UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA
Sylvia Rosa Gonçalves Siqueira
ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL E CONFIABILIDADE DA ESCALA
COMMUNITY ATTITUDES TOWARDS MENTALLY ILL (CAMI)
Rio de Janeiro
2009
i
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA
MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA
Adaptação transcultural e Confiabilidade da escala Community
Attitudes Towards Mentally Ill (CAMI)
Mestranda
Sylvia Rosa Gonçalves Siqueira
Linha de Pesquisa
Epidemiologia Aplicada à Saúde Mental e às Violências
Orientadora
Prof. Dra. Lúcia Abelha
RIO DE JANEIRO
2009
S617a
Siqueira, Sylvia Rosa Gonçalves.
Adaptação transcultural e confiabilidade da escala community
attitudes towards mentally ill (CAMI)/ Sylvia Rosa Gonçalves Siqueira.Rio de Janeiro: UFRJ/Instituto de Estudos em Saúde Coletica, 2009.
x115 - f.; 30 cm.
Orientador: Lúcia Abelha Lima.
Dissertação (Mestrado)- UFRJ/Instituto de Estudos em Saúde
Coletiva, 2009.
Referências: f. 63 - 68.
1. Reprodutibilidade dos testes. 2. Reforma psiquiátrica. 3. Serviços de
saúde. 4. Adaptação transcultural 5. CAMI. I. Lima, Lúcia Abelha. II. Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Estudos em Saúde Coletiva. III. Título.
CDD 614
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA
MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA
Sylvia Rosa Gonçalves Siqueira
ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL E CONFIABILIDADE DA ESCALA COMMUNITY
ATTITUDES TOWARDS MENTALLY ILL (CAMI)
Dissertação apresentada ao Programa de pós-graduação
em Saúde Coletiva do Instituto de Estudos
em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, como parte dos requisitos necessários a
obtenção do titulo de Mestre em Saúde Coletiva.
Aprovada em, 17 de fevereiro de 2009
Profa Dra Lúcia Abelha Lima, IESC/UFRJ
Profa Dra. Letícia Fortes Legay, IESC/UFRJ
Prof. Paulo Cesar Geraldes , UNESA/ RJ
iii
Dedico este trabalho a todos os pacientes da Colônia Juliano Moreira.
À Lúcia Abelha, pela parceria de trabalho e pela amizade.
Às minhas filhas Julia e Bruna, minhas princesas.
À minha irmã Patrícia pelo amor e apoio.
Ao Sergio pelo apoio e cumplicidade.
iv
Agradecimentos
À minha orientadora, Profa. Dra. Lúcia Abelha, que sempre me apoiou e compartilhou
comigo os momentos difíceis e os de alegria.
Aos professores Profa. Dra. Leticia Legay e Prof. Dr. Giovanni Lovisi pelas importantes
contribuições nesse trabalho.
Ao Paulo Fagundes pelo incentivo na minha vida profissional e acadêmica.
Aos meus colegas de mestrado, Simone, Cristina, Priscila e Diego pela amizade e
ajuda.
À minha tia Deta pela força com as minhas filhas.
Aos pesquisadores de campo pela colaboração na coleta dos dados.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo suporte
à pesquisa.
E, principalmente, a todos os entrevistados participantes desse estudo, sem os quais
nossa pesquisa não seria possível.
v
Lista de Tabelas
Tabela 1 – Características sociodemográficas da amostra estudada………....47
Tabela 2 –... Análise da equivalência referencial e geral entre os itens da retradução e
o instrumento CAMI original……………………………………..........................48
Tabela 3 – Análise da confiabilidade teste-reteste dos escores finais e das subescalas
da CAMI_BR………………………………………................…......................... 53
Tabela 4 - Análise de confiabilidade dos itens da subescala Autoritarismo da
escala CAMI-BR...............................................................................................54
Tabela 5 - Análise de confiabilidade dos itens da subescala Restrição Social da
escala CAMI-BR................................................................................................55
.
Tabela 7 - Análise de confiabilidade dos itens da subescala Benevolência da
escala CAMI-BR................................................................................................56
Tabela 8 -Análise de confiabilidade dos itens da subescala Ideologia da Saúde mental
comunitária da escala CAMI-BR......................................................................57
vi
Lista de Quadros
Quadro 1 - Estudos em diversos países sobre as atitudes da comunidade em relação
aos doentes mentais e ao serviço de saúde
mental...................................................................................................................... 26
Quadro 2 – Recodificação dos itens da escala CAMI…………........…......………37
Quadro 3 - Localização dos serviços de Residências Terapêuticas por
área………………………………………………………………….....….……......…….38
Quadro 4 - Etapas do procedimento para o processo de adaptação de instrumentos
de medidas…………………………………………………....................................…..41
Quadro 5- Questões adaptadas da subescala Autoritarismo.................................49
Quadro 6 – Questões adaptadas da subescala Restrição Social .......................…49
Quadro 7- Questões adaptadas da subescala Benevolência.................................50
Quadro 8- Questões adaptadas da subescala ideologia da saúde mental.......… 51
vii
Lista de Figuras
Figura 1- Modelo de Amostragem………………………………...........................39
viii
RESUMO
Introdução: A atitude negativa da comunidade em relação aos doentes mentais é um
dos principais entraves para a implantação e expansão de serviços de saúde mental
em áreas residenciais. O medo, a falta de conhecimento sobre os serviços e o
estereótipo continuam a ser obstáculos para a efetividade do tratamento e para a
reintegração social do paciente. No Brasil há uma carência de estudos utilizando
escalas para aferir as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais.
Objetivo: realizar a adaptação transcultural e o estudo de confiabilidade da escala
Community Attitudes toward Mentally Ill (CAMI) Metodologia: A adaptação
transcultural da escala constou das seguintes etapas: Tradução; Revisão da tradução
por um grupo bilíngüe; Retradução; Avaliação da retradução; Estudo piloto; Revisão
das questões a partir do estudo piloto. A confiabilidade da escala e dos itens foi
avaliada utilizando o coeficiente de correlação intraclasse, o coeficiente kappa
ponderado e o kappa ajustado para prevalência. Resultados: Os resultados incluíram
modificações importantes na formulação e no conteúdo das questões, para garantir a
equivalência semântica e cultural da escala adaptada para o contexto brasileiro. Na
confiabilidade intra-entrevistadores o kappa ajustado pela prevalência foi de
substancial (45%), moderado (47,5%) e regular (7,5%), e o coeficiente de correlação
intraclasse foi 0,69 (IC 95%=0,52-0,81). O Alfa de Cronbach foi 0,809 no teste e 0,870
no re-teste. Conclusão: A versão brasileira da CAMI (CAMI -BR), resultou em escala
de linguagem clara, compreensível e fácil aplicabilidade e com boa estabilidade e
consistência interna.
Palavras
chave:
adaptação
transcultural,
confiabilidade, CAMI, reforma psiquiátrica.
atitudes
da
comunidade,
ix
ABSTRACT
Background: Negative attitudes towards mentally ill people are one of the most
important problems to prevent the implementation of community – based mental health
care. Some international studies demonstrated three factors associated with these
community attitudes: 1- afraid of people with mentally illness; 2- lack of knowledge
about mental health services, and 3- public’s stereotype of psychiatric patients. These
factors continue to maintain barriers to the effective psychiatric treatment and social
reintegration of the psychiatric patients in the community. In Brazil, there are scarce
studies about this issue. None Brazilian studies used Community Attitudes Towards
Mental Ill instrument (CAMI) to assess attitudes of population towards psychiatric
patients living in the communities. Aim: This present study consisted of a cross-cultural
adaptation of the original instrument in English (CAMI) into a final version to be used in
Brazil. Based on a broad literature review, the cross-culturall adaptation of the CAMI to
Brazilian context was made following the next steps: Translation; Back-translation:
Assessment of the back translation; Pilot Study: Analysis of the pilot study data. The
scale and item reliability was assessed through intraclass coefficient correlation, the
weighted Kappa coefficient and the prevalence and bias adjusted kappa (PABAK).
Results: Results indicated a satisfactory equivalence between versions, with
modifications being made in the procedures for conducting the interview and the
language used in the questions. Prevalence adusted kappa was substancial (45%),
moderate (47,5%) and regular (7,5%). Intraclass correlation coefficient was 0,69 (CI
95%=0,52-0,81). Cronbach alfa was 0,809 in test and was 0,870 in re-test.
Conclusions: Our findings showed that the CAMI-BR is an instrument with clear
instructions, understandable questions and easier for application in the Brazilian
context. Reliability and internal consistency were satisfactory.
Key words: Cross-cultural adaptation; community attitudes; CAMI; Reliability;
Psychiatry Reform
x
SUMÁRIO
.................................................................................................. v
Lista de Tabelas
Lista de Quadros …………………………………………………………… ....…...…..vi
.................................................................................................... vii
Lista de figuras
Resumo
............................................................................................................... viii
Abstract
............................................................................................................... ix
.................................................................................................. 12
1 INTRODUÇÃO
1.1 Serviços de Saúde Mental .................................................................... 13
2.ATITUDES DA COMUNIDADE EM RELAÇÃO AOS PACIENTES PSIQUIÁTRICOS
.................................................................................................................................. 17
2.1 Desenvolvimento da escala Community attitudes towards he mentally ill
(CAMI)
…………………………………………………………………………..……………..….19
2.2 Estudos que avaliaram as atitudes da comunidade em relação aos doentes
mentais.......................................................................................................................20
2.2.1 Estudos Internacionais ........................................................................ 20
2.2.2 Estudos Nacionais.................................................................................24
3 JUSTIFICATIVA
4 OBJETIVOS
................................................................................................ 30
...................................................................................................... 32
4.1 Objetivo Geral
..................................................................................... 32
4.1.2 Objetivos Específicos
5 MÉTODOLOGIA
....................................................................... 32
............................................................................................... .33
5.1 Local de Estudo
................................................................................... 33
5.2 População do Estudo
........................................................................... 35
5.3.Descrição do instrumento original...............................................................35
5.4 QuestionárioSóciodemográfico .........……….......………..……..................37
5.5 Amostra……………………………………………………………......……….38
xi
5.6 Treinamento pesquisadores …………………………....……………..…….39
5.7 Adaptação Transcultural
5.7.1 Equivalência Conceitual
……………………………….…………..………40
..................................................................... 41
5.7 .2 Equivalência Semântica………………………………....………………42
5.7.3 Estudo piloto........................................................................................ 43
5.7.4 Equivalência Operacional ………………………………...………….…43
5.8 Equivalência de mensuração (confiabilidade)……….....……..…………..43
5.8.1 Análise de dados…………… …………………………..…….………….44
5.9 Considerações éticas................................................................................45
6 RESULTADOS
.................................................................................................... 46
7 DISCUSSÃO
........................................................................................................ 58
8 CONCLUSÃO
...................................................................................................... 62
9 REFERÊNCIAS ........................................................................................................63
10 ANEXOS ................................................................................................................69
12
1 INTRODUÇÃO
A partir da década de 50 teve início nos países desenvolvidos o processo de
desintitucionalização
psiquiátrica,
caracterizado
pela
transferência
da
assistência do hospital para a comunidade. Este processo se deu
principalmente em função das péssimas condições em que se encontravam os
hospitais psiquiátricos, o surgimento dos neurolépticos e os movimentos pelos
direitos
humanos
da
década
de
60.
As
transformações
ocorridas
caracterizaram-se de forma diferenciada em consonância com questões
políticas, sociais e econômicas de cada país. (Hafner & Heiden, 1989;
Mechanic, 1991; Bell, S. et al., 2005).
Desde então houve uma crescente preocupação em reduzir leitos psiquiátricos,
priorizando o tratamento em serviços substitutivos na comunidade. As
internações deveriam ser evitadas sempre que possível e mantidas pelo tempo
estritamente necessário. O cuidado na comunidade, como parte da estratégia
para a reinserção dos pacientes na sociedade, incluiria, além do atendimento
ambulatorial, os centros de atendimentos diários, as residências terapêuticas e
os programas de reabilitação psicossocial,
A Organização Mundial de Saúde ressalta a importância de que os sistemas de
Saúde Mental nos diversos países incluam serviços e recursos que tenham
como foco principal promover Saúde Mental: legislação específica e
apropriada, serviços substitutivos na comunidade, cuidados na atenção
primária, recursos humanos, esclarecimentos e educação da população,
interação com outros setores, investimento em pesquisa e avaliação de
serviços. (Jacob et al, 2007).
O processo de reforma psiquiátrica começou, no Brasil, a partir da década de
70, e teve como base do movimento uma crítica ao modelo clássico da
psiquiatria e suas instituições, principalmente a forma de tratamento em que
eram submetidos os pacientes, e as péssimas condições de moradia nos asilos
(Amarante, 1997).
A transferência do cuidado para uma rede substitutiva na comunidade vem se
caracterizando como uma conjuntura de ações políticas, sociais e de
mobilização através da participação dos profissionais de Saúde Mental, das
13
associações de usuários e das associações de familiares. (Sommer, 1990;
Lougon; Andrade, 1995; Lima et al, 1999).
O tratamento do paciente crônico representa um dos maiores desafios para as
reformas no setor de Saúde Mental. Estes pacientes precisam de cuidados
contínuos e de serviços de reabilitação psicossocial, sendo que o suporte
social e a aceitação da comunidade em que vivem têm um papel fundamental
na sua recuperação e equilíbrio. (Wykes & Sturt, 1986; Leff & Trieman, 2000).
A reintegração social de pessoas com transtornos mentais graves, internados
há longos anos em hospitais psiquiátricos, afastados há tempos da sociedade e
da família, é uma questão primordial para a reforma da assistência à Saúde
Mental. Para que esta transição seja bem sucedida, é importante ter o
conhecimento, dentre outros aspectos, das atitudes da comunidade em relação
aos pacientes e à doença mental (Trieman & Leff, 2002, Gonçalves et al.,
2002). Muitas vezes a oposição por parte da vizinhança pode inviabilizar a
implantação dos novos serviços. Alguns estudos sugerem que a reintegração
dos doentes mentais depende estreitamente da aceitação que tenham por
parte da comunidade (Wolff et al, 1996).
1.1 OS SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL NO BRASIL
O processo da reforma psiquiátrica vem se intensificando nos últimos anos no
Brasil. Em abril de 2001 é aprovada a Lei nº 10216, que dispõe sobre a
proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e
redireciona o modelo assistencial em Saúde Mental para o atendimento na
comunidade. Assegura total proteção contra qualquer forma de abuso e
exploração e garante o tratamento adequado, de preferência em serviços
comunitários. Ao mesmo tempo em que prioriza este tipo de assistência com
reinserção social, garante a internação, quando necessária, com assistência
integral. Complementando essa Lei, a Portaria nº 52 de 20 de janeiro de 2004
atribui ao Ministério da Saúde a coordenação do processo de, como diz o texto,
substituição progressiva dos leitos em hospitais psiquiátricos por uma rede
comunitária de atenção psicossocial, explicitando a necessidade de uma
transição segura, onde a redução de leitos hospitalares possa ser planificada e
acompanhada de construção concomitante de alternativas no modelo
14
comunitário. Entre outras garantias menciona que os recursos financeiros que
deixarem de ser gastos no componente hospitalar devem ser direcionados às
ações territoriais e comunitárias de saúde, também na mesma progressão.
Apesar dos esforços no sentido de transferir os cuidados aos pacientes
psiquiátricos do hospital para a comunidade, até o momento o número de
serviços de Saúde Mental no Brasil ainda é insatisfatório para cobrir toda a
demanda. Além disso, há uma grande concentração de serviços na região
sudeste, com escassez na região norte e nordeste(REFERENCIAS). Abaixo
estão descritos os principais serviços de Saúde Mental existentes atualmente
no país.
1.1.1 Centros de Atenção Psicossocial
Os
Centros
de
Atenção
Psicossocial
(CAPS)
são
serviços
abertos,
comunitários, que oferecem atendimento diário às pessoas com transtornos
mentais severos e persistentes, realizando o acompanhamento clínico e a
reinserção social destas pessoas por meio do acesso ao trabalho, lazer,
exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários.
É função dos Caps: prestar atendimento clínico em regime de atenção diária,
evitando assim as internações em hospitais psiquiátricos; promover a inserção
social das pessoas com transtornos mentais por meio de ações intersetoriais;
regular a porta de entrada da rede de assistência em Saúde Mental na sua
área de atuação e dar suporte à atenção à Saúde Mental na rede básica
(Brasil, 2007).
Existem diferentes tipos de CAPS, dependendo de sua abrangência e função:
CAPS I – Têm menor porte e capacidade operacional para dar cobertura
assistencial a uma população entre 20.000 e 70.000 habitantes. Funciona em
regime de 2 turnos.
CAPS II – Têm capacidade operacional para dar cobertura assistencial a uma
população entre 70.000 e 200.000 habitantes. Funciona em regime de 2 turnos.
CAPS III - Têm capacidade operacional para dar cobertura assistencial a uma
população acima de 200.000 habitantes. Funcionam 24 horas, diariamente,
inclusive fins de semana e feriado. Têm no máximo 5 leitos para observação
e/ou repouso.
15
CAPSi - Têm capacidade operacional para dar cobertura assistencial a uma
população acima de 200.000 habitantes ou outro parâmetro populacional
justificado pelo gestor local. Funciona em regime de 2 turnos. Tem como
público alvo crianças e adolescentes com transtornos mentais.
CAPSad - Têm capacidade operacional para dar cobertura assistencial a uma
população acima de 100.000 habitantes ou outro parâmetro populacional
justificado pelo gestor local. Funciona em regime de 2 turnos, com 2 a 4 leitos
para desintoxicação e repouso. Seu público alvo são pacientes com transtornos
decorrentes do uso e/ou dependência de álcool e outras drogas.
1.1.2 Unidade Psiquiátrica em Hospital Geral (UPGH)
As UPGHs são as mais antigas alternativas à internação em hospital
psiquiátrico. As primeiras UPHGs surgiram no Brasil na década de 50, com o
objetivo de diminuir a estigmatização dos pacientes psiquiátricos, diminuir o
tempo de internação e melhorar o atendimento às intercorrências clínicas
(Tavares, 1997).
O modelo de assistência médica das décadas de 60 e 70, centrado fortemente
no hospital psiquiátrico, o preconceito relacionado aos doentes mentais e a
preocupação da equipe relacionada ao comportamento desses pacientes,
dificultaram a implantação destas unidades.(Dalgalarrondo & Gattaz, 1992;
Botega, 1997). Ainda hoje os leitos psiquiátricos em hospital geral são
claramente insuficientes para funcionar como alternativa à internação em
hospitais psiquiátricos (Botega, 2002; Gentil, 2007).
