UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA Sylvia Rosa Gonçalves Siqueira ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL E CONFIABILIDADE DA ESCALA COMMUNITY ATTITUDES TOWARDS MENTALLY ILL (CAMI) Rio de Janeiro 2009 i UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA Adaptação transcultural e Confiabilidade da escala Community Attitudes Towards Mentally Ill (CAMI) Mestranda Sylvia Rosa Gonçalves Siqueira Linha de Pesquisa Epidemiologia Aplicada à Saúde Mental e às Violências Orientadora Prof. Dra. Lúcia Abelha RIO DE JANEIRO 2009 S617a Siqueira, Sylvia Rosa Gonçalves. Adaptação transcultural e confiabilidade da escala community attitudes towards mentally ill (CAMI)/ Sylvia Rosa Gonçalves Siqueira.Rio de Janeiro: UFRJ/Instituto de Estudos em Saúde Coletica, 2009. x115 - f.; 30 cm. Orientador: Lúcia Abelha Lima. Dissertação (Mestrado)- UFRJ/Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, 2009. Referências: f. 63 - 68. 1. Reprodutibilidade dos testes. 2. Reforma psiquiátrica. 3. Serviços de saúde. 4. Adaptação transcultural 5. CAMI. I. Lima, Lúcia Abelha. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Estudos em Saúde Coletiva. III. Título. CDD 614 ii UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA Sylvia Rosa Gonçalves Siqueira ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL E CONFIABILIDADE DA ESCALA COMMUNITY ATTITUDES TOWARDS MENTALLY ILL (CAMI) Dissertação apresentada ao Programa de pós-graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários a obtenção do titulo de Mestre em Saúde Coletiva. Aprovada em, 17 de fevereiro de 2009 Profa Dra Lúcia Abelha Lima, IESC/UFRJ Profa Dra. Letícia Fortes Legay, IESC/UFRJ Prof. Paulo Cesar Geraldes , UNESA/ RJ iii Dedico este trabalho a todos os pacientes da Colônia Juliano Moreira. À Lúcia Abelha, pela parceria de trabalho e pela amizade. Às minhas filhas Julia e Bruna, minhas princesas. À minha irmã Patrícia pelo amor e apoio. Ao Sergio pelo apoio e cumplicidade. iv Agradecimentos À minha orientadora, Profa. Dra. Lúcia Abelha, que sempre me apoiou e compartilhou comigo os momentos difíceis e os de alegria. Aos professores Profa. Dra. Leticia Legay e Prof. Dr. Giovanni Lovisi pelas importantes contribuições nesse trabalho. Ao Paulo Fagundes pelo incentivo na minha vida profissional e acadêmica. Aos meus colegas de mestrado, Simone, Cristina, Priscila e Diego pela amizade e ajuda. À minha tia Deta pela força com as minhas filhas. Aos pesquisadores de campo pela colaboração na coleta dos dados. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo suporte à pesquisa. E, principalmente, a todos os entrevistados participantes desse estudo, sem os quais nossa pesquisa não seria possível. v Lista de Tabelas Tabela 1 – Características sociodemográficas da amostra estudada………....47 Tabela 2 –... Análise da equivalência referencial e geral entre os itens da retradução e o instrumento CAMI original……………………………………..........................48 Tabela 3 – Análise da confiabilidade teste-reteste dos escores finais e das subescalas da CAMI_BR………………………………………................…......................... 53 Tabela 4 - Análise de confiabilidade dos itens da subescala Autoritarismo da escala CAMI-BR...............................................................................................54 Tabela 5 - Análise de confiabilidade dos itens da subescala Restrição Social da escala CAMI-BR................................................................................................55 . Tabela 7 - Análise de confiabilidade dos itens da subescala Benevolência da escala CAMI-BR................................................................................................56 Tabela 8 -Análise de confiabilidade dos itens da subescala Ideologia da Saúde mental comunitária da escala CAMI-BR......................................................................57 vi Lista de Quadros Quadro 1 - Estudos em diversos países sobre as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais e ao serviço de saúde mental...................................................................................................................... 26 Quadro 2 – Recodificação dos itens da escala CAMI…………........…......………37 Quadro 3 - Localização dos serviços de Residências Terapêuticas por área………………………………………………………………….....….……......…….38 Quadro 4 - Etapas do procedimento para o processo de adaptação de instrumentos de medidas…………………………………………………....................................…..41 Quadro 5- Questões adaptadas da subescala Autoritarismo.................................49 Quadro 6 – Questões adaptadas da subescala Restrição Social .......................…49 Quadro 7- Questões adaptadas da subescala Benevolência.................................50 Quadro 8- Questões adaptadas da subescala ideologia da saúde mental.......… 51 vii Lista de Figuras Figura 1- Modelo de Amostragem………………………………...........................39 viii RESUMO Introdução: A atitude negativa da comunidade em relação aos doentes mentais é um dos principais entraves para a implantação e expansão de serviços de saúde mental em áreas residenciais. O medo, a falta de conhecimento sobre os serviços e o estereótipo continuam a ser obstáculos para a efetividade do tratamento e para a reintegração social do paciente. No Brasil há uma carência de estudos utilizando escalas para aferir as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais. Objetivo: realizar a adaptação transcultural e o estudo de confiabilidade da escala Community Attitudes toward Mentally Ill (CAMI) Metodologia: A adaptação transcultural da escala constou das seguintes etapas: Tradução; Revisão da tradução por um grupo bilíngüe; Retradução; Avaliação da retradução; Estudo piloto; Revisão das questões a partir do estudo piloto. A confiabilidade da escala e dos itens foi avaliada utilizando o coeficiente de correlação intraclasse, o coeficiente kappa ponderado e o kappa ajustado para prevalência. Resultados: Os resultados incluíram modificações importantes na formulação e no conteúdo das questões, para garantir a equivalência semântica e cultural da escala adaptada para o contexto brasileiro. Na confiabilidade intra-entrevistadores o kappa ajustado pela prevalência foi de substancial (45%), moderado (47,5%) e regular (7,5%), e o coeficiente de correlação intraclasse foi 0,69 (IC 95%=0,52-0,81). O Alfa de Cronbach foi 0,809 no teste e 0,870 no re-teste. Conclusão: A versão brasileira da CAMI (CAMI -BR), resultou em escala de linguagem clara, compreensível e fácil aplicabilidade e com boa estabilidade e consistência interna. Palavras chave: adaptação transcultural, confiabilidade, CAMI, reforma psiquiátrica. atitudes da comunidade, ix ABSTRACT Background: Negative attitudes towards mentally ill people are one of the most important problems to prevent the implementation of community – based mental health care. Some international studies demonstrated three factors associated with these community attitudes: 1- afraid of people with mentally illness; 2- lack of knowledge about mental health services, and 3- public’s stereotype of psychiatric patients. These factors continue to maintain barriers to the effective psychiatric treatment and social reintegration of the psychiatric patients in the community. In Brazil, there are scarce studies about this issue. None Brazilian studies used Community Attitudes Towards Mental Ill instrument (CAMI) to assess attitudes of population towards psychiatric patients living in the communities. Aim: This present study consisted of a cross-cultural adaptation of the original instrument in English (CAMI) into a final version to be used in Brazil. Based on a broad literature review, the cross-culturall adaptation of the CAMI to Brazilian context was made following the next steps: Translation; Back-translation: Assessment of the back translation; Pilot Study: Analysis of the pilot study data. The scale and item reliability was assessed through intraclass coefficient correlation, the weighted Kappa coefficient and the prevalence and bias adjusted kappa (PABAK). Results: Results indicated a satisfactory equivalence between versions, with modifications being made in the procedures for conducting the interview and the language used in the questions. Prevalence adusted kappa was substancial (45%), moderate (47,5%) and regular (7,5%). Intraclass correlation coefficient was 0,69 (CI 95%=0,52-0,81). Cronbach alfa was 0,809 in test and was 0,870 in re-test. Conclusions: Our findings showed that the CAMI-BR is an instrument with clear instructions, understandable questions and easier for application in the Brazilian context. Reliability and internal consistency were satisfactory. Key words: Cross-cultural adaptation; community attitudes; CAMI; Reliability; Psychiatry Reform x SUMÁRIO .................................................................................................. v Lista de Tabelas Lista de Quadros …………………………………………………………… ....…...…..vi .................................................................................................... vii Lista de figuras Resumo ............................................................................................................... viii Abstract ............................................................................................................... ix .................................................................................................. 12 1 INTRODUÇÃO 1.1 Serviços de Saúde Mental .................................................................... 13 2.ATITUDES DA COMUNIDADE EM RELAÇÃO AOS PACIENTES PSIQUIÁTRICOS .................................................................................................................................. 17 2.1 Desenvolvimento da escala Community attitudes towards he mentally ill (CAMI) …………………………………………………………………………..……………..….19 2.2 Estudos que avaliaram as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais.......................................................................................................................20 2.2.1 Estudos Internacionais ........................................................................ 20 2.2.2 Estudos Nacionais.................................................................................24 3 JUSTIFICATIVA 4 OBJETIVOS ................................................................................................ 30 ...................................................................................................... 32 4.1 Objetivo Geral ..................................................................................... 32 4.1.2 Objetivos Específicos 5 MÉTODOLOGIA ....................................................................... 32 ............................................................................................... .33 5.1 Local de Estudo ................................................................................... 33 5.2 População do Estudo ........................................................................... 35 5.3.Descrição do instrumento original...............................................................35 5.4 QuestionárioSóciodemográfico .........……….......………..……..................37 5.5 Amostra……………………………………………………………......……….38 xi 5.6 Treinamento pesquisadores …………………………....……………..…….39 5.7 Adaptação Transcultural 5.7.1 Equivalência Conceitual ……………………………….…………..………40 ..................................................................... 41 5.7 .2 Equivalência Semântica………………………………....………………42 5.7.3 Estudo piloto........................................................................................ 43 5.7.4 Equivalência Operacional ………………………………...………….…43 5.8 Equivalência de mensuração (confiabilidade)……….....……..…………..43 5.8.1 Análise de dados…………… …………………………..…….………….44 5.9 Considerações éticas................................................................................45 6 RESULTADOS .................................................................................................... 46 7 DISCUSSÃO ........................................................................................................ 58 8 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 62 9 REFERÊNCIAS ........................................................................................................63 10 ANEXOS ................................................................................................................69 12 1 INTRODUÇÃO A partir da década de 50 teve início nos países desenvolvidos o processo de desintitucionalização psiquiátrica, caracterizado pela transferência da assistência do hospital para a comunidade. Este processo se deu principalmente em função das péssimas condições em que se encontravam os hospitais psiquiátricos, o surgimento dos neurolépticos e os movimentos pelos direitos humanos da década de 60. As transformações ocorridas caracterizaram-se de forma diferenciada em consonância com questões políticas, sociais e econômicas de cada país. (Hafner & Heiden, 1989; Mechanic, 1991; Bell, S. et al., 2005). Desde então houve uma crescente preocupação em reduzir leitos psiquiátricos, priorizando o tratamento em serviços substitutivos na comunidade. As internações deveriam ser evitadas sempre que possível e mantidas pelo tempo estritamente necessário. O cuidado na comunidade, como parte da estratégia para a reinserção dos pacientes na sociedade, incluiria, além do atendimento ambulatorial, os centros de atendimentos diários, as residências terapêuticas e os programas de reabilitação psicossocial, A Organização Mundial de Saúde ressalta a importância de que os sistemas de Saúde Mental nos diversos países incluam serviços e recursos que tenham como foco principal promover Saúde Mental: legislação específica e apropriada, serviços substitutivos na comunidade, cuidados na atenção primária, recursos humanos, esclarecimentos e educação da população, interação com outros setores, investimento em pesquisa e avaliação de serviços. (Jacob et al, 2007). O processo de reforma psiquiátrica começou, no Brasil, a partir da década de 70, e teve como base do movimento uma crítica ao modelo clássico da psiquiatria e suas instituições, principalmente a forma de tratamento em que eram submetidos os pacientes, e as péssimas condições de moradia nos asilos (Amarante, 1997). A transferência do cuidado para uma rede substitutiva na comunidade vem se caracterizando como uma conjuntura de ações políticas, sociais e de mobilização através da participação dos profissionais de Saúde Mental, das 13 associações de usuários e das associações de familiares. (Sommer, 1990; Lougon; Andrade, 1995; Lima et al, 1999). O tratamento do paciente crônico representa um dos maiores desafios para as reformas no setor de Saúde Mental. Estes pacientes precisam de cuidados contínuos e de serviços de reabilitação psicossocial, sendo que o suporte social e a aceitação da comunidade em que vivem têm um papel fundamental na sua recuperação e equilíbrio. (Wykes & Sturt, 1986; Leff & Trieman, 2000). A reintegração social de pessoas com transtornos mentais graves, internados há longos anos em hospitais psiquiátricos, afastados há tempos da sociedade e da família, é uma questão primordial para a reforma da assistência à Saúde Mental. Para que esta transição seja bem sucedida, é importante ter o conhecimento, dentre outros aspectos, das atitudes da comunidade em relação aos pacientes e à doença mental (Trieman & Leff, 2002, Gonçalves et al., 2002). Muitas vezes a oposição por parte da vizinhança pode inviabilizar a implantação dos novos serviços. Alguns estudos sugerem que a reintegração dos doentes mentais depende estreitamente da aceitação que tenham por parte da comunidade (Wolff et al, 1996). 1.1 OS SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL NO BRASIL O processo da reforma psiquiátrica vem se intensificando nos últimos anos no Brasil. Em abril de 2001 é aprovada a Lei nº 10216, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em Saúde Mental para o atendimento na comunidade. Assegura total proteção contra qualquer forma de abuso e exploração e garante o tratamento adequado, de preferência em serviços comunitários. Ao mesmo tempo em que prioriza este tipo de assistência com reinserção social, garante a internação, quando necessária, com assistência integral. Complementando essa Lei, a Portaria nº 52 de 20 de janeiro de 2004 atribui ao Ministério da Saúde a coordenação do processo de, como diz o texto, substituição progressiva dos leitos em hospitais psiquiátricos por uma rede comunitária de atenção psicossocial, explicitando a necessidade de uma transição segura, onde a redução de leitos hospitalares possa ser planificada e acompanhada de construção concomitante de alternativas no modelo 14 comunitário. Entre outras garantias menciona que os recursos financeiros que deixarem de ser gastos no componente hospitalar devem ser direcionados às ações territoriais e comunitárias de saúde, também na mesma progressão. Apesar dos esforços no sentido de transferir os cuidados aos pacientes psiquiátricos do hospital para a comunidade, até o momento o número de serviços de Saúde Mental no Brasil ainda é insatisfatório para cobrir toda a demanda. Além disso, há uma grande concentração de serviços na região sudeste, com escassez na região norte e nordeste(REFERENCIAS). Abaixo estão descritos os principais serviços de Saúde Mental existentes atualmente no país. 1.1.1 Centros de Atenção Psicossocial Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são serviços abertos, comunitários, que oferecem atendimento diário às pessoas com transtornos mentais severos e persistentes, realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social destas pessoas por meio do acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. É função dos Caps: prestar atendimento clínico em regime de atenção diária, evitando assim as internações em hospitais psiquiátricos; promover a inserção social das pessoas com transtornos mentais por meio de ações intersetoriais; regular a porta de entrada da rede de assistência em Saúde Mental na sua área de atuação e dar suporte à atenção à Saúde Mental na rede básica (Brasil, 2007). Existem diferentes tipos de CAPS, dependendo de sua abrangência e função: CAPS I – Têm menor porte e capacidade operacional para dar cobertura assistencial a uma população entre 20.000 e 70.000 habitantes. Funciona em regime de 2 turnos. CAPS II – Têm capacidade operacional para dar cobertura assistencial a uma população entre 70.000 e 200.000 habitantes. Funciona em regime de 2 turnos. CAPS III - Têm capacidade operacional para dar cobertura assistencial a uma população acima de 200.000 habitantes. Funcionam 24 horas, diariamente, inclusive fins de semana e feriado. Têm no máximo 5 leitos para observação e/ou repouso. 