UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA CURSO DE PÓS – GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA ESTUDO SISTEMÁTICO DA UTILIZAÇÃO DE BORRACHA E DE SEUS RESÍDUOS PARA MODIFICAÇÃO DE ASFALTOS ORIUNDOS DE PETRÓLEOS BRASILEIROS KARINA BELTRÃO CAMBUIM CAMPINA GRANDE – PB MARÇO/2004 ESTUDO SISTEMÁTICO DA UTILIZAÇÃO DE BORRACHA E DE SEUS RESÍDUOS PARA MODIFICAÇÃO DE ASFALTOS ORIUNDOS DE PETRÓLEOS BRASILEIROS Karina Beltrão Cambuim Dissertação submetida ao Curso de Pós-Graduação em Engenharia Química da Universidade Federal de Campina Grande, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre. Orientadores: Prof. Dr. Ariosvaldo Alves Barbosa Sobrinho. Prof. Dr. Shiva Prasad. Campina Grande Março / 2004 Esta Dissertação foi realizada nos Laboratórios do Departamento de Engenharia de Materiais (DEMA) da Universidade Federal de Campina Grande. Teve caracterizações, como o suporte Instituto para algumas Nacional de Tecnologia (INT) e o Laboratório de Mecânica dos Pavimentos (UFC), e como suporte financeiro, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) e a Rede de Pesquisas em Asfaltos. DEDICATÓRIA A Deus pelo equilíbrio e força. Aos meus amados pais, Iracema e Fetimendes. Às minhas queridas irmãs Waleska e Rafaela. À Antônia que tanto amo. AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Prof. Dr. Ariosvaldo Alves Barbosa Sobrinho, pela dedicação ao trabalho, amizade e paciência. Ao Prof. Dr. Shiva Prasad, pela gentileza de ter aceitado como co-orientar deste trabalho de dissertação. Sou grata aos Doutores José Luis Cardoso Fonseca e Marcos Antônio Ribeiro Baracho por terem aceitado participar da avaliação desta dissertação. Aos pesquisadores membros da Rede de Pesquisas em Asfaltos: Jorge Barbosa Soares, Leni Mathias e Sandra Oda por seus incentivos, suportes financeiros e bibliográficos neste trabalho. Às pessoas que colaboraram com suporte técnico para evolução deste trabalho, estejam aqui agradecidas: Regina Cid, Márcia de Oliveira, Daniel Aldigueri, Nadir de Brito e Giscardi Souza. A Agência Nacional do Petróleo (ANP/PRH-25) e à Rede de Pesquisas em Asfaltos pelo apoio financeiro. A Recuperadora de Pneus Borborema LTDA e à Fábrica São Paulo Alpargatas pelo fornecimento dos resíduos de pneus e de calçados, respectivamente. Aos meus familiares que de forma direta ou indireta me incentivaram à conclusão desta dissertação. A Mário, pelo companheirismo, incentivo, paciência e confiança oferecidos nos momentos que mais precisei. A Luiz Carlos pelo apoio no decorrer deste trabalho. A Mabelly pelo incentivo ao alcance deste título, pois durante todos os anos de nossa amizade sempre esteve presente, apoiando-me nos estudos. Aos amigos de João Pessoa que mesmo distantes me apoiaram e me deram força nesta caminhada. Aos colegas do curso de Pós-Graduação pela colaboração durante as disciplinas, em particular à Angélica, Andaraí e Divanira. A Maricé, da coordenação do curso de Engenharia Química, pela total atenção desde o início do curso. RESUMO Asfaltos modificados com resíduos de borracha com propriedades de elevada rigidez e caráter viscoelástico acentuado foram sintetizados usando CAP 20 como asfalto, enxofre e peróxido de benzoíla como ativadores, e BPM e resíduos de calçados como aditivos. Propriedades reológicas, térmicas, químicas e físicas foram determinadas através da Viscosidade Brookfield, RPA (Analisador para processamento de borrachas), DSR (Reômetro de cisalhamento dinâmico), RTFOT (Teste através de rolamento de filme fino) e MEV (Microscopia Eletrônica de Varredura). Várias quantidades dos aditivos (5-20% em peso) foram empregados com a finalidade de analisar as suas influências nas propriedades do asfalto convencional. As propriedades viscoelásticas dos asfaltos modificados foram melhoradas. ABSTRACT Crumb rubber modified asphalt with higher rigidity and strong viscoelastic character were synthesized using CAP 20 as asphalt, sulfur and benzoyl peroxide as activators and BPM and RCA as adducting. Rheological, thermal, chemical and physical properties were determined through Brookfield viscosity, RPA (Rubber Properties Analyser), DSR (Dinamic Shear Rheometer), RTFOT (Rolling Thin Film Oven Test) and SEM (Scanning electronic microscopic). Several amounts of the addictive (520% wt) were employed in order to examine their influence in the properties of the conventional asphalt. The viscoelastic properties of the modified asphalt were improved. SUMÁRIO___________________________________________________________ Lista de símbolos...........................................................................................................i Lista de abreviações.....................................................................................................ii Lista de esquemas.......................................................................................................iv Lista de figuras.............................................................................................................v Lista de tabelas...........................................................................................................vii CAPÍTULO I INTRODUÇÃO……....................................................................................................01 CAPÍTULO II 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA....................................................................................07 2.1 Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP)................................................................07 2.2 Produção do cimento asfáltico de petróleo.......................................................14 2.3 Estrutura química do cimento asfáltico de petróleo..........................................18 2.4 Condições do sistema rodoviário brasileiro......................................................22 2.4.1 Falhas mais comuns em pavimentos asfálticos.....................................25 2.4.1.1Trilhas de roda.............................................................................25 2.4.1.2 Trincas em pavimentos...............................................................28 2.5 Caracterização dos ligantes asfálticos..............................................................33 2.5.1 Parâmetros essenciais nas caracterizações dos CAP’s.........................31 2.5.2 Caracterização física e reológica dos ligantes asfálticos.......................33 2.5.2.1 Caracterização dos CAP’s por penetração.................................35 2.5.2.2 Caracterização dos CAP’s através da viscosidade (Brookfield).............................................................................................36 2.5.2.3 Caracterização através do ensaio de RTFOT............................38 2.5.2.4 Caracterização através do ensaio dinâmico mecânico (DSR)......................................................................................................39 2.5.2.5 Caracterização por microscopia eletrônica de varredura (MEV)......................................................................................................40 2.5.2.6 Caracterização por RPA.............................................................41 2.6 Cimento asfáltico de petróleo modificado por polímero....................................42 2.7 Asfaltos modificados por resíduos de pneus e de calçados.............................47 2.7.1 Origem da borracha natural, de pneus e reutilização de seus resíduos.......................................................................................................47 2.7.2Vulcanização do elastômero com o enxofre.........................................................................................................51 2.7.3 Vantagens ecológicas e sociais do asfalto modificado por borracha.......................................................................................................53 2.7.4 Vantagens e desvantagens técnicas da aplicação do asfalto emborrachado..............................................................................................55 2.7.4.1 Vantagens da mistura asfalto-borracha................................55 2.7.4.2 Desvantagens da mistura asfalto-borracha...........................59 2.8 Aplicações do asfalto-borracha no mundo........................................................59 CAPÍTULO III 3 Materiais e Métodos................................................................................................62 3.1 Materiais...........................................................................................................62 3.1.1 Reagentes e solventes...........................................................................62 3.1.2 Equipamentos utilizados.........................................................................65 3.2 Métodos utilizados............................................................................................68 3.2.1 Procedimento experimental......................................................................68 3.2.1.1 Preparação do asfalto modificado com BPM, RCA, S ou PBO..........................................................................................................68 3.2.2 Caracterizações........................................................................................72 3.2.2.1 Viscosímetro Brookfield................................................................72 3.2.2.2 Caracterização por microscopia eletrônica de varredura (MEV).......................................................................................................72 3.2.2.3 Ensaio de envelhecimento – RTFOT...........................................73 3.2.2.4 Ensaio dinâmico mecânico (DSR)................................................73 3.2.2.5 Caracterização utilizando analisador de processamento de borracha (RPA).........................................................................................74 CAPÍTULO IV 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO...............................................................................75 4.1Viscosidade aparente (Brookfield) do CAP modificado......................................75 4.1.1 Viscosidade aparente (Brookfield) do CAP 20 modificado com BPM em presença ou ausência de enxofre.....................................................................75 4.1.2 Viscosidade aparente (Brookfield) do CAP 20 modificado com RCA em presença de PBO..............................................................................................76 4.2 Ensaio RPA.......................................................................................................79 4.3 Ensaio dinâmico mecânico (DSR)....................................................................82 4.4 Ensaio de envelhecimento – RTFOT................................................................83 4.5 Microscopia eletrônica de varredura (MEV)......................................................84 CAPÍTULO V CONCLUSÕES..........................................................................................................85 5.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS POSTERIORES...........................................87 CAPÍTULO VI REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................88 ANEXO.......................................................................................................................96 i LISTA DE SÍMBOLOS δ Ângulo de fase γ Deformação μ Coeficiente de viscosidade τ Tensão η Viscosidade G* Módulo de cisalhamento complexo G' Componente elástica recuperável do módulo de cisalhamento complexo G'' Componente viscosa não recuperável do módulo de cisalhamento complexo S* Torque complexo (RPA) S´ Torque complexo (DSR) S” Torque viscoso n* Viscosidade dinâmica complexa (RPA) ii LISTA DE ABREVIAÇÕES ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas AASHTO American Association of State Highway and Transportation Officials ASTM American Society of Tests and Materials BPM Borracha de pneu moída CAP Cimento asfáltico de petróleo CL Cura lenta CM Cura média CR Cura rápida DSC Calorimetria diferencial de varredura DSR Dynamic Shear Rheometer LUBNOR Lubrificantes do Nordeste MEV Microscopia eletrônica de varredura NBR Normas Brasileiras PBO Peróxido de benzoíla PETROBRAS Petróleo Brasileiro S.A PG Performance grade RCA Resíduo de calçados da Alpargatas RPA Analisador para processamento de borrachas REGAP Refinaria Gabriel Passos (MG) iii RM Ruptura média RR Ruptura rápida RPM Rotações por minuto RTFOT Rolling Thin Film Oven Test SARA Saturados, aromáticos, resinas e asfaltenos. SB Copolímero estireno – butadieno SBR Borracha estireno – butadieno SBS Copolímero estireno – butadieno – estireno SHRP Strategic Highway Research Program SUPERPAVE Superior Performance Asphalt Pavements T Temperatura t tempo Tg Temperatura de transição vítrea Tmáx Temperatura máxima do pavimento Tmín Temperatura mínima do pavimento iv LISTA DE ESQUEMAS Esquema 1 Etapas da produção do cimento asfáltico de petróleo.....................17 Esquema 2 Estruturas representativas das quatro frações betuminosas: saturados, aromáticos, resinas e asfaltenos...............................20 Esquema 3 Representação esquemática dos componentes de uma molécula de asfalto típica.........................................................................23 Esquema 4 Esquema do ensaio de penetração......................................................38 Esquema 5 Representação esquemática de um viscosímetro rotacional (Brookfield)...............................................................................39 Esquema 6 Representação esquemática do aparelho de RTFOT.......................41 Esquema 7 Esquema das ligações cruzadas da borracha com o enxofre..........55 Esquema 8 Etapas da metodologia aplicada para obtenção do asfalto modificado por BPM...........................................................................73 Esquema 9 Etapas da metodologia aplicada para obtenção do asfalto modificado por RCA............................................................................73 Esquema 10 Esquema da obtenção do asfalto modificado usando BPM e enxofre....................................................................................................74 Esquema 11 Esquema da obtenção do asfalto modificado usando PBO e RCA........................................................................................................75 v LISTA DE FIGURAS Figura 1 Representação da estrutura química de uma molécula de asfalteno.................................................................................................22 Figura 2 Avaliação da situação das rodovias brasileiras em 2002..................26 Figura 3 Fotografia de trincas tipo couro de jacaré.........................................29 Figura 4 Fotografia de trincas na borda ............................................................30 Figura 5 