Crédito: Incumprimento sobe 75% nas empresas LUCÍLIA TIAGO O malparado no crédito concedido às empresas teve em Fevereiro uma subida homóloga de 75,7%. Este agravamento foi essencialmente determinado pelo incumprimento nos sectores da construção e imobiliário. O crédito às empresas continuou a aumentar em Fevereiro, tendo o saldo total destes empréstimos atingido 116,2 mil milhões de euros, o que significa uma subida de 12% face a igual mês de 2008, mas denota um abrandamento. Os últimos dados do Boletim Estatístico do Banco de Portugal, ontem divulgado, mostram também que há três mil milhões de euros de crédito classificado como sendo de cobrança duvidosa. Este valor não tem paralelo nos últimos anos. Mesmo se a comparação for feita apenas em termos mensais, há uma subida de 11,5% no malparado das empresas. Por sectores, constata-se que é na construção e nas actividades imobiliárias que o crédito em mora há mais de 90 dias mais subiu, sendo que neste segundo caso mais do que duplicou. A crise económica e o aumento do desemprego está também a ter efeito na capacidade dos particulares para pagar os seus empréstimos. O saldo total destes créditos ascendeu em Fevereiro a 132,6 mil milhões de euros, o que pressupõe uma subida homóloga de 2,9%, mas o malparado registou um acréscimo de 32,3%, indicador que sobe para os 51,3% se se tiver em conta apenas o incumprimento no segmento do crédito ao consumo. Em termos globais, o peso da cobrança duvidosa no total do crédito concedido aumentou naquele mês para 2,39%. Nos empréstimos para a habitação, este indicador pesa 1,59%. Estes níveis não fazem soar campainhas de alarme - o governador do BdP, Vítor Constâncio, referiu recentemente que são inferiores à média europeia e bastante mais baixos do que os registados na década de 90 -, mas evidenciam uma subida constante, pelo menos, desde Dezembro de 2007. Além de uma maior dificuldade em ter em dia as prestações dos créditos, empresas e particulares têm também mais dificuldade em conseguir contrair novos empréstimos - seja porque as restrições aumentaram, seja porque os custos (spreads principalmente) estão mais elevados. Em tempos de recessão, há também tendência para a taxa de poupança aumentar. No contexto actual, tendo em conta que a crise começou por ser financeira, o reforço da poupança é acompanhado por uma maior procura por produtos financeiros considerados mais seguros, como os depósitos a prazo. Prova disso é o facto de os bancos terem, em Fevereiro, registo de um montante total de depósitos na ordem dos 116,6 mil milhões de euros. Em apenas um mês, os portugueses depositaram 615 milhões de euros.