15 CAPSi - Têm capacidade operacional para dar cobertura assistencial a uma população acima de 200.000 habitantes ou outro parâmetro populacional justificado pelo gestor local. Funciona em regime de 2 turnos. Tem como público alvo crianças e adolescentes com transtornos mentais. CAPSad - Têm capacidade operacional para dar cobertura assistencial a uma população acima de 100.000 habitantes ou outro parâmetro populacional justificado pelo gestor local. Funciona em regime de 2 turnos, com 2 a 4 leitos para desintoxicação e repouso. Seu público alvo são pacientes com transtornos decorrentes do uso e/ou dependência de álcool e outras drogas. 1.1.2 Unidade Psiquiátrica em Hospital Geral (UPGH) As UPGHs são as mais antigas alternativas à internação em hospital psiquiátrico. As primeiras UPHGs surgiram no Brasil na década de 50, com o objetivo de diminuir a estigmatização dos pacientes psiquiátricos, diminuir o tempo de internação e melhorar o atendimento às intercorrências clínicas (Tavares, 1997). O modelo de assistência médica das décadas de 60 e 70, centrado fortemente no hospital psiquiátrico, o preconceito relacionado aos doentes mentais e a preocupação da equipe relacionada ao comportamento desses pacientes, dificultaram a implantação destas unidades.(Dalgalarrondo & Gattaz, 1992; Botega, 1997). Ainda hoje os leitos psiquiátricos em hospital geral são claramente insuficientes para funcionar como alternativa à internação em hospitais psiquiátricos (Botega, 2002; Gentil, 2007). 1.1.3 Ambulatórios Os ambulatórios, de forma geral, não estão integrados à rede de Saúde Mental de uma maneira efetiva. Existem grandes filas de espera para marcação de consultas. Estes ambulatórios são referência para inúmeras consultas em psiquiatria e psicologia, em especial, mas sua resolutividade tem sido baixa – a maioria possui imensas listas de espera e as crises no seu funcionamento são freqüentes. Entendemos que, em muitos locais, é necessária uma reformulação deste modo de funcionamento, rediscutindo o papel dos ambulatórios na rede de atenção em Saúde Mental e possibilitando uma integração dos serviços existentes. 16 1.1.4 Residências Terapêuticas A implementação dos Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) surge em um contexto de superação do modelo assistencial centrado no hospital psiquiátrico, para a atenção na comunidade, como estratégia para reinserção e reintegração social dos pacientes com transtornos mentais, egressos de hospitais psiquiátricos. As moradias, casas localizadas no meio urbano, servem como espaços onde, além da humanização no trato destes pacientes, busca-se uma vida social digna com direitos, no processo de readaptação de cada pessoa à vida em sociedade. . Várias experiências veem demonstrando que essa empreitada tem sido bem sucedida no campo da Saúde Mental. Entretanto, algumas dificuldades em relação à comunidade devem ser consideradas, como: a resistência em algumas regiões em função da falta de conhecimento sobre o serviço, o preconceito e o medo relacionados à doença mental (Vidal, 2006). Em relação à expansão dos Serviços Residenciais é importante traçar estratégias quanto aos impasses identificados. A opinião pública é uma das questões que devem ser consideradas e incluídas no debate acadêmico e nos projetos de intervenção (Furtado, 2006; Delgado, 2006). A rede de Residências Terapêuticas (RT) conta hoje com 475 serviços em funcionamento, com aproximadamente 2.500 moradores. A maior parte (19) das RTs na cidade do Rio de Janeiro está localizada em Jacarepaguá (Brasil, 2007). 17 2 ATITUDES DA COMUNIDADE EM RELAÇÃO AOS PACIENTES PSIQUIÁTRICOS Um dos principais fatores que prejudicam a adaptação dos pacientes com transtornos mentais graves na comunidade é o estigma da doença mental. O destaque sobre o estigma tem aumentado nas últimas décadas, particularmente no campo da psicologia social. Estudos demonstraram a maneira como as pessoas constroem categorias cognitivas e as relacionam às categorias de crenças estereotipadas. Ao definir o estigma como uma marca, Link e Phelan (2001) destacam que ele vem acompanhado dos seguintes componentes: rotulação, estereótipos, segregação, perda de status e discriminação. A estigmatização é direcionada a determinados grupos e/ou indivíduos. As questões acerca de circunstâncias estigmatizantes devem ser elucidadas, pois além de afetar vários aspectos da vida das pessoas, pode ter uma influência dramática sobre a distribuição das chances na vida, em áreas como: salário, moradia, envolvimento criminal, saúde, entre outras. Neste contexto, os pacientes psiquiátricos foram discriminados de várias maneiras ao longo dos séculos. Expressões como: "mentalmente doente'' ou ''doentes mentais'' estão ainda associados à violência, à periculosidade, à imprevisibilidade, e mesmo à depravação moral. A esquizofrenia, mais do que outros transtornos psiquiátricos, tende a ser vinculada a imagens públicas negativas. O medo e o estereótipo continuam a ser um obstáculo para eficácia do tratamento e para a integração social do paciente. Os efeitos da discriminação têm um impacto negativo, não só no relacionamento interpessoal, mas também no desempenho de papéis sociais e ascensão social do paciente. Estas experiências constituem uma barreira à sua melhora clínica, limitando as oportunidades e reduzindo sua auto-estima (Gonzalez-Torres et al., 2007). O modelo assistencial baseado na reintegração do doente mental em áreas residenciais ainda sofre alguns entraves, como o estigma atrelado aos pacientes psiquiátricos, a idéia de que doentes mentais devem ser excluídos e tratados em instituições fechadas e a falta de conhecimento sobre os serviços de Saúde Mental, o que reforça a rejeição em relação a este grupo. 18 A atitude negativa da comunidade é um dos principais obstáculos para a implantação de serviços de Saúde Mental em áreas residenciais. A segregação e a exclusão desses pacientes geram um obstáculo para a melhora terapêutica do paciente psiquiátrico e para um tratamento bemsucedido (Rossler & Salize 1995). A avaliação das atitudes da sociedade em relação aos doentes mentais ganhou uma importância especial com a transferência da assistência do hospital para unidades extra-hospitalares, porque a oposição por parte da vizinhança pode inviabilizar os novos projetos. Alguns estudos sugerem que a reintegração dos doentes mentais depende estreitamente da aceitação que tenham por parte da comunidade (Wolff et al, 1996b). Corrigan et al. (2001) avaliou a atitude de estudantes de medicina em relação a pacientes com depressão e transtornos psicóticos. Seus achados corroboram a hipótese de que o contato direto com o paciente é mais importante do que apenas conhecimento sobre a doença, e sugere que familiaridade diminui o estigma social atrelado a pacientes com transtornos psiquiátricos. As residências terapêuticas com maior grau de aceitação parecem ser as que estão localizadas em regiões centrais das cidades, com grande rotatividade de população. A integração parece ser mais difícil em bairros estritamente residenciais, pois estes tendem a ser uma sociedade mais fechada (Trute & Segal, 1976). O processo de implantação e expansão dos serviços residenciais é relativamente recente no Brasil. Exige uma articulação bem desenvolvida com a vida cotidiana, com a vizinhança, com outros setores, agregando saberes que envolvem a dimensão humana. O ritmo de expansão destes serviços deve obedecer esta articulação, e a aceitação da comunidade é o ponto crucial na dinâmica das relações entre usuários e a comunidade, usuários e tratamento terapêutico, no processo de habitar os espaços da cidade, diminuindo o estigma e possibilitando a ampliação da rede social. A avaliação das atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais é uma etapa importante na elaboração de estratégias para a implementação de novos serviços, já que a reintegração e reinserção do paciente, muitos com uma rede social prejudicada, dependem do acolhimento e da receptividade que 19 encontram (Maclean, 1969; Taylor & Dear, 1981; Wolff et al, 1996a; Hannignan, 1999; Schomerus et al., 2006). 2.1 Desenvolvimento da escala Community Attitudes towards the Mentally Ill (CAMI) A primeira escala desenvolvida com o objetivo de avaliar as atitudes da comunidade diante dos pacientes psiquiátricos foi a escala Opinions about Mental Illness (OMI) foi desenvolvida em 1962 por Cohen e Struening, utilizando as respostas de 1.195 trabalhadores de dois grandes hospitais psiquiátricos. Incluiu também itens das seguintes escalas: a California F-scale (Adorno et al., 1950), Custodial Mental Illness Ideology Scale (Gilbert & Levinson, 1956), Nunnally’s scale of popular concepts of mental health (Nunnally, 1961), construíram um instrumento contendo setenta itens. Após análise do questionário, os itens foram agrupados em cinco dimensões e, em trabalho subseqüente, reduzido para cinqüenta e um itens. As cinco dimensões identificadas foram: (1) autoritarismo – a crença de que obediência à autoridade é importante e pessoas com doença mental são inferiores e não têm a capacidade de obedecer a regras, necessitando tratamento coercivo; (2) benevolência – uma idéia paternalista em relação aos doentes mentais; (3) ideologia de higiene mental – a idéia de que doença mental é uma doença como outra qualquer; (4) restrição social – a idéia de que as atividades de doentes mentais, como casamento, voto, capacidade de ter filhos etc., devem ser restringidas; e (5) etiologia interpessoal – a idéia de que doença mental se origina de experiências interpessoais.(Link et al., 2004). A política de desinstitucionalização e o destaque de fatores genéticos na etiologia dos transtornos mentais são exemplos de questões que surgiram depois do desenvolvimento da OMI. Para sanar esta defasagem, foi criada, em 1981, a escala Community attitudes towards the mentally ill (CAMI) (Taylor & Dear, 1981). Dois objetivos direcionaram seu desenvolvimento: a construção de um instrumento capaz de diferenciar as características das pessoas que aceitam das que rejeitam os doentes mentais na comunidade e poder descrever e explicar as reações da comunidade em relação às unidades de atendimento ao doente mental. 20 Esta escala usa a OMI como base conceitual e procura reproduzir três de suas cinco dimensões (autoritarismo, benevolência e restrição social). A quarta dimensão (ideologia da Saúde Mental comunitária) da CAMI foi desenvolvida a partir da escala Community Mental Health Ideology (CMHI) de Baker & Schulberg (1967). A escala contém 40 itens, dez para cada uma das quatro dimensões propostas. As respostas para cada uma das questões são distribuídas numa escala tipo Likert de 5 pontos. Os valores encontrados referentes à consistência interna das quatro subescalas foram: autoritarismo: 0,68; benevolência: 0,76; restrição social: 0,80; e ideologia da Saúde Mental comunitária: 0,88. Foi encontrada também uma alta correlação entre as subescalas e com algumas variáveis sócio-demográficas: sexo, idade, ocupação, renda (Taylor e Dear, 1981). 2.2. Estudos que avaliaram as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais Foi realizada uma extensa revisão bibliográfica dos principais estudos internacionais e nacionais, no período entre 1980 e 2006, que avaliaram as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais, bem como a opinião, e conhecimento sobre os serviços de Saúde Mental (quadro 1). Em relação aos estudos nacionais, três estudos foram encontrados, e abordavam especificamente a opinião dos profissionais e estudantes de graduação da área da saúde. Os instrumentos utilizados nos estudos foram: Opinions about Mental Illness (OMI) (Cohen e Struening,1962), Community Attitudes Towards the Mentally Ill (CAMI) (Taylor & Dear, 1981), Opiniões sobre a Doença Mental (ODM) (Rodrigues, 1983; Rodrigues, 1992) e Perceived DevaluationDiscrimination Scale (PDDS) (Link et al., 1987) e Psychiatric Disability Attribution Questionnaire (PDAQ) Corrigan et al., 2001). 2.2.1 Estudos Internacionais Variáveis sociodemográficas, como classe social, nível de educação, idade e sexo, são capazes de influenciar atitudes em relação aos doentes mentais. Crisp et al. (2000), trabalhando para o Royal College of Psychiatrists, entrevistaram 1737 pacientes como parte de uma campanha para reduzir o estigma atrelado aos pacientes com diferentes transtornos mentais. Em seus 21 resultados, 71,3% das pessoas achavam que doentes mentais, em especial esquizofrênicos, era um perigo para a sociedade e 77,3% que eles eram imprevisíveis. Ao contrário de Byrne (1997), Crisp não encontrou diferença entre entrevistados que conheciam alguém com doença mental e aqueles que não conheciam ninguém com transtorno mental. Dentre outros fatores que influenciam as atitudes em relação a doentes mentais, os que já foram extensivamente estudados são: (1) fatores socio-demográficos; (2) conhecimento sobre doença mental; e (3) experiência pessoal com doentes mentais. Em relação a fatores sócio-demográficos Hayward e Bright (1997) sugerem que pessoas mais idosas e com menor nível educacional e social tendem a ter uma atitude mais negativa em relação aos doentes mentais. Leff (1997) mostra que a atitude da comunidade é essencial no sucesso a longo-prazo de políticas de Saúde Mental na comunidade. Além disso, os próprios pacientes com transtorno mental tendem a ter atitudes negativas em relação à doença, o que pode levá-los a demorar a procurar ajuda médica, comprometendo o diagnóstico precoce e conseqüentemente um tratamento mais efetivo. Os fatores sócio-demográficos, sozinhos, podem não ser suficientes para justificar as atitudes públicas em relação à doença mental. Conceitos médicos e morais de pessoas leigas a respeito de doença mental constituem uma base de conhecimentos a partir da qual se desenvolve a tolerância. Um estudo realizado com uma amostra de 713 adultos da área rural do estado de Tennessee (USA) demonstrou a baixa tolerância entre os que têm estes preconceitos. Sugere que um maior conhecimento e compreensão levariam, necessariamente, a uma maior tolerância em relação a comportamentos desviantes (Neff e Housaini 1985). Wolff et al. (1996a), antes da abertura de mais duas residências terapêuticas para doentes mentais em uma comunidade em Londres, realizaram um inquérito com 305 moradores próximos a esses serviços utilizando a escala Community Attitudes toward the Mentally Ill (CAMI). A entrevista consistiu de questões que lidavam com: (a) dados demográficos, (b) conhecimento sobre doença mental, (c) reações em relação a doentes mentais, (d) conhecimento do tratamento psiquiátrico nos hospitais, (e) conhecimento sobre a mudança no modelo assistencial (do hospital para a comunidade) de pacientes psiquiátricos, 22 (f) atitudes da comunidade em relação às políticas de saúde, e (g) opiniões sobre a necessidade de educação da comunidade. Os entrevistados também completaram um questionário de auto-avaliação sobre o medo e atitudes comportamentais em relação aos doentes mentais, feitas especialmente para este estudo. Entre seus achados (Wolff et al., 1996a) encontraram associação entre classe social e atitudes relacionadas ao controle de doentes mentais, com atitudes de maior restrição e menos liberdade aos doentes mentais associadas a classe social mais baixas, e um menor controle social associado às classes mais altas. Também encontraram um efeito independente entre nível educacional mais alto e atitudes de benevolência, com maior nível educacional associado a maior benevolência em relação aos doentes mentais, mas sem associação com atitudes de restrição social. Levantam a possibilidade de que a existência de uma relação entre atitudes negativas e classes sociais mais baixas ou menor nível educacional, possa ser um reflexo da falta de conhecimento nestes grupos sobre o tema nestes grupos. Sugerem ser possível que a relação entre atitudes negativas e variáveis sócio-demográficas como classe social e nível educacional sejam mediadas por falta de conhecimento sobre doença mental, já que entrevistados que relataram sentirem medo de doentes mentais disseram que sentiam medo porque não tinham conhecimento sobre doença mental e não saberiam como reagir em situações diferentes. Em seu estudo, o ”medo do desconhecido” parece ter sido o fator decisivo na geração de medo. Este resultado contrasta diretamente com achados de Taylor e Dear (1981), onde educação teve o maior efeito em relação a atitudes de restrição social. Outros estudos também relataram uma correlação direta entre maior nível educacional e maior tolerância (Bockington et al, 1993). Consoante com estes achados, Papadopoulos et al. (2002) também demonstraram, em uma população de gregos e ciprianos na Inglaterra, que há uma relação entre falta de conhecimento e atitudes preconceituosas em relação a doentes mentais. Outro estudo de Wolff et al. (1996b) avaliou o sucesso de uma campanha educacional em uma área residencial onde seria construído um serviço de Saúde Mental. O programa educacional teve pouco efeito nos níveis de conhecimento sobre Saúde Mental, mas houve uma 23 melhora nas atitudes em relação aos doentes mentais. A conclusão dos autores em seus dois estudos foi a de que o contato com doentes mentais parece ser mais importante na formação de atitudes do que apenas informação. Entre outros estudos que defendem idéia da importância de contato pessoal com doentes mentais e conhecimento sobre Saúde Mental está o estudo Chinês conduzido por Gao e Philips (2001). Desde 1985, o Departamento de Saúde em Taiwan tem tido como objetivo prioritário o fortalecimento dos sistemas de reabilitação psiquiátrica. Um de seus principais obstáculos é o alto índice de estigma relacionado aos doentes mentais. Para avaliar as atitudes da população geral em relação aos doentes mentais, examinaram a associação do contato prévio com doentes mentais e as atitudes em relação a eles, controlando por variáveis sócio-demográficas. Foram entrevistadas 1.203 pessoas e o estudo conclui que o contato direto e a idade foram as variáveis mais importantes. Atitudes benevolentes não garantem, necessariamente, a aceitação de reabilitação na comunidade, mas, “um pensamento benevolente pode ser transformado em compaixão e aceitação de outro ser humano se as pessoas tiverem a oportunidade de ter contato direto com doentes mentais” (Gao & Philips, 2001). Ng et al. (1995) avaliaram 300 moradores de Dunedin (Nova Zelândia) a respeito do conhecimento da população sobre doença mental e a experiência pessoal com doentes mentais. Concluíram que ter conhecido alguém com distúrbio psiquiátrico facilita relações mais próximas com outros doentes. Ressaltam que a comunidade precisa e quer ter informações sobre os doentes mentais e demonstra uma opinião favorável sobre a reabilitação de pacientes psiquiátricos. Buizza et al. (2005 ) destacaram a importância de promover intervenções na comunidade no intuito de melhorar as atitudes em relação aos doentes mentais e ações específicas para prevenir ou eliminar preconceitos em sub-grupos da população.Um estudo conduzido na Nigéria, com objetivo de determinar as atitudes dessa população em relação aos doentes mentais, revelou que a visão negativa sobre a doença mental é predominante na população, pois 96,5% das pessoas acredita que os doentes mentais são perigosos (Guruje et al., 2005). 