REVISTA ARGUMENTOS
Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes
O sertão dos compadres: por uma teoria sociológica do sertão brasileiro
[1994-2005]**
Luiz Tarlei de Aragão1
Introdução
A Sociologia Brasileira, assim como a própria Antropologia Social, em nosso país, tem tratado o Sertão
com notável parcimônia teórica, quando não claramente com status de exceção na focalização de suas
preocupações no quadro social brasileiro. Somente a Literatura, e, antes dela, ensaios de leigos positivistas,
curiosamente bem intencionados — na verdade mais providos de boa vontade que de arcanos teóricos
confiáveis —, tratou do Sertão na proporção de seu “desempenho” sócio-simbólico fundante no plano
da sociedade brasileira, ao mesmo tempo real e mítica, mais abrangente.
Destarte temos tido do Sertão imagens que correm, de um lado, no campo da ficção, e é preciso que
se reconheça nele o terreno privilegiado — espécie de “vazio” ou “descampado onírico” — para o
exercício da literatura e da linguagem poética. De outro lado, [estas imagens] situam-se no âmbito e
conformação do “simulacro”, no interior do pensamento social brasileiro, enquanto operação a partir da
qual a imagem reproduzida do “original” ou “verdadeiro” adquire tal qualidade de imitação que supera a
própria existência do original, como no caso patente do hiper-realismo e da indústria do “falso absoluto”
na cultura americana.2
Tudo se passa no Brasil, como se houvesse mais do que uma oposição entre Nordeste e Centro-Sul —
essa apenas de ordem econômica em sua antinomia mais fundante —; mas, sobretudo, uma dicotomia
cultural, política e até simbólica — em toda a plenitude deste termo — entre a costa (a Cultura do
litoral) e o Sertão. Não se trata aqui de negar o corte presente, evidentemente aliás, no âmago de sua
própria existência empírica, mas sim reconsiderar o caráter de mútua excentricidade aparente que nossa
historiografia econômica e social tem produzido como o centro de seu pensamento social, entre essas
partes sócio-geográficas do país: Nordeste e Centro-Sul. É patente a dificuldade histórica que nosso
pensamento Sociológico (que aqui confunde-se sistematicamente e ingenuamente com o pensamento
social como um todo — onde leigos, bacharéis, médicos e militares pontificam) encontra em unir essas
1
Doutor em Antropologia pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales construiu sua vida acadêmica na Universidade de Brasília dedicando-se ao estudo do Sertão. Foi Professor Visitante no Departamento de Política e Ciências
Sociais da Unimontes tendo coordenado o processo de elaboração do Progama de Pós-Graduação em Desenvolvimento
Social.
2
No original, o autor refere-se à “(Eco, H. 1984 e T. Pinto, 1994)”, referências prováveis a: Umberto Eco, Viagem na
irrealidade cotidiana, trans. Aurora Fomoni Bemardini and Homero Freitas de Andrade, 2ª ed. (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984). Benedita: pinto 1994?
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duas “pontas” de nosso imaginário social [o Sertão e a Costa] no interior de uma teoria social de nossa
própria sociedade como um todo. Ao longo dos séculos temos colocado, pertinentemente, o Sertão em
oposição ao Mar e à Costa urbanizada — mas muito mais frequentemente de forma hiperbólica que
de maneira sociologicamente clara e até certo ponto conclusiva. Em outros países, outras oposições
balizaram o imaginário social3 na construção da nação.
Aqui, no entanto, essa oposição dicotômica teve um duplo efeito, sendo que o primeiro deles ocorreu
em outros países: de maneira clara e simbolicamente eficaz, gera, a partir dela, própria a percepção do
todo e das partes ou, pelo menos, coloca em marcha essa dinâmica conceitual; de outro lado, talvez
perversamente, (e, ao contrário de numerosos outros países), prendeu-nos a todos, teóricos e leigos,
antigos e contemporâneos, nas malhas de uma trama distendida e longa, sem que saibamos onde os nós
foram sendo puxados no projeto de construção simbólica da nação. Tudo se passa como uma fábula
inédita (ou talvez, ao contrário, corriqueira) onde, a partir de um septo/fronteira difícil de se situar, o
próprio insertor/narrador é tomado pela narrativa, e tornam-se um e outro indissociáveis e mutuamente
ininteligíveis. Certamente, habita-nos, em todos os momentos de nossa história (e em nossas próprias
vidas) e, particularmente, no processo de formação das representações e de valores básicos deste país, o
barroco português, sua plasticidade e angústia — que nos leva a essa espécie de “nativismo participativo
difuso”, onde somos ao mesmo tempo criadores e criaturas, tanto de nosso engodo e gozo, quanto de
nosso sofrimento e latente desesperança.
Tentamos aqui uma volta achando que é possível revisitar o Sertão, de forma que parte desse emaranhado
se esclareça; e, que essa configuração geopolítica e simbólica difusa não nos envolva a ponto de tomarmos
sua linguagem metafórica e cabal — sinal e símbolo ao mesmo tempo, arquétipo e simulacro — como
participando de coisas que se situam sempre para além de toda decodificação possível. Terreno do poeta,
província do indivisível, relíquia de contrapontos históricos e arcaicos, tela telúrica de liberdades e
simetrias tanto tempo almejadas, eis ao mesmo tempo sua imagem e sua realidade. Por isso mesmo, desafio
de escala ciclópica no nível de uma disciplina e de um pesquisador, caso nada de muito importante já não
tivesse sido feito, e esteja se fazendo exatamente na duração atual, cada vez de forma mais consciente,
por um número considerável de pesquisadores. Trata-se aqui de ver o Sertão em sua realização social e
simbólica multifacetada, como uma empiria diferenciada, e tentar compreender, a partir daí, sua inserção
simbólica na produção do imaginário social e nos mecanismos inconscientes de representação da nação,
no que concerne à Formação Social Brasileira desde seus primórdios, tanto aqui — e é importante que
se diga — quanto em Portugal.
O que não podemos, em nosso entender, como participantes desse grupo de pensadores — em que
variam as disciplinas e os enfoques — de uma teoria social no Brasil, é relegar o ponto de vista do
Sertão a “membro fantasma”, amputado e presente, por hábito, nas numerosas tentativas de totalização
da sociedade nacional, no que concerne a seus valores mais arquetipais e simbolicamente constitutivos.
3
O termo aqui englobando a memória escrita e oral das origens e transformações bem além das fronteiras de qualquer
disciplina específica.
