELLER, 2006). Vale ressaltar que os quatro primeiros grupos sugeridos no modelo serão confirmados ou não pela futura análise fatorial dos dados coletados. A princípio, eles têm como função apresentar de forma mais simplificada o modelo conceitual, englobando a extensa gama de variáveis que serão consideradas na pesquisa. Percebe-se que a complexidade e o caráter multidimensional do construto da experiência do cliente em bares e restaurante não estão plenamente representados graficamente no modelo. De acordo com os diferentes autores discutidos no presente capítulo, esse construto envolve não só as características do serviço que são contempladas pelos quatro grupos de variáveis, mas também as emoções, os sentidos, a cognição e o envolvimento do indivíduo. Ao optar por não incluir essas dimensões no modelo conceitual, não se está renegando a importância que cada uma delas têm para as empresas atuantes na indústria de bares e restaurantes proporcionarem boas experiências para seus clientes e atingirem seus objetivos. Porém, a medição ou avaliação de dimensões tão complexas pode se tornar inviável e não essencial para os objetivos desse trabalho que, conforme já explicado, tem como foco as decisões gerenciais que podem ser tomadas em relação à experiência do cliente. Por fim, o modelo apresenta quais os construtos impactados pelos fatores da experiência do cliente em bares e restaurantes que serão abordados por esse estudo. Seguindo as ideias expostas na terceira seção dessa revisão de literatura, observam-se três construtos que podem ser afetados pela forma como se dá a experiência do consumidor: (1) valor percebido pelo cliente, (2) satisfação e (3) lealdade. O primeiro construto representa o conceito apresentado por Kotler e Keller (2006), sendo considerado como a relação custo / benefício percebido pelo cliente, tanto em termos monetários quanto em relação a outros dispêndios não financeiros que ele teve para passar por uma determinada experiência. A relação entre o valor 75 percebido pelo cliente e o tema central do modelo é proposta por Gentile, Spiller e Noci (2007). Por sua vez, a satisfação e a lealdade se apresentam como construtos distintos que têm relação direta com a experiência em serviços, conforme sugerido por Grace e O’Cass (2004) e Pullman e Gross (2004), respectivamente. Optou-se por não incluir no modelo conceitual outros construtos que foram indicados na literatura como consequências da experiência para o negócio de bares e restaurantes, como a atitude em relação à marca, a geração de receitas e a lucratividade. Essa opção se explica por dois motivos. Primeiro, por acreditar que incluir essas variáveis poderia tornar o escopo do trabalho demasiadamente complexo, tendo em vista a necessidade da verificação quantitativa da relação entre todos os construtos. Segundo, porque a análise das variáveis incluídas no modelo pode ser suficiente para verificar a importância que a construção de uma boa experiência pode ter para os gestores de bares e restaurantes. Assim, o modelo conceitual deste trabalho engloba tanto os elementos que auxiliam na criação da experiência em bares e restaurantes quanto os principais construtos que podem ser impactados por ela. Com isso, espera-se que seja possível desenvolver uma discussão sobre quais os elementos da experiência em bares e restaurantes que mais podem contribuir para que o cliente valorize mais o serviço, fique mais satisfeito com ele e torne-se um cliente leal do estabelecimento. Na seção seguinte, será especificada qual a metodologia de pesquisa que será utilizada para explorar as relações entre as variáveis apresentadas e analisar os resultados da pesquisa. 76 3 METODOLOGIA Neste capítulo, serão descritos todos os aspectos metodológicos da pesquisa realizada no presente estudo. Primeiramente, serão apresentados os tipos de pesquisa utilizados, uma vez que a presente pesquisa é composta por duas etapas. A primeira fase foi qualitativa e consistiu de entrevistas exploratórias realizadas com especialistas do setor de bares e restaurantes. Já a segunda fase correspondeu a uma pesquisa quantitativa cujo objetivo foi o de verificar a relação entre as variáveis apresentadas no modelo conceitual, proposto no final do capítulo anterior. Em seguida, serão expostas as perguntas da pesquisa e as características do universo e da amostra pesquisada. Depois, essa seção disponibilizará informações sobre o método de coleta de dados, o questionário utilizado na pesquisa e a forma de tratamento de dados, dando especificidades sobre os métodos de análise usados. Por fim, serão apresentadas as limitações da presente pesquisa. 3.1 PRIMEIRA ETAPA: ENTREVISTA COM ESPECIALISTAS Após levantar na literatura diversos elementos que poderiam ser considerados importantes para a experiência do cliente em bares e restaurantes, detectou-se a necessidade de realizar uma pesquisa exploratória através de entrevistas com especialistas no setor de bares e restaurantes. O objetivo era de confirmar se as variáveis relacionadas na revisão de literatura são coerentes com o conhecimento tácito que essas pessoas adquiriram ao longo de sua experiência profissional e se são válidas no contexto local – uma vez que a literatura pesquisada foi basicamente de origem estrangeira. Tal objetivo é consistente com o que afirma Malhotra (2006), para quem a entrevista com especialistas do setor pode ter como finalidade formular um problema ou defini-lo com maior precisão. Além disso, a literatura indica que esse tipo de entrevista pode ter como fim obter insights sobre a relação entre as variáveis (MALHOTRA, 2006; CHURCHILL, 1991). 77 Assim, a primeira etapa deste trabalho teve como objetivo validar, de acordo com a opinião dos especialistas, as variáveis independentes que seriam consideradas no modelo da pesquisa quantitativa. De acordo com Vergara (2005), “a investigação exploratória é realizada em área na qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado”. Por isso, no caso da presente pesquisa, a dificuldade em encontrar literatura que fale especificamente sobre o tema e, mais ainda, que o insira no contexto brasileiro, justifica a realização dessa etapa. Segundo Churchill (1991), os entrevistados para esse tipo de pesquisa devem ser selecionados de acordo com a real possibilidade que eles têm de dar contribuições ao tema, sendo preferível buscar pessoas que atuem no setor. Buscou-se, então, pessoas que possuíam um bom conhecimento acumulado sobre bares e restaurantes e com certo reconhecimento nesse setor de atividade, compondo uma amostra simples e não representativa, como é defendido na literatura (MALHOTRA, 2006). Foram contatados proprietários de restaurantes, chefs de cozinha e maîtres, além de críticos de gastronomia reconhecidos – que foram escolhidos pelo seu vasto conhecimento das praças estudadas. No entanto, conforme previsto por Malhotra (2006), foram encontradas dificuldades para localizar alguns potenciais entrevistados e encontrar espaço na agenda dessas pessoas, sendo a falta de tempo o principal fator que impossibilitou algumas das entrevistas planejadas para essa etapa. Ao final do processo, cinco pessoas com conhecimento relevante sobre o tema foram entrevistadas nessa etapa. Quanto ao formato das entrevistas, optou-se por seguir a recomendação dos autores estudados, que atestam que tais pesquisas não devem ser estruturadas (MALHOTRA, 2006; CHURCHILL, 1991) e informais (CHURCHILL, 1991). As entrevistas foram realizadas em ambientes informais, como cafés e restaurantes, e tinham uma sequência minimamente organizada, mas flexível o bastante para dar a elas um caráter de “bate-papo” sobre o assunto da pesquisa. O único elemento mais estruturado da entrevista consistiu em uma lista com as variáveis que compõem a experiência do cliente em bares e restaurante – levantadas na revisão de literatura – , que foi apresentada aos especialistas. Foi solicitado, então, que eles indicassem se 78 essas variáveis eram coerentes ou não com o seu conhecimento adquirido sobre o tema. Os principais insights obtidos das entrevistas com especialistas encontram-se no Anexo 1. 3.2 SEGUNDA ETAPA: PESQUISA QUANTITATIVA A segunda etapa deste estudo consistiu em uma pesquisa quantitativa, também exploratória, que visou investigar as relações entre as variáveis levantadas a partir da literatura e das entrevistas com especialistas. Classificou-se essa etapa também como exploratória, pois, de acordo com Malhotra (2006), esse método também PE usado para “obter dados adicionais antes de poder desenvolver uma abordagem” – o que corresponde à ideia de entender as relações entre as variáveis expostas. Porém, ao contrário do caso da primeira etapa da pesquisa, essa etapa da pesquisa precisou ser pré-planejada e estruturada. Para coleta dos dados, foi utilizado um questionário formal, aplicado em indivíduos selecionados de acordo com as características da população-alvo. A pesquisa foi realizada através da internet, sendo o próprio entrevistado o responsável pelo preenchimento do questionário. 3.3 PERGUNTAS DE PESQUISA De acordo com o modelo conceitual proposto, o presente trabalho tem como objetivo responder a quatro perguntas de pesquisa. A primeira delas está relacionada com o primeiro objetivo do estudo, enquanto as três perguntas seguintes relacionam-se com o segundo objetivo de pesquisa: 1. Quais são os fatores que contribuem para a construção de uma experiência positiva do cliente em bares e restaurantes? 79 2. Que fatores da experiência do cliente em bares e restaurantes mais contribuem para o valor percebido pelo cliente? 3. Que fatores da experiência do cliente em bares e restaurantes mais contribuem para a satisfação do cliente? 4. Que fatores da experiência do cliente em bares e restaurantes mais contribuem para a conquista da lealdade do cliente? 3.4 OPERACIONALIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS E CONSTRUTOS 3.4.1 Variáveis associadas à Experiência do cliente em bares e restaurantes Os quatro grupos de itens que tiveram como finalidade identificar os fatores importantes para a experiência do cliente em bares e restaurantes foram tratados pelas variáveis apresentadas no Quadro 5. Todos os itens foram medidos através de uma escala Likert de cinco pontos, ancorada de acordo com o grau de importância atribuído pelo entrevistado a cada uma das variáveis (1 = NADA IMPORTANTE; 5 = EXTREMAMENTE IMPORTANTE). Segundo Malhotra (2005), a escala Likert tem como vantagens a fácil construção e aplicação, facilitando o entendimento por parte dos respondentes. 3.4.2 Variáveis associadas ao Valor Percebido pelo Cliente O construto “Valor Percebido pelo Cliente” foi tratado através de três variáveis, sendo as duas primeiras adaptadas do estudo de Tam (2004) e a terceira sugerida pelo próprio autor: • Percepção da relação custo monetário X benefício (#29), escala Likert de cinco itens (1 = Discordo totalmente; 5 = Concordo totalmente); 80 • Percepção da relação custos não monetários X benefício (#30), escala Likert de cinco itens (1 = Discordo totalmente; 5 = Concordo totalmente); • Disposição a pagar preço premium (#31), escala Likert de cinco itens (1 = Discordo totalmente; 5 = Concordo totalmente). GRUPO VARIÁVEIS EXPECTATIVA DO CLIENTE 1. 2. 3. 