1.1.3 Ambulatórios
Os ambulatórios, de forma geral, não estão integrados à rede de Saúde Mental
de uma maneira efetiva. Existem grandes filas de espera para marcação de
consultas. Estes ambulatórios são referência para inúmeras consultas em
psiquiatria e psicologia, em especial, mas sua resolutividade tem sido baixa – a
maioria possui imensas listas de espera e as crises no seu funcionamento são
freqüentes. Entendemos que, em muitos locais, é necessária uma reformulação
deste modo de funcionamento, rediscutindo o papel dos ambulatórios na rede
de atenção em Saúde Mental e possibilitando uma integração dos serviços
existentes.
16
1.1.4 Residências Terapêuticas
A implementação dos Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) surge em um
contexto de superação do modelo assistencial centrado no hospital psiquiátrico,
para a atenção na comunidade, como estratégia para reinserção e reintegração
social dos pacientes com transtornos mentais, egressos de hospitais
psiquiátricos. As moradias, casas localizadas no meio urbano, servem como
espaços onde, além da humanização no trato destes pacientes, busca-se uma
vida social digna com direitos, no processo de readaptação de cada pessoa à
vida em sociedade. .
Várias experiências veem demonstrando que essa empreitada tem sido bem
sucedida no campo da Saúde Mental. Entretanto, algumas dificuldades em
relação à comunidade devem ser consideradas, como: a resistência em
algumas regiões em função da falta de conhecimento sobre o serviço, o
preconceito e o medo relacionados à doença mental (Vidal, 2006).
Em relação à expansão dos Serviços Residenciais é importante traçar
estratégias quanto aos impasses identificados. A opinião pública é uma das
questões que devem ser consideradas e incluídas no debate acadêmico e nos
projetos de intervenção (Furtado, 2006; Delgado, 2006).
A rede de Residências Terapêuticas (RT) conta hoje com 475 serviços em
funcionamento, com aproximadamente 2.500 moradores. A maior parte (19)
das RTs na cidade do Rio de Janeiro está localizada em Jacarepaguá (Brasil,
2007).
17
2 ATITUDES DA COMUNIDADE EM RELAÇÃO AOS PACIENTES
PSIQUIÁTRICOS
Um dos principais fatores que prejudicam a adaptação dos pacientes com
transtornos mentais graves na comunidade é o estigma da doença mental. O
destaque
sobre
o
estigma
tem
aumentado
nas
últimas
décadas,
particularmente no campo da psicologia social. Estudos demonstraram a
maneira como as pessoas constroem categorias cognitivas e as relacionam às
categorias de crenças estereotipadas. Ao definir o estigma como uma marca,
Link e Phelan (2001) destacam que ele vem acompanhado dos seguintes
componentes: rotulação, estereótipos, segregação, perda de status e
discriminação. A estigmatização é direcionada a determinados grupos e/ou
indivíduos. As questões acerca de circunstâncias estigmatizantes devem ser
elucidadas, pois além de afetar vários aspectos da vida das pessoas, pode ter
uma influência dramática sobre a distribuição das chances na vida, em áreas
como: salário, moradia, envolvimento criminal, saúde, entre outras.
Neste contexto, os pacientes psiquiátricos foram discriminados de várias
maneiras ao longo dos séculos. Expressões como: "mentalmente doente'' ou
''doentes mentais'' estão ainda associados à violência, à periculosidade, à
imprevisibilidade, e mesmo à depravação moral. A esquizofrenia, mais do que
outros transtornos psiquiátricos, tende a ser vinculada a imagens públicas
negativas. O medo e o estereótipo continuam a ser um obstáculo para eficácia
do tratamento e para a integração social do paciente. Os efeitos da
discriminação
têm
um
impacto negativo, não só
no
relacionamento
interpessoal, mas também no desempenho de papéis sociais e ascensão social
do paciente. Estas experiências constituem uma barreira à sua melhora clínica,
limitando as oportunidades e reduzindo sua auto-estima (Gonzalez-Torres et
al., 2007).
O modelo assistencial baseado na reintegração do doente mental em áreas
residenciais ainda sofre alguns entraves, como o estigma atrelado aos
pacientes psiquiátricos, a idéia de que doentes mentais devem ser excluídos e
tratados em instituições fechadas e a falta de conhecimento sobre os serviços
de Saúde Mental, o que reforça a rejeição em relação a este grupo.
18
A atitude negativa da comunidade é um dos principais obstáculos para a
implantação de serviços de Saúde Mental em áreas residenciais.
A
segregação e a exclusão desses pacientes geram um obstáculo para a
melhora terapêutica do paciente psiquiátrico e para um tratamento bemsucedido (Rossler & Salize 1995).
A avaliação das atitudes da sociedade em relação aos doentes mentais
ganhou uma importância especial com a transferência da assistência do
hospital para unidades extra-hospitalares, porque a oposição por parte da
vizinhança pode inviabilizar os novos projetos. Alguns estudos sugerem que a
reintegração dos doentes mentais depende estreitamente da aceitação que
tenham por parte da comunidade (Wolff et al, 1996b).
Corrigan et al. (2001) avaliou a atitude de estudantes de medicina em relação a
pacientes com depressão e transtornos psicóticos. Seus achados corroboram
a hipótese de que o contato direto com o paciente é mais importante do que
apenas conhecimento sobre a doença, e sugere que familiaridade diminui o
estigma social atrelado a pacientes com transtornos psiquiátricos.
As residências terapêuticas com maior grau de aceitação parecem ser as que
estão localizadas em regiões centrais das cidades, com grande rotatividade de
população. A integração parece ser mais difícil em bairros estritamente
residenciais, pois estes tendem a ser uma sociedade mais fechada (Trute &
Segal, 1976).
O processo de implantação e expansão dos serviços residenciais é
relativamente recente no Brasil. Exige uma articulação bem desenvolvida com
a vida cotidiana, com a vizinhança, com outros setores, agregando saberes que
envolvem a dimensão humana. O ritmo de expansão destes serviços deve
obedecer esta articulação, e a aceitação da comunidade é o ponto crucial na
dinâmica das relações entre usuários e a comunidade, usuários e tratamento
terapêutico, no processo de habitar os espaços da cidade, diminuindo o
estigma e possibilitando a ampliação da rede social.
A avaliação das atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais é
uma etapa importante na elaboração de estratégias para a implementação de
novos serviços, já que a reintegração e reinserção do paciente, muitos com
uma rede social prejudicada, dependem do acolhimento e da receptividade que
19
encontram (Maclean, 1969; Taylor & Dear, 1981; Wolff et al, 1996a; Hannignan,
1999; Schomerus et al., 2006).
2.1 Desenvolvimento da escala Community Attitudes towards the Mentally
Ill (CAMI)
A primeira escala desenvolvida com o objetivo de avaliar as atitudes da
comunidade diante dos pacientes psiquiátricos foi a escala Opinions about
Mental Illness (OMI) foi desenvolvida em 1962 por Cohen e Struening,
utilizando as respostas de 1.195 trabalhadores de dois grandes hospitais
psiquiátricos. Incluiu também itens das seguintes escalas: a California F-scale
(Adorno et al., 1950), Custodial Mental Illness Ideology Scale (Gilbert &
Levinson, 1956), Nunnally’s scale of popular concepts of mental health
(Nunnally, 1961), construíram um instrumento contendo setenta itens. Após
análise do questionário, os itens foram agrupados em cinco dimensões e, em
trabalho subseqüente, reduzido para cinqüenta e um itens.
As cinco
dimensões identificadas foram: (1) autoritarismo – a crença de que obediência
à autoridade é importante e pessoas com doença mental são inferiores e não
têm a capacidade de obedecer a regras, necessitando tratamento coercivo; (2)
benevolência – uma idéia paternalista em relação aos doentes mentais; (3)
ideologia de higiene mental – a idéia de que doença mental é uma doença
como outra qualquer; (4) restrição social – a idéia de que as atividades de
doentes mentais, como casamento, voto, capacidade de ter filhos etc., devem
ser restringidas; e (5) etiologia interpessoal – a idéia de que doença mental se
origina de experiências interpessoais.(Link et al., 2004).
A política de desinstitucionalização e o destaque de fatores genéticos na
etiologia dos transtornos mentais são exemplos de questões que surgiram
depois do desenvolvimento da OMI. Para sanar esta defasagem, foi criada, em
1981, a escala Community attitudes towards the mentally ill (CAMI) (Taylor &
Dear, 1981). Dois objetivos direcionaram seu desenvolvimento: a construção
de um instrumento capaz de diferenciar as características das pessoas que
aceitam das que rejeitam os doentes mentais na comunidade e poder
descrever e explicar as reações da comunidade em relação às unidades de
atendimento ao doente mental.
20
Esta escala usa a OMI como base conceitual e procura reproduzir três de suas
cinco dimensões (autoritarismo, benevolência e restrição social). A quarta
dimensão (ideologia da Saúde Mental comunitária) da CAMI foi desenvolvida a
partir da escala Community Mental Health Ideology (CMHI) de Baker &
Schulberg (1967).
A escala contém 40 itens, dez para cada uma das quatro dimensões propostas.
As respostas para cada uma das questões são distribuídas numa escala tipo
Likert de 5 pontos. Os valores encontrados referentes à consistência interna
das quatro subescalas foram: autoritarismo: 0,68; benevolência: 0,76; restrição
social: 0,80; e ideologia da Saúde Mental comunitária: 0,88. Foi encontrada
também uma alta correlação entre as subescalas e com algumas variáveis
sócio-demográficas: sexo, idade, ocupação, renda (Taylor e Dear, 1981).
2.2. Estudos que avaliaram as atitudes da comunidade em relação aos
doentes mentais
Foi realizada uma extensa revisão bibliográfica dos principais estudos
internacionais e nacionais, no período entre 1980 e 2006, que avaliaram as
atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais, bem como a opinião,
e conhecimento sobre os serviços de Saúde Mental (quadro 1). Em relação aos
estudos
nacionais,
três
estudos
foram
encontrados,
e
abordavam
especificamente a opinião dos profissionais e estudantes de graduação da
área da saúde. Os instrumentos utilizados nos estudos foram: Opinions about
Mental Illness (OMI) (Cohen e Struening,1962), Community Attitudes Towards
the Mentally Ill (CAMI) (Taylor & Dear, 1981), Opiniões sobre a Doença Mental
(ODM) (Rodrigues, 1983; Rodrigues, 1992) e Perceived DevaluationDiscrimination Scale (PDDS) (Link et al., 1987) e Psychiatric
Disability
Attribution Questionnaire (PDAQ) Corrigan et al., 2001).
2.2.1 Estudos Internacionais
Variáveis sociodemográficas, como classe social, nível de educação, idade e
sexo, são capazes de influenciar atitudes em relação aos doentes mentais.
Crisp et al. (2000), trabalhando para o Royal College of Psychiatrists,
entrevistaram 1737 pacientes como parte de uma campanha para reduzir o
estigma atrelado aos pacientes com diferentes transtornos mentais. Em seus
21
resultados, 71,3% das pessoas achavam que doentes mentais, em especial
esquizofrênicos, era um perigo para a sociedade e 77,3% que eles eram
imprevisíveis. Ao contrário de Byrne (1997), Crisp não encontrou diferença
entre entrevistados que conheciam alguém com doença mental e aqueles que
não conheciam ninguém com transtorno mental. Dentre outros fatores que
influenciam as atitudes em relação a doentes mentais, os que já foram
extensivamente
estudados
são:
(1)
fatores
socio-demográficos;
(2)
conhecimento sobre doença mental; e (3) experiência pessoal com doentes
mentais.
Em relação a fatores sócio-demográficos Hayward e Bright (1997) sugerem que
pessoas mais idosas e com menor nível educacional e social tendem a ter uma
atitude mais negativa em relação aos doentes mentais. Leff (1997) mostra que
a atitude da comunidade é essencial no sucesso a longo-prazo de políticas de
Saúde Mental na comunidade.
Além disso, os próprios pacientes com
transtorno mental tendem a ter atitudes negativas em relação à doença, o que
pode levá-los a demorar a procurar ajuda médica, comprometendo o
diagnóstico precoce e conseqüentemente um tratamento mais efetivo.
Os fatores sócio-demográficos, sozinhos, podem não ser suficientes para
justificar as atitudes públicas em relação à doença mental. Conceitos médicos
e morais de pessoas leigas a respeito de doença mental constituem uma base
de conhecimentos a partir da qual se desenvolve a tolerância. Um estudo
realizado com uma amostra
de 713 adultos da área rural do estado de
Tennessee (USA) demonstrou a baixa tolerância entre os que têm estes
preconceitos. Sugere que um maior conhecimento e compreensão levariam,
necessariamente, a uma maior tolerância em relação a comportamentos
desviantes (Neff e Housaini 1985).
Wolff et al. (1996a), antes da abertura de mais duas residências terapêuticas
para doentes mentais em uma comunidade em Londres, realizaram um
inquérito com 305 moradores próximos a esses serviços utilizando a escala
Community Attitudes toward the Mentally Ill (CAMI). A entrevista consistiu de
questões que lidavam com: (a) dados demográficos, (b) conhecimento sobre
doença mental, (c) reações em relação a doentes mentais, (d) conhecimento
do tratamento psiquiátrico nos hospitais, (e) conhecimento sobre a mudança no
modelo assistencial (do hospital para a comunidade) de pacientes psiquiátricos,
22
(f) atitudes da comunidade em relação às políticas de saúde, e (g) opiniões
sobre a necessidade de educação da comunidade.
Os entrevistados também
completaram um questionário de auto-avaliação sobre o medo e atitudes
comportamentais em relação aos doentes mentais, feitas especialmente para
este estudo.
Entre seus achados (Wolff et al., 1996a) encontraram associação entre classe
social e atitudes relacionadas ao controle de doentes mentais, com atitudes de
maior restrição e menos liberdade aos doentes mentais associadas a classe
social mais baixas, e um menor controle social associado às classes mais
altas. Também encontraram um efeito independente entre nível educacional
mais alto e atitudes de benevolência, com maior nível educacional associado a
maior benevolência em relação aos doentes mentais, mas sem associação
com atitudes de restrição social. Levantam a possibilidade de que a existência
de uma relação entre atitudes negativas e classes sociais mais baixas ou
menor nível educacional, possa ser um reflexo da falta de conhecimento nestes
grupos sobre o tema nestes grupos. Sugerem ser possível que a relação entre
atitudes negativas e variáveis sócio-demográficas como classe social e nível
educacional sejam mediadas por falta de conhecimento sobre doença mental,
já que entrevistados que relataram sentirem medo de doentes mentais
disseram que sentiam medo porque não tinham conhecimento sobre doença
mental e não saberiam como reagir em situações diferentes. Em seu estudo, o
”medo do desconhecido” parece ter sido o fator decisivo na geração de medo.
Este resultado contrasta diretamente com achados de Taylor e Dear (1981),
onde educação teve o maior efeito em relação a atitudes de restrição social.
Outros estudos também relataram uma correlação direta entre maior nível
educacional e maior tolerância (Bockington et al, 1993).
Consoante com estes achados, Papadopoulos et al. (2002) também
demonstraram, em uma população de gregos e ciprianos na Inglaterra, que há
uma relação entre falta de conhecimento e atitudes preconceituosas em
relação a doentes mentais. Outro estudo de Wolff et al. (1996b) avaliou o
sucesso de uma campanha educacional em uma área residencial onde seria
construído um serviço de Saúde Mental. O programa educacional teve pouco
efeito nos níveis de conhecimento sobre Saúde Mental, mas houve uma
23
melhora nas atitudes em relação aos doentes mentais.
A conclusão dos
autores em seus dois estudos foi a de que o contato com doentes mentais
parece ser mais importante na formação de atitudes do que apenas
informação.
Entre outros estudos que defendem idéia da importância de contato pessoal
com doentes mentais e conhecimento sobre Saúde Mental está o estudo
Chinês conduzido por Gao e Philips (2001). Desde 1985, o Departamento de
Saúde em Taiwan tem tido como objetivo prioritário o fortalecimento dos
sistemas de reabilitação psiquiátrica. Um de seus principais obstáculos é o alto
índice de estigma relacionado aos doentes mentais. Para avaliar as atitudes
da população geral em relação aos doentes mentais, examinaram a associação
do contato prévio com doentes mentais e as atitudes em relação a eles,
controlando por variáveis sócio-demográficas.
Foram entrevistadas 1.203
pessoas e o estudo conclui que o contato direto e a idade foram as variáveis
mais importantes. Atitudes benevolentes não garantem, necessariamente, a
aceitação de reabilitação na comunidade, mas, “um pensamento benevolente
pode ser transformado em compaixão e aceitação de outro ser humano se as
pessoas tiverem a oportunidade de ter contato direto com doentes mentais”
(Gao & Philips, 2001).
Ng et al. (1995) avaliaram
300 moradores de Dunedin (Nova Zelândia) a
respeito do conhecimento da população sobre doença mental e a experiência
pessoal com doentes mentais. Concluíram que ter conhecido alguém com
distúrbio psiquiátrico facilita relações mais próximas com outros doentes.
Ressaltam que a comunidade precisa e quer ter informações sobre os doentes
mentais e demonstra uma opinião favorável sobre a reabilitação de pacientes
psiquiátricos.
Buizza et al. (2005 ) destacaram a importância de promover intervenções na
comunidade no intuito de melhorar as atitudes em relação aos doentes mentais
e ações específicas para prevenir ou eliminar preconceitos em sub-grupos da
população.Um estudo conduzido na Nigéria, com objetivo de determinar as
atitudes dessa população em relação aos doentes mentais, revelou que a visão
negativa sobre a doença mental é predominante na população, pois 96,5% das
pessoas acredita que os doentes mentais são perigosos (Guruje et al., 2005).
24
2.2.2 Estudos Nacionais
Avancini et al.(2002) e Pedrão et al. (2002) fizeram um estudo comparativo
entre ingressantes e formandos de enfermagem, com o objetivo de verificar a
influência da instrução acadêmica nas atitudes em relação à doença e aos
doentes mentais. Para verificar essa influência traçaram um perfil das atitudes
dos alunos quando entravam na faculdade e momentos antes de receberem o
grau de enfermeiros. Os resultados demonstraram que os formandos
apresentaram-se menos autoritários e mais benevolentes, acreditando mais na
semelhança do doente mental com uma pessoa normal. Destacaram a
importância da estruturação das disciplinas de ensino da área de enfermagem
psiquiátrica como uma estratégia de minimizar os fatores que podem influenciar
nas atitudes negativas dos alunos frente aos pacientes psiquiátricos.
Pedrão et al. (2005) traçaram um perfil de formandos em enfermagem
brasileiros, chilenos e peruanos. Os formandos brasileiros apresentaram
atitudes mais positivas em relação aos pacientes com transtornos mentais
quando comparados aos outros dois grupos.
