IX CONVENÇÃO DE CONTABILIDADE DO RIO GRANDE DO SUL 13 a 15 de agosto de 2003 – Gramado – RS CONSIDERAÇÕES SOBRE A EFICÁCIA DO VALOR ADICIONADO PARA A MENSURAÇÃO DO RESULTADO ECONÔMICO E SOCIAL CESAR EDUARDO KROETZ Contador – CRCRS 18.423/T/BA Rua Vitorio Dezorzi, 398 98640-000 – Crissiumal – RS (55) 3524-1044 – [email protected] JOSÉ PAULO COSENZA Contador – CRCRJ69.407 Calle Doctor Cerrada, 7-13, Escalera 5 – 2o Piso D 50005 – Zaragoza - Espanha [email protected] – [email protected] CONSIDERAÇÕES SOBRE A EFICÁCIA DO VALOR ADICIONADO PARA A MENSURAÇÃO DO RESULTADO ECONÔMICO E SOCIAL Resumo — A Demonstração do Valor Adicionado não tem sido considerada em toda sua amplitude como instrumento relevante para a apresentação de informação útil para os interesses dos distintos usuários. Apesar do reconhecimento existente sobre a utilidade desta demonstração, já que ela evidencia diferentes concepções sobre a riqueza criada e distribuída por uma entidade, não houve ainda um esforço no sentido de normatizar sua elaboração e, nem mesmo, obrigar sua publicação. Neste trabalho se estuda a eficácia do valor adicionado para evidenciar a realidade patrimonial de uma entidade, comparativamente a outros indicadores tradicionais. Também serão comentados aspectos relacionados com a distribuição do valor adicionado entre os agentes econômicos que contribuem para sua geração. 1. INTRODUÇÃO Simultaneamente ao desenvolvimento da atividade mercantil, em termos econômicos, começaram a surgir também novos usuários da informação contábil-financeira, como credores, dirigentes não-proprietários, acionistas, sindicatos, organizações não-governamentais e clientes. Tal fato revela a presença de grupos importantes de novos agentes econômicos que participam em uma empresa, relacionando-a com os entornos internos e externos. Não obstante, devido à sua inclinação tradicional por satisfazer demandas de informações de caráter financeiro, a Contabilidade não vem atendendo integralmente aos interesses destes “novos usuários” que, por seu lado, necessitam de dados que evidenciem informes diferentes daqueles contidos nas demonstrações contábeis tradicionais. É neste contexto que se manifesta a necessidade de se publicar outros tipos de demonstrações que propiciem informações que resultem compreensíveis e transparentes a qualquer categoria de usuário, indepen dentemente de seus conhecimentos em matéria contábil, contemplando simultaneamente aspectos econômicos, financeiros, sociais e ambientais. Dentro deste grupo de “novos informes” encontra-se a Demonstração do Valor Adicionado (DVA), que no papel de demonstração contábil complementar visa informar sobre a participação de todos os fatores econômicos que intervieram na criação de riqueza por uma entidade e sua conseqüente distribuição entre esses agentes de produção. À medida que uma entidade desenvolve suas atividades empresariais, produz fluxos de natureza econômica, apropriados mediante a confrontação das receitas com as despesas para determinar sua magnitude econômica, ou seja, o excedente produzido durante o período. Tradicionalmente, o resultado contábil (lucro líquido) tem sido considerado um dos melhores indicadores para avaliar a gestão. No entanto, esse resultado não significa, fielmente, aumento de riqueza, porque evidencia a riqueza patrimonial sob a perspectiva dos proprietários ou acionistas. 1 A DVA preenche tal lacuna pois contempla as mesmas informações contidas na Demonstração do Resultado (DRE), introduzindo uma magnitude mais social ao resultado das entidades. Na verdade complementa essa tradicional demonstração, ao representá-la sob a forma de geração e distribuição de riqueza. Para Larrinaga (2001) a formulação técnica da DVA é útil para representar a realidade empresarial a partir de uma ótica diferente, que está relacionada com o resultado do esforço coletivo dos participantes de cada empresa, apresentando indagações fundamentais sobre o papel que essas companhias representam na sociedade e sobre o propósito da própria contabilidade financeira. Todavia, no Brasil, a DVA ainda não está totalmente normatizada, no sentido de sua estruturação, e sua publicação atualmente é facultativa, o que gera uma certa falta de consenso sobre a mesma. Além disso, não foi explorada sua validez como instrumento eficaz para a geração de indicadores que permitam analisar a situação patrimonial e financeira das companhias e, assim, apoiar aos usuários em suas decisões. 2. A DVA COMO INSTRUMENTO DE APOIO AO PROCESSO DECISÓRIO A Contabilidade como ciência que estuda a riqueza das células sociais, constitui-se na área do conhecimento capaz de diagnosticar e comunicar os impactos que as entidades econômicas causam aos seus entornos: internos e externos, uma vez que, quase todas as decisões administrativas promovem influências, imediata ou a posteriori, que geram fatos patrimoniais. A utilidade da informação contábil é comprovada na medida em que ela serve de apoio para a gestão da entidade (contabilidade gerencial) e de instrumento de informação para a sociedade (contabilidade sócio-ambiental), cujo objetivo final é construir novas estruturas contábeis que permitam informar o real significado das entidades dentro de um contexto amplo que envolva, além dos fatos econômicos e financeiros, também os aspectos sociais e ambientais. Paralelamente às mudanças do ambiente, em