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Virtualidades
Da Proposição
Talvez exista aqui um povo, no centro das discussões, sem que — por razões da visão hegemônica,
de simples opacidade epistêmica ou saciedade intelectual letárgica — isto jamais tenha sido avançado
com clareza, a não ser nas raras e bravas incursões nessa área de grandes espíritos teóricos (como é o
caso mais patente de Euclydes da Cunha e de alguns outros, regionalistas, literatos de exceção, caso
sobejo de Rosa, Élis e Palmério, por exemplo)4. Talvez tenha se instalado nestas partes do país um
povo. Verdadeiramente, um segmento “étnico”, claramente definido, finito e fecundo com sua língua e
linguagem, seu sistema de festas, suas crenças, um modelo sui generis de cosmogonia e de regulação das
relações das trocas, de convivência, enfim, com o meio ambiente, com a vida e com a morte. Falamos de
uma “Sociedade Sertaneja” e de um “povo” do Sertão cujos limites e valências situam-se na dimensão
da abrangência desses valores e visão de mundo própria, como veremos abaixo.
Propomo-nos, por conseguinte: a) — Expor uma etnografia, muito simplesmente, da sociedade que
subjaz a esse “povo”; b) — Avançar algumas incursões no campo teórico da relação entre essa opacidade
— de uma Sociologia do Sertão, em nosso entender, central — e o “nevoeiro das aparências” (para usar
uma expressão de Manoel Bomfim)5 que tem marcado um grande número de interpretações em nossa
Sociologia da Costa, ou do Litoral e Urbana.
Proporções e Limites
Uma das questões mais imediatas, do ponto de vista metodológico, é aquela das proporções, tanto físicas
(geográficas, populacionais, políticas, etc.), quanto simbólicas (imaginário social, memória coletiva,
valores compartilhados, etc.) do Sertão no âmbito do país como um todo. Em primeiro lugar, já na
delimitação geográfica, se a tomarmos como cruzamentos de linhas geodésicas, acidentes geográficos
ou marcos históricos conceituais, sua delimitação/caracterização é extremamente problemática, como
veremos abaixo.
Pode-se falar de um Brasil, no início, onde toda a parte “descoberta” subjacente à Costa apossada, ia sendo
considerada “sertão”. Mais ainda, do ponto de vista dos colonizadores portugueses (verdadeira fonte da
prática da noção entre nós), sertão era toda terra ignara em seu próprio país e, por mais razão ainda, terras
4
Referências prováveis à Euclydes da Cunha, Os sertões, Biblioteca Virtual de Ciências Humanas do Centro Edelstein de Pesquisas Sociais (Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2010); Bernardo Élis, Veranico de janeiro:
contos, 3ª ed. (Rio de Janeiro: Livraria J. Olympio Editora, 1977); Mário Palmério, Chapadão do bugre: romance, Coleção
Sagarana (São Paulo: Livraria J. Olympio Editora, 1973); João Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas (Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1984).
5
Referência ao seguinte trecho: “Basta observar, sabendo observar, penetrando o nevoeiro das aparências, dominando
o desencontro dos detalhes, para achar o fundo sólido das causas reais. Observação difícil e geralmente incompleta.” Manoel
Bomfim, A América Latina: males de origem, Biblioteca Virtual de Ciências Humanas do Centro Edelstein de Pesquisas
Sociais (Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2008). 263.
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fora de suas diminutas fronteiras e além do mundo cristianizado. Sertão foi pois, ao longo dos séculos,
no Brasil, sendo “empurrado” para aqueles locais de onde se tem notícias (vagas) e, sobretudo, onde
muito pouco se frequenta, por questões de distância, ausência de caminhos e por uma “marginalidade
civilizacional” — tomando-se evidentemente uma certa liberdade em relação a este último termo. Em
mais vasta geografia, tanto vastas partes do Egito e da Síria, quanto da África e do Brasil como um
todo, foram muito tempo considerados pelos colonizadores como “sertões”. Esse “epíteto” foi sendo, ao
longo do processo de colonização e povoamento da Costa, localizando-se no centro, onde juntaram-se
grupos indígenas minoritários, portugueses em derrota de suas validades cívicas e, em seguida, negros
quilombolas ou alforriados. Crescia na Costa a cultura do Litoral ou Urbana, canavieira, aurífera e, em
seguida, cafeeira tendo à frente uma elite cooptada e endógena, ao mesmo tempo parasita e perdulária,
alimentada espiritualmente por uma igreja ganha a seus privilégios e, intelectualmente, por letrados
burocratizados e corporatistas. Descendentes dos patriarcas, surgiam já em fins do século XVIII os
primeiros bacharéis6, por sua vez genitores dos atuais doutores, sendo que nem uns nem outros jamais
se interessassem por conhecer partes do país que distanciassem mais que meros sub-graus de longitude
a oeste do Rio de Janeiro, Recife e Salvador. E, mais recentemente, diga-se de passagem, o hábito se
reproduz. A Costa Leste dos Estados Unidos, Londres, Paris, Roma, Lisboa e Coimbra completavam o
generoso cardápio até hoje servido à mesa dos representantes de nossa consciência social.
Enquanto isso, se a Costa “degenerava” socialmente e “racialmente” pela miscigenação “racial”
como suspeitavam nossos pensadores sociais por quase quatrocentos anos7, no Sertão formava-se e se
consolidava essa raça de curibocas, canturinos de homens livres desde o começo, com praticamente
a impossibilidade de distinguir-se a cor entre eles, do fato mesmo de serem livres. Amparava-os uma
economia de subsistência de pequenos sítios nas partes férteis, um portentoso sistema de festas, de mutirão
e de solidariedade difusa8 e de pecuária extensiva, sem preocupação com o ganho9, muito menos com a
acumulação, mais sim com a perda, dissipação10 — que negociar, trocar fora dos estritos conhecimentos
e arcanos filtrados no saber do próprio tecido social poderia acarretar. Desenvolve e se consolida esse
Sertão a que nos referimos aqui, sobretudo a partir da exaustão do ouro de aluvião nesta parte do país,
que vai do sudoeste de São Paulo às cercanias de Paracatu, em Minas, ao sul; até Diamantina e o Vale do
6
No original, o autor se refere a “(Martins)”; referência provável a Luís Martins, O patriarca e o bacharel (São Paulo:
Livraria Martins Editora, 1953).
7
No original, o autor se refere a “(Rodrigues; Ramos; Bento, C.M.)”; referências prováveis a Cláudio Moreira Bento,
O negro e descendentes na sociedade do Rio Grande do Sul (1635-1975), Biênio da colonização e imigração (Porto Alegre:
Grafosul, Instituto Estadual do Livro, 1976); Arthur Ramos, O negro brasileiro, 3ª ed. (São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1951); Raymundo Nina Rodrigues, Os africanos no Brasil, Biblioteca Virtual de Ciências Humanas do Centro Edelstein
de Pesquisas Sociais (Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2010).
