UVV – CENTRO UNIVERSITÁRIO VILA VELHA
PROGRAMA DE MESTRADO EM CIÊNCIA ANIMAL
AVALIAÇÃO ODONTOLÓGICA EM SINCRÂNIOS DE
MACACO-ARANHA (ATELES sp.)
Fernanda Rocha de Oliveira Pais
Vila Velha – Espírito Santo
Janeiro de 2011
UVV – CENTRO UNIVERSITÁRIO VILA VELHA
PROGRAMA DE MESTRADO EM CIÊNCIA ANIMAL
AVALIAÇÃO ODONTOLÓGICA EM SINCRÂNIOS DE
MACACO-ARANHA (ATELES sp.)
Fernanda Rocha de Oliveira Pais
Orientador: Prof. Dr. João Luiz Rossi Júnior
Dissertação apresentada ao Programa de
Mestrado em Ciência Animal do Centro
Universitário Vila Velha, para a obtenção do
título de Mestre em Ciência Animal.
Vila Velha – Espírito Santo
Janeiro de 2011
Catalogação na publicação elaborada pela Biblioteca Central / UVV-ES
P149a
Pais, Fernanda Rocha de Oliveira.
Avaliação odontológica em sincrânios de macaco-aranha (Ateles sp.) /
Fernanda Rocha de Oliveira Pais. – 2011.
141 f.: il.
Orientador: Profº. Dr. João Luiz Rossi Júnior.
Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) – Centro Universitário Vila
Velha, 2011.
Inclui bibliografias.
1. Odontologia Veterinária. 2. Macacos. I. Rossi Júnior, João Luiz . II.
Centro Universitário Vila Velha. III. Título.
CDD 636.08976
“Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja ele
animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seus semelhantes”
Albert Schweitzer
A Deus, por ter aberto as portas desse mestrado, mesmo quando já
julgava tudo perdido. Pai, obrigada por me sustentar durante todo esse
período e por ter me dado forças para chegar até aqui. Aos meus
“pais” da pós-graduação, João e Flaviana. Obrigada por me
“adotarem” e por terem feito desse sonho uma realidade.
AGRADECIMENTOS
A Deus,
Pai, obrigada por tudo que o Senhor tem feito por mim. Obrigada por ter me dado a
oportunidade de concretizar mais esta fase da minha vida, sempre ao meu lado me guardando
e sustentando.
Ao meu bebê,
Letícia, mesmo tão novinha você fez parte de cada uma das minhas conquistas. Foi tão bom
ter você ao meu lado durante as avaliações das fotos... Muitas vezes eu estava séria e
concentrada e, de repente, você me fazia sorrir com algum comentário do tipo: “O macaco
não escovou os dentes e está cheio de bactérias na boca”. Filhinha linda, obrigada por tornar a
minha vida muito mais feliz!
Aos meus pais João Batista e Valéria,
Mesmo distantes vocês estiveram presentes em cada uma das minhas vitórias. Sou grata a
Deus por ter vocês dois sempre ao meu lado, tanto nas horas boas, quanto nas ruins. Obrigada
pelos puxões de orelha quando eu dizia que não iria conseguir. Obrigada não só pelo suporte
financeiro, mas por todo amor que vocês me dão. Pai, eu sei o quanto você trabalhou para que
eu pudesse estudar nos melhores colégios. Sei que esse mestrado é motivo de orgulho para
você. Quero sempre poder retribuir todas as oportunidades que você lutou para que eu tivesse.
Amo vocês!
Aos meus avós Elvira e Izidoro,
Vocês dois foram essenciais para que eu concluísse o mestrado. Sem vocês aqui, ajudando em
absolutamente todas as coisas da minha casa, da clínica e principalmente cuidando da Letícia,
eu não teria conseguido. Vô, obrigada pelas correções ortográficas!
Tia Aredina,
Mesmo sendo minha “tia emprestada”, sei que seu amor por mim é puro e verdadeiro.
Obrigada por cuidar da Letícia, por ter tomado conta tão bem da clínica neste mês de total
ausência. Sei que você fez o seu melhor!
Flaviana,
Acho que você não tem noção do quanto a sua ligação transformou a minha vida. Você
acreditou em mim sem nem me conhecer direito, aceitando no mestrado uma veterinária de
pequenos animais interessada em selvagens. Deu-me a mão em um momento em que eu
estava totalmente desacreditada. Você é parte não só da conclusão do mestrado, mas do meu
crescimento como pessoa. Muito obrigada!
João,
Eu escutei falar em um professor novo, que andava feito Indiana Jones pela faculdade. Nunca
poderia imaginar que esse “cara” seria meu orientador... Aprendi muito com você e espero
que, ao fim desta fase, possamos conquistar muito mais coisas juntos! Admiro muito o grande
profissional que você é!
Aos meus amigos,
Perla, Tanure, Carlos e Soraia. Obrigada por entenderem tão bem a minha ausência e por
terem aturado meu mau-humor neste final de dissertação. Cada um de vocês tem uma
participação nesta conquista. Amo vocês!
Aos curadores do Museu Paraense Emílio Goeldi,
Especialmente a João A. Queiroz, pela recepção e apresentação à coleção de Mastozoologia.
Muito obrigada!
A todos do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo,
Juliana
Gualda,
obrigada
pela
recepção
e
ajuda
durante
esta
pesquisa!
A todos do Museu Histórico Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Especialmente a João Alves Oliveira, por ter dedicado um enorme tempo na procura de
artigos científicos relacionados ao meu trabalho. Obrigada por ter perdido seu horário de
almoço para me ajudar!
À Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Espírito Santo – FAPES,
Obrigada pela bolsa a mim dedicada.
Aos meus animais,
Billie Joe, Lilica, Bentinho, Tucha, Léo, Hawk e Oscar. Obrigada por tanto amor. Obrigada
por me fazer uma pessoa melhor. Não seria o que sou sem o carinho de vocês!
LISTA DE APÊNDICES
Apêndice I:
Identificação dos sincrânios avaliados segundo instituição, ano e local de
coleta................................................................................................................129
Apêndice II: Identificação
dos
sincrânios
avaliados
segundo
espécie,
sexo
e
habitat..............................................................................................................135
LISTA DE ANEXOS
Anexo A:
Ficha odontológica (odontograma) específica para primatas, desenvolvida pelo
Laboratório de Odontologia Comparada (LOC), vinculado ao Departamento de
Cirurgia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de
São Paulo (FMVZ-USP)..................................................................................142
LISTA DE FIGURAS
Figura 1:
Ateles paniscus do Zoológico de São Paulo...................................................27
Figura 2:
Representação da anatomia dentária e tecidos adjacentes em dente de
carnívoro..........................................................................................................32
Figura 3:
Classificação de fratura dentária adotada pelo AVDC, adaptada de Basrani
(1983) e ilustrada por Lopes (2008)................................................................54
Figura 4:
Vista lateral esquerda do sincrânio de Ateles marginatus (MZ-USP-5288)
posicionado para a avaliação odontológica.....................................................60
Figura 5:
Vista rostral de sincrânio de Ateles marginatus (MPEG-4073)......................63
Figura 6:
Distribuição sexual dos sincrânios de Ateles sp. avaliados de acordo com a
espécie..............................................................................................................64
Figura 7:
Distribuição das espécies de Ateles sp. avaliadas de acordo com o local de
vida...................................................................................................................64
Figura 8:
Padrão oclusivo normal em sincrânio de fêmea de Ateles geoffroyi (MPEG21835)..............................................................................................................66
Figura 9:
Prognatismo mandibular em sincrânio de vida livre de Ateles belzebuth
(MPEG-5049)..................................................................................................67
Figura 10:
Prognatismo mandibular em sincrânio de macho de vida livre de Ateles
paniscus (MPEG-13243).................................................................................67
Figura 11:
Alteração de simetria em sincrânio de fêmea de vida livre da espécie Ateles
belzebuth (MPEG-5040)..................................................................................68
Figura 12:
Alteração de simetria em sincrânio de macho de vida livre da espécie Ateles
belzebuth (MPEG-1534)..................................................................................69
Figura 13:
Alteração de simetria em sincrânio de fêmea de vida livre da espécie Ateles
paniscus (MPEG-1274)..................................................................................69
Figura 14:
Mineralização incompleta na transição do ramo vertical com ramo horizontal
da mandíbula de fêmea de Ateles belzebuth de vida livre (MPEG-5039).......70
Figura 15:
Mineralização incompleta na transição do ramo vertical com ramo horizontal
da mandíbula de fêmea de Ateles paniscus de vida livre (MPEG-1275).........70
Figura 16:
Mineralização incompleta do ramo vertical da mandíbula de macho de Ateles
marginatus de vida livre (MHN-UFRJ-33606)...............................................71
Figura 17:
Formação periostal bilateral em osso parietal de fêmea da espécie Ateles
belzebuth de vida livre (MPEG-5048).............................................................71
Figura 18:
Fratura mandibular em Ateles chamek de sexo indeterminado de vida livre
(MHN-UFRJ-33621).......................................................................................72
Figura 19:
Fratura mandibular em ramo horizontal esquerdo de fêmea de vida livre da
espécie Ateles chamek (MZ-USP-5602)..........................................................72
Figura 20:
Trauma de mandíbula de origem desconhecida em porção lateral direita em
fêmea de vida livre da espécie Ateles chamek (MHN-UFRJ-6037)................73
Figura 21:
Fratura com consolidação incompleta de ramo horizontal de mandíbula
esquerda de fêmea jovem da espécie Ateles paniscus oriunda de cativeiro
(MPEG-4069)..................................................................................................73
Figura 22:
Fratura com proliferação óssea na inserção do arco zigomático esquerdo (osso
maxilar) de fêmea de vida livre da espécie Ateles paniscus (MPEG1243)................................................................................................................74
Figura 23:
Fêmea de vida livre da espécie Ateles paniscus com lábio leporino e fenda
palatina (MPEG-1245).....................................................................................74
Figura 24:
Fêmea de vida livre da espécie Ateles paniscus com lábio leporino e fenda
palatina (MPEG-1267).....................................................................................75
Figura 25:
Fêmea de vida livre da espécie Ateles paniscus com lábio leporino e fenda
palatina (MPEG-6979).....................................................................................75
Figura 26:
Distribuição dos sincrânios de Ateles sp. com afecções dentárias de acordo com
a espécie e sexo................................................................................................76
Figura 27:
Distribuição dos sincrânios de Ateles sp. com afecções dentárias de acordo com
a espécie e local de vida...................................................................................76
Figura 28:
Geminação do dente 204 e seu correspondente supranumerário com o
205...................................................................................................................78
Figura 29:
Anomalia dentária de conformação em dente 205 de fêmea de vida livre da
espécie Ateles belzebuth (MPEG-5033)..........................................................79
Figura 30:
Anomalia de conformação em fêmeas de vida livre da espécie Ateles
chamek...............................................................................................................79
Figura 31:
Anomalia de conformação em elemento 109 de fêmea de vida livre da espécie
Ateles paniscus (MPEG-1166).........................................................................80
Figura 32:
Ausência dentária de 209 em fêmea de Ateles chamek de vida livre (MHNUFRJ-31293)...................................................................................................81
Figura 33:
Dentes supranumerários adjacentes ao elemento 209 em fêmeas de vida livre
da espécie Ateles paniscus...............................................................................81
Figura 34:
Dentes pré-molares supranumerários em fêmeas de vida livre da espécie Ateles
belzebuth..........................................................................................................82
Figura 35:
Presença de dentes pré-molares supranumerários e apinhamento dentário em
fêmea de vida livre da espécie Ateles marginatus (MPEG-5143)...................82
Figura 36:
Presença de dentes pré-molares superiores supranumerários e apinhamento
dentário em animal de vida livre da espécie Ateles chamek (MHN-UFRJ33620)..............................................................................................................83
Figura 37:
Perda dentária antes e após a morte.................................................................84
Figura 38:
Fêmea de vida livre da espécie Ateles paniscus apresentando perda dentária
ocorrida antes da morte....................................................................................85
Figura 39:
Fratura dentária em dente 203, com exposição de câmara pulpar coronal e
reabsorção de margem alveolar, em animal de sexo indefinido da espécie
Ateles paniscus (MPEG-1571).........................................................................85
Figura 40:
Presença de pigmentação de esmalte em Ateles sp. de sexo indeterminado
(MPEG-23209)................................................................................................86
Figura 41:
Macho de Ateles sp. de cativeiro (MPEG-4063) com alterações ósseas
características de doença periodontal..............................................................87
Figura 42:
Fêmea de Ateles marginatus de vida livre (MZ-USP-5606) com alterações
ósseas características de doença periodontal ...................................................87
Figura 43:
Fêmea de Ateles marginatus de vida livre evidenciando reação periostal em
face vestibular da crista alveolar, desde dente 203 até o 207 (MZ-USP19325)..............................................................................................................87
Figura 44:
Apinhamento dentário dos dentes 303 e 304 em macho de Ateles paniscus de
cativeiro (MPEG-8855)...................................................................................88
Figura 45:
Apinhamento dentário dos dentes 301 e 401 em fêmea de Ateles paniscus de
vida livre (MPEG-6992)..................................................................................88
Figura 46:
Apinhamento dentário de dentes pré-molares superiores de Ateles marginatus
de vida livre (MZ-USP-19322)........................................................................89
Figura 47:
Deiscência óssea alveolar e fenestração em dentes 205 e 206 de Ateles paniscus
de vida livre (MPEG-6992).............................................................................89
Figura 48:
Deiscência óssea alveolar em dente 303 fraturado de Ateles paniscus de vida
livre (MPEG-22052)........................................................................................90
Figura 49:
Deiscência óssea alveolar em dente 203 de fêmea jovem da espécie Ateles
chamek (MHN-UFRJ-506)..............................................................................90
Figura 50:
Fenestração óssea alveolar em dente 206 de Ateles marginatus de vida livre
(MZ-USP-19324).............................................................................................91
Figura 51:
Fenestração óssea alveolar em dente 305 de macho jovem de cativeiro da
espécie Ateles paniscus (MPEG-6984)............................................................92
Figura 52:
Fenestração óssea alveolar em fêmea jovem de cativeiro da espécie Ateles
paniscus (MPEG-4070)...................................................................................92
Figura 53:
Desgaste dentário grau 2 em dentes 301 e 401 de fêmea de Ateles marginatus
de vida livre (MPEG-5041).............................................................................93
Figura 54:
Exposição de furca grau 1 em dente 207 de macho de vida livre da espécie
Ateles belzebuth (MPEG-5036).......................................................................95
Figura 55:
Exposição de furca grau 2 em dente 107 de fêmea de vida livre da espécie
Ateles paniscus (MPEG-1166).........................................................................95
Figura 56:
Exposição de furca grau 3 em dente 207 de fêmea de vida livre da espécie
Ateles paniscus (MPEG-996)...........................................................................96
Figura 57:
Exposição de câmara pulpar coronal com escurecimento dentário em dentes
405 e 406 fraturados em macho de vida livre da espécie Ateles belzebuth
(MPEG-5036)..................................................................................................97
Figura 58:
Exposição de câmara pulpar coronal com escurecimento dentário em dente 103
fraturado de macho de vida livre da espécie Ateles paniscus (MPEG1158)................................................................................................................97
Figura 59:
Exposição de câmara pulpar coronal, em dente 204 com alterações sugestivas
de cárie, de macho de vida livre da espécie Ateles paniscus (MPEG21796)..............................................................................................................98
Figura 60:
Exposição de câmara pulpar coronal, em dente 103 com alterações sugestivas
de cárie, de fêmea de vida livre da espécie Ateles marginatus (MZ-USP19325)..............................................................................................................98
Figura 61:
Fratura dentária grau 2, com exposição de câmara pulpar coronal e
escurecimento dentário em elemento 203 de macho de vida livre de Ateles
paniscus (MPEG-21617).................................................................................100
Figura 62:
Fratura dentária longitudinal, grau 2, com exposição de câmara pulpar e
escurecimento dentário em elemento 209 de macho de vida livre de Ateles
paniscus (MPEG-1158)...................................................................................100
Figura 63:
Giroversão dos dentes 109 e 209 de macho de vida livre da espécie Ateles
marginatus (MHN-UFRJ-32701)....................................................................101
Figura 64:
Giroversão de todos os pré-molares inferiores em Ateles chamek de vida livre e
sexo indeterminado (MHN-UFRJ-33613).......................................................101
Figura 65:
Reabsorção da crista alveolar em pré-molares e molares superiores de fêmea de
Ateles paniscus de vida livre (MPEG-1238)...................................................102
Figura 66:
Reabsorção da crista alveolar em pré-molares e molares superiores de Ateles
paniscus de vida livre e sexo indeterminado (MPEG-1571)...........................102
LISTA DE TABELAS
Tabela 1:
Distribuição do número de sincrânios avaliados de acordo com a espécie e
coleção de procedência....................................................................................59
Tabela 2:
Distribuição dos sincrânios de Ateles sp. de acordo com as principais afecções
e local de vida..................................................................................................65
Tabela 3:
Distribuição e ocorrência das alterações oclusivas segundo espécie e
sexo...................................................................................................................66
Tabela 4:
Distribuição e ocorrência dos sincrânios assimétricos segundo espécie e
sexo..................................................................................................................68
Tabela 5:
Distribuição da ocorrência das afecções dentárias avaliadas de acordo com o
local de vida em sincrânios de Ateles sp..........................................................77
Tabela 6:
Distribuição e ocorrência de sincrânios com perda dentária antes da morte
segundo espécie e sexo....................................................................................83
Tabela 7:
Distribuição dos indivíduos com perda dentária ocorrida antes da morte de
acordo com a espécie e grau da lesão..............................................................84
Tabela 8:
Distribuição e ocorrência do desgaste dentário por espécie e grau da
lesão.................................................................................................................93
Tabela 9:
Identificação dos sincrânios acometidos pela exposição de furca com
informações referentes ao sexo, local de vida e grau da lesão........................94
Tabela 10:
Distribuição do número de dentes fraturados por grau de fratura...................99
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 22
2 REVISÃO DE LITERATURA.............................................................................................. 25
2.1 Macaco-Aranha (Ateles sp.)............................................................................................ 26
2.1.1 Características Gerais da Espécie........................................................................... 26
2.1.2 Dieta......................................................................................................................... 28
2.2 Sincrânios............................................................................................................................ 29
2.2.1 Mandíbula.................................................................................................................... 30
2.2.2 Rostro........................................................................................................................... 30
2.2.3 Abobada Craniana....................................................................................................... 31
2.2.4 Arcos Zigomáticos........................................................................................................31
2.2.5 Dentes...........................................................................................................................31
2.3 Dentes..................................................................................................................................32
2.3.1 Anatomia e Fisiologia.................................................................................................. 32
2.3.2 Classificação................................................................................................................ 34
2.3.3 Linguagem Anatômica para Odontologia....................................................................36
2.3.4 Dentição dos Primatas................................................................................................. 37
2.3.5 Dentição dos Primatas da Família Atelidae................................................................ 40
2.4 Avaliação Odontológica...................................................................................................... 40
2.5 Principais Lesões Odontológicas dos Primatas Neotropicais............................................. 43
2.5.1 Anomalias Dentárias de Número................................................................................. 43
2.5.2 Anomalias Oclusivas.................................................................................................... 45
2.5.3 Alterações Amelo-Cementárias....................................................................................46
2.5.4 Doença Periodontal..................................................................................................... 47
2.5.5 Cárie.............................................................................................................................50
2.5.6 Desgaste....................................................................................................................... 52
2.5.7 Trauma......................................................................................................................... 53
2.5.8 Outras Alterações em Ossos do Sincrânio................................................................... 55
3 OBJETIVOS.......................................................................................................................... 58
4 MATERIAL E MÉTODOS................................................................................................... 59
5 RESULTADOS...................................................................................................................... 64
5.1 Alterações em Sincrânios................................................................................................ 65
5.1.1 Alterações Oclusivas................................................................................................ 66
5.1.2 Assimetria.................................................................................................................67
5.1.3 Alterações Ósseas.................................................................................................... 69
5.2 Afecções Dentárias......................................................................................................... 75
5.2.1 Anomalia Dentária de Conformação....................................................................... 77
5.2.2 Anomalia de Número............................................................................................... 80
5.2.3 Alterações Amelo-Cementárias................................................................................85
5.2.4 Doença Periodontal................................................................................................. 86
5.2.5 Apinhamento Dentário............................................................................................. 88
5.2.6 Deiscência Óssea Alveolar...................................................................................... 89
5.2.7 Fenestração Óssea Alveolar.................................................................................... 91
5.2.8 Desgaste Dentário....................................................................................................92
5.2.9 Exposição de Furca................................................................................................. 94
5.2.10 Exposição de Câmara Pulpar................................................................................ 96
5.2.11 Fratura Dentária....................................................................................................98
5.2.12 Giroversão Dentária............................................................................................ 100
5.2.13 Reabsorção da Crista Alveolar............................................................................ 102
6 DISCUSSÃO....................................................................................................................... 103
7 CONCLUSÕES................................................................................................................... 115
8 REFERÊNCIAS................................................................................................................... 116
Pais, F. R. O. Avaliação Odontológica em Sincrânios de Macaco-Aranha (Ateles sp.).
[Dissertação de Mestrado]. Vila Velha: Pós-Graduação em Ciência Animal, UVV – Centro
Universitário Vila Velha, 2011.
RESUMO
Os dentes, com suas incontáveis formas, desempenham importante papel no estudo da vida
animal, tendo como vantagem o fato de serem formados por materiais resistentes que
sobrevivem a situações adversas. A história natural de uma espécie pode ser determinada
através de interpretações do seu sincrânio. O estudo da dentição pode qualificar uma espécie
animal, assim como fornecer informações sobre abundância, idade, sexo, demografia e dieta.
O objetivo deste trabalho foi avaliar sincrânios de Ateles sp., oriundos de vida livre e
cativeiro, armazenados em coleções de mastozoologia, com o intuito de estabelecer as
principais alterações de sincrânios e afecções dentárias. Foi efetuada avaliação de 253 Ateles
sp. depositados nas coleções do Museu Paraense Emílio Goeldi, Museu Histórico Nacional da
Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Museu de Zoologia da Universidade de São
Paulo. Em sincrânios foram encontradas: alterações oclusivas (26,5%), assimetria (14,7%) e
alterações ósseas (5,3%). As afecções dentárias foram: anomalia dentária de conformação
(2,6%), anomalia de número (28,6%), alterações amelo-cementárias (85,5%), apinhamento
dentário (7,9%), deiscência (4,4%), fenestração (3%), desgaste dentário (36,1%), exposição
de furca (3,1%), exposição de câmara pulpar (15%), fratura dentária (13,2%), giroversão
dentária (0,9%) e reabsorção de crista alveolar (27,8%). Conclui-se que os Ateles sp. possuem
afecções em sincrânio, sendo as alterações oclusivas os achados mais significativos em
animais de cativeiro (55%); foram encontrados animais de vida livre de regiões distintas com
lesões características de lábio-leporino e fenda palatina, sendo este achado incomum para este
gênero; os dois grupos de Ateles sp. possuem afecções dentárias semelhantes.
Palavras-chave:
primata
neo-tropical,
estomatognático, lesões orais, dentes.
Atelidae,
odontologia
veterinária,
sistema
Pais, F. R. O. Odontological Evaluation in Skulls of Spider Monkeys (Ateles sp.).
[Dissertação de Mestrado]. Vila Velha: Pós-Graduação em Ciência Animal, UVV – Centro
Universitário Vila Velha, 2011.
ABSTRACT
The countless teeth forms play an important role in animal study, since teeth are made of
tough materials that can survive even the most adverse situations. Animal history can also be
determined by the skull interpretation. The dentition’s study may qualify animal species, as
well as provide information about abundance, age, sex, demography and diet. The present
study aimed to evaluate skulls of free-raging and captive Ateles sp., kept in museum
collections, in order to establish the most important oral lesions and skull diseases. For this
purpose, this study evaluated 253 Ateles sp., kept in the Museu Paraense Emilie Goeldi,
Museu Histórico Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro and Museu de Zoologia
de São Paulo. In skulls were found: malocclusion (26,5%), asymmetry (17,7%) and
osteological lesions (5,3%). The most important oral lesions found were: Dental conformation
anomaly (2,6%), numbering anomaly (28,6%), enamel and cementum lesions (85,5%),
crowding (7,9%), dehiscence (4,4%), fenestration (3%), teeth wear (36,1%), furcation
exposure (3,1%), exposure of tooth chamber (15%), dental fracture (13,2%), dental
giroversion (0,9%) and resorption of alveolar crest (27,8%). It was concluded that Ateles sp.
has skull diseases, represented mostly by malocclusion in captive animals (55%); free-raging
animals from different locations were found with lesions that were similar to oral and palate
cleft, which was uncommon for this genus; both free-raging and captive Ateles sp. have
similar oral diseases.