níveis macroeconômicos, as empresas estão diante da necessidade de estabelecerem sistemas de informação e comunicação que lhes permitam adaptar-se a essas situações de mudanças de forma flexível e estável. Por conseguinte, surge a necessidade de se distinguir entre o que corresponde a própria gestão empresarial interna e o que afeta fundamentalmente as relações da empresa com o seu entorno, sem, no entanto, esquecer a interdependência existente entre ambas magnitudes. Ao longo das últimas décadas, a informação contábil vem passando por transformações em sua forma final, para atender às características determinantes da evolução empresarial. As novas necessidades da sociedade moderna puseram em evidência a ineficiência do sistema tradicional de informação contábil (em alguns aspectos), cujo enfoque, essencialmente dirigido para o 2 desempenho econômico e o aspecto fiscal, não possibilita a introdução de dados de caráter social e ambiental, que hoje se fazem necessários devido às mudanças conjunturais. Por isso, é necessário disponibilizar aos distintos usuários informações eficazes para seus processos de tomada de decisão. Logo, a informação contábil deve estar cada vez mais orientada para satisfazer múltiplos e diferentes objetivos e fornecer os dados necessários e corretos para cada situação concreta. Para Cosenza (2001), isso fará com que a Contabilidade caminhe na direção de um sistema contábil estruturado numa visão multidimensional que propicie indistintamente a satisfação das necessidades presentes e futuras de todos os usuários que têm interesses na informação contábil. Neste novo cenário, Cosenza et al (2002) entendem que a informação do valor adicionado marca um importante avanço, pois vem contribuir para o auxilio à tradução da intervenção da entidade no processo econômico seqüencial no âmbito de um determinado sistema econômico, permite a obtenção de informações sobre a geração e a distribuição de riqueza para a empresa e a sociedade onde ela está inserida, e também é importante no campo macroeconômico, como gerador de subsídios para medir, calcular e analisar a produção e a riqueza de uma economia, em qualquer magnitude. Efetivamente, a DVA como demonstração oriunda do sistema de informações contábeis configura-se em importante ferramenta de análise e avaliação das atividades celulares e de suas repercussões nos ambientes sociais, já que por meio deste informe é possível acompanhar a parcela da riqueza gerada e aplicada, isto em termos monetários, percentuais e/ou por indicadores. Cada uma das informações atende às necessidades específicas de distintos grupos de usuários, como: a) Aos empregados/sindicatos a DVA serve de base para negocia ções salariais, para comparações entre entidades do mesmo segmento, para estudos do comportamento evolutivo da remuneração ao longo do tempo, etc.; b) Aos governos/instituições estes podem efetuar estudos comp arativos da carga tributária por setores/atividades, avaliando quais as categorias que mais contribuem para a formação da receita tributária, resultando disto, reformulações legais como a constituição de impostos seletivos, redimensionamento de tributos por regiões, etc. As DVA’s agrupadas podem apresentar o crescimento econômico de determinadas regiões e atividades, fazendo com que os governos sigam ou alterem suas políticas de fomento, de incentivos e seus planejamentos; c) Aos financiadores/credores a est e grupo a DVA comunica a saúde econômica da entidade e a sua evolução na geração da riqueza; d) Aos acionistas/proprietários aos formadores do capital pr óprio da entidade a DVA apresenta a parcela que lhes coube em determinado período, podendo os mesmos efetuarem análises do investimento objetivando a continuação da aplicação ou o seu redimensionamento, bem como fornece importantes subsídios para a preparação da análise global da entidade; 3 e) Aos administradores a DVA serve como instrumento de apoio ao planej amento estratégico, à decisão e ao controle, além de apresentar a parcela que lhes cabe à título de remuneração; f) À sociedade por meio da DVA a sociedade organizada pode comprovar a representatividade das práticas de responsabilidade social das entidades, como também avaliar a geração da riqueza e sua estrutura de distribuição. Em realidade, as informações constantes da DVA servem como base para a realização de análises contábeis que podem identificar a relação da entidade tanto com os agentes internos (empregados, administradores, proprietários, acionistas, etc.), como com os agentes externos (governos, sindicatos, financiadores, credores, etc.). Pelas características das informações que compõem a DVA e sua utilidade na análise e avaliação da entidade, é possível afirmar que ela se constitui em um importante instrumento de gerenciamento e planejamento, e também de controle social, uma vez que sua apresentação revela dados significativos da atividade das entidades e seus conseqüentes impactos considerando-se a perspectiva de papel social desempenhada pelas empresas. 