4. Experiências prévias Recomendação de outras pessoas Propaganda Imagem da marca do serviço AMBIENTE 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. Localização do estabelecimento Tamanho e espaçamento do salão Acomodação (mesas e cadeiras) Ambientação / decoração Iluminação do ambiente Som / música no ambiente Odores agradáveis no ambiente Comportamento de outros clientes Sua companhia na ocasião Limpeza do salão e das mesas Limpeza dos banheiros COMIDA E BEBIDA 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. Variedade do cardápio Flexibilidade do cardápio Informações sobre a comida Sabor da comida Aparência da comida Qualidade da carta de bebidas Variedade da carta de bebidas Preços cobrados 24. Recepção 25. Cordialidade dos funcionários SERVIÇO DOS 26. Capacitação técnica dos funcionários FUNCIONÁRIOS 27. Aparência dos funcionários 28. Responsabilidade ambiental Quadro 5 – Variáveis independentes que representam os fatores da experiência positiva do cliente em bares e restaurantes. 3.4.3 Variáveis associadas ao construto da Satisfação Para medir a relação entre os fatores da experiência do cliente em bares e restaurantes e a satisfação, foram adaptadas três variáveis utilizadas por Gallarza e Saura (2006): 81 • Satisfação com o serviço do bar ou restaurante (#32) , escala Likert de cinco itens (1 = Discordo totalmente; 5 = Concordo totalmente); • Superação das expectativas (#33), escala Likert de cinco itens (1 = Discordo totalmente; 5 = Concordo totalmente); • Sensação de escolha certa (#34), escala Likert de cinco itens (1 = Discordo totalmente; 5 = Concordo totalmente). 3.4.4 Variáveis associadas ao construto da Lealdade As variáveis utilizadas para tratar o construto da Lealdade também foram adaptadas da pesquisa de Gallarza e Saura (2006). Foi adicionada também uma quarta variável para medir a lealdade declarada dos entrevistados, totalizando quatro itens: • Lealdade declarada (#35), escala Likert de cinco itens (1 = Discordo totalmente; 5 = Concordo totalmente); • Intenção de retornar (#36), escala Likert de cinco itens (1 = Discordo totalmente; 5 = Concordo totalmente); • Considerar primeira opção (#37), escala Likert de cinco itens (1 = Discordo totalmente; 5 = Concordo totalmente); • Recomendação para outras pessoas (#38), escala Likert de cinco itens (1 = Discordo totalmente; 5 = Concordo totalmente). 82 3.4.5 Variáveis do Perfil Sócio-Demográfico O perfil sócio-demográfico dos entrevistados foi traçado a partir de cinco variáveis: idade, gênero, estado civil, grau de formação e o local de residência: • Variável Idade (#39), variável discreta unitária, posteriormente transformada em uma escala intervalar: “de 18 a 24 anos”, “de 25 a 30 anos”, “de 31 a 40 anos”, “de 41 a 50 anos”, “de 51 a 60 anos” e “60 anos ou mais”; • Variável Gênero (#40), escala categórica: “Masculino” e “Feminino”; • Variável Estado civil (#41), escala categórica: “Solteiro”, “Casado”, “Divorciado” e “Viúvo”; • Variável Grau de Formação (#42), escala categórica: “Ensino Fundamental incompleto”, “Ensino Fundamental”, “Ensino médio”, “Ensino Superior em andamento”, “Ensino Superior” e “Pós-graduação (Especialização, Mestrado, Doutorado)”; • Variável Local de Residência (#43), pergunta aberta. 3.5 UNIVERSO E AMOSTRA Segundo Malhotra (2006), o universo ou a população-alvo da pesquisa “deve ser definida em termos de elementos, unidades amostrais, extensão e período”. Na presente pesquisa, tanto elemento quanto unidade amostral podem ser definidos como indivíduos, maiores de idade, que consomem com frequência o serviço de bares e restaurantes. A extensão da pesquisa foi restrita às regiões metropolitanas do Rio de Janeiro – RJ e Vitória – ES e essas duas localidades foram selecionadas por dois motivos. Primeiro, devido à maior facilidade de aplicar a pesquisa no público 83 dessas praças, tanto devido à proximidade geográfica quanto à rede de contatos estabelecida pelo pesquisador nessas cidades. Segundo, devido ao potencial de desenvolvimento do setor de bares e restaurantes já discutido no capítulo de Introdução, especialmente com relação à região metropolitana do Rio de Janeiro. Além disso, vale dizer que o período de tempo da coleta de dados foi delimitado entre setembro de 2010 e fevereiro de 2011. Neste estudo, foi realizada uma amostragem não probabilística por conveniência, utilizando a internet para aplicação dos questionários. A amostragem não probabilística tem o benefício de facilitar a seleção dos entrevistados, mas tem como maior desvantagem a impossibilidade de projetar as estimativas obtidas na pesquisa para a população (MALHOTRA, 2006), uma vez que não há garantias de que os indivíduos incluídos na amostra são representativos da população-alvo (CHURCHILL, 1991). Foram selecionados para compor a amostra jovens e adultos com idade maior que 18 anos e não superior a 65 anos, de ambos os sexos, residentes nas cidades do Rio de Janeiro e de Vitória. O número total de entrevistados foi determinado pela utilização do método da análise fatorial. Conforme sugerem Hair et al. (2009), ao se realizar uma análise fatorial, deve-se obter um número mínimo de cinco observações por variável independente estudada. Foi coletado um total de 189 questionários, dos quais 41 (21,7%) foram descartados. Os motivos que levaram ao descarte foram o mau preenchimento do questionário (omissão em alguns itens) e a não adequação do respondente ao universo selecionado10. Com isso, chegou-se a uma amostra final de 148 indivíduos, o que representa 5,3 observações por variável independente. 10 Como o questionário estava disponível na internet e foi divulgado através de mídias sociais, alguns respondentes não residiam nas praças que compunham o universo. Além disso, foram eliminados casos em que a experiência descrita havia ocorrido em bares e restaurantes fora do Brasil, por se entender que esses estavam fora do escopo deste trabalho. 84 3.6 COLETA DE DADOS E INSTRUMENTO DE PESQUISA Para obter os dados desse estudo, foi utilizado o método do levantamento, que, segundo Malhotra (2006), é o método mais comum de coleta de dados. Os principais benefícios desse método são a versatilidade na coleta de dados, a maior velocidade e o custo reduzido para obtenção das informações (CHURCHILL, 1991). As informações foram coletadas através de um questionário estruturado auto-aplicável, usando como base uma página disponibilizada na internet – o web site Survey Monkey. O endereço para acesso à pesquisa foi enviado por e-mail e também disponibilizado através de redes sociais para indivíduos que se adequavam ao perfil selecionado para a amostra com o objetivo de obter o número suficiente de respostas. A elaboração do questionário foi realizada em três passos. Primeiro, os itens necessários para o desenvolvimento da survey foram levantados na literatura, conforme já descrito no Capítulo 2. Foram identificados diversos itens que poderiam ser incluídos no estudo e foram selecionados aqueles com maior recorrência na literatura. Depois, foram realizadas entrevistas com especialistas para validar os pontos abordados pela literatura, conforme descrito anteriormente no presente capítulo. Os insights obtidos nas entrevistas foram agregados ao modelo do questionário, adicionando itens corroborados pela literatura, acrescentando novos itens que não haviam sido mencionados pelos acadêmicos estudados, ou mesmo removendo alguns itens que se mostraram incoerentes para os entrevistados. Com isso, chegou-se à primeira versão do questionário, que foi estruturado para a realização do pré-teste. O pré-teste consiste na aplicação do questionário em uma amostra pequena de indivíduos, que tem por objetivo identificar e eliminar possíveis problemas de entendimento dos enunciados ou interpretação das escalas (MALHOTRA, 2006; CHURCHILL, 1991). Nesse terceiro passo, foram entrevistadas oito pessoas, para as quais foi solicitado que respondessem ao questionário e fizessem observações críticas sobre cada um dos itens apresentados. As sugestões, críticas e dúvidas 85 recorrentes foram então analisadas para a elaboração da versão final do questionário. O questionário final consistiu de três partes e de uma pequena introdução, que apresenta a pesquisa e retrata o tema estudado. A primeira seção remetia a uma experiência que o indivíduo teve em bares e restaurantes e avaliava a importância que o respondente dava aos diversos aspectos dessa experiência. Na sequência, foram feitas perguntas referentes aos construtos estudados nessa pesquisa (Valor Percebido pelo Cliente, Satisfação e Lealdade). Por fim, foram feitas perguntas sobre as características sócio-demográficas do respondente. No total, o questionário da pesquisa apresentou 44 itens, organizados em uma página da web de formatação simples, que pode ser visualizada no Anexo 2. 3.7 TRATAMENTO DOS DADOS Foram utilizados diferentes métodos de análise quantitativa dos dados para atender às questões da pesquisa. Para resolver à primeira pergunta da pesquisa e chegar a um grupo de fatores da experiência positiva em bares e restaurantes, foram utilizados testes não paramétricos e a análise fatorial. Os testes não paramétricos de Kruskal-Wallis e U de Mann-Whitney foram usados para verificar as diferenças estatisticamente significativas entre grupos da amostra para as 28 variáveis incluídas no questionário, enquanto a análise fatorial teve como função reduzir as variáveis independentes a um grupo menor de fatores para uso na análise posterior. As perguntas dois a quatro foram respondidas através da análise de regressão linear múltipla. Através deste procedimento, foi possível verificar quais fatores da experiência do cliente em bares e restaurantes, obtidos na análise fatorial, mais contribuíram para os construtos relacionados. Os dados sócio-demográficos dos entrevistados, por fim, passaram por uma análise da distribuição de frequência das respostas. 86 3.7.1 Confiabilidade da escala Segundo Malhotra (2006), a confiabilidade “mostra até que ponto uma escala produz resultados consistentes se as medidas forem tomadas repetidamente”. Para validar a escala proposta, foi utilizado o alfa de Cronbach como medida de confiabilidade interna da escala. O alfa de Cronbach é a medida mais comumente utilizada para testar a confiabilidade de uma escala (HAIR ET AL., 2009). Trata-se da média de todos os coeficientes split-half que resultam das diferentes maneiras de dividir os itens da escala em duas metades (MALHOTRA, 2006). Este coeficiente alfa varia entre 0 e 1, sendo que, quanto maior o valor encontrado, melhor é a confiabilidade da consistência interna da escala. Malhotra (2006) explica que “um valor de 0,6 ou menos, geralmente indica confiabilidade de consistência interna insatisfatória”, ao passo que Hair et al. (2009) sugerem um valor superior a 0,7 como satisfatório. O alfa de Cronbach foi obtido em duas etapas. Primeiro, para a escala com 28 itens utilizada no princípio do estudo. Depois, para cada uma das dimensões encontradas na análise fatorial e para o conjunto de variáveis independentes que foi aproveitado no resultado final. 3.7.2 Teste de Kruskal-Wallis e U de Mann-Whitney Os testes não paramétricos são utilizados quando se deseja evitar todas as premissas associadas aos testes paramétricos ou quando as variáveis independentes são de natureza não métrica (MALHOTRA, 2006). Esses testes são especialmente úteis no que tange a possibilidade de aplicação em amostras que apresentem qualquer tipo de distribuição, o que possibilita a verificação estatística dos dados sem a exigência da distribuição normal, por exemplo. No presente estudo, os testes não paramétricos de Kruskal-Wallis e U de Mann-Whitney foram usados para verificar diferenças estatisticamente significativas entre grupos distintos da amostra para as respostas do questionário aplicado. 