8
No original, o autor se refere a “(Cândido, A.)”; referência provável a Antonio Candido, Parceiros do Rio Bonito.
Estudo sobre o caipira paulista e a transformação dos seus meios de vida, 8ª ed. (São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1998).
9
No original, o autor se refere a “(Cândido, A.; Ricardo, C.; Abreu, C.; Sodré, N.W.)”; referências prováveis a ibid;
João Capistrano de Abreu and José Honório Rodrigues (revisão anotações e prefácio), Capítulos de HIstória Colonial (15001800), 5ª ed. (Sociedade Capistrano de Abreu, Livraria Briguet, 1969); Nelson Werneck Sodré, Formação histórica do Brasil,
9ª ed., Coleção Retratos do Brasil (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976); Cassiano Ricardo, Marcha para oeste: (a
influência da “Bandeira” na formação social e política do Brasil), 3ª ed., vol. v. 1-2, Coleção Documentos brasileiros (Rio de
Janeiro: José Olympio Editora, 1959).
10
À margem do original, o autor escreveu “Potlatch”, remissão à Marcel Mauss, “Essai sur le don forme et raison de
l’échange dans les sociétés archaïques,” in Sociologie et anthropologie (Paris: Presses Universitaires de France, 1968).
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Jequintinhonha, a leste; Cuiabá, Campo Grande e Ponta Porã e Aquidauana, às partes do Pantanal; e os
primeiros recôncavos do São Francisco e Imperatriz no Maranhão e Porto Nacional, no atual Tocantins,
ao Norte.
Como no começo (e, talvez, mais que então), esse vasto espaço-centro vê-se sem mineração, sem
bandeiras, sem preadores de índios, nem capitães de mato à busca de negros fugidos. Uma carta régia de
1701 proíbe a circulação, nessas vastas áreas, de pessoas, bens e minérios, acrescentando impedimento
e tropeço ao que, de natural, já era dificilmente transponível: longas distâncias, rios perenes, ausência
de comunicação e de informações, vegetação espessa tomando conta de grande parte do caminho,
contrapondo-se, em outros trechos, a extensas chapadas sem habitantes e de escassos víveres. Surge
nitidamente, desde então, um primeiro cisma, um corte entre a Costa e o Centro, adensado fisicamente
pelo efeito da serra do mar — e de suas múltiplas bifurcações — que, desde as nascentes do Uruguai
ao sul, até Pernambuco ao norte, como que estabelece uma fronteira mineral e de vegetação, variando
de 20 a 80 quilômetros de largura, com rios que raramente rompem a serra. Ao contrário, quase todos
acentuam o corte, irrigando localmente a planície beira-mar fértil, a leste, ou descendo, a oeste, em
inúmeras corredeiras e longos trechos navegáveis na direção do Amazonas ou do Prata. O São Francisco,
espécie de rio brasileiro até no “jeito” de andar ocupando os espaços, nasce aí, mas, após longa e sinuosa
negociação, vai desembocar justamente ao norte de Pernambuco, contornando toda essa parte norte do
escudo natural. Ficou aí, como que embalsamados no vazio um povo e sua história de grandes proporções
— a história sertaneja —, que, considerada apenas em sua parte mais setentrional, entre o São Francisco
e o Parnaíba, já era vista, em sua parte de conquista e povoamento, pelo grande Capistrano, como “a
questão mais importante da História do Brasil Colonial”, como bem lembra José Honório Rodrigues11.
Aliás, o emérito historiador afirmava que nessa “História Sertaneja” — e exatamente em documentos da
região acima citada — dever-se-ia encontrar o “nó de nossa história”12. Apesar do enigmático da frase,
está claro o foco que se pretendia dar a essa parte de nossa formação social. Sua proporção estaria na
razão direta do fato de apresentar-se como o campo de prova isolado — duradouro e sem interferências
de outros elementos (invasores, ciclos econômicos, movimentos sociais etc.) — desde a instalação da
cultura ibérica (portuguesa) e de seus primeiros descendentes diretos, absolutamente minoritários nesta
parte oriental da América, entre o Trópico de Capricórnio e o Equador.
Aqui, com negros, mas sem a escravidão. Com a cana, mas sem os engenhos sugadores de vastos
11
As referências ao Sertão estão nas cartas a João Lucio de Azevedo, datadas de 8 e 18 de março e 16 de setembro de
1918, vide João Capistrano de Abreu and José Honório Rodrigues (organização e prefácio), Correspondência de Capistrano
de Abreu, 2ª ed., 3 vols., vol. 2, Coleção Octalles Marcondes Ferreira (Estudos Brasileiros) (Rio de Janeiro, Brasília: Civilização Brasileira, INL, 1977). 82, 87, 110; reproduzidas parcialmente em José Honório Rodrigues, “Explicação: normas da 4ª
edição,” in Capítulos de HIstória Colonial (1500-1800), ed. João Capistrano de Abreu and José Honório Rodrigues (revisão
anotações e prefácio) (Rio de Janeiro: Sociedade Capistrano de Abreu, Livraria Briguet, 1969), 24-25.
12
Na carta de 8 de março de 1918, Capistrano escreve: “A ideia de nova edição dos Capítulos ora me atrai, ora me
repele. Precisaria, para que atraísse, encontrar documentos relativos à região entre o S. Francisco e o Parnaíba, aonde acho
que está o nó de nossa história”; e na carta de 16 de setembro: “Aproveito o ensejo para insinuar a questão máxima da nossa
história: o povoamento do São Francisco ao Parnaíba, de que as migrações tupis são por assim dizer uma antecipação e um
ensaio. Não conheço da questão senão sua existência: formulo-a para os vindouros”], Capistrano de Abreu and Rodrigues
(revisão anotações e prefácio), Capítulos de HIstória Colonial (1500-1800): 82, 110; Rodrigues, “Explicação: normas da 4ª
edição,” 25.