24 2.2.2 Estudos Nacionais Avancini et al.(2002) e Pedrão et al. (2002) fizeram um estudo comparativo entre ingressantes e formandos de enfermagem, com o objetivo de verificar a influência da instrução acadêmica nas atitudes em relação à doença e aos doentes mentais. Para verificar essa influência traçaram um perfil das atitudes dos alunos quando entravam na faculdade e momentos antes de receberem o grau de enfermeiros. Os resultados demonstraram que os formandos apresentaram-se menos autoritários e mais benevolentes, acreditando mais na semelhança do doente mental com uma pessoa normal. Destacaram a importância da estruturação das disciplinas de ensino da área de enfermagem psiquiátrica como uma estratégia de minimizar os fatores que podem influenciar nas atitudes negativas dos alunos frente aos pacientes psiquiátricos. Pedrão et al. (2005) traçaram um perfil de formandos em enfermagem brasileiros, chilenos e peruanos. Os formandos brasileiros apresentaram atitudes mais positivas em relação aos pacientes com transtornos mentais quando comparados aos outros dois grupos. Estereótipos e preconceitos podem influenciar de forma negativa as condutas que, no futuro, os alunos no campo da saúde terão com o paciente psiquiátrico. A conduta profissional quando trabalhada precocemente pode predizer ações menos preconceituosas. A grande maioria dos estudos sobre atitudes em relação aos doentes mentais foi desenvolvida nos países do primeiro mundo como a Inglaterra e Alemanha. Prevaleceram os estudos seccionais, com amostras variando de 68 a 7246 pessoas, sendo a CAMI o principal instrumento utilizado. O grupo sócio econômico mais baixo, de menor nível educacional, e as pessoas de minoria étnicas, são os que apresentaram atitudes mais negativas em relação a este grupo. O contato direto é um importante fator para determinar atitudes positivas em relação aos doentes mentais. Os estudos mais recentes demonstraram que o contato com os doentes mentais é capaz de produzir profundos efeitos na formação de atitudes em relação a doentes mentais, já que inclui não apenas o aspecto cognitivo, mas também o aspecto afetivo e comportamental das relações interpessoais. O 25 estigma e o preconceito, favorecendo atitudes negativas, continuam fortemente arraigados nas relações sociais das diferentes culturas. 26 Quadro 1: Estudos em diversos países sobre as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais e ao serviço de Saúde Mental Canadá 1981 Taylor & Dear Neff e Housaini Brockington al Ng et al. et 1985 Inglaterra 1993 Nova Zelândia 1995 Estudo seccional Estudo seccional Estudo seccional Estudo seccional 1.090 713 2000 moradores 300 moradores Moradores de Toronto Tenessee USA Malvern e Bromsgrov e (UK) Dunedin Nova Zelândia Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI) Interpretações a partir de histórias curtas Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI) Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI) e Social Distance Scale Desenvolviment o e aplicação da escala CAMI Avaliar os conceitos médicos e morais de pessoas leigas a respeito de doença mental e sua relação com a tolerância. Avaliar as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais em 2 regiões da Inglaterra Avaliar o conhecimento da população sobre doença mental e a experiência pessoal com doentes mentais. O estudo demonstra a validade da escala e sua utilidade como variável explanatória e preditiva no estudo da reação da comunidade a serviços de Saúde Mental comunitários Demonstrou a baixa tolerância entre os que têem estes preconceitos. Sugere que um maior conhecimento e compreensão, levaria, necessariamente, a uma maior tolerância em relação a comportamentos desviantes Os moradores Bromsgrove, onde existe um hospital psiquiátricol, foram mais tolerantes do que os da região de Malvern. Os fatores sóciodemográficos associados a maior tolerância foram: idade, nível educacional e familiaridade com doentes mentais. Ter conhecido alguém com distúrbio psiquiátrico facilita relações mais próximas com outros doentes. A comunidade precisa e quer informações sobre os doentes mentais e tem uma opinião favorável sobre a reabilitação de pacientes 27 psiquiátricos . Wolff & cols., Wolff & cols., Crisp et al Corrigan, Gao e Philips Inglaterra 1996a Inglaterra 1996b Reino Unido 2000 2001 2001 Estudo seccional Estudo seccional. Estudo seccional Estudo seccional – prevalência em 2 momentos Estudo seccional 305 vizinhos próximos aos serviços 305 vizinhos próximos aos serviços 1737 152 estudantes 1203 Tooting Bec Hospital (UK) Tooting Bec Hospital (UK) Reino Unido Chicago (USA) Taiwan Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI) Realizar a análise fatorial da escala CAMI e avaliar associação dos fatores com variáveis sóciodemográficas Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI) Medir as atitudes da comunidade em duas ruas antes da abertura de duas Residências Terapêuticas para doentes mentais. 8 questões relativas à opinião a respeito de pessoas com diferentes transtornos mentais Avaliar a opinião pública sobre pacientes com diferentes transtornos mentais Psychiatric Disability Attribution Questionnaire (PDAQ). Avaliar 3 estratégias para diminuir o preconceito em relação a doentes mentais e deficientes físicos Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI) Avaliaram as atitudes da população de Taiwan em relação aos doentes mentais O estudo demonstrou que a existência de relação entre atitudes negativas e classes sociais mais baixas ou menor nível educacional, possa ser um reflexo da falta de conhecimento sobre o tema nestes grupos. O grupo sócio econômico mais baixo, o menor nível educacional , aqueles com crianças e as pessoas de minoria étnicas, são os que apresentaram atitudes mais negativas em relação aos doentes mentais. 71,3% das pessoas achavam que doentes mentais, em especial esquizofrênicos, eram um perigo para a sociedade e 77,3% que eles eram imprevisíveis. O contato direto com pacientes psiquiátricos surtiu mais efeito em relação á diminuição do preconceito do que a educação O contato direto com doentes mentais e idade foram as variáveis mais importantes para determinar atitudes positivas em relação aos doentes mentais 28 Papadopoulos Alemanh a 2002 Gaebel et al. Buizza et al. 2005 Guruje et al. Schomerus al. Inglaterr a 2002 2005 et 2006 Estudo seccional Estudo seccional Eestudo seccional Estudo seccional Estudo seccional 79 ingleses e 91 grecociprianos 7246 280 2040 Norte de Londres É grande o preconceito em relação À doença mental, e campanhas educacionais devem ser implementadas. É importante promover intervenções para melhorar as atitudes em relação aos doentes mentais e ações específicas para prevenir ou eliminar preconceitos em sub-grupos da população Alemanha Perceived DevaluationDiscrimination Scale Investigar as atitudes da população urbana em relação à doença mental Itália Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI) e Fear and Behavioural Intentions (FABI) inventory Verificar a associação entre as características sóciodemográficas e as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI) Determinar as atitudes da população da Nigéria em relação aos doentes mentais Uma visão negativa sobre a doença mental predomina na população da Nigéria. 96.5% acredita que os doentes mentais são perigosos Perceived DevaluationDiscrimination Scale Avaliação do estigma em relação aos doentes mentais em 3 diferentes países Não houveram diferenças significativas nos achados Ogun, Oyo and Osun Nigéria 1745 Community Attitudes to the Mentally Ill (CAMI) Este estudo avaliou a população greco-cipriana (1º e 2º geração) conhecida pelas suas atitudes estigmatizantes em relação aos doentes mentais e comparou com a de ingleses. Os entrevistados greco-ciprianos tinham menos conhecimento sobre doentes mentais e, apresentaram atitudes mais estigmatizantes do que os ingleses. Pouca diferença foi encontrada entre descendentes de 1º e 2º geração. Conhecimento sobre doença mental foi associado à atitude mais positiva. Eslováquia (Bratislava) , Rússia (Novosibirs k) e Alemanha 29 Avanci et al Pedrão et al Pedrão et al 2002 2002 2005 Estudo seccional Estudo seccional Estudo seccional 68 68 154 São Paulo Brasil São Paulo Brasil São Paulo (Brasil), Chile e Peru Opinions about Mental Illness (OMI) Autoritarismo e Benevolência Opinions about Mental Illness (OMI) Opinions about Mental Illness (OMI) Avaliar autoritarismo e a benevolência de Alunos iniciantes no curso de Enfermagem frente a paciente psiquiátricos Traçar o perfil dos alunos de enfermagem frente à doença mental, antes da influência da instrução acadêmica . Traçar um perfil de atitudes de formandos em enfermagem frente aos transtornos mentais em três culturas diferentes: Brasil, Chile e Peru Atitude negativa, com conteúdo autoritário, prevaleceu nos alunos iniciantes, justificando o fato de não terem recebido ainda nenhuma instrução acadêmica nesse sentido. Os alunos demonstraram um perfil de atitudes de conteúdo de caráter autoritário, restritivo e discriminador Os formandos brasileiros apresentaram atitudes mais positivas frente aos transtornos mentais, mostrando-se menos autoritários, restritivos e discriminadores que os chilenos e peruanos. 30 3 JUSTIFICATIVA As atitudes em relação aos doentes e à doença mental têm recebido considerável atenção nos últimos 30 anos, em função do movimento de transformação da assistência no campo da Saúde Mental que transfere o cuidado de base, principalmente hospitalar, para alternativas de atendimento na comunidade. O processo de reforma psiquiátrica que vem se desenvolvendo no Sistema Único de Saúde necessita ter seus resultados bem avaliados. O tratamento do paciente crônico representa um dos maiores desafios para as reformas no setor de Saúde Mental. Estes pacientes precisam de cuidados contínuos e de serviços de reabilitação psicossocial, sendo que o suporte social e a aceitação da comunidade em que vivem têm um papel fundamental na sua recuperação e equilíbrio. (Wykes & Sturt, 1986; Leff & Trieman, 2000). A avaliação, de forma objetiva e criteriosa, tem levado à implantação de projetos que utilizam escalas para medir a resolutividade dos serviços e a adequação dos pacientes à nova realidade. Neste contexto, é importante que se estabeleça a prática na utilização de instrumentos confiáveis na avaliação dos fatores que envolvem e afetam o atendimento aos transtornos mentais (Lima et 30L, 2003b ,Bandeira). No Brasil a quantidade de escalas validadas ainda é tímida, principalmente no que diz respeito a instrumentos para aferir os resultados da política de desinstitucionalização psiquiátrica. Em um sistema de saúde que disputa financiamentos escassos, é imprescindível tentar determinar como os serviços beneficiam estes pacientes, seus familiares e se atendem satisfatoriamente às suas demandas. Portanto, as disponibilidades de ferramentas que possibilitam conhecer os serviços, sua clientela, identificam avanços e retrocessos, é de fundamental importância para um planejamento adequado dos serviços (Holloway at 30L, 1999). A implementação de projetos que avaliem as atitudes da comunidade deve ser encarada como um investimento positivo pelos serviços substitutivos. Além disso, proporciona uma medida objetiva da atitude e do conhecimento da 31 vizinhança em relação aos usuários e aos serviços, assim como permite criar projetos que promovam o estabelecimento de relações mais estreitas e aumentem a capacidade de se conviver com as diferenças. 32 4 OBJETIVOS 4.1 Objetivo geral: O objetivo desse estudo é realizar a adaptação transcultural e avaliar a confiabilidade da escala: Community Attitudes toward Mentally Ill (CAMI) utilizada para medir as atitudes da comunidade em relação a pacientes psiquiátricos. 4.2 Objetivos específicos: Realizar a adaptação transcultural da escala CAMI Medir a confiabilidade da escala CAMI 33 5 METODOLOGIA Este estudo faz parte do projeto: “Validação transcultural das escalas: SNS e CAMI em pacientes psiquiátricos de longa permanência”, financiado pelo CNPQ, processo n° 485609/2006-1. Esta pesquisa se deteve em 2 etapas deste projeto, visando a adaptação transcultural e o estudo de confiabilidade da escala Community Attitudes towards Mentally Ill (CAMI). A primeira etapa consistiu na tradução e adaptação das questões das escalas para o contexto brasileiro, assim como um estudo piloto que visou ajustar a formulação das questões à população-alvo. A segunda etapa envolveu o estudo de confiabilidade do instrumento, através do procedimento teste e reteste, com um intervalo de duas semanas para a aplicação da escala. 5.1 Local do estudo O estudo foi realizado em domicílios próximos aos serviços de Residência Terapêutica do Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira (IMASJM), localizados na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, nos seguintes bairros de Jacarepaguá: Taquara, Tanque, e Colônia (área do IMASJM que faz parte do bairro da Taquara e possui características de bairro). Até a metade do século XIX, a Baixada de Jacarepaguá podia ser considerada como subúrbio. Hoje ela surge integrada à Zona Sul. Ao longo de todo esse período, destacam-se tanto a formação dos espaços de moradia quanto às transformações da paisagem rural, que vai adquirindo características urbanas sem, porém, perder a beleza natural. Possui uma área territorial de 12.660,65 ha, e em 2000, com uma população estimada de 469.682 habitantes (Instituto Pereira Passos, 2008). Bairro Taquara É um bairro de classe média, com uma área territorial (2003) de 1.320,66 ha, uma população total (2000) de 93.741 habitantes e um total de domicílios (2000) de 28.310. A taxa de mortalidade infantil (2005) é de 13/1000 habitantes e o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH — (2000) é 0,876. 34 Localiza-se na região de Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. Passou por obras do Rio Cidade, o que trouxe melhorias e deu um novo aspecto ao local. O centro da Taquara se caracteriza pelo comércio, sendo seu entorno residencial. Bairro Tanque Bairro de classe média, com uma área territorial (2000) de 556,8 ha, uma população total (2000) de 32.462 habitantes e um total de domicílios( 2000) de 9.985. A taxa de mortalidade infantil (2005) é de 24/1000 habitantes e o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH — (2000) é 0,83. Comparado com o bairro Taquara: suas características sugerem ser um bairro pequeno, menos desenvolvido, comércio limitado e seu entorno composto principalmente de favelas. Colônia Juliano Moreira O Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira (IMASJM) é um hospital psiquiátrico localizado em Jacarepaguá – RJ, fundado em 1924, com uma área de 7.000.000 m². Tem como clientela 620 pacientes institucionalizados por muitos anos e que perderam seus vínculos familiares e sociais devido aos longos anos de institucionalização. O IMASJM tem as características de um pequeno bairro, com uma linha de ônibus regular, uma escola municipal, comércio e clube. Atualmente residem no seu perímetro mais de 30.000 moradores, fruto principalmente de invasões nas terras da antiga Colônia Juliano Moreira. Sua história é marcada por várias transformações do modelo de assistência e a partir da década de 80, implementa os primeiros projetos para garantir condições de habitação mais humanas e assistência terapêutica mais adequada, com o objetivo de promover a desistitucionalização de sua clientela. (Camarinha,1984). Em 1996 a Colônia Juliano Moreira (CJM) foi municipalizada, passando a se chamar Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira. Atualmente é constituído de 1 unidade de pacientes agudos (Hospital Municipal Jurandyr Manfredini) 1 Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), 1 Centro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSI) e de 4 núcleos de longa permanência que 35 abrigam os pacientes idosos remanescentes da antiga Colônia Juliano Moreira. Atualmente as principais atividades assistenciais da instituição são os programas de Lazer e Geração de Renda, Reabilitação Psicossocial, Acompanhamento Comunitário Contínuo para Pacientes Graves e o programa de Serviços Residenciais Terapêuticos. O programa de Serviços Residenciais Terapêuticos do Instituto Municipal Juliano Moreira (IMASJM), teve início no ano 2000, com casas localizadas no bairro da Taquara. As moradias são compostas por população masculina, feminina e mista. São moradias (casas ou apartamentos) individuais de casais, e grupos de 3, 4 e 8 moradores. O programa é desenvolvido com recursos da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, em parceria com a Associação de Parentes e Amigos dos Pacientes do Complexo Juliano Moreira (APACOJUM). A equipe do programa é formada por profissionais de nível superior e cuidadores, responsáveis pelo acompanhamento diário dos novos moradores. O objetivo é ampliar a capacidade da clientela na negociação dos conflitos interpessoais, e sua reintegração na vida da cidade e da comunidade (Sanzana et 35L, 2006). Atualmente, o programa é constituído por 19 Residências Terapêuticas e abriga 68 pacientes egressos de internações psiquiátricas prolongadas. 