Keywords: neotropical primate, Atelidae, veterinary dentistry, oral, stomatognathic system,
oral lesions, tooth.
22
1 INTRODUÇÃO
A história natural de uma espécie animal pode ser determinada por meio de
interpretações detalhadas das formas dos sincrânios (HILLSON, 1996; ELBROCH, 2006). As
coleções são essenciais para o entendimento da evolução, taxonomia e filogenia. A
importância de uma coleção está não apenas na diversidade de espécimes mantidas em um
determinado acervo, como também se manifesta de acordo com o número de indivíduos de
uma mesma espécie coletados durante um dado período de tempo (ELBROCH, 2006).
Os museus permitem a avaliação de condições patológicas sofridas por animais
selvagens durante a vida, sem o perigoso e árduo manejo de algumas espécies (DEGUSTA e
MILTON, 1998). Por esse motivo, é crescente o número de pesquisas que utilizam sincrânios
com essa finalidade (FITCH e FAGAN, 1982; PENZHORN, 1984; ERB e NORMAN, 1996;
SIMÕES-LOPES, 2006; ROSSI Jr. et al., 2007a; ROSSI Jr. et al., 2007b; FECCHIO et al.,
2008).
Os dentes, com suas incontáveis formas, desempenham um importante papel no estudo
da vida animal (HILLSON, 1996; UNGAR e WILLIAMSON, 2000; DAYAN et al., 2002;
ELBROCH, 2006). Eles são achados comuns em sítios arqueológicos de vários períodos,
tendo como vantagem o fato de serem formados por materiais resistentes que resistem a uma
ampla variedade de situações adversas (HILLSON, 1996; DEGUSTA et al., 2003; DENNIS et
al., 2004). Entretanto, poucos trabalhos se propõem a avaliar detalhadamente aspectos clínicos
do sincrânios de primatas neotropicais.
O estudo da dentição pode qualificar uma determinada espécie animal, assim como
fornecer informações sobre sua abundância, idade, sexo (HILLSON, 1996; WOOD et al.,
1991; ELBROCH, 2006), demografia e dieta (HILLSON, 1996). Segundo Badyaev (1998), os
dentes dos mamíferos figuram também como indicadores de estresse ambiental.
As consequências das alterações odontológicas na saúde geral do paciente, seja ele
doméstico ou selvagem, fizeram com que a odontologia ocupasse um lugar de destaque no
meio veterinário. A odontologia preventiva é importante para que haja preservação dos
mecanismos de digestão, mantendo assim a sanidade geral, a eficiência reprodutiva e
aumentando a expectativa de vida dos animais selvagens mantidos em cativeiro (PACHALY,
2006; FECCHIO et al., 2009).
23
O programa de cuidados de um plantel de uma instituição que abriga animais
selvagens em cativeiro deve incluir a odontologia preventiva, para que se detectem
precocemente as lesões já existentes, eliminando assim as causas de seu agravamento e,
consequentemente, aumentando a eficácia do tratamento (PACHALY, 2006).
Alguns trabalhos têm sido escritos visando descrever a anatomia do crânio e os
diferentes tipos de dentição animal, assim como suas alterações (AZARIAS et al., 2006;
ROSSI Jr. et al., 2007a; ROSSI Jr. et al., 2007b; FECCHIO et al., 2008). Entretanto, o variado
número de espécies dificulta o diagnóstico das condições patológicas, visto que a forma
dentária varia demasiadamente entre os animais selvagens (MILES e GRIGSON, 2003;
FECCHIO et al., 2009).
A estreita relação filogenética dos primatas não-humanos (PNH) com o homem
tornou-os excelentes modelos para o estudo da biologia e comportamento (SIBAL e
SAMSON, 2001). Algumas pesquisas sobre a evolução da gengivite e periodontite foram
feitas utilizando esses animais, permitindo que variáveis impossíveis em modelos humanos
fossem avaliadas (BARDACH e KELLY, 1988; SIBAL e SAMSOM, 2001). Da mesma
forma, alguns trabalhos têm sido desenvolvidos utilizando sincrânios de primatas para outros
fins diversos (SHAW, 1927; HORNBECK e SWINDLER, 1967; KANAZAWA e
ROSENBERGER, 1989; RAVOSA e ROSS, 1994; DEGUSTA e MILTON, 1998;
DEGUSTA et al., 2003).
Os primatas neotropicais representam um desafio ao médico veterinário, já que além
do potencial zoonótico, existem muitas diferenças entre as dentições das variadas espécies
(JOHNSON-DELANEY, 2008). As afecções dentárias são frequentes em platirrinos (espécies
do novo mundo ou neotropicais) mantidos em cativeiro (VALENÇA-MONTENEGRO et al.,
2005; VERONA e PISSINATTI, 2006) e sua fórmula dentária quase nunca é estudada com
riqueza de detalhes, a não ser por valores históricos. O número de dentes, assim como sua
forma e posição, pode afetar a dieta, a determinação da idade, a socialização, a dominância
sexual, os ábitos alimentares e a mastigação (AMAND e TINKELMAN, 1985). Como
consequência, transtornos sistêmicos como desnutrição ou infecções podem estar presentes
(PACHALY, 2006).
As espécies do gênero Ateles estão ameaçadas pela caça e pela destruição do seu
habitat, pelo simples fato de não conseguirem sobreviver em áreas fragmentadas (BICCAMARQUES et al., 2006). Segundo a International Union for Conservation on Nature (2001),
as populações de Ateles belzebuth, Ateles chamek e Ateles marginatus estão em declínio, o
que as coloca na lista das espécies em perigo de extinção. A espécie Ateles paniscus está
24
classificada pela mesma organização como vulnerável. De acordo com a Lista Nacional das
Espécies Brasileiras Ameaçadas de Extinção do Ministério do Meio Ambiente (BRASIL,
2010), A. belzebuth e A. marginatus são consideradas espécies ameaçadas.
Em decorrência da escassez de estudos referentes à odontologia de espécies brasileiras
de Ateles sp., principalmente em animais de vida livre, este trabalho avaliou lesões
odontológicas em 253 sincrânios, oriundos de indivíduos coletados por pesquisadores e
depositados nas coleções do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP), do
Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e do Museu Nacional da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (MHN-UFRJ).
25
2 REVISÃO DE LITERATURA
A cavidade oral, os dentes e os tecidos associados de todos os animais, sejam eles
domésticos ou selvagens, têm importância fundamental na manutenção da sanidade, podendo
afetar a eficiência do processamento dos alimentos (FAGAN, 1983; PACHALY, 2006).
A dentição tem como função não apenas a preensão e a mastigação, mas também é
usada na higiene da pelagem, demonstrações sociais, demonstrações de agressividade e como
meio de defesa (HILLSON, 1996). Algumas espécies animais a utilizam na inoculação de
peçonha, como meio de interação sexual, na predação, locomoção, fonação, como ferramenta
de trabalho e como instrumento para limpeza corpórea (FECCHIO et al., 2009).
As afecções da cavidade oral, causadas por microorganismos ou seus produtos, podem
ou não estar relacionadas a uma doença odontológica primária, podendo afetar tanto o tecido e
as estruturas que dão suporte ao dente, quanto lesioná-lo diretamente com a formação de
cáries. As fraturas dentárias, consideradas defeitos primários, podem levar à infecção da
cavidade pulpar, abscessos apicais com subsequente erosão do osso adjacente, resultando em
osteomielite e fistulação (PACHALY, 2006). Portanto, toda vez que um animal selvagem for
contido e anestesiado por qualquer que seja a razão, a cavidade oral deve ser examinada
(AMAND e TINKELMAN, 1985; PACHALY, 2006), já que o diagnóstico da maioria das
enfermidades orais é feito desta maneira (PACHALY, 2006).
As principais enfermidades orais que afetam os mamíferos selvagens cativos são as
alterações no desenvolvimento de tecidos calcificados, maloclusão, traumas e degeneração
dentária por atrito, abrasão, erosão e reabsorção. A dieta inadequada pode levar à ação de
microorganismos patogênicos, destruindo tecidos calcificados e causando inflamação dos
tecidos moles (PACHALY, 2006).
O trauma dentário, com consequente exposição da polpa dentária, é muito comum
tanto em carnívoros como primatas, ocorrendo principalmente pela mordedura de objetos e
lutas com animais do recinto. As ações humanas criminosas que ocorrem no tráfico de
animais e nos circos também podem ser responsáveis por esses traumas, com o simples intuito
de diminuir a periculosidade de algumas espécies (PACHALY, 2006).
26
2.1 Macaco-Aranha (Ateles sp.)
2.1.1 Características Gerais da Espécie
O macaco-aranha pertence à família Atelidae, subfamília Atelinae e gênero Ateles. A
taxonomia do referido gênero está sob discussão e ainda não foi totalmente esclarecida
(TAKAHASHI, 2008). As espécies reconhecidas do gênero e encontradas no Brasil são: A..
paniscus, A. belzebuth, A. chamek e A. marginatus. Esses animais habitam as florestas
primárias e as bordas dos rios da floresta amazônica, ocorrendo nos estados do Amazonas,
Acre, Pará, Rondônia, Roraima, Amapá e Mato Grosso (BICCA-MARQUES et al., 2006)
(Figura 1). Segundo Verona e Pissinatti (2006), o gênero Ateles pode ser encontrado também
na América Central.
Figura 1 – Distribuição geográfica das espécies brasileiras de Ateles sp.
27
As espécies do gênero Ateles são reconhecidas por serem grandes primatas
neotropicais, com peso entre 7 e 9 kg, membros longos e cauda preênsil (BICCA-MARQUES
et al., 2006), vivendo em média 20 anos (VERONA e PISSINATTI, 2006). O comprimento
médio da cabeça e corpo é de 540 mm e o da cauda 800 mm (BICCA-MARQUES et al.,
2006).
Esses primatas não apresentam dimorfismo sexual, podendo o clitóris proeminente ser
facilmente confundido com o pênis (BICCA-MARQUES et al., 2006). O pênis é alongado e
apresenta morfologia simples (VERONA e PISSINATTI, 2006).
Os dedos são longos e delgados e as mãos não têm polegares, característica esta que
está relacionada à sua locomoção por braquiação e escalada (BICCA-MARQUES et al.,
2006).
Esses primatas são arborícolas, ocupando o estrato mais alto da floresta, chegando a
alcançar 30 metros de altura, local com maior quantidade de frutos maduros (BICCAMARQUES et al., 2006). O macaco-aranha é extremamente adaptado à vida nas árvores
(CAMPBELL et al., 2005), descendo ao chão somente para beber água e consumir
importantes recursos ou, em áreas com baixa ocorrência de predadores, para socializar-se ou
atravessar áreas abertas (BICCA-MARQUES et al., 2006) (Figura 2).
Figura 2 – Ateles paniscus do Zoológico de São Paulo
28
2.1.2 Dieta
Os primatas neotropicais são animais que apresentam uma alimentação variada, com o
consumo de diferentes tipos de alimentos para suprir suas necessidades nutricionais, o que
torna difícil a correta descrição de suas tendências, preferências e adaptações dietéticas
(ROSENBERGER, 1992).
Um primata raramente come uma fruta inteira (KINZEY e NORKONK, 1990). O
processamento do alimento inclui processos de grande pressão de oclusão (perfuração, corte e
o cisalhamento) e de baixa pressão de oclusão (trituração e moedura) (ROSENBERGER e
KINZEY, 1976).
As frutas representam cerca de 90% de toda ingestão de alimentos de A. paniscus, que
dedica pouco tempo na ingestão de folhas, flores ou cascas (ROSENBERGER e KINZEY,
1976). A espécie tem preferência por frutas maduras, frescas e inteiras. Quando a fruta é
pequena e seu exocarpo pouco espesso, A. paniscus a come inteira. Estes animais também
podem remover o exocarpo com os dentes, engolindo as sementes juntamente com o arilo
(ROSENBERGER e KINZEY, 1976; WHITE, 1986). A ingestão de invertebrados não foi
observada nenhuma vez no estudo de Rosenberger e Kinzey (1976).
Bicca-Marques et al. (2006) relatam que a alimentação da espécie inclui uma grande
variedade de frutos, porém folhas, flores, sementes, cascas de árvores, madeira em
decomposição e terra estão presentes em menor quantidade. De acordo com Laska et al.
(2000), macacos-aranha em cativeiro mostram preferência por frutas maduras, ricas em
carboidratos, altamente energéticas, com baixo teor de água e com altos teores de magnésio,
cobre e manganês.
As famílias Atelinae e Alouattinae apresentam dietas totalmente distintas, apesar da
similaridade de seus pesos corpóreos e afinidade filogenética. Enquanto Atelinae é altamente
frugívora, Alouattinae é folívora (ANTHONY e KAY, 1993). Russo et al. (2005) relatam que
diferentes espécies de Ateles sp. consomem dietas similares, possuem organização social e
comportamento parecidos, tornando-as bons exemplos a serem utilizados em comparações
interespecíficas.
Em 1986, Frances White realizou um estudo no Peru com a espécie Ateles paniscus
chamek. Assim como fora observado por Rosenberger e Kinzey (1976), as frutas
representaram cerca de 80% da alimentação desses animais. Para White (1986), a maior
29
proporção de folhas e brotos pode ser resultado da menor disponibilidade de frutas e a
abundância de novas folhas na estação das secas.
Kinzey e Norkonk (1990) observaram que A. paniscus e Chiropotes satanas
consomem diferentes partes das mesmas espécies de frutas, cada uma delas com dureza
específica, usando diferentes técnicas de processamento. No estudo por eles realizado, A.
paniscus consumiu apenas o mesocarpo macio e a dureza das sementes não foi uma influência
significativa para a espécie, já que esses animais não são capazes de mastigá-las ou digeri-las.
Kinzey e Norkonk (1990) puderam ainda observar que nenhuma das sementes encontradas
nas fezes de A. paniscus foi mastigada, tendo sido cuspidas. De acordo com Russo et al.
(2005), esse padrão de alimentação do macaco-aranha mostra seu importante papel na
dispersão de sementes.
Segundo
Rosenberger
(1992),
é
provável
que
A.
paniscus,
um
primata
substancialmente de grande porte, tenha mandíbula, músculos, vestíbulo e dentes não
especializados no processamento de alimentos tão duros quanto C. satanas, usando como
referência o estudo realizado anteriormente por Kinzey e Norkonk (1990).
2.2 Sincrânios
O sincrânio caracteriza-se por um conjunto de ossos que abriga e protege o cérebro e
as porções iniciais do sistema digestório e respiratório. Ele é formado pelo crânio e pela
mandíbula, que trabalham de forma conjunta em funções como alimentação e comunicação.
(ELBROCH, 2006).
Os ossos do sincrânio podem ser classificados como pareados ou não pareados. Ossos
pareados são aqueles encontrados em ambos os antímeros, enquanto os não pareados são
encontrados em singularidade e estão geralmente associados com a linha média (ELBROCH,
2006).
Pode-se observar uma nítida simetria em todos os sincrânios, porém uma análise
detalhada pode revelar que é extremamente raro encontrar um animal cujos lados direito e
esquerdo sejam idênticos (ELBROCH, 2006).
30
2.2.1 Mandíbula
A mandíbula pode variar tanto no tamanho quanto na forma. Ela apresenta três
processos onde há inserção muscular e articulação com os ossos do crânio através do côndilo.
Esses processos são denominados angular, condilóide e coronóide e podem divergir de acordo
com as espécies e famílias em questão (ELBROCH, 2006).
A articulação temporomandibular (ATM) é responsável pela conexão da mandíbula ao
crânio. Por conta da enorme diversidade de conformações da ATM entre os primatas, sua
anatomia comparada é importante para a taxonomia (WALL, 1999).
2.2.2 Rostro
O formato do rostro varia consideravelmente entre as espécies. O comprimento e a
forma do osso nasal na superfície dorsal são muito importantes nessa identificação. A sutura
nasal pode estar fusionada e obliterada, sendo impossível determinar o início ou fim do osso
nasal. O limite posterior deste osso também é significativo, principalmente quando comparado
ao comprimento e formato dos ossos maxilar e pré-maxilar, que formam a superfície lateral e
ventral do rostro. A cavidade nasal é uma abertura criada pelos ossos nasais, pré-maxilares e
maxilares, onde se encontram os nervos e receptores olfatórios. Ela pode ser maior ou menor,
vertical ou abruptamente angulada (ELBROCH, 2006).
O forame infraorbital serve de passagem para nervos, veias e artérias e encontra-se
localizado lateralmente ao rostro. O tamanho e a forma do forame infraorbital podem variar
entre as espécies. Na superfície ventral do rostro estão o palato e os foramens incisivos. A
análise da forma e comprimento do palato, assim como seu fim, é essencial para o estudo do
sincrânio. O formato e tamanho dos forames incisivos e o alinhamento dos seus limites
anterior e posterior são igualmente importantes nessa tarefa (ELBROCH, 2006).
31
2.2.3 Abóbada Craniana
A região interorbital dos sincrânios dos mamíferos é formada pelo osso frontal. A
amplitude interorbital é uma variante importante na identificação, principalmente quando
comparada a amplitude pós-orbital. Os processos pós-orbitais são caracterizados por
extensões ósseas que se projetam do osso frontal para dar suporte à órbita (ELBROCH, 2006).
A superfície ventral é bastante complexa, sendo formada por numerosos ossos e
foramens. Podem-se observar também as bulhas auditivas, que são estruturas importantes
quando há comparações entre espécies. Os côndilos occipitais são duas grandes
protuberâncias em ambos os lados do forâmen magno, por onde passa a medula óssea
(ELBROCH, 2006).
2.2.4 Arcos Zigomáticos
Os arcos zigomáticos podem ser largos ou estreitos, delgados ou robustos, paralelos ou
convergentes. O ramo maxilar do arco zigomático conecta a parte anterior ao crânio, enquanto
o ramo escamoso o conecta ao posterior (ELBROCH, 2006).
2.2.5 Dentes
O estudo da dentição é uma importante ferramenta para a interpretação da vida animal
(ELBROCH, 2006). Os dentes podem variar em número, tamanho, formato e posição, até
mesmo em animais da mesma espécie (MILES e GRIGSON, 2003). Este assunto figura como
peça primordial para o entendimento do presente trabalho, portanto será abordado de forma
detalhada no capítulo 2.3.
32
2.3 Dentes
2.3.1 Anatomia e Fisiologia
A dentição dos mamíferos é formada por dentes de formato, constituição e distribuição
variada que, em conjunto com o periodonto, formam o órgão dentário (PACHALY, 2006). O
dente é constituído basicamente pela raiz firmemente inserida na cavidade óssea alveolar e
pela coroa (ELBROCH, 2006; PACHALY, 2006).
O periodonto é responsável pela fixação e sustentação do elemento dentário, sendo
constituído de tecido mole (gengiva e ligamento periodontal) e tecido duro (osso alveolar e
cemento). O ligamento periodontal é formado por fibras de tecido conjuntivo denso,
responsáveis pela união do dente ao osso alveolar através das fibras periodontais. A gengiva
fixa-se ao dente por meio do epitélio juncional, cuja região mais coronal forma o sulco
gengival. O epitélio juncional hígido une-se ao esmalte e forma um sulco gengival que, no
cão, apresenta em média 2 mm de profundidade (GIOSO, 2003) (Figura 3).
Figura 3 – Representação da anatomia dentária e tecidos adjacentes em dente de carnívoro:
esmalte (a), dentina (b), polpa (c), gengiva (d), cemento (e), ligamento periodontal (f) e osso
alveolar (g) (LOPES, 2008)
33
A coroa dentária é recoberta por uma delgada camada de esmalte, que é considerado a
estrutura biológica mais rígida do corpo de um animal (HILLSON, 1996; SWINDLER, 2002).
Segundo Pachaly (2006), essa estrutura duríssima e lisa é produzida pelos ameloblastos. A
coroa pode variar em tamanho, largura, altura e possuir um número variado de cúspides
(HILLSON, 1996; SWINDLER, 2002).
O esmalte é semitranslúcido, variando em cor de amarelo claro a branco. Esse
componente atinge sua espessura total antes da erupção dentária, sendo mais espesso nas
cúspides dos pré-molares e molares ainda não erupcionados e mais delgado ao redor da região
cervical. Os dentes decíduos têm uma camada de esmalte mais fina do que os permanentes e
podem ser ligeiramente mais brancos. O esmalte maduro é formado por cerca de 96% de
fosfato de cálcio inorgânico e pertence ao grupo mineral hidroxiapatita (HILLSON, 1996;
SWINDLER, 2002).
A dentina, constituída de materiais orgânicos e minerais (HILLSON, 1996) como
colágeno e hidroxiapatita (HILLSON, 1996; SWINDLER, 2002), é produzida pelos
odontoblastos (PACHALY, 2006). Essa estrutura é mais macia que o esmalte, porém mais
dura do que os ossos (HILLSON, 1996; SWINDLER, 2002). A dentina compõe tanto a
massa do dente, como sua raiz, sendo mais compressível e elástica do que o esmalte
(HILLSON, 1996; SWINDLER, 2002). De acordo com Pachaly (2006), a dentina caracterizase por uma estrutura permeada por microcanais.
Ao contrário dos ameloblastos, os odontoblastos continuam produtivos por toda vida.
Após a completude do crescimento dentário há produção de dentina secundária, que protege a
polpa da exposição, conforme o esmalte é desgastado. Essa característica pode ser observada
na forma de pequenas áreas de tecido escuro na superfície de oclusão dos dentes, podendo
ocupá-la totalmente com o passar dos anos (SWINDLER, 2002; GIOSO, 2003).
Os odontoblastos desempenham um importante papel nos traumatismos dentários, pois
são capazes de produzir a dentina restauradora ou terciária, que tem a função de tentar
impedir a comunicação da cavidade oral com a pulpar (GIOSO, 2003).
A raiz dentária é revestida externamente pelo cemento (SWINDLER, 2002;
PACHALY, 2006). Os cementoblastos produzem dois tipos de cemento: celular e acelular
(SWINDLER, 2002). O cemento celular é menos rígido que o esmalte e a dentina, podendo
ser comparado aos ossos (HILLSON, 1996; SWINDLER, 2002), exceto pelo fato de que não
pode ser reabsorvido e remodelado, crescendo camada por camada por aposição
(SWINDLER, 2002).
34
O remodelamento, entretanto, pode ocorrer quando o cemento é destruído pelos
odontoclastos, sendo estes os responsáveis pelo reparo das áreas lesionadas. Pelo fato do
cemento envolver a raiz do dente, as fibras do ligamento periodontal passam do osso alveolar
para se ligarem a ele, com o intuito de manter o dente em seu respectivo alvéolo (HILLSON,
1996; SWINDLER, 2002). O cemento, além de agregar tamanho e força ao dente, também é
responsável pela proteção da dentina (SWINDLER, 2002).
A polpa dentária ocupa a cavidade pulpar e é circundada pela dentina (HILLSON,
1996; SWINDLER, 2002). Ela é formada por artérias e veias, nervos, vasos linfáticos, filetes
nervosos, células e substância intercelular (SWINDLER, 2002; GIOSO, 2003). Essas
estruturas entram e saem do dente através do forame apical situado na extremidade da raiz.
Quando a polpa é exposta, por qualquer que seja a razão, ocorre dor intensa (SWINDLER,
2002; GIOSO, 2003).
A região do ápice dentário é o local por onde os vasos sanguíneos e as terminações
nervosas têm acesso ao dente (GIOSO, 2003). Ela varia de acordo com a espécie animal
estudada e sua anatomia deve ser observada, principalmente para a realização do tratamento
endodôntico. Esta região também mantém contato direto com o ligamento periodontal e, em
casos de periodontite, a polpa do dente também pode ser acometida (GIOSO, 2003).
2.3.2 Classificação
A maior parte dos mamíferos são difiodontes, o que significa que eles apresentam dois
conjuntos de dentes durante a vida. O primeiro conjunto é formado pela dentição decídua. Os
dentes molares não têm precursores decíduos. A dentição permanente repõe a dentição
decídua ao longo do tempo (WIGGS e BLOOM, 2003; ELBROCH, 2006).
Animais elodontes apresentam crescimento dentário contínuo durante toda a vida,
sendo necessário o desgaste constante. Os carnívoros, primatas e a maioria dos herbívoros são
anelodontes, ou seja, seus dentes permanentes não continuam a crescer após terem atingido
sua extensão máxima (PACHALY, 2006). Os anelodontes hipsodontes têm coroas muito
longas e raízes menores, como os equídeos e os ruminantes. Todavia, os anelodontes
braquiodontes como os carnívoros e os primatas, apresentam pequena diferença entre a
35
extensão da coroa clínica e da coroa anatômica (WIGGS e BLOOM, 2003; PACHALY,
2006).