Fotografia de trincas de borda de junta.............................................31 Figura 6 Fotografia de trincas de junta de faixa...............................................31 Figura 7 Fotografia de trincas de reflexão.........................................................32 Figura 8 Efeito da quantidade de enxofre sobre o ensaio Marshall..............49 Figura 9 Foto de uma seringueira.......................................................................51 Figura 10 Pneus queimados a céu aberto.............................................................54 Figura 11 Pneus em aterros....................................................................................54 Figura 12 Amostras de CAP..................................................................................67 Figura 13 Amostras de BPM.................................................................................67 Figura 14 Amostras de RCA..................................................................................67 Figura 15 Fotografia do Viscosímetro Brookfield utilizado.............................69 Figura 16 Fotografia do Microscopia eletrônica de varredura utilizada..........69 Figura 17 Fotografia do equipamento RTFOT utilizado..................................70 vi Figura 18 Fotografia do equipamento para ensaio dinâmico mecânico (DSR) utilizado..................................................................................................71 Figura 19 Fotografia do equipamento RPA utilizado........................................71 Figura 20 Viscosidade Brookfield versus taxa de cisalhamento do CAP 20 puro ou modificado por 5, 10, 15 e 20 % de BPM.........................80 Figura 21 Viscosidade Brookfield do CAP 20 versus percentual de resíduo de calçado (RCA) a 20 rpm......................................................................82 Figura 22 Viscosidade Brookfield do CAP 20 versus percentual de resíduo de calçado (RCA) a 60 rpm......................................................................82 Figura 23 Módulo de armazenamento (G´) versus Freqüência para diferentes percentuais de BPM na presença ou ausência de enxofre.....................................................................................................84 Figura 24 Torque viscoso versus deformação senoidal para diferentes percentuais de BPM na presença ou ausência de enxofre...............84 Figura 25 Viscosidade dinâmica complexa versus freqüência para diferentes percentuais de BPM na presença ou ausência de enxofre.....................................................................................................85 Figura 26 Microscopia eletrônica de varredura da mistura de CAP 20 + 5% BPM........................................................................................................88 Figura 27 Microscopia eletrônica de varredura da mistura de CAP 20 + 5% BPM + 2%S...........................................................................................88 vii LISTA DE TABELAS Tabela 1 Refinarias Nacionais.............................................................................16 Tabela 2 Aplicação do asfalto – borracha..........................................................50 Tabela 3 Grau de Desempenho do CAP 20 modificado tanto com o S + BPM, como para RCA + 2% PBO....................................................87 Tabela 4 Ensaio de RTFOT para o CAP 20 modificado com BPM........................................................................................................87 1 CAPÍTULO I INTRODUÇÃO As misturas asfálticas da região Nordeste são constituídas, há mais de 30 anos, de cimentos asfálticos oriundos exclusivamente de petróleos venezuelanos. Com o interesse brasileiro em substituir petróleos importados por petróleos nacionais, a Petrobrás deu início à substituição na LUBNOR - refinaria da Petrobrás localizada em Fortaleza - dos tradicionais petróleos asfálticos venezuelanos pelo petróleo asfáltico de Fazenda Alegre do Espírito Santo. Dada às diferenças entre os asfaltos produzidos a partir destes petróleos (Venezuelanos e Brasileiros) faz-se necessário um estudo das propriedades das misturas asfálticas constituídas com o asfalto do petróleo brasileiro[1]. Os cimentos asfálticos de petróleo (CAP) produzidos no Brasil apresentam qualidade suficientemente boa para serem usados como ligantes rodoviários, na maior parte, das aplicações rodoviárias brasileiras. A busca sempre constante de novos materiais que melhorem o desempenho dos pavimentos asfálticos levou ao desenvolvimento e uso de asfaltos modificados que visam ampliar a faixa de utilização dos ligantes rodoviários. Os principais polímeros geralmente empregados em modificação de asfaltos nos EUA são SBR, SBS, EVA, PE, dentre outros. A utilização da matéria prima virgem deste tipo de produto não chega a 15% do mercado americano e europeu de ligantes rodoviários, devido ao preço elevado, podendo efetivamente ocorrer uma grande diminuição dos custos com a utilização dos seus resíduos [2,3,4]. 2 Surge a necessidade de desenvolver formulações polímero/asfalto específicas para uso rodoviário, pelos fabricantes de polímeros do mercado brasileiro, apropriadas para misturas com cimentos asfálticos de petróleos brasileiros. A importância do tema será a melhoria nas propriedades que o cimento asfáltico de petróleo terá ao serem adicionados a borracha de pneu moída (BPM) ou os resíduos de calçados. Além deste objetivo, o fator ambiental será bastante enfatizado, pois uma vez que retirando os pneus descartados de lugares impróprios, contribui-se para evitar danos ao meio ambiente e à saúde pública. O método de incorporação dos resíduos de borracha ao CAP (Cimento Asfáltico de Petróleo) utilizado neste trabalho foi através de via úmida, e sua adição realizou-se sob condições de temperatura e tempo controlados. Os produtos obtidos foram analisados nos laboratórios do CENPES, Centro de Pesquisa da Petrobrás, do LMP, Laboratório de Mecânica dos Pavimentos da UFC, INT, Instituto Nacional de Tecnologia e nos Laboratórios do DEMA da UFCG. Algumas justificativas e determinados aspectos relacionados ao tema servem para evidenciar a importância desta tecnologia, principalmente no que se refere à inovação tecnológica, e aos aspectos econômicos e ambientais. Quanto ao aspecto tecnológico, destacam-se as grandes melhorias de propriedades dos pavimentos asfálticos obtidas com a utilização desta nova tecnologia, que é o uso do asfalto modificado por polímero. E as soluções asfaltoborracha apresentam durabilidade cerca de até 10 vezes superior aos asfaltos convencionais [5]. 3 Considerando-se o aspecto econômico, o asfalto modificado por borracha, apesar de possuir um custo de 25% a 30% mais elevado em relação ao material regularmente empregado, o ligante modificado oferece resultados superiores, em função do comportamento físico-químico diferente do asfalto convencional. A eficácia se traduz no aumento da vida útil do asfalto, na diminuição da sensibilidade às variações térmicas, melhoramento da aderência pneu-pavimento e uma redução de 65% a 85% do ruído provocado pelo tráfego sobre a pista. Por ser mais elástico, ele ainda absorve melhor o impacto, oferecendo maior resistência ao envelhecimento e à propagação de trincas e formação de trilhas de rodas [6]. Com um produto de maior resistência, pode-se diminuir a camada de rolagem da superfície de cinco centímetros - medida utilizada no asfalto comum - para uma camada de 3,5 a 4,0 centímetros. Com isso, as camadas que serão utilizadas em rodovias terão uma espessura menor, proporcionando também a diminuição do degrau que existe entre a pista e o acostamento [6]. Portanto, o asfalto emborrachado pode ser aplicado para reduzir a espessura (utilização de menos material). A diminuição dos custos pelo aumento da vida útil do pavimento e menor utilização de material é um resultado esperado o que representa uma enorme vantagem econômica [7]. Um quilômetro de asfalto emborrachado, com quatro linhas, pode usar em torno de 2.000 a 3.000 pneus inservíveis, dependendo do tipo de aplicação. Considerando-se que cada pneu de veículo de passeio pesa 10 kg, em média, e que todos os pneus utilizados são de carros de passeio, tem-se um uso de 20 a 30t de pneus por km de via [7]. 4 Outro fator importante que reduz os custos, é que o uso de asfalto modificado, de acordo com o relatório sobre a redução de ruído de tráfego, pelo uso de asfalto emborrachado, no Condado de Sacramento, na Califórnia (EUA), gera uma diminuição considerável no nível de ruído de três a cinco decibéis. Então, essa redução pode também reduzir custos, se considerarmos a necessidade da obrigação legal, em alguns países, da construção de paredes contra ruídos, que custam em torno de 200 a 400 dólares por pé linear [7]. Segundo a Confederação Nacional do Transporte, CNT, o Brasil precisaria hoje cerca de: • Dez bilhões de Reais para recuperação da malha rodoviária Nacional; • Um bilhão de Reais /ano para manutenção das rodovias. Por outro lado, o Brasil gasta hoje: • Duzentos mil reais para construção de 1 km de asfalto convencional, com baixo tráfego e pista simples; • Dois milhões de reais por quilômetro de asfalto convencional, com alto tráfego e pista dupla. Estes pavimentos asfálticos são projetados para terem uma vida útil de aproximadamente 10 anos, entretanto, devido à má qualidade do asfalto utilizado no Brasil, apresentam defeitos após um a três anos de utilização. Daí a necessidade urgente da melhoria da qualidade do asfalto brasileiro. O Brasil gastaria cerca de dois milhões e quinhentos mil reais para construir 1 km de asfalto-borracha, com alto tráfego e pista dupla, apresentando um custo superior 5 quando comparado à construção do asfalto convencional nas mesmas condições. Entretanto, através de experiências em trechos experimentais no exterior, o asfalto tem apresentado uma vida útil superior a 10 anos, devido à melhoria da qualidade do asfalto [8]. Algumas externalidades são importantes para fins de análise econômica, tais como a diminuição de custos operacionais de veículos e diminuição de acidentes. Porém, a maior dificuldade de encorajar a utilização de borracha em pavimentação está ligada à expectativa de um maior custo nos processos produtivos do asfalto emborrachado. De acordo com experiências realizadas no Rio Grande do Sul, a maior parcela do custo ficaria por conta da logística associada à obtenção da borracha resultante da reciclagem de pneus. Porém a economia vem de um ciclo de vida maior, que diminui a manutenção e a utilização de menos material. Na maioria dos casos, dada a flexibilidade e força do asfalto emborrachado, apenas metade do material é necessário quando comparado ao concreto asfáltico tradicional. Além da melhoria das propriedades do asfalto levando a uma maior durabilidade do mesmo [7]. Quarenta e cinco milhões de pneus são produzidos no Brasil por ano e atualmente são reciclados cerca de 10% dos pneus. A Resolução 258/99 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) passou a vigorar, em 1º de janeiro e o que fazer com os pneus tornou-se uma obrigação perante a lei (ver Resolução Nº 258 de 26/08/99 do CONAMA / Anexo I) [9,10]. O aspecto ambiental tem se destacado no mundo inteiro, por representar a retirada das enormes e crescentes quantidades desses resíduos de pneus do meio 6 ambiente, de forma racional. Sabe-se que os mesmos duram centenas de anos para se degradarem. Portanto, o objetivo principal deste trabalho de dissertação consiste no desenvolvimento de misturas asfálticas, utilizando o CAP 20, brasileiro, resíduos de borracha de pneu moída (BPM) ou de calçados (RCA), com a meta de se obter misturas asfálticas com melhores propriedades finais de uso. Dentre tais objetivos, alguns específicos foram analisados neste trabalho, tais como: • Observação do método de incorporação da borracha ao cimento asfáltico de petróleo; • Análise dos fatores que podem influenciar no desempenho das misturas asfálticas; • Utilização de ensaios para a avaliação das propriedades físicas, químicas e reológicas das misturas; • Análise da viabilidade técnico-econômica das misturas asfalto-borracha; • Proposição de soluções para o problema de depósito de pneus inservíveis e resíduos industriais; 7 CAPÍTULO II 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 CIMENTO ASFÁLTICO DE PETRÓLEO (CAP) De acordo com a ASTM (American Society for Testing and Materials), o asfalto é definido como um material cimentante castanho escuro ou preto, em que os constituintes principais são betumes que ocorrem na natureza ou que se obtêm do processamento de petróleo [11]. O betume (de acordo com a ASTM) é uma classe de substância cimentante preta ou escura (sólida, semi-sólida ou viscosa), natural ou fabricada, composta principalmente de hidrocarbonetos de alta massa molecular, de que são típicos os asfaltos [11]. Asfalto também pode ser definido como um produto orgânico, composto por hidrocarbonetos pesados que, juntamente com óleo combustível, graxas, carvão e petrolato, constituem os resíduos da destilação fracionada do petróleo. Pode-se definir o asfalto como um composto de materiais aglomerantes, constituídos por misturas complexas de hidrocarbonetos não voláteis de elevada massa molecular [12] . Estes podem ser encontrados em jazidas naturais, na forma de bolsões de asfaltos, originados da evaporação das frações mais leves (mais voláteis) do petróleo e aflorados à superfície em épocas remotas. São exemplos Trinidad e do Lago Bermudez [13]. sempre citados os asfaltos naturais de 8 Enfim, trata-se de um material de particular interesse para a engenharia, por ser um aglomerante resistente, com grande adesividade, altamente impermeável e de grande duração [12]. Caracteriza-se como uma substância com propriedades reológicas, cujo comportamento físico varia com a temperatura. O asfalto pode ser produzido numa variedade de tipos e qualidades que vão desde sólidos até líquidos quase tão fluidos como a própria água. O tipo semi - sólido, conhecido como betume asfáltico, é o material básico. Os produtos asfálticos líquidos são preparados geralmente dissolvendo-se os betumes asfálticos e misturando-os com um destilado de petróleo, ou ainda emulsificando-os com água [12]. Para ser utilizado em pavimentação, o asfalto, material termoplástico que é semisólido à temperatura ambiente precisa ser aquecido (T>100ºC) para atingir a viscosidade adequada à mistura. Além do aquecimento, outras alternativas para tornar o asfalto trabalhável são a diluição com solventes derivados de petróleo ou o emulsionamento [13,14]. De forma geral, os tipos de asfaltos existentes são [13,14]: I) Cimentos asfálticos de petróleo (CAP); II)Asfaltos diluídos; III)Asfaltos emulsionados; IV)Asfaltos soprados; V)Agentes rejuvenescedores. 