3. A CONCEITUAÇÃO DO VALOR ADICIONADO O valor adicionado pode ser definido segundo várias concepções no âmbito macro ou microeconômico, o que faz existir diferentes noções de um mesmo conceito. Para Gallizo (1993), dependendo da delimitação da magnitude econômica onde se aplicará sua noção, a forma de conceituá-lo variará, adaptando-se ao contexto em que se desenvolve a natureza da informação da entidade e, inclusive, do setor de atividade ao que ela pertence. Em função disso, existe uma diversidade de noções particulares adotadas sobre um mesmo conceito, por exemplo, valor adicionado bruto produzido, valor adicionado da produção, valor adicionado bruto empresarial, valor adicionado líquido empresarial, o que segundo Cosenza et al (2002) termina por diminuir a compreensibilidade das informações nele contidas e dificulta que se disponha de dados estandardizados para efeito de análise comparativa1. Todavia, de acordo com Gallizo (1990b), o conceito de valor adicionado pode ser delimitado no âmbito de uma informação econômico-financeira de natureza histórica, que evidencia a circulação real do patrimônio e mostra o valor econômico que foi gerado por uma entidade durante um certo período de tempo e, simultaneamente, como este valor foi distribuído entre aqueles que contribuíram para a sua criação. Ou seja, é a demonstração contábil que divulga a geração da riqueza produzida pela própria empresa, mediante suas próprias atividades, e a retribuição aos componentes econômicos que formaram esse valor adicionado. 1 Tal inconveniente joga por terra o principal argumento que sustenta a utilidade da DVA: transmitir a informação contábil sobre a riqueza criada, de forma “simples e objetiva” para o entendimento de qualquer tipo de usuário. 4 4. O CÁLCULO DA GERAÇÃO E DA DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA De forma sintética, a DVA apresenta a riqueza individualizada gerada pela entidade e sua forma de distribuição, sendo representada pela seguinte equação: VA = Rp – Ra Sendo: VA – Valor Adicionado da entidade Rp – Recursos produzidos pela entidade Ra – Recursos adquiridos de terceiros Todavia, considerando que o lucro antes das distribuições é representativo da riqueza criada pela companhia em determinado período, a estrutura da DRE pode ser evidenciada sob a forma de igualdade, para, assim, demonstrar a distribuição da riqueza criada pela companhia. V–C–S–F–A–I = L = D+R Onde: V = Receitas das vendas C = Custo dos produtos e mercadorias vendidos S = Custos e Despesas com pessoal F = Despesas financeiras A = Amortizações, depreciações e provisões I = Imposto sobre o lucro e outros tributos L = Lucro do exercício D = Dividendos e Juros sobre o Capital Próprio R = Reservas e lucros retidos pela empresa Por associação, se pode estabelecer também que o lucro corresponde ao valor adicionado (VA)2 e que, seguindo está lógica, o mesmo poderia ser determinado a partir desta igualdade3, permitindo, então, representá-lo sob a forma de subtração ou em forma de adição, o que faz com que o cálculo do valor adicionado possa ser obtido mediante a aplicação destes dois procedimentos. VA = V- C = S + F + A + I + D + R Na primeira igualdade, se identifica o modo como se gera o valor adicionado e, na segunda, qual é sua posterior distribuição entre os agentes econômicos. O método subtrativo é aquele em que o valor adicionado é calculado a partir da soma de todos os fluxos positivos procedentes da atividade produtiva, deduzidos dos consumos intermediários derivados das entregas de bens ou prestações de serviços de terceiros, ou seja, tem como critério de dedução que as atividades econômicas necessárias para a obtenção das receitas devem ser consideradas no cálculo do valor agregado. Ambos critérios de cálculo permitem obter o valor adicionado líquido empresarial, o 2 O valor adicionado é aquele resultante da atividade típica da empresa, ou seja, da confrontação dos ingressos por vendas com os custos dos bens e serviços que procederam de terceiros e foram consumidos para se obter esses ingressos. 3 Quando se refere aos custos de produtos vendidos, observa-se que se deve ajustar este valor em função de sua formação, ou seja, no caso da contabilidade industrial e de serviços está incluído, nesta partida, o valor relativo à remuneração dos agentes produtores internos (empregados) e da depreciação, valores estes que não foram adquiridos externamente, por tanto, suas posições na DVA localizam-se na parte segunda, que se refere à distribuição da riqueza, devendo assim ser subtraídos para efeitos de geração da riqueza. Em empresas comerciais o problema inexiste. 5 qual, numa última instância, é a base ótima para a avaliação da riqueza gerada e de seus agentes econômicos. Logo, está claro que a base para a preparação da DVA é a DRE. Por isso, assim como no caso das demais demonstrações contábeis, sua elaboração segue os princípios fundamentais de contabilidade e, devido à utilização do método das partidas dobradas, sua estruturação contempla uma parte referente à origem e outra relativa à aplicação da riqueza gerada. Cabe registrar que é possível elaborar a DVA, tomando como base a estrutura da DRE, desde que se realize as necessárias reclassificações de cada partida segundo sua origem – produção interna ou externa. 