87 O teste U de Mann-Whitney é uma alternativa ao teste t, sendo usado para verificar diferenças estatisticamente significativas entre dois grupos amostrais (SIEGEL e CASTELLAN, 2006). O método consiste na ordenação dos casos das duas amostras e atribuição de postos a cada um deles. O valor U é então calculado a partir desses postos e, caso o valor observado tenha probabilidade associada inferior ao alfa determinado, a hipótese nula de que as distribuições das duas amostras são iguais é rejeitada (SIEGEL e CASTELLAN, 2006; MALHOTRA, 2006). Quando se quer verificar diferenças estatisticamente significativas para mais de duas amostras, pode-se utilizar o teste de Kruskal-Wallis. Conforme explicam Siegel e Castellan (2006), esse teste ajuda a compreender se as diferenças observadas entre diversos grupos amostrais, que podem parecer normais à primeira vista, têm significância estatística ou representam “apenas variações casuais, esperadas entre amostras aleatórias de uma população”. Semelhante ao caso do teste U, no teste de Kruskal-Wallis é feita uma ordenação e atribuição de postos para cada observação. Após a realização deste procedimento, o valor H determina a diferença entre os grupos, ao passo que o valor alfa identifica a significância estatística dessa diferença (SIEGEL e CASTELLAN, 2006). 3.7.3 Análise fatorial exploratória A análise fatorial corresponde a uma série de procedimentos cujo objetivo básico é reduzir uma série de informações a um grupo de fatores, definindo a estrutura subjacente em uma matriz de dados (HAIR ET AL., 2009; MALHOTRA, 2006). Segundo Hair et al. (2009), o processo da análise fatorial consiste em, basicamente, analisar simultaneamente a interdependência entre todas as variáveis. Dessa forma, busca-se selecionar um subconjunto representativo de variáveis ou mesmo criar novas variáveis que substituam as originais sem perder suas características. No presente estudo, a análise fatorial exploratória foi utilizada com o objetivo de redução ou resumo das 28 variáveis associadas à experiência do cliente em bares e restaurantes a um grupo de fatores que seja suficiente para explicar como se forma esse construto. 88 Para analisar as variáveis, foi escolhido o método da análise fatorial por componentes principais, que se mostrou mais adequado após uma rodada inicial de testes usando diferentes metodologias. A literatura indica que o método dos componentes principais é mais adequado quando o objetivo principal é a redução dos dados (HAIR ET AL., 2009), como é o caso nesse trabalho. Quanto ao método de rotação dos dados, foi escolhido o VARIMAX por ser um método ortogonal que tem como característica a simplificação da matriz de fatores para facilitar a interpretação dos resultados (HAIR ET AL., 2009), bem como por gerar fatores ortogonais independentes, o que vai de acordo com os objetivos do estudo. Um dos primeiros passos a serem dados na análise fatorial é verificar a adequação do método à amostra utilizada. Duas estatísticas são importantes nesse processo: o teste de esfericidade de Bartlett e a medida de adequação da amostra de KaiserMeyer-Olkin (KMO). O teste de Bartlett fornece a significância estatística de que a matriz de correlação tem correlações significativas entre, pelo menos, algumas das variáveis, sendo considerado como satisfatório um valor p < 0,01 (HAIR ET AL., 2009). Por sua vez, a estatística KMO mede o grau de intercorrelações entre as variáveis e o nível de adequação da análise fatorial para a amostra selecionada. Como regra geral, são considerados meritórios resultados acima de 0,80, medianos acima de 0,70, medíocres acima de 0,60, fracos acima de 0,50, e inaceitáveis se abaixo de 0,50. O método da análise fatorial exige também um processo de seleção de variáveis e de fatores que serão incluídos no resultado final do estudo. De acordo com o que é sugerido por Hair et al. (2009), foram utilizados quatro critérios para a seleção das variáveis que seriam incluídas no resultado final da análise fatorial: (1) apresentar valores de comunalidade maiores que 0,5; (2) apresentar carga fatorial em um dos fatores maior que 0,45 – o suficiente no caso de aproximadamente 150 observações; não apresentar cross loading, ou seja, carga em mais de um fator; e (3) a relevância da variável segundo a literatura estudada. Já para os fatores formados, o critério de seleção foi o autovalor maior que um (1) – o que é apropriado 89 quando se tem entre 20 e 50 variáveis incluídas no estudo (HAIR ET AL., 2009). Também se levou em consideração o poder de explicação do modelo, buscando atingir o valor mínimo de 60% que, segundo Hair et al. (2009), é satisfatório quando se trata de estudos dentro das ciências sociais. Por fim, para usar as dimensões encontradas pela análise fatorial na segunda fase do estudo quantitativo (análise de regressão linear múltipla), foi escolhida a opção dos escores fatoriais. Malhotra (2006) explica que os escores fatoriais são convenientes quando o objetivo da análise fatorial é reduzir o conjunto de variáveis originais a um conjunto menor de variáveis para uso subsequente em uma análise multivariada de dados. Os escores fatoriais são valores padronizados calculados a partir da conjunção da carga fatorial de cada variável naquele fator com os seus respectivos pesos fatoriais e, segundo a literatura, é o melhor método para supressão de dados (HAIR ET AL., 2009). Foram obtidos, então, os escores dos fatores encontrados, que foram aplicados na regressão linear que deu sequência ao estudo. 3.7.4 Regressão linear múltipla A técnica de regressão linear múltipla pode ser utilizada para analisar a relação entre uma variável dependente, denominada critério, e várias variáveis independentes, conhecidas como preditoras (HAIR ET AL., 2009). Malhotra (2006) aponta que esse tipo de técnica estatística é útil quando se quer investigar se o conjunto de variáveis independentes explica significativamente a variação da variável dependente, determinando também a intensidade da relação entre elas. Neste estudo, a regressão múltipla foi utilizada para responder às três últimas perguntas da pesquisa. O objetivo era verificar se os fatores da experiência do cliente em bares e restaurantes tinha poder de explicação sobre os construtos do Valor Percebido pelo Cliente, da Satisfação e da Lealdade, e que fatores do construto central explicariam melhor cada um deles. Para isso, foi usado o método 90 Enter, tendo como variável dependente cada um dos construtos e, como variáveis independentes os fatores da experiência do cliente encontrados na análise fatorial. A primeira medida a se avaliar é o tamanho da amostra. Hair et al. (2009) recomendam que se tenha uma quantidade mínima de 15 a 20 observações por variável independente incluída no estudo. No caso da utilização da regressão linear múltipla pelo método stepwise – que não é o caso no presente estudo –, a recomendação é de 50 observações por variável independente. No modelo usado nesta pesquisa, chegou-se a um modelo com seis variáveis independentes e uma taxa de 24,7 observações por variável, acima do valor de 20 observações por variável independente recomendado na literatura (HAIR ET AL., 2009). Outro dado que está associado ao tamanho da amostra é o coeficiente de determinação múltipla, conhecido como R². O R² representa a intensidade da associação e significa a proporção da variação na variável dependente que é explicada pelo modelo de regressão (MALHOTRA, 2006). Junto com o nível de significância escolhido pelo pesquisador, o tamanho da amostra irá determinar o valo mínimo para R² que pode ser considerado estatisticamente significante com um poder de 80% (HAIR ET AL., 2009), como pode se observar no Quadro 6 – com destaque para os valores recomendados de acordo com o tamanho da amostra e número de variáveis independentes aproximados do estudo. Ao se realizar uma análise de regressão linear múltipla, é importante verificar se as suposições associadas ao método são atendidas pelo modelo de regressão. Hair et al. (2009) explica que existem quatro premissas que devem ser verificadas: a linearidade do fenômeno medido, variância constante dos termos de erro, independência dos termos de erro e normalidade da distribuição dos termos de erro. Caso alguma dessas premissas não seja atingida, recomenda-se uma série de medidas de ajuste do modelo para que o mesmo se adeque às suposições (HAIR ET AL., 2009). 91 Tamanho da amostra Nível de significância = 0,01 Nível de significância = 0,05 Número de variáveis independentes Número de variáveis independentes 2 5 10 20 20 45 56 71 50 23 29 36 100 13 16 250 5 7 500 3 3 2 - 5 10 20 39 48 64 - 49 19 23 29 42 20 26 10 12 15 21 8 11 4 5 6 8 4 6 3 4 5 9 1000 1 2 2 3 1 1 2 2 Quadro 6 – R² mínimo que pode ser considerado estatisticamente significativo, com um poder de 80%, de acordo com o número de variáveis independentes e o tamanho da amostra (HAIR ET AL., 2009). No presente estudo, foi realizada a análise de resíduos para verificar as suposições associadas à regressão múltipla. Este é o método mais recomendado na literatura (HAIR ET AL., 2009; MALHOTRA, 2006), em que um gráfico que indica a relação dos resíduos padronizados versus os valores previstos pelo modelo de regressão aponta, visualmente, se as suposições da análise de regressão múltipla estão sendo atendidas. Idealmente, este gráfico deve apresentar uma dispersão aleatória e igualmente distribuída em torno do zero dos resíduos, sem uma forte tendência para mais ou menos que zero (HAIR ET AL., 2009). Além disso, o gráfico de probabilidade normal deve ser analisado para se verificar a quarta suposição citada. 3.7.5 Análise descritiva dos dados sócio-demográficos Na pesquisa realizada, foram avaliados a distribuição de frequência, a média e o desvio-padrão das variáveis sócio-demográficas, com o objetivo de caracterizar a amostra da pesquisa. Foram usados como informações sócio-demográficas a idade, gênero, estado civil e grau de formação dos entrevistados. Além disso, foi levantado o local de residência, a fim de destacar os entrevistados da região metropolitana do Rio de Janeiro e da região metropolitana de Vitória. 92 3.8 LIMITAÇÕES DA PESQUISA Dada a metodologia de pesquisa escolhida para desenvolver esse estudo, surgem algumas limitações que são inerentes às técnicas selecionadas. Vergara (2005) sugere que é interessante se antecipar às críticas que podem aparecer e explicitar as limitações que o método escolhido carrega. Algumas limitações deste estudo surgem devido ao universo e ao método de amostragem selecionados. Ao optar por desenvolver esse estudo em apenas duas cidades, perdeu-se a riqueza de comparar os resultados do estudo em outras praças. Além disso, utilizar a amostragem por conveniência inviabilizou a projeção dos resultados da pesquisa para toda a população-alvo, uma vez que não há certeza que esta foi bem representada pelos indivíduos selecionados para compor a amostra. Outra limitação adveio do uso da escala Likert. Segundo Malhotra (2006), esse tipo de escala tem como maior desvantagem a maior exigência de tempo dos entrevistados para preenchimento, uma vez que os mesmos tiveram que ler cuidadosamente item a item. Por outro lado, a escala Likert se mostrou o mais indicado para este estudo, o que justificou o seu uso, apesar das ressalvas. Por fim, pode-se apontar a subjetividade dos dados coletados como uma limitação dessa pesquisa. Ao se pedir para o entrevistado sua percepção uma experiência passada que ele teve em bares e restaurantes, abriu-se a possibilidade de as informações não serem bastante precisas por dependerem tanto do julgamento pessoal do indivíduo quanto do seu processo de memória dos fatos vividos. 