CASO CLÍNICO Coarctação da aorta sepse-like Internato em Pediatria – HRAS Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS)/SES/DF Apresentação: Marcela Franco Furiatti Nathália Caetano Lobo Coordenação: Sueli R. Falcão www.paulomargotto.com.br Brasília, 21de abril de 2012 Brasília, aos 52 anos! Identificação • RN com 9 dias de vida, natural e procedente de Santa Maria – DF • DN: 15/12/2011 • Informante – Mãe Queixa Principal • “Cansaço e gemência há 1 dia” História da Doença Atual • Acompanhante relata que há 1 dia o recémnascido (RN) não consegue sugar o seio materno, iniciou quadro de dispnéia, gemência e sonolência. Ficou “molinho”. Nega cianose. Nega febre, diarréia, vômitos ou outros sintomas. Antecedentes perinatais • • • • • Mãe sem o cartão da criança Mãe G2P2A0 Nascido de parto normal IG: 40 semanas. Peso: 3056g. Apgar: 8 e 9. Mãe fez 9 consultas de pré-natal, iniciou no 1º trimestre. Nega infecções ou uso de medicamentos na gestação • Relata que teve eclâmpsia e ficou internada por 5 dias após o parto Antecedentes Familiares • • • • Mãe tem 26 anos. Teve febre reumática. Pai tem 29 anos. Hígido. Irmã tem 7 anos. Hígida. Avô materno tem cardiopatia especificada. Demais avos hígidos. não Condições Socioeconômicas: • Mora com pai, mãe e irmã em casa de 5 cômodos, em área urbana, porém sem asfalto, com água encanada, fossa séptica. • Sem animais domésticos. • Mãe é operadora de caixa e pai é gerente comercial. Exame físico no PS • • • • RN hipoativo, gemente, taquidispneico. AR: Com esforço respiratório. FR= 80irpm. Sat O2=92% em AA. Extremidades mal perfundidas. Hipótese Diagnóstica • Sepse tardia? Conduta • Punção lombar e exames laboratoriais • Iniciado antibioticoterapia com amicacina e cefepime • Solicitado vaga em UTI neonatal Resultados de Exames • Hb: 13,5 • Leucócitos: 13.500 com 4% de bastões e 30 % de segmentados • Plaquetas: 353.000 • PCR: 0,04 (Normal para os valores do Hospital) • Glicose: 82 • Ca: 93 • Líquor: normal Interpretação do Leucograma RN com 9 dias de vida (360 horas) Imaturos:4% (4 x13500/100=540) NORMAL Alterado:>600/mm3 Relação I/T (I/Total de neutrófilos) 4/34=0,12 NORMAL Alterado:>0,12 Total de neutrófilos:34% (34 x 13500/100=4590) NORMAL Manroe et al, 1979 Exame físico na UTI neonatal • RN hipoativo, pálido, hidratado, afebril, acianótico, anictérico, taquidispneico, taquicárdico. • AR: Presença de tiragem subcostal e de fúrcula esternal. MV presente com estertores e sibilos difusos. FR = 80irpm. SatO2 em AA: 92%. • ACV: Pulsos assimétricos, sendo mais amplos em MMSS. Precórdio calmo, sem frêmitos. RCR em 3T, B2 hiperfonética, presença de B4 com ritmo de galope, sopro holossistólico 3+/6+ em foco mitral com irradiação para axila. PA = 230X80 mmHg. Gradiente de PA > 50 mmHg. • Abdome: Semi-globoso, peristáltico, depressível, com fígado palpável a 4 cm do RCD. • Extremidades mal perfundidas. • Não foi observada diurese desde a admissão no PS. Hipóteses Diagnósticas • Sepse neonatal? • Cardiopatia congênita? Conduta • Intubação • Radiografia de ecocardiograma tórax, eletrocardiograma, Prescrição • • • • • • • • • Amicacina Gentamicina Midazolam Fentanil Prostin Nitroprussiato Furosemida Espironolactona Dobutamina Ecocardiograma • Coarctação de aorta com importante repercussão hemodinâmica, gradiente de 80 mmHg, localizada após a emergência da artéria subclávia esquerda e com diâmetro interno de 1,7 mm, sendo a aorta 5,1 mm • Estenose valvar aórtica de grau discreto com pico de 29 mmHg. • Disfunção diastólica de VE • Forame oval pérvio • Hipertensão arterial pulmonar de grau discreto com pressão sistólica de 43 mmHg • Canal arterial pérvio e presença de pequena colateral sistêmico-pulmonar da aorta descendente para a artéria pulmonar Conduta • Solicitado vaga na Unidade de Cirurgia Cardíaca • Posteriormente realizado istmoplastia aórtica término-terminal, permanecendo ao ecocardiograma no pós-operatório com disfunção sistólica discreta biventricular Evolução • Após recuperação pós-cirúrgica e alta da UTI Pediátrica, o paciente foi transferido para a Ala A para desmame da sedoanalgesia • Recebeu alta no dia 26/03/12, já aos 3 meses de vida, em boas condições clínicas e em uso de captopril, furosemida e espironolactona Discussão Coarctação de Aorta Coarctação de Aorta • Consiste