NOSSA MISSÃO É PROMOVER MUDANÇAS Mobilidade 2030: Vencendo os desafios da sustentabilidade O Projeto Mobilidade Sustentável Relatório Completo 2004 Mobilidade 2030: Vencendo os desafios da sustentabilidade O Projeto Mobilidade Sustentável Relatório Completo 2004 Prefácio Promover mobilidade é a peça chave do negócio de nossas para unir um conjunto diversificado de correntes econômicas, empresas. Procuramos fazer isso de um modo que satisfaça o sociais e ambientais e, identificando os itens chave e as escolhas largamente difundido desejo de transporte barato e seguro, que enfrentamos, desenvolveu um conjunto de metas para servir reduza o impacto ambiental do transporte e utilize as mais apro- de objetivo a futuras ações e listou vários caminhos para buscá- priadas tecnologias na medida em que são desenvolvidas. las. Reconhecemos claramente que um projeto como este pode ser apenas uma introdução a um assunto extraordinariamente Estamos progredindo nesses objetivos e está comprovado que complexo e diverso que afeta todas as sociedades. muitas sociedades compartilham metas similares. Entretanto, as políticas adotadas para se atingir essas metas podem diferir Começamos com o estudo inicial do projeto, Mobility 2001, que grandemente e o contexto no qual as empresas atuam se torna avaliou a situação mundial de mobilidade e identificou os desafios mais complexo a cada ano. Uma de nossas tarefas é administrar a uma mobilidade mais sustentável. Nosso novo relatório desen- essa diversidade. volve esse pensamento e demonstra como a mobilidade sustentável poderia ser atingida e como o progresso nesse sentido Transporte e mobilidade destacam-se em muitas agendas, visto poderia ser medido. Concentramo-nos no transporte rodoviário, que países e regiões em todo o mundo procuram aumentar a refletindo a experiência de nossas empresas membro nessa área. mobilidade e diminuir o impacto do transporte. Todos acredita- A opinião de Mobilidade 2030 a respeito de tecnologias de com- mos que ambas as metas são factíveis. Quatro anos atrás decidi- bustíveis e veículos é uma contribuição chave e esperamos inspi- mos trabalhar juntos para melhor entender os desafios e as opções. rar outras indústrias e stakeholders a adicionar a esse relatório seus próprios estudos com objetivos similares. O resultado dessa cooperação está no Mobilidade 2030, do original Mobility 2030. Ele reflete os esforços coletivos de mais de 200 Sendo empresas que atuam em um mercado competitivo, especialistas de uma representativa amostra de 12 indústrias que podemos ter – e efetivamente temos – visões diversas sobre participaram dos comitês e grupos de trabalho do Projeto algumas alternativas tecnológicas e escalas de tempo. Mobilidade Sustentável. Como normalmente há acirrada concor- Acreditamos que Mobilidade 2030 reflita tal diversidade sem rência entre nossas empresas, tal análise com profundidade e desmerecer seu propósito central de identificar e sugerir as consenso torna-se um feito considerável. soluções mais apropriadas. Agradecemos ao WBCSD por atuar como um valioso catalisador Reconhecemos que resta muito a ser aprendido, particularmente e por fornecer a plataforma que facilitou esta realização. sobre as melhores maneiras de efetivamente engajar as Também destacamos com gratidão as muitas contribuições de sociedades na mobilidade sustentável. De qualquer forma, como especialistas externos, incluindo o Grupo de Garantia. empresas profundamente envolvidas no fornecimento de bens e serviços de transporte, acreditamos que este projeto impulsionou Mobilidade 2030 estabelece uma visão da mobilidade sustentável a agenda da sustentabilidade em maneiras tais que ainda podem e formas de atingi-la. Este relatório desenvolveu uma estrutura ser desenvolvidas. Acreditamos que Mobilidade 2030 aponte para novas iniciativas Uma mensagem clara de Mobilidade 2030 é que, se pretendemos coletivas. Sim, muito já está acontecendo. Sobre segurança atingir a mobilidade sustentável, serão necessárias contribuições rodoviária, nossas empresas têm vários programas para aumen- de toda a sociedade em todo o mundo. Nossas empresas se tar a segurança dos ocupantes de veículos e pedestres, em países comprometem a dar sua contribuição, e este projeto nos ajudará desenvolvidos e em desenvolvimento. E muito está acontecendo a identificar nosso próprio papel e as áreas para futura colabo- em outras áreas como as parcerias industriais que avançam no ração. Esperamos, com este estudo, que seu país e sua organiza- desenvolvimento de conjuntos motores e combustíveis alterna- ção acrescentem algo ao que aqui é oferecido. tivos, onde nossas empresas procuram fornecer as alternativas de mobilidade que os clientes solicitam, enquanto concentram-se nos grandes desafios apontados pelo relatório para o mundo em desenvolvimento. General Motors Corporation Toyota Motor Corporation Royal Dutch/Shell Group of Companies Mr. Thomas A. Gottschalk Vice-presidente Executivo, Jurídico e Políticas Públicas e Conselheiro Geral Co-coordenador do Projeto Dr. Shoichiro Toyoda Presidente Honorário, Membro do Conselho Co-coordenador do Projeto Mr. Jeroen Van der Veer Presidente do Comitê de Diretores Executivos Co-coordenador do Projeto BP p.l.c. DaimlerChrysler AG Ford Motor Company Lord Browne of Madingley Executivo Chefe do Grupo Lord Browne of Madingley Presidente do Conselho Administrativo Mr. William Clay Ford, Jr. Presidente e CEO Michelin Mr. Edouard Michelin Sócio Executivo Nissan Motor Co., Ltd Mr. Carlos Ghosn Presidente e CEO Norsk Hydro ASA Mr. Eivind Reiten Presidente e CEO Honda Motor Co., Ltd. Mr. Takeo Fukui Presidente e CEO Renault SA Volkswagen AG Mr. Louis Schweitzer Presidente e CEO Dr. Bernd Pischetsrieder Presidente do Conselho Administrativo BJÖRN STIGSON, PRESIDENTE DO WBCSD Empresas individuais podem contribuir muito na busca da especialistas viajaram pelo mundo, de São Paulo a Xangai, de sustentabilidade, mas os desafios são complexos demais até para Praga à Cidade do Cabo, conhecendo stakeholders de todas as as maiores empresas. Desenvolver condições básicas de trabalho partes da sociedade. O grupo também mobilizou todas as fontes é critico e pode apenas ser efetivamente realizado por empresas intelectuais disponíveis, num trabalho verdadeiramente notável. trabalhando ao longo de uma cadeia de valores. Isso também requer forte interação com os stakeholders para atingir um Segundo, o projeto incentivou uma cooperação sem precedentes entendimento comum sobre como enfrentar os desafios. Essa é a entre um seleto grupo representante das maiores empresas de essência do Projeto Mobilidade Sustentável do WBCSD, o maior tecnologia, combustíveis e fornecedores de peças para veículos. projeto liderado por empresas membro até hoje. No total, o grupo representou três quartos da capacidade produtiva global de veículos automotores. O compromisso e a Quando o projeto se iniciou, há quatro anos, tentou-se o que abordagem positiva dessas empresas fazem acreditar que a hoje parece uma tarefa imensamente ambiciosa: avaliar o atual mobilidade sustentável, apesar de distante, será atingida. estado de mobilidade de todas as modalidades de transporte nos países desenvolvidos e em desenvolvimento e desenvolver uma Gostaria de agradecer às empresas membro e aos três visão do que seria mobilidade sustentável e como atingi-la. O entu- co-coordenadores por sua visão e seu forte apoio, e por disponi- siasmo incontido dos membros do projeto foi louvável, mas bilizar especialistas para trabalhar no projeto. Agradecimentos arriscou-se a “apenas arranhar a superfície”. Para um estudo mais especiais também vão para meus colegas do WBCSD, Per profundo, finalmente decidiu-se por uma abordagem mais dirigi- Sandberg, Michael Koss, Tony Spalding, Arve Thorvik, Kristian da e o transporte rodoviário foi escolhido como ponto de partida. Pladsen, Peter Histon, John Era, Claudia Schweizer e Mia Bureau, que lhes deu suporte. O caminho para a mobilidade sustentável não é certamente suave. O primeiro relatório do projeto, Mobility 2001, um esboço Também gostaria de agradecer aos membros do Grupo de da mobilidade no final do século XX, mostrou apenas o quão difí- Trabalho por sua dedicação a esse projeto, em especial a Charles cil seria a jornada. De qualquer forma, hoje posso dizer que o pro- Nicholson que, com todas as suas habilidades diplomáticas e de jeto cumpriu o prometido: uma argumentada e bem pesquisada criação de consenso, transformou o Grupo de Trabalho numa descrição do que a mobilidade sustentável poderia significar em equipe eficaz, e a George Eads, cuja experiência, grande clareza várias partes do mundo e o que é necessário para implementá-la. de pensamento e compromisso como consultor líder foram Ele demonstra o compromisso contínuo das empresas membro de decisivos para a concretização do Mobility 2001 e do Mobilidade contribuir com o desenvolvimento sustentável. 2030. Também sou muito grato a Lew Fulton, da Agência Internacional de Energia, por sua importante contribuição. Em algumas áreas, o projeto foi mais longe do que qualquer empreitada anterior – do dimensionamento dos desafios à E finalmente, agradeço ao Grupo de Garantia do projeto, na medição da defasagem entre onde estamos e onde pretendemos pessoa de seu presidente Simon Upton, que prestou grande estar. Acredito que seus maiores feitos são dois: primeiro, a quan- atenção à qualidade e à legitimidade do trabalho desde o estágio tidade de conhecimento que se obteve. No decorrer do projeto, inicial de pesquisa até a publicação final. Presidente do WBCSD Capítulo 1 Sumário I. II. Introdução 12 A. O escopo deste relatório B. Uma melhor mobilidade é essencial para um contínuo progresso econômico, mas a mobilidade deve se tornar mais sustentável 12 C. Os serviços de transporte impulsionam o crescimento econômico 14 D. O crescimento econômico gera impactos no transporte E. O transporte pode produzir impactos econômicos e ambientais negativos 15 F. O transporte pode produzir externalidades positivas G. Se não monitorados, os impactos econômicos e ambientais podem inibir a capacidade dos serviços de transporte de impulsionar o crescimento econômico 16 Qual grau de consenso deve haver sobre o que é necessário para tornar a mobilidade sustentável? III. Os indicadores de mobilidade sustentável do projeto A. Como escolhemos nossos indicadores 1. Acessibilidade 2. Despesas em que os usuários incorrem 3. Tempo de viagem 4. Confiabilidade 5. Segurança dos transportes 6. Segurança pessoal e de mercadorias 7. Emissões de gases de efeito estufa (GEEs) 8. Impactos no meio ambiente e no bem-estar da população 9. Uso de recursos 10. Implicações para o princípio de eqüidade 11. Impactos na receita e gastos públicos 12. Taxa estimada de retorno para empresas privadas 13 15 16 17 18 18 18 19 20 20 20 21 21 21 22 22 23 23 Capítulo 2 Sumário I. II. Introdução A relação entre o Cenário de Referência da IEA e o caso de referência do Projeto III. Temas que surgiram a partir das projeções de nossos indicadores A. O transporte de pessoas e de mercadorias crescerá rapidamente 1. Projeções das atividades de transporte pessoal 2. Projeções da atividade de transporte de mercadorias B. Haverá uma combinação das tendências no acesso à mobilidade pessoal 1. A importância dos veículos motorizados de duas rodas para a mobilidade pessoal em certas regiões 2. Distância ou tempo necessário para chegar até o transporte público com um mínimo de qualidade de serviço 3. A importância da multimodalidade no transporte pessoal 4. Tendências na acessibilidade 26 27 28 29 30 32 32 33 34 35 35 C. A crescente mobilidade de mercadorias permitirá aos consumidores ter melhor qualidade e maior variedade de produtos, a um custo inferior 36 D. As emissões de gases de efeito estufa (GEEs) decorrentes do transporte aumentarão, principalmente nos países em desenvolvimento 36 E. As emissões de poluentes “convencionais” decorrentes do transporte diminuirão drasticamente no mundo desenvolvido 38 F. No mundo em desenvolvimento, haverá uma combinação das tendências para as emissões de poluentes “convencionais” 40 G. As taxas de mortalidade e de ferimentos graves decorrentes do transporte rodoviário estão caindo no mundo desenvolvido. Mas nos países com baixa renda, onde o crescimento do transporte é relativamente rápido, essas taxas podem subir 1. Projeções do caso de referência H. O congestionamento no transporte pode piorar em muitas áreas urbanas do mundo desenvolvido e em desenvolvimento 1. Grau de exatidão desta metodologia para projetar futuros níveis de congestionamento I. A segurança pessoal e de mercadorias no transporte continuará a ser uma séria preocupação J. O ruído decorrente do transporte não diminuirá 1. O ruído produzido por aeronaves 42 42 46 47 48 48 49 K. O “rastro” deixado pelo setor de transporte será maior à medida que aumentar o uso de materiais, do solo e de energia 1. Uso de materiais 2. Uso do solo 3. Uso de energia L. Tendências para as despesas com mobilidade pessoal e de mercadorias M. Preocupações com o princípio da eqüidade no transporte IV. As sete metas que melhorarão o nível de mobilidade sustentável A. Certificar-se de que as emissões de poluentes “convencionais” decorrentes do transporte não constituam uma preocupação com a saúde pública em qualquer lugar do mundo B. Limitar as emissões de GEEs decorrentes do transporte a níveis sustentáveis C. Reduzir significativamente o número total de mortes e ferimentos graves em acidentes rodoviários em países desenvolvidos e em desenvolvimento 49 50 52 52 53 55 58 58 59 E. Atenuar o congestionamento em vias de transporte 59 60 60 F. Diminuir a “divisa de mobilidade” entre as populações dos países mais pobres e membros de grupos social e economicamente desfavorecidos dentro da maioria dos países 60 G. Preservar e melhorar as oportunidades de mobilidade para a população geral de países desenvolvidos e em desenvolvimento 60 D. Reduzir o ruído relativo ao transporte Capítulo 3 Sumário I. Sistemas de propulsão e combustíveis 67 69 B. Sistemas de propulsão e desenvolvimentos em combustíveis a eles associados 70 A. Fontes primárias de energia II. C. A evolução e os impactos potenciais da combinação de diferentes sistemas de propulsão e combustíveis 76 Outras tecnologias veiculares além dos sistemas de propulsão 81 E. Novas tecnologias para o controle da temperatura interna dos veículos 81 83 86 87 88 III. Aplicabilidade dos “alicerces” de tecnologia veicular e combustível de transporte a veículos rodoviários que não os VLRs 89 A. Mudanças no uso de materiais B. Tecnologias de Sistemas de Transportes Inteligentes (STI) C. Redução da resistência aerodinâmica D. Redução da resistência ao rolamento A. Veículos rodoviários “pesados” – incluindo caminhões médios e pesados B. Veículos motorizados de duas ou três rodas C. Veículos de transporte que não veículos rodoviários IV. Impactos diferenciais das melhorias em tecnologias e combustíveis veiculares em regiões desenvolvidas e em desenvolvimento 89 91 91 94 Capítulo 4 Sumário I. Introdução II. Certificar-se de que as emissões de poluentes “convencionais” decorrentes do transporte não constituam uma preocupação 99 para a saúde pública em qualquer lugar do mundo A. Finalizar a tarefa de controlar as emissões convencionais de veículos rodoviários e de transporte no mundo desenvolvido B. Controlar as emissões convencionais de veículos rodoviários em regiões do mundo em desenvolvimento 98 99 3. O desafio do preço acessível – manutenção 100 101 101 101 4. O desafio de controlar as emissões convencionais dos veículos motorizados de duas e três rodas 101 1. O desafio do preço acessível - veículos 2. O desafio do preço acessível - combustíveis 5. O impacto dos diferentes níveis de defasagem na implantação das emissões em países e regiões do mundo em desenvolvimento C. Avaliação sumária III. Limitar as emissões de GEEs decorrentes do transporte a níveis sustentáveis A. Quatro fatores determinantes do total das emissões de GEEs decorrentes do transporte B. Reduzir as emissões de GEEs por unidade de atividade de transporte 1. Estimular a demanda por sistemas de transporte com “menos emissão de carbono” C. Reduzir as emissões de GEEs, exercendo influência sobre o volume de atividade do transporte pessoal e de carga e/ou uma combinação de modalidades de transporte pessoal e de mercadorias D. Idéias fornecidas pelo modelo de planilha do PMS sobre o impacto potencial das várias abordagens para a redução de GEEs decorrentes do transporte 1. Comparação entre os resultados de simulação do PMS e os resultados obtidos por outros estudos 2. Tecnologias combinadas E. O ritmo e a magnitude das reduções de GEEs no transporte rodoviário versus outras fontes de emissão de GEEs F. Avaliação sumária 101 102 104 104 104 104 112 113 114 115 118 119 IV. Reduzir significativamente o número total de mortes e ferimentos graves em acidentes rodoviários em países desenvolvidos e em desenvolvimento 120 A. Melhorias potenciais nos países da OCDE 1. Melhorias na infra-estrutura das rodovias 121 121 Capítulo 4 Sumário (continuação) 2. Mudanças no comportamento dos usuários de rodovias 3. Mudanças no projeto dos veículos 4. O impacto de diferenças institucionais e sociais entre os países sobre o potencial de melhoria de segurança rodoviária 5. O impacto dos comportamentos que anulam medidas de segurança B. Considerações adicionais relacionadas à prevenção para a segurança rodoviária em países em desenvolvimento C. Avaliação sumária V. Reduzir o ruído decorrente do transporte A. Proprietários e operadores de veículos B. Projeto e manutenção de rodovias C. O bom fluxo do tráfego D. Projeto dos veículos E. Avaliação sumária 121 122 122 123 123 124 125 126 126 126 126 126 VI. Diminuir os congestionamentos em vias de transporte 127 A. Reduzir a demanda por acesso à infra-estrutura 1. Reduzir o número total de viagens 2. Equalizar a demanda 3. Aumentar a oferta de infra-estrutura 4. Aumentar a oferta de infra-estrutura através do uso mais eficiente da mesma B. Avaliação sumária VII. Diminuir a “divisa de mobilidade” entre (A) as populações dos países mais pobres e (B) os membros de grupos social e economicamente desfavorecidos na maioria dos países, para que estes e suas famílias possam ter uma vida melhor A. Diminuir a “divisa de oportunidades de mobilidade” entre os países desenvolvimento mais pobres e os países desenvolvidos 1. Abordagens para diminuir esta “divisa” B. Diminuir a “divisa de oportunidades de mobilidade” existentes dentro da maioria dos países 1. O papel – e as limitações – do transporte público na oferta de acessibilidade a grupos socialmente excluídos 2. Paratrânsito C. Avaliação sumária 127 127 127 128 128 130 131 131 132 135 135 136 137 VIII. Preservar e aumentar as oportunidades de mobilidade para a população em geral de países desenvolvidos e 138 em desenvolvimento A. Quão adequadamente o transporte público pode atender às necessidades pessoais de transporte? O alcance do multimodalismo nas áreas urbanas com acesso a serviços de transporte público de alta qualidade B. Serviços de compartilhamento de veículos (uso compartilhado) de carros 1. Origens do uso compartilhado de carros 2. Vantagens potenciais do compartilhamento de carros sob o ponto de vista dos usuários 3. Desafios operacionais do uso compartilhado de carros C. Soluções de transporte inovadoras que incorporam diversas novas tecnologias D. Novos sistemas de transporte como alternativas para as pessoas ajustarem seus padrões de vida às restrições tecnológicas impostas pelos sistemas de transporte público convencionais E. Avaliação sumária IX. Os papéis dos “alicerces”, das “alavancas” e da “estrutura institucional” para atingir as sete metas X. Como empresas como as nossas podem contribuir para atingir as metas identificadas 138 139 140 140 141 141 142 144 145 147 XI. O caminho à frente 148 Referências 152 Apêndice Forças motrizes da demanda de locomoção em cidades do mundo em desenvolvimento Uma síntese de oito casos de estudo, elaborada por Ralph Gakenheimer e Christopher Zegras 156 Glossário de termos 172 Declaração do Grupo de Garantia 175 Agradecimentos 176 I. Introdução Este é o relatório final do Projeto XX e sua sustentabilidade.1 A principal evolução de modo a tornar a mobilidade Mobilidade Sustentável (PMS), do mensagem do Mobility 2001 pode ser mais sustentável e o que é necessário Conselho Mundial Empresarial para o resumida na introdução do capítulo final: para o sucesso destas abordagens. Desenvolvimento Sustentável (WBCSD). “Mobilidade mundial e o desafio à sua O PMS foi lançado em abril de 2000 sustentabilidade”. para que pudéssemos compreender melhor como as necessidades da Tanto a mobilidade de mercadorias sociedade de se movimentar livre- quanto a de pessoas chegaram a um mente, obter acesso, se comunicar, nível sem precedentes para a grande Um dos principais problemas que negociar e estabelecer relacionamentos maioria da população no mundo enfrentamos quando lançamos o Projeto poderiam ser incrementadas sem desenvolvido. No entanto, a mobili- Mobilidade Sustentável foi definir seu sacrificar outras necessidades humanas dade pessoal varia consideravelmente escopo, uma vez que este relatório trata ou ecológicas, agora e no futuro. de acordo com a idade, renda e de problemas que se estendem bem localidade. Em contraste, a maioria dos além das competências de nossas empre- Nossas empresas, profundamente cidadãos do mundo em desenvolvi- sas e muito além de nossa capacidade de envolvidas com algum aspecto de mento sofre com uma mobilidade resolvê-los por nós mesmos. Por que mobilidade, se uniram para formar o insatisfatória ou em deterioração. procuramos ter uma visão tão ampla? PMS. Oito delas produzem equipamen- O problema central é que as cidades tos para transportes; três fornecem do mundo em desenvolvimento Na verdade, tivemos pouca escolha. combustíveis para o setor de transporte. crescem e se motorizam muito Acreditamos ser essencial para os inte- Uma é a maior produtora mundial de rapidamente. Para atingir a mobili- resses de longo prazo de nossas empre- pneus para veículos rodoviários e outra dade sustentável em meados do sécu- sas que a mobilidade se torne sustentá- é uma das maiores produtoras de lo XXI, pelo menos sete “grandes vel. Para entender o que isso pode metais leves para a indústria de veículos desafios” relacionados à mobilidade requerer e os papéis que nossas empre- automotores. Para todas as empresas, o devem ser vencidos. Temos ainda um sas deveriam ser capazes de desempen- sucesso duradouro depende da viabili- desafio adicional a vencer, que vai har, tivemos que desenvolver uma visão dade futura da mobilidade. É nossa além da mobilidade: a criação da abrangente do resultado final almejado. visão coletiva que o setor de mobilidade capacitação institucional para Tivemos que projetar um método para não permanecerá saudável a longo enfrentar os sete “grandes desafios”. determinar quão bem a sociedade está prazo se a mobilidade não se tornar (Mobility 2001, p. 7.1) se saindo em sua busca e identificar sustentável. 12 A. O escopo deste relatório quando a cooperação com outros stakeDesde a publicação do Mobility 2001, o holders é necessária para se progredir. Este é o segundo maior relatório a ser PMS tem avaliado como as tendências Também, até que ponto podemos contar publicado pelo PMS. O primeiro, de mobilidade identificadas nesse inteiramente com os outros no desenvolvi- Mobility 2001, foi publicado em relatório poderão evoluir durante as mento de certas ações. Isso nos fez outubro de 2001 e retratou a próximas décadas, quais abordagens definir o escopo do projeto de forma mobilidade mundial no final do século estarão disponíveis para influenciar esta bastante ampla. Certamente, as empresas membro do escolher e o ambiente de trabalho no efeito estufa (GEEs), congestionamento, PMS têm um conhecimento considera- qual queremos desenvolver a carreira risco de vida e de ferimentos graves, velmente maior do que outras empresas escolhida. Uma melhor mobilidade de ruído e rupturas em comunidades e nos sobre certos aspectos da mobilidade e mercadorias oferece aos consumidores ecossistemas. dos fatores que afetam sua sustentabili- uma gama maior de bens e serviços a dade, principalmente no transporte preços mais acessíveis, permitindo que A Figura 1.1 tem por objetivo ilustrar rodoviário. Sendo assim, este Relatório produtores comercializem os produtos estes dois aspectos da mobilidade – seus discute o transporte rodoviário mais que cultivam ou fabricam em uma área benefícios e seus custos – e também detalhadamente do que outras modali- geográfica mais ampla e reduzam os algumas das relações que os têm dades de transporte. No entanto, ao custos dos insumos que precisam utilizar. caracterizado até o presente. Ela revela longo de todo o Relatório, enfatizamos a O grande crescimento do número de também pontos de “alavancagem” que, importância de transporte aéreo, fer- automóveis e caminhões nos últimos roviário e aquático para a mobilidade. cem anos é uma das mais importantes 2 manifestações desse desejo por uma Estamos convencidos de que estas indús- melhor mobilidade pessoal e de trias, seus fornecedores e clientes têm mercadorias. Estes veículos grande interesse no fato de a mobilidade proporcionam a seus usuários uma se tornar sustentável, mas não possuímos flexibilidade sem precedentes em dados suficientes para definir este inte- termos de onde podem ir e quando resse em detalhes. Também não temos a o desejam fazer. pretensão de conhecer o suficiente sobre se bem explorados, podem modificar algumas destas relações de modo tal a promover mais benefícios e reduzir os custos. Descreveremos estas “alavancas” em mais detalhes posteriormente, mas é importante mencioná-las aqui. Em primeiro lugar, serviços de transporte podem se tornar mais eficientes, aumentando o crescimento econômico sustentado por dado volume de serviços as operações e os desafios destas indús- Mas as pessoas estão mais e mais trias e de identificar ações específicas que conscientes de que uma melhor possam tomar. Ressaltamos que um dos mobilidade tem seu preço, o qual inclui objetivos de nosso Projeto é encorajar o os gastos financeiros que precisam ter setor a desenvolver seus próprios estudos para utilizar os sistemas e serviços de para identificar tais ações. mobilidade. Adicionalmente, uma consideravelmente reduzido – por melhor mobilidade tem acarretado exemplo, com significativas mudanças mais poluição, emissões de gases de tecnológicas. B. Uma melhor mobilidade é essencial para um contínuo progresso econômico, mas a mobilidade deve se tornar mais sustentável de transporte. Em segundo lugar, o nível de impactos econômicos e ambientais adversos associados a dado nível de atividade de transporte pode ser Figura 1.1 Os desafios de tornar a mobilidade sustentável Um fator específico tem nos impressionado ao longo de nosso estudo – a força do desejo das pessoas de ter uma melhor mobilidade. A mobilidade é quase universalmente reconhecida como um dos mais importantes pré-requisitos para um melhor padrão de vida. Uma melhor mobilidade pessoal aumenta o acesso a serviços essenciais e também àqueles serviços que tornam a vida mais agradável, expandindo as escolhas sobre onde queremos viver e o estilo de vida que queremos ter. Ela alarga a gama de carreiras entre as quais podemos Fonte: Adaptado de Molina & Molina 2002, p. 214. 13 Se implantarmos todas estas ações, sas domésticas poderemos reduzir – e talvez eliminar in Figures 2002). totalmente – a ameaça de sérios porte foi responsável por 10,5% do PIB crescimento econômico. A mera existên- impactos econômicos e ambientais dos EUA em 2001 (US DOT 2002). cia de serviços de transporte e dos (European Union Energy & Transport Em termos gerais, o trans- adversos que poderiam impossibilitar os transporte para impulsionar o serviços que estes provêm cria oportu- serviços de transporte de cumprir seu Estes números são a ponta do iceberg. nidades que outrossim não estariam papel de promover o crescimento Cálculos convencionais do PIB, por disponíveis a produtores e consumidores. econômico. Se formos bem-sucedidos, exemplo, omitem as transações internas Mas a contribuição do transporte é, na a mobilidade poderá, então, ser de uma empresa, o que é particular- verdade, ainda maior. A função mais considerada sustentável. mente importante para o transporte básica dos sistemas de transporte é ligar rodoviário, pois em vários países as as pessoas e as coisas e estas ligações são Exploraremos a seguir as relações empresas subsidiam uma boa parte de altamente valiosas por si próprias, inde- apontadas na Figura 1.1. seus próprios serviços de transporte. pendentemente de quanto são utilizadas Uma estimativa recente para os EUA durante certo período. Saber que estão estabelece o valor do transporte “próprio disponíveis quando necessário permite às da empresa” em US$ 200 bilhões, com- pessoas planejar sua vida pessoal e parado a US$ 475 bilhões gastos em profissional. C. Os serviços de transporte impulsionam o crescimento econômico transporte, público ou particular pago – um aumento superior a 40% resultante Sem redes de transporte capazes de A maioria das tentativas de medir a con- na verdade de um tratamento contábil de oferecer movimentação segura, confiável tribuição dos serviços de transporte para diferentes categorias de transporte que e a preço acessível para pessoas e o crescimento econômico somente reflete fornecem o mesmo serviço (Fang et al 2000). mercadorias, não seria possível o planejamento do uso dos recursos da o papel destes serviços como agentes do movimento. Estes estudos se concentram Mesmo este cálculo ignora muitos área geográfica à sua volta, limitando na contribuição da produção de veículos aspectos importantes do papel do assim as conexões de pessoas e mer- de transporte, de seus combustíveis, dos transporte em impulsionar o crescimento cadorias com essa área. As pessoas não gastos públicos e privados relacionados à econômico. O transporte “gera” se arriscariam a viver em grandes comu- estrutura do transporte e no valor dos matérias-primas ao tornar acessíveis serviços de transporte para o PIB de dada certas commodities que não o eram economia. anteriormente. Ele “gera” empregos ao expandir a área a partir da qual uma Assim avaliado, o transporte tem uma empresa recruta sua força de trabalho. O contribuição significativa para o transporte aumenta a produtividade da crescimento econômico. Entre os países força de trabalho e de matérias-primas 3 do G-7 , o número de empregos em permitindo que estas se combinem mais “transporte e nas indústrias a ele eficientemente. Um estudo de dois associadas” varia entre 872.000 postos pesquisadores alemães utilizou o que os no Reino Unido e 10,3 milhões de postos economistas definem como uma nos Estados Unidos (US DOT 1999). Para os abordagem de “crescimento de repre- países da UE-15 como um todo, o setor sentatividade” para dela derivar uma de transporte emprega aproximada- estimativa da “ordem de magnitude” de mente 7 milhões de pessoas (Overview of como estes dois fatores – “geração” de Transport 2002). recursos e melhoria da produtividade Nos EUA, em 2001, os gas- nidades se não tivessem certeza da disponibilidade dos bens e serviços necessários. Elas também não se dedicariam a uma atividade especializada se não tivessem certeza da possibilidade de comercializar um maior volume de bens e serviços oriundos de tal atividade que poderiam ser essenciais para a vida de quem não pudesse produzi-los. Em resumo, a mera disponibilidade de sistemas de transporte ajuda a criar a possibilidade de vida tal como a conhecemos no mundo desenvolvido. Como podemos mensurar a magnitude deste “efeito de disponibilidade” dos sistemas de transporte? Esta é uma tarefa tos pessoais com transporte, em sua destes recursos – contribuíram para o difícil, uma vez que o processo conceitu- maioria do usuário operador do trans- crescimento do produto interno alemão al a ser desenvolvido para mensurar essa porte, totalizaram quase US$ 800 bilhões no período pós-Segunda Guerra magnitude envolve imaginar uma econo- – perto de 11% da renda pessoal dispo- Mundial. Os pesquisadores concluíram mia com, e também sem, sistemas de nível que o transporte foi “responsável” por transporte. Algumas tentativas já foram gastos pessoais com transporte por quase a metade do crescimento da feitas. Pesquisadores do Banco Mundial e domicílio somaram quase Alemanha no período de 1950 a 1990 da Universidade da Pensilvânia (Baum and Kurte 2002). analisaram o impacto de vários fatores (US DOT 2002). Na UE, em 2000, os 700 bilhões pouco mais de 14% do total das despe- 14 Há outro papel decisivo dos serviços de na Índia, incluindo a provisão da infra-estrutura, a produção agrícola e os investimentos necessários. Descobriram que investimentos melhor dirigidos para a malha viária aumentavam a produção agrícola por oferecer mais oportunidades de mercado e reduzir custos de toda sorte (Binswanger, Kandker & Rosenzwseig 1993). Outro pesquisador do Banco Mundial, usando informações sobre o Nepal, descobriu que “fornecer amplos acessos rodoviários aos mercados traria benefícios substanciais de modo geral, a maioria dos quais contemplando domicílios pobres”. Seu estudo alerta, no entanto, que “a construção de estradas rurais certamente não diminuirá a pobreza em um passe de mágica”. Ele observou que estradas rurais produzem “causa” crescimento econômico? Ou indesejados para os quais o mercado não benefícios além do transporte barato de será que o crescimento econômico oferece qualquer remediação. Essas (e para) mercados agrícolas: melhor “causa” um aumento da atividade de externalidades incluem problemas com a acesso a escolas e serviços de saúde e transporte? qualidade do ar, congestão no tráfego e uma maior variedade de bens de con(Jacoby 1998). impactos indesejados na qualidade de Pesquisadores japoneses Ambos acontecem. Na seção anterior, vida de uma comunidade” que estudaram a relação entre a acessibili- descrevemos como as redes de trans- Crane 2001 p. 175). dade a uma via expressa e os atributos porte e a movimentação de bens e pes- socioeconômicos das municipalidades soas constituem um insumo indispensá- Externalidades geram “custos externos”, que desfrutam deste acesso mais rápido vel ao crescimento econômico, mas é definidos como os custos em que observaram como resultado taxas mais igualmente verdadeiro que o crescimen- incorrem indivíduos, grupos ou a altas de crescimento populacional, maior to econômico estimula um aumento na sociedade como um todo e que não são valor dos bens manufaturados e mais demanda por serviços de transporte, percebidos – e, por isso, não considera- empregos nas indústrias terciárias assim como mudanças na natureza dos dos – por aqueles que os geraram. Por serviços almejados. exemplo, um motorista que entra em sumo (Itoh, Nakagawa & Matsunaka 2001). (Boarnet and uma cidade na hora em que as vias estão Os serviços de transporte impulsionam o crescimento econômico de várias formas, algumas das quais são mensuráveis (e já foram medidas), enquanto outras não. Mas indubitavelmente, independente da mensuração, o crescimento econômico E. O transporte pode produzir impactos econômicos e ambientais negativos congestionadas cria uma pequena quantidade de congestão adicional que se soma ao problema sentido por todos os outros motoristas que já trafegam pela mesma via. Esta congestão adicional é um custo externo que o motorista pode não perceber, mas cobrar deste requer a disponibilidade de serviços de transporte seguros, confiáveis, eficientes e No início de seu livro recentemente motorista uma taxa que reflita o custo a preços acessíveis. publicado – Travel By Design: The que ele impôs aos demais aumenta o Influence of Urban Form on Travel (equiva- “preço” de sua viagem. Diante desta D. O crescimento econômico gera impactos no transporte lente a ‘O Design do Transporte: A taxa (mais os outros custos da viagem), Influência do Desenho Urbano no o motorista pode então decidir não fazer Transporte’) – Marlon Boarnet e Randall esta viagem (ou fazê-la em horário de Crane apresentam uma pergunta retóri- menor congestão) ou pagar este custo ca: “O que os carros têm de ruim?” adicional. Na primeira hipótese, nenhu- A relação entre volume e qualidade da (Boarnet and Crane 2001 p. 17), ma nova congestão é gerada – e não há atividade de transporte e o crescimento a seguinte resposta: “O problema dos nenhum custo externo –, mas na segun- de uma economia é fato. Mas um carros não é que sejam algo ruim em si, da hipótese, o motorista decide arcar aumento da atividade de transporte mas usar um carro traz efeitos colaterais com os custos externos de sua decisão. para a qual dão 15 G. Se não monitorados, os impactos econômicos e ambientais podem inibir a capacidade dos serviços de transporte de impulsionar o crescimento econômico Este exemplo evidencia que se a sociedade gerar. Apesar de estes elementos nega- deseja “corrigir” uma externalidade, a tivos existirem, devemos nos lembrar ação necessária deve estar diretamente que o transporte também gera externali- relacionada à atividade específica geradora dades positivas, as quais são efeitos dos custos externos que a sociedade colaterais desejados e pelos quais o mer- procura eliminar. Não tomar esta atitude cado não precisa oferecer qualquer resultará em pouco ou nenhum impacto remediação. Entre os exemplos mais sobre o nível da atividade em questão. A claros estão os “benefícios da existência” obtenção de recursos pelo aumento dos dos sistemas de transporte – os benefícios custos envolvendo uma atividade não rela- gerados pela mera existência de tais sis- cionada não se qualifica como “corrigir” temas. Assim como os governos tentam uma externalidade, mesmo que esta renda captar alguns dos custos externos associ- seja usada para compensar de alguma ados às atividades de transporte através Esta é provavelmente a menos com- maneira os indivíduos afetados. Sendo de taxas e impostos, cobranças dos preendida e menos aceita das quatro assim, cobrar do motorista uma taxa única usuários e outras ferramentas dessa relações ilustradas na Figura 1.1. Sua anual por dirigir em determinada área política também tentam captar alguns premissa subjacente é que, à medida geográfica tem pouca ou nenhuma rela- dos benefícios externos. Isso é particular- que aumentam os impactos econômicos ção com o congestionamento causado mente verdadeiro para os projetos de e ambientais adversos gerados pela pelas decisões de dirigir daquele motorista. infra-estrutura que objetivam desbravar expansão da atividade de transporte, a Ele ficará um pouco mais pobre, mas e abrir novas regiões para o desenvolvi- proporção que estes podem assumir talvez ele nem pense duas vezes sobre mento econômico. inibiria os sistemas de transporte de exercer seus papéis fundamentais – entrar na área durante um período de grande congestionamento. No caso da primeira ferrovia transconti- econômico e social. nental dos Estados Unidos, o Governo A tecnologia se desenvolve hoje a tal Federal (proprietário da maior parte da A poluição decorrente do transporte, por passo que se torna cada vez mais terra a ser atravessada pela ferrovia) con- exemplo, pode atingir níveis tais que acessível para os governos cobrar taxas cedeu grandes doações de lotes de terra impediriam as pessoas de dedicarem-se sobre atividades que geram custos exter- às construtoras – a Central Pacific e a às suas atividades. O congestionamento nos (esta questão é discutida nos capítu- Union Pacific – dependendo de quantas crônico pode aumentar consideravelmente los posteriores). Está se tornando obsole- milhas de trilhos cada qual conseguisse o custo da oferta de bens e serviços, to o argumento de que a sociedade que assentar. As doações visavam ajudar levando a mudanças onerosas na loca- deseja impor “custos extenos” a motoris- estas empresas privadas a financiar a lização de residências e empresas. As tas sobre o uso dos diversos serviços de construção da ferrovia e eram concedi- atividades de transporte – responsáveis transporte deve satisfazer-se com recolher das em seções alternadas (lotes de seis por uma significativa parcela dos gases taxas ou outras cobranças que estão milhas ao lado da ferrovia, em ambos os de efeito estufa – e o uso da energia no remotamente associadas às atividades lados). O Governo Federal manteve para transporte (especialmente o uso do que geram estes custos. Além disso, a si alguns lotes, pois percebeu que estas petróleo) poderia forçar países depen- idéia da obrigatoriedade de tais cobran- porções de terra se valorizariam ao longo dentes do transporte a tomar certas ças e dos níveis em que estas deveriam do tempo à medida que a nova ferrovia medidas para garantir o fluxo ininterrup- ser estabelecidas pemanece altamente abrisse caminho para o comércio e a fun- to de petróleo, onerando, assim, suas controversa. Diferentes sociedades certa- dação de povoados. próprias populações e o mundo de 4 modo geral. mente chegarão a conclusões diferentes. Isso se tornou realidade e o Governo F. O transporte pode produzir externalidades positivas 16 Federal obteve uma alta receita com a Entretanto, a lógica das relações dos ele- venda posterior destas terras. Na verdade, mentos da Figura 1.1 não necessaria- apesar de isso não ter sido identificado mente implica que eles existam de fato na época da construção, a terra pela qual ou, se existirem, que sejam significativos. a ferrovia passava também continha Sua possível existência simplesmente importantes depósitos minerais e a ressalta a importância de compreender- Nos últimos anos, muita atenção tem existência da ferrovia conferiu valor mos o impacto do crescimento projetado sido dedicada às externalidades negati- comercial a estes depósitos, valorizando para a atividade de transporte em todo o vas que a atividade de transporte pode ainda mais as terras retidas pelo Governo. mundo (descrita no Capítulo 2) na sus- II. Qual grau de consenso deve haver sobre o que é necessário para tornar a mobilidade sustentável? tentabilidade da mobilidade. refere-se às emissões de GEEs decor- Em princípio, a aplicação das relações rentes do transporte . Estima-se que, ilustradas na Figura 1.1 é universal. No a partir de 2000, essas emissões repre- entanto, a magnitude das diferentes sentem aproximadamente 20% de relações pode apresentar grande vari- todas as emissões antropogênicas ação entre as nações e regiões do globo. (causadas pelo homem) de GEEs . E, acima de tudo, a prioridade que diferen- Mas cada quilograma de CO2 emiti- tes nações e regiões conferem à melhoria do em qualquer lugar do mundo por ou diminuição dos impactos dessas dife- uma atividade relacionada ao transporte 5 6 rentes relações também pode variar. aumenta a concentração total de CO2 na atmosfera. Sendo assim, um estado ou Isso significa que é impossível definir uma região que atribua baixa prioridade “mobilidade sustentável”? Não necessari- para a redução das emissões de CO2 e amente – mas significa que, observados faz escolhas relativas à mobilidade que certos limites, o que, constitui a mobilidade sustentável como uma questão prática pode diferir em vários lugares. Muitos dos elementos que constituem a mobilidade sustentável para estados ou regiões baseiam-se em escolhas de mobilidade que refletem prioridades levam ao aumento de emissões de CO2 dificulta (e talvez, impossibilita) outros De modo geral, este Relatório não emite estados ou regiões de estabelecer alta prio- julgamentos de valor sobre as conseqüên- ridade para a redução de tais emissões. cias de diferentes estados ou regiões estabelecerem diferentes prioridades para as Isso não significa que todos os estados e regiões do globo devam concordar sobre prazos e recursos para a redução de CO2. Um estado pode legitimamente adotar questões de mobilidade, exceto as escolhas que limitam de modo significativo a liberdade de outros estados e regiões de expressar suas próprias prioridades. locais. A busca por rápido crescimento uma abordagem que aceite uma quanti- econômico pode levar a China a aceitar dade maior de emissões hoje, de modo a as conseqüências de maior ruído e con- permitir maiores reduções no futuro, ou gestionamento decorrentes do trans- ainda enfatizar a redução de emissões em porte que seriam inaceitáveis para a Grã- determinado setor (por exemplo, trans- Bretanha. Mas esta busca pode não acar- porte), enquanto outro estado escolhe retar grandes impactos nas escolhas reduzir as emissões de outro setor (digamos, mobilidade sustentável. Na maioria dos feitas pela Grã-Bretanha sobre o que lhe geração de energia). Um estado pode ainda casos, estados e regiões darão diferentes é mais apropriado no tocante à sua decidir reduzir emissões de sua própria graus de importância ao desenvolvimento mobilidade sustentável. indústria, enquanto outro escolhe pagar a de indicadores diferentes. Em alguns outros estados para acelerar sua redução casos, eles podem discordar sobre o rumo Algumas questões relacionadas ao trans- de emissões. Existe uma grande flexibili- que certos indicadores deveriam tomar e porte não permitem um horizonte tão dade, mas, diferentemente do ruído ou do ainda legitimamente alegar que estão amplo quando se trata de estabelecer pri- congestionamento, não há espaço para melhorando a sustentabilidade de sua oridades. O exemplo mais proeminente desacordos sobre a meta final. própria mobilidade. Entretanto, propomos um conjunto de indicadores comuns para a mobilidade sustentável que refletem certos fatores que acreditamos serem universais (ou quase universais) e relevantes para a 17 III. Os indicadores de mobilidade sustentável do projeto Para avaliar o estado atual e futuro possível da sustentabilidade da mobilidade e quão eficazes as várias abordagens podem ser para promover sua melhoria, é necessário ter à disposição indicadores que reflitam os vários elementos da mobilidade A. Como escolhemos nossos indicadores O ponto de partida para escolhermos nossos indicadores foi os scorecards usados no relatório Mobility 2001. tante para determinar a sustentabilidade da mobilidade para o grupo em questão. Combinando as respostas e eliminando as justaposições, chegamos aos seguintes indicadores. Modificamos os itens listados nesses sustentável. O ideal seria que estes scorecards mediante uma combinação de impactos pudessem ser mensuráveis e deliberações internas, estudos mensurados, mas como ficou evidente publicados e extensa consulta aos na discussão sobre a ligação entre a stakeholders. 1. ACESSIBILIDADE Mobilidade Pessoal. No final de 2001, o The Journal of Transportation and Statistics dedicou uma edição especial às questões atividade de transporte e o crescimento econômico, os elementos mais O resultado foi um conjunto de 12 importantes apresentados na Figura 1.1 indicadores, os quais acreditamos consti- não são facilmente quantificáveis e todas tuam as dimensões mais importantes da as tentativas de quantificá-los foram criti- mobilidade sustentável, indicadores que cadas. devem ser elementos centrais de qualquer visão sobre mobilidade sustentável e o A impossibilidade de mensuração não caminho para até ela chegar. Eles consti- implica que algo deva ser ignorado. tuem dimensões chave nas quais os sis- Alguns dos indicadores descritos abaixo temas de mobilidade sustentável deveri- são relativamente “facilmente” mensu- am ter bom desempenho e consistem ráveis e, onde o foram, o PMS apresenta numa aferição contra a qual a eficácia de seus valores quantitativos. Mas alguns várias abordagens pode ser medida. são “difíceis” de serem mensurados, pois 18 que provavelmente seria mais impor- metodológicas da mensuração da acessibilidade. Na introdução, havia uma observação sobre as pessoas geralmente concordarem que a acessibilidade está “fundamentalmente preocupada com a oportunidade que um indivíduo em dada localidade possui de participar em uma atividade ou conjunto de atividades específicas”, seguida do comentário que “exceto ao avaliar o impacto de um sistema de transporte em grupos especiais e para finalidades específicas, os planejadores e redatores de políticas não conduzem avaliações rotineiras e sistemáti- os dados necessários não podem ser Duas visões dos stakeholders – especial- rotineiramente coletados ou não está mente daqueles que vivem em países em claro como eles devem ou podem ser desenvolvimento – influenciaram a esco- mensurados. Nestes casos, apresentamos lha dos indicadores. Uma delas enfatiza- as informações que conseguimos sobre a va a necessidade de indicadores que ordem geral da magnitude do indicador refletissem os três pilares necessários à e sua provável rota de evolução, obser- sustentabilidade (ambiental, social e surar a acessibilidade. Quase univer- vadas certas mudanças em comporta- econômico). A outra visão destacava a salmente, “acessibilidade” é definida mentos e políticas relevantes. importância de fatores centrados nas como “acesso aos meios de mobilidade pessoas. Para atingir tal resultado, nos pessoal” e este “acesso” é mensurado de colocamos no lugar de usuários de bens uma entre duas formas mutuamente e serviços da mobilidade, de fornece- exclusivas – estritamente em termos de dores da mobilidade e da sociedade propriedade de veículos automotores (a como um todo. Partindo de cada uma parcela da população que possui ou tem destas perspectivas, nos perguntamos o fácil acesso a veículos automotores priva- cas dos sistemas [de transporte] urbanos tendo por base a acessibilidade” (Thakuriah 2001). O PMS enfrentou este problema quando teve de decidir a melhor forma de men- dos, tais como carros e motocicletas ou tribuidor ou o consumidor tem que per- despesas, incluindo custos particulares bicicletas motorizadas) ou estritamente correr para entregar ou receber o pedido. gerados pela existência de custos exter- em termos da facilidade de chegar a sis- nos (incluindo o reflexo destes custos nas temas de transportes públicos (a distância Sob esta mensuração, um pequeno inter- despesas necessárias para se obter os que indivíduos têm de caminhar ou peda- valo de tempo entre a data do pedido e serviços de transporte). lar para chegar até o transporte público). a data da entrega, acrescido do tempo necessário para o distribuidor ou con- Por exemplo, se aumentos no congestio- O PMS adotou uma abordagem mais sumidor percorrerem uma certa distância namento levam a despesas adicionais equilibrada para mensurar o “acesso”. (ou, talvez, nenhuma distância), constitui Nossa visão é que nenhuma das medidas um “bom” acesso aos meios da mobili- anteriores isoladas constitui um indicador dade de mercadorias. Entregas “em adequado, mas ao combinarmos as duas domicílio” que requerem uma longa – a porcentagem de domicílios que têm acesso a veículos automotores próprios mais a porcentagem de domicílios localizados a uma certa distância do transporte público com uma qualidade mínima – encontramos um caminho a seguir. Sob tal visão de mensuração, alguém que tem acesso a um veículo automotor ou a um sistema de transporte público que atenda aos padrões da definição é considerado como tendo “bom” acesso aos meios de mobilidade pessoal. Alguém capaz de escolher entre ambos é considerado como tendo “melhor” acesso do que alguém que possa usar somente um ou outro. espera para receber o pedido constituem um acesso “insatisfatório”, assim como um serviço “imediato” que requer que o distribuidor ou o consumidor transporte as mercadorias por uma longa distância com combustível, as despesas aumentarão. Além disso, se uma sociedade introduzir políticas públicas que transformam os custos externos em custos particulares (por exemplo, ao impor mudanças nas rodovias que afetam a parcela de contribuição dos usuários para gerar ou piorar condições de congestionamento), as despesas dos usuários também sofrerão 7 impactos . Este indicador é assim definido: até o ponto de envio ou de recebimento. Mobilidade Pessoal: Parcela do orça- 2. DESPESAS EM QUE OS USUÁRIOS mento individual (ou familiar) reservada INCORREM à locomoção pessoal. O segundo indicador do PMS visa men- Mobilidade de Mercadorias: Custos surar as despesas necessárias para se totais de logística por unidade (peso obter serviços de transporte de pessoas ou valor) transportada por unidade de ou de mercadorias. Este indicador não distância. Ou, então, a parcela do reflete os custos externos do transporte, preço de uma mercadoria que repre- mas sim a acessibilidade de serviços sob senta todos os custos de logística asso- a perspectiva daqueles que incorrem em ciados à sua produção e entrega final. Mobilidade de mercadorias. Até para a mobilidade de mercadorias o conceito de “acessibilidade” está insatisfatoriamente definido e o PMS teve de elaborar nova definição. Acreditamos que o acesso à mobilidade de mercadorias deva refletir a facilidade ou dificuldade com que um distribuidor ou um consumidor consegue obter dado serviço. Sendo assim, qualquer mensuração do acesso à mobilidade de mercadorias deve refletir o atraso entre um pedido e o recebimento do mesmo, assim como a distância que o distribuidor ou o consumidor devem percorrer para transportar essa mercadoria. A formulação do PMS para a acessibilidade à mobilidade de mercadorias é a seguinte: Alguma combinação de tempo de resposta (tempo para retirar uma mercadoria ou um serviço após seu pedido ou o tempo para enviá-lo após a chegada do pedido) e a distância que o dis- 19 dade no transporte de pessoas ou de 3. TEMPO DE VIAGEM mercadorias é, de algum modo, algo O tempo de viagem é um indicador que “bom”. Na verdade, muitas iniciativas possui duas funções. A primeira é comple- para diminuir o congestionamento focam mentar o indicador anterior – despesas principalmente a redução da não confia- incorridas pelos usuários. O “custo” de bilidade e aceitam aumentos previsíveis uma viagem é medido não somente pelas no tempo médio de viagem como algo despesas necessárias, mas também pelo que os indivíduos e as empresas podem tempo necessário. Na verdade, muitas das aprender a tolerar ou a modificar ao escolhas que indivíduos e distribuidores mudarem seus hábitos ou endereços. fazem sobre a modalidade e a qualidade O indicador do PMS mensura o compo- de um serviço envolvem uma consideração nente de “confiabilidade” em relação ao explícita da relação tempo-despesas. congestionamento em termos da variabilidade ao longo do tempo que um Qualquer que seja a finalidade, o tempo indivíduo, um distribuidor ou um con- de viagem deve ser mensurado em uma sumidor espera de um serviço: base origem-destino. A vantagem das altas velocidades de certas modalidades Mobilidade Pessoal: Variabilidade no pode ser anulada pela necessidade de tempo de viagem para um usuário múltiplas conexões, demora no acesso e horários de partida infreqüentes. A Mobilidade de Mercadorias: Tempo capacidade do transporte ferroviário de médio gasto do ponto de origem até o competir com o transporte aéreo na destino, necessário à entrega de uma locomoção de pessoas em distâncias mercadoria. curtas ou médias reflete este tipo de compensação, assim como as caracterís- A segundo função que o tempo de viagem possui é a de ser um indicador parcial do impacto do congestionamento. Quando os serviços de transporte se tornam congestionados, o tempo médio necessário para ir de casa para o trabalho e vice-versa é sempre utilizado como uma medida do “custo” do congestionamento (vide a seguir). Dados sobre a locomoção pessoal se relacionam essencialmente à locomoção para o trabalho. Os dados relacionados à mobilidade de mercadorias são obtidos de distribuidores e de autoridades governamentais. A definição recomendada pelo PMS para este indicador é a seguinte: Mobilidade de Mercadorias: Variabilidade no tempo gasto entre o ponto de origem e de destino para os diversos tipos “típicos” de entregas. 4. CONFIABILIDADE ticas de serviço oferecidas por veículos particulares versus transporte público. “típico” do sistema de mobilidade. 5. SEGURANÇA DOS TRANSPORTES A confiabilidade é o segundo indicador do congestionamento e define o grau de cer- O consenso do Projeto é que a segurança teza de tempo de viagem dos sistemas de deve ser vista a partir de duas perspecti- transporte. “Sistemas de transporte confiá- vas. Para o indivíduo, o que importa é a veis oferecem alguma certeza de se chegar probabilidade de ele se envolver em um a um destino dentro de um tempo razoável incidente que possa resultar em morte ou (...) Um transporte não confiável está ferimentos graves. A situação análoga no sujeito a atrasos inesperados. o congestion- transporte de mercadorias é a percepção amento não recorrente é a principal fonte do distribuidor de que sua entrega será desta não-confiabilidade” (TRB 2001 pp. 16-17). danificada ou destruída devido a uma colisão ou manuseio inadequado durante a Alguns podem se surpreender ao saber transferência. Para a sociedade como um que há um debate entre especialistas em todo, o que importa é o peso que os aci- transporte sobre o congestionamento ser dentes de trânsito impõem – mensurado algo inerentemente “bom” ou “ruim”. em termos do número total de mortes e Este debate reflete a visão de alguns de ferimentos graves no trânsito. No caso do que o congestionamento é um subpro- transporte de mercadorias, esta perspecti- duto inevitável de sociedades complexas va social seria a “conta” total que a econo- e altamente móveis e será discutido com mia teria que pagar pela perda ou por mais detalhes quando este Relatório danos derivados de acidentes rodoviários. abordar as demandas futuras por mobiliMobilidade Pessoal: Tempo médio dade pessoal e de mercadorias. gasto do ponto de origem até o destino, 20 O número total de mortes e ferimentos graves no trânsito é bastante relevante incluindo todas as mudanças de veícu- O PMS não encontrou ninguém disposto para o indivíduo – ele molda a per- los/modalidades e todo o tempo de a argumentar que, quando todas as cepção do indivíduo do risco que ele “caminhada” até o acesso. variáveis são iguais, a falta de confiabili- corre. Do mesmo modo, a taxa de mortes ou ferimentos graves no trânsito além do risco de a violência causar rup- hidrofluorocarbonos, metano não também é relevante para a sociedade – turas no sistema de transporte de pessoas queimado (dependendo dos com- ela é um dos fatores (junto com o vo- ou de mercadorias, possivelmente matan- bustíveis usados) e óxido de nitrogênio. lume de atividade de transporte) que do milhares e causando bilhões de dólares determina o total de mortes e ferimentos de prejuízo. As preocupações com a segu- Além dos GEEs como vapor de água e no trânsito. Mas as perspectivas do indi- rança também envolvem considerações dióxido de carbono, as aeronaves emitem víduo e da sociedade são fundamental- sobre ameaças à integridade física de quantidades significativas de óxidos de mente diferentes, e os indicadores do usuários dos sistemas de transporte ou nitrogênio, que promovem a formação PMS refletem esta diferença: ameaças de roubo, pilhagem ou danos a de ozônio, outro GEE, e de fuligem. mercadorias de modo que estas não Como estes gases e aerossóis que Mobilidade Pessoal: A probabilidade 8 cheguem até o consumidor intacta . de um indivíduo ser morto ou de se absorvem a luz são emitidos ou formados em grandes altitudes, seu impacto é ferir em um acidente ao usar um sis- Ao considerarmos os fatores que determi- considerado grande. A fixação biológica tema de mobilidade e o número total nam as escolhas dos indivíduos sobre de nitrogênio na agricultura para a produ- de mortes e ferimentos graves (expres- modalidades de transporte e seu grau de ção de certos biocombustíveis também sos em DALY – anos de vida perdidos satisfação com o sistema de transporte, a causa emissões de óxido nitroso. por incapacidade), por ano por catego- questão da segurança pessoal sempre veio Determinar como contabilizar as emissões ria (transporte aéreo, automóveis, à tona. Isso foi especialmente verdadeiro de óxido nitroso dos biocombustíveis é caminhões, ônibus, motocicletas ou para o mundo em desenvolvimento, onde uma das questões mais complexas para bicicletas motorizadas, bicicletas, questões de segurança pessoal são, por quantificar o potencial de redução de pedestres, etc.). vezes, fatores determinantes do uso de GEEs dos biocombustíveis. um dado sistema de transporte. Mobilidade de mercadorias: A proba- Segurança é também uma questão pre- Os impactos dos vários GEEs na atmos- bilidade de uma dada entrega ser ocupante para distribuidores comerciais fera variam enormemente. As discussões danificada ou destruída e o valor total em todo o mundo. sobre GEEs e seu controle geralmente das mercadorias danificadas ou destruídas em uma colisão. traduzem este impacto em algo comuNo tocante à segurança, a sugestão do mente chamado de unidades “carbono PMS é que a questão seja vista tanto sob equivalente”, que refletem o potencial Nestas mensurações, uma probabilidade a perspectiva do indivíduo quanto do de aquecimento de cada gás relativo ao menor de ferimentos ou morte e/ou uma governo: dióxido de carbono. probabilidade menor de danos às mercadorias reflete uma “boa” mobilidade, Mobilidade Pessoal: Para indivíduos, a O indicador do PMS segue esta tradução tanto sob a perspectiva do indivíduo probabilidade de roubo, abusos ou con- do impacto: quanto sob a perspectiva da sociedade. frontos físicos durante uma viagem. Emissões de GEEs por período de tempo Mas estas mensurações não relatam a Para a sociedade, além destes, o número mensuradas em unidades ”carbono equi- história toda. Se aumentos crescentes na total de incidentes (talvez avaliados valente”. movimentação de pessoas ou mercado- pelo grau de severidade). rias ultrapassarem qualquer redução no 8. IMPACTOS NO MEIO AMBIENTE E número de ferimentos ou mortes, levan- Mobilidade de Mercadorias: Para indi- do a um aumento geral no número pre- víduos, a probabilidade de mercadorias visto de indivíduos mortos ou feridos serem roubadas ou danificadas durante Esta mensuração “guarda-chuva” reflete e/ou a um aumento no valor total das pilhagem. Para a sociedade, além um importante aspecto das preocu- mercadorias danificadas ou destruídas, destes, o valor total das mercadorias pações da sociedade sobre a mobilidade isto seria considerado uma mobilidade perdidas por roubo e/ou pilhagem. – seus impactos no meio ambiente e no “ruim” sob a perspectiva da sociedade. 6. SEGURANÇA PESSOAL E DE MER- NO BEM-ESTAR DA POPULAÇÃO bem-estar da população. Incluímos aqui 7. EMISSÕES DE GASES DE EFEITO três subfatores: emissões “convencio- ESTUFA (GEES) nais” decorrentes do transporte, impacto CADORIAS do transporte nos ecossistemas e ruído Apesar de o dióxido de carbono ser o decorrendo do transporte. Além dos Sob a luz de eventos recentes, a segu- mais comum, ele não é o único gás de dados relevantes colhidos por diferentes rança dos sistemas de transporte efeito estufa. Outros GEEs são emitidos órgãos do governo, uma análise da liter- tornou-se uma preocupação maior do pelo setor de transporte, incluindo gases de atura e discussões externas convenceram que nunca. No entanto, a segurança vai refrigeração à base de fluorocarbonos ou os membros do Projeto que cada uma 21 A quantidade (ou parcela) de terra dedicada às atividades de transporte. • Uso de materiais pelo transporte Os sistemas de transporte são os principais usuários de materiais e de energia. Os veículos utilizam grandes quantidades de materiais em sua fabricação e produzem muitos resíduos para disposição e reciclagem. A construção e a manutenção da infra-estrutura de transporte é outro grande consumidor de materiais. A seguinte definição para este indicador tem por objetivo refletir estas questões subjacentes: O volume total de materiais usados pelo setor de transporte, a parcela do uso total do setor de transporte e as reais taxas de reciclagem. 10. IMPLICAÇÕES PARA O PRINCÍPIO DE EQÜIDADE destas áreas deveria estar refletida no con- • Uso de energia pelo transporte e segurança da energia Concentrar a atenção nos valores No tocante ao uso de energia, o total médios dos vários indicadores da mobi- de uso de combustíveis para o trans- lidade nos leva a negligenciar impor- rentes do transporte porte. No tocante à segurança da ener- tantes aspectos da mobilidade susten- Emissões de NOx, CO, particulados, gia, a porcentagem de fornecimento de tável que envolvem a gama e a dis- hidrocarbonetos não queimados e energia de uma região fornecida exter- tribuição dos valores dos indicadores chumbo, por período de tempo. namente ou por fontes “incertas”. dentro das comunidades, dos estados, junto deste indicador do PMS. • Emissões “convencionais” decor- das regiões e do mundo como um todo. • Impactos nos ecossistemas • Uso do solo pelo transporte Impactos causados pelo transporte nos No mundo desenvolvido, um aumento Como já ressaltamos, o transporte é um ecossistemas (ex., habitats, água), (ou mesmo o atual) uso da terra pelo grande provedor de oportunidades além do uso da terra. transporte pode ser considerado um fenô- econômicas e sociais. Mas se a gama de meno negativo, especificamente na serviços de transporte disponível para • Ruído decorrente do transporte Europa, onde é considerado um custo de pessoas de diferentes rendas, idades O número de indivíduos (ou porcen- externalidade (ruptura de comunidades e e/ou grupos étnicos não consegue tagem da população) expostos a vários valor da terra). Neste Relatório, um acompanhar o ritmo do aumento dos níveis de ruído decorrente do transporte, aumento do uso do solo pode ser con- ao longo de vários períodos de tempo. siderado um afastamento da mobilidade sustentável. No mundo em desenvolvi- 9. USO DE RECURSOS Este indicador “guarda-chuva” reflete outra área de preocupação social, cobrindo três subfatores: uso de energia pelo transporte e segurança da energia, uso da terra pelo transporte e uso de materiais pelo transporte. 22 mento, o contrário às vezes (mas nem sempre) ocorre, uma vez que o uso da terra pelo transporte pode refletir melhorias na mobilidade e acessibilidade. níveis de tais serviços disponíveis para membros de uma sociedade, a sustentabilidade da mobilidade dessa sociedade se torna alvo de suspeita. O mesmo pode ser dito de indicadores que refletem as conseqüências negativas As complexidades deste indicador serão da mobilidade, incluindo a poluição discutidas posteriormente neste convencional, mortes e ferimentos Relatório. O PMS define este indicador graves. O indicador de eqüidade do como: PMS reflete estas preocupações: Acreditamos que seja desejável o custear os serviços de transporte e a para a provisão de serviços e de infra- desenvolvimento de dados que refli- receita que estes sistemas geram. estrutura de transporte, incluindo tam a distribuição dos “valores” da verbas para o lançamento de serviços, mobilidade sustentável entre os dife- Os governos atuam em ampla gama de capital público para infra-estrutura, rentes grupos da população. atividades de transporte envolvendo o subsídios operacionais, renda arrecada- Exemplos incluem o acesso aos meios gasto de fundos públicos ou o compro- da pelo governo das operações de trans- de mobilidade, o custo da obtenção metimento de crédito público, os quais porte e taxas pagas pelos usuários e a da mobilidade pessoal e de mercado- variam desde a provisão de serviços de redução de outras despesas do governo rias, e a exposição aos efeitos das transporte até a provisão da infra-estrutura decorrentes da quantidade e qualidade emissões “convencionais” e de ruído, de transporte. Em todo o mundo dos serviços de transporte. além das ameaças à segurança dos debate-se se o governo deveria operar as transportes e à segurança pessoal e modalidades de transporte ou não. No de cargas no transporte. entanto, não há controvérsia alguma 12. TAXA ESTIMADA DE RETORNO PARA EMPRESAS PRIVADAS sobre a necessidade de fundos públicos 11. IMPACTOS NA RECEITA E GASTOS PÚBLICOS Tradicionalmente, a “sustentabilidade” é vista como tendo três pilares – ambiental, social e econômico. A maioria dos indicadores do PMS se baseia nos dois primeiros. No início deste capítulo, caso a lacuna entre os recursos privados e os recursos necessários para manter a viabilidade financeira de qualquer aspecto do sistema de transporte de mercadorias ou de pessoas precisar ser preenchida. Os subindicadores do PMS visam cobrir vários tipos de atividade do governo que requerem o uso de fundos públicos e o Empresas que produzem os insumos usados pelos sistemas de transporte (veículos, combustíveis, infra-estrutura, etc.) e os próprios serviços de transporte (aéreo, aquáticos, ferroviários e rodoviários) têm um especial interesse na sustentabilidade financeira da mobilidade. Se estas empresas não puderem garantir uma taxa de retorno adequada as despesas dos usuários de serviços de potencial de algumas atividades de trans- transportes foram consideradas como porte de gerar um superávit de renda um dos indicadores, mas apesar de sua sobre seus custos. A mensuração que relacionadas à mobilidade, elas não importância (sistemas de transporte propomos é a seguinte: poderão prover os insumos e/ou sobre seus investimentos em atividades serviços necessários para tornar a mobi- têm pouco utilidade para aqueles que 9 não podem pagar por eles), este indi- O nível e as mudanças no nível de cador não é suficiente como uma medi- capital público e despesas operacionais lidade sustentável . da da sustentabilidade econômica do transporte. Dois outros indicadores do desempenho financeiro – o impacto na receita e nos gastos públicos e a taxa de retorno para os provedores de insumos e serviços de mobilidade – devem ser considerados. O primeiro deles visa refletir duas das principais preocupações do governo – 23 Para tal, o indicador proposto pelo PMS um “termômetro” da sustentabilidade. é o seguinte: Se dada atividade promete produzir uma taxa de retorno minimamente “normal” O retorno esperado sobre o investi- para um provedor privado eficiente, ela mento disponível a uma empresa pri- estará aprovada. Uma taxa de retorno vada eficiente pela oferta de bens e serviços de mobilidade pessoal – incluindo custos (patrimônio e capital operacional), receita privada, receita fornecida pelo governo (“patrocínio de lançamento” dos serviços, subsídios operacionais, doação de fundos públicos para financiar o capital, etc.) e custos impostos por políticas regulamentares do governo. superior a esta não a torna “mais sustentável”. No entanto, uma taxa esperada de retorno abaixo deste limiar torna a atividade “não-sustentável”. Após definir os indicadores, nossa próxima tarefa foi projetar como eles podem evoluir nas próximas décadas se as tendências atuais se mantiverem. Estas projeções foram então usadas Diferentemente da maioria dos outros para avaliar a probabilidade de a indicadores do PMS, esta medida deve mobilidade se tornar mais sustentável ser vista como um “limiar” ao invés de do que é hoje. 1 Mobility 2001 foi elaborado pelo MIT por Charles River Associates, Inc. Este relatório não refletiu necessariamente as visões dos membros do Projeto de Mobilidade Sustentável do WBCSD. mas também as emissões associadas à produção e distribuição de combustíveis para o transporte – i.e., emissões “poço-a-rodas” (WTW), cujo conceito está detalhadamente explicado no Capítulo 3. 7 2 Este Relatório não investigou equipamentos agrícolas e equipamentos de construção. Muitos veículos agrícolas e para construção podem trafegar por rodovias, mas não são considerados “veículos de transporte”. tempo, etc., atribuíveis à redução resultante da congestão. 8 3 Os países do G-7 são Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália, Reino Unidos e Japão. O impacto seria mensurado como os gastos com taxas rodoviárias menos qualquer economia no custo dos combustíveis, economia de O conceito de “segurança” difere do conceito de “segurança pessoal” no seguinte sentido: “segurança” envolve ações deliberadas para causar danos ou prejudicar, enquanto “segurança pessoal” envolve um dano ou 4 Union Pacific recebeu 5,25 milhões de hectares de terras. prejuízo não intencional resultante do que tem sido tradicionalmente definido como “acidentes”. 5 Apesar de o foco ser o CO2, há diversos outros GEEs, alguns dos quais 9 com um potencial de aquecimento por quilograma de emissões superior Se os governos determinarem que a sociedade exige que certas ativi- ao CO2. Na maior parte dos transportes (sendo o transporte aéreo a dades sejam exercidas em níveis superiores do que os gastos pessoais principal exceção), o CO2 constitui, com larga margem de diferença, o permitirem, os governos deverão encontrar maneiras de complementar mais importante dos GEEs. Neste Relatório, sempre que utilizarmos a estes gastos pessoais. Cada vez mais se reconhece que se os governos expressão “emissões de GEEs decorrentes do transporte” estaremos nos forem os fornecedores de determinados insumos e/ou serviços de trans- referindo ao CO2. porte, estas atividades operadas pelo governo devem passar no teste da sustentabilidade financeira e os subsídios devem ser transparentes, jamais 6 As emissões decorrentes do transporte incluem não somente emissões diretas da queima de combustíveis usados por veículos de transporte, 24 obscuros. E a sociedade tem o direito de exigir que estas atividades sejam oferecidas de forma eficiente. Capítulo 2 As chances de a mobilidade se tornar sustentável se as atuais tendências se mantiverem I. Introdução Os autores de Mobility 2001 não pais regiões do mundo, sendo um chegaram a projetar o futuro da parâmetro para o Cenário de mobilidade e sua sustentabilidade, Referência publicado no World Energy apesar de terem incluído em seu Outlook 2002 (WEO – ‘Perspectiva relatório projeções de outros Internacional de Energia’) (IEA 2002a). estudiosos a partir de diversos indicadores relacionados à mobilidade. À Neste capítulo, apresentamos algumas medida que o Projeto de Mobilidade das projeções geradas por este mode- Sustentável (PMS) prosseguiu, lo de planilha e descrevemos as pos- decidimos que seria de grande utili- síveis implicações para o desenvolvi- dade ter um ponto de referência com mento de alguns indicadores que o o qual poder comparar as várias alter- modelo não consegue projetar direta- nativas. mente. De modo a estabelecer tal ponto de referência e também um método consistente de avaliação das alternativas, o PMS concedeu uma subvenção à Divisão de Políticas Energéticas e Tecnologia da Agência Internacional de Energia (IEA, da sigla original em inglês) para que seu Modelo de Perspectivas de Tecnologias Energéticas estudasse com especial atenção o setor de transporte e desenvolvesse um modelo de planilha capaz de projetar uma gama de indicadores relacionados à mobilidade. Este modelo deveria cobrir todas as modalidades de transporte motorizado e as princi- 26 II. A relação entre o Cenário de Referência da IEA e o caso de referência do Projeto Cenários são mais “projeções” do que projeções de PIB para gerar projeções da eficiência energética em uso de veículos “previsões”, e é esta concepção que aqui demanda energética por região, tipo de de transporte de diversos tipos e as ca- adotamos. A diferença entre estes dois ter- combustível e o principal setor de uso racterísticas de emissões de CO2 dos mos vai além da semântica: uma “pro- final, um dos quais é o transporte. Ele vários combustíveis. Apesar de a IEA jeção” é um exercício matemático, um cál- também projeta valores de diversas ou- não ter publicado uma documentação culo das conseqüências de taxas específi- tras variáveis relacionadas à energia (em das projeções de transporte apresen- cas de mudança e de condições iniciais. particular, emissões de CO2 por principal tadas no WEO 2002, a Agência publi- setor de uso final). As projeções do cou uma documentação detalhada do Uma projeção não necessariamente Cenário de Referência são apresentadas transporte nas regiões da OCDE discuti- demanda uma crença de que todos os em intervalos de cinco anos, a partir de das pelo WEO 2000, precursor do WEO níveis e taxas usados em sua execução 2000 até 2030. 2002 (Landwehr & Marie-Lilliu, 2002). uma projeção por pressupor que certos Subjacentes às projeções de uso da O PMS utilizou esta documentação tanto insumos são provavelmente mais corre- energia e de emissões de CO2 publi- para ajudar a calibrar quanto para acres- tos do que outros e, assim, acrescenta à cadas pela IEA estão as emissões das centar detalhes às projeções sobre trans- projeção um sentido de probabilidade. principais “forças motrizes” de cada porte do WEO 2002. Estas informações uma deles, as quais, no tocante ao formaram o centro do modelo de plani- são os corretos. Uma previsão difere de O Cenário de Referência da IEA utiliza transporte, incluem a atividade de uma amostra de população consistente e transporte (volumes e modalidades), a lha do Projeto. No entanto, acrescentamos detalhes substanciais sobre as modalidades e regiões a partir de informações de fontes públicas e informações fornecidas pelas empresas membro do PMS. Adicionamos também dados e relações que refletem aspectos da sustentabilidade não abordados pela IEA, tais como emissões “convencionais” decorrentes de transporte, segurança e uso de materiais. Nossas projeções avançam até o ano de 2050, ao invés de chegarem somente até 2030. Trinta anos é um espaço de tempo muito curto no que se refere ao transporte. Ações implantadas entre 2000 e 2030 não terão atingido todos os estratos da sociedade até 2030 e, assim, as projeções de 2030 a 2050 são extrapolações da situação que projetamos estar vigente em 2030. 