5. A ESTRUTURA DA DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA GERADA Considerando que o valor adicionado é representativo da riqueza que a empresa criou a partir dos consumos que realizou em certo período de tempo, tal como em qualquer sistema econômico, esse excedente deve ser distribuído entre os distintos participantes que contribuíram para que a entidade o gerasse. Assim, uma vez calculado e conhecido o valor adicionado do período, esse será repartido entre todos aqueles que ajudaram a gerá-lo. Os critérios que servem como base para determinar a retribuição aos diversos grupos que participam do valor adicionado são os mais distintos, variando segundo aspectos que são determinados pelos ambientes (interno e externo) de influência na entidade. O modelo de distribuição da riqueza, geralmente, segue o método de cálculo aditivo e seu ordenamento está baseado em um critério lógico de exigibilidade (ver quadro 1). Dentre os grupos de agentes selecionados para a distribuição da riqueza gerada destacam-se os já tradicionais como: recursos humanos, governos, financiadores e acionistas/proprietários, apresentando um nível maior de detalhamento, e optando-se por incorporar à distribuição a parcela não distribuída (lucros e reservas) e a depreciação, destinadas ao autofinanciamento da atividade econômica da empresa. No entanto, entende-se também, que se pode avançar para uma forma de evidenciação de caráter mais social da empresa e da economia, onde sugere-se a introdução de novos grupos na distribuição da riqueza criada, como a remuneração da sociedade e os investimentos em meio ambiente. Este ponto de vista está fundamentado no conceito de que, em uma última instância, todos os ativos são propriedades da sociedade que, por sua parte, delega o direito de exploração aos empreendedores. Assim, os investimentos realizados pelas entidades de caráter social, como a construção de uma escola, uma creche ou um hospital para a comunidade, ou gastos para a recuperação do meio ambiente, como a despoluição de um rio ou a revegetação de uma floresta ou uma área urbana, são 6 filosoficamente parte da remuneração que essas entidades estariam repartindo à sociedade por deixá-las explorar seus recursos e também pelos danos causados a esses mesmos recursos. Conceitualmente seria uma forma de socialização do lucro, onde além da distribuição para os acionistas (dividendos) e para a auto-financiação da empresa (reservas), se introduziria um outro participante mais, a comunidade (gastos sociais). Neste trabalho não se pretende aprofundar a discussão dessa problemática porque, assim, estaria-se caminhando para a análise de outro tema igualmente importante e complexo que está associado ao papel social das empresas, o qual conduz a indagações e questionamentos sobre inúmeros aspectos e conceitos que orientam as práticas empresariais atuais. R$ Mil DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO Ano X0 % Ano X1 % A) REMUNERAÇÃO AOS TRABALHADORES a.1) Funcionários - Salários - Encargos sociais - Benefícios (alimentação, saúde, outros) - Participação nos resultados - Outras remunerações a.2) Executivos - Salários - Encargos sociais - Benefícios (alimentação, saúde, outros) - Participação nos resultados - Outras remunerações B) REMUNERAÇÃO AOS GOVERNOS § Federal § Estadual § Municipal § Exterior C) REMUNERAÇÃO AOS FINANCIADORES/CREDORES § Instituições financeiras § Fornecedores § Outros credores D) REMUNERAÇÃO AOS ACIONISTAS/PROPRIETÁRIOS - Dividendos Juros sobre o capital próprio E) REINVESTIMENTOS - Depreciação Reservas Quadro 1 — Modelo proposto para a distribuição da riqueza gerada Quanto à remuneração do trabalho, é para Gallizo (1990a) e De Luca (1998) um dos mais importantes componentes entre os diversos grupos que participam do valor adicionado, pois ao evidenciar a retribuição aos empregados permite refletir sobre o papel da empresa na geração de postos de trabalho formal. A participação dos trabalhadores no valor adicionado compreende todos os gastos com pessoal, em contrapartida ao trabalho realizado no período. Assim, deve conter os pagamentos feitos diretamente aos empregados, como por exemplo os salários, as contribuições de seguridade 7 ou sociais, e quaisquer outras vantagens oferecidas por conta de participar na atividade produtiva da companhia. Fernández (1990), assinala que é toda a parte correspondente aos que fornecem trabalho, contemplando também as retenções que se lhes tenha praticado e qualquer outra carga social, tanto obrigatória, por exemplo a seguridade social a cargo da empresa, como voluntária, tal como aquelas geradas por planos previdenciários e de pensões acordados, auxílio alimentação, atividades culturais e recreativas. Todavia cabe ressaltar que não há consenso quanto aos itens que devem ou não ser imputados neste agrupamento. A princípio, todas as retribuições pecuniárias destinadas aos empregados, inclusive aquelas retenções impositivas pela legislação trabalhista e que a empresa pratica em nome do empregado, como os impostos retidos, deveriam ser incluídas neste grupo, e, se possível, segregadas em duas partes: uma rubrica para salários e remunerações e outra para encargos sociais e outros benefícios, pois não são encargos da companhia com o governo, mas, sim, dos empregados, que por seu lado devem prestar contas ao governo em suas declarações de rendas. Em efeito, a empresa somente é responsável pela retenção e repasse destes impostos ao Estado, mas os mesmos são decorrentes da remuneração direta do trabalho realizado pelo empregado. Apesar do governo não ser considerado um dos fatores diretos de produção, ele também participa na criação de riqueza para a entidade pois apoia suas atividades produtivas através de investimentos em infra-estrutura, incentivos fiscais