A dentição também pode ser heterodonte ou homodonte. Um grande número de
espécies mamíferas apresenta mais de um tipo de dente, ou seja, são considerados
heterodontes. Quase todos os carnívoros e onívoros têm quatro tipos de dentes: incisivos,
caninos, pré-molares e molares. Esses dentes podem variar em número de acordo com a
espécie estudada (ELBROCH, 2006).
Os dentes incisivos são pequenos dentes em forma de cinzel localizados na região
frontal, mantêm suas raízes inseridas nos ossos pré-maxilares do crânio e seus
correspondentes inseridos na mandíbula. Eles são usados para cortar e retirar pedaços e, em
carnívoros e onívoros, no ato de cortar frutas, vegetais e carnes macias (ELBROCH, 2006).
Geralmente os carnívoros e onívoros possuem quatro caninos unicuspidados. Eles
caracterizam-se por grandes dentes de formato cônico usados para perfurar, capturar, segurar
e matar, além de servirem como armas nas disputas por território e na autodefesa
(ELBROCH, 2006).
Os dentes pré-molares e molares estão localizados distalmente e são usados na
mastigação, para cortar alimentos grandes e duros e moer materiais fibrosos. A grande
variedade de alimentos mastigados pelos animais é refletida na grande diversidade de formas
e formatos apresentados por esses dentes (POPOWICS e FORTELIUS, 1997; ELBROCH,
2006). Os dentes pré-molares, ao contrário dos molares, apresentam correspondentes decíduos
(ELBROCH, 2006). Segundo Popowics e Fortelius (1997), o padrão de superfície oclusiva
também pode estar associado aos diferentes potenciais de corte de um dente. Animais
carnívoros apresentam dentes de conformação carniceira, enquanto os herbívoros podem
apresentar formas solenodontes e bilofodontes.
Os molares dos mamíferos podem assumir diferentes formas adaptadas para a
mastigação. Apesar dos molares dos primatas nunca expressarem algumas das condições
extremas observadas em outros mamíferos, os termos seguintes são úteis na descrição de sua
morfologia. Animais com molares de coroas largas e baixas são denominados braquiodontes,
enquanto os hipsodontes possuem uma coroa relativamente elevada. Quando as espécies têm
molares de cúspides moderadamente arredondadas, baixas e separadas elas são chamadas
bunodontes. Se as cúspides formam cumes alinhados tanto transversalmente, quanto
obliquamente ao longo da cadeia da superfície de oclusão do dente, eles são chamados de
lofodontes. O molar selodonte caracteriza-se por cúspides que se expandem de forma
crescente, porém não é encontrado em nenhum primata (SWINLDER, 2002). Há um
36
questionamento no fato dos dentes molares serem dentes decíduos que nunca serão
substituídos ou se são dentes permanentes sem predecessores. A erupção dos molares é
normalmente usada como evidência de maturidade (ELBROCH, 2006).
De acordo com Ungar e Williamson (2000), a dentição dos mamíferos reflete sua
dieta, já que alimentos de diferentes consistências requerem formatos igualmente distintos
para o seu processamento. Muitos paleontólogos têm utilizado a relação entre formato do
dente e dieta de mamíferos vivos para inferir adaptações dietéticas de fósseis. Grande parte
desses estudos está baseada em dentes não desgastados, cujos aspectos funcionais são mais
facilmente medidos (UNGAR e WILLIAMSON, 2000; DENNIS et al., 2004). No entanto, o
formato dos dentes muda de acordo com a sua utilização e a maior parte dos dentes
encontrados apresenta algum tipo de desgaste (UNGAR e WILLIAMSON, 2000).
2.3.3 Linguagem Anatômica para Odontologia
Devido a sua uniformidade de conformação, é possível utilizar muitos termos em
diferentes tipos de dentes (HILLSON, 1996). Com o intuito de seguir uma mesma referência
anatômica, diversos autores adotaram a seguinte nomenclatura para os diversos
posicionamentos dentários (HILLSON, 1996; GIOSO, 2003; KOWALESKY, 2005;
AZARIAS et al., 2006):
- Face vestibular: face externa de um dente, que mantém contato com o vestíbulo ou
lábio.
- Face mesial: face do dente mais próxima da linha mediana do arco dentário em
direção ao plano entre os incisivos centrais direito e esquerdo.
- Face lingual: face dos dentes maxilares e mandibulares que se volta para a língua.
- Face oclusal: é a superfície de mastigação dos dentes posteriores com cúspides,
cristas e sulcos. Para Kowalesky (2005), os dentes caninos e incisivos não apresentam face
oclusal.
- Margem incisal: é citada por Kowalesky (2005) e Gioso (2003) como sendo a
margem, crista ou superfície cortante dos dentes que terminam em lâmina.
- Palatina: face voltada para o palato.
37
- Apical: em direção ao ápice da raiz.
- Coronal: em direção à coroa do dente.
- Distal: face do dente mais distante da sínfise mentoniana.
- Interproximal: entre os dentes; faces distal ou mesial.
- Jugal, vidiana ou vestibular: relativas à bochecha, geralmente mucosa.
2.3.4 Dentição dos Primatas
O dente típico de um mamífero é formado por uma coroa coberta por esmalte
(HILLSON, 1986; SWINDLER, 2002). Em todos os primatas, assim como na maior parte
dos mamíferos, o dente é preso ao seu respectivo alvéolo pelo ligamento periodontal
(SWINDLER, 2002).
Os primatas são animais heterodontes que possuem dentes incisivos, caninos, prémolares e molares (SWINDLER, 2002; WIGGS e HALL, 2003). Esses animais possuem
dentes com uma, duas ou três raízes. Em muitas famílias de prossímios os dentes anteriores
inferiores formam uma espécie de “pente”, que é usado no ato de retirar os próprios pelos. Os
dentes superiores anteriores são comumente reduzidos e espaçados (HILLSON, 1996).
Os primatas, assim como os carnívoros, são classificados como anelodontes
braquiodontes. Esses animais apresentam uma diferença anatômica no ápice radicular, com
grande importância na planificação e execução do tratamento endodôntico. Os primatas e
carnívoros mais jovens apresentam ápice radicular aberto na forma de um amplo forame
apical, porém essa característica se mantém nos primatas ao longo de toda sua vida
(PACHALY, 2006).
Normalmente os primatas apresentam mandíbula isognata, ou seja, a zona oclusal dos
molares é coberta ou quase totalmente coberta pelo oposto maxilar (WIGGS e HALL, 2003).
Segundo Swindler (2002), a dentição decídua de todos os primatas do novo mundo é:
di2 – dc1 – dp3 / di2 – dc1 – dp3, ou seja, possuem dois incisivos, um canino e três pré-molares
no hemi-arco dentário superior e inferior.
Os incisivos superiores dos primatas apresentam uma forma laminar cortante,
enquanto os incisivos inferiores e caninos da grande maioria dos prossímios formam um
alinhamento dental procumbente (SWINDLER, 2002).
38
Tanto os caninos inferiores quanto os superiores têm função perfurante e formato de
cone, exceto em alguns gêneros de prossímios, cujos caninos inferiores e incisivos se unem
para formar o arco dentário. Existe pouca ou nenhuma característica significante do dente
canino que permita a diferenciação sexual em primatas do novo mundo (SWINDLER, 2002).
Segundo Amand e Tinkelman (1985), o dimorfismo sexual do tamanho do canino é indício de
que este dente, além de atuar na alimentação, também tem um papel importante na predação,
defesa e nas demonstrações comportamentais. Alguns gêneros de platirrinos, como Cebus e
Ateles (Ateles geoffroyi) apresentam um grau modesto de dimorfismo sexual destes dentes
(GUATELLI-STEINBERD et al., 2009).
Gingerich e Shoeninger (1979) estudaram 48 espécies de primatas e concluíram que a
variação observada em dentes caninos não pode ser explicada apenas pelo dimorfismo sexual,
devendo a variação geográfica ser considerada. Em um estudo realizado com muriquis
(Brachyteles arachnoides), as fêmeas do norte e sul do Brasil não demonstraram diferenças
em relação ao comprimento de seus caninos superiores e inferiores. Entretanto, machos do sul
apresentaram caninos superiores mais compridos que os machos do norte. Os caninos
inferiores desses animais, assim como os das fêmeas, não apresentaram nenhuma alteração
significativa (SÁ et al., 1993).
Os pré-molares estão situados entre os caninos e os molares, apresentando variável
número de cúspides. Os molares possuem entre três e cinco cúspides principais e, junto com
os pré-molares, são responsáveis pela trituração (SWINDLER, 2002).
O padrão de
desenvolvimento do cisalhamento das cúspides dos molares também sofre influência dos
hábitos dietéticos. Enquanto espécies folívoras demonstram maior desenvolvimento de
cisalhamento, nas frugívoras como Ateles sp. ele ocorre em menor grau (ANTHONY e KAY,
1993). No estudo de Popowics e Fortelius (1997), as faces das extremidades bucais dos dentes
de primatas folívoros possuíam pequeno potencial de corte.
Os primatas selecionam uma dieta de baixa dureza e possuem uma morfologia oclusal
pré-formada, o que significa que sua coroa é totalmente funcional desde a erupção e
necessariamente de baixa altitude. O potencial de corte de um dente pode ser mantido apenas
com um atrito relativamente alto, o que por sua vez é incompatível com a manutenção de um
formato oclusal pré-formado. Sendo assim, a altura da coroa torna-se uma variável
fundamental no controle da afiação e, dentes com coroas baixas, podem suportar um atrito
relativamente limitado (POPOWICS e FORTELIUS, 1997).
39
Animais heterodontes precisam ter pelo menos duas habilidades para conseguirem se
alimentar. A primeira delas consiste na abertura da fonte da comida e, a segunda, em mastigála antes de engoli-la. Na maior parte das vezes, a dentição anterior é usada para perfurar e a
posterior para triturar (KINZEY e NORKONK, 1990).
Os primatas folívoros selecionam folhas de baixa dureza que não requerem uma alta
força de oclusão para serem partidas. Assim como os animais ungulados, os primatas estão
limitados a uma alimentação não abrasiva que pode ser processada com uma baixa força de
oclusão, ou a alimentos com alta energia que possibilitem a ingestão de pequenas quantidades.
A habilidade de utilizar as mãos no ato da alimentação permitiu que os primatas fossem mais
seletivos em sua dieta quando comparados à maior parte dos herbívoros. Portanto, primatas
folívoros devem consumir poucas plantas duras para que possam minimizar o desgaste
causado pelo atrito na superfície oclusiva dos dentes (POPOWICS e FORTELIUS, 1997).
De acordo com Henderson (2007), existe uma grande variação na sequência da
erupção dentária em platirrinos, com algumas espécies apresentando a erupção dos molares
precocemente e outras tardiamente. Em seu estudo, 73 animais das espécies A. belzebuth,
Ateles fusciceps, A. geoffroyi e A. paniscus foram avaliados. Todos os espécimes
apresentaram similaridade em sua erupção dentária, portanto foram incluídos em um só
grupo. Em 15 animais, os incisivos erupcionaram antes do primeiro molar e, em 13 deles,
antes do segundo molar. Todos os animais tiveram o segundo pré-molar erupcionando antes
do segundo molar. Os caninos precederam o terceiro molar na erupção em 16 dos 18 animais
avaliados.
Uma metodologia para a classificação dos animais do gênero Alouatta por faixa etária,
utilizando a erupção dentária como critério, foi elaborada por Ravosa e Ross (1994). Nessa
metodologia, os sincrânios foram divididos em cinco estágios etários, onde: 1, apenas a
dentição decídua erupcionada; 2, permanente I1, I2 e M1 erupcionados; 3, M2 permanente.
Bowen e Koch (1970), em seu trabalho sobre a determinação da idade por meio da
dentição em primatas da espécie Macaca irus, afirmaram que a consistência física da dieta
pode influenciar a erupção dentária, o que torna questionável a utilização de dados coletados
de animais nascidos em cativeiro. Dependendo da espécie animal estudada e o conhecimento
sobre suas características específicas, podem-se utilizar outros meios para que a idade seja
então estimada. Segundo Winkler (1991), a natureza espécie-específica da dieta, o
crescimento crânio-facial, e os padrões diferentes de erupção dentária fazem com que a
comparação entre táxons tenha um valor limitado. Azarias et al. (2006), em seu estudo sobre a
morfologia dos dentes do bicho-preguiça-de-coleira (Bradypus torquatus), classificou os
40
animais em jovens e adultos de acordo com a variação fenotípica da pelagem que esta espécie
apresenta.
2.3.5 Dentição dos Primatas da Família Atelidae
A fórmula dentária de A. paniscus é composta por 36 dentes, sendo dois incisivos
superiores e dois inferiores; um dente canino superior e um inferior; três dentes pré-molares
superiores e três inferiores; três dentes molares superiores e três inferiores (di2 – dc1 – dp3– dm3
/ di2 – dc1 – dp3– dm3) (Bateson, 1894). De acordo com Colyer (1919), o gênero Ateles
apresenta uma grande variação de posicionamento dos dentes.
Apesar da proximidade filogenética, ocorre uma clara diferenciação dos incisivos de
espécies de primatas folívoras e frugívoras. Táxons folívoros como Alouatta e Brachyteles
possuem incisivos estreitos, enquanto nos frugívoros Ateles e Lagothrix esses mesmos dentes
são relativamente mais largos (HYLANDER, 1975; ANTHONY e KAY, 1993).
Segundo Miles e Grigson (2003), os molares de Ateles sp. apresentam quatro cúspides,
com exceção do terceiro molar, que possui cinco. O padrão de desenvolvimento do
cisalhamento das cúspides dos molares também sofre influência dos hábitos alimentares.
Enquanto espécies folívoras demonstram maior desenvolvimento de cisalhamento, nas
frugívoras como Ateles ele ocorre em menor grau (ANTHONY e KAY, 1993).
Em 1990, Kinzey e Norkonk realizaram um estudo no Suriname sobre a dureza como
base na escolha de frutas por C. satanas e A. paniscus. Pode-se então perceber que os molares
de A. paniscus têm elevações mais altas que os de C. satanas e seus caninos não são tão
lateralmente divergentes ou robustos.
2.4 Avaliação Odontológica
A avaliação odontológica é muitas vezes negligenciada, principalmente pelo risco na
manipulação da boca e suas estruturas (PACHALY, 2006; GIOSO et al., 2008). Diversos
41
fatores contribuem para o diagnóstico tardio das alterações odontológicas dos animais
selvagens, incluindo a alta periculosidade, o variado número de espécies e a presença de
recintos amplos e coletivos (FECCHIO et al., 2009). Entretanto, esses problemas podem ser
minimizados treinando adequadamente a equipe de biólogos, tratadores e os demais
profissionais que mantêm contato com os animais, para que eles sejam capazes de identificar
possíveis sinais sugestivos de enfermidades odontológicas com precocidade (PACHALY,
2006).
De forma geral, a detecção das lesões orais dos animais selvagens só é feita a partir da
manifestação dos seus sinais físicos (WIGGS e BLOOM, 2003; FECCHIO et al., 2009).
Mesmo à distância, alterações como sialorréia, fraturas dentárias, secreção oronasal,
maloclusão, crescimento dentário excessivo e tumefações na cabeça podem ser observadas
(WIGGS e HALL, 2003; WIGGS e BLOOM, 2003; PACHALY, 2006; FECCHIO et al.,
2009). Equipamentos auxiliares como lunetas, binóculos ou câmeras digitais com
aproximação de imagens podem melhorar a inspeção nesses casos (PACHALY, 2006;
FECCHIO et al., 2009).
Algumas alterações físicas e comportamentais são fortes indicativos de distúrbios na
cavidade oral. Os animais selvagens podem mudar sua forma de comer ou beber, manifestar
reações agudas à ingestão de água fria, dar preferência aos alimentos macios, escavar o solo,
friccionar os membros contra a face, balançar a cabeça ou comprimi-la contra obstáculos e,
em alguns casos, apresentar comportamento agressivo atípico. Como consequência dessas
lesões, sinais clínicos como anorexia, perda de peso e sialorréia podem estar presentes
(PACHALY, 2006).
Os tratadores dos animais quase sempre são os primeiros a observarem as alterações
comportamentais resultantes de lesões da cavidade oral (WIGGS e HALL, 2003; WIGGS e
BLOOM, 2003; FECCHIO et al., 2009). Esses profissionais lidam diariamente com os
animais mantidos em cativeiro e conhecem até mesmo particularidades individuais. Eles
devem ser treinados de forma que, ao identificarem esses sinais, possam relatá-los ao médico
veterinário (FECCHIO et al., 2009). Uma vez realizada uma observação à distância, torna-se
possível estudar com precocidade o melhor tratamento a ser instituído (PACHALY, 2006).
Segundo Wiggs e Bloom (2003), as possibilidades de tratamento diminuem em animais que
não são rotineiramente observados ou que não passam por avaliações clínicas anuais.
A avaliação odontológica deve ser precedida por anamnese e exame físico geral do
paciente, devendo a cavidade oral ser examinada ao final. A anamnese específica é feita após
a realizada rotineiramente pelo médico veterinário e informações como tipo de alimentação
42
fornecida, hábito de mordiscar objetos duros, higienização bucal, tratamentos realizados
previamente, comportamentos anormais, sangramento e halitose são de grande importância na
investigação (GIOSO, 2003). Após a contenção física e farmacológica, devem-se registrar
todas as alterações em uma ficha clínica apropriada (WIGGS e BLOOM, 2003; PACHALY,
2006). De acordo com Wiggs e Bloom (2003), os odontogramas das espécies domésticas
podem ser adaptados para o uso em animais selvagens ou, caso as diferenças anatômicas
sejam grandes, um novo odontograma deve ser confeccionado.
Grande parte dos procedimentos odontológicos em animais domésticos de pequeno
porte requer a contenção física por meio de anestesia geral, portanto o exame físico completo
deve ser realizado, principalmente visando órgãos sensíveis à anestesia (GIOSO, 2003).
Segundo Rossi Jr. (2006), a utilização de uma metodologia de trabalho durante a contenção
física ou farmacológica de um animal selvagem evita manipulações desnecessárias ou demora
na tomada de decisões.
Após a contenção farmacológica, deve-se realizar a inspeção da cavidade oral
(WIGGS e BLOOM, 2003; PACHALY, 2006). O planejamento do tratamento pode então ser
feito com base nas anotações das alterações encontradas, que devem ser registradas em uma
ficha clínica apropriada (WIGGS e BLOOM, 2003; GIOSO, 2003; PACHALY, 2006;
FECCHIO et al., 2009). É de extrema importância o uso de equipamentos individuais de
proteção ao realizar o manejo de qualquer espécie animal, com o intuito de prevenir zoonoses
(FECCHIO et al., 2009).
O exame da cavidade oral deve visar tanto os tecidos duros quanto os moles
(FECCHIO et al., 2009). De acordo com Gioso (2003), o órgão dentário deve ser examinado
com o uso de um explorador e uma sonda periodontal. Inicialmente, deve-se observar
assimetria crânio-facial, aumentos de volume, ptialismo e oclusão dos dentes incisivos. Podese então avaliar a coloração e higidez das mucosas, lábios e gengiva. Os dentes devem ser
examinados na busca de alterações oclusivas, fraturas, descoloração, presença de placa
bacteriana ou cálculo dentário, mobilidade, cárie, lesões reabsortivas e defeitos em seu
desenvolvimento (FECCHIO et al., 2009).
Com base nos achados clínicos, pode-se então fazer uso de exames complementares
como a radiografia intra-oral, extra-oral e a biópsia (WIGGS e HALL, 2003; GIOSO, 2003).
O clínico deve estar apto a discernir o caráter primário ou secundário da lesão oral e, nesses
casos, exames laboratoriais como hemograma, bioquímica sérica e sorologia são
fundamentais (GIOSO, 2003).
43
2.5 Principais Lesões Odontológicas dos Primatas Neotropicais
As alterações odontológicas ocorrem como resposta ao desenvolvimento anormal dos
tecidos, displasia ou influências ambientais. As anormalidades de desenvolvimento incluem
irregularidades no número, tamanho, forma, estrutura, posição e erupção dos dentes. Outras
anomalias, que não estão relacionadas com esse processo, geralmente incluem a descoloração
ou lesão direta a estrutura do dente, afetando tanto os decíduos quanto os permanentes
(AMAND e TINKELMAN, 1985).
As principais afecções odontoestomatológicas dos primatas neotropicais incluem
exposições pulpares traumáticas, enfermidades periodontais e cáries, porém alterações
sistêmicas como a osteodistrofia fibrosa e a herpesvirose também são comuns (PACHALY,
2006). De acordo com Johnson-Delaney (2008), as afecções orais mais comuns dos primatas
são similares as encontradas na clínica de pequenos animais como o cálculo, gengivite,
fraturas, cáries, doença periodontal, abscessos e osteomielite.
A osteodistrofia fibrosa é causada por desequilíbrios minerais com origem em
deficiências dietéticas e erros de manejo. O periodonto é o primeiro local a apresentar
reabsorção óssea e posterior substituição por tecido fibroso (PACHALY, 2006).
As alterações nas coroas, raízes e no número de dentes têm sido relatadas em muitas
espécies. Fatores congênitos, hereditários e de desenvolvimento podem estar relacionados a
essas anormalidades. Além disso, fatores ambientais, nutricionais, inflamatórios, traumáticos,
infecciosos e aqueles relacionados à textura e ao estresse podem causar variações entre os
animais de vida-livre e cativeiro (WIGGS e BLOOM, 2003).
2.5.1 Anomalias Dentárias de Número
Algumas espécies de mamíferos apresentam variações frequentes do número típico de
dentes, enquanto em outras essas diferenças raramente ocorrem. A razão pela qual isso
acontece é desconhecida (HALL, 1940).
44
A erupção dentária é o processo através do qual o dente deixa o seu local de
desenvolvimento até sua posição funcional na boca (MILES e GRIGSON, 2003). A erupção
dos dentes decíduos e permanentes segue uma ordem e uma cronologia. A falha na erupção
dentária pode ser uma consequência de outras anomalias ou se tratar de uma real agenesia
(AMAND e TINKELMAN, 1985; MILES e GRIGSON, 2003). Segundo Miles e Grigson
(2003), essas falhas podem surgir por fatores mecânicos, odontomas e cistos foliculares
generalizados. Essas alterações já foram descritas por Amand e Tinkelman (1985) em ursos,
mandris e felinos.
A impactação pode ser consequência de obstruções à emergência, falta de espaço no
arco dentário ou perda de dentes decíduos por trauma, gerando mudanças de posicionamento
nos dentes adjacentes. A permanência de dentes decíduos pode ocasionar impactação do dente
definitivo ou fazer com que ele erupcione na face bucal (MILES e GRIGSON, 2003).
Em primatas, a permanência de dentes decíduos ocorre principalmente por alterações
de posicionamento, que são mais comuns em animais de cativeiro do que nos de vida livre.
Nesses animais, alterações odontológicas como hipoplasia de esmalte, malformações de
elementos dentários e ausência dentária antes da morte podem ocorrer secundariamente à
permanência da dentição decídua (MILES e GRIGSON, 2003).
Animais senis frequentemente apresentam a falta de alguns elementos dentários. A
perda antes de morte pode ser diferenciada da ocorrida após a morte por meio da observação
do remodelamento do alvéolo dentário (ELBROCH, 2006).
Segundo Miles e Grigson (2003), dentes supranumerários parecem surgir como
alterações espontâneas de desenvolvimento, com exceção de alguns casos onde são
conhecidas as relações de parentesco entre os animais ou onde a variação entre determinadas
populações foram quantificadas. A permanência de dentes decíduos ocorre com frequência
em cães e é considerada rara em gatos. Essa alteração pode trazer prejuízos como o maior
acúmulo de placa bacteriana, já que o dente definitivo ocupará o mesmo alvéolo (GIOSO,
2003).
Os dentes supranumerários podem ser divididos morfologicamente em três categorias.
A primeira delas consiste em dentes suplementares com morfologia de coroa e raiz
semelhante àqueles das séries normais, porém nem sempre do mesmo tamanho. Eles podem
ser tão parecidos nesse aspecto que se torna quase impossível identificar o elemento
supranumerário. Dentes haplodontes têm coroas simples e geralmente cônicas, assim como
raiz única. Dentes supranumerários tuberculados apresentam coroas mais complexas, com
45
superfície oclusiva suportando vários tubérculos, geralmente com indentações profundas
(MILES e GRIGSON, 2003).
A existência de dentes supranumerários não é tão rara se comparada à agenesia em
humanos. Normalmente essa condição envolve os incisivos superiores e, menos comumente,
caninos, pré-molares e molares (HILLSON, 1996). Existem duas teorias para o aparecimento
de dentes fusionados, entretanto há poucas evidências que determinem sua etiologia (MILES
e GRIGSON, 2003).