27 III. Temas que surgiram a partir das projeções de nossos indicadores 2 Os principais temas que surgiram das ainda dependerá, em sua maior parte, projeções dos indicadores do PMS, pres- de combustíveis derivados de supondo-se que as tendências atuais se petróleo. Mudanças nas características mantenham, são: das emissões de GEEs decorrentes dos combustíveis não terão um impacto • O transporte pessoal e de mercadorias significativo nas emissões de GEEs crescerá rapidamente, motivado prin- decorrentes do transporte. cipalmente pelo rápido crescimento na renda per capita real. O crescimen- • As emissões convencionais to será especialmente rápido nos paí- decorrentes do transporte (emissões ses em desenvolvimento, mas uma de NOx, COVs, CO e particulados) ampla “divisa de oportunidades de diminuirão drasticamente nos países mobilidade” persistirá entre os países desenvolvidos nas próximas duas mente não aumente na mesma pro- desenvolvidos e muitos países e décadas, refletindo normas mais porção, devido a ajustes feitos por regiões em desenvolvimento. rígidas, melhorias tecnológicas e indivíduos e empresas em suas esco- aumentos relativamente lentos no lhas de localização e outras decisões número total de veículos. Em áreas relativas à mobilidade , a confiabili- dade pessoal desfrutados pelo cidadão urbanas de muitos países em dade da mobilidade pessoal e de mer- típico da maioria dos países desen- desenvolvimento, as emissões cadorias sofrerá impactos negativos. volvidos serão ainda maiores. É ques- provavelmente aumentarão nas tionável, por outro lado, se isso será próximas duas décadas antes de também válido para um cidadão típi- entrar em um movimento co do mundo em desenvolvimento. descendente, refletindo um rápido • Os já altos níveis de acesso à mobili- aumento do número de veículos. 3 • • • Melhorias na mobilidade de mercadorias permitirão aos consumidores As emissões acústicas decorrentes do transporte provavelmente não • As taxas de mortalidade e de ferimentos diminuirão. obter maior quantidade e variedade graves decorrentes do transporte de produtos a custos mais baixos, rodoviário cairão nos países da OCDE e promovendo assim o crescimento e em alguns países em desenvolvimento transporte será maior à medida que desenvolvimento econômico. com “renda média alta”. Em muitos aumentar o uso de materiais, da terra países em desenvolvimento com renda e de energia para o transporte. • As emissões de GEEs decorrentes do motorização, essas taxas aumentarão mente, especialmente nos países em pelo menos nas próximas duas décadas. energética dos veículos de transporte • O “rastro” deixado pelo setor de baixa mas em rápido processo de transporte aumentarão significativa- • As despesas com a mobilidade pessoal como uma parcela do orçamento doméstico total deverão permanecer desenvolvimento. A eficiência 28 A segurança no transporte continuará a ser uma séria preocupação. • O congestionamento no transporte pode relativamente constantes ou diminuir será maior, mas será catalisada por piorar em muitas áreas urbanas, tanto para um domicílio médio no mundo uma combinação de aumentos, tanto nos países desenvolvidos quanto nos desenvolvido. Por outro lado, é difícil no número de veículos quanto na uti- em desenvolvimento. Mesmo que o projetar a tendência para estes gastos lização média destes. O transporte tempo médio de viagem provavel- para o mundo em desenvolvimento. • Contrariamente, a tendência para as Figura 2.1 PIB per capita real, baseada na paridade de poder aquisitivo (PPA) despesas com a mobilidade de mercadorias de um domicílio médio devem manter-se em queda em quase todo o mundo. • Algumas questões relacionadas ao princípio da igualdade na mobilidade se tornarão mais sérias, incluindo aquelas relacionadas à igualdade de acesso aos meios de mobilidade de mercadorias e diferenças nos gastos per capita com a mobilidade pessoal de diferentes grupos sociais, tais como as populações mais pobres e os idosos. Algumas questões relacionadas à igualdade, como a exposição desproporcional de certos Fonte: Dados de 2000, IEA: projeções 2000-2030, IEA 2002, p. 408; projeções para 2030-2050, extrapolações do PMS sobre as projeções da IEA.. grupos a emissões decorrentes do transporte, deverão tornar-se menos sérias. A. O transporte de pessoas e de mercadorias crescerá rapidamente aumentará significativamente nas próxi- rerão. Como demonstrado pela Figura mas décadas, em particular em certas 2.1 , o PIB per capita real também con- regiões e países do mundo em desen- tinuará a crescer nos países da OCDE. volvimento. Se este aumento realmente Mas os estados da OCDE não dominarão ocorrer, profundas alterações no padrão a economia global tanto quanto o fazem absoluto e no padrão real de vida ocor- hoje. 4 Entre as diversas “forças motrizes” da atividade de transporte de pessoas, certamente a mais significativa é o aumento da renda domiciliar disponível ao consumo – a renda que resta após o pagamento de todas as contas. Esta renda terá diferentes impactos sobre o transporte pessoal. Além de ser a mais importante “força motriz” da compra do veículo próprio, ela atribui mais valor ao tempo, fazendo com que as pessoas escolham modalidades de transporte mais rápidas. Ela é também determinante dos processos econômicos subjacentes à demanda do transporte de mercadorias. Sendo assim, as projeções do caso de referência do PMS para o transporte de pessoas e de mercadorias baseiam-se principalmente nas projeções de aumento de renda. A maioria das projeções econômicas de longo prazo, incluindo as que adotamos, indica que a renda per capita real (1) 1992-2000 Fonte: IEA 2002, pp 408-409. 29 2.3). O aumento do transporte de passageiros entre 2000 e 2030 será em média 3% na China e América Latina; 2% na antiga União Soviética, na Índia e no Oriente Médio; e em torno de 1% ao ano ou menos nas três regiões da OCDE. O transporte aéreo será a modalidade de transporte pessoal de mais rápido crescimento em ambos os períodos – 2000 a 2030 e 2000 a 2050, com uma média de 3,5% em ambos. A segunda taxa com crescimento mais rápido será o transporte ferroviário, seguido dos veículos motorizados de duas ou três rodas. Apesar da locomoção com veículos leves 5 rodoviários representar a maior demanPor volta de 2050, o PIB real médio na qüência do aumento das oportunidades antiga União Soviética, no Leste Europeu de mobilidade nestes países e regiões. ao nível de renda per capita real do indi- 1. PROJEÇÕES DAS ATIVIDADES DE víduo médio que vivia na América do TRANSPORTE PESSOAL PIB per capita médio real da América Em nossa projeção de referência, a ativi- Latina em 2050 será basicamente equiva- dade de transporte pessoal (medida em lente à renda per capita real dos indivídu- passageiros-quilômetros transportados) poderoso estímulo à demanda por transporte pessoal e de mercadorias. No en- A Figura 2.3 não fornece com precisão a variação nas oportunidades de mobili- Norte e no Pacífico OCDE em 2000. O Este rápido crescimento na renda será um aparecem em quarto lugar na taxa de crescimento. e na China será basicamente equivalente os que viviam na Europa OCDE em 2000. da de transporte pessoal, estes veículos aumentará a uma taxa anual de 1,6% em todo o mundo, entre 2000 e 2030 (e 1,7% ao ano, entre 2000 e 2050). As taxas de aumento terão enormes dife- tanto, conforme discutido no Capítulo 1, renças entre as diversas regiões (Figura ele será também, em parte, uma conse- 2.2) e modalidades de transporte (Figura dade disponíveis ao cidadão médio nos vários países e regiões apresentados ou ainda como esta variação pode evoluir nos próximos 50 anos. A Figura 2.4 tem por objetivo elucidar a atividade de transporte pessoal per capita. Em 2000, a atividade de transporte pessoal per capita variava entre 1.700 km ao ano na África até 21.500 km ao ano na Figura 2.2 Transporte pessoal por região 80 70 África América Latina 60 50 40 30 20 10 0 Oriente Médio Índia Outros Países Asiáticos China Leste Europeu Antiga União Soviética Pacífico OCDE Europa OCDE América do Norte OCDE Fonte: Cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. 30 Figura 2.3 Transporte pessoal por modalidade 80 Microônibus 70 Ônibus 60 Ferroviário de Passageiros Motorizados de 2 ou 3 rodas 50 Aéreo 40 Veículos Leves Rodoviários (VLRs) 30 20 10 0 Fonte: Cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. América do Norte OCDE – um fator de Soviética. A divisa será menor em outras várias regiões sugere que a falta de opor- variação superior a 12. regiões, como a China e a América tunidades de mobilidade continuará a Latina. Na África, em outros Países impedir o crescimento e o desenvolvi- Em 2000, nas regiões não-OCDE, Asiáticos e no Oriente Médio ela quase mento, marcadamente em várias partes somente o Leste Europeu teve um nível não se alterará. do mundo em décadas vindouras. de transporte pessoal equivalente à metade dessas atividades na região da Não há qualquer razão plausível para se OCDE que apresentou a menor média – esperar uma convergência de todas as a Europa OCDE. Entre 2000 e 2050, esta regiões para o mesmo nível da atividade “divisa de oportunidades de mobilidade” de transporte pessoal per capita, princi- vai certamente desaparecer em algumas palmente nas regiões OCDE. Mas a mag- regiões não-OCDE, notadamente no nitude da atual divisa de oportunidades Leste Europeu e na Antiga União de mobilidade e sua persistência em Figura 2.4 Transporte per capita por região 30 25 20 15 10 5 0 Fonte: Cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. 31 Figura 2.5 Transporte de mercadorias por região 50 África América Latina 40 Oriente Médio Índia 30 Outros Países Asiáticos China 20 Leste Europeu Antiga União Soviética Pacífico OCDE 10 Europa OCDE América do Norte OCDE 0 Nota: Excluindo transporte aéreo, aquaviário e por dutos. Fonte: Cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. Figura 2.6 Transporte de mercadorias por modalidade 50 Caminhões médios Transporte Ferroviário 40 Caminhões pesados 30 20 10 0 Nota: Excluindo transporte aéreo, aquaviário e por dutos. Fonte: Cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. 2. PROJEÇÕES DA ATIVIDADE DE interpretação. Em sua maior parte, a TRANSPORTE DE MERCADORIAS tonelagem de carga de uma região reflete suas Projetamos que a atividade de transpor- características específicas. Regiões que te de mercadorias também aumente produzem produtos naturais e/ou pro- significativamente entre 2000-2050. A dutos agrícolas básicos podem apresen- O indicador de acesso à mobilidade pes- Figura 2.5 mostra as projeções do caso tar níveis extremamente altos de trans- soal do PMS é composto por dois ele- de referência do PMS por região e a porte de mercadorias, o que não neces- mentos – a propriedade de veículos sariamente se reflete no nível de acesso automotores e a distância que um que a população tem a esses produtos. usuário potencial tem que andar para Dados sobre o valor das mercadorias chegar até os serviços de transporte transportadas por região fornecem um público de determinada qualidade. Figura 2.6 mostra os dados de cada modalidade de transporte de 6 mercadorias . As diferenças regionais no transporte de mercadorias per capita são de difícil 32 B. Haverá combinação das tendências no acesso à mobilidade pessoal melhor indicador da acessibilidade a esses produtos. No entanto, estes dados Nosso modelo de planilha projeta que a não são facilmente obtidos. propriedade de veículos automotores per capita (medida em termos de veículos para cada 1.000 pessoas) aumentará Figura 2.7 Caso de referência – Aumento projetado da propriedade de veículos automotores em todo o mundo (Figura 2.7). Em alguns casos, este aumento se dará sobremaneira na propriedade de carros 800 de passeio e caminhões leves (Figura 700 2.8). Em outros casos, uma significativa parcela deste aumento provavelmente América do Norte OCDE 600 refletirá um aumento da propriedade 500 de veículos motorizados de duas rodas 400 (Figura 2.9). Pacífico OCDE Europa OCDE Leste Europeu Antiga União Soviética América Latina 300 China Outros Países Asiáticos Se estas projeções estiverem corretas, 200 em 2050, as taxas de propriedade de 100 veículos automotores para cada 1.000 Índia 0 Oriente Médio África pessoas no Leste Europeu e na Antiga União Soviética serão superiores às atu- Fonte: Cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. ais no Pacífico e na Europa OCDE. As taxas de propriedade na América Latina e China se aproximarão das atuais taxas Figura 2.8 Caso de referência - Aumento projetado da propriedade de veículos leves rodoviários (VLRs) da Europa OCDE. 800 1. A IMPORTÂNCIA DOS VEÍCULOS MOTORIZADOS DE DUAS RODAS 700 600 PARA A MOBILIDADE PESSOAL EM CERTAS REGIÕES 500 400 Via de regra, as análises sobre motoriza- preender os padrões de motorização no mundo em desenvolvimento, precisamos Pacífico OCDE Europa OCDE Leste Europeu Antiga União Soviética América Latina 300 ção têm focado o automóvel ou os veículos leves rodoviários. Mas, para com- América do Norte OCDE 200 China Outros Países Asiáticos Índia 100 0 Oriente Médio África considerar o papel desempenhado pelos veículos motorizados de duas rodas. Fonte: Cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. A importância destes veículos difere em todo o mundo em desenvolvimento. Figura 2.9 Caso de referência - Aumento projetado da propriedade de veículos motorizados de duas rodas Hoje, na Ásia, estes veículos representam mais de 75% da frota mundial de veículos 200 motorizados de duas rodas. Somente a Pacífico OCDE China representa algo em torno de 50% e Outros Países Asiáticos a Índia, 20%. Nas cidades em desenvolvi- China mento discutidas nos casos de estudo Índia patrocinados pelo PMS, estes veículos re- 100 Antiga União Soviética presentam 80% das taxas totais de Leste Europeu motorização em Chenai, Xangai e Wuhan, Europa OCDE América Latina 50% em Mumbai e 40% em Cuala Oriente Médio Lumpur. Já nas cidades da América Latina estudadas, os veículos motorizados de duas rodas têm uma prevalência muito África 0 América do Norte OCDE menor, representando menos de 10% da Fonte: Cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. 33 Figura 2.10 Taxas de motorização incluindo e excluindo veículos motorizados de duas rodas, comparando-se com o PIB capita 2. DISTÂNCIA OU TEMPO NECESSÁRIO PARA CHEGAR ATÉ O TRANSPORTE PÚBLICO COM UM MÍNIMO DE QUALIDADE DE SERVIÇO 500 O modelo de planilha não projeta este 400 Automóveis + Motorizados de 2 Rodas elemento de nosso indicador de acesso à 300 Automóveis no Capítulo 1, a maioria dos governos mobilidade pessoal. Conforme discutido não coleta dados de mensuração do 200 acesso ao transporte público. Onde estes dados são coletados, a qualidade do 100 serviço de transporte público estudado – um elemento crítico – geralmente não é 0 bem definida. Em alguns casos, uma mensuração do Fonte: Apêndice A. tipo que propomos utilizar já existe. A Tabela 2.1, publicada na mais recente taxa de motorização tanto em Belo Hori- inferior a de Chenai (vide Figura 2.10). zonte quanto na Cidade do México (vide Ou seja, veículos motorizados de duas Figura 2.10). rodas são equalizadores da mobilidade. Em alguns casos, a inclusão de veículos A inclusão destes veículos muda a per- dade ao serviços de ônibus definidos motorizados de duas rodas nas taxas cepção do fenômeno da motorização. A exatamente nestes termos. totais de motorização leva essas taxas a Figura 2.11 mostra a relação entre a renda níveis semelhantes aos de cidades com mensal e a propriedade de veículos moto- Mobility 2001 apontou que a parcela de uma renda média per capita (ou por rizados em Chenai. Na Índia, pode-se mobilidade pessoal fornecida pelo trans- domicílio) muito superior. Segundo nos- comprar um veículo motorizado de duas porte público já está caindo em muitas sos casos de estudo, quando incluímos rodas pelo equivalente a US$ 200. À medi- áreas urbanizadas, tanto em países os veículos motorizados de duas rodas, a da que a renda aumenta, estes veículos se desenvolvidos como em países em Cidade do México, com um PIB per capi- tornam mais acessíveis a uma maior desenvolvimento. Isso parcialmente se ta dez vezes maior do que o de Chenai, parcela da população e, neste sentido, deve à maior flexibilidade dos veículos aparece com uma taxa de motorização aceleram o processo de mobilização. automotores e parcialmente à redução National Travel Survey (‘Pesquisa Nacional de Locomoção’) conduzida pelo Departamento de Transporte Britânico, fornece dados da acessibili- da densidade demográfica urbana que Figure 2.11 Relação entre renda e propriedade de veículos em Chenai, 1993 este fator estimula. Ambos os fatores aumentam os desafios dos sistemas de transporte público em oferecer níveis 100% 90% % 80 Motorizados de 2 Rodas Carros adequados de serviços a preços acessíveis e em manter os subsídios públicos em níveis tais que os governos possam sustentar. 70% % 60 A resposta de alguns sistemas de 50% 40 transporte público a estes desafios 30% tem sido limitar os níveis de serviços 20% e/ou aumentar as tarifas. Ambas as % respostas prejudicam ainda mais uma 10% mobilidade pessoal viável para aqueles 0 que não têm acesso a veículos automotores próprios ou não podem ou não desejam utilizá-los. Fonte: Cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. 34 (1) a amostra de 2002 é mais “essencialmente rural” do que a de 1999/2001. Fonte: REINO UNIDODfT 2004, p.42. 3. A IMPORTÂNCIA DA MULTI- próximos (INRETS 1996), onde há um mento, onde o acesso à mobilidade pes- MODALIDADE NO TRANSPORTE alto nível de serviços de transporte públi- soal, via de regra, deve aumentar. PESSOAL co, 14% dos habitantes usavam exclusivamente transporte público, 30% seus Em áreas de rápida urbanização em A distinção anterior entre a locomoção carros e 53% eram multimodais. O muitas partes do mundo em desenvolvi- com veículos próprios e através do trans- usuário multimodal era, na maioria das mento, uma parcela bem maior da po- porte público é bastante tradicional, vezes, jovem – com menos de 35 anos, pulação depende do transporte público especialmente em áreas urbanas. No morava na cidade, com renda e edu- como seu meio primário de mobilidade entanto, ela pode mascarar um impor- cação em nível superior, morava sozinho pessoal motorizada (vide Tabela 2.2, tante fenômeno. Em vários lugares, as ou em um domicílio com somente uma cujos dados mostram a propriedade de pessoas alternam o uso de várias modali- criança. veículos e o uso de transporte público em oito cidades de países em desenvolvi- dades de transporte dependendo de seu destino, do propósito de sua viagem, da 4. TENDÊNCIAS NA ACESSIBILIDADE mento analisadas por Ralph Gakenheimer e Christopher Zegras para hora e do dia da semana, e de estarem 9 se locomovendo sozinhas ou com As tendências contrastantes nos dois alguém. Este comportamento é conheci- componentes do acesso à mobilidade do por “multimodalidade”, e pode estar pessoal – aumento de propriedade de O transporte público e o transporte sub-representado em pesquisas sobre veículo e declínio na viabilidade dos sis- não-motorizado (a pé ou em bicicletas), locomoção criadas para descobrir os temas de transporte público como uma juntos, representam uma grande parcela alternativa à propriedade de veículo – do total de viagens em cada uma dessas acarretarão diferentes impactos nas dife- cidades. À medida que essas cidades Em cidades francesas de 100.000- rentes partes do mundo. Em alguns paí- crescem em área e diminuem sua densi- 300.000 habitantes, pesquisas (INRETS ses desenvolvidos, onde o acesso a veícu- dade demográfica média, tanto o trans- 1995) descobriram que 63% dos entre- los automotores particulares já é alto, o porte público quanto o transporte não- vistados usavam exclusivamente seus car- declínio na viabilidade dos sistemas de motorizado sofrerão pressões. ros, enquanto 20% eram “multimodais”. transporte público como alternativa ao Em cidades com mais de 300.000 habi- uso do veículo particular terá impactos tantes (excluindo-se Paris e Ile de France), essencialmente naqueles segmentos da onde a taxa de motorização é de 88% e população que, de maneira inversa, mais quase todos os habitantes têm ou plane- dependem do transporte público – jam ter suas carteiras de habilitação, 7% idosos, deficientes e os mais pobres. dos entrevistados usavam exclusivamente (vide nossa discussão a seguir sobre estes transporte público, 53% seus carros e impactos na questão da igualdade). Isto 36% eram multimodais. Em pesquisas pode ser igualmente verdadeiro para similares em Paris e seus subúrbios mais alguns países e regiões em desenvolvi- 7 “hábitos” pessoais de locomoção. o PMS). 8 35 Nota: ND = Dado não Disponível. C. A crescente mobilidade de mercadorias permitirá aos consumidores ter melhor qualidade e maior variedade de produtos a um custo inferior Fonte: Apêndice A. talvez ainda mais. Tradicionalmente, portos, sistemas aquaviários e ferrovias sempre tiveram grande influência na localização da atividade industrial. Mas, durante o ultimo século, caminhões “eliminaram as economias de escala envolvidas nas tecnologias de transporte mais antigas” (Glaeser & Kahn 2003). Caminhões requerem uma infra-estrutura muito D. As emissões de gases de efeito estufa (GEEs) decorrentes do transporte aumentarão, principalmente nos países em desenvolvimento menos fixa do que trens e barcos e, sendo assim, a necessidade da indústria Nos últimos 50 anos, houve um grande manufatureira do século XIX de se aumento na mobilidade de mercadorias, à localizar próxima a um porto, ferrovia medida que sistemas de transporte mais ou transporte aquaviário teve uma flexíveis e baratos se tornaram disponíveis redução dramática, encorajando assim a em todo o mundo. A projeção do PMS de descentralização. que esta tendência se mantenha e que O volume de GEEs emitido por atividades relacionadas ao transporte reflete a influência combinada de quatro fatores: • O volume de atividades relacionadas ao transporte. Este fator é condicionado pelo número de veículos operados e é uma função da demanda dos consumidores. ajude a disponibilizar maior volume e va- Caminhões também permitem que as riedade de produtos ao consumidor a um mercadorias sejam enviadas diretamente • A combinação de modalidades nestas custo inferior baseia-se no contínuo desen- para onde serão vendidas – ou, cada vez atividades. Isso depende da escolha volvimento de sistemas de logística que mais, diretamente ao domicílio do com- dos consumidores, dos preços dos usam uma tecnologia da informação mais prador. Isso também aumenta a acessibi- veículos ou das modalidades e das acurada e no aumento da infra-estrutura lidade às mercadorias. medidas legislativas ou fiscais prevale- viária. Isto, por sua vez, promoverá mais especialização, eficiência e crescimento. Um fator contrário será o impacto de condições mais críticas de congestão no transporte pessoal e de mercadorias (vide discussão sobre congestão a seguir). centes, todos influenciando a seleção da modalidade de transporte. • As emissões de GEEs características de determinada energia. Isto está diretamente relacionado tanto ao conteúdo de carbono do combustível utilizado quanto à energia necessária para extrair, Os sistemas de mobilidade em geral processar e distribuir este combustível. garantem a existência da sociedade ao permitirem que bens e serviços sejam 36 • A energia utilizada pelas diferentes produzidos e distribuídos de forma modalidades de transporte por econômica e confiável. Os sistemas de unidade de atividade. Isto depende mobilidade de mercadorias freqüente- das características de consumo de mente moldam a localização espacial da energia da frota de veículos que atividade econômica tanto quanto os sis- constitui cada modalidade e das temas de mobilidade pessoal o fazem – e condições sob as quais operam. O PMS já apontou que o primeiro dos fatores anteriores – volume da atividade Figura 2.12 Uso de combustíveis no transporte em todo o mundo – todas as modalidades de transporte de transporte – aumentará nas próximas décadas (Figuras 2.2 e 2.5) e também 6 concluiu que uma combinação de modali- Outros (1) dades provavelmente não acarretará 5 Combustível Residual 4 Combustível de Aviação Comercial, Vários mudanças dramáticas (Figuras 2.3 e 2.6). Em nosso caso de referência, projetamos que os combustíveis derivados de 3 petróleo – gasolina, diesel e combustíveis Diesel de aviação comercial – ainda dominarão o Gasolina 2 transporte em 2050 (Figura 2.12). 1 Isso nos leva ao fator final – característi0 cas do uso de energia por veículo. No caso de referência, o consumo médio de energia em uso por unidade de atividade (1) CNG\LPG, Etanol, Biodiesel e Hidrogênio. Fonte: Cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. de transporte diminui consideravelmente em cada modalidade. Apesar do declínio projetado diferir em cada região, tipo de Figura 2.13 Emissões de CO2 de Poço-a-Rodas decorrentes do transporte, por modalidade veículo e modalidade, em uma base global média ele representa uma redução de 15 consumo de energia por unidade de aproximadamente 18%, 29% e 29% para VLRs, caminhões pesados e aeronaves, 12 respectivamente, para o período de 2000 a 2050. Estas três categorias de veículos 9 6 Ferroviário – cargas e passageiros Aéreo Caminhões de Carga porte. Mas estas reduções de consumo de energia não contrabalançam os 123%, Ônibus Hidroviários são responsáveis pela maior parte das emissões de GEEs decorrentes do trans- Motorizados de 2 e 3-Rodas 3 Veículos Leves Rodoviários 241% e 400% de aumento da atividade de transporte projetado para estas mes- 0 mas modalidades no mesmo período. Daí a projeção do PMS de que as emissões de Fonte: Cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. GEEs aumentarão para cada modalidade e 10 em cada região (Figuras 2.13 e 2.14.) . Figura 2.14 Emissões de CO2 de Poço-a-Rodas decorrentes do transporte, por região O aumento projetado para as emissões de GEEs varia consideravelmente de região 15 Leste Europeu para região. Regiões em desenvolvimento mostram um aumento bem maior do que 12 África as regiões desenvolvidas, que permanecem basicamente nos mesmos 9 níveis. Isto se deve às diferenças nas taxas de crescimento projetadas para a ativi- Pacífico OCDE América Latina Outros Países Asiáticos que novas tecnologias e combustíveis 3 Europa OCDE China dos e, assim, possam diminuir as emissões de GEEs – mas muito mais vagarosamente Antiga União Soviética Índia 6 dade de transporte e na expectativa de sejam introduzidas e amplamente utiliza- Oriente Médio 0 América do Norte OCDE nas regiões em desenvolvimento do que no mundo desenvolvido. Fonte: Cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. 37 E. As emissões de poluentes “convencionais” decorrentes do transporte diminuirão drasticamente no mundo desenvolvido Há décadas, os países desenvolvidos Figura 2.15 Regiões da OCDE: Emissões de Óxido de Nitrogênio (NOx), por modalidade Megatons/Ano 20 15 10 5 esforçam-se para reduzir as emissões dos poluentes “convencionais” decorrentes do transporte – NOx, CO, COVs, chum- 0 11 bo e particulados (PM-10) O chumbo Fonte: Cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. já foi virtualmente eliminado devido ao uso quase global de combustíveis sem chumbo. Figura 2.16 Regiões da OCDE: Emissões de Monóxido de Carbono (CO) decorrentes do transporte, por modalidade. Mas o progresso na redução das emis- 200 sões totais de outros poluentes decor- Caminhões de Carga rentes do transporte tem sido mais lento. As emissões por veículo- Ônibus 150 quilômetro dos veículos leves foram reduzidas consideravelmente. Mas o 100 Motorizados de 2 ou 3 Rodas Veículos Leves Rodoviários aumento da atividade de transporte e os problemas para controlar as emissões no uso têm contrabalançado o efeito 50 possitivo das melhorias. 0 Parece que os esforços para restringir o volume total de emissões dos outros Fonte: Cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. poluentes “convencionais” começam a dar frutos. Normas mais rígidas para emissões de veículos foram aprovadas e os veículos novos já saem de fábrica com os respectivos equipamentos instalados. Combustíveis mais limpos que Figura 2.17 Regiões da OCDE: Emissões de Compostos Orgânicos Voláteis (COVs), por modalidade 25 ajudam estes equipamentos a funcionar mais eficazmente têm sido produzidos e 20 estão largamente disponíveis, pelo menos no mundo desenvolvido. Equipamentos de controle instalados 15 10 tanto nos veículos quanto ao longo das vias têm a capacidade de detectar 5 veículos fora de conformidade com estas normas e que contribuem para 0 aumentar as emissões (vide Capítulo 4). Fonte: Cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. 38 Por estas razões, o PMS acredita ser razoável projetar reduções drásticas nas Figura 2.18 Regiões da OCDE: Emissões de Material Particulado Decorrentes do Transporte, por modalidade emissões destes poluentes “convencionais” dadas as políticas em vigor (ou a serem brevemente implantadas) na maioria dos países desenvolvidos. As Figuras 2.15 a 2.18 mostram nossas projeções para as emissões decorrentes do transporte para cada substância e por tipo de veículo para a região da OCDE como um todo. Fonte: Cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. 39 F. No mundo em desenvolvimento, haverá uma combinação das tendências para as emissões de poluentes “convencionais” Figura 2.19 Regiões não-OCDE: Emissões de Chumbo Decorrentes do Transporte, por modalidade 40 35 30 25 20 15 A situação das emissões “convencionais” no mundo em desenvolvimento (especial- 10 mente em suas áreas urbanizadas em rápi- 5 do crescimento) é um tanto diferente. Combustíveis sem chumbo já foram intro- 0 duzidos em quase todo o mundo. Sendo Fonte: Cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. assim, as emissões de chumbo decorrentes do transporte estão praticamente eliminadas. Mas outras emissões “conven- Figura 2.20 Regiões não-OCDE: Emissões de Óxido de Nitrogênio Decorrentes do Transporte, por modalidade cionais” decorrentes do transporte não serão reduzidas tão fácil ou rapidamente. Milhares de Toneladas/Ano 20 Projetamos que a atividade de transporte crescerá muito mais rapidamente na maioria dos países e regiões em desenvolvimen- 15 to do que no mundo desenvolvido. E a taxa de introdução de tecnologias de controle de poluição veicular e de seus respec- 10 tivos combustíveis nos países em desenvolvimento está muito atrás da taxa nos 5 países desenvolvidos. Em nosso cenário referência, projetamos a continuidade desta lacuna, mas não sua piora (no Capí- 0 tulo 4, analisamos o impacto dos diferentes prazos de introdução de tecnologias). Acreditamos que garantir a conformidade com as normas de controle de Fonte: Cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. Figura 2.21 Regiões não-OCDE: Emissões de Monóxido de Carbono (CO) Decorrentes do Transporte, por modalidade poluição deva ser mais difícil nos países em desenvolvimento do que nos países desenvolvidos. Isto nos leva a projetar que as emissões totais da maioria dos poluentes convencionais aumentará em muitas regiões em desenvolvimento, certamente nas próximas décadas e talvez ainda em décadas futuras, antes de começar a diminuir. As Figuras 2.19 a 2.23 mostram as projeções do caso de referência para as emissões de chumbo, NOx, CO, COVs e particulados (PM-10) decorrentes do transporte, por modalidade, no mundo em desenvolvimento como um todo, até 2050. 40 Fonte: Cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. Figura 2.22 Regiões não-OCDE: Emissões de Compostos Orgânicos Voláteis (COVs) Decorrentes do Transporte, por modalidade Fonte: Cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. Figura 2.23 Regiões não-OCDE: Emissões de Material Particulado Decorrentes do Transporte, por modalidade Fonte: Cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. 41 G. As taxas de mortalidade e de ferimentos graves decorrentes do transporte rodoviário estão caindo no mundo desenvolvido. Mas nos países com baixa renda, onde o crescimento do transporte é relativamente rápido, essas taxas podem subir Esse ranking da OMS é consistente com os 1,2 milhão de mortes no transporte rodoviário, mas provavelmente foi subestimado o peso relativo de ferimentos sérios decorrentes do transporte rodoviário por duas razões. Primeiramente, o ranking da OMS considerou apenas parcialmente os casos relatados de ferimentos graves. Em segundo lugar, o tempo médio estimado de incapacitação decorrente de ferimentos é baixo demais para compreendermos a proporção de ferimentos graves que causam incapacitação total ou parcial para toda a vida. Um dos consultores do PMS, Dr. Koornstra, estima que, se ajustarmos estes fatores, o número de Em 2000, aproximadamente 1,2 milhões mortes e ferimentos graves no tráfego de pessoas morreram em todo o mundo rodoviário aumentaria da nona para a em decorrência de ferimentos no quinta colocação como um fator de peso transporte rodoviário. Além destas, mundial de ferimentos e enfermidades outras 7,8 milhões ficaram seriamente feridas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tráfego rodoviário foi o nono fator que mais contribuiu para as taxas de ferimentos e enfermidades em 1990 (OMS, 2004). Figura 2.24 Relação entre motorização e Renda per capita Fonte: Koornstra 2003, p.8. Figura 2.25 Relação entre a taxa de fatalidade com veículos motorizados e a Renda Interna Bruta per capita (Koornstra 2003, p 10 ). 1. PROJEÇÕES DO CASO DE REFERÊNCIA O número de mortes e ferimentos graves decorrentes do tráfego rodoviário depende das taxas de mudança relativas de Fonte: Koornstra 2003, p.8. Source: Koornstra 2003, p.7. 42 dois fatores principais – o nível de Figura 2.27 Parcela do total de mortes em rodovias por categoria de usuário motorização e a taxa de mortes e ferimentos graves por unidade de motorização. As Figuras 2.24 e 2.25, desenvolvidas pelo Dr. Koornstra, ilustram a relação entre estes fatores e o nível de renda real 13 per capita segundo dados de 2000 . Os números nas Figuras 2.24 e 2.25 se referem a agrupamentos de países pelo PIB per capita (PIB/p), cujo agrupamento é demonstrado na Tabela 2.3. A combinação das duas relações gera uma associação entre o nível de renda per capita e o número de mortes em rodovias para cada 10.000 habitantes. Esta ligação é demonstrada na Figura 2.26. Refletindo tendências contrastantes Fonte: cálculos da planilha do Projeto de Mobilidade Sustentável usando os dados do Koornstra 2003. nas Figuras 2.24 e 2.25, à medida que a renda per capita e a motorização aumentam, a taxa de mortes para cada 10.000 tas, operadores e passageiros dos veícu- No caso de referência n. 1, o fator adi- habitantes aumenta drasticamente para los de duas e três rodas – têm um maior cional causa uma declínio ainda maior na então cair. Há uma explicação de “bom número de mortes do que os relativa- taxa de mortes e ferimentos graves em senso” para este padrão. Nos estágios mente bem protegidos motoristas e pas- rodovias do que no caso de referência n. 2. sageiros dos carros, caminhões e ônibus Em ambos os casos, a queda é maior do “convencionais”. que a relação simples entre a taxa e o Figura 2.26 Relação entre a taxa de fatalidade de habitantes e a Renda Interna Bruta per capita Fonte: Koornstra 2003, p.8 nível de renda sugerido. A lógica do A Figura 2.27 compara a parcela de fator adicional de declínio de risco é mortes em veículos em cada um destes ilustrado na Figura 2.26, quando ambas grupos de usuários de rodovias em 2000 as taxas de renda e de motorização por região. A proporção de mortes de aumentam e a combinação de modali- pedestres, ciclistas e operadores de dades de tráfego refletirão uma maior veículos motorizados de duas e três proporção de veículos automotores e, rodas em relação ao total de mortes em nesta situação, uma proporção maior de regiões de renda mais baixa é muito veículos automotores “convencionais”. A maior do que esse total nos países de diferença entre os dois casos de OCDE. Em suas projeções no caso de referência demonstra a importância referência, o Dr. Koornstra adicionou um das pressuposições sobre as proporções fator de declínio de risco dependente do relativas destes dois tipos de veículos iniciais da motorização, o número de tempo para explicar a evolução observa- automotores e sua interação no tráfego. veículos automotores “convencionais” – da nas mortes e nos ferimentos graves carros, caminhões e ônibus – no fluxo ao longo do tempo em países com alto total de tráfego é baixo, pois modali- nível de motorização. No caso de refe- dades não motorizadas (pedestres e bici- rência n. 1, ele tornou este fator depen- cletas) predominam. Em algumas dente do grau de motorização excluindo regiões, particularmente no Sul e Leste veículos motorizados de duas rodas. No Asiático, veículos motorizados de duas e caso de referência n. 2, ele tornou o três rodas chegam a ser o maior número fator de declínio de risco dependente no de veículos. A infra-estrutura viária não grau total de motorização (ou seja, veí- separa os diferentes tipos de tráfego e, culos motorizados de duas rodas foram assim, os grupos mais vulneráveis de incluídos). Isto é ilustrado nas Figuras usuários das rodovias – pedestres, ciclis- 2.28 a 2.30. 43 Figura 2.28a Total de mortes em rodovias por região – Caso de referência n. 2 Nota: o caso de referência n. 1 e o caso de referência n. 2 usam diferentes pressuposições sobre o fator de declínio de risco ao longo do tempo Fonte: cálculos da planilha do Projeto de Mobilidade Sustentável usando os dados do Koornstra 2003 Figura 2.28b Total de mortes em rodovias por região – Caso de referência n. 1 2 1.5 1 .5 As Figuras 2.28, 2.29 e 2.30 mostram a 0 projeção de mortes em rodovias, mortes para cada 10.000 veículos e as mortes Nota: o caso de referência n. 1 e o caso de referência n. 2 usam diferentes pressuposições sobre o fator de declínio de risco ao longo do tempo Fonte: cálculos da planilha do Projeto de Mobilidade Sustentável usando os dados do Koornstra 2003. Figura 2.29a Taxas de mortes para cada 10.000 veículos automotores por região – Caso de referência n. 1 para cada 10.000 de cada um dos casos de referência do Dr. Koornstra. O painel “a” em cada Figura refere-se ao caso de referência n. 1 e o painel “b” refere-se ao caso de referência n. 2. A história de cada uma das três regiões da OCDE é similar em todos os painéis das Figuras 2.28, 2.29 e 2.30. O total de mortes em rodovias constitui uma pequena fração do total mundial, enquanto tanto as taxas de mortes para cada 10.000 veículos e as taxas de morte para cada 10.000 pessoas são inferiores do que na maioria das outras regiões. Projeta-se que cada medida terá um declínio significante entre 2000 e 2050 em ambos os casos de referência. Nota: o caso de referência n. 1 e o caso de referência n. 2 usam diferentes pressuposições sobre o fator de declínio de risco ao longo do tempo Fonte: cálculos da planilha do Projeto de Mobilidade Sustentável usando os dados do Koornstra 2003. 44 Outras regiões são mais complexas. Na Antiga União Soviética e no Leste Figura 2.29b Taxas de mortes para cada 10.000 veículos automotores por região – Caso de referência n.2 Europeu, o total de mortes em rodovias é baixo, mas as taxas de morte para cada 10.000 veículos e cada 10.000 pessoas apresenta um nível bastante 80 70 alto em 2000, refletindo taxas de 60 motorização relativamente altas e uma 50 infra-estrutura deficitária. 40 Ambas as taxas cairão consideravelmente 30 ao longo do tempo, principalmente no 20 Leste Europeu. Até 2050, o Leste Europeu será quase igual às regiões da OCDE. As taxas de mortes para cada 10 0 10.000 pessoas na Antiga União Soviética ainda são um tanto superiores Nota: o caso de referência n. 1 e o caso de referência n. 2 usam diferentes pressuposições sobre o fator de declínio de risco ao longo do tempo Fonte: cálculos da planilha do Projeto de Mobilidade Sustentável usando os dados do Koornstra 2003 do que nas regiões da OCDE e no Leste Europeu, mas essa diferença está Figura 2.30a Taxas de mortes para cada 10.000 pessoas por região – Caso de referência n. 1 rapidamente se tornando inexistente. Certas regiões no mundo em desenvolvimento apresentam desafios imediatos. As taxas de mortes para cada 3.5 3.0 10.000 veículos já estão caindo de modo geral e projetamos sua contínua queda no futuro. Prevemos que as taxas de 2.5 2.0 mortes para cada 10.000 pessoas na China e Índia caiam entre 2010 e 2030, se mantendo, no entanto, ainda bem 1.5 1.0 acima dos níveis das regiões da OCDE. A América Latina, os outros Países Asiáticos, o Oriente Médio e a África 0.5 0 podem ter alguma melhoria, mas mesmo em 2030 suas tendências provavelmente não atingirão os níveis atuais da OCDE. Nota: o caso de referência n. 1 e o caso de referência n. 2 usam diferentes pressuposições sobre o fator de declínio de risco ao longo do tempo Fonte: cálculos da planilha do Projeto de Mobilidade Sustentável usando os dados do Koornstra 2003 Figure 2.30b Taxas de mortes para cada 10.000 pessoas por região – Caso de referência n. 2 3.5 3.0 2.5 2.0 1.5 1.0 0.5 0 Nota: o caso de referência n. 1 e o caso de referência n. 2 usam diferentes pressuposições sobre o fator de declínio de risco ao longo do tempo Fonte: cálculos da planilha do Projeto de Mobilidade Sustentável usando os dados do Koornstra 2003 45 H. O congestionamento no transporte pode piorar em muitas áreas urbanas do mundo desenvolvido e em desenvolvimento Figura 2.31 Congestão nos seis distritos da região de Chicago em 1996 e a congestão projetada para 2030 para um cenário de “Dias normais” Ao desenvolver o indicador estabelecido no Capítulo 1, refletimos o impacto do congestionamento em dois indicadores – aumentos no tempo médio de viagem (ou entrega de mercadorias) em domicílio e aumentos na confiabilidade do tempo esperado em viagens (ou entregas) em domicílio. O modelo de planilha não produz estimativas de qualquer um destes indicadores, mas projeta os níveis da atividade de transporte. A projeção do PMS de que a congestão aumente em muitas áreas urbanizadas dos países desenvolvidos e em desen1996 volvimento baseia-se na observação de que o crescimento projetado para a ativi- BAU 2030 dade de transporte parece ser substan0 cialmente maior do que qualquer outro 5 10 15 20 25 30 aumento razoável projetado para a capacidade de infra-estrutura. Fonte: Commercial Club of Chicago 2002, pp. 13, 56-57. Uma medida usada pelos planejadores de transportes como um indicador de congestionamento baseiam-se em Por fim, o painel inferior à direita na mudanças projetadas na relação média Figura 2.31 traduz os níveis de conges- v/c (o painel inferior à esquerda na tionamento apresentados nos dois Figura 2.31 mostra a ligação entre a painéis superiores no atraso esperado em relação média v/c e o nível esperado viagens com congestionamento por dia ligação entre a relação v/c e o conges- de congestionamento; a cor represen- projetados para 2030 e 1996. Esta é uma tionamento não é linear. Abaixo de uma tando este nível de congestionamento medida do aumento no tempo médio de certa relação v/c, o tráfego “flui livre- está nos dois painéis superiores). A viagem – um de nossos dois indicadores mente” e não existe congestionamento; capacidade de infra-estrutura não é de congestionamento. A relação média à medida que a relação média v/c vai estática no período entre 1996 e v/c não mede diretamente o outro indi- além deste valor “crítico”, congestiona- 2030 neste cenário de “dias normais”. cador, a variação esperada no tempo de mento se torna mais provável; e quando A região de Chicago gasta aproxima- viagem. Mas, à medida que o tempo aumenta ainda mais, o congestionamento damente US$ 50 bilhões em manu- médio de viagem aumenta, a probabili- se torna inevitável. tenção de suas rodovias, vias expressas dade de acidentes, falhas mecânicas e e de fluxo rápido e na capacidade de vazamento de materiais perigosos – cada A Figura 2.31 mostra níveis de conges- expansão. Mas projeta-se que o um dos quais são importantes fontes de tionamento na região de seis distritos tráfego rodoviário cresça mais congestionamento não recorrente – tam- incluindo a cidade de Chicago e seus rapidamente do que a capacidade bém aumenta. subúrbios em 1996 e os níveis projetados de infra-estrutura, produzindo os A região de Chicago não é um caso de congestão para 2030 sob um cenário resultados ilustrados no painel único. A Figura 2.32 mostra uma pro- de “dias normais”. Estas projeções de superior à direita na Figura 2.31. jeção da Associação Automobilística potencial congestionamento é a relação entre o volume médio projetado para um segmento de infra-estrutura e a capacidade razoada deste segmento – a “relação média v/c” do segmento. A 46 Alemã para o congestionamento em 1. GRAU DE EXATIDÃO DESTA 2015 em segmentos do sistema auto- METODOLOGIA PARA PROJETAR bahn alemão. A Figura 2.33 mostra as FUTUROS NÍVEIS DE atuais velocidades medias de veículos em CONGESTIONAMENTO Tóquio. Ambas baseiam-se em relações reais ou projetadas entre número de via- Apesar desta metodologia de projeção gens e a capacidade da infra-estrutura. do impacto da congestionamento sobre o tempo médio de viagem ser lógica, ela não é infalível. Freqüentemente, a atividade de transporte e a capacidade da Figura 2.32 Seções das rodovias alemãs com os problemas de tráfego ou congestionamento diários projetados para 2015 infra-estrutura crescem como projetado. No entanto, o tempo médio de viagem não aumenta significativamente. Por exemplo, na França, o tráfego rodoviário aumentou consideravelmente nas últimas décadas mas o tempo médio para viagens urbanas pouco aumentou. Há várias razões possíveis para isso. Investimentos direcionados a problemas específicos do transporte público e da infra-estrutura viária podem aliviar os “gargalos”. E os motoristas podem se ajustar a aumentos de congestionamento reais ou projetados alterando seus hábitos de locomoção, local de residência e de trabalho, padrões de compras, etc. Apesar de estas medidas conterem o aumento do congestionamento, isso acontece em um padrão errático, pois estes motoristas terão que arcar com os Fonte: VDA 2003, p.31 custos externos do congestionamento. Assim sendo, o fato de a congestiona- Figura 2.33 Velocidades médias de viagem na hora do rush e volume de tráfego em Tóquio mento não aumentar conforme projetado pelas metodologias padrão não necessariamente significa que os custos do congestionamento projetado podem ser evitados. Pelo contrário, só muda quem arca com estes custos. Fonte: TDM Tokyo Action Plan 1999 47 I. A segurança pessoal e de mercadorias no transporte continuará a ser uma séria preocupação veículos entre 1995 e 1999 em 11 paí- portadoras sentem que não podem trans- ses e, apesar de dois países terem apre- portar mercadorias sem o perigo de roubo sentado quedas, ou outros apontaram ou pilhagem, a capacidade de o trans- aumentos de até 50%. porte desempenhar seu principal papel de promoção do crescimento e do desen- As mercadorias mais roubadas são volvimento está seriamente ameaçada. eletro-eletrônicos, roupas e calçados, seguidos de produtos para o lar, cigar- Apesar de os atos terroristas estarem ros e álcool. No entanto, não possuímos recebendo a maior parte da atenção dados referentes ao valor das mercado- dedicada à segurança, ainda existem rias roubadas dos veículos [para a outras preocupações típicas do dia-a-dia. Europa como um todo]” (ECMT 2002). J. O ruído decorrente do transporte não diminuirá No tocante ao transporte pessoal, assaltos, seqüestros e vandalismos são No mundo em desenvolvimento, o rápido A definição de “ruído” é “um som indese- ameaças diárias em muitos países e crescimento da atividade de transporte jado”. O ruído combina um fenômeno físi- regiões, enquanto os roubos de mer- pessoal e de mercadorias projetado pelo cadorias se tornam uma preocupação PMS significa que a segurança pessoal e da cada vez maior. Por exemplo, propriedade estão seriamente ameaçadas. duzido pela Conferência Européia dos Ministros de Transporte afirma que: “Em alguns países [europeus], até 1% dos veículos de carga em circulação é roubado anualmente. (...) As tendências mostram que o problema está piorando em vários países; analisamos o furto de subjetivo (City Soundings 2003). Isto nos sugere que o ruído, como o congestionamento, é um fenômeno localizado e específico e um estudo intitulado Crimes no Transporte de Cargas Rodoviárias con- co objetivo (som) e um efeito psicológico Argumentamos que as ameaças menos sérias à segurança pessoal e de mercadorias do dia-a-dia representam um desafio ainda maior à sustentabilidade da mobilidade do que as ameaças do terrorismo político. Se as pessoas não se sentem seguras quando usam o transporte público ou seus próprios veículos, e se as trans- que a sensibilidade ao ruído também está condicionada ao local onde ele ocorre. As atividades de transporte geram muitos ruídos, sendo a maior fonte de emissões acústicas principalmente em áreas urbanizadas: “tráfego intenso em rodovias, nos principais corredores ferroviários e aeronaves são as principais fontes de 14 ruído em Londres.” Além disso, a forma como as características dos veículos, os padrões de uso, o comportamento dos operadores e o volume do tráfego interagem para produzir emissões acústicas é extremamente complexa. O modelo de planilha do PMS não faz projeções sobre ruídos, mas, como ocorre com vários indicadores, podemos fazer inferências sensatas sobre as prováveis tendências nas emissões acústicas decorrentes do transporte ao combinarmos informações sobre vários fatores relacionados ao ruído. O ruído produzido pelo tráfego rodoviário Um dos principais fatores nos níveis de ruído no tráfego é o volume total de tráfego rodoviário , principalmente em áreas urbanas. A velocidade e o padrão de tráfego também são importantes. Em altas velocidades (acima de 80 km/h), a 48 principal fonte de ruído é o contato do média de ruído quanto da freqüência pneu com a pista. Estas condições são com que as pessoas são expostas a ele. típicas de vias expressas em densas áreas Projetamos um crescimento extrema- suburbanas (como os anéis periféricos) mente rápido das viagens aéreas nas em condições de “fluxo livre” do tráfego. próximas décadas, mas a relação direta A aproximadamente 50 km/h e com acele- deste crescimento com a expansão das 2 ração moderada (por volta de 1 m/s ), o operações de vôo em um determinado ruído do contato pneu-pista é responsável aeroporto dependerá da evolução do pela maior parte das emissões acústicas. tamanho médio das aeronaves e da Estas condições representam as viagens carga de passageiros no futuro. Os dois de veículos nas principais vias urbanas maiores fabricantes mundiais de aero- durante períodos de baixo ou nenhum naves comerciais projetam um aumento congestionamento. A velocidades inferi- do número de vôos, mas a taxa projeta- ores (25-35 km/h) e com maior acelera- da de aumento de operações da Airbus 2 ção (2 m/s ou superior), o ruído da parece ser inferior à da Boeing unidade de potência do veículo (motor, 2003), (Airbus 2002). (Boeing entrada de ar e escapamento) predomina. Estas condições representam as viagens Se o número de vôos aumentar na taxa de veículos em ruas residenciais ou outras projetada por cada fabricante, haverá vias durante períodos de congestão. 1. O RUÍDO PRODUZIDO POR As projeções para uma maior atividade de transporte, incluindo mais transporte de mercadorias, já foram discutidas neste capítulo. Uma grande parcela deste aumento ocorrerá em áreas urbanizadas sob condições de maior congestionamento, o qual não necessariamente será pior a uma taxa média, mas se prolongará a cada dia. Estes fatores indicam um aumento nas emissões acústicas do AERONAVES Outra importante fonte de emissões acústicas decorrentes do transporte são produzido por um veículo “a passeio” pode diminuir com melhorias no projeto 15 dos veículos e pneus mais silenciosos. ruído de aeronaves e o aumento do número de operações. Em termos gerais, rado no entorno de aeroportos durante um declínio nas emissões acústicas das pousos e decolagens. Avaliações dos aeronaves parece muito improvável. governos combinando o impacto dos níveis de ruído de uma aeronave e a freqüência de pousos e decolagens mostra aeroportos está comumente sujeita têm parcela deste aumento. O ruído médio um equilíbrio entre uma diminuição do as aeronaves, especialmente o ruído ge- que a área em torno da maioria dos Alguns fatores poderão anular uma certa emissões acústicas das aeronaves. Mas um fator que desconhecemos é como obter claramente que os altos níveis de ruído a tráfego rodoviário. pressões cada vez maiores sobre o nível de diminuído consideravelmente. Os motores das aeronaves produzem bem menos emissões acústicas e os aeroportos têm utilizado procedimentos de vôo visando à redução de ruído. Isso permitiu K. O “rastro” deixado pelo setor de transporte será maior à medida que aumentar o uso de materiais, do solo e de energia A importância da superfície das pistas e uma diminuição nas emissões acústicas, da manutenção das vias no sentido de a despeito do aumento do número de O setor de transporte, especialmente eliminar as emissões acústicas começa a operações de aeronaves. transporte rodoviário, é um dos que ser reconhecida pelos governos e pode mais consomem materiais, solo e receber melhorias no futuro. Muitos go- O PMS não pode projetar como será o energia. Em 1996, a infra-estrutura do vernos já instalaram barreiras acústicas futuro em relação às tecnologias de transporte utilizava 1,2% do total de nas principais vias expressas. Não redução de emissões acústicas de aero- área de terra da UE, 93% da qual na existem dados que nos permitam deter- naves. As mais avançadas tecnologias de malha rodoviária (rodovias e vias esta- minar exatamente como um grande redução ainda têm de ser incorporadas a duais, distritais e municipais) (EEA nível de atividade de redução de ruído todas as aeronaves, mostrando que 2001). Além disso, o transporte é – e seja possível, mas seríamos otimistas se reduções adicionais no ruído médio ge- provavelmente permanecerá – o maior projetássemos um declínio nas emissões rado em vôo podem ser possíveis. Mas o consumidor de combustíveis derivados acústicas decorrentes do tráfego. ruído total percebido depende tanto da de petróleo. 49 1. USO DE MATERIAIS constituir uma parte significativa do mer- b) Mudanças pressupostas na com- cado de materiais secundários e, por posição de materiais de veículos O PMS encomendou à Camanoe isso, a quantidade de material secun- leves rodoviários (VLRs) Associates uma análise das tendências dário recuperada em cada região foi esti- futuras no uso de materiais por veículos mada e a seguir comparada com o con- Várias pressuposições importantes foram automotores, focando a disponibilidade sumo total de materiais, possibilitando o consideradas na composição futura de de recursos e o consumo de materiais cálculo da necessidade de materiais vir- 16 (Camanoe Associates 2003) . gens além dos recuperados. materiais de carros e caminhões leves, sendo a mais importante a substituição de metais ferrosos (basicamente aços leves e ferro fundido) na maior parte por A análise se baseou em um modelo de Os materiais secundários disponíveis consumo de materiais para automóveis, foram assim calculados: a “reposição” caminhões e ônibus consistente com as dos veículos no modelo da planilha projeções de referência do Projeto, ou (aproximadamente 17,5 anos como seja, utilizando a mesma classe de média mundial) foi usada para estimar o veículos, regiões geográficas e pressu- número de VFVs anualmente, assim posições de sobre venda de frotas. Para como a “safra” destes veículos. Usando obter os resultados aqui discutidos, os estes dados e a eficiência de recuperação pesquisadores partiram da pressu- presumida pela Camanoe Associates, foi posição de que as atuais tendências se estimada a quantidade de material recu- manterão e, sendo assim, estes resulta- perado. sua aplicação e seu desenvolvimento. estratégias relativas a materiais, como a É fácil perder o foco com estas pressu- Estima-se que a substituição do aço con- “redução de peso”. posições sobre a eficiência da recupe- vencional por aço de alta resistência re- 19 materiais mais leves e com melhor desempenho específico, em particular o alumínio e aço de grande resistência. Quanto maior o veículo, maior será a substituição e, como resultado, projetamos mais substituições relacionadas ao peso na América do Norte e no Japão do que nas outros regiões. Além disso, estas tecnologias têm maior apoio nestas regiões – produtores nativos de materiais apóiam dos não refletem o impacto das várias ração. Por exemplo, a Camanoe presente a mesma quantidade total de A primeira tarefa dos pesquisadores foi Associates pressupôs uma eficiência zero redução de massa veicular quanto a criar estimativas da detalhada compo- de recuperação constante para plásticos, substituição dos metais ferrosos pelo sição dos veículos leves rodoviários vidro e borracha, a qual não é compatí- alumínio. A substituição por alumínio vai contemplando as dez classes principais vel, por exemplo, com a legislação para ocorrer primeiramente em peças fundidas de uso de materiais ao longo do tempo Veículos em Fim de Vida (VFV) da UE, e depois em chapas para as estruturas e para uma gama de tipos de veículos que exige que a eficiência de recupe- os componentes mais complexos. O uso leves para cada região geográfica, base- ração melhore com o tempo. O que de plásticos em veículos deve permane- ando-se em diversas publicações, comu- devemos reconhecer é que o principal cer nos níveis atuais, com um pequeno nicações particulares e resultados objetivo da projeção de materiais foi acréscimo inicial seguido de um decrésci- analíticos do trabalho conduzido indicar a disponibilidade de recursos e o com o Laboratório de Sistemas de consumo de materiais. Sendo assim, a 17 18 Materiais do MIT. eficiência zero de recuperação projetada para plásticos deve ser entendida como mo. A quantidade de magnésio em aplicações estruturais deve aumentar para finalmente se estabilizar em níveis totais baixos. Um maior número de equipamentos eletro-eletrônicos em veículos As composições de veículos resultantes indicadora que os plásticos recuperados foram então agregadas segundo as pre- de veículos (em qualquer quantidade) visões de parcela de venda obtidas do não serão usados em quantidades signi- caso de referência do projeto. Os resulta- ficativas em aplicações automotivas. Isso dos são apresentados como o consumo também sinaliza que o uso de materiais total de materiais por região para cada secundários não deveria ter qualquer classe de material, assim como para um efeito importante sobre a disponibilidade montante global. de recursos. a) Uso de materiais reciclados Outra pressuposição de recuperação é resistência é a principal razão para proje- que não foi considerado qualquer fluxo tarmos que a massa de veículos estuda- Sendo o setor de transporte um grande de materiais secundários de outros dos diminua a uma taxa relativamente consumidor de materiais, os materiais de setores da sociedade para a produção constante. Inicialmente, isso pode pare- veículos em fim de vida (VFV) podem de veículos. cer inconsistente com a previsão de levará a um maior uso de cobre, chumbo e níquel. O uso de metais do grupo da platina (MGP) deve aumentar devido ao fato dos padrões de emissões mais rígidos serem parcialmente compensados por melhorias tecnológicas. A substituição de metais ferrosos por materiais mais leves e aço de alta 50 referência da IEA para a economia de Figura 2.34 Uso e recuperação de metais ferrosos e alumínio combustíveis, previsão esta que pressupõe pequenas melhorias incrementais. Mas dadas as reduções de peso projetadas, poderia haver uma maior economia de combustível. No entanto, o “potencial” para uma maior economia de combustível criado pela redução de peso é freqüentemente compensado por alterações no mix de veículos (de pequenos a grandes) e pelo acréscimo de características que melhoram o desempenho mas aumentam o peso (vide Capítulo 3). Fonte: Camanoe 2003 e cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. c) Consumo total de materiais projetado Ao aplicarmos as estimativas de com- O consumo de alumínio apresenta um dução mundial em 2005. Mas quando os posição para veículos leves às previsões de padrão bem diferente, com um cresci- materiais reciclados são incluídos, o con- parcela de vendas do caso de referência mento uniforme de seus atuais 5 milhões sumo líquido de MGPs primários para a da planilha, foram produzidas projeções de toneladas ao ano para 16 milhões produção de VLRs é consideravelmente do consumo total de materiais para esta em 2030 e 32 milhões em 2050. Dados inferior, em torno de 30% da capacidade classe de veículos. As estimativas de uso de este forte e uniforme crescimento e o de produção mundial. Mesmo assim, os materiais para caminhões pesados e fato de que os veículos têm uma vida útil resultados sugerem que a adoção global ônibus foram então acrescentadas para em torno de 17,5 anos antes que seus de conversores catalíticos, aliada ao chegar à projeção do total de materiais materiais estejam disponíveis para reci- aumento na demanda geral por necessários. clagem, é impossível que o alumínio automóveis, exigirá um aumento secundário (diferentemente dos metais substancial de platina e da atividade de Uma das conclusões da análise é que o ferrosos) satisfaça uma grande parte da mineração de paládio, assim como da consumo de materiais para veículos au- demanda total de materiais. Isso significa capacidade de fusão. Com as necessi- mentará, o que não é nenhuma surpresa que, apesar de as taxas de recuperação dades anuais de MGPs primários proje- considerando-se o aumento do número de pressupostas para metais ferrosos e tadas para 2030 em torno de 0,5% das veículos projetado pelo caso de referência. alumínio para os veículos em fim de vida reservas globais atualmente conhecidas, serem aparentemente semelhantes (90% parece haver suficiente platina disponí- e 80%, respectivamente), as parcelas de vel. A pergunta inevitável é: a qual consumo total que estes materiais recu- preço? E podemos ter certeza de que perados podem atender serão bastante este padrão de crescimento significará diferentes: 78% e 42%, respectivamente preços mais altos, usos mais eficientes para metais ferrosos e alumínio. deste material, recuperação mais efi- Outra conclusão relaciona-se ao nível de demanda para cada material. O consumo total de metais ferrosos deve permanecer constante em aproximadamente 42 milhões de toneladas ao ano até 2030 e então subir para mais de 65 milhões de toneladas em 2050. A oferta de material secundário recuperado deverá permanecer constante, em torno de ciente e mais exploração? Embora o consumo de metais ferrosos e alumínio do setor de transporte seja alto A demanda por cobre crescerá, devido em termos absolutos, a produção total ao aumento da demanda por equipa- destes materiais e o grau até onde esta mentos eletro-eletrônicos em veículos de 35 milhões de toneladas ao ano por produção pode ser aumentada indicam todos os tipos. O forte mercado para o todo o período (vide Figura 2.34). Sendo que não precisaremos nos preocupar chumbo reciclado deverá minimizar os assim, a necessidade de metais ferrosos com sua disponibilidade de suprimento. efeitos da expansão do consumo de ficará em torno de 7 milhões de chumbo. Desenvolvimentos em baterias toneladas ao ano no início do período, A situação dos MGPs não é tão clara podem promover um uso mais eficiente subindo para aproximadamente 30 mi- assim. Em uma primeira análise, a pro- do chumbo. Por outro lado, o aumento lhões de toneladas na segunda metade dução total para veículos parece repre- no seu consumo geral pode acarretar do período. sentar quase 85% da capacidade de pro- danos ambientais a longo prazo. 51 A borracha é outro material para o qual mente não conseguirá atender a esta que as economias crescem, a área dedi- projetamos um significativo crescimento demanda e, assim, a parcela de borracha cada à infra-estrutura do transporte tam- no consumo. Em geral, três tipos diferen- sintética usada hoje em pneus provavel- bém cresce. tes de borracha são usados nos pneus: mente aumentará. Européia (EEA, da sigla original em inglês) natural, sintética e butílica. Diversos tipos 20 A Agência Ambiental estima que aproximadamente 30.000 de pneus usam diferentes combinações Resumindo, duas conclusões fundamen- hectares de solo, ou cerca de 10 hectares de borracha natural e sintética, sendo a tais se destacam no consumo de materi- por dia, foram “tomados” para a cons- borracha natural mais usada para pneus ais para veículos e na disponibilidade dos trução de rodovias na UE entre 1990 e que enfrentam ciclos térmicos. Pneus de recursos: 1998 carros de passeio, que enfrentam todos os tipos de clima, contêm aproximada- (EEA 2001). A EEA identifica a “toma- da” do solo (em termos de hectare por • Recursos suficientes de materiais quilômetro) para diversas infra-estruturas 21 mente 8% de borracha natural por peso, estarão disponíveis para a produção já os pneus de inverno para os mesmos de veículos de transporte nos próxi- veículos apresentam 18% de borracha mos 50 anos, se não houver No futuro, áreas de solo consideráveis natural. Para caminhões pesados, este mudanças dramáticas na demanda de podem ser necessárias para sustentar a percentual sobe para 32% e para esca- recursos por outros setores. A bor- produção de biocombustíveis líquidos ou vadeiras, 44%. racha natural pode ser uma exceção. hidrogênio “carbono neutro”. No caso de transporte (Tabela 2.4). de referência do PMS, o uso de um A borracha sintética é produzida a partir • Mesmo com altas taxas de reciclagem, destes tipos de combustível é mínimo e, do petróleo e sua disponibilidade não haverá uma necessidade crescente de por esta razão, necessidades para o uso consiste em grande preocupação (vide materiais primários, pois o aumento do solo não foram projetadas. Nos Capítulo 3). Mas a borracha natural só projetado para a produção de veícu- Capítulos 3 e 4, discutimos com mais pode ser produzida com a extração do los e para a demanda de materiais detalhes o potencial de biocombustíveis látex de seringueiras e estas árvores superará a taxa com que materiais líquidos e/ou hidrogênio para substituir crescem somente em certas partes do secundários podem ser reciclados a combustíveis derivados de petróleo. mundo. Hoje, a indústria de pneus con- partir de veículos em fim de vida. some quase 70% de toda a borracha 3. USO DE ENERGIA natural produzida no mundo. 2. USO DO SOLO O crescimento projetado para o número Na maioria das áreas urbanizadas desen- demanda de energia decorrentes do de toneladas-quilômetro de cargas trans- volvidas, a infra-estrutura de transporte – transporte do caso de referência do PMS portadas por caminhões (Figura 2.6) malha viária, áreas de estacionamento, para o período de 2000 a 2050 por implica um enorme aumento na deman- ferrovias, portos, terminais de carga e região. Como já mencionado, em 2050 da por pneus para caminhões. A pro- aeroportos – ocupa uma porção significa- virtualmente todos os combustíveis usa- dução natural de borracha provavel- tiva do total da área territorial. À medida dos no transporte ainda serão derivados A Figura 2.35 mostra as projeções da de petróleo. Em todo o mundo, o uso de energia no transporte vai quase dobrar, mas a distribuição deste uso será diferente em cada região. Países da OCDE, responsáveis por aproximadamente 65% do uso de energia no transporte em 2000, diminuirão sua parcela para 40% em 2050. Países em desenvolvimento do Sul e Leste da Ásia apresentarão os maiores aumentos, de 11% em 2000 para quase 30% em 2050. Projetamos que só a China será responsável por mais de 12% do total da demanda de energia pelo transporte em 2050, o que representa 81% da demanda da América do 22 Norte OCDE em 2000. 52 Figura 2.35 Energia gasta pelo transporte por região 200 150 100 50 0 Fonte: Cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. L. Tendências para as despesas com mobilidade pessoal e de mercadorias Tabela 2.5 Despesas com Transporte por Domicílio Mobilidade Pessoal No Capítulo 1, as despesas dos usuários de transporte foram identificadas como um dos indicadores de mobilidade sustentável do PMS. No caso do transporte pessoal, a mensuração escolhida foi a parcela de despesas com transporte de cada domicílio. A Tabela 2.5 mostra esta mensuração para o ano de 2001 em três países desenvolvidos – os EUA, o Reino Unido e o Japão. Neste ano-referência, 23 domicílios nos EUA gastaram com transporte pessoal uma média de 19%; no Reino Unido, 17%; e no Japão, 9% do total das despesas domésticas. Mesmo com uma variação significativa da parcela de despesas com transporte de cada domicílio, as despesas associadas com a propriedade e operação de um veículo (ou veículos) particular(es) constituíram a maior parte das despesas com transporte de um domicílio nos três países – 95% para os EUA, 85% para o Reino Unido e 71% para o Japão. Não possuímos dados de consumo comparáveis para muitos países fora da OCDE, mas Fonte: Japan Family Income and Expenditure Survey, REINO UNIDO DfT 2003, US BLS 2003. 53 temos a forte impressão de que este baixa renda dependem de veículos de b) Impostos e políticas regula- padrão de despesas não se limita ao segunda mão para seu transporte básico. mentares governamentais que afe- mundo desenvolvido. À medida que a renda de um domicílio tam as despesas de um domicílio aumenta, sua demanda por transporte com transporte pessoal A decisão de aquisição de um veículo é pessoal também aumenta e uma parte algo complexo. Apesar de a renda per deste crescimento se reflete em uma capita real disponível ser o fator determi- maior demanda por viagens de longos nante na aquisição, representando até percursos. Mas isso também se reflete na 90% na variação em todo o país da pro- maior probabilidade de que o domicílio priedade per capita de veículos, os níveis possua mais de um veículo motorizado. de propriedade em países que possuem A Figura 2.36 mostra o número médio níveis semelhantes de PIB per capita de veículos próprios dos domicílios nos diferem em até 50%. As diferenças nas EUA, no Reino Unido e no Japão em taxam os combustíveis para o transporte taxas de motorização entre várias áreas função da renda doméstica total. – alguns com impostos mais pesados, urbanas com renda per capita seme- Domicílios com renda mais alta possuem outros com menos. Além disso, equipa- lhante decorrem de fatores como: mais veículos próprios. Uma maior taxa mentos obrigatórios de segurança e de de propriedade de veículos tende a controle de emissões ajudam a elevar o aumentar a parcela dos gastos com preço dos veículos e, em alguns casos, transporte pessoal, refletindo-se em um também os custos operacionais. • Diferentes densidades demográficas; • Diferentes níveis de disponibilidade e serviços de transporte público; Todos os governos recolhem impostos sobre a propriedade e/ou uso de veículos motorizados, sendo que, em alguns países, estes impostos são nominais e, em outros, eles se sobrepõem muitas vezes. Exceto para o combustível para aviação comercial, sobre o qual não recai qualquer imposto, os governos também aumento do uso de transporte ao invés de uma redução na renda disponível Projetar a parcela de despesas futuras de para as despesas com transporte. um domicílio com transporte requer uma avaliação do impacto líquido destas • Altos níveis de congestão; e tendências. A rápida mobilização projetaFigura 2.36 Número de veículos próprios de domicílios com diferentes rendas • Rígidas políticas restritivas de propriedade e tráfego de automóveis. da para vários países em desenvolvimento tende a aumentar as despesas pessoais com transporte, considerando-se estas uma parcela das despesas domésticas. a) Atendendo às necessidades Também aumentará o número de veícu- básicas de transporte pessoal de los por domicílio à medida que a renda EUA um domicílio per capita aumentar. No entanto, diminuirá a capacidade dos domicílios Os dois primeiros fatores estão inter-rela- que dependem do transporte público de cionados: à medida que nações e regiões atender suas necessidades básicas de se motorizam, a densidade demográfica acessibilidade, o que aumentará ainda média de suas áreas urbanas tende a decli- Reino Unido nar, aumentando a pressão sobre seus sis- mais a pressão que estes sentirão para adquirir e usar veículos automotores. temas de transporte público. Uma proc) Mobilidade de Mercadorias porção maior dos lugares onde membros de um domicílio desejam (ou precisam) ir O custo da mobilidade de mercadorias se torna acessível somente se o domicílio Japão(1) tiver acesso a algum tipo de veículo auto- pagam por elas. Todo artigo comprado motor próprio. Em algumas regiões, os traz embutido um “montante” derivado domicílios podem utilizar veículos motor- dos serviços de transporte e logística que izados de duas rodas. permitiram sua produção e entrega nos Anteriormente neste capítulo (Figura pontos de venda. Todo serviço compra- 2.10), demonstramos o efeito que a 0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 disponibilidade destes veículos baratos rizado. Em muitos lugares, domicílios de 54 do também tem seu “montante” de serviços de transporte e logística. pode ter naquela parcela da população que pode pagar por um veículo moto- se reflete nos preços que as pessoas (1) os dados para o Japão se referem a domicílios com duas ou mais pessoas Fonte: USBLS 2002,Table 1; REINO UNIDO DfT 2001, p. 101; Japanese Ministry of Public management, Home Affairs, Posts and Telecommunications, Statistics Bureau, 1999 National Survey of Family Income and Expenditure, Statistical Tables (Major Durable Goods), table 6. Qual a dimensão deste “montante”? No caso dos serviços, é difícil determiná-la. Para mercadorias, a estimativa é mais fácil. Em uma publicação anual intitulada no congestionamento no tocante ao tempo socIedades moldados pelo uso do State of Logistics Report (equivalente a de viagem do ponto de origem ao de des- automóvel relutam em abrir mão da fle- ‘Relatório sobre a Dimensão da tino se traduzem em aumentos nos custos xibilidade que esta modalidade de trans- Logística’), Rosalyn Wilson e Robert da mobilidade de mercadorias, pois repre- porte oferece. O mais recente US Delaney traçam o montante dos custos sentam aumentos no custo do combustív- National Household Travel Survey (equi- de transporte e de inventários repassados el e da mão-de-obra para os provedores valente a ‘Pesquisa Nacional sobre tanto em número absoluto de dólares de serviços de transporte de mercadorias. Locomoção dos Domicílios Americanos’) quanto na porcentagem do PIB ameri- (2001) descobriu que 87% das viagens cano. Entre 1981, primeiro ano da publi- Outro impacto do congestionamento de americanos idosos ocorrem dentro de cação deste relatório, e 2002, a edição ainda mais importante é o seu custo em um veículo particular e que 75% dos mais recente de cujos dados dispomos, termos da redução da confiabilidade no americanos com 70 anos ou mais ainda estes custos baixaram de 16,2% para 8,7 transporte de mercadorias. Aumentos no dirigem. De 1991 a 2001, o número do PIB dos EUA, ou seja, quase a congestionamento não regular, conforme destes motoristas aumentou 32%, ou metade. Durante o mesmo período, o já identificado como uma das principais seja, 19,1 milhões. Aproximadamente número de domicílios nos EUA aumen- causas da redução da confiabilidade nos 10% de todos os motoristas americanos tou em torno de 30%. sistemas de transporte, dificulta os fabri- têm 70 anos de idade ou mais, contra Conseqüentemente, entre 1981 e 2002, cantes e comerciantes a manterem seus 8,6% uma década atrás (NHTS 2001). o custo da logística para cada domicílio estoques baixos. Tecnologias que permi- americano foi reduzido em aproximada- tam aos distribuidores melhorar o moni- Apesar de os idosos hoje terem uma me- mente 60% toramento de mercadorias em trânsito e lhor saúde e estarem mais bem capacita- planejar retiradas e entregas de merca- dos do que há alguns anos, em algum dorias mais eficientemente já estão ponto sua habilidade de dirigir com (Wilson & Delaney 2003). Uma parte desta queda se deve a declínios nos custos do transporte de mercadorias – para os EUA, estes custos têm caído a uma taxa anual de 3%. Ao longo de todo o período, os custos do transporte de mercadorias como porcen- sendo desenvolvidas e implantadas 2003). (UPS Mas os benefícios que estas tec- Quando isso acontece, eles sofrem uma um todo serão minados pela crescente grande restrição em sua mobilidade. congestionamento. Embora a relutância de cidadãos idosos para 5,5%. Mas a maior parte desta inventários, que baixaram de 8,3% do PIB em 1981 para 2,8% em 2002. ponto em que precisarão parar de dirigir. nologias trarão para a economia como tagem do PIB dos EUA baixou de 7,3% redução se deu nos custos repassados dos segurança começará a declinar até o M. Preocupações com o princípio da eqüidade no transporte em parar de dirigir reflita, em parte, seu desejo de manter sua liberdade e independência, a falta de alternativas de transporte público atraente em muitas áreas urbanizadas também contribui para Esta redução foi possível graças a melhorias na acessibilidade (e confiabilidade) da A questão da exclusão social é um dos isso. Motoristas idosos fazem a maior mobilidade de mercadorias. O PMS não fenômenos mais preocupantes nos países parte das viagens para compras, encar- encontrou dados semelhantes sobre os desenvolvidos. A vida contemporânea regam-se de pequenos serviços para suas custos da mobilidade de mercadorias em baseia-se cada vez mais na capacidade famílias e dirigem mais para atividades outros países. Mas as tendências que têm de um indivíduo acessar áreas geográfi- sociais e de lazer do que jovens adultos. causado o declínio dos custos nos EUA cas a cada dia mais amplas em um Estas viagens se tornam menos prováveis não são peculiares a este país. Também espaço de tempo aceitável. Ser privado com transporte público do que viagens não é provável que estas tendências deix- deste acesso – seja por não ter um carro de e para o trabalho. À medida que o em de operar no futuro próximo. e/ou transporte público necessário, por transporte público convencional nos Segundo um estudo, nos últimos anos, os dificuldades em usar recursos de trans- EUA se tornar mais e mais questionável custos do transporte de mercadorias têm porte ou por desconhecimento de opor- em muitas áreas urbanizadas, mais e desempenhado “um papel cada vez mais tunidades disponíveis em localidades mais idosos se sentirão isolados, inca- irrelevante na economia urbana” (Glaeser & próximas – constitui um crescente impedi- pacitados de ter uma vida ativa em suas Kohlhase 2003). mento para a vida normal. Dois grupos comunidades. defrontam-se com dificuldades especiais: Um fator que poderia impedir futuras re- Este problema deve piorar consideravel- duções nos custos da mobilidade de mer- Os idosos mente nas próximas décadas, pois a cadorias é um aumento do congestiona- Em regiões desenvolvidas, cidadãos parcela da população que está envelhe- mento. Conforme já observado, aumentos idosos que passaram suas vidas em cendo está aumentando visivelmente em 55 quase todos os países desenvolvidos. Isto também valerá para os principais países em desenvolvimento e, por isso, muitas Figura 2.38 Despesas com transporte de domicílios americanos, 1984-2001 público e a parcela de viagens em transporte público para domicílios com renda inferior a US$ 20.000 é de 4,8%. Nas 24 regiões estão se esforçando para melho- maiores áreas metropolitanas nos EUA, rar o acesso aos meios de mobilidade onde a qualidade do transporte público pessoal para os idosos. Mas estas iniciati- é presumivelmente melhor, a parcela de vas terão de ser consideravelmente viagens de todas as classes de renda aumenta para 3,4%, chegando a 10,6% expandidas para conseguirmos estabilizar para os domicílios com renda inferior a a situação atual. US$ 20.000. Domicílios de baixa renda Na França, onde o uso de transporte Nas sociedades que dependem enorme- público é maior, 11% das viagens feitas mente do automóvel particular para o transporte pessoal, a falta de acesso a esta modalidade representa uma grande Source: USBLS Survey of Consumer Expenditures (vários anos), Table 1 pela população mais pobre são em transporte público, versus 9% das viagens para o total da população. Considerando restrição. tempo e esforços maiores para sua loco- somente as viagens de e para o trabalho, Um relatório recentemente publicado moção e geralmente pagam um custo os números chegam a 20% para os mais pelo Departamento de Transporte do marginal mais alto para chegar até os pobres versus 15% para a população em Reino Unido resume esta questão da mesmos destinos das pessoas que têm geral. Os mais pobres não necessaria- seguinte maneira: carros. (REINO UNIDO DTLR (data desconhecida), p.18). mente gastam uma parcela maior de sua renda no transporte pessoal. Já nos EUA, “A pobreza de transporte pode ser um A taxa de propriedade de carros é baixa do total das despesas domésticas dos problema significativo para aqueles que em domicílios de baixa renda em todo o mais pobres, a parcela de despesas com já experimentam alguma forma de mundo, mas a parcela dos domicílios mais exclusão social, com a falta de opções pobres (definidos como os domicílios nos de locomoção e, conseqüentemente, 20% de menor distribuição de renda) que uma falta de opções em atividades e possui um carro varia enormemente entre destinos e, em alguns casos, mais países e regiões. A Figura 2.37 apresenta exclusão social. A pobreza de transporte dados sobre a propriedade de carros nesses está fortemente associada à incapaci- domicílios no Reino Unido e nos EUA dade de participar, pois pode resultar durante aproximadamente os mesmos em falta de acesso a serviços e lugares períodos de tempo. No Reino Unido, a essenciais e também “não essenciais”; porcentagem de domicílios nos 20% com ao trabalho, hospitais, comércio e edu- pobres (com uma renda pessoal anual mais baixa renda que possui um veículo inferior a US$ 8.000), cação (....) Aqueles que não dispõem de aumentou de 27% para 35% e, nos EUA, de sua renda pessoal com o transporte um carro geralmente precisam de mais essa taxa aumentou de 63% para 66%. para o trabalho se usassem seu próprio transporte pessoal é na verdade inferior à parcela considerando-se todos os domicílios. No entanto, os trabalhadores mais pobres gastam uma parcela maior de sua renda para ir ao trabalho. O trabalhador médio americano que usava seu veículo próprio para ir ao trabalho em 1999 gastava US$ 1.280 (US DOT 2003). Isso representava 4,9% de sua renda pessoal. Os trabalhadores mais 25 gastavam 21% veículo, contra 13% se usassem o transFigura 2.37 Propriedade de veículos dos domicílios nos 20% com mais baixa renda Reino Unido EUA A Figura 2.38 mostra dados da parcela porte público . Os trabalhadores mais de despesas com transporte pessoal em pobres nos EUA também usam mais relação às despesas domésticas totais dos opções de transporte para o trabalho – domicílios americanos nos 20% com mais como o sistema de rodízio, bicicleta e baixa renda. Esta parcela permaneceu caminhar – do que as pessoas com maior relativamente a mesma, apesar de, con- renda. Cada uma destas opções limita forme já mencionado, as despesas seu acesso a oportunidades de emprego médias com transporte pessoal nos EUA e/ou local de residência. 