Carta Mensal Março de 2011 FCLCapital Março de 2011 1 Carta Mensal Março de 2011 FCLCapital Tabelas e Gráficos de Resultado: Valor da quota em 31/03/2011: 2,787322 Patrimônio Líquido: R$ 9.206.765,69 Performance Março de 2011 Últimos 12 meses Performance Acumulada Performance Anual Média Retorno acumulado desde o início da FCL Em R$ +0,64% +13,83% +178,73% +29,62% Em US$ +2,13% +15,12% +247,91% +34,25% Retorno anual médio FCL Capital Ibovespa CDI 10,75% 10,84% 178,73% 29,21% FCL Capital 50,42% 50,96% Ibovespa CDI 2 Carta Mensal Março de 2011 FCLCapital Parte 1-Performance - Um balanço dos primeiros 4 anos Equipe FCL: Fernando Araujo Gustavo Prado Felipe Marcondes Besmar Lino Telefone: (55) (21) 3268-7918 E-mail: [email protected] Neste ultimo mês o clube de investimentos FCL Capital completou 4 anos de vida. A performance do clube de investimentos FCL Capital está acumulada em 176,73% em reais e 247,91% em dólares americanos desde sua fundação, em 3 de abril de 2007. Durante o mês de março de 2011 nossa performance foi positiva em 0,64% em reais e em 2,13% em dólares. Ao olharmos a performance anual média acumulada pelo clube, métrica de desempenho mais importante e através da qual avaliamos nossa própria performance, nosso desempenho se encontra em 29,20% médios ao ano em reais e em 36,57% ao ano em dólares. Como previmos na nossa última carta, após uma série de fatores pontuais e combinados que fez nossa performance sofrer bastante em fevereiro, passamos a navegar águas um pouco mais tranquilas neste mês de março. Isso é claro se descontarmos os efeitos do terrível terremoto/tsunami/faltas de energia/riscos nucleares que o Japão passou a viver. Nenhuma de nossas operações e participações possui exposição direta a área atingida, mas é certo que um choque como esse é sentido pelo mundo. Em um primeiro momento papeis de seguradoras pelo mundo sofreram um pouco, mas passado o momento de maior tensão as coisas começaram a voltar ao normal. É possível que este evento faça as empresas ao redor do mundo repensarem um pouco seus modelos de fornecimento e gestão de estoques, com o sistema Just in time, onde os pedidos feitos aos fornecedores são entregues ao cliente o mais rápido possível. Ou ao menos novas preocupações com dispersão geográfica de fornecedores sejam introduzidas aos modelos de gestão. Por hora o que se pode dizer que a tendência de crescimento econômico mundial levemente acima da tendência continua, apesar de um roll cada vez maior de choques negativos estar temperando este movimento. Aumento do preço do petróleo devido as instabilidades no Oriente médio, problemas continuados na Zona do Euro, situação fiscal ruim na maior parte das economias desenvolvidas, ameaça de inflação nos mercados emergentes e agora os problemas no Japão. Não é desprezível a lista de riscos e problemas pelos quais a economia mundial atravessa atualmente, mas por outro lado existe ainda um “upside” bastante grande devido a volta de uma situação de maior normalidade econômica nos Estados Unidos e Zona do Euro. O balanço final ainda é incerto mas a equação deve pender ligeiramente para a continuação do crescimento, desde que novos choques não apareçam. 3 Carta Mensal Março de 2011 FCLCapital Equipe FCL: Fernando Araujo Gustavo Prado Felipe Marcondes Besmar Lino Telefone: (55) (21) 3268-7918 E-mail: [email protected] A tabela acima foi compilada pela revista The Economist e mostra quanto os mercados financeiros mundiais demoraram para se recuperar de diversos choques, como o furação Katrina, o tsunami no sul da Ásia e o terremoto de Kobe. A tabela sugere que alguns dias após o evento ocorre um movimento de venda forte de investidores espantados o que gera uma ótima oportunidade de compra. Com efeito, após o pior momento da bolsa de Tókio, o índice Nikkei já recuperou mais de 