Shaw (1927) relatou a presença de quatro casos de quarto molar supranumerário em
babuínos africanos. Em todos os casos, os dentes apresentavam quatro cúspides, variando
apenas no número de raízes e grau de esfoliação. A etiologia desta alteração foi por ele
descrita como resultado de influências hereditárias, do prolongamento alveolar e de uma nova
tendência da lâmina dentária acomodar um número de dentes maior que o normal.
Segundo Degusta et al. (2003), a correlação existente entre molares reduzidos e
diminuição do escore corporal demonstrou que o tamanho do dente está sob seleção
fenotípica. Esses autores também relatam que outros fatores além da seleção natural podem
influenciar no tamanho dos molares, como o estado nutricional materno, já que a coroa do
primeiro molar superior se forma logo após o nascimento.
2.5.2 Anomalias Oclusivas
Entende-se por oclusão o contato entre os dentes, ou seja, a forma que esses elementos
se encaixam em posições características da mandíbula. Poucos indivíduos humanos alcançam
a oclusão normal, ou seja, o estado de máximo contato oclusal. É relativamente comum a
presença das mesmas anormalidades de oclusão em primatas neotropicais (HILLSON, 1996).
Segundo Miles e Grigson (2003), existe uma ampla variedade de tipos de maloclusão, como
dentes isolados que se encontram fora do seu posicionamento normal, defeitos de
desenvolvimento e crescimento da mandíbula ou maxila (especialmente se o grau de
acometimento de uma delas é maior que o outro).
A maloclusão pode ser causada pelo desgaste dos dentes, assim como por
irregularidades em seu formato, tamanho e posição. A maior parte dessas alterações em
pequenos animais tem cunho hereditário (HILLSON, 1996). Segundo Miles e Grigson (2003),
46
a maior parte das maloclusões são produtos de alterações do crescimento da maxila. Amand e
Tinkelman (1985) relataram que cerca de 5-12% dos mamíferos selvagens apresentam
maloclusão, podendo este valor chegar a 40% nos primatas.
A oclusão normal deve ser conhecida com a finalidade de garantir o entendimento dos
desajustes relacionados à oclusão (GIOSO, 2003). Algumas alterações de posicionamento dos
dentes podem levar à maloclusão, como apinhamento dentário, diastema, giroversão e
transposição (HILLSON, 1996). Segundo Miles e Grigson (2003), em primatas é comum
haver deslocamento e rotação dos incisivos superiores e pré-molares, assim como
transposição e deslocamento de caninos.
A etiologia da maloclusão pode estar relacionada a fatores ambientais, nutricionais,
textura da dieta, trauma, estresse e doença periodontal. Esta alteração ocorre mais
frequentemente em animais de cativeiro do que nos de vida livre (WIGGS e BLOOM, 2003).
Rossi Jr. (2007) relata a prevalência de maloclusão em 12% de sincrânios de onça-pintada
(Panthera onca) e em 7% de sincrânios de suçuarana (Puma concolor) de vida livre.
A maloclusão é descrita em diversas espécies animais. Em cães domésticos, acreditase que tenha por principal etiologia o acasalamento consanguíneo, que diminui o tamanho do
crânio, mas não o dos dentes (GIOSO, 1998). Em guepardos (Acinonyx jubatus), alterações
causadas por anormalidades de tamanho e posicionamento dos primeiros molares inferiores
foram tidas como as principais causas de erosão focal palatina (FITCH e FAGAN, 1982). As
alterações oclusivas também foram descritas em suçuaranas (Puma concolor) por Rossi Jr. et
al. (2007b), que relatou que o acúmulo de alimentos ou indutos moles na região dos dentes
com espaço interproximal reduzido pode levar também à doença periodontal.
Em roedores a maloclusão é a alteração odontológica mais comum, ocorrendo tanto
pelo crescimento anormal dos incisivos em espécies de hábitos roedores, quanto crescimento
excessivo dos molares e pré-molares no grupo dos herbívoros (LEGENDRE, 2003). Esta
alteração também foi observada em sincrânios de zebras (Equus zebra zebra) (PENZHORN,
1984).
2.5.3 Alterações Amelo-Cementárias
A hipoplasia ou hipocalcificação do esmalte pode ocorrer por vários fatores que
alteram a gênese deste elemento. Esta anomalia pode se manifestar em diferentes graus de
47
severidade, ou seja, desde pequenas porosidades à perda total da cobertura de esmalte
(AMAND e TINKELMAN, 1985; HILLSON, 1996). Segundo Hillson (1996), esta é a
alteração de esmalte mais comumente observada, sendo facilmente confundida com cárie ou
cálculo dentário (GIOSO, 2003).
Geralmente o grau de hipoplasia em animais selvagens é pequeno e ocorre menos
frequentemente em animais de vida-livre quando comparados aos mantidos em cativeiro.
Normalmente esta alteração está associada às anormalidades ósseas e calcificação deficiente.
(AMAND e TINKELMAN, 1985).
As mudanças na coloração dos dentes podem ocorrer como resultado da hipoplasia de
qualquer tecido dentário calcificado. A descoloração pode levar ao depósito de um biofilme,
pigmento ou cálculo na superfície do esmalte, dentina exposta ou cemento (AMAND e
TINKELMAN, 1985). As alterações de pigmentação em cães e gatos têm por principal
etiologia o uso de tetraciclinas e seus derivados (GIOSO, 2003).
As coroas dentárias dos dentes de diversos animais adultos de diferentes espécies
animais podem estar recobertas por uma quantidade variável de depósitos negros
extremamente aderidos. Em certos casos, apenas a face desgastada das superfícies oclusivas
está livre deste material. Este pigmento está presente não apenas em animais ungulados que
apresentam o esmalte da coroa recoberto por uma fina camada de cemento, como também em
primatas e insetívoros. A origem deste pigmento é incerta, porém acredita-se que consista de
finas camadas de placas mineralizadas com pigmentos incorporados (MILES e GRIGSON,
2003).
2.5.4 Doença Periodontal
A doença periodontal acomete as estruturas que dão suporte ao dente e tem início com
a formação da placa bacteriana (GIOSO, 2003; MILES e GRIGSON, 2003). Fatores como o
baixo índice de higiene, dietas macias e ricas em carboidratos e algumas anomalias dentárias
(apinhamento e maloclusão) são importantes na patogenia da periodontite (HILLSON, 1996).
Esta alteração é mais frequente em animais de cativeiro, quando comparados aos de vida-livre
(WIGGS e LOBPPRISE, 1997; WIGGS e BLOOM, 2003).
48
Segundo o American Veterinary Dental College (AVDC), a doença periodontal é
classificada de acordo com a sua gravidade:
- Normal (0): clinicamente normal. Ausência de inflamação gengival ou periodontite
evidente.
- Estágio 1: presença de gengivite sem perda de inserção periodontal.
- Estágio 2: presença de periodontite inicial, caracterizada pela perda de menos de
25% da inserção periodontal e pela exposição de furca grau 1.
- Estágio 3: presença de periodontite moderada, caracterizada pela perda de 25 a 50%
da inserção periodontal e pela exposição de furca grau 2.
- Estágio 4: presença de periodontite grave com perda de mais de 50% da inserção
periodontal e exposição de furca grau 3.
Segundo Lopes (2008), a perda da inserção periodontal pode ser avaliada tanto pela
sondagem periodontal quanto pelo exame radiográfico, medindo-se a distância da margem
alveolar à junção amelo-cementária em relação à raiz.
Os primatas são frequentemente usados como modelos no estudo da doença
periodontal. Em muitas espécies, a gengivite e a doença periodontal puderam ser induzidas
por dietas contendo uma grande proporção de carboidratos fermentáveis como a sacarose
(MILES e GRIGSON, 2003). De acordo com Wiggs e Lobprise (1997), a doença periodontal
e a cárie são descritas em primatas mantidos em cativeiro e alimentados com uma dieta de
carboidratos purificados ou refinados de consistência macia, em contraste com os alimentos
fibrosos naturais ingeridos pelos animais de vida livre. Hungerford et al. (1999) acreditam que
os altos índices de alterações odontológicas em diversas espécies animais estejam associados
às dietas oferecidas por humanos.
Os microorganismos da placa alojam-se por todo o elemento dentário, principalmente
no sulco gengival. Para que haja dano é necessário que esta placa sofra uma reorganização de
seus constituintes (GIOSO, 2003; MILES e GRIGSON, 2003). Com o acúmulo da placa
bacteriana, as bactérias anaeróbias facultativas e estritas, além das GRAM-negativas,
produzem através do seu metabolismo subprodutos capazes de lesar o periodonto, causando
inicialmente uma gengivite (GIOSO, 2003). Como a gengivite não tem o envolvimento do
osso alveolar, ela não pode ser observada na arqueologia (HILLSON, 1996). Wiggs e
Lobprise (1997) classificam a placa bacteriana através do índice de placa, que varia do grau 0
ao 3, em ordem crescente de deposição.
49
A manutenção do agente agressor faz com que ocorra o desencadeamento de uma
resposta inflamatória. Esta resposta caracteriza-se pela produção de prostaglandinas,
estimulação de osteoclastos e ativação de enzimas, gerando uma destruição acelerada das
estruturas que dão suporte ao dente. Com a reabsorção óssea e a retração gengival
consequentes, esse processo irreversível é denominado periodontite (HILLSON, 1996;
GIOSO, 2003). Amand e Tinkelman (1985) descreveram os sinais clínicos da periodontite
como halitose, sialorréia, mobilidade dentária, sangramento, placa bacteriana, gengivite,
cálculo dentário, exposição de furca, retração gengival e anorexia.
A precipitação de sais minerais provenientes da saliva altera os efeitos patogênicos da
placa e forma um material mineralizado e de superfície rugosa, chamado cálculo dentário
(HILLSON, 1996; GIOSO, 2003; MILES e GRIGSON, 2003). Não há limite para a
agregação supragengival contínua e intermitente de cálculo dentário (MILES e GRIGSON,
2003). Segundo Hillson (1996), a presença de cálculo dentário já fora relatada em diversas
espécies animais, dentre elas o homem, os demais primatas, cães, gatos, furões, ursos,
roedores e grandes ungulados.
Em dentes presentes em sincrânios, dois tipos de cálculo podem ser facilmente
distinguidos, principalmente pelo seu perfil. O cálculo supragengival tem coloração brancoamarelada, enquanto o subgengival é menos volumoso e tende a se manifestar como um anel
de coloração preta ao redor do dente, pela presença de sangue (MILES e GRIGSON, 2003).
A formação de bolsa periodontal ocorre conforme o osso é reabsorvido, fazendo com
que haja a perda do nível clínico de inserção, que pode ser detectado com o auxílio de sondas
(GIOSO, 2003). Com o avançar da lesão, o dente torna-se luxado no alvéolo e pode então ser
eliminado (HILLSON, 1996; GIOSO, 2003).
Os dentes multirradiculares podem ter exposição da região interproximal de suas
raízes, denominada furca, expostas devido à reabsorção do osso alveolar que ocorre como
consequência da doença periodontal. O grau de envolvimento dessa região influencia na
escolha do tratamento a ser realizado, como exodontia ou cirurgia periodontal (WIGGS e
LOBPRISE, 1997).
Segundo Gioso (2003), quase todos os cães acima de quatro anos apresentam algum
grau de doença periodontal em um ou mais dentes. Pachaly (2006) relata que as enfermidades
periodontais são comuns em primatas sul-americanos mantidos em cativeiro e a forma
localizada da enfermidade periodontal pode ser observada em todas as espécies de primatas,
porém a generalizada é mais comum em macacos-aranha (Ateles spp.).
50
A mobilidade dentária é utilizada como método para avaliar o comprometimento do
suporte periodontal do dente (LOPES, 2008). De acordo com Fedi e Lawrence (1995), o
diagnóstico dessa alteração é difícil, pois durante o dia é normal haver uma variação
decorrente da dieta e de estresse.
A deiscência e a fenestração podem ocorrer principalmente na face vestibular do osso
alveolar, embora também possam estar presentes nas faces linguais e palatinas. A fenestração
corresponde a uma lesão circunscrita no osso, com exposição da raiz e a permanência da
crista óssea alveolar intacta. Quando as áreas de reabsorção óssea estendem-se até a margem
da crista alveolar, recebem o nome de deiscência (NEWMAN et al., 2002).
Em um estudo realizado com gorilas, a deiscência e fenestração ósseas alveolares
foram observadas em dentes de animais jovens, associadas ao processo de erupção e
esfoliação dentária (KEKAHASHI et al., 1963). Segundo Wiggs e Hall (2003), abscessos
dentários podem surgir de forma intermitente como resultado de dentes decíduos parcialmente
reabsorvidos ou dentes fraturados.
Em um estudo realizado por Kakehashi et al. (1963), a doença periodontal foi avaliada
em 292 crânios de gorilas, sendo relatadas 468 lesões de fenestração na maxila e 13 na
mandíbula, em todas as faixas etárias examinadas. A deiscência foi encontrada em 101 locais
da maxila e 55 na mandíbula de animais adultos. Esses autores descartaram uma das
etiologias propostas para esse tipo de lesão em humanos, que se refere ao desalinhamento
dentário. Entretanto, a alta prevalência de defeitos ósseos na maxila, sugere que as diferenças
anatômicas quanto à densidade e espessura óssea entre maxila e mandíbula, além da força
oclusal exercida sobre os dentes pré-molares e molares podem ser os principais fatores
envolvidos na espécie. Skinner e Newell (2003), também observaram os mesmos defeitos
ósseos em primatas, entretanto as lesões de fenestração mais extensas foram observadas em
caninos com as maiores cúspides.
2.5.5 Cárie
As cáries caracterizam-se por processos de desmineralização do esmalte e da dentina e
são comuns principalmente em primatas idosos (PACHALY, 2006). As cáries, alterações
51
causadas por bactérias e seus subprodutos, também envolver o cemento e penetrar a câmara
pulpar (GIOSO, 2003). De acordo com Hillson (1996), essas lesões podem ter início tanto na
coroa quanto na raiz do dente.
Lopes (2008) relata que essa alteração é resultado de um processo multifatorial,
ocorrendo na presença de fatores concomitantes como pH oral, dieta cariogênica, defeitos na
anatomia dentária (fóssulas, fissuras e outros defeitos estruturais), além da presença de
microorganismos cariogênicos.
As cáries do esmalte e cemento ocorrem por um processo totalmente diferente do que
é observado na dentina. Os túbulos dentinários são colonizados por bactérias produtoras de
ácidos, que desmineralizam a dentina e deixam a matriz orgânica praticamente intacta
(HILLSON, 1996).
O pH tem importante papel na formação das cáries, já que em meios ácidos o potencial
cariogênico aumenta. Para que a cárie ocorra, é necessária a presença concomitante de placa
bacteriana organizada, pH oral abaixo de 5,5 (geralmente observado durante e após a
alimentação) e desequilíbrio imunológico (GIOSO, 2003).
Essas lesões inicialmente apresentam-se como pequenas manchas de coloração
marrom-escura ou preta na superfície do esmalte (LOPES, 2008) ou, em casos mais
avançados, podem penetrar a câmara pulpar e levar a perda dentária (HILLSON, 1996).
Segundo Pachaly (2006), os dentes molares e pré-molares são os mais acometidos em função
de suas características anatômicas. Miles e Grigson (2003) acreditam que molares e prémolares superiores são mais acometidos que seus correspondentes inferiores. Apesar da baixa
incidência de cárie em carnívoros quando comparada aos primatas e herbívoros (MILES e
GRIGSON, 2003), quando presente em cães, ela manifesta-se principalmente nas superfícies
planas dos dentes molares (LOPES, 2008).
Segundo Pachaly (2006), a incidência de cáries em primatas está diretamente
relacionada com dietas inadequadas ricas em açúcares simples. A ocorrência de cáries em
outros primatas não é tão comum quanto nos humanos, porém alterações na dieta,
principalmente em animais senis, aumentam sua incidência (LOPES, 2008).
Em primatas de idade avançada é relativamente frequente a ocorrência de cáries em
superfícies radiculares em conjunto com desgaste dentário. Acredita-se que isto ocorra
quando o desgaste do esmalte oclusal enfraqueça o esmalte interproximal, facilitando o
acúmulo de debris alimentares e expondo a dentina a bactérias cariogênicas (MILES e
GRIGSON, 2003). Segundo Hillson (1996), a incidência de cárie nos homens é
52
significativamente menor em áreas cuja água é tratada com flúor, pela incorporação dos íons
fluoreto no esmalte, dentina e cemento durante a formação do dente.
Em lesões recentes, o diagnóstico da cárie de esmalte é muito difícil. Os pontos claros
e opacos podem ser facilmente confundidos com defeitos de desenvolvimento e essas lesões
podem passar despercebidas até mesmo em fósseis. O uso de microscópio polarizado em finas
e polidas secções de esmalte pode diagnosticar cáries logo no começo, evidenciando o
aumento gradual das porosidades pela solubilização progressiva dos minerais (HILLSON,
1996).
A histologia das lesões suspeitas é muito importante em fósseis, já que os pontos
esbranquiçados e cavidades atribuídas às cáries podem ser resultados de agressões ocorridas
após a morte. Além disso, lesões histologicamente compatíveis com esta alteração podem não
ser o que parecem (HILLSON, 1996).
2.5.6 Desgaste
O desgaste dentário ocorre fisiologicamente em muitas espécies animais, inclusive no
homem. Essa alteração é uma importante ferramenta na estimativa da idade de um indivíduo.
Entretanto, quando ocorre de forma acentuada, pode dificultar a ingestão de alimentos ou
interferir em qualquer outra função da cavidade oral (WIGGS e BLOOM, 2003).
Uma vez formado, o esmalte não pode ser remodelado. Portanto, caso haja alguma
anormalidade durante esse período, ela estará presente durante toda a vida. As alterações do
esmalte podem se manifestar de forma variada e suas causas podem ser hereditárias ou
estarem relacionadas às complicações durante o crescimento (HILLSON, 1996).
A coroa dos dentes é uma importante ferramenta para a descoberta da idade de um
sincrânio, se desgastando à medida que um animal vive e se alimenta (ELBROCH, 2006).
Segundo Martins et al. (2003), estudos comparativos com primatas e outros mamíferos
sugerem que a microestrutura e espessura do esmalte têm um importante papel nas adaptações
dietéticas. De acordo com Gioso (2003), o desgaste é frequente em animais de pequeno porte
que mastigam objetos ou alimentos muito duros, ou que apresentam dermatopatias
pruriginosas crônicas.
53
A superfície do esmalte é gasta pelo contato durante a oclusão até alcançar faces
planas. A esse processo é dado o nome de atrito (POPOWICS e FORTELIUS, 1997). Reiter e
Mendonza (2002) definem o atrito como a perda natural ou excessiva de substância dentária,
consequente do contato de dentes antagonistas durante o processo mastigatório, ou por
maloclusão. Esses mesmos autores conceituam a abrasão como um processo mecânico que
não é causado pelos dentes, mas sim pela roedura de objetos.
Segundo Lopes (2008), a “Síndrome do Mordedor de Grades” induz ao desgaste
dentário acentuado das cúspides ou bordas incisais de incisivos ou caninos, além da face distal
dos caninos. Essa alteração também foi relatada por Rossi Jr. (2002) em seu estudo com
onças-pintadas (Panthera onca) e suçuaranas (Puma concolor) mantidas em cativeiro. Wiggs
e Bloom (2003) recomendam mudanças nos recintos desses animais para reduzir o estresse e
o tédio, na tentativa de corrigir e prevenir a progressão desse hábito.
Com o desgaste excessivo do esmalte e da dentina, a polpa pode ser exposta,
induzindo a formação de um abscesso periapical. Clinicamente, podem-se observar manchas
escuras na superfície incisal dos dentes desgastados, que ocorrem devido à transparência da
dentina terciária ou da exposição do canal pulpar. Os processos crônicos de desgaste podem
induzir a formação de dentina reparadora ou terciária (GIOSO, 2003).
2.5.7 Trauma
As alterações traumáticas da mandíbula e dos dentes podem ser observadas em quase
todos os mamíferos e são achados comuns também em fósseis (HILLSON, 1996). As lesões
orais geralmente ocorrem durante brincadeiras e autoagressões decorrentes de episódios de
pânico ou ansiedade, normalmente associados à tentativa de fuga (ROSSI JR., 2002; WIGGS
e BLOOM, 2003; LOPES, 2008). Essas alterações podem gerar consequências graves para o
animal, como a anorexia em animais de vida livre (MILES e GRIGSON, 2003).
As fraturas de esmalte e de coroa não complicada não têm grande importância clínica
em pequenos animais. A dentina exposta fica sensível até que ocorra esclerose dos túbulos
dentinários e formação de dentina terciária. Entretanto, fraturas complicadas com exposição
da câmara pulpar levam à doença endodôntica (VERSTRAETE et al., 1996a).
54
As fraturas e o desgaste dentário são descritos em diversas espécies de carnívoros
mantidos em cativeiro, normalmente acometendo incisivos, caninos e dentes carniceiros
(WIGGS e BLOOM, 2003). As fraturas podem ser assintomáticas e não comprometerem a
polpa, porém a etiologia mais comum de lesões pulpares é o traumatismo. O traumatismo
pode resultar em fratura do esmalte ou dentina com ou sem exposição da polpa ou, em casos
mais brandos e sem fraturas, gerar apenas uma concussão (GIOSO, 2003).
Segundo Lopes (2008), existem diversas classificações utilizadas na odontologia
veterinária e humana para fraturas dentárias, como a proposta por Basrani (1983) e ilustrada
por ela na figura 4:
Figura 4 – Classificação de fratura dentária adotada pelo AVDC, adaptada de Basrani (1983)
e ilustrada por Lopes (2008): fratura incompleta de esmalte (A), fratura de esmalte (B), fratura
de coroa não complicada (C), fratura de coroa complicada (D), fratura corono-radicular nãocomplicada (E), fratura corono-radicular complicada (F), fratura radicular (G).
A exposição pulpar traumática ocorre em função de fraturas acidentais ou criminosas e
geralmente acometem os caninos (PACHALY, 2006). A polpa exposta sofre contaminação
bacteriana, levando à necrose pulpar e à ocorrência de abscessos dento-alveolares (HILLSON,
1996; PACHALY, 2006).
Algumas fraturas de esmalte e dentina podem se tornar contaminadas, mesmo sem
haver a exposição pulpar. Isso se deve ao fato de que os túbulos odontoblásticos expostos
podem atuar como porta de entrada de microorganismos exógenos (HILLSON, 1996; GIOSO,
2003).
55
Segundo Gioso (2003), mesmo sem haver fratura ou exposição pulpar, pequenos vasos
sanguíneos podem ser rompidos. Esse evento leva à inflamação e à formação de edema,
resultando em necrose asséptica. A necrose pulpar faz com que o dente adquira uma coloração
escurecida, resultado da penetração de substâncias de degradação sanguínea através dos
túbulos dentinários.
As fraturas de raízes podem induzir à formação de fístula, principalmente quando há
lesão periodontal ou periapical concomitante. Em casos mais raros, a raiz pode ser
reabsorvida ou eliminada (GIOSO, 2003). As fístulas sinusais são comuns na maxila, se
manifestando externamente na forma das chamadas fístulas infraorbitárias. Na mandíbula, a
infecção pode levar às fístulas mandibulares. A manutenção de um processo infeccioso na
região periapical causa bacteremia crônica, podendo resultar em alterações sistêmicas
(PACHALY, 2006).
As lesões das lâminas ósseas que separam o alvéolo e a cavidade nasal levam às
comunicações entre essas estruturas, o que pode ser facilmente identificado por meio de sinais
clínicos como secreção nasal serosa e espirros frequentes. Na clínica de pequenos animais,
essas alterações quase sempre são iatrogênicas e apresentam maior incidência em caninos
superiores (GIOSO, 2003).
2.5.8 Outras Alterações em Ossos do Sincrânio
As fraturas em sincrânios são consideradas comuns em animais de vida livre, embora
sua prevalência ainda seja desconhecida, já que se baseia quase que exclusivamente em casos
nos quais os animais sobreviveram e seus sincrânios puderam então ser avaliados (MILES e
GRIGSON, 2003). De acordo com Hosey (2005), estudos recentes indicam que a
superpopulação em recintos de primatas mantidos em cativeiro resulte em taxas elevadas de
agressão entre os animais. Fedigan e Baxter (1984), em um estudo sobre as diferenças sexuais
de A. geofffroyi de vida livre, observaram que os machos são mais agressivos, interagem
fisicamente mais frequentemente e atacam e perseguem principalmente fêmeas adultas.
As fraturas anteriores a morte podem ser facilmente identificadas por alterações de
posicionamento, formação de calo e remodelamento ósseos (ELBROCH, 2006). Em um
estudo sobre alterações ósseas em crânio e mandíbula de Alouatta palliata, realizado por
56
Degusta e Milton (1998), a incidência de fratura de arco zigomático foi consideravelmente
maior do lado esquerdo, levantando a hipótese de lateralidade no comportamento de luta
nessa espécie. Esses mesmo autores descreveram uma maior prevalência de fraturas nos
machos então avaliados.