26 serem um tanto maiores do que no Reino Fonte: USBLS 2000 Table 1, USBLS 1990 Table 1, e DTLR 2001, p. 45. 56 Unido. O transporte público pode desem- À medida que a renda dos domicílios penhar um papel vital na mobilidade de aumentar, a porcentagem dos domicílios domicílios com baixa renda, mas isso é mais pobres que consegue pagar por limitado por sua disponibilidade. Nos EUA, algum tipo de veículo motorizado tam- somente 1,6% de todas as viagens em bém tenderá a crescer. Mas muito deste todo o país são feitas em transporte crescimento pode se refletir nas caracterís- ticas de motorização das sociedades onde vivem. Os domicílios ainda sem condições de comprar um carro ou outro transporte motorizado provavelmente ficarão mais isolados das oportunidades que poderiam lhes oferecer uma saída à pobreza. Desigualdades na acessibilidade de mercadorias Questões semelhantes são identificadas nas disparidades entre classes de renda quanto à acessibilidade de mercadorias. A maior parte das melhorias nos sistemas de mobilidade de mercadorias beneficiam mais as grandes lojas do que as lojas pequenas. As primeiras estão geralmente localizadas nos subúrbios e são acessíveis somente por veículos motorizados. Mesmo quando há um acesso satisfatório através do transporte público, o volume e o peso das mercadorias vendidas a baixo custo nestas lojas dificulta seu transporte através do transporte público. Sendo assim, pessoas que não têm acesso a veículos motorizados devido à sua idade, renda ou incapacidade são excluídas de muitos dos benefícios criados por melhorias na mobilidade de mercadorias. Desigualdades na exposição a ruídos e poluentes decorrentes do transporte Algumas tendências relacionadas à desigualdade de renda parecem seguir uma direção oposta. Por exemplo, devido à dificuldade de encontrar moradia a custo acessível, a população pobre se vê forçada a viver próxima a fontes de emissões de poluentes e ruídos (rodovias, ferrovias, aeroportos) decorrentes do transporte – aumentando sua exposição aos impactos adversos dessas emissões. À medida que diminuir o volume total de poluentes convencionais decorrentes do transporte, esta situação poderá ser minimizada. Isto provavelmente ocorreu quando as emissões de chumbo decorrentes do transporte foram eliminadas. Preocupações com os efeitos nocivos à saúde causados pelo chumbo na gasolina foram inicialmente levantadas em relação às crianças que residiam próximas ao centro das cidades, as quais 57 IV. As setes metas que melhorarão o nível de mobilidade sustentável brincavam e iam para a escola através de ruas com grande volume de tráfego. Quando o chumbo foi eliminado da gasolina, estas crianças foram as mais beneficiadas com a medida. Ao tabular todos os indicadores, temos a impressão de que o sistema de mobilidade atual não é sustentável e nem que o venha a ser se as atuais tendências se mantiverem. É verdade que nem todos os indicadores apontam para uma piora da situação, mas um número suficiente deles indica que as sociedades devem agir para alte- A. Certificar-se de que as emissões de poluentes “convencionais” decorrentes do transporte não constituam uma preocupação com a saúde pública em qualquer lugar do mundo convencionais decorrentes dos transportes abaixo dos níveis projetados no caso de referência do PMS. Fatores determinantes da redução destas emissões serão a capacidade de arcar com os custos da tecnologia e dos combustíveis necessários e o impacto que esforços agressivos para reduzir as emissões convencionais terão na capacidade de os sistemas de transporte destes países de sustentar taxas de rápido crescimento Até 2030: Após 2030: mobilidade se torne sustentável no mundo em desenvolvimento. reduzir substancialmente as emissões econômico. rar a evolução desses indicadores. Isto se verdadeiramente desejarmos que a • No mundo em desenvolvimento, • No mundo desenvolvido, certificar-se de que as reduções de emissões pro- • Completar a tarefa de redução das O PMS não acha este resultado aceitável. jetadas no caso de referência do PMS emissões no mundo em desenvolvi- Após considerável análise e discussão, sejam atingidas, dedicando especial mento. Isto exigirá um maior uso das decidimos propor sete metas ou obje- atenção à identificação dos veículos tecnologias e dos combustíveis que tivos. Acreditamos que um progresso sig- que são os “grandes emissores”. Os permitem esta redução e que estão nificativo em direção a estes aumentaria sistemas de emissões destes veículos sendo agora adotados nos países substancialmente as perspectivas para devem ser adequados ou os veículos desenvolvidos. Os países em desen- uma mobilidade sustentável. devem ser tirados de circulação. volvimento deverão amparar-se na experiência dos países desenvolvidos para implantar as adequações necessárias para garantir que as emissões dos veículos em uso permaneçam dentro dos padrões estabelecidos. 58 B. Limitar as emissões de GEEs decorrentes do transporte a níveis sustentáveis Após 2030: Completar a tarefa de limitar as emissões de GEEs a níveis sustentáveis ao: • Erradicar o crescimento e, a seguir, reduzir consistente e significativamente as emissões de GEEs decor- A meta a longo prazo da sociedade deria rentes do transporte – a partir de con- ser erradicar a contribuição do transporte siderações sobre o custo-eficácia do nas emissões de gases de efeito estufa. controle das emissões de GEEs de Mesmo sob condições ideais, atingir esta fontes não relacionadas ao transporte. meta levará bem mais tempo do que duas ou três décadas. • Completar, em nível global, a introdução de veículos que usam com- Antes de 2030: bustíveis “carbono neutro”, se seu potencial de reduzir GEES for sufi- Onde for economicamente possível e ciente e seu custo de produção for politicamente aceitável, empreender competitivo. ações objetivando reduzir a curva de emissões de GEEs decorrentes do transporte ao: • Garantir a disponibilidade global dos combustíveis que alimentam estes veículos. • Melhorar a eficiência energética dos veículos de transporte de forma • Aplicar as tecnologias e os combus- consistente com a aceitação do tíveis destes veículos a outras modali- consumidor e os níveis de preços. dades de transporte onde for conveniente e financeiramente viável. • Estabelecer as bases tecnológicas para a eliminação dos efeitos nocivos do carbono fóssil nos combustíveis. Isso será possível com o uso do hidrogênio como o principal portador de energia, o uso difundido de biocombustíveis ou uma combinação de ambos. C. Reduzir significativamente o número total de mortes e ferimentos graves em acidentes rodoviários em países desenvolvidos e em desenvolvimento Todas as nações devem seguir programas agressivos de redução do número total de mortes e ferimentos decorrentes do transporte, especialmente os causados por veículos rodoviários. • No mundo desenvolvido, empregar estratégias apropriadas para reduzir significativamente as atuais taxas de mortes e ferimentos. No mundo em desenvolvimento, a meta deve ser inibir o aumento destas taxas e auxiliar os países a atingir taxas comparáveis àquelas do mundo desenvolvido. • Concentrar os esforços especialmente nos grupos vulneráveis – pedestres, ciclistas, crianças, idosos e deficientes. • Estes esforços devem compreender e considerar as circunstâncias particulares freqüentemente enfrentadas pelos países em desenvolvimento à medida que estes rapidamente se motorizam. 59 • Os programas destinados a reduzir o número de mortes e ferimentos graves decorrentes do transporte devem abordar toda a gama de E. Atenuar o congestionamento em vias de transporte • Encorajar o desenvolvimento de veículos motorizados de baixo custo que estejam em conformidade com os padrões básicos de segurança e controle de emissões. fatores que contribuem para estas mortes e ferimentos, incluindo o A ampliação da capacidade de infra- comportamento dos motoristas, estrutura adicional não deve ser a única Diminuir a “divisa” de mobilidade dentro melhorias na infra-estrutura e estratégia empregada para atenuar o da maioria dos países ao: no desenvolvimento e congestionamento. Mas esta capacidade uso de melhores tecnologias deve aumentar para acomodar o cresci- para evitar colisões e diminuir mento da demanda – particularmente no transporte existentes, tal como para- ferimentos. mundo em desenvolvimento – ao: trânsito, para permitir que grupos • Aumentar o uso das tecnologias de como os mais pobres, os idosos, os D. Reduzir o ruído relativo ao transporte • Concentrar-se na eliminação de “garga- deficientes e os mais necessitados los” que impedem que os elementos possam aumentar seu acesso a críticos da infra-estrutura de transporte empregos, serviços sociais, etc. sejam eficientemente considerados no Consistentes com as prioridades locais, planejamento desta infra-estrutura. para reduzir as emissões acústicas • Incorporar tecnologias de TI às tecnologias de transporte existentes para regionais ou nacionais, os esforços • Fazer um uso mais eficiente dos sis- aumentar seu poder de resposta, con- decorrentes do transporte devem temas de mobilidade e infra-estrutura fiabilidade, segurança, segurança pes- concentrar-se em: de transporte existente, sempre que soal e de mercadorias, e diminuir seus conveniente e politicamente aceitável. custos. • Utilizar nas rodovias superfícies que reduzam os ruídos e construir barreiras acústicas. • Inibir modificações nos veículos feitas por seus proprietários que causem mais ruído e impedir a operação dos veículos de maneiras que gerem ruído excessivo. Os esforços para a redução de ruído devem tirar o máximo de proveito possível das sinergias geradas por ações objetivando a melhoria de outros indicadores da mobilidade sustentável. Apesar de melhorias adicionais na emissão de ruído dos veículos novos se justificarem, deve-se tomar o devido cuidado para garantir que tais melhorias produzirão benefícios ao Sistemas de Tecnologia da Informação (TI) deverão desempenhar um papel chave nestas ações. F. Diminuir a “divisa de mobilidade” entre as populações dos países mais pobres e membros de grupos social e economicamente desfavorecidos dentro da maioria dos países G. Preservar e melhorar as oportunidades de mobilidade para a população geral de países desenvolvidos e em desenvolvimento • Atualmente, as pessoas que não podem ou não querem depender de veículos automotores próprios para suas necessidades pessoais de transporte têm poucas alternativas além de morar e limitar suas atividades a lugares bem próximos do “coração” dos centros urbanos, sendo estas as Diminuir a “divisa” de mobilidade entre únicas áreas bem servidas pelas os países e regiões mais pobres e os paí- modalidades tradicionais de trans- ses e regiões mais ricos ao: porte público. serem efetivamente implantadas e que seu custo seja proporcional aos respectivos benefícios. 60 • Reduzir o custo do transporte em • No entanto, a capacidade dos sis- áreas rurais em desenvolvimento, temas convencionais de transporte oferecendo meios básicos de acesso público de desempenhar seu papel onde estes não existirem. vital de prover mobilidade pessoal está ameaçada pela redução na densi- Uma abordagem sugerida é usar o dade de não ter de dirigir – caracterís- dade populacional fora do “coração” planejamento do uso do solo associa- ticas comumente associadas ao trans- dos centros urbanos e pelo crescente do a vários incentivos positivos e neg- porte público. custo de sustentar estes sistemas. ativos para forçar aumentos na densidade urbana. Segundo esta visão, se Esta abordagem adapta os sistemas as densidades urbanas aumentarem, de transporte às necessidades (e uma meta primária dos governos será tecnológica e financeiramente desejos) do público ao invés de exi- deve ser preservar esta importante viável construir e operar sistemas de gir que o público adapte seus sis- opção de mobilidade. Londres, Paris, transporte público capazes de prover temas de vida às características tec- Tóquio, Berlim e Nova Iorque são níveis mais altos de serviço. nológicas e econômicas dos atuais • Durante as várias décadas vindouras, sistemas de transporte público. algumas das cidades do mundo desenvolvido que não conseguem • O PMS acredita que uma abordagem existir sem o transporte público. E melhor (e mais prática) seria utilizar como a pesquisa que patrocinamos tecnologias veiculares e de infor- nas cidades do mundo em mação emergentes para se prover desenvolvimento deixa claro, os uma gama mais ampla de opções de sistemas de transporte público são transporte para aquelas pessoas que ainda mais essenciais nas áreas residem em áreas menos densamente urbanizadas do mundo em urbanizadas. Estas opções ofereceriam desenvolvimento. uma flexibilidade de tempo e rotas mais próximas às opções de veículos • No entanto, a longo prazo, mudanças mais fundamentais serão necessárias. motorizados particulares, além do baixo custo desembolsado e da facili- 61 62 1 A US Energy Information Agency (USEIA – ‘Agência Americana de 9 O resumo dos resultados encontrados por Gakenheimer e Zegras em Informações sobre Energia’), órgão que elabora projeções relacionadas à seus oito casos de estudo está incluído como um Apêndice a este energia, caracteriza suas projeções da seguinte maneira: Relatório. Os oito casos de estudo completos estão disponíveis no site do “As projeções apresentadas por AEO2003 (Annual Energy Outlook 2003), Projeto. a avaliação anual da USEIA sobre o uso atual e futuro da energia nos Estados Unidos não são declarações do que acontecerá, mas sim do que 10 Deve-se notar que estas projeções são de “Tanque-a-Roda” (ou da sigla pode vir a acontecer, dadas as pressuposições e metodologias utilizadas. original em inglês WTW), no sentido que incluem não somente as emis- As projeções são estimativas observadas as condições usuais, a tecnologia sões produzidas pela operação de veículos de transporte, mas também as conhecida, as tendências demográficas e as regulamentações e a legis- emissões geradas pela extração, pelo beneficiamento e pela distribuição lação atuais. Assim sendo, elas fornecem um caso de referência neutro e dos combustíveis utilizados por estes veículos. Entretanto, estas projeções imparcial de qualquer política, que pode ser utilizado para uma análise não incluem emissões decorrentes da produção de veículos de transporte de iniciativas de políticas (….) presumindo-se que todas as leis per- e dos materiais neles empregados. manecem conforme promulgadas atualmente. No entanto, os impactos de mudanças em regulamentações emergentes, quando definidas, estão aqui refletidas.” 11 No tocante às emissões de particulados, a ênfase da regulamentação está se alterando para as partículas menores, como os PM-2.5. No entanto, não existem dados suficientes que nos permitam mostrar tendências 2 Estas projeções, assim como as principais pressuposições subjacentes a projetadas para as emissões destas partículas menores. Sendo assim, uti- nosso modelo de planilha, estão documentadas em “SMP model docu- lizamos emissões projetadas de PM-10 como um substituto para emissões mentation and reference case projection” (‘Documentação Modelo e de particulados de interesse regulatório, reconhecendo que esta substitu- Projeções do caso de referência do PMS’), disponível no website do ição apresenta limitações. WBCSD: www.wbcsd.org. 12 3 Apesar destes ajustes compensatórios permitirem que indivíduos e Sempre que possível, os dados usados pelo Dr. Koornstra em suas análises para o Projeto foram ajustados para refletir estes fatores. empresas minimizem os aumentos no tempo de viagem médio decorrente de maior congestão, eles o fazem a um custo considerável. 13 O Dr. Koornstra usa uma mensuração de renda per capita diferente da nossa – a dele não está ajustada para refletir paridades de poder aquisitivo. 4 O Projeto não desenvolveu suas projeções de crescimento econômico real per capita de longo para cada região, mas adotou as projeções 14 City Soundings, p. iv. usadas pelo Relatório WEO2002 da Agência Internacional de Energia. 15 Estas, por sua vez, basearam-se nas projeções do Banco Mundial e da ONU para o crescimento econômico e populacional, apresentadas na No caso de pneus, há, entretanto, uma compensação entre o ruído causado pelo pneu e a segurança. Caixa 2.2. 16 5 “Veículos Leves Rodoviários” (VLRs) incluem automóveis, pequenas vans O relatório da Camanoe Associates está disponível no website do Projeto. de passageiros, veículos esportivos utilitários e caminhões leves para uso 17 pessoal. Não há um termo exato que cubra todos estes veículos em todos Devido à falta de informações detalhadas, caminhões pesados e ônibus os países. Por exemplo, no Reino Unido, o termo “carros” normalmente não foram contabilizados neste nível de detalhe, mas foram incluídos nas inclui carros de 3 e 4 rodas, Land Rovers, jipes, microônibus, trailers, casas estimativas agregadas do consumo total de materiais. Na verdade, o sobre rodas e vans leves.” (UK DfT, Focus on Personal Travel, p. viii) modelo pressupõe que a composição de materiais dos caminhões pesados e ônibus não se altere. Se as informações relevantes estivessem 6 Nenhuma das tabelas mostra a atividade aquaviária de cargas. Não con- disponíveis, elas poderiam ser facilmente incorporadas ao modelo. seguimos localizar o que consideramos ser boas projeções para esta ativi18 dade entre 2000 e 2050. E alocar a atividade aquaviária de cargas por região é uma tarefa impossível. Dois pesquisadores da Camanoe Associates, Professor Joel P. Clark e Professor Randolph Kirchain, trabalham no Departamento de Ciência dos Materiais e Engenharia e na Divisão de Sistemas de Engenharia do MIT. 7 Este não deve ser o caso das pesquisas baseadas em relatos do real com- Os dois outros, Frank Field e Richard Roth, trabalham no Centro de portamento da locomoção. Tecnologia, Políticas e Desenvolvimento Industrial do MIT. 8 19 No Capítulo 4, discutiremos como esta disparidade no acesso pode ser Eficiências de recuperação permaneceram, presumivelmente, constantes ao reduzida. Na Europa, por exemplo, a acessibilidade em áreas urbanas longo do período. As eficiências de recuperação pressupostas são: metais fer- superpopulosas pode aumentar devido a uma maior confiabilidade em rosos 90%, alumínio 80%, cobre 80%, chumbo 95%, níquel 0%, magnésio várias modalidades de transporte alternativamente ou consecutivamente. 80%, MGP 80%, plásticos 0%, vidro 0% e borracha 0%. 63 20 O que deveria ser contado como “solo dedicado à infra-estrutura” está 23 O termo técnico para o agrupamento da população para o qual dados sujeito a diferentes interpretações. Por exemplo, desde 1900, carros, de consumo são colhidos é “unidade de consumo”. Em alguns países, a caminhões e tratores tomaram 90 milhões de acres de terras americanas “unidade de consumo” corresponde a uma “família”. Em outros, a um que seriam usadas para cultivar matérias-primas para alimentação de ca- “domicílio”. A diferença entre “família” e “domicílio” depende da relação valos – algo que é geralmente deixado de fora quando se calcula o entre os indivíduos que moram na mesma unidade de moradia. impacto ambiental do automóvel. (Hayward 2002) 24 21 A EEA divide o uso da terra em duas categorias: uso direto e indireto. Definida com tendo uma população na área metropolitana de três milhões ou superior. O “uso direto da terra” refere-se a uma área coberta onde foi efetivamente construída uma infra-estrutura de transporte, enquanto o “uso indireto da terra” está associado ao uso da terra para áreas de segurança, 25 A linha de pobreza oficial do governo para um adulto solteiro sem dependente foi de U$ 8501 em 1999. intersecções e áreas de serviço, estações, estacionamento, etc. 26 22 Segundo a IEA, em 2003 a China ultrapassou o Japão como o segundo maior usuário mundial de petróleo cru. (Financial Times, quarta- feira, 21 de Janeiro de 2004., p.1). 64 O trabalhador que viaja de casa para o trabalho gastou, em média, usando transporte público, 3,3% de sua renda pessoal nessas viagens. Capítulo 3 O potencial das tecnologias veiculares e combustíveis de transporte como “alicerces” da mobilidade sustentável ok Neste capítulo, o PMS avalia o potencial de uma gama de tecnologias veiculares e combustíveis de transporte como alicerces da mobilidade sustentável. A palavra “potencial” é crucial para o entendimento das informações contidas neste capítulo. No Capítulo 4, exploraremos os fatores que determinarão em que extensão este potencial poderá vir a ser realmente alcançado. 66 I. Sistemas de Propulsão e Combustíveis O sistema atual de estradas para trans- na (MCI) e combustíveis derivados do de transporte, sendo o carvão e o gás porte motorizado foi construído nos últi- petróleo. Estas tecnologias começam a ser natural as maiores exceções. Na verdade, mos 100 anos e, a partir do final do vistas como barreiras à sustentabilidade, a sociedade usa portadores de energia século XIX, com o invento do motor de uma vez que tecnologias alternativas de produzidos por fontes de energia combustão interna, a concretização do combustíveis e geração de energia mais primária. A segunda coluna mostra por- potencial dos combustíveis de transporte sustentáveis começam a ser exploradas. tadores de energia atualmente em uso com produtos leves derivados do ou propostos para serem usados no petróleo (tais como gasolina e diesel) Na figura 3.1, demonstramos a organiza- futuro como combustíveis de transporte. produzidos pela destilação de petróleo ção das seções deste capítulo referente As linhas ligando a primeira e a segunda cru passou a ser uma realidade. A partir aos sistemas de propulsão e combus- colunas mostram alguns dos muitos de então, indústrias multimilionárias tíveis. A primeira coluna identifica várias modos possíveis em que diferentes desenvolveram uma rede mundial de dis- fontes primárias de energia, às vezes fontes primárias de energia podem ser tribuição e serviços para cada necessi- citadas como "matérias-primas", transformadas em portadores de energia. dade de transporte. Porém, com poucas disponíveis para propulsar veículos de exceções, estas indústrias ainda estão transporte. Na maioria das vezes, estas Para um portador de energia ser usado arraigadas às mesmas tecnologias fontes de energia primária não são largamente como combustível de trans- primárias - o motor de combustão inter- usadas diretamente como combustíveis porte, é preciso que haja uma infra-estrutu- Figura 3.1 Possíveis caminhos dos combustíveis de transporte Fonte: projeto de Mobilidade Sustentável 67 Fonte: Yergin 2004. 68 ra capaz de distribuí-lo. A terceira coluna membro da OPEC. Alguns profetizam feito para o transporte por petroleiro identifica duas grandes categorias de sis- que, por volta de 2020, a produção de criogênico ou transformado em com- temas de distribuição de transporte de petróleo da OPEC terá atingido o pico. A bustíveis que permanecem líquidos em energia - as que transportam combustíveis demanda de petróleo vem crescendo temperaturas normais e que podem ser líquidos e as que transportam combustíveis rapidamente, em especial em alguns movidos ao longo de oleodutos. Para gasosos. As linhas ligando a segunda e ter- países em desenvolvimento. De fato, aquelas reservas já transportadas por ceira colunas mostram quais portadores de como já discutido no Capítulo 2, a China oleodutos, melhorias na produção de gás energia poderão ser distribuídos para cada desbancou o Japão do lugar de segundo natural se originarão principalmente em categoria de infra-estrutura de energia. A maior país consumidor de petróleo. instalações em águas profundas e em quarta coluna da Figura 3.1 mostra as duas Fatos como estes aumentaram as preo- técnicas sísmicas melhoradas. O uso do maiores categorias de sistemas de propul- cupações acerca da adequação a longo gás natural no transporte competirá com são, tanto as usadas atualmente quanto as prazo do estoque de petróleo. Ao seu uso pela indústria química como aptas a serem usadas nas rodovias, ferrovias mesmo tempo em que entendemos o matéria-prima valiosíssima para a produ- e hidrovias. Estes são MCIs (inclusive MCIs porquê de tal ansiedade, acreditamos ção de plásticos e produtos farmacêuticos. híbridos) e células combustíveis (inclusive também que existe pouca fundamen- células combustíveis híbridas)1. tação empírica para ela A. Fontes Primárias de Energia Historicamente, a demanda de petróleo sideradas suficientes (sem levar em conta tem aumentado mais do que a descober- os recursos) para suprir as necessidades de ta de novos campos. A produção de energia de 10 bilhões de pes transporte. (Maugeri 2004). As fontes renováveis de energia, tais como eólica, solar e hídrica, têm sido con- petróleo de fora da OPEC freqüente- Existem duas amplas possibilidades para a Todos os combustíveis de transporte são mente acontece sob condições mais se- obtenção de energia de propulsão a partir derivados de uma das fontes de energia veras, tanto em plataformas em águas de fontes de energia renovável: combus- mostradas na Figura 3.1. Foge do escopo profundas quanto em locações longín- tíveis produzidos da biomassa e combus- deste relatório levantar uma discussão quas em terra. Porém, os avanços na tec- tíveis produzidos da eletricidade detalhada das escolhas feitas pela nologia de perfuração têm aumentado as “renovável”. Cada um deles será discutido sociedade. O resumo a seguir explica as taxas de descoberta de petróleo e reduzi- com mais detalhes adiante. tendências tecnológicas na produção e do o custo de produção dos campos transporte de energias primárias como existentes, ajudando assim a compensar A energia nuclear produz energia elétri- pano de fundo para as necessidades de o impacto das condições mais difíceis. ca com baixa emissão de GEEs. Preocupações ambientais e econômicas, energia dos transportes. Os recursos de gás natural são abun- juntamente com questões de aceitação Hoje, a maior parte do carvão consumi- dantes, mas um terço das reservas social, têm impedido o crescimento do é usada para produzir eletricidade. O mundiais conhecidas está "encalhado", desta via energética em muitos países. carvão pode ser também gaseificado ou tornando o custo de produção e colo- Para as próximas décadas, a AIE projeta liquefeito para produzir uma ampla cação no mercado alto demais para que uma diminuição do papel da energia gama de combustíveis sintéticos gasosos a exploração destas reservas seja lucrati- nuclear na geração de energia elétrica, e líquidos. Em muitas partes do mundo va. O "gás encalhado" precisa ser lique- pois alguns países interromperam a ge- existem abundantes reservas de carvão, estando as maiores delas localizadas na América do Norte, Rússia e China. Usar Figura 3.2 - Estimativa de recursos de energia renovável estas abundantes reservas de maneira sustentável requer o desenvolvimento e a aplicação eficazes de um conjunto de tecnologias conhecido como “seqüestro de carbono”. O petróleo cru é a materia-prima hoje usada nos combustíveis de transporte. É responsável por mais de 95% da energia de transporte. Apesar de o petróleo cru ser produzido em muitas partes do mundo, estima-se que em torno de 2030 sua produção esteja concentrada nos países Baseado em 10 bilhões de pessoas Fonte: Shell International, Ltd. 69 ração nuclear em favor de alternativas mais baratas e com maior aceitação como, por exemplo, o gás natural. Entretanto, novos desenvolvimentos na tecnologia de reator nuclear, com projetos "intrinsecamente seguros”, podem tornar a energia nuclear uma alternativa viável ou suplementar aos combustíveis fósseis, especialmente se o seqüestro de carbono em grande escala vir a ser impraticável ou indevidamente caro. B. Sistemas de propulsão e desenvolvimentos em combustíveis a eles associados motores ID serão a opção para o desliga- Embora os motores diesel já apresentem mento de motor inativo sem hibridiza- uma altíssima eficiência, ainda existe ção. Motores de ignição por centelha potencial técnico para o consumo com trem de válvulas variáveis e reduzido de combustível dos veículos a eletromecânicas e outras tecnologias de diesel, o qual depende muito da necessi- Nesta seção, examinaremos uma varie- redução da fricção, substituição por dade de controle das emissões ativas (fil- demanda, transmissões turbo e veloci- tros para particulados e separadores de dade polivalente permitirão a utilização NOx). A tecnologia de motor a diesel mais eficiente da energia com custos com futuro mais promissor é a HCCI adicionais em torno de 20%. A mais (carga homogênea de ignição comprimi- avançada tecnologia para motores a da, do inglês ‘homogeneous charge com- gasolina é a auto-ignição controlada pression ignition’). Este avançado proces- (AIC, da sigla em inglês CAI – Controlled so de combustão reduz a complexidade auto ignition) que poderá estar disponível dos sistemas de tratamento do gás de Dada a disponibilidade de combustíveis no mercado por volta de 2030 e repre- exaustão e pode estar disponível após mais limpos adequados, durante os pró- senta a alternativa futura aos sistemas de 2010. Processos de combustão parcial- ximos 30 anos a tecnologia MCI conti- combustão de ID que requerem sofistica- mente homogênea estão previstos para nuará a se aperfeiçoar. Em relação à tec- do pós-tratamento de NOx. mais cedo. futuro próximo motores menores de Por volta de 2010, a tecnologia de motor Motores a gasolina com queima incom- ignição por centelha tenham uma parcela diesel dominante será a da injeção direta pleta, especialmente com injeção direta muito maior do mercado de motor à com high turbo charging, intercooling e de combustível, diminuem a vantagem gasolina. A redução das dimensões e o downsizing. Estes motores usarão sistemas que o diesel tem em relação ao con- redesenho dos motores pode reduzir sua com pressão de injeção aumentada (até sumo de combustível se comparado a substituição em até 30% e, por sua vez, 2500 bar) e características de injeção total- motores a gasolina. A redução do levará a reduções significativas no con- mente variáveis (injeção-piloto, pós-injeção tamanho dos motores, que têm um maior sumo de combustível e CO2.2,3 e injeção multiválvulas, e fixação da taxa potencial para os motores a gasolina do Em torno de 2020, motores a gasolina de injeção). Bicos injetores com o tama- que para os motores a diesel, posterior- com injeção direta (ID) serão, provavel- nho do orifício de injeção otimizado e tur- mente encurtará essa lacuna. Em princí- mente, mais importantes do que boportadores de gás de exaustão com pio, regras muito restritas para descarga motores com injeção por orifício conven- geometria de turbina variável serão parte aumentarão o consumo de energia para cional. Tais motores podem vir a custar do desenho padrão. Turboportadores de todos os motores, mas sua extensão varia 10 a 15% mais do que aqueles com gás de exaustão assistidos eletricamente e com o tipo de motor. A escolha entre ignição por centelha convencional, tecnologias de trem de válvula variável descargas muito restritas de emissões e porque usam tecnologia avançada de estarão disponíveis por volta de 2020. emissões de GEEs é menos crítica para injeção e requerem pós-tratamento de Motores com estas características podem motores de injeção seqüencial e mais se- óxido de nitrogênio devido à queima custar 20% mais do que os atuais motores vera para motores a diesel DI. Os motores incompleta. De 2010 em diante, os diesel. a gasolina com queima incompleta (DI) dade de combinações de motor/combustível resumida na Tabela 3.1. Estas combinações são apresentadas nas seções seguintes com seus impactos potenciais sobre o uso da energia e das emissões. 1. MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA Fonte: Frost & Sullivan, Figura 2.2 nologia da gasolina, espera-se que num 70 situam-se entre estes dois extremos. A também pelos parâmetros do veículo. temas híbridos alcançam menor con- mesma ordem é válida para o custo adi- Previsões reforçam que até 2030, com- sumo de combustível: cional necessário para se atingir níveis parando-se às melhores práticas atuais extremamente baixos de emissões. para os veículos a diesel, haverá uma 1) O motor MCI pode ser totalmente redução específica de 20% no consumo desligado sempre que o veículo pára. Com o desenvolvimento do motor a de combustível veicular. Isto supõe que Híbridos usam sua bateria tanto para gasolina CAI e do motor a diesel HCCI, os todas as formas técnicas de motores, ligar o motor MCI quanto para dois tipos de motores podem vir a ficar transmissão e tecnologias veiculares acionar o(s) motor(es) elétrico(s) que muito mais próximos um do outro e com- (aerodinâmica, baixo peso, pneus e “lançam” o veículo quando o ope- partilhar características como injeção dire- acessórios eficientes) são levadas em rador deseja retomar o movimento. ta, mistura homogênea e auto-ignição. Ao consideração juntas. 2) O veículo híbrido pode tornar-se um mesmo tempo, no futuro, os dois poderão se fundir em um único tipo de 2. SISTEMAS DE PROPULSÃO Veículo Elétrico (VE) a baixas veloci- motor, combinando baixo consumo de HÍBRIDO-ELÉTRICOS dades, quando a eficiência do motor MCI é também baixa. combustível com emissões veiculares muito baixas, especialmente para óxidos O uso de sistemas de propulsão híbrido- de nitrogênio e particulados. Em algumas elétricos é um outro modo pelo qual a efi- regiões, isto pode tornar desnecessário o ciência do MCI pode ser aumentada e as são variável contínua (TVC), a ope- pós-tratamento do gás de exaustão. emissões convencionais e GEEs podem ser ração do motor pode ser otimizada. 3) Como resultado do uso da transmis- reduzidas. O termo “sistema de propulsão 4) Um motor de alta eficiência projetado O grande número de fatores influenci- híbrido elétrico” abrange uma ampla var- adores, incluindo diferentes característi- iedade de possíveis arranjos de conjuntos para alcançar a eficiência ótima durante cas técnicas, metas de custo e padrões motores. Todos combinam um motor a operação híbrida pode ser utilizado. de descarga, torna impossível uma pre- MCI ou uma célula combustível com um Isto pode ser um motor de alta taxa de visão quantitativa precisa da evolução do gerador, uma bateria e um ou mais moto- expansão com pequeno deslocamento, consumo de motores a gasolina e diesel. res elétricos, só que estes componentes usando tecnologia de queima incom- Podemos antecipar que até 2010 o con- podem ser arrumados de várias maneiras. pleta. Caso seja necessário, a bateria sumo de combustível por motores a O(s) motor(es) elétrico(s) pode(m) suportar pode trazer força extra, isto é, acele- gasolina cairá mais do que o de motores uma parcela maior ou menor de carga do ração quando o veículo já está rodando a diesel. Posteriormente, esta tendência que os veículos à propulsão. De uma for- em alta velocidade. se reverterá quando o diesel homogêneo ma geral, um veículo só é classificado tiver sido desenvolvido com sucesso. “totalmente híbrido” se puder ser, ao menos por algum tempo, acionado O consumo de combustível veicular e as somente pelo(s) motor(es) elétrico(s). emissões de GEEs são determinados não somente pela eficiência do motor, mas São várias as maneiras pelas quais os sis- 5) O motor elétrico pode funcionar como gerador para regenerar a eletricidade. Esta energia pode ser reutilizada como energia de propulsão em 2) e 4) acima. A eficiência da regeneração pode também ser melhorada através do uso de um sistema de freio regenerativo coordenado. Isto reduz a pressão no freio em resposta à força regenerativa do freio através do layout do motor, que reduz a perda de transferência de energia durante a desaceleração por dupla embreagem ou mecanismo de engrenagem planetário. O nível de consumo de combustível alcançado por um sistema híbrido depende do seu modo de operação – os efeitos serão limitados se o veículo anda à velocidade alta com aceleração/desaceleração e paradas rápidas. Entretanto, o consumo reduzido de combustível pode ser alcançado durante a operação [(3) acima] 71 e em combinação com motores de alta dos híbridos (assim como o de veículos relativamente pequeno e de baixo risco em eficiência [(4) na pagina anterior]. Em convencionais). Conseqüentemente, num oposição a outras opções de combustível, ambientes metropolitanos e suburbanos, futuro próximo, os veículos híbridos que devido à demanda das frotas existentes de a eficiência também sofrerá grande vari- tenham todas estas tecnologias de ponta veículos e à difundida disponibilidade de ação de acordo com o design do sistema incorporadas mostrarão reduções extre- uma infra-estrutura de distribuição. e suas especificações, com uma redução mas no consumo de combustível - supe- menor da eficiência em sistemas híbridos rior ao atual MCI convencional e aos veí- Para motores de ignição por centelha que desligam seus motores quando o culos MCI híbridos com espaço interior (inclusive os híbridos), a gasolina sem veículo está parado e que emprega semelhante. (Figura 3.3 - Comparações chumbo continuará a ser o combustível somente o freio regenerativo limitado. de Poço-a-Rodas). principal. Por volta de 2010, esta Os benefícios da otimização do desem- 3. COMBUSTÍVEIS PARA MOTORES globo terrestre, o que permitirá o uso penho de motores diesel são limitados e DE COMBUSTÃO INTERNA E de descarga com dispositivo catalítico promovem menores reduções no con- VEÍCULOS MCI HÍBRIDOS após os sistemas de tratamento. Entre gasolina estará disponível em todo o 2010 e 2030, a gasolina com baixo sumo de combustível quando comparados aos motores a gasolina. Por esta Embora haja uma enorme variedade de nível de dióxido de enxofre e o com- razão, motores híbridos a diesel serão portadores de energia alternativos, com- bustível diesel (freqüentemente menos mais apropriados a ônibus e caminhões. bustíveis MCI são comumente sinônimos de 10 ppm) serão padrões no mundo de gasolina e diesel refinados do petróleo desenvolvido e na maioria dos países Embora veículos MCI e MCI híbridos bruto. Nos últimos 30 anos, a redução das em desenvolvimento. nunca terão “emissão zero”, seu poten- emissões veiculares, tanto pela redução das cial de redução de CO2 por milha/km emissões produzidas pelo motor quanto Combustíveis com nível de dióxido de rodado é substancial, especialmente se pelo uso de catalisadores de escapamento e enxofre ultrabaixo não são necessários forem movidos por gasolina limpa ou sistemas ancilares, tem direcionado o aper- somente para veículos com emissões MCI movido a diesel. Alguns conjuntos feiçoamento destes combustíveis. extremamente baixas, mas também para Mudanças adicionais serão motivadas por conceitos que combinem emissões muito futuras tecnologias de motores à base de baixas com consumo de combustível combustíveis mais eficientes descritas neste drasticamente reduzido – motores de capítulo, pela redução da intensidade do queima incompleta a gasolina com cata- carbono fóssil dos combustíveis MCI e lisadores de armazenagem de NOx, pelas considerações da diversidade de captura de partículas sólidas ou ambos. motores híbridos elétricos atuais com funções híbridas básicas param de funcionar quando o veículo não está em movimento, para depois voltarem a funcionar; e os sistemas simples de regeneração de energia alcançam reduções significativas no consumo de combustível, comparados aos conjuntos motores a gasolina convencionais. Combinado à avançada aerodinâmica, redução da resistência ao rolamento (inclusive pneus de rolamento matéria-prima e segurança energética. A infra-estrutura de combustível desempen- Embora a tecnologia de refino do hará também um papel chave tanto nas petróleo bruto para produção de gasoli- redes separadas para novos combustíveis já na e diesel esteja bem estabelecida, existentes quanto nas vindouras. novos processos se tornaram necessários para produzir combustíveis com nível de baixa resistência) e alta eficiência do a) Combustíveis MCI que podem ser motor (ex., um motor que usa a tecnolo- de dióxido de enxofre superbaixo, distribuídos pela infra-estrutura de gia da queima incompleta e tem um necessário para possibilitar a operação combustíveis existente eficaz dos veículos atuais e futuros com ciclo de alta expansão) capaz de operar tecnologias limpas de descarga e para nas melhores condições, um sistema híbri- Provavelmente, a gasolina e o diesel con- do pode mostrar números ainda mais tinuarão sendo os principais combustíveis baixos de consumo de combustível. de transporte rodoviário para o MCI e seus derivados até 2030, talhados para 72 Podemos antecipar a contínua evolução permitir que a tecnologia mais eficiente de tecnologias em cada área dos compo- de motores e os sistemas de controle de nentes híbridos, incluindo controladores emissão veicular funcionem efetivamente. elétricos de motor, baterias e ajuste de Economias globais desenvolveram-se ao motor otimizado para sistema híbrido. redor destes combustíveis, com investi- MCIs limpas avançadas aerodinâmica, mento significativo nos processos de redução do peso do veículo e redução produção e nas redes extensivas de da resistência ao rolamento diminuirão infra-estrutura de fornecimento existentes. ainda mais o consumo de combustível O investimento em nova produção é reduzir a deterioração dos catalisadores especificações atuais dos combustíveis outras fontes renováveis são candidatos a dos veículos mais antigos. Esta profunda convencionais. São eles: componentes da gasolina. Motores dessulfurização produz uma enorme (diesel) com ignição por compressão, energia, principalmente devido ao alto Diesel-FT biodiesel contendo ésteres alquílicos de consumo de hidrogênio pelo processo. Este produto é um componente alta- ácidos graxos (ou FAME) derivados da bio- Sendo assim, melhorias nas emissões mente desejável ou combustível para massa (tais como o éster metilico de óleo locais acarretam custos nas emissões de motores a diesel por ter um número alto de colza ou RME) constituem uma opção. CO2 de refinarias. Logo, faz sentido de cetano e não conter enxofre e aroma- Na teoria, a energia derivada da biomassa, coordenar a introdução dos combustíveis tizantes, possibilitando a aplicação do que por si só se beneficia dos processos com nível de dióxido de enxofre conceito diesel com características de naturais que retiram CO2 da atmosfera superbaixo em veículos que têm conver- emissões muito mais favoráveis e con- enquanto a biomassa cresce, tem o poten- sores catalíticos para limpar as emissões sumo de combustível reduzido. O Diesel- cial de fornecer 100% das necessidades e que podem aproveitar as propriedades FT é derivado do gás natural e produzido mundiais de energia para o transporte, do combustível para alcançar emissões pelo processo Fischer-Tropsch (gasolina pressupondo-se que todos os resíduos da locais aperfeiçoadas e redução do con- FT ou nafta também são possíveis). biomassa sejam coletados e processados. sumo de combustível. Na realidade, uma porcentagem muito Mas há desvantagens. O processo FT menor é factível levando-se em conside- Atingir o melhor desempenho possível produz uma enorme quantidade de ração fatores sociais e comerciais. Todavia, com novas tecnologias de motor (tais energia, assim como altas emissões de biocombustíveis são fortes candidatos a como ignição de troca homogênea de CO2 nas refinarias. Embora o Diesel-FT uma importante fonte de combustível compressão) pode requerer mudanças possa se tornar competitivo com o diesel com baixo carbono para o futuro – uma na especificação da gasolina e do diesel. com baixo teor de enxofre, os custos são fonte que poderia reduzir os combustíveis Como tendência geral, a redução da altos (atualmente, o capital gira em tor- fósseis e oferecer a independência das intensidade do carbono no combustível no de US$ 2 bilhões por projeto). Talvez fontes de energia importadas. – diminuindo a proporção mais importante seja o fato de que seu carbono/hidrogênio dos combustíveis o sucesso econômico na situação atual do O potencial máximo dos biocombustíveis é máximo possível (no caso do hidrogênio, mercado, onde o petróleo bruto é ainda de difícil avaliação e reflete diversos fatores: eventualmente, a zero) e a diversificação do suprimento de energia – requererá comparativamente mais barato e abundante, depende muito do custo muito • Até que ponto o uso de culturas agrí- baixo do gás natural. Isto só é verdadeiro colas para a produção de com- para reservas longínquas de gás natural bustíveis competirá com a demanda No curto ou médio prazo, é provável que “encalhado”, distantes dos mercados de do uso dessas culturas para a alimen- a gasolina e o diesel, além de serem mais gás natural. Conforme assinalado anteri- tação ou usos comerciais. Em algumas rigorosamente refinados por processos de ormente neste capítulo, existe abundân- partes do mundo, biocombustíveis cia de tal gás natural. Mas as compli- derivados de culturas agrícolas podem cações e os custos para transportá-lo ou estar limitados aos recursos de terra e instalar fábricas FT em lugares adequa- água disponíveis. portadores de energia modificados. hidrogenação em refinarias modernizadas, receberão de modo crescente (e poderão, em certas circunstâncias, ser substituídos por) uma combinação de componentes derivados de outras fontes primárias que não o petróleo bruto. Tais componentes serão sempre preferidos por oferecerem benefícios de sustentabilidade, seja na redução das emissões locais e/ou de emissões globais, seja na maior segurança energética e/ou na redução da dependên- dos a seus mercados podem limitar o desenvolvimento do Diesel-FT como um dos principais combustíveis globais. • A dificuldade de avaliar com exatidão a redução potencial da real emissão de gases de efeito estufa quando todas as Embora o Diesel-FT produzido a partir do emissões de coleta de safra (usando gás natural não venha a se tornar um tratores a diesel, etc.) e o uso de fertili- combustível dominante, o potencial para zantes (que libera GEEs nitrogenados estender sua disponibilidade através do na atmosfera) são levados em conta. uso de outra matéria-prima, como cia do petróleo. Os combustíveis assim carvão ou biomassa, existe. No caso do • Falta de informação sobre custos reais modificados serão capazes de usar a infra- carvão, seria preciso o uso de seqüestro de uma variedade de rotas de produ- estrutura de fornecimento existente sem de CO2 para torná-lo aceitável em ter- ção de biocombustíveis. Economias de maiores modificações. mos de emissões de GEEs. escala provavelmente não se equipa- Vários combustíveis ou componentes Biocombustíveis convencionais logística necessária à produção de bio- alternativos oferecem emissões reduzidas Álcoois combustíveis, metanol e etanol combustíveis, e preferem trabalhar de descarga do motor superiores às provenientes do gás natural, biomassa ou com diversas usinas menores ao invés ram à indústria petrolífera devido à 73 de um número menor de grandes usi- de toneladas por ano) exigiria biomassa lizada. Quase todos operam com ignição nas. Para um futuro próximo, os custos lenhosa coletada de uma área equiva- por centelha e, para atingir o desempe- reais de produção deverão ser com- lente à metade do território da Bélgica. nho ótimo, combustíveis gasosos devem pensados por mecanismos de benefí- Alternativamente, uma usina de fermen- ser usados, preferivelmente, em veículos cios fiscais para muitas, se não para tação de lignocelulose em escala mundi- com combustíveis exclusivos ao invés de todas, as rotas de produção de bio- al (0,2 milhão de toneladas por ano) em sistemas bi-combustível ou sistemas combustíveis. consumiria um excesso de palha corres- com dualidade de combustíveis, onde os pondente a uma área de trigo plantado ajustes associados à operação bi-com- A biomassa não deve ser vista, na sua em aproximadamente um décimo do bustível significam que o veículo opera própria concepção, como uma entidade território da Bélgica. em condições inferiores para ambos os de combustível separada, mas sim como combustíveis. Entretanto, veículos bi-com- parte de um sistema de distribuição de b) Combustíveis MCI que exigem bustível são uma possibilidade para con- combustíveis à base de gasolina e diesel uma infra-estrutura separada de sumidores que não querem comprar em expansão que está se tornando lugar combustível veículos com um combustível alternativo comum em todo o mundo. Um grande exclusivo e para aqueles que desejam uti- desafio será o desenvolvimento e a ma- Combustíveis alternativos que não podem lizar combustíveis alternativos quando nutenção de padrões adequados que ga- ser usados como componentes de uma uma das duas opções for a mais atraente. rantam um suprimento consistente de mistura - gás liquefeito de petróleo (GLP), alta qualidade. gás natural comprimido (GNC), dimetil Os combustíveis gasosos, no tocante aos éter (DME) e hidrogênio – exigem um critérios de redução de poluentes, estão se Biocombustíveis avançados nível significativo de investimento em tornando menos atraentes à medida que o Novos métodos de produção de biocom- infra-estrutura de distribuição. Este investi- MCI, a tecnologia de descarga pós-trata- bustíveis “avançados” estão sendo mento representa uma barreira econômi- mento e o uso associado de gasolina e pesquisados para aumentar seu rendimen- ca para seu uso extensivo. diesel melhoram. A longo prazo, o benefício trazido por estes combustíveis é, entre- to ou para separar sua produção da de alimentos. Dois exemplos são a conversão Os custos com infra-estrutura aumentam tanto, limitado: oferece a possibilidade de de material lignocelulósico em compo- significantemente à medida que os líqui- menor dependência do petróleo e se nentes combustíveis através de enzimas e dos armazenados sob baixa pressão, equipara ao diesel no tocante às emissões a gaseificação da biomassa seguida do como o GLP ou DME, são transformados particuladas de veículos mais antigos. Mas processo Fischer-Tropsch (conhecido em combustíveis gasosos que exigem o uso de tratamento avançado de descar- como "biomassa para líquido" - BTL). armazenamento sob alta pressão, como ga eliminou a maior parte das vantagens GNC (gás natural comprimido) ou que o GNC possuía sobre veículos moder- Todos estes processos têm potencial para hidrogênio gasoso. O GLP derivado do nos a diesel. O GNC não está tão ampla- usar uma variedade de matérias-primas petróleo bruto ou gás condensado mente disponível como combustível de de biomassa, inclusive resíduos agrícolas requer somente uma “garrafa” ou transporte quanto a gasolina ou o diesel e ou municipais. A comercialização “tanque” pressurizado na infra-estrutura a estrutura de desenvolvimento tem sido bem-sucedida destas tecnologias tem a com distribuição feita basicamente por lenta. Entretanto, ele tem a preferência de capacidade de baixar o custo dos bio- caminhões ou vagões ferroviários. O muitos governos sobre o petróleo, pois os combustíveis a níveis mais competitivos e GNC e hidrogênio exigem uma distri- recursos estão mais bem espalhados pelo comparáveis aos da gasolina e do diesel buição mais sofisticada e segura e uma mundo e seu uso pode reduzir a convencionais. Entretanto, a taxa de pro- maior rede de armazenamento. O dependência das importações de petróleo. gresso necessária para atingir estes obje- hidrogênio requer também uma capaci- tivos será dificilmente atingida. Nem a dade de produção. 74 Apesar de o GNC enfrentar obstáculos inerentes a todos os combustíveis gasosos BTL (principalmente diesel), nem a produção de componente de gasolina ligno- Os combustíveis GNC e GLP têm méritos atuais, os motores GNC são capazes de celulósica (etanol) foram comprovadas no controle de emissões locais ou para alcançar emissões relativamente baixas em escala comercial. uso em frotas de transporte (principal- sem o tratamento avançado de descarga mente) em áreas urbanas onde o investi- demandado pelos motores a diesel. Um outro fator relevante é a logística da mento pode ser localizado e justificado Provavelmente por volta de 2030, se as matéria-prima, que requer produção de com base na redução de emissões locais tendências atuais e os incentivos governa- matéria-prima da biomassa numa escala comparadas às das frotas compostas por mentais continuarem, o GNC ganhará grande demais para ser totalmente diversos tipos de veículos. Os MCIs e os maior importância. Potencialmente, ele otimizada. Uma usina BTL em escala híbridos que rodam com combustíveis poderia suprir uma grande proporção da mundial (capaz de produzir 1,5 milhões gasosos demandam conversão especia- demanda total do transporte rodoviário, já sendo extraído em grandes volumes O Hidrogênio usado como um com- vencionais. A mais promissora tecnolo- para a geração de energia estacionária. A bustível MCI oferece emissões de descar- gia aplicada atualmente é a da membra- baixa densidade de energia do GNC ga veicular com zero CO2. Porém, a na de troca de próton (sigla em inglês, (comparado com combustíveis líquidos) e mobilidade completamente livre de CO2 PEM) da célula combustível operando conseqüentemente a reduzida variedade – zero CO2 do veículo e da fabricação do com armazenamento de hidrogênio a de propulsão veicular e energia específica combustível – só pode ser alcançada se o bordo. Armazenar hidrogênio constitui continuam sendo problemas do ponto de hidrogênio for produzido a partir de um desafio, pois tanques de hidrogênio vista dos consumidores. À medida que a fontes renováveis ou em combinação comprimido, tanques criogênicos e tanques infra-estrutura gasosa cresce, a operação com o seqüestro de carbono. O de hidretos metálicos não são ainda ade- de veículos bi-combustível provavelmente hidrogênio usado como combustível quados para veículos produzidos em continuará por um intervalo de tempo. MCI oferece também níveis poluentes massa. Outro grande problema a ser urbanos extremamente baixos. resolvido é a redução do nível de metais Mas o custo do investimento em preciosos de alto custo necessários na infra-estrutura permanecerá uma questão c) Sistemas de propulsão que não produção das pilhas combustíveis, uma central. Em alguns lugares, a existência utilizam MCIs – Célula combustível melhor tecnologia de membrana celular e de redes montadas para utilizar o supri- o acondicionamento do sistema de célula mento doméstico tem promovido o uso Sistemas de célula combustível, especial- combustível num veículo, de modo tal do GNC como uma alternativa viável de mente os que usam hidrogênio, atraem que forme uma percepção nos consumi- combustível. Apesar de o gás natural não cada vez mais a atenção. Se movidos com dores de um sistema seguro, confiável, ser um "combustível sustentável", sua hidrogênio derivado de fontes de car- atraente e financeiramente acessível. infra-estrutura tem sido usada na Suécia bono-neutro, veículos movidos a célula para distribuir biometano refinado do combustível (sigla em inglês, FCV) ofere- d) Combustíveis para célula com- biogás. Então, da mesma forma que os ceriam, de modo geral, a mais alta efi- bustível – produção centralizada de motores podem operar com hidrogênio, ciência energética no sistema de propul- hidrogênio numa estação de o desenvolvimento da infra-estrutura de são (mais de 40%) e as mais baixas emis- reabastecimento ou a bordo do distribuição do GNC pode fornecer a sões de GEEs. Como com os MCIs, seu experiência necessária para apoiar a desempenho pode ser melhorado ainda mobilidade baseada no uso do mais com projetos onde as baterias O conceito de célula combustível para uso hidrogênio como combustível. forneçam energia elétrica suplementar. veicular quase certamente será desen- Embora os benefícios adicionais da ener- volvido para operar com hidrogênio como O GLP traz vantagens sobre a gasolina gia da bateria sejam menores que os dos combustível, já que o hidrogênio é funda- em alguns, se não todos, os critérios de MCI híbridos (porque a célula combustí- mental para o funcionamento da própria poluentes (urbanos). Derivado de vel por si só é tão eficiente), algumas das célula combustível (a combinação de petróleo bruto e gás natural condensa- mesmas vantagens, tais como o freio do, sua estrutura de reabastecimento é regenerativo, ainda se aplicam. Tais con- mais bem organizada do que a de gás ceitos já estão em desenvolvimento. natural e ganhou alguma aceitação como uma alternativa ao diesel e à gasolina, particularmente em frotas de veículos. Como combustível líquido, a percepção do consumidor sobre sua segurança é razoável e seu preço é relativamente acessível quando comparado a outros combustíveis alternativos. Estimase que, por volta de 2030, a infra-estrutura de reabastecimento do GLP terá expandido, já que a instalação de novos postos de reabastecimento não é dispendiosa. O GLP permanecerá, provavelmente, como um combustível nicho na maioria dos mercados, embora talvez seja mais amplamente utilizado em mercados nacionais selecionados. O principal atrativo da célula combustível reside em sua alta eficiência e contribuição para diminuir (talvez zerar) as emissões de GEEs aliadas à potencial difusão da disponibilidade de hidrogênio em uma variedade de recursos. Uma outra característica atraente é a garantia de que as emissões veiculares permanecerão em nível zero mesmo quando o veículo se tornar velho e seu proprietário não mantiver uma boa conservação. próprio veículo hidrogênio e oxigênio gera energia elétrica e água). Veículos com célula combustível de hidrogênio produzem emissões "zero" de escapamento (desconsiderando-se as emissões de vapor de água). O impacto nos GEEs do hidrogênio e da célula combustível depende da disponibilidade do hidrogênio em processos ou ainda de outras fontes que sejam por si mesmas baixas em produção de gases de efeito estufa. Se o hidrogênio for derivado da água por eletrólise, utilizando eletricidade produzida com energia renovável (solar / hidrelétrica / eólica / geotérmica), o sistema completo - desde a produção de combustível até o Não obstante as promessas de resultados uso final deste no veículo - tem o poten- finais, obstáculos precisam ser superados cial de se tornar um verdadeiro sistema de antes que a célula combustível possa ser “emissão zero” (que não produz emissões considerada uma alternativa comercial nem de gases de efeito estufa, nem de realista para sistemas de propulsão con- poluentes locais). 75 O mesmo quase completamente se apli- desenvolvimentos na reformulação da características de custo de possíveis combi- ca ao hidrogênio derivado de fontes fós- tecnologia podem servir como ponte para nações de sistemas de propulsão/combus- seis, onde o CO2 produzido durante a um futuro a longo prazo baseado no tíveis quanto a sua produção comercial em fabricação de hidrogênio é capturado hidrogênio produzido de maneira centra- larga escala. No entanto, tais avaliações por seqüestro. Neste caso, a única dife- lizada. Se sistemas reformadores menos são importantes, mesmo que seja só para rença é a emissão local de poluentes complexos forem desenvolvidos (possivel- ilustrar a natureza dos desafios a serem durante a fabricação do hidrogênio. mente em torno de 2010), eles provavel- vencidos para tornar estas tecnologias Ambos oferecem opções de mobilidade mente demandarão metanol ou com- comercialmente viáveis. com ”gás de efeito estufa quase zero”. bustíveis altamente parafinados e livres de enxofre, talvez parecidos com com- É também importante focalizar a inevitável As tecnologias para a fabricação do bustíveis GLT (gás natural para líquido). Ao fase de transição entre as atuais combi- hidrogênio a partir do carvão, gás natural invés de estarem disponíveis a bordo dos nações de sistemas de propulsão/combus- ou eletrólise da água são bastante conhe- veículos, tais sistemas estariam disponíveis tíveis veiculares e os sistemas futuros. É fácil cidas e aplicadas comercialmente, em em postos de reabastecimento de varejo. imaginar uma situação em meados deste especial na indústria petrolífera, onde o século onde um grande número de veícu- hidrogênio tem sido utilizado cada vez Estes combustíveis muito especializados los com o novo sistema de propulsão será mais para a produção de gasolina e de não seriam necessariamente compatíveis abastecido com combustíveis de energia diesel com baixo teor de enxofre. Quase com a infra-estrutura existente de com- renovável. Mas ir da situação atual até este 90% do hidrogênio de alta pureza produ- bustíveis MCI. Eles provavelmente ponto, e ainda continuar além, será desafi- zido atualmente deriva da reforma a vapor demandarão sistemas separados ou mo- ador. Passos intermediários que harmoni- do metano do gás natural, e espera-se que dificações significativas na infra-estrutura, zem tecnologias veiculares, números de esta continue a ser a rota dominante e a dando origem a segregações e extensões veículos e combustíveis com a qualidade e mais econômica no futuro próximo. que garantam a entrega dos combustí- quantidade requeridas e garantam compat- Avanços tecnológicos na produção e dis- veis corretos e descontaminados. Talvez ibilidade adequada com as tecnologias já tribuição de hidrogênio serão necessários ainda mais importante é o fato de os existentes no mercado serão, com certeza, para baixar o custo e aumentar e eficiência reformadores de bordo não oferecerem necessários. energética destes processos. qualquer vantagem no tocante à diversidade de matéria-prima e pouca ou nen- 1. CARACTERÍSTICAS DAS EMISSÕES A transição para uma infra-estrutura de huma vantagem em emissões de GEEs DE GEES hidrogênio completamente desenvolvida ou eficiência energética superior aos sis- que permita a expansão do mercado de temas MCI avançados – apesar da apli- Para avaliar o impacto potencial das veículos seria um empreendimento cação de unidades auxiliares de potência várias combinações de novos sistemas de maciço, especialmente no que tange à à base de célula combustível combinada propulsão/combustíveis nas emissões de criação de um produto seguro disponível com reformador em veículos pesados gases de efeito estufa é necessário para um mercado de consumo de massa. poder ser um atraente método de ger- empregarmos uma metodologia conhe- Em qualquer fase de transição, é pouco ação de energia elétrica. cida como “Análise de Poço-a-Rodas” (WTW). Esta abordagem leva em conta provável que haja suficiente demanda de hidrogênio para justificar o investimento em produção e distribuição em larga escala, com exceção de algumas localidades vantajosas. Célula combustível que utilize combustível líquido pode reduzir enorme- C. A evolução e os impactos potenciais da combinação de diferentes sistemas de propulsão e combustíveis do determinado combustível é usado no veículo (“Tanque-a-Rodas” – TTW), mas também os GEEs emitidos na produção e distribuição de determinado combustível (“Poço-a-Tanque” – WTT). Se nos concentrarmos nas emissões de GEEs produzidas pelo combustível consumido mente (ou mesmo eliminar) este proble- 76 não somente os GEEs produzidos quan- ma, já que pode usar combustíveis que As combinações de sistemas de propulsão por um veículo, poderemos ter uma estão, ou podem se tornar, disponíveis e combustíveis até aqui destacadas encon- impressão enganosa do real impacto de dentro da atual infra-estrutura de tram-se em estágios completamente dife- GEEs dessa combinação de sistema de abastecimento. No momento, somente rentes de desenvolvimento. Alguns estão propulsão/combustível. Isto porque as células combustíveis equipadas com um em uso comercial hoje, enquanto outros reduções causadas por melhorias no reformador de bordo podem usar com- estão em seus estágios iniciais de veículo podem ser contrabalançadas – bustíveis líquidos desta forma. Embora desenvolvimento. Devido a estas diferen- ou excedidas – por aumentos nas estes conceitos pareçam muito complexos ças, é altamente especulativa qualquer emissões resultantes da produção e dis- para a aplicação em um carro particular, avaliação do futuro desempenho ou das tribuição desse combustível. A Figura 3.3 mostra a estimativa do pro- motores para reduzir as emissões de (emissões de WTT) são negativas, jeto para emissões de WTW em várias gases de efeito estufa. refletindo o fato de que as fábricas combinações de combustíveis/conjuntos onde os biocombustíveis são produzidos motores, projetando-se 10 a 20 anos (ou A Figura 3.3 demonstra também que o são absorvedoras diretas de carbono. mais) no futuro, sendo cada combinação total de emissões de GEEs de WTW de Todos os estudos de WTT consultados separada em seus componentes WTT e veículos movidos a hidrogênio depende pelo PMS enfatizam a dificuldade de TTW. Como mostra a Figura 3.3, todas as quase que inteiramente do processo mensurar com precisão as emissões de combinações usando motor MCI e qual- usado para produzir e distribuir o hidrogê- GEEs geradas pela produção de biocom- quer combustível, exceto hidrogênio, têm nio, o qual apresenta grandes variações. bustíveis e também salientam a emissões TTW relativamente altas. A De fato, alguns métodos de produção de dificuldade de determinar os créditos economia de CO2 a partir da biomassa – hidrogênio têm emissões de WTT tão combustíveis derivados – ocorre na parte altas que estas emissões excedem às dos WTT da cadeia produtiva quando as atuais sistemas MCI de gasolina. apropriados de seqüestro de carbono para alocá-los ao crescimento da biomassa que é subseqüentemente plantas absorvem CO2 da atmosfera durante seu crescimento. Somente uma É também evidente que os biocom- convertida em biocombustíveis. visão holística das emissões de CO2 numa bustíveis/MCIs às vezes têm emissões de análise WTW pode demonstrar os benefí- WTW muito baixas. Isto se dá porque as cios/desvantagens de diferentes tecnolo- emissões de CO2 produzidas pela pro- gias de combustíveis e de conjuntos dução e distribuição de combustíveis 2. CUSTOS DE PROPRIEDADE E OPERAÇÃO DE VEÍCULOS E A RELAÇÃO CUSTO-BENEFÍCIO DE Figura 3.3 Poço-a-Rodas (Poço-a-Tanque + Tanque-a-Tanque) – emissões de GEEs para vários combustíveis e combinações de sistemas de propulsão Emisses Tanque-a-Tanque Emisses Poo-a-Tanque 0 50 100 150 200 250 300 Calculado por VKA. Calculado por BP, a partir dos dados da GM. Resultado líquido da energia usada no processo de conversão. Baseado em números Hydro. Fonte: Cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. 77 DIVERSAS COMBINAÇÕES DE CONJUN- da EUWTW definisse um cenário no qual TOS MOTORES/COMBUSTÍVEIS PARA o nível de serviços de transportes execu- A REDUÇÃO DAS EMISSÕES DE GEES tados ao longo de cada um desses caminho fosse comum. Isso determinou o Avaliar o custo de veículos e combustíveis número de veículos a serem produzidos que podem não estar disponíveis ainda e vendidos e o volume de combustível por muitas décadas é um exercício que deveria ser produzido e distribuído. tremendamente desafiador. Além do mais, os resultados de tal exercício podem ser O cenário desenvolvido na EUWTW pre- facilmente mal interpretados. As pressu- tendia refletir as condições de locomoção posições devem ser feitas com cuidado e em 25 estados da União Européia a partir as limitações da análise precisam ser de 2010. Os veículos caracterizados por claramente compreendidas. cada combinação conjunto motor/combustível eram responsáveis por 5% das via- Ao mesmo tempo em que o PMS exami- gens projetadas para a UE-25 durante na os conjuntos motores veiculares e as 2010 – 225 bilhões de quilômetros. questões dos combustíveis, o ‘Conselho Europeu para Pesquisa e Desenvolvimento Numa taxa de utilização simulada de Automotivo’ (EUCAR), a ‘Organização 12.000 quilômetros por veículo ao ano, Européia das Companhias de Petróleo são necessários aproximadamente 14 para o Meio Ambiente, Saúde e Segu- milhões de veículos. Para tais combi- rança’ (CONCAWE) e o ‘Centro de nações conjuntos motores/combustíveis Pesquisa Conjunta da Comissão demandando uma infra-estrutura dife- Européia’ (JRC) engajaram-se num rente de combustível, foi simulado que esforço colaborativo para fornecer tais 20% dos postos de reabastecimento na informações. Os objetivos deste estudo UE-25 (mais ou menos 20.000 postos de conjunto foram estabelecer, de maneira reabastecimento) precisariam fornecer o transparente e objetiva, um consenso combustível sobre o uso de energia poço-a-rodas e a os autores da análise cuidadosamente avaliação das emissões de GEEs em uma apontaram, este cenário é um exercício variedade de combustíveis automotivos e analítico – não um julgamento de que tal conjuntos motores, que fossem apropria- nível de penetração será tecnologica- dos para a Europa em 2010; considerar a mente possível ou economicamente viabilidade do desenvolvimento de cada prático em torno de 2010: (EUWTW 2004, pp. 20-22). Como combustível e avaliar os custos macroeconômicos associados; e obter “Meramente em termos de disponibili- Source: EUWTW 2004, p. 17. um resultado que fosse aceito como dade dos recursos energéticos, todas as referência por todos os stakeholders. alternativas consideradas tinham, a veículo comum “virtual”, com as carac- Muitos relatórios detalhando e documen- princípio, potencial para alcançar o nível terísticas de um típico sedan de cinco tando esta iniciativa foram publicados no de substituição de 5%. Isso não implica lugares europeu, comparável ao Golf da final de 2003 e início de 2004 em exeqüibilidade prática, particular- VW. Para obter uma estimativa do valor de mente dentro do período do estudo. De varejo, os autores do estudo subtraíram um esforço com objetivos comuns, fato, em diversos casos, limitações práti- primeiro o preço do motor de combustão decidimos usar seus resultados em cas e técnicas demonstram que este nível interna original para o veículo em referên- nosso projeto. de penetração é improvável dentro do cia (a 1,6 litros motor PISI) assim como período de estudo”. outros componentes que não seriam 2003, 2003a e 2004) . (EUWTW Ao invés de duplicar (EUWTW 2004, p. 22). necessários (i.e., certos controles de emis- Os diferentes caminhos a serem percorri- 78 Nota: A Análise Européia WTW admite a capacidade líquida do tanque de 4,7 kg de hidrogênio comprimido para seu veículo movido a célula combustível de hidrogênio. Em relação ao custo do tanque mostrado na tabela acima (expresso em termos de /kg de hidrogênio armazenado), o tanque de combustível de um veículo projetado para carregar 4,7 kg de hidrogênio comprimido custaria entre 2700 e 2900 dependendo da pressão de armazenamento admitida. dos por combinações de Avaliar o possível aumento do preço no sões). Eles então adicionaram o preço combustíveis/conjuntos motores varejo de veículos usando cada uma das (conforme estimado por outros) dos com- envolvem diferentes níveis de investi- aproximadamente 50 combinações con- ponentes dos novos conjuntos motores mentos em veículos e combustíveis. Para juntos motores/combustíveis provou ser que o veículo “virtual” demandaria. A comparar os custos destes diferentes um desafio particularmente difícil. Para Tabela 3.2 mostra os preços pressupostos caminhos, foi necessário que o projeto tal, os autores do estudo escolheram um para estes vários componentes. As estimativas do preço superior do veículo no varejo devido unicamente a esta Figura 3.4 Estimativa adicional do preço do veículo no varejo relativo a veículo ano 2002 a gasolina PISI substituição do conjunto motor estão demonstradas na Figura 3.4 ao lado. Os autores consideraram as estimativas dos custos adicionais dos veículos movidos a célula combustível altamente incertas. Hoje, o custo de células combustíveis é alto demais para que possam ser usadas comercialmente. A partir dos próximos anos, os fabricantes de veículos em todo o mundo trabalharão para determinar se questões técnicas envolvendo o uso de célula combustível como meio de propulsão veicular podem ser resolvidas e, assim, reduzir substancialmente o seu custo. Existe também um alto grau de incerteza com referência ao custo de produção e distribuição de hidrogênio para veículos movidos a célula combustível. Há uma ampla variedade de estimativas sobre quais seriam estes custos, especialmente para hidrogênio produzido através de processos que não resultem eles mesmos em emissão de volumes significativos de CO2. 