José M. Viegas CESUR - Instituto Superior Técnico Lisboa - Portugal [email protected] XIX Congresso ANPET Recife, Novembro 2005 XIX Congresso ANPET - Recife José M Viegas – Novembro 2005 Transportes e Governação: Co-decisão e partilha de poder TRANSPORTES E GOVERNAÇÃO: CO-DECISÃO E PARTILHA DE PODER 1 Porquê alguns problemas de Transportes são tão difíceis? Principais razões para essas dificuldades Complexidade Institucional do Problema  Um (cada vez mais) largo espetro de objetivos de política aos quais se espera que os sistemas de transportes respondam  Impactos de Distribuição sobre usuários e não usuários dos sistemas de transportes, com grande alcance geográfico  Deficiente correspondência da organização administrativa com o território geográfico relevante para a avaliação da for intervenções sobre os sistemas de transportes  Divisão de competências em matéria de transportes entre governos central (regional) e local Transportes e Governação: Co-decisão e partilha de poder Espaço das instituições e poderes Espaço dos objetivos e das partes afetadas Alguns problemas de Transportes são especialmente difíceis  Localização de infra-estruturas principais  Financiamento de alguns elementos de infra-estrutura  Combate ao congestionamento e ao crescimento do tráfego rodoviário  Redução da agressão ambiental pelo setor dos transportes  Capacidade crescente de mobilização organizada dos cidadãos (e dos agentes econômicos) em luta pelos seus interesses Número e diversidade dos stakeholders XIX Congresso ANPET - Recife José M Viegas – Novembro 2005 2 A – Espetro de Objetivos de Política (I) um nível satisfatório, outro objetivos se tornam salientes  Principais outros objetivos:  Segurança  internalizada, ainda que com níveis variáveis de rigor  Qualidade Meio Ambiental  internalizada a nível quase idêntico pata novas infra-estruturas; principal problema é a inércia do sistema de atividades econômicas e sociais: busca de compatibilidade entre um caminho de convergência e a resiliência ecológica  Desenvolvimento Econômico através do comércio  Resistência dos agentes econômicos que pressionam para uma mobilidade barata e fiável das suas mercadorias  Liderança Tecnológica  Usada para captação de fundos públicos quando os projetos têm um baixo rácio de benefícios / custos  Bem estar social / Eficiência  Pressão para abertura de mercados, resistência pelos que antes estavam protegidos XIX Congresso ANPET - Recife José M Viegas – Novembro 2005 Transportes e Governação: Co-decisão e partilha de poder  Uma vez que os objetivos primários (acessibilidade, mobilidade) são atingidos a 3 A - Espetro de Objetivos de Política (II) preparadas para enfrentar todas estas dimensões na sua avaliação das questões de transportes  Mas as instituições públicas responsáveis pela defesa de cada um daqueles objetivos não aceita decisões em que os seus interesses não tenham sido devidamente acautelados  Por vezes as diferentes opções para um problema específico serão polarizadas de acordo com esses outros objetivos  As instituições dos transportes poderão acabar sendo árbitros na luta entre esses objetivos setoriais  Risco de criação de animosidade (ciúmes) nos setores “derrotados” XIX Congresso ANPET - Recife José M Viegas – Novembro 2005 Transportes e Governação: Co-decisão e partilha de poder  As Instituições do setor dos transportes estão mal 4 B – Impactos de Distribuição em Territórios vastos (I)  Fortes impactos na dotação de acessibilidade ocorrência de impactos econômicos e ambientais localizados, gerando rivalidade entre as regiões  Para as infra-estruturas de hierarquia mais elevada, impactos sensíveis a grande distância  Impactos ambientais dos novas obras mitigados na fase de projeto, nem sempre de forma muito eficaz  Impacto Forte na afetação de usos de solo  Muitos cidadãos e empresas buscam localizações com mobilidade mais fácil  maior volume de viagens, maior dificuldade de serviço em transporte coletivo  Novos projetos de urbanismo e de infra-estruturas de transportes preferivelmente feitos em relação estreita XIX Congresso ANPET - Recife José M Viegas – Novembro 2005 Transportes e Governação: Co-decisão e partilha de poder  A principal dimensão distributiva dos impactos é geográfica, através da 5 B - Impactos de Distribuição em Territórios vastos (II)  Questões de distribuição relacionadas com custos correntes e de investimento dos sistemas de transportes  Nível de suporte pelos beneficiários indiretos  Exemplos freqüentes de “nós contra os outros”  Privilégios especiais de estacionamento na via para residentes  Pedágios rodoviários muito mais aceitáveis nos casos com forte proporção de tráfego de atravessamento (preferivelmente de outros países)  Quatro tipos de Equidade Normalmente tratada na fase de planejamento. Dificuldades  Territorial agravadas por falta de dinheiro (implementação demorada)  Horizontal  Vertical  Longitudinal XIX Congresso ANPET - Recife José M Viegas – Novembro 2005 Obrigações de Serviço Público, Tarifas Especiais Transportes e Governação: Co-decisão e partilha de poder  Nível de suporte pelos contribuintes, e “quais” contribuintes