REPRESENTAÇÃO/INVENÇÃO
Vanessa Pincerato Fernandes1
Dolores Scarparo2
RESUMO
Este trabalho analisa dois textos, do discurso literário, produzidos por alunos de Ensino
Fundamental. Esta análise compreende em comparar e definir as políticas de cognição
presentes no discurso pedagógico.
Palavras-chave
Políticas de cognição, aprendizagem, invenção.
ABSTRACT
This text analyzes two texts of literary discourse, produced by students in Elementary
school. This includes analysis to compare and define the policies of cognition in the
pedagogical discourse
Key words
Policies of cognition, learning, invention.
O presente trabalho aborda a questão da Representação e Invenção na produção
escrita dos alunos, em sala de aula. Segundo o que afirmam Kastrup (2005) e Orlandi
(1987, 2001) discutiremos como ocorre essa representação, partindo da análise de dois
textos de alunos (A e B), produzidos em sala de aula. Para essa discussão levaremos em
consideração as noções de representação e invenção, a partir de uma política
1
Professora de Língua Inglesa na escola Estadual 14 de Fevereiro e na UNEMAT – Universidade do
Estado de Mato Grosso na cidade de Pontes e Lacerda – MT. Email: [email protected].
2
Professora de Língua Portuguesa
[email protected]
na
escola
Estadual
14
de
Fevereiro.
Email:
representacionista da cognição. Apresentando como a circularidade do discurso
pedagógico está inserido na escola.
A escola faz parte de uma complexa cadeia, que participa da produção de modos
de vida. Sua “função” não se baseia em informar sujeitos, mas sim participar na
formação destes, ou melhor, participar no processo de formação da subjetividade dos
sujeitos.
A seguir temos dois textos de alunos de ensino fundamental. A partir destes
discutirei como se estabelece essa relação da representação e da invenção.
Texto A:
Um certo dia a mãe da Chapeuzinho Vermelho fez vários doces, bolos, pão,
e uma manteiga fresquinha e a mãe de chapeuzinho ia fazer um
pronunciamento.
__ Chapeuzinho eu quero que você vá até a casa da vovó, mas também
preciso que você tome muito cuidado e por favor não converse com
estranhos.
__ Sim mamãe
__ Pela estrada a fora eu vou bem sozinha, levar esses doces para a
vovozinha, ela mora longe e o caminho é deserto.
Então apareceu um lobo terrível e malvado e disse:
__ Bom dia menininha, o que faz uma bela menina num lugar desses? (...)
Texto B:
Um lindo dia a Chapeuzinho Vermelho resolveu sair pela floresta. Ela era
feia, cabelo grande, a única coisa de bonito era o vestido.
Ela estava andando pela floresta ela viu um rato e começou a gritar a mãe,
sua mãe saiu para fora da casa para ver o que tinha acontecido. Ela gritou de
novo e sua mãe começou a correr quando ela chegou era a filha dela, a mãe
ficou rindo porque era um pequeno rato.
Chapeuzinho voltou para casa e ajudou sua mãe e ficou muito alegre de
saber que um rato não era o filhote de raposa.
Como está acima, no texto A o autor relata nos mínimos detalhes a história
infantil, Chapeuzinho Vermelho, sendo fiel aos detalhes e a construção textual da
história. Porém no texto B, o autor relata à mesma história do autor do texto A, porém
com detalhes diferentes, mas com elementos textuais, organizados da mesma maneira.
As
instituições
escolares
funcionam
de
acordo
com
uma
política
representacionista da cognição (aquisição de conhecimento). Nas escolas o
conhecimento é passado aos alunos, e esses apenas memorizam e repetem. Kastrup
(2005) afirma que: Para Varela, ao contrário, o sujeito e o objeto, o si e o mundo são
feitos da própria prática cognitiva. Ou seja, Kastrup defende a aquisição de
conhecimentos, como forma individual, como repercussão da subjetividade que para
Orlandi (2001: 99-100) a subjetividade é estruturada no acontecimento do discurso (...)
é dizer que o indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia. Orlandi afirma desta
maneira, pois possuímos uma relação de compromisso com os sentidos e com o político.
No caso, os dois textos, que servem como base para esta análise. São textos de
diferentes pessoas, mas inscritos em um mesmo discurso, que é o discurso literário, das
histórias infantis. A relação desses textos com a aprendizagem se correlaciona de acordo
com a política da recognição, que é a ação ou resultado de reconhecer, a representação.
Esse processo de aprendizagem, a recognição, o aluno atém-se a formas prontas e à
aquisição de informações (Kastrup, 2005). Como se pode ver no texto A. O aluno ao
produzir o texto, ele fez uma reprodução do que havia sido passado a ele anteriormente.
Enquanto que no texto B, tem-se praticamente a mesma história literária, porém em um
contexto totalmente “diferente”.
Antes de qualquer definição, Kastrup deixa claro, que invenção não se confunde
com criatividade. Segundo ela a criatividade é definida como uma capacidade de
produção com soluções originais para os problemas e a invenção é a capacidade de
invenção de problemas. Kastrup (2005):
(...) a aprendizagem surge como processo de invenção de problemas.
Aprender é, então, em seu sentido primordial, ser capaz de problematizar a
partir do contato com uma matéria fluida, portadora de diferença e que não
se confunde com o mundo dos objetos e das formas. (...) A noção de
aprendizagem inventiva inclui também como invenção de mundo.
Desta forma, pode-se perceber que no texto B o aluno, ao produzir, aborda de
uma cognição inventiva, pois segundo Kastrup A aprendizagem surge como processo de
produção da subjetividade, como invenção de si. Desta forma a autora afirma que se
deve pensar a invenção, como ponto de partida para a aprendizagem, pois é a partir dela
que o aluno circunscreve sua subjetividade.
Com isso temos na instituição escolar, a qual se remete os textos analisados, o
Discurso Pedagógico (DP). O aluno e o professor, por sua vez, fazem parte deste DP,
em que ambos são dispostos da seguinte forma: o professor detém o conhecimento, que
ensina (inculca) o aluno, na escola. Este discurso está instaurado em uma instituição,
que o faz mostrar em sua função: um dizer institucionalizado, sobre as coisas, que se
garante, garantindo a instituição em que se origina e para a qual tende (Orlandi, 1987).
É a partir disso, que Orlandi afirma que se instaura o domínio da circularidade inserida
na escola. Pois partindo dessa circularidade, pode-se ver a possibilidade de um
rompimento da mesma, pela cognição inventiva por Kastrup.
Contudo, Kastrup considera que: a política da invenção é, assim, uma política
de abertura da atenção ás experiências não-recognitivas e ao devir. Que de certo
modo, no DP o devir, irá se instaurar no sujeito, para a aquisição de novos
conhecimentos, a partir do contato com a alteridade do mundo, produzir novos sentidos,
novas experiências e novas ideias, que sejam da própria cognição.
Referências Bibliográficas
KASTRUP, Virgínia. Políticas cognitivas na formação do professor e o problema do
devir-mestre. Dossiê: “Entre Deleuze e a Educação”. Campinas set./dez. 2005.
ORLANDI, Eni P. Discurso e Texto: Formulação e Circulação dos Sentidos.
Campinas, SP: Pontes, 2001.
______. Análise de Discurso: princípio e procedimentos. Campinas, SP: Pontes, 2001.
______. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. 2 ed. rev. e aum.
Campinas, SP: Pontes, 1987.
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Artigo Políticas de cognição, aprendizagem, invenção