93 4 RESULTADOS DA PESQUISA: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO A presente seção se dedica a apresentar os resultados obtidos na pesquisa e discuti-los. Será feita, primeiramente, a apresentação dos dados sócio-demográficos dos entrevistados, traçando um perfil dos respondentes. Serão mostrados também os resultados da questão aberta do questionário, que tinha por objetivo introduzir os respondentes ao tema e tentar compreender as motivações que os levaram à experiência no bar ou restaurante a que eles remeteram no estudo. Por fim, serão apresentados os resultados relacionados às perguntas da pesquisa. Ao atender às perguntas de pesquisa tendo como base os resultados apresentados, será feita uma análise do que foi encontrado à luz da literatura pesquisada. Para isso, serão levantadas as principais percepções obtidas a partir do confronto dos resultados com as ideias propostas pelos autores já citados neste trabalho, verificando se o que foi encontrado neste trabalho converge ou diverge com conclusões de outros estudos. 4.1 PERFIL DA AMOSTRA De acordo com os resultados apurados, a amostra selecionada apresentou média de idade de aproximadamente 31 anos, sendo na sua maioria composta por mulheres (58,5%) – os resultados para a idade podem ser encontrados nas Tabelas 1 e 2. É interessante notar, também, que a amostra incluiu indivíduos de 18 a 65 anos, o que corresponde ao público esperado pela pesquisa. N Idade 147 Mínimo 18 Máximo 65 Média 30,97 Desvio-padrão 11,928 Tabela 1 – Análise descritiva da variável Idade Quanto ao estado civil e ao grau de formação dos entrevistados, o que se observou foi uma distribuição disforme. Conforme se percebe nas Tabelas 3 e 4, a maioria dos respondentes da pesquisa declarou-se solteiro e, minimamente, com o ensino 94 superior em andamento. Esses resultados podem indicar um viés amostral que possivelmente impactou nos resultados do estudo, pois este público pode ter preferências específicas com relação a bares e restaurantes que talvez tenham impactado nos resultados da pesquisa. Masculino Frequência 61 Feminino Total Percentual 41,5 86 58,5 147 100.0 Tabela 2 – Distribuição da variável Gênero Solteiro Frequência 94 Percentual 63,9 Casado 43 29,3 8 5,4 Divorciado Viúvo Total 2 1,4 147 100,0 Tabela 3 – Distribuição da variável Estado civil Ensino Fundamental completo Frequência 1 Percentual 0,7 9 6,1 Ensino Superior em andamento 47 32,0 Ensino Superior 44 29,9 Pós-Graduação (Especialização, Mestrado, Doutorado) 46 31,3 147 100,0 Ensino Médio Total Tabela 4 – Distribuição da variável Grau de formação No que tange a divisão da amostra quanto ao local de residência, percebeu-se que a grande maioria dos entrevistados tem origem na região metropolitana do Rio de Janeiro (68,7%) (Tabela 5). Esse resultado já era esperado e não prejudicou as análises subsequentes do estudo. Região Metropolitana do Rio de Janeiro Região Metropolitana de Vitória Total Frequência 101 Percentual 68,7 46 31,3 147 100,0 Tabela 5 – Distribuição da variável Local de residência 95 A amostra para os dados sócio-demográficos foi de 147 indivíduos, já que um dos respondentes não forneceu tais informações. Como não faz parte do escopo deste estudo cruzar as informações sócio-demográficas com os resultados das análises, a diferença de tamanhos de amostra não foi vista como um problema para a pesquisa. Em seguida, foram avaliadas as respostas à pergunta inicial do questionário, que pedia para o entrevistado descrever brevemente a experiência em que ele estava pensando para responder ao questionário. Além de ser uma forma de induzi-lo a relembrar a experiência e seus detalhes, essa pergunta também objetivava levantar que tipo de situação mais frequentemente motiva uma experiência em bares e restaurantes, bem como quais são as situações mais memoráveis. Por ser uma pergunta aberta, foram encontradas as mais variadas respostas a ela. Por isso, as respostas foram interpretadas e classificadas de acordo com cinco tipos de motivações: celebrações de datas especiais, encontros ocasionais com amigos, confraternizações, celebração de conquistas pessoais e momentos íntimos com um(a) parceiro(a). Os resultados encontrados estão ilustrados no Quadro 7. Motivação Datas especiais Encontro com amigos Confraternização Conquista pessoal Momento íntimo Não identificados Total Ocorrências % 58 39.19% 37 25.00% 16 10.81% 16 10.81% 15 10.14% 6 4.05% 148 100.00% Quadro 7 – Motivações para a experiência em bares e restaurantes. Percebe-se que, na maioria dos casos, o motivo para a experiência relembrada pelo entrevistado é a comemoração de alguma data especial. Enquadram-se aqui aniversários do entrevistado ou de alguém próximo e datas como aniversário de casamento ou namoro. Outra motivação significativa são os encontros ocasionais com amigos. Os entrevistados relatam situações em que o encontro ocorreu não por 96 um motivo especial, mas simplesmente por uma vontade de rever amigos e conversar. As outras categorias de motivação tiveram menor frequência de resposta, somando 31,76% das observações. Elas englobam confraternizações com amigos, familiares ou colegas de trabalho, a comemoração de conquistas pessoais como promoções profissionais ou conclusão de curso, e momentos íntimos entre casais. Em seis dos casos analisados, não foi possível identificar a motivação do entrevistado, devido à falta de clareza na resposta dada. 4.2 A EXPERIÊNCIA DO CLIENTE EM BARES E RESTAURANTES A seguir, são apresentados os resultados referentes aos itens da segunda parte do questionário aplicado. O primeiro passo foi analisar os resultados dos itens que compõem a experiência do cliente em bares e restaurantes, identificando aqueles com maior grau de importância para a amostra estudada. O segundo passo foi a realização da análise fatorial para tentar agrupar os itens em fatores que mais contribuíram para a experiência positiva do cliente em bares e restaurantes. Com os fatores identificados, foram retomadas as ideias apresentadas na literatura para verificar se os resultados deste estudo convergem ou divergem de outros estudos já realizados. Primeiramente, vale frisar que, conforme já explicado, foi atingido o número mínimo de observações para realização da análise fatorial – que, nesse caso, foi em média de 5,3 observações para cada uma das 28 variáveis independentes. Com esse número de observações satisfatório em mãos, deu-se sequência à avaliação da confiabilidade da escala usada, usando o método do alfa de Cronbach. No caso da escala usada para identificar os fatores da experiência do cliente em bares e restaurantes, contendo 28 variáveis independentes, foi encontrado um alfa de Cronbach de valor 0,909 – considerado satisfatório pela literatura (HAIR et al., 2009; MALHOTRA, 2006). 97 Dando sequência ao estudo, foram apuradas as médias e as frequências de resposta para cada um dos itens da segunda parte do questionário. Observando a tabela de frequências das variáveis independentes utilizadas na pesquisa (Tabela 6), percebe-se que a média de cada item variou entre 2,65 e 4,47 e, em geral, as respostas abrangeram todos os pontos da escala em todos os itens. No conjunto de variáveis, destacam-se com maiores médias os itens Sua companhia na ocasião, Sabor da comida, Limpeza do salão e das mesas, Cordialidade dos funcionários, Aparência da comida, Limpeza dos banheiros, Odores agradáveis no ambiente e Recepção – todos estes com médias acima de 4,00 –, que podem ser indicados como aqueles com maior importância para a experiência positiva em bares e restaurantes. Na pesquisa realizada por Aksoydan (2007), a limpeza do restaurante e dos banheiros também ficou entre os itens mais importantes para os clientes. Os aspectos relacionados à comida – seu sabor e aparência – e a recepção e cordialidade por parte dos funcionários também tiveram destaque no trabalho de outros autores (GUPTA, MCLAUGHLIN E GOMEZ, 2007), o que mostra que os resultados desta pesquisa são coerentes com os encontrados na literatura sobre o tema. Em oposição, podemos destacar que Propaganda, Informações sobre a comida e Responsabilidade ambiental foram itens apontados pelos respondentes, em média, com menor grau de importância para a experiência em bares e restaurantes. Percebe-se que dois desses itens – a Propaganda e a Responsabilidade Ambiental – não estão diretamente relacionados com o serviço em si, o que pode explicar o motivo deles terem obtido um baixo valor médio nas respostas. isso porque, conforme afirmam Andersson e Mossberg (2004), na indústria estudada por este trabalho os itens relacionados com o serviço central são aqueles mais importantes para os. Já o item Informações sobre a comida, relacionado especificamente ao fato de o bar ou restaurantes fornecer informações sobre o modo de preparo, ingredientes e valores nutricionais dos alimentos, pode ter apresentado uma média baixa para o grau de importância porque os clientes se sentem satisfeitos se a comida servida for de boa qualidade, sabor e aparência. 98 Variáveis N Frequência 1 2 3 4 5 Média Experiências prévias 148 7,43% 14,86% 32,43% 27,03% 18,24% 3,34 Recomendação de outras pessoas 148 6,76% 11,49% 29,73% 31,08% 20,95% 3,48 Propaganda 148 14,86% 35,14% 29,05% 12,16% 8,78% 2,65 Imagem da marca do serviço 148 4,05% 14,19% 31,76% 25,00% 25,00% 3,53 Localização do estabelecimento 148 5,41% 3,38% 28,38% 36,49% 26,35% 3,75 Tamanho e espaçamento do salão 148 1,35% 13,51% 41,22% 29,05% 14,86% 3,43 Acomodação (mesas e cadeiras) 148 0,68% 6,76% 26,35% 39,86% 26,35% 3,84 Ambientação / Decoração 148 8,78% 12,84% 44,59% 22,97% 10,81% 3,14 Iluminação do ambiente 148 0,68% 16,22% 44,59% 23,65% 14,86% 3,36 Som / música no ambiente 148 8,11% 22,97% 29,05% 22,97% 16,89% 3,18 Odores agradáveis no ambiente 148 1,35% 4,73% 21,62% 28,38% 43,92% 4,09 Comportamento de outros clientes 148 5,41% 22,97% 31,08% 25,68% 14,86% 3,22 Sua companhia na ocasião 148 1,35% 2,70% 12,16% 14,86% 68,92% 4,47 Limpeza do salão e das mesas 148 2,03% 2,70% 15,54% 26,35% 53,38% 4,26 Limpeza dos banheiros 148 5,41% 4,05% 10,14% 29,73% 50,68% 4,16 Variedade do cardápio 148 2,03% 10,14% 31,08% 39,86% 16,89% 3,59 Flexibilidade do cardápio 148 9,46% 21,62% 30,41% 26,35% 12,16% 3,10 Informações sobre a comida 148 14,86% 26,35% 25,00% 21,62% 12,16% 2,90 Sabor da comida 148 1,35% 2,70% 10,81% 26,35% 58,78% 4,39 Aparência da comida 148 1,35% 1,35% 14,86% 39,86% 42,57% 4,21 Qualidade das bebidas 148 6,08% 4,73% 18,24% 31,08% 39,86% 3,94 Variedade das bebidas 148 7,43% 25,00% 32,43% 24,32% 10,81% 3,06 Preços cobrados 148 2,03% 8,11% 29,73% 27,70% 32,43% 3,80 Recepção 148 2,03% 4,05% 22,30% 29,05% 42,57% 4,06 Cordialidade dos funcionários 148 0,68% 1,35% 18,92% 31,08% 47,97% 4,24 Capacitação técnica dos funcionários 148 3,38% 8,78% 31,08% 29,73% 27,03% 3,68 Aparência dos funcionários 148 5,41% 19,59% 28,38% 22,97% 23,65% 3,40 Responsabilidade ambiental 148 15,54% 22,97% 27,03% 19,59% 14,86% 2,95 Tabela 6 – Grau de importância dos itens relacionados à experiência do cliente. O passo seguinte foi a identificação de possíveis diferenças nas respostas dos indivíduos de acordo com as características de gênero, idade, grau de formação, estado civil e local de residência. Essa investigação se mostrou interessante, pois, do ponto de vista gerencial, é muito importante apontar que aspectos específicos possuem maior grau de importância para cada segmento específico do público. Para executar essa investigação, foram usados os testes U de Mann-Whitney e de 99 Kruskal-Wallis, conforme descrito no Capítulo 3, e só foram considerados na busca por diferenças estatisticamente significativas os indivíduos que forneceram informações sobre seu perfil sócio-demográfico (n = 147). O Quadro 8, apresentado abaixo, mostra um resumo das diferenças estatisticamente significativas nas respostas entre as diferentes categorias