UNIDADE LETIVA 2 | ANEXO 1
HISTÓRIAS COM GENTE DENTRO
REFUGIADOS
À procura da paz
Testemunho de Ibraim (nome fictício)
O meu nome é Ibraim, sou natural de um país africano, tenho 25 anos, e estou alojado no Centro Pedro Arrupe
do Serviço Jesuíta aos Refugiados desde o dia 27 de Maio de 2009. Encontro-me em Portugal desde Fevereiro
de 2009, pois, no meu país fui alvo de um ataque que me deixou ferido na perna direita e na cabeça.
Nessa ocasião, o meu pai foi morto, julgo que, em virtude de poder vir a ser nomeado o novo chefe da
tribo. Os seus rivais queriam eliminá-lo, a ele, e a mim, por ser o seu sucessor. Cheguei a Portugal à procura
da paz e segurança que não conseguia no meu país. Cheguei num barco, e sem documentos, a este país
muito diferente do meu e com uma língua estranha.
Tive conhecimento, quando já estava em Portugal, de que os atacantes tinham incendiado uma parte da
minha casa. A minha mãe pede-me para não voltar, pois, teme pela minha segurança e da minha família. Pedi
asilo a Portugal em Fevereiro de 2009. Mas, infelizmente, o meu pedido não foi admitido por falta de provas.
Apesar de me terem explicado que podia recorrer judicialmente da decisão e que estava autorizado
a permanecer em Portugal enquanto aguardava resposta, deixei de poder permanecer no Centro para
Refugiados onde me encontrava alojado. A 1 de Junho de 2009 apresentei o meu recurso no Tribunal
Administrativo de Lisboa. E, apesar de lei prever um prazo de decisão rápido (apenas oito dias), há mais de
meio ano que aguardo uma resposta…
Durante todo este tempo, a lei não me autoriza a trabalhar, nem prevê qualquer solução alternativa que me
possibilite assegurar a minha subsistência e alojamento. Fiquei assim destituído. Se pudesse trabalhar poderia
ser autónomo. Sou jovem e sinto-me com força para o fazer. Sem ter para onde ir e com um futuro incerto, senti
novamente medo e insegurança. Estive em alguns centros de acolhimento e também na rua, sem-abrigo. (…).
Os contactos para o meu país natal têm que ser feito com muito cuidado, para não denunciar a minha
situação nem colocar a minha família em perigo. (…).
Como não posso voltar para ao meu país natal, Portugal é agora o meu país, a minha nova casa, o sítio
onde desejo viver e construir uma nova vida. (…).
10 de Dezembro de 2009
Fonte: JRS Portugal (Serviço Jesuíta aos Refugiados) - http://goo.gl/aY4cj
Síria: centenas de milhares de pessoas refugiadas e em fuga
enfrentam um inverno rigoroso
As constantes violações dos direitos humanos pelos beligerantes fizeram com que mais de meio milhão de
pessoas tomassem a difícil decisão de deixar tudo para trás, arriscando as suas vidas ao fugirem para
países vizinhos - Jordânia, Turquia, Iraque, Líbano e Egito.
Para as pessoas que fogem nunca é bom o momento. Zaina, de 24 anos, resistiu durante mais de um ano,
na sua cidade natal de Homs, até que 10 vizinhos foram mortos num ataque de helicanhão. Na época, ela
estava grávida de nove meses e decidiu que já lhe chegava. Juntamente com a sua irmã e uma cunhada
deixaram Homs, mas não chegaram muito longe. Antes de atingirem a fronteira, Zaina deu à luz na sua
pequena tenda, ajudada pelos familiares e por outros companheiros de fuga.
A viagem da fuga comporta muitos perigos. Os refugiados que chegam ao vizinho Líbano relatam que são
repelidos com tiros, acossados em postos de controlo ou forçados a caminhar muitas horas durante a noite
através das montanhas rochosas. A maioria dos fugitivos são mulheres e crianças porque os homens morreram
ou estão a combater.