80 A Tabela 3.3 sintetiza os resultados dos 5% de substituição do cenário da EUWTW. A primeira e a segunda colunas Fonte: EUWTW 2004, p. 17 identificam o combustível e o conjunto motor analisados. Onde é significativo, a emissões de GEEs WTW do que o veículo reformador de bordo usando metanol primeira coluna mostra o processo pres- em referência. produzido da madeira em um veículo com um conjunto motor híbrido de célula suposto para a produção do combustível. A terceira coluna mostra a quantidade total de combustível que esta combinação veículo/conjunto motor demandaria – expresso em PJ (petajoules) /ano – para fornecer 25 milhões de quilômetros veiculares de capacidade de transporte. A coluna quatro mostra mudanças no uso da energia WTW (expressa em PJ/ano), enquanto a coluna cinco mostra mudanças nas emissões de GEEs WTW As colunas seis, sete e oito mostram o com bustível). O custo por tonelada do custo adicional do WTT, o custo do CO2 equivalente evitado exibe uma faixa veículo e o custo total, respectivamente, igualmente ampla – de mais ou menos para a combinação conjunto motor/ € 200 a mais de € 6500. 8 combustível, expressos em bilhões de euros por ano. A coluna nove, coluna O estudo da EUWTW ajuda a colocar final, mostra o custo por tonelada de em perspectiva o potencial relativo das CO2 evitado (em diversas combinações conjuntos por tonelada de CO2 equivalente) para cada combinação conjunto motor/combustível onde tal número for representativo6. motores/combustíveis para reduzir as emissões de GEEs decorrentes do transporte e o custo relativo desta ação. No capítulo (expressas em toneladas métricas de CO2 final deste Relatório, voltaremos aos resul- equivalente/ano), ambos em relação ao O custo total adicional por ano, relativo veículo em referência. Onde o número ao caso em referência, varia de menos na coluna quatro ou cinco for negativo, de 1 bilhão (para diesel-FT em um a combinação conjunto motor/combus- veículo usando NG com um conjunto para reduzir os GEEs decorrentes do trans- tível demandará mais energia do que o motor CIDI+DPF2) a mais de porte de formas que a sociedade possa veículo em referência ou gerará mais (para hidrogênio indireto gerado por um 30 bilhões tados do estudo da EUWTW, ao mesmo tempo em que examinaremos abordagens considerar aceitáveis e acessíveis. 79 Fonte: EUWTW 2004, p. 22. 80 II. Outras tecnologias veiculares além dos sistemas de propulsão O potencial para aperfeiçoar a sus- O que explica o aumento de peso na O peso de alguns componentes tem tentabilidade do sistema de transporte mesma classe? À medida que os veículos sido reduzido através de mudanças no é determinado em parte pela combi- evoluíram, ganharam mais e mais carac- design e da substituição de materiais. nação de sistema de propulsão/com- terísticas - aditivos para aumentar a Mas estas reduções têm sido mais do bustível empregado. Mas os materiais segurança, melhorar as condições de que compensadas pelo crescimento em usados na construção, as tecnologias direção, reduzir o barulho, reduzir as peso decorrente do aumento da fun- de segurança utilizadas, a disponibili- emissões e aumentar o conforto. Isto cionalidade do veículo. dade de sistemas eletrônicos otimiza- demandou a adição de novos compo- dos, as características dos pneus dos nentes no interior do veículo, na carroce- Existem dois meios principais pelos veículos e outras características do ria e no chassis. De modo crescente, quais o peso dos veículos da mesma design do veículo podem também estes componentes têm sido estruturais. classe pode ser reduzido: (1) pelas impactar os indicadores de mobilidade Eles também são elétricos ou eletrônicos mudanças no design relacionadas à sustentável do PMS. – por exemplo, a capacidade dos sis- aparência do veículo, assim como temas elétricos teve que ser aumentada mudanças tornadas possíveis pela para lidar com as demandas adicionais geometria disponível para cada parte de energia elétrica. Carros mais pesados e (2) pela substituição direta por A. Mudanças no uso de materiais Em média, o peso dos veículos leves na demandam também equipamento materiais mais leves (alumínio, aço adicional para manter seu desempenho de alta resistência, magnésio, plásticos). de direção. Freqüentemente, essas mudanças são Europa tem aumentado em torno de 30% nos últimos 30 anos. No mesmo Figura 3.5 – Peso dos carros compactos europeus na data da introdução do modelo período, a média do peso dos veículos leves nos EUA – que era (e ainda é) significantemente mais alta do que na Europa – caiu 21% (de 1.845kg em 1975 para 1.445 kg em 1.981/82) antes de voltar a aumentar. Em 2003, o peso voltou aos níveis de 1975 e ganhou 24% desde 1981/82. Os aumentos no peso médio dos veículos nos EUA e na Europa refletem o impacto combinado de duas tendências: o aumento do peso médio dos veículos dentro das classes individuais de veículos (vide Figura 3.5) e o aumento na proporção do total de venda de veículos representado por classes maiores de veículos. Fonte: FKA 2002 81 implementadas ao mesmo tempo e são alumínio primário requer uma grande massa e do tamanho (comprimento) do interdependentes. Além disso, a redução quantidade de energia para ser produzi- carro do motorista e da massa e do do peso gera o potencial para reduções do, mas somente uma fração desta ener- tamanho (comprimento) do outro carro de peso posteriores - por exemplo, gia é necessária quando alumínio recicla- envolvido. (Os resultados do risco qualita- através do uso de motores menores (e do é usado. Se somente alumínio primário tivo em sua análise estão todos relaciona- mais leves) com a manutenção do for usado para a redução do peso, 45% dos exclusivamente à colisão com dois desempenho. da economia potencial de energia na fase carros. Entretanto, Evans afirma que é de uso da vida do veículo é "perdida". plausível interpretá-los como refletindo Na maioria dos casos, uma solução que Entretanto, alumínio reciclado provavel- princípios transferíveis para colisões em torne um veículo mais leve será mais cara mente representará uma parcela significa- geral. Ele então utilizou esta equação para do que os projetos comuns empregando tiva do alumínio usado na construção de explorar os aumentos de tamanho (com- aço temperado. Conseqüentemente, estas veículos no futuro. De fato, os primento) que seriam necessários para soluções não são competitivas, a não ser pesquisadores do PMS que conduziram a reduzir os riscos dos ocupantes do que o consumidor esteja preparado para análise de materiais estimaram que, em primeiro veículo e dos ocupantes do(s) aceitar alguma recompensa pelo peso 2030, 42% do total da demanda de outro(s) veículo(s) contra o(s) qual(is) o reduzido, ou a menos que estas soluções alumínio ligada a veículos será atendida primeiro colidiu. Resumindo, a análise de simplifiquem a produção e/ou aumentem por alumínio secundário. Aplicando-se Evans mostra como os veículos podem ser a segurança. Materiais diferentes repre- esta porcentagem à estimativa citada mais leves e mais seguros. sentarão um potencial diferente para a acima, há uma redução da "perda" na redução do peso e também terão impac- fase de uso com economia potencial de tos diferentes nos componentes do custo. combustível de 45% para entre 10 a 30%. Evans ressalta que seu estudo não considerou o design no tocante à rigidez estrutural ou a detalhes geométricos. Por Peso (massa) e segurança dos ocupantes no peso do veículo pode proporcionar de do veículo métodos de design específicos para 5 a 7% de economia de combustível (em A segurança dos ocupantes do veículo é aumentar o comprimento do veículo e termos de mpg), uma vez que o conjunto uma função do peso do veículo (massa), ao mesmo tempo reduzir a massa. Seria motor do veículo ou km/l seja também geometria estrutural e distância de “coli- necessária somente a substituição do reduzido em tamanho (PAI 2000). Se o são”. A natureza desta relação é complexa material para produzir um veículo longo peso do veículo for reduzido, mas não for e envolve compensações. Por mais de mais leve do que seu projeto original. feita nenhuma mudança no conjunto três décadas, estabeleceu-se que, quando Isto provavelmente demandaria o uso motor, a economia de combustível será ocorre colisão no tráfego, os ocupantes crescente de materiais leves, os quais menor – geralmente em torno de 3 a 4%. de veículos mais pesados/maiores correm tendem a ser mais caros do que o aço. Economias efetivas dependem do veículo menos risco do que os ocupantes de em questão e do ciclo de direção. veículos mais leves/menores. Entretanto, Evans também não discutiu se a com- Adotando o ponto médio desta faixa e numa colisão com dois veículos, um pensação massa/tamanho (peso/compri- traduzindo porcentagens em números aumento da massa em um dos veículos mento) que sugeriu poderia ser reduzida. absolutos, projetamos economias de 0,46 expõe os ocupantes do outro veículo a Algumas empresas do PMS acreditam litro de gasolina para cada 100 quilos de um risco maior. O tamanho maior do fortemente que, por meio do uso de redução de massa. Ao longo da vida do veículo protege também seus ocupantes, design estrutural e materiais adequados, veículo, isto representa uma economia de mas sem causar qualquer impacto adver- os veículos possam ser feitos não só mais emissões de CO2 da ordem de 25,2 quilos so aos ocupantes dos veículos contra o leves e seguros, mas também menores. para cada quilo de redução de peso 10 . Impacto energético total decorrente do uso de materiais A economia líquida de energia e, conseqüentemente, a redução total de GEEs 11 qual ele venha a colidir. Peso e condução & manobra A massa e o tamanho do veículo estão A redução do peso do veículo pode me- fortemente relacionados, o que torna lhorar a condução e a manobra e reduzir a difícil determinar os papéis causativos distância de freamento. Soluções de separados da massa e do tamanho em redução de peso podem aumentar a relação aos riscos. firmeza e assim melhorar a manobra. dos diferentes materiais usados depen- 82 ser genérico, seu estudo não ofereceu Uma regra prática é que 10% de redução Soluções de redução de peso para compo- dem também do consumo de energia na Recentemente, Evans mostrou uma forma nentes específicos também podem melho- produção dos materiais. Esta, por sua analítica de avaliar esses papéis ao desen- rar a distribuição de peso do veículo. vez, pode ser relativamente sensível à volver uma equação que expressa o risco proporção de uso de material secundário de fatalidade do motorista numa colisão Estratégias para redução do peso versus material primário. Em particular, o com dois carros como uma função da Conforme assinalado anteriormente, exis- Figura 3.6 Oportunidades de reduções primárias e secundárias de peso de peso” cortou 116-143 kg adicionais, tria mais otimizada e posterior chegando o peso final do veículo a redução de peso. 785-887 kg (barra de baixo). A economia total de peso, entretanto, variou entre 342-444 kg, ou entre 28-36%. • Redução do custo de fabricação Diferentes materiais podem permitir o uso de processos alternativos de Economia potencial de peso para compo- fabricação, reduzindo o custo de fa- nentes individuais bricação. Processos como extrusão Estudos diferentes têm identificado de ligas de alumínio e moldagem do faixas no potencial de economia de magnésio são freqüentemente uti- peso para componentes individuais. A lizados para oferecer soluções impos- variação do potencial de economia de síveis com o uso do aço. Em alguns peso depende, em parte, dos julga- casos, o uso de materiais leves pode tem dois modos principais pelos quais o mentos referentes às possíveis melho- levar ao aumento do custo de fabri- peso de um veículo pode ser reduzido. rias na geometria dos componentes a cação. Um exemplo disso é a solda Um deles está nas mudanças no design serem substituídos. Quanto mais um de alumínio, geralmente mais cara relacionadas à aparência do veículo e componente puder ser otimizado em do que a solda de aço temperado. possíveis mudanças decorrentes da relação à função e geometria, mais geometria disponível para cada parte. peso poderá ser reduzido. Fonte: FKA 2002, p. 8 Um outro modo é a substituição direta de materiais mais pesados por mais leves. • Design otimizado Para oferecer soluções competitivas Comumente, os materiais leves são baseadas em materiais leves, o alumínio, magnésio, aço de alta design tem sido adaptado ao materi- Um estudo recente patrocinado pela resistência e diversos plásticos. al usado. Oportunidades de otimiza- Associação Européia de Alumínio e con- Aplicações destes materiais já estão ção de peso, integração de funções duzido pelo instituto de pesquisa alemão largamente disponíveis e incorporadas e redução do número de compo- FKA ilustra o potencial para a redução em muitos veículos. Muita inovação e nentes e junções podem ser ampla- cumulativa de peso (FKA 2002). O carro desenvolvimento em design estão ocor- mente exploradas. Freqüentemente, usado como referência neste estudo foi rendo, o que aumenta as chances de isso demanda adaptação das desenvolvido por meio de uma combi- utilização do potencial dos materiais condições dos “limites definidos”, nação de valores médios para cinco para melhorar a sustentabilidade. tais como espaço de acondiciona- diferentes carros compactos europeus, mento de componentes ou soluções utilizando uma metodologia específica Requisitos para uma substituição de fixação. Soluções totalmente para decompor o carro em um conjunto bem-sucedida por materiais mais leves otimizadas são mais comumente usável de componentes. A seguir, um Ao reduzir o peso do veículo pela intro- encontradas quando soluções leves carro referência de aço foi construído dução de materiais leves como o são consideradas nos estágios iniciais usando pesos médios para as partes alumínio e o magnésio, o preço do do desenvolvimento dos projetos. feitas de aço. O peso deste carro conven- material por quilo é significantemente cional foi então comparado ao peso do mais alto do que o do aço temperado. carro usando soluções de alumínio. Embora o fabricante do veículo possa aceitar algum aumento de preço para Os resultados do estudo estão ilustrados diminuir o peso do produto, este custo na Figura 3.6. A barra do topo na Figura do material representa uma questão 3.6 mostra o peso do veículo referência importante de marketing. Existem de aço – 1.229 kg. Usando uma varie- diversas estratégias para compensar os dade de partes de alumínio, foi possível custos: Tecnologias de Sistemas de Transportes reduzir o peso do veículo entre 226-301 kg, produzindo um peso veicular entre B. Tecnologias de Sistemas de Transportes Inteligentes (STI) • Redução de peso Inteligentes (STI) têm potencial para 928 kg e 1.003 kg (barra do meio). Minimizar o peso de um componente capacitar indivíduos, operadores de Seguindo esta “redução primária de pode reduzir significantemente o veículos e governos a tomar decisões peso”, foi possível reduzir ainda mais o efeito do preço mais alto do material. melhores e mais seguras. Tecnologias STI peso sem sacrificar o desempenho do Além disso, em relação ao peso incluem uma variedade de tecnologias veículo, já que este poderia usar um específico do material, materiais alter- de comunicação sem e com fio, a maior- motor menor. Esta “redução secundária nativos podem permitir uma geome- ia das quais foi originalmente criada para 83 as telecomunicações, a tecnologia da veículos de hoje. Sistemas elétricos de informação e os setores de defesa antes voltagem mais alta permitirão que estes são predição da velocidade da curva, de ser aplicada ao tráfego e ao transporte. limites sejam superados. Juntas, estas aviso da velocidade, condições da tecnologias abrirão novas possibilidades estrada, apoio em cruzamento e Entre as principais tecnologias capacita- de suporte ao motorista, contribuindo infra-estrutura de comunicação do doras de STI estão a microeletrônica, a potencialmente para a melhoria da segu- veículo. Estes sistemas ajudam a navegação por satélite, a comunicação rança e do fluxo de tráfego. manter o motorista informado sobre móvel e os sensores. Quando integradas a velocidade recomendada em aos veículos e ao sistema de infra-estru- Um obstáculo a ser superado é o nível determinada estrada e ambiente ou tura de transporte, estas tecnologias necessário de penetração no mercado quando se aproxima de curvas, con- podem ajudar a monitorar e administrar para tornar viáveis algumas dessas tec- gestionamento ou alertas das o fluxo de tráfego, reduzir o congestion- nologias. O impacto de tecnologias mais condições da estrada. Ao fazer isso, amento, oferecer rotas alternativas a via- avançadas, contando com infra-estrutura eles têm um potencial para aumen- jantes e salvar vidas. de comunicação veículo-veículo/ veículo- tar a segurança e melhorar o fluxo infra-estrutura, será severamente limitado de tráfego. A velocidade inapropria- As aplicações STI em mais amplo uso são se poucos carros forem equipados com da está intimamente ligada ao risco os sistemas de gerenciamento de os sistemas eletrônicos necessários. A e ao grau de seriedade da colisão. tráfego, sistemas de informação ao via- penetração mínima para uma eficiência jante e coleta automática de pedágio. significativa está em torno de 20%. Uma Estas aplicações focam primariamente o opção é introduzir unidades a bordo Os exemplos são conservação das aperfeiçoamento da “inteligência” da com capacidade de comunicação e loca- faixas, aviso de pontos cegos e infra-estrutura12. As tecnologias STI estão lização aliada a outros sistemas, como a assistência para troca de faixa de agora sendo integradas aos veículos. A sinalização automática de emergência. rolagem. Estes sistemas diminuem o tendência para futuros desenvolvimen- • Apoio ao uso das faixas de rolagem. risco de saída não intencional da tos das Tecnologias STI integradas ao 1. EXEMPLOS DE TECNOLOGIAS TSI faixa de rolagem, que pode resultar automóvel (também conhecidas como A BORDO DE VEÍCULOS em colisões laterais com outros Sistemas Avançados de Assistência ao veículos ou em colisões individuais Motorista [da sigla em inglês ADAS] ) é a O primeiro passo para um veículo se integração de funcionalidades e tecnolo- tornar mais inteligente á o acréscimo de gias diferentes (sensores, comunicação). sistemas sensores inteligentes para dar Isso pode contribuir para um tráfego apoio ao motorista na observação do mais seguro e um fluxo de tráfego mais ambiente ao redor do veículo. O próxi- suave e levar a um uso mais eficiente da mo passo importante é o acréscimo de infra-estrutura. sistemas de comunicação veículo-veículo contra obstáculos na lateral da via. Prevenir erros de direção em tráfego pesado pode também ajudar a evitar o congestionamento imprevisível que afeta a segurança da viagem. • Distância segura. Exemplos são avi- e veículo-infra-estrutura para informar sos de colisão, prevenção de colisão, Duas tecnologias veiculares têm sido aos motoristas, antecipadamente, o que "Pare & Siga", comunicação veículo- críticas para a ampliação do uso de sis- está acontecendo nas vias. veículo e controle ativo de navega- temas STI. A primeira delas diz respeito a 84 • Aviso de Velocidade. Os exemplos ção (do inglês ‘active cruise control soluções x by wire, o uso de conexões O projeto europeu ‘Sistemas de – ACC’). Estes sistemas mantêm eletrônicas e eletromecânicas para con- Assistência Avançada ao Motorista’ automaticamente a distância entre trolar as diversas funções dos veículos. (Advanced Driver Assistance Systems in um veículo e outro e, opcional- Freio, afogamento e uso do motor já Europe - ADASE) publicou recente- mente, adotam uma velocidade. A estão sendo controlados desta maneira. mente um inventário dos sistemas maioria dos sistemas propostos Desenvolvimentos avançam agora para comercialmente disponíveis ou sistemas requer uma situação controlada de permitir que as soluções x by wire sejam que estão em pesquisa e desenvolvi- tráfego, como as encontradas nas aplicadas a outras funções do veículo, tal mento no mundo como direção. A segunda é a conversão ADASE foram definidos como sistemas do potencial de segurança destes sis- planejada dos sistemas elétricos do que apóiam ou assumem a tarefa do temas têm sido reivindicadas, mas veículo de 12V para 42V. Sistemas elétri- motorista. O projeto ADASE classificou existem dificuldades tanto técnicas cos de 12 volts estão atingindo seus estes sistemas quanto ao seu potencial quanto comportamentais em relação limites devido ao número crescente de na melhoria da segurança e de acordo a muitos destes conceitos. Outros componentes elétricos e eletrônicos nos com sua complexidade: efeitos potenciais são velocidades (ADASE 2004). Nele, os auto-estradas. Grandes estimativas mais reduzidas, distâncias mais de derrapagem, controle de estabili- 2. O POTENCIAL DAS TECNOLOGIAS seguras entre veículos e melhor con- dade no rolamento e monitoramen- TSI PARA FACILITAR O DESENVOLVI- trole do fluxo de tráfego. to da superfície da estrada (perda de MENTO DE SISTEMAS INOVADORES alarmes de tração). Tais sistemas DA MOBILIDADE • Proteção ao pedestre. Um exemplo é combinam a dinâmica do veículo e a a conscientização do usuário vul- assistência à velocidade com o apoio Tecnologias de TSI podem facilitar o nerável na estrada e do pedestre. ao gerenciamento do veículo quan- desenvolvimento de versões mais sofisti- Estes sistemas avisam quando existe do, por exemplo, a distância de frea- cadas dos sistemas de transporte exis- um alto risco de colisão com um mento é reduzida, ou na prevenção tentes, assim como possibilitar novos sis- pedestre ou um usuário vulnerável da de derrapagem ou capotagem do temas de transporte. Em curto prazo, os estrada (ciclista, motociclista). carro. Estes sistemas são particular- desenvolvimentos mais promissores serão mente atraentes para usuários de no campo das telecomunicações e dos • Aumento da visibilidade. Um exemplo é a visibilidade noturna. Estes sis- estradas pesadas, especialmente com transporte de carga. podem tornar os sistemas existentes mais flexíveis e eficientes ao permitir a "coope- temas ajudam ao motorista a melhorar a percepção do ambiente ao seu serviços de informação. Estas tecnologias • Interface homem/máquina. Os sis- ração" entre eles, o que requer investimen- redor, especialmente em condições temas e serviços de apoio ao tos relativamente baixos. Muito depende enganadoras, como direção noturna motorista destinam-se a apoiar tarefas da maneira como os sistemas são dire- e mau tempo. de direção. Eles requerem interação cionados para se conectarem um com o com o motorista através de feedback outro e também de como informações auditivo, tátil ou visual ou assumindo relevantes são apresentadas aos usuários. • Monitoramento do motorista. Um exemplo é a detecção e o aviso de o comando de algumas tarefas de sonolência ao motorista. Estes sis- direção. A interface homem/máquina temas monitoram o motorista e aler- é, no entanto, um elemento vital de estão com a atenção voltada para tam quando o nível de atenção cai. todos os sistemas e serviços de apoio ambos os mundos: o desenvolvido e o O efeito da sonolência em acidentes ao motorista. O monitoramento da em desenvolvimento. O motivo princi- ainda é mal compreendido, mas condição do motorista é um sistema pal é que os ônibus não precisam de sabe-se que um quarto dos aci- adicional do veículo que pode ajudar infra-estrutura especial alguma. No a detectar fadiga ou debilitação. mundo desenvolvido, um dos principais Alguns destes sistemas estão baseados problemas que os motoristas de ônibus em tecnologias de processamento de enfrentam para atrair passageiros é a imagem de vídeo. percepção do baixo status e das dentes fatais em rodovias decorre de sonolência. Este número cai em acidentes em vias rurais e urbanas. • Segurança nos cruzamentos. Um exemplo é a prevenção de colisão em cruzamento. Além dos sistemas convencionais de aviso relacionados à colisão, existem também sistemas em desenvolvimento (especialmente no Japão e nos EUA) que monitoram cruzamentos perigosos e alertam os motoristas dos veículos que se aproximam da zona de perigo. Tais sistemas empregam funções de Atualmente, os sistemas de ônibus condições deficientes do transporte de Embora não mencionados especificamente ônibus. As tecnologias STI estão no mapeamento do ADASE, os pneus começando a ser usadas para minimizar também fazem parte das tecnologias STI. estes problemas. Os sistemas CIVIS e Phileas são exemplos disso. Ambos • Pneus "Inteligentes”. Sendo o único apóiam o motorista de tal maneira que contato entre o veículo e a via, o pneu faixas menores, curtas distâncias entre desempenha um papel chave na mel- paradas de ônibus e veículo con- horia da segurança. Dentro de poucos fortáveis já são possíveis. A direção anos, os pneus serão ajustados com totalmente automatizada também é sensores de pressão prevenindo o risco possível, mas questões legais e de de furar, vazar ou esvaziar. responsabilidade ainda representam detecção e comunicação rodovia- problemas. Uma extensão da aplicabili- veículo ou mesmo veículo-veículo. Pneus “Inteligentes” capazes de dade destes produtos é o Sistema de Devido à complexidade de tais situ- fornecer informações sobre a aderência Trânsito Multimodal Inteligente (do ações, há a necessidade destes sis- à pista (por meio de sensores embuti- inglês ‘Intelligent Multimodal Transit temas serem confiáveis e altamente dos) estão em desenvolvimento. Neste System – IMTS’) que está sendo desen- precisos. caso, os dados fornecidos poderiam ser volvido no Japão, onde os ônibus circu- processados imediatamente, permitindo lam em infra-estrutura estritamente a prevenção de perda de aderência pelo separada, guiada automaticamente sem ESP ou ABS. os motoristas. • Diagnóstico e dinâmica do veículo. Exemplos são sistemas de prevenção 85 Sistemas de bonde elétrico são populares nhecimento visual oferecem novos meios em muitas cidades européias por seu para lidar com questões de navegação. bom serviço e sua contribuição para a qualidade de vida. Informações sobre o Sistemas bimodais combinam as melhores trajeto, disponíveis nas paradas de bonde características de carros e transporte públi- elétrico, estão se tornando uma carac- co. Podem ser usados tanto em estradas terística positiva importante de algumas exclusivas quanto em estradas conven- redes. A Alemanha está testando um sis- cionais. Exemplos interessantes dos con- tema com bondes elétricos que saem do ceitos bimodais são o RUF e o Autoshuttle, centro da cidade e se interligam a trens na Europa, e o Megarail, nos EUA. Estes regulares que vão em direção a áreas sistemas, especialmente projetados para regionais para levar passageiros sem a carros, podem ser operados na estrada por necessidade de ônibus. Tais sistemas um motorista comum ou podem também ainda estão em desenvolvimento na ser conduzidos mecanicamente num sis- Alsácia, região da França. tema ferroviário especial em distâncias contínuas e curtas. As tecnologias STI são também usadas C. Redução da resistência aerodinâmica A resistência aerodinâmica é resultado das forças de pressão e fricção que são transmitidas ao veículo à medida que ele se move em contato com o ar. O tamanho do veículo e seu formato exterior e a função projetada para seu desempenho são importantes fatores influenciadores. Os requisitos funcionais (número de ocupantes para o qual o veículo é projetado, espaço para bagagem, reboque de trailer, capacidade off-road e desempenho) são importantes parâmetros na determinação da resistência aerodinâmica total. O formato da parte traseira do veículo para garantir a segurança no tráfego em O termo bimodal é também usado para situações mistas, com veículos pesados. se referir a veículos com direção No setor do metrô, as inovações STI pos- mecânica e hidráulica operando numa sibilitaram o primeiro sistema ferroviário infra-estrutura especial. Os sistemas totalmente automatizado no mundo bimodais têm potencial devido ao (VAL), introduzido na França nos anos avanço das tecnologias STI no interior 1980 no Aeroporto de Orly e Lille. Este é dos carros e aos poucos ajustes um sistema de metrô compacto que usa necessários à infra-estrutura de orien- um pequeno túnel tubular e roda em tação eletrônica. O sistema IMTS pneus de borracha para melhorar a acel- descrito anteriormente é um sistema eração. Os veículos, sem motoristas, estão bimodal que permite tanto a operação em contato contínuo com a torre de con- A resistência do ar depende do tama- automática em estradas exclusivas trole. Desde a introdução do VAL, outros nho do veículo (que determina a área quanto a operação mecânica em estra- e mais metrôs e trens urbanos automati- frontal) e do fator de eficiência aero- das convencionais. A orientação de zados foram introduzidos na França, na dinâmica (que representa o formato e veículo automático possibilita a captura Inglaterra e no Canadá. Estes sistemas a função do veículo). Para uma dada de energia elétrica da infra-estrutura de velocidade do veículo, a resistência do ar veículos equipados com conjunto é proporcional ao produto destes dois motor elétrico. fatores. Sendo todos os outros fatores avançados fornecem serviço pontual de altafreqüência a custo acessível. As telas e portas entre a plataforma e o trem e o regime integral de segurança lhes conferem credibilidade como transporte seguro. tem influência importante na distribuição da pressão na base do veículo: quanto mais baixa a pressão e maior a área, maior a resistência. Adicionalmente, diferenças na pressão do ar entre o topo e a base do veículo podem gerar correntes transversais (cross-flows) que formam duas grandes rotações longitudinais que irão interagir com o rastro e aumentar a resistência. Figura 3.7 Efeito da resistência do ar sobre o consumo de combustível em veículos de passageiros a velocidades diferentes Sistemas de mobilidade que promovem a locomoção de pessoas e trânsito pessoal rápido (do inglês ‘personal rapid transit’) podem operar autonomamente, mas demandam faixas ou trilhos exclusivos. Veículos capazes de “andar sozinhos” em estradas convencionais já foram demonstrados em diversos países. Técnicas de detecção de obstáculos, usando tecnologia de sensores e reconhecimento de imagem, são necessárias para capacitar os veículos a "ver" o ambiente ao seu redor e reagir apropriadamente à ocorrência de incidentes no caminho. Sistemas de posicionamento e técnicas de reco- 86 Fonte: RAND Europa, RWT e DLR 2003, p. 323 iguais, aumentos na velocidade fazem a Um veículo em movimento não está ser superada despendendo energia. No resistência do ar se levar em uma somente exposto às correntes externas de caso dos veículos motorizados, é o com- progressão mais que linear. A Figura 3.7 ar, mas também às internas: correntes de bustível que supre essa energia. Em ou- mostra a relação entre a resistência do ar ar usadas para esfriar o motor, freios, tras palavras, a resistência ao rolamento e o consumo de combustível, dependen- componentes da tampa do motor e ven- influencia o consumo de combustível. do da velocidade do veículo. tilação do compartimento de passageiros. Quando o ar circula pelo radiador, com- Para um dado veículo, a porcentagem de Para um dado tamanho de veículo e req- partimento do motor, caixa de direção e consumo de combustível atribuída à uisito funcional, a minimização da compartimento do passageiro, surgem resistência ao rolamento depende da resistência do ar depende principalmente perdas devido à fricção, turbulência e velocidade e aceleração em cada da melhoria do formato do veículo. Isso resistência no interior do veículo. A momento do ciclo de direção em pode ser obtido de muitas formas. resistência interna resultante contribui questão, das características do veículo para a resistência aerodinâmica. (massa, forma aerodinâmica, fricção Na parte frontal do veículo, existem inú- interna, transmissão) e do coeficiente de meras possibilidades de redução da resis- Muitas das oportunidades mais óbvias resistência ao rolamento dos pneus. O tência aerodinâmica, mas elas levam a para redução da resistência em VLRs consumo causado pela resistência ao conflitos de design. A redução do tamanho podem ser incorporadas aos veículos. rolamento (em litros a cada 100km) tam- e da área frontal do veículo conflita com Atualmente, os fatores de eficiência bém depende da eficiência do motor em as exigências de conforto e segurança do aerodinâmica em VLRs encontram-se em cada momento do ciclo de direção. De consumidor. Abaixar a tampa do motor, níveis historicamente altos. A curto um tipo de ciclo de direção a outro, um por exemplo, é incompatível com os prazo, é possível que melhorias adi- pneu com um coeficiente de resistência requisitos de tamanho do compartimen- cionais sejam alcançadas antes de ao rolamento de 12kg/t é responsável to do motor, mas melhora a visibilidade grandes inovações em design. pelo consumo de 20% (via expressa) e dianteira e a facilidade com que o motorista pode visualizar a frente do veículo. 30% (na cidade) de combustível. Como A tecnologia avançada com certeza valor absoluto, a contribuição do pneu oferece algum potencial. Wood, que varia entre 1,4 litros para cada 100 Os projetistas também podem fazer mu- estimou que 16% da energia total con- quilômetros (via expressa) e 2,6 litros danças na traseira do veículo. Elevar leve- sumida nos EUA são usadas, para supe- para cada 100 quilômetros (na cidade) mente a traseira, estreitar os lados e levan- rar a resistência aerodinâmica do trans- para um carro pequeno de passageiros tar o chassis podem reduzir a resistência porte veicular, fornece uma visão geral (Renault Clio, 51 kW). aerodinâmica. Um meio-termo entre a de- útil do papel da aerodinâmica avançada manda por uma traseira baixa para melho- sobre o potencial consumo de com- Para minimizar o consumo de com- rar a visibilidade traseira e o aumento do bustível veicular (Wood 2004). Mas, em bustível, os pneus precisam estar ade- espaço do porta-malas pode ser encontra- termos realistas, devido à preferência quadamente calibrados. Estudos de do. Para picapes e VUEs, estas mudanças do consumidor por muitos aspectos campo em estradas francesas revelaram comprometerão significantemente a utilitários e funcionais dos atuais VLRs e que mais da metade dos carros são operação do veículo. pressões econômicas do mercado, os dirigidos com pneus calibrados a 0,3 designers provavelmente só conseguirão bars abaixo da pressão recomendada e A remoção de saliências do chassis e a reduções adicionais mínimas da resis- até mesmo mais abaixo. Pneus calibra- cobertura do compartimento do motor tência aerodinâmica dentro de alguns dos inadequadamente geram um também podem proporcionar redução anos. Talvez existam mais oportuni- aumento significativo da resistência ao da resistência aerodinâmica. Entretanto, dades para a redução da resistência rolamento: +6% quando calibrados a o veículo precisa ser projetado para ga- aerodinâmica em caminhões e ônibus. 0,3 bar abaixo da pressão recomendada rantir circulação de ar suficiente na área do motor e em volta do sistema de escapamento para dissipação do calor. Um aumento excessivo da temperatura é prejudicial à confiabilidade e segurança do veículo. A redução da distância entre a e +30% quando a 1 bar abaixo. Um D. Redução da resistência ao rolamento carroceria do veículo e o chão também aumento de 30% da resistência ao rolamento eleva o consumo de combustível entre 3 e 5%. Pneus muito descalibrados estão também propensos a danos irreversíveis, daí o interesse em tecnologias que informam aos motoristas quando os pneus pode reduzir a resistência aerodinâmica, A resistência ao rolamento é definida mas conflita com as demandas do consu- como a energia dissipada pelo pneu por midor de entrada e saída fácil do carro e unidade de distância percorrida. A O propósito primário dos pneus é possi- de capacidade off-road. resistência ao rolamento somente pode bilitar a operação segura em todos os estão inadequadamente calibrados. 87 tipos de clima e sob todas as condições Nos últimos oito anos, o desempenho calor excedente para aquecer o compar- das estradas. Qualquer redução da ambiental dos sistemas de climatização timento de passageiros, uma vez que resistência ao rolamento compromete o veicular, inclusive a quantidade de ener- este sistema está configurado como uma desempenho seguro do pneu. As carac- gia necessária para ligar o compressor e bomba de calor que fornece aquecimen- terísticas do pneu também têm impacto as características de gás de efeito estufa to interior adicional no inverno e resfria- significativo na direção e no desem- do refrigerante HFC-134a, tem recebido mento no verão. Por volta de 2020, penho do veículo – qualidade impor- crescente atenção. A indústria começou espera-se que as emissões totais diretas tante para compradores de veículos. a desenvolver melhorias concentrando-se (gases de refrigeração) e indiretas (uso em sistema rigoroso de controle de vaza- de combustível) de novos sistemas de mentos, redução da carga de refrige- controle de climatização sejam reduzidas rante, aumento da eficiência energética e substancialmente. E. Novas tecnologias para o controle da temperatura interna dos veículos Uma fatia expressiva do consumo de energia por veículos é usada para manter seu interior confortável. Dois tipos de tecnologias poderiam reduzir esta demanda de energia. O primeiro tipo clagem durante o uso do veículo e seu Redução da dimensão da tarefa desem- descarte. Mais recentemente, sistemas penhada pelos sistemas de climatização usando gases de refrigeração alternativos A carga de aquecimento ou resfriamen- com potenciais inferiores de promover o to determina a capacidade do sistema aquecimento global estão em desen- de controle de climatização do veículo. volvimento, embora nenhum deles tenha A redução de tal carga possibilita a sido ainda comercializado e introduzido redução da capacidade do sistema de em novos veículos. climatização sem comprometer o conforto dos ocupantes. Tem-se estudado concentra-se na melhoria da eficiência Algumas das novas possibilidades dos sistemas de climatização do veículo. o desenvolvimento de sistemas de con- incluem gases alternativos HFC como O segundo, concentra-se na redução da trole do ambiente interno do veículo HFC-152, CO2 supercrítico e hidrocar- que tenham baixa perda energética. bonetos. O sistema CO2 é compatível Estes sistemas demandam menos aque- com a nova geração de injeção direta a Melhoria da eficiência dos sistemas de cimento no inverno e menos resfria- diesel ou outros conceitos de motores que mento no verão. controle de climatização irradiam pouco calor ou que não emitem tarefa que estes sistemas desempenham. 88 melhores práticas de recuperação e reci- III. Aplicabilidade dos “alicerces” de tecnologia veicular e combustível de transporte a veículos rodoviários que não os VLRs Veículos Leves Rodoviários (VLRs) – car- strução (apesar de não necessariamente Em dezembro de 2000, o ros de passageiros, caminhões leves e em tamanho) aos dos veículos leves. Departamento de Energia dos Estados suas variações – são os veículos moto- Unidos publicou um “mapa rodoviário rizados de transporte encontrados em Veículos rodoviários pesados são respon- da tecnologia”, identificando as tecno- maior número no mundo. Eles con- sáveis por uma fatia significativa do uso logias consideradas promissoras para somem boa parte dos combustíveis de de energia decorrente do transporte, caminhões pesados (Classe 8)14 , ônibus transporte e são os principais respon- GEEs13 e emissões convencionais (princi- de trânsito, caminhões médios sáveis pelas emissões de gases de efeito palmente de NOx e particulados), con- (incluindo os de eixo simples e estufa (GEEs) decorrentes do trans- forme descrito no Capítulo 2. Atenção caminhões de entrega), caminhões porte, assim como pelas emissões crescente vem sendo dedicada à melho- pequenos (picapes cujo peso bruto convencionais. Até o momento, nosso ria da eficiência energética dos conjuntos indicado pelo fabricante é superior a estudo de tecnologia veicular e de motores desses veículos – sobretudo nos 8.500 libras ou 3.900 kg) e veículos combustíveis manteve seu principal movidos a diesel – e também à redução militares. O mapa também discutiu foco nestes veículos. As tecnologias e das emissões convencionais. “tecnologias de atalho”, como com- combustíveis que descrevemos, no bustíveis alternativos, tecnologias de entanto, também apresentam Motores movidos a gás natural, motores de combustão interna, relevância para outras categorias de metanol e etanol já estão sendo usados tecnologias para o tratamento de veículos rodoviários. em aplicações específicas em cami- compostos de exaustão, tecnologias de nhões e ônibus em todo o mundo. propulsão híbrido-elétrica, células Esforços estão sendo canalizados para o combustíveis, energia auxiliar, desenvolvimento de novas tecnologias gerenciamento térmico, materiais, sis- de propulsão, tais como as híbridas e temas de motores mais eficientes e/ou de células combustíveis, que serão que reduzem os níveis de emissões, empregadas em certos tipos de camin- inteligência veicular e outras hões e ônibus. Essas ações são menos tecnologias inovadoras e de alto apreciadas do que aquelas associadas a custo-benefício A. Veículos rodoviários “pesados” – incluindo caminhões médios e pesados (US DOE 2002). Caminhões são os principais transporta- veículos leves, mas merecem um recon- dores de carga em terra. Já os ônibus hecimento maior. A economia de com- Um relatório preparado pela Agência são a força motriz de muitos sistemas bustível e as reduções das emissões de Internacional de Energia, Bus Systems de transporte locais e regionais e tam- um sistema híbrido em um único for the Future (‘Sistemas de Ônibus do bém conduzem um número significati- ônibus urbano podem reduzir as emis- Futuro’), inclui informações a respeito vo de movidos por motores de com- sões de CO2 na mesma proporção que de inovações relacionadas a sistemas bustão interna (MCI) e utilizam muitos mais de 20 veículos leves de pas- de ônibus de trânsito que estão sendo componentes similares em design e con- sageiros (Reynolds 2003). geradas em todo o mundo (IEA 2002). 89 Observe que essa faixa de preços inclui ônibus de trânsito na Europa e nos Estados Unidos. Na Europa, os ônibus são geralmente mais baratos que do na América do Norte, com preços para veículos não-articulados comumente abaixo dos US$ 275.000. (1) A maior parte do relatório é dedicada à 1. PROGRAMAS DE PROTÓTIPOS, diesel com a mesma capacidade e o descrição de tecnologias avançadas de DEMOSNTRAÇÕES E TESTES DE consumo estimado de combustível é de sistemas de propulsão de ônibus e de ESCALA DE FROTAS COM A aproximadamente 23-25 mpg combustíveis. Entre as tecnologias UTILIZAÇÃO DE USINAS DE FORÇA E (9,4-10,2 l/100km). Nos EUA, uma avançadas de sistemas de propulsão COMBUSTÍVEIS AVANÇADOS empresa desenvolveu um sistema de de ônibus, incluem-se diesel, híbrido-elétricos e célula combustível. Os combustíveis descritos são emulsões de água em óleo, biodiesel e misturas, gás natural comprimido (GNC), gás liquefeito de petróleo (GLP) e éter dimetílico. O documento também apresenta pesquisas que estão sendo conduzidas e identifica projetos de demonstrações em desenvolvimento. A Tabela 3.4, retirada do relatório da AIE, resume as descobertas do estudo no que tange ao custo e desempenho 90 Fonte: AIE 2202, p. 120. propulsão híbrida para caminhões de Uma quantidade expressiva de programas de protótipos, demonstrações e testes de escala de frotas em veículos pesados está sendo desenvolvida em 15 vários países. Ônibus com motores híbridos estão sendo testados em diversas regiões urbanas, como no Brasil (Ribeiro 2003) e nos EUA. Em outubro de 2003, o governo da cidade de Seattle comprou cerca de 250 ônibus híbridoelétricos 2003). (King County Department of Transport, Três fabricantes de caminhões médio porte com a ajuda do Departamento de Energia americano. A emissão de partículas desses veículos deve cair 90% e a emissão de poluentes do ar, 75%, enquanto a eficiência de combustível deve crescer 50%. A FedEX Express, subsidiária da FedEX Corp., concordou em utilizar 20 desses veículos como frota de teste. A empresa afirma que, se os testes atingirem os resultados planejados, toda a frota poderá ser japoneses desenvolveram caminhões de substituída nos próximos dez anos de diversas tecnologias de ônibus de médio porte com motores híbridos. O 2003). trânsito (UPS 2003). custo unitário anunciado dos veículos é tar um protótipo de veículo comercial 25% maior que o de um caminhão a movido a célula combustível (Eaton A UPS também concordou em tes(UPS 2003). B. Veículos motorizados de duas ou três rodas Em alguns países da Ásia Ocidental e Meridional, os veículos rodoviários são, em sua maioria, do tipo motorizado de duas ou três rodas: baratos, garantem a equipados com um conversor catalítico (circuito em correntes alternadas), ao exigirão combustíveis sem aditivos (que invés dos tradicionais motores de cor- estão se tornando amplamente rente contínua (DC). Locomotivas AC disponíveis) e, posteriormente, com- provaram ser mais confiáveis, além de bustíveis com menos enxofre. Essas ino- exigirem menos manutenção e de pro- vações levantam a questão da viabilidade duzirem mais cavalos-força que as loco- financeira, assim como da necessidade motivas de tecnologia DC. crescente de combustíveis e manutenção apropriados dos veículos. Fabricantes de locomotivas também já experimentaram combustíveis alterna- mobilidade para milhares de famílias e, individualmente, consomem menos combustível que um automóvel ou caminhão leve. Desproporcionalmente, no entanto, contribuem para a poluição C. Veículos de transporte que não veículos rodoviários convencional, e por isso, esforços estão sendo canalizados, atualmente, para a tivos. Em 1994, um deles produziu motores quatro tempos (movidos a motores de ignição por centelha) que funcionavam a gás natural. Outras empresas tentaram o uso de locomotivas dual-fuel – motores de ignição por com- 1. LOCOMOTIVAS pressão que usam até 10% do diesel para redução de suas emissões. iniciar a combustão. Esses experimentos A maioria das locomotivas usa eletrici- Um das mais importantes iniciativas é a ainda não levaram a um volume de pro- dade gerada externamente ou diesel dução de nenhum desses tipos de loco- troca de motores de dois tempos pelos de transportado a bordo como fonte motivas quatro tempos. Motores de dois tempos primária de energia. No mundo, 27% geram maior poluição, pois o combustível da energia usada por locomotivas é ele- Uma empresa canadense recentemente precisa ser misturado com óleo. Alguns tricidade gerada externamente, 59% é produziu e testou (e agora comercializa) países já normatizaram padrões de emis- diesel e 12%, carvão (na prática, tudo na um comutador híbrido-elétrico a diesel, são que, de forma efetiva, proíbem a China). O uso de eletricidade como que oferece níveis comparáveis de ener- venda de novos veículos de duas ou três combustível por locomotivas varia muito gia de tração para motores convencionais rodas com motores de dois tempos. de país para país. No Canadá e nos EUA, a diesel. Esse sistema híbrido-elétrico usa o diesel é o principal combustível; no um motor a diesel muito menor – de não Japão, 78% das locomotivas são elétricas mais que 100 a 200 hp – para operar um Diversas soluções parecem tecnologica- (Railway Age 2000). 18 mente viáveis. Por exemplo, um grande e na Europa, 61% fabricante anunciou recentemente que Nos últimos anos, importantes melhorias esse mini-gerador é alimentada por bate- desenvolveu o primeiro sistema de na eficiência das locomotivas elétricas rias especialmente desenvolvidas que injeção de combustível controlado foram introduzidas a partir do uso de movem os motores de tração elétrica. eletronicamente, para modelos com energia AC. Nas locomotivas a diesel, os Este comutador custa metade do preço motores de quatro tempos e 50cc desenvolvimentos dos sistemas de de um novo20, usa metade do combustí- (Honda 2003) . A expectativa é de que propulsão focaram primeiramente na vel se comparado a um modelo conven- este sistema, conhecido como PGM-FI, evolução da força, confiabilidade e efi- cional mais recente de composição de esteja disponível no Japão em um novo ciência dos motores a diesel usados para comboio e reduz as emissões de NOx e modelo de motoneta já em 2004. gerar eletricidade a bordo, assim como particulados em 90%. Todas as motonetas deste fabricante na eficiência dos motores de tração Neste meio tempo, tem crescido o inte- hoje à venda no Japão sofrerão a troca elétricos que fornecem essa energia para resse no uso de célula combustível para de sistema para o PGM-FI, até 2007, e as rodas guias. Além disso, locomotivas a fornecer energia auxiliar para locomoti- a maioria dos modelos vendidos no diesel passaram a ter de respeitar os vas. Isso permitiria o desligamento do resto do mundo, até 2010. padrões de emissão e, em alguns motor principal a diesel quando o motor lugares, padrões de ruído. não está sendo usado, mas ainda precisa 19 (IEA 2003) . minigerador. A energia produzida por 17 A inclusão de catalisadores de três vias de energia. Surpreendentemente, grande em veículos motorizados de duas ou três Locomotivas diesel-elétricas variam de parte do tempo de operação de uma rodas reduzirá as emissões para os níveis tamanho, com motores entre 1.500 ca- locomotiva a diesel é ocioso. Um estudo de carros de passageiros. Assim como valos-força (hp) até mais de 6.000 hp. recente de ciclos de trabalho de locomo- em automóveis e caminhões leves, veícu- Estes veículos são hoje construídos mais tivas em ferrovias canadenses apontou los motorizados de duas ou três rodas comumente com motores de tração AC que os motores permanecem ociosos 91 entre 54% e 83% do tempo. O uso de interiores são bem menores – cerca do 3. TRANSPORTE AÉREO célula combustível como unidade auxiliar tamanho de uma locomotiva diesel- de energia ou a abordagem “híbrida” elétrica, apesar de ter, às vezes, mais de A projeção do PMS é de que o transporte descrita anteriormente permitiriam uma um motor desse tipo. Rebocadores aéreo continuará a ser o tipo de trans- substancial redução da quantidade de grandes em águas interiores americanos porte pessoal de crescimento tempo ocioso dos motores. Apesar de o são classificados com mais de 10.500 mais rápido entre 2000 e 2050 (Capítulo consumo de combustível e das emissões cavalos-força. Combustíveis usados por 2). Este tipo de transporte já é responsá- de gases serem maiores quando a loco- veículos de transporte em vias marítimas vel por quase 12% do consumo de ener- motiva está operando em potência máxi- são tipos mais pesados de diesel e ainda gia de transporte no mundo. No caso de ma do que nos períodos ociosos, as mel- mais pesados de derivados de petróleo, referência do PMS, a faixa de consumo horias potenciais em consumo de com- conhecidos como “óleo combustível de energia para o transporte aéreo deve bustível e emissões merecem atenção. residual”. Tipicamente, esses com- crescer para mais de 18% até 2050. bustíveis têm uma concentração maior Nos Estados Unidos, estão sendo desen- de enxofre que outros combustíveis de Desde os anos 1960, motores de volvidos estudos para determinar se célu- transporte (veja abaixo). turbinas movidos a um derivado de las combustíveis podem ser usadas como petróleo leve, conhecido como com- principal fonte de energia em locomoti- Um relatório da Organização bustívejet (combustível para aviação vas interestaduais. Em um projeto de Internacional Marítima publicado em comercial), são utilizados em pratica- cinco anos que custará US$ 12 milhões, o março de 2000 detalha o consumo de mente todas as novas aeronaves comer- veículo diesel-elétrico do exército ameri- energia e as emissões de navios oceâni- ciais. Mesmo com o processo de com- cano EMD GP10 está sendo desmontado cos em 1996 e reconstruído com células combustíveis mostra as estimativas de emissões resul- ciente, a energia exigida para erguer PEM e armazenamento de metal-hidreto tantes de 138 milhões de toneladas de uma aeronave e propulsá-la a longas dis- equivalente a 400 kg de hidrogênio. combustíveis destilados e residuais con- tâncias em alta velocidade é absurda. De Outros tipos de células combustíveis e de sumidos durante aquele ano por esses fato, a maior parte da carga transportada sistemas de armazenamento de com- navios. por uma aeronave é seu próprio com- (IMO 2000). A Tabela 3.5 bustível estão sendo analisados para pos- bustível. Não surpreende que o consumo sível uso neste projeto de demonstração O mesmo relatório identificou e avaliou de combustível e seu custo sejam, então, (Railway Age 2003). o impacto de um conjunto de medidas componentes extremamente impor- técnicas e operacionais que poderiam tantes do total do custo operacional de 2. TRANSPORTE MARÍTIMO, TRANS- ser aplicadas a novos navios e a aos já um sistema de transporte aéreo, com- PORTE COSTEIRO E TRANSPORTE EM existentes para reduzir o consumo de parável em magnitude com gastos com ÁGUAS INTERIORES energia e as emissões de CO2. A Tabela a tripulação e gastos com aquisições e 3.6 resume as conclusões do relatório investimentos.24 Quase todos os navios comerciais são no que tange às medidas técnicas que movidos por motores a diesel. Os podem ser aplicadas e seus impactos Em uma revisão de tendências históricas motores de grandes navios oceânicos são estimados. e projetadas para o futuro no consumo de energia de aeronaves, Lee, Lukachko, os maiores já construídos. Esses gigantes a diesel podem ter até 14 cilindros, cada Waitz e Schafer um com calibre de 980 mm e stroke de contribuição relativa de diferentes me- 2.660 mm, dando ao motor um desloca- lhorias tecnológicas e fatores opera- mento de cerca de 1.000 litros. Muitos cionais para a redução da intensidade desses motores enormes são classificados de energia de aeronaves comerciais no como de “baixa velocidade”, ou seja, período de 1971 a 1998. Mensurada em funcionam a cerca de 100 rpm e são megajoules por receita por passageiro- encaixados diretamente ao propulsor do quilômetro, essa intensidade de energia navio, eliminando a necessidade de caiu mais de 60% – uma média de 3,3% redução de marchas. ao ano (vide Figura 3.8). Os motores a diesel que movem rebo- Três fatores tecnológicos – consumo cadores ou navios de carga com auto- reduzido de combustíveis específicos, 23 (Lee, et. al. 2001) analisam a aumento na eficiência dos motores, propulsão para navegação em águas Fonte: IMO 2000, p.11. 92 bustão dessas turbinas sendo bem efi- refletido em eficiência aerodinâmica, e uma melhora na eficiência estrutural foram responsáveis, em grande parte, por esta queda. A eficiência dos motores melhorou 40% entre 1959 e 1995, com a maioria das melhorias atingidas antes de 1970 devido à introdução de motores de altodesvio. Outros fatores incluem temperaturas de pico mais altas no motor, proporções de pressão crescentes e melhor eficiência dos componentes dos motores. A eficiência aerodinâmica aumentou aproximadamente 15% historicamente, guiada por melhores projetos das asas e melhor integração propulsão/fuselagem. Avanços na eficiência estrutural contribuíram menos, apesar de algumas melhorias nos materiais usados na construção de aeronaves. Assim como Onde o potencial para reduções de medidas individuais está bem documentado por diferentes fontes, o potencial para combinação de medidas baseia-se somente em estimativas Técnicas modernas em novos motores de velocidade média, movidos a OCL (3) Motores de baixa velocidade quando troca com NOx é aceita (1) (2) nos motores de veículos motorizados, Fonte: IMO 2000, p.14 reduções no peso das aeronaves geradas por esses materiais abriram caminhos para outros avanços tecnológicos e conforto dos passageiros. Figura 3.8 Tendências históricas na intensidade de energia de novas aeronaves por ano de introdução e a média de frota no tempo nos EUA Lee, Lukachko, Waitz e Schafer projetam que a intensidade de energia em aeronaves comerciais vai ser reduzida nas próximas décadas, mas em um ritmo mais lento – 1,2% a 2,2% ao ano, comparados aos 3,3% de média anual nos últimos anos. Fonte: Lee, et al., 2001, p.184 93 IV. Impactos diferenciais das melhorias em tecnologias e combustíveis veiculares em regiões desenvolvidas e em desenvolvimento A maneira pela qual as tecnologias serão combustível para frotas controladas de Mudanças no acesso a tecnologias incorporadas aos sistemas de transporte veículos (células combustíveis e MCIs), avançadas, regulamentações, políticas no mundo dependerá principalmente de com distribuição ampliada no futuro. comerciais e tarifárias, estreitarão, progre- preponderantes influências sociais e Sistemas já existentes para aprimoramento médio entre os veículos de países desen- rios distintos podem ser contemplados da segurança dos veículos em países volvidos e em desenvolvimento. Como em diferentes áreas. desenvolvidos já atingem um alto padrão. resultado, diferentes fatores prevalecerão O crescente uso de eletrônicos deve ter no mundo em desenvolvimento, com No mundo desenvolvido, espera-se que como resultado veículos ainda mais conseqüências distintas. Em particular, as as forças motrizes sejam o desejo de seguros. Tecnologias de sistemas de segu- prioridades refletirão a situação local. A reduzir as emissões convencionais e as rança criadas para produzir sistemas de segurança no abastecimento de energia, de GEEs e de garantir o abastecimento segurança ativos se tornarão cada vez mais transportes financeiramente viáveis, uso de de energia, mantendo-se e melhorando importantes. O mesmo acontece com sis- infra-estrutura existente e recursos podem a confiabilidade, o conforto, o nível de temas de frenagem por comando (brake- ser mais priorizados que em países desen- poluição urbana local, o desempenho, a by-wire) e direção por comando (steer-by- utilidade, a conveniência, o custo e a segurança. Nem tudo será possível ou financeiramente viável, mas está na hora de os países desenvolvidos explorarem todas as possibilidades. Na maioria das regiões, haverá um aumento do consumo de combustíveis mais limpos, contendo componentes não-convencionais e mais sustentáveis, provavelmente os biocombustíveis. Combustíveis gasosos 94 ssivamente, a lacuna de desempenho econômicas nas diversas regiões. Cená- wire), enquanto sistemas de suspensão ativa aprimorarão a segurança dos veículos e promoverão melhorias no que se refere ao conforto do motorista. Legislações e atos regulatórios guiarão a adoção de medidas de proteção a pedestres e um melhor comportamento dos motoristas. Também encorajarão a sociedade a utilizar tecnologias que fornecem mais – ou menos – autonomia ao motorista. volvidos. Outra possibilidade é o foco maior no controle e na redução de emissões locais, em oposição à redução de GEEs. Uma das mais significativas tendências de sustentabilidade em sociedades em desenvolvimento será a adoção de tecnologias de controle de emissão veicular. Fabricantes mundiais de automóveis já estão respondendo aos mercados do mundo em desenvolvimento, produzindo veículos que se encaixam nos orçamentos (GNC e GLP) continuarão a favorecer Em muitos países em desenvolvimento, frotas urbanas no combate à poluição especialmente aqueles com um cresci- local. Esses progressos facilitarão a mel- mento econômico acelerado, o trans- ados primeiramente ao desenvolvimento horia do desempenho de veículos que porte rodoviário vem crescendo mais de MCIs e pós-tratamento, em mudanças incorporam muitos dos avanços tecno- rapidamente do que no mundo desen- do conjunto de peças e componentes lógicos anteriormente mencionados, volvido, freqüentemente acompanhado não ligados ao trem de direção e de incluindo os híbridos, de forma cres- por congestionamento, ruído, poluição e materiais, se tornarão lugar comum no cente. O uso de hidrogênio como com- acidentes. Muitos países em desenvolvi- mundo desenvolvido. Com o tempo, os bustível também aparecerá, muito mento ainda não foram capazes de ado- resultados serão melhorias na base exis- provavelmente, inicialmente em áreas tar tecnologias úteis e práticas que já são tente de combustíveis líquidos (gasolina e desenvolvidas, provavelmente como utilizadas nos países desenvolvidos. diesel) e na infra-estrutura associada. dos consumidores locais. Avanços associ- Em particular, haverá um forte movimen- mente até hidrogênio. Isso dependerá do mais provavelmente abordagens regu- to nos países em desenvolvimento em desenvolvimento de tecnologias de con- latórias e não tecnológicas para a direção à gasolina sem aditivos e com versão eficientes e metodologias de redução do congestionamento e a me- níveis mais baixos de enxofre – e seqüestro de carbono. É pouco provável lhor gestão do tráfego. provavelmente em direção a compo- que células combustíveis contribuam sig- nentes de combustível derivados de bio- nificativamente para o transporte em Apesar destes desenvolvimentos não terem massa, encontrados nestas regiões – para regiões em desenvolvimento no período o potencial para gerar os mesmos benefí- que os veículos que tenham equipamen- coberto por esse relatório devido ao cios que algumas das abordagens mais tos modernos de controle de emissões se custo, à infra-estrutura e a fatores de tec- avançadas, as melhorias que suscitam – tornem mais disponíveis. GNC e GLP nologia veicular descritos anteriormente – particularmente no contexto do cresci- também serão mais amplamente aplica- o que pode mudar se desenvolvimentos mento previsto nessas regiões – serão um dos no controle de poluição local em em tecnologias de seqüestro de carbono fator muito importante na ação geral em cidades com forte ritmo de expansão, financeiramente interessantes tornarem direção à mobilidade sustentável. Os especialmente onde substituem a tec- viável a conversão das vastas reservas de países desenvolvidos de hoje são respon- nologia antiquada de alta emissão veicu- carvão de um país como a China para o sáveis por 75% do estoque mundial de lar. Motores de dois tempos, amplamente hidrogênio e, então, criarem uma rede de veículos motorizados. Mas a posse de utilizados em veículos motorizados de hidrogênio que supere as infra-estruturas veículos motorizados em países em desen- duas ou três rodas, provavelmente desa- convencionais de combustíveis. volvimento cresceu rapidamente na última década e, durante os próximos 30 anos, parecerão durante a próxima década, e serão substituídos por motores mais efi- Tendências existentes deveriam resultar países em desenvolvimentos serão respon- cientes e limpos de quatro tempos. em grandes melhorias na segurança dos sáveis pela maior parte do crescimento É possível também que alguns países países em desenvolvimento, mas muitas líquido na frota de veículos motores no com fontes fósseis abundantes (como o dessas melhorias serão resultado do uso mundo. Então, atingir uma maior mobili- carvão na China) procurem utilizá-las mais amplo das tecnologias atualmente dade sustentável nestes países se tornará, para derivar produtos combustíveis, disponíveis. Em geral, governos munici- inevitavelmente, um elemento central para como diesel-FT, gasolina ou possivel- pais de países desenvolvidos enfatizarão a mobilidade sustentável global. 95 1 Existe um terceiro tipo de sistema de propulsão – motor de combustão Postos de pedágio eletrônicos foram introduzidos para acelerar o paga- externa. São exemplos: motores a vapor recíprocos, turbinas a vapor e mento em infra-estruturas específicas. É usado em diversos países incluin- motores com turbinas a gás. Hoje em dia, somente o último é usado do França, Itália, Espanha, Austrália, Japão, Canadá e Estados Unidos. largamente em transporte e seu uso se restringe quase que totalmente ao transporte aéreo, discutido mais adiante neste capítulo. 13 Em 2000, caminhões e ônibus juntos foram responsáveis por quase 30% de todas as emissões de GEEs do transporte – cerca de dois terços 2 No mínimo durante a última década, a tendência mundial de mudança do volume de emissões de GEEs por veículos leves. de motores tem seguido a direção oposta, uma vez que existe uma demanda do mercado por veículos maiores com melhor desempenho e 14 Caminhões Classe 8 são aqueles que possuem peso bruto indicado pelo mais funções especiais. fabricante de 33.001 libras (15.000 kg) ou mais. 3 15 Seria necessário fazer mudanças técnicas no motor para evitar o declínio do desempenho ou função. O Programa de Testes de Veículos (Vehicle Testing Activity), do Departamento de Energia dos EUA, mantém um website que apresenta projetos de veículos pesados híbridos de todo o mundo. Em meados de 4 Isto também se aplica ao caso do hidrogênio usado para “ligar” um motor de combustão interna. novembro de 2003, o website tinha uma lista de mais de 60 projetos nos EUA e no Canadá e mais de 50 na Europa, Ásia e outras regiões. US DOT 2003a. 5 Estes custos referem-se a tecnologias individuais e não abrangem os cus- tos de integração que, em muitos casos, podem ser maiores que o custo base da tecnologia. 16 O custo do caminhão Isuzu é de US$ 9.000, superior a um caminhão diesel com a mesma capacidade. (O custo atual de um caminhão diesel deste tamanho varia de US$ 27.000 a US$ 36.000.) O caminhão diesel 6 Quando a combinação gera aumento das emissões WTW GEEs do veícu- lo em referência, caso não tenha significado, nenhum número é mostra- da Nissan custa US$ 8.200 mais do que um caminhão diesel padrão de mesmo tamanho. Automotive News, January 12, 2004, p. 28L do na coluna nove. 17 7 DPF = Filtro de Particulados de Diesel. Honda 2003. Motocicletas maiores (modelos de 125cc a 1800cc) já usam injeção de combustível, mas essa é a primeira vez que esta tecnologia está sendo aplicada a motonetas de menor porte. Motonetas de 50cc 8 Onde não aparecem números para o custo por tonelada escapada, as são as mais vendidas no Japão. emissões WTW GEEs são, na realidade, maiores do que as do caso em referência. 18 Virtualmente, todas as locomotivas a diesel são movidas à eletricidade. O motor a diesel move um gerador elétrico e os motores de tração são 9 Este valor se aplica a um veículo norte-americano médio com peso líqui- elétricos. do (com o tanque cheio, mas sem passageiro e sem bagagem ou carga) de 1.532 quilogramas. 10 Estima-se que o tempo de vida do veículo é de 193.000 quilômetros. 19 20 Neste caso, países europeus que pertencem à AIE. A maioria das locomotivas de composição de comboio na América do Norte tem de 30 a 40 anos e algumas são locomotivas antigas que 11 O peso do veículo pode aumentar com o acréscimo de certas funções de segurança (i.e., air bags). “migraram” para o serviço. Dessa forma, para muitas ferrovias, a comparação de custo relevante deve ser com os custos operacionais desses comutadores. 12 Os sistemas de gestão de tráfego otimizam o fluxo de tráfico pelo mon- itoramento e pela simulação baseados em prognósticos como, por exem- 21 Os 83% referiam-se a locomotivas manobreiras. plo, dynamic speed signs (sinais que mostram a velocidade do carro que passa por eles), controle de acesso e designação flexível de faixa de rola- 22 Para as locomotivas de carga canadensess EMD 645 E3, fabricadas após mento. A gestão de ocorrências objetiva limpar áreas com acidentes o 1990, eliminar a ociosidade reduziu o consumo de combustível em 5% a mais rapidamente possível e, freqüentemente, faz parte integral da 8%, as emissões de NOx em 6% a 9%, as emissões de CO em 18% a gestão de tráfego. Sistemas de informação do motorista/viajante 21% e as emissões de HC em 27% a 29%. fornecem aos usuários dados que os capacitam a fazer melhores escolhas de transporte. Esta informação pode ser fornecida por painéis luminosos colocados nas vias de transporte, radiodifusão, Internet e através do sistema de navegação do veículo levando a um ajuste da rota escolhida. 96 23 Em contraste, um carro de passageiros de quatro cilindros tem um deslocamento de 2,0 a 3,0 litros. Website da MAN/B&W 2003. 96 Capítulo 4 Atingindo a mobilidade sustentável I. Introdução Até este ponto em nosso Relatório Neste capítulo final, voltamos nossa Final, identificamos um conjunto de atenção para as formas como as indicadores da mobilidade sustentável metas poderão realmente ser atingi- e projetamos o curso de sua evolução das. Fazemos uma distinção entre as até 2050. Com base nestas projeções, realizações que, em princípio, concluímos que a mobilidade não é parecem possíveis até 2030 e sustentável atualmente e nem se realizações que somente parecem espera que o seja se as tendências atu- possíveis após um período mais ais se mantiverem. Propusemos um longo de tempo. conjunto de metas que, se atingidas, poderão melhorar substancialmente a sustentabilidade da mobilidade e, por fim, descrevemos a contribuição potencial que várias tecnologias e combustíveis de veículos de transporte seriam capazes de oferecer para ser possível atingir tais metas. 98 II. Certificar-se que as emissões de poluentes “convencionais” decorrentes do transporte não constituam uma preocupação para a saúde pública em qualquer lugar do mundo No mundo desenvolvido, está chegando o saúde. Estes limites, por sua vez, fizeram nologias de controle de poluição foram tempo em que os poluentes convencionais com que os fabricantes instalassem tecno- absorvidos em primeira instância pelos decorrentes do transporte não mais consti- logias de controle de poluição cada vez fabricantes de veículos e combustíveis e tuirão uma preocupação significativa para mais efetivas nos novos veículos. depois foram repassados aos com- a saúde pública. Acreditamos que esta Segundo, os governos exigiram que os pradores e operadores de veículos. meta será atingida por volta de 2020. No fabricantes garantissem que estes disposi- mundo em desenvolvimento, levará mais tivos eram capazes de atingir os limites Para completar o processo de eliminação tempo, mas um progresso substancial para os quais foram certificados durante a das emissões convencionais decorrentes poderá ser obtido antes de 2030. “vida útil” de um veículo. Os governos do transporte como uma preocupação também introduziram normas de de saúde pública, um quinto elemento Até agora, o progresso obtido resulta inspeção e manutenção para assegurar pode ser necessário: a identificação e o principalmente de uma estratégia de que estes dispositivos funcionassem de controle dos veículos que denominados quatro passos acordo. Terceiro, os governos determi- “grandes emissores”. naram que os combustíveis necessários Primeiro, os governos estabeleceram limi- ao bom funcionamento destes disposi- tes de emissões cada vez mais rigorosos, tivos estivessem disponíveis. Quarto, os tomando por base os efeitos causados à custos adicionais de combustíveis e tec- A. Finalizar a tarefa de controle das emissões convencionais de veículos rodoviários e de transporte no mundo desenvolvido As projeções do caso de referência do PMS mostraram que os limites de emissões já em vigor (ou programados para serem introduzidos) nos estados membros da OCDE permitirão que as emissões convencionais decorrentes do transporte nesses países caiam rápida e significativamente durante as próximas décadas. Esse declínio não incluirá apenas veículos leves rodoviários (VLRs), mas também veículos pesados rodoviários 99 (VPRs) – caminhões e ônibus –, locomoti- Em síntese, detectar os “grandes emis- uma solução aos “grandes emissores” irá vas, navios e aviões. sores” não deveria ser um grande se tornar uma questão menos tecnológi- desafio. Na maioria dos países, os limites ca e mais política e cultural. Em breve, os Para que o mundo desenvolvido atinja a de emissões extremamente rigorosos veículos serão capazes de “auto-relatar” meta do PMS, no entanto, um outro impostos aos veículos novos são acom- suas emissões reais a seus operadores e desafio deverá ser vencido. panhados por exigências de que os às autoridades governamentais. Como já À medida que os dispositivos de redução de veículos que os utilizam sejam equipados afirmamos, diferentes sociedades estão emissões se tornem ‘standard’ na frota de com dispositivos que permitam uma mais ou menos dispostas a aceitar dife- veículos de transporte do mundo desen- “leitura” eletrônica do desempenho do rentes níveis de “intrusão governamen- volvido, uma parte maior das emissões sistema de emissões e alerte os motoris- tal”. Obter o “auto-relatório” do próprio remanescentes deve ser produzida por tas sobre a possibilidade de seus sistemas veículo que não atende aos limites de veículos em desacordo com os limites esta- de controle de emissões não estarem emissões ou ter o excesso de emissões belecidos para as mesmas. O monitora- funcionando bem. No entanto, a expe- de um veículo apontado por um disposi- mento nas vias e testes aleatórios nos riência até agora com programas de tivo de detecção instalado na via, que EUA e em outros lugares demonstraram inspeção e manutenção tem sido decidi- automaticamente notifica o proprietário que um número relativamente pequeno de damente variada. Mesmo quando os sis- da necessidade de reparo e automatica- “grandes emissores” é responsável por uma temas de controle de emissões dos veícu- mente o multa se não o fizer, são medi- parcela desproporcional das emissões reais.1 los propositalmente não funcionam bem, das que se tornarão tecnologicamente as auto-ridades algumas vezes relutam viáveis. Mas, talvez, não amplamente A Tabela 4.1 mostra as informações cole- em forçar os proprietários a trazer estes aceitáveis ta-das pela Universidade de Denver sistemas à conformidade com a legis- (Colora-do) no mesmo local de Denver lação. O insucesso em lidar eficazmente Outro desafio será amortecer o impacto durante quatro anos seguidos (1999, com os “grandes emissores” não anulará que a conformidade às novas tecnologias 2000, 2001 e 2003) acrescidas de dados totalmente outras reduções de emissões imporá às famílias e aos indivíduos de colhidos sobre dois anos anteriores geradas pelos sistemas melhorados de baixa renda. Famílias de baixa renda que (1996 e 1997) que faziam parte de um controle de emissões. Mas diminuirão a possuem carros tendem a ter veículos estudo separado (Burgard, et. al. p. 7). magnitude destas reduções. mais antigos e em pior estado de conser- Os níveis médios de CO, HC e NOx (Automotive News, September 22, 2003). vação do que famílias de renda mais alta. diminuíram com o passar do tempo, À medida que os sistemas de monitora- Como resultado, espera-se que motoris- refletindo a introdução de novas gera- mento de bordo e ao longo das rodovias tas oriundos de famílias de baixa renda ções de tecnologias de controle de emis- se tornarem mais sofisticados e menos acabem desproporcionalmente represen- sões e a retirada de circulação de veí- custosos, o desafio de se detectar e dar tados entre os “grandes emissores”. Isso culos mais antigos. Mas os percentuais é especialmente verdadeiro onde os sis- do total de CO, HC e NOx emitidos por temas de transporte público não veículos na faixa dos 10% “mais polui- fornecem um substituto viável para os dores” da frota permanecem relativa- VLRs particulares. mente estáveis (CO e HC) ou aumentam (NOx). A Tabela 4.2 mostra os cálculos do PMS usando o modelo USEPA Móbile 6 para a parcela dos “grandes emissores” do total de emissões dos VLRs dos EUA em 1999. Nota: dados de 1999. Fonte: cálculo do Projeto Mobilidade Sustentável B. Controlar as emissões convencionais de veículos rodoviários em regiões do mundo em desenvolvimento As tecnologias que estão sendo utilizadas para controlar as emissões convencionais de veículos rodoviários nos países desenvolvidos e para detectar os “grandes emissores” estão disponíveis para aplicação em veículos nos países em desenvolvimento. Mas atingir, nos países do Fonte: Burgard et. al. 2003, p.7. 