Perda de regalias. Especialmente grave quando acompanhada de diferenciação geográfica 6 C – Desajuste entre a geografia relevante e a organização administrativa vasta, e essa repercussões são reconhecidas por todos (ou quase), mas o contorno geográfico dessa área raramente tem uma correspondência boa com uma unidade administrativa com os poderes adequados  Muito freqüente em grandes aglomerações urbanas  Mas também em situações trans-fronteiriças (Alpes)  Por vezes se trata de uma questão distributiva do mesmo tipo de benefícios, mas também sucede (e é mais difícil de resolver) quando se trata de diferentes benefícios e as partes (regiões) têm objetivos diferentes XIX Congresso ANPET - Recife José M Viegas – Novembro 2005 Transportes e Governação: Co-decisão e partilha de poder  Uma intervenção de transportes tem repercussões numa área muito 7 D – Divisão de competências entre diferentes níveis da Administração de competências pelos vários níveis da Administração, com algo para cada nível  Dois principais fatores em favor da descentralização  Maior eficácia e eficiência na resolução de problemas a esse nível  Responsabilidade fiscal  Muitas vezes, uma boa solução exige ação coordenada  Risco de longas discussões sobre quanto cada parte deve pagar  Sincronização de prioridades / ações ainda mais difícil XIX Congresso ANPET - Recife José M Viegas – Novembro 2005 Transportes e Governação: Co-decisão e partilha de poder  Os transportes são uma das áreas da política em que há maior divisão 8 E – Crescente capacidade de mobilização organizada dos cidadãos complexos  Governação se torna mais difícil e complexa, mas também mais opaca  O que leva a dificuldades de entendimento, e possivelmente à suspeita, por parte dos cidadãos.  À medida que as necessidades básicas das pessoas vão sendo satisfeitas, elas se tornam mais ativas na defesa dos benefícios de que gozam, em qualquer domínio (objetivos defensivos)  A mobilização organizada dos cidadãos se dá sobretudo em relação a causas de justiça social, defesa dos empregos, proteção social e do meio ambiente  Isso representa um novo tipo de força que não pode deixar de ser considerada  As tecnologias da informação tornaram a mobilização de base muito mais fácil Transportes e Governação: Co-decisão e partilha de poder  À medida que as atividades e padrões sociais se vão tornando mais  E a cobertura da TV reforça a sensação da relevância dos protestos XIX Congresso ANPET - Recife José M Viegas – Novembro 2005 9 Múltiplas Perspectivas Legítimas  Diferentes perspectivas e interesses entre  A diferentes níveis da Administração (nacional, regional, local)  Ao mesmo nível (agências diferentes a qualquer dos níveis)  Público e Privado  Bem comum vs. Interesses privados  Privado e Privado  Diferentes grupos de cidadãos com requisitos e expetativas diferentes, por vezes antagônicas  Todos estes podem ser legítimos, mas  Difíceis de identificar e reconciliar numa política XIX Congresso ANPET - Recife José M Viegas – Novembro 2005 Transportes e Governação: Co-decisão e partilha de poder  Público e Público (Governos e Agências Públicas) 10 Aceitando o Compromisso resposta apenas parcial aos múltiplos interesses requer, antes do mais  Razoável informação acerca dos interesses e requisitos de outras partes, igualmente legítimas  Entender a magnitude da “lista de compras agregada” e entender que não tem como satisfazer todos  Em seguida é necessário um processo de decisão que possa ser considerado por todos como justo no tratamento de todos os interesses legítimos Transportes e Governação: Co-decisão e partilha de poder  Aceitação dum compromisso pelo qual as autoridades dão  É aqui que entra a boa governação XIX Congresso ANPET - Recife José M Viegas – Novembro 2005 11 Criando Comunidades Funcionais  Há múltiplas formas de co-gestão, dependendo do nível de partilha de informação, de poder de decisão e de formalismo nos processos de co-decisão  Soluções “em rede” são as mais adaptáveis a situações variadas de stakeholders e de  A maioria das entidades envolvidas nestas questões terá encontros repetidos, ainda que com mudança dos papéis de cada uma com variação de algumas das partes representadas  É importante criar confiança, através do desenvolvimento de “comunidades funcionais ”  A possibilidade de usar bem a energia e saber do lado privado da sociedade requer a criação e acumulação de “capital social”  Complexidade do quadro institucional  Cada problema de transportes abrange um grande conjunto de stakeholders  Algumas partes (agências públicas, associações profissionais, grupos de cidadãos, ONGs, etc) se consideram stakeholders num largo conjunto de problemas de transportes, e tenderão a misturá-los na discussão de qualquer um desses problemas  Alto risco de cacofonia, inconsistência, alto custo e baixa eficácia XIX Congresso ANPET - Recife José M Viegas – Novembro 2005 Transportes e Governação: Co-decisão e partilha de poder prioridades 12 Participação Pública , Liderança e Consistência  Há várias razões para a participação pública , mas muitas vezes ela só é feita     Razões para esse envolvimento Definição