e subvenções. Os impostos pagos ou devidos pela companhia representam, na riqueza gerada, a remuneração devida ao Estado por seu apoio para que a empresa tenha condições de realizar suas atividades em seu ambiente e para a manutenção da estrutura social organizada. Contudo, somente os impostos associados ao lucro obtido e outros tributos que tenham relação direta com a atividade principal da empresa deveriam ser computados neste agrupamento, e, para uma melhor evidenciação, o ideal seria especificar os impostos conforme suas competências segundo a unidade federativa que os originou, por exemplo, da União, do Estado ou do Município, ou, ainda, de um País estrangeiro — quando o pagamento do imposto é feito fora das fronteiras onde a empresa realiza suas atividades. A remuneração dos credores e financiadores representa os pagamentos a terceiros, sob a forma de custo financeiro, por conta das captações de capital externo destinado à manutenção e aos investimentos. De acordo com Gallizo (1990a) devem ser excluídos deste agrupamento os gastos financeiros relativos a comissões ou outras despesas bancárias similares, por representarem despesas consideradas intermediárias. A parcela do lucro destinada àqueles que aplicaram os recursos próprios, reembolsado sob a forma de pagamento de dividendos ou juros sobre o capital próprio, por conta das capitalizações realizadas na entidade é apresentada na remuneração dos sócios e acionistas. Este item pode ser um ponto de conflito, face às possibilidades de manipulações no processo de adequação do binômio 8 “rentabilidade/risco”, dado que a decisão de se repartir entre os investidores a riqueza criada ou retê-la para futuros investimentos estará influindo na taxa de atratividade do negócio. Algumas empresas costumam apresentar neste agrupamento, também os lucros retidos por entenderem que a totalidade dos lucros da companhia pertencem a seus acionistas. Além disso, existe um outro problema ao não se evidenciar os lucros não distribuídos dentro deste grupo, que, segundo Martins (1993), está associado à percepção negativa que esse fato pode trazer para os usuários uma vez que permite passar a imagem de que, intencionalmente, se está querendo esconder o total do valor adicionado pertencente aos proprietários. Todavia, apesar da parcela retida para reinvestir na empresa ficar melhor evidenciada quando incorporada como parte da remuneração do capital próprio, esta deveria ser divulgada em grupo a parte, separada dos dividendos pagos e dos juros sobre o capital próprio, para facilitar a compreensão daqueles usuários externos à companhia. Os reinvestimentos correspondem ao lucro retido pela empresa para sustentar seu autofinanciamento. Uma parte desta riqueza foi direcionada para a constituição das reservas, segundo a legislação societária e a deliberação da assembléia, e a outra parcela está embutida na depreciação calculada com base na estimativa de vida útil econômica dos ativos que a companhia está utilizando em suas atividades operacionais. Na verdade, essa distribuição do valor adicionado tem por fim manter a capacidade física da empresa para realizar seu papel na geração de novas riquezas. 6. METODOLOGIA E LIMITAÇÕES DA PESQUISA Neste trabalho utiliza-se como estudo de caso a Companhia Petroquímica do Sul – COPESUL, empresa de capital aberto, localizada no Pólo Petroquímico, situado no município de Triunfo (Rio Grande do Sul). Classificada como uma organização de grande porte, produz cerca de 40% do eteno consumido no Brasil, com uma capacidade instalada de aproximadamente 1,2 milhão de toneladas/ano. Além disso, produz outros produtos como o propeno, o butadieno, o benzeno, o tolueno, o xilenos, o MTBE, o buteno-1 e o propano. Com isso, sua capacidade de produção anual totaliza 3,7 milhões de toneladas de produtos petroquímicos, dos quais mais de 80% são consumidos no próprio pólo onde se situa, o restante é vendido para outros estados do país ou então exportado. Desde sua privatização, no ano de 1992, a companhia vem passando por um processo de reestruturação organizacional, visando principalmente manter sua competitividade. Ao final do exercício de 2002, a COPESUL tinha cerca de 915 funcionários. A partir de 1997, está classificada entre as 100 melhores empresas brasileiras para se trabalhar, de acordo com a Revista Exame. Foi a primeira indústria petroquímica a receber o Prêmio Nacional da Qualidade, em 1997, e, em 2003, 9 conquistou também a OHSAS 18001 para o sistema de saúde e segurança ocupacinal, tornando-se a pioneira no setor a possuir as normas internacionais de eficiência em gestão. Possui, ainda, os certificados de ISO 9002 e ISO 14001, sendo reconhecida como uma companhia mundial voltada para a busca dos avanços tecnológicos e dos padrões ambientais. O objetivo do trabalho é comprovar a eficácia do valor adicionado, em determinadas situações, como informação útil para o processo decisório dos usuários, frente a outros tipos de grandezas, como por exemplo, o lucro líquido e o EBITDA. Também destacará o aspecto evolutivo do reparto da riqueza entre os agentes econômicos, mostrando-se as variações ocorridas nos períodos analisados. A metodologia empregada na pesquisa consistiu em um estudo de caso, a partir dos dados coletados do conjunto de demonstrações contábeis e de relatórios de gestão publicados pela COPESUL, tendo como