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exércitos de mão-de-obra. Sem o Pau-Brasil do começo, e sem as minas do depois. Sem o café do
massapé paulista (e paranaense mais tarde), senão aquele visado para o coador, para o que meia dúzia
de pés — se tanto — bastavam. Assim como a vintena de moitas de cana esparsas e vigorosas na beira
da mata descoivarada, de onde vinha o melado cristalizado nas formas da rapadura morena, espécie de
primitiva compota de minerais e ferro, que desde sempre acompanhou a mais modesta domesticidade
do Sertão. Como acompanhou também seus momentos de inflexão grave ou festiva: guerras sertanejas,
coitos, olvidos, longos velórios, mutirões, romarias.13 Algumas vacas de um rebanho, ele mesmo em
equilíbrio com o meio, poucos cavalos e muares — a falta de iodo, potássio e fosfato dificultando,
sobremaneira, por séculos, a multiplicação mais generosa destas espécies — como a que assistimos,
por exemplo, no pampa, no pantanal e em pontos localizados dessa vasta extensão14. Ou seja, à margem
do escravagismo, como sistema central de produção e de reprodução social, que tomou conta da Costa
e do Planalto próximo (café) durante três séculos, e certamente com fortes resquícios até o presente; à
margem, portando, dos grandes ciclos — Pau-Brasil, Ouro, Cana —, mas também das charqueadas e
do trigo, no Rio Grande do Sul, para onde os negros foram igualmente levados em grande número. Em
lugar teórico diferenciado, por consequência, indaga de maneira própria a famosas teorias — entre elas
aquelas dos “três estados” — sobre processo social, reprodução de sistemas sociais e modo de produção.
Particularmente, nos dois séculos que se seguem às primeiras incursões dos Portugueses e Mamelucos
no interior para guerrear, prear índios, descobrir minas ou apossar-se dos territórios remotos, em versão
ibérico-portuguesa e precoce da “corrida para o oeste” — longa e decisiva saga das bandeiras15 —, como
que se elabora nesse Continente do Sertão, num laboratório a céu aberto, um Povo, uma quase etnia de
curibocas que permanece aí decantada e pura, como que cristalizada em seus ares de civilização arcaica.
É interessante notar como, ao longo desses séculos, algumas cidades e centros urbanos do antigo sertão,
dados a sua especial riqueza e contatos com a costa, “civilizam-se”, “metropolizam-se” e perderam a aura
sertaneja. É o caso de Ouro Preto, Barbacena, Mariana, no circuito do ouro, assim como Diamantina, no
Norte de Minas, e, em certa medida, Goiás Velho (Vila Boa), em Goiás, e Cuiabá, em Mato Grosso. Ao
passo que outras cidades nas mesmas longitudes, e até mais próximas em linha reta da costa, permanecem
banhadas por essa aura do Sertão. É o caso recentemente levantado por um pesquisador (Brandão) da
existência do que eu chamaria de “Triângulo Caipira”, em plena Serra do Mar, a poucos quilômetros da
via Dutra, envolvendo os municípios de Cunha, Natividade da Serra e São Luís do Paraitinga (divisa
de São Paulo e o Estado do Rio de Janeiro). Uma verdadeira ilha do passado nessa região, onde uma
população de pouco mais de 20 mil pessoas ficou aí “abandonada pelos bandeirantes que desbravaram
a região”16. Verdadeiras relíquias humanas daqueles que foram durante muito tempo, majoritariamente
13
Ver “Perspectivas para ocupação do cerrado na região de Brasília ou notas para uma antropologia do Sertão” neste
mesmo volume. [N.E. a nota original era: “Aragão L.T de. “A Ocupação Humana dos Cerrados”. In “Os Cerrados da Região
de Brasília”, Editora UnB/Tempo Brasileiro, 1989”. Não encontramos o livro].
14
Como é o caso de Araxá, no triângulo mineiro, e de algumas regiões de salinas naturais do médio São Francisco.
15
No original, o autor se refere a “(Cortesão, Capistrano, Blanco)”, referências prováveis a Jaime Zuzarte Cortesão,
Introdução à história das bandeiras, 2 vols., Obras Completas de Jaime Cortesão (Lisboa: Portugália, 1964); Capistrano de
Abreu and Rodrigues (revisão anotações e prefácio), Capítulos de HIstória Colonial (1500-1800)., no capítulo IX “O Sertão”;
Ricardo Román Blanco, Las bandeiras: Instituciones bélicas americanas (Brasília: Universidades de Brasília, Instituto de
Ciências Humanas, 1966).
16
No original, o autor se refere a “(Brandão, 1992)”. Trata-se de Carlos Rodrigues Brandão que tem extensa produção
sobre o mundo rural, em particular na região citada pelo autor. Não encontramos a referência exata do trecho citado. O mais
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e referencialmente, “os brasileiros” — nossos pais curibocas, como os chamou Euclydes, nosso maior
especialista na matéria até o presente. Aliás, Euclydes alude em passagem de “Os Sertões” a esses caipiras
de Brandão, sem dar-lhes esse epíteto, naturalmente (como o fez, por exemplo A. Cândido, com o viés
de um vigoroso regionalismo paulista)17: “ (…) não nos demasiamos em arrojada hipótese admitindo
que este tipo extraordinário de paulista surgindo e decaindo logo no sul, numa degeneração completa ao
ponto de declinar no próprio território [grifos nossos] que lhe deu o nome, ali [no médio São Francisco]
renascesse e, sem os perigos das migrações e do cruzamento, se conservasse prolongando, intacta ao
nosso tempo, a índole varonil e aventureira dos avôs”18. Para completar em seguida e precedendo, quase
termo a termo o sentimento de Capistrano: “ (…) aquela rude sociedade incompreendida e olvidada, era
o cerne vigoroso de nossa nacionalidade”19. É interessante notar-se aqui, de passagem, a hesitação de
Euclydes (quando não, suas contradições) de homem educado na tradição de “copistas-intelectuais” que
somos, brasileiros-letrados. Se de um lado, condena, em representante da escola oficial de pensamento
de época, a miscigenação tanto por nosso “atraso histórico” quanto por nossa tristeza macambúzia, de
outro lado louva (cf. acima) essa “raça” de brasileiros puros (sic) filhos de paulistas, mas também de
pernambucanos e baianos com tapuias, carijós, cariris, entre outros grupos étnicos indígenas. Em sua
Nobiliarquia Paulistana, Pedro Taques igualmente lembrado em “Os Sertões” chama a atenção para o
fato de que o médio São Francisco “povoado de paulistas e seus descendentes desde o século XVIII,
torna-se como que uma colônia deles”20. Era a partir dos antigos contingentes das Bandeiras que não
voltaram, seduzidos ante a beleza das paragens e pela própria imensidão do país interior, deserto de
europeus e à margem do aparelho de Estado em todas suas formas, que se formaram esses contingentes
humanos. Extensa faixa territorial povoada esparsamente, mas definitivamente já no século XVII e
início do seguinte, e que recobria então vastas partes indo dos estados atuais de Goiás, Tocantins e
Minas Gerais (este, em suas partes setentrional e Noroeste) ao Piauí atual, aos confins do Maranhão e
próximo que localizamos foi o seguinte: “A descoberta de minas de ouro por bandeirantes paulistas, alguns cicies saídos de
cidades do Vale, como Mogi das Cruzes e Taubaté, obrigou o governo colonial a mandar abrir e manter policiadas vias de
comunicação entre o ouro e o porto. Há dois séculos, quando Cunha e São Luis do Paraitinga ficavam na “boca do sertão” a
oeste, em direção a Minas Gerais, os caminhos mais importantes passavam pela antiga Vila do Facão e deixavam, portanto
a região de São Luis do Paraitinga à margem do fluxo mais intenso de tropas e negócios de beira de estrada.” Em Carlos
Rodrigues Brandão, A partilha da vida, Cultura, educação e ambiente no Vale do Paraíba (São Paulo: GEIC/Cabral Editora,
1995). Consultamos a versão digital disponibilizada pelo autor em http://sitiodarosadosventos.com.br/livro/images/stories/
anexos/a_partilha_da_vida.pdf. Acesso em 5 de abril de 2012.