100 mundo em desenvolvimento, resultados se torna ainda mais verdadeira. Além emissões convencionais decorrentes do comparáveis aos do mundo desenvolvido disso, em muitos países em desenvolvi- transporte. Como mencionado no apresenta vários desafios distintos.2 mento, o refino e a venda de com- Capítulo 3, medidas começam a ser bustíveis para transporte é monopólio do tomadas para controlar as emissões 1. O DESAFIO DO PREÇO governo. Inovações que envolvem dis- destes veículos, a mais importante das ACESSÍVEL - VEÍCULOS pendiosas atualizações de refinarias, sis- quais é exigir que estes veículos sejam temas aperfeiçoados de distribuição de equipados com motores de quatro tem- As rendas per capita médias são muito combustíveis ou postos de abastecimen- pos ao invés de dois tempos. mais baixas nos países em desenvolvi- to remodelados encontram sempre uma mento do que nos desenvolvidos. Assim, forte resistência política. o custo inicial dos equipamentos de con- Esta ação por si só não será suficiente. Tecnologias que permitem a redução trole de emissões representa um encargo 3. O DESAFIO DO PREÇO drástica das emissões dos veículos de duas financeiro maior para um possível com- ACESSÍVEL - MANUTENÇÃO e três rodas com motores de quatro tem- prador de veículo nestes países do que pos começam a se tornar disponíveis e para um nos países desenvolvidos. Isso Assegurar que veículos portadores de incluem a injeção de combustíveis aumenta a resistência do público a equi- equipamentos avançados de controle de eletronicamente controlada e os catalisa- pamentos avançados de controle de emissões sejam mantidos e abastecidos de dores de três vias. Se implementados, emissões, especialmente quando destina- forma apropriada é outro desafio conside- estes desenvolvimentos têm um potencial dos a veículos menores e mais baratos rável para os países em desenvolvimento. de reduzir as emissões dos veículos de como carros de passeio populares, pe- O custo é certamente a razão. Mas talvez duas e três rodas a níveis comparáveis aos quenos caminhões e veículos de duas ou os fatores culturais sejam mais importan- dos carros de passageiros mais recentes. três rodas. Esta resistência deve se agra- tes. Mesmo nos países mais abastados var, caso a exigência de controles mais provou ser difícil persuadir as autoridades rigoro-sos traga desvantagens (ou pareça para alocar os recursos necessários para trazer desvantagens) a fabricantes nativos. garantir a conformidade com as normas. Comprovou-se também a dificuldade de Rendas mais baixas também significam se convencer o público a apoiar medidas que os veículos, uma vez adquiridos, ten- que tirem das ruas os veículos mais anti- dem a permanecer em serviço por um gos e mais poluidores. No entanto, teve prazo maior. Conseqüentemente, a rapi- mais sucesso a medida de atribuir aos fa- dez da disseminação de qualquer tecnolo- bricantes de veículos a responsabilidade gia específica de controle de emissões pela garantia do funcionamento eficiente entre a frota de veículos de um país será dos equipamentos de controle de emis- menor no mundo em desenvolvimento do sões.3 Além disso, em muitas partes do que no mundo desenvolvido. mundo em desenvolvimeto, a manutenção e o conserto de veículos são feitos 2. O DESAFIO DO PREÇO “extra-oficialmente”. Programas de ACESSÍVEL - COMBUSTÍVEIS inspeção e manutenção ou não existem ou não são conduzidos de forma rigorosa. Assegurar que os mais novos com- E as autoridades têm poucos recursos e bustíveis de baixapoluição estejam dispo- pouca motivação para assegurar que tal níveis e sejam utilizados é também mais trabalho seja apropriadamente executado. Mas, como no caso dos automóveis e caminhões leves, os veículos motorizados de duas e três rodas equipados com conversor catalítico necessitarão de combustível sem chumbo e (posteriormente) combustível com baixo teor de enxofre, o que levanta questões quanto à acessibilidade, ao uso correto do combustível e à manutenção do veículo. No mundo desenvolvido, estes desafios parecem superáveis, mas o prognóstico é muito mais incerto para os países em desenvolvimento. 5. O IMPACTO DOS DIFERENTES NÍVEIS DE DEFASAGEM NA IMPLANTAÇÃO DAS EMISSÕES EM PAÍSES E REGIÕES DO MUNDO EM DESENVOLVIMENTO Ao preparar as projeções das emissões para os países em desenvolvimento, de- difícil no mundo em desenvolvimento. Tais combustíveis tendem a ser mais 4. O DESAFIO DE CONTROLAR AS talhadas no Capítulo 2, o PMS fez uma caros que os combustíveis convencionais. EMISSÕES CONVENCIONAIS DOS suposição de que estas se encontram dez Os mesmos fatores de acessibilidade que VEÍCULOS MOTORIZADOS DE anos defasadas em relação aos países retardam a expansão de equipamentos DUAS E TRÊS RODAS desenvolvidos no tocante ao controle de emissões de poluentes convencionais avançados de controle de emissões também retardam a introdução de com- Veículos motorizados de duas e três rodas decorrentes de veículos rodoviários. bustíveis mais caros. Quando veículos são relativamente eficientes energeticamen- Neste contexto, “controlar emissões” mais caros e combustíveis mais caros são te. Mas devido a sua grande quantidade e envolve mais do que aprovar leis ou re- introduzidos ao mesmo tempo, como é seus motores de dois tempos, são respon- gulamentos que obriguem novos veícu- muitas vezes o caso, a premissa anterior sáveis por uma desproporcional parcela das los a serem equipados com controles 101 avançados de emissões, ou exigir a introdução de combustíveis que permitam que tais controles funcionem como proje- Figura 4.1 Regiões não-OCDE: Emissões de Monóxido de Carbono (CO) por ano de acordo com a defasagem na implementação de normas de emissões do mundo desenvolvido tados. Também significa garantir que estes controles avançados sejam utilizados por toda a frota de veículos e que funcionem durante toda a vida útil dos mesmos. Nestas circunstâncias, uma defasagem de dez anos parece razoável, tendo em vista a intenção de alguns países em desenvolvimento de adotar os limites de emissões da União Européia e a adoção real destes limites por vários outros países em desenvolvimento nos últimos anos. A extensão desta defasagem de implementação tem um impacto significativo Fonte: Cálculos do Projeto Mobilidade Sustentável nas emissões. Isso é mostrado nas Figuras 4.1 a 4.4, nas quais as emissões resultantes de defasagens de vários níveis são apresentadas para várias substâncias. Figura 4.2 Regiões não-OCDE: Emissões de Compostos Orgânicos Voláteis (COVs) por ano de acordo com a defasagem na implementação de normas de emissões do mundo desenvolvido As Figuras 4.1 a 4.4, mostram que, por volta de 2050, não obstante o nível de defasagem, não haverá diferença nas emissões totais. Isso porque os países da OCDE não devem reforçar os limites de emissões além dos níveis de 2010. Sob esta pressuposição, por volta de 2050 os países fora da OCDE se alinharão aos países da OCDE a despeito da defasagem. Ainda, durante grande parte do período entre 2000 e 2050, o nível de emissões difere, algumas vezes de forma dramática, em função da defasagem. Por exemplo, Fonte: Cálculos do Projeto Mobilidade Sustentável. em 2020, as emissões de CO e PM-10 variam cada uma por um fator de quase 102 quatro, já as emissões de NOx variam por controle de emissões sendo introduzidas A coordenação cuidadosa da introdução um fator de quase dois. Para emissões de nos países da OCDE deve ser recuperado de tecnologia avançada de controle de cada poluente, a extensão da defasagem até a época em que essas tecnologias se- emissões e dos combustíveis que permi- determina se as emissões terão um jam incorporadas à maioria dos veículos tam sua operação efetiva será necessária declínio significativo, um declínio suave vendidos no mundo em desenvolvimen- em todo o mundo. Caso contrário, os ou um aumento por volta de 2010. to. A precificação desta tecnologia, de esforços para acelerar a redução de emis- acordo com o incremento de sua pro- sões não apenas serão ineficazes como Os membros do PMS pouco podem dução, pode melhorar sua acessibilidade também realmente contraproducentes. fazer para ajudar os países em desen- e acelerar sua utilização no mundo em volvimento a resolver seus problemas desenvolvimento. Do lado dos combus- políticos e culturais mencionados acima. tíveis, poderiam ser feitos esforços para Mas podemos talvez ajudar a reduzir convencer as empresas petrolíferas go- No mundo desenvolvido, as emissões outros elementos da defasagem de vernamentais a acelerar o ritmo em que convencionais decorrentes dos trans- tempo. Por exemplo, o custo do desen- as refinarias são atualizadas para produzir portes caminham em direção a um acen- volvimento das tecnologias avançadas de combustíveis de melhor qualidade. tuado declínio nas próximas décadas. O 4 C. Avaliação sumária Figura 4.3 Regiões não-OCDE: Emissões de Óxido de Nitrogênio (NOx) por ano de acordo com a defasagem na implementação de normas de emissões do mundo desenvolvido 20 15 10 5 0 Fonte: Cálculos do Projeto Mobilidade Sustentável. Figura 4.4 Regiões não-OCDE: Emissões de Matéria Particulada (PM-10) por ano de acordo com a defasagem na implementação de normas de emissões do mundo desenvolvido 2.0 1.5 1.0 0.5 0 Fonte: Cálculos do Projeto Mobilidade Sustentável. principal desafio remanescente à con- um dos principais desafios à implemen- quista total da meta que estabelecemos tação dos limites de emissões dos países é detectar e controlar as emissões dos desenvolvidos, embora vários países em “grandes emissores”. As tecnologias desenvolvimento pareçam preparados existem para isso, mas as sociedades para fazê-lo. Se o custo dos equipamen- parecem divergir em como – ou tos de controle de emissões e dos com- mesmo se – utilizá-las. bustíveis “mais limpos” puder ser reduzido significativamente, as chances de se Os países em desenvolvimento têm o atingir mundialmente esta meta serão potencial para igualar as conquistas dos bem maiores. países desenvolvidos no controle dos poluentes convencionais decorrentes dos transportes. Mas a acessibilidade às tecnologias e aos combustíveis necessários é a preocupação chave. Isso será também 103 III. Limitar as emissões de GEEs decorrentes dos transportes a níveis sustentáveis Enquanto não é possível definir-se exata- Fator 3 – O volume total da atividade atividade de transporte (Fator 1) ou re- mente o que poderia ser um nível “sus- de transporte. Isto depende do número duzir as emissões de GEEs (medidas nu- tentável” de emissões de GEEs decorren- de veículos de transporte em operação e ma base WTW) geradas pela produção e tes dos transportes, fica claro que esse seu uso e é função da demanda dos pelo uso de cada unidade daquela energia nível estaria abaixo dos níveis atuais. Por consumidores. (Fator 2). A primeira requer que a frota outro lado, o caso de referência do PMS de transporte se torne mais eficiente mostra as emissões de GEEs decorrentes Fator 4 – A composição modal do vo- energeticamente. A se-gunda requer a dos transportes mais do que dobrando lume total da atividade de transporte. produção, distribuição e uso de combus- por volta de 2050. Isto é claramente Isto depende da escolha do consumidor, tíveis com teor mais baixo de carbono. insustentável. Como este panorama do veículo, da formação de preço e das poderia ser mudado significantemente? medidas legislativas ou fiscais prevale- 1. ESTIMULAR A DEMANDA POR SIS- centes que influenciam a seleção da TEMAS DE TRANSPORTE COM modalidade de transporte. “MENOS EMISSÃO DE CARBONO” A. Quatro fatores determinantes do total das emissões de GEEs decorrentes dos transportes A discussão do PMS sobre abordagens para redução das emissões de GEEs decorrentes do transporte se organiza em torno destes quatro fatores. Começamos discutindo ações que afetam o fator 1 e/ou o fator 2. Se considerados Como observado no Capítulo 2, o volume total das emissões de GEEs decorrentes do transporte resulta de quatro fatores: Fator 1 – A quantidade de energia necessária ao veículo médio utilizado por cada modalidade de transporte para desenvolver uma certa quantidade de atividade de transporte. Isto depende das características do consumo de energia da modalidade ou do transporte e das condições de operação. Fator 2 – As emissões de GEEs WTW geradas pela produção, distribuição e juntamente, estes fatores determinam as características das emissões de GEEs de qualquer veículo de transporte. Discutiremos, a seguir, ações que causam impactos no Fator 3 e/ou Fator 4. Estes fatores determinam quanto cada veículo é utilizado e o padrão de utilização dentro da frota de transporte. consumo de combustíveis, quando utilizadas em diferentes tipos de veículos de transporte, e de restringir as emissões médias de carbono produzidas pela fabricação e pelo uso de diferentes tipos de combustíveis de transporte foram descritas no Capítulo 3. Mas para que este potencial se traduza em reduções reais nas emissões de GEEs decorrentes dos transportes, estas tecnologias têm que ser utilizadas em larga escala. Além disso, o percentual de quaisquer reduções será influenciado pelo modo como os veículos que incorporam estas tecnologias são utilizados no B. Reduzir as emissões de GEEs por unidade de atividade de transporte serviço diário. Atualmente, não há garantias de que muitas destas tecnologias e destes combustíveis serão utilizados largamente. No geral, tanto os veículos que as incorporam uso de uma unidade de combustível de 104 As tecnologias com potencial de reduzir o transporte. Isto se relaciona diretamen- Para reduzir as emissões de GEEs por uni- quanto os combustíveis que estes preci- te com o conteúdo de carbono do com- dade de atividade de transporte, é neces- sam usar para reduzir as emissões de GEEs bustível utilizado e a forma pela qual é sário reduzir a quantidade de energia ne- custam mais do que os veículos e com- produzido e distribuído. cessária para produzir aquela unidade de bustíveis a serem substituídos. Além disso, os benefícios da redução das emissões de mais avançadas, tais como as células GEEs se estenderão mais à sociedade combustíveis, combustíveis como o cada redução no consumo de com- como um todo do que a qualquer usuário hidrogênio “carbono neutro” e os bio- bustível aumenta. Isso porque os de transporte individualmente. Assim, combustíveis avançados. Seu potencial preços de combustíveis aumentam (e espera-se que seja bastante limitado o de cortar os GEEs decorrentes do trans- espera-se que aumentem ainda mais incentivo para que os indivíduos incorram porte começa a ser compreendido, mas no futuro) e as preferências básicas voluntariamente em significativos custos não estão nem perto de uma comercial- dos consumidores mudam de tal adicionais para adquirir e operar veículos ização em larga escala. Questões impor- forma que aumenta sua disposição de que emitam níveis bem menores de tantes sobre viabilidade técnica devem pagar por uma maior economia de GEEs.5 Incentivos serão provavelmente ser respondidas. O custo de tais veículos combustível e/ou por emissões reduzi- necessários, e apenas os governos têm e combustíveis, quando produzidos em das de GEEs. recursos e autoridade para criá-los. grandes volumes, também é altamente especulativo, da mesma forma que é • O valor que os usuários atribuem a • Os governos criam incentivos tornan- Considerando-se os incentivos que po- especulativo o desempenho diário dos do a compra e o uso destes veículos derão ser necessários, qual poderá ser seu veículos operando em condições nor- mais atraentes. Há duas formas bási- impacto nas emissões de GEEs e o perío- mais. Todas estas incertezas significam cas de o governo fazer isso: do em que este impacto deverá ser senti- que não é pratico definir neste estágio do, é importante separar-se as tecnologias que incentivos poderão eventualmente Exercendo seus poderes para aumen- e os combustíveis veiculares discutidos no ser necessários para possibilitar sua tar e gastar a receita pública, o gover- Capítulo 3 em duas categorias. Uma cate- ampla utilização. Entretanto, é possível se no pode usar impostos, subsídios e goria inclui tecnologias e combustíveis descrever o que os governos podem outras medidas fiscais para alterar o veiculares para os quais há, ou logo fazer nos próximos anos para ajudar a custo/benefício das negociações entre haverá, alguma experiência comercial em indústria a reduzir estas incertezas a um consumidores e empresários em suas algum lugar. Veículos leves utilizando ponto em que se evite discussões sem decisões de compra de veículos e gasolina avançada para motores de com- sentido sobre implementação. combustíveis. Isso pode incluir a alte- bustão interna (MCI), diesel avançado ração do nível e da estrutura de MCI e conjuntos motores híbrido-elétricos a) Tecnologias e combustíveis MCI já existem no mercado ou estão veiculares para os quais temos próximos de existir. A aplicação destas (ou em breve teremos) tecnologias a veículos rodoviários médios experiência comercial e pesados está defasada, mas os custos envolvidos estão razoavelmente bem As projeções do caso de referência do definidos, da mesma forma que as apa- PMS no Capítulo 2 não sugerem que as rentes características de desempenho que taxas de penetração na frota dos veículos tais veículos deveriam apresentar. que empregam avançados conjuntos Biocombustíveis "convencionais" também motores a diesel ou híbrido-elétricos atin- estão sendo utilizados comercialmente em girão níveis significativos (numa base vários países. mundial) por volta de 2030 - ou mesmo 2050. O mesmo é verdadeiro para a pen- impostos sobre combustíveis para encorajar a compra e o uso de tais veículos e combustíveis, subsidiando sua compra. Ou pode incluir a imposição de impostos mais pesados sobre a compra de veículos de combustíveis menos eficientes e de combustíveis com alto conteúdo de carbono fóssil. Exercendo seus poderes regulatórios, os governos podem promulgar leis ou adotar normas exigindo que os fabricantes O fato de já haver (ou haver em breve) etração dos biocombustíveis "conven- alguma experiência comercial com estes cionais". Como indicado anteriormente, veículos e combustíveis em algumas isso porque o custo dos veículos que partes do mundo não significa que todos incorporam estes conjuntos motores e o os problemas técnicos a eles relacionados custo dos combustíveis quase certamente tenham sido solucionados ou que seu excedem o custo dos veículos e com- custo e desempenho em todas as situa- bustíveis de hoje. Para uma maior pene- ções sejam conhecidos. Mas, no caso tração ser conseguida, a demanda preci- podem estabelecer acordos voluntários destes veículos e combustíveis, faz sentido sará ser estimulada. com fabricantes de veículos e de com- de veículos produzam – e comercializem com sucesso – veículos que ofereçam consumo reduzido de combustíveis. Uma abordagem similar pode ser utilizada com os fabricantes de combustíveis. Alternativamente, os governos bustíveis, com o mesmo objetivo. discutir em termos gerais quais incentivos poderão ser necessários para possibilitar Muitas formas de aumento da demanda sua implementação em larga escala. por veículos e combustíveis de "baixa emis- Várias nações têm experiência com o uso A segunda categoria de tecnologias e são de carbono" foram sugeridas. Todas e a efetividade de cada uma destas combustíveis veiculares inclui tecnologias são variações de duas abordagens básicas: medidas. 105 Aumentando o valor atribuído pelos Mas as decisões de compra de veículos também aplicar diferentes alíquotas a dife- usuários às reduções no consumo de não são sempre totalmente “racionais” rentes combustíveis. Podem subsidiar a combustível e os compradores algumas vezes dão compra de sistemas de propulsão e/ou O clima global é o protótipo do "bem grande valor a certos atributos dos combustíveis que emitam menos GEEs. Ou público". Todos são afetados pelas veículos. Compradores de combustível podem impor diferentes tarifas para regis- mudanças que as atividades humanas podem agir da mesma maneira. Sob tro, baseadas nas características de emissão podem causar, mas nenhum indivíduo certas circunstâncias, como previsto no de GEE dos veículos. pode obter algum benefício mensurável caso do “Cidadão Global”, maior de ações concebidas e tomadas de forma economia de combustível ou menor A experiência mostra que as medidas fiscais unilateral. Altruísmo à parte, o único conteúdo de carbono por combustível podem ter um significativo impacto de benefício que um indivíduo pode esperar poderão se tornar fatores de forte apelo longo prazo na demanda por veículos que comprando um veículo que reduza as para o público comprador. oferecem consumo reduzido de combustíveis. Em alguns países europeus, as emissões de GEEs através da redução de consumo é a redução de suas despesas Incentivos Fiscais vendas de veículos leves a diesel mais caros7 com combustível. (subsídios e/ou impostos) têm sido apoiadas por uma variedade de Se o valor que os compradores de medidas fiscais, entre elas impostos sobre Os fatores que afetam essas despesas, ou veículos atribuem ao consumo reduzido combustíveis menores para o diesel em que se espera que afetem no futuro, de combustível não muda, ou se esta relação à gasolina8 (vide Figura 4.5). podem mudar o comportamento de com- mudança é muito pequena para fomen- Espera-se que a parcela de carros novos a pra do veículo. O mais importante é o tar conforme necessário a demanda por diesel na Europa – menos de 15% em 1990 preço atual do combustível de transporte e veículos mais eficientes em relação aos – atinja 45,9% em 2004 (Automotive News sua expectativa para o futuro. A evidência combustíveis, os governos precisam Europe, October 20, 2003). irrefutável é que os compradores de veícu- tomar medidas para influenciar a mais vendidos do que carros a gasolina los reagem a altos preços de combustíveis demanda por veículos que emitam em França, Espanha, Áustria, Bélgica e atuais e esperados para o futuro exigindo menos GEEs. Luxemburgo. Em setembro de 2003, a Itália se tornou o sexto país europeu veículos que ofereçam consumo reduzido de combustíveis. Eles também reagem Os governos têm um conjunto de medidas alterando seu volume e sua composição fiscais à sua disposição. Mencionando ape- 6 modal da atividade de transporte. Carros a diesel já são onde isto era verdadeiro. nas algumas, eles podem aumentar impos- Apesar de os veículos leves movidos a diesel tos sobre os combustíveis de transporte e terem sempre sido mais comuns na Europa Mesmo que os preços da energia não aumentem nem se espere que aumentem, os compradores de veículos podem decidir Figura 4.5 Preço do diesel em relação ao preço da gasolina sem chumbo atribuir um valor maior a uma esperada economia futura no custo de energia – eles podem aumentar a importância atribuída ao desempenho da "economia de com- 110% Irlanda bustível" ao se decidirem a comprar um veículo. Ou podem se decidir a favor de Espanha 100% combustíveis com menor conteúdo de Itália 90% Suécia pensar atributos que se esperaria que um Luxemburgo 80% França Finlândia deração ao comparar veículos. Isto é, eles estimam a economia anual esperada para Alemanha UE vel" em termos econômicos e para com“consumidor racional” levasse em consi- Áustria Grécia carbono. Os compradores de veículos de hoje valorizam a "economia de combustí- Reino Unido Dinamarca 70% Bélgica o custo de energia e a descontam no pre- Holanda sente. Os compradores de hoje também Portugal não se importam com o conteúdo de car- 60% bono dos combustíveis. Fonte: European Union Energy and Transport in Figures 2002.. 106 do que na América do Norte ou no Japão, moção de combustíveis à base de álcool relação à compra de veículos e ao consumo não há nada inerentemente particular na para a produção de veículos a preços de combustíveis. Diferentemente dos subsí- Europa que explique esta situação. A única acessíveis (conhecidos como “carros popu- dios fornecidos diretamente por governos e diferença é o custo mais alto do combustí- lares”), as vendas dos veículos movidos a dos impostos recolhidos diretamente por vel para o transporte na Europa (devido ao etanol puro caíram a quase zero.12 Por estes mesmos governos, estes incentivos fato de os impostos sobre combustíveis volta de 2000, todos os combustíveis e/ou sanções se fazem sentir inicialmente serem mais altos) e os incentivos diferencia- brasileiros deveriam conter 22% de etanol. pelos fabricantes de veículos e produtores dos que alguns governos têm introduzido Veículos leves utilitários podem utilizar esta de combustíveis antes de serem repassados para estimular a dieselização. Os limites de mistura de 22% de etanol sem a necessi- aos consumidores. emissões aplicáveis aos dieseis também são dade de motores especiais. Veículos com mais rigorosos na América do Norte e no “flexibilidade de combustível” (capazes de Por vezes, estes incentivos ou estas sanções Japão. Um estudo recente conduzido por utilizar uma mistura de até 85% de etanol) são claramente veiculados, mas, outras J. D. Power-LMC enfatiza que o ambiente serão brevemente introduzidos no Brasil. vezes, aparecem de formas mais sutis. As regulamentações da CAFE constituem o regulatório e fiscal local continuará a ser a principal influência determinadora das taxas Regulamentações, legislação e/ou acor- melhor exemplo de um conjunto claro de de penetração do diesel nos diversos paí- dos voluntários incentivos e sanções. Os fabricantes de ses.9 Segundo este relatório, as vendas Os governos, no entanto, podem consi- veículos que não atendem às metas de globais de veículos leves movidos a diesel derar oneroso demais aplicar medidas fis- economia de combustíveis estabelecidas poderiam subir de 12,5 milhões de cais para alavancar a demanda por sis- pelo programa da CAFE devem pagar mul- unidades ao ano em 2003 para 27 milhões temas de propulsão e/ou combustíveis tas sobre cada veículo vendido que equiva- de unidades ao ano até 2015, sendo 60% com baixa emissão de GEEs, particular- lem a US$ 5,50 para cada 0,1 mpg que deste aumento fora da Europa. mente se tais medidas tiverem de ser ado- estiverem abaixo dos padrões.13 Os fabri- tadas por muitos anos. Eles podem, ou- cantes que estiverem próximos aos Alguns governos têm também estimulado a trossim, empregar um conjunto diferente padrões podem pagar esta multa, adi- compra de biocombustíveis convencionais de medidas – seus poderes de regulamen- cionar tecnologias e alterar características e, indiretamente, a compra de veículos tação – para minimizar as despesas orça- dos veículos, independentemente de exi- movidos a estes combustíveis. Um bom mentárias para alavancar a demanda por gências dos fornecedores de “equalizar os exemplo é a taxa de penetração de veículos veículos e combustíveis com baixo nível subsídios” de seus veículos com com- movidos a etanol no Brasil em meados da de emissão de carbono. O governo dos bustíveis mais eficientes, ao diminuírem os década de 1980. Em 1985, as vendas de Estados Unidos, a União Européia e o go- preços que cobram por estes veículos ao novos carros e caminhões leves movidos a verno japonês já utilizaram seus poderes mesmo tempo em que aumentam os etanol representaram 96% das vendas para estimular (ou, em alguns casos, exi- preços de veículos que utilizam combus- brasileiras de veículos leves novos. O subsí- gir) que os fabricantes de veículos tíveis menos eficientes. De todo modo, o dio cumulativo para a produção de etanol motores desenvolvessem e comercializas- consumidor paga preços mais altos ou entre 1978 e 1988 foi de US$ 1 bilhão sem veículos leves utilitários que ofereces- aceita veículos com menos acessórios.14 (Nakicenovic 2001). Apesar de a diferença sem um menor consumo de combustível entre o custo do etanol e o custo do do que o mercado poderia arcar sem Os preços mais altos são repassados aos petróleo ter diminuído ao longo do tempo, qualquer subsídio. Sabe-se agora que a compradores dos veículos embutidos no a partir de meados dos anos 1980 o custo China está considerando ações seme- preço total mais alto. Isso reduz a demanda da produção de etanol permanecia superior lhantes 10 (The New York Times, November 18, 2003). e diminui a margem de lucro dos fabricantes. Mas como os fabricantes de veículos ao custo da produção de gasolina. Para baixar o preço ao governo, a gasolina É importante compreendermos que regula- não podem “fabricar” seu próprio dinheiro sofreu uma taxação em um nível tal que mentações, legislação e acordos voluntários ou obter empréstimos em quantias ilimita- efetivamente dobrou seu preço e a receita não têm o poder, por si só, de aumentar a das com taxas de juros favoráveis, sua capa- resultante foi utilizada para financiar a pro- determinação de um consumidor de pagar cidade para absorver as perdas decorrentes dução de álcool.11 Enquanto isso, a eficiên- preços mais altos por combustíveis com da demanda que resulta da equalização dos cia da produção de etanol no Brasil conti- baixa emissão de carbono ou por veículos subsídios de veículos é bem menos do que nuou a melhorar e, em 2003, o etanol que ofereçam um menor consumo de a capacidade dos governos. Em última ins- brasileiro tinha o mesmo preço da gasolina combustível. Pelo contrário, são os incen- tância, uma abordagem regulatória que em uma base volumétrica, mesmo o subsí- tivos econômicos e/ou as sanções que possa estimular o aumento da frota de veí- dio tendo sido há muito retirado. Com o acompanham regulamentações, legislação culos movidos a combustíveis eficientes tem corte dos subsídios ao etanol e como a e acordos voluntários que efetivamente menos impacto do que a produzida pela política governamental alterou-se da pro- trarão mudanças no comportamento em abordagem direta de subsídio/imposto. 107 Tabela 4.3 Análise Européia WTW - “Substituição de 5% da Distância do Transporte de Carros de Passageiros” – Cenário para combustíveis e conjuntos motores *n.m. = not meaningful Source: EUWTW 2004, p.22, with additional calculations by the Sustainable Mobility Project. O impacto potencial destas “alavancas” A Tabela 4.3 utiliza informações da Tabela Para aquelas combinações de conjunto Os exemplos acima sugerem que as 3.3 e inclui cálculos adicionais feitos pelo motor/combustível que reduzem as mudanças de preços dos combustíveis, PMS - apenas as combinações de com- emissões de GEEs, as reduções variam de impostos, subsídios, normas, “acordos bustíveis e conjuntos motores com as 3% a 65% e são obtidas a um custo vo-luntários” e legislação, bem como as quais temos (ou teremos em breve) algu- anual entre €217 e €2.000 por tonelada mudanças no gosto dos consumidores, ma experiência comercial. Isso significa de emissões de GEEs evitadas. O aumen- podem promover a compra de tecnolo- que são omitidas as combinações conjun- gia veicular e o uso dos padrões de to motor/combustível que utilizam modo a reduzir as emissões de GEEs a hidrogênio, biocombustíveis avançados, partir dos níveis que, sem isso, estes atin- e/ou células combustíveis (estas são dis- giriam. Se estas “alavancas” são fortes o cutidas separadamente abaixo). suficiente para “reverter” significativa- 108 to no custo anual por veículo substituído é de €142 a €582. Visto por um outro ângulo, cada 100 km rodados utilizando um veículo equipado com uma das combinações conjunto motor/combustível mostradas na Tabela 4.3 custa entre € 0,89 e €3,65 a mais do que rodando-se mente a curva das emissões de GEEs Exceto pelos GNC, os combustíveis incluídos a mesma distância usando o veículo e o decorrentes do transporte, depende (1) na Tabela 4.3 são combustíveis líquidos que combustível de referência15. Tais números da magnitude de quaisquer custos de podem ser distribuídos através dos sistemas dão uma noção da magnitude do incen- penalidades que devam ser absorvidos e de distribuição de combustíveis existentes tivo necessário para induzir a compra e o (2) da disposição dos governos para alo- com pequena ou nenhuma modificação. uso destes veículos na Europa. car os recursos necessários (impostos e Os veículos são impulsionados por motores subsídios) a longo prazo. a gasolina ou diesel, ou híbridos MCI. Para Os resultados mostrados na Tabela 4.3 as combinações de conjunto motor/com- podem ser interpretados como uma estimativa de “ordem de magnitude”. Os custos Para se ter uma idéia da possível magni- bustível incluídas, as colunas (1), (2), (3) e tude dos custos de penalidades associa- (5) contêm informações idênticas às das dos às diferentes combinações de con- correspondentes combinações de conjunto juntos motores/combustíveis e o poten- motor/combustível da Tabela 3.3. A coluna cial de redução de GEEs de cada uma (4) foi inserida para mostrar a mudança per- delas, é necessário o reexame dos resul- centual nas emissões de GEEs dos veículos quando apropriado, custos extras envolvi- tados da análise WTW - EUWTW (‘Análise referência da EUWTW. As Colunas (6) e (7) dos na distribuição do combustível ao Européia de WTW’) inicialmente discuti- mostram o custo adicional ao ano calcula- consumidor . Além disso, os cálculos dos no Capítulo 3. do em uma base por veículo e por 100 km. refletem apenas a experiência européia. adicionais dos veículos se baseiam em simples substituições de conjuntos motores. A estimativa do custo adicional de combustíveis reflete o custo adicional (se houver algum) de produção do combustível mais, 16 b) Tecnologias avançadas de propul- (1) Caminhos possíveis para a introdução derivada da reforma de gás natural ou são de veículos como célula com- da célula combustível para veículos da grade convencional de eletricidade, bustível, hidrogênio “carbono neu- rodoviários com suas decorrentes emissões de CO217. tro” e biocombustíveis avançados Os veículos com célula combustível estão À medida que a demanda por hidrogênio sendo introduzidos em números muito li- aumentar, ela poderá advir de forma Para alterar mundialmente a trajetória das mitados em poucos mercados, como de- crescente a partir do gás natural em refor- emissões de GEEs decorrentes do trans- monstradores de tecnologia. Os custos madores a vapor em larga escala, com a atuais dos testes e dos veículos protótipos captura e o armazenamento de CO2. Tal com célula combustível são altos, freqüen- esquema criaria um caminho economica- temente 50 vezes mais altos do que com mente viável e neutro em carbono para o os veículos MCI atuais, sendo que ainda fornecimento de hidrogênio – ou seja, um há importantes questões técnicas a serem caminho que não resulte em emissões de porte, as simulações conduzidas pelo PMS e por outros mostram claramente que o mundo deverá ir além das tecnologias atuais, em busca de tecnologias avançadas de propulsão veicular como as células combustíveis, combustíveis avançados como hidrogênio “carbono neutro” e os esclarecidas a respeito da confiabilidade e CO2 na atmosfera em nenhum de seus durabilidade da célula combustível e do ar- estágios – e uma ponte para um futuro mazenamento do combustível no veículo. renovável à base de hidrogênio. biocombustíveis “avançados”. Quando os desafios técnicos e de custo Embora a análise EUWTW mencionada Os significativos desafios políticos/sociais/ forem vencidos, a quantidade destes ambientais/tecnológicos e os custos do no Capítulo 3 tenha incluído estimativas veículos em operação deverá aumentar. seqüestro de carbono teriam que ser con- do custo de introdução de um número Mas o início da introdução comercial siderados paralelamente a este processo. limitado de veículos com célula com- poderá se dar com certos tipos de veículos Tecnologias de captura de carbono poderi- bustível movida a hidrogênio derivado que podem ser reabas-tecidos em locais am ser adotadas para a gaseificação do de diversas fontes e o uso de limitadas como depósitos centrais, reduzindo a carvão para levar à geração de hidrogênio, quantidades de biocombustíveis avança- necessidade de grandes redes de abasteci- uma opção atrativa para países com dos em veículos usando diferentes con- mento. Estes veículos comerciais poderão grandes reservas de carvão ou onde a juntos motores, tanto a estimativa de também ser menos limitados pelos requisi- disponibilidade de gás natural é limitada. custo quanto a escala de tempo na qual tos de espaço do que os atuais (originais) sis- tais tecnologias e combustíveis devem temas de célula combustível e de armaze- Em contraste ao setor de transporte, o gás ser introduzidos são altamente especu- namento do hidrogênio comprimido. Se natural, ao invés do hidrogênio, é o combus- lativas. futuramente os custos puderem ser reduzi- tível escolhido para célula combustível na dos, a aceitação pública comprovada e a geração de eletricidade e aplicações combi- A avaliação do PMS é que o julgamento confiabilidade e durabilidade demonstradas, nadas de aquecimento e energia, apesar de mais preciso que pode ser feito no aplicações de larga escala em frotas – por poder haver um papel para o hidrogênio em momento sobre estes veículos e com- exemplo, em ônibus urbanos ou frotas de aplicações estacionárias, como sistemas de bustíveis avançados é que seus custos entregas urbanas selecionadas – poderão geração distribuídos. Um problema é a ofer- atuais são altos demais para concorrerem desenvolver o mercado no futuro. O ta limitada de gás natural. Seu uso extensivo hidrogênio comprimido será provavelmente como matéria-prima para a produção de o principal combustível para estas experiên- hidrogênio pode pressionar a oferta e levar a cias de campo e para o uso em ônibus e preocupações sobre a disponibilidade e outras frotas após 2010. segurança semelhantes às preocupações no mercado com os veículos e combustíveis de hoje. Nesses níveis de custo, os incentivos necessários para viabilizar sua introdução em números significativos estão, certamente, além da capacidade financeira dos governos. Assim, o mais importante desafio para a próxima década será determinar se os altos custos destes veículos e combustíveis podem ser com o petróleo, especialmente porque o gás Neste cenário, espera-se que o lançamento natural apresenta hoje um crescente uso inicial dos carros de passageiros com célula como substituto do carvão e da energia combustível no mercado ocorra não antes nuclear na geração de energia. de 2015 e que um volume significativo de produção seja atingido não antes de 2020. reduzidos ao ponto em que fará sentido O início da produção centralizada de hidrogênio poderia ser promovido, até certo considerá-los como sérios candidatos à (2) Possíveis caminhos para a introdução do ponto, pela introdução do hidrogênio ao adoção em larga escala mundial. hidrogênio como combustível de transporte sistema de tubulação de gás natural, com a Veículos movidos por célula combustível subseqüente extração do hidrogênio da Neste relatório, nos limitamos a esboçar necessitam de hidrogênio. Até aproxima- membrana (este processo ainda precisa ser possíveis caminhos para a introdução de damente 2020, a maior parte do hidro- comprovado tecnicamente). É provável que cada uma destas tecnologias. gênio produzido será provavelmente sistemas de dutos para hidrogênio à alta 109 pressão seriam necessários, com a distribui- A longo prazo, um sistema de dutos para biocombustíveis “convencionais” e ção final sob a forma criogênica líquida. Em hidrogênio, desenvolvido anteriormente, “avançados”, tecnologias de conversão áreas mais remotas ou menos populosas, a poderia operar como um sistema de e combustíveis. eletrólise ou a reforma do hidrocarboneto armazenamento de energia e de forneci- líquido também teria suas aplicações. mento de combustível. Prevê-se que Hoje, o biodiesel e o etanol são produzi- outras alternativas mais futuristas, como dos a partir de culturas aráveis/anuais Após 2030, a gaseificação da biomassa e hidrogênio direto de fontes renováveis – (como as listadas no início da seção da a eletrólise da água provavelmente se por exemplo, produção biológica ou tec- coluna de “Recursos” da Figura 4.6) e tornarão tecnologias chave, pressupondo- nologia fotovol-taica avançada –, podem em quantidades muito limitadas, a partir contribuir para inovar as soluções com de óleos e graxas residuais (o primeiro hidrogênio. item na seção “resíduos & refugos” da se que o fornecimento suficiente de eletricidade será acessível financeiramente para tornar a eletrólise praticável e competitiva. A eletró-lise da água é particularmente apropriada para a produção local em estações de reabastecimento, fornecimento de combustível para residências ou como parte de um sistema de armazena- mesma coluna)18. As tecnologias de (3) Possíveis caminhos para a introdução conversão usadas para processar estes de biocombustíveis avançados recursos são compressão/esterificação O ponto de início de qualquer descrição e hidrólise/fermentação. de caminhos possíveis para a introdução de biocombustíveis avançados é o recon- A transição de biocombustíveis “conven- hecimento de que biocombustíveis “con- cionais” para “avançados” requer a tema energético sobre uma base renová- vencionais” já estão em uso em alguns expansão da gama de matérias-primas vel. Outras fontes de hidrogênio carbono países (notadamente, Brasil e EUA), e de modo a incluir culturas herbáceas neutras (gaseificação do carvão com que certas regiões (especialmente a UE) perenes, lenhosas perenes, resíduos e seqüestro de carbono e fontes nucleares) já anunciaram sua intenção de aumentar refugos. Adicionalmente, será necessário podem ter grande contribuição para consideravelmente o uso destes combus- expandir as tecnologias de conversão regiões ricas nestas fontes de energia. tíveis. A Figura 4.6 ilustra recursos de para incluir tanto as versões de tecnolo- mento de energia para controlar a flutuação na produção e demanda em um sis- Figura 4.6 Possíveis caminhos com biocombustíveis avançados Fonte: Adaptado de E4tech 2003 110 gias atualmente empregadas (ex., trans- aplicação comercial. Apesar de empresas combustíveis com carbono zero ou car- esterificação enzimática), quanto três privadas conduzirem (ou financiarem) a bono neutros. O preço a que estes novas tecnologia – pirólise, gaseificação pesquisa básica, em geral os incentivos veículos serão comprados deve ser sufi- e digestão. O plantio, a colheita e o são insuficientes para conduzir (ou finan- ciente para tornar sua produção rentá- processamento destas outras fontes de ciar) níveis adequados de pesquisa sob a vel (ou quase), mas ainda superior ao biomassa nas quantidades necessárias perspectiva da sociedade como um todo. preço em que o produto espera ser ven- requerem a solução de incríveis desafios Vários governos oferecem deduções tri- dido quando (e se) a produção em logísticos e de processamento, alguns butárias para a pesquisa e o desenvolvi- larga escala se iniciar. dos quais são idênticos aos necessários mento, além de apoiarem a formação de para produzir hidrogênio “carbono neu- consórcios de pesquisa para trabalharem Isso será suficiente? A magnitude das tro”. Como enfatizado no Capítulo 3, as sobre tais problemas e fornecerem recur- mudanças necessárias para transformar o sos parciais (ou, em alguns casos, totais) sistema de transporte atual é intimidado- novas tecnologias de conversão para o uso destes recursos ainda precisam ser para o trabalho desses consórcios. comprovadas em escala comercial. século ou mais terão de ser fundamental“Pesquisa aplicada pré-competitiva” re- Outra diferença entre os dois principais conjuntos de caminhos é a quantidade de combustíveis que precisará ser produzida e distribuída para que os veículos que os utilizam sejam capazes de fornecer os serviços de transporte que a sociedade historicamente exige. É nesta ra. Sistemas desenvolvidos durante um fere-se à pesquisa para a qual uma aplicação comercial já foi identificada, mas ainda não o foi a capacidade de uma empresa individual capturar benefícios suficientes de um produto vendável de modo a tornar a pesquisa lucrativa. mente reformulados. Um aspecto essencial e particular para qualquer transição para veículos com célula combustível e uma infra-estrutura de hidrogênio é a necessidade de ambas as mudanças ocorrerem simultaneamente, em paralelo. Nenhum dos dois atende a qualquer propósito sem o outro. área que a célula combustível oferece vantagens significativas. Ela é um conversor de energia extremamente eficaz. Um carro à gasolina de hoje, com transmis- Apoiar atividades de produção de protótipos e de volumes limitados. Os próximos estágios de desenvolvimento de Isso gera exigências especiais, assim como desafio especiais, ao papel que se espera que os governos desempenhem são automática, pode ter uma eficiência uma tecnologia comercial é a produção WTW de menos de 15%, enquanto um de protótipos e de volumes limitados – carro à célula combustível pode ter uma neste caso, tanto de veículos quanto de eficiência WTW de talvez três vezes este combustíveis. O primeiro destes estágios Pesquisa’ teve por foco as implicações de visa demonstrar que a tecnologia pode uma transição para o hidrogênio unica- significa que o veículo à célula com- funcionar com aplicação prática, já o mente para os EUA. Os desafios foram bustível requer menos combustível para segundo visa ajudar a determinar o custo assim resumidos: ser produzido a fim de oferecer os mes- da produção de um produto em escala mos serviços de transporte. comercial utilizando dada tecnologia. (4) Como os governos podem promover o Quando as tecnologias chegam a estes substituição de uma rede de infra- avanço dessas tecnologias hoje estágios, os investimentos diretos do estrutura completa, madura, antes Apesar de ser prematuro detalhar as “ala- governo declinam. O governo pode que forças de mercado já o tivessem vancas” necessárias para permitir a intro- ainda desempenhar importante papel, feito. A magnitude da mudança dução comercial em larga escala das tec- mas pressões políticas tornam isso cada necessária se uma fração considerável nologias e combustíveis veiculares avança- vez mais difícil e então começa o perigo do sistema energético dos EUA migrar dos descritas anteriormente, os governos de o envolvimento oficial retardar, ao para o hidrogênio excede, em ampla podem tomar certas medidas úteis para invés de promover o avanço da meta, escala, a magnitude de transições promover o avanço destas tecnologias que é determinar se dada tecnologia é anteriores nas quais o governo teve até o ponto onde tais discussões se tor- comercialmente viável. Um papel útil qualquer intervenção. Isso levanta nam relevantes. que o governo pode desempenhar, uma questão se programas de então, é declarar sua intenção de adqui- pesquisa, desenvolvimento e demons- Apoiar a pesquisa básica aplicada e pré- rir um número limitado (porém signifi- tração serão suficientes ou se políticas competitiva. “Pesquisa básica” refere-se cativo) dos veículos que possuam tecno- adicionais podem se fazer à pesquisa para a qual ainda não há uma logias de propulsão com carbono-zero e necessárias” nível (Muta, Yamazaki, and Tokieda, 2004). Isto para permitir que tais transições efetivamente ocorram. Um relatório recente do ‘Conselho Nacional Americano de “Em nenhum momento anterior o governo [dos EUA] tentou promover a (NRC 2004, p. 2.4). 111 Governos de outros países desenvolvidos a) Considerações políticas e sociais turas inaceitáveis. têm uma história diferente na promoção da adoção de tecnologias. Eles também têm Acreditamos que há um papel a ser desem- diferentes poderes que podem usar. Sendo penhado pelas medidas de “canalização Durante curtos espaços de um ou dois assim, o que se aplica aos EUA não neces- da demanda” para a redução de emissões anos, a maioria das características tec- sariamente se aplica a eles. Mas promover de GEEs decorrentes do transporte. Tais nológicas e físicas dos sistemas de trans- uma bem-sucedida transição para os con- medidas possuem também o potencial de porte, a maior parte das características juntos motores e combustíveis avançados minimizar o congestionamento, reduzir o de locações decorrentes da demanda e discutidos aqui será um desafio para qual- ruído e melhorar a segurança. Mas determi- do uso do transporte, e muitos dos quer governo, independentemente de nar qual seria seu papel na redução de padrões de respostas comportamentais sua força ou experiência. Para eliminar o GEEs, desenvolver políticas eficientes e dos usuários de transporte são imutáveis. papel do transporte de uma significativa eficazes e ganhar a aceitação política Como resultado, muitas medidas de fonte de emissões de GEES, será necessário necessária seria algo bastante complexo. As canalização da demanda podem conse- conduzir o tipo de transição descrita decisões dos indivíduos no que concerne guir, quando muito, poucos impactos anteriormente, e não somente em um onde moram e trabalham, como alocam limitados nas escolhas de locomoção único país desenvolvido ou em desen- seu tempo e como gastam seu dinheiro, pessoal e de transporte de mercadorias volvimento, mas em todo o mundo. são extremamente sensíveis. Ainda assim, durante esse espaços de tempo. A maior estes são os fatores que precisariam ser parte dos estudos sobre os impactos das mudados significativamente para que estas mudanças nos preços dos combustíveis, medidas produzam reduções significativas sobre a imposição de pedágios em rodo- de GEEs. vias ou sobre a alteração do preço relativo C. Reduzir as emissões de GEEs, exercendo influência sobre o volume de atividade do transporte pessoal e de carga e/ou uma combinação de modalidades de transporte pessoal e de mercadorias de transporte rodoviário versus transporte b) Considerações econômicas ferroviário de cargas, por exemplo, descobriu que os impactos de tais medidas A canalização da demanda na escala sobre a atividade de transporte durante necessária também seria algo dispendioso. espaços de tempo de um ou dois anos Os custos aos usuários de transporte serão, provavelmente, pequenos . seriam muito altos, mas os custos que Estudos sobre a receptividade da demanda isso pode impor à sociedade como um de transporte pessoal descobriram que todo poderia ser muito maior. Conforme um aumento de 1% no custo do trans- enfatizado no Capítulo 1, a atividade de porte reduz a demanda em apenas um 20 transporte é uma mola propulsora do décimo de 1% crescimento econômico e restringir o cresci- reação significativa, mas não o suficiente (VTPI 2003). Esta é uma mento do transporte impõe uma ameaça para produzir uma grande mudança na Até aqui, o foco deste capítulo foi o papel direta à capacidade do setor de desem- trajetória da atividade de transporte, que pode ser desempenhado por veículos e penhar este seu papel vital. especialmente quando outros fatores combustíveis avançados – fator n. 1 e fator n. 2. Mas, no caso de referência do (como crescimento de renda) se fazem c) Velocidade dos impactos PMS, é o aumento do volume e as combi- 112 maior para produzir efeito e evitar rup- presentes para manter a atividade de transporte em crescimento. nações da atividade de transporte – fator A canalização da demanda na escala n. 3 e fator n. 4 – que são primariamente necessária para produzir grandes Durante períodos de alguns anos até responsáveis pelos grandes aumentos reduções de emissões de GEEs não pro- uma década, mudanças um tanto projetados para as emissões de GEEs duziria, no entanto, resultados “rápidos”. maiores nos padrões de demanda de decorrentes do transporte nas próximas Enquanto cada indivíduo toma suas transporte se tornam evidentes. As pes- décadas19. Em vista disso, e em vista do decisões sobre o uso diário do trans- soas podem mudar de local de trabalho custo e tempo necessários para a imple- porte, a maior parte destas decisões são ou de residência. Proprietários de empre- mentação de abordagens baseadas em restringidas por decisões que foram sas podem mudar o endereço de seus novos combustíveis e tecnologias veicu- tomadas décadas ou séculos antes. Algu- escritórios. A mesma pesquisa descobriu lares, não nos surpreende que algumas mas destas decisões podem ser alteradas que um aumento de 1% na tarifa da pessoas tenham sugerido reduzir (ou até em relativamente pouco tempo – em al- viagem reduz a atividade de locomoção reverter) o crescimento da atividade de guns dias ou meses, mas muitas delas em três décimos de 1% em períodos de transporte. requerem um período de tempo muito alguns anos até uma década. Somente em períodos de várias décadas é pequenos – o que significa que seu poten- Nestas simulações, o foco – consistente que mudanças significativas nos padrões de cial como uma ferramenta para reduzir com o foco principal da área de experiên- demanda de transporte pessoal e/ou de diretamente as emissões de GEEs decor- cia de nossas empresas: foi o total do mercadorias ocorrem. Nesta escala de rentes dos transportes provavelmente transporte rodoviário – veículos leves par- tempo, áreas urbanas podem ter sua con- será bastante limitada. ticulares, veículos motorizados de duas e figuração mudada, novos padrões de ma- três rodas, transporte público e ônibus são o que realmente importa. D. Idéias fornecidas pelo modelo de planilha do PMS sobre o impacto potencial das várias abordagens para a redução de GEEs decorrentes do transporte Foi somente nos anos 1960 que a Europa e Para uma melhor compreensão dos seguir, isto nos permitiu comparar nossos o Japão começaram a atingir a motorização impactos potenciais das várias tecnologias e resultados aos resultados de outros estu- em massa. O sistema de rodovias inter- dos combustíveis na redução das emis- dos que, como o nosso, desconsideraram estaduais americano foi iniciado na década sões de GEEs decorrentes do transporte, a viabilidade técnica ou econômica ao de 1950. Exceto na Alemanha, o sistema o PMS conduziu diversas simulações uti- derivar seus resultados. nufatura e merchandising podem surgir e novas formas de locomoção de pessoas e mercadorias podem ser desenvolvidas e implementadas. Estimativas quantitativas do impacto de medidas de canalização da demanda individual ao longo do tempo não são muito úteis – muita coisa muda ao mesmo tempo para permitir que influências individuais sejam isoladas estatisticamente. Mas estas escalas de tempo estendido intermunicipais, e caminhões médios e pesados. Juntas, estas categorias representam três quartos de todas as emissões 21 de CO2 decorrentes dos transportes. Nosso exercício não examinou a viabilidade técnica ou econômica de qualquer das ações sendo simuladas, tendo meramente o objetivo de nos ajudar a compreender o impacto das emissões de GEEs decorrentes de veículos rodoviários se as ações descritas fossem efetivadas. Como demonstrado a rodoviário da Europa foi desenvolvido nos lizando seu modelo de planilha. Nosso benchmark foi a projeção do caso de refer- Começamos examinando o impacto de ência, mostrando um total de emissões de tecnologias individuais nas emissões de GEEs decorrentes do transporte dobrando GEEs decorrentes do transporte em entre 2000 e 2050, sendo o maior aumen- rodovias em todo o mundo. A Figura 4.7 to de emissões nos paises do mundo em mostra os resultados para cinco categorias – desenvolvimento. Enquanto outras análises dieselização, hibridização, células com- tornou uma modalidade importante de via- examinaram esta questão em relação a bustíveis, hidrogênio “carbono neutro” e gens de longa distância em massa até os países ou regiões desenvolvidas indivi- biocombustíveis. Pressupomos que cada anos 1970. O transporte internacional de dualmente, até onde sabemos o PMS é o tecnologia de conjunto motor atinja o mais contêineres em navios só se tornou uma primeiro a examinar a questão para o próximo possível de 100% de penetração modalidade significativa de transporte de mundo como um todo. de vendas globais, dadas as características anos 1970. Os primeiros shopping centers americanos apareceram em meados dos anos 1950. O “trem bala” japonês começou a operar em 1964 e o TGV francês em 1981. O transporte aéreo não se carga nos últimos 30 anos. Entregas 24 horas cobrindo distâncias de milhares de milhas existem há apenas duas décadas. Figura 4.7 Potencial hipotético de tecnologias individuais reduzirem as emissões de CO2 do transporte rodoviário WTW, relativo ao caso de referência Cada uma destas inovações em transportes foi responsável por importantes mudanças no volume e/ou padrões de atividade de transporte e cada uma precisou de várias decidas até que seu impacto total fosse sentido. Há muitas medidas decorrentes da demanda, em teoria, que causam impactos no volume total de atividade de transporte, na combinação de modalidades de transporte ou em ambas. Mas os impactos destas medidas em curto e médio prazo, quando agregadas a um nível nacional e/ou regional, parecem relativamente Nota: Os casos representam níveis altamente hipotéticos de penetração das tecnologias e, por isso, não podem ser somados. Fonte: Cálculos do Projeto Mobilidade Sustentável. 113 de cada tecnologia, e que cada combus- híbridos movidos a gasolina conven- 1. COMPARAÇÃO ENTRE OS RESUL- tível se torna o mais próximo possível de cional e diesel combustível, ou células TADOS DE SIMULAÇÃO DO PMS E 100% da participação de combustíveis combustíveis movidas por hidrogênio OS RESULTADOS OBTIDOS POR OU- em transporte rodoviário global, as derivado de gás natural, podem reduzir, TROS ESTUDOS características assim o permitindo. no máximo, o aumento de emissões de Devemos enfatizar que estes exemplos CO2 decorrentes do transporte rodo- Estes resultados não são peculiares. Outros viário durante o período 2000-2050. estudos chegaram a resultados semelhantes individuais de tecnologias são puramente hipotéticos, sendo altamente improvável na prática que qualquer tecnologia individual atinja 100% de penetração. Além disso, elas não podem ser somadas. Diferenças de tempo, as implementações destas tecnologias e destes combustíveis nos países desenvolvidos e em desenvolvimento foram amplamente ignoradas. Para os diesels e híbridos avançados, pressupomos que 100% de penetração de vendas seriam alcançados até 2030 e que cobririam os veículos leves rodoviários e 22 caminhões médios . Para os veículos após examinarem suas áreas geográficas Isso não significa que as características de uso de energia veicular sejam irrelevantes. Elas podem não ter um grande impacto na trajetória das emissões de GEEs de veículos rodoviários a longo prazo, mas terão um importante impacto na quantidade de combustíveis de baixo carbono ou carbono neutros que precisa ser produzida para mover a frota mundial. Isso sim significa que elas podem ter um 23 por volta de 2050 , e que o hidrogênio exemplo é o estudo NRC sobre os desafios impostos aos EUA por uma transição significativa para o hidrogênio, como descrito anteriormente. Esta iniciativa tinha a responsabilidade de explorar toda a gama de usos potenciais do hidrogênio, mas, como o uso mais importante é para propulsar veículos leves rodoviários, ela projetou o impacto nas emissões de CO2 para estes veículos para 2050. A Figura grande impacto no custo de uma 4.8 mostra as estimativas de emissões e a redução significativa das emissões de Figura 4.9, a parcela de vendas por tec- 24 GEEs dos veículos rodoviários. nologia de veículos e o total de penetração na frota associados às estimativas movidos a célula combustível, 100% de penetração de vendas seriam atingidos e seus escopos de interesse específicos. Um A partir destes resultados, a conclusão do de emissões da Figura 4.8. PMS é que será somente através da combi- usado nestes veículos seria produzido pela nação de combustíveis e soluções de A Figura 4.8 é razoavelmente semelhante à reforma de gás natural e o seqüestro de conjuntos motores que uma redução sig- Figura 4.7 do PMS. A Figura 4.9 mostra carbono não seria utilizado. A estimativa nificativa de CO2 será atingida. Nenhum quão rapidamente o número de veículos do impacto do hidrogênio carbono neutro caminho de tecnologia individual se sobres- movidos a célula combustível e produção foi gerada alterando as características de sai o suficiente para nos levar a escolhê-lo de hidrogênio carbono neutro para propul- hidrogênio de emissões WTT usadas no como a única solução a longo prazo. sá-los teria que aumentar de modo a per- caso de células combustíveis descrito há pouco. Para concentrarmo-nos no impacto dos biocombustíveis, pressupomos que estes combustíveis seriam usados em uma frota global de veículos rodoviários com características energéticas seme- Figura 4.8 Volume estimado de emissões de carbono de carros de passageiros e caminhões leves; possíveis tecnologias futuras de hidrogênio (eletrólise e renováveis), 2000-2050, baseado em uma visão “otimista” criada pelo ‘Comitê NRC sobre Alternativas e Estratégias para a Produção e Uso Futuros de Hidrogênio’ lhantes à frota referência do PMS. Pressupomos a tecnologia MCI diesel (usando diesel combustível convencional), um benefício de consumo de combustível de 18%, versus a tecnologia MCI gasolina prevalecente e um benefício de consumo relativo à tecnologia MCI gasolina de 36% para híbridos de diesel, 30% para híbridos de gasolina e 45% para veículos movidos a célula combustível. A partir desta única avaliação de tecnologias, torna-se evidente que, se implantados em todo o mundo, diesels e MCI Fonte: NRC 2004, Figure 6.10 114 Figura 4.9 Fração postulada de veículos convencionais, híbridos e de hidrogênio, 2000-2050, Frota Americana de VLRs, baseada na visão “otimista” criada pelo ‘Comitê NRC sobre Alternativas e Estratégias para a Produção e Uso Futuros do Hidrogênio’ Este estudo analisou diversos caminhos para veículos e combustíveis e suas taxas de penetração. Tal qual o estudo do NRC, também ignorou tecnologias e custos relacionados aos veículos: “Para este estudo, pressupomos necessariamente que os veículos movidos a célula combustível têm um custo competitivo com os veículos convencionais” (Hark, Bauen, Chase, and Howes 2003). A Figura 4.10 mostra as emissões totais de CO2 projetadas para o total da frota veicular do Reino Unido no período de 2003 a 2050, sob várias pressuposições. A principal conclusão do estudo foi que “se as emissões de gases de efeito estufa Fonte: NRC 2004, Figura 6.1 do transporte devam ser reduzidas significativamente, parece-nos que tecnologias convencionais melhoradas serão uma mitir que as emissões de CO2 de VLRs de- custo associados às células combustíveis importante parte do desenvolvimento, clinassem conforme ilustrado na parte infe- tenham sido vencidos. Isto foi apropriado, mas que a migração para outros com- rior da Figura 4.8. O comitê do NRC ca- dado seu objetivo (NRC 2004, pp 1.1-1.5). bustíveis será essencial” racteriza estas taxas de introdução de Mas, no mundo real, estes desafios serão (Hark, Bauen, Chase, and Howes 2003, p. 12). veículos e de combustíveis e as taxas de submetidos aos esforços empreendidos. aumento de vendas desses veículos como 2. TECNOLOGIAS COMBINADAS sendo “otimistas. ” No entanto, elas não Um segundo estudo recente foi preparado são tão “otimistas”. como as incorporadas pelo consultora britânica E4tech (UK) à análise de tecnologias individuais do Ltd. para o Departamento de Transporte emissões de CO2 dos veículos rodoviários PMS, a qual requer que dentro do mesmo britânico, focando o potencial técnico de provavelmente exigirá a ampla adoção período de tempo (até 2050) um grande biocombustíveis líquidos e hidrogênio a de várias tecnologias veiculares e de com- aumento ocorra em todo o mundo e que partir de recursos renováveis para suprir bustíveis avançados, assim como outros este inclua veículos rodoviários além dos as exigências de combustíveis de todo o fatores, o PMS decidiu examinar o impac- veículos leves de passageiros. transporte rodoviário britânico até 2050. to combinado de várias ações incluindo: 2 Uma vez que a substancial redução de As pressuposições do NRC usadas nas Figuras 4.8 e 4.9 são importantes: “Nesta análise, pressupomos que (...) Figura 4.10 Uma possível redução em emissões de CO2 mediante a rápida introdução no transporte de Veículos Elétricos Híbridos (VEH) usando combustíveis convencionais ou veículos usando combustíveis renováveis. células combustíveis duráveis e de baixo custo estejam disponíveis; a alta densidade de armazenamento de energia nos veículos permita uma autonomia razoável e rápido reabastecimento; os veículos tenham a mesma funcionalidade, confiabilidade e custo que seus concorrentes movidos a gasolina; veículos movidos a hidrogênio sejam tão seguros quanto veículos movidos a gasolina.” (NRC 2004, p. 6.1) 25 Em resumo, o estudo do NRC pressupõe que todos os desafios tecnológicos e de Fonte: E4tech 2003, p.12. 115 • Combustíveis que são carbono neu- Incremento 2. Hibridização. nologias e combustíveis veiculares. Mas tros (definidos como aqueles que Pressupomos que a hibridização (gasoli- reais reduções das emissões de CO2 serão reduzem emissões de CO2 WTW em na e diesel) de veículos leves e caminhões determinadas não somente por estas pro- pelo menos 80% médios aumente para a metade de todos priedades, como também pela combinação os veículos MCI vendidos em 2030. de veículos que os consumidores e as Híbridos a gasolina deverão consumir empresas adquirirem, e por como esses uma média de 30% menos combustível veículos forem usados no dia-a-dia. Dois do que os atuais MCIs a gasolina, e híbri- outros incrementos foram, então, incluídos, dos a diesel deverão consumir uma de modo a refletir estes dois fatores: • Conjuntos motores que são extremamente eficientes em energia • Uma mudança na tendência histórica de migração de combinação para ca- média de 24% menos combustível do tegorias de veículos maiores que os atuais motores a diesel. 26 Incremento 6. Melhorias adicionais na eficiência energética dos veículos no nível Incremento 3. Biocombustíveis conven- da frota. O caso de referência do PMS mudanças na atividade de transporte, cionais e avançados. projeta uma melhoria média na eficiência resultantes de melhor integração dos Pressupomos que a quantidade de bio- energética da frota de veículos leves em sistemas de transporte, promovidos, combustíveis na participação mundial uso de aproximadamente 0,4% ao ano, pelo menos em parte, pela tecnologia total de gasolina e diesel deve subir de com as vendas de novos veículos atingin- da informação (TI). forma estável, chegando a um terço por do uma média de 0,5% ao ano de me- volta de 2050. Biocombustíveis conven- lhoria na economia de combustível. A Estabeleceu-se uma meta ilustrativa de re- cionais (biocombustíveis produzindo um melhoria potencial incorporada aos duzir pela metade as emissões anuais benefício de 20% de CO2 por unidade veículos será por volta de 1,0% ao ano, mundiais de CO2 do transporte rodoviá- de eficiência, ocupam 5% da participação mas metade desta melhoria potencial rio. Isto equivale a uma queda anual da total. O equilíbrio será atingido pelos bio- será anulada devido à preferências dos redução dessas emissões de aproximada- combustíveis avançados (aqueles que pro- compradores por veículos grandes e mente 5 gigatons dos níveis que nosso duzem um benefício de pelo menos 80% pesados. Ao desenvolvermos este incre- caso de referência projeta que elas atingiri- de CO2 por unidade de eficiência). • Melhor fluxo do tráfego e outras 27 am e, por coincidência, retorna as emi- relacionadas à combinação de veículos ssões anuais de CO2 dos veículos rodoviá- Incremento 4. Célula combustível usando escolhida pelos compradores e o desem- rios a aproximadamente seus níveis atuais. hidrogênio derivado de combustíveis fósseis penho destes veículos mudassem um (sem seqüestro de carbono). Para propósitos ilustrativos, a meta de Pressupomos que as vendas em massa de redução de CO2 está dividida em sete veículos leves e caminhões médios come- “incrementos”, cujo tempo e dimensão cem em 2020 e aumentem até a metade não estão fixados e seriam posteriormen- de todas as vendas de veículos até 2050. te decididos sujeitos a escolhas de sus- Todos os veículos equipados com célula tentabilidade e investimentos em níveis combustível consumirão em média 45% nacionais, regionais e globais. O propósi- menos energia do que os atuais MCIs a to desta análise é ilustrar o que poderia gasolina. ser conseguido se mudanças ambiciosas pouco, levando a melhorias adicionais médias anuais da ordem de 10% em relação a nosso caso de referência (ou seja, as melhorias anuais no nível da frota aumentam de 0,4% para aproximadamente 0,6%). Incremento 7. Uma redução de 10% das emissões devido a um melhor fluxo do tráfego e outros usos eficientes dos veícu- fossem efetivadas além das discutidas no Incremento 5. Hidrogênio carbono neu- caso de referência do PMS, sem qualquer tro usado em célula combustível. julgamento sobre o custo ou a probabili- Pressupomos que o hidrogênio usado Pressupomos que a lacuna entre o desem- dade de cada passo dado: em célula combustível passe a centralizar penho do uso de energia quando em ope- a produção de hidrogênio carbono neu- ração e as melhorias tecnológicas incorpo- Incremento 1. Dieselização. tro no período entre 2030 e 2050 após radas aos veículos diminua. Como isto Pressupomos que a dieselização de veículos as frotas de VLRs a hidrogênio terem poderia acontecer? Primeiramente, há leves e caminhões médios subam para atingido uma penetração de mercado no diversas oportunidades relacionadas ao aproximadamente 45% em todo o mundo nível dos países. Até 2050, 80% do crescente uso de TI nos sistemas de trans- em 2030 (ou seja, para aproximadamente hidrogênio serão produzidos através de porte que podem possibilitar a melhor os níveis europeus atuais). Motores a diesel processos carbono neutros. gestão da locomoção. Melhores infor- los rodoviários. mações sobre rotas permitirão que as via- deverão consumir 18% menos combustível 116 mento, pressupomos que as preferências (e emitir 18% menos de CO2 ) do que os Os primeiros cinco incrementos refletem as gens sejam encurtadas e melhores infor- atuais MCIs a gasolina. propriedades inerentes das diferentes tec- mações sobre as condições das vias poderão reduzir o tempo que os motoristas gastam em seus veículos dirigindo no Figura 4.11 Caso de tecnologias combinadas tráfego. Segundo, informações mais precisas e atuais sobre os horários de chegada dos veículos de transporte público e a duração da viagem até o ponto de destino encorajarão um uso maior do transporte público. Individualmente, nenhuma destas melhorias seria de grande expressão e, certamente, algumas terão seu efeito diminuído, mas, combinadas, pressupomos que estes fatores poderiam produzir uma redução adicional de 10% nas emissões de CO2 dos veículos rodoviários. A Figura 4.11 mostra os resultados desta Fonte: Cálculos do Projeto Mobilidade Sustentável. análise de “tecnologias combinadas” conduzida pelo PMS e confirma a mesma impressão demonstrada pelas Figura 4.12 tecnologias combinadas com várias defasagens em tempo da implementação das tecnologias em regiões não-OCDE três outras análises individuais discutidas anteriormente de que seria necessária uma ampla adoção de uma combinação de tecnologias veiculares e de combustíveis (além de outro fatores) para abaixar o nível de emissões de CO2 em 2050 aos níveis de 2000. Tanto nossa análise individuais quanto a análise das tecnologias combinadas pressupõem que as taxas de adoção das tecnologias e combustíveis veiculares seriam aproximadamente as mesmas no mundo desenvolvido e em desenvolvimento. Mas, como observa- Fonte: Cálculos do Projeto Mobilidade Sustentável. mos no tocante à meta de redução das emissões de poluentes convencionais Para descobrir a resposta, conduzimos pressupunha uma defasagem adicional decorrentes do transporte, o mundo em duas análises adicionais de nosso caso de de 15 anos. A Tabela 4.4 mostra as defa- desenvolvimento tem uma defasagem típica tecnologias combinadas. Uma delas pres- sagens resultantes para cada incremento, em relação ao mundo desenvolvido quanto à supunha que a implementação no assim como a defasagem (se houve algu- adoção destas tecnologias. Que impactos teri- mundo em desenvolvimento teria uma ma) pressuposta em nosso caso original am, então, estas diferenças de adoção entre defasagem de cinco anos em relação ao de tecnologias combinadas e nosso caso os países desenvolvidos e os em desenvolvi- que foi originalmente pressuposto no de referência. A Figura 4.12 mostra o mento nos resultados apresentados? caso original de tecnologias. A segunda resultado da análise do modelo. 117 A importância da defasagem de tempo deste capítulo têm por objetivo serem as decorrentes de todos os usos da energia pressuposta para a adoção de tecnologias metas para o setor de transporte. vão quase dobrar nos próximos 50 anos e combustíveis veiculares no mundo em desenvolvimento é evidente. Com uma Em vários pontos deste Relatório, observa- sões “de um dia comum” continuarem nos defasagem de implantação de 15 anos, ao mos que um quilograma de GEEs emitido níveis atuais pelos próximos 50 anos antes invés de atingir um pico em 2050, as emis- em qualquer lugar do mundo, decorrente que qualquer medida seja tomada para sões de GEEs decorrentes do transporte de modalidades de transporte, contribui estabilizar estas emissões, as concentra- rodoviário atingirão o pico em 2030 e, por para o total das concentrações de GEEs na ções atmosféricas de CO2 atingirão volta de 2050, estão aproximadamente 1 atmosfera.28 Isto também é valido para um aproximadamente 800 ppm – mais do Gt ao ano acima de seu nível em 2000. quilograma de GEEs emitido por qualquer dobro de seu nível atual de 350 ppm. No outra atividade antropogênica e, por esta entanto, se as emissões globais de carbono razão, é importante discutir a relação entre fossem estabilizadas nos (ou próximo dos) medidas tomadas para reduzir os GEEs níveis atuais, as concentrações atmosféricas decorrentes de atividades de transporte e poderiam ser contidas entre 500-550 ppm. E. O ritmo e a magnitude das reduções de GEEs no transporte rodoviário versus outras fontes de emissão de GEEs 118 (Socolow 2004). Ele relatou que, se as emis- medidas tomadas para reduzir os GEEs que causam impactos em outros setores. Para ilustrar o que seria necessário para estabilizar as emissões de carbono em todo Em uma apresentação recente, Robert o mundo em seus níveis atuais, Socolow Socolow, da Global Carbon Mitigation identifica várias “fatias”, cada uma delas Initiative (‘Iniciativa Global para representando uma redução cumulativa de Até aqui, o Projeto de Mobilidade Minimização do Carbono’) da Universidade 25 Gt nas emissões de carbono (91,7 Gt de Sustentável discutiu com um foco deta- de Princeton, estimou que as emissões emissões de CO2) nos próximos 50 anos. lhado o setor de transporte. As metas globais de carbono de “um dia comum” Cada “fatia” apresenta reduções anuais nas emissões de carbono começando em zero, em 2004, e aumentando linearmente para 1 Gt de carbono (3,7 Gt de CO2), em 2054. A Tabela 4.5, adaptada da apresentação de Socolow, indica o nível de esforços necessários para se produzir uma única fatia. As fatias identificadas na Tabela 4.5 não são as únicas possíveis e algumas são duplicadas. Não há qualquer pressuposição de que as fatias se equivalem em termos dos custos de sua produção. O que Socolow mostra é que, para reduzir as emissões de carbono nos próximos 50 anos o suficiente para estabilizar as concentrações atmosféricas de CO2 a 500-550 ppm, deverão ser identificadas reduções equivalentes a sete fatias. As abordagens discutidas nesta seção podem produzir de uma a duas fatias, se implementadas. Cortar todos os aumentos de emissões de GEEs (dos transportes rodoviários ou não) em todo o mundo na tecnologia atual de motores a gasoli- defasagem de tempo entre o amplo uso na) parecem ser capazes de contribuir destas tecnologias no mundo desenvol- para a estabilização – dieselização, hibri- vido e seu amplo uso no mundo em Naturalmente, medidas focadas no setor dização, biocombustíveis avançados, desenvolvimento representa um impor- de transporte não conseguirão, sozinhas, células combustíveis, hidrogênio carbono tante impacto na trajetória das emissões estabilizar as concentrações atmosféricas neutro e melhorias na eficiência de de GEES dos veículos rodoviários. É de de CO2. Além disso, nossa visão da eficá- veículos não a conjuntos motores. suma importância começarmos a entre 2000 e 2050 promoveria aproximadamente quatro fatias. considerar como esta defasagem pode cia em custos das várias abordagens de redução de emissões de GEEs, aplicandose uma parcela desproporcional do total de reduções de emissões de GEEs às atividades relacionadas ao transporte, é Algumas destas tecnologias e com- ser reduzida sem tornar o transporte bustíveis estão começando a ser intro- rodoviário no mundo em desenvolvi- duzidas, outras poderão estar prontas a mento inacessível financeiramente. ser introduzidas somente em várias décadas, se então. Além disso, o tempo A canalização da demanda pode necessário entre a introdução de cada grandemente ajudar a redução das tecnologia até seu emprego em veículos emissões de GEEs decorrentes do que usem esta tecnologia terá um transporte, mas isso não pode ser impacto significativo nas amplas variações conseguido em curto prazo, sem das emissões de GEEs (de dez a 50 anos). qualquer ônus, ou facilmente. parece ser tecnicamente viável reduzir Nenhuma tecnologia individual pode As mudanças nos padrões de demanda significativamente o crescimento das oferecer uma solução de estabilização até que precisariam ocorrer para que medi- emissões de GEEs em todo o mundo – e, 2050. Somente mediante combinações de das de canalização da demanda posteriormente, reduzir o volume absolu- novos combustíveis, conjuntos motores e tivessem um amplo e relativamente to destas emissões – mediante a introdu- veículos esta solução será posteriormente rápido impacto nas emissões de GEEs ção de conjuntos motores e combustíveis alcançada. E estas combinações exigirão decorrentes do transporte seriam avançados. Pelo menos seis possibili- uma contínua cooperação entre as indús- extremamente onerosas e causariam dades tecnológicas (além das melhorias trias automobilística e de combustíveis. A alto nível de ruptura. de que isso não seria desejável para a economia mundial. F. Avaliação Sumária No tocante ao transporte rodoviário, 119 IV. Reduzir significativamente o número total de mortes e ferimentos graves em acidentes rodoviários em países desenvolvidos e em desenvolvimento No Capítulo 2, o PMS concluiu que entre primeiros, as taxas de mortes e ferimen- atividade de transporte pessoal/de carga é 2000 e 2005 o número de mortes e feri- tos já são especialmente baixas de acordo tão rápido que o total de mortes e feri- mentos graves nas rodovias deve cair na com padrões históricos e devem cair mentos graves cresce, algumas vezes OCDE e em países de renda média-supe- ainda mais. O número total de mortes e abruptamente. E os pedestres, ciclistas e rior. Mas as mortes e os ferimentos ferimentos graves nas rodovias é também (em alguns lugares) os condutores de graves nas rodovias parecem tender a baixo e decrescente, embora ainda haja veículos motorizados de duas e três rodas aumentar nas próximas décadas (talvez um espaço considerável para melhoras. constituem a grande maioria das vítimas ainda mais) em países de baixa renda de colisões. onde o crescimento do transporte Ocupantes de veículos constituem a maio- rodoviário motorizado é relativamente ria das vítimas de colisões (Figura 2.27). Com essas distinções em mente, o PMS rápido. Nesta seção, discutiremos como o Em países de baixa renda, as taxas de solicitou que especialistas em segurança panorama de mortes e ferimentos graves mortes e acidentes são mais altas por um próprios e externos29 identificassem aborda- nas rodovias pode ser melhorado. fator de dez ou mais do que a média da gens capazes de (a) ajudar os países da OCDE. Essas taxas mais altas de mortes e OCDE a atingir sua meta estabelecida de Como detalhado no Capítulo 2, especial- ferimentos se associam a grandes popu- reduzir significativamente o número de mente nas Figuras 2.26 e 2.27, o proble- lações para produzir um número total de mortes e ferimentos graves nas rodovias e ma das mortes e dos ferimentos graves mortes e ferimentos graves que ultrapas- (b) reduzir significativamente as taxas de nas rodovias difere nos países altamente sam em muito o número na OCDE. mortes e ferimentos graves nos países em motorizados e em países que ainda estão Enquanto estas taxas nestes países per- desenvolvimento, mais rapidamente do que nos estágios iniciais de motorização. Nos manecem em declínio, o crescimento da o projetado em nossos casos de referência. Source: Koornstra 2003, p.14. 