9 VI)Asfaltos modificados; Os três primeiros tipos e o último são normalmente usados em pavimentações de estradas, e os outros, em impermeabilizações. I) Cimentos asfálticos de petróleo O asfalto de petróleo utilizado em pavimentos é chamado de asfalto de pavimentação ou cimento asfáltico de petróleo (CAP). Este é um material negro, pegajoso, semi-sólido e bastante viscoso. Compõe-se principalmente de moléculas complexas de hidrocarbonetos e também de outros átomos, tais como o oxigênio, nitrogênio e enxofre. Pelo fato de ser pegajoso, o asfalto adere às partículas de agregado (areia, pedregulho, pedra britada e escória) e pode ser usado para cimentar as partículas num concreto asfáltico [11]. Classificam-se os CAP’s pela viscosidade e pela penetração [14] . No Brasil, há quatro tipos de CAP´s classificados quanto à penetração: CAP 30 / 45, CAP 50 / 60, CAP 85 / 100 e CAP 150 / 200. E com base na viscosidade a 60ºC, englobam três tipos: CAP 7, CAP 20 e CAP 40 [5]. II) Asfaltos diluídos O asfalto diluído é um material resultante da diluição de um cimento asfáltico de petróleo adequado em quantidades variáveis de diluente, também de petróleo, conforme o tipo desejado [15]. 10 Os solventes do petróleo utilizados na dissolução do cimento asfáltico são chamados de destilado, diluente e agente de recorte. Caso o solvente utilizado na produção do asfalto diluído for bastante volátil, ele escapará rapidamente por evaporação. Por outro lado, os solventes de volatilidade menor, evaporam-se mais lentamente [11]. Em relação ao tempo que o solvente leva para evaporar, os asfaltos diluídos se classificam em três tipos [11]: • De cura rápida, CR ou “RC” em inglês – cimento asfáltico e diluente leve de alta volatilidade, geralmente na gama de ponto de ebulição da gasolina ou nafta (RC-70, 250, 800, 3000); • De cura média, CM ou “MC”em inglês – cimento asfáltico e diluente médio de volatilidade intermediária, geralmente na gama do ponto de ebulição do querosene (MC-30, 70, 250, 800, 3000); • De cura lenta, CL ou “SC“ em inglês – cimento asfáltico e óleos de baixa volatilidade (SC-70, 250, 800, 3000). No Brasil, tem-se como especificação: cura rápida, CR-70, CR-250 e de cura média, CM-30, CM-70. Os asfaltos diluídos de cura lenta são chamados de óleos rodoviários. Este termo se originou há muitos anos quando o óleo residual asfáltico era aplicado para proporcionar às estradas uma superfície de baixo custo e resistente às intempéries. Mas não existe a fabricação deste tipo de asfalto diluído no Brasil [11]. 11 Daí a importância do estudo do asfalto diluído, pois no processo de pavimentação, o CAP deve estar suficientemente fluido durante sua aplicação, e suficientemente rígido após a aplicação, portanto para que isso seja possível, mistura-se ao cimento asfáltico, derivados de petróleo mais leves, que proporcionam produtos menos viscosos e podem ser aplicados a temperaturas mais baixas: é o chamado asfalto diluído [13,14]. III) Asfaltos emulsionados As emulsões asfálticas apresentam grandes vantagens sobre os asfaltos diluídos e os cimentos asfálticos, razão pela qual seu uso tem aumentado constantemente. Uma emulsão asfáltica consiste em finíssimas gotículas de asfalto dispersas na água por meio de um agente emulsificador. Os agentes emulsificadores de asfalto apresentam as moléculas constituídas por dois grupos funcionais: o polar e não polar. O grupo polar é solúvel em água e o grupo não polar (usualmente uma longa cadeia de hidrocarbonetos) solubiliza o asfalto. A maioria dos agentes emulsificadores dissocia-se, na água, em ânions (partículas negativas) e cátions (partículas positivas) [12]. Por seleção adequada do agente emulsificador e de outros controles de fabricação, produzem-se emulsões asfálticas de diferentes tipos e graus. De acordo com a escolha do agente emulsificador, as emulsões asfálticas podem ser classificadas como: • Aniônicas – glóbulos de asfalto são carregados eletronegativamente; • Catiônicas - glóbulos de asfalto são carregados eletropositivamente; 12 • Não-iônicas - glóbulos de asfalto são neutros. Os dois primeiros tipos são usados na construção e manutenção de rodovias. Tanto nos asfaltos diluídos como nas emulsões asfálticas, o produto que permanece após a evaporação dos solventes e da água, é o cimento asfáltico. O desempenho das misturas asfálticas, portanto, é função das propriedades do CAP [11] . IV) Asfaltos soprados ou oxidados O processo de sopragem de ar produz materiais que amolecem a temperaturas mais elevadas do que os cimentos asfálticos, ou seja, asfaltos oxidados são mais duros, menos sensíveis às variações de temperatura e mais resistentes às intempéries [15]. Os asfaltos oxidados em estado sólido precisam ser aquecidos ou derretidos antes da aplicação, o que normalmente é feito no interior da obra, por meio de queima de óleo. O aquecimento do asfalto na obra tem a desvantagem de promover uma nova oxidação do asfalto sem os controles adequados, além de onerar os custos e de contribuir em muito para a poluição do meio ambiente [12]. Esta temperatura é chamada de ponto de amolecimento do asfalto. Mesmo a esta temperatura, o asfalto mantém ainda sua capacidade de impermeabilização. Contudo, há certa redução na ductilidade quando comparada à do cimento asfáltico com finalidade de pavimentação [11]. 13 Pelo fato do ponto de amolecimento ser uma propriedade importante e desejada dos asfaltos soprados, estes se classificam em termos do ensaio de ponto de amolecimento, em vez de viscosidade e penetração [11]. Os asfaltos soprados são usados em uma vasta variedade de finalidades industriais e específicas, tais como: em telhados, revestimento de canos, vedação inferior dos pavimentos de concreto de cimento Portland, membranas impermeabilizantes no revestimento de canais e reservatórios e aplicações hidráulicas. Às vezes, os asfaltos soprados são usados em misturas de asfaltoagregado com a finalidade de pavimentação [11]. V) Agentes rejuvenescedores Os agentes rejuvenescedores são usados no processo de reciclagem de pavimentos, sob a qual é uma técnica que reutiliza os agregados e ligante do pavimento. Devido às condições climáticas, aumento e diminuição de temperatura, chuvas, o asfalto sofre envelhecimento, causado pelo aumento de sua consistência (viscosidade e ponto de amolecimento). Estas alterações são originadas pelo aumento do teor de asfaltenos e pela redução do teor de aromáticos e resinas [14]. VI) Asfaltos modificados Asfalto modificado é um material resultante da adição de determinados polímeros ao cimento asfáltico de petróleo [15]. 14 O asfalto modificado é o tema do nosso trabalho. Seu uso faz melhorar as propriedades do cimento asfáltico e sua aplicação tem aumentado a cada ano. Os modificadores são adicionados com o objetivo de melhorar o grau de desempenho dos pavimentos, aumentando assim a resistência à deformação permanente e ao aparecimento de trincas por fadiga e de contração térmica, retardando o envelhecimento do material e melhorando a adesividade. Os principais tipos de modificadores são os polímeros (SBR, SBS, e EVA), a borracha de pneu moída e resíduos de calçados [16,17]. 2.2 PRODUÇÃO DO CIMENTO ASFÁLTICO DE PETRÓLEO. O petróleo cru dos poços de exploração tem seus constituintes ou frações separadas na refinaria. O meio principal de proceder à separação é a destilação. Após a separação, os constituintes sofrem refino ou processamento adicional para a obtenção de produtos que atendam a requisitos específicos [18]. Há doze refinarias distribuídas no território nacional (ver Tabela 1) e dentre estas as que produzem asfalto são: Refap, Lubnor, Regap, Reman, Repar, Replan, Revap, e Rlam. As capacidades instaladas destas refinarias produtoras de asfalto são respectivamente: 189 mil barris / dia, 6 mil barris / dia, 151 mil barris / dia, 46 mil barris / dia, 196 mil barris / dia, 360 mil barris / dia, 226 mil barris / dia e 307 mil barris / dia [19]. 15 Tabela 1. Refinarias Nacionais. Refinarias Localização RLAM – Refinaria Landulpho Alves Mataripe, Bahia. RPBC – Refinaria Presidente Bernardes Cubatão, São Paulo. REDUC – Refinaria Duque de Caxias Campos Elíseos, Rio de Janeiro. REGAP – Refinaria Gabriel Passos Betim, Minas Gerais. REFAP – Refinaria Alberto Pasqualini Canoas, Rio Grande do Sul. REPLAN – Refinaria de Paulínia Paulínia, São Paulo. REMAN – Refinaria de Manaus Manaus, Amazonas. RECAP – Refinaria de Capuava Mauá, São Paulo. REPAR – Refinaria Presidente Getúlio Vargas Araucária, Paraná. REVAP – Refinaria Henrique Lage São José dos Campos, São Paulo. LUBNOR – Lubrificantes do Nordeste Fortaleza, Ceará. RPBC – Refinaria Presidente Bernardes Cubatão, São Paulo. O refino do petróleo bruto para se obter as frações que compõem o cimento asfáltico de petróleo (CAP), está ilustrado no Esquema 1. Inicialmente, o petróleo cru passa através de um trocador de calor, cuja finalidade é elevar a temperatura para iniciar o refino do óleo. Após este aquecimento o óleo vai para a torre de destilação a fim de separar os componentes leves dos mais pesados, onde aqueles são facilmente volatilizados e retirados para um novo refino e, portanto, separados em nafta, gasolina, querosene, dentre outros produtos de grande utilidade, dependendo do óleo cru que se processa. 16 O resíduo desta operação é o que interessa para a produção do CAP, sendo este resíduo a fração mais pesada do óleo cru que passa por processos adicionais, obtendo-se o asfalto, ou seja, o cimento asfáltico de petróleo. O processo adicional é a destilação a vácuo que remove frações de alto ponto de ebulição [11]. Esquema 1. Etapas da produção do cimento asfáltico de petróleo. Após a sua produção, segue a etapa da mistura com a borracha na própria refinaria. As etapas de usinagem, aplicação e compactação dos ligantes modificados na pista, não têm muita mudança em relação aos ligantes tradicionais, com exceção 17 dos detalhes de temperatura. A temperatura de descarregamento do silo para o caminhão de transporte deve ser controlada (Tmáxima = 177º C) [20]. O monitoramento das temperaturas no campo deve ser constante para identificar o momento ideal de se iniciar o processo de rolagem, para isso, pode-se utilizar termômetros digitais ou os tradicionais termômetros com haste de mercúrio [20]. A temperatura de rolagem é a mais elevada que a mistura asfáltica possa suportar e esta deve ser iniciada com baixa pressão dos rolos pneumáticos. Por outro lado, a temperatura de compactação deve ser em torno de 155° a 160°C, pois quando a massa encontra-se muito quente, poderá haver o trincamento, e a formação de “ondas” à frente do rolo [20]. Durante a etapa de transporte do asfalto modificado, a temperatura dos ligantes se mantém praticamente constante, porém durante a sua descarga, normalmente ocorre uma perda considerável de caloria, então é recomendável dispor de uma caldeira de aquecimento eficiente para manter as temperaturas necessárias a usinagem. Por outro lado, devido à alta viscosidade dos ligantes modificados, os caminhões de transporte possuem equipamentos especiais para manter a estabilidade do ligante, sendo dotados de agitadores helicoidais e bomba de asfalto de alto desempenho para bombeamento e mistura de líquidos altamente viscosos com controle de velocidade [20]. Há uma exigente sistemática a ser empregada desde a produção do cimento asfáltico até a etapa de compactação. Estabelece-se um monitoramento no controle de qualidade dos materiais empregados, nos equipamentos, nos transportes, além do aspecto ambiental. Têm-se alguns aspectos relevantes a considerar segundo a norma (NORMA DNIT 031 / 2003 – ES), apresentada a seguir, e as especificações 18 desta norma servem também para os asfaltos modificados, porém com alguns cuidados extras, devido à mudança nas propriedades do asfalto convencional quando adicionamos a borracha: • Os materiais constituintes do ligante asfáltico, tipo agregado graúdo, agregado miúdo, cargas minerais, devem satisfazer às especificações, havendo uma boa adesividade entre o ligante betuminoso e os agregados; • Os equipamentos devem estar aptos para realizar os trabalhos constantes da obra. Depósitos para ligantes asfálticos devem controlar a temperatura, de forma que não ocorra o superaquecimento localizado, utilizando-se desta forma, um sistema de recirculação; • Nos depósitos para os agregados, os silos devem ter capacidade total adequada e serão divididos em compartimentos, dispostos de forma a separar e estocar as frações do agregado; • Usinas de asfalto devem ter uma distância superior a 200 m das residências, hospitais, clínicas, escolas, parques e outras instituições comunitárias. Portanto, após a aplicação do asfalto modificado com borracha sobre o pavimento, mediante os controles de temperatura, o trânsito poderá ser liberado imediatamente após o resfriamento da camada asfáltica [20]. 2.3 ESTRUTURA QUÍMICA DO CIMENTO ASFÁLTICO DE PETRÓLEO O resíduo da destilação, geralmente exige a separação de quatro classes diferentes de compostos: Saturados, Aromáticos, Resinas e Asfaltenos – SARA [21]. 19 A estrutura complexa do betume (Esquema 2) é composta por substâncias de caráter insaturado que apresentam alta reatividade frente ao oxigênio. Este fato é explicado quando o radical oxigênio quebra as duplas ligações das estruturas do betume formando grupamentos funcionais que aumentam as interações das moléculas do asfalto. Estes produtos da oxidação formam grupos polares de forte interação resultando no aumento da viscosidade [22]. BETUME Saturados Aromáticos H C N S S Resinas Asfaltenos S Esquema 2. Estruturas representativas das quatro frações betuminosas: saturados, aromáticos, resinas e asfaltenos. Asfaltenos e Resinas formam um grupo de compostos heterorgânicos de alta massa molecular, que se encontram presentes em óleos crus e resíduos da destilação. São constituídos de 80-95% de carbono e hidrogênio, com oxigênio sempre presente. Enxofre, nitrogênio e metais (vanádio, níquel e ferro) normalmente se apresentam na estrutura [21]. 20 Os dados abaixo mostram a composição química média dos principais tipos de asfaltos [23]. Elemento C (%) H (%) S (%) O (%) N (%) Teor 84,8 10,4 3,2 0,25 0,68 V (ppm) Ni (ppm) 4 - 1380 0,4 - 109 As resinas são semi-líquidas (às vezes semi-sólidas) de coloração variando de marrom escuro ao preto, com massa molar entre 500 e 2.000 g/mol. Os asfaltenos, por sua vez, são amorfos com massa molar variando de 1.000 a 10.000 g/mol [17] . Verifica-se, portanto, a complexidade da composição química do cimento asfáltico de petróleo por possuir um elevado peso molecular. Há cerca de 20 a 120 átomos de carbono por molécula de CAP [24]. A composição química do cimento asfáltico influencia diretamente em suas propriedades físicas: os elementos saturados não contribuem para a melhoria da susceptibilidade térmica e quando em maiores concentrações, amolecem o produto, os grupos aromáticos melhoram as propriedades físicas do CAP, as resinas influenciam negativamente a susceptibilidade térmica, porém melhoram a ductilidade e dispersão de asfaltenos e por último, os asfaltenos que melhoram na susceptibilidade térmica e contribuem para o aumento da viscosidade [25]. Os asfaltenos são formados por aglomerados de compostos polares e polarizáveis, constituídos de hidrocarbonetos naftênicos condensados e de cadeias curtas de hidrocarbonetos saturados. Os asfaltenos têm um elevado grau de importância, já que são responsáveis pelo comportamento reológico dos CAP’s. A Figura abaixo mostra uma estrutura química típica da molécula dos asfaltenos [24]. 