17
Em Candido, Parceiros do Rio Bonito; ver, a outro seu, ———, “A família brasileira,” in Apostila do curso Sociologia Iº, 2º semestre (Campinas: Unicamp, 1974).
18
da Cunha, Os sertões: 81.
19
Ibid., 82.
20
Aragão se refere ao seguinte trecho: « Segundo o que se colhe em preciosas páginas de Pedro Taques, foram numerosas as famílias de S. Paulo que, em contínuas migrações procuraram aqueles rincões longínquos, e acredita-se, aceitando
o conceito de um historiógrafo perspicaz, que o “vale de S. Francisco, já aliás muito povoado de paulistas e de seus descendentes desde o século XVIII, tornou- se uma como colônia quase exclusiva dele” », ibid., 80-81. A citação de Euclydes da
Cunha é ambígua: na primeira parte, ele se refere a Pedro Tacques de Almeida Paes Leme, Nobiliarquia Paulistana Historica
e Genealogica: 3 Vols, ed. Afonso Escragnolle Taunay, Coleção Reconquista do Brasil (São Paulo: Itatiaia Editora, 1980).
Todavia, no trecho entre aspas, ele cita João Mendes de Almeida, Algumas notas genealogicas. Livro de familia. Portugal—
Hespanha—Flandres-Brabante. Brazil. São Paulo—Maranhão. Séculos XVI-XIX. (São Paulo: Typ. Baruel, Pauperio &
Companhia, 1886). 258., em cujo original lê-se: “Afinal, com tantas e tão successivas migrações, embora rareadas nos ultimos annos do seculo XVIII, o valle do rio S. Francisco, de Curunhanha até Joazeiro, já aliás muito povoado de paulistas e
de seus descendentes desde o seculo XVIII, tornou-se uma como colonia quasi que exclusivamente delles.” Mas Mendes de
Almeida, por sua vez, remete à página 27 da edição 1870 do livro de Pedro Taques.
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Ceará, pelo Ocidente e Norte, e às serranias das lavras baianas, a leste21. Toda essa sociedade pastoril, de
um “extrativismo doméstico” — nas fronteiras dos povos nômades caçadores-coletores —, vivendo do
roçado diminuto, das poucas fruteiras, da caça, do mel e da pesca, de uma incipiente indústria do couro
(que não justifica, em nosso entender, o epíteto pomposo de “civilização do couro”) ficou aí durante
quase quatro séculos sem produzir, nem trocar, sem pagar tributos, nem receber custódia do Estado.
Jamais, tampouco, a notícia de revoltas, nem de revoluções, como foi historicamente o próprio da Costa
canavieira, do sul fronteiriço e das minas. A violência e o repentino destempero têm aí uma expressão
endêmica, emergindo coletivamente por desavença entre grupos ou famílias e nos momentos de extrema
carência alimentar generalizada, apenas, na anomia seguida dos milenarismos clássicos, do Juazeiro ao
Contestado, passando por Canudos — o maior de todos — de Conselheiro.
Ausência igualmente de acumulação fortemente diferenciada de fortuna e de poder, e mesmo quando o
fato ocorre, as proporções mostram tratos de outro mundo, outro sistema de trocas, outras regras. Tudo se
passa como se o Sertão estivesse para a Costa, assim como Portugal estava para a Europa trans-Pirineus,
na feudalidade. Sem, no entanto, a forte presença do Estado em todas as iniciativas — em particular
de comércio e de controle burocrático22 — típica da Formação Social Portuguesa. Nem escravos, nem
senhores, nem sobressaltos de mudanças, tampouco. O mundo aí vagava a seu destino, entre ininterrupto e
sereno, e os homens à mercê das disposições de Deus, sobretudo, sob o manto de sua infinita misericórdia,
imbuídos de primitiva mística cristã, particularmente na crença da volta (reencarnação) de Cristo. Na
ausência de calamidades climáticas maiores, cujos efeitos devastadores somente repercutem nos laços
sociais, em período relativamente recente — por desequilíbrio entre densidade demográfica e equilíbrio
ecológico, na faixa mais setentrional do Sertão —, toda essa extensa conformação geopolítica foi durante
séculos “o quase único aspecto tranquilo de nossa cultura”, conforme o mestre João Ribeiro23. Houve
aí uma lenta sedimentação de valores produzidos no entrechoque de duas culturas: portuguesa (com
duas vertentes bem diferenciadas, como veremos mais adiante) e indígena (com três ou quatro variantes
principais), como mencionamos acima. De tal modo que quando o elemento negro dá a sua contribuição
étnica mais maciça ao Sertão, em finais do século XVIII, com o fim do apogeu do ouro, sua inserção na
sociedade sertaneja dá-se através de um modelo que preservou numerosos valores “africanos”, mas ao
mesmo tempo garantiu a total adesão dos negros à cultura sertaneja. Esse “ajuste mútuo” já começara a
21
da Cunha, Os sertões: 80. [No original: “Constituiu-se, desta maneira favorecida, a extensa zona de criação de gado
que já no alvorecer do século XVIII ia das raias setentrionais de Minas a Goiás, ao Piauí, aos extremos do Maranhão e Ceará
pelo ocidente e norte e às serranias das lavras baianas, a leste.”]
22
No original, o autor se refere a “(Freyre, Lanna, entre outros)”. A referência de Freyre é difícil de localizar. Talvez
algum dos outros textos de Freyre citados ao longo dos outros artigos, são eles: Gilberto Freyre, Interpretação do Brasil:
aspectos da formação social brasileira como processo de amalgamento de raças e culturas, ed. Omar Ribeiro Thomaz, trans.