120 A. Melhorias potenciais nos países da OCDE cruzamentos com velocidades superi- efetivas e menos onerosas poderiam ser ores a 30 km/h. Onde rodovias de 30 implementadas antes de 2020 e poderi- km/h se juntam com rodovias adja- am reduzir as fatalidades em até 40%. centes de 50 km/h, o limite de velocidade nos trevos deveria ser 30 km/h. 2. MUDANÇAS NO COMPORTAMEN- Em relação aos países da OCDE, as su- Onde usuários vulneráveis de rodovias TO DOS USUÁRIOS DE RODOVIAS gestões se dividiram em três categorias utilizam vias de 50 km/h, faixas ade- principais: (1) melhorias na infra-estrutu- quadas para pedestres e ciclistas deveri- Quatro tipos de comportamento de ra das rodovias, (2) mudança no com- am ser providenciadas. usuários de veículos têm grande contribuição para um maior risco de fatalidades portamento dos usuários das rodovias e (3) mudanças no projeto dos veículos. • Rodovias com limites de velocidade e ferimentos: (1) falta de uso do cinto de entre 50 e 80 km/h não deveriam ter segurança por ocupantes de carros, (2) falta 1. MELHORIAS NA INFRA-ESTRUTU- cruzamentos para carros e, ao invés de uso do capacete por condutores e pas- RA DAS RODOVIAS disso, deveriam usar trevos que fisica- sageiros de veículos motorizados de duas mente reduzem a velocidade dos carros. rodas, (3) dirigir intoxicado e (4) violações A infra-estrutura das rodovias contribui para sua segurança de várias maneiras. O risco de ferimentos é muito maior nas rodovias onde diferenças relativamente grandes nas velocidades de tráfego e na direção ocorrem em combinação com limites moderados de velocidades (limite de 50 ou 70 km/h, tráfego lento e rápido mesclado, cruzamentos, intersecções, tráfego contrário). O risco de fatalidade é muito maior onde estas condições estão presentes e, para completar, os limites de velocidade são altos (limites de 80 ou 100 km/h em rodovias com tráfego mesclado, cruzamentos, intersecções, e tráfego contrário sem barreiras centrais). A Tabela 4.6 ilustra como o projeto da infra-estrutura e as regras de tráfego das rodovias determinam a complexidade do tráfego para os usuários das rodovias e, conseqüentemente, as diferenças de riscos por tipos de rodovias. Estas diferenças se explicam principalmente pelos dos limites de velocidade. Cada um destes • Barreiras de separação e cruzamentos tipos de comportamento poderia ser em nível deveriam ser usados em substancialmente reduzido através de rodovias com limites de velocidade uma coerção policial mais intensa, evitan- maiores que 80 km/h. do mortes e ferimentos. Alguns especialistas europeus em segurança estimaram que, reprojetando-se a infra-estrutura das rodovias dessa forma, poderia haver uma redução de 90% nas mortes de “tráfego lento” (isto é, mortes de pedestres e ciclistas), enquanto as mortes de usuários motorizados em rodovias urbanas e rurais poderiam ser diminuídas em até 80%. O declínio nas rodovias (não nas vias expressas) poderia ultrapassar Quão mais intensa deveria ser a coerção policial? Koornstra e seus colegas tentaram fornecer uma estimativa baseada em informações sobre níveis de violação e intensidade da coerção policial na Suécia, no Reino Unido e nos Países Baixos – os três países da UE com as menores taxas de mortes em veículos motorizados (SUNflower 2002). A Figura 4.13 mostra infor- 60%. No total, 80 a 90% das mortes pode- mações de cada um desses países para riam ser evitadas por tal medida. A recons- dois tipos de violações – direção sob trução total seria muito onerosa e levaria intoxicação (DSI) e dirigir sem uso dos mais de duas décadas. Mas, de acordo cintos de segurança (“Cinto”). A Figura com estes especialistas, as medidas mais 4.13 trata de uma relação generalizada. Figura 4.13 Intensidade da coerção policial e sua eficácia efeitos de diferentes velocidades médias de impacto nas colisões, especialmente em colisões envolvendo usuários de rodovias vulneráveis (pedestres e ciclistas), e pelos efeitos das diferenças de velocidades na freqüência de colisões. De acordo com especialistas europeus em segurança consultados, a segurança rodoviária na Europa poderia ser significativamente melhorada se: • A combinação de tráfego rápido e lento não for permitida nas rodovias e nos Fonte: Adaptação de Koornstra 2003. 121 Para calibrá-la de modo a projetar os níveis baixa. Na Holanda, em 2000, um nível de entre 1980 e 2000 nos três países estuda- necessários de coerção policial para um tipo coerção de aproximadamente 3 milhões de dos (esta estimativa não inclui qualquer específico de violação, deve-se fornecer multas de velocidade para 7 milhões de por- impacto que tais atividades possam ter tido informações sobre o nível assumido de vio- tadores de licença (isto é, 0,43 multas por na diminuição das mortes por redução de lação com coerção policial mínima (Z) e, portador de licença) foi associado a um nível DSI e pelo uso do cinto). No entanto, esta para um nível de violação realmente obser- de violações de aproximadamente 33% nas influência pode ter sido limitada pelo uso vado, o número de controles por portador principais rodovias urbanas e interurbanas. relativamente limitado das atividades ETP. de licença por ano (X). Usando esta informação para ajustar a Além disso, como observam os autores: curva generalizada da coerção, é possível “Um certo nível de ETP é um pré-requisito O impacto da coerção no aumento do uso estimar que seria necessário um nível de para qualquer política de segurança ro- do cinto de segurança. Para os países estu- coerção de quase três multas de velocidade doviária que necessite aprovação parlamen- dados, sem controle policial o nível de vio- por dois portadores de licença por ano (isto tar e conseqüentemente a aceitação do lação do uso do cinto de segurança é esti- é, 1,5 multas por portador de licença ou público. A aceitação pública é certamente mado em aproximadamente 50%, enquan- mais de três vezes a taxa real da Holanda duvidosa sem ETP” (SUNflower to com apenas um controle anual por 65 em 2000) para reduzir o nível de violações a portadores de licença o nível de violação 10%. Calcula-se que, para a Suécia, este 3. MUDANÇAS NO PROJETO DOS cai para quase 6%. Se esta experiência nível de coerção reduziria o total de mortes VEÍCULOS fosse estendida aos Estados Unidos, a nas rodovias em 17%. 2002, pp 138-139). O Projeto SUNflower estimou que me- maior intensidade na coerção ao uso do Educação, treinamento e publicidade (ETP) lhorias na segurança passiva dos veículos como complemento da coerção. Na análise reduziram as mortes de ocupantes em descrita anteriormente, um dos parâmetros 15 a 20% nas últimas duas décadas nos O impacto da coerção na redução da chave foi o nível de violações cometidas na três países. Koornstra estima que a intro- incidência da direção sob intoxicação (DSI). ausência de coerção policial significativa. dução de novos equipamentos de segu- Muitos estudos mostraram que a pro- Descobriu-se que este nível de violação rança passiva, aliada à introdução de sis- babilidade de fatalidade aumenta exponen- varia por tipo de violação e também varia temas adicionais de segurança ativa e cialmente com o teor alcoólico no sangue por país. Parte desta diferença se deve, passiva, poderá trazer reduções de até (TAS) do motorista. Sem controle policial, o sem dúvida, a diferenças em fatores obje- mais 40% nas próximas décadas. Entre nível de violação beber/dirigir com mais de tivos como geografia, densidade demográ- os equipamentos de segurança passiva, 0,1% de teor alcoólico no sangue (TAS) nas fica, etc. Mas parte se deve a diferenças na incluem-se como candidatos a serem noites de fim de semana é geralmente de “cultura” de segurança rodoviária dos considerados: um bloqueio automático 24%. Este teor é associado a 40% do total países. Esta cultura pode ser influenciada das mortes nas rodovias nacionais dos três por educação, treinamento e publicidade. cinto evitaria mais de 35% de todas as 30 mortes nas rodovias. países estudados. Os países mais desenvolvi- da ignição se alguém não tiver colocado o cinto, construção de carros com frentes deformáveis para proteção de usuá- dos hoje têm 0,05% ou 0,08% de leis para Os autores do relatório SUNflower obser- TAS. Mas se o nível legal de TAS for reduzi- vam que, quando a Suécia mudou em do a 0,2%, e se a intensidade da coerção 1967 do tráfego pelo lado esquerdo para policial com testes de respiração aleatórios o tráfego pelo lado direito, houve uma puder ser aumentada para um controle grande campanha de educação para a anual por portador de licença, possivelmen- segurança para preparar a população. Esta te 25% das mortes nas rodovias poderão ser campanha parece ter tido um impacto evitadas. Na Suécia, onde o nível legal de nas atitudes de segurança rodoviária na TAS é 0,02% e o nível de coerção policial é Suécia, embora sua influência tenha de um controle anual para cada portador de decaído com o passar do tempo. Alguns licença, os acidentes fatais por bebida foram programas destinados a jovens e motoris- reduzidos para menos de 12%. tas também tiveram algum impacto. rios vulneráveis de rodovias, exigências de compatibilidade para os carros e proteção contra impacto traseiro em veículos de carga. As tecnologias potenciais de segurança ativa que merecem ser examinadas incluem adaptadores inteligentes de velocidade, luzes de circulação diurna (DRL) automáticas e dispositivos de apoio para evitar colisões. 4. O IMPACTO DAS DIFERENÇAS INSTITUCIONAS E SOCIAIS ENTRE OS 122 O impacto do aumento da coerção policial É difícil mensurar quantitativamente o PAÍSES SOBRE O POTENCIAL DE ME- nos limites de velocidade. Koornstra e seus impacto das atividades ETP. No geral, os LHORIA DA SEGURANÇA RODOVIÁRIA colegas estimam que os limites de velocidade autores do SUNflower estimam que ele são violados por aproximadamente metade contribuiu com menos de 5% para a re- A proposta de utilização de bloqueios au- dos motoristas quando a coerção policial é dução de mortes de ocupantes de carros tomáticos de ignição, para evitar que um veículo seja ligado quando alguém em comportamento de uma maneira que mortes e ferimentos graves resultantes seu interior não está com o cinto aperta- tende a anular o potencial de tais medi- de acidentes rodoviários através da incor- do, levanta a importante questão da das. Isso é conhecido como “compen- poração de novas tecnologias nos veícu- aceitabilidade pública. Bloqueios auto- sação de risco”. Eles também reagem los e na infra-estrutura rodoviária. Mas é máticos de ignição foram obrigatórios inapropriadamente às sugestões de uma importante compreender que respostas por lei para carros novos vendidos nos tecnologia de segurança com a qual não comportamentais podem anular alguns EUA no início da década de 1970 e estão relativamente familiarizados. dos benefícios projetados – uma infeliz realidade que precisa ser levada em provaram ser efetivos em aumentar a taxa de utilização dos cintos. No entan- Discute-se sobre as conseqüências inde- conta ao se decidir quais tecnologias de to, geraram uma grande oposição públi- sejadas de algumas medidas de segu- segurança rodoviária serão implemen- ca. Além disso, adição, muitos motoristas rança rodoviária há mais de um quarto tadas e como os recursos serão alocados. descobriram formas de desativar ou anu- de século. Peltzman provavelmente foi lar os bloqueios. Esta reação forçou o a primeira pessoa a afirmar que os congresso a eliminar a exigência de sua motoristas que usam cinto de segu- instalação, e esta exigência nunca mais rança tenderão a dirigir mais agressiva- foi restabelecida. mente, anulando alguns dos benefícios de segurança esperados (Peltzman 1975). A aceitabilidade pública é uma questão B. Considerações adicionais relacionadas à prevenção da segurança rodoviária em países em desenvolvimento que muitos governos devem levar em A mesma argumentação foi usada em consideração ao imaginar medidas de relação aos freios antitravamento. A tec- segurança variadas. Os autores do nologia dos freios antitravamento tornou-se A segurança do tráfego rodoviário em paí- relatório final SUNflower reconhecem: comum nos veículos leves dos EUA. Há ses em desenvolvimento tem um potencial claras evidências de que os freios antitrava- de melhoria significativo, pois, atualmente, “É provável que a aceitação pública de mento trouxeram benefícios aos ocupantes países com as menores rendas têm uma medidas que melhorem o comportamento de outros veículos, pedestres e ciclistas. Mas média de risco de fatalidade por veículo (a respeito de trafegar em velocidade, não trouxeram os benefícios esperados aos aproximadamente 75 vezes maior do que beber/dirigir e motoristas principiantes) ocupantes dos veículos. De fato, alguns os países com mais segurança no tráfego possa ser altamente dependente das estudos descobriram que o risco do ocu- do mundo . Em muitos países com renda noções, atitudes e convicções nacionais pante de um veículo sofrer um acidente baixa e média, a segurança rodoviária não em relação à segurança em geral e, em fatal tem crescido em veículos equipados é tratada como uma prioridade e são pou- particular, às medidas de segurança com freios antitravamento. Há uma série de cas ou nenhuma as mensurações das con- rodoviária” (SUNflower, 2002, p. 126). possíveis razões para isso. Alguns analistas seqüências da segurança (ou falta dela). atribuem esta “anomalia” à compensação Para retificar esta situação, estão sendo Isso tem duas importantes implicações. de risco. Outros argumentam que é devido tomadas medidas para enfatizar a Primeiro, subestima o cuidado que deve- à não familiaridade com as exigências da importância de mortes e ferimentos decor- ria ser tomado na tentativa de se determi- tecnologia, especialmente em situações em rentes de acidentes como um problema nar o impacto que uma medida em par- que as reações do motorista podem ser público mundial. Em agosto de 2003, a ticular, ou um grupo de medidas, poderia prejudicadas, por exemplo, pela bebida Assembléia Geral das Nações Unidas publi- ter em um país com base na experiência (Harless and Hoffer 2002). de outro. Segundo, enfatiza a necessidade 31 cou um relatório do Secretário Geral intitulado “Global Road Safety Crisis” (‘Crise de pesquisas sobre como são formadas e Muitas das tecnologias de segurança Global da Segurança Rodoviária’) (UN 2003.). como podem ser alteradas as noções, ati- potenciais descritas neste relatório se desti- O tema do Dia Mundial da Saúde em tudes e convicções nacionais em relação nam a fornecer aos motoristas mais infor- 2004 foi a segurança rodoviária e, nesse às medidas de segurança rodoviária. mações sobre o ambiente que os cerca. dia, a Organização Mundial da Saúde Algumas podem até “proteger” o moto- publicou um estudo conjunto sobre pre- 5. O IMPACTO DOS COMPORTAMEN- rista contra “más” decisões. À medida que venção a ferimentos no tráfego TOS QUE ANULAM MEDIDAS DE estas tecnologias avançam em direção ao rodoviário SEGURANÇA mercado, questões sobre compensação de (WHO 2004). risco e a resposta inadequada do motorista A aplicação no mundo em desenvolvimento Uma razão que algumas vezes faz com devido à não familiaridade tornam-se cada dos fatores identificados (melhor infra-estru- que medidas de aumento de segurança vez mais importantes. tura, comportamento mais adequado, e produzam menos resultados do que o Nenhuma sociedade deveria reduzir seus veículos melhores) levaria a grandes melho- previsto é que motoristas modificam seu esforços para diminuir o número de rias na segurança rodoviária. No entanto, 123 dada a combinação diversa de usuários das estradas nos países de baixa e média renda, a ênfase nos vários fatores deverá C. AVALIAÇÃO SUMÁRIA ser bastante diferente. Como Mohan e Tiwari observaram, sendo que a maioria das vítimas de ferimentos no tráfego nas rodovias nestes países são os usuários vulneráveis dessas rodovias (vide Figura 2.27), grandes reduções no número de mesmo modo, há grandes variações no empenho dos países em empregar estratégias de reforço, como rotineira- As mortes e os ferimentos graves decor- mente parar veículos escolhidos aleatori- rentes do tráfego podem ser substancial- amente para detectar motoristas operan- mente reduzidos abaixo dos níveis proje- do sob a influência de álcool ou drogas. tados no caso de referência do PMS, tanto no mundo desenvolvido quanto No mundo em desenvolvimento, a em desenvolvimento. Um melhor design questão de segurança atual mais impor- de veículos e de infra-estrutura é impor- tante é a proteção eficaz das populações mas sim de uma combinação de fatores tante em ambas as áreas, mas nenhum vulneráveis (pedestres, ciclistas e usuários como o projeto das rodovias, políticas deles representa uma solução completa. de veículos motorizados de duas e três ferimentos no tráfego nas rodovias não serão conseguidas com as tecnologias que tornam os veículos mais seguros, rodas) contra mortes ou ferimentos cau- urbanas de uso do solo e tecnologias veiculares que aumentam a segurança Para obter progressos tanto em regiões sados pelo crescente números de carros, destes usuários mais vulneráveis desenvolvidas quanto em desenvolvi- caminhões leves e veículos pesados que mento, é necessário melhorar o compor- usam as ruas das áreas em rápida urbani- medidas como ponto de partida para tamento dos operadores e passageiros zação e as vias que ligam estas áreas a melhorar a política de segurança rodo- dos veículos. No mundo desenvolvido, áreas rurais, outras cidades e vilarejos. viária no mundo em desenvolvimento: estabelecer e reforçar rigidamente limites Educar toda a população sobre a necessi- de velocidade adequados à localização e dade de observar regras de segurança é condições das vias, fortalecer e severa- essencial para reforçar estas regras, tão and Tiwari 2003, p. 7). (Mohan Eles identificam várias • Estabelecer agências nacionais ou regionais de segurança rodoviária. Este é um pré-requisito para que melhorias possam ser implantadas. Tais agências deveriam contar com profissionais treinados e responsáveis pela monitoração e análise de dados de acidentes, atividades de captação de fundos para a pesquisa, determinação de padrões para os veículos e as rodovias e o desenvolvimento de abordagens de engenharia e tráfego apropriadas. • Desenvolver normas de segurança para a parte posterior dos veículos (incluindo ônibus, caminhões, carros, táxis de três rodas, tuk-tuks, becaks) de modo a torná-los menos perigosos para pedestres e ciclistas. • Desenvolver recursos humanos apropriados. Existe menos de uma dúzia de profissionais de segurança rodoviária e meio ambiente trabalhando em cada um desses países menos motorizados no momento. Programas de treinamento devem ser institucionalizados, mas isso só acontecerá se e quando órgãos de pesquisa sobre segurança rodoviária e transporte forem estabelecidos em universidades e institutos de pesquisa selecionados. 124 estas tecnologias variar amplamente. Do mente reforçar leis contra dirigir sob a essencial quanto melhorias no design e influência de álcool ou outras substâncias na infra-estrutura que separa veículos e reforçar o uso do cinto de segurança motorizados dos pedestres e ciclistas. podem resultar em consideráveis reduções no número de mortes e ferimentos sérios. Tecnologias de STI podem contribuir para o reforço eficaz destas medidas, apesar do empenho em utilizar V. Reduzir o ruído decorrente do transporte Se as mudanças climáticas constituem um protótipo de um bem público global, o ruído decorrente do transporte pode ser considerado o protótipo de um bem público local. O ruído decorrente do transporte gera custos externos que não podem ser controlados eficazmente, seja voluntariamente ou por um mercado não assessorado. Mas seus custos são sentidos muito mais em nível local do que regional, nacional ou global. Por esta razão, a prioridade atribuída à meta de reduzir o ruído relativo ao transporte varia em todo o mundo. Muitos países europeus atribuem crescente prioridade à redução do ruído como um elemento da mobilidade sustentável (Directive 2002/49/EC) e o mesmo ocorre no Japão Infrastructure and Transport 2001). (Ministry of Land, Em outros países e regiões, o ruído parece uma prioridade bem menor. O ruído decorrente do transporte, assim como mortes e ferimentos graves, é produto de muitos fatores e, sendo assim, qualquer iniciativa de reduzir o ruído decorrente do transporte deverá ser multifacetada para que tenha qualquer eficácia. Alguns elementos devem tratar do comportamento ilícito de alguns operadores de veículos, sendo esta uma das mais importantes fontes de ruído em áreas urbanas densamente povoadas. Outros devem tratar das condições das vias e da escolha dos materiais empregados na pavimentação, uma vez que estes materiais têm um grande impacto sobre o ruído produzido pelo tráfego. E outros devem tratar das características inerentes ao ruído emitido pelos próprios veículos. A Caixa 4.1 identifica os principais elementos de tal abordagem multifacetada à Source: City Soundings 2003, pp.xii-xiii 125 redução do ruído – a estratégia do prefeito a instalação de barreiras acústicas ao 1.800 km dessas barreiras foram instala- de Londres para reduzir o ruído ambiente, longo das vias para conter o ruído. dos desde 1988. A Tabela 4.7 mostra o publicada em março de 2003. Os itens nível estimado de eficácia das barreiras neste edital demonstram a influência da Diferentes revestimentos de superfícies de acústicas na redução do ruído num raio autoridade do prefeito sobre as atividades vias geram diferentes níveis de ruído quan- de aproximadamente 60 metros da geradoras de ruído. Alguns itens são dire- do sobre elas trafegam o mesmo volume e rodovia. No entanto, barreiras acústicas tamente voltados para a tecnologia; outros variedade de veículos. Quando novas, são caras: o custo médio das barreiras relacionam-se a mudanças necessárias no superfícies asfálticas porosas podem construídas nos EUA desde 1998 foi de comportamento; e outros ainda apelam reduzir o ruído em 3-5 dBA se comparadas quase US$ 700.000 por quilômetro linear. ao orgulho cívico. No entanto, este edital a superfícies asfálticas densas. Nos Países ilustra a ampla gama de elementos que Baixos, há um grande programa nacional um programa abrangente de redução de para substituir superfícies asfálticas densas ruído deve incluir. antigas por superfícies asfálticas porosas. No Japão, o uso de superfícies porosas A. Proprietários e operadores de veículos C. O bom fluxo do tráfego tornou-se obrigatório e já há mais de Uma outra questão relacionada às 1.000 km de vias cobertos por tais reves- rodovias é o fluxo do tráfego. Isto será dis- timentos. Existem outros projetos representativos para a substituição de revesti- A maior parte do ruído decorrente do mentos no Reino Unido, na Nova Zelân- tráfego em áreas urbanas é resultado de dia, na Itália, na França e na Espanha cutido com mais detalhes na seção sobre minimização dos congestionamentos. (Sandberg 2001). D. Projeto dos veículos tecnologias de redução de ruído instaladas Nas reuniões de 2004 do Transport A maioria dos países desenvolvidos pelos fabricantes32 e operam seus veículos Research Board (TRB) (‘Conselho de requer que todo veículo vendido dentro de maneiras tais que geram níveis muito Pesquisa sobre Transporte’), o desenvolvi- de suas fronteiras esteja em conformi- mais elevados de ruído do que um veículo mento de uma superfície elástica porosa dade com as normas para limites de adequadamente operado. Solucionar este usada na pavimentação de vias (do original ruído. Estes limites foram reforçados ao problema faz do reforço de medidas anti- em inglês PERS) que pudesse reduzir o longo dos anos, de modo que os veícu- ruído já existentes uma prioridade para as ruído rodoviário em até 10 dBA foi relata- autoridades. Por diversas razões políticas e los de hoje, sob operação e manutenção do. PERS possui uma estrutura porosa sociais, muitas sociedades não estão dis- adequadas, são mais silenciosos do que composta por borracha granulada feita a postas a tomar esta medida, enquanto em no passado. Possivelmente, mais poderia partir de velhos pneus usados como seu outras sociedades as regulamentações sobre agregado e resina de uretano como liga. O o ruído são obedecidas sem a necessidade conceito foi inicialmente proposto na de qualquer reforço de conformidade. Suécia na década de 1970 mas, segundo atividades ilícitas e ilegais. Os proprietários modificam seus veículos para anular as relatório do TRB, não foi posto em uso até B. Projeto e manutenção de rodovias A superfície de uma via é o principal determinante do ruído produzido pelos veículos que nela trafegam. Duas abordagens podem ser usadas para lidar com este tipo de ruído. A primeira envolve o uso de diferentes materiais e a segunda, ser feito – por exemplo (como descrito no Capítulo 3), melhorias nos pneus. E. Avaliação sumária recentemente no Japão. A parcela de rodovias urbanas japonesas dentro dos li- Existe um sem número de oportunidades mites acústicos, atualmente em 13%, para reduzir os aborrecimentos causados poderia aumentar para 90% se este materi- pelo ruído nas vias. Entre os mais impor- al fosse utilizado. (Meiarashi 2004). tantes, ressaltamos o reforço das regulamentações sobre ruído, a construção de Barreiras acústicas são usadas em muitos barreiras acústicas e a adoção de superfí- países para reduzir o ruído de rodovias cies rodoviárias mais silenciosas. A mini- em áreas urbanizadas. Nos EUA, mais de mização dos congestionamentos (vide a seguir) pode também contribuir para a redução do ruído rodoviário através de um melhor fluxo do tráfego. Novos sistemas de propulsão, como células combustíveis, têm o potencial de reduzir o ruído, apesar de a redução de ruído provavelmente não ser a razão mais importante para sua adoção. Fonte: US DOT 2000, p.10. 126 VI. Diminuir os congestionamentos em vias de transporte Congestionamentos não podem nunca o carro) irão redirecionar seus caminhos aumentar as possibilidades de trabalho ser eliminados, mas seus impactos adver- para esta via que passou a ter melhores à distância ou reduzir as distâncias entre sos podem ser minimizados. condições de trânsito. O aumento “induzi- destinos ao promover a locomoção Congestionamen-tos ocorrem quando a do” da demanda por espaço pode, às através de alguma outra forma de trans- capacidade da infra-estrutura é inade- vezes, igualar uma nova capacidade de porte. Mudanças no planejamento quada para atender à demanda em um infra-estrutura de vias. 33 determinado ponto no tempo. Ela se urbano e regional e melhorias no transporte público ou nas conexões inter- manifesta de duas formas correlatas. O Para diminuir os efeitos da demanda modais podem ter um efeito positivo nos tempo médio necessário para uma induzida, estratégias que reduzem a níveis de congestionamento, mesmo que viagem aumenta e a variabilidade no demanda podem ter mais sucesso do demore um certo tempo até que seus tempo de viagem se amplia significativa- que aquelas que aumentam a oferta de efeitos sejam sentidos. mente. Os usuários do sistema de trans- infra-estrutura. Mas é improvável que porte podem compensar a primeira mudanças na demanda sejam suficientes Apesar de mudanças comportamentais (com custos adicionais) aumentando a para solucionar crescimentos projetados serem de difícil introdução, aumentar a alocação de tempo para tal viagem. na locomoção ou manter a oferta de carga tributária pode reduzir o número Mas a segunda forma é mais difícil e infra-estrutura e a demanda equilibradas. total de veículos utilizando uma via, onerosa de ser compensada, pois não pode ser prevista. Congestionamentos podem ser minimizados reduzindo a demanda e/ou aumentando a oferta de capacidade de infra-estrutu- tanto para locomoção pessoal quanto de A. Reduzir a demanda por acesso à infra-estrutura mercadorias. Para a locomoção pessoal, algumas formas se traduzem em rodízios e caronas ou planejamento de viagem; faixas preferenciais (HOV) ou acessos restritos de entrada em zonas urbanas, ra, em particular durante os horários de Estratégias para reduzir a demanda por permitidos somente para veículos com acesso à infra-estrutura podem focar o um mínimo de ocupantes (apesar de sua veículos que utilizam certa parte da infra- número total de veículos que usam a eficiência ainda não estar comprovada); estrutura – equilibrar os altos e baixos da capacidade disponível ou a redistribuição e programas de estacionamento reem- demanda durante o dia é, em geral, sufi- do uso, reduzindo assim os picos de bolsado pela empresa para funcionários ciente. “Aumentar a capacidade” não demanda. Raramente uma via ou uma que fazem uso compartilhado de carros. implica necessariamente na construção de ponte está congestionada o dia todo. O Para o transporte de mercadorias, me- nova infra-estrutura: a atual pode ser usada congestionamento geralmente é pior em lhorias na logística utilizando sistemas de de forma mais eficiente. determinadas horas do dia ou da noite e TI ou centros regionais de distribuição em certos pontos de “gargalo”. Se a podem reduzir o número de viagens No entanto, qualquer estratégia para ate- demanda e a pressão nos “gargalos” comerciais. nuar os congestionamentos deve contem- forem reduzidas, o congestionamento plar a demanda induzida. Tipicamente, pode ser atenuado. 2. EQUALIZAR A DEMANDA comumente congestionada, motoristas que 1. REDUZIR O NÚMERO TOTAL DE Ferramentas que reduzem a demanda no estavam usando rotas alternativas, que ti- VIAGENS horário de pico em pontos de “gargalo” pico. “Reduzir a demanda” não significa necessariamente reduzir o número total de quando o tráfego flui melhor em uma via incluem um aumento das tarifas pagas nham mudado o horário de suas viagens e trabalhadores em trânsito para o trabalho Diminuir o número total de viagens de pela infra-estrutura durante os horários que estavam usando outras modalidades de passageiros envolve remover a necessi- de pico, sistemas de TI de bordo que transporte (mas que então mudaram para dade por locomoção – por exemplo, informam os motoristas sobre rotas 127 menos congestionadas e a mudança no tarifação. Um relatório publicado em de países em desenvolvimento e também horário comercial para redistribuir os fevereiro de 2004, um ano após a da América do Norte e Europa. E a terceira horários de pico. imposição da tarifação anticongestiona- não se ampara em uma base geográfica, mento, não encontrou qualquer evidên- mas está associada com uma mudança na Em princípio, a externalização de custos cia de impactos adversos deste esquema demanda por transporte que altera a e a transferência dos mesmos para os no tráfego fora desta área, e pesquisas natureza da prestação de serviços de infra- motoristas durante horários de pico de conduzidas pelo Departamento de estrutura . congestionamento fornecem um incenti- Transporte de Londres também encon- vo financeiro para o ajuste dos horários traram poucas evidências de impactos Países em rápido crescimento na Ásia estão de locomoção, a escolha de rotas alter- adversos da tarifação nos negócios implantando programas maciços de cons- nativas, o rodízio de carros, o planeja- 34 (Transport for London 2004) . mento de viagens combinadas ou a eli- trução de infra-estrutura. Segundo o jornal chinês People’s Daily, a China construiu um minação de viagens. Vários esquemas de 3. AUMENTAR A OFERTA DE INFRA- total de 46.000 km de novas estradas em cobrança pelo uso de vias foram imple- ESTRUTURA 2003, incluindo 4.600 km de vias expres- mentados em todo o mundo e sas. Isso elevou o total da malha viária para enfrentam uma certa reação pública. Em Construir uma capacidade adicional de 1,81 milhões km, dos quais 30.000 km são outras ocasiões, a reação pública não infra-estrutura. A construção de novas vias vias expressas (People’s Daily Online, 2004). permitiu sua implantação. A despeito ou a expansão de faixas, particularmente Cidades chinesas em rápido crescimento disso e de outras questões (como o nos pontos de “gargalo” e em áreas onde estão investindo muito na construção de impacto nos indivíduos de baixa renda), há aumento da demanda por transporte, infra-estrutura. Em abril de 2002, Xangai a tarifação do uso das vias tem sido efi- significa que, em curto prazo, a infra-estru- projetou um plano de transporte para os caz na redução do congestionamento tura acomodará mais veículos durante os próximos 20 anos, entre ouras coisas, pre- nos horários de pico em algumas horários de pico, causando menos gargalos vendo o aumento da capacidade de artérias situações. e períodos mais curtos de congestionamen- viárias de 2,7 milhões de veículos-quilôme- to. Dentro de uma malha viária regional, tros/h para 4,1 milhões de veículos- Os dois melhores exemplos da tarifação onde novas vias são construídas ou expan- quilômetros/h em 2005 e 6,5 milhões em sobre o congestionamento em zonas didas, rotas paralelas podem apresentar 2020 urbanas são Londres e Singapura. Em níveis menores de congestionamento. Mas, Xangai planeja construir seis novos Singapura, tudo se iniciou como um sis- provavelmente, a capacidade viária túneis e pontes sobre o Rio Huangpu, tema simples no qual os motoristas com- expandida sentirá alguns dos efeitos da elevando o número total de travessias pravam passes de circulação e os colavam redução da demanda e, ao longo do para 16 às janelas de seus carros, para então evo- tempo, novos congestionamentos em luir para um sistema eletrônico de tarifa- níveis semelhantes ou superiores a antes. (Embarq 2003). No mesmo período, (People’s Daily Online, 2003). 4. AUMENTAR A OFERTA DE INFRA-ESTRUTURA ATRAVÉS DO ção variável, mas cobrada em tempo real. Construir uma capacidade adicional de 128 35 USO MAIS EFICIENTE DA MESMA O sistema de tarifação de Londres não é infra-estrutura não é, por conseguinte, uma tão avançado tecnologicamente, mas sua solução total aos problemas de congestão, Onde não for possível ou desejável con- importância está em ser o primeiro caso podendo, no entanto, ser um importante struir novas vias, a capacidade da infra- onde autoridades eleitas em uma grande elemento de estratégia de redução dos estrutura atual pode ser melhorada com metrópole européia enfrentaram o risco congestionamentos quando (a) a demanda faixas exclusivas, mudanças no desenho político de impor tarifação ao uso de por transporte cresce rapidamente quando da infra-estrutura, tecnologias veiculares vias. Os motoristas pagam £5 por dia uma região apresenta forte crescimento e de comunicação avançadas e estraté- para entrar em uma determinada área de econômico ou está sendo integrada; (b) gias e sistemas abrangentes de gestão do Londres em dias da semana. Após um quando áreas rurais ou próximas a esta transporte. ano em operação, os atrasos no tráfego estão se urbanizando; ou (c) quando a dentro desta área foram reduzidos em capacidade anteriormente utilizável não Um dos fatores que contribui para con- 30% e os ônibus que trafegavam dentro pode mais ser usada. A primeira causa é gestionamentos (e acidentes de trânsito) é e em volta desta área enfrentavam 60% típica não somente em áreas de rápida a diferença em velocidade e aceleração menos problemas com atrasos. Houve urbanização em muitos países em desen- entre os diversos veículos. Se todos eles uma redução de 15% no tráfego circu- volvimento, mas também na Europa, à viajassem à mesma velocidade, a capaci- lando dentro da área e 18% no tráfego medida que a integração na UE prossegue. dade e a segurança melhorariam substan- que entrava na área durante o horário de A segunda é típica do rápido crescimento cialmente. Faixas exclusivas são úteis inteligentes possibilitarão aos veículos, um dia, manter distâncias menores seguras a velocidades mais altas, mas, por enquanto, ainda há desafios técnicos, sociais e regulatórios a serem vencidos antes destas tecnologias estarem à disposição nas vias públicas, seja em faixas exclusivas ou não. Onde houver restrições físicas à construção de novas faixas em rodovias já existentes para aumentar sua capacidade, pode ser possível criar faixas adicionais usando os acostamentos das atuais rodovias para o tráfego geral durante os horários de pico, mantendo-se, no entanto, a via cuidadosamente monitorada. Esta faixa adicional poderá ser fechada novamente (através de sinais eletrônicos) se algum veículo quebrar. Esta prática é um método relativamente barato de como meios de separar os diferentes flu- for o benefício maior. A característica da xos de tráfego e de garantir, quase sem- escolha que define as faixas HOT as torna pre, que os veículos alvo viajem sem con- mais acei-táveis do que esquemas de tari- gestionamento, mesmo quando a via fação fixos ou não-variáveis, como rodovias principal está bloqueada. Faixas exclusivas com pedágio que podem ter um efeito podem contemplar especificamente car- não proporcional sobre os motoristas de ros, táxis, caminhões de carga ou ônibus, baixa renda. e o tráfego em faixas adjacentes, não exclusivas, também terá um melhor fluxo. Minimizar atrasos e paradas em todas as Tecnologias para faixas exclusivas e para vias, seja em rodovias ou em intersecções mudar seu status de forma mais dinâmica com ferrovias, ou ainda devido a cons- já estão sendo usadas e melhorias virão. truções ou reparos nas vias, melhorará as condições dos congestionamentos. Por aumentar a capacidade. O Ministério dos Transportes dos Países Baixos está atualmente investindo €380 milhões em 150 km das assim chamadas “faixas de horários de pico” (2,5 milhões/km). Outra opção pode ser estreitar as faixas para dar lugar a novas faixas. Por razões de segurança, a implantação de faixas mais estreitas pode depender da disseminação e aceitação de tecnologias de manutenção dos veículos em uma mesma faixa ou dos tipos de veículos/rodovias automatizados mencionados anteriormente. Em alguns casos nos EUA, faixas exclusi- esta razão, o projeto e a manutenção do vas estão sendo transformadas em faixas sistema de infra-estrutura pode melhorar HOT com pedágio. O acesso a estas fai- sua capacidade e seu desempenho. Transporte (SIT) também podem aumentar xas se dá mediante o pagamento de um Tecnologias como Pedágio Eletrônico a segurança e reduzir congestionamentos pedágio fixo ou ajustável independente (com cartões, scanners e sistemas de gestão ao aumentar a capacidade efetiva da infra- do número de ocupantes no veículo. Um eletrônica) também reduzem os atrasos estrutura já existente. Estas tecnologias de exemplo de uma tarifação dinâmica de ao facilitar o pagamento do pedágio e informação ampliam as capacidades dos sis- faixa HOT é a via expressa interestadual de tarifas e a gestão de faixas exclusivas. temas de gestão de tráfego regional para Outros avanços em Sistemas Inteligentes de desenvolver estratégias de gestão de 15 em San Diego, cujo pedágio flutua a cada seis minutos em aumentos de Como o comportamento dos motoristas tráfego para toda a malha viária de uma US$ 0,50 a US$ 8,00 por viagem, também afeta o fluxo do tráfego, reduzir região. Os gestores podem, então, melho- dependendo da tarifação necessária para (ou monitorar) as velocidades máximas e o rar o fluxo do tráfego monitorando o uso manter o tráfego nas faixas HOT fluindo volume de carros mudando de faixa pode da capacidade em tempo real e responden- a uma certa velocidade constante. aumentar a capacidade viária. No futuro, as do a isso através de placas, sinalizações e Motoristas das mais variadas rendas distâncias entre veículos serão mantidas não alocação das faixas. podem escolher essas faixas HOT duran- pelos motoristas, mas pelos próprios veícu- te os horários de pico de congestiona- los. Inovações em veículos ou rodovias mento se um tempo menor de viagem automatizados e controles de bordo 129 mesmo tempo, detectando incidentes de tráfego e respostas com aumento de velocidade, e reduzindo atrasos no futuro. O Ministério dos Transportes dos Países Baixos alega que a implantação de sistemas de gestão de tráfego nos últimos 25 anos aumentou a capacidade efetiva das vias em 5%, resultando em uma redução de 15-20% de congestionamentos em relação a como esta condição seria sem estas medidas (Middelham 2003). Com as atuais inovações em tecnologias de informação e de bordo, uma maior experiência ganha com a implantação de projetos de tarifação e o desenvolvimento de estratégias de gestão da malha viária, um conjunto diversificado de ferramentas logo estará disponível para fazermos um uso mais eficiente da infraestrutura existente e futura. B. Avaliação sumária Congestionamentos podem ser diminuídos se reduzirmos a demanda sobre a infra-estrutura durante períodos críticos e também aumentarmos a capacidade da infra-estrutura. Diversas abordagens, muitas das quais dependem de alguma forma de tarifação, mostram-se promissoras na redução da demanda da infra-estrutura. A capacidade da infra-estrutura pode ser aumentada especialmente em pontos de “gargalo” e com a expansão da capacidade efetiva da infra-estrutura existente pelo uso de tecnologias como SIT. Até certo ponto, Medidas para redistribuir o fluxo de tráfego dam rapidamente e removam acidentes incluem otimização da sinalização de que causam reduções no tempo de tráfego, pedágio em saídas e reversão da viagem e níveis de congestionamentos mão de faixas ou de ruas de mão única. Em maiores. Telefones celulares são uma Paris, dados sobre o fluxo do tráfego repas- opção prática para detecção de inci- sados por táxis (“dados flutuantes de dentes, pois suas áreas de cobertura são automóveis”) estão sendo usados como bem maiores do que as áreas que podem uma alternativa à onerosa implantação de ser monitoradas pelos métodos de redutores eletrônicos de velocidade nas vias. detecção tradicionais, como câmeras e redutores de velocidade. Sistemas GPS 130 Tecnologias de informação também per- nos veículos permitem rastrear e com- mitem que os gestores do tráfego respon- parar as velocidades de muitos veículos ao aumentos na capacidade da infra-estrutura serão anulados por uma demanda de locomoção induzida. VII. Diminuir a “divisa de mobilidade” entre (A) as populações dos países mais pobres e (B) os membros de grupos social e economicamente desfavorecidos na maioria dos países, para que estes e suas famílias possam ter uma vida melhor Até este ponto neste capítulo, as metas de sustentabilidade se concentraram na redução – e em alguns casos na eliminação – de certas conseqüências negativas associadas ao crescimento da mobilidade. Isto é muito importante, mas não suficiente para tornar a mobilidade sustentável. A. Diminuir a “divisa de oportunidades de mobilidade” entre os países em desenvolvimento mais pobres e os países desenvolvidos Segundo nossa definição, a mobilidade sustentável requer não somente que “valores humanos e ecológicos essenciais não sejam sacrificados nem hoje, nem no futuro”, mas também que as “necessidades da sociedade de livre locomoção, acesso, comunicação, comércio e estabelecimento de relações” sejam atendidas. A sexta e a Na visão do PMS, esta divisa deve ser reduzida, o que não implica que o africano médio deva viajar tantos quilômetros quanto o faz o americano, europeu ou japonês. Esta divisa deixará de existir quando as pessoas em todo o mundo tiverem oportunidades comparáveis de “se movimentar livremente, ter acesso, comunicarse, comercializar e estabelecer relações”. As projeções do PMS para a atividade de transporte de pessoas e mercadorias entre 2000 e 2050, apresentadas no Capítulo 2, mostram que tanto o transporte pessoal quanto o de mercadorias crescerão, com uma expansão especialmente rápida em certas partes do mundo em desen- sétima metas do PMS visam garantir volvimento. Entretanto, estas que a mobilidade continue a projeções também demonstram que desempenhar seu papel indispensável o crescimento não será suficiente para na melhoria dos padrões de vida da fornecer ao cidadão médio das nações população global, ao reduzir as e regiões em desenvolvimento mais disparidades nas oportunidades de pobres as oportunidades de mobilidade mobilidade entre e dentro dos países e minimamente comparáveis às ao fornecer melhores alternativas de disponíveis hoje ao cidadão médio mobilidade às populações de países do mundo desenvolvido. Esta dispari- tanto no mundo desenvolvido quando dade foi definida como “divisa de em desenvolvimento. oportunidades de mobilidade”. 131 2050. Ou seja, para o habitante médio da Figure 4.14 Número médio de viagens per capita por ano relativo aos habitantes das Regiões OCDE da Europa e do Pacífico África (e também do Oriente Médio), a divisa de oportunidades de mobilidade deve aumentar. % 100 Leste Europeu % 80 % 60 Antiga União Soviética Outra comparação relevante é entre a América Latina Índia e a China. Em 2000, ambas apre- China sentavam níveis per capita semelhantes Outros Países da Ásia aos da Europa OCDE/Ásia OCDE – 17% Oriente Médio Índia % 40 para a Índia e 16% para a China. Até 2050, a Índia terá mudado pouco África (20%), mas a China terá mais do que dobrado (37%). Por que esta diferença? % 20 As projeções da atividade de transporte 0 do caso de referência do PMS são deter- 2050 minadas primariamente pela taxa de Fonte: cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. crescimento per capita real para cada estado ou região. Pressupõe-se alguma A Figura 4.14 ilustra a magnitude atual divisa com a Europa OCDE e a Ásia OCDE variação em intensidades regionais de da divisa de oportunidades de mobilidade em termos de oportunidades de mobili- viagens (mensuradas em passageiros- e como ela pode evoluir se as atuais dade pessoal. A América Latina terá dimin- quilômetros per capita por dólar de PIB tendências se mantiverem. Cada linha na uído esta divisa significativamente, mas as per capita real). Mas são as diferenças na Figura 4.14 mostra, para a região identifi- viagens per capita pela média de habi- renda real per capita, e não as diferenças cada, o número médio de quilômetros tantes em outros países asiáticos, Índia e em intensidades de viagens, que basica- per capita viajados anualmente como Oriente Médico manterão uma diferença mente determinam a magnitude da uma porcentagem do número médio de de aproximadamente 20% com o nível da divisa de oportunidades de mobilidade. quilômetros per capita viajados anual- Europa OCDE/Ásia OCDE. O número Isso pode ser notado ao compararmos a mente na Europa OCDE/Ásia OCDE. médio de viagens do africano médio – em intensidade de viagens para as regiões 2000, somente 13% do número médio de OCDE do Pacífico e da África (Figura Por volta de 2050, o Leste Europeu e a viagens do habitante médio da Europa 4.15). Em 2000, a intensidade de via- antiga União Soviética terão ultrapassado a OCDE/Ásia OCDE – declinará 8 % até gens na África era maior do que no Pacífico OCDE. Esta diferença deve diminuir e a partir de 2025-2050: as intensidades de viagens deverão ser Figura 4.15 Intensidade de viagens pessoais: Pacífico e África OCDE quase idênticas, apesar de projetarmos que em 2050 o habitante médio da África viajará somente um oitavo do 1.0 número de quilômetros do habitante médio do Pacífico OCDE. 0.8 1. ABORDAGENS PARA DIMINUIR 0.6 ESTA “DIVISA” África 0.4 Pacífico OCDE Há duas formas de diminuir a divisa de oportunidades de mobilidade. A 0.2 primeira é promover a taxa de crescimento da renda real per capita do país 0 2050 Fonte: cálculos do Projeto de Mobilidade Sustentável. 132 mais pobre. A segunda é aumentar as oportunidades de mobilidade obtidas por dólar da renda per capita real do Economist decidiu experimentar as Quanto uma infra-estrutura deficiente país mais pobre. condições das estradas em áreas rurais acrescenta ao custo dos produtos? Uma pobres de países em desenvolvimento e os garrafa de um conhecido refrigerante custos que elas impõe às suas “vítimas”: custa 300CFA na cidade onde é engar- No Capítulo 1 deste Relatório, o PMS rafada. Em outra cidade, distante 125 descreveu como melhores oportunidades de mobilidade podem viabilizar o cresci- ”Visitantes dos países ricos raramente km desta, o preço sobre para 315CFA. mento econômico, especialmente em experimentam o verdadeiro horror da Em um vilarejo 100 km adiante, já está regiões hoje com as piores oportunidades infra-estrutura do terceiro mundo. Eles em 350CFA. As três localidades estão na de mobilidade. Mas, por si só, as oportu- usam as estradas relativamente boas estrada principal mencionada acima. Se nidades de mobilidade provavelmente não que vão dos aeroportos para seus hotéis a bebida sair da estrada principal, os serão suficientes para aumentar significati- e voam qualquer distância maior do preços sobem mais ainda. vamente as taxas de crescimento que um passeio até o mercado de econômico real per capita. Elas devem curiosidades local. O que aconteceu com as bebidas também ocorreu com outros produtos. Sabão, fazer parte de uma gama de medidas, a maior parte das quais está além do escopo Mas as pessoas que moram e traba- cabeças de machadinhas e querosene deste Relatório. Tendo dito isso, há uma lham em países com uma infra-estrutu- eram muito mais caras nas vilas mais remo- forma óbvia de aumentar as oportu- ra apodrecida têm que lidar com suas tas do que nas grandes cidades. Mesmo nidades por dólar da renda per capita real conseqüências todos os dias, as quais produtos mais leves, cujo transporte não – abaixar o custo da locomoção. são tão profundas quanto malignas. custa muito, como fósforos e pílulas contra Assim, para investigar como as péssi- a malária, ficavam bem mais caros. Por a) Abaixar o custo da locomoção mas estradas dificultam a vida, este outro lado, os produtos que os habitantes melhorando a infra-estrutura viária correspondente pegou uma carona em pobres queriam vender – inhame, mandio- básica um caminhão de cerveja em Camarões, ca e manga – eram vendidos a preços um país agradável, pacífico e úmido no inferiores nas vilas do que nas cidades. canto do Golfo da Guiné (....) Agricultores tinham um “duplo prejuízo” Uma das mais importantes formas de com as estradas precárias: eles pagavam abaixar o custo do transporte nas áreas O plano era carregar 1.600 engradados mais pelo que compravam e recebiam volvimento é fornecer os meios básicos de cerveja Guinness e outras bebidas da menos pelo que vendiam. de acesso às pessoas destas áreas. fábrica em Douala para onde elas seriam rurais mais pobres dos países em desen- fermentadas, em Bertoua, uma cidade- O PMS já reparou que a China está Segundo o Banco Mundial, por volta de zinha na floresta tropical do sudeste de investindo vultosos recursos para melho- 900 milhões de pessoas nestas áreas – um Camarões. Como todos devem saber, rar sua infra-estrutura, dos quais uma terço de todas as pessoas que moram nestas uma viagem de menos de 500 km – a parcela significativa é dedicada à melho- áreas em todo o mundo – não têm acesso a mesma distância entre Nova Iorque e ria das estradas rurais. Em contraste, estradas em boas condições (World Bank 2003). Pittsburgh, ou Londres e Edimburgo. pouco está sendo investido na melhoria Em um artigo recente, Jeffrey Sachs catalo- Com um cronograma otimista, dev- das estradas rurais na África. O Banco gou algumas das importantes deficiências eríamos ter levado 20 horas, incluindo Mundial estima que menos de US$ 18 de infra-estrutura em seus países africanos – uma parada para dormir. Levamos qua- bilhões precisam ser dirigidos todo ano Etiópia, Gana, Quênia, Senegal, Tanzânia e tro dias. Quando o caminhão chegou, para a infra-estrutura africana (estradas e Uganda. Entre as mais sérias deficiências carregava apenas dois terços de sua outros elementos da infra-estrutura), se o estava a falta de estradas pavimentadas: carga original.” continente quiser alcançar o nível de (Economist 2002, p. 37) crescimento necessário para tirar as pes- nesses seis países há 0,01 km de estradas soas da pobreza. pavimentadas por pessoa. Em contraste, em O correspondente contou 47 bloqueios todos os países em desenvolvimento que de estrada onde o caminhão foi parado não estão na África, há uma média de 4,49 “para inspeção” e cada um deles exigiu Não carece de muito para melhorar as km por pessoa (Economist 2004, p. 20). o pagamento de propina para deixar o estradas rurais. Como o exemplo de caminhão passar. Ele também relatou Camarões ilustra, a segurança também Por que é tão difícil locomover-se em algu- que, em três ocasiões, a estrada – uma precisa ser melhorada. Mas garantir que mas partes da África? Com um título das principais artérias de Camarões – as pessoas que moram em áreas rurais provocativo – The Road to Hell is Unpaved estava bloqueada em virtude da chuva, remotas possam chegar até outros (‘A Estrada para o Inferno não é Asfaltada’) causando atrasos de até quatro horas em lugares é um fator importante para –, o autor de um artigo escrito para o The cada ocasião. ajudá-las a escapar da pobreza. 133 b) Disponibilizar veículos baratos empresas industriais mais sofisticadas. O como um todo. Devido às suas altas emis- que também atendam aos padrões governo chinês classifica estas empresas sões, eles estão proibidos de entrar nas básicos de segurança e limites de não de fabricantes de veículos automotores, áreas urbanas pelas autoridades chinesas. emissões mas de produtores de maquinário agrícola. Uma vez que o acesso a outros lugares fica Daniel Sperling e dois de seus colegas no nho, escopo e vigor, mas Sperling e seus mais fácil, os habitantes das áreas rurais se Instituto de Estudos do Transporte na colegas relatam a existência de indústrias beneficiam das melhores oportunidades de Universidade da Califórnia em Davis recen- um tanto similares na Tailândia, na Índia e locomoção e comércio, e começam a uti- temente publicaram o primeiro relatório sis- em Creta . Em cada um dos casos, eles lizar uma ampla gama de veículos pessoais e temático sobre esta indústria – a Indústria observam que a indústria local não sobre- de carga, a maioria dos quais é motorizada. Chinesa de Veículos Rurais – do original, viveu quando exposta à concorrência exter- Chinese Rural Vehicle (CRV) Industry na. Isto pode ou não acontecer na China, (Sperling, et. al., 2004). mas, em qualquer das hipóteses, o rápido A indústria de CRV é única em seu tama- Quanto mais baixo custo de compra e operação destes veículos, maiores as oportunidades de mobilidade. Mas isso causa um Eles estimam que a pro- 37 dução anual da CRV cresceu de quase zero surgimento da indústria CRV é um teste- nos meados dos anos 1980 a 1,1 milhões munho do forte desejo por uma mobili- em 1992 e 2,3 milhões em 1995, atingindo dade motorizada em países em desenvolvi- o pico de 3,2 milhões em 1999, para então mento em rápido crescimento. Isso tam- cair aproximadamente 7% ao ano entre bém revela a importância de tornar con- 2000 e 2002. Em 2001, a população de troles de emissões o mais barato possível pensações podem ser adequadas se as pes- CRVs era de aproximadamente 22 milhões nos veículos para os habitantes mais pobres soas envolvidas compreendem suas conse- de veículos. As vendas de CRVs de quatro do mundo. Os combustíveis necessários a qüências. Mas o quanto estas compen- rodas mais sofisticados e mais caros ga- estes controles também devem estar sações reduzem consideravelmente as nharam novo impulso em 2002, com ga- disponíveis e a baixo custo, caso contrário o externalidades negativas, os indivíduos nhos de 7%, para os quais os pesquisa- custo do transporte aumentará e terá o agindo por sua própria conta não tomarão dores atribuem o aumento da regulamen- efeito de piorar a divisa de oportunidades as decisões que refletem os custos totais. tação e intervenção do governo chinês, de mobilidade. dilema. Para reduzir o custo do transporte, há uma tentação forte de evitar “luxos” como controles de emissões e itens de segurança nos veículos motorizados usados em regiões pobres do mundo em desenvolvimento. Dentro de certos limites, essas com- que reduziu a lucratividade e viabilidade Conforme discutimos anteriormente, veícu- de CRVs de três rodas menos sofisticados. los motorizados de duas e três rodas têm um importante papel como provedores de oportunidades baratas de mobilidade em certas regiões do mundo. Mas, como também observamos, estes veículos são responsáveis por uma parcela desproporcional das emissões “convencionais” e dos acidentes nidades de mobilidade entre os Apesar de os dados serem fragmentados, os países em desenvolvimento mais CRVs respondem por uma significativa pobres e o mundo desenvolvido parcela do consumo de energia para o não aumentaria as emissões de transporte rodoviário na China. GEEs decorrentes do transporte? Aproximadamente 80% dos 22 milhões de CRVs têm motores a diesel de um cilindro, A maior parte do aumento de emissões originariamente projetados para maquinário de GEEs decorrentes do transporte proje- agrícola estacionário, os quais são muito tada para o período 2000-2050 terá ineficientes, especialmente em aplicações origem no mundo em desenvolvimento, móveis. Estimativas diferentes levaram os mas o crescimento da atividade de trans- pesquisadores a concluir que os CRVs repre- porte no mundo em desenvolvimento No entanto, estes veículos não são os úni- sentavam 21% do consumo total de diesel associada ao aumento de emissões de cos capazes de oferecer oportunidades na China em 2000. O transporte em GEEs no mundo em desenvolvimento baratas de mobilidade em áreas rurais dos rodovias como um todo (excluindo os não diminuirá notadamente a divisa de rodoviários sérios. Neste contexto, é muito importante que as tecnologias de redução de emissões e melhoria da segurança sejam acessíveis e compatíveis com os veículos motorizados de duas e três rodas. países em desenvolvimento. Na China, CRVs) representava 24% 36 oportunidades de mobilidade entre os países mais pobres e os países do mundo todo um setor industrial foi desenvolvido 134 c) Uma menor divisa de oportu- para produzir veículos motorizados de três O desempenho de emissões convencional desenvolvido. Se medidas adicionais e quatro rodas para o transporte de mer- dos CRVs é ainda mais difícil de ser avalia- forem tomadas para diminuir esta divisa, cadorias. Estes veículos usam tecnologia do. Combinando diferentes informações, os o mundo talvez – mas não necessa- simples e desenvolvida localmente. A maio- pesquisadores estimaram que os CRVs riamente – terá um volume maior de ria dos fabricantes tem suas fábricas em emitem tanta poluição atmosférica quanto emissões de GEEs decorrentes do trans- seus quintais, apesar de algumas serem qualquer outro veículo automotor na China porte no mundo em desenvolvimento. Uma forma de evitar tais aumentos – considerada inaceitável pelo PMS – seria brecar o desenvolvimento, evitando assim que países e regiões em desenvolvimento realizem as oportunidades de mobilidade necessárias para tirar seus cidadãos da pobreza. Na visão do PMS, se quisermos atingir a mobilidade sustentável global, deve ser possível tanto para regiões da OCDE quanto para regiões não-OCDE melhorar substancialmente seus padrões de vida, assim como desafios globais, como mudanças climáticas, devem ser eficazmente vencidos. O primeiro destes objetivos requer mais atenção a sistemas de transporte acessíveis financeiramente – tanto os veículos quanto a infra-estrutura – para os cidadãos do mundo em desenvolvimento. O segundo requer que o mundo desenvolvido não baseie suas estratégias para a redução das emissões de GEEs decorrentes do transporte na pressuposição que crescimento e desenvolvimento em países e regiões não-OCDE devam ser restringidos. Ao contrário, na visão do PMS, os estados desenvolvidos devem preparar-se para ajudar os países mais pobres em desenvolvimento a crescer mais rapidamente sem criar problemas ambientais globais inaceitáveis. B. Diminuir a “divisa de oportunidades de mobilidade” existentes dentro da maioria dos países como discutido no Capítulo 2 no tocante parentes, participar de eventos públicos, ao conceito de igualdade. etc. Quando os níveis de mobilidade se tornam um fato, aqueles que enfrentam Um estudo britânico – “Social Exclusion uma carência de oportunidades de and the Provision of Public Transport” mobilidade estão excluídos de muitas (‘Exclusão Social e a Provisão de Transporte das atividades que aqueles com boas Público’) – identifica diversas formas nas oportunidades de mobilidade tomam quais a falta de oportunidades de mobili- por certas. dade adequada pode contribuir para a exclusão social: 1. O PAPEL – E AS LIMITAÇÕES – DO TRANSPORTE PÚBLICO NA OFERTA • Espaciais, pois, sem oportunidades de mobilidade adequadas, os indivíduos DE ACESSIBILIDADE A GRUPOS SOCIALMENTE EXCLUÍDOS não têm como chegar aos lugares que desejam (ou precisam); O estudo britânico a que nos referimos focou como o transporte público pode • Temporais, pois os indivíduos não podem lá chegar em tempo adequado; ser usado para compensar a exclusão social, foco este compreensível pois, como demonstrado no Capítulo 2, os • Financeiras, pois eles não podem arcar com os custos da viagem a seu destino; grupos identificados anteriormente dependem de forma desproporcional do transporte público. Além disso, a • Pessoais, pois lhes faltam as ferramen- Grã-Bretanha tem um bem desenvolvido Disparidades significativas nas oportu- ta físicas e mentais para lidar com os sistema de transporte público, e, dentro nidades de mobilidade existem na maio- meios disponíveis da mobilidade. de certos limites, equipamentos, rotas e ria dos países e regiões – independente tarifas desse sistema podem ser ajustados de seu estágio de desenvolvimento Indivíduos excluídos de uma ou todas essas para contribuir na redução da exclusão econômico. Diversas “divisas de oportu- dimensões têm dificuldades em encontrar e social. O mesmo é verdadeiro para ou- nidades de mobilidade” intrapaís e intra- manter empregos, receber assistência médi- tras áreas urbanizadas que têm sistemas região contribuem para a exclusão social ca e serviços sociais, educar-se, ter acesso a de transporte público de alta qualidade e de idosos, deficientes, dos mais pobres e uma ampla escolha de mercadorias a a custos relativamente acessíveis – o cen- de minorias étnicas em desvantagem, preços competitivos, visitar amigos e tro da maioria das grandes cidades da 135 Europa, do Japão e de poucas grandes principalmente em áreas de baixa densi- por freqüência de rádio digital; terminais cidades da América do Norte. dade, à noite ou durante o fim de semana. e computadores móveis de dados; equipamentos de localização de veículos; No entanto, os serviços de transporte Uma característica comum de sistemas de softwares de mapeamento e sistemas de público são inadequados para desempe- paratrânsito é sua capacidade, em dife- informações geográficas; cartões para nhar este papel na maioria das áreas rentes graus, de adaptar a rota e os armazenagem de dados e mídias de urbanizadas do mundo desenvolvido e em horários aos desejos de usuários individu- transferência; registro computadorizado desenvolvimento – mesmo incluindo-se a ais. No mundo desenvolvido, o uso do de pedidos; programação e entregas; e maior parte das áreas fora do centro termo “paratrânsito” está normalmente tecnologias via telefone ou Internet. dessas grandes áreas urbanas, onde o limitado a sistemas de resposta a deman- transporte público tem importante partici- das específicas, como táxis de uso com- Em geral, esta nova tecnologia possibilita pação na mobilidade pessoal. Em tais partilhado, sistemas de chamada por muitos avanços que podem melhorar os áreas, a atual qualidade dos serviços de viagem e ônibus contratados. Nos países serviços e diminuir os custos. As possibili- transporte público não é suficiente para em desenvolvimento, o termo é usado dades incluem comunicação automática oferecer uma boa alternativa de mobili- para qualquer serviço que opera fora de com os passageiros durante a reserva de dade para a população em geral, quanto rotas fixas convencionais e de horários viagens e um pouco antes de buscá-los, mais para os grupos socialmente excluí- fixos do sistema de transporte público. Os coordenação de transfers e o uso de infor- dos. Em alguns casos, pode ser financeira veículos usados variam desde os não mações sobre as condições do tráfego para e tecnologicamente viável expandir a motorizados, movidos à energia humana entregas ou programações em tempo real. cobertura e a qualidade do transporte ou animal, até microônibus motorizados. As melhorias nos veículos ajudarão o público convencional o suficiente para oferecer uma alternativa de mobilidade à a) Paratrânsito no mundo desempenho do paratrânsito. Os veículos população em geral, projetando estes desenvolvido usados atualmente incluem modelos sedan, vans, vans com rampas e equipamentos serviços para que sejam especialmente úteis para os grupos socialmente excluí- No final dos anos 1960 e começo da déca- elevatórios, microônibus e ônibus de chão dos. Mas o número de tais casos provavel- da de 1970, surgiu o interesse em para- rebaixado. O acessível táxi sedan foi o pio- mente será limitado. Na maioria das áreas trânsito, principalmente nos EUA. Naquela neiro em Londres e é uma das últimas urbanas, outras medidas serão necessárias. época, muitos sistemas convencionais de tendências em veículos de paratrânsito. O transporte público lutavam para lidar com o recente projeto de ônibus menores faz com Discutiremos duas medidas possíveis que impacto da “suburbanização” e acreditava- que a configuração interna seja mudada iriam primariamente beneficiar a popu- se que entregas e planejamentos de horários rapidamente e isso permite que o mesmo lação como um todo rumo à nossa meta computadorizados tornariam possíveis sis- veículo seja usado para carregar várias final. Mas há uma abordagem – paratrân- temas capazes de oferecer níveis de serviço cadeiras de rodas ou então pessoas sem sito – que deveria ser analisada com deta- de seis a oito passageiros por veículo-hora. problemas físicos até uma linha tronco, em lhes no tocante às oportunidades de mobi- Isso foi otimista demais, mas o paratrânsito operações de tráfego rural ou na entrega lidade para grupos socialmente excluídos. evoluiu para o meio pelo qual os sistemas de pacotes – tudo no curso de 24 horas. de transporte público poderiam atender a uma exigência legal de prover acesso para b) O dilema criado pelo crescimen- indivíduos incapacitados e idosos. Na to do paratrânsito no mundo em De modo geral, paratrânsito se refere a um Europa, muitos serviços de paratrânsito desenvolvimento serviço de transporte urbano de pas- desenvolvidos para complementar o trans- sageiros, geralmente composto por veículos porte público regular foram lançados por Nos últimos 25 anos, um crescimento operados em ruas e rodovias públicas em comunidades para propósitos sociais. explosivo do paratrânsito no mundo em 38 2. PARATRÂNSITO desenvolvimento oferece entre 20 e 50% tráfego misto. Em princípio, inclui todos os 136 meios de transporte de massa particulares e Telecomunicações e tecnologias de infor- dos serviços de transporte público em públicos no contínuo entre o automóvel mação avançaram o suficiente até agora cidades como Manilha, Jacarta, Cuala particular e o transporte convencional. para que o paratrânsito seja capaz de Lumpur e Bangkok. Nestas cidades, o para- Alguns serviços de paratrânsito estão restri- atender às suas expectativas iniciais. Várias trânsito complementa os sistemas de trans- tos a certos grupos de usuários como os tecnologias de informação relevantes porte público ao oferecer serviços mais idosos e os incapacitados. Normalmente, estão sendo usadas ou já estão plane- flexíveis e freqüentes, a custos relativamente estão disponíveis para o público em geral, jadas, incluindo a comunicação de dados baixos para pequenas comunidades em ruas estreitas. Por vezes, eles operam onde transporte público convencional provavel- dade e sua promoção pelo crescimento nenhum outro serviço está disponível, mas mente é uma prioridade maior. econômico farão com que estes indivíduos aumentem suas demandas por bens e também podem operar nas mesmas rotas de ônibus regulares, competindo com mais velocidade ou freqüência. Como resultado, em certas partes da América Latina e da África, sistemas de paratrânsito são vistos não como um suplemento ao transporte público convencional, e sim como uma C. Avaliação sumária Os habitantes dos países em desenvolvimento mais pobres precisam que suas oportunidades de mobilidade sejam consideravelmente melhoradas para que possam que- grande ameaça à viabilidade financeira do brar o ciclo de pobreza no qual estão pre- transporte público. sos. Grupos em desvantagem nos países serviços e isto deverá estimular uma demanda adicional sobre a atividade de transporte. Esta demanda adicional, por sua vez, poderia exacerbar a poluição, emissões de gases de efeito estufa, mortes e ferimentos graves decorrentes do transporte e congestionamentos. Mas esta possibilidade mais ricos – países que, em média, possuem não deve preocupar todos os que já se Uma razão para isso é que os serviços de altos níveis de mobilidade – também pre- beneficiam de boas oportunidades de paratrânsito são, em geral, pouco seguros cisam que melhores oportunidades de mobilidade e fazer com que limitem as e um dos maiores contribuintes de con- mobilidade lhes sejam oferecidas para terem oportunidades de mobilidade dos que gestionamentos. As inovações em tecnolo- uma vida mais completa na sociedade. hoje não as têm. Ao contrário, eles deveriam empenhar-se em disponibilizar as tec- gia da informação e telecomunicações mencionadas podem ajudar a melhorar Se as oportunidades de mobilidade forem nologias desenvolvidas para reduzir os cus- estas questões, assim como certos projetos melhoradas, aqueles indivíduos que hoje tos externos em suas próprias sociedades, inovadores para novos veículos. Mas uma possuem uma mobilidade restrita poderão de forma acessível financeiramente, para solução da questão mais profunda sobre beneficiar-se destas oportunidades e se aqueles que ainda carecem de mobilidade os papéis relativos do paratrânsito e do tornar mais móveis. Uma melhor mobili- em outras partes do mundo. 137 VIII. Preservar e aumentar as oportunidades de mobilidade para a população em geral dos países desenvolvidos e em desenvolvimento As oportunidades de mobilidade disponí- Durante as próximas décadas, uma meta ônibus” (incluindo paratrânsito) para se veis hoje para a população geral da maior primária dos governos deveria ser preser- aproveitar a flexibilidade inerente dos sis- parte dos países do mundo desenvolvido var esta importante opção de mobili- temas baseados em rodovias. Pode-se (e em muitos países do mundo em desen- dade. Londres, Paris, Tóquio, Berlim e também aproveitar oportunidades para volvimento) excedem em muito aquelas Nova Iorque são apenas algumas das incorporar novas tecnologias veiculares de qualquer período do passado. No en- cidades do mundo desenvolvido que não (incluindo sistemas de propulsão) e tanto, as mudanças nos padrões de vida poderiam existir sem o transporte públi- novas tecnologias de informação nestes urbana que foram apontadas anteriormen- co. E, como deixa claro o levantamento sistemas “similares aos ônibus”. te e que afetam adversamente as oportu- que patrocinamos em cidades do mundo nidades de mobilidade dos mais pobres, em desenvolvimento, os sistemas de dos idosos, dos deficientes e dos grupos transporte público são cada vez mais em desvantagem também ameaçam essenciais em muitas áreas urbanizadas. erodir as oportunidades de mobilidade de muitos cidadãos médios. Em particu- O PMS acredita que em muitas áreas lar, a capacidade dos sistemas de trans- urbanas dos países desenvolvidos e em portes públicos convencionais de exercer desenvolvimento existem importantes seu papel vital no fornecimento de mo- oportunidades de maior utilização de bilidade pessoal está sendo ameaçada. ônibus e de sistemas “similares aos Tabela 4.9 Viagens diárias por modo na região de Paris A. Quão adequadamente o transporte público pode atender às necessidades pessoais de transporte? O alcance do multimodalismo nas áreas urbanas com acesso a serviços de transporte público de alta qualidade Mesmo nas áreas urbanas, onde os indivíduos têm pronto acesso a transporte público de alta qualidade, este comumente é incapaz de preencher totalmente as necessidades de mobilidade pessoal. Uma pesquisa explorando as escolhas de transporte dos indivíduos que vivem em Paris e em sua vizinhança mostrou um grau surpreendentemente alto de multimodalismo – o uso pelos indivíduos de diferentes modos de transporte para diferentes propósitos de viagem em diferentes horários do dia e da semana. Fonte: Renault Slides, p. 2. 