Estereótipos e preconceitos podem influenciar de forma negativa as condutas
que, no futuro, os alunos no campo da saúde terão com o paciente psiquiátrico.
A conduta profissional quando trabalhada precocemente pode predizer ações
menos preconceituosas.
A grande maioria dos estudos sobre atitudes em relação aos doentes mentais
foi desenvolvida nos países do primeiro mundo como a Inglaterra e Alemanha.
Prevaleceram os estudos seccionais, com amostras variando de 68 a 7246
pessoas, sendo a CAMI o principal instrumento utilizado. O grupo sócio
econômico mais baixo, de menor nível educacional, e as pessoas de minoria
étnicas, são os que apresentaram atitudes mais negativas em relação a este
grupo. O contato direto é um importante fator para determinar atitudes positivas
em relação aos doentes mentais.
Os estudos mais recentes demonstraram que o contato com os doentes
mentais é capaz de produzir profundos efeitos na formação de atitudes em
relação a doentes mentais, já que inclui não apenas o aspecto cognitivo, mas
também o aspecto afetivo e comportamental das relações interpessoais. O
25
estigma e o preconceito, favorecendo atitudes negativas, continuam fortemente
arraigados nas relações sociais das diferentes culturas.
26
Quadro 1: Estudos em diversos países sobre as atitudes da comunidade em relação aos
doentes mentais e ao serviço de Saúde Mental
Canadá
1981
Taylor & Dear
Neff e Housaini
Brockington
al
Ng et al.
et
1985
Inglaterra
1993
Nova
Zelândia
1995
Estudo
seccional
Estudo
seccional
Estudo
seccional
Estudo
seccional
1.090
713
2000
moradores
300
moradores
Moradores
de Toronto
Tenessee
USA
Malvern e
Bromsgrov
e (UK)
Dunedin
Nova
Zelândia
Community
Attitudes to the
Mentally Ill
(CAMI)
Interpretações a
partir de
histórias curtas
Community
Attitudes to the
Mentally Ill
(CAMI)
Community
Attitudes to the
Mentally Ill
(CAMI) e Social
Distance Scale
Desenvolviment
o e aplicação da
escala CAMI
Avaliar os
conceitos
médicos e
morais de
pessoas leigas a
respeito de
doença mental e
sua relação com
a tolerância.
Avaliar as
atitudes da
comunidade em
relação aos
doentes mentais
em 2 regiões da
Inglaterra
Avaliar o
conhecimento
da população
sobre doença
mental e a
experiência
pessoal com
doentes
mentais.
O estudo
demonstra a
validade da escala
e sua utilidade
como variável
explanatória e
preditiva no
estudo da reação
da comunidade a
serviços de Saúde
Mental
comunitários
Demonstrou a
baixa tolerância
entre os que têem
estes
preconceitos.
Sugere que um
maior
conhecimento e
compreensão,
levaria,
necessariamente,
a uma maior
tolerância em
relação a
comportamentos
desviantes
Os moradores
Bromsgrove, onde
existe um hospital
psiquiátricol,
foram mais
tolerantes do que
os da região de
Malvern.
Os fatores sóciodemográficos
associados a
maior tolerância
foram: idade, nível
educacional e
familiaridade com
doentes mentais.
Ter conhecido
alguém com
distúrbio
psiquiátrico facilita
relações mais
próximas com
outros doentes.
A comunidade
precisa e quer
informações sobre
os doentes
mentais e tem
uma opinião
favorável sobre a
reabilitação de
pacientes
27
psiquiátricos .
Wolff & cols.,
Wolff & cols.,
Crisp et al
Corrigan,
Gao e Philips
Inglaterra
1996a
Inglaterra
1996b
Reino
Unido
2000
2001
2001
Estudo
seccional
Estudo
seccional.
Estudo
seccional
Estudo
seccional –
prevalência
em
2
momentos
Estudo
seccional
305
vizinhos
próximos
aos
serviços
305
vizinhos
próximos
aos
serviços
1737
152
estudantes
1203
Tooting
Bec
Hospital
(UK)
Tooting
Bec
Hospital
(UK)
Reino
Unido
Chicago
(USA)
Taiwan
Community
Attitudes to the
Mentally Ill
(CAMI)
Realizar a
análise fatorial
da escala CAMI
e avaliar
associação dos
fatores com
variáveis sóciodemográficas
Community
Attitudes to the
Mentally Ill
(CAMI)
Medir as
atitudes da
comunidade em
duas ruas antes
da abertura de
duas
Residências
Terapêuticas
para doentes
mentais.
8 questões
relativas à
opinião a
respeito de
pessoas com
diferentes
transtornos
mentais
Avaliar a
opinião
pública sobre
pacientes com
diferentes
transtornos
mentais
Psychiatric
Disability
Attribution
Questionnaire
(PDAQ).
Avaliar 3
estratégias para
diminuir o
preconceito em
relação a
doentes mentais
e deficientes
físicos
Community
Attitudes to the
Mentally Ill
(CAMI)
Avaliaram as
atitudes da
população de
Taiwan em
relação aos
doentes mentais
O estudo
demonstrou que a
existência de
relação entre
atitudes negativas
e classes sociais
mais baixas ou
menor nível
educacional,
possa ser um
reflexo da falta de
conhecimento
sobre o tema
nestes grupos.
O grupo sócio
econômico mais
baixo, o menor
nível educacional ,
aqueles com
crianças e as
pessoas de
minoria étnicas,
são os que
apresentaram
atitudes mais
negativas em
relação aos
doentes mentais.
71,3% das
pessoas
achavam que
doentes
mentais, em
especial
esquizofrênicos,
eram um perigo
para a sociedade
e 77,3% que eles
eram
imprevisíveis.
O contato direto
com pacientes
psiquiátricos
surtiu mais efeito
em relação á
diminuição do
preconceito do
que a educação
O contato direto
com doentes
mentais e idade
foram as variáveis
mais importantes
para determinar
atitudes positivas
em relação aos
doentes mentais
28
Papadopoulos
Alemanh
a
2002
Gaebel et al.
Buizza et al.
2005
Guruje et al.
Schomerus
al.
Inglaterr
a
2002
2005
et
2006
Estudo
seccional
Estudo
seccional
Eestudo
seccional
Estudo
seccional
Estudo
seccional
79 ingleses
e
91
grecociprianos
7246
280
2040
Norte
de
Londres
É grande o
preconceito em
relação À doença
mental, e
campanhas
educacionais
devem ser
implementadas.
É importante
promover
intervenções para
melhorar as
atitudes em
relação aos
doentes mentais e
ações específicas
para prevenir ou
eliminar
preconceitos em
sub-grupos da
população
Alemanha
Perceived
DevaluationDiscrimination
Scale
Investigar as
atitudes da
população
urbana em
relação à doença
mental
Itália
Community
Attitudes to the
Mentally Ill
(CAMI)
e
Fear and
Behavioural
Intentions
(FABI) inventory
Verificar a
associação entre
as
características
sóciodemográficas e
as atitudes da
comunidade em
relação aos
doentes mentais
Community
Attitudes to the
Mentally Ill
(CAMI)
Determinar as
atitudes da
população da
Nigéria em
relação aos
doentes mentais
Uma visão
negativa sobre a
doença mental
predomina na
população da
Nigéria. 96.5%
acredita que os
doentes mentais
são perigosos
Perceived
DevaluationDiscrimination
Scale
Avaliação do
estigma em
relação aos
doentes mentais
em 3 diferentes
países
Não houveram
diferenças
significativas nos
achados
Ogun, Oyo
and Osun
Nigéria
1745
Community
Attitudes to the
Mentally Ill
(CAMI)
Este estudo
avaliou a
população
greco-cipriana
(1º e 2º geração)
conhecida pelas
suas atitudes
estigmatizantes
em relação aos
doentes mentais
e comparou com
a de ingleses.
Os entrevistados
greco-ciprianos
tinham menos
conhecimento
sobre doentes
mentais e,
apresentaram
atitudes mais
estigmatizantes do
que os ingleses.
Pouca diferença
foi encontrada
entre
descendentes de
1º e 2º geração.
Conhecimento
sobre doença
mental foi
associado à
atitude mais
positiva.
Eslováquia
(Bratislava)
,
Rússia
(Novosibirs
k)
e
Alemanha
29
Avanci et al
Pedrão et al
Pedrão et al
2002
2002
2005
Estudo
seccional
Estudo
seccional
Estudo
seccional
68
68
154
São Paulo
Brasil
São Paulo
Brasil
São Paulo
(Brasil),
Chile
e
Peru
Opinions about
Mental Illness
(OMI)
Autoritarismo e
Benevolência
Opinions about
Mental Illness
(OMI)
Opinions about
Mental Illness
(OMI)
Avaliar
autoritarismo e a
benevolência de
Alunos
iniciantes no
curso de
Enfermagem
frente a
paciente
psiquiátricos
Traçar o perfil
dos alunos de
enfermagem
frente à doença
mental, antes da
influência da
instrução
acadêmica .
Traçar um perfil
de atitudes de
formandos em
enfermagem
frente aos
transtornos
mentais em três
culturas
diferentes:
Brasil, Chile e
Peru
Atitude negativa,
com
conteúdo
autoritário,
prevaleceu nos
alunos iniciantes,
justificando
o fato de não
terem recebido
ainda nenhuma
instrução
acadêmica nesse
sentido.
Os alunos
demonstraram um
perfil de atitudes
de conteúdo de
caráter autoritário,
restritivo e
discriminador
Os formandos
brasileiros
apresentaram
atitudes mais
positivas frente
aos transtornos
mentais,
mostrando-se
menos
autoritários,
restritivos e
discriminadores
que os chilenos e
peruanos.
30
3 JUSTIFICATIVA
As atitudes em relação aos doentes e à doença mental têm recebido
considerável atenção nos últimos 30 anos, em função do movimento de
transformação da assistência no campo da Saúde Mental que transfere o
cuidado de base, principalmente hospitalar, para alternativas de atendimento
na comunidade.
O processo de reforma psiquiátrica que vem se desenvolvendo no Sistema
Único de Saúde necessita ter seus resultados bem avaliados. O tratamento do
paciente crônico representa um dos maiores desafios para as reformas no
setor de Saúde Mental. Estes pacientes precisam de cuidados contínuos e de
serviços de reabilitação psicossocial, sendo que o suporte social e a aceitação
da comunidade em que vivem têm um papel fundamental na sua recuperação e
equilíbrio. (Wykes & Sturt, 1986; Leff & Trieman, 2000).
A avaliação, de forma objetiva e criteriosa, tem levado à implantação de
projetos que utilizam escalas para medir a resolutividade dos serviços e a
adequação dos pacientes à nova realidade.
Neste contexto, é importante que se estabeleça a prática na utilização de
instrumentos confiáveis na avaliação dos fatores que envolvem e afetam o
atendimento aos transtornos mentais (Lima et 30L, 2003b ,Bandeira). No Brasil
a quantidade de escalas validadas ainda é tímida, principalmente no que diz
respeito
a
instrumentos
para
aferir
os
resultados
da
política
de
desinstitucionalização psiquiátrica.
Em um sistema de saúde que disputa financiamentos escassos, é
imprescindível tentar determinar como os serviços beneficiam estes pacientes,
seus familiares e se atendem satisfatoriamente às suas demandas. Portanto,
as disponibilidades de ferramentas que possibilitam conhecer os serviços, sua
clientela, identificam avanços e retrocessos, é de fundamental importância para
um planejamento adequado dos serviços (Holloway at 30L, 1999).
A implementação de projetos que avaliem as atitudes da comunidade deve ser
encarada como um investimento positivo pelos serviços substitutivos. Além
disso, proporciona uma medida objetiva da atitude e do conhecimento da
31
vizinhança em relação aos usuários e aos serviços, assim como permite criar
projetos que promovam o estabelecimento de relações mais estreitas e
aumentem a capacidade de se conviver com as diferenças.
32
4 OBJETIVOS
4.1 Objetivo geral:
O objetivo desse estudo é realizar a adaptação transcultural e avaliar a
confiabilidade da escala: Community Attitudes toward Mentally Ill
(CAMI)
utilizada para medir as atitudes da comunidade em relação a pacientes
psiquiátricos.
4.2 Objetivos específicos:
Realizar a adaptação transcultural da escala CAMI
Medir a confiabilidade da escala CAMI
33
5 METODOLOGIA
Este estudo faz parte do projeto: “Validação transcultural das escalas: SNS e
CAMI em pacientes psiquiátricos de longa permanência”, financiado pelo
CNPQ, processo n° 485609/2006-1. Esta pesquisa se deteve em 2 etapas
deste projeto, visando a adaptação transcultural e o estudo de confiabilidade da
escala Community Attitudes towards Mentally Ill (CAMI).
A primeira etapa consistiu na tradução e adaptação das questões das escalas
para o contexto brasileiro, assim como um estudo piloto que visou ajustar a
formulação das questões à população-alvo. A segunda etapa envolveu o
estudo de confiabilidade do instrumento, através do procedimento teste e reteste, com um intervalo de duas semanas para a aplicação da escala.
5.1 Local do estudo
O estudo foi realizado em domicílios próximos aos serviços de Residência
Terapêutica do Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira
(IMASJM), localizados na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, nos
seguintes bairros de Jacarepaguá: Taquara, Tanque, e Colônia (área do
IMASJM que faz parte do bairro da Taquara e possui características de bairro).
Até a metade do século XIX, a Baixada de Jacarepaguá podia ser considerada
como subúrbio. Hoje ela surge integrada à Zona Sul. Ao longo de todo esse
período, destacam-se tanto a formação dos espaços de moradia quanto às
transformações da paisagem rural, que vai adquirindo características urbanas
sem, porém, perder a beleza natural. Possui uma área territorial de 12.660,65
ha, e em 2000, com uma população estimada de 469.682 habitantes (Instituto
Pereira Passos, 2008).
Bairro Taquara
É um bairro de classe média, com uma área territorial (2003) de 1.320,66 ha,
uma população total (2000) de 93.741 habitantes e um total de domicílios
(2000) de 28.310. A taxa de mortalidade infantil (2005) é de 13/1000 habitantes
e o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH — (2000) é 0,876.
34
Localiza-se na região de Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade do Rio de
Janeiro. Passou por obras do Rio Cidade, o que trouxe melhorias e deu um
novo aspecto ao local. O centro da Taquara se caracteriza pelo comércio,
sendo seu entorno residencial.
Bairro Tanque
Bairro de classe média, com uma área territorial (2000) de 556,8 ha, uma
população total (2000) de 32.462 habitantes e um total de domicílios( 2000) de
9.985. A taxa de mortalidade infantil (2005) é de 24/1000 habitantes e o Índice
de Desenvolvimento Humano – IDH — (2000) é 0,83. Comparado com o bairro
Taquara: suas características sugerem ser um bairro pequeno, menos
desenvolvido, comércio limitado e seu entorno composto principalmente de
favelas.
Colônia Juliano Moreira
O Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira (IMASJM) é um
hospital psiquiátrico localizado em Jacarepaguá – RJ, fundado em 1924, com
uma
área
de
7.000.000
m².
Tem
como
clientela
620
pacientes
institucionalizados por muitos anos e que perderam seus vínculos familiares e
sociais devido aos longos anos de institucionalização. O IMASJM tem as
características de um pequeno bairro, com uma linha de ônibus regular, uma
escola municipal, comércio e clube. Atualmente residem no seu perímetro mais
de 30.000 moradores, fruto principalmente de invasões nas terras da antiga
Colônia Juliano Moreira. Sua história é marcada por várias transformações do
modelo de assistência e a partir da década de 80, implementa os primeiros
projetos para garantir condições de habitação mais humanas e assistência
terapêutica mais adequada, com o objetivo de promover a desistitucionalização
de sua clientela. (Camarinha,1984).
Em 1996 a Colônia Juliano Moreira (CJM) foi municipalizada, passando a se
chamar Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira. Atualmente
é constituído de 1 unidade de pacientes agudos (Hospital Municipal Jurandyr
Manfredini) 1 Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), 1 Centro de Atenção
Psicossocial Infantil (CAPSI) e de 4 núcleos de longa permanência que
35
abrigam os
pacientes idosos remanescentes da antiga Colônia Juliano
Moreira.
Atualmente as principais atividades assistenciais da instituição são os
programas de Lazer e Geração de Renda, Reabilitação Psicossocial,
Acompanhamento Comunitário Contínuo para Pacientes Graves e o programa
de Serviços Residenciais Terapêuticos.
O programa de Serviços Residenciais Terapêuticos do Instituto Municipal
Juliano Moreira (IMASJM), teve início no ano 2000, com casas localizadas no
bairro da Taquara. As moradias são compostas por população masculina,
feminina e mista. São moradias (casas ou apartamentos) individuais de casais,
e grupos de 3, 4 e 8 moradores. O programa é desenvolvido com recursos da
Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, em parceria com a
Associação de Parentes e Amigos dos Pacientes do Complexo Juliano Moreira
(APACOJUM). A equipe do programa é formada por profissionais de nível
superior e cuidadores, responsáveis pelo acompanhamento diário dos novos
moradores. O objetivo é ampliar a capacidade da clientela na negociação dos
conflitos interpessoais, e sua reintegração na vida da cidade e da comunidade
(Sanzana et 35L, 2006).
Atualmente, o programa é constituído por 19
Residências Terapêuticas e abriga 68 pacientes egressos de internações
psiquiátricas prolongadas.
5.2 População do estudo
Moradores dos bairros descritos acima, maiores de 18 anos.
Critérios de exclusão:
1-menores de 18 anos
2—incapacidade de responder
5.3 Descrição do instrumento original
A CAMI é uma escala multidimensional, originalmente de língua inglesa,
elaborada por Taylor e Dear (1981). Dois objetivos direcionaram seu
desenvolvimento: a construção de um instrumento capaz de diferenciar as
características das pessoas que aceitam das que rejeitam os doentes mentais
36
na comunidade e poder descrever e explicar as reações da comunidade em
relação às unidades de atendimento ao doente mental.
O instrumento consta de perguntas sobre:
• Conhecimento sobre doença mental
• Reações aos doentes mentais
• Conhecimento sobre o tratamento hospitalar psiquiátrico
• Conhecimento sobre a mudança do tratamento de base hospitalar para a
comunidade
• Atitude em relação à política de atendimento na comunidade
A escala é composta de 40 itens distribuídos em quatro subescalas (cada uma
com 10 variáveis).
As quatro subescalas são:
1)Autoritarismo: necessidade de hospitalização dos doentes mentais; diferença
entre doentes mentais e pessoas normais; importância do tratamento custodial;
causas das doenças mentais.