Em pesquisa realizada por Fagot e Vauclair (1991), sobre lateralidade manual em
primatas não-humanos, observou-se que nas tarefas que exigiam baixas habilidades manuais
os animais não demonstraram preferência ao uso de uma das mãos. Entretanto, o
comportamento manifestado pelos animais durante tarefas que exigiam grande habilidade
manual demonstrou uma distribuição assimétrica entre as mãos utilizadas, que parece estar
relacionado a uma especialização cerebral hemisférica contralateral.
Existem relatos de graves fraturas em diferentes espécies animais. Um urso-negro
(Ursus americanus) apresentou uma perda considerável da região posterior do corpo e do
ramo ascendente da mandíbula, aparentemente causadas por um projétil. A proliferação óssea
na margem da fratura sugere que ele não tenha morrido logo após o incidente (DYER, 1981).
Erb et al. (1996) também descreveram alterações odontológicas consequentes de uma
fratura de mandíbula em sincrânio de uma espécie de foca (Arctocephalus gazella) encontrada
na natureza. Esse animal apresentava disjunção de sínfise mandibular e perda de ambos
incisivos mandibulares direitos, com remodelamento ósseo de seus respectivos alvéolos. As
alterações ósseas encontradas nesse animal também sugeriram que sua morte ocorrera até um
ano depois da lesão.
Segundo Verstraete et al. (1996b), gatos asselvajados com injúrias mandibulares
podem ter sua autodefesa e ingestão de água e alimentos prejudicadas por fraturas, porém a
cura espontânea destes animais foi possível. Segundo Rossi Jr. (2007), onças-pintadas
(Panthera onca) e suçuaranas (Puma concolor) de vida livre com graves alterações ósseas
mantiveram-se vivas tempo suficiente para que houvesse reparação óssea. Wobeser (1992),
em um estudo sobre a prevalência de lesões traumáticas, degenerativas e de desenvolvimento
em lobos (Canis lupus) e coiotes (Canis latrans) relatou que a consolidação de fraturas foi
observada em dois dos três animais com essa lesão.
A ATM pode apresentar distúrbios traumáticos, inflamatórios e de desenvolvimento,
neoplasias e síndrome da disfunção dolorosa. As luxações da ATM podem ocorrer
isoladamente ou associadas às fraturas de mandíbula, podendo conduzir à hipomotilidade e
anquilose (GIOSO, 2003).
As anomalias de formação das estruturas do palato em cães e gatos podem ter etiologia
hereditária ou surgir como alterações durante o desenvolvimento fetal. A natureza esporádica
57
dessas condições em pequenos animais sugere que a maior parte dos casos seja consequência
de lesão intrauterina, ou da utilização de corticóides durante a gestação (GIOSO, 2003)
Os defeitos do palato primário (osso incisivo ou pré-maxila) são alterações congênitas
que se manifestam clinicamente como lábio leporino. Em alguns casos pode haver associação
de anormalidades do palato secundário (palato duro ou mole), com a formação de fendas
palatinas. O lábio leporino não traz grandes consequências à saúde do animal, todavia as
fendas palatinas podem levá-lo ao óbito (GIOSO, 2003).
As fendas palatinas também podem ter origem embriogênica ou serem adquiridas por
meio de traumatismos na face. Os sinais clínicos resultantes dessas alterações são secreção
nasal, pneumonia e atraso no desenvolvimento de filhotes (GIOSO, 2003).
Loffredo et al. (1994) relataram que, em humanos, as principais causas dessa anomalia
incluem: o contato da mãe com pesticidas, hereditariedade, epilepsia materna, ingestão de
anti-inflamatório e exposição a raio-x nos quatro primeiros meses de gestação. Em primatas
de laboratório (Macaca mulatta), a indução de fenda palatina já foi comprovada com o uso de
ciclofosfamida (MACCLURE et al., 1979).
Existem diversos artigos utilizando primatas como modelos para o estudo do
desenvolvimento crânio-facial em humanos (MACCLURE et al., 1979; HENDRICKX et al.,
1983; SIEGEL et al., 1985), porém escassos relatos sobre a prevalência de lábio leporino e
fenda palatina em animais selvagens. De acordo com Kraus e Garrettt (1968), é provável que
as fendas palatinas em primatas não-humanos não sejam tão incomuns quanto se imaginava,
com a ocorrência em muitas espécies ainda não relatada.
58
OBJETIVOS
O objetivo deste trabalho foi avaliar sincrânios de Ateles sp., tanto de vida livre quanto
de cativeiro, com o intuito de estabelecer as principais alterações ósseas de sincrânios e
afecções dentárias. Para tanto, foram analisados 253 sincrânios armazenados em coleções de
mastozoologia do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), do Museu Histórico Nacional da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (MH-UFRJ) e do Museu de Zoologia da Universidade
de São Paulo (MZ-USP).
59
4 MATERIAL E MÉTODOS
Para a realização do presente estudo foi efetuada a avaliação de 253 sincrânios de
Ateles sp., provenientes de vida livre e cativeiro, durante o período de julho de 2009 a abril de
2010. Foram utilizadas para este fim as coleções do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG),
Museu Histórico Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MHN-UFRJ) e do
Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP), conforme a Tabela 1.
Tabela 1 – Distribuição do número de sincrânios avaliados de acordo com a espécie e coleção de
procedência
Espécie
MPEG i
MHN-UFRJ ii
MZ-USP iii
Ateles belzebuth
46
3
0
Ateles geoffroyi
1
0
0
Ateles marginatus
7
11
29
Ateles paniscus
87
2
1
Ateles variegatus
4
0
0
Ateles chamek
0
34
9
Indefinido iv
11
8
0
TOTAL
156
58
39
i
MPEG – Museu Paraense Emílio Goeldi
ii
MHN-UFRJ – Museu Histórico Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro
iii
MZ-USP – Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo
iv
Animais cuja espécie não foi definida
A identificação dos sincrânios foi realizada utilizando o mesmo número de tombo de
cada museu pesquisado. As etiquetas de identificação foram avaliadas em busca de
informações sobre local e data de coleta. Essas informações foram resumidas no Apêndice I.
Foram coletadas informações sobre espécie, sexo e habitat de cada sincrânio avaliado,
de acordo com a disponibilidade dessas informações nas coleções utilizadas. Devido à falta de
informações sobre a idade da maior parte dos sincrânios, a distribuição etária dos espécimes
não foi realizada. A identificação dos sincrânios avaliados segundo a espécie, sexo e local de
vida estão resumidas no Apêndice II.
60
A avaliação odontológica foi realizada com os sincrânios dispostos em bancada de
trabalho sobre base escalonada em centímetros e polegadas, sendo articulados e apoiados em
massa de modelar branca, conforme ilustrado na Figura 5.
Figura 5 – Vista lateral esquerda de sincrânio de Ateles marginatus (MZ-USP-5288)
posicionado para a avaliação odontológica
Os sincrânios foram avaliados quanto à presença de assimetria, lesões ósseas e
alterações oclusivas. As faces anatômicas dos dentes e do osso alveolar foram examinadas
macroscopicamente, por meio de inspeção visual direta, com auxílio de sonda periodontal
milimetrada e explorador clínico odontológico. Buscaram-se as seguintes afecções dentárias
nos sincrânios:
- Anomalia dentária de conformação
- Anomalia dentária de número
- Alterações amelo-cementárias
- Doença periodontal
- Apinhamento dentário
- Desgaste dentário (grau 0, 1, 2, 3 e 4)
- Exposição de furca (grau 1, 2 e 3)
- Exposição da câmara pulpar
- Fratura dentária (grau 1 e 2)
61
- Giroversão dentária
- Reabsorção da crista alveolar
- Reabsorção dentária
- Outras alterações
As anomalias dentárias de conformação incluíram a microdontia e os dentes
geminados. As anomalias dentárias de número incluíram: perda dentária ocorrida antes da
morte, presença de dentes supranumerários, persistência de dentição decídua e dentição não
erupcionada ou agenesia dentária.
Assim como Hall (1940), os dentes considerados ausentes foram aqueles que
supostamente nunca existiram na dentição permanente. A agenesia dentária não pode ser
distinguida da presença de dentição ainda não erupcionada pela ausência de exame
radiográfico complementar.
A classificação da ausência dentária ocorrida antes e depois da morte foi feita de
acordo com a forma e o padrão da margem óssea alveolar. Foram consideradas perdas
anteriores à morte aquelas cuja crista óssea alveolar apresentava-se irregular ou arredondada,
com alvéolos de menor profundidade e reação periostal exuberante, caracterizada pela
presença de grande número de foraminas (VERSTRAETE et al., 1996a). Essa perda foi
classificada de acordo com o número de dentes acometidos:
- Grau 1: perda de apenas um dente
- Grau 2: perda de dois dentes
- Grau 3: perda de três dentes
- Grau 4: perda de quatro dentes
- Grau 5: perda de cinco ou mais dentes
A doença periodontal é classificada em estágios de 0 a 4 pelo AVDC, porém a mesma
classificação não pode ser utilizada no presente estudo devido à falta de tecidos moles do
periodonto em sincrânios e de exame radiográfico complementar.
Foi adotada a mesma metodologia de Newman et al. (2002) para a diferenciação entre
fenestração e deiscência ósseas alveolares. Essa metodologia classifica como fenestração a
lesão circunscrita no osso, com exposição da raiz e a permanência da crista óssea alveolar
intacta. Já a deiscência é descrita como áreas de reabsorção óssea que se estendem até a
margem da crista alveolar.
62
Seguindo padronização adotada por Davies e Pedersen (1955), modificada por Aguiar
et al. (2004), e utilizada por Rossi Jr. (2007), o desgaste dentário foi classificado da seguinte
forma:
- Nível 0: sem desgaste
- Nível 1: desgaste somente de esmalte
- Nível 2: formação de dentina terciária
- Nível 3: exposição de câmara coronária
- Nível 4: desgaste total da coroa até o nível radicular, com separação completa das
raízes nos dentes multirradiculados
A exposição de furca foi classificada em três estágios, de acordo com a Veterinary
Dental Nomenclature, desenvolvida pelo AVDC:
- Grau 1: a sonda periodontal penetra na região da furca do dente multirradicular em
profundidade inferior à metade da distância até a face contra-lateral do dente, em qualquer
direção.
- Grau 2: a sonda periodontal penetra mais da metade da profundidade da região de
furca, sem atravessar para o outro lado.
- Grau 3: a sonda periodontal atravessa a região de furca para o outro lado.
As fraturas dentárias foram classificadas em graus, utilizando uma adaptação da
classificação adotada por Basrani (1983):
- Grau 1: fratura de coroa
- Grau 2: fratura de coroa com exposição de câmara pulpar
Todas as informações acerca dos sincrânios foram registradas em ficha odontológica
(odontograma) específica para primatas, desenvolvida pelo Laboratório de Odontologia
Comparada (LOC), vinculado ao Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP) (Anexo A). O
odontograma usa como referência o sistema de identificação TRIADAN modificado, que se
caracteriza por atribuir a cada dente um número de três dígitos. O primeiro dígito representa o
quadrante em que o dente está inserido, de forma que: a série 100 é utilizada para denominar
63
os dentes do hemi-arco maxilar direito; a série 200 para os dentes do hemi-arco maxilar
esquerdo; a série 300 para os dentes do hemi-arco mandibular esquerdo; e a 400 para os
dentes do hemi-arco mandibular direito. Os elementos dentários individuais são representados
pelo segundo e terceiro dígitos tendo por número “01” o primeiro dente da linha mediana que
é seguido distalmente, em ordem crescente, ao longo do hemi-arco dentário.
Foram realizados registros fotográficos por meio de câmera digital Canon PowerShot
SX110 (9.0 mega pixels) de todos os sincrânios avaliados. Para cada espécime foram
realizadas 11 projeções fotográficas: dorso-ventral e ventro-dorsal de crânio; lateral direita e
esquerda de crânio; dorso-ventral e ventro-dorsal de mandíbula; leteral direita e esquerda de
mandíbula; lateral direita e esquerda de sincrânio articulado; rostral do sincrânio articulado
(Figura 6).
Figura 6 – Vista rostral de sincrânio de Ateles marginatus (MPEG-4073)
Além das imagens padronizadas para a avaliação dos sincrânios, outras fotografias
foram realizadas, conforme a necessidade de documentação complementar de outras
alterações observadas.
64
5 RESULTADOS
Foram avaliados um total de 253 sincrânios de machos, fêmeas e animais de sexo
indeterminado de seis espécies de Ateles sp., conforme a Figura 7.
Número de Animais
61
33
23
22
25
20
14
ad
a
in
In
d
At
el
et
er
m
es
ge
o
ze
bu
be
l
es
At
el
Fêmea
1
ffr
o
th
ek
ch
am
es
At
el
Macho
3 3
yi
1
ga
tu
s
va
rie
At
el
es
At
el
es
m
ar
g
pa
n
es
13
1 3
in
at
us
isc
us
6
At
el
15
9
Indeterminado
Figura 7 – Distribuição sexual dos sincrânios de Ateles sp. avaliados de acordo com a espécie
No presente estudo foram avaliados animais de vida livre, cativeiro e de procedência
desconhecida, conforme a Figura 8.
Número de Animais
81
49
43
43
13
8
1
Ateles
paniscus
4
4
Ateles
marginatus
Ateles
variegatus
Vida Livre
1
Ateles chamek
Cativeiro
Ateles
belzebuth
Ateles
geoffroyi
2
4
Indeterminada
Indeterminado
Figura 8 – Distribuição das espécies de Ateles sp. avaliadas de acordo com o local de vida
65
Os resultados foram divididos em dois tópicos: alterações em sincrânios (que
envolviam disparidades de conformação de crânio e mandíbula) e um segundo tópico
relacionado às afecções dentárias. Mesmo tratando-se de alterações em sincrânios, a
deiscência e a fenestração óssea alveolares foram inclusas no tópico das afecções dentárias,
por estarem relacionadas diretamente a elas.
5.1 Alterações em Sincrânios
Foram avaliados 253 sincrânios de Ateles sp. quanto à presença de alterações ósseas.
Destes animais, 219 eram de vida livre, 20 de cativeiro e 14 de origem desconhecida.
Alguns espécimes não puderam ser avaliados quanto à presença de alterações
oclusivas e assimetria, por estarem representados apenas pela mandíbula (MHN-UFRJ507/508/11751), por não permitirem sua articulação com o crânio (MHN-UFRJ-21057 e
MPEG-21618) ou por apresentarem grande perda dentária (MHN-UFRJ-1657/23727/25717).
Sendo assim, o número de animais avaliados quanto à presença de alterações oclusivas e
assimetria foi 245. Destes animais, 215 eram de vida livre, 20 de cativeiro e 10 de origem
indeterminada.
As principais alterações em sincrânios pesquisadas e observadas em Ateles sp. estão
resumidas na Tabela 2.
Tabela 2 – Distribuição dos sincrânios de Ateles sp. de acordo com as principais afecções e local de
vida
Afecções
Alterações Oclusivas
Assimetria
Alterações Ósseas
Vida Livre
49 (22,8%)
30 (14%)
12 (5,5%)
Local de Vida
Cativeiro
11 (55%)
2 (10%)
1 (5%)
Total
Indeterminado
5 (50%)
4 (40%)
0
65 (26,5%)
36 (14,7%)
13 (5,3%)
66
5.1.1 Alterações Oclusivas
As alterações oclusivas foram observadas em 65 sincrânios de Ateles sp.,
correspondendo a 26,5% do total avaliado. Estas alterações foram observadas em sincrânios
de machos e fêmeas e nas espécies A. belzebuth, A. marginatus, A. variegatus, A. chamek e A.
paniscus (Tabela 3).
Tabela 3 – Distribuição e ocorrência das alterações oclusivas segundo espécie e sexo
Espécie
Macho
Ateles belzebuth
3 (20%)
Ateles marginatus
7 (28%)
Ateles variegatus
0
Ateles chamek
2 (28,6%)
Ateles paniscus
9 (15,3%)
Indeterminadai
2 (66,7%)
i
Espécie Indeterminada
Fêmea
Sexo Indeterminado
Número Total
5 (15,2%)
3 (33,3%)
3 (100%)
6 (31,6%)
10 (43,5%)
1 (33,3%)
1 (100%)
0
0
4 (28,6%)
3 (50%)
6 (54,5%)
9 (18,4%)
10 (21,75%)
3 (75%)
12 (28,57%)
22 (25%)
9 (52,9%)
A Figura 9 representa um sincrânio com o padrão oclusivo considerado normal neste
estudo, enquanto as Figuras 10 e 11 representam animais com prognatismo.
Figura 9 – Padrão oclusivo normal em sincrânio de fêmea de Ateles geoffroyi (MPEG-21835)
67
Figura 10 – Prognatismo em sincrânio de vida livre de Ateles belzebuth (MPEG-5049)
Figura 11 – Prognatismo em sincrânio de macho de vida livre de Ateles paniscus (MPEG-13243)
5.1.2 Assimetria
As alterações de simetria foram observadas em 36 sincrânios de Ateles sp.,
correspondendo a 14,7% do total avaliado. A assimetria foi observada em machos e fêmeas e
nas espécies A. paniscus, A. belzebuth, A. chamek e A. marginatus (Tabela 4).
68
Tabela 4 – Distribuição e ocorrência dos sincrânios assimétricos segundo espécie e sexo
Espécie
Macho
Ateles belzebuth
1 (6,7%)
Ateles marginatus
5 (22,7%)
Ateles chamek
2 (22,7%)
Ateles paniscus
5 (21,7%)
Indeterminada i
0
i
Espécie Indeterminada
Fêmea
Sexo Indeterminado
Número Total
4 (12,1%)
0
1 (5,3%)
8 (13,6%)
1 (33,3%)
0
0
3 (21,4%)
1 (16,7%)
5 (54,5%)
5 (10,2%)
5 (10,9%)
6 (15%)
14 (15,9%)
6 (35,3%)
Alguns dos espécimes com assimetria em ossos do sincrânio encontram-se ilustrados
nas Figuras 12, 13 e 14.
Figura 12 – Alteração de simetria em sincrânio de fêmea de vida livre da espécie Ateles belzebuth
(MPEG-5040). Notar que o dente 203 apresenta deslocamento ao plano sagital do animal
69
Figura 13 – Alteração de simetria em sincrânio de macho de vida livre da espécie Ateles belzebuth
(MPEG-1534). Notar que o dente 103 apresenta deslocamento em relação ao plano sagital do animal
Figura 14 – Alteração de simetria em sincrânio de fêmea de vida livre da espécie Ateles paniscus
(MPEG-1274). Notar que a mandíbula apresenta desvio de eixo sagital para lado direito
5.1.3 Alterações Ósseas
As alterações ósseas foram observadas em 13 sincrânios de Ateles sp., correspondendo
a 5,3% do total avaliado. Dez animais eram fêmeas, um era macho e outro de sexo
indeterminado, correspondendo respectivamente a 6,8%, 1,4% e 2,9% do total avaliado.
Foram encontradas alterações ósseas em dois sincrânios da espécie A. belzebuth, três da
espécie A. chamek, um da espécie A. marginatus e sete indivíduos da espécie A. paniscus.
70
Três dos sincrânios avaliados apresentaram alterações ósseas inespecíficas e de etiologia
desconhecida na mandíbula, conforme as Figuras 15, 16 e 17.
Figura 15 – Mineralização incompleta na transição do ramo vertical com ramo horizontal da
mandíbula de fêmea de Ateles belzebuth de vida livre (MPEG-5039)
Figura 16 – Mineralização incompleta na transição do ramo vertical com ramo horizontal da
mandíbula de fêmea de Ateles paniscus de vida livre (MPEG-1275)
71
Figura 17 – Mineralização incompleta do ramo vertical da mandíbula de macho de Ateles marginatus
de vida livre (MHN-UFRJ-33606)
Uma fêmea da espécie Ateles belzebuth de vida livre (MPEG-5048) apresentou uma
formação periostal bilateral em osso parietal, de etiologia desconhecida (Figura 18).
Figura 18 – Formação periostal bilateral em osso parietal de fêmea da espécie Ateles belzebuth de
vida livre (MPEG-5048)
As fraturas de ossos do sincrânio foram observadas em seis animais, sendo esta a
alteração óssea mais encontrada neste estudo (2,4%). Dentre essas lesões, as fraturas
72
mandibulares foram as mais observadas, com cinco animais acometidos, correspondendo a
2% dos espécimes avaliados (Figuras 19, 20 e 21).
Figura 19 – Fratura mandibular em Ateles chamek de sexo indeterminado de vida livre (MHN-UFRJ33621). Pode-se notar a presença de aspecto irregular da borda da fratura e área de remodelamento
ósseo
Figura 20 – Fratura mandibular em ramo horizontal esquerdo de fêmea de vida livre da espécie Ateles
chamek (MZ-USP-5602). Pode-se notar aspecto irregular da lesão
73
Figura 21 – Trauma de mandíbula de origem desconhecida em porção lateral direita em fêmea de vida
livre da espécie Ateles chamek (MHN-UFRJ-6037)
Em uma fêmea jovem de cativeiro da espécie Ateles paniscus (MPEG-4069),
observou-se uma fratura com consolidação incompleta de ramo horizontal da mandíbula
esquerda (Figura 22).
Figura 22 – Fratura com consolidação incompleta de ramo horizontal de mandíbula esquerda de
fêmea jovem da espécie Ateles paniscus oriunda de cativeiro (MPEG-4069)
Uma fêmea de vida livre da espécie Ateles paniscus (MPEG-1243) apresentou fratura
com proliferação óssea na inserção do arco zigomático esquerdo (osso maxilar) (Figura 23).
74
Figura 23 – Fratura com proliferação óssea na inserção do arco zigomático esquerdo (osso maxilar) de
fêmea de vida livre da espécie Ateles paniscus (MPEG-1243)
Foram observados três animais com alterações ósseas características de fenda palatina
e lábio leporino, correspondendo a 1,2% dos animais avaliados. Todos esses animais eram
fêmeas de vida livre da espécie A. paniscus (Figuras 24, 25 e 26).
Figura 24 – Fêmea de vida livre da espécie Ateles paniscus com lábio leporino e fenda palatina
(MPEG-1245): (A) vista ventro-dorsal, (B) vista rostral. Notar que não há união da sínfise palatina na
porção do osso incisivo
75
Figura 25 – Fêmea de vida livre da espécie Ateles paniscus com lábio leporino e fenda palatina
(MPEG-1267): (A) vista ventro-dorsal, (B) vista rostral. Notar que não há união da sínfise palatina na
porção do osso incisivo
Figura 26 – Fêmea de vida livre da espécie Ateles paniscus com lábio leporino e fenda palatina
(MPEG-6979): (A) vista ventro-dorsal, (B) vista rostral. Notar que não há união da sínfise palatina na
porção do osso incisivo
5.2 Afecções Dentárias
Para o estudo das principais afecções dentárias foram avaliados um total de 227
sincrânios de Ateles sp. Foram excluídos do presente estudo 21 espécimes de animais jovens
com dentição mista, quatro sincrânios que não puderam ser desarticulados e um sincrânio
76
representado apenas pelo crânio e maxila. A distribuição dos animais por espécie e sexo é
ilustrada na Figura 27.
Número de Animais
52
33
25
21
21
19
11
ad
a
in
et
er
m
At
el
In
d
es
be
l
es
At
el
Fêmea
ge
o
ze
bu
ffr
o
th
ek
ch
am
es
At
el
Macho
2 2
1
yi
1
ga
tu
s
va
rie
es
es
At
el
At
el
m
ar
g
pa
n
es
12
1 1
in
at
us
isc
us
5
At
el
14
6
Indeterminado
Figura 27 – Distribuição dos sincrânios de Ateles sp. com afecções dentárias de acordo com a espécie
e sexo
Os 227 sincrânios foram representados por 199 animais de vida livre, 16 de cativeiro e
12 de origem desconhecida, conforme ilustrado na Figura 28.
Número de Animais
69
48
43
36
11
8
1
Ateles
paniscus
3
2
Ateles
marginatus
Ateles
variegatus
Vida Livre
1
Ateles chamek
Cativeiro
Ateles
belzebuth
Ateles
geoffroyi
2
3
Indeterminada
Indeterminado
Figura 28 – Distribuição dos sincrânios de Ateles sp. com afecções dentárias de acordo com a espécie
e local de vida
77
As principais afecções dentárias encontradas nos 227 sincrânios de Ateles sp.
encontram-se resumidas na tabela 5.
Tabela 5 – Distribuição da ocorrência das afecções dentárias avaliadas de acordo com o local de vida
em sincrânios de Ateles sp.