tipicamente em um estreitamento na aorta torácica distal à artéria subclávia esquerda • Pode ser em posição proximal à artéria subclávia e raramente em aorta abdominal Coarctação de Aorta • 6 a 8% de todas cardiopatias congênitas • 2 a 5 vezes mais freqüente em meninos • A prevalência é maior em alguns distúrbios como Síndrome de Turner • Associa-se com aneurisma intracerebral Coarctação de Aorta Congênita • Subdesenvolvimento do arco aórtico devido redução do fluxo intra uterino • Constrição se processa além do tecido ductal • Defeito primário na parede vascular da aorta ascendente • A anormalidade intrínseca na parede da aorta predispõe à dissecção ou ruptura na aorta ascendente ou na área da coarctação • Os mecanismos dessas alterações são desconhecidos Adquirida • Doenças inflamatórias da aorta, tais como arterite de Takayasu • Raramente, aterosclerose grave Coarctação de Aorta • O local habitual é justaductal, distalmente à artéria subclávia esquerda • Menos freqüentemente, a constrição ocorre proximal à artéria subclávia esquerda • Durante o período neonatal, quando o ductus arteriosus (DA) e o forame oval fecham, todo o débito cardíaco para a extremidade inferior deve cruzar o segmento da aorta que se estreitou Coarctação de Aorta • Principal manifestação é uma diferença na pressão arterial sistólica entre as extremidades superiores e inferiores • Os achados clássicos são a hipertensão nas extremidades superiores, pulsos diminuídos • Pulsos femorais atrasados (atraso braquialfemoral) e pressão arterial baixa ou indetectável nos membros inferiores • A obstrução mecânica ao fluxo é o grande responsável pela elevação da pressão arterial nas extremidades superiores Coarctação de Aorta • Hipoperfusão renal leva a secreção de renina e consequentemente o volume vascular • O local de origem da artéria subclávia esquerda e a gravidade da coarctação determinarão o padrão dos resultados da pressão arterial e de pulso • Na maioria, a origem da artéria subclávia esquerda é proximal à coarctação, resultando em hipertensão em ambos os braços • Menos freqüentemente, é distal à coarctação, assim que o pulso braquial esquerda é diminuído e igual ao pulso femoral • em 3 a 4 % dos casos, ambos os das artérias subclávias direita e esquerda originam abaixo da área de coarctação, resultando nas pressões arteriais e pulsos igualmente diminuídos em todas as quatro extremidades. • Em coarctação leve da aorta, todos os pulsos podem ser facilmente palpáveis, mas pode haver um atraso no pulso femoral em comparação com o pulso braquial Coarctação de Aorta • Variações em diferentes faixas etárias sendo mascarada pela persistência de um ducto arterioso patente • Recém-nascido - pode permanecer assintomático se o DA for patente, ou se a coarctação é leve • No exame físico, um pulso femoral ausente ou retardado é de diagnóstico • Um sopro pode ser associado a outros defeitos cardíacos, tais como ducto arterioso patente, estenose aórtica ou defeito do septo ventricular • Um clique sistólico pode ser ouvido devido a uma válvula aórtica bicúspide • Cianose diferencial pode ser vista em um recém-nascido com coarctação grave • Insuficiência cardíaca e / ou choque • Estas crianças são pálidas, apresentam irritatabiliade, sudorese, dispnéia e ausência de pulsos femorais, muitas vezes hepatomegalia Coarctação de Aorta • Frequência aumentada de aneurismas intracranianos • Endocardite infecciosa é rara em coarctação e o risco é praticamente eliminado por correção cirúrgica com sucesso • A hipertensão arterial sistêmica, doença arterial coronária acelerada, dissecção de aorta, derrame, e insuficiência cardíaca são complicações comuns em pacientes que não tiveram a cirurgia ou foram operados tardiamente • Causas de morte incluem insuficiência cardíaca, ruptura da aorta, dissecção aórtica, endocardite, endarterite, hemorragia intracerebral e infarto do miocárdio Coarctação de Aorta • Diagnóstico: • È geralmente estabelecido com métodos não-invasivos, como ressonância magnética e / ou ecocardiograma • Pré-natal – difícil • A presença de um coarctação discreta no útero é difícil de ser detectada, devido ao fluxo de sangue através do canal arterial • A presença de um longo segmento coarctação ou outros achados cardíacos (ventrículo esquerdo pequeno, por