2) Benevolência: responsabilidade da sociedade em relação aos doentes
mentais; necessidade de atitudes gentis e simpáticas; desejo de se envolver
pessoalmente; sentimentos anti-hospitalização.
3) Restrições sociais: periculosidade dos doentes mentais; manutenção de
distância social; falta de responsabilidade; normalidade do doente mental.
4) Ideologia da Saúde Mental comunitária: impacto dos serviços de Saúde
Mental na vizinhança; perigo que o doente mental representa para os vizinhos;
aceitação dos princípios da desinstitucionalização psiquiátrica.
Nas subescalas Autoritarismo e Restrição social, as cinco primeiras afirmações
têm uma conotação negativa e as cinco últimas uma conotação positiva. Nas
subescalas Benevolência e Ideologia da Saúde Mental Comunitária os itens se
apresentam em disposição contrária. Em função disso, para calcular o escore
final é necessário recodificar os 5 últimos itens das duas primeiras subscalas e
os 5 primeiros itens das duas últimas (quadro 2).
37
Quadro 2. Recodificação dos itens da escala CAMI
CT*
C*
TF*
D*
DT*
Autoritarismo
Anti:
1, 2, 3, 4, 5
Pro:
6, 7, 8, 9,10
0
4
1
3
2
2
3
1
4
0
Restrição Social
Anti:
1, 2, 3, 4, 5
Pro:
6, 7, 8, 9,10
0
4
1
3
2
2
3
1
4
0
Benevolência
Pro:
1, 2, 3, 4, 5
0
1
2
3
4
Anti:
6, 7, 8, 9, 10
4
3
2
1
0
0
4
1
3
2
2
3
1
4
0
Ideologia da Saúde Mental Comunitária
Pro:
1, 2, 3, 4, 5
Anti:
6, 7, 8, 9, 10
CT: Concordo Totalmente
C: Concordo
TF: Tanto Faz
D: Discordo
DT: Discordo Totalmente
As respostas para cada uma das questões são distribuídas numa escala tipo
Likert de 5 pontos (concordo totalmente, concordo, tanto faz, discordo, discordo
totalmente). Após a recodificação, quanto maior o escore, mais positiva as
atitudes em relação aos doentes mentais.
A escala original possui qualidades psicométricas adequadas de validade de
construto, estabelecida através da análise fatorial, correlação item-total e como
consistência interna. Para três das quatro subescalas os valores de alfa de
Cronbach são elevados: Ideologia da comunidade em relação à Saúde Mental
(α = 0,88); Restrições sociais (α = 0,80); Benevolência (α = 0,76). O coeficiente
para Autoritarismo (α = 0,68), embora mais baixo ainda é satisfatório (Taylor &
Dear, 1981).
5.4 Questionário sóciodemográfico
O questionário sócio-demográfico foi construído a partir do questionário
utilizado por Wolff et 37L., 1996a). As variáveis utilizadas foram: idade; sexo;
38
estado civil; número de filhos; idade dos filhos; nível educacional; ocupação;
moradia (própria ou alugada; religião; utilização de serviços de Saúde Mental.
5.5 Amostra
Foi selecionada uma amostra de 250 pessoas residentes dos bairros de
Jacarepaguá: Taquara, Tanque e Colônia, selecionada da seguinte forma:
A partir da listagem de endereços das Residências Terapêuticas do IMASJM,
foram definidas 5 áreas e utilizado o seguinte critério para a aplicação da
escala.
Foi sorteado uma residência terapêutica de cada uma das 5 áreas. A partir da
residência selecionada no sorteio foi estabelecido um entorno de 5 quadras
onde foram realizadas as entrevistas (quadro 3).
Quadro 3. Localização dos serviços de Residências Terapêuticas por área.
Área 1:
Colônia
(IMASJM)
Ladeira
Vista, 03 –
Área 2:
Taquara
(próximo
instituição)
à
Área 3:
Centro
Taquara
da
Bela
Estrada Outeiro
Santo, 509, casa
36 térreo
Rua Atituba, 101,
apt. 101
Rua
Sampaio
Correa,
07,
fundos
Estrada Outeiro
Santo, 509, casa
25
Rua André Rocha,
372, bl. 04, apt.
103
Rua
Adauto
Botelho, 08
Est. Rodrigues
Caldas, 2228, rua
E, casa 212
Est. Rodrigues
Caldas, 2228
casa 53
Rua André Rocha,
372, bl. 03, apt.
203
Rua Apiacás, 294,
apt. 201
Est. Rodrigues
Caldas, 1445
Rua Apiacás, 308,
apt. 103
Rua
Adauto
Botelho, 12
Estrada Outeiro
Santo, 509, casa
36, apt. 101
Área 4:
Área afastada
do centro da
Taquara
Área 5:
Tanque
Est. Do Tindiba,
891, bl. 01, apt.
103
Av.Nelson
Cardoso,532
casa 1 fundos
39
Cada pesquisador ficou responsável por realizar 50 entrevistas, 10 em cada
quadra, sendo escolhidos os 10 primeiros domicílios, iniciando sempre pelo
lado par da rua.
Os pesquisadores foram orientados para, caso encontrassem algum empecilho
entre os 10 primeiros domicílios, como: terreno baldio, comércio, condomínio
fechado, recusa em atender, escolhessem a residência seguinte.
O tempo médio de entrevista foi de 20 minutos. As primeiras 50 entrevistas
foram reaplicadas 2 semanas depois para a análise de confiabilidade testereteste..
Figura 1. Modelo de amostragem
MODELO AMOSTRAGEM
Residência
Terapêutica
PRIMEIRO
QUARTEIRÃO
SEGUNDO
QUARTEIRÃO
TERCEIRO
QUARTEIRÃO
QUARTO
QUATEIRÃO
QUINTO
QUARTEIRÃO
RT
10 INDIVÍDUOS ENTREVISTADOS EM CADA QUARTEIRÃO
5.6 Treinamento dos pesquisadores
O treinamento foi realizado pela equipe de pesquisadores do Núcleo de
Pesquisa do Instituto Municipal Juliano Moreira (IMASJM). Foram treinados
após seleção 5 pesquisadores de campo: 2 psicólogos e 3 graduandos, sendo
2 em psicologia e 1 em medicina. Os pesquisadores de campo passaram por
um treinamento de 40 horas, que incluiu a leitura minuciosa da escala
40
individualmente e em conjunto, discussão de artigos relacionados ao estudo,
simulação de entrevista supervisionada pelos coordenadores e experimentação
de aplicação da escala em campo, com discussão dessa experiência.
Cada entrevista teve duração aproximada de 20 minutos. O objetivo do estudopiloto foi verificar, junto ao entrevistando, os termos e palavras de difícil
compreensão e perguntas que não estivessem claras. No decorrer do estudopiloto, procuravam-se palavras ou termos mais adequados, claros e simples
para substituí-las, visando a adaptação ao contexto cultural brasileiro.
A cada aplicação as modificações necessárias eram feitas e a escala
reaplicada até que não se detectassem mais dificuldades de compreensão
durante as entrevistas, sendo elaborada a versão teste final da escala.
5.7 Adaptação Transcultural da Escala:
A adaptação transcultural da presente escala para o contexto cultural
brasileiro foi realizada segundo os procedimentos recomendados pela literatura
internacional (Vallerand, 1989; Streiner & Norman, 1995) e estudos nacionais
(Bandeira et 40L., 2003; Lima et 40L, 2003ª; Lima et 40L., 2003b; Reichenrein
& Moraes, 2007).
Este procedimento constou das seguintes etapas: 1.Tradução; 2. Revisão da
tradução por um grupo 40L40íngüe; 3. Retradução; 4. Avaliação da retradução
5. Estudo piloto; 6. Revisão das questões a partir do estudo piloto. 7. Versão
síntese
41
Quadro 4 -
Etapas do procedimento para o processo de adaptação de
instrumentos de medidas.
Antes de iniciar o procedimento de adaptação transcultural, um dos autores da
escala original (Martin Taylor) foi contatado e concedeu autorização para que a
escala fosse traduzida e adaptada para o Brasil.
5.7.1 Equivalência conceitual
Foi realizado um painel de discussão formado por uma comissão de especialistas
(dois psiquiatras, uma epidemiologista, duas psicólogas, uma socióloga e uma
enfermeira) para examinar as quatro dimensões do instrumento original (autoritarismo,
benevolência. restrição social e ideologia da comunidade em relação à Saúde Mental).
Buscou-se examinar a pertinência dos itens de cada dimensão para avaliar as atitudes
da comunidade em relação aos doentes mentais na realidade brasileira.
42
5.7.2 Equivalência semântica
Tradução e revisão da tradução por um grupo bilíngüe
A primeira etapa da adaptação transcultural consistiu na tradução da CAMI
para a língua portuguesa, revisada por dois psiquiatras e um psicólogo
bilíngües.
Retradução
A versão em português foi retraduzida para o inglês por uma tradutora
juramentada bilíngüe, com experiência na área de saúde pública, cuja língua
materna era o português. A versão em inglês, produzida pelo processo de
retradução, foi comparada à escala original e avaliada em seguida por um
grupo de profissionais bilíngües com experiência na área: dois psiquiatras, uma
epidemiologista e uma psicóloga.
Painel de discussão (avaliação da retradução)
Foi realizado um painel de discussão (já descrito acima) com o objetivo de se
identificar inconsistências a serem corrigidas entre a escala traduzida e a
escala original. O objetivo foi obter uma tradução mais precisa da escala.
Foi avaliada a equivalência semântica comparando a escala original com a
retradução. Foi utilizado um formulário específico de forma a não permitir a
identificação dos itens, se originais ou retraduzidos.
Para avaliação do
significado referencial foi utilizada a escala analógica visual – Visual Analogue
Scale (Streiner & Norman, 1995) e a equivalência entre os itens foi julgada
numa escala de 0 a 100%. A avaliação do significado geral dos itens foi feita
em outro formulário classificando-os em: inalterado, pouco alterado, muito
alterado e completamente alterado (Moraes et 42L., 2002)
A partir dessa comparação, alguns termos da tradução foram revisados para
uma melhor adequação ao contexto brasileiro. Após essa discussão, todas as
questões foram mantidas, a comissão apontou as reformulações a serem
adaptadas na redação das questões e foi obtida uma versão preliminar da
escala brasileira.
43
5.7.3 Estudo piloto e revisão das questões a partir do estudo piloto.
O estudo piloto teve como objetivo ajustar a formulação das questões da
versão preliminar da CAMI-BR à da população-alvo na qual a escala foi
aplicada, a fim de se assegurar uma boa compreensão e precisão do texto.
Este estudo foi realizado em uma amostra de 14 indivíduos, moradores nas
proximidades de residências terapêuticas, no bairro de Jacarepaguá. As
entrevistas foram realizadas por 5 pesquisadores e 2 coordenadores de campo.
Para a aplicação da escala, o entrevistador utilizava um cartão contendo as
alternativas de resposta, para facilitar a compreensão e memorização dos
números correspondentes a cada item.
5.7.4 Equivalência operacional
O questionário original foi idealizado para ser autopreenchido e, para evitar viés
de informação, os 40 itens não estão organizados por subescalas nem essas
estão mencionadas (anexo x).
Para o presente estudo a aplicação do instrumento foi domiciliar e as
entrevistas foram realizadas face a face pelos pesquisadores no intuito de
observar as possíveis dificuldades de compreensão dos termos pelos
entrevistados e para reduzir o número de perdas. A estrutura das respostas,
escala likert de 5 pontos, não foi modificada. Porém, para facilitar a
visualização, mudanças operacionais foram feitas, sendo fornecido ao
entrevistado um cartão com as alternativas de respostas.
5.8 Equivalência de mensuração
Estudo de Confiabilidade
A confiabilidade intra-observadores foi avaliada pela aplicação do questionário
em dois momentos distintos, momento 0 (teste) e momento 1 (reteste), com
intervalo de quinze dias.
Para variáveis ordinais (que compõem os itens de cada uma das subescalas),
estimou-se a estatística Kappa ponderado (Kw). O peso dado a cada par de
observações dependeu do tamanho da diferença entre as categorias nas quais
os pares estão classificados. Valores paradoxais de kappa podem ocorrer em
função de vieses (variação sistemática unilateral entre dois entrevistadores) ou
44
distribuição enviesada (desigualdade entre as prevalências nas duas
amostras). Calculamos, então, o PABAK (prevalence-adjusted bias-adjusted
kappa) (Byrt et 44L., 1993).
Este valor é condicional ao percentual de
concordância observado. O PABAK pode ser útil para estimar concordância
quando o percentual de concordância é alto e o valor do kappa é
paradoxalmente baixo; aproxima-se do maior valor possível de kappa quando o
percentual de concordância é maior que 50% (Lantz and Nebenzahl 1996).
Para todas as estatísticas, foram estimados intervalos de 95% de confiança. Os
critérios utilizados, para interpretação da concordância, foram: quase perfeita:
0,80 a 1,00; b) substancial: 0,60 a 0,80; c)moderada: 0,40 a 0,60; d) regular:
0,20 a 0,40; d) discreta: 0 a 0,20; e) pobre: -1,00 a 0 (Landis & Kock, 1977).
A concordância global e estratificada pelas 4 subescalas e para o escore final
das escalas foram medidas pelo coeficiente de correlação intraclasse Shrout &
Fleiss (1979). Esta estatística é considerada adequada para medir tanto a
consistência quanto a confiabilidade de estudos porque é capaz de estimar a
proporção
de
variação
total
devido
à
variabilidade
entre
unidades
independentes de análise.
A versão do Coeficiente de Correlação Intraclasse utilizado foi a situação
batizada por de número 2 (two way randon ANOVA model), ou seja, cada
avaliação constitui uma amostra aleatória das avaliações. Tanto o alvo como as
avaliações
constituem
amostras
aleatórias
(Ronir,
2008).
Voltando
à
interpretação do ICC, e a exemplo do kappa, há, por parte dos pesquisadores,
a cobrança de se estabelecer o que poderia ser considerada uma “boa”
concordância. Apesar da artificialidade de qualquer ponto de corte que se
estabeleça – na medida em que cada caso terá suas especificidades –, mas
havendo necessidade, uma idéia seria utilizar as mesmas sugestões já feitas
para o coeficiente kappa de concordância (Figura 2), devido à equivalência
entre estes dois índices (Fleiss e Cohen, 1973).
5.8.1 Análise de dados
O banco de entrada de dados foi criado no programa Epi Info 3.5.1, utilizando
quatro etapas durante o processamento: codificação, digitação, correção e
análise.
45
Na fase de análise de freqüência das variáveis sócio-demográficas e da
confiabilidade, os bancos foram convertidos para os programas SPSS versão
16.0 e WinPepi (Abramson, 2006).
5.9 Considerações éticas
Este projeto foi apresentado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do
IMASJM e os participantes concordaram em assinar o termo de consentimento
informado.
46
6 RESULTADOS
Sócio demográfico
A idade média dos entrevistados foi 48,04 anos (dp:16,28), a maioria do gênero
feminino (66%), casado (42%). O nível educacional variou bastante, sendo que
18% da amostra apresentou nível médio completo, 14% nível fundamental
incompleto, 8% nível superior incompleto e apenas 8% nível superior completo.
Quanto ao nível educacional do provedor, 26% apresentou nível superior
completo, 22% fundamental completo e 20% médio completo. A média de
filhos por família foi 1,72, sendo que 75% das famílias têm 2 filhos,
concentrados na faixa etária acima de 18 anos (44%). A religião preponderante
no grupo foi a Católica (44%), seguida pela Kardecista (12%).
Adaptação transcultural
No painel de discussão considerou-se que os 40 itens que compõe a escala
original contemplam satisfatoriamente as quatro dimensões que representam
as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais no contexto
cultural brasileiro.
Na avaliação formal da semântica entre a retradução e o instrumento original
foi observado boa equivalência. Segundo a escala analógica visual todos os
quarenta itens da escala apresentaram uma equivalência de significado
referencial entre 90 e 100% e o significado geral se manteve inalterado em
90% dos itens e pouco alterado em 10% (tabela 2).
47
Tabela 1. Distribuição das características sócio-demográficas da amostra
estudada
Variáveis
n
%
17
33
34,0
66,0
16
21
6
2
5
32,0
42,0
12,0
4,0
10,0
4
6
22
1
3
3
8,0
12,0
44,0
2,0
6,0
6,0
7
4
1
9
4
4
4
17
14,0
8,0
2,0
18,0
8,0
8,0
8,0
34,0
2
11
6
10
1
13
1
6
4,0
22,0
12,0
20,0
2,0
26,0
2,0
12,0
3
22
1
6
1
1
2
14
6,0
44,0
2,0
12,0
2,0
2,0
4,0
28,0
28
22
56,0
44,0
Sexo
masc
fem
Estado Civil
Solteiro
Casado
Viúvo
Separado
Divorciado
Idade dos filhos
<6
6-18
> 18
< 6 e 0 -18
6-18 e > 18
S/ inf
Educação ( entrevistado )
Fundamental incompl
Fundamental compl
Médio incompl
Médio compl
Superior incompl
Superior compl
S/inf
Não se aplica
Educação ( provedor )
Fundamental incompl
Fundamental compl
Médio incompl
Médio compl
Superior incompl
Superior compl
Pós-graduação
S/inf
Religião
Sem religião
Católico
Batista
Kardecista
Umbanda
Budista
Assembléia de Deus
Outras
Serviço Saúde Mental *
Não
Sim
*Conhecer ou ter alguém da familia que utilize serviços de saúde mental
48
Tabela 2. Análise da equivalência referencial e geral entre os itens da
retradução e o instrumento CAMI original
Grau de equivalência entre as Significado referencial
duas
assertivas
segundo
a Retradução/original
escala analógica visual
nº de itens
90-100%
40
70<90%
0
50<70%
0
<50%
0
Total
40
Julgamento do avaliador
Significado geral
Retradução/original
nº de itens
(%)
Inalterado
36
90
Pouco alterado
4
10
Muito alterado
0
0
Completamente alterado
0
0
Total
40
Esta versão preliminar da escala foi utilizada no estudo piloto e os 17 itens
modificados (4 na dimensão autoritarismo; 2 na subescala restrição social; 5 na
subescala benevolência e 6 na subescala ideologia comunitária de Saúde
Mental) estão apresentados nos quadros 1, 2, 3 e 4.
A primeira coluna
apresenta a versão original da escala; a segunda a tradução; e a terceira a
versão adaptada após a retradução, a discussão no painel de especialista e as
entrevistas realizadas com a população durante o estudo piloto.
Na primeira subescala (Autoritarismo), no item 2, a expressão atrás de portas
fechadas foi trocado por trancados porque foi considerado que este termo teria
um significado mais claro de exclusão. No itens 3 e 4 a estrutura da frase foi
modificada para que a afirmativa ficasse mais adequada a nosso contexto
49
cultural. No item 10 a palavra virtualmente foi excluída por confundir o
respondente (quadro 5).