prévia do que é do que não é negociável Quem deve ser convidado a participar Que estilos de participação são mais adequados aos vários grupos  Mitigação dos risco de inconsistência e ineficácia implica liderança forte e exercício correto dos procedimentos de engajamento dos stakeholders, num processo estruturado, multi-lateral e multi-nível de discussão, o que significa:     Clareza Estratégica Competência Técnica Firmeza na ação Transparência e justiça (equilíbrio) no tratamento das questões XIX Congresso ANPET - Recife José M Viegas – Novembro 2005 Transportes e Governação: Co-decisão e partilha de poder por expediente político. É necessário fazer boa preparação, o que exige respostas a : 13 Passos Principais (I) Diagnóstico: Consulta formal e ampla para identificação do âmbito, interesses e restrições    2. Muitos stakeholders (privados tanto quanto públicos) ignoram totalmente os interesses e restrições de outros stakeholders e podem se tornar mais tolerantes através desse exercício A inclusão de stakeholders é um processo delicado, grupos diferentes podem exigir formatos diferentes para uma boa participação A definição do âmbito do problema pode variar durante esta fase Fase Estratégica: Pequeno grupo central desenvolve Orientações Estratégicas, especificando princípios para a escolha de prioridades e para o suporte de ações, mas sem detalhes de implementação (que podem ser prejudiciais nessa fase)   Participação Estruturada, possivelmente em duas rondas (stakeholders primários e secundários) conduzindo a um documento formalmente aceite por todos os stakeholders primários, cujo apoio é essencial Possivelmente, ampla disseminação pública desse documento, mostrando progresso e a possibilidade de compromisso (momento positivo) XIX Congresso ANPET - Recife José M Viegas – Novembro 2005 Transportes e Governação: Co-decisão e partilha de poder 1. 14 Passos Principais (II) Fase Tática : Desenvolvimento de Planos com especificação de medidas e ações, seu calendário e suporte financeiro, indicadores chave e metas    4. Todos esses documentos firmemente ancorados nas Orientações Estratégicas Cada Plano discutido em detalhe com os stakeholders mais diretamente afetados (positiva ou negativamente), tentando melhorar nos detalhes sem sacrificar o essencial, descrito nas Orientações Estratégicas Aprovação formal e disseminação pública Implementação e Monitorização    Implementação tão próximo quanto possível do planejado Informações regulares sobre o progresso na implementação distribuídas a todos os stakeholders Monitorização regular com divulgação pública dos resultados, e reunião de todos os stakeholders relevantes para decidir das ações corretivas se necessário XIX Congresso ANPET - Recife José M Viegas – Novembro 2005 Transportes e Governação: Co-decisão e partilha de poder 3. 15 Quem tem iniciativa ? Quem mantém controle ?  Sempre há um grande número de problemas pendentes, e a boa governação (pública ou privada) requer estabelecer prioridades importante para outra  A iniciativa deve ser exercida pela agência (ou agências) que considere o problema como prioritário e controle a maior parte dos recursos públicos necessários para o resolver  Mas pode haver outras agências relevantes para alcançar uma boa solução, e elas devem ser envolvidas numa função de acompanhamento  Essa reciprocidade em feed-back positiva  O Controle do processo possivelmente requer cooperação durável entre múltiplas agências  Controle do ritmo e controle da trajetória são coisas diferentes Transportes e Governação: Co-decisão e partilha de poder  Uma questão prioritária para uma agência pode ser apenas moderadamente  A transparência reforça a lealdade XIX Congresso ANPET - Recife José M Viegas – Novembro 2005 16 Porque é que isso não é feito mais vezes ?  Uma razão é simplesmente “Novidade”. As instituições aprendem devagar !  Algumas outras razões que freqüentemente originam barreiras a essa  O Desenho Institucional gera dificuldades  As políticas de Transportes, Usos de Solo e Meio Ambiente estão em diferentes agências ou departamentos, competindo por protagonismo  Algumas agências públicas pensam ser “donas” dos problemas  Não reconhecendo que alguns fatores de agravamento e algumas implicações de soluções nas sua esfera de competências podem cair no domínio de outras agências  Confusão entre liderança e hierarquia  Partilha de poder requer disponibilidade para cooperar em vez de uma atitude de comando e controle, e nem todos sabem jogar esse jogo  Mas o reconhecimento crescente da complexidade dos problemas de transportes força a aceitação progressiva de que essas abordagens cooperativas são indispensáveis ! XIX Congresso ANPET - Recife José M Viegas – Novembro 2005 Transportes e Governação: Co-decisão e partilha de poder abordagem são : 17 TRANSPORTES E GOVERNAÇÃO: CO-DECISÃO E PARTILHA DE PODER José M. Viegas CESUR - Instituto Superior Técnico Lisboa - Portugal [email protected] Transportes e Governação: Co-decisão e partilha de poder Obrigado pela atenção! XIX Congresso ANPET Recife, Novembro 2005 XIX Congresso ANPET - Recife José M Viegas – Novembro 2005 18