5.2 População do estudo Moradores dos bairros descritos acima, maiores de 18 anos. Critérios de exclusão: 1-menores de 18 anos 2—incapacidade de responder 5.3 Descrição do instrumento original A CAMI é uma escala multidimensional, originalmente de língua inglesa, elaborada por Taylor e Dear (1981). Dois objetivos direcionaram seu desenvolvimento: a construção de um instrumento capaz de diferenciar as características das pessoas que aceitam das que rejeitam os doentes mentais 36 na comunidade e poder descrever e explicar as reações da comunidade em relação às unidades de atendimento ao doente mental. O instrumento consta de perguntas sobre: • Conhecimento sobre doença mental • Reações aos doentes mentais • Conhecimento sobre o tratamento hospitalar psiquiátrico • Conhecimento sobre a mudança do tratamento de base hospitalar para a comunidade • Atitude em relação à política de atendimento na comunidade A escala é composta de 40 itens distribuídos em quatro subescalas (cada uma com 10 variáveis). As quatro subescalas são: 1)Autoritarismo: necessidade de hospitalização dos doentes mentais; diferença entre doentes mentais e pessoas normais; importância do tratamento custodial; causas das doenças mentais. 2) Benevolência: responsabilidade da sociedade em relação aos doentes mentais; necessidade de atitudes gentis e simpáticas; desejo de se envolver pessoalmente; sentimentos anti-hospitalização. 3) Restrições sociais: periculosidade dos doentes mentais; manutenção de distância social; falta de responsabilidade; normalidade do doente mental. 4) Ideologia da Saúde Mental comunitária: impacto dos serviços de Saúde Mental na vizinhança; perigo que o doente mental representa para os vizinhos; aceitação dos princípios da desinstitucionalização psiquiátrica. Nas subescalas Autoritarismo e Restrição social, as cinco primeiras afirmações têm uma conotação negativa e as cinco últimas uma conotação positiva. Nas subescalas Benevolência e Ideologia da Saúde Mental Comunitária os itens se apresentam em disposição contrária. Em função disso, para calcular o escore final é necessário recodificar os 5 últimos itens das duas primeiras subscalas e os 5 primeiros itens das duas últimas (quadro 2). 37 Quadro 2. Recodificação dos itens da escala CAMI CT* C* TF* D* DT* Autoritarismo Anti: 1, 2, 3, 4, 5 Pro: 6, 7, 8, 9,10 0 4 1 3 2 2 3 1 4 0 Restrição Social Anti: 1, 2, 3, 4, 5 Pro: 6, 7, 8, 9,10 0 4 1 3 2 2 3 1 4 0 Benevolência Pro: 1, 2, 3, 4, 5 0 1 2 3 4 Anti: 6, 7, 8, 9, 10 4 3 2 1 0 0 4 1 3 2 2 3 1 4 0 Ideologia da Saúde Mental Comunitária Pro: 1, 2, 3, 4, 5 Anti: 6, 7, 8, 9, 10 CT: Concordo Totalmente C: Concordo TF: Tanto Faz D: Discordo DT: Discordo Totalmente As respostas para cada uma das questões são distribuídas numa escala tipo Likert de 5 pontos (concordo totalmente, concordo, tanto faz, discordo, discordo totalmente). Após a recodificação, quanto maior o escore, mais positiva as atitudes em relação aos doentes mentais. A escala original possui qualidades psicométricas adequadas de validade de construto, estabelecida através da análise fatorial, correlação item-total e como consistência interna. Para três das quatro subescalas os valores de alfa de Cronbach são elevados: Ideologia da comunidade em relação à Saúde Mental (α = 0,88); Restrições sociais (α = 0,80); Benevolência (α = 0,76). O coeficiente para Autoritarismo (α = 0,68), embora mais baixo ainda é satisfatório (Taylor & Dear, 1981). 5.4 Questionário sóciodemográfico O questionário sócio-demográfico foi construído a partir do questionário utilizado por Wolff et 37L., 1996a). As variáveis utilizadas foram: idade; sexo; 38 estado civil; número de filhos; idade dos filhos; nível educacional; ocupação; moradia (própria ou alugada; religião; utilização de serviços de Saúde Mental. 5.5 Amostra Foi selecionada uma amostra de 250 pessoas residentes dos bairros de Jacarepaguá: Taquara, Tanque e Colônia, selecionada da seguinte forma: A partir da listagem de endereços das Residências Terapêuticas do IMASJM, foram definidas 5 áreas e utilizado o seguinte critério para a aplicação da escala. Foi sorteado uma residência terapêutica de cada uma das 5 áreas. A partir da residência selecionada no sorteio foi estabelecido um entorno de 5 quadras onde foram realizadas as entrevistas (quadro 3). Quadro 3. Localização dos serviços de Residências Terapêuticas por área. Área 1: Colônia (IMASJM) Ladeira Vista, 03 – Área 2: Taquara (próximo instituição) à Área 3: Centro Taquara da Bela Estrada Outeiro Santo, 509, casa 36 térreo Rua Atituba, 101, apt. 101 Rua Sampaio Correa, 07, fundos Estrada Outeiro Santo, 509, casa 25 Rua André Rocha, 372, bl. 04, apt. 103 Rua Adauto Botelho, 08 Est. Rodrigues Caldas, 2228, rua E, casa 212 Est. Rodrigues Caldas, 2228 casa 53 Rua André Rocha, 372, bl. 03, apt. 203 Rua Apiacás, 294, apt. 201 Est. Rodrigues Caldas, 1445 Rua Apiacás, 308, apt. 103 Rua Adauto Botelho, 12 Estrada Outeiro Santo, 509, casa 36, apt. 101 Área 4: Área afastada do centro da Taquara Área 5: Tanque Est. Do Tindiba, 891, bl. 01, apt. 103 Av.Nelson Cardoso,532 casa 1 fundos 39 Cada pesquisador ficou responsável por realizar 50 entrevistas, 10 em cada quadra, sendo escolhidos os 10 primeiros domicílios, iniciando sempre pelo lado par da rua. Os pesquisadores foram orientados para, caso encontrassem algum empecilho entre os 10 primeiros domicílios, como: terreno baldio, comércio, condomínio fechado, recusa em atender, escolhessem a residência seguinte. O tempo médio de entrevista foi de 20 minutos. As primeiras 50 entrevistas foram reaplicadas 2 semanas depois para a análise de confiabilidade testereteste.. Figura 1. Modelo de amostragem MODELO AMOSTRAGEM Residência Terapêutica PRIMEIRO QUARTEIRÃO SEGUNDO QUARTEIRÃO TERCEIRO QUARTEIRÃO QUARTO QUATEIRÃO QUINTO QUARTEIRÃO RT 10 INDIVÍDUOS ENTREVISTADOS EM CADA QUARTEIRÃO 5.6 Treinamento dos pesquisadores O treinamento foi realizado pela equipe de pesquisadores do Núcleo de Pesquisa do Instituto Municipal Juliano Moreira (IMASJM). Foram treinados após seleção 5 pesquisadores de campo: 2 psicólogos e 3 graduandos, sendo 2 em psicologia e 1 em medicina. Os pesquisadores de campo passaram por um treinamento de 40 horas, que incluiu a leitura minuciosa da escala 40 individualmente e em conjunto, discussão de artigos relacionados ao estudo, simulação de entrevista supervisionada pelos coordenadores e experimentação de aplicação da escala em campo, com discussão dessa experiência. Cada entrevista teve duração aproximada de 20 minutos. O objetivo do estudopiloto foi verificar, junto ao entrevistando, os termos e palavras de difícil compreensão e perguntas que não estivessem claras. No decorrer do estudopiloto, procuravam-se palavras ou termos mais adequados, claros e simples para substituí-las, visando a adaptação ao contexto cultural brasileiro. A cada aplicação as modificações necessárias eram feitas e a escala reaplicada até que não se detectassem mais dificuldades de compreensão durante as entrevistas, sendo elaborada a versão teste final da escala. 5.7 Adaptação Transcultural da Escala: A adaptação transcultural da presente escala para o contexto cultural brasileiro foi realizada segundo os procedimentos recomendados pela literatura internacional (Vallerand, 1989; Streiner & Norman, 1995) e estudos nacionais (Bandeira et 40L., 2003; Lima et 40L, 2003ª; Lima et 40L., 2003b; Reichenrein & Moraes, 2007). Este procedimento constou das seguintes etapas: 1.Tradução; 2. Revisão da tradução por um grupo 40L40íngüe; 3. Retradução; 4. Avaliação da retradução 5. Estudo piloto; 6. Revisão das questões a partir do estudo piloto. 7. Versão síntese 41 Quadro 4 - Etapas do procedimento para o processo de adaptação de instrumentos de medidas. Antes de iniciar o procedimento de adaptação transcultural, um dos autores da escala original (Martin Taylor) foi contatado e concedeu autorização para que a escala fosse traduzida e adaptada para o Brasil. 5.7.1 Equivalência conceitual Foi realizado um painel de discussão formado por uma comissão de especialistas (dois psiquiatras, uma epidemiologista, duas psicólogas, uma socióloga e uma enfermeira) para examinar as quatro dimensões do instrumento original (autoritarismo, benevolência. restrição social e ideologia da comunidade em relação à Saúde Mental). Buscou-se examinar a pertinência dos itens de cada dimensão para avaliar as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais na realidade brasileira. 42 5.7.2 Equivalência semântica Tradução e revisão da tradução por um grupo bilíngüe A primeira etapa da adaptação transcultural consistiu na tradução da CAMI para a língua portuguesa, revisada por dois psiquiatras e um psicólogo bilíngües. Retradução A versão em português foi retraduzida para o inglês por uma tradutora juramentada bilíngüe, com experiência na área de saúde pública, cuja língua materna era o português. A versão em inglês, produzida pelo processo de retradução, foi comparada à escala original e avaliada em seguida por um grupo de profissionais bilíngües com experiência na área: dois psiquiatras, uma epidemiologista e uma psicóloga. Painel de discussão (avaliação da retradução) Foi realizado um painel de discussão (já descrito acima) com o objetivo de se identificar inconsistências a serem corrigidas entre a escala traduzida e a escala original. O objetivo foi obter uma tradução mais precisa da escala. Foi avaliada a equivalência semântica comparando a escala original com a retradução. Foi utilizado um formulário específico de forma a não permitir a identificação dos itens, se originais ou retraduzidos. Para avaliação do significado referencial foi utilizada a escala analógica visual – Visual Analogue Scale (Streiner & Norman, 1995) e a equivalência entre os itens foi julgada numa escala de 0 a 100%. A avaliação do significado geral dos itens foi feita em outro formulário classificando-os em: inalterado, pouco alterado, muito alterado e completamente alterado (Moraes et 42L., 2002) A partir dessa comparação, alguns termos da tradução foram revisados para uma melhor adequação ao contexto brasileiro. Após essa discussão, todas as questões foram mantidas, a comissão apontou as reformulações a serem adaptadas na redação das questões e foi obtida uma versão preliminar da escala brasileira. 43 5.7.3 Estudo piloto e revisão das questões a partir do estudo piloto. O estudo piloto teve como objetivo ajustar a formulação das questões da versão preliminar da CAMI-BR à da população-alvo na qual a escala foi aplicada, a fim de se assegurar uma boa compreensão e precisão do texto. Este estudo foi realizado em uma amostra de 14 indivíduos, moradores nas proximidades de residências terapêuticas, no bairro de Jacarepaguá. As entrevistas foram realizadas por 5 pesquisadores e 2 coordenadores de campo. Para a aplicação da escala, o entrevistador utilizava um cartão contendo as alternativas de resposta, para facilitar a compreensão e memorização dos números correspondentes a cada item. 5.7.4 Equivalência operacional O questionário original foi idealizado para ser autopreenchido e, para evitar viés de informação, os 40 itens não estão organizados por subescalas nem essas estão mencionadas (anexo x). Para o presente estudo a aplicação do instrumento foi domiciliar e as entrevistas foram realizadas face a face pelos pesquisadores no intuito de observar as possíveis dificuldades de compreensão dos termos pelos entrevistados e para reduzir o número de perdas. A estrutura das respostas, escala likert de 5 pontos, não foi modificada. Porém, para facilitar a visualização, mudanças operacionais foram feitas, sendo fornecido ao entrevistado um cartão com as alternativas de respostas. 5.8 Equivalência de mensuração Estudo de Confiabilidade A confiabilidade intra-observadores foi avaliada pela aplicação do questionário em dois momentos distintos, momento 0 (teste) e momento 1 (reteste), com intervalo de quinze dias. Para variáveis ordinais (que compõem os itens de cada uma das subescalas), estimou-se a estatística Kappa ponderado (Kw). O peso dado a cada par de observações dependeu do tamanho da diferença entre as categorias nas quais os pares estão classificados. Valores paradoxais de kappa podem ocorrer em função de vieses (variação sistemática unilateral entre dois entrevistadores) ou 44 distribuição enviesada (desigualdade entre as prevalências nas duas amostras). Calculamos, então, o PABAK (prevalence-adjusted bias-adjusted kappa) (Byrt et 44L., 1993). Este valor é condicional ao percentual de concordância observado. O PABAK pode ser útil para estimar concordância quando o percentual de concordância é alto e o valor do kappa é paradoxalmente baixo; aproxima-se do maior valor possível de kappa quando o percentual de concordância é maior que 50% (Lantz and Nebenzahl 1996). Para todas as estatísticas, foram estimados intervalos de 95% de confiança. Os critérios utilizados, para interpretação da concordância, foram: quase perfeita: 0,80 a 1,00; b) substancial: 0,60 a 0,80; c)moderada: 0,40 a 0,60; d) regular: 0,20 a 0,40; d) discreta: 0 a 0,20; e) pobre: -1,00 a 0 (Landis & Kock, 1977). A concordância global e estratificada pelas 4 subescalas e para o escore final das escalas foram medidas pelo coeficiente de correlação intraclasse Shrout & Fleiss (1979). Esta estatística é considerada adequada para medir tanto a consistência quanto a confiabilidade de estudos porque é capaz de estimar a proporção de variação total devido à variabilidade entre unidades independentes de análise. A versão do Coeficiente de Correlação Intraclasse utilizado foi a situação batizada por de número 2 (two way randon ANOVA model), ou seja, cada avaliação constitui uma amostra aleatória das avaliações. Tanto o alvo como as avaliações constituem amostras aleatórias (Ronir, 2008). Voltando à interpretação do ICC, e a exemplo do kappa, há, por parte dos pesquisadores, a cobrança de se estabelecer o que poderia ser considerada uma “boa” concordância. Apesar da artificialidade de qualquer ponto de corte que se estabeleça – na medida em que cada caso terá suas especificidades –, mas havendo necessidade, uma idéia seria utilizar as mesmas sugestões já feitas para o coeficiente kappa de concordância (Figura 2), devido à equivalência entre estes dois índices (Fleiss e Cohen, 1973). 5.8.1 Análise de dados O banco de entrada de dados foi criado no programa Epi Info 3.5.1, utilizando quatro etapas durante o processamento: codificação, digitação, correção e análise. 45 Na fase de análise de freqüência das variáveis sócio-demográficas e da confiabilidade, os bancos foram convertidos para os programas SPSS versão 16.0 e WinPepi (Abramson, 2006). 5.9 Considerações éticas Este projeto foi apresentado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do IMASJM e os participantes concordaram em assinar o termo de consentimento informado. 46 6 RESULTADOS Sócio demográfico A idade média dos entrevistados foi 48,04 anos (dp:16,28), a maioria do gênero feminino (66%), casado (42%). O nível educacional variou bastante, sendo que 18% da amostra apresentou nível médio completo, 14% nível fundamental incompleto, 8% nível superior incompleto e apenas 8% nível superior completo. Quanto ao nível educacional do provedor, 26% apresentou nível superior completo, 22% fundamental completo e 20% médio completo. A média de filhos por família foi 1,72, sendo que 75% das famílias têm 2 filhos, concentrados na faixa etária acima de 18 anos (44%). A religião preponderante no grupo foi a Católica (44%), seguida pela Kardecista (12%). Adaptação transcultural No painel de discussão considerou-se que os 40 itens que compõe a escala original contemplam satisfatoriamente as quatro dimensões que representam as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais no contexto cultural brasileiro. Na avaliação formal da semântica entre a retradução e o instrumento original foi observado boa equivalência. Segundo a escala analógica visual todos os quarenta itens da escala apresentaram uma equivalência de significado referencial entre 90 e 100% e o significado geral se manteve inalterado em 90% dos itens e pouco alterado em 10% (tabela 2). 47 Tabela 1. Distribuição das características sócio-demográficas da amostra estudada Variáveis n % 17 33 34,0 66,0 16 21 6 2 5 32,0 42,0 12,0 4,0 10,0 4 6 22 1 3 3 8,0 12,0 44,0 2,0 6,0 6,0 7 4 1 9 4 4 4 17 14,0 8,0 2,0 18,0 8,0 8,0 8,0 34,0 2 11 6 10 1 13 1 6 4,0 22,0 12,0 20,0 2,0 26,0 2,0 12,0 3 22 1 6 1 1 2 14 6,0 44,0 2,0 12,0 2,0 2,0 4,0 28,0 28 22 56,0 44,0 Sexo masc fem Estado Civil Solteiro Casado Viúvo Separado Divorciado Idade dos filhos <6 6-18 > 18 < 6 e 0 -18 6-18 e > 18 S/ inf Educação ( entrevistado ) Fundamental incompl Fundamental compl Médio incompl Médio compl Superior incompl Superior compl S/inf Não se aplica Educação ( provedor ) Fundamental incompl Fundamental compl Médio incompl Médio compl Superior incompl Superior compl Pós-graduação S/inf Religião Sem religião Católico Batista Kardecista Umbanda Budista Assembléia de Deus Outras Serviço Saúde Mental * Não Sim *Conhecer ou ter alguém da familia que utilize serviços de saúde mental 48 Tabela 2. Análise da equivalência referencial e geral entre os itens da retradução e o instrumento CAMI original Grau de equivalência entre as Significado referencial duas assertivas segundo a Retradução/original escala analógica visual nº de itens 90-100% 40 70<90% 0 50<70% 0 <50% 0 Total 40 Julgamento do avaliador Significado geral Retradução/original nº de itens (%) Inalterado 36 90 Pouco alterado 4 10 Muito alterado 0 0 Completamente alterado 0 0 Total 40 Esta versão preliminar da escala foi utilizada no estudo piloto e os 17 itens modificados (4 na dimensão autoritarismo; 2 na subescala restrição social; 5 na subescala benevolência e 6 na subescala ideologia comunitária de Saúde Mental) estão apresentados nos quadros 1, 2, 3 e 4. A primeira coluna apresenta a versão original da escala; a segunda a tradução; e a terceira a versão adaptada após a retradução, a discussão no painel de especialista e as entrevistas realizadas com a população durante o estudo piloto. Na primeira subescala (Autoritarismo), no item 2, a expressão atrás de portas fechadas foi trocado por trancados porque foi considerado que este termo teria um significado mais claro de exclusão. No itens 3 e 4 a estrutura da frase foi modificada para que a afirmativa ficasse mais adequada a nosso contexto 49 cultural. No item 10 a palavra virtualmente foi excluída por confundir o respondente (quadro 5). Quadro 5 – Questões adaptadas da subescala Autoritarismo. Subescala original Primeira versão Versão síntese Authoritarianism Autoritarismo Autoritarismo Item 2: The best way to handle the mentally ill is to keep them behind locked doors. Item 2: A melhor forma de controlar os doentes mentais é mantê-los atrás de portas fechadas. Item 2: A melhor forma de controlar os doentes mentais é mantê-los trancados. Item 3: There is something about the mentally ill that makes it easy to tell them from normal people. Item 3:. Há alguma coisa nos doentes mentais que faz com que seja fácil diferenciá-los das pessoas normais Item 4: Assim que uma pessoa mostra sinais de distúrbio mental deveria ser hospitalizada Item 10: Virtualmente qualquer um pode se tornar doente mental Item3: Algumas características diferenciam os doentes mentais das pessoas normais. Item 4: As soon as a person shows sins of mental disturbance, he should be hospitalized. Item 10: Virtually anyone can become mentally ill. Item 4: Uma pessoa sempre deve ser hospitalizada assim que apresente sinais de distúrbio mental Item 10: Qualquer um pode se tornar um doente mental Na segunda subescala (Restrição social), nos itens 2. 