Olívio Montenegro, Coleção Retratos do Brasil (São Paulo: Companhia das Letras, 2001); ———, Interpretação do Brasil:
aspectos da formação social brasileira como processo de amalgamento de raças e culturas, trans. Olívio Montenegro, Coleção Documentos brasileiros (Rio de Janeiro: J. Olympio, 1947); ———, O brasileiro entre os outros hispanos: afinidades,
contrastes e possíveis futuros nas suas inter-relações, Coleção Documentos brasileiros (Rio de Janeiro: Livraria J. Olympio
Editora, 1975). A referência a Lanna é provavelmente a Marcus Lanna, A dívida divina. Troca e patronagem no Nordeste
brasileiro (Campinas: Unicamp, 1995).
23
O trecho de João Ribeiro [João Ribeiro, História do Brasil: adaptada ao ensino primário e secundário (Livraria Cruz
Coutinho, 1900). 121.] é citado em da Cunha, Os sertões: 80.
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se operar, na verdade, desde as Bandeiras, apesar de alguns autores assinalarem24 a presença de negros
quilombolas “roubando gado junto a índios confederados e mamelucos nômades”.
Portanto, nenhum ciclo, nem aqueles das charqueadas e do trigo que marcaram a inserção do braço
escravo no Rio Grande do Sul, nem mesmo o ciclo da borracha cujo declínio (como acontecera com
aquele do ouro, empurrando garimpeiros para o Sertão)25 fixou o homem na Amazônia, produzindo
lá igualmente uma cultura própria — do caboclo — conforme o mostra E. Galvão26, e outros estudos
antropológicos mais recentes.
A hipótese central, ou interna, neste breve ensaio é aquela de que a valoração da relação suplanta as
diferenças “raciais”, já que como lembra Ramos, A., entre outros, no Brasil, e (a fortiori, no Sertão)
“bastava o homem ser livre para se tornar difícil, senão impossível, distinguir a cor”27. Ao que um
estudioso das populações negras do Rio Grande do Sul28, acrescenta a dificuldade de se estudar o negro
livre no Brasil, “do fato da inexistência de linha de cor nítida”.
***
A hipótese externa, ou mais geral e no nível da sociedade nacional em nosso estudo presente, é aquela
de que essa sociedade Sertaneja cristaliza praticamente desde o início o projeto de junção perene dos
grupos estruturando-os uns em relação aos outros, mas sob um valor unificador (relação). Daí sua forte
simbologia estruturante — a maior parte das vezes, inconsciente — no pensamento social brasileiro.
E, nisso consiste um dos desamparos maiores da nossa nacionalidade, e da própria concepção profunda da
cidadania no Brasil: onde se encontram os valores nacionais da modernidade (como a liberdade, relações
simétricas e consciência de pertencimento grupal abrangente a todos, com território, no caso, o Sertão),
não está a Sociedade, e, sobretudo, o Estado. Há como que um exílio ontogênico de nosso ser social,
na medida em que é exatamente a Costa, escravocrata e decadente, que vem ditando historicamente as
normas, e assentando as bases de um domínio duradouro sobre o restante do país, sem poder se libertar
de um passado escravagista para viver sob a égide de valores longamente prognosticados.
O pecado original do Sertão, por assim dizer, é de ter vivido metaforicamente a função de um paradigma
perdido, ou ainda não alcançado.
Resta-nos, neste ponto, como dissemos no começo, propormos uma maior inteligibilidade da Sociedade
24
No original, o autor faz menção a “(Coutinho, pp. 209)”. Não conseguimos localizar a referência. Mas trata-se certamente de Azeredo Coutinho, talvez José Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho and Sérgio Buarque de Holanda, Obras
econômicas, 1794-1804, Coleção Roteiro do Brasil (São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1966).
25
No original, em referência a “empurrando os garimpeiros para o Sertão”, o autor remete a “cf. Basílio de Magalhães”. Referência provável a Basílio de Magalhães, Expansão geographica do Brasil colonial: memoria apresentada ao 1.
Congresso de Historia Nacional, Coleção Brasiliana (São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1935).
26
Possivelmente, Eduardo Enéas Galvão, Encontro de sociedades, Coleção Estudos Brasileiros (São Paulo: Ed. Paz &
Terra, 1979).
27
Em Ramos, O negro brasileiro. [Não conseguimos localizar a página correta da citação; o autor cita p. 184]
28
O autor cita “(Couto)”. Não conseguimos localizar a referência.
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do Sertão, do povo dos compadres, da Relação/Isolamento, e de seu encontro (distanciamento) com
a Costa, vertente aparentemente mais cambiante, e que no entanto guarda daquela outra a nostalgia
constante, senão o seu sentido, igualmente fundante. É apenas a isso que nos propomos.
O Sertão dos Compadres
Um Povo: Relação e Isolamento
Com razão, caipira e compadre são quase sinônimos em nosso universo leigo (não nativo) e, certamente,
no pensamento social brasileiro. Um e outro conjugam faces de uma mesma moeda: “isolamento” e
“atraso”, e uma das faces, e “relação” (solidariedade difusa), na outra. Pelo material etnográfico que, ao
longo de um decênio, coletei ao redor de Brasília, num raio aproximado de 300 quilômetros à partir de
seu centro — sobretudo no rumo Noroeste/Norte/Nordeste —, essas questões, arranjadas sinteticamente
no par “relação/isolamento”, constroem, por assim dizer, o núcleo estruturante desse universo, ou seja,
da Sociedade do Sertão. No entanto, é preciso que se diga desde já: se para os tenores do pensamento
social tudo se passa como se isolamento fosse a categoria definidora de sociedades nesse espaço, para os
nativos existe, e preponderantemente, a relação, o isolamento sendo “naturalizado”, como veremos.
Ou seja, temos aqui um exemplo de situação típica onde nativos e estrangeiros (teóricos) ocupam polos,
ou pontos de vista, exatamente opostos na valoração de categorias fundantes sociais. Determinando em
outras palavras, para quem está fora e lança seu olhar para essa massa cultural e modelo de produção social
altamente diferenciada em relação à sociedade nacional mais abrangente, o “isolamento” é ao mesmo
tempo característica e explicação. É como se fosse a um só tempo substância e processo (social).
No entanto, para os nativos (os “compadres”, já que no Sertão não há não-compadres, porque seria
existir a não existência, ou então, um vazio de não relação) o isolamento não percute como categoria
configurada de percepção objetiva motivando uma reflexão diferenciada a partir dessa concretude
externamente alocada. Ao contrário, o isolamento “se naturaliza”, passando a ser um dado quase de
condição de realidade, universal, o que produz, em nosso entender, e dito de passagem, uma filosofia
própria, um pensar como que suspenso nas linhas do horizonte, que caminham elas mesmas, no cismar
próprio desses homens.