As mães relatam como é difícil viajarem sozinhas com as crianças porque elas não podem ficar sem comida
ou água e não podem caminhar longas distâncias. Há um esforço contínuo para as manter serenas para
que não chorem e chamem a atenção das patrulhas de fronteira. Mesmo a salvo no Líbano, muitas destas
pessoas correm aterrorizadas para os abrigos quando ouvem barulho de aviões.
As organizações humanitárias internacionais para além de providenciarem alimentação, abrigo, educação
e assistência médica, prestam também apoio psicológico para ajudar estas pessoas a superar traumas,
dado que, para além dos mazelas da fuga, são vítimas de stress devido à perda de familiares e amigos, à
preocupação por aqueles que deixaram para trás e à incerteza sobre o seu futuro.
Atualmente há mais de 550.000 refugiados na região, distribuindo-se, principalmente, pelos seguintes países:
Líbano - 150.000, Jordânia - 150.000, Turquia - 141.000, Iraque - 66.000 e Egito - 11.000.
Fonte: Conselho Português para os Refugiados
http://www.cpr.pt/
IMIGRAÇÃO
Da Guiné para Portugal, pela educação dos filhos: Sari, mãe coragem
Chegou a Portugal em 2010 para dar aos três filhos a oportunidade de estudar, numa altura em que a
instabilidade política e social na Guiné-Bissau começava a alastrar.
“As crianças já não iam à escola porque havia muitas greves. Então, o meu marido disse-me: “Sari, nós não
temos nada. Devemos fazer alguma coisa para que os nossos filhos recebam educação. Sem isso, que
homens e mulheres serão eles no futuro?”. Perante esta interpelação, os pais decidiram arriscar um projeto de
vida fora do país, enviando Sari com os três filhos rumo a Portugal.
A família aterrou no aeroporto da Portela era o dia 7 de Setembro de 2010. Eugénio, o mais novo, completara
então 4 anos – “Chegou a Portugal com paludismo. Estava pele e osso, fiquei muito preocupada com ele”,
recorda Sari. Mirkia tinha 8 anos e Laurindo 9. Para viabilizar os bilhetes de avião, Vinício, o marido de Sari,
que se formou em Jornalismo na Rússia, e trabalha para a UNICEF na Guiné-Bissau, recorreu na altura ao
crédito bancário. “Só acabámos de pagar o empréstimo há muito pouco tempo”, conta Sari.
Chegada a Lisboa, a família ficou alojada num quarto em casa da cunhada de Sari, e esta logo encontrou
trabalho. Com o dinheiro que recebia, Sari custeava as despesas da casa e garantia a alimentação da
família alargada. “A minha cunhada contribuía com a renda”.
Entretanto, Sari recebeu a notícia de que estava grávida – “Cheguei a Portugal grávida de três semanas,
sem o saber” – e o desafio de integração em Portugal ganhou novos contornos. “No final do tempo já não
podia trabalhar nas limpezas, e o meu patrão não me renovou o contrato”.
Sem trabalho, Sari perdeu o meio de subsistência, ao mesmo tempo que, da Guiné-Bissau, chegava a triste
notícia de que a sua mãe tinha falecido, aos 49 anos, de doença súbita. A pequena Vanessa nasceu numa
altura difícil. O ambiente em casa da cunhada degradava-se e Sari estava num impasse.
“Não podia trabalhar porque não tinha dinheiro para deixar a minha filha numa creche, e sem trabalho não
tinha como alimentar os meus filhos nem encontrar um lugar onde viver. Em casa da minha cunhada, dormíamos
os cinco no mesmo quarto. Às vezes, passava a noite acordada, sentada a olhar para os meus filhos”.
Fonte: JRS Portugal (Serviço Jesuíta aos Refugiados) - http://goo.gl/qfM2m
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