Saberes conquistados durante o Projeto Aceleração da Aprendizagem:
relato de experiência das práticas pedagógicas realizadas na Emef
Zeferino Batista Fiorot, no período de 2014 a 2015
Por Charlene Sfalsim Teixeira
IDENTIFICAÇÃO DA ESCOLA:
A escola EMEF Zeferino Batista Fiorot, criada pela Portaria 0012/84, está localizada à
Avenida Ademar Luiz Pianna, s/nº, no bairro, Santa Cruz, município de Linhares,
estado do Espírito Santo.
IDENTIFICAÇÃO DO PROFESSOR:
Charlene Sfalsim Teixeira é formada pela Faculdade Sagrado Coração –
UNILINHARES, desde 2004 em Letras com licenciatura plena em Língua Portuguesa
e Inglesa; em 2007 obteve o título de Licenciada Plena em Pedagogia. É professora
da EMEF Zeferino Batista Fiorot desde o ano de 2013, quando assumiu o concurso de
professora de anos iniciais e do Ensino Fundamental do 1º ao 5º ano. Desde o ano de
2014 leciona no projeto Aceleração da Aprendizagem.
OBJETIVO:
Este relato tem por objetivo apresentar as práticas pedagógicas que foram
desenvolvidas, por mim, na Emef Zeferino Batista Fiorot, no período de agosto de
2014 até novembro de 2015, para que os alunos obtivessem aprendizagem e avanço
escolar.
DESCRIÇÃO DA PROPOSTA DE TRABALHO:
O primeiro passo da minha prática pedagógica foi me convencer de que aqueles
alunos, que já tinham tantas vezes sido reprovados, eram capazes de aprender. Deixei
de lado os rótulos e todas as expectativas desfavoráveis, partir da ideia de que o fato
de terem sido reprovados, não significava que não eram capazes de aprender, e, além
disso, existem muitas condições sociais e de infraestrutura que estão além do aluno, e
contribuem grandemente para o fracasso da aprendizagem. Deixei todas as ideias já
preconcebidas e assumi o compromisso com a aprendizagem desses alunos
multirrepetentes. Entendi, durante os encontros de formação, no dia a dia da sala de
aula e por meio de muita leitura, que para que esses alunos fossem capazes de
aprender era indispensável assegurar-lhes a autoconfiança, era preciso que eles
voltassem a acreditar neles mesmos, na capacidade que tinham de aprender.
Dessa forma, foi preciso estudar muito os livros disponibilizados para a prática docente
pelo Projeto Aceleração da Aprendizagem, entender que a proposta exigia que se
organizasse um ambiente escolar desafiador para esses alunos, que estimulasse a
curiosidade, a vontade de estar ali e participar de tudo que fosse proposto, e, além
disso, era preciso ter muito cuidado para que as metodologias das aulas não
estivessem alheias ao discurso do professor, do jeito de falar, de olhar, de mostrar os
erros, era preciso também, além de organizar o espaço escolar, aprender novos
métodos de ensino, de intervenções, repensar a forma de abordar o erro e tentar
eliminar os gestos reprovadores.
Tendo em vista essas premissas, eu me vi em um novo contexto escolar, no qual era
preciso organizar muito bem o tempo das aulas, seguir todas as orientações
metodológicas que estavam contidas nos materiais disponibilizados para o projeto, na
hora de planejar as disciplinas, e também, era preciso criar um espaço físico acolhedor
e que motivasse e mostrasse outros caminhos para aprender, com foco no
desenvolvimento da autonomia de estudo.
Imediatamente organizei a rotina das aulas, mesmo a turma não sendo muito
heterogênea, mostrei que, em alguns momentos, a sala estaria organizada no formato
da letra U para trabalharmos coletivamente, em outras atividades eles se organizariam
em duplas produtivas e, ainda, seria necessária a prática individual. Procurei me
assegurar de quem tinha clareza do que eu pretendia com aquela rotina e fui
dedicando mais tempo àqueles que não haviam ainda a compreendido bem.
Passada essa etapa, pouco a pouco, fui construindo junto com os alunos os cantinhos
da Matemática e da Leitura e dando a eles um formato agradável, estimulador,
desafiador, no qual, todas as crianças tivessem vontade de participar e ficar alguns
momentos. E para minha felicidade, esses cantinhos funcionaram muito bem.