exemplo, pequeno anel mitral ou dilatação do ventrículo direito) podem sugerir a doença Coarctação de Aorta • O eletrocardiograma (ECG) varia com a idade e a gravidade da coarctação • Pode ser normal, em coarctação grave pode exibir hipertrofia ventricular direita pura • Em crianças mais velhas e adultos, pode ser normal ou mostrar hipertrofia ventricular esquerda, com aumento da voltagem e do intervalo ST e alterações da onda T nas derivações precordiais esquerdas • Ocasionalmente pode mostrar atraso na condução do ventrículo direito Coarctação de Aorta • A radiografia do tórax - varia com a idade e a gravidade da coarctação • Em crianças com insuficiência cardíaca, a radiografia de tórax mostra cardiomegalia generalizada com o aumento da trama vascular pulmonar • Ecocardiografia Coarctação de Aorta • Em crianças com coarctação, a ecocardiografia, muitas vezes é adequado para o cirurgião ou cardiologista sem a necessidade de um estudo de imagem adicional • O cateterismo cardíaco - Dada a precisão dos métodos nãoinvasivos para o diagnóstico e determinação da severidade, a principal indicação atual para cateterismo cardíaco para uma coarctação isolada da aorta em crianças é de intervenção terapêutica Referência Clinical manifestations and diagnosis of coarctation of the aorta. Literature review current through:Fev 2012.This topic last updated: Dez 21, 2011 Brojendra N Agarwala, MD Emile Bacha, MD, FACS Qi Ling Cao, MD Ziyad M Hijazi, MD, MPH, FAAP, FACC, FSCAI, FAHA Nota do Editor do site www.paulomargotto.com.br, Dr. Paulo R. Margotto SEPSE-LIKE/DOENÇA METABÓLICA-LIKE • A coarctação da aorta pode se manifestar de várias formas • No cenário clínico de choque neonatal, diagnósticos importantes a serem considerados incluem coarctação grave, miocardiopatia dilatada, sepse e alterações metabólicas • O diagnóstico diferencial é particularmente difícil durante o período neonatal, especialmente nos recém-nascidos (RN) que apresentam condições que “parecem com”: -Sepse-like -Doença metabólica-like Consultem: Falência de múltiplos órgãos devido à coarctação da aorta: manuseio e evolução de cinco recém-nascidos Autor(es): Kürsad Tokel, Birgül Varan, Arda Saygili, Aylin Tarcan, BerkanGürakan, Sükrü Mercan. Realizado por Paulo R. Margotto Tokel K, 2002 • O quadro clínico observado nos pacientes relatados no presente estudo não é uma apresentação comum de coarctação da aorta e o médico deve ter um alto índice de suspeita para diferenciar esta condição de sepse ou doença metabólica. Como evidenciado nos 5 casos, a presença de pulsos femorais nem sempre é útil para afastar o diagnóstico por causa da possível patência do ductus arteriosus. • Patência ductal em uma criança com coarctação da aorta pode impedir expressão aberta de sintomas clínicos • A infusão de prostaglandina E1 para manter o ductus arteriosus patente patente é uma parte essencial do tratamento do paciente antes que o choque ocorra. • O fechamento do ductus arteriosus, que ocorre em 3 a 5 dias de idade, muitas vezes é o fator precipitante de descompensação cardiopulmonar neste grupo etário Tokel K, 2002 CONCLUSÃO A coarctação da aorta que se manifesta no período neonatal apresenta desafios tanto para o neonatologista como o cardiologista pediátrico. Este diagnóstico deve ser considerado para todos os recém-nascidos que apresentam com acidose, insuficiência cardíaca congestiva, deficiente perfusão ou choque, falência de múltiplos órgãos e condição que se assemelha a sepse, apesar pressão sanguínea normal e fortes pulsos femorais. Correção imediata da acidose, balanço hídrico, diátese hemorrágica e intervenção precoce para eliminar a obstrução podem salvar a vida do paciente. A condição clínica da criança com coarctação no momento do exame inicial é um determinante importante de morbidade e mortalidade; assim,o diagnóstico precoce é essencial Tokel K, 2002 Consultem também: COARTAÇÃO Distúrbios cardiológicos Autor(es): Elysio Moraes Garcia Monografia-2008 (APRESENTAÇÃO):Coarctação da aorta: relato de caso clínico Autor(es): Juliana Palis Horta da Silva Monografia-2008: Coartação da aorta: relato de caso clínico Autor(es): Juliana Palis Horta da Silva Angio-ressonância de aorta torácica Dr. Paulo R. Margotto e Ddas Nathalia Caetano, Marcela Furiatti e Yume Lais