3 e 4 , a mudança da estrutura da frase tornou a afirmativa mais clara para a população alvo. No item 10, o verbo supor foi substituído por pensar, por ter um uso mais corriqueiro na população e manter o significado da afirmação (quadro 6). Quadro 6 – Questões adaptadas da subescala Restrição Social Subescala original Social Restrictiveness 1º versão Restrição Social Versão síntese Restrição Social Item 1: The mentally ill should not be given any responsibility Item 1: Não deveria ser dada nenhuma responsabilidade ao doente mental Item 9: Os doentes mentais oferecem menos perigo do que a maioria das pessoas supõem Item 1: Nenhuma responsabilidade deveria ser dada ao doente mental Item 9: The mentally ill are far less of a danger than most people suppose Item 9: Os doentes mentais oferecem menos perigo do que a maioria das pessoas pensam 50 Na subescala 3 (Benevolência),nos itens 2 e 8, a palavra impostos foi substituídas por recursos públicos por ser mais adequada à nossa realidade. A estrutura da frase nos itens 3 e 4 foi modificada para que a afirmativa ficasse mais objetiva. No item 9, a expressão serviços de atendimento pareceu mais adequada do que simplesmente a palavra serviço, de significado muito amplo (quadro 7). Quadro 7 – Questões adaptadas da sub escala Benevolência. Subescala Original Benevolence Item 2: More tax money should be spent on the care and treatment of the mentally ill. 1º versão Benevolência Item 2:Deveriam ser gastos mais impostos no cuidado e tratamento dos doentes mentais Versão síntese Benevolência Item 2:Deveriam ser gastos mais recursos públicos no cuidado e tratamento dos doentes mentais. Item 3: We must have a Item 3: Nós precisamos Item 3: Nós precisamos more tolerant attitude ter uma atitude mais ser mais tolerantes com tolerante em relação aos os doentes mentais na toward the mentally ill in doentes mentais na nossa nossa sociedade our society sociedade Item 4: Our psychiatric Item 4: Nossos hospitais Item 4: Nossos hospitais hospitals are more like psiquiátricos parecem psiquiátricos parecem prisons than places where mais prisões do que mais prisões do que the mentally ill can be lugares onde os doentes lugares para se cuidar cared for mentais possam ser dos doentes mentais. cuidados Item 8: Increased Item 8: Aumentar as Item 8: Aumentar as spending on mental despesas com Saúde despesas com Saúde health services is a waste Mental é um desperdiço Mental é um desperdício of tax dollars de impostos de recursos públicos Item 9: There are sufficient existing services for the mentally ill. Item 9: Existem serviços suficientes para os doentes mentais. Item 9: Existem serviços de atendimento suficientes para os doentes mentais A escala 4 (Ideologia comunitária de Saúde Mental) foi a que apresentou mais modificações. A estrutura da frase nos itens 1, 3, 5 e 8 foi totalmente modificada para que seu significado ficasse claro o suficiente para a população alvo. No item 7 a palavra locais foi suprimida por parecer desnecessária para a compreensão da afirmativa. No item 9, a palavra amedrontador foi substituída 51 por assustador, uma vez que essa última expressão é mais utilizada em nosso meio (quadro 8). Quadro 8- Questões adaptadas da subescala Ideologia comunitária de Saúde Mental Subescala original Community mental health ideology Item1: Residents should accept the location of mental health facilities in their neighborhood to serve the needs of the local community 1º versão Ideologia comunitária de Saúde Mental Item1: Moradores deveriam aceitar a localização de serviços de Saúde Mental na sua vizinhança Versão síntese Ideologia comunitária de Saúde Mental Item1: Todos deveriam aceitar que serviços de atenção à Saúde Mental fossem instalados na sua vizinhança Item 3: As far as possible, mental health services should be provided through community based facilities. Item 3: Tanto quanto possível, os atendimentos em Saúde Mental deveriam ser oferecidos por serviços localizados na comunidade Item 5: Os moradores não têm nada a temer de pessoas que vêm à sua vizinhança para conseguir atendimento em Saúde Mental Item 7: Moradores locais têm boas razões para resistir à implantação de serviços de Saúde Mental na sua vizinhança Item 8: Ter doentes mentais morando em áreas residenciais pode ser uma boa terapia, mas o risco para os moradores é muito grande Item 9: É amedrontador pensar em pessoas com doença mental morando em bairros residenciais Item 3: A assistência em Saúde Mental deveria ser oferecida, na medida do possível, em serviços localizados na comunidade. Item 5: Moradores não têm nada a temer de pessoas que venham à sua vizinhança para receber atendimento em Saúde Mental Item 7: Moradores têm boas razões para resistir à implantação de serviços de Saúde Mental na sua vizinhança Item 8: Morar em áreas residenciais pode ser uma boa terapia para os pacientes, mas o risco para os moradores é muito grande. Item 9: É assustador pensar em pessoas com doença mental morando em bairros residenciais Item 5: Residents have nothing to fear from people o coming into their neighborhood to obtain mental health services. Item 7: Local residents have good reason to resist the location of mental health services in their neighborhood Item 8: Having mental patients living within residential neighborhood might be good therapy, but the risks to residents are too great Item 9: It is frightening to think of people with mental problems living in residential neighborhoods 52 Finalmente, na escala de resposta, as expressões: concordo fortemente (Strongly agree) foi adaptada para concordo totalmente, discordo fortemente (Strongly disagree) para discordo totalmente. O termo totalmente pareceu aos especialistas traduzir melhor a intensidade dos extremos da escala de respostas. A expressão indiferente (It makes no difference) foi modificada para tanto faz por ser o termo usado de forma mais corriqueira e portanto ser melhor interpretado. Versão teste da escala Atitudes da Comunidade em Relação aos Doentes Mentais – CAMI-BR A versão brasileira da CAMI manteve os quarenta itens da escala original e as quatro dimensões: 1. Autoritarismo 2. Restrição Social 3. Benevolência 4. Ideologia Comunitária de Saúde Mental (anexo 1). Confiabilidade Os resultados da análise de confiabilidade intra-observador, determinados pelo Índice de Correlação Intraclasse, no escore total e nos das subescalas oscilaram de regular a substancial. Dentre as subescalas, a que mostrou maior estabilidade temporal nos resultados foi Restrição social (ICC=0,64 (IC 95% = 0,45 – 0,78)), seguida de Benevolência (ICC = 0,62 (IC 95% = 0,41 – 0,76)), Ideologia Comunitária de Saúde Mental (ICC = 0,54 (IC 95% = 0,31 – 0,71) e Autoritarismo (ICC = 0,37 (IC 95% = 0,11 – 0,59)). A fidedignidade do resultado global da escala foi substancial (ICC=0,69 (IC 95% = 0,52 – 0,81)) (tabela 3) 53 Tabela 3. Análise da confiabilidade teste-reteste dos escore final e dos subescalas da escala CAMI_BR Subescalas Escore 1 Escore 2 ICC IC 95% Autoritarismo 2,24 dp=0,39 2,30 dp=0,42 0,37 0,11 – 0,59 Benevolência 2,58 dp=0,5 2,75 dp=0,42 0,62 0,41 – 0,76 Restrição social 3,19 dp=0,4 3,15 dp=0,36 0,64 0,45 – 0,78 Ideologia comunitária 2,87 dp=0,51 2,96 dp=0,46 0,54 0,31 – 0,71 Total 2,72 dp=0,32 2,79 dp=0,34 0,69 0,52 – 0,81 As tabelas 4, 5, 6 e 7 apresentam os valores dos coeficientes Kappa Ponderado (Kw) , Kappa ajustado pela prevalência (PABAK) e os valores percentuais de concordância no teste-reteste. Na subescala autoritarismo a concordância foi acima de 50% para todos os itens com exceção do item 8 que apresentou uma concordância de 40%. Os valores do Kw foram: moderado para os itens 1 e 10, regular para os itens 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9 e discreta para o item 8. Quando ajustado pela prevalência, os valores do Kappa se mostraram mais elevados para alguns itens: substancial para os itens 2,3 e 10, moderada para os itens 1, 5, 6, 7, 9 e regular para os itens 4 e 8 (tabela 4) 54 Tabela 4. Análise de confiabilidade dos itens da subescala Autoritarismo da escala CAMI-BR Autoritarismo Kappa ponderado PABAK Concordância 0,55 0,53 62% 0,63 70% 0,27 IC95% (0,02-0,55) 0,70 76% 0,28 IC95% (0,08-0,49) 0,38 50% 0,30 IC95% (0,07-0,52) 0,44 55,1% 0,26 IC95% (0,04-0,49) 0,45 56% 0,33 IC95% (0,10-0,56) 0,52 62% 0,26* 40,4% 0,37 IC95% (0,13-0,60 0,49 59,2% 0,56 IC95% (0,34-0,78) 0,68 74% 1. Uma das principais causas da doença mental é a falta de auto disciplina e auto IC95% (0,37-0,73) controle 2. A melhor forma de controlar os doentes mentais é mantê-los trancados 0,36 IC95%(0,11-0,61) 3. Algumas características diferenciam os doentes mentais das pessoas normais 4. Uma pessoa sempre deve ser hospitalizada assim que apresente sinais de distúrbio mental 5. Doentes mentais precisam do mesmo tipo de controle e disciplina que as crianças pequenas 6. Doença mental é uma doença como outra qualquer 7. Os doentes mentais não deveriam ser tratados como indesejáveis na sociedade 8. Deveria ser dada menos importância em proteger a sociedade dos doentes 0,02 IC95% (-0,25-0,22) mentais 9. Os hospitais psiquiátricos são um modelo ultrapassado de tratamento para os doentes mentais 10. Qualquer um pode se tornar um doente mental 55 Na subescala Restrição Social a concordância foi acima de 50% para todos os itens, sendo 6 apresentaram uma concordância acima de 60%. Os valores do Kw foram: moderado para os itens 3, 5, 6, 8 e 10, regular para os itens 1, 4, e 9 e discreta pobre para o item 2. Quando ajustado pela prevalência, os valores do Kappa se mostraram mais elevados para alguns itens: substancial para os itens 5 e 8, moderada para os itens 2, 3, 4, 6, 7, 9, e 10 e regular para o item 1 (tabela 5). Tabela 5. Análise de confiabilidade dos itens da subescala Restrição Social da escala CAMI-BR Restrição social 1. Nenhuma responsabilidade deveria ser dada ao doente mental 2. Os doentes mentais deveriam ser isolados do resto da comunidade 3. Uma mulher seria tola em se casar com um homem que tenha sofrido de doença mental, mesmo que ele parecesse completamente recuperado 4. Eu não gostaria de ser vizinho de porta de alguém que tenha sido doente mental 5. Alguém que tenha uma história de doença mental deveria ser impedido de assumir qualquer emprego público 6. Os doentes mentais não deveriam ser privados de seus direitos individuais 7. Doentes mentais deveriam ser encorajados a assumir responsabilidades de vida normal 8. Ninguém tem o direito de excluir os doentes mentais de sua vizinhança 9. Os doentes mentais oferecem menos perigo do que a maioria das pessoas pensa 10. A maior parte das mulheres que foram pacientes de um hospital psiquiátrico pode ser confiável como babá Kappa ponderado PABAK Concordância 0,39 IC95% (0,22-0,57) 0,39 51% 0,19 IC95%(-0,05-0,43) 0,50 60% 0,44 IC95% (0,22-0,67) 0,50 60% 0,23 IC95% (0,03-0,42) 0,52 62% 0,59 IC95% (0,39-0,78) 0,65 72% 0,46 IC95% (0,22-0,70) 0,59 67,3% 0,31 IC95% (0,09-0,52) 0,44 55,1% 0,47 IC95% (0,22-0,72) 0,69 75,5% 0,49 59,6% 0,47 58% 0,23 IC95% (-0,03-0,68) 0,45 IC95% (0,26-0,65) 56 Na subescala Benevolência a concordância foi acima de 60% para todos os itens, com exceção dos itens 7 e 10 que apresentaram uma concordância de 58%.Os valores do Kw foram: moderado para os itens 1, 4, 6, e 10, regular para os itens 2, 3, 5, 8, e 9 e discreta pobre para o item 7. Quando ajustado pela prevalência, os valores do Kappa se mostraram mais elevados para alguns itens: substancial para os itens 1, 2, 3, 6 e 8, moderada para os itens 4, 5, 7, 9, e 10 (tabela 6). Tabela 6. Análise de confiabilidade dos itens da subescala Benevolência da escala CAMI-BR Benevolência 1. Os doentes mentais foram, por muito tempo, objetos de ridicularização 2. Deveriam ser gastos mais recursos públicos no cuidado e tratamento dos doentes mentais 3. Nós precisamos ser mais tolerantes com os doentes mentais na nossa sociedade 4. Nossos hospitais psiquiátricos parecem mais prisões do que lugares para se cuidar dos doentes mentais 5. A sociedade tem a responsabilidade de fornecer o melhor tratamento possível aos doentes mentais 6. Os doentes mentais não merecem nossa simpatia 7. Os doentes mentais são um peso para a sociedade 8. Aumentar as despesas com Saúde Mental é um desperdício de recursos públicos 9. Existem serviços de atendimento suficientes para os doentes mentais 10. É melhor evitar alguém que tenha problemas mentais Kappa ponderado PABAK Concordância 0,46 IC95% (0,22-0,70) 0,63 70% 0,39 IC95%(0,16-0,62) 0,65 72% 0,36 IC95% (0,14-0,59) 0,60 68% 0,55 IC95% (0,25-0,70) 0,55 70% 0,55 64% 0,48 IC95% (0,24-0,73) 0,70 73% 0,05 IC95% (-0,21-0,30) 0,47* 58% 0,38 IC95% (0,14-0,63) 0,63 70% 0,29 IC95% (0,06-0,52) 0,58 66% 0,35 IC95% (0,11-0,59) 0,47 58% 0,28 IC95% (0,05-0,52) Na subescala Ideologia da Saúde Mental Comunitária a concordância foi acima de 70% para todos os itens, com exceção dos itens 6 (68%) , 9 (68%), e 10 (64%). Os valores do Kw foram: substancial para o item 1, moderado para os 57 itens 2, discreta para o item 5 e regular para os itens 3, 4, 6, 7, 8, 9 e 10. Quando ajustado pela prevalência, o valor do PABAK para o item 1 se manteve substancial e os demais se mostraram mais elevados: substancial para os itens 2, 3, 5, 6, 7, 8 e 9 e moderado para o itens 4, e 10 (tabela 7). Tabela 7. Análise de confiabilidade dos itens da subescala Ideologia da Saúde Mental Comunitária da escala CAMI-BR Ideologia comunitária 1. Todos deveriam aceitar que serviços de atenção à Saúde Mental fossem instalados na sua vizinhança 2. A melhor terapia para muitos doentes mentais é fazer parte de uma comunidade normal 3. A assistência em Saúde Mental deveria ser oferecida, na medida do possível, em serviços localizados na comunidade 4. A localização de serviços de Saúde Mental em bairro residencial não coloca em perigo os moradores 5. Moradores não têm nada a temer de pessoas que venham à sua vizinhança para receber atendimento em Saúde Mental 6. Serviços de Saúde Mental deveriam ser mantidos longe de bairros residenciais 7. Moradores locais têm boas razões para resistir à implantação de serviços de Saúde Mental na sua vizinhança 8. Morar em áreas residenciais pode ser uma boa terapia para os pacientes, mas o risco para os moradores é muito grande 9. É assustador pensar em pessoas com doença mental morando em bairros residenciais 10. Localizar serviços de Saúde Mental em área residencial desvaloriza o bairro Kappa ponderado PABAK Concordância 0,65 IC95% (0,48-0,81) 0,65 72% 0,49 IC95%(0,21-0,77) 0,74 78,8% 0,29 IC95% (0,03-0,55) 0,70 76% 0,23 IC95% (-0,01-0,48) 0,55 70% 0,05 IC95% (-0,14-0,24) 0,70 76% 0,24 IC95% (-0,03-0,51) 0,60 68% 0,30 IC95% (0,04-0,56) 0,63 70% 0,34 IC95% (0,05-0,62) 0,63 70% 0,38 IC95% (0,11-0,65) 0,60 68% 0,33 IC95% (0,09-0,57) 0,55 64% 58 7 DISCUSSÃO As modificações realizadas no processo de adaptação transcultural da escala CAMI tiveram como objetivo principal tornar o instrumento compreensível e aceitável pela população alvo. Envolveram trocas por expressões mais utilizadas em nosso contexto, procurando aumentar a equivalência semântica do significado geral e referencial dos termos. A idade média da amostra estudada foi 48,04 anos (dp:16,28), com um predomínio de mulheres, casadas, com dois filhos, a maioria (44%) com idade acima de 18 anos, e com um nível de escolaridade médio. O escore total da escala na amostra nos dois momentos (m1=2,72 e m2=2,79), reflete uma atitude que tende do neutro ao positivo, o que é coerente com os estudos de Taylor & Dear (1981) e Wolff et al. (1996) que demonstraram que a idade acima dos 50 anos do respondente, a idade dos filhos abaixo de 18 anos e o nível educacional baixo são determinantes nas atitudes negativas em relação aos doentes mentais. Refletindo sobre a validade do instrumento, os profissionais que participaram do painel de discussão confirmaram a abrangência teórico-conceitual da escala para avaliar as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais na realidade cultural do Rio de Janeiro. A avaliação da equivalência semântica utilizando a escala visual analógica permitiu uma medida objetiva da retradução da escala. A alta equivalência entre a retradução e a escala original demonstrou a qualidade da tradução. Após o processo de adaptação transcultural, a escala CAMI-BR se mostrou uma escala de fácil aplicação, linguagem clara, acessível e de fácil compreensão pela população-alvo. Nas várias discussões no painel de especialistas, concluiu-se que não seria necessária a inclusão de novas dimensões ou itens na escala, sendo a construção original suficiente para captar as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais no contexto cultural brasileiro. As modificações semânticas realizadas não implicaram na modificação do sentido da afirmação foi excluído nenhum item, mas tiveram o objetivo de tornar a escala mais compreensível para a população em geral. 