da amostra. As mulheres deram maior grau de importância para localização, aparência dos funcionários (p < 0,001), tamanho e espaçamento do salão, ambientação / decoração, iluminação, odores agradáveis, limpeza do salão, limpeza dos banheiros, sabor da comida, aparência da comida e responsabilidade ambiental (p < 0,05). Esse resultado dá indícios de que o público feminino tende a ser mais exigente quanto aos pormenores do serviço prestado, especialmente em relação a aspectos estéticos e sensoriais, enquanto os homens remetem somente ao serviço central. Categorias ITENS COM MAIOR GRAU DE IMPORTÂNCIA GÊNERO p < 0,001 Mulheres Localização, Ambientação / Decoração, Limpeza dos banheiros, Aparência da comida, Aparência dos funcionários IDADE p < 0,001 41 a 50 anos 51 anos ou mais GRAU DE FORMAÇÃO Ensino Fundamental Ensino Médio Pós-graduação completa ESTADO CIVIL Aparência dos funcionários p < 0,001 Divorciado / Viúvo Tamanho e espaçamento do salão, Iluminação, Odores agradáveis, Limpeza do salão, Sabor da comida, Responsabilidade ambiental p < 0,05 Imagem da marca, Informações sobre a comida, Aparência da comida Iluminação, Variedade do cardápio, Flexibilidade do cardápio p < 0,05 - Limpeza dos banheiros Propaganda, Tamanho e espaçamento do salão - Experiências prévias, Acomodação p < 0,001 - Casado p < 0,05 Aparência dos funcionários p < 0,05 Informações sobre a comida, Iluminação, Flexibilidade do cardápio, Aparência dos funcionários Imagem da marca, Iluminação, Flexibilidade do cardápio, Aparência da comida Quadro 8 – Itens com maior grau de importância dentre as categorias da amostra. A investigação de diferenças por faixa etária indicou que, em geral, quanto mais velhos, mais os indivíduos se tornam exigentes com relação a cada um dos aspectos do serviço de bares e restaurantes. Para os indivíduos com idade entre 41 100 e 50 anos, foram identificados quatro itens com maior grau de importância: aparência dos funcionários (p < 0,001), imagem da marca, informações sobre a comida e aparência da comida (p < 0,05). Ainda nas categorias de idade, os respondentes com idade superior a 51 anos mostraram-se mais inclinados a valorizar os itens iluminação, variedade do cardápio e flexibilidade do cardápio (p < 0,05). O grau de formação dos entrevistados também foi determinante para destacar alguns itens da experiência em bares e restaurantes. Os respondentes com ensino médio completo destacaram a propaganda e o tamanho e espaçamento do salão (p < 0,05) como características mais importantes. Aqueles com pós-graduação, por sua vez, deram maior importância às experiências prévias e à acomodação (p < 0,05), ao passo que o item limpeza dos banheiros teve maior relevância entre os indivíduos com ensino fundamental completo. Apesar da identificação de diferenças estatisticamente significativas, não foi possível apontar uma tendência central na resposta dos indivíduos com relação ao grau de importância das variáveis que compõem a experiência positiva em bares e restaurantes de acordo com a sua formação. Por fim, o estado civil dos indivíduos da amostra também apontou diferenças estatisticamente significativas em alguns dos itens do questionário. Os respondentes casados apontaram quatro itens (informações sobre a comida, iluminação, flexibilidade do cardápio e aparência dos funcionários – p < 0,05), enquanto os divorciados ou viúvos destacaram aparência dos funcionários (p < 0,001), imagem da marca, iluminação, flexibilidade do cardápio e aparência da comida (p < 0,05). A ausência de itens com maior destaque para os indivíduos da amostra que se declararam solteiros pode indicar que a experiência positiva como um todo seja importante para esse grupo. Vale destacar que o local de residência não se mostrou como aspecto diferenciador das respostas dos indivíduos componentes da amostra. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas para as médias do grau de importância em 101 nenhum dos itens que compõem a experiência do cliente em bares e restaurantes, sejam os entrevistados residentes em Vitória ou no Rio de Janeiro. Na sequência, para identificar os fatores que mais contribuem para a experiência positiva em bares e restaurantes, foi escolhido o método da análise fatorial por componentes principais, que se mostrou mais adequado para o objetivo proposto para essa pesquisa. A literatura indica que o método dos componentes principais é mais adequado quando o objetivo principal é a redução dos dados (HAIR ET AL., 2009), como é o caso no presente estudo. A melhor adequação do método dos componentes principais foi confirmada após uma rodada inicial de testes usando diferentes metodologias. Foi realizada uma primeira rodada de análise dos dados contendo todas as 28 variáveis independentes utilizadas no estudo – usando, para isso, o método dos componentes principais com rotação VARIMAX. Usando como critério o autovalor maior que 1, chegou-se a oito fatores, que explicavam 64,79% da variância total. No entanto, ao analisar as comunalidades de cada variável independente e a matriz de correlação rotacionada, detectou-se que algumas delas apresentavam valor inferior ao mínimo satisfatório. Nesses casos, recomenda-se a eliminação das variáveis e a execução de uma nova rodada de análise. Assim, foram realizadas rodadas subsequentes de análise fatorial, seguindo sempre os mesmos critérios descritos, até chegar a um resultado consistente. No último resultado apurado, a análise fatorial indicou cinco fatores com autovalor maior que 1 e o modelo apresentou poder de explicar 60,75% da variância total das variáveis independentes, conforme se observa na Tabela 7. Fator Autovalores iniciais Soma do quadrado das cargas da Rotação 1 6,001 Variância % 31,585 2 1,719 9,048 3 1,408 7,412 48,044 2,479 13,048 41,831 4 1,280 6,736 54,780 1,979 10,415 52,246 5 1,135 5,971 60,751 1,616 8,505 60,751 Total Variância acumulada % 31,585 Total Variância % 2,741 14,428 Variância acumulada % 14,428 40,632 2,727 14,355 28,783 Tabela 7 – Total da Variância Explicada 102 O teste de esfericidade de Bartlett e a medida de adequação da amostra de KaiserMeyer-Olkin (KMO) também apresentaram bons resultados (Tabela 8). Conforme citado anteriormente, Hair et al. (2009) apontam que é adequado um valor p < 0,01. Já a estatística KMO superou o valor de 0,8, considerado pela literatura como um resultado meritório (HAIR ET AL., 2009). Medida de Adequação da Amostra de Kaiser-Meyer-Olkin Teste de Esfericidade de Bartlett Qui-quadrado aproximado Graus de liberdade Significância 0,843 948,867 171 0,000 Tabela 8 – Teste de esfericidade de Bartlett e Medida de Adequação da Amostra Das 28 variáveis iniciais, somente 19 foram consideradas no resultado final. Seguindo os critérios previamente determinados, nove variáveis foram eliminadas do estudo, a saber: Experiências prévias, Tamanho e espaçamento do salão, Ambientação / decoração11, Comportamento de outros clientes, Companhia, Informações sobre a comida, Preços, Capacitação técnica dos funcionários e Aparência dos funcionários. A seguir (Tabela 9), são apresentados os resultados de carga fatorial e comunalidade para cada uma das variáveis incluídas no resultado final. Conforme se observa na Tabela 9, os resultados da pesquisa indicam cinco fatores encontrados para o modelo, o que nos indica a resposta à primeira pergunta de pesquisa. Esse resultado rejeita em partes o modelo conceitual proposto, visto que os quatro grupos de variáveis originais foram substituídos por cinco fatores – a exceção foi o grupo previamente denominado Expectativa, que foi confirmado com apenas um item a menos (Experiências prévias). 11 Nas rodadas de análise fatorial realizadas, a variável Ambientação / Decoração apresentou correlação forte com mais de um fator. Por isso, optou-se por eliminá-la. 103 Componente Variáveis 1 2 3 4 Comunalidades 5 6 Cordialidade dos funcionários 0,714 0,695 Som / música 0,632 0,539 Localização 0,626 0,564 Iluminação 0,593 0,520 Recepção 0,592 0,516 Acomodação 0,521 0,523 Sabor da comida 0,795 0,682 Variedade do cardápio 0,737 0,587 Aparência da comida 0,666 0,651 Flexibilidade do cardápio 0,475 0,539 Limpeza dos banheiros 0,774 0,727 Limpeza do salão 0,640 0,651 Odores agradáveis 0,640 0,534 Responsabilidade ambiental 0,599 0,542 Imagem da marca 0,794 0,791 Propaganda Recomendação de outras pessoas Qualidade das bebidas 0,689 0,578 0,666 0,576 Variedade das bebidas 0,863 0,779 0,654 0,649 Tabela 9 – Fatores encontrados e variáveis relacionadas O primeiro fator encontrado, que engloba as variáveis Cordialidade dos funcionários, Localização, Som / música, Iluminação, Recepção e Acomodação, foi denominado Bem-estar, pois agrega variáveis relacionadas tanto ao serviço prestado quanto ao estabelecimento em si – sua localização e seu interior. Percebe-se que este fator denota um conjunto de itens que fazem com que o cliente se sinta confortável, em um ambiente agradável e sendo bem tratado pelas pessoas que estão lhe servindo, ao frequentar o estabelecimento. Andersson e Mossberg (2004) chegaram a resultados semelhantes ao concluir que os clientes de restaurantes valorizam bastante por um interior agradável e a qualidade no serviço. A importância de aspectos do interior e exterior do restaurante como a localização, o som e a iluminação também foi confirmada por outros autores que destacam a influência dos mesmos sobre a experiência do cliente (WALTER, EDVARSSON e ÖSTRÖM, 2010; PULLMAN e GROSS, 2004). Em oposição, Walter (2008) concluiu em seu estudo que o ambiente físico nem sempre é um ingrediente importante para a experiência 104 em bares e restaurantes. Os aspectos relacionados ao serviço prestado – Cordialidade e Recepção – também são destacados por Walter, Edvarsson e Öström (2010), que concluíram que clientes que percebem maior atenção, tratamento amigável e foco no serviço do início ao fim por parte dos funcionários muito provavelmente terão uma experiência favorável. O segundo fator, denominado pelo autor de Comida, representa o aspecto tangível essencial de um bar ou restaurante: servir alimentos de qualidade. Esse fator está relacionado com o quinto – que foi definido como Bebidas –, que complementa essa oferta tangível. Ao fator Comida estão associados os itens Sabor e Aparência da Comida e Variedade e Flexibilidade do Cardápio, mostrando que, além de servir refeições de boa qualidade, os bares e restaurantes devem preocupar-se também com a apresentação desses pratos, bem como com a quantidade de itens colocados no cardápio e a capacidade de atender a pedidos customizados dos clientes – Pullman e Gross (2004) acrescentaram a esse fator itens como o frescor e a “desejabilidade”. Associados ao fator Bebidas estão itens que representam a qualidade e a variedade das mesmas, deixando claro que bares e restaurantes devem oferecer uma gama variada de bebidas que inclua produtos de qualidade aprovada pelos consumidores. Tanto comida quanto bebida são citados por diversos autores como o elemento central da experiência em bares e restaurantes (WALTER, EDVARSSON e ÖSTRÖM, 2010; ANDERSSON e MOSSBERG, 2004) e, por isso, são fatores que devem ter maior atenção dos proprietários e gerentes de bares e restaurantes. Essa observação é corroborada por Gupta, MacLaughlin e Gomez (2007), que encontraram resultados que indicam que a comida é um ponto de grande oportunidade de aproveitamento para restaurantes. Em contrapartida, Pullman e Gross (2004) concluíram que comida e bebida, apesar de fazerem parte da experiência do cliente como um todo, são apenas um motivador secundário. Já o fator de número três, que recebeu o nome Higiene, inclui as variáveis Limpeza do salão, Limpeza dos