Quadro 5 – Questões adaptadas da subescala Autoritarismo.
Subescala original
Primeira versão
Versão síntese
Authoritarianism
Autoritarismo
Autoritarismo
Item 2: The best way to
handle the mentally ill is to
keep them behind locked
doors.
Item 2: A melhor forma de
controlar os doentes
mentais é mantê-los atrás
de portas fechadas.
Item 2: A melhor forma de
controlar os doentes
mentais é mantê-los
trancados.
Item 3: There is something
about the mentally ill that
makes it easy to tell them
from normal people.
Item 3:. Há alguma coisa
nos doentes mentais que
faz com que seja fácil
diferenciá-los das pessoas
normais
Item 4: Assim que uma
pessoa mostra sinais de
distúrbio mental deveria ser
hospitalizada
Item 10: Virtualmente
qualquer um pode se tornar
doente mental
Item3: Algumas
características diferenciam
os doentes mentais das
pessoas normais.
Item 4: As soon as a person
shows sins of mental
disturbance, he should be
hospitalized.
Item 10: Virtually anyone
can become mentally ill.
Item 4: Uma pessoa sempre
deve ser hospitalizada
assim que apresente sinais
de distúrbio mental
Item 10: Qualquer um pode
se tornar um doente mental
Na segunda subescala (Restrição social), nos itens 2. 3 e 4 , a mudança da
estrutura da frase tornou a afirmativa mais clara para a população alvo. No
item 10, o verbo supor foi substituído por pensar, por ter um uso mais
corriqueiro na população e manter o significado da afirmação (quadro 6).
Quadro 6 – Questões adaptadas da subescala Restrição Social
Subescala original
Social Restrictiveness
1º versão
Restrição Social
Versão síntese
Restrição Social
Item 1: The mentally ill
should not be given any
responsibility
Item 1: Não deveria ser
dada nenhuma
responsabilidade ao doente
mental
Item 9: Os doentes mentais
oferecem menos perigo do
que a maioria das pessoas
supõem
Item 1: Nenhuma
responsabilidade deveria
ser dada ao doente mental
Item 9: The mentally ill are
far less of a danger than
most people suppose
Item 9: Os doentes mentais
oferecem menos perigo do
que a maioria das pessoas
pensam
50
Na subescala 3 (Benevolência),nos itens 2 e 8, a palavra impostos foi
substituídas por recursos públicos por ser mais adequada à nossa realidade. A
estrutura da frase nos itens 3 e 4 foi modificada para que a afirmativa ficasse
mais objetiva. No item 9, a expressão serviços de atendimento pareceu mais
adequada do que simplesmente a palavra serviço, de significado muito amplo
(quadro 7).
Quadro 7 – Questões adaptadas da sub escala Benevolência.
Subescala Original
Benevolence
Item 2: More tax money
should be spent on the
care and treatment of the
mentally ill.
1º versão
Benevolência
Item 2:Deveriam ser
gastos mais impostos no
cuidado e tratamento dos
doentes mentais
Versão síntese
Benevolência
Item 2:Deveriam ser
gastos mais recursos
públicos no cuidado e
tratamento dos doentes
mentais.
Item 3: We must have a
Item 3: Nós precisamos
Item 3: Nós precisamos
more tolerant attitude
ter uma atitude mais
ser mais tolerantes com
tolerante em relação aos
os doentes mentais na
toward the mentally ill in
doentes mentais na nossa nossa sociedade
our society
sociedade
Item 4: Our psychiatric
Item 4: Nossos hospitais
Item 4: Nossos hospitais
hospitals are more like
psiquiátricos parecem
psiquiátricos parecem
prisons than places where mais prisões do que
mais prisões do que
the mentally ill can be
lugares onde os doentes
lugares para se cuidar
cared for
mentais possam ser
dos doentes mentais.
cuidados
Item 8: Increased
Item 8: Aumentar as
Item 8: Aumentar as
spending on mental
despesas com Saúde
despesas com Saúde
health services is a waste Mental é um desperdiço
Mental é um desperdício
of tax dollars
de impostos
de recursos públicos
Item 9: There are
sufficient existing services
for the mentally ill.
Item 9: Existem serviços
suficientes para os
doentes mentais.
Item 9: Existem serviços
de atendimento
suficientes para os
doentes mentais
A escala 4 (Ideologia comunitária de Saúde Mental) foi a que apresentou mais
modificações. A estrutura da frase nos itens 1, 3, 5 e 8 foi totalmente
modificada para que seu significado ficasse claro o suficiente para a população
alvo. No item 7 a palavra locais foi suprimida por parecer desnecessária para a
compreensão da afirmativa. No item 9, a palavra amedrontador foi substituída
51
por assustador, uma vez que essa última expressão é mais utilizada em nosso
meio (quadro 8).
Quadro 8- Questões adaptadas da subescala Ideologia comunitária de Saúde
Mental
Subescala original
Community mental
health ideology
Item1: Residents should
accept the location of
mental health facilities in
their neighborhood to
serve the needs of the
local community
1º versão
Ideologia comunitária
de Saúde Mental
Item1: Moradores
deveriam aceitar a
localização de serviços de
Saúde Mental na sua
vizinhança
Versão síntese
Ideologia comunitária de
Saúde Mental
Item1: Todos deveriam
aceitar que serviços de
atenção à Saúde Mental
fossem instalados na sua
vizinhança
Item 3: As far as possible,
mental health services
should be provided
through community
based facilities.
Item 3: Tanto quanto
possível, os atendimentos
em Saúde Mental
deveriam ser oferecidos
por serviços localizados
na comunidade
Item 5: Os moradores
não têm nada a temer de
pessoas que vêm à sua
vizinhança para conseguir
atendimento em Saúde
Mental
Item 7: Moradores locais
têm boas razões para
resistir à implantação de
serviços de Saúde Mental
na sua vizinhança
Item 8: Ter doentes
mentais morando em
áreas residenciais pode
ser uma boa terapia, mas
o risco para os moradores
é muito grande
Item 9: É amedrontador
pensar em pessoas com
doença mental morando
em bairros residenciais
Item 3: A assistência em
Saúde Mental deveria ser
oferecida, na medida do
possível, em serviços
localizados na
comunidade.
Item 5: Moradores não
têm nada a temer de
pessoas que venham à
sua vizinhança para
receber atendimento em
Saúde Mental
Item 7: Moradores têm
boas razões para resistir
à implantação de serviços
de Saúde Mental na sua
vizinhança
Item 8: Morar em áreas
residenciais pode ser uma
boa terapia para os
pacientes, mas o risco
para os moradores é
muito grande.
Item 9: É assustador
pensar em pessoas com
doença mental morando
em bairros residenciais
Item 5: Residents have
nothing to fear from
people o coming into their
neighborhood to obtain
mental health services.
Item 7: Local residents
have good reason to
resist the location of
mental health services in
their neighborhood
Item 8: Having mental
patients living within
residential neighborhood
might be good therapy,
but the risks to residents
are too great
Item 9: It is frightening to
think of people with
mental problems living in
residential neighborhoods
52
Finalmente, na escala de resposta, as expressões: concordo fortemente
(Strongly agree) foi adaptada para concordo totalmente, discordo fortemente
(Strongly disagree) para discordo totalmente. O termo totalmente pareceu aos
especialistas traduzir melhor a intensidade dos extremos da escala de
respostas. A expressão indiferente (It makes no difference) foi modificada para
tanto faz por ser o termo
usado de forma mais corriqueira e portanto ser
melhor interpretado.
Versão teste da escala Atitudes da Comunidade em Relação aos Doentes
Mentais – CAMI-BR
A versão brasileira da CAMI manteve os quarenta itens da escala original e as
quatro dimensões: 1. Autoritarismo 2. Restrição Social 3. Benevolência 4.
Ideologia Comunitária de Saúde Mental (anexo 1).
Confiabilidade
Os resultados da análise de confiabilidade intra-observador, determinados pelo
Índice de Correlação Intraclasse, no escore total e nos das subescalas
oscilaram de regular a substancial. Dentre as subescalas, a que mostrou maior
estabilidade temporal nos resultados foi Restrição social (ICC=0,64 (IC 95% =
0,45 – 0,78)), seguida de Benevolência (ICC = 0,62 (IC 95% = 0,41 – 0,76)),
Ideologia Comunitária de Saúde Mental (ICC = 0,54 (IC 95% = 0,31 – 0,71) e
Autoritarismo (ICC = 0,37 (IC 95% = 0,11 – 0,59)). A fidedignidade do resultado
global da escala foi substancial (ICC=0,69 (IC 95% = 0,52 – 0,81)) (tabela 3)
53
Tabela 3. Análise da confiabilidade teste-reteste dos escore final e dos
subescalas da escala CAMI_BR
Subescalas
Escore 1
Escore 2
ICC
IC 95%
Autoritarismo
2,24
dp=0,39
2,30
dp=0,42
0,37
0,11 – 0,59
Benevolência
2,58
dp=0,5
2,75
dp=0,42
0,62
0,41 – 0,76
Restrição social
3,19
dp=0,4
3,15
dp=0,36
0,64
0,45 – 0,78
Ideologia comunitária
2,87
dp=0,51
2,96
dp=0,46
0,54
0,31 – 0,71
Total
2,72
dp=0,32
2,79
dp=0,34
0,69
0,52 – 0,81
As tabelas 4, 5, 6 e 7 apresentam os valores dos coeficientes Kappa
Ponderado (Kw) , Kappa ajustado pela prevalência (PABAK) e os valores
percentuais de concordância no teste-reteste.
Na subescala autoritarismo a concordância foi acima de 50% para todos os
itens com exceção do item 8 que apresentou uma concordância de 40%. Os
valores do Kw foram: moderado para os itens 1 e 10, regular para os itens 2, 3,
4, 5, 6, 7, 9 e discreta para o item 8. Quando ajustado pela prevalência, os
valores do Kappa se mostraram mais elevados para alguns itens: substancial
para os itens 2,3 e 10, moderada para os itens 1, 5, 6, 7, 9 e regular para os
itens 4 e 8 (tabela 4)
54
Tabela 4. Análise de confiabilidade dos itens da subescala Autoritarismo da
escala CAMI-BR
Autoritarismo
Kappa ponderado
PABAK
Concordância
0,55
0,53
62%
0,63
70%
0,27 IC95% (0,02-0,55)
0,70
76%
0,28 IC95% (0,08-0,49)
0,38
50%
0,30 IC95% (0,07-0,52)
0,44
55,1%
0,26 IC95% (0,04-0,49)
0,45
56%
0,33 IC95% (0,10-0,56)
0,52
62%
0,26*
40,4%
0,37 IC95% (0,13-0,60
0,49
59,2%
0,56 IC95% (0,34-0,78)
0,68
74%
1. Uma das principais causas da doença
mental é a falta de auto disciplina e auto
IC95% (0,37-0,73)
controle
2. A melhor forma de controlar os
doentes mentais é mantê-los trancados
0,36 IC95%(0,11-0,61)
3. Algumas características diferenciam
os doentes mentais das pessoas
normais
4. Uma pessoa sempre deve ser
hospitalizada assim que apresente
sinais de distúrbio mental
5. Doentes mentais precisam do mesmo
tipo de controle e disciplina que as
crianças pequenas
6. Doença mental é uma doença como
outra qualquer
7. Os doentes mentais não deveriam ser
tratados como indesejáveis na
sociedade
8. Deveria ser dada menos importância
em proteger a sociedade dos doentes
0,02 IC95% (-0,25-0,22)
mentais
9. Os hospitais psiquiátricos são um
modelo ultrapassado de tratamento para
os doentes mentais
10. Qualquer um pode se tornar um
doente mental
55
Na subescala Restrição Social a concordância foi acima de 50% para todos os itens,
sendo 6 apresentaram uma concordância acima de 60%. Os valores do Kw foram:
moderado para os itens 3, 5, 6, 8 e 10, regular para os itens 1, 4, e 9 e discreta pobre
para o item 2. Quando ajustado pela prevalência, os valores
do Kappa se mostraram mais elevados para alguns itens: substancial para os
itens 5 e 8, moderada para os itens 2, 3, 4, 6, 7, 9, e 10 e regular para o item 1
(tabela 5).
Tabela 5. Análise de confiabilidade dos itens da subescala Restrição Social da
escala CAMI-BR
Restrição social
1. Nenhuma responsabilidade
deveria ser dada ao doente
mental
2. Os doentes mentais deveriam
ser isolados do resto da
comunidade
3. Uma mulher seria tola em se
casar com um homem que tenha
sofrido de doença mental, mesmo
que ele parecesse
completamente recuperado
4. Eu não gostaria de ser vizinho
de porta de alguém que tenha
sido doente mental
5. Alguém que tenha uma história
de doença mental deveria ser
impedido de assumir qualquer
emprego público
6. Os doentes mentais não
deveriam ser privados de seus
direitos individuais
7. Doentes mentais deveriam ser
encorajados a assumir
responsabilidades de vida normal
8. Ninguém tem o direito de
excluir os doentes mentais de sua
vizinhança
9. Os doentes mentais oferecem
menos perigo do que a maioria
das pessoas pensa
10. A maior parte das mulheres
que foram pacientes de um
hospital psiquiátrico pode ser
confiável como babá
Kappa ponderado
PABAK
Concordância
0,39 IC95% (0,22-0,57)
0,39
51%
0,19 IC95%(-0,05-0,43)
0,50
60%
0,44 IC95% (0,22-0,67)
0,50
60%
0,23 IC95% (0,03-0,42)
0,52
62%
0,59 IC95% (0,39-0,78)
0,65
72%
0,46 IC95% (0,22-0,70)
0,59
67,3%
0,31 IC95% (0,09-0,52)
0,44
55,1%
0,47 IC95% (0,22-0,72)
0,69
75,5%
0,49
59,6%
0,47
58%
0,23 IC95% (-0,03-0,68)
0,45 IC95% (0,26-0,65)
56
Na subescala Benevolência a concordância foi acima de 60% para todos os
itens, com exceção dos itens 7 e 10 que apresentaram uma concordância de
58%.Os valores do Kw foram: moderado para os itens 1, 4, 6, e 10, regular
para os itens 2, 3, 5, 8, e 9 e discreta pobre para o item 7. Quando ajustado
pela prevalência, os valores do Kappa se mostraram mais elevados para
alguns itens: substancial para os itens 1, 2, 3, 6 e 8, moderada para os itens 4,
5, 7, 9, e 10 (tabela 6).
Tabela 6. Análise de confiabilidade dos itens da subescala Benevolência da
escala CAMI-BR
Benevolência
1. Os doentes mentais foram, por
muito tempo, objetos de
ridicularização
2. Deveriam ser gastos mais
recursos públicos no cuidado e
tratamento dos doentes mentais
3. Nós precisamos ser mais
tolerantes com os doentes
mentais na nossa sociedade
4. Nossos hospitais psiquiátricos
parecem mais prisões do que
lugares para se cuidar dos
doentes mentais
5. A sociedade tem a
responsabilidade de fornecer o
melhor tratamento possível aos
doentes mentais
6. Os doentes mentais não
merecem nossa simpatia
7. Os doentes mentais são um
peso para a sociedade
8. Aumentar as despesas com
Saúde Mental é um desperdício
de recursos públicos
9. Existem serviços de
atendimento suficientes para os
doentes mentais
10. É melhor evitar alguém que
tenha problemas mentais
Kappa ponderado
PABAK
Concordância
0,46 IC95% (0,22-0,70)
0,63
70%
0,39 IC95%(0,16-0,62)
0,65
72%
0,36 IC95% (0,14-0,59)
0,60
68%
0,55 IC95% (0,25-0,70)
0,55
70%
0,55
64%
0,48 IC95% (0,24-0,73)
0,70
73%
0,05 IC95% (-0,21-0,30)
0,47*
58%
0,38 IC95% (0,14-0,63)
0,63
70%
0,29 IC95% (0,06-0,52)
0,58
66%
0,35 IC95% (0,11-0,59)
0,47
58%
0,28 IC95% (0,05-0,52)
Na subescala Ideologia da Saúde Mental Comunitária a concordância foi acima
de 70% para todos os itens, com exceção dos itens 6 (68%) , 9 (68%), e 10
(64%). Os valores do Kw foram: substancial para o item 1, moderado para os
57
itens 2, discreta para o item 5 e regular para os itens 3, 4, 6, 7, 8, 9 e 10.
Quando ajustado pela prevalência, o valor do PABAK para o item 1 se manteve
substancial e os demais se mostraram mais elevados: substancial para os itens
2, 3, 5, 6, 7, 8 e 9 e moderado para o itens 4, e 10 (tabela 7).
Tabela 7. Análise de confiabilidade dos itens da subescala Ideologia da
Saúde Mental Comunitária da escala CAMI-BR
Ideologia comunitária
1. Todos deveriam aceitar que
serviços de atenção à Saúde
Mental fossem instalados na sua
vizinhança
2. A melhor terapia para muitos
doentes mentais é fazer parte de
uma comunidade normal
3. A assistência em Saúde
Mental deveria ser oferecida, na
medida do possível, em serviços
localizados na comunidade
4. A localização de serviços de
Saúde Mental em bairro
residencial não coloca em perigo
os moradores
5. Moradores não têm nada a
temer de pessoas que venham à
sua vizinhança para receber
atendimento em Saúde Mental
6. Serviços de Saúde Mental
deveriam ser mantidos longe de
bairros residenciais
7. Moradores locais têm boas
razões para resistir à
implantação de serviços de
Saúde Mental na sua vizinhança
8. Morar em áreas residenciais
pode ser uma boa terapia para
os pacientes, mas o risco para os
moradores é muito grande
9. É assustador pensar em
pessoas com doença mental
morando em bairros residenciais
10. Localizar serviços de Saúde
Mental em área residencial
desvaloriza o bairro
Kappa ponderado
PABAK
Concordância
0,65 IC95% (0,48-0,81)
0,65
72%
0,49 IC95%(0,21-0,77)
0,74
78,8%
0,29 IC95% (0,03-0,55)
0,70
76%
0,23 IC95% (-0,01-0,48)
0,55
70%
0,05 IC95% (-0,14-0,24)
0,70
76%
0,24 IC95% (-0,03-0,51)
0,60
68%
0,30 IC95% (0,04-0,56)
0,63
70%
0,34 IC95% (0,05-0,62)
0,63
70%
0,38 IC95% (0,11-0,65)
0,60
68%
0,33 IC95% (0,09-0,57)
0,55
64%
58
7 DISCUSSÃO
As modificações realizadas no processo de adaptação transcultural da escala
CAMI tiveram como objetivo principal tornar o instrumento compreensível e
aceitável pela população alvo. Envolveram trocas por expressões mais
utilizadas em nosso contexto, procurando aumentar a equivalência semântica
do significado geral e referencial dos termos.