59 Quanto à equivalência operacional, o fato das entrevistas serem feitas face a face pelos pesquisadores, com a apresentação de um cartão com as alternativas de respostas padronizadas (escala likert de 5 pontos) foi importante para ultrapassar a barreira do nível educacional e da eventual dificuldade de leitura apresentada pelo entrevistado. Na análise de mensuração, não foi possível comparar os resultados da análise de confiabilidade teste-reteste com os resultados da escala original uma vez que esta não foi realizada pelos autores, só sendo apresentados os resultados de correlação inter-item e alfa de Cronbach e análise fatorial (Taylor & Dear 1981). Os autores acima realizaram o estudo de validade e confiabilidade da escala CAMI em uma amostra de 1090 moradores de Toronto (Canadá), dividido em dois grupos: O primeiro (n=706) constituído de moradores em áreas sem serviços de Saúde Mental e o segundo (n=384) de moradores em áreas com serviços. Para análise da confiabilidade foi feito um pré-teste em duas subamostras: um grupo de alunos do primeiro ano da universidade Mcmaster (n=321) e outro da universidade de York (n=54). Os valores de alfa encontrados para as quatro subescalas foram superiores a 0,5 (satisfatório) sendo que os coeficientes foram bem mais altos para o grupo de Mcmaster nas três subescalas (exceto para Autoritarismo). No cálculo do coeficiente alfa para o total da amostra (n=1090), foram observados valores mais elevados do que os encontrados no pré-teste (exceto para Benevolência). Três das subescalas apresentaram alta consistência: Ideologia da Saúde Mental Comunitária (α=0,88), Restrição Social (α=0,80) e Benevolência (α=0,86). O coeficiente para autoritarismo (α=0,68) foi mais baixo embora satisfatório. No presente estudo, a análise da consistência interna da escala no teste (α=0,809) e no re-teste (α=0,870) mostrou uma alta consistência interna. Em relação às subescalas, os resultados dos coeficientes alfa das subescalas, tanto no teste como no re-teste foram satisfatórios (α>0,5). A exceção foi a subescala autoritarismo, que apresentou uma consistência baixa no primeiro teste (α=0,21) e um coeficiente alfa bem mais elevado no re-teste (α=.0,501). Os resultados encontrados, principalmente no re-teste, se aproximaram dos encontrados no estudo da escala original (Taylor & Dear, 1981). 60 Na análise da estabilidade temporal das respostas, o escore total da escala apresentou uma concordância substancial (r=0,69), assim como as subescalas Restrição Social e Benevolência. A subescala Ideologia da Saúde Mental Comunitária apresentou confiabilidade moderada, e a subescala Autoritarismo confiabilidade regular. Esse resultado é coerente com a da análise de consistência interna da escala e subescalas nos dois momentos do estudo (teste e reteste). Algumas hipóteses podem explicar a baixa confiabilidade encontrada na subescala autoritarismo. Essa dimensão avalia atitudes mais explicitamente coercitivas e é importante ressaltar que essa subescala tem sua origem na escala Califórnia-F (Adorno, 1950), criada na época do fascismo, justamente para identificar pessoas com tendências a: submissão autoritária, agressividade autoritária, convencionalismo, projetividade, valorização do poder e da dureza, superstição e estereotipia, destrutividade e cinismo. Portanto, é possível que no reteste o entrevistado, por estar mais familiarizado com o instrumento, tenderia a refletir e abrandar suas respostas. Em relação aos valores do Kappa ponderado para os 40 itens da escala, 2,5% apresentaram uma confiabilidade substancial, 30% moderada, 57,5% regular, 10% discreta . Quando ajustamos os valores do Kappa pela prevalência, observamos que 45% apresentam uma confiabilidade substancial, 47,5% moderada e 7,5% regular. O uso do Kappa ajustado pela prevalência aumentou, em alguns casos duplicou os valores da concordância mostrando o quanto é adequado usá-la para evitar distorções nos resultados. Dessa forma, o estudo demonstrou uma boa estabilidade temporal das respostas, apesar de não ter sido encontrada concordância significativa (Kw) nos 7 itens descritos abaixo. O item 8 da escala Autoritarismo apresentou o pior resultado na análise de confiabilidade. A concordância foi de apenas 40,4% e o Kappa ponderado foi 0,02 ( IC 95% = -0,25 - 0,22) e mesmo ajustado pela prevalência apresentou PABAK=0,26. Uma possível explicação para este resultado é que a afirmação (Deveria ser dada menos importância em proteger a sociedade dos doentes mentais) apresenta uma formulação dúbia , dando margem a interpretações contraditórias . 61 Além desse item, mais 6 apresentaram uma concordância não significativa na estatística Kw: itens 2 e 9 (Restrição Social), item 7 (Benevolência) e os itens 4, 5 e 6 (Ideologia Comunitária de Saúde Mental). Entretanto, quando ajustados pelas prevalências, passam a apresentar um resultado de moderado a substancial. É interessante notar que todos esses itens abarcam claramente a noção de perigo e exclusão em relação ao doente mental. O medo do desconhecido, a idéia de periculosidade e de isolamento presentes nessas dimensões são conceitos muito araigados nos indivíduos, independente da cultura. Portanto, é possível que questões que abordem esses aspectos de uma forma mais direta levem a uma reflexão por parte do entrevistado, o que se traduziria em uma maior variabilidade das respostas. O estigma e o preconceito que os doentes mentais veem sofrendo ao longo dos anos tem um efeito negativo no seu processo de inclusão social e na implantação dos serviços substitutivos. Ter a comunidade como parceira e com atitudes positivas em relação a esse grupo tem como consequência o aumento de sua rede social e de sua condição psicológica e humana. A utilização de um instrumento, padronizado e validado para nossa cultura, que avalie as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais (CAMI-BR), é importante para orientar as políticas de Saúde Mental. Conhecer a opinião e planejar programas educacionais que esclareçam a população sobre os serviços, a doença mental e o processo de desinstitucionalização, é indispensável para minimizar os preconceitos e os entraves para expansão dos serviços de base territorial. 62 Conclusão As modificações realizadas no processo de adaptação transcultural da escala CAMI tiveram como objetivo principal tornar o instrumento compreensível e aceitável pela população alvo. Envolveram trocas por expressões mais utilizadas em nosso contexto, procurando aumentar a equivalência de significado geral dos termos. A escala adaptada e validade possibilitará a realização de pesquisas brasileiras com comparabilidade internacional. Sua aplicação ao nosso contexto, através de estudos sistemáticos, resultará em medidas objetivas da atitude e do conhecimento da vizinhança em relação a usuários e serviços. Também poderá oferecer orientação a projetos que resultem no estreitamento das relações entre estes segmentos, aumentando sua capacidade de conviver com as diferenças e potencializarão com certeza a ação dos serviços substitutivos. Com a escala adaptada para o contexto cultural brasileiro será possível então realizar o estudo de sua validação, visando estabelecer as suas propriedades psicométricas de validade e fidedignidade, estudo que já se encontra em andamento pelos autores deste. 63 9. REFERÊNCIAS: ADDISON, S. J.; THORPE, S. Factors involved in the formation of attitudes towards those who are mentally ill. Soc. Psychiatry Psychiatr. Epidemiol., v. 39, p. 228-234, 2004. ADORNO, T. W.; FRENKEL-BRUNSWICK, E.; LEVINSON, D. J.; SANFORD, R. N. The authoritarian personality. New York: Harper, 1950. AMARANTES, P. Loucura, cultura e subjetividade. Conceitos e estratégias, percursos e atores da reforma psiquiátrica. In: FLEURY, S. Saúde e democracia: a luta do CEBES. 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Psychiatry, v. 168, p. 191-198, 1996b. 69 ANEXOS 70 Título completo: Equivalência conceitual e semântica da versão em português da escala Community Attitudes toward Mentally Ill (CAMI) Título completo em inglês: Conceptual and semantic equivalence of the Portuguese version of the scale Community Attitudes toward Mentally Ill (CAMI) Título corrido: Equivalência conceitual e semântica (CAMI-BR) Sylvia Gonçalves Instituto de Estudos de Saúde Coletiva – Universidade Federal do Rio de Janeiro – IESC/UFRJ Núcleo de Pesquisa/Instituto Municipal Juliano Moreira Lúcia Abelha Instituto de Estudos de Saúde Coletiva – Universidade Federal do Rio de Janeiro – IESC/UFRJ Letícia Fortes Legay Instituto de Estudos de Saúde Coletiva – Universidade Federal do Rio de Janeiro – IESC/UFRJ Giovanni Marcos Lovisi Instituto de Estudos de Saúde Coletiva – Universidade Federal do Rio de Janeiro – IESC/UFRJ 71 Nome e endereço do autor responsável para troca de correspondência: Sylvia Gonçalves Rua Orígenes Lessa 4545 casa 26– Recreio dos Bandeirantes CEP: 22795-215 – Rio de Janeiro Tel. 2490– 1911- 7813- 6222 [email protected] O artigo foi baseado na dissertação de mestrado: Validação e Adaptação Transcultural da escala “Community Attitudes Towards Mentally Ill (CAMI)”, 2008, IESC/UFRJ 72 Resumo Introdução: A atitude negativa da comunidade em relação aos doentes mentais é um dos principais entraves para a implantação e expansão de serviços de saúde mental em áreas residenciais. Estudos internacionais demonstram que o medo, a falta de conhecimento sobre os serviços e o estereótipo continuam a ser obstáculos para a efetividade do tratamento e para a reintegração social do paciente. No Brasil há uma carência de estudos utilizando escalas para aferir as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais. Objetivo: realizar a adaptação transcultural da escala: Community Attitudes toward Mentally Ill (CAMI) utilizada para medir as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais. Metodologia: A adaptação transcultural da escala para o contexto cultural brasileiro foi realizada segundo os procedimentos recomendados pela literatura internacional, e constou das seguintes etapas: 1.Tradução; 2. Revisão da tradução por um grupo bilíngüe; 3. Retradução; 4. Avaliação da retradução; 5. Estudo piloto para testar a versão preliminar do instrumento, no qual foram entrevistados 14 moradores domiciliados próximos aos Serviços Residenciais Terapêuticos; 6. Revisão das questões a partir do estudo piloto. Resultados: Os resultados incluíram modificações importantes na formulação e no conteúdo das questões, para garantir a equivalência semântica e cultural da escala adaptada para o contexto brasileiro. Conclusão: A versão brasileira da CAMI (CAMI BR), após cumpridas todas as etapas exigidas internacionalmente, desde a tradução até sua aplicação em população teste, resultou em escala de linguagem clara, compreensível e fácil aplicabilidade. Palavras-chave: Adaptação transcultural; atitudes da comunidade; CAMI; Reforma Psiquiátrica 73 Abstract Background: Negative attitudes towards mentally ill people are one of the most important problems to prevent the implementation of community – based mental health care. Some international studies demonstrated three factors associated with these community attitudes: 1- afraid of people with mentally illness; 2- lack of knowledge about mental health services, and 3- public’s stereotype of psychiatric patients. These factors continue to maintain barriers to the effective psychiatric treatment and social reintegration of the psychiatric patients in the community. In Brazil, there are scarce studies about this issue. None Brazilian studies used Community Attitudes Towards Mental Ill instrument (CAMI) to assess attitudes of population towards psychiatric patients living in the communities. Aim: This present study consisted of a transcultural adaptation of the original instrument in English (CAMI) into a final version to be used in Brazil. Based on a broad literature review, the transcultural adaptation of the CAMI to Brazilian context was made following the next steps: 1- Translation; 2- revision of the translation by 2 experienced bilingual professionals; 3- Back-translation: A bilingual epidemiologists and a group of experienced bilingual professionals carried–out the back-translation 4Assessment of the back translation; 5- Pilot Study: A sample of 14 residents was selected at random from the area close to the community integrated residences for the pilot study. 6- Analysis of the pilot study data. Results: Results indicated a satisfactory equivalence between versions, with modifications being made in the procedures for conducting the interview and the language used in the questions. Conclusions: Our findings showed that the CMI-BR is an instrument with clear instructions, understandable questions and easier for application in the Brazilian context. Key words: Transcultural adaptation; community attitudes; CAMI; Psychiatry Reform 74 Introdução A transferência do atendimento psiquiátrico dos hospitais para os serviços comunitários de saúde mental tem demonstrado a importância da opinião e da atitude da comunidade em relação aos doentes mentais e do seu conhecimento sobre a efetividade do tratamento, a implantação e o planejamento desses serviços (Rossler & Salize, 1995; Papadopoulos et al., 2002; Schomerus et al., 2005). No Brasil, já foram implementados serviços comunitários estratégicos para a substituição do atendimento hospitalar, como: Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Unidades Psiquiátricas em Hospital Geral (UPHG) e os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT). Estes serviços ainda estão muito aquém da demanda existente e exigem uma boa articulação com a vida cotidiana e com a vizinhança. A atitude positiva da comunidade é um ponto crucial na dinâmica das relações entre usuários e a comunidade, usuários e tratamento e no processo de habitar os espaços da cidade, diminuindo o estigma e possibilitando a ampliação da rede social (Lima et al, 1999; Delgado, 2006) A implementação dos Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) surge em um contexto de superação do modelo assistencial centrado no hospital psiquiátrico, como estratégia para reinserção e reintegração social dos pacientes com transtornos mentais, egressos destes hospitais. Essas moradias são casas localizadas no meio urbano, e servem como espaços onde, além da 75 humanização no trato destes pacientes, busca-se uma vida social digna no processo de readaptação de cada pessoa à vida em sociedade (Furtado, 2006; Sanzana, 2006). O processo de implantação e expansão dos STR é relativamente recente no Brasil, contando atualmente com 475 serviços em funcionamento, com um total de aproximadamente 2.500 moradores. A maior parte dos SRT do município do Rio de Janeiro está localizada no bairro de Jacarepaguá, na zona oeste da cidade. O modelo assistencial baseado na reintegração do doente mental em áreas residenciais ainda sofre alguns entraves, como o estigma atrelado aos pacientes psiquiátricos, a idéia de que doentes mentais devem ser excluídos e tratados em instituições fechadas e a falta de conhecimento sobre os serviços de saúde mental, o que reforça atitudes negativas em relação a este grupo. A avaliação das atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais é uma etapa importante na elaboração de estratégias para a implementação de Residências Terapêuticas, já que a reintegração e reinserção do paciente com transtorno mental, muitos com uma rede social prejudicada, dependem do acolhimento e da receptividade da comunidade (Maclean, 1969; Taylor & Dear, 1981; Wolff et al, 1996; Schomerus et al., 2006). O interesse em medir a atitude da comunidade em relação aos doentes mentais surge em 1962 com o desenvolvimento da escala Opinions about Mental Illness (OMI) por Cohen e Struening Esta escala foi desenvolvida a partir das pré-existentes: California F-scale (Adorno et al., 1950), Custodial 76 Mental Illness Ideology Scale (Gilbert & Levinson, 1956), Nunnally’s scale of popular concepts of mental health (Nunnally, 1961). O instrumento original continha setenta itens. Após análise do questionário, utilizando as respostas de 1.195 trabalhadores de dois grandes hospitais psiquiátricos, os itens foram agrupados em cinco dimensões e, em trabalho subseqüente, reduzido para cinqüenta e um itens. As cinco dimensões identificadas foram: (1) autoritarismo – a crença de que obediência à autoridade é importante e pessoas com doença mental são inferiores e não têm a capacidade de obedecer a regras, necessitando tratamento coercivo; (2) benevolência – uma idéia paternalista em relação aos doentes mentais; (3) ideologia higienista – a idéia de que doença mental é uma doença como qualquer outra e que uma abordagem profissional é fundamental para um tratamento adequado (4) restrição social – a idéia de que a participação dos doentes mentais em atividades e relações sociais, como casamento, voto, capacidade de ter filhos etc., deve ser restringida; e (5) etiologia interpessoal – a idéia de que doença mental se origina de experiências interpessoais.(Link et al., 2004). A política de desinstitucionalização e o destaque dos fatores genéticos na etiologia dos transtornos mentais, cronologicamente, são paradigmas que surgiram depois do desenvolvimento da OMI e, portanto, não estavam contemplados no instrumento. Para suprir esta defasagem, foi criada, em 1981, a escala Community attitudes towards the mentally ill (CAMI) (Taylor & Dear, 1981). Esta escala usa a OMI como base conceitual e procura reproduzir três de suas cinco dimensões (autoritarismo, benevolência e restrição social). A 77 quarta dimensão (ideologia da saúde mental comunitária) da CAMI foi desenvolvida a partir da escala Community Mental Health Ideology (CMHI) (Baker & Schulberg, 1967). Estudos internacionais que utilizaram a CAMI como instrumento demonstraram que a oposição por parte da vizinhança pode inviabilizar os novos serviços comunitários, e que a reintegração dos doentes mentais depende estreitamente desta aceitação (Wolff et al, 1996b). No Brasil ainda não temos ainda escalas traduzidas e validadas para avaliar as reações da comunidade aos pacientes e aos serviços psiquiátricos. A adaptação transcultural da CAMI à nossa realidade é importante, não só para a comparação com estudos de outros países, mas principalmente para o planejamento e avaliação dos novos serviços na comunidade (Gonçalves, 2001; Bandeira, 2007). Neste contexto, o objetivo deste estudo foi iniciar o processo de adaptação transcultural, visando garantir sua equivalência semântica e ajustar as diferenças culturais com a versão original. Métodos Descrição do instrumento original A CAMI é uma escala multidimensional, originalmente de língua inglesa, elaborada por Taylor e Dear (1981). Dois objetivos direcionaram seu desenvolvimento: a construção de um instrumento capaz de diferenciar as 78 características das pessoas que aceitam das que rejeitam os doentes mentais na comunidade e poder descrever e explicar as reações da comunidade em relação às unidades de atendimento ao doente mental. O instrumento consta de perguntas sobre: a) Dados sócio-demográficos b) Conhecimento sobre doença mental c) Reações aos doentes mentais d) Conhecimento sobre o tratamento hospitalar psiquiátrico e) Conhecimento sobre a mudança do tratamento de base hospitalar para a comunidade f) Atitude em relação à política de atendimento na comunidade g) Opinião sobre a necessidade de programas educativos A escala é composta de 40 itens distribuídos em quatro sub-escalas (cada uma com 10 variáveis). As respostas para cada uma das questões são distribuídas numa escala tipo Likert de 5 pontos (concordo fortemente, concordo, indiferente, discordo, discordo fortemente): As quatro sub-escalas são: 1)Autoritarismo: necessidade de hospitalização dos doentes mentais; diferença entre doentes mentais e pessoas normais; importância do tratamento custodial; causas das doenças mentais. 