IEEE-RITA Vol. 6, Núm. 3, Ago. 2011 ix A Terceira Revolução Industrial: Globalização Rob Reilly, Senior Member IEEE Massachusetts Institute of Technology Presidente, Sociedade de Educação do IEEE [email protected] (Traduzido por Carlos Vaz do Carvalho) Vivi em Tóquio, no Japão, entre 1966 e 1969 e fiz amizade com estudantes de uma universidade local. Pensei que pudesse aprender a falar japonês e a lutar Judo com eles, mas os meus amigos japoneses preferiram aprender Inglês comigo! Eu teria gostado de aprender japonês, mas falar Inglês era uma troca justa para aprender Judo eviver o Japão de uma maneira não-turística. Não precisei de pensar muito para lhes dar razão na sua insistência em aprender a falar Inglês. Eles sabiamque, independentemente da capacidade técnica do Japão e das suas realizações económicas e científicas, se não falassem Inglês não poderiam tornar-se jogadores no cenário mundial. Estes estudantes japoneses provavelmente estudaram a Primeira Revolução Industrial [1] (por volta de 1760-1850) e a Segunda Revolução Industrial [2] (cerca de 1860-1918). E agora parece-me que estamos a experimentar a Terceira Revolução Industrial, o que significa definir o campo de jogo num mundo globalizado; não é nivelar por baixo mas trazer todos os membros da comunidade global para um mesmo padrão de alta qualidade. comportamento económico já tinha acontecido antes"[3]. Parece-me que agora estamos no meio da Terceira Revolução Industrial. Também me parece que a magnitude desta mudançavai fazer parecer pequenas as revoluções anteriores. E, tal como na Primeira e Segunda Revoluções Industriais, grande número de pessoas serão impactadas negativamente - outro Terceiro Mundo será criado. Referindo-se à Primeira Revolução Industrial (com implicações para a Segunda Revolução Industrial), o Prémio Nobel Robert E. Lucas, Jr. declarou: "Pela primeira vez na história, os padrões de vida das pessoas comuns sofreramum crescimento sustentado. Nada remotamente parecido com este No seu tratado sobre a Primeira Revolução Industrial, Joseph A. Montagna afirma que: "Na realidade, [a Primeira Revolução Industrial] começou dois séculos antes [da data em que é historicamente identificada como o período da Revolução Industrial, 1760-1850]. O final do século 18 e início do século Pensem um momento sobre os países e culturas do mundo que participaram na Primeira e Segunda Revoluções Industriais; pensem mais um pouco nos países e culturas que não participaramou não beneficiaramdessas revoluções! Pensem nas razões que levaram esses países e culturas a não participar na Primeira e Segunda Revoluções Industriais! Parece-me que estamos a reviver essa experiência! Muitos países e culturas estão a colocar-senuma posição em que serão ultrapassados por esta versão 3 da Revolução Industrial. Mas não é tarde demais para recuperar e participar. ISSN 1932-8540 © IEEE x IEEE-RITA Vol. 6, Núm. 3, Ago. 2011 19apenas trouxe a fruição das ideias e descobertas há muito propostas por Galileu, Bacon, Descartes e outros."[4]. Parece-me que hoje temos de trabalhar juntos para que possamos todos beneficiar da Terceira Revolução Industrial. De forma geral, acredito que os valores de um Galileu, Bacon e Descartes se centram hoje em torno de: 1. O idioma Inglês e, 2. A capacidade de um país e / ou uma cultura se tornarem charneiras globais. Na Terceira Revolução Industrial um factor crítico é a capacidade de funcionar com o idioma Inglês. Esperarpela tradução de informações técnicas não ésuficiente; aqueles que irão beneficiar da Terceira Revolução Industrial serão aqueles que podem contribuir para os processos em tempo real. Eu acredito que muitas partes do mundo vão ficar para trás com a Terceira Revolução Industrial, em particular aquelesque não estão preparados para prever os eventos do futuro. Aqueles que estão a ficar para trás devem perceberisso e ajustar-se em conformidade. Vamos refinar a minha declaração de largo espectro para o campo da Engenharia. Parece-me que a sua função na Terceira Revolução Industrial é fundamental para: 1. Ser capaz de funcionar com o idioma Inglês Há muitos anosque a linguagem da ciência é o Inglês. Praticamente todas as publicações proeminentesde Engenharia são escritas em Inglês. Para oferecer e receber ideias de engenheiros de renome mundial é fundamental falar e entender Inglês. Realisticamente a linguagem da World Wide Web é o Inglês, ea linguagem das grandes conferências é esmagadoramente o Inglês. Também me parece que a Terceira Revolução Industrial está a promover novos desenvolvimentos em tecnologia, ciência e economia. Muitos paísesestão envolvidos no sucesso desta Terceira Revolução Industrial mas, independentemente da sua capacidade de falar Inglês,parece-me que a próxima fase da Revolução exigirá a capacidade de funcionar em Inglês! Isto significa muito mais do que apenas a capacidade de uma leitura, significa a capacidade de conversar em Inglês. 