Os alunos desenvolveram a autonomia de estudos, entenderam a organização das
aulas, viram que após o término da tarefa, podiam aproveitar desses espaços até que
os outros colegas concluíssem as atividades dentro do tempo proposto.
No cantinho da leitura, os alunos aprenderam a gostar de ler, gostaram de levar livros
para casa, de compartilhar com a família as leituras. Era muito bom ouvir que
realizaram a leitura para alguém da família, ou muitas vezes, perceber a indicação que
faziam do livro a um colega, apontando os prazeres daquela leitura.
O cantinho da matemática foi ficando cada vez mais interessante e desafiador, pois,
muitos jogos foram confeccionados durante o desenvolvimento das tarefas dos
módulos propostos. Pude presenciar alunos que eram tímidos e começaram a se
soltar para participar dos jogos, esses mesmos entenderam que eram capazes de
realizarem operações matemáticas, de uma forma diferente daquela dos algoritmos
tradicionais e começaram a se interessar mais pelas aulas e consequentemente,
começaram a aprender. Os jogos auxiliaram muito na criação de um clima respeitoso,
no qual todos eram estimulados a vencer os obstáculos e tendo, assim, seus
progressos valorizados.
Os alunos, com o passar do tempo, foram se sentindo confiantes e confortáveis com
as aulas, pois, as atividades propostas pelo material favoreciam as interações e
estimulavam a participação de todos, pois sempre partiam da realidade dos alunos,
investigando o que já sabiam a respeito do que ia ser estudado, em seguida
problematizava com base no que os alunos sabiam, depois apresentava diferentes
desafios para que eles conseguissem aliar esses dois campos, o novo e o que já era
sabido e assim, transformar e sistematizar o conhecimento.
E hoje, celebro os resultados alcançados durante esse período de 16 meses, que só
foi atingido porque houve todo um suporte metodológico e pedagógico por trás de
minha prática docente. Sinto-me feliz e extremamente emocionada, por ter, de forma
tão clara e mensurável, os resultados desse trabalho, que foi de muito estudo, esforço
e dedicação.
Dos nove alunos que concluirão o projeto, todos tiveram crescimento em suas
aprendizagens e são capazes de percebê-las por meio dos portfólios, instrumento de
avaliação que se tornou indispensável para minha prática docente, independente da
turma em que ministrar aulas. Por meio dele é possível emitir sínteses e pareceres
levando em consideração os resultados conseguidos ao longo do período letivo, é
possível ter a visão do crescimento de cada aluno e cada aluno vê o crescimento do
grupo como um todo, o que gera uma sinergia que estimula a cooperação e a
solidariedade.
Para comprovar o quanto este instrumento é indispensável, apresento abaixo a
imagem da primeira amostra de escrita de uma das alunas do projeto e, ao lado, a
revisão que ela mesma fez do primeiro texto que produziu. Nessa proposta, a aluna foi
revisora do seu próprio texto e pode identificar seu crescimento e emitir um conceito
positivo sobre a capacidade que tem de aprender e de crescer em aprendizagem.
A terceira imagem é o depoimento que ela produziu a cerca do projeto e de suas
aprendizagens e enfatiza o que já foi abordado, a certeza que ela mesma tem do
quanto atingiu novos patamares de aprendizagem ao participar do projeto Aceleração
da Aprendizagem.
CONCLUSÃO:
Eu encerro o meu relato parafraseando Leonov que disse: “Nenhuma grande
vitória é possível sem que tenha sido precedida de pequenas vitórias sobre nós
mesmos.” E o sentimento que levo comigo é esse, de que para que eu
ajudasse os meus alunos a vencerem os desafios emocionais e sociais que os
classificavam em um grupo de autorrepetentes, incapazes de aprender, foi
preciso que antes eu vencesse todos os melindres, práticas desmotivadoras e
estigmas preconceituosos arraigados em mim. No fim, percebi que nós,
professores, somos responsáveis por transformar pessoas para viver um futuro
de sonhos e de possibilidades, que pode ser alcançado por qualquer um, basta
que não sejamos o destruidor da autoimagem desse ser, de quem nos é legada
tão nobre missão: a de ensiná-lo.
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depoimento - Plataforma do Letramento