2) Benevolência: responsabilidade da sociedade em relação aos doentes mentais; necessidade de atitudes gentis e simpáticas; desejo de se envolver pessoalmente; sentimentos anti-hospitalização. 79 3) Restrições sociais: periculosidade dos doentes mentais; manutenção de distância social; falta de responsabilidade; normalidade do doente mental. 4) Ideologia da saúde mental comunitária: impacto dos serviços de saúde mental na vizinhança; perigo que o doente mental representa para os vizinhos; aceitação dos princípios da desinstitucionalização psiquiátrica. A escala original possui qualidades psicométricas adequadas de validade de construto, estabelecida através da análise fatorial, assim como consistência interna. Para três das quatro sub-escalas os valores de alfa de Cronbach são elevados: Ideologia da comunidade em relação à saúde mental (α = 0,88); Restrições sociais (α = 0,86); Benevolência (α = 0,76). O coeficiente para Autoritarismo (α = 0,68), embora mais baixo ainda é satisfatório. Procedimento A adaptação transcultural da presente escala para o contexto cultural brasileiro foi realizada segundo os procedimentos recomendados pela OMS (WHO, 1996), as recomendações da literatura internacional (Vallerand, 1989; Streiner & Norman, 1995) e estudos nacionais ( Bandeira et al., 2003; Lima et al, 2003a; Lima et al., 2003b). Antes de iniciar o procedimento de adaptação transcultural um dos autores (Martin Taylor) foi contatado e concedeu autorização para que a escala fosse traduzida e adaptada para o Brasil. 80 Equivalência conceitual Foi realizado um painel de discussão formado por uma comissão de especialistas (dois psiquiatras, uma epidemiologista, duas psicólogas, uma socióloga e uma enfermeira) para examinar as quatro dimensões do instrumento original (autoritarismo, benevolência. restrição social e ideologia da comunidade em relação à saúde mental). Buscou-se examinar a pertinência dos itens de cada dimensão para avaliar as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais na realidade brasileira. Equivalência semântica 1 e 2- Tradução e revisão da tradução por um grupo bilíngüe A primeira etapa da adaptação transcultural consistiu na tradução da CAMI para a língua portuguesa, revisada por dois psiquiatras e um psicólogo bilíngües. 3-Retradução A versão em português foi retraduzida para o inglês por uma tradutora juramentada bilíngüe, com experiência na área de saúde pública, cuja língua materna era o português. A versão em inglês, produzida pelo processo de readução, foi comparada à escala original e avaliada em seguida por um grupo de profissionais bilíngües com experiência na área: dois psiquiatras, uma epidemiologista e uma psicóloga. 81 4- Painel de discussão (avaliação da retradução) Foi realizado um painel de discussão (já descrito acima) com o objetivo de se identificar inconsistências a serem corrigidas entre a escala traduzida e a escala original. O objetivo foi obter uma tradução mais precisa da escala. Foi avaliada a equivalência semântica comparando a escala original com a retradução. Foi utilizado um formulário específico de forma a não permitir a identificação dos itens, se original ou retraduzidos. Para avaliação do significado referencial foi utilizada a escala analógica visual – Visual Analogue Scale (Streiner & Norman, 1995) e a equivalência entre os itens foi julgada numa escala de 0 a 100%. A avaliação do significado geral dos itens foi feita em outro formulário classificando-os em: inalterado, pouco alterado, muito alterado e completamente alterado (Moraes et al., 2002) A partir dessa comparação, alguns termos da tradução foram revisados para uma melhor adequação ao contexto brasileiro. Após essa discussão, todas as questões foram mantidas, a comissão apontou as reformulações a serem adaptadas na redação das questões e foi obtida uma versão preliminar da escala brasileira. 5 - Estudo piloto e revisão das questões a partir do estudo piloto. O estudo piloto teve como objetivo ajustar a formulação das questões da versão preliminar da CAMI-BR à da população-alvo na qual a escala foi aplicada, a fim de se assegurar uma boa compreensão e precisão do texto. 82 Este estudo foi realizado em uma amostra de 14 indivíduos, moradores nas proximidades de residências terapêuticas, no bairro de Jacarepaguá. As entrevistas foram realizadas 5 pesquisadores e 2 coordenadores de campo. Para a aplicação da escala, o entrevistador utilizava um cartão contendo as alternativas de resposta, para facilitar a compreensão e memorização dos números correspondentes a cada item. Treinamento dos pesquisadores O treinamento foi realizado pela equipe de pesquisadores do Núcleo de Pesquisa do Instituto Municipal Juliano Moreira (IMASJM). Foram treinados após seleção 5 pesquisadores de campo: 2 psicólogos e 3 graduandos, sendo 2 em psicologia e 1 em medicina. Os pesquisadores de campo passaram por um treinamento de 40 horas, que incluiu a leitura minuciosa da escala individualmente e em conjunto, discussão de artigos relacionados ao estudo, simulação de entrevista supervisionada pelos coordenadores e experimentação de aplicação da escala em campo, com discussão dessa experiência. Cada entrevista teve duração aproximada de 20 minutos. O objetivo do estudopiloto foi verificar, junto ao entrevistando, os termos e palavras de difícil compreensão e perguntas que não estivessem claras. No decorrer do estudopiloto, procuravam-se palavras ou termos mais adequados, claros e simples para substituí-las, visando a adaptação ao contexto cultural brasileiro. 83 A cada aplicação as modificações necessárias eram feitas e a escala reaplicada até que não se detectassem mais dificuldades de compreensão durante as entrevistas, sendo elaborada a versão teste final da escala. Este projeto foi apresentado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do IMASJM e os participantes concordaram em assinar o termo de consentimento informado. Resultados e discussão No painel de discussão considerou-se que os 40 itens que compõe a escala original contemplam satisfatoriamente as quatro dimensões que representam as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais no contexto cultural brasileiro. Na avaliação formal da semântica entre a retradução e o instrumento original foi observada boa equivalência. Segundo a escala analógica visual todos os quarenta itens da escala apresentaram uma equivalência de significado referencial entre 90 e 100% e o significado geral se manteve inalterado em 90% dos itens e pouco alterado em 10% (tabela 1). Tabela 1 Esta versão preliminar da escala foi utilizada no estudo piloto e os 17 itens modificados (4 na dimensão autoritarismo; 2 na sub-escala restrição social; 5 na sub-escala benevolência e 6 na sub-escala ideologia comunitária de saúde mental) estão apresentados nos quadros 1, 2, 3 e 4. A primeira coluna 84 apresenta a versão original da escala; a segunda a tradução; e a terceira a versão adaptada após a retradução, a discussão no painel de especialista e as entrevistas realizadas com a população durante o estudo piloto. Quadros 1, 2, 3 e 4 As modificações realizadas tiveram como objetivo principal tornar o instrumento compreensível e aceitável pela população alvo. Envolveram trocas por expressões mais utilizadas em nosso contexto, procurando aumentar a equivalência de significado geral dos termos. Na primeira sub-escala (Autoritarismo), no item 2, a expressão atrás de portas fechadas foi trocado por trancados porque foi considerado que este termo teria um significado mais claro de exclusão. No itens 3 e 4 a estrutura da frase foi modificada para que a afirmativa ficasse mais adequada a nosso contexto cultural. No item 10 a palavra virtualmente foi excluída por confundir o respondente. Na segunda sub-escala (Restrição social), nos itens 2. 3 e 4 , a mudança da estrutura da frase tornou a afirmativa mais clara para a população alvo. No item 10, o verbo supor foi substituído por pensar, por ter um uso mais corriqueiro na população e manter o significado da afirmação. Na sub-escala 3 (Benevolência),nos itens 2 e 8, a palavra impostos foi substituídas por recursos públicos por ser mais adequada à nossa realidade. A 85 estrutura da frase nos itens 3 e 4 foi modificada para que a afirmativa ficasse mais objetiva. No item 9, a expressão serviços de atendimento pareceu mais adequada do que simplesmente a palavra serviço, de significado muito amplo. A escala 4 (Ideologia comunitária de saúde mental) foi a que apresentou mais modificações. A estrutura da frase nos itens 1, 3, 5 e 8 foi totalmente modificada para que seu significado ficasse claro o suficiente para a população alvo. No item 7 a palavra locais foi suprimida por parecer desnecessária para a compreensão da afirmativa. No item 9, a palavra amedrontador foi substituída por assustador, uma vez que essa última expressão é mais utilizada em nosso meio. Finalmente, na escala de resposta, as expressões: concordo fortemente (Strongly agree) foi adaptada para concordo totalmente, discordo fortemente (Strongly disagree) para discordo totalmente. O termo totalmente pareceu aos especialistas traduzir melhor a intensidade dos extremos da escala de respostas. A expressão indiferente (It makes no difference) foi modificada para tanto faz por ser o termo usado de forma mais corriqueira e portanto ser melhor interpretado. Versão Brasileira da escala Atitudes da Comunidade em Relação aos Doentes Mentais – CAMI-BR A versão brasileira da CAMI manteve os quarenta itens da escala original e as quatro dimensões: 1. Autoritarismo 2. Restrição Social 3. Benevolência 4. Ideologia Comunitária de Saúde Mental. 86 Quadro 5 Com a escala adaptada para o contexto cultural brasileiro será possível então realizar o estudo de sua validação, visando estabelecer as suas propriedades psicométricas de validade e fidedignidade, estudo que já se encontra em andamento pelos autores deste artigo. Após os procedimentos de adaptação transcultural recomendados pela literatura da área (Vallerand, 1989; Streiner & Norman, 1995), a escala CAMIBR se mostrou uma escala de fácil aplicação, linguagem clara, acessível e de fácil compreensão pela população-alvo. Nas várias discussões no painel de especialistas, concluiu-se que não seria necessária a inclusão de novas dimensões ou itens na escala, sendo a construção original suficiente para captar as atitudes da comunidade em relação aos doentes mentais no contexto cultural brasileiro. As modificações semânticas realizadas não implicaram na modificação do sentido da afirmação, mas tiveram o objetivo de tornar a escala mais compreensível para a população geral. A adaptação transcultural e validação da escala CAMI-BR possibilitará a realização de pesquisas brasileiras com comparabilidade internacional. Sua aplicação ao nosso contexto, através de estudos sistemáticos, resultará em medidas objetivas da atitude e do conhecimento da vizinhança em relação a usuários e serviços. Também poderá oferecer orientação a projetos que resultem no estreitamento das relações entre estes segmentos, aumentando 87 sua capacidade de conviver com as diferenças e potencializarão com certeza a ação dos serviços substitutivos. Agradecimentos Este projeto teve financiamento do CNPQ processo n° 485609/2006-1 Agradecemos a participação dos pesquisadores de campo, da comissão de especialistas e dos moradores de Jacarepaguá que fizeram parte do estudo. 88 Referências Adorno TW, Frenkel-Brunswick E, Levinson DJ, Sanford RN. The authoritarian personality. New York: Harper; 1950. Bandeira M, Lima LA, Gonçalves S Qualidades psicométricas no papel da Escala de Habilidades de Vida Independente de pacientes psiquiátricos (ILSS-BR). Rev psiquiatr clín 2003; 30(4):.121-125. Baker F, Schulberg H. The development of a community mental health ideology scale. Community Mental Health Journal 1967: 3:216-225. Bandeira, M, Freitas LC, Carvalho Filho, JGT. 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Análise da equivalência referencial e geral entre os itens da retradução e o instrumento CAMI original Grau de equivalência entre as duas assertivas segundo a escala analógica visual Significado referencial Retradução/original nº de itens (%) Julgamento do avaliador Significado geral Retradução/original nº de itens (%) 90-100% 40 Inalterado 36 70<90% 0 Pouco alterado 4 50<70% 0 Muito alterado 0 <50% 0 Completamente alterado 0 Total 40 Total 40 93 Quadro 1 - Questões adaptadas da sub-escala Autoritarismo. Sub-escala original Primeira versão Versão síntese Authoritarianism Autoritarismo Autoritarismo Item 2: The best way to Item2: A melhor forma de Item 2: A melhor forma de handle the mentally ill is to controlar os doentes mentais controlar os doentes mentais keep them behind locked é mantê-los atrás de portas é mantê-los trancados. doors. fechadas. Item 3: There is something about the mentally ill that makes it easy to tell them from normal people. Item 3:. Há alguma coisa nos doentes mentais que faz com que seja fácil diferenciálos das pessoas normais Item3:Algumas características diferenciam os doentes mentais das pessoas normais. Item 4: As soon as a person shows sins of mental disturbance, he should be hospitalized. Item 4: Assim que uma pessoa mostra sinais de distúrbio mental deveria ser hospitalizada Item 4: Uma pessoa sempre deve ser hospitalizada assim que apresente sinais de distúrbio mental Item 10: Virtually anyone can Item 10: Virtualmente Item 10: Qualquer um pode become mentally ill. qualquer um pode se tornar se tornar um doente mental doente mental 94 Quadro 2- Questões adaptadas da sub-escala Restrição Social Sub-escala original 1º versão Versão síntese Social Restrictiveness Restrição Social Restrição Social Item 1: The mentally ill Item 1: Não deveria ser Item 1: Nenhuma should not be given any dada nenhuma responsabilidade deveria responsibility responsabilidade ao doente ser dada ao doente mental mental Item 9: The mentally ill are Item 9: Os doentes mentais far less of a danger than oferecem menos perigo do most people suppose que a maioria das pessoas supõem Item 9: Os doentes mentais oferecem menos perigo do que a maioria das pessoas pensam 95 Quadro 3- Questões adaptadas da sub escala Benevolência. Sub-escala Original 1º versão Versão síntese Benevolence Benevolência Benevolência Item 2: More tax money should be spent on the care and treatment of the mentally ill. Item 2:Deveriam ser gastos mais impostos no cuidado e tratamento dos doentes mentais Deveriam ser gastos mais recursos públicos no cuidado e tratamento dos doentes mentais. Item 3: We must have a more tolerant attitude toward the mentally ill in our society Item 3: Nós precisamos ter uma atitude mais tolerante em relação aos doentes mentais na nossa sociedade Item 3: Nós precisamos ser mais tolerantes com os doentes mentais na nossa sociedade Item 4: Our psychiatric hospitals are more like prisons than places where the mentally ill can be cared for Item 4: Nossos hospitais psiquiátricos parecem mais prisões do que lugares onde os doentes mentais possam ser cuidados Item 4: Nossos hospitais psiquiátricos parecem mais prisões do que lugares para se cuidar dos doentes mentais. Item 8: Increased spending Item 8: Aumentar as on mental health services is despesas com saúde mental a waste of tax dollars é um desperdiço de impostos Item 8: Aumentar as despesas com saúde mental é um desperdício de recursos públicos Item 9: There are sufficient Item 9: Existem serviços Item 9: Existem serviços de existing services for the suficientes para os doentes atendimento suficientes mentally ill. mentais. para os doentes mentais 96 Quadro 4- Questões adaptadas da sub-escala Ideologia comunitária de saúde mental Sub-escala original 1º versão Versão síntese Community mental health Ideologia comunitária de Ideologia comunitária de ideology saúde mental saúde mental Item1: Residents should accept the location of mental health facilities in their neighborhood to serve the needs of the local community Item1: Moradores deveriam aceitar a localização de serviços de saúde mental na sua vizinhança Item1: Todos deveriam aceitar que serviços de atenção à saúde mental fossem instalados na sua vizinhança Item 3: As far as possible, mental health services should be provided through community based facilities. Item 3: Tanto quanto possível, os atendimentos em saúde mental deveriam ser oferecidos por serviços localizados na comunidade Item 3: A assistência em saúde mental deveria ser oferecida, na medida do possível, em serviços localizados na comunidade. Item 5: Residents have nothing to fear from people o coming into their neighborhood to obtain mental health services. Item 5: Os moradores não têm nada a temer de pessoas que vêm à sua vizinhança para conseguir atendimento em saúde mental Item 5: Moradores nada a temer de que venham vizinhança para atendimento em mental Item 7: Local residents have good reason to resist the location of mental health services in their neighborhood Item 7: Moradores locais têm boas razões para resistir à implantação de serviços de saúde mental na sua vizinhança Item 7: Moradores têm boas razões para resistir à implantação de serviços de saúde mental na sua vizinhança Item 8: Having mental Item 8: Ter doentes patients living within mentais morando em residential neighborhood áreas residenciais pode ser uma boa terapia, mas o might be good therapy, but risco para os moradores é the risks to residents are too muito grande great Item 8: Morar em áreas residenciais pode ser uma boa terapia para os pacientes, mas o risco para os moradores é muito grande. Item 9: It is frightening to think of people with mental problems living in residential neighborhoods Item 9: É assustador pensar em pessoas com doença mental morando em bairros residenciais Item 9: É amedrontador pensar em pessoas com doença mental morando em bairros residenciais não têm pessoas à sua receber saúde 97 Quadro 5. Versão síntese da escala Atitudes da Comunidade em Relação ao Doente Mental - CAMI-BR A) Autoritarismo 1. Uma das principais causas da doença mental é a falta de auto disciplina e auto controle. 