21 CH 2CH 3 CH 3 CH 3 CH 3 H 3C Et Et Et Et Et Et Et N CH 3 Et S Figura 1. Representação da estrutura química de uma molécula de asfalteno. (1) (2) (3) (4) (5) (6) (1) asfaltenos, (2) aromáticos de alto peso molecular, (3) aromáticos de baixo peso molecular, (4) aromáticos e naftênicos, (5) naftênicos e alifáticos, (6) saturados. Esquema 3. Representação esquemática dos componentes de uma molécula de asfalto típica. 22 As Resinas são compostos polares e polarizáveis poliaromáticos, possuindo um elevado teor de heteroátomos, contudo sua massa molecular é inferior ao dos asfaltenos. O CAP, segundo Yen, pode ser considerado uma dispersão coloidal de asfaltenos em saturados e aromáticos, envolto por resinas, que agem como agentes peptizantes. Esta interação dos asfaltenos conduz à formação de aglomerados, através de forças intermoleculares fracas, denominadas de forças de Van der Waals. A ligação é originada por atrações dipolo-dipolo induzidas por heteroátomos presentes na estrutura [26]. A estrutura do cimento asfáltico de petróleo é bastante complexa, portanto há um novo modelo estrutural para o CAP. Segundo o programa SHRP (Strategic Highway Research Program), os compostos que constituem o CAP são polares e não polares, portanto, forças intra e intermoleculares são responsáveis pela formação de redes tridimensionais, resultando em características elásticas e viscosas [27]. 2.4 CONDIÇÕES DO SISTEMA RODOVIÁRIO BRASILEIRO Pesquisas Rodoviárias realizadas pela CNT (Confederação Nacional do Transporte), indicam melhorias em nossas rodovias em relação às características do pavimento, sinalização e, em menor parte, engenharia. Em 2002, verificaram-se maiores ganhos nas condições do pavimento, com elevação dos percentuais favoráveis em comparação com os resultados da Pesquisa Rodoviária de 2001 [28]. Apesar desta situação, ressalva-se que este esforço de readequação das rodovias nacionais deve ocorrer em ritmo bem mais intenso que o atualmente 23 verificado para que, num futuro não muito distante, as condições de segurança, capacidade viária e fluidez atinjam patamares de eficiência satisfatórios e compatíveis com o desenvolvimento que se espera do País [28]. Ainda se verifica nas rodovias pesquisadas, por exemplo, que 38,8% da extensão encontram-se com pavimento em estado deficiente, ruim ou péssimo (18.275 Km) [28]. A análise da evolução do estado geral, resultante da avaliação simultânea dos critérios avaliados pela pesquisa rodoviária, revela que em 2002, houve um aumento de 9,6 pontos percentuais nas rodovias classificadas como ótimas ou boas em relação a 2001. Com isso, o estado geral de conservação considerado satisfatório subiu de 31,3% para 40,9% em 2003. Apesar deste avanço, o ritmo das melhorias caiu em relação ao período 2000/2001, quando foi verificado crescimento de 11,6% nos trechos avaliados como bons ou ótimos. Tem-se, ainda elevados índices de 59,1% (27.838 Km) que apresentam algum tipo de deficiência [28]. Mantendo a tendência observada em 2001, as condições de pavimentação foram as que obtiveram o maior ganho. Em 2001, 47,7% da extensão avaliada foram classificadas como detentoras de boas ou ótimas condições de pavimento, contra os 61,2 % de 2002, ou seja, houve um aumento de 13,5 pontos percentuais. Ao se observar a situação do pavimento das estradas em 1999, quando a classificação positiva somava 62,2%, percebe-se que, com os 61,2% observados em 2002, foram retomados os patamares do estado geral de conservação de três anos atrás (ver Figura 2) [28]. Cabe destacar alguns pontos que contribuíram para a melhoria no estado de conservação do pavimento rodoviário. Em primeiro lugar, o total de rodovias (em km) 24 cujo pavimento encontra-se totalmente perfeito e sem irregularidades em toda a superfície subiu de 48,4%, em 2001, para 62,3% em 2002. Ao mesmo tempo, reduziram-se de 33,0% para 31,4% os trechos (em km) em que havia irregularidades no pavimento [28]. Então, munidos de informações de qualidade, poder-se-á tomar decisões mais efetivas, pois só com elas será possível a reversão do deficiente estado de nossas estradas e a formulação de uma nova realidade, com redução do custo Brasil e valorização do setor, permitindo ao País ter um transporte rodoviário eficiente [28]. Figura 2. Avaliação da situação das rodovias brasileiras em 2002. 25 2.4.1 FALHAS MAIS COMUNS EM PAVIMENTOS ASFÁLTICOS 2.4.1.1 Trilhas de roda A trilha de roda é uma das deformações permanentes mais existentes em pavimentos e é muito comum o seu surgimento em interseções e em trechos com tráfego intermitente. Prováveis causas: • Caminhões pesados; • Tráfego lento e/ou intermitente; • Agregados de má qualidade; • Asfalto com elevada suscetibilidade térmica; • Construção de má qualidade; • Dano por umidade; • Compactação pelo tráfego, após a construção. O uso de projetos adequados, agregados e asfaltos de boa qualidade são objetos de solução e prevenção destes defeitos em pavimentos e o uso de ligantes modificados por polímeros, têm-se mostrado bastante eficiente [29]. 26 2.4.1.2 Trincas em pavimentos As trincas são defeitos existentes em pavimentos, que necessitam serem corrigidas por processos de selagem por duas razões: a) para evitar a intrusão de materiais indesejáveis e b) para evitar a intrusão de água nas camadas subjacentes do pavimento [11]. Existem vários tipos de materiais de selagem de trincas que são satisfatórios, entretanto, algumas propriedades gerais se aplicam a qualquer material usado com esta finalidade. Estas propriedades incluem: • Ligação/ boa adesão; • Facilidade de aplicação; • Resistência ao envelhecimento; • Resistência às intempéries; • Compatibilidade com o asfalto. O asfalto modificado por borracha atende a estes pré – requisitos e, portanto, pode ser usado na selagem de trincas. Estes materiais são por natureza mais caros, exigindo técnicas de manuseio muito bem controladas e uma preparação muito maior da trinca. Contudo mantêm a selagem eficaz por longo prazo em praticamente todos os climas. Os períodos de vida esperados são de três a oito anos, dependendo do material usado, da condição do pavimento, e das técnicas utilizadas ao aplicar a selagem de trincas. 27 Embora sejam, inicialmente, de utilização mais cara, os selantes de asfaltos permitem, de fato, a economia de mão-de-obra e tempo, podendo ser em longo prazo, de custo real menor. Os tipos de trincas mais comuns nos pavimentos são [11]: I) Trincas em couro de jacaré; II) Trincas nas bordas; III) Trincas nas juntas; IV) Trincas de reflexão; V) Trincas de contração; VI) Trincas de escorregamento. I) Trincas em couro de jacaré / rachaduras As trincas em couro de jacaré são trincas interligadas que formam uma série de blocos pequenos assemelhando-se ao couro de jacaré (ver Figura 3). Podem ser associados ao subleito mole [11]. Figura 3. Fotografia de trincas tipo couro de jacaré. 28 II) Trincas nas bordas As trincas nas bordas são trincas longitudinais próximo às bordas do pavimento, podendo ter ou não ramificações na direção dos acostamentos (ver Figura 4). As trincas de borda ocorrem normalmente por faltar ao pavimento asfáltico o apoio lateral ou do acostamento e isto poderá resultar na contração por ressecamento do solo circunvizinho [11]. Figura 4. Fotografia de trincas na borda. III) Trincas de juntas São dois os tipos de trincas de juntas. Um deles é o tipo trinca de borda de junta (Figura 5), que ocorre entre o pavimento e o acostamento. O outro tipo é a trinca de junta de faixa (Figura 6) que ocorre entre duas faixas de pavimentação vizinhas. A alternância de molhagem e secagem, de gelo e degelo abaixo da superfície do acostamento é uma causa comum do trincamento de borda. Resulta, geralmente, de má drenagem e água presa ou empoçada nas depressões na junta do pavimento com o acostamento [11]. 29 As trincas de junta de faixa de pavimentação, por outro lado, são causadas usualmente por uma sutura fraca ou colagem deficiente entre os espalhamentos de mistura contíguos nos pavimentos [11]. Figura 5. Fotografia de trincas de borda de junta. Figura 6. Fotografia de trincas de junta de faixa. IV) Trincas de reflexão As trincas de reflexão ocorrem nos reforços asfálticos. Estas trincas refletem o padrão de trincas da estrutura de pavimento subjacente. São mais comuns nos 30 reforços asfálticos sobre pavimentos de concreto de cimento ou bases tratadas pelo cimento. As trincas de reflexão (ver Figura 7) são causadas por deslocamentos verticais ou horizontais do pavimento sob o reforço, resultantes das cargas do tráfego, temperatura e movimentos do solo [11]. Figura 7. Fotografia de trincas de reflexões. V) Trincas de contração As trincas de contração são trincas interconectadas que formam uma série de blocos grandes, geralmente de cantos ou ângulos vivos. As trincas de contração, geralmente, são causadas pelo envelhecimento. Decorridos vários anos de exposição atmosférica, o asfalto pode perder parte de sua elasticidade ou resistência. Enquanto isto os materiais do pavimento estão submetidos constantemente a expansões e contrações causadas por variações de temperatura [11]. 31 VI) Trincas de escorregamento As trincas de escorregamento são aquelas resultantes das forças horizontais induzidas pelo tráfego. Produz-se por falta de ligação entre a camada superficial e a subjacente. A falta de ligação pode ser devido à presença de poeira, terra e óleo [11]. 2.5 CARACTERIZAÇÃO DOS LIGANTES ASFÁLTICOS 2.5.1 Parâmetros essenciais nas caracterizações dos CAP’s Há três parâmetros que são avaliados nas propriedades dos CAP’s e essenciais em suas caracterizações, envolvendo uma série de normas e técnicas, são eles: a consistência, a pureza e a segurança [11,30,31]. A consistência dos CAP’s é a propriedade que diz o quanto o asfalto flui a uma determinada temperatura. A variação de viscosidade com a temperatura gera a padronização num ensaio de viscosidade, podendo haver comparação entre os diferentes cimentos asfálticos de petróleo. A consistência utilizada para classificar os ligantes asfálticos pode ser determinada através dos ensaios de penetração e viscosidade, além de haver as especificações superpave (baseada no grau de desempenho do pavimento) [11,30,31]. As especificações americanas de cimentos asfálticos são baseadas nos ensaios de penetração a 25ºC e viscosidade a 60ºC, assim como as brasileiras. Os pesquisadores do SHRP (Strategic Highway Research Program) não seguem o empirismo das especificações ASTM e, portanto, desenvolveram novos requisitos 32 baseados em ensaios reológicos com critérios relacionados ao desempenho em serviço [32]. A caracterização da consistência de ligantes asfálticos através dos ensaios de penetração e viscosidade apresenta limitações quando utilizada para seleção de ligantes e para a estimativa do desempenho ao longo da vida em serviço. Apesar da viscosidade ser uma propriedade fundamental, ela apenas fornece informações sobre o comportamento viscoso a alta temperatura, sem nenhuma informação sobre o desempenho a média e a baixa temperatura. Por sua vez, o ensaio de penetração, apenas descreve a consistência a uma temperatura intermediária, 25ºC [13]. A nova especificação Superpave para materiais asfálticos seleciona o ligante em função do grau de desempenho (PG, Performance Grade) sob condições climáticas da região em que será utilizado. [33] . Esta classificação Superpave é composta por dois números, o primeiro correspondente à temperatura mais elevada do pavimento, ou seja, aquela em que os ensaios avaliam a resistência ao acúmulo de deformação permanente. O segundo número se refere à temperatura mínima do pavimento, aquela em que os ensaios analisam a resistência às trincas por contração de origem térmica [34]. As temperaturas de pavimento obtidas por cada região do Brasil mostraram que os tipos de CAP requeridos pelo clima brasileiro, sem levar em conta o nível de tráfego, são PG 64-16 e PG 70-16 que são atendidos respectivamente pelos CAP 20 e CAP 40 [14]. Outro parâmetro importante que é avaliado nas propriedades dos CAP’s é a pureza, pois caso haja resquícios de água no CAP, e se o mesmo for posto em 33 processamento, poderá causar espuma quando a temperatura alcançar 100ºC. Isto afetará principalmente a segurança de utilização do cimento asfáltico [11,30,31]. O ponto de fulgor é um indicador de segurança que indica a temperatura acima da qual o asfalto pode ser considerado um produto inflamável, sempre que houver uma fonte de ignição. Portanto, é de extrema necessidade a sua determinação, pelo fato do ligante asfáltico ao ser aquecido, a uma temperatura muita elevada, liberar vapores do produto, que ao misturar-se com o ar poderá gerar vapores sensíveis a centelhas [13]. Para que se tenha uma boa margem de segurança desde o processamento do cimento asfáltico, até atingir a fase da distribuição e da compactação, algumas normas devem ser obedecidas para a seleção e padronização de cimentos asfálticos de petróleo. São as normas ASTM e AASHTO, compreendendo os mesmos princípios de análise, algumas vezes nas mesmas condições. No Brasil existem as Normas ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, que englobam geralmente as técnicas americanas e outras normas corporativas, como as da PETROBRAS – Petróleo Brasileiro [11,30,31]. 2.5.2 Caracterização física e reológica dos ligantes asfálticos Existem atualmente diversas definições para o termo reologia, dentre estas podemos citar: a) a reologia pode ser definida como sendo a parte da física que estuda o comportamento mecânico dos materiais que não são nem sólidos nem líquidos [35] , b) a reologia do asfalto é o estudo dos modelos tensão-deformação do material em relação ao tempo [36] , c) a reologia, do grego rhéos=fluxo, também é 34 definida como o ramo da física que trata do estudo da deformação e do fluxo (ou fluência) dos materiais quando sujeitos a uma carga qualquer, levando-se em consideração o tempo de duração dessa carga [37]. Os fluidos podem apresentar formas de deformação semelhantes às que ocorrem nos sólidos. Todavia, diferentemente dos sólidos, nos fluidos todas as deformações envolvem escoamento, o que torna seus efeitos totalmente irreversíveis, salvo nos casos dos fluidos viscoelásticos onde parte da deformação pode ser recuperada. O tipo mais comum de deformação dos fluidos é por cisalhamento simples, o qual gera um escoamento caracterizado pelo movimento relativo das camadas ou moléculas do fluido devido à ação da força externa [38]. Então, segundo a lei de Newton, um líquido viscoso ideal é aquele que ao ser submetido a uma tensão de cisalhamento, escoa e sofre deformação irreversível. O coeficiente de viscosidade (μ) ou simplesmente viscosidade, é a relação entre a tensão de cisalhamento (τ) aplicada e a taxa de deformação de cisalhamento (dγ/dt) [14]. τ = μ (dγ/dt) A determinação da viscosidade tem um elevado grau de importância. Um pavimento asfáltico, por exemplo, antes de ser colocado em serviço, passa pelas etapas de mistura, lançamento e compactação. Nessas etapas o ligante asfáltico deve apresentar o comportamento de um fluido, facilitando sua mistura com os agregados minerais e aumentando a eficiência de compactação. 