A idade média da amostra estudada foi 48,04 anos (dp:16,28), com um
predomínio de mulheres, casadas, com dois filhos, a maioria (44%) com idade
acima de 18 anos, e com um nível de escolaridade médio. O escore total da
escala na amostra nos dois momentos (m1=2,72 e m2=2,79), reflete uma
atitude que tende do neutro ao positivo, o que é coerente com os estudos de
Taylor & Dear (1981) e Wolff et al. (1996) que demonstraram que a idade
acima dos 50 anos do respondente, a idade dos filhos abaixo de 18 anos e o
nível educacional baixo são determinantes nas atitudes negativas em relação
aos doentes mentais.
Refletindo sobre a validade do instrumento, os profissionais que participaram
do painel de discussão confirmaram a abrangência teórico-conceitual da escala
para avaliar as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais na
realidade cultural do Rio de Janeiro.
A avaliação da equivalência semântica utilizando a escala visual analógica
permitiu uma medida objetiva da retradução da escala. A alta equivalência
entre a retradução e a escala original demonstrou a qualidade da tradução.
Após o processo de adaptação transcultural, a escala CAMI-BR se mostrou
uma escala de fácil aplicação, linguagem clara, acessível e de fácil
compreensão pela população-alvo. Nas várias discussões no painel de
especialistas, concluiu-se que não seria necessária a inclusão de novas
dimensões ou itens na escala, sendo a construção original suficiente para
captar as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais no contexto
cultural brasileiro. As modificações semânticas realizadas não implicaram na
modificação do sentido da afirmação foi excluído nenhum item, mas tiveram o
objetivo de tornar a escala mais compreensível para a população em geral.
59
Quanto à equivalência operacional, o fato das entrevistas serem feitas face a
face
pelos pesquisadores, com a apresentação de um cartão com as
alternativas de respostas padronizadas (escala likert de 5 pontos) foi
importante para ultrapassar a barreira do nível educacional e da eventual
dificuldade de leitura apresentada pelo entrevistado.
Na análise de mensuração, não foi possível comparar os resultados da análise
de confiabilidade teste-reteste com os resultados da escala original uma vez
que esta não foi realizada pelos autores, só sendo apresentados os resultados
de correlação inter-item e alfa de Cronbach e análise fatorial (Taylor & Dear
1981).
Os autores acima realizaram o estudo de validade e confiabilidade da escala
CAMI em uma amostra de 1090 moradores de Toronto (Canadá), dividido em
dois grupos: O primeiro (n=706) constituído de moradores em áreas sem
serviços de Saúde Mental e o segundo (n=384) de moradores em áreas com
serviços. Para análise da confiabilidade foi feito um pré-teste em duas subamostras: um grupo de alunos do primeiro ano da universidade Mcmaster
(n=321) e outro da universidade de York (n=54). Os valores de alfa
encontrados para as quatro subescalas foram superiores a 0,5 (satisfatório)
sendo que os coeficientes foram bem mais altos para o grupo de Mcmaster nas
três subescalas (exceto para Autoritarismo). No cálculo do coeficiente alfa para
o total da amostra (n=1090), foram observados valores mais elevados do que
os encontrados no pré-teste (exceto para Benevolência). Três das subescalas
apresentaram alta consistência: Ideologia da Saúde Mental Comunitária
(α=0,88), Restrição Social (α=0,80) e Benevolência (α=0,86). O coeficiente
para autoritarismo (α=0,68) foi mais baixo embora satisfatório.
No presente estudo, a análise da consistência interna da escala no teste
(α=0,809) e no re-teste (α=0,870) mostrou uma alta consistência interna. Em
relação às subescalas, os resultados dos coeficientes alfa das subescalas,
tanto no teste como no re-teste foram satisfatórios (α>0,5). A exceção foi a
subescala autoritarismo, que apresentou uma consistência baixa no primeiro
teste (α=0,21) e um coeficiente alfa bem mais elevado no re-teste (α=.0,501).
Os resultados encontrados, principalmente no re-teste, se aproximaram dos
encontrados no estudo da escala original (Taylor & Dear, 1981).
60
Na análise da estabilidade temporal das respostas, o escore total da escala
apresentou uma concordância substancial (r=0,69), assim como as subescalas
Restrição Social e Benevolência. A subescala Ideologia da Saúde Mental
Comunitária apresentou confiabilidade moderada, e a subescala Autoritarismo
confiabilidade regular. Esse resultado é coerente com a da análise de
consistência interna da escala e subescalas nos dois momentos do estudo
(teste e reteste).
Algumas hipóteses podem explicar a baixa confiabilidade encontrada na
subescala autoritarismo. Essa dimensão avalia atitudes mais explicitamente
coercitivas e é importante ressaltar que essa subescala tem sua origem na
escala Califórnia-F (Adorno, 1950), criada na época do fascismo, justamente
para
identificar
pessoas
com
tendências
a:
submissão
autoritária,
agressividade autoritária, convencionalismo, projetividade, valorização do
poder e da dureza, superstição e estereotipia,
destrutividade e
cinismo.
Portanto, é possível que no reteste o entrevistado, por estar mais familiarizado
com o instrumento, tenderia a refletir e abrandar suas respostas.
Em relação aos valores do Kappa ponderado para os 40 itens da escala, 2,5%
apresentaram uma confiabilidade substancial, 30% moderada, 57,5% regular,
10% discreta . Quando ajustamos os valores do Kappa pela prevalência,
observamos que 45% apresentam uma confiabilidade substancial, 47,5%
moderada e 7,5% regular.
O uso do Kappa ajustado pela prevalência aumentou, em alguns casos
duplicou os valores da concordância mostrando o quanto é adequado usá-la
para evitar distorções nos resultados. Dessa forma, o estudo demonstrou uma
boa estabilidade temporal das respostas, apesar de não ter sido encontrada
concordância significativa (Kw) nos 7 itens descritos abaixo.
O item 8 da escala Autoritarismo apresentou o pior resultado na análise de
confiabilidade. A concordância foi de apenas 40,4% e o Kappa ponderado foi
0,02 ( IC 95% = -0,25 - 0,22) e mesmo ajustado pela prevalência apresentou
PABAK=0,26. Uma possível explicação para este resultado é que a afirmação
(Deveria ser dada menos importância em proteger a sociedade dos doentes
mentais) apresenta uma formulação dúbia , dando margem a interpretações
contraditórias .
61
Além desse item, mais 6 apresentaram uma concordância não significativa na
estatística Kw: itens 2 e 9 (Restrição Social), item 7 (Benevolência) e os itens 4,
5 e 6 (Ideologia Comunitária de Saúde Mental). Entretanto, quando ajustados
pelas prevalências, passam a apresentar um resultado de moderado a
substancial.
É interessante notar que todos esses itens abarcam claramente a noção de
perigo e exclusão em relação ao doente mental. O medo do desconhecido, a
idéia de periculosidade e de isolamento presentes nessas dimensões são
conceitos muito araigados nos indivíduos, independente da cultura. Portanto, é
possível que questões que abordem esses aspectos de uma forma mais direta
levem a uma reflexão por parte do entrevistado, o que se traduziria em uma
maior variabilidade das respostas.
O estigma e o preconceito que os doentes mentais veem sofrendo ao longo
dos anos tem um efeito negativo no seu processo de inclusão social e na
implantação dos serviços substitutivos. Ter a comunidade como parceira e com
atitudes positivas em relação a esse grupo tem como consequência o aumento
de sua rede social e de sua condição psicológica e humana.
A utilização de um instrumento, padronizado e validado para nossa cultura, que
avalie as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais (CAMI-BR),
é importante para orientar as políticas de Saúde Mental. Conhecer a opinião e
planejar programas educacionais que esclareçam a população sobre os
serviços, a doença mental e o processo de desinstitucionalização, é
indispensável para minimizar os preconceitos e os entraves para expansão dos
serviços de base territorial.
62
Conclusão
As modificações realizadas no processo de adaptação transcultural da escala
CAMI tiveram como objetivo principal tornar o instrumento compreensível e
aceitável pela população alvo. Envolveram trocas por expressões mais
utilizadas em nosso contexto, procurando aumentar a equivalência de
significado geral dos termos.
A escala adaptada e validade possibilitará a realização de pesquisas brasileiras
com comparabilidade internacional. Sua aplicação ao nosso contexto, através
de estudos sistemáticos, resultará em medidas objetivas da atitude e do
conhecimento da vizinhança em relação a usuários e serviços. Também poderá
oferecer orientação a projetos que resultem no estreitamento das relações
entre estes segmentos, aumentando sua capacidade de conviver com as
diferenças e potencializarão com certeza a ação dos serviços substitutivos.
Com a escala adaptada para o contexto cultural brasileiro será possível então
realizar o estudo de sua validação, visando estabelecer as suas propriedades
psicométricas de validade e fidedignidade, estudo que já se encontra em
andamento pelos autores deste.
63
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69
ANEXOS
70
Título completo: Equivalência conceitual e semântica da versão em português
da escala Community Attitudes toward Mentally Ill (CAMI)
Título completo em inglês: Conceptual and semantic equivalence of the
Portuguese version of the scale Community Attitudes toward Mentally Ill (CAMI)
Título corrido: Equivalência conceitual e semântica (CAMI-BR)
Sylvia Gonçalves
Instituto de Estudos de Saúde Coletiva – Universidade Federal do Rio de
Janeiro – IESC/UFRJ
Núcleo de Pesquisa/Instituto Municipal Juliano Moreira
Lúcia Abelha
Instituto de Estudos de Saúde Coletiva – Universidade Federal do Rio de
Janeiro – IESC/UFRJ
Letícia Fortes Legay
Instituto de Estudos de Saúde Coletiva – Universidade Federal do Rio de Janeiro –
IESC/UFRJ
Giovanni Marcos Lovisi
Instituto de Estudos de Saúde Coletiva – Universidade Federal do Rio de Janeiro –
IESC/UFRJ
71
Nome e endereço do autor responsável para troca de correspondência:
Sylvia Gonçalves
Rua Orígenes Lessa 4545 casa 26– Recreio dos Bandeirantes
CEP: 22795-215 – Rio de Janeiro
Tel. 2490– 1911- 7813- 6222 [email protected]
O artigo foi baseado na dissertação de mestrado: Validação e Adaptação Transcultural
da escala “Community Attitudes Towards Mentally Ill (CAMI)”, 2008, IESC/UFRJ
72
Resumo
Introdução: A atitude negativa da comunidade em relação aos doentes mentais é um
dos principais entraves para a implantação e expansão de serviços de saúde mental
em áreas residenciais. Estudos internacionais demonstram que o medo, a falta de
conhecimento sobre os serviços e o estereótipo continuam a ser obstáculos para a
efetividade do tratamento e para a reintegração social do paciente. No Brasil há uma
carência de estudos utilizando escalas para aferir as atitudes da comunidade em
relação aos doentes mentais. Objetivo: realizar a adaptação transcultural da escala:
Community Attitudes toward Mentally Ill (CAMI) utilizada para medir as atitudes da
comunidade em relação aos doentes mentais. Metodologia: A adaptação transcultural
da escala para o contexto cultural brasileiro foi realizada segundo os procedimentos
recomendados pela literatura internacional, e constou das seguintes etapas:
1.Tradução; 2. Revisão da tradução por um grupo bilíngüe; 3. Retradução; 4.
Avaliação da retradução; 5. Estudo piloto para testar a versão preliminar do
instrumento, no qual foram entrevistados 14 moradores domiciliados próximos aos
Serviços Residenciais Terapêuticos; 6. Revisão das questões a partir do estudo piloto.
Resultados: Os resultados incluíram modificações importantes na formulação e no
conteúdo das questões, para garantir a equivalência semântica e cultural da escala
adaptada para o contexto brasileiro. Conclusão: A versão brasileira da CAMI (CAMI BR), após cumpridas todas as etapas exigidas internacionalmente, desde a tradução
até sua aplicação em população teste, resultou em escala de linguagem clara,
compreensível e fácil aplicabilidade.
Palavras-chave: Adaptação transcultural; atitudes da comunidade; CAMI; Reforma
Psiquiátrica
73
Abstract
Background: Negative attitudes towards mentally ill people are one of the most
important problems to prevent the implementation of community – based mental health
care. Some international studies demonstrated three factors associated with these
community attitudes: 1- afraid of people with mentally illness; 2- lack of knowledge
about mental health services, and 3- public’s stereotype of psychiatric patients. These
factors continue to maintain barriers to the effective psychiatric treatment and social
reintegration of the psychiatric patients in the community. In Brazil, there are scarce
studies about this issue. None Brazilian studies used Community Attitudes Towards
Mental Ill instrument (CAMI) to assess attitudes of population towards psychiatric
patients living in the communities.
Aim: This present study consisted of a transcultural adaptation of the original
instrument in English (CAMI) into a final version to be used in Brazil. Based on a broad
literature review, the transcultural adaptation of the CAMI to Brazilian context was
made following the next steps: 1- Translation; 2- revision of the translation by 2
experienced bilingual professionals; 3- Back-translation: A bilingual epidemiologists
and a group of experienced bilingual professionals carried–out the back-translation 4Assessment of the back translation; 5- Pilot Study: A sample of 14 residents was
selected at random from the area close to the community integrated residences for the
pilot study. 6- Analysis of the pilot study data.
Results: Results indicated a satisfactory equivalence between versions, with
modifications being made in the procedures for conducting the interview and the
language used in the questions.
Conclusions: Our findings showed that the CMI-BR is an instrument with clear
instructions, understandable questions and easier for application in the Brazilian
context.
Key words: Transcultural adaptation; community attitudes; CAMI; Psychiatry
Reform
74
Introdução
A transferência do atendimento psiquiátrico dos hospitais para os serviços
comunitários de saúde mental tem demonstrado a importância da opinião e da
atitude da comunidade em relação aos doentes mentais e do seu
conhecimento sobre a efetividade do tratamento, a implantação e o
planejamento desses serviços (Rossler & Salize, 1995; Papadopoulos et al.,
2002; Schomerus et al., 2005).
No Brasil, já foram implementados serviços comunitários estratégicos para a
substituição do atendimento hospitalar, como: Centro de Atenção Psicossocial
(CAPS), Unidades Psiquiátricas em Hospital Geral (UPHG) e os Serviços
Residenciais Terapêuticos (SRT). Estes serviços ainda estão muito aquém da
demanda existente e exigem uma boa articulação com a vida cotidiana e com a
vizinhança. A atitude positiva da comunidade é um ponto crucial na dinâmica
das relações entre usuários e a comunidade, usuários e tratamento e no
processo de habitar os espaços da cidade, diminuindo o estigma e
possibilitando a ampliação da rede social (Lima et al, 1999; Delgado, 2006)
A implementação dos Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) surge em um
contexto de superação do modelo assistencial centrado no hospital psiquiátrico,
como estratégia para reinserção e reintegração social dos pacientes com
transtornos mentais, egressos destes hospitais. Essas moradias são casas
localizadas no meio urbano, e servem como espaços onde, além da
75
humanização no trato destes pacientes, busca-se uma vida social digna no
processo de readaptação de cada pessoa à vida em sociedade (Furtado, 2006;
Sanzana, 2006).
O processo de implantação e expansão dos STR é relativamente recente no
Brasil, contando atualmente com 475 serviços em funcionamento, com um total
de aproximadamente 2.500 moradores. A maior parte dos SRT do município do
Rio de Janeiro está localizada no bairro de Jacarepaguá, na zona oeste da
cidade.
O modelo assistencial baseado na reintegração do doente mental em áreas
residenciais ainda sofre alguns entraves, como o estigma atrelado aos
pacientes psiquiátricos, a idéia de que doentes mentais devem ser excluídos e
tratados em instituições fechadas e a falta de conhecimento sobre os serviços
de saúde mental, o que reforça atitudes negativas em relação a este grupo. A
avaliação das atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais é uma
etapa importante na elaboração de estratégias para a implementação de
Residências Terapêuticas, já que a reintegração e reinserção do paciente com
transtorno mental, muitos com uma rede social prejudicada, dependem do
acolhimento e da receptividade da comunidade (Maclean, 1969; Taylor & Dear,
1981; Wolff et al, 1996; Schomerus et al., 2006).
O interesse em medir a atitude da comunidade em relação aos doentes
mentais surge em 1962 com o desenvolvimento da escala Opinions about
Mental Illness (OMI) por Cohen e Struening Esta escala foi desenvolvida a
partir das pré-existentes: California F-scale (Adorno et al., 1950), Custodial
76
Mental Illness Ideology Scale (Gilbert & Levinson, 1956), Nunnally’s scale of
popular concepts of mental health (Nunnally, 1961). O instrumento original
continha setenta itens. Após análise do questionário, utilizando as respostas de
1.195 trabalhadores de dois grandes hospitais psiquiátricos, os itens foram
agrupados em cinco dimensões e, em trabalho subseqüente, reduzido para
cinqüenta e um itens. As cinco dimensões identificadas foram: (1) autoritarismo
– a crença de que obediência à autoridade é importante e pessoas com doença
mental são inferiores e não têm a capacidade de obedecer a regras,
necessitando tratamento coercivo; (2) benevolência – uma idéia paternalista
em relação aos doentes mentais; (3) ideologia higienista – a idéia de que
doença mental é uma doença como qualquer outra e que uma abordagem
profissional é fundamental para um tratamento adequado (4) restrição social –
a idéia de que a participação dos doentes mentais em atividades e relações
sociais, como casamento, voto, capacidade de ter filhos etc., deve ser
restringida; e (5) etiologia interpessoal – a idéia de que doença mental se
origina de experiências interpessoais.(Link et al., 2004).
A política de desinstitucionalização e o destaque dos fatores genéticos na
etiologia dos transtornos mentais, cronologicamente, são paradigmas que
surgiram depois do desenvolvimento da OMI e, portanto, não estavam
contemplados no instrumento. Para suprir esta defasagem, foi criada, em 1981,
a escala Community attitudes towards the mentally ill (CAMI) (Taylor & Dear,
1981). Esta escala usa a OMI como base conceitual e procura reproduzir três
de suas cinco dimensões (autoritarismo, benevolência e restrição social). A
77
quarta dimensão (ideologia da saúde mental comunitária) da CAMI foi
desenvolvida a partir da escala Community Mental Health Ideology (CMHI)
(Baker & Schulberg, 1967).
Estudos internacionais que utilizaram a CAMI como instrumento demonstraram
que a oposição por parte da vizinhança pode inviabilizar os novos serviços
comunitários, e que a reintegração dos doentes mentais depende estreitamente
desta aceitação (Wolff et al, 1996b).