2. A melhor forma de controlar os doentes mentais é mantê-los trancados. 3. Algumas características diferenciam os doentes mentais das pessoas normais. 4. Uma pessoa sempre deve ser hospitalizada assim que apresente sinais de distúrbio mental. 5. Doentes mentais precisam do mesmo tipo de controle e disciplina que as crianças pequenas. 6. Doença mental é uma doença como outra qualquer. 7. Os doentes mentais não deveriam ser tratados como indesejáveis na sociedade. 8. Deveria ser dada menos importância em proteger a sociedade dos doentes mentais. 9. Os hospitais psiquiátricos são um modelo ultrapassado de tratamento para os doentes mentais. 10. Qualquer um pode se tornar um doente mental. B) Restrição social 1) Nenhuma responsabilidade deveria ser dada ao doente mental. 2) Os doentes mentais deveriam ser isolados do resto da comunidade. 3) Uma mulher seria tola em se casar com um homem que tenha sofrido de doença mental, mesmo que ele parecesse completamente recuperado. 4) Eu não gostaria de ser vizinho de porta de alguém que tenha sido doente mental. 5) Alguém que tenha uma história de doença mental deveria ser impedido de assumir qualquer emprego público. 6) Os doentes mentais não deveriam ser privados de seus direitos individuais. 7) Doentes mentais deveriam ser encorajados a assumir responsabilidades de vida normal. 8) Ninguém tem o direito de excluir os doentes mentais de sua vizinhança. 9) Os doentes mentais oferecem menos perigo do que a maioria das pessoas pensa. 10) A maior parte das mulheres que foram pacientes de um hospital psiquiátrico pode ser confiável como babá. C) Benevolência 1) Os doentes mentais foram, por muito tempo, objetos de ridicularização. 98 2) Deveriam ser gastos mais recursos públicos no cuidado e tratamento dos doentes mentais. 3) Nós precisamos ser mais tolerantes com os doentes mentais na nossa sociedade 4) Nossos hospitais psiquiátricos parecem mais prisões do que lugares para se cuidar dos doentes mentais. 5) A sociedade tem a responsabilidade de fornecer o melhor tratamento possível aos doentes mentais 6) Os doentes mentais não merecem nossa simpatia 7) Os doentes mentais são um peso para a sociedade 8) Aumentar as despesas com saúde mental é um desperdício de recursos públicos 9) Existem serviços de atendimento suficientes para os doentes mentais 10) É melhor evitar alguém que tenha problemas mentais D) Ideologia comunitária de saúde mental 1) Todos deveriam aceitar que serviços de atenção à saúde mental fossem instalados na sua vizinhança 2) A melhor terapia para muitos doentes mentais é fazer parte de uma comunidade normal 3) A assistência em saúde mental deveria ser oferecida, na medida do possível, em serviços localizados na comunidade. 4) A localização de serviços de saúde mental em bairro residencial não coloca em perigo os moradores. 5) Moradores não têm nada a temer de pessoas que venham à sua vizinhança para receber atendimento em saúde mental 6) Serviços de saúde mental deveriam ser mantidos longe de bairros residenciais 7) Moradores locais têm boas razões para resistir à implantação de serviços de saúde mental na sua vizinhança 8) Morar em áreas residenciais pode ser uma boa terapia para os pacientes, mas o risco para os moradores é muito grande. 9) É assustador pensar em pessoas com doença mental morando em bairros residenciais 10) Localizar serviços de saúde mental em área residencial desvaloriza o bairro 99 Escala – Retradução Attitudes and community behavior toward the mentally ill Authoritarian attitudes: 1. One of the chief causes of mental disease is lack of self-discipline and self-control 2. The best way to control the mentally ill is to keep them behind closed doors 3. There is something in the mentally ill that makes it easy to distinguish them from normal people 4. A person should be hospitalized as soon as he/she shows signs of mental disorder 5. The mentally ill need the same kind of control and discipline as small children 6. Mental disease is like any other disease 7. The mentally ill should not be treated as undesirable in society 8. There should be less emphasis on protecting the public from the mentally ill 9. Psychiatric hospitals are an outdated form of therapy for the mentally ill 10. Virtually anyone can become mentally ill Social restrictions 1) The mentally ill should not be given any responsibilities 100 2) The mentally ill should be isolated from the rest of the community 3) A woman would be foolish to marry a man who has suffered from a mental disease, even if he seems to have fully recovered 4) I would not like to have a mentally ill person as my next door neighbor 5) Anyone with a history of mental disease should be prevented from holding public office 6) The mentally ill should not be deprived of their individual rights 7) The mentally ill should be encouraged to assume the responsibilities of normal life 8) No one has the right to exclude the mentally ill from their neighborhood 9) The mentally ill are less dangerous than most people think 10) Most women who have been patients in psychiatric hospitals can be reliable babysitters Tolerance 1) The mentally ill have been the target of ridicule for a long time 2) More taxes should be spent in the care and treatment of the mentally ill 3) We must have a more tolerant attitude toward the mentally ill in our society 4) Our psychiatric hospitals are more like prisons than places where the mentally ill can be cared for 5) We have a responsibility to provide the best possible treatment to the mentally ill 101 6) The mentally ill do not deserve our sympathy 7) The mentally ill are a burden to society 8) Increasing spending on mental health is a waste of taxes 9) There are enough facilities for the mentally ill 10) It is better to avoid someone who has mental problems Community mental health approach 1) Residents should accept having mental health facilities in their neighborhood 2) The best therapy for many mentally ill individuals is to be part of a regular community 3) In as much as possible, mental health care should be provided by facilities located in the community 4) Locating mental health facilities in a residential neighborhood does not place local residents in danger 5) Residents have nothing to fear from persons who come to their neighborhood to receive mental health care 6) Mental health facilities should be kept away from residential neighborhoods 7) Local residents have good reasons to resist the placement of mental health facilities in their neighborhood 102 8) Having mentally ill persons living in residential areas may be good therapy, but the risk to residents is too high 9) It is frightening to think of persons with mental disease living in residential neighborhoods 10) Locating mental health facilities in a residential area depreciates real estate in the neighborhood Each CAMI item has a 5-point response scale: Strongly agree; Agree; It makes no difference; Disagree; Strongly disagree 103 Escala- Traduzida – versão-teste Atitudes e intenções de comportamento da comunidade em relação aos doentes mentais Autoritarismo: 1. Uma das principais causas da doença mental é a falta de auto disciplina e auto controle 2. A melhor forma de controlar os doentes mentais é mantê-los atrás de portas fechadas 3. Há alguma coisa nos doentes mentais que faz com que seja fácil diferenciá-los das pessoas normais 4. Assim que uma pessoa mostra sinais de distúrbio mental deveria ser hospitalizada 5. Doentes mentais precisam do mesmo tipo de controle e disciplina que as crianças pequenas 6. Doença mental é uma doença como outra qualquer 7. Os doentes mentais não deveriam ser tratados como indesejáveis na sociedade 8. Deveria ser dada menos ênfase em proteger o público dos doentes mentais 9. Os hospitais psiquiátricos são um modelo ultrapassado de tratamento para os doentes mentais 10. Virtualmente qualquer um pode se tornar doente mental 104 Restrição social 1) Não deveria ser dada nenhuma responsabilidade ao doente mental 2) Os doentes mentais deveriam ser isolados do resto da comunidade 3) Uma mulher seria tola de se casar com um homem tenha sofrido de doença mental, mesmo que ele parecesse completamente recuperado 4) Eu não gostaria de ser vizinho de porta de alguém que tenha sido doente mental 5) Alguém que tenha uma história de doença mental deveria ser impedido de assumir emprego público 6) Os doentes mentais não deveriam ser privados de seus direitos individuais 7) Doentes mentais deveriam ser encorajados a assumir responsabilidade de vida normal 8) Ninguém tem o direito de excluir os doentes mentais de sua vizinhança 9) Os doentes mentais oferecem menos perigo do que a maioria das pessoas supõe 10) A maior parte das mulheres que foram pacientes de um hospital psiquiátrico podem ser confiáveis como babás Benevolência 1) Os doentes mentais foram por muito tempo objeto de ridicularização 2) Deveriam ser gastos mais impostos no cuidado e tratamento dos doentes mentais 105 3) Nós precisamos ter uma atitude mais tolerante em relação aos doentes mentais na nossa sociedade 4) Nossos hospitais psiquiátricos parecem mais prisões do que ligares onde os doentes mentais possam ser cuidados 5) Nós temos a responsabilidade de fornecer o melhor tratamento possível aos doentes mentais 6) Os doentes mentais não merecem nossa simpatia 7) Os doentes mentais são um peso para a sociedade 8) Aumentar as despesas com Saúde Mental é um desperdiço de impostos 9) Existem serviços suficientes para os doentes mentais 10)É melhor evitar alguém que tenha problemas mentais Ideologia comunitária de Saúde Mental 1) Moradores deveriam aceitar a localização de serviços de Saúde Mental na sua vizinhança 2) A melhor terapia para muitos doentes mentais é fazer parte de uma comunidade normal 3) Tanto quanto possível, os atendimentos em Saúde Mental deveriam ser oferecidos por serviços localizados na comunidade 4) A localização de serviços de Saúde Mental em bairro residencial não coloca em perigo os moradores 106 5) Os moradores não têm nada a temer de pessoas que vêm à sua vizinhança para conseguir atendimento em Saúde Mental 6) Serviços de Saúde Mental deveriam ser mantidos longe de bairros residenciais 7) Moradores locais têm boas razões para resistir à implantação de serviços de Saúde Mental na sua vizinhança 8) Ter doentes mentais morando em áreas residenciais pode ser uma boa terapia, mas o risco para os moradores é muito grande 9) É amedrontador pensar em pessoas com doença mental morando em bairros residenciais 10) Localizar serviços de Saúde Mental em área residencial desvaloriza o bairro Cada item da CAMI tem uma escala de 5 pontos como resposta: Concordo fortemente; Concordo; Tanto faz; Discordo; Discordo fortemente 107 Laboratório de Pesquisas Epidemiológicas em Saúde Mental Em colaboração com : Núcleo de Pesquisa/Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira/SMS Questionário Sócio-demográfico Atitudes da Comunidade em Relação aos Doentes Mentais CAMI-BR Versão para adaptação e validação Pesquisador responsável: Lúcia Abelha Lima Coordenador de campo: Sylvia Gonçalves Pesquisador: Entrevistado: Endereço: 1. Entrevistado n°: 2. Idade 3. Sexo 1) masc 2) fem 4. Estado civil 1) solteiro 2) casado/companheiro 3) viúvo 108 4) separado 5) divorciado 9) s/ inf 5. Número de filhos 6. Faixa etária dos filhos 1) < 6 anos 2) 6 a 18 anos 3) > 18 anos 4) 1 e 2 e3 5) 2 e 3 7) 1, 2 e 3 6) 1 9) s/ inf 7. Nível educacional (Se o entrevistado for o próprio provedor marcar 88) 0) analfabeto incompl 1) alfabetizado 3) fundamental compl 2) fundamental 4) médio incompleto 5) médio completo 6) superior incompleto 9) s/ inf 7) superior completo 8) pós-graduação 88) não se aplica 7a. Cursando 0) não 1) sim 9) s/ inf 8) Nível educacional do provedor 0) analfabeto incompl 1) alfabetizado 3) fundamental compl 2) fundamental 4) médio incompleto 5) médio completo 6) superior incompleto 7) superior completo 8) pós-graduação 9) s/ inf 8a. Cursando 0) não 9. Ocupação 1) sim 9) s/ inf ___________________________________________ 109 10. Ocupação do provedor ________________________________ 11. Imóvel 1) próprio 2) alugado 3) s/ inf 12. Religião 0) sem religião 1) católico batista 4) universal umbanda 7) candomblé 10) santo D’Aime 2) judeu 5) cardecista 8) adventista 11) assembléia de Deus __________________ 3) 6) 9) budista 12) Outras 99) s/ inf 13. O entrevistado, seus amigos ou familiares alguma vez já utilizaram serviços de Saúde Mental? 0) não 1) sim 9) s/ inf 110 A escala adaptada - versão final Atitudes e intenções de comportamento da comunidade em relação aos doentes mentais A) Autoritarismo 1. Uma das principais causas da doença mental é a falta de auto disciplina e auto controle. 2. A melhor forma de controlar os doentes mentais é mantê-los trancados. 3. Algumas características diferenciam os doentes mentais das pessoas normais. 4. Uma pessoa sempre deve ser hospitalizada assim que apresente sinais de distúrbio mental. 5. Doentes mentais precisam do mesmo tipo de controle e disciplina que as crianças pequenas. 6. Doença mental é uma doença como outra qualquer. 7. Os doentes mentais não deveriam ser tratados como indesejáveis na sociedade. 8. Deveria ser dada menos importância em proteger a sociedade dos doentes mentais. 9. Os hospitais psiquiátricos são um modelo ultrapassado de tratamento para os doentes mentais. 111 10. Qualquer um pode se tornar um doente mental. B) Restrição social 1) Nenhuma responsabilidade deveria ser dada ao doente mental. 2) Os doentes mentais deveriam ser isolados do resto da comunidade. 3) Uma mulher seria tola em se casar com um homem que tenha sofrido de doença mental, mesmo que ele parecesse completamente recuperado. 4) Eu não gostaria de ser vizinho de porta de alguém que tenha sido doente mental. 5) Alguém que tenha uma história de doença mental deveria ser impedido de assumir qualquer emprego público. 6) Os doentes mentais não deveriam ser privados de seus direitos individuais. 7) Doentes mentais deveriam ser encorajados a assumir responsabilidades de vida normal. 8) Ninguém tem o direito de excluir os doentes mentais de sua vizinhança. 9) Os doentes mentais oferecem menos perigo do que a maioria das pessoas pensa. 10) A maior parte das mulheres que foram pacientes de um hospital psiquiátrico pode ser confiável como babá. 112 C) Benevolência 1) Os doentes mentais foram, por muito tempo, objetos de ridicularização. 2) Deveriam ser gastos mais recursos públicos no cuidado e tratamento dos doentes mentais. 3) Nós precisamos ser mais tolerantes com os doentes mentais na nossa sociedade 4) Nossos hospitais psiquiátricos parecem mais prisões do que lugares para se cuidar dos doentes mentais. 5) A sociedade tem a responsabilidade de fornecer o melhor tratamento possível aos doentes mentais 6) Os doentes mentais não merecem nossa simpatia 7) Os doentes mentais são um peso para a sociedade 8) Aumentar as despesas com Saúde Mental é um desperdício de recursos públicos 9) Existem serviços de atendimento suficientes para os doentes mentais 10) É melhor evitar alguém que tenha problemas mentais D) Ideologia comunitária de Saúde Mental 1) Todos deveriam aceitar que serviços de atenção à Saúde Mental fossem instalados na sua vizinhança 2) A melhor terapia para muitos doentes mentais é fazer parte de uma comunidade normal 113 3) A assistência em Saúde Mental deveria ser oferecida, na medida do possível, em serviços localizados na comunidade. 4) A localização de serviços de Saúde Mental em bairro residencial não coloca em perigo os moradores. 5) Moradores não têm nada a temer de pessoas que venham à sua vizinhança para receber atendimento em Saúde Mental 6) Serviços de Saúde Mental deveriam ser mantidos longe de bairros residenciais 7) Moradores locais têm boas razões para resistir à implantação de serviços de Saúde Mental na sua vizinhança 8) Morar em áreas residenciais pode ser uma boa terapia para os pacientes, mas o risco para os moradores é muito grande. 9) É assustador pensar em pessoas com doença mental morando em bairros residenciais 10) Localizar serviços de Saúde Mental em área residencial desvaloriza o bairro Cada item da CAMI tem uma escala de 5 pontos como resposta: Concordo totalmente; Concordo; Tanto faz; Discordo; Discordo totalmente. 114 CONSENTIMENTO INFORMADO Esta pesquisa tem por objetivo realizar a adaptação transcultural , para o Brasil, da escala: Community Attitudes toward Mentally Ill (Atitudes da Comunidade em Relação aos Doentes Mentais (CAMI-BR). Utilizada para medir as atitudes da comunidade em relação a pacientes psiquiátricos. A sua participação nesse estudo é voluntária. Mesmo que você decida participar, você tem plena liberdade para sair do estudo a qualquer momento. Você poderá fazer todas as perguntas que quiser antes de concordar em participar do estudo. Sua identidade será mantida como informação confidencial. Os resultados do estudo podem ser publicados, mas sua identidade não será revelada sem seu consentimento por escrito. Eu, li e entendi todas as informações sobre esse estudo e todas as minhas perguntas foram respondidas a contento. voluntariamente em participar deste estudo. Local/data: Assinatura: Pesquisador responsável: Lúcia Abelha Lima Coordenadora de campo: Sylvia Gonçalves Portanto, consinto 115 Laboratório de Pesquisas Epidemiológicas em Saúde Mental Em colaboração com : Núcleo de Pesquisas do Instituto Municipal Juliano Moreira/SMS Prezado, O Sr. (a) está participando de uma pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em parceria com o Núcleo de Pesquisa do IMASJM, para avaliar o que as pessoas pensam sobre portadores de transtornos mentais. O questionário leva de 15 a 20 minutos para ser aplicado. Sua contribuição é importante para a avaliação e melhoria dos serviços de Saúde Mental. Desde já agradecemos sua colaboração Atenciosamente, Lúcia Abelha Lima Coordenadora do projeto