base principal a Demonstração de Valor Adicionado, a Demonstração do Resultado e a Demonstração do Fluxo de Caixa. As limitações na amplitude da amostra não permitem derivar hipóteses que possam generalizar os efeitos das variáveis pesquisadas, assim o estudo permitirá obter algumas evidências e proporções que possibilitem gerar resultados sobre o tema, no âmbito da companhia objeto do estudo, ainda que não se pretenda fazer uma contrastação estatística de hipóteses. Efetivamente, os resultados obtidos com a pesquisa estarão condicionados pela validez dos dados e pelo processo de seleção da amostra. Por ser um estudo de caso de caráter exploratório, ele induzirá a que os resultados apresentados não sejam suscetíveis de extensão ou ampliação a outras empresas ou setores, mesmo que similares. Com isso se quer afirmar que os mesmos são referentes, apenas, ao contexto específico da empresa pesquisada, não sendo estatisticamente representativos. 7. DADOS COLETADOS Para a realização da pesquisa empírica, além da base de dados divulgada pela COPESUL, foram utilizadas as informações disponibilizadas pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM, Bolsa de Valores de São Paulo – BOVESPA, e também os dados obtidos no sistema Economática. A análise contemplou o período compreendido entre 31/12/1998 e 31/12/2002, fase considerada adequada por não existirem demasiadas variáveis que pudessem distorcer os dados estudados, já que, em termos médios, o Brasil passava períodos de estabilização monetária e de crescimento econômico. Objetivando a comparabilidade, tais valores foram atualizados para a mesma base monetária (31/12/2002), considerando a variação de inflação medida pelo Índice Geral de Preços de Mercado da Fundação Getúlio Vargas (IGP-M) e estão apresentados no Quadro 2. Para efeito do cálculo do valor adicionado distribuído sob a forma de auto-investimento na empresa, visando manter sua capacidade produtiva, considerou-se que o mesmo compõe-se dos 10 itens lucros retidos e depreciação, que estão apresentados originariamente na DVA da COPESUL como parcela correspondente aos acionistas e como parcela dedutiva do valor adicionado bruto, respectivamente. Em: R$ mil 31/12/1998 31/12/1999 31/12/2001 31/12/2002 Lucro líquido 172.132 212.534 137.412 -25.001 299 Geração líquida de caixa 253.296 -279.888 45.903 -124.697 183.863 EBITDA 354.587 549.552 718.679 470.192 502.976 Valor adicionado líquido* 528.079 731.242 890.576 691.680 959.437 Remuneração dos Empregados 111.442 97.552 95.903 92.914 79.427 Remuneração dos Governos 246.095 320.209 350.776 379.547 603.152 Remuneração dos Financiadores 153.455 473.277 363.467 291.748 749.974 Remuneração dos Acionistas 199.496 152.064 163.163 4.423 90.756 Lucros retidos 8.606 88.028 6.871 0 -65.389 Depreciação 40.214 69.395 203.943 187.676 166.694 Valor adicionado distribuído 759.307 1.200.526 1.184.123 956.308 1.624.614 Quad Dados relativos à empresa (F COPESUL, CVM, BOVESPA e Economática). utilizado o critério de dividir o montante relativo ao valor adicionado líquido pela quantidade de representa a geração líquida de caixa dividida pelo número de ações. O índice “Ebitda por ação” corresponde ao indicador do EBITDA dividido pelas ações da c R$ por lote de mil ações Período 31/12/1998 31/12/1999 31/12/2000 31/12/2001 31/12/2002 Informação Valor de Mercado 45,95 91,70 119,99 58,13 40,99 Valor Patrimonial 102,88 91,88 83,22 76,63 66,62 Valor Lucro 11,45 14,14 9,15 -1,66 0,02 Valor Adicionado 47,87 75,30 65,25 51,17 63,87 Valor Geração de Caixa 16,86 -18,63 3,06 -8,30 12,24 Valor Ebitda 23,61 36,58 47,84 31,30 33,48 Valor Vendas 86,76 124,79 220,96 196,83 190,62 Número total de ações 15.021.710 15.021.710 15.021.710 15.021.710 15.021.710 Quadro 3: Indicadores relativos à empresa ( onte: ). Por sua vez, o valor de mercado da ação corresponde ao valor médio negociado no último dia útil de pregão anterior à data de fechamento do balanço. Para facilidade de raciocínio, o critério l ações disponíveis em circulação no mercado em cada período analisado. * Está deduzido o valor da depreciação. 11 8. ANÁLISES DOS RESULTADOS Nesta análise se considera a eficácia informativa do valor adicionado seguindo dois enfoques: a) comparar as diferentes medidas de resultado econômico, identificando aquela que mais se aproxima ao valor de mercado e ao valor patrimonial da companhia; b) efetuar a análise evolutiva da distribuição da riqueza gerada, considerando os aspectos relacionados ao seu reparto entre os diferentes agentes econômicos. 8.1 Comparação dos indicadores A análise comparativa dos indicadores por ação, conforme demonstrado no Gráfico 1, permite concluir que dentre os valores encontrados (lucro líquido, geração líquida de caixa, valor adicionado líquido, Ebitda e vendas líquidas) aquele que está mais próximo ao valor de mercado da ação e ao seu valor patrimonial, no período analisado, é o “valor adicionado por ação”. Isto confirma a premissa de que essa magnitude tende a ser a que mais se aproxima ao valor da empresa (em mercados de capitais), reforçando o que já havia sido concluído nos trabalhos de Riahi-Belkaoui e Frekat (1994) e de Bao e Bao (1998). Nestas pesquisas, estes autores estudaram a dimensão do conteúdo informativo do valor adicionado, comparativamente a outros indicadores tradicionais, como o resultado contábil (lucro líquido) ou o resultado financeiro (fluxo de caixa), e concluíram que havia uma estreita relação dessa medida com o valor da empresa, maior do que qualquer outro tipo de resultado ou benefício. 