No Brasil ainda não temos ainda escalas traduzidas e validadas para avaliar as
reações da comunidade aos pacientes e aos serviços psiquiátricos. A
adaptação transcultural da CAMI à nossa realidade é importante, não só para a
comparação com estudos de outros países, mas principalmente para o
planejamento e avaliação dos novos serviços na comunidade (Gonçalves,
2001; Bandeira, 2007).
Neste contexto, o objetivo deste estudo foi iniciar o processo de adaptação
transcultural, visando garantir sua equivalência semântica e ajustar as
diferenças culturais com a versão original.
Métodos
Descrição do instrumento original
A CAMI é uma escala multidimensional, originalmente de língua inglesa,
elaborada por Taylor e Dear (1981). Dois objetivos direcionaram seu
desenvolvimento: a construção de um instrumento capaz de diferenciar as
78
características das pessoas que aceitam das que rejeitam os doentes
mentais na comunidade e poder descrever e explicar as reações da
comunidade em relação às unidades de atendimento ao doente mental.
O instrumento consta de perguntas sobre:
a) Dados sócio-demográficos
b) Conhecimento sobre doença mental
c) Reações aos doentes mentais
d) Conhecimento sobre o tratamento hospitalar psiquiátrico
e) Conhecimento sobre a mudança do tratamento de base hospitalar
para a comunidade
f) Atitude em relação à política de atendimento na comunidade
g) Opinião sobre a necessidade de programas educativos
A escala é composta de 40 itens distribuídos em quatro sub-escalas
(cada uma com 10 variáveis). As respostas para cada uma das questões são
distribuídas numa escala tipo Likert de 5 pontos (concordo fortemente,
concordo, indiferente, discordo, discordo fortemente):
As quatro sub-escalas são:
1)Autoritarismo: necessidade de hospitalização dos doentes mentais; diferença
entre doentes mentais e pessoas normais; importância do tratamento custodial;
causas das doenças mentais.
2) Benevolência: responsabilidade da sociedade em relação aos doentes
mentais; necessidade de atitudes gentis e simpáticas; desejo de se envolver
pessoalmente; sentimentos anti-hospitalização.
79
3) Restrições sociais: periculosidade dos doentes mentais; manutenção de
distância social; falta de responsabilidade; normalidade do doente mental.
4) Ideologia da saúde mental comunitária: impacto dos serviços de saúde
mental na vizinhança; perigo que o doente mental representa para os vizinhos;
aceitação dos princípios da desinstitucionalização psiquiátrica.
A escala original possui qualidades psicométricas adequadas de validade de
construto, estabelecida através da análise fatorial, assim como consistência
interna. Para três das quatro sub-escalas os valores de alfa de Cronbach são
elevados: Ideologia da comunidade em relação à saúde mental (α = 0,88);
Restrições sociais (α = 0,86); Benevolência (α = 0,76). O coeficiente para
Autoritarismo (α = 0,68), embora mais baixo ainda é satisfatório.
Procedimento
A adaptação transcultural da presente escala para o contexto cultural brasileiro
foi realizada segundo os procedimentos recomendados pela OMS (WHO,
1996), as recomendações da literatura internacional (Vallerand, 1989; Streiner
& Norman, 1995) e estudos nacionais ( Bandeira et al., 2003; Lima et al, 2003a;
Lima et al., 2003b).
Antes de iniciar o procedimento de adaptação transcultural um dos autores
(Martin Taylor) foi contatado e concedeu autorização para que a escala fosse
traduzida e adaptada para o Brasil.
80
Equivalência conceitual
Foi realizado um painel de discussão formado por uma comissão de
especialistas (dois psiquiatras, uma epidemiologista, duas psicólogas, uma
socióloga e uma enfermeira) para examinar as quatro dimensões do
instrumento original (autoritarismo, benevolência. restrição social e ideologia da
comunidade em relação à saúde mental). Buscou-se examinar a pertinência
dos itens de cada dimensão para avaliar as atitudes da comunidade em relação
aos doentes mentais na realidade brasileira.
Equivalência semântica
1 e 2- Tradução e revisão da tradução por um grupo bilíngüe
A primeira etapa da adaptação transcultural consistiu na tradução da CAMI
para a língua portuguesa, revisada por dois psiquiatras e um psicólogo
bilíngües.
3-Retradução
A versão em português foi retraduzida para o inglês por uma tradutora
juramentada bilíngüe, com experiência na área de saúde pública, cuja língua
materna era o português. A versão em inglês, produzida pelo processo de
readução, foi comparada à escala original e avaliada em seguida por um grupo
de profissionais bilíngües com experiência na área: dois psiquiatras, uma
epidemiologista e uma psicóloga.
81
4- Painel de discussão (avaliação da retradução)
Foi realizado um painel de discussão (já descrito acima) com o objetivo de se
identificar inconsistências a serem corrigidas entre a escala traduzida e a
escala original. O objetivo foi obter uma tradução mais precisa da escala.
Foi avaliada a equivalência semântica comparando a escala original com a
retradução. Foi utilizado um formulário específico de forma a não permitir a
identificação dos itens, se original ou retraduzidos.
Para avaliação do
significado referencial foi utilizada a escala analógica visual – Visual Analogue
Scale (Streiner & Norman, 1995) e a equivalência entre os itens foi julgada
numa escala de 0 a 100%. A avaliação do significado geral dos itens foi feita
em outro formulário classificando-os em: inalterado, pouco alterado, muito
alterado e completamente alterado (Moraes et al., 2002)
A partir dessa comparação, alguns termos da tradução foram revisados para
uma melhor adequação ao contexto brasileiro. Após essa discussão, todas as
questões foram mantidas, a comissão apontou as reformulações a serem
adaptadas na redação das questões e foi obtida uma versão preliminar da
escala brasileira.
5 - Estudo piloto e revisão das questões a partir do estudo piloto.
O estudo piloto teve como objetivo ajustar a formulação das questões da
versão preliminar da CAMI-BR à da população-alvo na qual a escala foi
aplicada, a fim de se assegurar uma boa compreensão e precisão do texto.
82
Este estudo foi realizado em uma amostra de 14 indivíduos, moradores nas
proximidades de residências terapêuticas, no bairro de Jacarepaguá. As
entrevistas foram realizadas 5 pesquisadores e 2 coordenadores de campo.
Para a aplicação da escala, o entrevistador utilizava um cartão contendo as
alternativas de resposta, para facilitar a compreensão e memorização dos
números correspondentes a cada item.
Treinamento dos pesquisadores
O treinamento foi realizado pela equipe de pesquisadores do Núcleo de
Pesquisa do Instituto Municipal Juliano Moreira (IMASJM). Foram treinados
após seleção 5 pesquisadores de campo: 2 psicólogos e 3 graduandos, sendo
2 em psicologia e 1 em medicina. Os pesquisadores de campo passaram por
um treinamento de 40 horas, que incluiu a leitura minuciosa da escala
individualmente e em conjunto, discussão de artigos relacionados ao estudo,
simulação de entrevista supervisionada pelos coordenadores e experimentação
de aplicação da escala em campo, com discussão dessa experiência.
Cada entrevista teve duração aproximada de 20 minutos. O objetivo do estudopiloto foi verificar, junto ao entrevistando, os termos e palavras de difícil
compreensão e perguntas que não estivessem claras. No decorrer do estudopiloto, procuravam-se palavras ou termos mais adequados, claros e simples
para substituí-las, visando a adaptação ao contexto cultural brasileiro.
83
A cada aplicação as modificações necessárias eram feitas e a escala
reaplicada até que não se detectassem mais dificuldades de compreensão
durante as entrevistas, sendo elaborada a versão teste final da escala.
Este projeto foi apresentado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do
IMASJM e os participantes concordaram em assinar o termo de consentimento
informado.
Resultados e discussão
No painel de discussão considerou-se que os 40 itens que compõe a escala
original contemplam satisfatoriamente as quatro dimensões que representam
as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais no contexto
cultural brasileiro.
Na avaliação formal da semântica entre a retradução e o instrumento original
foi observada boa equivalência. Segundo a escala analógica visual todos os
quarenta itens da escala apresentaram uma equivalência de significado
referencial entre 90 e 100% e o significado geral se manteve inalterado em
90% dos itens e pouco alterado em 10% (tabela 1).
Tabela 1
Esta versão preliminar da escala foi utilizada no estudo piloto e os 17 itens
modificados (4 na dimensão autoritarismo; 2 na sub-escala restrição social; 5
na sub-escala benevolência e 6 na sub-escala ideologia comunitária de saúde
mental) estão apresentados nos quadros 1, 2, 3 e 4.
A primeira coluna
84
apresenta a versão original da escala; a segunda a tradução; e a terceira a
versão adaptada após a retradução, a discussão no painel de especialista e as
entrevistas realizadas com a população durante o estudo piloto.
Quadros 1, 2, 3 e 4
As modificações realizadas tiveram como objetivo principal tornar o instrumento
compreensível e aceitável pela população alvo. Envolveram trocas por
expressões mais utilizadas em nosso contexto, procurando aumentar a
equivalência de significado geral dos termos.
Na primeira sub-escala (Autoritarismo), no item 2, a expressão atrás de portas
fechadas foi trocado por trancados porque foi considerado que este termo teria
um significado mais claro de exclusão. No itens 3 e 4 a estrutura da frase foi
modificada para que a afirmativa ficasse mais adequada a nosso contexto
cultural. No item 10 a palavra virtualmente foi excluída por confundir o
respondente.
Na segunda sub-escala (Restrição social), nos itens 2. 3 e 4 , a mudança da
estrutura da frase tornou a afirmativa mais clara para a população alvo. No
item 10, o verbo supor foi substituído por pensar, por ter um uso mais
corriqueiro na população e manter o significado da afirmação.
Na sub-escala 3 (Benevolência),nos itens 2 e 8, a palavra impostos foi
substituídas por recursos públicos por ser mais adequada à nossa realidade. A
85
estrutura da frase nos itens 3 e 4 foi modificada para que a afirmativa ficasse
mais objetiva. No item 9, a expressão serviços de atendimento pareceu mais
adequada do que simplesmente a palavra serviço, de significado muito amplo.
A escala 4 (Ideologia comunitária de saúde mental) foi a que apresentou mais
modificações. A estrutura da frase nos itens 1, 3, 5 e 8 foi totalmente
modificada para que seu significado ficasse claro o suficiente para a população
alvo. No item 7 a palavra locais foi suprimida por parecer desnecessária para a
compreensão da afirmativa. No item 9, a palavra amedrontador foi substituída
por assustador, uma vez que essa última expressão é mais utilizada em nosso
meio.
Finalmente, na escala de resposta, as expressões: concordo fortemente
(Strongly agree) foi adaptada para concordo totalmente, discordo fortemente
(Strongly disagree) para discordo totalmente. O termo totalmente pareceu aos
especialistas traduzir melhor a intensidade dos extremos da escala de
respostas. A expressão indiferente (It makes no difference) foi modificada para
tanto faz por ser o termo
usado de forma mais corriqueira e portanto ser
melhor interpretado.
Versão Brasileira da escala Atitudes da Comunidade em Relação aos
Doentes Mentais – CAMI-BR
A versão brasileira da CAMI manteve os quarenta itens da escala original e as
quatro dimensões: 1. Autoritarismo 2. Restrição Social 3. Benevolência 4.
Ideologia Comunitária de Saúde Mental.
86
Quadro 5
Com a escala adaptada para o contexto cultural brasileiro será possível então
realizar o estudo de sua validação, visando estabelecer as suas propriedades
psicométricas de validade e fidedignidade, estudo que já se encontra em
andamento pelos autores deste artigo.
Após os procedimentos de adaptação transcultural recomendados pela
literatura da área (Vallerand, 1989; Streiner & Norman, 1995), a escala CAMIBR se mostrou uma escala de fácil aplicação, linguagem clara, acessível e de
fácil compreensão pela população-alvo. Nas várias discussões no painel de
especialistas, concluiu-se que não seria necessária a inclusão de novas
dimensões ou itens na escala, sendo a construção original suficiente para
captar as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais no contexto
cultural brasileiro. As modificações semânticas realizadas não implicaram na
modificação do sentido da afirmação, mas tiveram o objetivo de tornar a escala
mais compreensível para a população geral.
A adaptação transcultural e validação da escala CAMI-BR possibilitará a
realização de pesquisas brasileiras com comparabilidade internacional. Sua
aplicação ao nosso contexto, através de estudos sistemáticos, resultará em
medidas objetivas da atitude e do conhecimento da vizinhança em relação a
usuários e serviços. Também poderá oferecer orientação a projetos que
resultem no estreitamento das relações entre estes segmentos, aumentando
87
sua capacidade de conviver com as diferenças e potencializarão com certeza a
ação dos serviços substitutivos.
Agradecimentos
Este projeto teve financiamento do CNPQ processo n° 485609/2006-1
Agradecemos a participação dos pesquisadores de campo, da comissão de
especialistas e dos moradores de Jacarepaguá que fizeram parte do estudo.
88
Referências
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92
Tabelas e quadros
Tabela 1. Análise da equivalência referencial e geral entre os itens da
retradução e o instrumento CAMI original
Grau de equivalência
entre as duas
assertivas segundo a
escala analógica
visual
Significado
referencial
Retradução/original
nº de itens (%)
Julgamento do
avaliador
Significado geral
Retradução/original
nº de itens (%)
90-100%
40
Inalterado
36
70<90%
0
Pouco alterado
4
50<70%
0
Muito alterado
0
<50%
0
Completamente
alterado
0
Total
40
Total
40
93
Quadro 1 - Questões adaptadas da sub-escala Autoritarismo.
Sub-escala original
Primeira versão
Versão síntese
Authoritarianism
Autoritarismo
Autoritarismo
Item 2: The best way to Item2: A melhor forma de Item 2: A melhor forma de
handle the mentally ill is to controlar os doentes mentais controlar os doentes mentais
keep them behind locked é mantê-los atrás de portas é mantê-los trancados.
doors.
fechadas.
Item 3: There is something
about the mentally ill that
makes it easy to tell them
from normal people.
Item 3:. Há alguma coisa
nos doentes mentais que faz
com que seja fácil diferenciálos das pessoas normais
Item3:Algumas
características diferenciam
os doentes mentais das
pessoas normais.
Item 4: As soon as a person
shows
sins
of
mental
disturbance, he should be
hospitalized.
Item 4: Assim que uma
pessoa mostra sinais de
distúrbio mental deveria ser
hospitalizada
Item
4:
Uma
pessoa
sempre
deve
ser
hospitalizada assim que
apresente sinais de distúrbio
mental
Item 10: Virtually anyone can Item
10:
Virtualmente Item 10: Qualquer um pode
become mentally ill.
qualquer um pode se tornar se tornar um doente mental
doente mental
94
Quadro 2- Questões adaptadas da sub-escala Restrição Social
Sub-escala original
1º versão
Versão síntese
Social Restrictiveness
Restrição Social
Restrição Social
Item 1: The mentally ill Item 1: Não deveria ser Item
1:
Nenhuma
should not be given any dada
nenhuma responsabilidade
deveria
responsibility
responsabilidade ao doente ser dada ao doente mental
mental
Item 9: The mentally ill are Item 9: Os doentes mentais
far less of a danger than oferecem menos perigo do
most people suppose
que a maioria das pessoas
supõem
Item 9: Os doentes mentais
oferecem menos perigo do
que a maioria das pessoas
pensam
95
Quadro 3- Questões adaptadas da sub escala Benevolência.
Sub-escala Original
1º versão
Versão síntese
Benevolence
Benevolência
Benevolência
Item 2: More tax money
should be spent on the care
and
treatment
of
the
mentally ill.
Item 2:Deveriam ser gastos
mais impostos no cuidado
e tratamento dos doentes
mentais
Deveriam ser gastos mais
recursos
públicos
no
cuidado e tratamento dos
doentes mentais.
Item 3: We must have a
more
tolerant
attitude
toward the mentally ill in our
society
Item 3: Nós precisamos ter
uma atitude mais tolerante
em relação aos doentes
mentais na nossa sociedade
Item 3: Nós precisamos ser
mais tolerantes com os
doentes mentais na nossa
sociedade
Item 4: Our psychiatric
hospitals are more like
prisons than places where
the mentally ill can be cared
for
Item 4: Nossos hospitais
psiquiátricos parecem mais
prisões do que lugares
onde os doentes mentais
possam ser cuidados
Item 4: Nossos hospitais
psiquiátricos parecem mais
prisões do que lugares para
se cuidar dos doentes
mentais.
Item 8: Increased spending Item
8:
Aumentar
as
on mental health services is despesas com saúde mental
a waste of tax dollars
é
um
desperdiço
de
impostos
Item
8:
Aumentar
as
despesas com saúde mental
é
um
desperdício
de
recursos públicos
Item 9: There are sufficient Item 9: Existem serviços Item 9: Existem serviços de
existing services for the suficientes para os doentes atendimento
suficientes
mentally ill.
mentais.
para os doentes mentais
96
Quadro 4- Questões adaptadas da sub-escala Ideologia comunitária de saúde
mental
Sub-escala original
1º versão
Versão síntese
Community mental health
Ideologia comunitária de
Ideologia comunitária de
ideology
saúde mental
saúde mental
Item1: Residents should
accept the location of mental
health facilities in their
neighborhood to serve the
needs
of
the
local
community
Item1: Moradores deveriam
aceitar a localização de
serviços de saúde mental
na sua vizinhança
Item1: Todos deveriam
aceitar que serviços de
atenção à saúde mental
fossem instalados na sua
vizinhança
Item 3: As far as possible,
mental
health
services
should be provided through
community based facilities.
Item 3: Tanto quanto
possível, os atendimentos
em saúde mental deveriam
ser oferecidos por serviços
localizados na comunidade
Item 3: A assistência em
saúde mental deveria ser
oferecida, na medida do
possível,
em
serviços
localizados na comunidade.
Item 5: Residents have
nothing to fear from people
o
coming
into
their
neighborhood
to
obtain
mental health services.
Item 5: Os moradores não
têm nada a temer de
pessoas que vêm à sua
vizinhança para conseguir
atendimento
em
saúde
mental
Item 5: Moradores
nada a temer de
que
venham
vizinhança para
atendimento
em
mental
Item 7: Local residents have
good reason to resist the
location of mental health
services
in
their
neighborhood
Item 7: Moradores locais
têm boas razões para
resistir à implantação de
serviços de saúde mental na
sua vizinhança
Item 7: Moradores
têm
boas razões para resistir à
implantação de serviços de
saúde mental na sua
vizinhança
Item 8: Having mental Item
8:
Ter
doentes
patients
living
within mentais
morando
em
residential neighborhood
áreas residenciais pode ser
uma boa terapia, mas o
might be good therapy, but risco para os moradores é
the risks to residents are too muito grande
great
Item 8: Morar em áreas
residenciais pode ser uma
boa
terapia
para
os
pacientes, mas o risco para
os moradores é muito
grande.