banheiros, Odores agradáveis e Responsabilidade ambiental, 105 claramente explicitando a importância de um ambiente limpo para os clientes de bares e restaurantes. Este resultado é coerente com o encontrado por Walter, Edvarsson e Öström (2010), que relataram casos em que os clientes reagiram chocados a restaurantes com problemas de higiene e se retiraram do estabelecimento. Aksoydan (2007), que estudou especificamente a influência da higiene em restaurantes, chegou a um resultado semelhante. O autor apontou que o fator higiene, composto pela limpeza do restaurante, da comida, dos pratos e talheres, dos banheiros e da cozinha é o fator preponderante na escolha de um cliente. O quarto fator, denominado Reputação, confirmou a importância do esforço de Marketing de bares e restaurantes para trazer boas associações à sua marca e torná-la conhecida para o cliente antes de visitar o estabelecimento. Os itens Imagem da marca, Recomendações de outras pessoas e Propaganda, antes agrupados no item do modelo conceitual chamado de Expectativa, claramente apontam para a necessidade de gestores de bares e restaurantes investirem na construção de uma marca que suscite boas associações aos consumidores. Isso pode ser feito através da propaganda, que vai atrair para o estabelecimento clientes que, se bem atendidos, irão disseminar a comunicação boca a boca positiva a respeito do bar ou restaurante – o que contribuirá mais para a imagem da marca, gerando um ciclo virtuoso. Gupta, MacLaughlin e Gomez (2007) também chegaram à conclusão que o incremento nos investimentos em propaganda pode aumentar a frequência de clientes em restaurantes. Por outro lado, a não confirmação do item Experiência prévias pelo modelo pode indicar que o fato de o cliente já ter frequentado estabelecimentos similares não garantirá uma experiência positiva futura, talvez porque isso não afeta significativamente reputação de um estabelecimento específico. Nesse ponto, foi retomada a verificação da confiabilidade da escala, agora já considerando as dimensões obtidas através da análise fatorial. Para isso, foi novamente usado o alfa de Cronbach. Conforme mostra a Tabela 10, os resultados 106 foram satisfatórios, considerando o limite inferior de 0,6 sugerido na literatura (MALHOTRA, 2006). O valor alfa para a escala com os 19 itens finais foi de 0,868. Fatores Número de itens Alfa de Cronbach Bem-estar 6 .761 Comida 4 .755 Higiene 4 .751 Reputação 3 .674 Bebidas 2 .627 Tabela 10 – Teste de confiabilidade das escalas dos fatores. Tendo em vista que o objetivo dessa análise fatorial era de reduzir as informações para o uso em outra técnica estatística, o último passo dado foi o de determinar os escores fatoriais de cada uma das dimensões encontradas, que serão usados na etapa seguinte do estudo – análise de regressão linear múltipla. O escore fatorial é calculado com base na carga fatorial de cada uma das variáveis no fator, atribuindose um valor para cada observação, que será usado em substituição aos valores de todas as variáveis associadas ao fator. Malhotra (2006) explica que o escore fatorial é adequado para o uso subsequente em uma análise multivariada de dados, como é o caso deste estudo. A Tabela 11 apresenta uma descrição dos valores encontrados para cada um dos escores fatoriais, calculados pela conjunção dos pesos e cargas fatoriais de cada item. Fatores Bem-estar N 148 Mínimo -2,946 Máximo 3,489 Comida 148 -4,429 2,503 Higiene 148 -4,461 1,974 Reputação 148 -2,881 2,664 Bebidas 148 -3,140 2,027 Tabela 11 – Análise descritiva dos escores fatoriais obtidos. 107 4.3 FATORES DA EXPERIÊNCIA DO CLIENTE QUE MAIS CONTRIBUEM PARA O VALOR PERCEBIDO, A SATISFAÇÃO E A LEALDADE A segunda parte da pesquisa quantitativa tratou de responder as três últimas perguntas apresentadas no Capítulo 2, as quais relacionavam três construtos importantes para a gestão de bares e restaurantes – o Valor Percebido pelo Cliente, a Satisfação e a Lealdade – com as dimensões da experiência do cliente. Para isso, foi usada a análise de regressão linear múltipla, usando como variáveis independentes os escores fatoriais das dimensões da experiência do cliente e, como variáveis dependentes, os escores fatoriais das escalas de cada um desses construtos. Na presente seção, serão apresentados os resultados da análise de regressão múltipla, antecedidos por uma breve análise descritiva dos construtos Valor Percebido pelo Cliente, Satisfação e Lealdade. 4.3.1 Análise descritiva do Valor Percebido pelo Cliente, Satisfação e Lealdade Antes de iniciar a análise de regressão linear múltipla, foram analisadas as respostas obtidas para os construtos estudados, a fim de verificar se houve algum resultado de destaque para os itens da terceira parte do questionário aplicado. Primeiro, foi efetuada uma análise descritiva dos resultados obtidos para os itens das escalas desses construtos. Para tal, foram extraídos os valores médios e o desvio-padrão observados para cada item. Os resultados são apresentados a seguir na Tabela 12. Analisando o conjunto de variáveis como um todo, alguns itens merecem destaque com valor médio acima de 4,00: Percepção da relação custo monetário X benefício, Percepção da relação custos não monetários X benefício, Satisfação, Intenção de retornar e Recomendação a outras pessoas. Porém, o resultado que merece maior atenção é o do item Disposição a pagar preço premium, cuja média ficou abaixo do posto médio da escala (valor 3). Isso pode ser um indicativo de que, apesar das 108 pessoas valorizarem uma experiência positiva em bares e restaurantes, elas não estão dispostas a pagar um alto preço por isso. Este resultado aponta para uma direção diferente do estudo de Andersson e Mossberg (2004), que conseguiram identificar alguns itens que ampliam em até 12 vezes a disposição para pagar dos entrevistados. Itens do Valor Percebido pelo Cliente N Média Desviopadrão Percepção da relação custo monetário X benefício 148 4,47 0,828 Percepção da relação custos não monetários X benefício 148 4,33 0,929 Disposição a pagar preço premium 148 2,83 1,445 Itens da Satisfação N Média Desviopadrão Satisfação 148 4,30 0,853 Superação das expectativas 148 3,93 1,113 Sensação de escolha certa 148 3,94 1,144 Itens da Lealdade N Média Desviopadrão Lealdade declarada 148 3,32 1,443 Intenção de retornar 148 4,49 0,869 Considerar primeira opção 148 3,69 1,183 Recomendação a outras pessoas 148 4,41 0,939 Tabela 12 – Dados descritivos para os itens do Valor Percebido, Satisfação e Lealdade Em geral, os valores médios altos para as variáveis de cada construto eram esperados, uma vez que o estudo foi feito baseando-se em experiências positivas dos indivíduos em bares e restaurantes. Por isso, seria natural que as respostas obtidas para os itens relacionados ao Valor Percebido, à Satisfação e à Lealdade tivessem respostas concentradas na extremidade mais alta da escala. Em seguida, foi usado o método da análise fatorial para checar se a escala usada para cada um dos construtos apresentava uma estrutura subjacente. Mesmo se tratando de escalas já testadas por outros autores, é importante fazer essa verificação devido às adaptações feitas na escala para o presente trabalho. Os resultados encontrados para a análise das escalas se encontram nas Tabelas 13 109 (Valor Percebido pelo Cliente), 14 (Satisfação) e 15 (Lealdade). Conforme se pode observar, os valores de comunalidade, carga fatorial e medida de adequação da amostra foram considerados aceitáveis, o que possibilitou dar sequência ao estudo utilizando esses resultados. Foi verificado também o valor alfa para as escalas do Valor Percebido pelo Cliente, Satisfação e Lealdade, sendo encontrados os valores de 0,607, 0,638 e 0,759, respectivamente. Item Comunalidades Carga fatorial Percepção da relação custo monetário X benefício 0,542 0,736 Percepção da relação custos não monetários X benefício 0,578 0,760 Disposição a pagar preço premium 0,502 0,708 Medida de adequação da amostra (KMO) 0,628 Total da variância explicada (%) 54,06 Tabela 13 – Teste da escala do Valor Percebido pelo Cliente. Item Comunalidades Carga fatorial Satisfação 0,603 0,777 Superação das expectativas 0,557 0,746 Sensação de escolha certa 0,601 0,775 Medida de adequação da amostra (KMO) 0,654 Total da variância explicada (%) 58,71 Tabela 14 – Teste da escala da Satisfação. Lealdade declarada 0,549 Carga fatorial 0,741 Intenção de retornar 0,646 0,804 Considerar primeira opção 0,603 0,776 Recomendação a outras pessoas 0,615 0,784 Item Comunalidades Medida de adequação da amostra (KMO) 0,743 Total da variância explicada (%) 60,32 Tabela 15 – Teste da escala da Lealdade. 110 4.3.2 Análise de regressão para identificar os fatores que mais contribuem para os construtos Para cada um dos construtos estudados, foi efetuada a análise de regressão linear múltipla pelo método Enter, que inclui todas as variáveis independentes na análise. Essa análise foi realizada para verificar se os fatores da experiência do cliente em bares e restaurantes tinham poder de explicação sobre o construto e, dentre eles, quais que possuíam maior poder de explicação sobre cada um dos construtos. A primeira conclusão a que pode se chegar é que o modelo produzido a partir da análise fatorial tem poder explicativo sobre cada um dos construtos estudados. De acordo com a Tabela 16, nota-se que o modelo apresentou valores de coeficiente de determinação (R²) para o Valor Percebido pelo Cliente, a Satisfação e a Lealdade que atendem aos valores mínimos que se encontram na literatura (HAIR E AL., 2009), indicando significância estatística com um poder de 80% para os resultados se considerado o nível de significância de 0,05. No entanto, tal poder explicativo foi baixo, o que pode indicar que os fatores da experiência do cliente relacionados neste trabalho não são suficientes para explicar esses construtos. Percebe-se também que, em geral, as variáveis que apresentaram poder explicativo – representado pelo Beta padronizado – para esses construtos foram Bem-estar, Comida e Bebida. Fatores da experiência do cliente em bares e restaurantes Bem-estar Comida Construtos importantes para a gestão de bares e restaurantes Valor Percebido pelo Cliente Beta padronizado 0,269 0,185 Satisfação 3,488 0,001 Beta padronizado 0,342 2,398 0,018 0,248 t valor Sig. Lealdade 4,594 0,000 Beta padronizado 0,245 3,328 0,001 t valor Sig. t valor Sig. 3,099 0,002 0,169 2,134 0,034 Higiene 0,020 0,254 0,800 0,034 0,453 0,651 -0,065 -0,818 0,413 Reputação 0,073 0,941 0,348 0,071 0,959 0,339 0,076 0,965 0,334 Bebidas 0,204 2,639 0,009 0,186 2,496 0,014 0,134 1,699 0,090 R² 0,160 0,219 0,117 R² ajustado 0,125 0,186 0,080 Tabela 16 – Resultados da regressão linear múltipla pelo método Enter 111 Para o Valor Percebido pelo Cliente, o coeficiente de determinação foi de 16,0%, com as variáveis Bem-estar e Bebidas apresentando poder de explicação ao nível de significância de 1% e Comida com poder de explicação ao nível de 5%. Dentre estes, a ordem quanto ao poder de explicação se deu da seguinte forma: Bem-estar (Beta padronizado = 0,269), Bebidas (Beta padronizado = 0,204) e Comida (Beta padronizado = 0,185). A preponderância do Bem-estar sobre os demais fatores na contribuição para a percepção de valor do cliente pode ser considerado um importante achado deste estudo, visto que, conforme já frisado anteriormente, a comida e a bebida são fatores mais valorizados na literatura sobre o tema (WALTER, EDVARSSON e ÖSTRÖM, 2010; ANDERSSON e MOSSBERG, 2004). Já para a Satisfação, obteve-se coeficiente de determinação de 21,9%, destacandose, mais uma vez, as variáveis Bem-estar, Comida (a 1% de significância) e