Afecção Dentária
Anomalia Dentária de Conformação
Vida Livre
6 (3%)
Habitat
Cativeiro
0
Indeterminado
0
6 (2,6%)
Anomalia de Número
60 (30,2%)
4 (25%)
1 (8,3%)
65 (28,6%)
Alterações Amelo-Cementárias
177 (88,9%)
9 (56,25%)
8 (66,6%)
194 (85,5%)
Apinhamento Dentário
14 (7%)
3 (18,6%)
1 (8,3%)
18 (7,9%)
Deiscência Óssea-Alveolar
9 (4,5%)
0
1 (8,3%)
10 (4,4%)
Fenestração Óssea-Alveolar
5 (2,5%)
2 (12,5%)
0
7 (3%)
Desgaste Dentário
80 (40,2%)
1 (6,2%)
1 (8,3%)
82 (36,1%)
Exposição de Furca
4 (2%)
2 (12,5%)
1 (8,3%)
7 (3,1%)
Exposição de Câmara Pulpar
30 (15,1%)
2 (12,5%)
2 (16,7%)
34 (15%)
Fratura Dentária
27 (13,6%)
1 (6,25%)
2 (16,7%)
30 (13,2%)
2 (1%)
0
0
2 (0,9%)
58 (29,1%)
3 (18,8%)
2 (16,7%)
63 (27,8%)
Giroversão Dentária
Reabsorção de Crista Alveolar
Total
5.2.1 Anomalia Dentária de Conformação
As anomalias dentárias foram observadas em seis sincrânios de macacos-aranha,
correspondendo a 2,6% do total de animais avaliados. Todos os animais eram de vida livre,
correspondendo a 3% do total de indivíduos neste grupo.
78
Uma fêmea da espécie A. marginatus de vida livre apresentou dentição
supranumerária fusionada. Na maxila deste indivíduo foi observada geminação do dente 204 e
seu correspondente supranumerário com o elemento 205 (Figura 29).
Figura 29 – Geminação do dente 204 e seu correspondente supranumerário com o 205: (A) nota-se a
possível separação entre as raízes dos 3 dentes em vista palatina; (B) a geminação entre os elementos
204 e o 205 é melhor observada na vista vestibular
Foram observadas anomalias de malformação dentária de conformação em outros
cinco sincrânios de vida livre avaliados, que apresentavam dentes com diâmetro de coroa
reduzida. Essas alterações estiveram presentes em quatro fêmeas, sendo dois indivíduos da
espécie A. chamek (MHN-UFRJ-505/22788) (Figura 30), um A. belzebuth (MPEG-5033)
(Figura 31) e outro A. paniscus (MPEG-1166) (Figura 32). O único macho com esta afecção
pertencia à espécie A. marginatus (MZ-USP-19320).
79
Figura 30 – Anomalia dentária de conformação em dente 205 de fêmea de vida livre da espécie Ateles
belzebuth (MPEG-5033)
Figura 31 – Anomalia de conformação em fêmeas de vida livre da espécie Ateles chamek. Nota-se a
coroa clínica menor em comprimento e diâmetro se comparada ao dente molar proximal: (A) elemento
209 (MHN-UFRJ-505), (B) elemento 109 (MHN-UFRJ-22788)
80
Figura 32 – Anomalia de conformação em dente 109 de fêmea de vida livre da espécie Ateles
paniscus (MPEG-1166). Aparentemente existem dois dentes 109, sendo um supranumerário
5.2.2 Anomalia de Número
Foram encontrados 65 sincrânios com alterações do número de dentes, o que
corresponde a 28,6% do número total de animais avaliados. As anomalias dentárias de
número observadas no presente estudo foram: presença de dentes supranumerários, perda
dentária antes da morte, agenesia ou dentes não erupcionados. Não foi observado nenhum
caso de persistência de dentição decídua nos sincrânios de Ateles sp.
Sete animais apresentaram alterações características de agenesia dentária ou de
dentição ainda não erupcionada, o que corresponde a 3% do número total de sincrânios
avaliados. Todos os casos envolviam os terceiros molares, estando todos os quatro dentes
ausentes em quatro destes animais. Um sincrânio não possuía ambos os molares superiores,
enquanto em dois desses indivíduos apenas um molar superior estava ausente (Figura 33).
81
Figura 33 – Ausência do dente 209 em fêmea de Ateles chamek de vida livre (MHN-UFRJ-31293)
Os dentes supranumerários foram observados em 11 sincrânios de Ateles sp.,
correspondendo a 4,8% do número total avaliado. Quatro destes animais eram fêmeas de vida
livre da espécie A. paniscus e, em todos esses sincrânios, havia um molar superior
supranumerário (Figura 34).
Figura 34 – Dentes supranumerários adjacentes ao dente 209 em fêmeas de vida livre da espécie
Ateles paniscus: (A) MPEG-1229, (B) MPEG-1280
Foram observados dentes supranumerários em três animais da espécie A. belzebuth.
Uma fêmea de vida livre apresentou dois pré-molares superiores supranumerários (Figura
82
35B), enquanto em um macho e uma fêmea também de vida livre esta mesma alteração foi
observada unilateralmente (Figura 35A).
Figura 35 – Dentes pré-molares supranumerários em fêmeas de vida livre da espécie Ateles belzebuth:
(A) MPEG-5031, (B) MPEG-5148
Três fêmeas de vida livre da espécie A. marginatus apresentaram dentição
supranumerária.
Em
um
dos
sincrânios
observou-se
dentes
molares
superiores
supranumerários bilateralmente (Figura 36). Em dois indivíduos as alterações foram
referentes aos dentes pré-molares superiores.
Figura 36 – Presença de dentes pré-molares supranumerários e apinhamento dentário em fêmea de
vida livre da espécie Ateles marginatus (MPEG-5143)
83
Um sincrânio de vida livre de sexo indeterminado da espécie A. chamek (MHN-UFRJ33620) apresentou pré-molares superiores supranumerários bilateralmente (Figura 37).
Figura 37 – Presença de dentes pré-molares superiores supranumerários e apinhamento dentário em
animal de vida livre da espécie Ateles chamek (MHN-UFRJ-33620)
Dos 227 sincrânios avaliados, 48 apresentaram algum número de perda dentária antes
da morte adquirida, o que corresponde a 21,1% do total estudado. A distribuição dessa
alteração segundo a espécie e sexo está descrita na tabela 6.
Tabela 6 – Distribuição e ocorrência de sincrânios com perda dentária antes da morte segundo espécie
e sexo
Espécie
Macho
Fêmea
Ateles belzebuth
2 (14,3%) 7 (21,2%)
Ateles marginatus
5 (23,8%)
6 (24%)
Ateles variegatus
1 (100%)
0
Ateles chamek
2 (33,3%) 3 (15,8%)
Ateles paniscus
7 (33,3%) 8 (15,4%)
Indeterminadai
0
1 (50%)
i
Animais cuja espécie não foi definida
Sexo Indeterminado
Número Total
1 (100%)
0
0
3 (27,2%)
2 (40%)
0
10 (20,8%)
11 (23,9%)
1 (50%)
8 (22,2%)
17 (21,8%)
1 (7,1%)
84
As diferenças quanto à morfologia óssea alveolar nas perdas dentárias antes e depois
da morte foram observadas nos sincrânios avaliados (Figura 38).
Figura 38 – Perda dentária antes e após a morte: (A) Crânio de macho de vida livre da espécie A.
paniscus com perda dentária ocorrida antes da morte. Observa-se remodelamento ósseo com
arredondamento da crista óssea alveolar e não evidenciação dos alvéolos dentários (MPEG-13243);
(B) mandíbula de macho de vida livre da espécie Ateles marginatus com perda dentária ocorrida após
a morte. Observa-se ausência de reação periostal, contorno da crista óssea alveolar inalterado, e
manutenção da profundidade dos alvéolos dentários (MHN-UFRJ-33606)
As perdas dentárias ocorridas antes da morte (Figura 39) foram classificadas de acordo
com o critério estabelecido anteriormente em graus de 1 a 5 (Tabela 7).
Tabela 7 – Distribuição dos indivíduos com perda dentária ocorrida antes da morte de acordo com a
espécie e grau da lesão
Espécie
Grau 1
Ateles belzebuth
7
Ateles marginatus
2
Ateles variegatus
0
Ateles chamek
4
Ateles paniscus
5
Indeterminadai
1
i
Animais cuja espécie não foi definida
Grau 2
Grau 3
Grau 4
Grau 5
1
1
0
1
5
0
1
2
1
1
1
0
0
1
0
1
2
0
1
5
0
1
4
0
85
Figura 39 – Fêmea de vida livre da espécie Ateles paniscus apresentando perda dentária ocorrida antes
da morte: (A) perda de todos os pré-molares superiores; (B) perda de todos os incisivos inferiores e do
elemento 404
5.2.3 Alterações Amelo-Cementárias
Um total de 194 sincrânios apresentou alterações amelo-cementárias, o que
corresponde a 85,5% dos animais avaliados. Todos os espécimes exibiram pigmentação de
esmalte e o escurecimento dentário esteve presente em 15 animais com fraturas dentárias
(Figura 40).
Figura 40 – Fratura dentária de 203 com exposição de câmara pulpar coronal e reabsorção de margem
alveolar, em animal de sexo indefinido da espécie Ateles paniscus (MPEG-1571)
86
Em animais de vida livre, a presença de pigmentação de esmalte esteve presente em
88,9% dos sincrânios avaliados, enquanto que naqueles sabidamente provenientes de cativeiro
esta alteração esteve presente em 56,25% (Figura 41).
Figura 41 – Presença de pigmentação de esmalte em Ateles sp. de sexo indeterminado (MPEG-23209)
5.2.4 Doença Periodontal
Alguns dos sincrânios avaliados exibiram alterações características de doença
periodontal, evidenciadas por mudanças no osso alveolar (Figura 42, 43 e 44). Devido à
ausência de tecidos moles e pela perda de material durante o processamento dos sincrânios, a
prevalência da doença periodontal não pode ser calculada com precisão.
87
Figura 42 – Macho de Ateles sp. de cativeiro (MPEG-4063) com alterações ósseas características de
doença periodontal: (A) exposição de furca grau 3; (B) reabsorção de crista alveolar; (C) presença de
cálculo dentário aderido aos dentes
Figura 43 – Fêmea de Ateles marginatus de vida livre (MZ-USP-5606) com alterações ósseas
características de doença periodontal: (A) reação periostal; (B) cálculo dentário; (C) reabsorção de
crista alveolar
Figura 44 – Fêmea de Ateles marginatus de vida livre evidenciando reação periostal em face
vestibular da crista alveolar, desde dente 203 até o 207 (MZ-USP-19325)
88
5.2.5 Apinhamento Dentário
Foram observados 18 sincrânios com apinhamento dentário, correspondendo a 7,9%
do total de animais avaliados (Figuras 45, 46 e 47).
Figura 45 – Apinhamento dentário de 303 e 304 em macho de Ateles paniscus de cativeiro (MPEG8855)
Figura 46 – Apinhamento dentário de 301 e 401 em fêmea de Ateles paniscus de vida livre (MPEG6992)
89
Figura 47 – Apinhamento dentário de pré-molares superiores em Ateles marginatus de vida livre
(MZ-USP-19322)
5.2.6 Deiscência Óssea Alveolar
O defeito ósseo de deiscência foi encontrado em 10 sincrânios de Ateles sp.,
correspondendo a 4,4% dos espécimes avaliados. Dentre esses animais, nove eram
provenientes de vida livre (Figura 48) e um de origem desconhecida.
Figura 48 – Deiscência óssea alveolar e fenestração em dentes 205 e 206 de Ateles paniscus de vida
livre (MPEG-6992)
90
Três animais apresentaram deiscência óssea alveolar em dentes caninos fraturados,
como o animal da Figura 49.
Figura 49 – Deiscência óssea alveolar em dente 303 fraturado de Ateles paniscus de vida livre
(MPEG-22052)
Dois indivíduos jovens (MHN-UFRJ-506/33615) apresentaram deiscência óssea
alveolar em caninos em processo de erupção (Figura 50).
Figura 50 – Deiscência óssea alveolar em dente 203 de fêmea jovem da espécie Ateles chamek
(MHN-UFRJ-506)
91
5.2.7 Fenestração Óssea Alveolar
O defeito ósseo de fenestração foi encontrado em sete sincrânios de Ateles sp.,
correspondendo a 3% dos sincrânios avaliados. Dentre esses animais, cinco eram provenientes
de vida livre (Figura 51) e dois de cativeiro. Três destes animais também apresentavam
deiscência óssea alveolar (MPEG-1234/1571/6992).
Figura 51 – Fenestração óssea alveolar em dente 206 de Ateles marginatus de vida livre (MZ-USP19324)
Dois indivíduos jovens (MPEG-4070/6984) apresentaram fenestração óssea alveolar
em dentes em processo de erupção (Figuras 52 e 53).
92
Figura 52 – Fenestração óssea alveolar em dente 305 de macho jovem de cativeiro da espécie Ateles
paniscus (MPEG-6984)
Figura 53 – Fenestração óssea alveolar em fêmea jovem de cativeiro da espécie Ateles paniscus
(MPEG-4070)
5.2.8 Desgaste Dentário
Um total de 82 sincrânios apresentou desgaste dentário, o que corresponde a 36,1%
dos animais avaliados. Deste total, 80 animais eram de vida livre, um de cativeiro e um de
origem desconhecida, correspondendo a respectivamente, 40,2%, 6,2% e 8,3% do total
avaliado.
93
Foram vistos animais com desgaste dentário desde o grau 1 até o 3, das espécies A.
belzebuth, A. marginatus, A. chamek e A. paniscus, conforme resumido na Tabela 8.
Tabela 8 – Distribuição e ocorrência do desgaste dentário por espécie e grau da lesão
Espécie
Grau 1
Ateles belzebuth
25 (52%)
Ateles marginatus
9 (19,6%)
Ateles chamek
8 (22,2%)
Ateles paniscus
8 (10,3%)
Indeterminada i
1 (6,3%)
i
Animais cuja espécie não foi definida
Grau 2
Grau 3
Total
3 (6,25%)
3 (6,52%)
7 (19,4%)
7 (9%)
1 (6,3%)
1 (2,1%)
1 (2,2%)
2 (5,6%)
6 (7,7%)
0
29 (60,4)
13 (28,3%)
17 (47,2%)
21 (26,9%)
2 (12,5%)
Foram avaliados 133 sincrânios de fêmeas, 65 de machos e 29 de sexo indefinido,
totalizando 227 animais. Um total de 40 fêmeas apresentou algum grau de desgaste dentário
(Figura 54), seguido por 28 machos e por 14 animais de sexo indefinido, resultando em uma
ocorrência de respectivamente, 30,1%, 43,1% e 48,3%.
Figura 54 – Desgaste grau 2 em dentes 301 e 401 de fêmea de Ateles marginatus de vida livre
(MPEG-5041)
94
5.2.9 Exposição de Furca
A exposição de furca foi encontrada em sete animais (cinco fêmeas e dois machos)
correspondendo a 3,1% do total de sincrânios avaliados. Quanto ao local de vida, quatro
espécimes eram provenientes de vida livre (2%), dois de cativeiro (12,5%) e um de origem
desconhecida (8,3%). A distribuição das lesões está resumida na Tabela 9.
Tabela 9 – Identificação dos sincrânios acometidos pela exposição de furca com informações
referentes ao sexo, local de vida e grau da lesão
Identificação
Espécie
996
Ateles paniscus
1166
Ateles paniscus
1238
Ateles paniscus
4063
Indeterminada
4069
Ateles paniscus
5036
Ateles belzebuth
23210
Indeterminada i
i
Animais cuja espécie não foi definida
ii
Informação indisponível
Sexo
Local de Vida
Grau da Lesão
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Macho
Fêmea
Macho
Macho
Vida Livre
Vida Livre
Vida Livre
Cativeiro
Cativeiro
Vida Livre
Indeterminado ii
3
2
3
3
3
1
3
A exposição de furca grau 1 foi encontrada apenas no sincrânio 5036 (Figura 55),
assim como o grau 2 da lesão foi observado apenas no espécime 1166 (Figura 56). Em ambos
os casos, a ocorrência da lesão correspondeu a 0,4% de todos os animais avaliados no
presente estudo.
95
Figura 55 – Exposição de furca grau 1 em dente 207 de macho de vida livre da espécie Ateles
belzebuth (MPEG-5036)
Figura 56 – Exposição de furca grau 2 em dente 107 de fêmea de vida livre da espécie Ateles paniscus
(MPEG-1166)
A exposição de furca grau 3 foi a mais prevalente, estando presente em cinco dos oito
sincrânios, correspondendo a 2,2% do total de espécimes avaliados (Figura 57).
96
Figura 57 – Exposição de furca grau 3 em dente 207 de fêmea de vida livre da espécie Ateles paniscus
(MPEG-996)
5.2.10 Exposição de Câmara Pulpar
Um total de 34 sincrânios apresentou exposição de câmara pulpar, o que corresponde a
15% dos animais avaliados. Esta alteração esteve presente em 30 indivíduos de vida livre,
dois de cativeiro e dois de origem desconhecida, correspondendo a respectivamente, 15,1%,
12,5% e 15% do total estudado.
Foram avaliados 227 animais, sendo 133 fêmeas, 65 machos e 29 de sexo
indeterminado. Esta alteração foi encontrada 12,8% das fêmeas, 16,9% dos machos e 37,9%
de animais de espécie indefinida.
Em 26 casos (11,5% do total de sincrânios avaliados), a exposição de câmara pulpar
ocorreu como consequência de fraturas dentárias (Figuras 58 e 59).
97
Figura 58 – Exposição de câmara pulpar coronal com escurecimento dentário em 405 e 406 fraturados
de macho de vida livre da espécie Ateles belzebuth (MPEG-5036)
Figura 59 – Exposição de câmara pulpar coronal com escurecimento dentário em 103 fraturado de
macho de vida livre da espécie Ateles paniscus (MPEG-1158)
Em cinco animais (2,2% do total de sincrânios avaliados), a exposição de câmara
pulpar ocorreu como consequência de desgaste dentário grau 3. Em três casos (1,3% do total
de sincrânios avaliados), a exposição de câmara pulpar ocorreu possivelmente por lesões
sugestivas de cárie (Figuras 60 e 61).
98
Figura 60 – Exposição de câmara pulpar coronal em dente 204 com alterações sugestivas de cárie em
macho de vida livre da espécie Ateles paniscus (MPEG-21796)
Figura 61 – Exposição de câmara pulpar coronal em dente 103 com alterações sugestivas de cárie em
fêmea de vida livre da espécie Ateles marginatus (MZ-USP-19325)
5.2.11 Fratura Dentária
Um total de 30 sincrânios apresentou fratura dentária, o que corresponde a 13,2% do
total de animais avaliados. A maior parte desses animais (27 indivíduos) era de vida livre
(16,6%), sendo um de cativeiro (6,25%) e dois de origem desconhecida (16,7%). Foram
observadas fraturas dentárias grau 1 e 2. Estas lesões estavam presentes em A. belzebuth, A.
marginatus, A. chamek, A. paniscus e em animais de origem indeterminada.
99
Um total de 13 indivíduos do sexo feminino apresentou algum grau de fratura dentária,
seguido por 11 machos e por seis animais de sexo indefinido. Sendo assim, de acordo com o
número total de sincrânios avaliados por sexo, observaram-se fraturas em 9,8% das fêmeas,
16,9% dos machos e em 20,7% dos animais de sexo indefinido.
Foram encontrados 73 dentes fraturados nos 30 sincrânios com este tipo de lesão.
Foram observadas fraturas em 17 incisivos, 29 caninos (Figura 61), 13 pré-molares e 14
molares (Figura 63). A distribuição destas lesões foi resumida na Tabela 10.
Tabela 10 – Distribuição de dentes fraturados por grau em sincrânios de Ateles sp.
Dente
Grau 1
Grau 2
Total
101
102
103
105
106
107
108
201
202
203
209
301
302
303
304
305
306
307
308
309
401
402
403
404
405
406
407
408
1
0
4
0
0
1
1
0
0
2
0
0
1
5
1
0
2
1
2
1
0
0
2
1
1
1
2
1
0
1
3
1
1
1
1
3
1
9
1
3
4
2
1
1
0
0
0
0
2
1
2
1
1
1
1
1
1
1
7
1
1
2
2
3
1
11
1
3
5
7
2
1
2
1
2
1
2
1
4
2
2
2
3
2
100
Figura 62 – Fratura dentária grau 2 com exposição de câmara pulpar coronal e escurecimento dentário
de 203 em macho de vida livre da espécie Ateles paniscus (MPEG-21617)
Figura 63 – Fratura dentária longitudinal grau 2 com exposição de câmara pulpar e escurecimento
dentário de 209 em macho de vida livre da espécie Ateles paniscus (MPEG-1158)
5.2.12 Giroversão Dentária
A giroversão dentária foi encontrada em apenas dois sincrânios, correspondendo a
0,9% do total avaliado. Ambos os animais eram de vida livre, sendo um macho (MHN-UFRJ32701) e outro de sexo indeterminado (MHN-UFRJ-33613).
Esta alteração foi vista em um macho de vida livre da espécie A. marginatus,
acometendo ambos os terceiros molares superiores (Figura 64).
101
Figura 64 – Giroversão dos dentes 109 e 209 de macho de vida livre da espécie Ateles marginatus
(MHN-UFRJ-32701)
Um animal de vida livre e sexo indeterminado da espécie A. chamek apresentou
giroversão em todos os dentes pré-molares da mandíbula (Figura 65).
Figura 65 – Giroversão de todos os pré-molares inferiores em Ateles chamek de vida livre e sexo
indeterminado (MHN-UFRJ-33613)
102
5.2.13 Reabsorção da Crista Alveolar
Um total de 63 sincrânios apresentou reabsorção da crista alveolar, o que corresponde
a 27,8% dos animais avaliados. Esta alteração esteve presente em 58 animais de vida livre
(29,1%), três de cativeiro (18,85) e em dois animais de origem desconhecida (16,7%).
A reabsorção da crista alveolar foi observada nas espécies A. belzebuth, A. marginatus,
A. paniscus (Figuras 66 e 67) e A. chamek, estando presente em 33 fêmeas (24,8%), 22
machos (33,8%) e em oito animais de sexo indeterminado (27,6%).
Figura 66 – Reabsorção da crista alveolar em pré-molares e molares superiores de fêmea de Ateles
paniscus de vida livre (MPEG-1238)
Figura 67 – Reabsorção da crista alveolar em pré-molares e molares superiores de Ateles paniscus de
vida livre e sexo indeterminado (MPEG-1571)
103
6 DISCUSSÃO
A avaliação odontológica de animais selvagens é extremamente difícil, tanto pela
periculosidade de certas espécies quanto pelo alto potencial zoonótico, principalmente dos
primatas não-humanos. A crescente preocupação com o bem-estar animal fez com que a
odontologia veterinária fosse reconhecida como uma especialidade importante para este fim,
já que os animais também sofrem distúrbios na cavidade oral e raramente os demonstram, o
que torna ainda mais complicado o trabalho do clínico veterinário. Por esta razão, a utilização
de sincrânios mantidos em coleções de mastozoologia mostrou-se bastante útil, afirmação esta
já feita por Rossi Jr. (2007) e Elbroch (2006).
As coleções do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), Museu Histórico Nacional da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (MHN-RJ) e Museu de Zoologia da Universidade de
São Paulo (MZ-USP) mantinham sincrânios em bom estado de conservação e quase sempre
possuíam informações referentes à coleta, sexo e espécie.
A avaliação de espécimes mantidas em coleções de mastozoologia possibilitou que um
grande número de indivíduos de vida livre fosse avaliado, uma vez que é muito custoso em
termos financeiros e em tempo de amostragem de campo para se atingir um número grande de
indivíduos do gênero pesquisado. Além disso, observaram-se lesões graves em alguns desses
animais, mas que de alguma forma foram compensadas. Isto demonstra a grande habilidade
de certas espécies conviverem com alterações aparentemente graves o suficiente para
impossibilitarem a vida livre.
Esse fato também chama a atenção para aqueles animais mantidos em cativeiro e que
não demonstram qualquer sinal de doença da cavidade oral. É de suma importância que essas
alterações sejam descobertas tão logo surjam. Sendo assim, os resultados presentes aqui
corroboram a recomendação de Pachaly (2006) e Fagan (1983), que instituições mantenedoras
de espécies selvagens instituam um programa de odontologia preventiva, a fim de evitar essas
lesões ou, de que pelo menos, elas sejam descobertas precocemente.
No estudo realizado por Degusta et al. (2003), todos os sincrânios eram de animais
encontrados mortos por uma causa natural. Portanto, a forma dos dentes e a idade serviram
como indicadores de seleção natural por meio da dentição. Como a maior parte dos sincrânios
utilizados no presente estudo foi coletada da natureza ou foi proveniente de zoológicos, a
mesma comparação não pode ser feita. Sendo assim, sincrânios com graves alterações
odontológicas devem ser examinados para que o tempo decorrente desde a lesão até sua coleta
104
na natureza seja estabelecido. Esta avaliação permite estimar o quanto uma lesão na cavidade
oral pode prejudicar a vida de um animal em seu habitat natural.