Item 9: It is frightening to
think of people with mental
problems living in residential
neighborhoods
Item 9: É assustador
pensar em pessoas com
doença mental morando em
bairros residenciais
Item 9: É amedrontador
pensar em pessoas com
doença mental morando em
bairros residenciais
não têm
pessoas
à
sua
receber
saúde
97
Quadro 5. Versão síntese da escala Atitudes da Comunidade em Relação ao
Doente Mental - CAMI-BR
A) Autoritarismo
1. Uma das principais causas da doença mental é a falta de auto disciplina e auto
controle.
2. A melhor forma de controlar os doentes mentais é mantê-los trancados.
3. Algumas características diferenciam os doentes mentais das pessoas normais.
4. Uma pessoa sempre deve ser hospitalizada assim que apresente sinais de distúrbio
mental.
5. Doentes mentais precisam do mesmo tipo de controle e disciplina que as crianças
pequenas.
6. Doença mental é uma doença como outra qualquer.
7. Os doentes mentais não deveriam ser tratados como indesejáveis na sociedade.
8. Deveria ser dada menos importância em proteger a sociedade dos doentes mentais.
9. Os hospitais psiquiátricos são um modelo ultrapassado de tratamento para os
doentes mentais.
10. Qualquer um pode se tornar um doente mental.
B) Restrição social
1) Nenhuma responsabilidade deveria ser dada ao doente mental.
2) Os doentes mentais deveriam ser isolados do resto da comunidade.
3) Uma mulher seria tola em se casar com um homem que tenha sofrido de doença
mental, mesmo que ele parecesse completamente recuperado.
4) Eu não gostaria de ser vizinho de porta de alguém que tenha sido doente mental.
5) Alguém que tenha uma história de doença mental deveria ser impedido de assumir
qualquer emprego público.
6) Os doentes mentais não deveriam ser privados de seus direitos individuais.
7) Doentes mentais deveriam ser encorajados a assumir responsabilidades de vida
normal.
8) Ninguém tem o direito de excluir os doentes mentais de sua vizinhança.
9) Os doentes mentais oferecem menos perigo do que a maioria das pessoas pensa.
10) A maior parte das mulheres que foram pacientes de um hospital psiquiátrico pode
ser confiável como babá.
C) Benevolência
1) Os doentes mentais foram, por muito tempo, objetos de ridicularização.
98
2) Deveriam ser gastos mais recursos públicos no cuidado e tratamento dos doentes
mentais.
3) Nós precisamos ser mais tolerantes com os doentes mentais na nossa sociedade
4) Nossos hospitais psiquiátricos parecem mais prisões do que lugares para se cuidar
dos doentes mentais.
5) A sociedade tem a responsabilidade de fornecer o melhor tratamento possível aos
doentes mentais
6) Os doentes mentais não merecem nossa simpatia
7) Os doentes mentais são um peso para a sociedade
8) Aumentar as despesas com saúde mental é um desperdício de recursos públicos
9) Existem serviços de atendimento suficientes para os doentes mentais
10) É melhor evitar alguém que tenha problemas mentais
D) Ideologia comunitária de saúde mental
1) Todos deveriam aceitar que serviços de atenção à saúde mental fossem instalados
na sua vizinhança
2) A melhor terapia para muitos doentes mentais é fazer parte de uma comunidade
normal
3) A assistência em saúde mental deveria ser oferecida, na medida do possível, em
serviços localizados na comunidade.
4) A localização de serviços de saúde mental em bairro residencial não coloca em
perigo os moradores.
5) Moradores não têm nada a temer de pessoas que venham à sua vizinhança para
receber atendimento em saúde mental
6) Serviços de saúde mental deveriam ser mantidos longe de bairros residenciais
7) Moradores locais têm boas razões para resistir à implantação de serviços de saúde
mental na sua vizinhança
8) Morar em áreas residenciais pode ser uma boa terapia para os pacientes, mas o
risco para os moradores é muito grande.
9) É assustador pensar em pessoas com doença mental morando em bairros
residenciais
10) Localizar serviços de saúde mental em área residencial desvaloriza o bairro
99
Escala – Retradução
Attitudes and community behavior toward the mentally ill
Authoritarian attitudes:
1. One of the chief causes of mental disease is lack of self-discipline and
self-control
2. The best way to control the mentally ill is to keep them behind closed
doors
3. There is something in the mentally ill that makes it easy to distinguish
them from normal people
4. A person should be hospitalized as soon as he/she shows signs of
mental disorder
5. The mentally ill need the same kind of control and discipline as small
children
6. Mental disease is like any other disease
7. The mentally ill should not be treated as undesirable in society
8. There should be less emphasis on protecting the public from the
mentally ill
9. Psychiatric hospitals are an outdated form of therapy for the mentally ill
10. Virtually anyone can become mentally ill
Social restrictions
1) The mentally ill should not be given any responsibilities
100
2) The mentally ill should be isolated from the rest of the community
3) A woman would be foolish to marry a man who has suffered from a
mental disease, even if he seems to have fully recovered
4) I would not like to have a mentally ill person as my next door neighbor
5) Anyone with a history of mental disease should be prevented from
holding public office
6) The mentally ill should not be deprived of their individual rights
7) The mentally ill should be encouraged to assume the responsibilities of
normal life
8) No one has the right to exclude the mentally ill from their neighborhood
9) The mentally ill are less dangerous than most people think
10) Most women who have been patients in psychiatric hospitals can be
reliable babysitters
Tolerance
1) The mentally ill have been the target of ridicule for a long time
2) More taxes should be spent in the care and treatment of the mentally ill
3) We must have a more tolerant attitude toward the mentally ill in our
society
4) Our psychiatric hospitals are more like prisons than places where the
mentally ill can be cared for
5) We have a responsibility to provide the best possible treatment to the
mentally ill
101
6) The mentally ill do not deserve our sympathy
7) The mentally ill are a burden to society
8) Increasing spending on mental health is a waste of taxes
9) There are enough facilities for the mentally ill
10) It is better to avoid someone who has mental problems
Community mental health approach
1) Residents should accept having mental health facilities in their
neighborhood
2) The best therapy for many mentally ill individuals is to be part of a
regular community
3) In as much as possible, mental health care should be provided by
facilities located in the community
4) Locating mental health facilities in a residential neighborhood does not
place local residents in danger
5) Residents have nothing to fear from persons who come to their
neighborhood to receive mental health care
6) Mental health facilities should be kept away from residential
neighborhoods
7) Local residents have good reasons to resist the placement of mental
health facilities in their neighborhood
102
8) Having mentally ill persons living in residential areas may be good
therapy, but the risk to residents is too high
9) It is frightening to think of persons with mental disease living in
residential neighborhoods
10) Locating mental health facilities in a residential area depreciates real
estate in the neighborhood
Each CAMI item has a 5-point response scale: Strongly agree; Agree; It
makes no difference; Disagree; Strongly disagree
103
Escala- Traduzida – versão-teste
Atitudes e intenções de comportamento da comunidade em relação aos
doentes mentais
Autoritarismo:
1. Uma das principais causas da doença mental é a falta de auto disciplina
e auto controle
2. A melhor forma de controlar os doentes mentais é mantê-los atrás de
portas fechadas
3. Há alguma coisa nos doentes mentais que faz com que seja fácil
diferenciá-los das pessoas normais
4. Assim que uma pessoa mostra sinais de distúrbio mental deveria ser
hospitalizada
5. Doentes mentais precisam do mesmo tipo de controle e disciplina que
as crianças pequenas
6. Doença mental é uma doença como outra qualquer
7. Os doentes mentais não deveriam ser tratados como indesejáveis na
sociedade
8. Deveria ser dada menos ênfase em proteger o público dos doentes
mentais
9. Os hospitais psiquiátricos são um modelo ultrapassado de tratamento
para os doentes mentais
10. Virtualmente qualquer um pode se tornar doente mental
104
Restrição social
1) Não deveria ser dada nenhuma responsabilidade ao doente mental
2) Os doentes mentais deveriam ser isolados do resto da comunidade
3) Uma mulher seria tola de se casar com um homem tenha sofrido de
doença mental, mesmo que ele parecesse completamente recuperado
4) Eu não gostaria de ser vizinho de porta de alguém que tenha sido
doente mental
5) Alguém que tenha uma história de doença mental deveria ser impedido
de assumir emprego público
6) Os doentes mentais não deveriam ser privados de seus direitos
individuais
7) Doentes mentais deveriam ser encorajados a assumir responsabilidade
de vida normal
8) Ninguém tem o direito de excluir os doentes mentais de sua vizinhança
9) Os doentes mentais oferecem menos perigo do que a maioria das
pessoas supõe
10) A maior parte das mulheres que foram pacientes de um hospital
psiquiátrico podem ser confiáveis como babás
Benevolência
1) Os doentes mentais foram por muito tempo objeto de ridicularização
2) Deveriam ser gastos mais impostos no cuidado e tratamento dos
doentes mentais
105
3) Nós precisamos ter uma atitude mais tolerante em relação aos doentes
mentais na nossa sociedade
4) Nossos hospitais psiquiátricos parecem mais prisões do que ligares
onde os doentes mentais possam ser cuidados
5) Nós temos a responsabilidade de fornecer o melhor tratamento
possível aos doentes mentais
6) Os doentes mentais não merecem nossa simpatia
7) Os doentes mentais são um peso para a sociedade
8) Aumentar as despesas com Saúde Mental é um desperdiço de
impostos
9) Existem serviços suficientes para os doentes mentais
10)É melhor evitar alguém que tenha problemas mentais
Ideologia comunitária de Saúde Mental
1) Moradores deveriam aceitar a localização de serviços de Saúde Mental
na sua vizinhança
2) A melhor terapia para muitos doentes mentais é fazer parte de uma
comunidade normal
3) Tanto quanto possível, os atendimentos em Saúde Mental deveriam ser
oferecidos por serviços localizados na comunidade
4) A localização de serviços de Saúde Mental em bairro residencial não
coloca em perigo os moradores
106
5) Os moradores não têm nada a temer de pessoas que vêm à sua
vizinhança para conseguir atendimento em Saúde Mental
6) Serviços de Saúde Mental deveriam ser mantidos longe de bairros
residenciais
7) Moradores locais têm boas razões para resistir à implantação de
serviços de Saúde Mental na sua vizinhança
8) Ter doentes mentais morando em áreas residenciais pode ser uma boa
terapia, mas o risco para os moradores é muito grande
9) É amedrontador pensar em pessoas com doença mental morando em
bairros residenciais
10) Localizar serviços de Saúde Mental em área residencial desvaloriza o
bairro
Cada item da CAMI tem uma escala de 5 pontos como resposta: Concordo
fortemente; Concordo; Tanto faz; Discordo; Discordo fortemente
107
Laboratório de Pesquisas Epidemiológicas em Saúde Mental
Em colaboração com :
Núcleo de Pesquisa/Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano
Moreira/SMS
Questionário Sócio-demográfico
Atitudes da Comunidade em Relação aos Doentes Mentais
CAMI-BR
Versão para adaptação e validação
Pesquisador responsável: Lúcia Abelha Lima
Coordenador de campo: Sylvia Gonçalves
Pesquisador:
Entrevistado:
Endereço:
1. Entrevistado n°:
2. Idade
3. Sexo
1) masc
2) fem
4. Estado civil
1) solteiro
2) casado/companheiro
3) viúvo
108
4) separado
5) divorciado
9) s/ inf
5. Número de filhos
6. Faixa etária dos filhos
1) < 6 anos
2) 6 a 18 anos
3) >
18 anos
4) 1 e 2
e3
5) 2 e 3
7) 1, 2 e 3
6) 1
9) s/ inf
7. Nível educacional (Se o entrevistado for o próprio provedor marcar 88)
0) analfabeto
incompl
1) alfabetizado
3) fundamental compl
2)
fundamental
4) médio incompleto
5) médio completo
6) superior incompleto
9) s/ inf
7) superior completo
8) pós-graduação
88) não se aplica
7a. Cursando
0) não
1) sim
9) s/ inf
8) Nível educacional do provedor
0) analfabeto
incompl
1) alfabetizado
3) fundamental compl
2)
fundamental
4) médio incompleto
5) médio completo
6) superior incompleto
7) superior completo
8) pós-graduação
9) s/ inf
8a. Cursando
0) não
9. Ocupação
1) sim
9) s/ inf
___________________________________________
109
10. Ocupação do provedor
________________________________
11. Imóvel
1) próprio
2) alugado 3) s/ inf
12. Religião
0) sem religião
1) católico
batista
4) universal
umbanda
7) candomblé
10) santo D’Aime
2) judeu
5) cardecista
8) adventista
11) assembléia de Deus
__________________
3)
6)
9) budista
12) Outras
99) s/ inf
13. O entrevistado, seus amigos ou familiares alguma vez já utilizaram
serviços de Saúde Mental?
0) não
1) sim
9) s/ inf
110
A escala adaptada - versão final
Atitudes e intenções de comportamento da comunidade em relação aos
doentes mentais
A) Autoritarismo
1. Uma das principais causas da doença mental é a falta de auto disciplina
e auto controle.
2. A melhor forma de controlar os doentes mentais é mantê-los trancados.
3. Algumas características diferenciam os doentes mentais das pessoas
normais.
4. Uma pessoa sempre deve ser hospitalizada assim que apresente sinais
de distúrbio mental.
5. Doentes mentais precisam do mesmo tipo de controle e disciplina que
as crianças pequenas.
6. Doença mental é uma doença como outra qualquer.
7. Os doentes mentais não deveriam ser tratados como indesejáveis na
sociedade.
8. Deveria ser dada menos importância em proteger a sociedade dos
doentes mentais.
9. Os hospitais psiquiátricos são um modelo ultrapassado de tratamento
para os doentes mentais.
111
10. Qualquer um pode se tornar um doente mental.
B) Restrição social
1) Nenhuma responsabilidade deveria ser dada ao doente mental.
2) Os doentes mentais deveriam ser isolados do resto da comunidade.
3) Uma mulher seria tola em se casar com um homem que tenha sofrido
de doença mental, mesmo que ele parecesse completamente recuperado.
4) Eu não gostaria de ser vizinho de porta de alguém que tenha sido
doente mental.
5) Alguém que tenha uma história de doença mental deveria ser impedido
de assumir qualquer emprego público.
6) Os doentes mentais não deveriam ser privados de seus direitos
individuais.
7)
Doentes
mentais
deveriam
ser
encorajados
a
assumir
responsabilidades de vida normal.
8) Ninguém tem o direito de excluir os doentes mentais de sua vizinhança.
9) Os doentes mentais oferecem menos perigo do que a maioria das
pessoas pensa.
10) A maior parte das mulheres que foram pacientes de um hospital
psiquiátrico pode ser confiável como babá.
112
C) Benevolência
1) Os doentes mentais foram, por muito tempo, objetos de ridicularização.
2) Deveriam ser gastos mais recursos públicos no cuidado e tratamento
dos doentes mentais.
3) Nós precisamos ser mais tolerantes com os doentes mentais na nossa
sociedade
4) Nossos hospitais psiquiátricos parecem mais prisões do que lugares
para se cuidar dos doentes mentais.
5) A sociedade tem a responsabilidade de fornecer o melhor tratamento
possível aos doentes mentais
6) Os doentes mentais não merecem nossa simpatia
7) Os doentes mentais são um peso para a sociedade
8) Aumentar as despesas com Saúde Mental é um desperdício de
recursos públicos
9) Existem serviços de atendimento suficientes para os doentes mentais
10) É melhor evitar alguém que tenha problemas mentais
D) Ideologia comunitária de Saúde Mental
1) Todos deveriam aceitar que serviços de atenção à Saúde Mental
fossem instalados na sua vizinhança
2) A melhor terapia para muitos doentes mentais é fazer parte de uma
comunidade normal
113
3) A assistência em Saúde Mental deveria ser oferecida, na medida do
possível, em serviços localizados na comunidade.
4) A localização de serviços de Saúde Mental em bairro residencial não
coloca em perigo os moradores.
5) Moradores não têm nada a temer de pessoas que venham à sua
vizinhança para receber atendimento em Saúde Mental
6) Serviços de Saúde Mental deveriam ser mantidos longe de bairros
residenciais
7) Moradores locais têm boas razões para resistir à implantação de
serviços de Saúde Mental na sua vizinhança
8) Morar em áreas residenciais pode ser uma boa terapia para os
pacientes, mas o risco para os moradores é muito grande.
9) É assustador pensar em pessoas com doença mental morando em
bairros residenciais
10) Localizar serviços de Saúde Mental em área residencial desvaloriza o
bairro
Cada item da CAMI tem uma escala de 5 pontos como resposta: Concordo
totalmente; Concordo; Tanto faz; Discordo; Discordo totalmente.
114
CONSENTIMENTO INFORMADO
Esta pesquisa tem por objetivo realizar a adaptação transcultural , para o
Brasil, da escala: Community Attitudes toward Mentally Ill (Atitudes da
Comunidade em Relação aos Doentes Mentais (CAMI-BR). Utilizada para
medir as atitudes da comunidade em relação a pacientes psiquiátricos.
A sua participação nesse estudo é voluntária. Mesmo que você decida
participar, você tem plena liberdade para sair do estudo a qualquer
momento.
Você poderá fazer todas as perguntas que quiser antes de concordar em
participar do estudo.
Sua
identidade
será
mantida
como
informação
confidencial.
Os
resultados do estudo podem ser publicados, mas sua identidade não será
revelada sem seu consentimento por escrito.
Eu,
li e entendi todas as informações sobre esse estudo e todas as minhas
perguntas
foram
respondidas
a
contento.
voluntariamente em participar deste estudo.
Local/data:
Assinatura:
Pesquisador responsável: Lúcia Abelha Lima
Coordenadora de campo: Sylvia Gonçalves
Portanto,
consinto
115
Laboratório de Pesquisas Epidemiológicas em Saúde Mental
Em colaboração com :
Núcleo de Pesquisas do Instituto Municipal Juliano Moreira/SMS
Prezado,
O Sr. (a) está participando de uma pesquisa da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, em parceria com o Núcleo de Pesquisa do IMASJM, para
avaliar o que as pessoas pensam sobre portadores de transtornos
mentais. O questionário leva de 15 a 20 minutos para ser aplicado. Sua
contribuição é importante para a avaliação e melhoria dos serviços de
Saúde Mental.
Desde já agradecemos sua colaboração
Atenciosamente,
Lúcia Abelha Lima
Coordenadora do projeto
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Sylvia Rosa