35 A relação entre tensão-deformação em função do tempo de carregamento e da temperatura pode ser empregada para explicar o conceito de rigidez de um cimento asfáltico. No instante da aplicação de carga, há uma deformação elástica (γE), a que são somadas, durante o tempo de aplicação de carga, uma componente elástica retardada (γER), e uma componente viscosa (γV). Imediatamente após o descarregamento, ocorre a recuperação da deformação elástica, sendo mister um período de tempo para a recuperação da deformação elástica retardada. A componente viscosa constitui a deformação permanente [13]. Há dois métodos para a caracterização física e reológica dos ligantes asfálticos. O primeiro é o método baseado na penetração e viscosidade e o segundo é chamado de SUPERPAVE baseado no desempenho do material. 2.5.2.1 Caracterização dos CAP’s por penetração O equipamento de penetração é responsável pelo controle da consistência dos ligantes asfálticos semi-sólidos a uma temperatura de 25ºC, considerada a temperatura média do pavimento em serviço [39]. Este ensaio consiste em uma agulha colocada em uma massa padrão a temperatura de 25ºC e a observação de quanto a agulha penetra no asfalto após um tempo de 05 s (cinco segundos). É comum variar a temperatura de ensaio para efeitos comparativos, desta forma varia-se também a espessura da agulha e o peso utilizado [11]. 36 As classificações 40/50, 60/70, 85/100, 120/150 e 200/300 são adotadas pela ASTM, entretanto, no Brasil, utilizam-se as classes 30/45, 50/60, 85/100 e 120/150. [39] . O Esquema do ensaio está ilustrado a seguir: Esquema 4 Esquema do ensaio de penetração. Os ensaios por penetração são mais rápidos do que por viscosidade, requer baixo custo de investimento e a classificação é feita através de ensaios realizados a temperaturas próximas da temperatura de serviço, porém as medidas de penetração próximas à temperatura de 25ºC, não fornece informações sobre o desempenho a temperaturas de misturas e de compactação e a agulha penetra mais rapidamente em asfaltos moles, portanto incapaz de avaliar o desempenho de materiais dependentes de taxa de cisalhamento, como os polímeros [14]. 2.5.2.2 Caracterização dos CAP’s através da viscosidade (Brookfield) O sistema de classificação com base na penetração a 25ºC foi mudado para o sistema com base na viscosidade a 60ºC, em meados da década de 60. Esta mudança teve como principais objetivos substituir o ensaio empírico por um ensaio científico e medir a consistência a 60ºC, na qual é a temperatura próxima da máxima 37 temperatura que um pavimento atinge no verão. Esse sistema de classificação é dividido nas classes CAP 7, CAP 40 e CAP 20, sendo este, o ligante mais utilizado [39]. Para a caracterização dos ligantes asfálticos, visando o controle de qualidade nas etapas de mistura e compactação, tem sido mais utilizado o viscosímetro Brookfield, no qual se determina a viscosidade aparente. O viscosímetro Brookfield mede a viscosidade através de uma haste (spindle), em rotação constante, imersa em um fluido e, portanto verifica-se o torque necessário para girar a haste de prova sobre a amostra, a uma velocidade específica. Para converter o valor deste torque em viscosidade, a dimensão da haste e a espessura do fluido devem ser conhecidas [14,40]. Na preparação da amostra de cimento asfáltico de petróleo, por exemplo, a mesma deverá ser aquecida a uma temperatura na qual fique suficientemente fluida para que a haste possa girar. Geralmente esta temperatura é de 135ºC, pois é a temperatura cujo material se comporta como um fluido viscoso. No caso de ligante asfáltico na presença de borracha, aquece-se a uma temperatura mais elevada, 175ºC de acordo com a norma ASTM D 6114-97 [13]. Esquema 5. Representação esquemática de um viscosímetro rotacional (Brookfield) 38 A classificação dos ligantes asfálticos através da viscosidade possui muitas vantagens tais como: poder de atender a uma ampla faixa de temperatura, informar sobre temperaturas de mistura e compactação, controlar a máxima susceptibilidade térmica, o ensaio é baseado na máxima temperatura que a superfície do pavimento possa atingir, há uma ótima precisão do ensaio e por último, limita o envelhecimento (mudança de propriedades). Entretanto, há algumas desvantagens na classificação do ligante por viscosidade, nas quais podemos citar: alto custo de investimento e os ensaios são mais demorados do que os ensaios por penetração [14]. 2.5.2.3 Caracterização através do ensaio de RTFOT O envelhecimento do ligante asfáltico é traduzido pelo aumento de sua consistência, que ocorre principalmente durante a usinagem da mistura. O maior motivo para evitar o aumento da consistência é que este poderá provocar a redução da recuperação elástica do ligante, contribuindo para o enrijecimento do revestimento e, portanto, provocando uma redução da vida útil do ligante [20]. O ensaio de RTFOT - Rolling Thin Oven Test - simula o envelhecimento ocorrido na usina, fornecendo ligante asfáltico envelhecido para ensaios de acúmulo de deformação permanente e determina a perda de voláteis, que indica o possível envelhecimento no asfalto durante a mistura para produção do pavimento. O ensaio é feito colocando-se uma quantidade específica de cimento asfáltico (35g) numa jarra, que gira dentro de uma estufa a 163ºC. Por intermédio de um orifício aberto na jarra, uma corrente de ar atinge a mistura a cada rotação da placa rotativa com as jarras. O Esquema 6 ilustra o equipamento RTFOT [11,30,41,42]. 39 O sistema de classificação, baseado na viscosidade do resíduo envelhecido (aged residue - AR) em um ensaio de RTFOT é: AR-1000, AR-2000, AR-4000, AR8000 e AR-16000, onde o valor numérico representa a viscosidade à 60ºC do resíduo envelhecido em poises [13]. Esquema 6. Representação esquemática do aparelho de RTFOT. 2.5.2.4 Caracterização através do ensaio dinâmico mecânico (DSR) Durante um ensaio dinâmico, a amostra de asfalto atinge a estabilidade depois de um número limitado de ciclos. Então, nessa condição, são determinados o pico de tensão e o pico de deformação, cuja razão é o valor absoluto do módulo de cisalhamento dinâmico ou módulo complexo, G* [13]. Defini-se o G* como sendo a medida da resistência total do material à deformação, quando este é exposto a pulsos repetidos de tensões de cisalhamento, e consiste de dois componentes: um elástico (recuperável) e um viscoso (nãorecuperável) [13]. 40 Outra propriedade que é determinada é o ângulo de fase, δ, cuja finalidade é indicar a quantidade de deformação recuperável e não-recuperável e corresponde ao intervalo de tempo entre a aplicação da carga (tensão aplicada) e a resposta obtida (deformação). Para materiais puramente elásticos, o ângulo de fase será zero enquanto que para materiais puramente viscosos, será 90 º [13]. Os valores de G* e δ dos asfaltos dependem da temperatura e da freqüência de carregamento. A altas temperaturas, os asfaltos se comportam como fluidos viscosos, sem nenhuma capacidade de recuperação ou restauração. A baixas temperaturas (menores que -20ºC), os asfaltos se comportam como sólidos elásticos [13]. Este ensaio é realizado com o equipamento Reômetro de Cisalhamento Dinâmico, também chamado de DSR e é utilizado para caracterizar os comportamentos viscoso e elástico através do módulo de cisalhamento complexo (G*) e do ângulo de fase (δ). 2.5.2.5 Caracterização por microscopia eletrônica de varredura (MEV) O microscópio eletrônico de varredura (MEV) funciona como um scanner fornecendo imagens seccionadas detalhadas do interior de uma estrutura compacta [43]. O aspecto essencial deste tipo de microscópio é que um feixe de elétrons extremamente estreito é usado para varrer a amostra, isto é, o mesmo é movido para frente e para trás, fazendo com que a amostra emita elétrons, que são chamados elétrons secundários [44]. 41 Os elétrons são responsáveis pela formação da imagem que é construída em seqüência no tempo, à medida que o material é varrido. Para que este emita elétrons é necessário vaporizar sobre ele uma fina camada de metal pesado, por exemplo, ouro, que aumenta sua capacidade de reflexão de elétrons. Os elétrons refletidos da amostra são captados (detector) e transformados em imagens num monitor [43,44]. As imagens formadas são tridimensionais, e fornecem informações sobre as superfícies dos materiais, esclarecendo, por exemplo, se os mesmos são homogêneos ou heterogêneos. 2.5.2.6 Caracterização por RPA O RPA (Rubber Process Analyser) é um equipamento reológico dinâmico mecânico (DMRT) capaz de medir propriedades de borrachas, e suas composições num largo intervalo de temperatura, deformação, freqüência e tempo, com as condições de ensaio variando numa seqüência programável durante o ensaio [47]. A amostra sofre deformação por cisalhamento com oscilação senoidal da parte inferior da matriz numa cavidade selada e pressurizada. A freqüência de oscilação pode ser de 0,1 a 2.000 ciclos por minuto (cpm). A oscilação da parte inferior da matriz é dada por um ângulo de oscilação que gera a deformação requerida sob a amostra. A matriz inferior pode oscilar de ± 0,05 a ± 90,00 graus arco, ou a uma deformação de ± 0,7 % a ± 1256 %. A temperatura pode variar entre 40ºC e 230º C. A parte superior da matriz possui um transdutor de torque, que fornece a resposta devido à deformação senoidal aplicada sob a amostra. A resposta é dada 42 pelo torque complexo, S*, que é convertido através de Transformada de Fourier, no torque elástico, S’, e no torque viscoso, S”. 2.6 CIMENTO ASFÁLTICO DE PETRÓLEO MODIFICADO POR POLÍMERO O asfalto modificado por polímero vem sendo estudado e já aplicado em alguns trechos rodoviários, e está correspondendo às expectativas, porque a mistura visa melhorar o desempenho dos ligantes convencionais, a durabilidade das rodovias e a melhoria quanto ao comportamento mecânico das misturas asfálticas [20] . Em princípio, este melhoramento nas propriedades pode ser uma conseqüência de possíveis ligações ou interações químicas entre as moléculas do asfalto e da borracha, resultando na melhoria do desempenho dos ligantes tradicionais, através da resistência aos problemas de afundamento por trilha de roda, trincamento térmico e dano por fadiga. A tecnologia asfalto-borracha é mais adaptável às variações climáticas e às elevadas tensões das vias de alto tráfego, desta forma, aumenta-se a possibilidade de sucesso [48]. Além do fator químico, através destas ligações cruzadas, a melhoria de algumas propriedades do asfalto convencional é alcançada devido à seleção do óleo cru ou através do processo de refinaria de petróleo. Existem apenas poucos óleos crus capazes de produzir asfaltos de boa qualidade e apenas um número limitado de atividades que podem controlar o processo de refinaria, e como conseqüência melhorar a qualidade do asfalto [49]. Quando são adicionados polímeros aos asfaltos puros, suas propriedades dependem de diversos fatores, tais como: características do polímero, 43 características do asfalto, condições de mistura (controle de temperatura, de velocidade de mistura...) e compatibilidade do polímero com o asfalto [49]. Os polímeros são macromoléculas formadas por muitas moléculas pequenas e reativas quimicamente (monômeros) para produzir cadeias longas. As propriedades físicas de um polímero específico são determinadas pela seqüência e estrutura química do monômero que a forma, bem como peso molecular e sua distribuição [49]. O asfalto emborrachado é desejável quando se considera o aumento das cargas transportadas, em número de veículos e em peso, às variações de clima (principalmente no nosso país, que atinge elevadas temperaturas no verão) e também devido à heterogeneidade dos asfaltos convencionais em relação à sua procedência. Todos esses aspectos citados contribuem para que a modificação dos asfaltos seja uma necessidade para determinadas situações de tráfego e clima. Esta melhoria proporcionada pelos polímeros contribui para um melhor desempenho à fadiga, uma maior resistência à deformação permanente e a trincas térmicas. O asfalto modificado por borracha, que é objeto de nosso estudo, além de proporcionar melhorias consideráveis no asfalto convencional, também há vantagens quando se refere ao meio ambiente [20]. Os asfaltos modificados por borracha granulada reciclada de pneus vêm sendo usados desde os anos 60, porém, seu uso no Brasil iniciou-se a partir da década de 90 [1] . Nesta década no Brasil, o CENPES (Centro de Pesquisas da Petrobrás), iniciou pesquisas ligadas à área de materiais asfálticos modificados por polímeros, com o objetivo de verificar o desempenho desses materiais. Alguns experimentos com materiais asfálticos modificados com borracha de pneus também foram realizados [13]. 