Foram avaliados 253 sincrânios de seis espécies diferentes de Ateles sp. Quatro dessas
espécies foram descritas por Bicca-Marques et al. (2006) como sendo brasileiras: A. chamek,
A. marginatus, A. belzebuth e A. paniscus. Um único animal da espécie A. geoffroyi foi
avaliado no MPEG, mas tratava-se de uma coleta feita no México. Quatro exemplares de A.
variegatus foram encontrados na coleção do MPEG, mas esta espécie não foi mencionada em
nenhum trabalho ou livro pesquisado. Takahashi (2008) relata que a taxonomia do gênero
Ateles não foi totalmente esclarecida, o que pode explicar tanto a ocorrência de A. variegatus,
quanto a citação de Ateles paniscus chamek no trabalho feito por White (1986).
A faixa etária dos animais não pode ser determinada, já que este dado esteve ausente
na maior parte das informações coletadas dos sincrânios. A metodologia proposta por Ravosa
e Ross (1994), para a classificação etária de animais do gênero Alouatta, não pode ser
adaptada para o gênero Ateles, mesmo tratando-se de animais taxonomicamente próximos.
Concorda-se com Winkler (1991) e Anthony e Kay (1993) que a natureza espécie-específica
da dieta, o crescimento crânio-facial, e os padrões diferentes de erupção dentária fazem com
que a comparação entre táxons tenha um valor limitado. Portanto, a carência de pesquisas
espécie-específicas sobre a sequência de erupção dentária em espécies de animais selvagens
dificulta a classificação dos sincrânios. Rossi Jr. et al. (2007a) tiveram a mesma dificuldade,
relatando que a falta de precisão na determinação da idade das onças-pintadas (Panthera
onca) dificultou a correlação entre idade e achados clínicos em seu estudo sobre a doença
periodontal.
Algumas observações devem ser feitas na elaboração de uma metodologia para que
um padrão de sequência de erupção dentária espécie-específica seja estabelecido. Winkler
(1991) afirma que apesar da anatomia comparada esclarecer os mecanismos de
desenvolvimento e de mudanças evolucionárias, estudos inter e intra-espécies necessitam de
uma amostra de tamanho adequado que inclua neonatos e jovens. Além disso, Bowen e Koch
(1970) afirmaram que a consistência física da dieta pode influenciar a erupção dentária, o que
torna questionável a utilização de dados coletados de animais nascidos em cativeiro.
Outras formas de determinação da idade foram propostas, porém nenhuma delas pode
ser adaptada para os espécimes deste estudo. Primatas do gênero Ateles não manifestam
alterações fenotípicas de pelagem entre indivíduos de diferentes faixas etárias, portanto o
critério de Azarias et al. (2006) não pode ser utilizado. Concorda-se com Elbroch (2006) que
as alterações ósseas nos sincrânios podem servir como ferramenta na determinação da faixa
105
etária. Entretanto, alguns animais adultos avaliados no presente estudo mantinham sínfises
não fusionadas, o que tornou difícil a classificação por faixa etária. Este fato corrobora
novamente as afirmações de Elbroch (2006), que relata que algumas espécies de mamíferos
apresentam sínfises visíveis também quando adultos, o que as tornam difíceis de serem usadas
como meio de estimar a idade.
A separação dos sincrânios por sexo foi feita utilizando as informações cedidas pelos
museus mantenedores das coleções. Alguns dos animais foram classificados como de sexo
indeterminado, pela ausência dessa informação em suas fichas. Concorda-se com Swindler
(2002) que pouca ou nenhuma característica significante do canino permite a diferenciação
sexual em primatas do novo mundo. Este estudo também corrobora a pesquisa de Gingerich e
Shoeninger, já que os animais com caninos mais longos não se trataram necessariamente de
machos, havendo grande variação do tamanho deste dente, inclusive em fêmeas da mesma
espécie. Por este motivo, a hipótese de Sá et al. (1993), de que a variação do canino pode ter
influência geográfica também pode ser verdadeira para Ateles sp.
A assimetria craniana foi observada em 36 sincrânios dos 245 avaliados, o que
representa 14,7%. Essa mesma alteração foi menos prevalente (6,8%) em sincrânios de
suçuarana (Puma concolor) avaliados por Rossi Jr. (2007). Os sincrânios assimétricos
representaram 14% de Ateles sp. de vida livre e 10% de mantidos em cativeiro.
A maloclusão esteve presente em 65 animais, o que corresponde a 26,5% do total de
sincrânios de Ateles sp. avaliados, o que corrobora a grande variação da posição dos dentes
desses animais já relatada por Colyer (1919). A diferença entre os resultados obtidos aqui e os
relatados por Amand e Tinkelman (1985), de que em primatas essa alteração pode acometer
até 40% dos animais, pode ser explicada pelo uso de padrões distintos de avaliação.
Nos sincrânios de Ateles sp. de vida livre, as alterações oclusivas estiveram presentes
em 22,8% do total avaliado. A ocorrência desta lesão em espécimes mantidos em cativeiro
pode ser de duas a quatro vezes maior que nas de vida livre, conforme salientado por Amand
e Tinkelman (1985). Em um estudo realizado por Rossi Jr et al. (2003), a prevalência de
maloclusão em Panthera onca e Puma concolor mantidas em cativeiro foram
respectivamente, 47,61% e 5,55%. Dessa forma, a maior ocorrência de maloclusão em Ateles
sp. provenientes de cativeiro (55%) foi um achado esperado.
Os resultados obtidos nesta pesquisa corroboram os achados de Wiggs e Hall (2003),
já que a maior parte dos animais avaliados era isognata ou quase isognata. Entretanto,
concorda-se também com Elbroch (2006) sobre a dificuldade do encontro de sincrânios sem
qualquer alteração oclusiva e com perfeita simetria. Por este motivo, as alterações oclusivas e
106
de simetria deste estudo representaram apenas aqueles animais com alterações facilmente
identificadas macroscopicamente. Conclui-se assim, que é importante que se estabeleça um
critério para estas avaliações, com o intuito de padronizar a prevalência das lesões, tornando
fidedigna a comparação entre diferentes pesquisas.
Embora Gioso (1998) acredite que o acasalamento consanguíneo seja a principal
etiologia da maloclusão, concorda-se com Rossi Jr et al. (2003) que estudos sobre a
genealogia dos animais não foram realizados para que esta hipótese possa ser considerada nos
sincrânios de Ateles sp. aqui avaliados.
As alterações ósseas foram pouco observadas em sincrânios de Ateles sp., sendo as
fêmeas as mais acometidas (6,8%). Três espécimes apresentaram mineralização incompleta
(MPEG-5039, MPEG-1275, MHN-UFRJ-33606), cuja etiologia não foi estabelecida por não
se tratar do objetivo deste trabalho. Em uma fêmea de vida livre da espécie A. belzebuth
(MPEG-5048) foi observada a presença de proliferação óssea em abóbada craniana. Uma
alteração óssea regenerativa similar e também de etiologia desconhecida, em região de dentes
caninos e pré-molares de Puma concolor, foi relatada por Rossi Jr. (2007). Não houve
diferença significativa na ocorrência dessas lesões entre animais de vida livre e de cativeiro.
Concorda-se com Degusta e Milton (1998) que as fraturas anteriores a morte podem
ser facilmente identificadas por alterações de posicionamento, formação de calo e
remodelamento ósseos, já que as mesmas alterações foram vistas neste estudo. Dentre as
alterações ósseas observadas, as fraturas foram as mais encontradas (2,4% do total avaliado),
acometendo seis dos 13 animais com esse tipo de lesão.
Apenas um espécime apresentava fratura em arco zigomático esquerdo (MPEG-1243).
Esta mesma alteração é relatada em bugio (Alouatta palliata) por Degusta e Milton (1998).
Esses autores relataram que a incidência deste tipo de fratura foi consideravelmente maior do
lado esquerdo na espécie por eles estudada, levantando a hipótese de que haja lateralidade no
comportamento de luta.
Em cinco casos de fraturas mandibulares, todos os espécimes eram fêmeas. Este
resultado difere do encontrado por Degusta e Milton (1998), na pesquisa sobre alterações
ósseas em Alouatta palliata, onde 5,1% dos animais estudados manifestaram fraturas de
crânio e mandíbula, número este representado apenas por machos desta espécie.
As fraturas mandibulares de Ateles sp. corresponderam a 2% do total de sincrânios
avaliados, sendo o ramo horizontal o local mais acometido. Este resultado difere dos
encontrados em outras espécies animais. Em um estudo realizado com gatos asselvajados,
fraturas mandibulares foram observadas em 3,7% dos espécimes avaliados, sendo as lesões
107
encontradas principalmente no corpo da mandíbula (VERSTRAETE et al., 1996b). Doerr e
Dieterich (1979) avaliaram a ocorrência de lesões mandibulares em rena (Rangifer tarandus)
provenientes de duas diferentes coleções, encontrando uma prevalência de 7% e 4,4%.
Dentre os cinco animais com fraturas mandibulares deste estudo, quatro eram do lado
esquerdo da mandíbula. Assim como Degusta e Milton (1998) acreditam que haja lateralidade
nas fraturas de arco zigomático de A. palliata, o mesmo pode ocorrer também nas
mandibulares de Ateles sp. A ocorrência de especialização cerebral hemisférica em primatas
não-humanos é descrita por Fagot e Vauclair (1991) e sugere que, assim como em primatas
humanos, haja uma maior prevalência de animais destros. Desta forma, durante os conflitos
entre esses animais, o lado oposto pode ser o mais atingido pelos traumas.
Uma fêmea jovem de cativeiro da espécie Ateles paniscus (MPEG-4069) apresentou
uma fratura completa de mandíbula adjacente ao primeiro molar esquerdo. Uma alteração
similar foi descrita por Miles e Grigson (2003) em um guepardo (Aciononyx jubatus). Neste
animal, o fragmento posterior da mandíbula também foi deslocado para cima, houve grande
formação de calo ósseo e a consolidação dos fragmentos não ocorreu de forma total. O osso
alveolar adjacente à raiz mesial do primeiro molar, assim como no sincrânio de Ateles
paniscus, foi totalmente reabsorvido. Em ambos os casos a oclusão normal foi mantida
através do contato exercido pelos dentes caninos.
Esta alteração, aparentemente séria, não parece ter sido a causa da morte deste
guepardo, já que existiam sinais de remodelamento e consolidação óssea. Apesar de ser um
animal de cativeiro, não há qualquer outra informação que elucide a causa desta lesão no
sincrânio de Ateles paniscus. Como esses primatas têm hábitos arborícolas, uma hipótese é
que esta fratura tenha ocorrido como resultado de uma queda. O fato deste animal viver em
cativeiro pode ter minimizado as consequências desta alteração, porém não há comprovação
de que mudanças dietéticas tenham sido realizadas com o intuito de auxiliar na recuperação
deste indivíduo. Entretanto, as opções diversificadas de alimentos oferecidos em cativeiro
podem ter contribuído para que esta fêmea tenha tido a chance de escolher aqueles mais
macios e com alto valor energético. Infelizmente, tais opções nem sempre estão disponíveis
para os animais de vida livre, o que pode fazer com que uma fratura deste grau leve à
desnutrição e morte.
Algumas espécies animais mostram-se plenamente capazes de conviver com graves
fraturas de mandíbula, mesmo em vida livre. A grave lesão de MPEG-4069 corrobora os
relatos de Wobeser (1992), Degusta e Milton (1998), Dyer (1981), Erb et al. (1996),
Verstraete et al. (1996ab) e Rossi Jr. (2007) em lobos e coiotes, bugio, urso-negro, foca, gatos
108
asselvajados, onça-pintada e suçuarana. Em todos os casos, as graves fraturas exibiam
modificações ósseas sugestivas de recuperação.
Concorda-se com Kraus e Garrett (1968) que os escassos relatos sobre a prevalência
de lábio leporino e fenda palatina em primatas não-humanos não sejam condizentes com a
realidade, já que esta alteração esteve presente em três sincrânios de Ateles sp.,
correspondendo a 1,2% dos espécimes avaliados. Este estudo também difere do realizado por
Loffredo et al. (1994) com humanos, que concluiu que esta alteração tem maior prevalência
no sexo masculino, já que todos os animais aqui acometidos eram fêmeas de A. paniscus
(MPEG-1245, MPEG 1267 e MPEG-6979).
Não foram encontrados relatos da ocorrência de lábio leporino e fenda palatina em
Ateles sp. Todas as etiologias propostas por Loffredo et al. (1994) para a espécie humana não
são condizentes com a realidade da espécie aqui estudada, principalmente por se tratarem de
animais de vida livre coletados na floresta amazônica há um século atrás. Além disso, a
avaliação da procedência desses animais, coletados de três diferentes estados brasileiros
(Amazonas, Amapá e Pará), torna quase impossível o parentesco entre estes indivíduos,
fazendo com que a hipótese da hereditariedade sugerida por Gioso (2003) seja pouco
provável.
A ocorrência de três casos de lábio leporino e fenda palatina em Ateles paniscus
sugere que esta alteração ocorra com uma frequência maior do que a esperada para esta
espécie, corroborando relatos de Kraus e Garrett (1968). A falta de um critério de avaliação
etária, assim como de um histórico clínico completo, impossibilitou estimar o quanto esta
alteração é incompatível com a vida, além de se estabelecer um tempo médio de
sobrevivência dos animais acometidos neste estudo.
Assim como Wiggs e Bloom (2003), acredita-se que alterações nas coroas, raízes e no
número de dentes sejam comuns em diversas espécies animais. As anomalias dentárias de
conformação foram pouco frequentes em Ateles sp., acometendo apenas 2,6% do total
avaliado, sendo todos os indivíduos de vida livre. Foram observados casos de terceiro molar
com tamanho de coroa reduzida e em plano oclusivo inferior aos dentes adjacentes, assim
como a presença de quarto molar supranumerário, com essas mesmas características. Esse
achado corrobora a descrição de Shaw (1927) em babuínos, porém as etiologias por ele
propostas necessitam de maiores estudos em Ateles sp.
Degusta et al. (2003) correlacionam os molares reduzidos e a diminuição do escore
corporal à seleção fenotípica do tamanho dos dentes molares. Entretanto, seu estudo foi
realizado com animais folívoros da espécie Alouatta palliata, onde a diminuição dos molares
109
pode ter importante papel na adaptação destes indivíduos, influenciando na ingestão de
alimentos. De forma contrária, terceiros molares de tamanho reduzido em espécies de hábito
alimentar frugívoro como Ateles sp. podem trazer prejuízos no processamento dos alimentos
ingeridos.
A alteração do número típico de dentes é vista em algumas espécies de mamíferos
(HALL, 1940), incluindo o gênero Ateles. Neste estudo, a agenesia dentária não pode ser
diferenciada de dentição ainda não erupcionada pela ausência de exame radiográfico
complementar, portanto um só grupo foi estabelecido para a inclusão dessas alterações. A
ocorrência desta anomalia foi baixa (3%), considerando que alguns dos animais apresentavam
molares ainda não erupcionados que não puderam ser vistos sem exame complementar. Este
achado foi muito parecido aos 2,5% descritos por Miles e Grigson (2003) na avaliação de 651
sincrânios de Ateles sp. Resultado similar também foi descrito em lobo-guará (Chrysocyon
brachyurus) por Lopes (2008), sendo a agenesia dentária comprovada em 3,8% dos espécimes
por ela avaliados.
Todos os casos de ausência dentária congênita ou de dentição não erupcionada
observados neste estudo estavam relacionados ao terceiro molar. Há relatos da mesma
ausência dentária em outras espécies de primatas, como Alouatta palliata (DEGUSTA e
MILTON, 1998). Em gatos asselvajados esta anomalia foi diagnosticada em 16,6% dos
animais estudados, principalmente acometendo o segundo pré-molar superior (Verstraete et
al., 1996a).
Concorda-se com Rossi Jr. (2002) e Miles e Grigson (2003) sobre a dificuldade do
diagnóstico diferencial entre agenesia dentária e perda dentária antes da morte, quando esta
tenha sofrido total remodelamento. Nesses casos concorda-se com Lopes (2008) na afirmação
de que além do exame radiográfico, o posicionamento dos dentes adjacentes e a comparação
com os dentes contralaterais podem contribuir para este diagnóstico.
A permanência de dentes decíduos não foi observada em nenhum sincrânio deste
estudo, mas esta alteração é descrita em primatas por Miles e Grigson (2003). Os dentes
supranumerários foram vistos em 4,8% dos sincrânios aqui estudados. Concorda-se com
Lopes (2008) que o diagnóstico desta alteração é muito mais fácil em contrapartida à
agenesia. Além da presença do quarto molar já descrita anteriormente, todos os outros animais
acometidos apresentaram dentes pré-molares superiores supranumerários. Em gatos
asselvajados essa anomalia esteve presente em 3,7% dos animais, sendo os pré-molares
também os mais acometidos (VERSTRAETE et al., 1996a). Estes achados divergem do
relatado por Hillson (1996), que considera os incisivos superiores os mais prevalentes.
110
Degusta
e
Milton
(1998)
também
encontraram
dentes
incisivos
e
pré-molares
supranumerários em Alouatta palliata. A determinação do pré-molar supranumerário foi de
difícil diagnóstico, o que já havia sido antes relatado por Wiggs e Lobprise (1997). Em quase
todos os casos de pré-molares supranumerários observou-se apinhamento dentário
consequente.
A geminação dentária foi vista em uma fêmea de vida livre da espécie Ateles
marginatus (MZ-USP-19315). Neste animal, observou-se a presença de dois elementos 204,
sendo um supranumerário, além da geminação de ambos ao 205, este sem qualquer anomalia
de conformação. A vista palatina do hemi-arco dentário deste animal difere totalmente da
vestibular, sendo necessária a avaliação conjunta das imagens para um melhor entendimento.
A vista vestibular confirma a geminação entre o elemento 204, seu correspondente
supranumerário e o elemento 205. De forma contrária, a vista palatina parece demonstrar uma
separação das raízes dos três elementos. Todavia, sem o exame radiográfico complementar, é
impossível fazer qualquer afirmação sobre a anatomia radicular de qualquer um desses dentes.
Concorda-se com Miles e Grigson (2003) que há poucas evidências que determinem a
etiologia dos dentes fusionados.
A perda dentária antes da morte representou 21,1% do número de animais aqui
avaliados. Essas perdas possuíam a borda do osso alveolar remodelada ou completamente
absorvida, o que está de acordo com Elbroch (2006), Verstraete et al. (1996b) e Dyer (1981).
A comparação dos achados de perda dentária antes da morte não foi significativa entre
as espécies avaliadas, já que o baixo número de sincrânios da espécie Ateles variegatus e de
indivíduos indeterminados explica as diferenças observadas. Alguns espécimes aparentemente
senis estavam quase desprovidos de dentes (MPEG-13243 e MHN-UFRJ-25717), o que
corrobora os relatos de Elbroch (2006).
A hipoplasia de esmalte não foi observada em nenhum dos sincrânios avaliados, o que
está de acordo com Amand e Tinkelman (1985), que afirmaram que a ocorrência desta lesão é
pequena em animais selvagens. As coroas dos dentes de grande parte dos animais aqui
estudados (85,5%) apresentaram um pigmento escuro e extremamente aderido, o que segundo
Miles e Grigson (2003) é comum em primatas e consistem de finas camadas de placas
mineralizadas com pigmentos incorporados. Esta alteração foi vista com maior frequência em
animais de vida livre. Portanto, concorda-se com Rossi Jr. (2002) que, este pigmento aderido
ao esmalte dentário, pode ter sido consequência de impregnação de origem alimentar. As
fraturas dentárias foram responsáveis pelo escurecimento dentário de 15 sincrânios de Ateles
sp. avaliados neste estudo. Concorda-se com Gioso (2003), que afirma que a coloração
111
escurecida dos dentes é resultado da penetração de substâncias de degradação sanguínea
através dos túbulos dentinários.
A reação periostal e a reabsorção da crista alveolar, além da presença de cálculo
dentário aderido ao dente, foram os principais achados que evidenciaram a doença periodontal
nos sincrânios avaliados (MPEG-1571/4063 e MZ-USP-5606/19325). Entretanto, a
prevalência dessas lesões não foi calculada pela imprecisão dos achados encontrados em
sincrânios. A perda de depósitos calcificados normalmente associada à preparação química e
física, conforme ressaltado por Wenker et al. (1999), dificultou a identificação e quantificação
do cálculo dentário. Este estudo discorda das observações feitas por Miles e Grigson (2003),
já que não foram observados dois tipos diferentes de cálculo dentário o que, segundo esses
autores, seria feito facilmente.
A metodologia de classificação adotada pelo AVDC (American Veterinary Dental
College) baseia-se em animais vivos, o que impossibilita a determinação da doença
periodontal em seu estágio inicial, corroborando a afirmação de Hillson (1996), que a
gengivite não tem envolvimento do osso alveolar e não pode ser observada em sincrânios.
Desta forma, buscou-se apenas relatar que a doença periodontal é, de fato, uma alteração
frequente em Ateles sp., vista tanto em animais de vida livre quanto de cativeiro.
Concorda-se com Verstraete et al. (1996a) que a hiperemia decorrente da inflamação é
refletida no aumento das foraminas e pela textura áspera do osso alveolar. Miles e Grigson
(2003) observaram em 1157 sincrânios de canídeos selvagens avaliados, que apenas 24
espécimes (2,1%) apresentavam reabsorção óssea alveolar decorrente de doença periodontal.
Entretanto, Lopes (2008) encontrou uma prevalência de 37%, ou seja, bastante superior a
descrita previamente para esse grupo de animais. Neste estudo com Ateles sp., a ocorrência de
reabsorção óssea alveolar foi evidenciada em 27,8% de todos os sincrânios avaliados e não
foram observadas diferenças significativas entre machos e fêmeas.
A exposição de furca foi encontrada em sete animais (3,1% do total avaliado), todos
eles com sinais ósseos de doença periodontal. A maior incidência em animais de cativeiro
sugere que, assim como relatado por Hungerford et al. (1999), Miles e Grigson (2003) e
Wiggs e Lobprise (1997), altos índices de alterações odontológicas em diversas espécies estão
associados à dietas inadequadas.
As lesões periapicais foram observadas principalmente associadas às fraturas
dentárias, corroborando os achados de Verstraete et al. (1996a) em gatos asselvajados.
Concorda-se com Miles e Grigson (2003) que esses defeitos ósseos ocorram principalmente
na face vestibular do osso maxilar. A deiscência e a fenestração apresentaram ocorrências de
112
4,4% e 3%, respectivamente. Assim como Lopes (2008) e Kakehashi et al. (1963), acredita-se
que a deiscência observada nos animais manifesta-se como uma confluência da fenestração e
de reabsorção horizontal progressiva, e que o posicionamento dos dentes não parece estar
envolvido na etiologia dessas lesões.
Em Ateles sp., a deiscência e fenestração ósseas alveolares foram observadas em
dentes de animais jovens, associadas ao processo de erupção e esfoliação dentária, o que
corrobora observações feitas em gorilas por Kakehashi et al. (1963). Assim como descrito por
Wiggs e Hall (2003), acredita-se que abscessos dentários possam surgir de forma intermitente,
como resultado de dentes decíduos parcialmente reabsorvidos ou dentes fraturados.
O apinhamento foi observado em 7,9% de Ateles sp. e a giroversão em 0,9%. Este
resultado é condizente com relatos de Colyer (1919), de que este gênero é caracterizado por
um alto grau de variação na posição dos dentes, principalmente pela presença de dentes
supranumerários. Em animais de cativeiro, a ocorrência desta lesão foi mais que o dobro
(18,6%) da encontrada em animais de vida livre (7%). Este resultado está de acordo com
Amand e Tinkelman (1985), que relataram que as alterações oclusivas podem possuir o dobro
ou triplo de prevalência em animais de cativeiro, o que segundo Wiggs e Lobprise (1997),
ocorre devido ao estresse, ambiente, nutrição, textura da dieta, trauma, doença periodontal ou
consequência de comportamento anormal durante a criação artificial. Em uma fêmea de Ateles
paniscus de vida livre (MPEG-6992), foi observado apinhamento dentário de 101 e 201, o que
segundo Miles e Grigson (2003) é um achado comum em primatas não-humanos.
O desgaste dentário foi observado em 36,1% dos sincrânios de Ateles sp. avaliados.