138 Nesta pesquisa, a região de Paris foi dividida transporte público convencional de nível em três “anéis” concêntricos – Paris Central suficientemente alto para atender a maioria (Arrondissements I – XX), o Petite Couronne das necessidades de mobilidade pessoal dos (os Departamentos dos Hauts de Seine, residentes urbanos típicos. Assim, a ver- Seine Saint Denis e Val de Marne) e o dadeira escolha não é entre se confiar total- restante da região da Ile de France. A Tabela mente no transporte público ou totalmente 4.9 mostra a variação na divisão de modali- num carro. O que se precisa é de um dades do transporte público dependendo de espectro mais largo de opções de mobili- onde, dentro desta região, a viagem come- dade. Já discutimos uma delas – paratrânsi- çou e terminou. As viagens dentro da to. Consideraremos agora uma outra opção Paris Central, ou entre a Paris Central e o atualmente disponível em situações limi- primeiro ou segundo anel, foram feitas pre- tadas, mas que pode ser significativamente dominantemente em transporte público. No melhorada e expandida – serviços de uso entanto, o transporte entre estes dois anéis compartilhado de veículos (isto é, compar- ou dentro deles foi predominantemente de tilhamento de carros). Finalmente, conside- carro. Além disso, o número total de via- raremos uma categoria das opções de gens diárias em cada categoria variou mobilidade que poderá existir no futuro – muito, com viagens não envolvendo um soluções de transporte inteiramente novas percurso para ou a partir da Paris Central incorporando várias novas tecnologias. Tabela 4.10 Escolha de modalidade por propósito de viagem – Paris (Paris Central e Primeiro Anel) feito primariamente de carro. Na Paris Central e no Petite Couronne, onde existe um nível extremamente alto de oferta de transporte público, a parcela do transporte público no total dos transportes motorizados é de aproximadamente 60%. Ainda B. Serviços de compartilhamento de veículos (uso compartilhado) apenas 14% daqueles consultados confiam exclusivamente no transporte público, 30% confiam exclusivamente em carros e mais da O “compartilhamento de veículos” é um serviço que fornece uma frota de veículos metade (53%) usam modalidades múltiplas disponíveis para usuários locais domésticos (Figura 4.17). Por volta de 75% das pessoas ou comerciais numa base de acordo com a usam carros exclusivamente para ir a centros necessidade. Embora as estruturas de paga- comerciais e mais de 50% usam exclusiva- mento variem, os usuários de veículos com- mente transporte público para ir e voltar do partilhados geralmente pagam pelo uso de trabalho ou da escola, viajar para fazer pe- um veículo com base no tempo de utiliza- quenos serviços ou para comprar em Paris ção e/ou na milhagem percorrida, com (Tabela 4.10). alguns provedores também cobrando uma Como já destacamos, em muitas áreas mensalidade adicional de sócio. Através de urbanas não parece tecnológica ou finan- suas tarifas de uso, os consumidores pagam ceiramente viável se fornecer um serviço de aos provedores de serviço pelos custos da compra ou do aluguel do veículo, com- Figura 4.17 Uso de modalidades de transporte pessoal em Paris (Paris Central e Primeiro Anel) bustível, manutenção do veículo e lavagem, estacionamento, registros, impostos, seguro e administração do serviço propriamente. Antes de se tornarem usuários ativos do serviço, os consumidores do compartilhamento de carros, ou “membros”, usualmente passam por um processo inicial de aprovação que pode incluir revisões dos registros de direção, apresentação de nor- 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% mas de crédito/cobrança, sessões de informação e distribuição de chaves, códigos, ou cartões inteligentes. Fonte: Renault Slides, p. 1. Fonte: Renault Slides, p. 4. 139 1. ORIGENS DO USO COMPARTILHA- 2. VANTAGENS POTENCIAIS DO ano. Mas como os custos de propriedade DO DE CARROS COMPARTILHAMENTO DE CARROS de veículos variam dramaticamente de SOB O PONTO DE VISTA DOS acordo com as regiões e os usuários (o USUÁRIOS limiar é usualmente por volta de As origens do compartilhamento de car- 10.000 km/ano), comparações exatas são ros remontam a 1948 e a uma cooperativa suíça. No final dos anos 1980, surgiram Os usuários do compartilhamento de car- difíceis. Os serviços de compartilhamento novos empreendimentos de comparti- ros gozam dos benefícios do automóvel de carros parecem servir melhor aos lhamento de carros (inicialmente na privado (incluindo flexibilidade e conforto) usuários que não necessitam de um veículo Europa). Durante a última década, sua e dos benefícios do transporte público – pessoal para movimentação diária. Muitos força parece ter crescido em muitas re- custos fixos baixos (ou nenhum), depreci- usuários vêem os serviços de uso comparti- giões, sendo que em algumas delas expo- ação ou responsabilidades pela lhado de veículos como um tipo de nencialmente (Shaheen, Schwartz e Wipyewski 2003). manutenção. Diferentemente das tradi- “seguro de mobilidade” – eles estão lá se Embora muitas organizações de compar- cionais locadoras de carros, os veículos de precisarem deles. Tipicamente, clientes de tilhamento de carro tenham começado uso compartilhado podem ser reservados uso pessoal tendem a ser altamente educa- (e terminado) num nível mais básico, os até mesmo por uma hora e algumas vezes dos e profissionalmente empregados. provedores de hoje se estendem de pro- menos, são estacionados nas vizinhanças Portanto, enquanto estes serviços têm o gramas experimentais de pesquisa e próximas aos usuários (ou em paradas de pequenas organizações sem fins lucrativos transporte) e não necessitam de qualquer a empreendimentos empresariais privados documentação em papel ou administração multicidades na Europa, no Japão, no além de uma reserva por Internet ou tele- Canadá, nos EUA e em qualquer outro lugar. As maiores organizações em atividade incluem a Mobility Car Sharing Switzerland e a StadtAuto Drive, na Europa, a CommunAuto, no Canadá, e a CityCar Share, a Flex Car e a ZipCar, nos EUA, cada uma oferecendo serviços em múltiplas cidades. A maioria (embora não todos) dos esquemas de compartilhamento de carros tem sido apoiada por contribuições iniciais ou permanentes de capital (público e fone.39 Os serviços de veículos de uso compartilhado distribuem os altos custos fixos de propriedade dos veículos entre múltiplos usuários, um benefício para usuários pessoais e comerciais. Freqüentemente oferecem diferentes tipos de veículos para atender as necessidades dade a grupos de menor renda, as evidências sugerem que permanecem as barreiras para sua maior adoção. Estas barreiras incluem o baixo conhecimento sobre o serviço, a disponibilidade local do veículo limitada, os processos de solicitação e habilitação e a realidade da necessidade usual de depósitos. Muitos levantamentos caracterizam o compartilhamento comercial de veículos como variáveis ou os desejos dos clientes, tais um fenômeno predominantemente interno como entrega ou retirada de mercadorias à área urbana. Isso pode ser explicado pelo ou transporte de qualquer número de pas- fato de que compartilhar ao invés de pos- sageiros ou clientes. suir um carro se torna economicamente atrativo para pessoas que não precisam de Com efeito, preferencialmente a ter aces- um carro todos os dias. Este é provavel- so a um veículo de sua propriedade, os mente o caso da área urbana interna, onde clientes de compartilhamento de carros muitas atividades podem ser facilmente podem ter acesso a uma frota maior de atingidas por outras modalidades de trans- veículos e podem escolher aqueles que porte que não o carro. Em áreas urbanas melhor atendam as necessidades de cada externas, as pessoas são mais freqüente- viagem em particular. A eficiência do uso mente dependentes do carro devido a ativi- (Boston, Washington DC, Nova York e do veículo destes serviços por usuários dades mais distantes e poucos modos de Chapel Hill). Planeja continuar se expan- domésticos e comerciais aumenta, pois transporte alternativos. Viagens a partir da dindo privado) na base de metas sociais ou ambientais. A Zipcar, fundada nos EUA em junho de 2002 sem recursos públicos, cresceu em pouco tempo numa base lucrativa para servir mais de 10.000 membros com 250 carros em várias cidades (Grimes 2004). Para se ter noção da suas respectivas distribuições de deman- periferia comumente cobrem distâncias escala do crescimento da Zipcar, em 1999, das em sua maior parte não se sobre- maiores. Uma vez que os custos de tais via- todas as organizações de compartilhamen- põem. E o uso comercial tende a se con- gens tendem a crescer rapidamente, o to de carros dos EUA possuíam por volta centrar durante o horário de trabalho, compartilhamento de carros parece mais de 1.600 membros e 115 veículos (Shaheen, em oposição às noites e aos fins de adequado para viagens curtas e médias Sperling e Wagner 1999). semana quando o uso pessoal é maior. ainda mais por causa da falta de estaciona- Fundada em 1987, a Mobility Car Sharing Switzerland, uma das 140 potencial de expandir o acesso à mobili- mento para carros particulares nas áreas maiores organizações mundiais de com- Os serviços de compartilhamento de carros urbanas internas. Para tirar partido disso, partilhamento de carros, hoje serve mais podem ser bastante efetivos em relação a alguns sistemas de compartilhamento de de 52.000 membros com aproximada- custos, particularmente como substituição carros oferecem estacionamento garantido mente 1.700 veículos (Car Clubs 2004). de veículos com uma certa rodagem a cada junto à possibilidade de se usar um carro. parte de um sistema de transporte integra- O uso compartilhado enfrenta desafios bem do, com serviços e bilhetes associados. diferentes nos países desenvolvidos e em Adicionalmente, este sistema pode reduzir desenvolvimento. Nos países desenvolvidos, a necessidade de uma infra-estrutura de o desafio é descobrir maneiras de recuperar estacionamento custosa ou atrasar seu a imagem de um “veículo compartilhado”. desenvolvimento. Pesquisa-dores nos EUA Para isso, o uso compartilhado deve e na Europa descobriram reduções sen- mostrar que pode ultrapassar as desvanta- síveis nas milhas viajadas por veículos de gens do carro particular e/ou precisa criar uso compartilhado, com a milhagem ofertas de transporte público onde as anual dos veículos diminuindo, na maioria opções existentes são inadequadas. Nos dos casos, entre 30 e 70%. países em desenvolvimento, os projetos piloto de uso compartilhado precisam ter 3. DESAFIOS OPERACIONAIS DO USO seu conceito demonstrado e precisam com- COMPARTILHADO DE CARROS provar sua viabilidade técnica e comercial. Existem vários desafios ao sucesso da operação de serviços de uso compartiPara viagens de mais de 40 km, o aluguel lhado e sua viabilidade a longo prazo de carros parece ser a opção mais econômi- permanece duvidosa, a despeito do forte ca. Projetos de compartilhamento de carros crescimento recente. Altos custos de que se desenvolvem em áreas urbanas seguro, dificuldades de se encontrar e externas usualmente têm um caráter mais manter proporções viáveis de mem- informal e cooperativo e freqüentemente se bros/veículos e custosos investimentos tornam uma alternativa à compra de um em novas tecnologias são três problemas segundo carro familiar. atuais. Aproximadamente 30% das frotas de uso compartilhado dos EUA consistem Da mesma forma que estes sistemas em veículos híbridos a gasolina e elétricos “públicos” distritais, os sistemas de com- e de veículos de combustível alternativo, partilhamento de carros podem ser incluindo veículos elétricos. Algumas ini- “fechados”. Tais sistemas oferecem ciativas recentes de uso compartilhado serviços em localidades onde um grupo de de carros têm sido complicadas por difi- pessoas tem necessidades de mobilidade culdades relacionadas ao uso de tais específicas como pontos de parada. Nesse veículos (Shaheen, Schwartz e Wipyewski 2003). sentido, os serviços de veículos de uso compartilhado atuam como complemento Assegurar a disponibilidade dos veículos das infra-estruturas de transportes exis- onde e quando eles são necessários é tentes, incluindo a propriedade de veículos outro desafio. Usualmente, um membro particulares (ou leasing), táxis e locadoras do uso compartilhado dirige o carro de de carros tradicionais e modalidades de volta ao local onde este foi retirado. Mas transporte público e não motorizado. com sistemas que permitem a retirada do veículo em um ponto e sua A despeito do recente forte crescimento, o uso compartilhado de carros representa uma fração muito pequena das milhas viajadas por veículos no mundo, não atingindo 1% em qualquer região. No entanto, isso poderá mudar se algumas das tecnologias descritas no Capítulo 3 (e imediatamente abaixo) puderem ser aplicadas a este conceito de transporte. C. Soluções de transporte inovadoras que incorporam diversas novas tecnologias Os próximos 50 anos podem presenciar o surgimento de soluções de transporte inteiramente novas. Estas ofereceriam uma modalidade de transporte inovadora ou fariam uso de uma nova combinação das modalidades existentes de transporte. Novas soluções de transporte serão possíveis quando a demanda por mobilidade em combinação com o apoio governamental, a disponibilidade da tecnologia requeri- Carros compartilhados também atuam devolução em outro, algum método para como um elo adicional na cadeia de trans- redistribuição dos veículos se torna os stakeholders tornarem tais soluções mais porte. Podem ser o elo inicial, permitindo necessário. O uso de “jockeys” humanos atrativas do que as existentes. que o usuário acesse o transporte público é uma opção, mas aumenta os custos pela porta da frente, ou o último elo para operacionais significativamente. Uma Mas estas soluções não aparecem de um descer rumo a seu destino. Sendo assim, o variedade de abordagens baseadas em dia para outro. Para estarem disponíveis posicionamento do uso compartilhado STI está sendo explorada para minimizar após 2030, o trabalho de desenvolvi- como complemento do transporte público a necessidade de reposicionamento dos mento deveria começar imediatamente. é importante. Em algumas cidades da veículos. Posteriormente, a relocação Numerosas questões devem ser resolvi- Suíça e Alemanha, o transporte público e automática por meios eletrônicos entre das antecipadamente, a aceitação públi- o compartilhamento de carros se tornaram estações pode ser possível. ca deve ser obtida e os projetos pilotos da e os benefícios econômicos para todos 141 devem ser organizados. Nesse meio tados, indicou que a maioria (mais de cidades ou o distrito comercial central. tempo, os stakeholders dos países desen- 80%) usaria um veículo totalmente Para os operadores do sistema, elas volvidos e em desenvolvimento provavel- automático, no mínimo porque isso aju- incluem reduzir os custos do sistema, per- mente estabelecerão os requisitos para daria a solucionar os atuais problemas de mitir o uso da infra-estrutura existente e áreas como custo, infra-estrutura, confia- estacionamento (Janse et. al. 2003). Já existem melhora a flexibilidade do sistema. bilidade, aplicação geográfica e logística. tecnologias que permitem que os sistemas STC rodem sob circunstâncias controladas Implementar um STC também iria requerer Os chamados “Sistemas de Transporte – por exemplo, no Aeroporto Internacional um exame das necessidades de transporte Cibernéticos” (STC) compostos de veícu- de Schiphol e em Capelle aan den Ijssel, dos usuários numa área geográfica particu- los rodoviários com capacidade de nos Países Baixos. Melhorias serão necessá- lar e projetar um sistema de forma que este direção totalmente automatizada são rias para desenvolver o desempenho forneça um serviço adicional de transporte destes sistemas a velocidades mais altas útil, não simplesmente uma “condução”. e difundir o uso de componentes mais Isso poderia implicar no encorajamensto baratos. dos usuários de sistemas de transporte a uma nova possibilidade. Uma frota destes veículos formaria um sistema de transporte para passageiros ou mercadorias numa rede de rodovias com capacidade de operação sob demanda e de porta a porta. Os carros estariam sob controle de um sistema central de gerenciamento para atender a demandas particulares num ambiente particular. O tamanho do veículo poderia variar de um a 20 assentos, dependendo da aplicação. Este conceito é similar em vários aspectos a outro conceito conhecido como PRT (transporte pessoal rápido). Mas os STC oferecem a vantagem de serem capazes de rodar na evoluir de um foco unimodal (que consiste, A despeito de seu potencial, os STC pre- em geral, no uso de um veículo particular) cisam ultrapassar vários obstáculos antes para um foco multimodal (usando trans- de sua introdução em larga escala. O porte público para algumas viagens e maior deles diz respeito a questões legais e deixando o veículo particular em casa) e de responsabilidades, e de aceitação pública. Por exemplo, a Convenção de Viena e as leis de tráfego de todos os países exigem que o motorista esteja sempre no controle de seu veículo enquanto este estiver em operação em vias públicas. infra-estrutura normal de rodovias. Isso os torna mais baratos e mais flexíveis. As Em veículos equipados com sensores de tecnologias existentes permitem que uma operação automática, os controles de “grade” relativamente barata seja posi- detecção de obstáculos e de direção do cionada sobre a área geográfica a ser veículo assumem a direção no lugar de servida. Um software então determina as um ser humano – observando, analisan- rotas e gerencia a frota de veículos. do/decidindo e executando tais decisões. Hoje não existem padrões para determi- O potencial de sistemas como o STC é nar as condições sob as quais esta “substi- grande. De fato, este é um serviço de tuição” do homem poderá ser permitida, transporte público de alta qualidade que embora vários projetos europeus incluin- oferece serviço sob demanda e de porta do os CyberCars, CyberMove e Response a porta. Alem disso, o componente mais estejam encaminhando o problema. caro do transporte público, o motorista, foi substituído. Se os veículos mudam para serem limpos e silenciosos, a implementação de tais sistemas em áreas urbanas reduzirá simultaneamente os poluentes, o barulho e o congestionamento, melhorando a condição de vida na cidade. O STC também oferece soluções reais de mobilidade àqueles que não podem dirigir ou não possuem seus próprios veículos. Os idosos e deficientes, requerer que o STC seja integrado aos sistemas de transporte existentes. Para que isso aconteça, o STC deverá preencher todas as necessidades dos usuários finais e operadores do sistema. Um trabalho recente entre os projetos CyberCars e CyberMove ofereceu um vislumbre de qual a melhor solução individual de tráfego). Em tal evolução, os clientes nem sempre prefeririam usar um carro, mas poderiam usar um passe de transporte para suas necessidades básicas de mobilidade ou pagar antecipadamente e obter um desconto no acesso ao transporte. As aplicações de segunda geração podem concentrar-se em nichos específicos, geralmente urbanos, onde os sistemas consolidariam sua aceitação pública por atenderem de forma útil a uma necessidade específica, como o estacionamento. D. Novos sistemas de transporte como alternativas para as pessoas ajustarem seus padrões de vida às restrições tecnológicas impostas pelos sistemas de transporte público convencionais quais poderiam ser estas necessidades. Para os usuários do sistema, elas incluem O padrão das áreas urbanas influencia o “resolver” problemas de estacionamento volume total de demanda de transporte e Uma pesquisa na Internet no projeto e fornecer conexões entre os estaciona- a combinação de serviços de transporte CyberMove, com mais de 3.000 entrevis- mentos e os centros históricos das usados para satisfazer essa demanda. O re- em particular, se tornariam móveis. 142 A aceitação pública quase certamente irá para o intermodal (decidindo a cada dia verso é verdadeiro também – características emissões de gases de efeito estufa. E até dades de transporte, argumenta-se que do sistema de transporte influenciam o pa- mesmo se o número de mortes e feri- seu uso poderia ser estimulado. drão de áreas urbanas. Na verdade, argu- mentos graves puder ser consideravel- menta-se que as principais forças que mol- mente reduzido em todo o mundo. • Alterar a acessibilidade regional de modo a estimular novos sistemas de daram as áreas urbanizadas do mundo no O raciocínio por trás de tais pontos de mobilidade. Estocolmo é louvada vista pode ser resumido da seguinte como uma área urbana na qual a área “Tão importante quanto inovações ante- maneira: a mobilidade não pode se construída está agrupada em volta de riores o foram, o carro teve um efeito tornar sustentável a não ser que seja sistemas de transporte público, ofere- mais dramático sobre a cidade do que acessível, inclusive em termos finan- cendo acesso a modalidades alternati- qualquer outro invento antes dele. ceiros. Mas a acessibilidade, inclusive a vas de transporte para a maioria da Diferentemente das inovações anteriores financeira, só será conseguida se o trans- população. Isso permitiu que a cidade em transporte, o carro radicalmente porte público estiver facilmente disponí- explorasse uma alternativa à loco- reconfigurou as cidades por eliminar vel. E o transporte público só estará moção de carro competitiva e de alta quase totalmente a necessidade de cami- disponível se as pessoas estiverem nhar. Pessoas que tomavam bondes em geograficamente dispersas. Uma vez que século XXI foram o automóvel e o caminhão: 1900 ainda tinham que caminhar do ponto do bonde até suas casas ou empregos. Desse modo, as empresas e as residências precisavam se agrupar em torno de estações de transporte público. As compras rotineiras e outras atividades não relacionadas ao trabalho eram geralmente feitas a pé antes do advento do automóvel. Assim, lojas, escolas e restaurantes precisavam estar a curta distância dos consumidores; O transporte público tornou possível aos consumidores morar é o automóvel que permite e estimula a dispersão geográfica, a qual, por sua vez, mina a viabilidade do transporte público, a dependência do automóvel deveria ser severamente evitada. Mas como esta restrição poderia ser atingida ainda é fonte de desacordo entre planejadores urbanos. Um grupo acredita que a resposta reside em estabelecer políticas “apropriadas” para o uso do solo, argumentando que tais políticas irão: longe de seus trabalhos, mas eles ainda precisavam vivem em áreas de alta densi- qualidade, preservando as oportunidades de mobilidade para todos os seus habitantes (TNO 2004). Outros argumentam que há poucas evidências de que políticas de uso do solo foram alguma vez eficazes em reduzir a dependência das comunidades do automóvel. Ao contrário, eles acreditam que o controle direto sobre a propriedade e o uso de veículos é necessário. Segundo esta perspectiva: • Políticas de uso do solo e de transporte serão bem-sucedidas somente no • Reduzir a necessidade de viagens ao tocante aos critérios essenciais para o dade. Os carros mudaram tudo isso e, aumentar a densidade da área construí- como resultado, mudaram irreversivel- da. Quanto mais próximas as pessoas e mente a maneira de viver em cidades.” as atividades estiverem, menores as dis- da locomoção de carro) se tornarem a (Glaeser and Kahn 2003) tâncias de viagem e menores as exter- locomoção de carro menos atraente nalidades negativas do transporte. (ou seja, mais cara ou lenta). transporte urbano sustentável (redução das distâncias de viagem e da parcela Os autores do parágrafo acima conside- Argumenta-se também que menores ram o impacto dos carros na vida urbana distâncias de viagens ajudam a pro- positivo de modo geral. Outros discor- mover novos sistemas de transporte. nhadas de medidas para tornar a loco- dam. Muitos planejadores urbanos e de Combinar áreas de moradia, compras e moção de carro mais cara ou lenta transporte argumentam que, para a trabalho pode também produzir distân- terão pouco efeito, já que as pessoas mobilidade urbana se tornar sustentável, cias menores de locomoção. continuarão a fazer longas viagens deve-se evitar que o papel desempenhado hoje por veículos motorizados em • Políticas de uso do solo não acompa- para maximizar as oportunidades den- • Alterar o projeto das localidades onde tro dos custos de viagem e orçamentos áreas urbanas do mundo em desenvolvi- as pessoas moram. Condomínios são para o tempo de viagem. A longo mento seja o de dependência do geralmente projetados para quem pos- prazo, estas políticas podem se tornar automóvel. Eles mantêm-se firmes em sui carros e, durante sua incorporação, importantes por criarem os pré-requisi- seu argumento mesmo se as emissões pouca atenção é dedicada a modali- tos para uma forma de vida urbana convencionais decorrentes do transporte dades não motorizadas (caminhar e menos dependente do carro. puderem ser eliminadas e não mais cons- locomover-se de bicicleta), ao trans- tituírem uma preocupação à saúde, porte público ou a novos sistemas de mesmo se o transporte puder perder seu mobilidade. Oferecendo rotas mais cur- transporte público mais atrativo em papel de uma das principais fontes de tas e mais atrativas para estas modali- geral não levaram a grandes reduções • Políticas de transporte para tornar o 143 nas locomoções de carro, não cionalmente baixos níveis de motorização aumentar o escopo de opções de mobili- atraíram grandes desenvolvimentos (Willoughby 2000). dade disponíveis aos habitantes das áreas em estações de transporte público e propriedade de veículos, os quais per- urbanas, vivam elas no “coração” destas contribuíram para uma adicional tencem principalmente aos muito ricos. O áreas ou em outras áreas com baixa den- “suburbanização” da população sistema de transporte público é muito bom sidade que estão tipicamente em volta (TRANSLAND 1999). e barato. Mas para a maioria das pessoas é das primeiras. Ao tornar estas tecnolo- a única alternativa. gias disponíveis e ao precificar os Singapura tem uma baixa serviços de transporte adequadamente, a Até onde temos conhecimento, nenhum mobilidade pode se tornar sustentável. experimento controlado foi (ou provavel- Singapura é um exemplo extremo do uso mente poderia ser) conduzido para determi- de uma ampla gama de políticas públicas nar a validade de qualquer um dos pontos para moldar os padrões de vida e o traba- de vista. O mais próximo de um “experi- lho de uma grande área urbanizada às mento natural” são os esforços de restrições tecnológicas e econômicas de Tanto regiões desenvolvidas como as em Singapura nas últimas décadas para desen- seus atuais sistemas de transporte público. desenvolvimento que já possuem altos corajar a propriedade e o uso do automóvel. Mas certamente ela representa a conclusão níveis de oportunidades de mobilidade, lógica do argumento de que a mobilidade assim como as regiões que estão buscan- Em uma análise da experiência de acessível, inclusive financeiramente, é do realizar melhorias nas oportunidades Singapura, Willoughby concluiu que nem incompatível como uma sociedade que se substanciais de mobilidade, deveriam ser as políticas de uso da terra, nem as políti- torna altamente dependente do automóvel. cas de transporte foram adequadas em si O PMS acredita que, ao invés de do automóvel. Singapura precisava tanto restringir drasticamente a propriedade e de políticas de uso do solo severas, que o uso do automóvel, a sociedade deveria levassem a maioria dos cidadãos a viver em estimular o uso de abordagens como as agrupamentos de prédios altos, quanto de descritas anteriormente nesta seção para propriedade e o uso de veículos automotores particulares para atingir seus excep- encorajadas a experimentar novas opções de mobilidade. Estas opções para desencorajar a propriedade e o uso impostos draconianos cobrados sobre a E. Avaliação sumária podem ser tão simples como um rodízio de carros ou sistema de carona, ou um serviço de ônibus expresso; ou tão complexas como os veículos que se autodirigem e as rodovias automatizadas. Até onde possível, novas opções de mobilidade deveriam ser projetadas para aumentar a flexibilidade dos sistemas de transporte ao invés de ser adaptados para atenderem aos padrões de sistemas de transporte desejados pelas pessoas. 144 IX. Os papéis dos “alicerces”, das “alavancas” e das “estrutura institucionais” para atingir as sete metas Ao descrevermos abordagens para atin- los que enviam informações às autori- transporte à base de hidrogênio ao invés gir as metas anteriores, nos aludimos aos dades regulatórias sobre a emissão de de petróleo, e trens que levitam magnetica- papéis desempenhados por diferentes poluentes convencionais em níveis exces- mente, levando rapidamente as pessoas de stakeholders – empresas privadas, gover- sivos. Queremos agora nos concentrar uma cidade a outra com relativamente nos em diferentes níveis, indivíduos e mais nestes elementos vitais em nossa pouca energia. Temos a visão de tecnolo- outros. Ao nos aproximarmos do final busca pela mobilidade sustentável. gias de telecomunicação que nos dizem deste capítulo, devemos considerar como evitar congestionamentos e que nos como as ações destes diferentes stake- Por que se preocupar com estruturas cobram automaticamente por todos os holders podem reforçar ou dificultar atin- institucionais? “Instituições são as regras custos externos de nossas escolhas de gir estas metas. Para tal, precisamos for- do jogo em uma sociedade ou, em uma mobilidade pessoal. malizar uma parte da terminologia que definição mais formal, restrições criadas já introduzimos. pelo homem que moldam as interações Por mais intrigantes que estas possibili- humanas... Como conseqüência, elas dades tecnológicas possam parecer, a No capítulo anterior, definimos um estruturam incentivos nas trocas história nos sugere que algo muito mais “alicerce” como algo que tem o poten- humanas, sejam estas políticas, sociais ou mundano irá, na verdade, determinar o cial de gerar mudanças, se utilizado de econômicas” (North 1990). Em nosso ritmo e a direção das mudanças nos sis- forma eficaz. Os alicerces sobre os quais contexto específico, as instituições esta- temas de mobilidade. Este algo é a capaci- nos concentramos foram as tecnologias belecem o contexto pelo qual um país dade institucional. Instituições políticas veiculares e os combustíveis. No entanto, ou uma região determina quais metas de determinam quais modalidades de trans- os alicerces não agem sozinhos, eles mobilidade sustentável deseja atingir e a porte são favorecidas com seus subsídios, necessitam do uso de “alavancas”, as prioridade dada a cada meta; quais ala- regulamentações e proteção da concorrên- quais são instrumentos de políticas, vancas são aceitáveis e serão usadas para cia. Instituições políticas e sociais exercem como precificação, acordos voluntários, atingir qualquer uma dessas metas em enorme influência sobre se certa regulamentações, subsídios, impostos e particular; quão intensamente estas ala- infra-estrutura pode ser construída ou não, incentivos, ou então elas constituem vancas podem ser usadas; e quais as e qual o custo de sua construção. mudanças nas atitudes e nos valores de restrições que podem ser impostos sobre Instituições econômicas – especialmente as uma sociedade. Neste capítulo, descreve- seu uso. Resumindo, elas são as principais grandes corporações – podem tanto liderar mos algumas destas alavancas e o que determinantes de como (e se) a mobili- o caminho ao encorajar as mudanças ou conhecemos de sua eficácia. O terceiro dade sustentável é atingida arrastar seus pés e tornar as mudanças (North 1990). elemento, “estruturas institucionais”, difíceis e onerosas (Mobility 2001 pp. 7-9). compreende instituições econômicas, No Relatório Mobility 2001, a importân- sociais e políticas que caracterizam uma cia das estruturas institucionais foi assim Estruturas institucionais influenciam as sociedade em particular. Estas foram enfatizada: escolas de mobilidade sob diversas for- brevemente mencionadas – ex., nossas mas. Elas podem afetar o tempo e o discussões sobre a disposição de dife- “A maioria das discussões sobre os desafios esforço necessário para se atingir consen- rentes sociedades em aceitar políticas de tornar a mobilidade sustentável tendem so sobre a necessidade ou não de abor- “intrusivas” de reforço da segurança no a focar o papel esperado da tecnologia. dar uma questão em particular e de tráfego, como câmeras de velocidade e Imaginamos ‘supercarros’ energeticamente como abordá-la. Elas afetam a capaci- equipamentos de auto-relato nos veícu- eficientes, sistemas de combustíveis de dade de um governo de formular abor- 145 dagens de longo prazo e a credibilidade que cooperem com outras sociedades pre atrasa a inovação. Na França, por de seus compromissos. Elas afetam os de modos tais que eram inaceitáveis exemplo, a legislação atual declara o instrumentos que os governos usam para anteriormente. Algumas podem causar motorista responsável por seu veículo. E reforçar as leis e normas da sociedade, impactos significativos (ou anular) como seria se um veículo se autodi- assim como as formas em que estes padrões tradicionais de compra e uso de rigisse? Então, se tivéssemos veículos instrumentos são usados. Elas afetam certos produtos. automatizados dirigindo em um ainda se um governo pode ou irá deter- ambiente urbano, o acesso aos carros minar certas políticas e abordagens cujo Não há garantia alguma de que diferen- tradicionais teria de ser limitado. Isso sucesso depende da ação conjunta e de tes sociedades serão capazes (ou estarão começa a invadir a liberdade de acordos com outros governos. Elas deter- dispostas) a passar por estas mudanças. movimento, uma idéia muito cara à minam a aceitação social de certos pro- Quando uma sociedade encontra um mentalidade latina em particular” dutos e serviços e de certos padrões de desnível entre uma meta que foi declara- (Renault R & D Review 2002). uso de produtos, assim como a gama de da importante e sua disposição (ou diferentes padrões toleráveis. Elas afetam capacidade) de empregar as alavancas Diferenças em suas estruturas institu- a divisão de responsabilidades e custos que podem ser necessárias para atingir cionais provavelmente levarão diferentes dentro da sociedade para atingir-se um essa meta, ela se defronta com um dile- nações, grupos de nações ou subuni- resultado desejado. Elas estimulam ou ma. Ela pode declarar certas políticas ou dades de nações a abordar as metas que desestimulam a colaboração voluntária esforços para mudar comportamentos apresentamos anteriormente sob entre uma gama de stakeholders. “impensáveis” e assim, efetivamente, diferentes formas. Em alguns casos, elas abandonar uma meta. Ela pode arriscar a podem perceber diferentes prioridades Atingir a mobilidade sustentável quase adoção de certas políticas que são de em atingir uma meta individual, certamente exigirá mudanças nos sis- “difícil” aceitação para vários grupos e enquanto em outros elas podem empre- temas de transporte pessoal e de mer- tentar encorajar (ou forçar) sua aceitação gar diferentes alavancas para manipular cadorias e em como a sociedade irá posterior. Ela pode tentar mudar a um determinado alicerce. usá-los. A dimensão e o tipo de aceitabilidade de certas políticas antes de mudanças que podem ser necessárias sua adoção através de publicidade e No Capítulo 1, descrevemos como estas podem exercer grande pressão sobre as envolvimento amplo dos stakeholders, ou diferenças podem ser acomodadas. instituições políticas, culturais e ao concordar em compensar aqueles que Identificamos metas tais como a redução econômicas. Por exemplo: algumas de alguma forma – real ou percebida – do ruído decorrente do transporte e a abordagens podem exigir que os gover- “sairão perdendo”. diminuição dos congestionamentos nos imponham políticas que haviam, 146 como as que oferecem espaço para previamente, sido avaliadas como Um movimento em direção à mobilidade diferenças consideráveis, tanto em “impraticáveis” ou “politicamente ina- sustentável envolverá prestar muita relação ao peso dado a determinada ceitáveis”. Algumas podem exigir que os atenção às estruturas institucionais e ao meta quanto às alavancas que podem governos assumam compromissos de potencial inerente a qualquer tecnologia ser aplicadas. O controle das emissões longo prazo (mais de 50 anos), enquan- ou combustível veicular ou à teórica dos GEEs foi identificado como uma to outras podem exigir que o público “eficácia” ou “ineficácia” de alguma ala- meta que permite a menor latitude, pois aceite níveis de intrusão governamental vanca ou ação em particular. nenhum país sozinho pode controlar as sobre o uso de veículos que no passado Consideremos, por exemplo, o desafio emissões globais de GEEs, mas qualquer foram considerados inaceitáveis. dos veículos completamente automatiza- ação tomada em um nível que não seja Algumas podem exigir que os governos dos em desenvolvimento. Em uma entre- global não permitirá a estabilização dos incorram em tipos e níveis de despesas – vista publicada em julho de 2002, níveis de GEEs necessários para mini- por exemplo, em infra-estrutura – que Michael Parent, chefe de pesquisa da mizar as mudanças climáticas globais. haviam anteriormente sido considerados INRIA (Instituto Nacional Francês de Países e regiões diferem legitimamente pouco convencionais ou objetáveis. Pesquisa em Informática e Automação) sobre quais alavancas desejam usar para Outras podem exigir que segmentos da caracterizou este desafio da seguinte controlar essas emissões e como aplicar população sejam favorecidos em detri- forma: essas alavancas. Entretanto, neste caso, mento de outros, e que certas “As barreiras não são tecnológicas, mas algum tipo de compromisso global e sociedades aceitem restrições sobre dire- sim regulatórias. O ambiente regu- internacional provavelmente será itos legais de longa vigência. Ou ainda latório, por sua própria natureza, sem- estabelecido. X. Como empresas como as nossas podem contribuir para atingir as metas identificadas A maioria das questões descritas neste Combustível’) e em projetos de demons- se o farão ou não, os governos devem Relatório não representa qualquer novi- tração com veículos movidos a considerar outros fatores além da mera dade para nossas empresas. Como este hidrogênio e célula combustível tanto eficácia do controle das emissões. Relatório indica, temos feito um consi- em países desenvolvidos quanto em derável progresso ao oferecer os com- países em desenvolvimento. bustíveis e veículos para controlar as Nosso papel em atingir a meta de reduzir os GEEs decorrentes do transporte a níveis emissões convencionais decorrentes do No entanto, a extrema importância do sustentáveis é também limitado. Pode- transporte e estamos próximos de elimi- transporte para nossas sociedades e o fato mos e continuaremos a melhorar as nar estas preocupações do mundo de que considerações sobre o transporte tecnologias atuais e a desenvolver e desenvolvido. Todas as empresas partici- têm impacto sobre quase tudo o que é implementar novas tecnologias. No pantes estão envolvidas em programas feito no setor significa que nossa capaci- entanto, sob uma perspectiva empresari- para solucionar questões de segurança dade de agir de forma indepentente em al, não podemos justificar a produção de rodoviária, seja através de sistemas de muitas áreas é extremamente limitada. veículos que os consumidores não com- segurança ativos em veículos ou através prarão ou produzir e distribuir com- de programas de treinamento de No tocante ao controle das emissões bustíveis para os quais há pouca ou nen- motoristas em escolas e outros locais, convencionais, podemos continuar a huma demanda. Se os custos dos veícu- assim como através de uma variedade de melhorar a eficiência e a confiabilidade los e combustíveis necessários para programas educacionais abrangendo do equipamento de controle de emissões reduzir as emissões de GEEs produzidas motoristas, passageiros e pedestres. em nossos veículos. Podemos estimular por veículos rodoviários são maiores do esforços agressivos para detectar os que nossos consumidores estão dispostos O retrato dos gases de efeito estufa se “grandes emissores” e exigir que esses a pagar, e se a sociedade exige que uma torna mais complexo à medida que ten- veículos sejam consertados ou removidos ação seja tomada, então cabe aos gover- tamos reduzir não somente as emissões das ruas. E no mundo em desenvolvi- nos fornecer os incentivos necessários, de nossas próprias operações, mas tam- mento, podemos lutar para reduzir o tanto a nós quanto a nossos consumi- bém assumimos a tarefa muito mais custo dos equipamentos de controle de dores, de modo a permitir que estes desafiadora decorrente do uso de nos- emissões e melhorar a “robustez” da veículos e combustíveis estejam disponí- sos produtos – combustíveis e veículos – manutenção e da qualidade dos com- veis. Podemos nos engajar em um por nossos clientes. O objetivo funda- bustíveis aos quais estes equipamentos se debate público, encorajar os governos a mental é reduzir o consumo de com- aplicam. Podemos também trabalhar adotar tais incentivos e ajudá-los a com- bustível de nossos produtos enquanto para reduzir os custos agregados e para preender quais serão eficazes ou não. No trabalhamos para desenvolver os com- aumentar a disponibilidade dos com- tocante a tecnologias e combustíveis avan- bustíveis do futuro e veículos que resul- bustíveis necessários. No entanto, não çados, podemos trabalhar junto com os tarão em emissões de carbono neutro. podemos forçar nossos clientes a se governos para aumentar o entendimento Esta é uma área onde pode haver muita empenharem na boa manutenção de do que é tecnicamente viável para reduzir concorrência e colaboração, mas nossas seus veículos ou a “aposentar” seus as incertezas tecnológicas e econômicas empresas estão envolvidas, por exem- veículos mais antigos e mais poluidores, descritas em detalhes anteriormente. 0plo, em iniciativas conjuntas como o substituindo-os por veículos novos e California Fuel Cell Partnership (‘Parceria menos poluidores. Isso é algo que só os No tocante à segurança nas vias, da Califórnia para a Célula governos podem fazer. E ao determinar podemos estimular a adoção de tecnolo- 147 gias veiculares apropriadas, eficazes e alavancagem limitada está em diminuir seguras e podemos encorajar um reforço a divisa de oportunidades de mobili- mais agressivo de leis de trânsito, con- dade discutida anteriormente. Podemos duzir programas para educar os motoris- apoiar os esforços do Banco Mundial e tas sobre como conduzir seus veículos de outras instituições ao oferecer acesso com mais segurança e ensinar os rodoviário básico em regiões rurais dos usuários vulneráveis a como se proteger. países mais pobres. Mas não podemos Podemos apoiar a construção de desempenhar qualquer papel na infra-estrutura destinada a separar os construção dessas estradas. Podemos veículos motorizados dos usuários vul- apoiar esforços e encorajar novas neráveis e encorajar as velocidades apro- abordagens para oferecer melhores priadas para estradas e outras locali- oportunidades de mobilidade em dades. Mas, como observamos antes, as áreas urbanizadas (ex., rodízio de conseqüências para a segurança de carros, paratrânsito e novos sistemas como nossos produtos são usados por de mobilidade). Mas temos uma nossos clientes estão ainda menos influência muito limitada sobre as sujeitas ao nosso controle do que as sociedades no tocante a se irão ou condições das emissões. não adotar tais abordagens ou se estas O exemplo mais extremo de onde temos serão bem-sucedidas se adotadas. XI. O caminho à frente Ao colaborar com este projeto, nossas maior consulta tanto dentro de cada uma final do Capítulo 2). Disponibilizamos empresas forneceram seu entendimento das empresas quanto com outras empre- também o modelo de planilha e a docu- das áreas chave a serem abordadas no sas. Precisamos, assim, debater tanto inter- mentação explanatória que foi desenvolvi- caminho em direção a padrões mais sus- namente quanto com uma ampla gama da em conjunto com a AIE. Isso pode se tentáveis de mobilidade, uma compreen- de stakeholders de modo a determinar tornar a base de trabalhos futuros. são melhor de onde as soluções se onde e como dirigir nosso foco de ativi- encontram e do que precisa ser feito dade. Este é nosso compromisso, pois Como os CEOs das empresas expressam para que estas sejam implantadas. reconhecemos tanto a necessidade impe- no Prefácio, uma melhor mobilidade é rativa quanto a oportunidade que este crítica ao progresso, mas pode trazer con- Um importante propósito deste Relatório é Relatório marca. As metas determinam sigo um conjunto de impactos que ser um catalisador para o progresso da claramente o foco de atenção e reco- devem ser resolvidos. Muito já foi con- agenda de mobilidade sustentável junto às nhecem uma variedade de escalas de quistado e estamos agora desenvolvendo empresas. E ao revisar nossas conclusões tempo e escolhas a serem consideradas. um entendimento mais claro de como melhor resolver as questões que levam à de seu trabalho antes da publicação deste 148 Relatório, as empresas analisaram o que Além deste Relatório em si, estamos mobilidade sustentável. De nossa parte, poderia ser feito para acelerar o progresso disponibilizando o trabalho e o material a esperamos que, para os leitores, o trabal- rumo às metas além das diversas e exten- partir dos quais o Relatório foi elaborado, ho deste Projeto seja uma importante sas atividades nas quais já estavam enga- incluindo os cenários que usamos para contribuição e esperamos trabalhar com jadas. Há evidentes oportunidades, mas ajudar a guiar nossos esforços (estes outros no caminho em direção ao pro- elas devem ser o resultado sensato de uma cenários foram brevemente descritos no gresso, que, a nosso ver, é possível. 1 Diferentes analistas definem os “grande emissores” de maneiras diferen- tes. O USEPA os define como veículos que emitem um nível de emissões 11 Análises brasileiras também atribuem benefícios à geração de empregos e ao câmbio estrangeiro derivados do programa de combustíveis a álcool. pelo menos duas vezes (para alguns poluentes, três vezes) os padrões para os quais foram certificados. No trabalho do professor Stedman e de seus 12 “Carros populares” eram carros com motor 1.0. colegas, eles são definidos como os veículos entre os “10% mais sujos”. 13 2 Uma boa descrição destes desafios na área metropolitana da Cidade do México é fornecida por Molina & Molina. apesar de isso ter sido limitado a alguns anos somente. 14 3 Fabricantes tinham a permissão de “retornar” ou “usar posteriormente” créditos que ganhavam por exceder os padrões em um ano em particular, O número de milhas e/ou período de tempo para o qual um fabricante Nos últimos 15 anos, clientes americanos têm preferido utilizar todas as certifica que os veículos que produz atenderão aos padrões para os quais potenciais melhorias anuais de eficiência disponíveis em termos de melhor foram certificados. Veículos fora de conformidade durante este período desempenho e outras características do veículo, ao invés de sob a forma devem ser consertados às custas do fabricante. de maior economia de combustível. 15 Segundo o The Wall Street Journal, dois anos atrás, um “bravo magnata” Lembre-se de que o veículo referência é um compacto sedan europeu no centro da China deu marteladas em seu novo SLK230 Mercedes-Benz 2002 movido por um motor a gasolina de ignição de centelha e injeção porque o automóvel vivia quebrando. A culpa, segundo a Mercedes- direta. O preço deste veículo no varejo é de US$ 18.600. 4 Benz, era da gasolina de baixa qualidade. (The Wall Street Journal, 16 December 11, 2003) Os autores do estudo pressupõem que, onde uma infra-estrutura de combustíveis específica se faz necessária, seria preciso equipar 20% dos 5 Falamos aqui de poluição em geral. Alguns indivíduos podem, por diver- postos de abastecimento da UE-25 (aproximadamente 20.000 postos) sas razões, escolher incorrer em custos adicionais. Mas salvo se isto for ver- com a capacidade de fornecer estes combustíveis alternativos, exigindo dade para a grande maioria da população, e salvo se esta disposição de para tal diferentes equipamentos para a adequada disponibilidade de com- mantiver indefinidamente, emissões de GEEs decorrentes do transporte bustível ao equivalente aproximadamente a 5% da frota da UE-25. não serão significativamente reduzidas. 6 Talvez o mais completo compêndio de estudos que tenha investigado estas questões possa ser encontrado no website da On-Line TDM 17 Lembre-se da Figura 3.3, onde as emissões de GEE WTW de veículos usando hidrogênio produzido por estas tecnologias são quase as mesmas que as atuais para veículos MCI movidos a gasolina ou diesel. Encyclopedia (http://www.vtpi.org/tdm/). 18 7 assim, exclui a cana-de-açúcar, cultura utilizada no Brasil para produzir Segundo a revista Automotive News, de outono de 2003, “em média, um Esta Figura é de um estudo britânico que identifica recursos europeus e, etanol. carro com um motor a diesel de tamanho mediano custa aproximadamente US$ 1.087 mais do que um carro com motor a gasolina”. “O debate sobre motores a diesel ainda está acalorado na Europa.” Automotive News, September 8, 2003, page 20DI. 8 19 O crescimento na atividade de transporte explica mais de 100% do aumento projetado. As melhorias projetadas para a eficiência energética em veículos de transporte anulam uma parcela do impacto do crescimento da atividade de transporte. Mudanças nas características das emissões de GEEs Na França, o propósito inicial do imposto menor sobre o diesel era ajudar a compensar custos mais altos incorridos por aqueles que tinham que via- dos combustíveis de transporte têm pouco ou quase nenhum impacto devido à sua limitada penetração de mercado, no caso de referência. jar muito mais do que o motorista típico a caminho do trabalho. Naquela época, a maioria dos veículos leves a diesel pertenciam e eram operados por pequenos empresários. 20 Isso não é inconsistente com os resultados de que abordagens de preços podem produzir um alívio significativo a curto prazo dos congestionamentos. Congestionamentos não são, geralmente, manifestações de excesso de 9 “Bright future of diesel engines forecast”, citando o estudo “Global demanda, mas sim de muita demanda de uso de um elemento em particu- Markets for Diesel Powered Vehicles to 2015”. (Acesso em 15 de setembro lar da infra-estrutura, em um ponto específico no tempo. Abordagens de de 2003, no website “just-aut.com”.) precificação podem ser utilizadas para alterar quando a demanda ocorre ou para promover a capacidade efetiva de um elemento da infra-estrutura sem 10 Em meados dos anos 1980, aproximadamente 75% dos novos veículos significativamente afetar o volume total da atividade de transporte. produzidos no Brasil eram movidos a álcool. Esta taxa caiu rapidamente quando os subsídios foram eliminados, mas, mesmo assim, a partir de 21 Transporte não-rodoviário (aéreo, aquaviário e ferroviário) é responsável 1998, algo em torno de 4,5 milhões de carros brasileiros eram movidos a pelo um quarto restante das emissões de CO2 decorrentes do transporte. álcool e outros 16,75 milhões utilizavam uma mistura de 24% de álcool e No caso de referência do PMS, projetamos que esta parcela aumentará em 76% gasolina (Ribiero & Younes-Ibrahim, 2002). aproximadamente 30% até 2050. 149 22 Uma grande proporção dos caminhões pesados e ônibus já é movida a 32 Em um relatório de 1996, a International Motorcycle Manufacturers diesel. Pressupomos que a tecnologia híbrida não teria um uso significativo Association (IMMA) estimou que, na Europa, 35% das motocicletas e 65% em caminhões pesados e caminhões e ônibus que percorrem longas dis- das motonetas tinham sido equipadas com substitutos ilegais de escapamen- tâncias devido às suas características de operação. Como discutido no tos ou seus próprios donos tinham feito substituições ilegais dos escapamen- Capítulo 3, ônibus de transporte público já estão sendo usados como prin- tos. A maioria destes veículos ainda estava em operação, produzindo 10-15 cipais candidatos à hibridização, mas não foram incluídos em nossos cálcu- dB (A) acima do limite de ruído permitido. O relatório estimou que os sis- los. Suas emissões fazem relativamente pouca diferença nos resultados. temas ilegais resultavam em um aumento de sete vezes o ruído emitido por veículos motorizados de duas rodas na Europa (IMMA 1996). 23 Fizemos as mesmas pressuposições sobre os tipos de veículos aos quais células combustíveis poderiam ser aplicadas que fizemos aos híbridos. 33 Há vasta literatura sobre quanto da capacidade aumentada será anulada e quão cedo isto ocorrerá. Cervero analisa os resultados destes estudos anteri24 A economia de combustível relativa à tecnologia MCI à gasolina foi esti- ores e conduz um novo estudo usando técnicas analíticas diferentes. Ele mada em 36% para híbridos a diesel, 30% para híbridos à gasolina e 45% descobre evidências de demanda induzida significativa, mas a dimensão para veículos movidos à célula combustível. desta demanda é menor do que em diversos estudos anteriores, os quais freqüentemente descobriram que, dentro de dois ou três anos, a demanda 25 O estudo declara a seguir: “Em relação ao custo do veículo para os três tipos induzida tinha “esgotado” toda a capacidade adicional (Cervero, 2001). de veículos considerados na análise – hidrogênio, convencional à gasolina e veículos híbridos elétricos e à gasolina (do original em inglês GHEVs) –, o comitê 34 Apesar de Londres parecer apoiar a cobrança, ainda há preocupações pressupôs que os veículos que têm um desempenho equivalente terão custos sobre seu impacto nos diferentes tipos de empresas. Empresas varejistas e iguais. Esta equivalência de custos é uma meta para a indústria automobilística. do setor de lazer dentro e imediatamente em volta da zona de cobrança Nesta pressuposição, no entanto, o comitê não concluiu sua própria análise ou relataram uma redução de 2% nas vendas no primeiro semestre de 2003, projeção sobre se esta meta será atingida ou não. A vantagem de se pressupor com lojas de alimentos, doces, tabacarias e bancas de jornais relatando a equivalência entre os três tipos de veículos é que ela permite comparações reduções de 6%. Quando perguntadas sobre as influências que poderiam restritas aos sistemas de fornecimento de combustíveis, sem qualquer julgamen- levar a estas reduções, as empresas varejistas relataram mais freqüente- to sobre o sucesso ou insucesso dos desenvolvimentos sendo conduzidos. No mente fatores econômicos e de turismo, apesar de a tarifa anticongestiona- entanto, o custo total de uma economia de veículos a hidrogênio comparada à mento ter sido relatada como aproximadamente um quinto das influências. de um híbrido ou convencional ainda não foi determinada.” Em contraste, somente um a cada 15 setores de serviços citou a tarifa anticongestionamento como um fator de influência. Para todas as empresas 26 Sabe-se que, devido à inicial eficiência energética superior do diesel, pesquisadas, a parcela foi de 12% (Transport for London 2004, pp. 21-22). qualquer benefício adicional da hibridização de um diesel provavelmente será menor do que o benefício extra da hibridização de um motor à gasolina. 35 Um exemplo da terceira situação é onde uma ponte não pode mais suportar, de modo seguro, o peso do tráfego sobre ela, mesmo que o volume de tráfego não tenha mudado consideravelmente. 27 Isso implica que biocombustíveis avançados são gasolina da fermentação lignocelulósica do açúcar ou diesel a partir da gaseificação/síntese Fischer 36 Estes dois usos juntos totalizam 31 MMT de diesel. Em 2000, o uso total Tropsch da biomassa. de gasolina na China foi de 38 MMT. 28 37 Isso pressupõe, como temos feito, que emissões de todos os GEEs são mensuradas em termos de seus equivalentes apropriados de CO2. Os autores distinguem estas indústrias das indústrias em países como Filipinas, que instalam carrocerias construídas localmente sobre o chassis de veículos produzidos no exterior. A indústria de CRVs e as indústrias 29 Os peritos externos em segurança consultados pelo PMS foram Dr. Matthijs Koornstra, do SWOV Institute for Road Safety Research, Países similares menores nos outros países mencionados constróem o veículo completo, usando componentes e tecnologia local. Baixos; Dr. Leonard Evans, presidente da Science Serving Society, USA; e o 38 professor Dinesh Mohan, do Transportation Research and Injury Prevention Lave & Mathias e Shimazaki & Rahman. 30 39 No ano mais recente para os quais dados americanos estão disponíveis (2003), em torno de 30% dos ocupantes de veículos estavam usando seus cintos de segurança. No entanto, aproximadamente 60% das pessoas envolvidas em acidentes fatais não estavam. (The Wall Street Journal, April 29, 2004) 31 Estes são os países do “Grupo dos 8” na Tabela 3.x – Reino Unido, Suécia, Países Baixos e Noruega. 150 A discussão a seguir sobre Paratrânsito foi obtida em sua maior parte de Program, Indian Institute of Technology. Alguns sistemas de uso compartilhado de carros não exigem reservas e oferecem acesso direto aos veículos. Apêndice Forças motrizes da demanda de locomoção em cidades do mundo em desenvolvimento Uma síntese de oito casos de estudo, elaborada por Ralph Gakenheimer e Christopher Zegras Introdução aos casos Os casos de estudo de cidades de países em desenvolvimento fornecem retratos – com um grau de resolução relativamente bom – da extensão dos desafios do transporte urbano que áreas urbanas em desenvolvimento enfrentam. Inicialmente, o objetivo destes casos era constituírem arquétipos – exemplos individuais de condições mais gerais. Selecionamos os casos de países em desenvolvimento a partir da disponibilidade de dados, de nossos contatos e nossos próprios conhecimentos e experiências locais. Procuramos apresentar casos que cubram as principais regiões continentais do mundo e incorporem culturas, economias e formas de governo amplamente diferentes. Incluímos algumas megacidades, onde as magnitudes de fenômenos e problemas já tenham atraído a atenção do mundo, assim como algumas cidades não tão famosas. Os casos selecionados mostram, de modo geral, que as cidades do mundo em desenvolvimento são mais diferentes umas das outras do que as cidades do hemisfério norte. Coletamos dados sobre detalhes de transporte que retratam a quantidade, a qualidade e o estilo de mobilidade, aliados a variáveis de antecedentes que representam fenômenos determinantes da demanda por locomoção em todas as 1 Gostaríamos de agradecer aos seguintes co-autores dos casos que esferas metropolitanas. Isso é um esforço audacioso que este Panorama traça: Mark Emmert (Belo Horizonte e Dacar); Anjali forma uma plataforma para um trabalho posterior, possibili- Mahrendra (Mubai e Chenai); Apiwat Ratanawaraha (Cuala Lumpur); tado, por exemplo, pela Internet e por tecnologias que com- e Jinhau Zhao (Xangai e Wuhan) – todos do Departamento de partilham dados e amplificam as possibilidades de compi- Estudos e Planejamento Urbano do Massachusetts Institute of lação das informações (com a devida cautela, porém, no Technology. Contamos também com a assessoria da municipalidade tocante à potencial disseminação de informações não pre- de Wuhan, da Malaysia University of Science e do Technology, Program on Transport and Logistics (‘Programa de Transporte e Logística’). Nosso trabalho teve o patrocínio financeiro do Projeto de cisas). Na sua forma atual, as informações e os dados coletados vêm de fontes não comumente inter-relacionadas sis- Mobilidade Sustentável do Conselho Empresarial Mundial para o tematicamente e que ainda não consideram a coleta de Desenvolvimento Sustentável. dados uma obrigação séria. Estes casos deixam numerosos problemas a serem resolvidos e lacunas a serem preenchi- 2 Os leitores perceberão que os casos não incluíram as “economias das, assim como contradições internas a serem resolvidas. em transição” – aqueles países, essencialmente da Europa Central e Apesar disso, sentimos que os casos, mesmo com todos os Oriental (embora a China seja geralmente considerada como uma economia em transição), que geralmente não são considerados pela divisão simplificada do mundo entre países “desenvolvidos” e “em desenvolvimento”. 156 obstáculos que se interpuseram, fornecem uma visão das demandas por locomoção, sempre turbulentas e em rápida mudança. Os casos exemplificam uma grande variação na magnitude de problemas de mobilidade são categoricamente similares para características selecionadas (vide Tabela A.1). Por exemplo, todas as cidades, e que os problemas se diferenciam apenas em entre algumas cidades, o PIB per capita e o da população total sua magnitude. Mas esta pressuposição carece de cautela, já têm uma diferença fatorial de dez vezes (Cuala Lumpur e que as diferenças podem estar localizadas em variáveis similares, Chenai; Cidade do México e Dacar), a taxa de crescimento po- mas serem de tal magnitude que alteram a natureza qualitativa pulacional tem uma diferença fatorial de oito vezes (Xangai e do problema. Ao considerarmos uma cidade onde 70% das via- Dacar), e a participação do transporte público na mobilidade de gens são feitas em transporte público, um número típico da 3,5 vezes (Xangai e Belo Horizonte). Algumas cidades têm uma América Latina, comparada a uma cidade onde viagens no trân- grande faixa da população com menos de 15 anos de idade sito constituem menos de 10%, diversos aspectos sujeitos a (Dacar, com 43%), enquanto outras têm um perfil de idade interpretação têm de ser ajustados. Claramente, o transporte similar aos de nações industrializadas (Xangai). Duas das público tem um papel mais importante em uma cidade de um cidades asiáticas apresentam os dois extremos possíveis na taxa país em desenvolvimento do que em um país desenvolvido. de veículos motorizados particulares: Wuhan, com aproximada- Mas isso é apenas o começo da análise. A política de transporte mente cinco automóveis para cada 1.000 habitantes e Cuala público nos países em desenvolvimento é muito diferente. O Lumpur, com 3.000/1.000. alcance de tecnologias úteis, o significado do uso descentralizado e as questões envolvendo os níveis de tarifa também são Mesmo entre estas amplas diferenças há diferenças ainda diferentes. Assim como o são as relações entre outras modali- maiores entre estas cidades e as cidades desenvolvidas, e por dades – incluindo carros e veículos não motorizados. E assim isso estamos inclinados a pressupor que a acessibilidade e os por diante. Notas. 1. Belo Horizonte: Exceto para população e densidade, os números referem-se apenas à municipalidade de Belo Horizonte, variação da densidade: 4 é o fator comum para toda a área metropolitana, 63 é relativo à municipalidade. 2. Chenai: População, taxa de viagem e modalidade compartilhada referem-se à área metropolitana, o PIB per capita para o estado de Tamil Nadu foi de US$ 480,00 em 2000, os números para Chenai são uma estimativa baseada nos números para o estado; variação da densidade: 59 é o fator médio para toda a área metropolitana, 288 é relativo à Cidade de Chenai; a distribuição por idade é relativa ao estado de Tamil Nadu; a parcela de cada modalidade de transporte público inclui auto-“rickshaws” (5%) 3. Dacar: o PIB per capita é relativo ao país, dados sobre Dacar estavam indisponíveis. 4. Cuala Lumpur: o PIB per capita e a distribuição por idade são relativos à cidade de Cuala Lupur; variação de densidade: 10 é o fator comum para toda a área metropolitana, 58 é relativo à cidade de Cuala Lumpur; a taxa de motorização refere-se a toda a área metropolitana, a parcela de modalidade para viagens não motorizadas estava indisponível. 5. Cidade do México: variação da densidade: 50 é relativo a desenvolvimentos nas periferias, 120 é o fator comum para a área metropolitana; a taxa de viagens de 1994 não inclui viagens feitas a pé, 1,4 é uma estimativa positiva, pressupondo que 15% de todas as viagens na cidade são feitas a pé; veículos de 2 rodas para cada 1.000 habitantes é relativo somente ao Distrito Federal, dados confiáveis sobre a Cidade do México estavam indisponíveis. 6. Mumbai: PIB per capita baseado em estimativas do Banco Mundial de que 15% do PIB da Índia é produzido em Mumbai; variação da densidade: 120 é o fator comum para toda a área metropolitana, 460 é para a cidade-ilha, a taxa de motorização (veículos para cada 1.000 habitantes) é relativa á cidade de Mmumbai, a taxa pode elevar-se se áreas urbanas menos densas forem incluídas, porém, dados indisponíveis. 7. Xangai: variação de população: 13 milhões é a estimativa “oficial”, 17 milhões inclui a população “flutuante”; variação da densidade: 14 é a densidade média em novos bairros, 460 é a densidade média na área central, a tarifa do metrô é cobrada pela distância a ser percorrida. 8. Wuhan: os números relativos à população variam entre 4 milhões na Cidade de Wuhan e mais de 8,5 milhões para toda a área metropolitana (a maior parte da qual ainda é rural; essa variação de população explica a ampla variação de densidades). 157 Mesmo sendo verdade, no sentido mais simples, que as cidades maioria não trabalha. Quais serão os números de viagens pessoais dos países em desenvolvimento enfrentam os mesmos proble- nas cidades destes países daqui a dez anos? mas de acessibilidade e mobilidade que as cidades dos países desenvolvidos (congestionamento, infra-estrutura inadequada, DENSIDADES capacidade de fluxo insuficiente e alto custo do transporte), as cidades dos países em desenvolvimento apresentam diferenças Na maioria dos casos, cidades em desenvolvimento são mais den- que, em última instância, interferem nas soluções potenciais. sas (nas populações residenciais e em outras mensurações) do que Exemplos críticos dessas diferenças incluem níveis de salários, nos países desenvolvidos. Apesar de ser difícil estimar com algum mudanças rápidas e variações nas densidades urbanas. grau de precisão a densidade, os índices das cidades em desenvolvimento mostram números máximos e médios em ordens de POBREZA magnitude superiores às cidades desenvolvidas. Na Cidade do México, por exemplo, as estimativas de densidade geral da área Os países em desenvolvimento, por definição, são mais pobres metropolitana – cobrindo em torno de 1.500 km2 – estão em um do que seus pares industriais, o que significa que muitos habi- nível superior ao de Manhattan (Nova Iorque), a área urbana mais tantes não podem pagar por transporte adequado. A dis- densa dos Estados Unidos. As áreas centrais de Xangai têm densi- tribuição de renda complica ainda mais esta realidade, tipica- dades demográficas cinco vezes maiores do que Manhattan. Tais mente dividindo as cidades em dois grupos: aqueles que podem densidades têm duas importantes implicações. facilmente pagar por transporte de alta qualidade – e cujos carros congestionam as ruas – e aqueles, tipicamente um grande Primeira, altas densidades viabilizam um grande volume de grupo, cujas necessidades de transporte precisam ser atendidas transporte público, apesar de tornar a locomoção individual a um orçamento muito baixo. Esta realidade se contrasta com mais difícil. Segunda, historicamente, altas densidades em locais as cidades do hemisfério norte, onde a mobilidade pode, em de renda mais alta e de crescente motorização (ex., Xangai), grande medida, ser considerada algo como um mercado único. acabam explodindo em uma descentralização com uma força Para a maior parte do mundo em desenvolvimento, uma me- quase incontrolável. lhor acessibilidade virá sob a forma de locomoção em um transporte público ao invés de a pé. Alguns fatores comuns e interligados que impulsionam a demanda por transporte em cidades em desenvolvimento são o cresci- MUDANÇAS RÁPIDAS mento da população e da renda, a disponibilidade de veículos próprios de duas rodas, mudanças sociais e a descentralização A maioria das cidades em desenvolvimento passa por rápidas urbana. Obstáculos que as cidades comumente enfrentam para mudanças. Na China, por exemplo, o solo urbano somente atender à demanda incluem pobreza, congestionamento, recentemente adquiriu um valor precificado, introduzindo desempenho insatisfatório do transporte e diferenças anterior- mudanças revolucionárias nos padrões de incorporação e nas mente mencionadas entre as cidades desenvolvidas e em desen- decisões sobre localização de empresas e residências. No volvimento. Entre eles, escolhemos cinco questões críticas para o México, as mudanças na situação política e a descentralização desenvolvimento da mobilidade nas cidades. São elas: de autoridade em marcha introduzem desafios administrativos inoportunos e a competição política se manifesta, por exemplo, nos serviços de ônibus, que estão proibidos de cruzar as fron- 1. Motorização. Existe um “teto” para a motorização de cidades com crescente renda pessoal? teiras estaduais. Em Dacar, a taxa de crescimento da população é superior a 3% – a mesma, por exemplo, de cidades do Oriente Médio. Isso significa que a população irá dobrar nos 2. Veículos motorizados de duas rodas. Que papel desempenham estes veículos no processo de motorização? próximos 20 anos, introduzindo pressões nos sistemas de transporte, mas também oferecendo a possibilidade, em princípio, 3. Transporte público. Quais são os problemas e soluções rela- de melhor adaptação do transporte ao futuro crescimento. E, cionados ao desempenho insatisfatório do transporte na certamente, a rápida motorização (acompanhada de um maioria das cidades em desenvolvimento? bem-vindo aumento de renda) cria um ambiente especial, pois sistemas urbanos dependentes não podem manter-se à margem 4. Desenvolvimento de áreas urbanas e descentralização. Como desse ritmo de mudanças, mesmo adotando-se as medidas mais a crescente demanda por locomoção interage com os desen- draconianas até agora testadas em cidades do mundo em desen- volvimentos em áreas específicas das cidades? volvimento. Muitas destas mudanças podem refletir exigências futuras que dificilmente são previstas hoje. Por exemplo, na China, a maioria das mulheres trabalha, enquanto na Índia, a 158 5. Instituições. Podem as instituições responder de modo eficaz a estas condições incrivelmente dinâmicas? 1. Motorização Existe um “teto” para a motorização (veículos per capita) nas cidades do mundo em desenvolvimento? Poderão as restrições sobre recursos ou o acúmulo de externalidades restringir a motorização? Nos casos aqui estudados e em outros dados, existem poucas indicações de que cidades com baixa motorização hoje persigam uma tendência de motorização mais baixa no futuro. Vários fatores entram em cena… Dados comparativos internacionais mostram uma forte relação, virtualmente linear, entre renda e motorização. Esta relação existe no nível de um país ou uma cidade, mas em uma cidade, torna-se evidente o papel desempenhado por fatores locais chave. Devemos lembrar que a propriedade pessoal de um automóvel versus a renda pessoal segue uma pronunciada curva em “S” (curva logística, conforme demonstrado na Figura A.1). Obviamente, existe um limiar de renda para a propriedade de um veículo; a taxa de propriedade em relação à renda pouco aumenta até atingir este limiar, quando então uma acentuada queda ocorre. Com um posterior aumento de renda, a taxa de propriedade particular diminui – a situação que a maior parte por exemplo, Gakenheimer, 1999). Sendo assim, considerando-se disparidades inexistentes, constantes ou até exacerbadas na distribuição de renda ou na estagnação econômica geral, todas as cidades dos países em desenvolvimento estão longe de um ponto teórico de saturação da motorização, conforme sugerido pela curva em “S”. A maioria dos casos das cidades que estudamos ofereceram outros vislumbres de fenômenos em nível local que influenciam as taxas de motorização. Por exemplo, políticas industriais e comerciais locais desempenham um importante papel em cada um dos casos: no Brasil e na Malásia, a promoção da indústria automobilística por parte do governo estimulou a propriedade de veículos automotores, o que se evidenciou particularmente nos altos níveis de propriedade em Cuala Lumpur. Em Dacar, a liberação do comércio e da importação de carros usados aumentou os níveis de propriedade de veículos, um fenômeno observado em algumas partes da América Latina (Peru), da Europa Central e do Leste Europeu. A taxa de motorização de Xangai é inferior ao esperado do relativamente alto nível de renda da cidade, uma função, em parte, das historicamente altas taxas de propriedade de veículos. A política industrial do governo chinês, focando a indústria de veículos automotores, pode brevemente mudar essa realidade. do mundo desenvolvido hoje enfrenta (a despeito de as previsões de onde este nivelamento ocorre serem notoriamente consideradas prematuras). Outras políticas locais, não inicialmente voltadas para a propriedade de veículos per se, também desempenham seus papéis. Por exemplo, na Cidade do México, o famoso “Hoy No Circula” uma restrição ao uso de certos veículos (baseada nos números das placas dos carros) em dias com alto índice de poluição, criou Figura A.1 Curva Estilizada da Propriedade de Automóveis o perverso impacto de promover a compra de veículos de segunda mão entre muitas famílias – aumentando a taxa de motorização. O governo recentemente introduziu uma adaptação a esse rodízio de automóveis para incentivar a compra de veículos “mais limpos”, uma abordagem também adotada em Santiago (Chile), que também tem uma política restritiva semelhante. Cidades como a Cidade do México e Santiago, com graves problemas de poluição e medidas relativamente severas para lidar com eles, mostram que há poucas indicações para que uma crescente motorização se reverta por conta das externalidades causadas pelo crescente número de veículos. Na verdade, pode ser argumentado que a crescente motorização e seus impactos resultantes, na verdade, induzem a mais motorização. Por exemplo, a motorização certamente promove a descentralização espacial, que, por sua vez, causa mais motorização. Apesar de a motorização exacerbar o congestionamento, o congestiona- Na maior parte do mundo em desenvolvimento, a vasta maioria mento pode então gerar um incentivo perverso à propriedade e da população encontra-se ainda em níveis de renda bem abaixo ao uso de automóveis. Como o aumento do congestionamento da porção ascendente da curva em “S”. Mesmo em localidades sobrecarrega as principais artérias de tráfego e torna ônibus e com alto PIB per capita (mensurado em médias diretas), os outros transportes de superfície mais lentos, há uma crescente níveis de motorização podem ser bem inferiores aos previstos, vantagem em usar um carro, porque ele facilita a substituição devido a uma distribuição altamente distorcida da renda (vide, de rotas ou de destinos para evitar o trânsito. 159 Como resultado, há uma menor preocupação com as emis- taxas de motorização aos mesmos níveis de cidades com ren- sões de gases de efeito estufa, conversão do solo para usos das muito superiores. Na verdade, segundo os dados, a urbanos, dependência de petróleo importado, preferência Cidade do México tem um PIB per capita dez vezes superior por certas estruturas urbanas ou custos de infra-estrutura ao de Chenai, mas uma taxa de motorização de carros e que seriam exacerbados por uma maior motorização, e, veículos de duas rodas inferior à de Chenai (vide Figura A.2). então, os controles teriam que ser impostos externamente. Veículos de duas rodas são equalizadores da mobilidade. Qual país ou cidade no mundo em desenvolvimento estará disposto, no entanto, a impor tais controles, seja forçando A inclusão dos veículos de duas rodas certamente altera a a curva em “S” para cima ou estabilizando-a? Alguma percepção do fenômeno da motorização. Incluindo os veícu- cidade em desenvolvimento estará disposta a liderar um los de duas rodas na curva em “S” estilizada da motorização, movimento por um “teto artificial”, para tornar-se a próxi- vemos, talvez sem surpresa, que duas curvas existem na ver- ma Singapura do mundo? dade – uma para os veículos de duas rodas e outra para os carros. O caso de Chenai (Figura A.3) exemplifica isso. Na 2. O papel dos veículos de duas rodas na motorização Índia, veículos de duas rodas podem ser adquiridos por meros US$ 200. À medida que a renda aumenta, a curva dos veículos de duas rodas cruza um nível de renda de uma porção bem maior da população. Podemos então dizer que os veícu- Análises da motorização têm, historicamente, se concentrado los de duas rodas aceleram o processo de motorização. em automóveis, mas veículos motorizados de duas rodas (motocicletas e lambretas) não podem ser ignorados no Se analisadas detalhadamente, estas duas curvas não estão tocante aos padrões de motorização do mundo em desen- claramente separadas. Como sugere o gráfico de Chenai, elas volvimento. A Ásia representa mais de 75% da frota mundial se sobrepõem. Veículos de duas rodas superfaturados às vezes de veículos de duas rodas e, deste percentual, China repre- podem custar mais do que carros subfaturados, e a escolha senta em torno de 50% e a Índia, 20%. Nas cidades de entre um ou outro pode depender de diferentes fatores que nossos casos de estudo, os veículos de duas rodas constituem não o preço, como função social, idade ou sexo do motorista. 