44 A borracha de pneu de veículos rodoviários é um material que pode ser reaproveitado, e que, além do mais, constitui um problema ambiental. Estes pneus, muitas vezes, são queimados liberando gases poluentes, ocasionando chuvas ácidas e outros problemas ambientais. Apesar desta solução não ser definitiva para o problema ambiental, minimiza-se as emissões e proporciona-se uma melhoria das propriedades do concreto asfáltico convencional [50]. É de grande interesse das empresas petroquímicas o uso deste tipo de asfalto modificado, já que a reciclagem de pneus apresenta diversas vantagens. Dentre elas podemos citar o aumento da massa final do concreto asfáltico, e quase que inexistência de incompatibilidade química com o pavimento betuminoso, já que a borracha de pneu é originada também do petróleo [50]. Um asfalto emborrachado permite uma menor oxidação (menor envelhecimento) e gera uma excelente proteção para as diversas camadas do pavimento; maior atrito dos pneus; aumento do ponto de amolecimento da mistura e maior resistência a produtos químicos derramados sobre o asfalto [50] . Portanto, há uma certa necessidade e importância na utilização de cimento asfáltico de petróleo modificado por polímero, já que confere um aperfeiçoamento no asfalto, e conseqüentemente, de grande interesse para as indústrias de pavimentação. Existem muitos polímeros disponíveis no mercado, dentre os quais podemos citar o SBS, SBR, EVA, e como é tema do nosso trabalho, a borracha de pneu moída (BPM) e os resíduos de calçados (RCA) [20] . Muitos destes polímeros são usados para modificar asfaltos e cada um deles está associado às propriedades físicas da mistura. Blocos de estireno butadieno (SB) e estireno butadieno estireno (SBS), são copolímeros que podem aumentar a elasticidade do asfalto, portanto são 45 considerados elastômeros. Outro grupo de polímero elastomérico é a borracha de estireno butadieno (SBR), que aumenta a ductilidade do cimento asfáltico [51]. O copolímero SBS é bastante empregado na modificação de asfaltos, pois seu produto final confere resistência à fadiga e à deformação permanente. Estes asfaltos modificados geram melhor controle de temperatura e na composição de cimentos asfálticos possui um teor de asfaltenos e aromáticos mais ajustados. Porém é um polímero caro, pois além do transporte, há o custo do material, da extração e da industrialização e seu uso requer equipamentos de alto cisalhamento [3,50]. Dois ou mais diferentes materiais poliméricos podem ser adicionados em betumes, tais como o polietileno e o SBS. A habilidade em incorporar diferentes polímeros em asfalto permite uma modificação desejável nas propriedades da composição [52]. Para que a reação asfalto-polímero seja compatível, devem-se ter quatro condições importantes: A ligação deve ser suficientemente forte para garantir a dispersão de um componente em outro, a presença de um grupo funcional reativo capaz de reagir na superfície de contato dos polímeros, a reação deve ocorrer dentro do tempo de residência do polímero e a ligação deve ser estável a qualquer processo [52]. No momento, o maior interesse da literatura tem sido de aperfeiçoar a estabilidade da ligação asfalto-polímero. Estudos reológicos desses sistemas também são comuns. Pesquisas recentes têm demonstrado um grande interesse na utilização de enxofre para modificação de asfaltos [20] . Quando o ligante asfalto- polímero é preparado na presença de enxofre resulta numa melhoria da estabilidade 46 química [53] , com o qual também é objeto de nosso estudo: a adição da borracha de pneu, na presença de enxofre elementar, ao asfalto convencional. Dependendo da constituição química do asfalto, até 18% de enxofre têm sido adicionados a misturas asfálticas (sob a forma de carga), conferindo, dentre outras propriedades, boa estabilidade mecânica ao produto final. A influência da quantidade de enxofre adicionada sobre o Ensaio Marshall de uma mistura asfalto-areia está mostrada na Figura 8 [54]. Figura 8. Efeito da quantidade de enxofre sobre o ensaio Marshall. Em nosso trabalho de dissertação utilizaremos enxofre de alta pureza e em quantidades mínimas, na expectativa de se atingir ao mesmo tempo maiores efeitos reacionais do enxofre com as espécies presentes (BPM e CAP), sem, contudo causar danos ao meio ambiente, uma vez que o mesmo estará provavelmente ligado quimicamente a estas espécies. (ver Esquema 10, página 74). São inúmeras as possibilidades da aplicação desta nova tecnologia asfaltoborracha, como podemos observar na tabela 2 a seguir [48]: 47 Tabela 2. Aplicação do asfalto - borracha. Pavimento Asfalto/Borracha Tipo de aplicação • Rodovias de alto tráfego; • Trechos de baixa velocidade e tráfego pesado, como Rodovias e ruas Pavimentações especiais Aeroportos intersecções, faixas exclusivas, pontos de ônibus e avenidas principais; • Recapeamento de rodovias de concreto de cimento portland; • Qualquer aplicação em que se deseja rodovias mais duráveis e com melhor relação custo – benefício. • • • • Pontes; Pedágios; Túneis; Estacionamentos. • Pista para táxi; • Pista de pouso (aviões); • Pátios de estacionamento. 2.7 ASFALTOS MODIFICADOS POR RESÍDUOS DE PNEUS E DE CALÇADOS 2.7.1 Origem da borracha natural, de pneus e reutilização de seus resíduos Partindo do princípio, desde a história da borracha, seguindo do surgimento de pneus e a importância de sua reciclagem em pavimentos asfálticos, tem-se que a borracha natural é um polímero obtido da seiva da seringueira, árvore de origem amazônica, mas que ganhou o mundo, principalmente pela rápida adaptação que sofreu quando, na virada do século, foi plantada com sucesso nas florestas tropicais asiáticas [55]. 48 Para sua extração, são feitos pequenos cortes superficiais no caule da árvore, através dos quais o látex é captado. Depois de sua coagulação e secagem, este material é aquecido e posteriormente processado com outras substâncias químicas, transformando-se em borracha [55]. A Figura 9 abaixo ilustra uma seringueira. Figura 9. Fotografia de uma seringueira A borracha natural é um hidrocarboneto com a configuração de um poliisopreno, cujas moléculas apresentam a fórmula C5H8, com os carbonos ligados entre si por ligações duplas [55]. H3C n 49 Com o passar do tempo, criou-se na Alemanha a tecnologia para a produção da borracha sintética a partir do petróleo. A matéria-prima principal da borracha sintética é o gás butadieno que pode ser extraído do petróleo. Quando deixado em repouso se polimeriza, como o isopreno. Estas pequenas moléculas do butadieno se encadeiam gradualmente, formando moléculas grandes, obtendo-se uma borracha mais durável e com maior elasticidade [55]. No Brasil, a maior parte da borracha produzida industrialmente é usada na fabricação de pneus, correspondendo a 70% da produção. Além disso, também tem sido empregada na produção de calçados e instrumentos cirúrgicos (tubos, seringas, luvas cirúrgicas, preservativos, etc.) [55]. Os pneus foram inventados em 1845, depois que o norte-americano Charles Goodyear descobriu casualmente o processo de vulcanização da borracha, quando deixou cair borracha e enxofre sobre uma placa aquecida de um fogão. São compostos aproximadamente por 30% (em peso) de aço, 20 a 26% de borracha sintética e 21 a 33% de borracha natural. Geralmente, um pneu com cerca de 9 kg fornece entre 4,5 a 5,5 kg de borracha de pneu moída (BPM) [55]. Com o desenvolvimento da indústria automobilística no século XX, o consumo de pneus atingiu números exorbitantes. Cerca de 285 milhões de pneus, o equivalente a mais de dois milhões de toneladas de borracha, são descartados anualmente nos Estados Unidos. No Brasil, são introduzidos no mercado aproximadamente 61 milhões de pneus por ano, sendo que 38 milhões são resultados da produção nacional e 23 milhões são pneus reaproveitados [56]. No Brasil, 100 milhões de pneus velhos estão espalhados em aterros, terrenos baldios, rios e lagos, segundo estimativa da Associação Nacional da Indústria de 50 Pneumáticos (Anip). E, a cada ano, dezenas de milhões de pneus novos são fabricados no País. Em 2001, foram 45 milhões – cerca de 15 milhões exportados e 30 milhões destinados ao consumo interno. Sua principal matéria-prima, a borracha vulcanizada, mais resistente que a borracha natural, não se degrada facilmente e, quando queimada a céu aberto, contamina o meio ambiente com carbono, enxofre e outros poluentes. Esses pneus abandonados não são apenas um problema ambiental, mas também de saúde pública, pois acumulam água das chuvas, formando ambientes propícios à disseminação de doenças como a dengue e a febre amarela. Além disso, a disposição de pneus em aterros sanitários é problemática, pelo fato dos pneus dificultarem a compactação, reduzindo significantemente a vida útil dos aterros [57] . As Figuras 10 e 11 ilustram os problemas desses pneus dispostos em lugares inadequados. Figura 10. Pneus queimados a céu aberto Figura 11. Pneus em aterros Existem diversas formas de reutilização de pneus inservíveis, como a reciclagem para a fabricação de novos pneus e câmaras de ar, geração de energia através da queima de pneus. Através do avanço tecnológico, surgiram novas aplicações para os pneus inservíveis, tal como a mistura com asfalto-borracha, que é considerada nos Estados Unidos uma das melhores soluções para a disposição dos milhões de pneus descartados anualmente [13]. 51 A borracha de pneu pode ser incorporada aos materiais asfálticos através de dois processos: úmido ou seco. Por via úmida, a borracha de pneu moída (de acordo com a pesquisa, cerca de 5 a 20% do peso total de ligante), é incorporada ao CAP antes de se adicionar o agregado. No processo a seco, a borracha de pneu é misturada com o agregado antes de se adicionar ao CAP [13]. Estima-se que 40% dos gastos públicos com rodovias sejam empregados em pavimentos. Considerando-se os custos para usuários (consumo de combustível, desgaste de pneus e equipamentos), da ordem de 10 vezes maiores que os custos para os organismos rodoviários (construção, manutenção e restauração). Os custos totais da modalidade rodoviária podem representar de 2 a 17% do PIB de um País [58]. Portanto, no caso da utilização de pneus usados em obras de pavimentação, além da redução significativa dos problemas ambientais, as pesquisas devem em primeiro lugar considerar os impactos sobre a qualidade dos pavimentos asfálticos, pois as rodovias representam grande parcela dos investimentos em transportes [58]. 2.7.2 Vulcanização do elastômero com o enxofre A vulcanização da borracha natural é realizada através de um mecanismo que resulta em ligações cruzadas entre as moléculas do elastômero com o enxofre. Esta estrutura cíclica do enxofre é rompida durante a vulcanização, como está mostrado abaixo [59]. 52 Portanto, as moléculas de enxofre adicionais podem reagir com a borracha de pneu moída através dessas ligações cruzadas (ver Esquema 7), ionicamente ou via radicais livres gerados. S H2 C CH C H2 S S S S n Polibutadieno S S S S S Enxofre C H H C C H2 C H H2 C H C C H2 C H S H C H2 C H2 C CH S H2 C C H2 S C H S H C H C S C H2 S C H C H2 H C H2 C C H H2 C H C C H2 C H m Borracha vulcanizada Esquema 7. Esquema das ligações cruzadas da borracha com o enxofre Durante o processo de vulcanização da borracha, algumas de suas propriedades são alteradas devido a estas ligações cruzadas. Dentre estas, tem-se que [59]: • O elastômero passa do estado plástico para o estado elástico; • A solubilidade em solventes orgânicos é minimizada; • A capacidade de inchamento é limitada; Além destas propriedades, ocorre modificação de certas propriedades mecânicas e físicas importantes, tais como [59]: • Resistência à tensão; • Resistência a baixas temperaturas; 53 • Elasticidade; • Módulo de elasticidade. A variação das propriedades mecânicas (resistência à tensão e módulo de elasticidade) depende da natureza do elastômero. No caso da borracha natural, NR, ambas as propriedades em relação à vulcanização do elastômero com o enxofre são aumentadas, e posteriormente segue na diminuição das mesmas. Em relação ao SBR, a resistência à tensão com a vulcanização é praticamente constante, enquanto que o módulo de elasticidade é aumentado [59]. 2.7.3 Vantagens ecológicas e sociais do asfalto modificado por borracha. Através da modificação do asfalto convencional com a adição da borracha de pneu moída, os aspectos ecológicos e sociais são beneficiados da seguinte forma [20]: • Redução de pneus depositados em aterros sanitários e de incêndios provocados por esses pneus inservíveis; • Redução aos focos de criação de insetos prejudiciais à saúde e até letais ao ser humano; • Redução da poluição visual causada pelo descarte de pneus em locais inadequados; • Redução da demanda de petróleo (asfalto), devido à substituição de parte do asfalto por borracha de pneu moída e também pela maior durabilidade que 54 será alcançada na vida útil de nossas estradas. Não esquecendo que o petróleo, e por conseqüência o asfalto, é uma fonte não renovável de energia; • Oportunidade de novos empregos de forma direta nas empresas de reciclagem e indiretamente ao processo de movimentação de pneus inservíveis. Karina Beltrão Cambuim 55 2.7.4 Vantagens e desvantagens técnicas da aplicação do asfalto borracha 2.7.4.1. Vantagens da mistura asfalto-borracha O acréscimo da borracha de pneu moída na composição do CAP modifica suas características físicas, resultando em uma série de vantagens que justificam seu custo e aplicação. Estas mudanças são de extrema importância para auxiliar os técnicos na escolha das proporções corretas da mistura para cada caso específico de pavimentação [20]. O ligante asfáltico modificado por borracha de pneu moída apresenta as seguintes vantagens técnicas [14]: • Resistência ao envelhecimento O CAP convencional, por possuir em sua estrutura, moléculas com ligações insaturadas, tende a se oxidar sob determinadas condições climáticas, resultando num envelhecimento precoce do pavimento. A presença de antioxidantes na borracha de pneu auxilia para uma maior resistência ao envelhecimento por oxidação. • Redução da susceptibilidade térmica Nos dias quentes, ocorre uma maior degradação do pavimento causada pelo aquecimento do asfalto. Isto acontece porque há quebra nas moléculas do asfalto, aumentando, assim, as pressões internas do pavimento e resultando na liberação de Karina Beltrão Cambuim 56 partículas de oxigênio para a atmosfera. Surge, portanto micro-rachaduras (trincas) na superfície do pavimento. Estas aberturas podem favorecer infiltrações de água para a base da pavimentação, propiciando no desgaste do mesmo. Entretanto, o asfalto-borracha possui como propriedade a redução da susceptibilidade térmica, resultando num ligante mais resistente às variações de temperatura e o seu desempenho tanto a altas, como baixas temperaturas é melhor quando comparado com pavimentos construídos com ligantes convencionais. • Aumento da flexibilidade A adição da borracha de pneu moída ao asfalto assegura uma maior flexibilidade, devido a maior concentração de elastômeros presentes na borracha, onde o responsável por esta elasticidade é o SBS. Isto implica em uma maior resistência às variações de temperatura e à fadiga mecânica causada pelas forças de tração e compressão aplicadas sobre ele. Ou seja, o composto oferece maior resistência à deformação permanente. • Maior adesividade aos agregados O asfalto convencional possui uma viscosidade inferior quando comparada ao asfalto modificado por borracha de pneu. Então, com o aumento da viscosidade, esta aderência com os agregados é melhorada, pois a espessura de película sobre o agregado é superior àquela encontrada com CAP’s convencionais. Tal fato assegura um menor envelhecimento do ligante durante a usinagem e aumento da resistência do composto à degradação e às variações de temperatura. Karina Beltrão Cambuim 57 A aderência asfalto-borracha com os agregados, também pode ser explicada através da temperatura de transição vítrea (Tg). A uma temperatura inferior a Tg, o material torna-se rígido, acima da qual, o material inicia um processo de fusão dos domínios cristalinos até atingir a temperatura de fusão (Tm), e a uma temperatura superior à temperatura de fusão, o material torna-se fluido e menos aderente. Então, como a Tg do asfalto modificado é aumentada quando comparada ao asfalto convencional, favorece a adesividade