Essa alteração esteve presente em 40,2% dos animais de vida livre, o difere da ocorrência
desta lesão em animais de cativeiro (6,2%). Neste estudo, o desgaste dentário em machos
(43,1%) foi maior do que nas fêmeas (30,1%). Concorda-se com Martins et al. (2003), que a
microestrutura e espessura do esmalte têm um importante papel nas adaptações dietéticas e,
com isso, considera-se como hipótese para a maior prevalência deste tipo de lesão em animais
de vida livre o tipo de dieta consumida. Entretanto, Rossi Jr. (2002) relata uma alta
prevalência de desgaste dentário em felídeos selvagens de cativeiro (Panthera onca e Puma
concolor) e nenhuma ocorrência nos animais de vida livre.
Wiggs e Bloom (2003) relatam que a “Síndrome do Mordedor de Grades”, em
espécies carnívoras é um importante causador de desgaste dentário. Muitos zoológicos têm
como missão a educação e conservação das espécies e, segundo Hosey (2005), realmente
buscam atingir essa meta. No zoológico da cidade de São Paulo, o gênero Ateles não é
mantido em jaulas, mas sim em um local que mimetiza o seu habitat natural. Portanto, as
113
diferenças de prevalência de lesões odontológicas em animais de cativeiro e vida-livre,
mesmo que da mesma espécie, dependem do entendimento de como o ambiente de cativeiro
afeta o bem-estar animal.
As fraturas dentárias foram observadas em 13,2% dos sincrânios avaliados, sendo o
maior achado em machos e em animais de vida livre. Verstraete et al. (1996a) relataram uma
incidência muito maior deste tipo de lesão em gatos asselvajados (54,8%), porém a
prevalência das fraturas foi similar entre os sexos. Existe uma maior prevalência de fraturas
em leoas, o que Valkenburgh (1988) atribui ao comportamento desta espécie, já que são elas
as responsáveis pela caça da presa. Fedigan e Baxter (1984) observaram que os machos de
Ateles geoffroyi são mais agressivos, interagem fisicamente mais frequentemente e atacam e
perseguem principalmente fêmeas adultas. Esta diferença comportamental, assim como a
descrita em outras espécies animais, pode ter sido o principal responsável pela maior
incidência de fraturas dentárias em machos de Ateles sp. deste estudo.
Foram encontrados 73 dentes fraturados em 30 sincrânios com algum tipo de fratura
dentária. A maior ocorrência foi de lesões em dentes caninos, seguido pelos incisivos, prémolares e molares. Em gatos asselvajados, Verstraete et al. (1996a) descrevem este mesmo
dente como o mais prevalente e acreditam que o mesmo ocorra por comportamentos de
interação e agressão entre esses animais. Degusta e Milton (1998) acreditam que conflitos
interespecíficos entre Alouatta palliata, Ateles geoffroyi e Cebus capucinus ocorram, podendo
ser esta uma outra hipótese para este tipo de alteração. De acordo com a literatura pesquisada,
o gênero Ateles consome basicamente frutas e, em estudo realizado por Kinzey e Norkonk
(1990), esses animais manifestaram preferência por aquelas de mesocarpo macio, cuspindo
também suas sementes. O relato de Kinzey e Norkonk corrobora o de Rosenberger (1992), já
que esses indivíduos não possuem dentes especializados para o processamento de alimentos
duros. Deste modo, considera-se improvável que fatores dietéticos sejam os principais
causadores de fraturas dentárias em Ateles sp. de vida livre, principalmente em ecossistemas
preservados onde não haja escassez de alimentos.
A exposição de câmara pulpar foi observada em 15% dos sincrânios de Ateles sp.
avaliados, sendo a fratura dentária a principal causadora desta lesão. Alguns animais
apresentaram esta lesão associada às alterações sugestivas de cárie, como o espécime MPEG21796. O estudo da prevalência da cárie não foi um objetivo deste trabalho, já que a
metodologia escolhida não incluía a utilização de exame radiográfico complementar. Embora
muitas características do sincrânio citado como exemplo sejam idênticas às observadas na
cárie, concorda-se com Hillson (1996) que a histologia das lesões suspeitas é muito
114
importante em sincrânios. Neste indivíduo pode-se observar desmineralização do esmalte e
dentina, o que corrobora a descrição de Pachaly (2006), além de exposição da câmara pulpar,
descrita tanto por Gioso (2003) quanto por Hillson (1996). Os achados deste estudo
corroboram as afirmações de Pachaly (2006) e Wiggs e Lobprise (1997), já que os dentes
molares e pré-molares foram os mais acometidos.
115
7 CONCLUSÕES
Conclui-se com o presente trabalho que:
- Os Ateles sp. possuem afecções em sincrânio, sendo as alterações oclusivas os
achados mais significativos em animais de cativeiro (55%).
- Foram encontrados animais de vida livre de regiões distintas com lesões
características de lábio-leporino e fenda palatina, sendo este achado incomum para este
gênero.
- Os dois grupos de Ateles sp. possuem afecções dentárias relacionadas com anomalia
dentária de conformação (2,6%), anomalia de número (28,6%), alterações amelo-cementárias
(85,5%), apinhamento dentário (7,9%), deiscência óssea-alveolar (4,4%), fenestração ósseaalveolar (3%), desgaste dentário (36,1%), exposição de furca (3,1%), exposição de câmara
pulpar (15%), fratura dentária (13,2%), giroversão dentária (0,9%) e reabsorção de crista
alveolar (27,8%).
116
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127
APÊNDICE
128
Apêndice A
Identificação dos sincrânios avaliados segundo instituição, ano e local de coleta
(Continua)
Identificação
18
39
505
506
507
508
509
516
693a
693b
697
711
865
996
997
1007
1093
1094
1156
1157
1158
1159
1160
1162
1165
1166
1210
1215
1229
1234
1236
1237
1238
1239
1240
1242
1243
1245
1267
1268
1269
1270
1272
1273
1274
Ano de Coleta
1931
1911
1908
1908
Indeterminado
1908
1908
1932
1901
1901
1901
1935
1936
1936
1936
1936
Indeterminado
Indeterminado
1937
1937
1937
1937
1937
1937
Indeterminado
1937
1961
1937
Indeterminado
1934
1936
1936
1936
1937
1936
1937
1937
1937
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Local de Coleta
Rio Xingu – Altamira - PA
Rio Branco - AC
Rio Jaurú – MT
Rio Jaurú – MT
MT
Indeterminado
Rio Jaurú – MT
Jardim Zoológico
Rio Juruá – AM
Rio Juruá – AM
Rio Juruá – AM
Jardim Zoológico
Rio Nhamundá – PA/AM
Rio Vila Nova – Mazagão – AP
Rio Vila Nova – Mazagão – AP
Rio Vila Nova – Mazagão – AP
Indeterminado
Indeterminado
Cachoeira do Tronco – Rio Erepecurú – PA
Cachoeira do Tronco – Rio Erepecurú – PA
Cachoeira do Tronco – Rio Erepecurú – PA
Cachoeira do Tronco – Rio Erepecurú - PA
Cachoeira do Tronco – Rio Erepecurú - PA
Cachoeira do Tronco – Rio Erepecurú – PA
Cachoeira do Tronco – Rio Erepecurú – PA
Cachoeira do Tronco – Rio Erepecurú – PA
Rio Jarí – Estirão do Equador – AM
Rio Erepecurú - PA
Rio Jarí – Ac. Das Cachoeiras – AM/PA
Rio Vila Nova – Mazagão –AP
Rio Vila Nova – Mazagão – AP
Rio Vila Nova – Mazagão – AP
Rio Vila Nova – Mazagão – AP
Rio Vila Nova – Mazagão – AP
Rio Vila Nova – Mazagão – AP
Cachoeira do Tronco – Rio Erepecurú – PA
Cachoeira do Tronco – Rio Erepecurú – PA
Cachoeira do Tronco – Rio Erepecurú – PA
Mapari – Macapá – AP
Mapari – Macapá – AP
Araguari – Macapá – AP
Matapi – Macapá – AP
Araguari – Macapá – AP
Matapi – Macapá – AP
Araguari – Macapá – AP
Instituição
MPEGi
MPEGi
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MPEGi
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
129
Identificação dos sincrânios avaliados segundo instituição e ano e local de coleta
(Continua)
Identificação
1275
1277
1278
1279
1280
1486
1534
1569
1570
1571
1657
1702
1707
2160
2300
2403
2456
2460
2475
2476
2492
2495
2496
2497
2499
2500
2712
2713
2715
2720
4062
4063
4064
4065
4066
4068
4069
4070
4071
4072
4073
4074
4075
4076
4077
5027
5028
5029
5030
5031
Ano de Coleta
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
1959
1959
1959
Indeterminado
1927
Indeterminado
1936
1953
Indeterminado
1927
1914
1927
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
1927
1927
1927
Indeterminado
1909
Indeterminado
1913
1939
1944
Indeterminado
1939
Indeterminado
1915
1934
1946
1933
1934
1940
1936
1940
1911
1939
1918
1934
1913
1926
1933
Local de Coleta
Araguari – Macapá – AP
Araguari – Macapá – AP
Araguari – Macapá- AP
Araguari – Macapá – AP
Araguari – Macapá – AP
Tapajós – PA
Tapajós – PA
Mazagão – AP
Mazagão – AP
Mazagão – AP
Indeterminado
Paraná do Manhana – AM
Indeterminado
Pará
Rio Amaparí – Macapá – AP
Tem. Vasconcelos
Paraná do Manhana – AM
Aripuanã - Jamari
Paraná do Manhana – AM
Tem. Vasconcelos
Rio Catrimani - RR
Rio Catrimani - RR
Rio Catrimani - RR
Paraná do Manhana – AM
Paraná do Manhana – AM
Paraná do Manhana – AM
Lago do Mapixi – Rio Purus – AM
Piroculuima – Alto Ji-Paraná – RD
Tem. Vasconcelos
Jardim Zoológico
Jardim Zoológico
Jardim Zoológico
Indeterminado
Jardim Zoológico
Jardim Zoológico
Jardim Zoológico
Jardim Zoológico
Jardim Zoológico
Jardim Zoológico
Jardim Zoológico
Jardim Zoológico
Jardim Zoológico
Jardim Zoológico
Jardim Zoológico
Jardim Zoológico
Taperinha - Santarém - PA
Missão Cururu – PA
Taperinha – Santarém - PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém - PA
Instituição
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MPEGi
MPEGi
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
130
Identificação dos sincrânios avaliados segundo instituição e ano e local de coleta
(Continua)
Identificação
5032
5033
5034
5035
5036
5037
5038
5039
5040
5041
5042
5043
5044
5045
5046
5047
5048
5049
5050
5051
5143
5144
5145
5146
5147
5148
5149
5150
5274
5280
5281
5282
5283
5285
5286
5287
5288
5600
5601
5602
5605
5606
5607
5683
5686
5687
6035
6036
6037
6976
Ano de Coleta
1915
1916
Indeterminado
1918
1918
Indeterminado
1933
1933
1933
1931
1933
1918
Indeterminado
1917
1934
1919
1920
1921
1934
1933
1915
1921
1939
1937
1939
1918
1939
1942
1936
1936
1935
1936
1936
1935
1936
1936
1936
1936
1936
1936
1936
1936
1936
1942
1934
1934
1939
1939
1939
1961
Local de Coleta
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém - PA
Rio Eiru – Santa Cruz – AM
Eirunepé – AM
Rio Tapajós - Caxiricatuba – PA
Rio Tapajós - Caxiricatuba – PA
Rio Eirú – Santa Cruz – AM
Rio Tapajós - Caxiricatuba – PA
Rio Tapajós – Piquiatuba – PA
Rio Tapajós – Caxiricatuba – PA
Foz do Curuá-Uma – PA
Foz do Curuá-Uma – PA
Rio Eirú – Santa Cruz - AM
Rio Eirú – Santa Cruz – AM
Rio Tapajós – Caxiricatuba – PA
Piquiatuba – Rio Tapajós – PA
Rio Tapajós – Piquiatuba – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Taperinha – Santarém – PA
Igarapé-Quibá – AM
Rio Amazonas – Norte Igarapé Iniba – AM
Rio Amazonas – Norte Igarapé Iniba – AM
Est. Manaus – Rio Branco – Manaus – AM
Instituição
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MPEGi
131
Identificação dos sincrânios avaliados segundo instituição e ano e local de coleta
(Continua)
Identificação
6979
6980
6981
6982
6983
6984
6985
6986
6987
6988
6989
6990
6991
6992
6993
6995
6996
7218
7227
7252
7254
8070
8121
8471
8474
8496
8498
8855
11745
11751
13240
13241
13242
13243
13244
13245
18955
19313
19314
19315
19316
19317
19318
19319
19320
19321
19322
19323
19324
19325
Ano de Coleta
1967
1967
1966
1966
1966
1966
1966
1967
1966
1967
1966
1966
1977
1967
1966
1965
1966
1965
1963
Indeterminado
1958
1955
1973
1973
1973
1973
1973
1977
1913
Indeterminado
1975
1976
1976
1974
1975
1975
1984
1962
1962
1962
1962
1962
1962
1966
1966
1966
1966
1962
1962
1962
Local de Coleta
Est. AM 1, Km 175 – Manaus – AM
Est. AM 1 – Km 190 – Manaus – AM
Est. AM 1 – Km 175 – Manaus – AM
Est. AM 1 – Km 165 – Manaus – AM
Est. AM 1 – Km 190 – Manaus – AM
Est. AM 1 – Km 165 – Manaus – AM
Est. AM 1 – Km 175 – Manaus – AM
Est. AM 1 – Km 175 – Manaus – AM
Est. AM 1 – Km 185 – Manaus – AM
Est. AM 1 – Km 190 – Manaus – AM
Est. AM 1 – Km 175 – Manaus – AM
Est. AM 1 – Km 185 – Manaus – AM
Jardim Zoológico
Est. AM 1 – Km 190 – Manaus – AM
Est. AM 1 – Km 175 – Manaus – AM
Est. AM 1 – Km 200 – Manaus – AM
Est. AM 1 – Km 190 – Manaus – AM
Est. AM 1 – Km 200 – Manaus – AM
Est. AM 1 – Km 200 – Itacoatiara
INPA – PA
Alto Rio Cururu (Tapajós) - PA
Cachimbo – PA
Est. Santarém-Cuiabá Km 212 – PA
Est. Santarém-Cuiabá Km 262 - PA
Est. Santarém-Cuiabá Km 262 - PA
Est. Tranzamazônica Km 212 – Itaituba – PA
Est. Santarém-Cuiabá Km 165 – PA
Jardim Zoológico
Jardim Zoológico
Indeterminado
Humboldt – Aripuanã – MT
Cachoeira Porteira – Oriximiná – PA
Cachoeira Porteira – Oriximiná – PA
Humboldt – Aripuanã – PA
Humboldt – Aripuanã – PA
Humboldt – Aripuanã – PA
Santa Cruz da Serra – RO
Fordlândia – PA
Fordlândia – PA
Fordlândia – PA
Fordlândia – PA
Fordlândia – PA
Fordlândia – PA
Fordlândia – PA
Fordlândia – PA
Fordlândia – PA
Fordlândia – PA
Fordlândia – PA
Fordlândia – PA
Fordlândia – PA
Instituição
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MZ-USPiii
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
132
Identificação dos sincrânios avaliados segundo instituição e ano e local de coleta
(Continua)
Identificação
19326
19327
19328
19329
19330
19543
20401
21057
21058
21616
21617
21618
21619
21620
21621
21622
21623
21796
21797
21798
21799
21800
21835
21870
21871
21873
22052
22788
23207
23208
23209
23210
23722
23723
23725
23726
23727
23728
25717
31293
32701
33603
33606
33607
33608
33609
33611
33613
33614
33615
Ano de Coleta
1970
1960
1962
1966
1966
1962
Indeterminado
1948
Indeterminado
1975
1978
Indeterminado
1979
1978
1979
1978
1979
1987
1987
1987
1987
1987
1987
Indeterminado
1987
1987
1988
1948
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
1957
1956
1956
1952
1952
1956
1950
Indeterminado
1950
Indeterminado
1957
1957
1957
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Local de Coleta
Rio Tapajós – Barreira – PA
Fordlândia – PA
Santarém – PA
Fordlândia – PA
Fordlândia – PA
Rio Tapajós – Urucurituba – PA
Tem. Vasconcelos
Várgea Fonte Boa – AM
Várgea Fonte Boa – AM
Est. Tranzamazônica Km 5 – PA
Cachoeira Porteira – Oriximiná – PA
Indeterminado
Cachoeira Porteira – Oriximiná – PA
Cachoeira Porteira – Oriximiná – PA
Cachoeira Porteira – Oriximiná – PA
Cachoeira Porteira – Oriximiná – PA
Cachoeira Porteira – Oriximiná – PA
Rio Jaamari – UHE de Samuel – RO
Rio Jaamari – UHE de Samuel – RO
Rio Jaamari – UHE de Samuel – RO
Rio Jaamari – UHE de Samuel – RO
Rio Jaamari – UHE de Samuel – RO
México
Serrinha – Mucajaí – RR
Serrinha – Mucajaí – RR
Serrinha – Mucajaí – RR
Cachoeira Porteira – Oriximiná – PA
Várgea Fonte Boa – AM
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Alto Cururu – PA
Rio Arraias – Alto Xingu – MT
Alto Xingu – MT
Rio Paru de Leste – Almeirim – PA
Rio Paru de Leste – Almeirim – PA
Rio Arraias – Alto Xingu – MT
Rio Teles Pires – Alto Tapajós – MT
Cáceres – MT
Rio Teles Pires – Alto Tapajós – MT
Indeterminado
Caruru-Assú – PA
Caruru-Assú – PA
Alto Cururu - PA
Indeterminado
Indeterminado
Cáceres – MT
Cáceres – MT
Cáceres – MT
Instituição
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MZ-USPiii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MHN-UFRJii
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MPEGi
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
MHN-UFRJii
133
Identificação dos sincrânios avaliados segundo instituição e ano e local de coleta
(Conclusão)
Identificação Ano de Coleta Local de Coleta
Instituição
33616
Indeterminado Cáceres – MT
MHN-UFRJii
33617
Indeterminado Cáceres – MT
MHN-UFRJii
33618
Indeterminado Cáceres – MT
MHN-UFRJii
33619
Indeterminado Cáceres – MT
MHN-UFRJii
33620
Indeterminado Cáceres – MT
MHN-UFRJii
33621
Indeterminado Cáceres – MT
MHN-UFRJii
39490
1995
Rio Cristalino – Margem Esquerda – MT
MPEGi
39492
1995
Rio Cristalino – Margem Esquerda – MT
MPEGi
i
MPEG – Museu Paraense Emílio Goeldi
ii
MHN-UFRJ – Museu Histórico Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro
iii
MZ-USP – Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo
134
Apêndice B
Identificação dos sincrânios avaliados segundo espécie, sexo e habitat
(Continua)
Número
18
39
505
506
507
508
509
516
693a
693b
697
711
865
996
997
1007
1093
1094
1156
1157
1158
1159
1160
1162
1165
1166
1210
1215
1229
1234
1236
1237
1238
1239
1240
1242
1243
1245
1267
1268
1269
1270
1272
1273
1274
1275
Espécie
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles variegatus
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles chamek
Indeterminado
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Indeterminado
Indeterminado
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Sexo
Macho
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Macho
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Macho
Macho
Macho
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Indeterminado
Indeterminado
Macho
Macho
Macho
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Macho
Fêmea
Fêmea
Macho
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Macho
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Habitat
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Cativeiro
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Cativeiro
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Indeterminado
Indeterminado
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
135
Identificação dos sincrânios avaliados segundo espécie, sexo e habitat
(Continua)
Número
1277
1278
1279
1280
1486
1534
1569
1570
1571
1657
1702
1707
2160
2300
2403
2456
2460
2475
2476
2492
2495
2496
2497
2499
2500
2712
2713
2715
2720
4062
4063
4064
4065
4066
4068
4069
4070
4071
4072
4073
4074
4075
4076
4077
5027
5028
5029
5030
5031
5032
5033
Espécie
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Indeterminado
Ateles chamek
Indeterminado
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles marginatus
Ateles paniscus
Indeterminado
Indeterminado
Ateles marginatus
Indeterminado
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles variegatus
Ateles variegatus
Ateles marginatus
Ateles paniscus
Indeterminado
Ateles paniscus
Ateles variegatus
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Sexo
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Macho
Macho
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Fêmea
Indeterminado
Macho
Macho
Indeterminado
Macho
Indeterminado
Fêmea
Indeterminado
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Macho
Indeterminado
Macho
Fêmea
Macho
Macho
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Macho
Fêmea
Fêmea
Macho
Fêmea
Macho
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Habitat
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida Livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Indeterminado
Vida livre
Indeterminado
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Cativeiro
Cativeiro
Cativeiro
Indeterminado
Cativeiro
Cativeiro
Cativeiro
Cativeiro
Cativeiro
Cativeiro
Cativeiro
Cativeiro
Cativeiro
Cativeiro
Cativeiro
Cativeiro
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
136
Identificação dos sincrânios avaliados segundo espécie, sexo e habitat
(Continua)
Número
5034
5035
5036
5037
5038
5039
5040
5041
5042
5043
5044
5045
5046
5047
5048
5049
5050
5051
5143
5144
5145
5146
5147
5148
5149
5150
5274
5280
5281
5282
5283
5285
5286
5287
5288
5600
5601
5602
5605
5606
5607
5683
5686
5687
6035
6036
6037
6976
6979
6980
6981
Espécie
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles marginatus
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles marginatus
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles marginatus
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles chamek
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Sexo
Macho
Fêmea
Macho
Macho
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Macho
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Macho
Fêmea
Indeterminado
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Macho
Macho
Fêmea
Macho
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Macho
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Macho
Fêmea
Macho
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Macho
Fêmea
Fêmea
Macho
Macho
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Habitat
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
137
Identificação dos sincrânios avaliados segundo espécie, sexo e habitat
(Continua)
Número
6982
6983
6984
6985
6986
6987
6988
6989
6990
6991
6992
6993
6995
6996
7218
7227
7252
7254
8070
8121
8471
8474
8496
8498
8855
11745
11751
13240
13241
13242
13243
13244
13245
18955
19313
19314
19315
19316
19317
19318
19319
19320
19321
19322
19323
19324
19325
19326
19327
19328
19329
Espécie
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Indeterminado
Indeterminado
Ateles belzebuth
Ateles marginatus
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles paniscus
Ateles belzebuth
Ateles paniscus
Ateles marginatus
Indeterminado
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles chamek
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Sexo
Fêmea
Fêmea
Macho
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Indeterminado
Fêmea
Macho
Fêmea
Indeterminado
Fêmea
Fêmea
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Fêmea
Fêmea
Macho
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Macho
Macho
Macho
Indeterminado
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Macho
Fêmea
Fêmea
Macho
Macho
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Macho
Macho
Macho
Macho
Macho
Macho
Fêmea
Macho
Fêmea
Macho
Macho
Fêmea
Fêmea
Habitat
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Cativeiro
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Cativeiro
Cativeiro
Indeterminado
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
138
Identificação dos sincrânios avaliados segundo espécie, sexo e habitat
(Continua)
Número
19330
19543
20401
21057
21058
21616
21617
21618
21619
21620
21621
21622
21623
21796
21797
21798
21799
21800
21835
21870
21871
21873
22052
22788
23207
23208
23209
23210
23722
23723
23725
23726
23727
23728
25717
31293
32701
33603
33606
33607
33608
33609
33611
33613
33614
33615
33616
33617
33618
33619
33620
Espécie
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles belzebuth
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles geoffroyi
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles belzebuth
Ateles paniscus
Ateles chamek
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles paniscus
Ateles paniscus
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles chamek
Ateles marginatus
Indeterminado
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Indeterminado
Indeterminado
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles chamek
Ateles chamek
Sexo
Macho
Fêmea
Indeterminado
Macho
Fêmea
Macho
Macho
Fêmea
Macho
Fêmea
Macho
Fêmea
Fêmea
Macho
Macho
Macho
Fêmea
Macho
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Fêmea
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Fêmea
Macho
Fêmea
Macho
Fêmea
Fêmea
Macho
Fêmea
Fêmea
Macho
Indeterminado
Macho
Macho
Macho
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Habitat
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Indeterminado
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Indeterminado
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Indeterminado
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Indeterminado
Indeterminado
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
Vida livre
139
Identificação dos sincrânios avaliados segundo espécie, sexo e habitat
(Conclusão)
Número
33621
39490
39492
Espécie
Ateles chamek
Ateles marginatus
Ateles marginatus
Sexo
Indeterminado
Fêmea
Macho
Habitat
Vida livre
Vida livre
Vida livre
140
ANEXOS
141
Anexo A - Ficha odontológica (odontograma) específica para primatas, desenvolvida pelo
Laboratório de Odontologia Comparada (LOC), vinculado ao Departamento de Cirurgia da
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP)
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DISSERTAÇÃO FINAL DE FERNANDA ROCHA DE OLIVEIRA PAIS