250,00 200,00 150,00 Reais Lucro Valor Adicionado 100,00 Ebitda Vendas 50,00 Valor de Mercado Valor Patrimonial 0,00 1998 1999 2000 2001 -50,00 Anos 12 2002 Todavia, não é possível generalizar que tal associação possa ser uma tendência em outras empresas, em função das restrições estatísticas já comentadas. No entanto, é interessante observar que, no caso da COPESUL, o valor adicionado mantém uma forte correlação com o valor bursátil dessa companhia, nos cinco anos investigados. O descasamento observado no ano de 2000 deveuse mais a aspectos especulativos ocorridos nos mercados de capitais nacionais e internacionais a partir principalmente de 1998 e que acabou culminando com a crise de escândalos financeiros ocorridos mundialmente a partir de 2001. Também se pode notar que esse indicador é o que está mais próximo ao valor patrimonial da ação dessa companhia. Isto abre espaço para a realização de novas pesquisas visando ampliar o enfoque deste trabalho, utilizando, principalmente, uma base de dados estatisticamente significativa, para assim comprovar se o valor adicionado pode se constituir, ou não, na magnitude mais eficaz para evidenciar a realidade patrimonial das empresas e suas consequentes análises e avaliações. 8.2 Distribuição da riqueza gerada Com relação à distribuição da riqueza gerada aos agentes que a produziram, observa-se que os empregados tiveram sua participação significativamente reduzida no período analisado. Mesmo considerando que os agentes econômicos dispõem de mecanismos para pressionar ou influenciar a partilha dessa riqueza – o governo, por exemplo, pode impor o aumento da carga tributária ou mesmo criar novos tributos –, observa-se que os trabalhadores perderam parte desse poder, devido a maior dificuldade em impor seu direito de influência, logicamente que a isto se deve associar outros fatores de origem externa. R$ Mil PARTICIPANTES DO VALOR ADICIONADO Remuneração dos Empregados Remuneração dos Governos Remuneração dos Financiadores/Credores Remuneração dos Proprietários/Acionistas Reinvestimento na Empresa Valor Adicionado Distribuído 1998 Valor % 1999 Valor % 2000 Valor % 2001 Valor % 2002 Valor % 111.442 246.095 153.455 199.496 48.819 97.552 320.209 473.277 152.064 157.423 95.903 350.776 363.467 163.163 210.813 92.914 379.547 291.748 4.423 187.676 79.427 603.152 749.974 90.756 101.305 14,7 32,4 20,2 26,3 6,4 8,1 26,7 39,4 12,7 13,1 8,1 29,6 30,7 13,8 17,8 759.307 100,0 1.200.526 100,0 1.184.123 100,0 9,7 39,7 30,5 0,5 19,6 Total Valor % 4,9 477.279 37,1 1.899.908 46,2 2.032.041 5,6 609.956 6,2 706.094 8,3 33,2 35,5 10,7 12,3 956.308 100,0 1.624.614 100,0 5.725.278 100,0 Quadro 4: Participação dos agentes econômicos na distribuição do valor adicionado Na soma dos valores repartidos a cada grupo de agente econômico, observa-se um grande incremento de geração de riqueza, em termos monetários. No entanto, sua distribuição não mantém a mesma proporção de participação observada no ano-base 1998. A pesquisa revela que no montante médio distribuído, coube aos empregados 8% da riqueza gerada no período, quando os mesmos tinham uma participação de aproximadamente 15% no primeiro exercício estudado. O governo, por exemplo, conseguiu manter sua cota de participação em torno dos mesmos 32% que lhe destinavam inicialmente. A leitura dos dados de valor adicionado da COPESUL mostra a redução de 15% para 5% da fatia dos trabalhadores na torta distribuída, o que parece incoerente, já que a empresa apresentou 13 um crescimento significativo no seu valor adicionado líquido ao longo do período analisado, da ordem de 114%, alcançando um montante de R$ 1, 6 bilhão. Governos 33% Empregados 8% 36% 12% 11% Reinvestimentos Financiadores Acionistas Gráfico 2: Reparto do valor adicionado acumulado entre 1998/2002. Há diversos estudos que analisaram a tendência de se ajustar os resultados empresariais em função do retorno sobre o capital exigido pelos investidores. Com isso, mesmo em momentos nos quais as companhias experimentem um crescimento de sua produção, pode ser que se penalize a outros grupo participantes do processo produtivo para se manter uma porcentagem vantajosa para os detentores do capital (geralmente acionistas). No caso específico da COPESUL, a parcela repartida aos acionistas também diminuiu, no entanto os financiadores externos de capital aumentaram sua participação, o que pode ser reflexo de uma política de captação de recursos dessa companhia. É interessante observar que em épocas de “vacas magras”, os trabalhadores sejam penalizados com a redução de postos de trabalhos e com a não reposição salarial, ou seja, “comem o osso”, e quando chega a hora de “provar a carne”, dificilmente tenham compensados tais sacrifícios. Essa análise, não é fruto somente do caso estudado, e sim, associa-se à tendência econômica atual de que os avanços tecnológicos aumentem a produtividade e, consequentemente, diminuam a participação do conjunto de recursos humanos no processo produtivo. Este cenário parece sugerir que os gestores, que em última instância são os verdadeiros responsáveis pela determinação da riqueza assignada, tratam de conseguir por meio da redução da participação de outros agentes