Assim, o que existe como valor preponderante e peça definidora do Sertão, ou melhor, da Sociedade
do Sertão, do “povo dos compadres” é a relação. Observe-se que, sociologicamente, geograficamente,
e em certos limites, mesmo historicamente, no entanto, o termo não produz sentido unívoco. Apenas
um aprofundamento etimológico contem razão clara, e consistência sistêmica. Fora disso, é “névoa de
sentido” para empregar um termo consoante ontologicamente e etimologicamente ao sentido do Sertão.
Portanto, já longe de noção e conceito. O que se dá com o Sertão, fora do campo estrito do morfema
(desligado, portanto, de suas realizações empíricas e simbólicas de contexto de fala), é a profusão dos
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sentidos e das alocações físico-geográficas29 (e mesmo folclóricas) que lhe são atribuídas. Tudo se
passa como se estivéssemos face a um “simulacro do real”30, ou de “arquétipo cultural”31, ou pura e
simplesmente, ainda, de “símbolo”32.
Pode-se naturalmente argumentar que a relação é o próprio de toda sociedade, e assim estaríamos
cometendo truísmo ingênuo ao formular a questão por esse ângulo, ou centrá-la nesse enfoque. Aliás, um
antropólogo33, conhecido particularmente por suas repetidas e ousadas incursões nesse domínio, e que sai
nitidamente da cabotagem mais ou menos característica da massa de nossos colegas, no Brasil, já afirmou
que “o Brasil é um sociedade relacional”, sem que com isso o tenhamos sobremaneira criticado. No que
nos concerne, referimo-nos à relação como marca do Sertão no sentido de que ela assume o caráter de
valor, e de valor preponderante no interior de uma instituição — o compadrio — de precisos contornos.
“Criada para tanto”, se pudéssemos dizer sem que com isso venha-nos uma tentação qualquer de retorno
ao funcionalismo clássico, essa joia antiga de anglo-saxões (e, certamente, para anglo-saxões).
Destarte, podemos dizer que o estudo do Sertão passa pela “encruzilhada/forquilha” do compadrio,
de onde todas as estradas se orientam, reordenam-se, tomando o rumo expectado das províncias
diversas do ser no Sertão, como veremos. Conhecer a Sociedade do Sertão, se pudéssemos avançar
uma síntese anunciadora do conteúdo mais denso de uma longa etnografia, seria conhecer o compadrio,
a matrifocalidade e o sistemas de festas, ou religioso, que compõem seu núcleo mais central, onde a
sociedade se reflete: um espelho de Perseu, mas polifacetado, como os são os mitos, aliás.
O “compadrio”, particularmente, “resolve” — em termos estruturais — a antinomia entre os dois outros
termos. Entre, portanto, a sacralidade e o profano, dando como que uma roupagem própria ao laço
indefectível das relações entre esses planos antinômicos. Assim como entre autoridade (feminina) e
poder (masculino), dentro e fora, parentesco e vizinhança, conhecido e estranho, ajuda e enfrentamento,
acolhida e desterro, compartilhamento e exclusão.
O “compadrio” — talvez pouco saibamos e respeito — além de designar relações entre compadres (de
29
Além do que chamei acima de “triângulo caipira” (portanto, de Sertão) a poucos quilômetros da via Dutra, entre
Cunha, Natividade da Serra e São Luís do Paraitinga, divisa de São Paulo com o estado do Rio de Janeiro, muito recentemente
(7/5/94) um periódico (Jornal do Brasil) falava em seu editorial do “Sertão Fluminense”.
30
No original, o autor se refere a “(cf. ECO, H.)”; referência provável a Eco, Viagem na irrealidade cotidiana.
31
No original, o autor se refere a “(SLOTKIN, R.)”; referência provável a R. Slotkin, Regeneration Through Violence:
The Mythology of the American Frontier, 1600-1860 (Oklahoma: University of Oklahoma Press, 2000).
32
No original, o autor se refere a “(déficit conceitual, cf. L-Strauss, C.)”. Embora a referência exata não seja evidente,
o sentido é. Para Lévi-Strauss, existiria um descompasso entre a capacidade humana para a simbolização, a criação signos
(a junção de um significante a um significado) e o conhecimento humano (as relações mais apropriados entre eles). Daí a
necessidade de um “símbolo em estado puro” que fosse “[s]imples forma (…), [e] portanto suscetível de adquirir qualquer
conteúdo simbólico [...] ele seria simplesmente um valor simbólico zero.” Claude Lévi-Strauss, “Introduction à l’œvre de
Marcel Mauss,” in Sociologie et anthropologie, ed. Marcel Mauss (Paris: Presses Universitaires de France, 1968), L.
33
No original, o autor se refere a “(DA MATTA)”; trata-se de Roberto Da Matta. A ideia de que o Brasil é uma sociedade relacional atravessa grande parte da obra deste último. Os textos de Da Matta citados nos outros artigos de Aragão são:
Roberto da Matta, “As raizes da violência no Brasil,” in Violência brasileira, ed. Maria Celia Pinheiro Machado Paoli, et al.
(São Paulo: Brasiliense, 1982); ———, Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro (Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1979).
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“cordialidade”, “intimidade”, “afeição”, “proteção”, “amizade”, “companheirismo”, “consideração” e
até “amor”) é instituição mediterrânea que a evangelização cristã transportou para a Europa do Norte
e os portugueses trouxeram para o Brasil. Aqui, por razões que talvez o Sertão explique (já que em
nosso entender a Sociedade do Sertão se “explica” no compadrio, assim como este a tece e ilumina),
o “compadrio” expande-se e toma dimensões que ultrapassam largamente sua abrangência original.
Serviu, no Brasil, desde o início (em 1590 a Câmara de São Paulo regulamenta trocas com base no
compadrio entre portugueses e índios)34 como instituição de expansão e consolidação das relações, o
contraponto social do que foram as Bandeiras35 do ponto de vista militar, estratégico e até administrativo,
naqueles inícios de colonização.
Formando junto com cunhado (de quem logo tomou a proeminência no Sertão) a dupla das relações
de aliança e consanguinidade classificatória, compadre na Sociedade do Sertão conjuga igualmente
(além daquelas propriedades formais citadas acima), “respeito”, “consideração” e (até) “amor”. Ou seja,
substitui-se, como categoria nativa, em parte ao aparelho de Estado, ausente na regulação das trocas (a
não ser impedindo-as, como lembra o grande Euclydes, pg. 84) e no respeito à lei, melhor dizendo, às
disposições consuetudinárias pouco cambiáveis, diga-se de passagem.
