Anzaldúa, Gloria. Borderlands La Frontera: The New Mestiza. 2nd ed. San Francisco: Aunt Lute, 1985. 7576. Print.
Esta é somente a introdução do capítulo entitulado “Como domar uma língua selvagem”.
Como domar uma língua selvagem
“Nós vamos ter que controlar sua língua”, disse o dentista, tirando todo o metal da minha
boca. Pedacinhos cinzas caem e tilintam na bacia. Minha boca é um filão principal em uma mina.
O dentista limpa meus canais. Eu sinto um sopro de fedor quando eu me engasgo. “Eu não
posso colocar a jaqueta no dente ainda, o seu dente ainda está drenando”, diz ele.
“Vamos ter que fazer alguma coisa com sua língua”, eu ouço a raiva subindo em sua voz.
Minha língua fica tirando os chumaços de algodão, empurrando as brocas, as longas e esguias
agulhas. “Eu nunca vi algo tão forte e teimoso”, diz ele. E eu penso, como se doma uma língua
selvagem, treiná-la para ficar quieta, come se embrida e sela uma língua? Como se deita ela?
“Quem diz que roubar um povo de sua língua
é menos violento que guerra?”
--Ray Gwyn Smith.
Eu lembro ser pega falando espanhol no recreio—isto servia para três pancadas enérgicas nas juntas
dos dedos com uma régua. Eu lembro ser mandada para o canto da sala por responder a professora Anglo
quando tudo que eu estava fazendo era dizer a ela como pronunciar meu nome. “Se você quer falar Americano,
fale Americano. Se você não gosta, volte para o México, sua terra natal”.
“Eu quero que você fale inglês. Pa´ hallar buen trabajo tienes que saber hablar el inglés bien. Qué vale toda tu educación si
todavía hablas inglés con un ´sotaque´, minha mãe dizia mortificada que eu falava inglês como uma mexicana. Na
Universidade Pan Americana, eu, e os outros alunos Chicanos, tinhamos que cursar aulas de pronúncia. O
propósito: eliminar nosso sotaque.
Ataques na forma das pessoas se expressarem com a intenção de censurer são uma violação da
Primeira Ementa Constitucional. El Anglo con cara de inocente nos arrancó la lengua. Línguas selvagens não podem
ser domadas, elas só podem ser extirpadas.
How to Tame a Wild Tongue
“We´re going to have to control your tongue,” the dentist says, pulling out all the metal from
my mouth. Silver bits plop and tinkle into the basin. My mouth is a motherlode.
The dentist is cleaning out my roots. I get a whiff of the stench when I gasp. “I can´t cap
that tooth yet, you´re still draining,” he says.
“We´re going to have to do something about your tongue,” I hear the anger rising in his
voice. My tongue keeps pushing out the wads of cotton, pushing back the drills, the long thin
needles. “I´ve never seen anything as strong or as stubborn,” he says. And I think, how do you tame
a wild tongue, train it to be quiet, how do you bridle and saddle it; How do you make it lie down:
“Who is to say that robbing a people of
Its language is less violent than war?”
--Ray Gwyn Smith
I remember being caught speaking Spanish at recess—that was good for three licks on the knuckles
with a sharp ruler. I remember being sent to the corner of the classroom for “talking back” to the Anglo
teacher when all I was trying to do was tell her how to pronounce my name. “If you want to be American,
speak „American.‟ If you don´t like it, go back to Mexico where you belong.‟
“I want you to speak English. Pa´ hallar buen trabajo tienes que saber hablar el inglés bien. Qué vale toda tu
educación si todavía hablas inglés con un „accent‟,” my mother would say, mortified that I spoke English like a
Mexican. At Pan American University, I, and all Chicano students were required to take two speech classes.
Their purpose: to get rid of our accents.
Attacks on one´s form of expression with the intent to censor are a violation of the First
Amendment. El Anglo con cara de inocente nos arrancó la lengua. Wild tongues can´t be tamed, they can only be cut
out.
<http://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=10873:nemmais-uma-morta-assassinada-activista-susana-chavez&catid=280:mulher-e-lgbt&Itemid=182>
Kaos en la red - [Lorena Aguilar Aguilar, Trad. do Diário Liberdade] Vamos lembrá-la por ser quem
cunhou a frase "Nem mais uma morta"
Hoje confirmou-se a morte da activista e poeta Susana Chávez, aparentemente, ocorrida na semana
passada. Susana, como Marisela Escobedo, decidiu se manifestar contra o feminicídio e fez um
grande trabalho de denúncia da violência que hoje flagela a sua terra natal Ciudad Juárez, "Juaritos"
como é comummente conhecida esta cidade do norte de México.
Susana vai ser lembrada por ser quem cunhou a frase "Nem mais uma morta", uma frase que se grita
a cada dia com a esperança de que nossos líderes eleitos a ouçam e decidam agir para acabar com os
assassinatos de mulheres, pelo simples fato da condição de género.
O corpo desta mulher corajosa, de acordo com o jornal El Universal, foi encontrado com a mão
esquerda decepada, como se alguém a punira pelo que escreveu e denunciou.
As autoridades tentaram encobrir este crime hediondo, sob o pretexto de não querer despertar a ira
social ", isto é o cúmulo do cinismo, como têm a pretensão de que a sociedade não se enfureça por
estes crimes? Se não desejam que a sociedade mexicana não os censure, que façam o trabalho
necessário para terminar com o feminicídio no nosso país, que trabalhem para acabar com a
impunidade e que os responsáveis por segar vidas de centenas de mulheres recebam a punição por
seus crimes, que o governo mexicano deixe de ser cúmplice nos assassinatos de mulheres que
ocorrem diariamente.
Infelizmente, as taxas de assassinatos de mulheres no país, especialmente Ciudad Juárez,
aumentaram com a militarização produto da estúpida guerra contra os narcotraficantes, uma guerra
"sem pé nem cabeça" que continua a ceifar vidas, mas para o qual ninguém é responsável.
É nosso dever continuar a luta dessas duas mulheres corajosas, Marisela e Susana, que o sangue que
derramaram não fique impune, como a de qualquer vítima de feminicídio. Não deixemos o medo
vencer-nos, hoje mais que nunca devemos gritar com todas as nossas forças "Nem mais uma
morta."
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