2. Ter instituições de ensino superior comparáveis às suas homólogas em todo o mundo. As instituições de ensino superior que se encontram no top 100 têm processos de acreditação regulares e rigorosos. A agência mais conhecida que fornece tal acreditação é a ABET (Accreditation Board in Engineering and Technology). Mas esta é uma organização baseada nos EUA, composta por 28 organizações de base também dos EUA. Por isso, é altamente duvidoso que tenha a capacidade de operar fora dos EUA. Por isso, é crucial para os países (ou grupos de países) formar quadros de acreditação que funcionem com organizações profissionais reconhecidas (por exemplo, IEEE). Nospaíses da América Latina (ALC) existem entidades de acreditação patrocinadaspor vários países e apoiadas por organizações profissionais. Mas, para além de 2-3 países de língua Espanhola e/ou Portuguesaasoutras agências de acreditação parecem ter sido criadas para países que falam Inglês. Nos ALC não há Universidades nos 200 lugares de topo das instituições de ensino superior em todo o mundo e em África não existem países que figurem no top 400 [5]. Das 100 Escolas de Engenharia em todo o mundo, 76 estão em países desenvolvidos, 24 na Coreia, China e Índia e não há nenhum dos países da ALC [6] e nenhum em África. Resumidamente, isto significa "desenvolver engenheiros qualificados para melhorar a competitividade" [6], que ISSN 1932-8540 © IEEE IEEE-RITA Vol. 6, Núm. 3, Ago. 2011 xi exige "curricula de engenharia melhorados, métodos de ensino inovadores, consolidaçãodas melhores práticas do sector privado e parcerias coordenas governo-academia-privados" [6]. Isto envolve o estabelecimento de um plano suportado pelo governo: a. programa de acreditação para os seus programas de educação em engenharia em instituições de ensino superior, activamente apoiado por organizações profissionais, para desenvolver a "pesquisa, ensino e desenvolvimento e transferência de conhecimento pelas suas comunidades", [6] b. currículos padronizados préuniversidade utilizados em todo o país Conhecer e saber aplicar o conhecimento, (ou "sabedoria"), será um bem essencial num futuro próximo. Na Terceira Revolução Industrial o conhecimento ea sabedoria dos cidadãos de todos os países irão conduzir àprosperidade. Vai ser o combustível que um país deve ter para participar e beneficiar da Terceira Revolução Industrial. Muitos países estão a ficar para trás e apenas alguns começam a perceber isso. Alguns países percebem e estão a lidar com a questão, mas há muitos países onde, mesmo vendo essa realidade, a implementação de uma acção é altamente problemática. A necessidade foi definida, devemos ter os líderes do governo, universidades e organizações profissionais unidos para desenvolver um plano de acção, assumir papéis de liderança e implementar esse plano de acção. Vocês podem não se tornar um Laureado Nobel, mas certamente podem alcançar o status de professor,cientista, ou líder de renome mundial. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. Wikipedia (2011). Industrial Revolution. Wikipedia. http://en.wikipedia.org/wiki/Industrial_Revolution "A Revolução Industrial foi um período nos séculos 18 e 19 com grandes mudanças na agricultura, indústria, mineração, transporte e tecnologia e que teve um profundo efeito sobre as condições socioeconómicas e culturais da época. Começou no Reino Unido e difundiu-se pela Europa, América do Norte e pelo mundo todo. A Revolução Industrial marca uma viragem importante na história da humanidade, em que quase todos os aspectos da vida diária foram influenciados de alguma forma. Por exemplo, os ganhos médios da população exibiram um crescimento sustentado sem precedentes. Nos dois séculos seguintes a 1800, a média mundial de renda per capita aumentou mais de 10 vezes, enquanto a população mundial aumentou mais de 6 vezes." Wikipedia (2011). Second Industrial Revolution. Wikipedia. http://en.wikipedia.org/wiki/Second_Industrial_R evolution. "A Segunda Revolução Industrial, também conhecida como a revolução tecnológica, foi uma fase da Revolução Industrial correspondente à segunda metade do século 19 e até a Primeira Guerra Mundial I. Considera-se ter começado com o aço Bessemer na década de 1860 e culminou na produção em massa e na linha de produção. A Segunda Revolução Industrial permitiu o rápido desenvolvimento industrial na Europa Ocidental (Grã-Bretanha, Alemanha, França, Países Baixos, Dinamarca), nos Estados Unidos (região Nordeste e dos Grandes Lagos) e, após 1870, no Japão. Seguiu a Primeira Revolução Industrial, que começou na Grã-Bretanha no final do século 18 e que então se espalhou a toda a Europa Ocidental e América do Norte." Lucas, Robert E., Jr. (2002). Lectures on Economic Growth. Cambridge: Harvard University Press. pp. 109–10. Joseph A. Montagna (1981). The Industrial Revolution. Yale-New Haven Teachers Institute. http://www.yale.edu/ynhti/curriculum/units/1981/ 2/81.02.06.x.html. 2011/08/11. US News and World Report (2011), World’s Best Universities. US News and World Report. http://www.usnews.com/education/worlds-bestuniversities. 2011/08/11. Norman Lerner (2011). Engineering for the Americas (EftA): Preparing Tomorrow’s Engineers Today. Organization of American States (OAS), Washington, D.C. See: http://www.ews.ieee.org/es/efta.pdf. 2011/08/11. ISSN 1932-8540 © IEEE xii IEEE-RITA Vol. 6, Núm. 3, Ago. 2011 últimos anos Rob Reilly recebeu o Bacharelato e Doutoramento pela Universidade de Massachusetts (EUA), e o grau de Mestrado pelo Springfield College, em Massachusetts, EUA. Tem grande actividade na Sociedade da Educação do IEEE, sendo Presidente em 2011-2012. Nos recebeu o Larry K Wilson Award pela sua liderança em actividades transnacionais e o Edwin Jones Award por Serviços Meritórios à Sociedade da Educação. A sua liderança no desenvolvimento da actividade da Sociedade de Educação do IEEE ao nível local é a sua realização seminal. Profissionalmente foi investigador no MIT Media Lab, no Centro para a Computação Inteligente da Universidade de Memphis e noutros laboratórios congéneres. A sua área de especialização é em teorias de aprendizagem e pedagogia de ensino. Ele é autor (e co-autor) de várias centenas de artigos no campo da tecnologia educacional e da pedagogia educacional. ISSN 1932-8540 © IEEE