Uma vila, uma corruptela, um lugarejo, um brejo com os moradores em volta, uma vereda, à vazante
da qual erguem-se as casas de taipa e adobe, é sempre território de compadres. Quem não os tem,
não tem existência. É como se faltasse a senha principal de entrada na máquina das trocas materiais e
simbólicas. Coisas se trocam com compadres; roça se toca com os compadres. Na guerra, na vendeta, no
coito, valham-se os compadres. Romarias, rezas, mutirões, guerra maiores — se fazem com verdadeiras
legiões de compadres36.
Conclusão
Foi nossa intenção nesta apresentação mostrar de forma provisória e, sobretudo, ainda, virtual: 1) a
pertinência do estudo da Sociedade do Sertão para opô-la à Sociedade da Costa e urbana, cuja sociologia
abunda de “espessas evidências”37; 2) Do âmago de nossa pesquisa sobre e no Sertão surgem as categorias
de relação/isolamento como par fundante, não somente de uma visão de mundo, de uma filosofia —
cosmogonia, ética e estética próprias —, mas também como par dicotômico valorado como precedência
na relação e uma “naturalização” do isolamento. Ao contrário da costa, onde ao que nos parece a relação
é “naturalizada” e o isolamento (“separação”) valorado entre alguns espaços, preponderantemente.
Como nos casos, aliás, bastante focalizados de família/estranhos; casa/rua; mãe/prostituta; etc.; uma
34
Sobre a informação do parênteses, o autor escreveu “apud Cortesão, pps. 66 e seguintes”. Não conseguimos comparar a página; mas a referência é possivelmente a Cortesão, Introdução à história das bandeiras.
35
No original o autor se refere a “(Blanco, Cortesão, Von Martius)”; referencias prováveis a Blanco, Las bandeiras:
Instituciones bélicas americanas; Cortesão, Introdução à história das bandeiras; Karl Friedrich Philipp von Martius and
Johann Baptist von Spix, Viagem pelo Brasil, 1817-1820 (3 volumes), Coleção Reconquista do Brasil. Nova Série (Belo
Horizonte: Itatiaia, 1981).
36
Os Castelhanos trouxeram para o Sul do Brasil, Uruguai e Argentina o termo “compradadas”, sinônimos de festa,
algazarra, folias, brincadeiras entre aliados sociais — coisa de “gaúchos”, “campeiros”.
37
No original o autor se refere a “(Bomfim, M.)”; embora não tenhamos encontrado a expressão “espessas evidências”, a referência mais provável é a Bomfim, A América Latina: males de origem. Vide nota 4, supra.
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vez penetrando-se no primeiro termo do par (“família”, “casa”, “mãe”, etc.) a relação torna-se, então,
de regra. Por mais ampla que seja a abrangência desse termo “positivo”, aliás: uma torcida de time de
futebol, vôlei, etc.; uma família, um bairro, um prédio ou um quarteirão, por exemplo. 3) Por último,
chamamos a atenção para a categoria “compadre” e a instituição do compadrio como a componente
social central do sistema de produção e de reprodução social no Sertão, e na Sociedade do Sertão.
Tudo se passa, por outro lado, como se cada unidade grupal de residência (“corruptela”, “lugarejo”,
“vila”, “rua” “patrimônio”) fosse uma célula inteira de humanidade — povo de compadres — com
manifestações clássicas do indefectível etnocentrismo, se bem que aqui atenuado face a uma extrema
curiosidade sobre os limites do universo e o sentido da existência, que desconfiam estar, ambos, no
próprio Sertão, ou em outros Sertões.
Notas
* * A data vem de uma nota de rodapé adiante, na qual o autor cita matéria “muito recentemente publicada”
em 7/5/1994. As referências bibliográficas do texto perderam-se ou ainda não tinham sido sistematizadas
pelo autor. Elas, ao contrário de outros textos, estavam no formato autor data.
O texto fazia parte de um projeto maior que ou se perdeu ou o autor mudou de opinião ou, simplesmente
e por motivos que conhecemos, desistiu. Encontramos outros textos, manuscritos, que poderiam se
encaixar neste projeto mais amplo, mas nestes não havia referência ao “Sertão dos Compadres”. O
autor, no entanto, deixou o seguinte sumário: I — Introdução; II — Preliminares; II.1 — Da proposição;
II.2 — Proporções e limites; III. O Sertão dos compadres; III.1 — Assim se faz essa parte, um povo —
isolamento e relação; III.2 — Sexualidade e violência; III.3 — Visão de mundo: cosmogênese e entropias;
III.4 — A religião. Santos padroeiros e sistema de festas; III.5 — A matrifocalidade primitiva; III.6 — A
reprodução social: parentesco e vizinhança; III.7 — O compadrio; III.8 — Poder, autoridade, relações
políticas; III.9 — Economia e sistema de trocas: internas e com o exterior; III.10 — As populações em
presença: predominância e etapas; III.11 — Ocupação do território ou uma questão de antropologia
geopolítica; IV — O Sertão dos intelectuais; V — Pureza e contaminação — o valor ausente: vaqueiros,
mineradores e escravos; VI — Conclusão: Brasil—Sertão, Sertão—Brasil, Brasil—mar, ou, voltando, do
começo ao fim. O sumário do presente manuscrito é uma versão bastante simplificada — e ligeiramente
modificada — do projeto acima.
Na página do sumário, encontramos os seguintes pares de oposições escritos à mão: “Dentro/Fora;
Pertencimento/Exclusão; Herdeiros/Apartados?; Pátio/Rua”. Essa é a primeira formulação, possivelmente
ainda provisória, da oposição “Internalidade/Externalidade” da qual não encontramos outras referências.
Esta, junto com a oposição entre “Domínio/Posse” [vide Luiz Tarlei Aragão, “Mãe preta, tristeza branca,”
in Clínica Social: Ensaios, ed. Luiz Tarlei Aragão, et al. (São Paulo: Escuta Editora, 1991).], formava o
momento mais próximo às oposições valoradas dumontianas. À diferença é que as oposições de Aragão
não seriam propriamente valores, mas os articulariam (discutimos o assunto com o autor por volta de
1996). No texto acima algumas ideias apontam já nesta direção: se vai à guerra com compadres, sem
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pertencer às relações de compadrio não se faz parte do sistema de trocas, o etnocentrismo das relações
de vizinhança, entre outras menos diretas. Simplificadamente, os valores se articulariam de maneiras
diferentes — e inversas — na hipótese de a relação entres as pessoas puder — ou não — se articular
a partir do pertencimento a um grupo em comum (família, grupo religioso, vizinhança, instituição,
profissão etc.). Não importaria se, na sociedade do litoral, o pertencimento seja imaginado, criado,
inventado ou manipulado. Isso apenas demonstraria a operatividade da oposição e, indiretamente, a tese
da centralidade do Sertão para nossa formação social.
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Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes
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Revista Argumento Nº 7 - 01,2013
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