uma porcentagem maior ou ao menos igual de valor adicionado, de forma a preservar um nível de retorno dos investimentos compatível com a cifra de lucros e a distribuição de dividendos exigidos por seus acionistas. Neste ponto, seria interessante analisar, também, a evolução do nível de remuneração por funcionário, dado que infelizmente não foi possível obter para esta análise. Todavia, é importante destacar o poder informativo da DVA, a qual poderia ser melhor aproveitada nos processos de 14 negociação salarial e de planejamento organizacional. Por exemplo, o quantitativo de trabalhadores dessa companhia teve um crescimento de 4% entre 1998 e 2002, enquanto que a parcela da riqueza destinada a este grupo sofreu uma redução em valores monetários constantes de R$ 111 milhões para R$ 79 milhões. Toda essa evolução se pode comprovar no Gráfico 3, que apresenta a distribuição da riqueza a cada grupo de agentes econômicos nos períodos evidenciados. 50 40 Percentuais Governos 30 Acionistas Financiadores 20 Empregados 10 Reinvestimentos 0 1998 1999 2000 2001 2002 Anos Gráfico 3: Evolução do valor adicionado distribuído entre 1998/2002 Efetivamente, se destaca que houve um incremento considerável na participação dos recursos de terceiros (financiadores/credores) no valor adicionado distribuído, principalmente nos anos de 1999 e 2002, comparado ao volume apresentado em 1998 (20,2%). Esse crescimento se deve, em parte, por causa dos investimentos que essa companhia vem realizando para a ampliação da sua capacidade instalada. Com esse conjunto de investimentos que consistiram basicamente na implantação de uma nova unidade produtora de petroquímicos básicos, especialmente eteno e propeno, e em projetos de logística operacional, a COPESUL consegue garantir o suprimento de matérias-primas e ofertar no mercado cerca de 40% da produção brasileira de eteno. Como parte deste programa de investimentos deve ter sido também apoiado com recursos próprios, observa-se uma redução percentual na participação dos proprietários/acionistas e um aumento dos recursos reinvestidos na empresa, em termos acumulativos do período. Finalmente, nota-se uma pequena evolução da participação do governo no “bolo” distribuído, o que talvez possa ser explicado, em parte, por causa da maior arrecadação tributária derivada do aumento de capacidade produtiva da empresa. 15 9. CONCLUSÕES Partindo-se das análises realizadas, foi possível compreender a importância a nível informativo e, consequentemente, gerencial da DVA. Com isso se tentou mostrar que seus dados poderiam ser melhor explorados e contribuir mais para análises externas e internas dos usuários, assim como servir de parâmetros para o estabelecimento de estratégias organizacionais e/ou setoriais. O trabalho buscou evidenciar a análise dos aspectos relativos ao valor adicionado como uma medida de melhor eficácia, comparativamente a outras grandezas, para a informação da capacidade de geração de riqueza da entidade, a partir de uma arbordagem mais ampla. Para isso, foi realizado um estudo de caso, onde se demonstrou, primeiramente, a utilização da magnitude valor adicionado como medida para a análise e avaliação de empresas; e depois, se investigou a evolução do reparto da riqueza gerada entre os agentes econômicos envolvidos. Os resultados encontrados demonstraram a eficácia informativa do valor adicionado nos dois aspectos considerados. No primeiro caso, aproxima-se do valor bursátil da companhia em melhor grau do que as outras variáveis comparadas. A segunda hipótese, permitiu concluir que mesmo que se consiga legitimar o reparto do valor adicionado, existe a possibilidade de que tal ação se reverta em conflito, tendo em vista que para um participante conseguir uma fatia mais elevada, terá que sacrificar o direito de outro(s) participante(s) no bolo. Para finalizar, é importante destacar que a redução ou a ampliação da participação de grupos de agentes decorre de fatores internos (políticas/estratégias organizacionais) e/ou externos (como por exemplo os avanços tecnológicos) que influem na atividade econômica. No entanto esta análise pode ser melhor visualizada a partir da DVA, que, por sua configuração, apresenta os resultados organizacionais sob uma ótica mais abrangente, onde se demonstra a riqueza criada por uma companhia e o seu reparto entre os agentes econômicos que contribuíram para tal. Fato que amplia sua utilidade para uma gama maior de usuários, enquanto que a DRE relata o resultado a partir de uma visão restrita do capital. Todavia, ambas demonstrações não são excludentes e, sim, complementarias pois permitem a visualização da riqueza desde perspectivas distintas. Como proposta final, salienta-se a necessidade de se continuar pesquisando a DVA, estendendo-se a abrangência do estudo a outros segmentos ou grupos. Também ressalta-se a importância de se normatizar a metodologia de elaboração e apresentação desta demonstração, uniformizando e clarificando, assim, este processo, além de ampliar seu nível de confiabilidade e comparabilidade. 16 BIBLIOGRAFIA ALFONSO LOPEZ, J.L.; PIZARRO MONTERO, T.M. (1987) El Estado de Valor Añadido. Actualidad Financiera, n. 47, diciembre, p. 2344-2351. BAO, B.H.; BAO, D.H. (1998) Usefulness of Value Added and Abnormal Economic Earnings: An Empirical Examination. 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