Bebidas (a 5% de significância). O Bem-estar, assim como para o Valor Percebido pelo Cliente, foi o item com maior poder de explicação para esse construto (0,342), seguido pela Comida (0,248) e pelas Bebidas (0,186). O resultado encontrado pode gerar um insight importante para proprietários de bares e restaurantes: mais importante que servir comida e bebidas de qualidade, para deixar os clientes satisfeitos, é que essa oferta esteja envolvida por um ambiente prazeroso, que suscite boas memórias no cliente e o faça se sentir confortável. Com relação à satisfação com a experiência, Sulek e Hensley (2004) também concluíram que a comida e a atmosfera – que se assemelha ao que é denominado no presente estudo de Bem-estar – são preditores significativos. No entanto, esses autores acrescentam um fator que não aparece neste trabalho: a sensação de justiça com a ordem de acomodação nas mesas. Esse resultado é interessante e pode ser associado com o item Recepção que, neste trabalho, está associado ao fator Bem-estar. Para a Lealdade, por fim, foi encontrado um coeficiente de determinação de 11,7%, e somente Bem-estar e Comida tiveram poder de explicação aos níveis de 1% e 5%, respectivamente. O fator Bem-estar mais uma vez mostrou-se preponderante, com 112 poder de explicação de 0,245, enquanto a Comida apresentou poder de explicação de 0,169. É curioso que, no caso da Lealdade, o fator Bebida não obteve resultados significativos estatisticamente, o que também foi apontado em outro estudo (PULLMAN e GROSS, 2004). Ao analisar os resultados, pode-se ler nas entrelinhas que os clientes valorizam nas experiências em bares e restaurantes o que é básico: comida e bebida de qualidade, servidas em um ambiente agradável. Esses fatores serão determinantes na sua percepção de valor, na satisfação com o serviço prestado e no desenvolvimento da lealdade dos clientes. Essa conclusão é coerente com a de Gupta, Maclaughlin e Gomez (2007), que concluíram em seu estudo que os fatores que têm maior influência no retorno ou não de um cliente são aqueles relacionados ao cerne da operação de um restaurante: boa comida, a um preço justo, e com um serviço atencioso. Pullman e Gross (2004), por sua vez, apontam a interação com os prestadores de serviço como fator-chave para a lealdade dos clientes, seguido pela comida e pelos elementos sensoriais do ambiente. Outros autores encontraram resultados ainda mais restritos, indicando que somente a qualidade da comida é um preditor significativo da intenção de retorno (SULEK e HENSLEY, 2004). Por último, foram verificadas se as premissas do modelo de regressão linear múltipla eram ou não feridas pelo modelo proposto. Os gráficos scatter plot e de probabilidade normal foram analisados visualmente e, conforme se pode observar no Anexo 3, atenderam aos requisitos de linearidade do fenômeno medido, variância constante dos termos de erro, independência dos termos de erro e normalidade da distribuição dos termos de erro. Com isso, pode-se afirmar que o modelo apresentado é consistente – uma vez que contraria nenhuma das premissas do modelo de análise de regressão linear múltipla – e que os resultados obtidos são conclusivos. A partir deles, então, as três últimas perguntas da pesquisa são respondidas, chegando à conclusão que os fatores da experiência do cliente em bares e restaurantes que contribuem para o Valor Percebido pelo Cliente, a Satisfação e a Lealdade são o Bem-estar, a Comida e as Bebidas – esta última não se aplicando ao construto da Lealdade. 113 5 RESUMO E CONCLUSÕES Nas próximas páginas, serão apresentadas as principais conclusões deste estudo, fazendo antes um resumo do mesmo que, em poucas linhas, retoma a motivação, os objetivos e a forma como ele foi conduzido. Na conclusão, serão respondidas de forma sucinta as perguntas de pesquisa e serão feitas considerações acerca do modelo conceitual. Por fim, serão relacionadas as contribuições acadêmicas e gerenciais desta pesquisa e dadas sugestões para pesquisas futuras. 5.1 RESUMO DO ESTUDO Este trabalho teve como principal objetivo entender a experiência do cliente em bares e restaurantes, estudando como uma experiência positiva é formada e quais são os seus efeitos no negócio de bares e restaurantes. Para isso, o primeiro passo foi identificar os fatores que compõem a experiência em bares e restaurantes, enquanto o segundo passo dado foi o estudo da relação entre esses fatores e o valor percebido pelo cliente, sua satisfação e sua lealdade. O caminho percorrido teve início em uma extensa revisão da literatura acerca do tema. Buscou-se entender melhor o que é a experiência do consumidor, o que a forma, e como esse construto está inserido no contexto da indústria de bares e restaurantes. A partir daí, foi desenhado um modelo que baseou todo o estudo e auxiliou na reflexão acerca dos resultados do mesmo. O produto final da revisão de literatura foi uma lista de itens relacionados à experiência em bares e restaurantes, da qual se extraiu o questionário para a pesquisa quantitativa. Para contrastar os principais insights obtidos na revisão de literatura com a realidade local – tendo em vista que a maioria dos artigos estudados foi produzida no exterior –, foi realizada uma etapa qualitativa de entrevistas com especialistas no tema do trabalho. Foram consultados seis especialistas em bares e restaurantes, que analisaram a relação de itens obtida na revisão de literatura e corroboraram – ou 114 rejeitaram – as ideias propostas. Após este confronto, foi produzido o questionário que, após passar por pré-testes para verificar sua clareza e aplicabilidade, foi transferido para uma plataforma online de aplicação e enviado para os respondentes através de e-mail e redes sociais. Foram selecionados para compor a amostra indivíduos adultos, frequentadores de bares e restaurantes, residentes nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e Vitória. No total, 189 indivíduos participaram da pesquisa, sendo aproveitados somente 148 questionários. Os dados obtidos foram tratados e submetidos à análise de distribuição de frequência, análise fatorial e análise de regressão múltipla. Os resultados indicaram a existência de cinco fatores ou dimensões que compõem a experiência do cliente em bares e restaurantes, sendo que apenas três deles – o Bem-Estar, a Comida e as Bebidas – têm influência sobre o Valor Percebido pelo Cliente, sua Satisfação e sua Lealdade. 5.2 CONCLUSÕES Como dito na seção anterior, o primeiro objetivo do trabalho foi entender como se proporciona uma experiência positiva em bares e restaurantes. Já o segundo objetivo era o de apontar o que uma boa experiência no serviço pode trazer de benefícios para o negócio. Assim, foram formuladas quatro perguntas de pesquisa, alinhadas com os objetivos propostos: 1. Quais são os fatores que contribuem para a construção de uma experiência positiva do cliente em bares e restaurantes? 2. Que fatores da experiência do cliente em bares e restaurantes mais contribuem para o valor percebido pelo cliente? 3. Que fatores da experiência do cliente em bares e restaurantes mais contribuem para a satisfação do cliente? 115 4. Que fatores da experiência do cliente em bares e restaurantes mais contribuem para a conquista da lealdade do cliente? A primeira pergunta de pesquisa, relacionada ao primeiro objetivo, questionava quais fatores contribuem para uma experiência positiva em bares e restaurantes. Para respondê-la, foi efetuada uma análise inicial com o objetivo de entender quais variáveis foram consideradas mais importantes para a experiência pela amostra pesquisada. Dentre os 28 atributos pesquisados, a pesquisa apontou oito itens que tiveram maior grau de importância: Sua companhia na ocasião, Sabor da comida, Limpeza do salão e das mesas, Cordialidade dos funcionários, Aparência da comida, Limpeza dos banheiros, Odores agradáveis no ambiente e Recepção. Percebe-se que essas variáveis estão relacionadas à comida servida nos bares e restaurantes, à presteza dos funcionários em receber os clientes e no contato estabelecido durante o serviço, a questões de higiene básica e à companhia com quem cada indivíduo desfrutou da experiência. À exceção da companhia do cliente, nota-se que os principais aspectos que contribuem para a experiência positiva estão sob controle dos gestores de bares e restaurantes e, por isso, cabe a eles desenhar o serviço de forma a atender às expectativas de seus clientes e entregar uma experiência positiva. O passo dado na sequência foi a compreensão dos itens com maior relevância para os diferentes segmentos da amostra pesquisada, de acordo com o gênero, a faixa etária, o estado civil, o grau de formação e o local de residência. Foram encontradas diferenças significativas para diversos itens quando a amostra foi separada entre homens e mulheres, apontando que elas tendem a ter maior grau de exigência para uma série de itens relacionados ao ambiente e à comida servida. No caso da idade, provou-se que os indivíduos de faixa etária mais avançada dão maior importância para alguns itens em comparação aos demais, o que pode ser reflexo da maturidade e do consequente aumento no nível de exigência dessas pessoas. Esse resultado foi coerente com as diferenças encontradas para o estado civil, que indicaram que os respondentes casados, divorciados e viúvos apontaram maior grau de importância 116 para itens como a Flexibilidade do cardápio e Informações sobre a comida. Também foram encontradas diferenças significativas em termos do grau de formação, mas nada que demonstrasse alguma tendência de comportamento, ao passo que o local de residência não se mostrou como um fator diferenciador entre os indivíduos pesquisados. Após a compreensão dos itens com maior grau de importância para a experiência positiva, de acordo com os respondentes da pesquisa, foi conduzida uma análise fatorial para tentar agrupar os 28 atributos em fatores ou dimensões. A análise levou a cinco fatores relacionados com experiências positivas em bares e restaurantes: o Bem-estar, a Higiene, a Comida, as Bebidas e a Reputação. Esses cinco fatores, compostos por 19 dos 28 itens inicialmente inclusos na análise, não são suficientes para explicar a experiência em bares e restaurantes por completo, mas mostraramse importantes na construção de experiências positivas para a amostra pesquisada. Por isso, pode-se concluir que estes são aspectos do serviço que merecem a atenção dos gestores que buscam sucesso nessa indústria. Relacionadas à questão do sucesso no setor de bares e restaurantes, as outras três perguntas de pesquisa focaram nos fatores que mais contribuem para o valor percebido, a satisfação e a lealdade dos clientes. A análise realizada levou a uma resposta pouco consistente, mas que dá indícios importantes para resolver as questões propostas. O Bem-estar, a Comida e as Bebidas despontaram como fatores que contribuem para o valor, a satisfação e a lealdade, exceto no caso desta última, em que as bebidas não tiveram sua contribuição confirmada pelos testes efetuados. Esses resultados remeteram aos aspectos centrais do serviço de bares e restaurantes, que são servir uma boa refeição e seus complementos de uma forma agradável para o cliente. Apesar de os resultados não indicarem um maior poder de explicação para os construtos, pode-se concluir que para aumentar a percepção de valor, deixar os clientes satisfeitos e conquistar sua lealdade, é essencial que o estabelecimento sirva comida e bebida de boa qualidade, envolvendo-os em uma atmosfera prazerosa e servindo-os de forma amistosa desde o início do processo. 