com os agregados e torna-se um material mais rígido. • Melhor aderência pneu-pavimento Além de fortalecer a pavimentação das estradas, o asfalto modificado também proporciona maior aderência e conforto na rodagem dos veículos. A borracha de pneu moída permite que a superfície da pavimentação fique lisa por mais tempo, reduzindo o contato dos pneus com o agregado, favorecendo assim, uma maior aderência entre os pneus dos automóveis e o pavimento asfáltico. • Redução do ruído provocado pelo tráfego Outro benefício alcançado é a diminuição dos níveis de ruídos provocados pelo tráfego numa faixa de 65-85%, devido à uniformidade da pista. Esta uniformidade é gerada pela aderência entre o pneu e o asfalto modificado, por ambos apresentarem estruturas emborrachadas. Karina Beltrão Cambuim 58 • Redução da espessura do pavimento Um asfalto convencional possui uma espessura de 5,0 cm, entretanto, após este ser misturado com a borracha de pneu, esta é reduzida para 3,5 - 4,0 cm. Esta diminuição se deve a maior elasticidade e flexibilidade do produto final, possuindo como vantagem a redução da quantidade de material asfáltico utilizada. • Maior resistência à propagação de trincas e à formação de trilhas de roda Devido à maior flexibilidade do asfalto emborrachado, o pavimento resiste a propagação de rachaduras e de trilhas de roda. Como as trincas permitem a infiltração de água agindo nas camadas inferiores da via, cria buracos e a deterioração da superfície. Observamos, portanto, que embora haja um aumento dos custos de produção, o cimento asfáltico de petróleo modificado por borracha de pneu moída oferece vantagens que justificam seu uso. O aumento da durabilidade do asfalto implica em uma redução direta dos custos de manutenção gerenciada pelas instituições públicas anualmente. Devemos ressaltar também a contribuição social que este produto proporciona, utilizando pneus usados como matéria prima para sua fabricação, contribuindo para a reciclagem do lixo em uma escala nacional. Karina Beltrão Cambuim 59 2.7.4.2. Desvantagens da mistura asfalto-borracha Apesar de haver muitos benefícios, a adição de polímeros ao asfalto produz uma mistura mais complexa, devido a alta massa molecular do polímero. A formação de um sistema homogêneo não é simples e surgem problemas de incompatibilidade. Portanto um dos fatores essenciais a ser observado é a proporção ideal do polímero [60]. Além disso, tem-se o fator econômico, onde o asfalto-borracha é cerca de 25 - 30 % mais caro do que o asfalto convencional por necessitar de um processo de produção adicional. 2.8 APLICAÇÕES DO ASFALTO-BORRACHA NO MUNDO Pneus têm uma vida útil de um a dois anos e uma vida inútil de 600 anos quando não são reciclados. O asfalto-borracha, composto de asfalto do petróleo e borracha começa a ser testado no Brasil, contribuindo para a preservação ambiental, reduzindo os custos de manutenção e aumentando a vida útil das estradas. Segue abaixo alguns lugares no mundo, cuja aplicação do asfalto emborrachado já foi efetuado: • A primeira tentativa de se modificar as propriedades dos betumes com borracha foi em 1898 na Inglaterra, cujo processo patenteado originava um produto chamado “rubber-bitumen” [61]. • No Brasil, no estado do Rio Grande do Sul, uma parceria envolvendo a Metrovias, a Greca Asfaltos e a UFRGS construiu o primeiro trecho de asfalto Karina Beltrão Cambuim 60 borracha via úmida do país. Trata-se de aproximadamente dois quilômetros (entre os quilômetros 318 e 320 da BR 116) próximo a cidade de Guaíba em agosto de 2001 [7,62]. • Desde junho de 2003, o governo do Estado do Rio Grande do Sul testa a durabilidade do asfalto enriquecido com borracha. Os testes estão sendo feitos em dois lugares no estado. Um deles é no quilômetro 28 da RS 122, junto ao posto da Polícia Rodoviária Estadual em Bom Princípio. O outro fica no quilômetro 7 da RS 240 [63]. • No início de 2002, foram construídos mais 13,6 quilômetros de restauração com asfalto-borracha em rodovias do Paraná: 7,5 km na PR-090 em Piraí do Sul, 4,8 km na BR-376, em Apucarana, e 1,3 km na BR-277, em Campo Largo, onde o tráfego na rodovia é superior a 15 mil veículos/dia [64]. • Em Santos (SP), experiências com o asfalto a base de pneus têm sido realizadas em pequena escala, cujo mecanismo utilizado é o processo a seco. Já nas rodovias dos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul está sendo utilizado o processo úmido [64]. • Em Campo Grande, MS foi aprovada a lei que autorizou a implementação do uso do asfalto - borracha ou asfalto ecológico em atividades de pavimentação e recapeamento das vias públicas da cidade. Por asfalto ecológico, no contexto da presente lei, utiliza-se na composição do asfalto a borracha reciclada de pneus descartados [65]. • A aplicação do asfalto modificado foi realizada pela primeira vez na Av. Washington Soares em Fortaleza, em novembro de 1995. Novamente, dois Karina Beltrão Cambuim trechos 61 experimentais utilizando a tecnologia asfalto-borracha foram realizados no Ceará em 22 de setembro de 2003. Pioneira fora das regiões Sul e Sudeste do país, esta iniciativa contou com a articulação da PETROBRAS, LUBNOR e CENPES, BR, UFC, Prefeitura Municipal de Fortaleza e Departamento de Edificações Rodovias e Transportes do Estado do Ceará. Cada trecho teve aproximadamente 250 m, sendo um recapeamento e um revestimento em pavimento novo. A PETROBRAS foi responsável pela produção e transporte do ligante modificado [66]. • Na Alemanha, surgiram novas aplicações da mistura da BPM com o asfalto, em concentração de 15 % a 25 % [67]. • Em países como Canadá, Austrália e Portugal, a utilização de misturas asfálticas com ligantes modificados por borracha de pneu vem sendo feita desde os anos 70 [64]. • Nos EUA, os estados da Califórnia, Flórida e Arizona já possuem, atualmente, um grande conhecimento a respeito da utilização de resíduos de borracha em pavimentação. Somente no estado do Arizona, mais de 3.300 km de rodovias foram construídas ou restauradas utilizando ligantes modificados com borracha. Durante os nove anos em que a rodovia foi acompanhada, ela apresentou excelente desempenho, não apresentando deformações plásticas excessivas nem fissuras. O Departamento de Transportes da Califórnia (CALTRANS) vem utilizando, de forma sistemática, o asfalto borracha por via úmida e, desde 1987, as espessuras das camadas asfálticas com borracha, têm sido reduzidas em relação às utilizadas nos pavimentos convencionais [20,68]. Karina Beltrão Cambuim 62 CAPÍTULO III 3. Materiais e Métodos Neste capítulo são indicadas as procedências dos materiais que foram utilizados neste trabalho. Será apresentada uma descrição dos ensaios de caracterização a que estes materiais foram submetidos e o procedimento experimental utilizado. 3.1 Materiais 3.1.1 Reagentes e solventes Os principais reagentes, aditivos e solventes empregados neste trabalho de dissertação estão relacionados a seguir: • Cimento asfáltico de petróleo (CAP 20) – procedência: REGAP / oriundo de petróleos brasileiros; utilizado como recebido (Figura 12). • Borracha de pneu moída (BPM / pneu de caminhão) – procedência: Recuperadora de Pneus Borborema LTDA; utilizada como recebida com granulometria de 40 mesh (Figura 13). • Resíduo de Calçado da Alpargatas (RCA) – procedência: fábrica São Paulo Alpargatas, Campina Grande / PB; Utilizado como recebido (Figura 14). • Enxofre – procedência: Vetec - Química Fina LTDA; grau de pureza: 99,5 %; utilizado como recebido. Karina Beltrão Cambuim 63 • Peróxido de Benzoíla – procedência: Vetec - Química Fina LTDA; grau de pureza: 98%; utilizado como recebido. • Óleo de silicone (DC 200 Fluid 350 cs) – procedência: D´altomare Química LTDA; utilizado como recebido. • Querosene Petrobrás – procedência: comercial; utilizado como recebido. Karina Beltrão Cambuim 64 Figura 12. Amostras de CAP Figura 13. Amostras de BPM Figura 14. Amostra de RCA Karina Beltrão Cambuim 65 3.1.2 Equipamentos utilizados Além das aparelhagens comuns aos laboratórios de pesquisa foram usados nesta dissertação os seguintes equipamentos: • Viscosímetro Brookfield, especificação RVDV – II (Figura 15) (1). • Microscópio eletrônico de varredura (MEV), especificação Jeol JSM – 5610 LV (Figura 16) (2). • Aparelho de RTFOT, especificação Despatch (Figura 18) (1). • Equipamento (DSR), especificação Dynamic Shear Rheometer (Figura 19)(1). • Equipamento RPA (Analisador de processamento de borracha), especificação RPA 2000 (Figura 20) (2). • Reator, especificação tipo Ketlle (3). • Balança de precisão, especificação Metler 9200 (3). • Agitador mecânico, especificação Fisatom/ Variac-Powerstat (3). _____________________________________ (1) Laboratório do Departamento de Engenharia de Transporte da Universidade Federal do Ceará (UFC); (2) Laboratório do Instituto de Macromoléculas da UFRJ (IMA/UFRJ); (3) Laboratório do Departamento de Engenharia de Materiais (DEMA) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Karina Beltrão Cambuim Figura 15. Fotografia do Viscosímetro Brookfield utilizado Figura 16. Fotografia do Microscópio eletrônico de varredura utilizado. 66 Karina Beltrão Cambuim Figura 17. Fotografia do equipamento RTFOT utilizado. Figura 18. Fotografia do equipamento para ensaio dinâmico mecânico (DSR) Figura 19. Fotografia do equipamento RPA utilizado 3.2 Métodos utilizados 67 Karina Beltrão Cambuim 68 3.2.1 Procedimento experimental 3.2.1.1 Preparação do asfalto modificado com BPM, S, RCA ou PBO. Para que fossem atingidos os objetivos propostos desta dissertação, além da literatura pesquisada, algumas normas técnicas da Petrobrás foram utilizadas como suporte. Procedimento: Inicialmente, foi realizado um pré – aquecimento do CAP 20 até atingir a temperatura de 100ºC, devido à elevada viscosidade do mesmo. O CAP 20 foi transferido para um reator, onde foi aquecido a uma faixa de temperatura variando de 170 – 190ºC, sob agitação lenta. Em seguida, incorporou-se gradativamente a borracha de pneu moída (BPM) ao CAP, numa proporção entre 5 – 20 %, e finalmente adicionou-se o enxofre (2%). Foi exigido o controle de temperatura à 190ºC, uma agitação mecânica de 170 rpm, durante o período de 60 minutos. O mesmo procedimento foi realizado na modificação do CAP 20 com o resíduo de calçado (RCA) e Peróxido de Benzoíla e as mesmas proporções foram obedecidas (ver mecanismo reacional nos Esquemas 10 e 11). Após realizações das misturas, iniciou-se a caracterização através das análises físico-químicas, reológicas e espectrométricas. Karina Beltrão Cambuim 69 A seguir o procedimento metodológico para obtenção do CAP modificado por borracha de pneu moída ou por resíduo de calçado: Esquema 8. Etapas da metodologia aplicada para obtenção do asfalto modificado por BPM. Esquema 9. Etapas da metodologia aplicada para obtenção do asfalto modificado por RCA. Karina Beltrão Cambuim 70 S BETUME ou CAP 20 S S S S S Saturados Enxofre S S S6 S S S6 S S Aromáticos H C ASFALTO MODIFICADO N S S Resinas Borracha de pneu moida (BPM) Asfaltenos S C H2 C H H2 C H2 C S CH S H C C H C H2 H C CH C H2 S H S C C S H S H C C H2 S H2 C H2 C S C H C H C H2 H2 C H C H C C H2 C H2 C H H C H2 C H2 C C H m Esquema 10. Esquema da obtenção do asfalto modificado usando BPM e enxofre. Karina Beltrão Cambuim 71 PERÓXIDO DE BENZOÍLA - PBO O O BETUME ou CAP 20 Saturados O O Aromáticos H C ASFALTO MODIFICADO N S S Resinas Asfaltenos RESÍDUO DE CALÇADOS ALPARGADAS - RCA (predominância do polímero SBR) S n Aditivos Esquema 11. Esquema da obtenção do asfalto modificado usando PBO e RCA Karina Beltrão Cambuim 72 3.2.2. Caracterizações A avaliação do desempenho e posterior análise da viabilidade de utilização de misturas asfálticas com resíduos de borracha (pneus e calçados) foi realizada por intermédio de ensaios descritos a seguir. 3.2.2.1 Viscosímetro Brookfield O viscosímetro Brookfield é um equipamento que mede a consistência do material, determinando-se a viscosidade aparente do CAP a temperaturas superiores a 100ºC. Para que o ligante asfáltico modificado com borracha tenha capacidade de ser analisado, este deve ser aquecido a uma temperatura de aproximadamente 175ºC, específicas para análises de asfalto. A viscosidade é medida através do torque necessário para girar a palheta, spindle, imersa na amostra de asfalto aquecida, a velocidade constante. 3.2.2.2 Caracterização por microscopia eletrônica de varredura (MEV) A análise por microscopia eletrônica de varredura fornece informações sobre a morfologia da superfície do material. Portanto, através do MEV, pode-se obter informações do ligante asfáltico quando modificado por borracha, relativa à homogeneidade ou heterogeneidade do mesmo. Podendo ser observado uma maior ou menor interação entre as fases do sistema. A resolução do MEV está entre 3nm e 20nm, dependendo do instrumento utilizado. Dissertação de mestrado 73 3.2.2.3. Ensaio de envelhecimento – RTFOT A estufa de filme fino rotativo (RTFOT) simula o envelhecimento do material asfáltico modificado por borracha. A amostra é colocada numa prateleira giratória em uma estufa com circulação forçada de ar a uma temperatura de 163ºC, durante 5 horas. A cada rotação da placa, a abertura do frasco com a amostra passa diante de um jato de ar. Após o ensaio calcula-se a perda de massa pela perda de peso da amostra, indicando a volatilidade do asfalto. 3.2.2.4. Ensaio dinâmico mecânico (DSR) Este equipamento mede o módulo de cisalhamento complexo G* e o ângulo de fase δ, a temperaturas e freqüências desejadas. A técnica baseia-se na prensagem do ligante entre uma placa fixa e outra giratória onde um torque é aplicado girando a placa de um ponto A até um ponto B, em seguida para um ponto C, enfim retornando para o ponto A. Neste trabalho, o reômetro de cisalhamento dinâmico foi utilizado para determinar as propriedades físicas do ligante modificado, segundo as especificações SUPERPAVE, que se baseia no desempenho do material, especificando os mesmos com base no clima e na temperatura do pavimento. Dissertação de mestrado 74 3.2.2.5. Caracterização utilizando analisador de processamento de borracha (RPA). Muitos ensaios de borrachas e compostos emborrachados são possíveis quando a frequência, deformação, temperatura e tempo podem ser modificados. Então, partindo-se para a análise de nossas amostras de asfalto modificado por borracha de pneu e de calçados, pode-se obter através do RPA a Viscosidade dinâmica complexa n*, Torque viscoso S”, módulo de armazenamento G’. Este equipamento realiza ensaios segundo as normas ASTM D 6204 D 5289 e D 6601. Dissertação de mestrado 75 CAPÍTULO IV 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Neste capítulo serão apresentados e avaliados os dados experimentais referentes à obtenção do asfalto modificado por borracha de pneu e resíduo de calçados. 