80% das taxais totais de motorização em Chenai, Xangai e Permanece, então, a seguinte pergunta: por que veículos Wuhan; 50% em Mumbai e 40% em Cuala Lumpur. Na motorizados de duas rodas prevalecem em algumas regiões América Latina, os veículos de duas rodas são menos popu- do mundo, mas são virtualmente insignificantes em outras, lares, representando menos de 10% da taxa de motorização mesmo naquelas que têm basicamente os mesmos níveis de em Belo Horizonte e na Cidade do México (vide Figura A.2). renda? Uma resposta mais completa requer uma análise mais Há muitos casos onde a adição de veículos de duas e quatro detalhada, mas, à primeira vista, a resposta parece ser: veícu- rodas nas cidades tipicamente de “duas rodas” traria suas los de duas rodas predominam em regiões onde as bicicletas Figura A.2 Taxas de motorização incluindo e excluindo veículos motorizados de duas rodas, comparadas ao PIB per capita 500 400 300 200 100 0 160 Automóveis + Veículos de 2 Rodas Automóveis predominavam anteriormente. Em outras palavras, veículos de tiva de que tais veículos atrapalham o trânsito, ocupam muito duas rodas quase que diretamente substituíram as bicicletas. espaço nas vias e diluem o mercado de transporte público (se Nas regiões onde as bicicletas apareciam em números consi- este argumento soar estranho para leitores ocidentais, deve- deráveis antes ou durante o início do movimento de motor- mos nos lembrar que, no final do século XIX, nas cidades dos ização, e tinham seu lugar “reservado” nas ruas de tráfego EUA, as bicicletas representavam a principal ameaça à popu- intenso, este lugar foi prontamente ocupado por veículos laridade dos então novos bondes). motorizados de duas rodas. É interessante notar que, à medida que se tornam mais Veículos motorizados de duas rodas requerem menos esforço numerosos, os veículos motorizados de duas rodas se trans- físico do que bicicletas, reduzem tempos de viagem e podem formam num problema evidente. Ao usar seu ágil perfil para ser mais facilmente manobrados no tráfego motorizado de ziguezaguear, eles incomodam os motoristas dos carros, o alta velocidade. Veículos motorizados de duas rodas oferecem serviço de ônibus e os guardas de trânsito. Se a faixa prior- muito mais vantagens do que as bicicletas, as quais ficam à itária for dividida entre carros e bicicletas, os veículos moto- mercê dos perigos impostos por seus “primos” mais pesados rizados de duas rodas manterão esse padrão de direção, pois e rápidos. não se encaixam em nenhuma das duas categorias. Alguns governos, então, decidiram tomar certas medidas para Esta dinâmica é extremamente evidente na área metropoli- restringir o uso de veículos motorizados de duas (e três) tana de Taipei, por exemplo. Ironicamente, em uma cidade rodas, seja como uma forma de transporte público (ex., os onde milhões de bicicletas são produzidas e exportadas para auto-“rickshaws”) ou como veículos particulares. O governo todo o mundo, elas são raramente vistas nas ruas. A faixa pri- de Beijing restringiu o número de registros de habilitação, oritária das vias está sempre abarrotada de veículos automo- limitou sua entrada em jurisdições onde não estão registrados tores em alta velocidade, e isso se estende às faixas laterais e diminuiu suas áreas de estacionamento, entre outras medi- reservadas para veículos de duas rodas. O resultado é que os das. Isso é um incentivo para os usuários desses veículos poucos ciclistas que restam são forçados para cima na adquirirem um carro, caso possam arcar com a compra. “pirâmide de mobilidade” pelos veículos de duas rodas, pois bicicletas se tornaram inviáveis no trânsito. Esta transição será Toda esta discussão sugere uma certa melhoria na “pirâmide de extrema importância na China, onde as bicicletas prevale- da mobilidade” – um pequeno salto da categoria de duas cem sobre todos os outros veículos (em Xangai, há 1,8 bici- rodas sem motor para a categoria de duas rodas motorizada. cletas por família em todos os níveis de renda). Na verdade, Um salto semelhante leva um veículo motorizado de duas em algumas cidades asiáticas, algumas medidas – explícitas rodas para um de quatro rodas. Segundo esta pirâmide da ou não – foram tomadas para desencorajar o uso de bicicletas mobilidade, os veículos motorizados de duas rodas são um ou de veículos de três rodas não motorizados, com a justifica- impedimento rumo à propriedade de automóveis. A concomi- Figura A.3 Relação entre a renda e a propriedade de veículos em Chenai, 1993 161 tante descentralização e redução da densidade demográfica operação e condições físicas em deterioração. Como resultado, o das cidades, em particular na Ásia, contribui para a transição, transporte público atende a parcelas de modalidade cada vez à medida que um espaço urbano adicional for aberto para menores e opera em um contexto de congestionamento, veículos facilitar a agilidade de manobra do automóvel e que as dis- superlotados e altas taxas de ferimentos pessoais. Nossos casos de tâncias de viagem aumentem. estudo cobriram toda a gama de problemas de transporte público e mostram alguns vislumbres de esperança. Mesmo não constituindo uma evidência abalizada, o quadro observado para os veículos de duas rodas em nossos casos de Quais são os obstáculos? No nível mais básico, naturalmente, o estudo sugere algumas respostas para várias perguntas cruciais: problema é a pobreza. As pessoas não têm condições de pagar uma tarifa que sustente um bom serviço. Por exemplo, o estudo • Os veículos de duas rodas aumentam a mobilidade nas regiões onde são usados? Resposta: Sim, extremamente. Halcrow-Fox/TRRL (hoje TRL; Allport et al. 1990) sobre o metrô no final da década de 1980 concluiu que enquanto nove dos metrôs de cidades em desenvolvimento faliam, a maioria deles poderia • Os veículos de duas rodas aceleram o crescimento geral da motorização? Resposta: Certamente. cobrar uma tarifa de aproximadamente um dólar americano, mais do dobro da tarifa da maioria dos sistemas de transporte ferroviário em operação no mundo em desenvolvimento de hoje, • Os veículos de duas rodas constituem um estágio intermediário quase 15 anos depois (vide Tabela A.1). Mesmo nos sistemas de para a propriedade de automóveis? Resposta: Acreditamos que transporte público ferroviário nas cidades em desenvolvimento, sim, se considerado um ponto em uma seqüência de adoção muitos operados pelo setor privado, as tarifas são freqüentemente de modalidades, em parte por pressões do tráfego. baixas demais para poderem razoavelmente sustentar os níveis de serviço, e as concessionárias essencialmente canibalizam seu capi- Há, obviamente, alguns argumentos contrários a essas expecta- tal com práticas de manutenção insatisfatórias. Qualquer melhoria tivas. Por exemplo: no sistema enfrenta o desafio de forçar os grupos de renda mais baixa a financiar as modernizações via aumento de tarifas. • Há vantagens permanentes no uso de bicicletas, que esperamos que se mantenham, especialmente para aqueles cuja A participação do transporte público na locomoção diária tem renda torna as bicicletas a forma de mobilidade mais viável. uma ampla variação entre os casos de estudos. Belo Horizonte, Elas até hoje prevalecem nas regiões onde veículos de duas Cidade do México e Mumbai têm a maior parcela de transporte rodas predominam. público na locomoção pessoal de todas as cidades, em níveis de 65-70%. Xangai, Wuhan e Cuala Lumpur têm as menores parce- • Há também vantagens permanentes no uso de veículos las, as duas primeiras devido à grande dependência de modali- motorizados de duas rodas, devido a seu preço e sua agili- dades não motorizadas e a última devido à competição com as dade de manobra. Sendo assim, seu papel deve ser mantido modalidades motorizadas particulares. Tanto Dacar quanto em um sistema multimodal. Chenai apresentam parcelas divididas homogeneamente entre o transporte público e o transporte não-motorizado. • Os países com regiões onde veículos de duas rodas predominam ainda não tiveram que lidar com o automóvel como Na maioria das cidades, a maior parte dos fornecedores de trans- fonte de congestionamento, provavelmente porque existem porte público pertence ao setor privado, incluindo – com alguma poucos carros em circulação e estes são usados principal- surpresa – as cidades chinesas. As cidades indianas, onde virtual- mente por pessoas com renda privilegiada. À medida que mente todo o transporte público permanece nas mãos do gover- passarem para a próxima fase da motorização, algumas no, indubitavelmente possuem as maiores frotas de propriedade medidas para limitar o uso de automóveis deverão mudar pública do mundo em desenvolvimento. Vários dos casos estuda- estas circunstâncias. dos oferecem exemplos dos desafios que os sistemas de transporte público no mundo em desenvolvimento enfrentam: 3. Desempenho do transporte público • Desde os anos 1980, os ônibus de Dacar têm sofrido um declínio de 20% no número de passageiros, a despeito de A única condição que talvez impeça a mobilidade nas cidades uma população em rápido crescimento. A principal causa? O em desenvolvimento é o desempenho insatisfatório do trans- aumento dos serviços de paratrânsito, “car rapide” e “Ndiaga porte público. Apesar de a vasta maioria das viagens depender Ndiayes”. do transporte público, na maioria das cidades os serviços sofrem de condições financeiras insuficientes, capacidade de passageiros inadequada, pequena integração de redes, baixas velocidades de 162 • A participação do transporte público de Chenai na mobilidade diminuiu 20% nos 25 anos anteriores a 1995, principal- mente devido ao rápido aumento dos veículos motorizados serviços de transporte patrocinados pelo governo e a gestão de duas rodas. do sistema (ex., Cidade do México). • A participação do serviço de transporte de Cuala Lumpur • Problemas entre jurisdições dentro de áreas metropolitanas declinou de 35% em 1985 para 20% em 1997, coincidindo por vezes impedem de forma perversa a integração do sis- com medidas para promover a indústria automobilística tema (ex., Cidade do México, onde a idade máxima para através do programa “Carro Nacional”. condução de veículos de transporte público é diferente das áreas urbanizadas no Estado do México, e acordos para • Na Cidade do México, o sistema público de ônibus entrou em colapso na década de 1980 e a maciça utilização do sis- estender as linhas de metrô através das fronteiras são difíceis de ser negociados). tema de metrô estagnou, devido, em parte, ao rápido aumento de paratrânsito, dos colectivos, e de minivans e microônibus particulares. • A seleção de novas opções e modalidades de serviços é sempre politicamente complicada e sujeita a expectativas infundadas. Muitas cidades estão criando soluções simples Estes desafios explicam os múltiplos problemas institucionais e enquanto aguardam os sistemas de metrô que provavel- operacionais subjacentes à crise do transporte público nas mente nunca serão implementados ou usam tecnologias cidades do mundo em desenvolvimento. Por exemplo: relativamente não comprovadas (ex., Xangai). • A gestão do transporte como um serviço de uma indústria A despeito desses problemas, os mesmos casos mostram que pública é difícil, pois uma concorrência seletiva para a con- existe uma notável capacidade de promover o transporte públi- cessão dos serviços dificilmente funciona. Não há virtual- co e melhorar sua participação na locomoção (ex., a partici- mente qualquer uso para equipamentos de transporte, pação do transporte público em Belo Horizonte é de quase 70% exceto no serviço público. de toda a locomoção face à taxa de motorização de 225 carros para cada 1.000 habitantes). A empresa de ônibus pública BEST, • As concessionárias de transportes têm geralmente uma forte alavancagem política (incluindo a opção de greves de paralisação como ocorreu na Cidade do México). Como resultado, as autoridades têm extrema dificuldade de alterar o status quo de cláusulas contratuais (ou de operar na falta de cláusulas). • A tarifa é um evidente elemento do custo de vida. A liderança política, conseqüentemente, hesita em permitir o aumento das tarifas e por vezes sofre represálias quando o faz (ex., Mumbai). • Inovações e novos serviços são freqüente e intencionalmente introduzidos de forma isolada no sistema existente, para evitar a resistência histórica a mudanças e suas pequenas obrigações políticas agregadas. Como resultado, os sistemas não são integrados (ex., o sistema LRT de Cuala Lumpur). • As agências governamentais responsáveis pelas operações e contratações têm pouco poder de atuação e estão isoladas dos elementos fortes da burocracia do transporte que são responsáveis pela construção da infra-estrutura. Geralmente, este isolamento resulta de uma medida do governo para evitar que a de Mumbai, expandiu seu serviço diário em 20% (passageiros) durante a década de 1990 e aumentou sua receita no mesmo período em mais de duas vezes e meia. Algumas cidades comprometeram grandes orçamentos ao transporte público (ex., Xangai, com 28% de seu orçamento para infra-estrutura dedicado ao sistema ferroviário, e a ênfase da Cidade do México em expandir seu metrô). Se o ambicioso plano de expansão do metrô da Cidade do México tem alguma lição a ensinar a Xangai, esta lição é de que o metrô não vai reter uma participação mais alta no transporte público a menos que certas medidas sejam tomadas para reter a expansão urbana, promover desenvolvimentos em áreas próximas às estações de metrô e limitar a concorrência de modalidades rodoviárias. Cuala Lumpur, até certo ponto, é um exemplo típico do caso mais problemático, com taxas de renda e motorização altas o suficiente para que seja minimamente caracterizada como uma cidade “em desenvolvimento”, relativamente às outras. Neste caso, a gestão pública do setor levou as concessionárias dos serviços de transporte quase à falência. Durante a década de 1990, o setor privado embarcou no desenvolvimento de três sis- turbulência das operações de transporte afete a estabilidade do temas de transporte público ferroviário (dois sistemas LRT e um fluxo do capital para os investimentos em infra-estrutura. normal). Os sistemas LRT, hoje em operação, têm dificuldades em tornar esta modalidade uma iniciativa privada lucrativa. Os • Ambivalências em relação aos serviços de apoio ao setor dois sistemas foram recentemente assumidos por um único pro- informal têm complicado este problema ainda mais. O trans- prietário – detalhes das condições financeiras não estavam porte do setor informal aumenta de forma significativa os disponíveis. O sistema de monorail, cujos atrasos na construção níveis de serviços diretos (ex., em domicílio) e funciona causaram a crise financeira do final dos anos 1990, ainda não como uma fonte de emprego, mas incapacita o mercado de está operando. Atualmente, estes sistemas pouco se esforçam 163 para capturar uma parcela do transporte público ou para aliviar Cidades do mundo em desenvolvimento entram nesta era com o congestionamento nas vias da cidade. Apesar da inexistência altas densidades residenciais. Entre nossos casos, Wuhan apre- de dados formais desde a inauguração dos sistemas, parece senta uma densidade media de 166 pessoas por hectare, improvável que a parcela desta modalidade de transporte públi- Mumbai, 225 e a cidade de Belo Horizonte, 63. Se a população co na cidade tenha crescido mais de 20%. No outro extremo se de Xangai estivesse distribuída com a mesma densidade que na encontra Belo Horizonte, com, ironicamente, a mesma popu- área metropolitana de Nova Iorque, ela ocuparia algo como 16 lação metropolitana e a mesma densidade residencial que Cuala vezes sua área atual. Obviamente, este é um exemplo extremo Lumpur, mas com uma parcela de transporte público de 69% e tal redistribuição da população de Xangai é irreal, mas o fato de todas as viagens de locomoção, ou seja, três vezes e meia que não pode ser negado é que as cidades do mundo em mais uso de transporte público do que Cuala Lumpur. Belo desenvolvimento quase sempre se encontram em um processo Horizonte não possui nenhum sistema de transporte público de descentralização explosiva e de transformação estrutural. com alguma “tecnologia especial” e, em geral, as velocidades Apesar de difícil quantificação, este processo é bem visível, re- de operação dos ônibus são baixas. Mas o fato de este sistema presenta mudanças em estilos de vida e altera a estrutura e o conseguir sua alta participação em transporte público é um volume total da demanda por locomoção. exemplo vivo de algum grau de eficácia da estrutura regulatória e talvez de uma persistente vontade de seus cidadãos em con- O debate sobre a descentralização urbana e as concomitantes tinuar a usar os ônibus, mesmo quando eles poderiam possuir reduções na densidade vai além de nosso escopo. No entanto, um veículo automotor (apesar de a imprecisão dos dados rela- esta questão certamente representa um problema para as tivos a esta modalidade de transporte não poder também ser cidades em desenvolvimento, com recursos limitados e necessi- descartada como uma explicação parcial). dade de um desenvolvimento eficaz. A descentralização impõe a dependência do automóvel, pois gera um padrão de local de Vários avanços oferecem vislumbres de esperança para o futuro residência onde o transporte público não opera com facilidade. do transporte público no mundo em desenvolvimento. A dependência do automóvel, por sua vez, leva a mais descen- Primeiro, a “revolução” dos Sistemas de Ônibus Rápidos (BRT), tralização. Essa dependência pode gerar seus próprios proble- estimulados pelo conhecido caso de Curitiba há mais de duas mas paralelos, tais como poluição local e global e maior décadas, começa agora a se expandir em toda a América Latina dependência do petróleo importado. Além disso, como muitas (ex., Bogotá, Santiago, Lima e Cidade do México) e outras cidades do mundo em desenvolvimento se situam em áreas partes do mundo (incluindo, recentemente, Dacar). Segundo, o agrícolas, a descentralização urbana ameaça exacerbar os pro- Fundo para o Meio Ambiente Global (GEF) iniciou uma série de blemas da segurança do abastecimento de alimentos. programas (mais diretamente relacionados a projetos de BRT e a empréstimos do Banco Mundial) objetivando melhorar o Em face destes problemas potenciais, a descentralização pode desempenho do transporte público. E, finalmente, não podemos ou deveria ser reduzida ou, pelo menos, orientada de forma ignorar o valor de empresários do setor privado na prestação de construtiva? No caso de orientações para desenvolvimentos em serviços de transporte público no mundo em desenvolvimento. novas áreas, o problema poderia ser amenizado dentro de um espaço de tempo razoável? Em princípio, o rápido crescimento A plêiade de modalidades de transportes particulares “informais” urbano oferece algumas possibilidades. Por exemplo, uma que surgem nas cidades em desenvolvimento é tipicamente cidade que cresce a uma taxa de 3% ao ano, como Dacar, vista como uma praga – um julgamento injusto, em nossa visão. dobra de tamanho em 20 anos. Se as mesmas taxas de densi- Apesar de a gestão desses sistemas certamente constituir um dade acompanharem este crescimento, então uma urbanização problema, sua existência se deve a alguma percepção de neces- totalmente nova, do tamanho da atual, surgirá em menos de 20 sidade – lições que não deveriam ser perdidas nas cidades em anos. Apesar de a densidade de novas áreas construídas ser desenvolvimento ou nas desenvolvidas provavelmente menor do que a das áreas existentes, isso implica em dobrar de tamanho a área urbana. Em princípio, uma 4. Desenvolvimentos em novas áreas 164 forma mais eficaz de crescimento poderia ser seguida, mas a pergunta permanece: como? Talvez a mais visível conseqüência do crescimento da demanda A motorização é somente um dos fatores que impulsionam a por locomoção e motorização esteja na descentralização do descentralização e pode ser um dos fatores de menor importân- crescimento urbano. Até certo grau, a descentralização é positi- cia em muitos casos. Condições e ações paralelas podem forçar va, dadas as incrivelmente altas densidades de algumas cidades, as cidades a se expandirem. Muitas cidades do mundo em mas, para a maioria das cidades, o processo de descentralização desenvolvimento (ex., Mumbai e Xangai) freqüentemente é incontrolável. Exemplos interessantes de nossos casos incluem procuram a descentralização para aliviar a superpopulação (por Navi Mumbai (em Mumbai) e Pudong, em Xangai. exemplo, o grande aumento de área para moradia por pessoa em Xangai na última década). No entanto, efeitos combinados pontes e vias expressas cruzando a baía e superlotação da tipicamente tendem a acelerar a descentralização além do notavelmente completa malha ferroviária de Mumbai. esperado. As incorporadoras exacerbam o problema ao procurar terrenos de baixo custo na periferia. Em economias em globa- A tarefa de integrar eficazmente o planejamento do solo ao sis- lização, empresas transnacionais procuram localizar grandes tema de transporte é intimidadora em quase todos os países em áreas para suas filiais, inevitavelmente, nas periferias das desenvolvimento (e desenvolvidos). A incorporação de novos metrópoles. Nas cidades chinesas, os aspectos transnacionais da terrenos precisa ser descentralizada, mas não muito. O ideal é o economia se fazem sentir. Por exemplo, a avaliação da terra planejamento de agrupamentos de incorporações que aliviem a traduzida em uma base de preço por metro quadrado resulta superpopulação, mas que ao mesmo tempo incluam densidades no reconhecimento, pela primeira vez, de que terrenos mais que possam ser servidas por uma infra-estrutura e por serviços centrais têm um valor mais alto do que terrenos na periferia. de transporte viáveis. Entretanto, como o caso de Navi Mumbai Isto estimula uma retração para localidades mais descentra- demonstra, mesmo quando os planificadores têm a “idéia lizadas de locatários que transferem terrenos no centro da certa”, colocar a teoria em prática é mais difícil. cidade para usuários que ser beneficiariam mais de uma localização central. Quando uma municipalidade compra terras Um exemplo contrastante é Pudong, atravessando o rio a partir urbanizáveis de cooperativas ou proprietários contíguos, a recei- do centro de Xangai. Planejada por um governo muito ta total advinda da venda da terra é recebida por ocasião do autoritário sobre a incorporação de terrenos, foi intencional- primeiro arrendamento. A seguir, a municipalidade nada mais mente preparada para ter densidades compatíveis com a moto- recebe por aquele terreno. A cidade precisa, então, continuar a rização, mas sob eficaz controle, e com um equilíbrio entre comprar terras para ter um fluxo contínuo de receita. Ou seja, a locais de emprego e áreas residenciais. Alguns esforços têm sido necessidade de receita impulsiona a descentralização. feitos para ligar Pudong ao centro de Xangai pelo transporte público e túneis. A construção começou por volta de 1995, e Do mesmo modo, Xangai dobrou sua área durante a década de agora já acomoda mais de um milhão de pessoas, oferecendo 1990, estimulada principalmente por um desejo de atrair novas oportunidades de emprego nos setores industrial, corporativo e empresas transnacionais motivadas por acordos de posse de comercial. Naturalmente, muitos residentes não conseguiram o terra promovidos pela OMC. Nos subúrbios de Nanjing, luxu- equilíbrio entre moradia e emprego e, então, seus empre- osos condomínios são construídos com densidades tão baixas gadores contratam serviços de ônibus para trazer os fun- que se assemelham aos suburbs do sudoeste americano. Os cionários até a área metropolitana. Essa iniciativa tem funciona- planificadores locais concluem agora que estas densidades são do e deriva da autoridade do governo, que mantém um con- excessivamente baixas. No entanto, com o atual perfil social e trole abrangente sobre todos os projetos de incorporação de econômico dinâmico da China, é difícil tomar decisões de longo novos terrenos. Naturalmente, poucos governos no mundo têm prazo sobre questões desta natureza. a autoridade para uma empreitada como Pudong. Navi Mumbai também ilustra esta questão. A empresa do A gestão do desenvolvimento urbano é, talvez, a única resposta Estado de Maharashtra, que começou a planejar Navi Mumbai realmente estável ao problema da crescente demanda por loco- na década de 1970, visava aliviar a superpopulação e inacessibili- moção, mesmo com o nível de desafio dos problemas decor- dade da península, onde a principal parte da área metropolitana rentes. Mas as recompensas são grandes. Experiências em países está localizada, ao projetar uma série de centros do outro lado em desenvolvimento sugerem que um equilíbrio limitado (ainda da baía. Estes centros tinham especificações detalhadas, incluin- insatisfatório) é atingido ao final. Mas a adaptação é penosa. do empregos por setor, exigências específicas de infra-estrutura, áreas residenciais, etc. Eles deveriam ser construídos em seqüên- 5. Instituições cia com um equilíbrio entre os diversos componentes, de modo que a demanda por locomoção fosse minimizada. Apesar desses O derradeiro desafio que permeia todos os aspectos do trans- centros já existirem em toda a área metropolitana de Mumbai, porte – incluindo o desenvolvimento de projetos, a regula- o objetivo era minimizar a necessidade de locomoção até o cen- mentação, a gestão das operações, a manutenção e o plane- tro da cidade. Mesmo a incorporação da área tendo sido esti- jamento – continua a ser as instituições. Qualquer discussão mulada, o padrão de desenvolvimento planejado não foi segui- das questões institucionais que as cidades em desenvolvimen- do e toda a área se transformou em um esparramado subúrbio to precisam enfrentar deve se iniciar com a consideração de residencial de Mumbai, exigindo que a maior parte dos que tra- que elas estão submersas em crescente demanda e obstruídas balham atravessem ou contornem a baía até o centro da cidade por recursos limitados. A China, com uma estrutura de gover- para chegar ao trabalho. Isso resultou em mais superpopulação no ainda altamente centralizada, enfrenta estes desafios, no centro da cidade, na necessidade de grandes gastos com assim como a Cidade do México, que atua em um contexto 165 onde o governo federal, pelo menos dois governos estaduais Quando um novo governo toma posse, os funcionários do e mais uns 50 governos municipais lutam por uma fatia do alto escalão das agências de transporte são geralmente substi- controle e do capital político. O crescimento da democracia e tuídos, o que resulta na descontinuidade de muitos progra- a descentralização governamental geralmente andam de mas (isso acontece mesmo quando o mesmo partido político mãos dadas com o desenvolvimento e poucos podem argu- é reeleito, mas há mudanças em postos de liderança). Isso mentar contra o enorme bem que estes trazem. No entanto, impede a coleta de dados úteis para a análise dos problemas à medida que as cidades crescem e as jurisdições dentro de de transporte e atrasa o desenvolvimento dos avanços suas áreas urbanas se expandem, o problema institucional de metodológicos, minando qualquer capacidade razoável de gerir os sistemas – de transporte ou qualquer outro – parece, planejamento das agências relevantes. Os planos para o trans- às vezes, crescer exponencialmente. porte são geralmente postos em prática por um consórcio de empresas consultoras. Estes planos geralmente orientam a No mundo em desenvolvimento, estas condições se agravam supervisão, que não é implantada, e possuem uma circulação com as realidades financeiras e subseqüentes problemas da limitada de modo a confinar o poder de decisão a um grupo burocracia e do serviço civil. Os salários são quase sempre seleto. Conseqüentemente, políticas coerentes não são pro- muito baixos, atraindo geralmente jovens profissionais no iní- postas, uma vez que os relatórios das medidas tomadas são cio de suas carreiras, aqueles que podem beneficiar-se de um emitidos por diferentes consultores. A coleta de dados, que emprego no governo (ex., através de uma consultoria para- raramente ocorre, é feita de maneira não sistemática e os lela), e aqueles que ocupam posições chave em um sentido dados são guardados “a sete chaves” – informação é uma de obrigação para com a sociedade. E todos nós sabemos fonte de poder. que importantes ações necessitam de mais do que uns poucos heróicos indivíduos nesta última categoria. Por fim, ações regulatórias e de reforço de suas dotações se tornam difíceis, pois ainda não existe um único código para Outros problemas emergem da falta de clareza na respon- toda a sociedade. No Oriente Médio e na África, há por vezes sabilidade administrativa entre agências vinculadas. Uma vez dois ou mais sistemas legais totalmente diferentes simultanea- que as agências de nível mais baixo sempre têm problemas mente em uso. Sem qualquer consenso sobre questões regu- de caixa, elas provavelmente protelarão qualquer ação com a latórias, como pode haver qualquer reforço das mesmas? Em esperança de que o governo nacional venha em seu auxílio. muitas cidades do mundo em desenvolvimento, veículos de Por exemplo, em muitos governos, a infra-estrutura é tradi- transporte público operam sem acordos de concessão, os cionalmente uma responsabilidade nacional, mas sua registros de veículos são notoriamente incompletos e mesmo manutenção, uma responsabilidade local. Sendo assim, o uma boa porção das carteiras de habilitação é falsificada. governo local – que quase nunca possui os fundos necessários Resolver tais problemas seria um grande avanço em direção à para a coleta de lixo – permite que as vias se deteriorem, melhoria das condições de transporte nas cidades dos países esperando que, quando esta deterioração atingir o nível de em desenvolvimento. uma total reconstrução, o governo nacional intervenha. Referências Allport et al, 1990. Study of Mass Rapid Transit in Developing Countries. Contractor Report CR188, Halcrow Fox, TRRL. Gakenheimer, R. 1999. Urban mobility in the developing world. Transport Research Part A, No. 33, pp. 671-689. Rail India Technical e Economic Services (RITES). 1995. Comprehensive Traffic and Transport Study for Madras Metropolitan Area, Final Report, September. World Bank. 1994. TWUTD Highways Sector Database. 166 Antecedentes da seleção de casos A1. Os casos em seus contextos: arquétipos urbanos? históricas, as expectativas e os gostos e as abordagens políticas tão variadas que tornam qualquer generalização arquetípica sem sentido? Além disso, sob a perspectiva da mobilidade, talvez as diferenças nas condições entre as cidades reflitam os vários está- Os casos de estudo em países em desenvolvimento tiveram o gios de um padrão de convergência global. Parte do objetivo objetivo de selecionar uma gama de cidades que poderia repre- deste projeto é compreender a possível convergência ou sentar todas as condições de transporte urbano no mundo em divergência de padrões de transporte urbano em todo o mundo desenvolvimento e os fatores que as influenciam. Os casos em desenvolvimento. serviriam, em outras palavras, como “arquétipos” do transporte urbano; pressupondo uma estrutura urbana fundamental, os Existem vários precedentes para a classificação de área urbanas, arquétipos representariam as variações de determinada estrutura. seja estritamente sob a perspectiva da mobilidade ou uma Sendo assim, os arquétipos forneceriam aos stakeholders e a ou- perspectiva mais ampla. Por exemplo, o projeto SESAME tros um ponto de referência, promovendo a identificação de (SESAME, 1999), tem como foco específico “ampliar o conheci- uma “cidade arquetípica” e ajudando a minimamente com- mento atual sobre as interações entre o uso do solo, padrões de preender a condição relativa de determinada cidade. O ideal por comportamento e demanda de locomoção” nas cidades trás de cada “cidade arquetípica” não é explicar esta cidade indi- européias. Com uma amostra de 40 cidades em toda a Europa, o vidualmente, mas sim desenvolver um sistema de classificação projeto SESAME enfatiza os desafios da coleta e harmonização que extrapole um padrão sistemático a partir dos arquétipos. dos dados, mesmo em lugares com uma disponibilidade de dados relativamente boa. Os problemas incluem: áreas de coleta Mas o desafio de tal tarefa reside em atingir um equilíbrio entre de dados desiguais e diferentes fontes de dados, definições ten- a profundidade e a abrangência do estudo, ou fornecer um denciosas de área urbana (que tipicamente diferem de um lugar número gerenciável de características descritivas significativas e a outro) e a disponibilidade geral de dados sobre uso do solo e o um grau de clareza que permita “situar” qualquer cidade dentro transporte. O projeto SESAME compartilha a mesma premissa desta estrutura arquetípica. Como é de se de supor, esta tarefa que nosso estudo: a necessidade do equilíbrio entre ser relevante não é fácil na prática. É possível que um seleto grupo de cidades (ter dados significativos) e ser operacional (ter um real acesso aos capture efetivamente a gama de diferenças nas diversas áreas dados necessários). Para isso, o projeto usou a técnica matemáti- urbanas do mundo? Ou serão as diferenças culturais, étnicas e ca da análise por grupos para identificar grupos de cidades que, 167 para certas variáveis, exibem características similares. O projeto duzir esta análise no transporte urbano em todo o globo, uti- teve dificuldade em tipificar as cidades na gama de indicadores e lizamos a Millennium Transport Database, desenvolvida por descobriu que, além de indicadores demográficos básicos (popu- pesquisadores do Institute for Sustainability and Technology lação ou densidade), a tipologia mais útil é a participação de Policy da Murdoch University. Esta base de dados não é abso- cada modalidade (vide Tabela A.2). lutamente clara sobre a origem de seus dados e sobre quais dados são reais versus quais são derivados de pressuposições. De modo mais geral, e mais qualitativo, Hall & Pfeiffer (2001) Para utilizar tais dados, tivemos que restringir as 229 variáveis fizeram uma distinção entre três tipos básicos de cidades a partir originais para 100 cidades devido a dados incompletos para de sua evolução demográfica e socioeconômica. Segundo esta muitas cidades (principalmente) no mundo em desenvolvi- tipologia, cidades de países em desenvolvimento podem ser mento. Também eliminamos variáveis competitivas, consoli- caracterizadas como casos de “hipercrescimento informal”, casos damos algumas variáveis (ex., formas de transporte público de “crescimento dinâmico” – onde a maior parte o mundo ferroviário) e tentamos equilibrar o número de cidades repre- industrializado se encaixa – e ainda “cidade madura” (Tabela sentadas e o número de variáveis presentes. O conjunto final A.3). Uma caracterização interessante, mas ampla demais para de dados usado na análise fatorial continha 54 variáveis sobre fornecer uma estrutura arquetípica significativa para a análise do 83 cidades. Neste processo, um número de casos de países em transporte urbano. desenvolvimento se perdeu (vide Tabela A.4). A recente série de relatórios sobre transporte e mudanças Através da análise fatorial dos principais componentes (e a climáticas nos países em desenvolvimento, publicada pelo Pew Rotação Varimax), analisamos as variáveis de transporte em 83 Center on Global Climate Change, também ajuda a identificar cidades visando compreender como as cidades diferem pura- várias características por meio das quais fatores de influência pre- mente em suas características dos sistemas de transporte dominante podem ser identificados, conforme sugerido por (veículos per capita, parcela de cada modalidade, consumo Sperling e Salon (2002). Estes fatores incluem autoridade políti- energético, etc.) e assim tentar revelar a estrutura fundamental ca, natureza das políticas, padrões de uso do solo e normas soci- subjacente. Por fim, selecionamos nove fatores que respondi- ais (vide Tabela A.4). am por 70% da variação cumulativa nos dados. O significado dos fatores é sugerido pela carga fatorial relativa das variáveis A2. Tentativas de estabelecer uma estrutura arquetípica (selecionamos variáveis com carga fatorial superior a 0,6). A Tabela A.5 mostra estes fatores e as principais variáveis contribuintes. A partir desses e de outros precedentes, tentamos derivar uma Os resultados da análise fatorial confirmam em essência nossa estrutura pela qual cidades arquetípicas pudessem ser sele- “intuição” e sugerem a necessidade de um arquétipo para cionadas para um estudo mais detalhado, onde a situação dos representar muitas dimensões para capturar de modo eficaz a arquétipos dentro de tal estrutura facilitasse a “generalização gama de variação na estrutura fundamental das cidades. Esta dos casos arquetípicos para um número maior de cidades. análise considera somente as variáveis de transporte; se a Para desenvolver tal estrutura, usamos a técnica estatística da crescentarmos mesmo poucas variáveis não relativas ao análise fatorial, cujo objetivo é descobrir como as variáveis de transporte, não conseguiríamos selecionar eficazmente determinado conjunto de dados formam subgrupos coerentes casos arquetípicos representativos e teríamos que também relativamente independentes uns dos outros. A análise fatorial capturar “fatores qualitativos” que são importantes para a pode ser usada tanto para explorar as relações entre variáveis representação das cidades nos “arquétipos” tais como quanto para confirmar as hipóteses de estruturas subjacentes. características demográficas e socioeconômicas por região Esta técnica é particularmente adequada para definir “estru- (África, Ásia, etc.). Isso também introduz um desafio de turas coerentes em uma variedade de situações” (Berry, 1971) multidimensionalidade, pois quanto mais aspectos são e auxiliar a construir tipologias (arquétipos) “sobre uma base considerados, mais subjetiva a decisão final se torna. Por fim, empírica estável ao invés de sobre impressões erráticas” (Jones como discutimos na introdução a este Relatório Síntese, & Jones, 1970). O uso da análise fatorial para compreender escolhemos uma abordagem para a seleção dos casos que áreas urbanas data pelo menos dos anos 1960. equilibrasse intuição, disponibilidade de dados e cobertura geográfica, entre outros fatores. Sendo uma técnica de redução de dados, a análise fatorial estuda as correlações entre um grande número de variáveis inter-relacionadas ao agrupá-las em poucos fatores. Para con- 168 169 Referências Berry, B.J.L. 1971. Introduction: The Logic e Limitations of Comparative Factorial Ecology. Economic Geography, Vol. 47, Issue Supplement: Comparative Factorial Ecology, June, pp. 209-219. Hall, P. e U. Pfeiffer. 2000. Urban Future 21: A Global Agenda for TwentyFirst Century Cities, E&FN Spon, London, for the Federal Ministry of Transport, Building e Housing of the Republic of Germany. Jones, K.J. e W. C. Jones. 1970. Toward a Typology of American Cities. Journal of Regional Science, Vol. 10, No. 2, pp. 217-224. SESAME Consortium. 1999. FINAL REPORT SESAME (194). For the Transport Directorate-General (DGVII) of the European Commission as part of the 4th Research e Development Framework Programme. February. Sperling, D. e D. Salon. 2002. Transport in Developing Countries: An Overview of Greenhouse Gas Reduction Strategies, Prepared for the Pew Center on Global Climate Change, May. 170 Abreviações Itens do glossário Abreviações ADAS – Advanced Driver Assistance Systems AEO – do original “Annual Energy Outlook” – ‘Perspectiva Anual da Energia’ ( publicado pela US Energy Information Agency) FAME – do original “Fatty Acid Methyl Esters” (vide “biodiesel” no glossário) - ésteres alquílicos de ácidos graxos PIB – Produto Interno Bruto FEO – Fabricante de Equipamento Original PISI – Port Injection Spark Ignition – Ignição por centelha com injeção por orifício FKA – Forschungsgesellschaft Kraftfahrwesen mbH Aachen (Instituto de Pesquisa Alemão) PM-10 – Particulados que possuem um diâmetro equivalente ou superior a 10 micra FMI – Fundo Monetário Internacional PMS – Projeto de Mobilidade Sustentável F-T – do original “Fischer-Tropsch” PPA – Paridade de Poder Aquisitivo ASK – do original “Available seat kilometer” – Assento Disponível por Quilômetro G-7 – Grupo de paises constituído por Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália, Reino Unido e Japão. PPM – Partes Por Milhão BAC – do original “Blood alcohol content” – teor alcoólico no sangue GEEs – Gases de efeito estufa (vide glossário) PQ – Passageiros-Quilômetro GLP – Gás Liquefeito de Petróleo PRT – do original “Personal Rapid Transit” – transporte pessoal rápido BTL - do original “Biomass to Liquid” - biomassa-paralíquido. GNC – Gás Natural Comprimido RIB – Renda Interna Bruta CA – Corrente Alternada GNL – Gás Natural Liquefeito RME – do original “Rapeseed Methyl Ester” - metil éster de semente de colza CAFE – do original “Corporate Average Fuel Economy” – Economia Corporativa Média de Combustível GTL – Gas to liquids (vide glossário) SIT – Sistemas Inteligentes de Transporte (vide glossário) HOT – do original “High Occupant Toll” (vide glossário) CAI – do original “Controlled Auto Ignition” – autoignição controlada HOV – do original “High Occupant Vehicle” (vide glossário) CD – Corrente Direta ID – Injeção Direta CIDI – do original “Compression Ignition Direct Injection” – Injeção Direta com Ignição por Compressão IEA – do original “International Energy Agency” – Agência Internacional de Energia TCRP – do original “Transit Cooperative Research Program” (US) – ‘Programa de Pesquisa Colaborativa sobre o Trânsito’ CO – Monóxido de Carbono IMTS – do original “Intelligent Multimode Transit System” – Sistemas de Trânsito Multimodais Inteligentes TDM – do original “Traffic Demand Management” – Gestão da Demanda de Transporte INRIA – do original “Institut National de Recherche en Informatique et en Automatique” – Instituto Nacional Francês de Pesquisa em Informática e Automação TKM – do original Tonne-Kilometers – quilômetro-tonelada SOx – Dióxido de Enxofre SVM – Sinais Variáveis de Mensagem CO2 – Dióxido de Carbono COE – do original “Certificate Of Entitlement” ‘Certificado de Habilitação’ (exigido para se adquirir um veículo em Singapura) CONCAWE – do original “Conservation of Clean Air and Water in Europe” - (Organização européia das companhias de petróleo para o meio ambiente, saúde e segurança’) IPAI – do original “International Primary Aluminium Institute” – ‘Instituto Internacional do Alumínio Primário’ JRC – do original “Joint Research Centre Of The European Commission” – ‘Centro de Pesquisa Conjunta da Comissão Européia COV – Composto Orgânico Volátil kg – Quilograma CRA – Charles River Associates TRB – do original “Transport Research Board” (US) – ‘Câmara de Pesquisa sobre o Transporte’ TTW – do original “Tank-To-Wheels” – tanque-para-rodas UE – União Européia UE-15 – Grupo dos seguintes países: Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Portugal, Espanha, Suécia e Reino Unido LTR – do original “Light Rail Transit” – Metrô Leve CSF – Custo, Seguro e Frete CTS – Cybernetic Transport Systems CVT – do original “Continuously Variable Transmission” – Transmissão Continuamente Variável MACM – do original “Metropolitan Area of Mexico City” - Área Metropolitana da Cidade do México MCI – Motor de Combustão Interna MG – Miligrama DALY – do original “Disability-Adjusted Life Years” anos de vida perdidos por incapacidade DfT – do original “Department for Transport” (UK) – Departamento de Transporte do Reino Unido MGP – Metais do Grupo da Platina MIT – Massachusetts Institute Of Technology MJ – Megajoules UE-25 – UE-15 + Chipre, República Checa, Estônia, Hungria, Latva, Lituânia, Malta, Polônia, República Eslovaca e Eslovênia USEIA – do original “US Energy Information Agency” – Agência Americana de Informações sobre Energia V/C – razão entre o volume médio projetado para um segmento de infra-estrutura e a capacidade razoada deste segmento. VA – Veículo Automotor DPF – do original “Diesel Particulate Filter” – Filtro de Particulados de Diesel ML – Mililitro VAL – Veículo Automático Leve – sistema do metrô cuja unidade automatizada não precisa de condutor DRL – do original “Daytime Running Lights” – Luzes de Circulação Diurna MRT – do original “Mass Rapid Transit” – Transporte Rápido de Massa VCC – Veículo de Célula Combustível DTLR – do original “Department Of Transport, Local Government And The Regions” (UK) – ‘Departamento de Transporte, Governo Local e Regional’ (Reino Unido) MTP – Membrana de Troca de Prótons DWI – do original “Driving while intoxicated” – Dirigir enquanto intoxicado (Beber e Dirigir) ECMT – do original “European Conference Of Ministers Of Transport” – Conferência Européia dos Ministros de Transporte EDM – Éter Dimetílico EEA – do original “European Environment Agency” – Agência Ambiental Européia EMD – do original “Electro-Motive Division” (Division of General Motors) – ‘Divisão Eletro-Motiva’ NBER – do original “National Bureau Of Economic Research” – Agência Nacional de Pesquisa Econômica NEDC – do original “National Economic Development Council” (UK) – Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico do Reino Unido NOx – Vários Óxidos de Nitrogênio OCDE - Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico OPEC – do original “Organization For Petroleum Exporting Countries” – Organização dos Países Exportadores de Petróleo VE – Veículo Elétrico VLRs – Veículos Leves Rodoviários (vide glossário) VMT – do original “Vehicle Miles Traveled” – milhas viajadas por veículo VUE – Veículo Utilitário Esportivo WBCSD – World Business Council For Sustainable Development (Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável) WEO – do original “World Energy Outlook” – Perspectiva Internacional de Energia (publicado pela Agência Internacional de Energia) WHO – World Health Organization (OMS – Organização Mundial da Saúde) Pb – Chumbo EUCAR – do original “The European Council For Automotive Research & Development” – Conselho Europeu para Pesquisa e Desenvolvimento Automotivo 172 WTT – do original “Well-To-Tank” - poço-a-rodas PERS – do original “Porous Elastic Road Surface” – Superfície Elástica Porosa usada na pavimentação de vias WTW – do original “Well-To-Wheels” - tanque-para-roda Glossário de termos Álcoois combustíveis – vide “etanol” e “metanol”. Gargalos – pontos na rede de infra-estrutura onde o congestionamento é mais provável de ocorrer devido à Condições rodoviárias precárias – condições opera- convergência do tráfego ou redução na capacidade da cionais nas quais as vias não são pavimentadas, são mal infra-estrutura. mantidas e/ou são pouco mais que trilhas. Antiga União Soviética – Armênia, Azerbaijão, Belário, Geórgia, Cazaquistão, Quirgistão, Moldávia. Gás de efeito estufa (GEE)– constituintes gasosos da Dieselização – o uso de motores a diesel para alimentar atmosfera, tanto naturais quanto antropogênicos, que veículos de transporte. absorvem e emitem radiações em comprimentos de Antropogênico(a) – resultante da ação ou produzido pelo ser humano. onda específicos dentro do espectro de radiação infraverDimetil éter (DME) – atualmente usado como sol- melha emitido pela superfície da Terra, pela atmosfera e vente químico e propelente em aerossóis, mas não como pelas nuvens. Primariamente vapor de água (H2O), dió- Barreira acústica – estruturas construídas adjacentes a combustível de transporte. Uma combinação de metanol xido de carbono (CO2), óxido nítrico (N2O), metano rodovias, ferrovias ou aeroportos para reduzir o som emi- e DME foi sugerida como um combustível alternativo (CH4) e ozônio (O3). Há vários GEEs produzidos pelo tido por veículos de transporte que utilizam estas vias. para motores a diesel, assim como o DME 100%, que homem e a regulamentação tem centrado sua atenção não contém enxofre, com baixo teor de aromáticos e, no hexafluoreto de enxofre (SF6), hidrofluorocarbonos Biocombustíveis – combustíveis produzidos da biomas- potencialmente, com melhores características de emis- (HFCs) e perfluorocarbonos (PFCs). sa vegetal, como milho, soja, cana de açúcar, choupo, sões locais do que o diesel. Foi também sugerido seu uso salgueiro, a partir de resíduos agrícolas e florestais e de como um substituto potencial para GLP e GLN. gás de aterros e resíduos sólidos municipais. Os principais Gas liquefeito de petróleo (GLP) – uma mistura de hidrocarbonetos, primariamente o propano e o butano, biocombustíveis são dieseis sintéticos, que podem ser Economias de escala – redução em custos unitários com um tanto de propileno e butileno. Este gás é um queimados em motores com ignição por compressão resultantes de uma maior taxa de produção por unidade subproduto da extração de petróleo e gás e do refino do (diesel) e bioetanol, o qual pode ser queimado em de tempo. Difere da “curva de experiência” pois esta se petróleo. É gasoso nas condições normais de temperatu- motores com ignição por centelha (gasolina). refere à redução nos custos unitários decorrentes da pro- ra e pressão, mas se liquefaz sob pressões de até 6-8 bar, dução cumulativa de um produto. e é normalmente armazenado e transportado em sua Biodiesel – combustível produzido a partir de óleos forma líquida. vegetais, também conhecido como ésteres alquílicos de Eletrólise da água – produção de hidrogênio a partir ácidos graxos – Fatty Acid Methyl Esters (FAME) –, da água usando eletricidade. Gás natural – uma mistura de hidrocarbonetos, pri- básica usando metanol e soda. Este processo remove a Eletroquímica – produção de eletricidade através de em solução com óleo bruto em reservatórios naturais glicerina do óleo, o que é necessário para a adequação trocas químicas. subterrâneos. duzido comercialmente foi feito a partir de colza (ou Emissões de CO2 de combustíveis fósseis – emis- Gás natural comprimido (GNC) – gás natural (vide canola) em 1988. sões de CO2 resultantes da combustão de combustível acima) em forma gasosa armazenado sob alta pressão. geralmente por meio da transesterificação com catálise mariamente metano (CH4), existente na fase gasosa ou aos padrões de combustíveis. O primeiro biodiesel pro- com depósitos de carbono, como petróleo, gás e carvão. Biomassa – termo que cobre uma gama de culturas Gás para Líquidos – o processo de produção de com- vegetais, como milho, soja, cana de açúcar, choupo, Enzimas – qualquer uma das várias proteínas originárias bustíveis líquidos (gasolina ou diesel) a partir de gás na- salgueiro, assim como a partir de resíduos agrícolas e flo- de células vivas que seja capaz de produzir certas alte- tural. O primeiro passo é a transformação do gás natural restais e de gás de aterros e resíduos sólidos municipais. rações químicas em substâncias orgânicas por ação em hidrogênio e monóxido de carbono pela oxidação A biomassa pode ser usada para conversão em com- catalítica. parcial, reforma a vapor ou uma combinação dos dois bustíveis líquidos como etanol, metanol, biodiesel e diesel F-T, além de eletricidade e hidrogênio. processos. O produto, conhecido como um gás de sínEtanol (C2H5OH) – também conhecido como álcool tese (ou syngas em inglês) é então convertido em um etílico, álcool ou bebida fermentada de grãos. Um com- hidrocarboneto líquido por uma reação de crescimento Carbono neutro – que não causa qualquer emissão de posto orgânico oxigenado inflamável, claro e incolor. No de cadeia do monóxido de carbono e hidrogênio na carbono na atmosfera. transporte, o etanol é usado como combustível de veícu- superfície de um catalisador heterogêneo. O catalisador lo individualmente (E100 – 100% de etanol por volume), pode ser à base de ferro ou cobalto e a reação é alta- Célula combustível – mecanismo eletroquímico que misturado à gasolina (E85 – 85% de etanol por volume), mente exotérmica (geradora de calor). A temperatura, transforma continuamente a energia química de um ou para melhorar a octanagem e a oxigenação da gasoli- combustível (hidrogênio) e de um oxidante (oxigênio) na (10% por volume). pressão e o catalisador determinam se será produzido um cru sntético leve ou pesado. A 330oC, principal- O processo elétrico faz com que os átomos de Faixa Especial (HOT) – faixas HOV que permitem mente gasolina e olefinas são produzidas, enquanto que de 180 a 250oC, principalmente diesel e graxas são pro- hidrogênio percam seus elétrons. É semelhante a uma veículos com ocupação inferior, como veículos só com o duzidos. bateria por ter eletrodos, um eletrólito e terminais positi- motorista, a utilizar sua faixa se pagarem um pedágio. vo-negativo, mas não armazena energia como uma bate- Isto oferece aos usuários três opções: viajar sozinhos nas Gasificação da biomassa – produção de gás de sín- ria. Como não há combustão, células combustíveis pro- congestionadas faixas sem cobrança de pedágio, dirigir tese a partir da biomassa. duzem menos emissões e, como não há componentes sozinhos e pagar pelo uso de uma faixa menos conges- móveis, elas são silenciosas. Podem ser usadas em apli- tionada, ou tomar uma condução HOV (rodízio de carro, Gasolina F-T – um combustível fabricado do gás natu- cações estáticas como geração de eletricidade ou o vans, etc.) para usar uma faixa menos congestionada ral através do processo Fischer-Tropsch para uso em aquecimento de imóveis, e para alimentar veículos, sem pagar qualquer pedágio. motores de ignição por centelha. diretamente em energia elétrica e calor, sem combustão. ônibus e trens. Faixa para Veículos HOV – uma faixa de trânsito limi- Grande emissor – um veículo que emite consideravel- Célula combustível de membrana de troca de tada a veículos com elevada taxa de ocupação (HOV) e mente mais poluentes “convencionais” do que o permi- prótons (PEM) – considerada a tecnologia de célula a outros veículos qualificados. Um veículo com elevada tido pelas normas de emissão pelas quais o veículo foi combustível mais promissora para uso veicular. Células taxa de ocupação (HOV) é um veículo que carrega mais certificado. Não há uma definição única aceita univer- combustível PEM usam uma membrana sólida condutora do que um número mínimo especificado de passageiros, salmente. A EPA, dos Estados Unidos, define “grandes de prótons (um íon hidrogênio) – muito parecida com incluindo vans, ônibus e caravans. As exigências para emissores” como veículos que emitem um nível de emis- um saco plástico – como o eletrólito. A membrana sólida estes veículos são freqüentemente indicadas como 3+ sões pelo menos duas vezes (para alguns poluentes, três permite que a célula combustível PEM seja menor e (mínimo de três passageiros) ou 4+ (mínimo de quatro vezes) acima dos padrões pelos quais foram certificados. opere em temperaturas inferiores do que os eletrólitos passageiros). No trabalho do professor Stedman e seus colegas, líquidos usados nas células combustíveis alcalinas e com ácido fosfórico. “grandes emissores” são definidos como os veículos FAME (Fatty Acid Methyl Esters) – Vide “biodiesel”. “10% mais sujos”. 173 HCCI - sigla do original em inglês “Homogeneous Pilhas combustíveis – várias células juntas. Para pro- Veículos pesados rodoviários (VPRs) – geralmente Charge Compression Ignition”, utilizada para definir duzir grandes quantidades de energia, muitas células são grandes caminhões de carga, ônibus intermunicipais e motores com ignição de carga homogênea. Uma tec- combinadas em pilhas. ônibus de transporte público. nologia de combustão relativamente nova que é um híbrido da ignição a centelha (IC) tradicional e o proces- Poluentes convencionais – substâncias emitidas pela so de ignição por compressão (como em um motor a combustão ou evaporação de combustíveis que, sob cer- diesel). Diferentemente de IC tradicional ou do motor a tas concentrações, seja individualmente ou em combi- diesel, a combustão HCCI ocorre espontaneamente e nação com outras substâncias, produz efeitos nocivos à sem propagação de chamas, o que elimina misturas he- saúde humana. Este termo é geralmente usado para terogêneas de combustível e ar. Estas condições se referências a emissões de monóxido de carbono (CO), traduzem em uma temperatura de chama local menor, o que diminui a quantidade de óxidos de nitrogênio (NOx) produzidos no processo. Hibridização – processo de usar múltiplos equipamentos de propulsão (ex., um motor de ignição a centelha e um ou mais motores elétricos) em um veículo. Infra-estrutura e combustível – sistemas que distribuem um combustível desde seu ponto de produção até o ponto onde abastece um veículo de transporte. óxidos de nitrogênio (NOx), material particulado (PM), óxidos de enxofre (SOx) e hidrocarbonentos não queimados (HC). Estes últimos são muitas vezes chamados de compostos orgânicos voláteis (COVs) ou gases orgânicos não-metílicos (GONM). Reforma a vapor de gás natural – um processo pelo qual o vapor, a uma temperatura entre 700° e 1.100°C é misturado ao gás metano em um reator com um catalisador a uma pressão 3-25 bar. A reforma a vapor de gás natural é atualmente o processo mais barato de se produzir hidrogênio e é usado para aproximadamente metade da produção mundial de hidrogênio. Neste Logística de matérias-primas – o processo de reunir processo, 7,05 kg de CO2 são produzidos por quilogra- as matérias-primas para a produção de combustível. ma de hidrogênio. Material lignocelulósico – qualquer um de vários Resistência ao rolamento – uma medida da quanti- compostos de lignina e celulose, compreendendo a parte dade de resistência gerada à medida que um pneu rola essencial das paredes de células lenhosas das plantas. pela superfície asfaltada de uma via. Metanol (CH3OH) – um líquido altamente tóxico, Seqüestro de carbono – adição de substâncias que incolor, inodoro e insípido. No transporte, o metanol é contêm carbono a um reservatório. usado puro como combustível de veículos (M100 – 100% metanol) ou misturado à gasolina (M85 – 85% Sistemas Inteligentes de Transporte (SIT) – com- metanol). preendem uma ampla gama de sistemas de informações de comunicação com e sem fio e tecnologias eletrônicas Motor com alta expansão e baixa compressão de e de controle. Quando integrados à infra-estrutura do gás – um motor no qual a taxa de expansão é maior do sistema de transporte e aos próprios veículos, estas tec- que a taxa de compressão. nologias ajudam a monitorar e gerenciar o fluxo do tráfego, reduzir o congestionamento, fornecer rotas Motor de combustão interna – um motor que transforma o combustível em energia mecânica através da alternativas, melhorar a produtividade, salvar vidas e economizar tempo e dinheiro. combustão dentro de um cilindro. Tanques Criogênicos – tanques projetados para Motor de queima incompleta – motor projetado para operar com uma taxa de ar-combustível muito baixa durante condições de tráfego leve. A maioria dos motores a gasolina são controlados para funcionar a uma taxa quimicamente correta (estequiométrica) (aproximadamente 14.7:1) para permitir que o catalisador de três modalidades opere com alta eficiência, reduzindo as emissões do escapamento. Motores de queima improdutiva misturam o ar ao combustível quando a potência máxima não é necessária, resultando em armazenar líquidos sob temperaturas extremamente baixas (ex., hidrogênio líquido). Telemática – um termo genérico que se refere a tecnologias emergentes em comunicações automotivas, combinando a capacidade de voz e dados à distância para a gestão da informação e aplicações na área de segurança. Essas aplicações incluem sistemas eletrônicos veiculares, telefonia móvel, localização de veículos, navegação on-line, serviços de informação e assistência em emergências. economia de combustível. A taxa ar-combustível nestes motores pode ser tão elevada quanto 22:1. Quando a Trem de força – todos os componentes entre a roda e potência máxima é necessária, como durante a acele- o motor de um veículo automotor. ração ou em subidas, este motor se reverte para uma taxa estequiométrica (14.7:1). Veículo leve rodoviário (VLR) – carros de passeio e outros veículos leves para uso pessoal. No Reino Unido, Motores à ignição por centelha – motores onde a esta categoria inclui carros de 3 e 4 rodas, Land Rovers, ignição do combustível é feita com uma centelha. jipes, microônibus, trailers, casas sobre rodas e vans leves. Nos EUA, esta categoria inclui automóveis de Nafta – um destilado do petróleo incolor e volátil, geral- passeio, picapes, VUEs e minivans até 10.000 libras mente um produto intermediário entre a gasolina e o (4.546 kg) de tara. Não estão incluídos veículos benzeno, usado como solvente, combustível, etc. motorizados de duas e três rodas. Paratrânsito – literalmente “trânsito paralelo”, incluin- Veículos motorizados de 2 e 3 rodas – um veículo do todas as formas de transporte em massa público e de duas ou três rodas movido a algum tipo de motor, particular, desde automóveis particulares ao transporte incluindo motocicletas e lambretas. público convencional. 174 Declaração do Grupo de Garantia Um Grupo de Garantia foi formado para aconselhar o Secretariado do WBCSD sobre a qualidade e integridade tanto da substância quanto do processo do Projeto de Mobilidade Sustentável. Os membros deste Grupo eram: Rt Hon Simon Upton (presidente), Mr. David Ashley, professor John Heywood, professor Peter Jones, professor Suzana Kahn Ribiero e professor Martin Wachs. O Grupo de Garantia também se beneficiou da assessoria do professor Akio Morishima. Declaração do Grupo de Garantia O Grupo de Garantia contribuiu com aconselhamento sobre o processo, o escopo e as conclusões do Projeto de Mobilidade Sustentável para assessorar o Secretariado do WBCSD a monitorar o projeto. Acreditamos que o Projeto beneficiou-se enormemente da contribuição do Dr. George Eads, cuja tarefa foi compilar uma literatura vasta e em rápida expansão, além de trabalhar em estrita colaboração com as empresas participantes. Um projeto que reúne tantos colaboradores chave sempre foi um desafio para aqueles cuja tarefa era encontrar uma visão de consenso. Tendo em mente as inevitáveis restrições de um projeto desta magnitude e complexidade, acreditamos que as empresas deram uma útil contribuição ao debate ora em evolução sobre quais as pressões que o setor de mobilidade impõe às comunidades humanas e ao meio ambiente – em particular o setor de transporte rodoviário – as quais precisam ser compreendidas e, para as quais, soluções potenciais precisam ser encontradas. O Grupo manteve um diálogo aberto e franco com a equipe do Projeto durante todo o seu desenrolar, procurando conscientizar as empresas participantes de quaisquer limitações das abordagens que estas haviam escolhido. Não é, no entanto, um papel do Grupo de Garantia endossar o Relatório Final do projeto ou suas conclusões. O Relatório representa as visões das empresas membros. Dados o conhecimento e a experiência das empresas participantes, não nos surpreendemos que o principal foco do Relatório seja a contribuição das tecnologias veiculares e de combustíveis para um sistema de mobilidade mais sustentável. Outras questões, particularmente aquelas relacionadas à gestão da demanda, receberam menor atenção. Apesar de o Relatório reconhecer os países em desenvolvimento como a principal influência para moldar o futuro da mobilidade, a falta de dados sobre estes países não nos permitiu fornecer mais detalhes sobre os mesmos. Tendo dito isto, acreditamos que o Relatório identifica muitas das questões chave que as sociedades preocupadas com o futuro da mobilidade deverão enfrentar. Se o investimento significativo que o Relatório representa trouxer ao mundo alguma vantagem, os desafios que ele levanta deverão ser abordados com um senso de urgência pelas empresas participantes, pelos setores relacionados, pelos governos e pelo público em geral. 175 Agradecimentos O Grupo de Trabalho Nissan Motor Co. Ltd. Ms. Hiromi Asahi Muitas pessoas contribuíram com o Projeto de Presidente Gerente, Mr. Charles Nicholson Departamento de Planejamento Tecnológico Conselheiro Sênior do Grupo BP Mobilidade Sustentável nos últimos quatro anos, Mr. Atsushi Hatano oferecendo generosamente seu tempo, contribuindo Representantes das empresas membros do Grupo com novas perspectivas e ajudando a redigir este de Trabalho a partir de Junho de 2004 – fixos e Relatório. Ao lado, listamos os indivíduos que repre- temporários sentaram suas empresas no Grupo e Corrente de Departamento de Planejamento Tecnológico Renault Trabalho, assim como os consultores e analistas que nos apoiaram, os membros do Grupo de Garantia e BP os colaboradores do Projeto junto ao Secretariado do Ms. Catherine Winia van Opdorp Relações Externas & Governamentais WBCSD. Além destes, as empresas patrocinadoras Ms. Carol Battershell contaram com a colaboração de especialistas que Diretora, Combustíveis Alternativos fazem parte de seu quadro de pessoal. Estas pessoas Mr. Jean-Marc Lepeu Vice-presidente para Relações Governamentais não estão aqui listadas, mas forneceram informações, Dr. Nick Wilkinson avaliações e seu apoio. Muitos stakeholders também Vice-presidente, Integração de Combustíveis Avançados nos deram conselhos e comentários valiosos durante Shell nossos encontros em oficinas, diálogos e outros fóruns. A todos os que contribuíram – estando seus DaimlerChrysler AG nomes aqui ou não – expressamos nossos sinceros agradecimentos. Mr. Mark Gainsborough Vice-presidente, Combustíveis Dr. Ulrich Müller Diretor, Estratégia Corporativa - Transporte, Meio Dr. Harald Schnieder Ambiente e Estratégia Econômica Gerente, Desenvolvimento de Combustíveis Futuros Mr. Hanns Glatz Assuntos Externos & Questões de Política Publica para a Toyota Europa Mr. Masayuki Sasanouchi Gerente Geral de Projetos, Ford Motor Company Divisão de Assuntos Ambientais Ms. Deborah Zemke Ms. Masayo Hasegawa Diretora, Governança Corporativa Gerente Geral de Projetos, Divisão de Assuntos Ambientais General Motors Mr. Willy Tomboy Gerente Geral, Mr. Lewis Dale Divisão de Assuntos Ambientais, Diretor, Políticas Pùblicas Toyota Motor Europa Honda Motor Co., Ltd. Volkswagen Mr. Takanori Shiina Dr. Horst Minte Engenheiro Chefe Gerente Geral, Estratégias Ambientais Mr. Filip Sergeys Relações e Regulamentações Governamentais, Dr. Stephan Herbst Política de Mobilidade, Estratégias Ambientais e Processos de Negócios Honda Motor Europe Durante os quatro anos do PMS, algumas pessoas que contribuíram para o Projeto como membros do Grupo Hydro de Trabalho transferiram-se para outras atribuições dentro e fora de suas empresas. Dr. Erik Sandvold São elas: Vice-presidente, Chefe da Hydro Aluminium R&D Peter Histon, BP; Mr. Dag Christensen Lee Crugman, GM; Chefe de Estratégias e Políticas, Kristin Zimmerman, GM; Novas Energias Katsunori Kambe, Honda; Per Sandberg, Hydro; Soichuro Uno, Nissan; Michelin Masanobu Wada, Nissan; Tim Ford, Shell; 176 Ms. Patricia Le Gall Armando Patag, Shell; e Gerente Corporativa do Grupo para o Meio Ambiente Hermann Meyer, VW. Uma boa parte do trabalho do PMS foi executada por WS3: Combustíveis Ruth Holling, VW Dirk Kruse, VW dez “correntes de trabalho” (mantendo-se a sigla WS, do original ‘workstreams’, em inglês), cujos participantes e Coordenadores: Mark Gainsborough, Shell & consultores estão abaixo listados: Masayuki Sasanouchi, Toyota Horst Minte, VW Consultores: Christopher Wilks, BP Ms Holly V. Crambeck, Paul C. Killgoar Jr, Ford Jamaica Plain, Massachusetts, USA Gary P. Smith, Ford Dr Ralph Gakenheimer, Norman Brinkman, GM Jamaica Plain, Massachusetts, USA Raj Choudhury, GM Mr Peter Histon, Christine Sloane, GM Farnham, United Kingdom Dave Moorcroft, BP Takanori Shiina, Honda Dr Christopher Zegras, Marijo Cicak, DC Henrik S. Andersen, Hydro Cambridge, Massachusetts, USA Rob Frederick, Ford Knut Solberg, Hydro RAND Europe; Andy Taylor, Ford Leoni Barth, Nissan Berlin, Germany and Leiden, the Netherlands Tony Spalding, GM Yasuo Matsumoto, Nissan RAND USA; Filip Sergeys, Honda Claude Delarue, Renault Arlington, Virginia, USA Johanna Öster, Hydro Rodica Faucon, Renault Jacques Toraille, Michelin Stewart Kempsell, Shell Hiromi Asahi, Nissan Hirohiko Hoshi, Toyota Leoni Barth, Nissan Axel Koenig, VW WS7 Políticas Julien Pagnac, Renault Consultor: Coordenador: Jacques Toraille, Michelin Armando Patag, Shell Frost & Sullivan; Oxford, United Kingdom WS1: Indicadores Coordenador: Per Sandberg, Hydro Catherine Winia van Opdorp, Renault Karen Westley, Shell Nick Wilkinson, BP Manuela Ojan, Toyota Simon Worthington, BP Marijo Cicak, DC Michael Mesterharm, VW WS4: Infraestrucctura Tayce Wakefield, GM Lee Crugman, GM Coordenador: Lewis Dale, GM Filip Sergeys, Honda Per Sandberg, Hydro/WBCSD WS2: Veículos: Reinhard Ball, DC Luc Bastard, Renault Coordenadores: Herman Meyer, VW & Willy Tomboy, Jamie Seguino, Ford Elisabeth Alteköster, VW Toyota Kristin Zimmerman, GM Gilles Lamarque, Renault Consultores: Andrew Armstrong, BP Catherine Winia van Opdorp, Renault RAND Europe; Leiden, the Netherlands Frank Overmeyer, DC Masayo Hasegawa, Toyota Ingmar Ackermann, Ford Naoh Ito, Toyota Karl Fiegenschuh, Ford Shinichi Yamaguchi, Toyota Pim van der Jagt, Ford Axel Riemann, VW Lewis Dale, GM Martina Priebe, ATAG Coordenador: Masanobu Wada, Nissan Thomas Brachmann, Honda Hans Ole Riddervold, Hydro WS8&9 Modelos & Síntese Consultores: Mark Finley, BP Patrice Person, Michelin Leoni Barth, Nissan Battelle; Columbus, Ohio, USA Nick Wilkinson, BP Yasuo Matsumoto, Nissan RAND Europe; Leiden, the Netherlands Johannes Ebner, DC Philippe Bernet, Renault RAND USA ; Arlington, Virginia, USA Ken Hass, Ford Stewart Kempsell, Shell Jamie Seguino, Ford Yutaka Matsumoto, Toyota Lee Crugman, GM Lewis Dale, GM Tokyuuki Takahashi, Toyota Okayama Yutaka, Toyota WS5&6 Demanda Pessoal & de Mercadorias Axel Koenig, VW Per Sandberg, Hydro/WBCSD Filip Sergeys, Honda Stefan Carli, VW Coordenadores: Reinhard Ball, DC & Deborah Zemke, Patricia Le Gall, Michelin Ford & Filip Sergeys, Honda Patrice Person, Michelin Hiromi Asahi, Nissan Carol Battershell, BP Atsushi Hatano, Nissan Consultores: Nick Wilkinson, BP Simone Feitler, Renault FEV Motorentechnik, Aachen, Germany Dieter Schoch, DC Jean Grebert, Renault IKA – Institute for Automotive Engineering, RWTH, Lee Crugman, GM Harald Schnieder, Shell Aachen, Germany Katsunori Kambe, Honda Masayo Hasegawa, Toyota Institut für Verkehrsführung und Fahrzeugsteuerung, Dominique Aimon, Michelin Willy Tomboy, Toyota German Aerospace Center, Braunschweig, Germany Françoise Dalle, Michelin Axel Riemann, VW IVF – Institute for Transport Research, German Aerospace Hiromi Asahi, Nissan Ruth Holling, VW Center, Berlin, Germany Masanobu Wada, Nissan RAND Europe; ; Berlim, Alemanha e Leiden, Países Baixos Simone Feitler, Renault Consultores: VKA – Institute for Combustion Engines, RWTH, Jean Grebert, Renault Dr. Joel P. Clark, Cambridge, Massachusetts, USA Aachen, Germany Harald Schnieder, Shell Dr. Mark Delucchi, Fair Oaks, California, USA Masayo Hasegawa, Toyota Dr. Leonard Evans, Bloomfield Hills, Michigan, USA Manuela Ojan, Toyota Dr. Frank Field, Cambridge, Massachusetts, USA Willy Tomboy, Toyota Dr. Randolph Kirchain, Cambridge, Massachusetts, USA 177 Dr. Matthijs J. Koornstra, Roelofarendsveen, Assessoria de Modelos the Netherlands Dr. Lew Fulton, International Energy Agency, Paris, France Mr. Peter Lukens, Washington D.C., USA Dr. Dinesh Mohan, Indian Institute of Technology, Delhi, India Assessoria ao Relatório Dr. Richard Roth, Cambridge, Massachusetts, USA Dr. Lou Thompson, Chevy Chase, Maryland, USA Editor: Mr. Geetam Tiwari, Indian Institute of Technology, Robin Knight, KnightWrite, London, United Kingdom Delhi, India TNO Automotive; Helmond, the Netherlands Gráficos de Dados: TNO Inro; Delft, the Netherlands Lee Crugman and Miguel Cano, Design Union, Chicago, Illinois, USA Design do Relatório: WS10a Workshops Ed Bugg, Seven, London, UK Coordenador: Mark Gainsborough, Shelll Grupo de Garantia WS10b Cenários Coordenadores: Deborah Zemke, Ford & Presidente: Rt Hon Simon Upton, Mesa Redonda da Armando Patag, Shell & Harald Schnieder, Shell OCDE sobre Desenvolvimento Sustentável, Paris, França Mr. David Ashley, Sinclair, Knight, Merz Pty Ltd, Carol Battershell, BP Armadale, Victoria, Austrália Nick Wilkinson, BP Professor John Heywood, Massachusetts Institute of Reinhard Ball, DC Technology, Massachusetts, EUA Ichiro Sugioka, Ford Professor Peter Jones, University of Westminister, Lewis Dale, GM Londres, Reino Unido Christine Sloane, GM Professora Suzana Kahn Ribiero, COPPE/UFRJ, Rio de Yoshihiko Kimura, Honda Janeiro, Brasil Dag Christensen, Hydro Professor Martin Wachs, University of California, Berkeley, Per Sandberg, Hydro/WBCSD California, EUA Patricia Le Gall, Michelin Professor Akio Morishima, Institute for Global Soichiro Uno, Nissan Environmental Strategies, Tóquio, Japão Catherine Winia van Opdorp, Renault Mark Gainsborough, Shell Shigekazu Kato, Toyota Masayo Hasegawa, Toyota Colaboradores do Projeto junto ao Secretariado Willy Tomboy, Toyota do WBCSD Hermann Meyer, VW Horst Minte, VW Per Sandberg, Diretor do Projeto, a partir de fevereiro de 2004. Antes disso, assessorou os WSs. Consultores: Tony Spalding, Gerente de Comunicações, a partir de GBN – Global Business Network; Emeryville, California, USA dezembro de 2003 Claudia Schweizer, Gerente de Projeto Mia Bureau, Assistente de Projeto Membros das Comunicações Peter Histon, Assessoria aos WSs, a partir de julho de 2002 Coordenador: Lewis Dale, GM Michael Koss, Diretor Assistente do Projeto, até janeiro de 2004 Nick Wilkinson, BP Kristian Pladsen, Gerente de Comunicações, até agosto Wolfgang Scheunemann, DC de 2003 Deborah Zemke, Ford Arve Thorvik, Diretor do Projeto, até janeiro de 2003 Christopher Preuss, GM John Rae, Diretor do Projeto, até janeiro de 2001 Natsuno Asanuma, Honda (falecido) Osamu Kuroiwa, Honda Patrice Cochin, Michelin Kohki Sone, Nissan Pierre Zigmant, Renault Masayo Hasegawa, Toyota Shigeru Hayakawa, Toyota Tetsuo Kitagawa, Toyota Thomas Mickeleit, VW Consultor Dr. George C. Eads, Charles River Associates, Washington D.C., USA 178 CONTATOS NO WBCSD: Diretor do Projeto: Per Sandberg, [email protected] Gerente de Comunicações: Tony Spalding, [email protected] Coordenadora do Projeto: Claudia Schweizer, [email protected] CONTATO JUNTO AO CONSULTOR SÊNIOR: George Eads, Charles Rivers Associates, [email protected] CONTATOS JUNTO ÀS EMPRESAS MEMBROS O WBCSD O Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD, sigla do original em inglês) é uma coalizão de 170 empresas internacionais unidas pelo mesmo compromisso para com o desenvolvimento sustentável a partir de três pilares: crescimento econômico, equilíbrio ecológico e progresso social. Nossos afiliados provêm de mais de 35 países e 30 dos principais setores industriais. Reunimos também uma Rede Global de 50 conselhos empresariais regionais e nacionais e parceiros, envolvendo aproximadamente 1.000 líderes empresariais em todo o mundo. Nossa missão Exercer uma liderança empresarial que represente um catalisador de mudanças em direção ao desenvolvimento sustentável e promover a ecoeficiência, inovação e responsabilidade social Charles Nicholson, [email protected] corporativa. Nossas metas A partir dessa missão, nossos objetivos e estratégias incluem: Ulrich Müller, [email protected] Liderança empresarial > advogar a liderança empresarial nas questões ligadas ao desenvolvimento sustentável. Deborah Zemke, [email protected] Elaboração de políticas > participar da elaboração de políticas de modo a criar uma plataforma que permita às empresas contribuir efetivamente para o desenvolvimento sustentável. Lewis Dale, [email protected] Melhores práticas > demonstrar o progresso das empresas em gestão ambiental e responsabilidade social corporativa e compartilhar práticas de excelência com nossos afiliados. Takanori Shiina, [email protected] Alcance Global > contribuir para um futuro sustentável para os países em desenvolvimento e em transição. O que é o Projeto de Mobilidade Sustentável Erik Sandvold, [email protected] Patricia Le Gall, [email protected] O Projeto de Mobilidade Sustentável do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (http://www.wbcsd.org) é liderado por empresas membros e promove uma visão global da mobilidade sustentável de pessoas, produtos e serviços no transporte rodoviário. O projeto explora caminhos possíveis para a mobilidade sustentável que envolverão questões ambientais e econômicas, uma vez que a sociedade esteja preparada a reconhecer estas questões e agir em consonância com as mesmas. Declaração de Responsabilidade Hiromi Asahi, [email protected] Catherine Winia van Opdorp, [email protected] Mark Gainsborough, [email protected] Masayo Hasegawa, [email protected] Horst Minte, [email protected] Mobilidade 2030 é fruto do trabalho colaborativo de executivos de 12 empresas afiliadas ao Projeto de Mobilidade Sustentável, projeto este patrocinado pelo WBCSD e apoiado por seu secretariado por ser uma iniciativa liderada pelos afiliados. Como outros projetos do WBCSD, contou com intensa participação de stakeholders em diversos locais do mundo. Preparado com a assistência de Charles River Associates e diversos outros consultores, este relatório foi revisado por todos os membros do projeto para garantir o amplo consenso sobre suas principais visões e perspectivas. Apesar do alto nível de consenso atingido, não necessariamente cada empresa membro endossará ou concordará com todas as afirmações aqui expressas. Pedidos de publicações: WBCSD c/o SMI (distribution services) Ltd P.O. Box 119, Stevenage SG1 4TP, Hertfordshire, England Telephone: + 44 1438 748 111, Fax: +44 1438 748 844 E-mail: [email protected] ou através do website: http://www.earthprint.com O original em inglês desta publicação está disponível online no website do WBCSD: http://www.wbcsd.org/web/mobilitypubs.htm Impresso por Seven, Inglaterra, em papel não clorado. ISBN: 2-940240-57-4 4, chemin de Conches CH - 1231 Conches-Geneva Switzerland Tel: (41 22) 839 31 00 Fax: (41 22) 839 31 31 E-mail: Web: [email protected] www.wbcsd.org