117 É importante ressaltar, também, algumas considerações acerca do modelo conceitual proposto inicialmente pelo presente estudo. O modelo apresentado na Revisão de Literatura, que tinha por objetivo resumir as principais questões abordadas e representar visualmente as ideias defendidas no estudo, foi rejeitado em partes após a reflexão acerca dos resultados encontrados. Em primeiro lugar, os quatro grupos de variáveis usados para representar os 28 itens da escala proposta para medir a experiência do cliente em bares e restaurantes não se confirmaram, dando lugar a cinco fatores que compõem a experiência, de acordo com os resultados encontrados: a Reputação, o Bem-estar, a Comida, as Bebidas e a Higiene – que representam 19 dos itens originais da pesquisa. Outra diferença significativa que os resultados do estudo mostraram em relação ao modelo conceitual é que a relação direta entre os fatores da experiência positiva do cliente e os construtos do Valor Percebido, da Satisfação e da Lealdade não estava bem representada. Por isso, é importante indicar que, na verdade, apenas alguns dos fatores que compõem a experiência do cliente em bares e restaurantes têm influência sobre os construtos: o Bem-Estar, a Comida e as Bebidas, conforme dito anteriormente. A Figura 10 resume graficamente as conclusões indicadas pelos resultados da pesquisa, esclarecendo as divergências destes com relação ao modelo conceitual proposto. Percebe-se que a experiência do cliente em bares e restaurantes é composta por cinco fatores, dos quais apenas três estão relacionados com o Valor Percebido, a Satisfação e a Lealdade. 5.3 CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA Podem ser apontadas tanto contribuições acadêmicas quanto contribuições gerenciais feitas por este estudo para o conhecimento científico e de business sobre a indústria de bares e restaurantes. A principal contribuição acadêmica deste estudo foi a proposição de um modelo que explique a experiência em bares e restaurantes, 118 criado a partir da reunião de ideias de diversos autores que já se debruçaram sobre o tema. Além disso, este trabalho ampliou o conhecimento a respeito do tema ao trazê-lo para a realidade brasileira, tendo em vista que a vasta maioria dos autores que estudaram a experiência em bares e restaurantes o fizeram em outros locais. Figura 10 – Resumo das principais conclusões do estudo A pesquisa também trouxe algumas contribuições gerenciais. Em primeiro lugar, os resultados obtidos podem ajudar gestores e proprietários de bares e restaurantes a entender melhor como construir uma experiência positiva no seu estabelecimento, dando prioridade aos elementos considerados mais importantes pelo público que o frequenta. Nesse sentido, a investigação realizada sobre as preferências para cada segmento de público que compôs a amostra pode auxiliar os gestores e moldar o seu negócio de forma a atender as necessidades específicas do público que atende ou que pretende atingir. Na indústria de bares e restaurantes, em que a quantidade de ofertas é enorme, a segmentação torna-se uma ferramenta importante para rentabilizar mais o negócio. A identificação dos cinco fatores que compõem a experiência em bares e restaurantes também pode ampliar o conhecimento sobre o modelo de negócio e 119 influenciar decisões sobre investimentos em melhorias – por exemplo, perceber que é mais importante investir em um ambiente agradável que traga sensação de bemestar do que em propaganda. No mesmo sentido, os resultados deste trabalho podem ser importantes para a decisão gerencial de relegar ou desinvestir em determinados aspectos do serviço em função de outros que possam trazer maior retorno em médio e longo prazo para o bar ou restaurante. Por fim, pode-se dizer que foi dado um passo importante para o entendimento de como aumentar o valor do serviço para os clientes, deixá-los mais satisfeitos e suscitar sentimentos de lealdade. Os achados desta pesquisa deram indícios de como atingir esses resultados, indicando os principais fatores que contribuem para o sucesso do negócio na indústria estudada. 5.4 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS Em busca de ampliar o entendimento do tema deste trabalho, a primeira sugestão é que o modelo utilizado seja replicado em outras praças do Brasil para identificar possíveis diferenças na preferência dos consumidores de acordo com a região. Outra sugestão dada é a de realizar investigações que não foram incluídas no escopo do trabalho. Por exemplo, pode-se analisar as variáveis relacionadas às emoções, aos sentidos e à cognição dos indivíduos, que, conforme explicado no Capítulo 2, não foram abordados neste estudo pela complexidade da medição quantitativa desses itens. Nesse caso, uma pesquisa qualitativa que busque compreender como esses itens afetam a experiência do cliente em bares e restaurantes, no contexto brasileiro, pode chegar a resultados interessantes. Outra sugestão é incluir no estudo outros construtos que possam ser afetados pela experiência do cliente, como a atitude em relação à marca, a geração de receitas e a lucratividade. 120 Por fim, sugere-se que sejam estudadas outras atividades relacionadas ao lazer e entretenimento, usando o modelo desta pesquisa como base para desenvolvimento de um modelo próprio para esses setores. Podem ser estudados, por exemplo, concertos musicais, teatros, museus, casas noturnas ou mesmo atrações turísticas – parques, praças, sítios históricos, entre outros. 121 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRASEL. Perfil da Abrasel. Disponível em http://www.abrasel.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=6&Itemid =50. Acessado em 24/04/2011. AKSOYDAN, E. Hygiene factors influencing customers’ choice of Dining-out units: findings from a study of University academic staff. Journal of Food Safety, Vol. 27, pp. 300-316, 2007. ANDERSSON, T.M.; MOSSBERG, L. 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Além desses entrevistados, também foi feito contato com uma renomada chef de cozinha e com um experiente maître de restaurante, que não puderam participar da pesquisa devido às dificuldades mencionadas no capítulo 3. Conforme descrito na seção sobre a metodologia de pesquisa qualitativa, foi apresentada aos entrevistados uma lista com os elementos detectados na literatura que compõem a experiência do cliente em bares e restaurante. De maneira geral, os entrevistados concordaram com todos os itens da lista, fazendo apenas algumas pequenas ponderações com relação a alguns tópicos, advindas de uma dificuldade de entendimento da variável ou da consideração de diferenças na resposta em detrimento de uma mudança de contexto. Por exemplo, foi feita uma ponderação quanto ao quesito “Bebida”, que, segundo o entrevistado, só seria importante para a experiência do cliente se o restaurante em questão tivesse como proposta de valor oferecer uma boa carta de vinhos. Já o item “Sistema de Controle Gerencial” apresentou dificuldades de compreensão, o que também levou a uma ponderação de que talvez ele não afete a experiência do cliente. Todavia, pode-se concluir que os elementos levantados na literatura são coerentes com o conhecimento dos 129 especialistas consultados e podem ser aplicados no contexto dos bares e restaurantes brasileiros. Além de validar a revisão de literatura, as entrevistas com especialistas forneceram insights muito importantes para o desenvolvimento da segunda etapa dessa pesquisa. Todos os entrevistados enriqueceram de alguma forma o conhecimento sobre o tema do presente trabalho. A primeira contribuição diz respeito à dificuldade que os entrevistados sentiram em descrever os elementos importantes para a experiência do cliente. Segundo os mesmos, esses elementos variam de acordo com o tipo de restaurante, com a praça em questão e até mesmo com o tipo de cliente a que se refere. Aliás, observou-se nas entrevistas também a ratificação de algo que foi abordado pela literatura a respeito à experiência do consumidor: o fato de que o próprio cliente também é um elemento que influencia a experiência através de seu estado emocional ou de seu desejo momentâneo, dentre outros aspectos. Em relação ao restaurante em si, foi levantada primeiramente a importância da coerência entre a proposta de valor do estabelecimento e a oferta efetivamente entregue. Ter bem definido qual é a proposta do negócio e seguir essa orientação foi considerado algo essencial para suprir uma boa experiência aos clientes. Em outras palavras, fazer o melhor dentro de uma proposta é mais importante do que propor a entrega de valores distintos em uma tentativa de agradar a todos – por exemplo, ao oferecer serviços de alimentação à la carte e self-service12 concomitantemente. Outra contribuição se refere ao que pode ser considerado o core do serviço de bares e restaurantes: a comida. Ficou claro que, apesar de comer bem ser a prioridade do cliente ao procurar esse serviço, a comida é somente um dos elementos que compõem a experiência nesses estabelecimentos. No que tange esse elemento, 12 O serviço à la carte, mais tradicional, é aquele em que o cliente faz o seu pedido de acordo com o que é exibido no cardápio. Já o self-service é um modelo popular no Brasil, em que o cliente se serve em um Buffet variado e paga de acordo com o peso da comida. 130 aspectos importantes apontados pelos entrevistados foram a apresentação (aparência), a qualidade, a flexibilidade na oferta (variedade do cardápio, adaptabilidade ao gosto do cliente), a entrega de informações (ex.: ingredientes e valor nutricional) e uma certa consistência na oferta ao longo do tempo. Foram citados também aspectos relevantes sobre o serviço oferecido pelos funcionários do estabelecimento. O caráter relacional do serviço dos garçons foi o que mais chamou a atenção, sendo indicado como um fator-chave para uma experiência positiva em um bar ou restaurante. A cordialidade, a atenção e a boa preparação dos garçons, bem como a relação que mantém com os clientes – que pode até mesmo chegar a uma profunda amizade – foram as características que os especialistas afirmaram ser diferenciais para a experiência do cliente. Os demais atores do processo de um restaurante, como o maître, o chef e o gerente também foram citados, mas não ganharam destaque ao longo das entrevistas. Por isso, pode-se concluir que os garçons, que tem uma interação mais intensa com o cliente, são o recurso essencial para uma boa experiência em bares e restaurantes. O ambiente foi outro elemento recorrente nas entrevistas. Ele foi apontado como o responsável por comunicar o valor e a imagem do restaurante e por influenciar o comportamento e o estado de espírito do cliente. Para isso, o ambiente deve ser “bem resolvido”, sendo importante para tal considerar o comportamento das pessoas, o mobiliário e os utensílios utilizados (mesas, cadeiras, talheres, copos etc.), a decoração, o conforto, os estímulos visuais e sonoros (televisores, música ambiente ou ao vivo, conversa dos outros clientes) e a higiene do estabelecimento como um todo. Por fim, vale listar outras contribuições que reafirmaram o que se viu na literatura, como a importância da localização, da cobrança de um preço adequado à proposta de valor – e que não pode ser considerado um diferencial em bares e restaurantes – e da realização de pesquisas para acompanhar a mudança nas demandas do consumidor. Além dessas, algumas contribuições feitas apenas uma vez que 131 chamaram a atenção foram a importância da oferta de produtos agregados e da responsabilidade ambiental para a experiência do cliente. 132 ANEXO 2 – QUESTIONÁRIO ONLINE 133 134 135 136 137 ANEXO 3 – ANÁLISE DE RESÍDUOS DO MODELO DE REGRESSÃO LINEAR MÚLTIPLA