4.1 Viscosidade aparente (Brookfield) do CAP modificado 4.1.1 Viscosidade aparente (Brookfield) do CAP 20 modificado com BPM em presença ou ausência de enxofre Através do gráfico da Figura 21, observa-se a ocorrência de um acréscimo gradativo da viscosidade com o aumento do teor de BPM (borracha de pneu moída). Para os baixos percentuais de BPM (5-10%), a mistura apresenta um comportamento pseudoplástico, tendendo a Newtoniano. Para maiores percentuais de BPM (15 a 20 % de BPM) a viscosidade aumenta com maior intensidade em relação às outras composições, adquirindo taxas de cisalhamento específicas para cada mistura, assumindo um comportamento característico dos fluidos pseudoplásticos. Isto se tornou mais evidente para composições próximas a 20 % de BPM. Este comportamento indica um caráter viscoelástico acentuado da composição, resultando na melhoria das propriedades do ligante em relação à tensão e deformação (fato confirmado através dos ensaios de DSR). Dissertação de mestrado 76 7.000 6.000 CAP 20 Puro Viscosidade (Cp) 5.000 CAP 5% BPM 4.000 CAP 10% BPM CAP 15% BPM 3.000 CAP 20% BPM 2.000 1.000 000 000 100 200 300 400 500 600 700 800 Taxa de Cisalhamento (1/s) Figura 20. Viscosidade Brookfield versus taxa de cisalhamento do CAP 20 puro ou modificado com 5, 10, 15 e 20 % de BPM. 4.1.2 Viscosidade aparente (Brookfield) do CAP 20 modificado com RCA em presença de PBO Nestas amostras foi realizada a mesma metodologia aplicada anteriormente, acoplando-se uma câmara Termosel para aquecimento da amostra a 135ºC. As Figuras 22 e 23 mostram o efeito do percentual do resíduo e calçados (RCA), em presença de 2% de PBO, na Viscosidade Brookfield do CAP 20. Observou-se um aumento gradual, quase que proporcional, da Viscosidade Brookfield da mistura reacional, com o acréscimo percentual do RCA. Entretanto, através dos ensaios de DSR e RPA observou-se que estas amostras modificadas Dissertação de mestrado 77 com diferentes percentuais de RCA + 2% de PBO, apesar de apresentarem uma elevada rigidez e ductilidade até determinadas temperaturas (T≅ 80ºC), se mostraram bastante fluidas a altas temperaturas (T>135ºC), inviabilizando que algumas medidas de Viscosidade, DSR e RPA, fossem realizadas. O comportamento reológico destas amostras é de grande interesse para indústria de asfalto, pois normalmente deseja-se que os CAP’s apresentem boas propriedades de rigidez, viscosidade e ductilidade em temperaturas de uso, mas que ao mesmo tempo tenham boas condições de manuseio e fluidez a temperaturas não muito altas, para facilitar a sua aplicação. Portanto, a presença do RCA + 2% PBO, sobre o CAP 20, provavelmente resulta em interações físicas (através dos constituintes polares ou apolares da mistura) ou reações químicas (através dos radicais gerados pelo PBO) que transferem algumas das propriedades físicas e térmicas do RCA para o CAP 20 modificado. Dissertação de mestrado 78 Velocidade: 20 rpm Temperatura: 135ºC Ativador: Peróxido de Benzoíla (2%) Viscosidade Brookfield (cP) 10000 8000 6000 4000 2000 10 12 14 16 18 20 22 24 % RCA Figura 21. Viscosidade Brookfield do CAP 20 versus percentual de resíduo de calçados (em peso) (RCA) a 20 rpm. Viscosidade Brookfield (cP) 10000 Velocidade: 60 rpm Temperatura: 135ºC Ativador: Peróxido de Benzoíla 8000 6000 4000 2000 10 12 14 16 18 20 22 24 %RCA Figura 22. Viscosidade Brookfield do CAP 20 versus percentual (em peso) de resíduo de calçados (RCA) a 60 rpm. Dissertação de mestrado 79 4.2 Ensaio RPA Vários ensaios de nossas amostras de CAP 20 modificadas com BPM foram realizados variando-se freqüência, deformação, temperatura e tempo. O RPA pode fornecer, dentre outros parâmetros, o torque elástico S', o torque viscoso S", o módulo de armazenamento G' e a viscosidade dinâmica complexa n∗. Os resultados obtidos através do RPA para o torque viscoso, S “e o módulo de armazenamento, G’ estão mostrados a seguir nas figuras 24 e 25. Os valores de G’ e S” aumentaram gradualmente em função da deformação senoidal (deg) e da freqüência (cpm), para os diferentes percentuais de CAP 20 com BPM, em presença ou ausência de enxofre. Pode-se observar também, que as amostras contendo 2% de enxofre apresentaram valores de G’ e S” superiores as que não continham, para todos os percentuais de BPM. Este resultado era esperado, uma vez que a presença do enxofre de alta pureza poderia levar a possíveis reações via radicais livres ou interações iônicas com as diversas espécies do CAP 20 presentes no meio reacional. Portanto, o acréscimo gradual de S” e G’, para os diferentes percentuais de BPM, representa uma melhoria significativa nas propriedades elásticas e viscoelásticas do CAP 20 modificado com enxofre ou mesmo em sua ausência. Dissertação de mestrado 80 90 CAP20 20% BPM 2%S CAP20 15% BPM 2% S CAP20 15% BPM CAP20 10% BPM CAP20 5% BPM 80 70 60 G' (KPa) 50 40 30 20 10 0 2 5 10 20 50 100 200 500 -10 Frequência (cpm) Figura 23. Módulo de armazenamento (G’) versus freqüência para os diferentes percentuais de BPM na presença ou ausência de enxofre. 1 0,9 CAP20-5% BPM CAP20 10% BPM CAP20-15% BPM CAP20-15% BPM 2%S CAP20 20% BPM 2%S Torque viscoso, S'' (dNm) 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 0,1 0,2 0,5 1 1,5 2 2,5 3 5 10 20 Deformação senoidal (deg) Figura 24. Torque viscoso versus deformação senoidal para os diferentes percentuais de BPM na presença ou ausência de enxofre. Dissertação de mestrado 81 Os resultados obtidos para a viscosidade dinâmica complexa, n*, para as mesmas amostras (ver Figura 26) mostram um decréscimo acentuado nas baixas freqüências (0,1 a 0,5 cpm), atingindo um comportamento constante para as freqüências superiores. Tal comportamento justifica-se pelas possíveis rupturas de interações químicas ou físicas de pequena intensidade (tipo ligações de Van der Walls), que após serem rompidas levam a uma estabilização posterior de n*. Entretanto, as amostras contendo enxofre ou maiores percentuais de BPM apresentaram sempre valores de n* mais elevados, antes e após a estabilização, para valores elevados da freqüência, como esperado. 90000 80000 CAP20 20% BPM 2%S CAP20-15% BPM-2%S CAP20-15% BPM CAP20 10% BPM CAP20-5% BPM 70000 n* (Pa.s) 60000 50000 40000 30000 20000 10000 0 0,1 0,2 0,5 1 1,5 2 2,5 3 5 10 20 Frequência (cpm) Figura 25. Viscosidade dinâmica complexa versus freqüência para diferentes percentuais de BPM na presença ou ausência de enxofre. Dissertação de mestrado 82 4.3 Ensaio dinâmico mecânico (DSR) Os resultados obtidos através do DSR para o CAP 20 modificado tanto com o enxofre + borracha de pneu moída (BPM), como para o resíduo de calçados das Alpargatas (RCA) + peróxido de benzoíla, expresso através do grau de desempenho (PG), apresentaram valores superiores (PG = 82 e PG ≥ 88) aos valores de PG do CAP 20 puro, que se situa em torno de 64 (ver Tabela 3 a seguir). Estudos mostram que a adição de 3% de polímero ao asfalto, pode aumentar o grau de desempenho de um a dois níveis. Então, nossos resultados mostraram-se bastante satisfatórios. Estas medidas demonstram que houve um aumento acentuado da rigidez dos CAP`s 20 modificados, o que representa também uma melhoria nas propriedades de dureza e penetração, reduzindo, desta forma, a possibilidade de formação de trilhas no pavimento e resistência ao acúmulo de deformação permanente. Para o caso do CAP 20 modificado com RCA + 2% de PBO, os resultados se mostraram particularmente muito interessantes, por apresentarem alta rigidez e ductilidade a temperaturas próximas a temperatura de utilização do asfalto modificado e uma boa fluidez a temperaturas não muito elevadas, facilitando assim, a aplicação dos asfaltos (resultados confirmados através da viscosidade Brookfield e do grau de desempenho, PG). Dissertação de mestrado 83 Tabela 3. Grau de Desempenho do CAP 20 modificado tanto com o S + BPM, como para RCA + 2% PBO. Amostras Grau de Desempenho (GP) CAP 20 + RCA(5%) + peróxido de benzoíla (2%) 88 CAP 20 + RCA(10%) + peróxido de benzoíla (2%) >88 CAP 20 + RCA(15%) + peróxido de benzoíla (2%) >88 CAP 20 + RCA(20%) + peróxido de benzoíla (2%) >88 CAP 20 + BPM (5%) 82 CAP 20 + BPM (10%) 88 CAP 20 + BPM (15%) >88 CAP 20 + BPM (5%) + Enxofre (2%) 88 4.4 Ensaio de envelhecimento - RTFOT Os resultados da análise de RTFOT, realizada para o CAP 20 modificado com diferentes percentuais de borracha de pneu moída (BPM), apresentaram pequenas perdas de massa, insignificantes em um processo industrial, que podem ser atribuídas a volatilização de alguns componentes orgânicos de CAP 20 (hidrocarbonetos), componentes da formulação do pneu (óleos leves) ou mesmo algum processo degradativo, como pode ser observado na tabela a seguir: Tabela 4. Ensaio de RTFOT para o CAP 20 modificado com BPM. Amostras Peso Vazio (g) CAP 20 + BPM (5%) CAP 20 + BPM (10%) CAP 20 + BPM (15%) 180,495 178,540 179,898 Peso cheio antes do envelhecimento (g) 215,649 213,717 214,954 Peso envelhecido (g) 215,588 213,645 214,863 Perda de massa/ envelhecimento (%, peso) 0,17 0,20 0,25 Dissertação de mestrado 84 4.5 Microscopia eletrônica de varredura (MEV) Através da análise de microscopia eletrônica de varredura (Figuras 27 e 28), observou-se que a amostra na qual continha CAP 20 na presença de 5% BPM e 2% de enxofre mostrou-se mais homogênea do que a mistura reacional de CAP 20 com 5% BPM na ausência de enxofre. Esta homogeneidade indica uma maior interação química das moléculas do enxofre e do CAP através das duplas ligações da borracha. Figura 26. Microscopia eletrônica de varredura da mistura de CAP 20 + 5% BPM. Figura 27. Microscopia eletrônica de varredura da mistura de CAP 20 + 5% BPM + 2% S. Dissertação de mestrado 85 CAPÍTULO V CONCLUSÕES Avaliando conjuntamente todos os resultados obtidos para as duas composições estudadas, concluiu-se que: • Através da viscosidade Brookfield, observou-se um aumento na viscosidade à medida que foi aumentado o teor de borracha, tanto de pneu, como de calçados ao CAP, mostrando melhoria nas propriedades viscoelásticas do asfalto modificado; • Os resultados obtidos por RPA mostraram um acréscimo gradual de S” e G’, para os diferentes percentuais de BPM, mostrando uma melhoria significativa nas propriedades elásticas e viscoelásticas do CAP 20 modificado com enxofre ou mesmo em sua ausência. • A análise de DSR forneceu valores ótimos para o grau de desempenho (PG), pois apresentaram valores superiores (PG = 82 e PG ≥ 88) aos valores de PG do CAP 20 puro, que se situa em torno de 64. Aumentando-se a resistência a deformação permanente; • Através da análise de RTFOT, observou-se insignificantes perdas de massa do material asfáltico modificado com borracha de pneu moída, podendo ser atribuída à volatilização de alguns componentes orgânicos do CAP ou de Dissertação de mestrado 86 componentes da formulação do pneu (óleos leves), a serem confirmados posteriormente; • Observou-se na microscopia eletrônica de varredura (MEV), uma maior homogeneidade na mistura que continha enxofre, podendo ser atribuído a uma maior interação química das moléculas do enxofre e do CAP, com as duplas ligações da borracha. Portanto, os estudos reológico e físico do cimento asfáltico de petróleo modificado com borracha de pneu moída e enxofre mostraram que houve melhoria nas propriedades do asfalto convencional, CAP 20, contribuindo para uma maior resistência à deformação permanente e ao envelhecimento, e uma maior flexibilidade do asfalto. Dissertação de mestrado 87 5.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS POSTERIORES Este trabalho mostra a importância de novas pesquisas, que levem em consideração a presença de aditivos reacionais (tais como: enxofre, peróxido de benzoíla, acrilatos e anidridos, etc.), sendo imprescindível uma completa caracterização química de tais formulações. Pesquisas estas como as que sugerimos a seguir: Modificação de CAP proveniente de petróleos brasileiros em presença de outros blocos poliméricos, tais como o SBS e aditivos acrilatos e anidridos; Caracterização química através de RMN e IR dos asfaltos modificados, utilizando solventes bloqueadores, com o objetivo de se caracterizar com precisão as mudanças estruturais das cadeias presentes; Estudo em maior escala, tipo planta piloto, da formulação utilizando o CAP 20, RCA e PBO, para otimizar os bons resultados neste trabalho; Utilização de outros tipos de resíduos poliméricos na modificação de asfaltos, tais como: resíduos de botões; Utilização da caracterização através da microscopia eletrônica de transmissão (MET), para melhor visualização dos resultados obtidos nesta pesquisa. Dissertação de mestrado 88 CAPÍTULO VI REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] SOARES, J. B. Relatório de atividades da Rede Cooperativa de Pesquisa em Asfalto N/NE, 2003. [2] PETERSON, R. L. 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Os prazos e quantidades para coleta e destinação final, de forma ambientalmente adequada, dos pneumáticos inservíveis são os seguintes: I - a partir de 1º de janeiro de 2002: para cada quatro pneus novos fabricados no País ou pneus importados, inclusive aqueles que acompanham os veículos importados, as empresas fabricantes e as importadoras deverão dar destinação final a um pneu inservível; II - a partir de 1º de janeiro de 2003: para cada dois pneus novos fabricados no País ou pneus importados, inclusive aqueles que acompanham os veículos importados, as empresas fabricantes e as importadoras deverão dar destinação final a um pneu inservível; III - a partir de 1º de janeiro de 2004: a) para cada um pneu novo fabricado no País ou pneu importado, inclusive aqueles que acompanham os veículos importados, as empresas fabricantes e as importadoras deverão dar destinação final a um pneu Dissertação de mestrado 97 inservível; b) para cada quatro pneus reformados importados, de qualquer tipo, as empresas importadoras deverão dar destinação final a cinco pneus inservíveis; IV - a partir de 1º de janeiro de 2005: a) para cada quatro pneus novos fabricados no País ou pneus novos importados, inclusive aqueles que acompanham os veículos importados, as empresas fabricantes e as importadoras deverão dar destinação final a cinco pneus inservíveis; b) para cada três pneus reformados importados, de qualquer tipo, as empresas importadoras deverão dar destinação final a quatro pneus inservíveis. Desde 02/12/99, ficou proibida a destinação final inadequada de pneumáticos inservíveis, tais como a disposição em aterros sanitários, mar, rios, lagos ou riachos, terrenos baldios ou alagadiços, e queima a céu aberto. Os fabricantes e os importadores poderão criar centrais de recepção de pneus inservíveis, a serem localizadas e instaladas de acordo com as normas ambientais e demais normas vigentes, para armazenamento temporário e posterior destinação final ambientalmente segura e adequada. Os distribuidores, os revendedores e os consumidores finais de pneus, em articulação com os fabricantes, importadores e poder público, deverão colaborar na adoção de procedimentos, visando implementar a coleta dos pneus inservíveis existentes no País[9,10].