15% de seu valor, o que mostra mais uma vez que o melhor momento para se comprar ações é quando há „‟sangue nas ruas‟‟ como diria o Barão de Rotschild. Nossa estratégia mestra para 2011 não se alterou. Continuamos satisfeitos com nosso portfólio atual e após um primeiro trimestre que não nos deixou satisfeitos em termos de performance, começamos a ver nossas cotas se recuperarem. Para finalizar, gostaríamos de salientar, que o desempenho acumulados nos últimos 12 meses do índice Ibovespa é de -2,5 pontos percentuais enquanto a FCL Capital viu suas quotas se apreciarem em quase 14% no mesmo período. Esperamos continuar a propiciar a nossos investidores desempenho favorável em qualquer cenário para a bolsa de valores. Não é uma tarefa trivial, mas é uma das missões da FCL Capital. Parte 2- Projeto de criação do fundo FCL Equities O projeto de transformação do clube de investimentos FCL Capital continua a 4 Carta Mensal Março de 2011 Equipe FCL: Fernando Araujo Gustavo Prado Felipe Marcondes Besmar Lino Telefone: (55) (21) 3268-7918 E-mail: [email protected] FCLCapital todo vapor. Credenciada como gestora e realizada a assembléia faltam apenas dois passos, a migração do clube para nosso futuro parceiro, a BTG Pactual e a consequente transformação do clube em fundo. Quando isso acontecer, nossos investidores terão novas possibilidades, como fim de limites para investimentos e a possibilidade de compra de quotas da FCL Capital tanto como pessoas físicas, como já fazem hoje, como pessoas jurídicas. Progresso da FCL Capital Credenciamento como gestora Concluído Alteração do estatuto do clube Concluído Migração para novo administrador Previsão: Maio de 2011 Credenciamento do fundo na CVM/BOVESPA Previsão: Julho de 2011 Parte 3- O supermercado vai para a prateleira de produtos Introdução Começando neste mês e concluindo no próximo, iniciaremos uma série de duas cartas mensais onde falaremos sobre as bolsas de valores. Muito se fala sobre as ações das empresas, mas as bolsas em si são um assunto fascinante e em plena ebulição por motivos que explicaremos a seguir. Dividimos este fascinante tema em cinco pontos sendo que abordaremos os 3 primeiros nesta carta e os dois últimos na carta do próximo mês. Historia - Os mercadores de Veneza O surgimento dos mercados de valores financeiros no planeta é uma história fascinante, ainda que não completamente entendida, e sem dúvida um dos 3 pilares básicos que possibilitou o surgimento da sociedade de negócios moderna, ao lado da criação do instituto da personalidade jurídica, que separou as empresas de seus donos, e o reconhecimento pela primeira vez dos direitos de propriedade intelectual. Vestígios foram aparecendo em diferentes lugares e os primeiros resquícios do que viriam a ser as modernas bolsas de valores, com suas quotações, com seu frenesi, com seus altos e baixos foram aparecendo. Infelizmente não se sabe muito sobre esta história. Sabe-se é claro que as bolsas de valores, como as conhecemos hoje, levaram séculos para desenvolver-se. Na mesapotãnea antiga já existiam tábuas de madeira onde escrivães controlavam devedores e poupadores. Na Roma antiga vários serviços públicos eram empreendimentos que permitiam a participação de nobres, em um esquema de entrada e saída que lembra troca de títulos e por consequência ações. 5 Carta Mensal Março de 2011 FCLCapital O próprio Cícero em certa passagem de suas memórias reclama que o preço de tais títulos estaria vivendo "épocas muito elevadas". Equipe FCL: Fernando Araujo Gustavo Prado Felipe Marcondes Besmar Lino Telefone: (55) (21) 3268-7918 E-mail: [email protected] Mais tarde, na idade média, o conceito de mercado de capitais teve novos desenvolvimentos. As grande navegações foram sem dúvida um propulsor: como muitas expedições exigiam recursos extraordinários mesmo para as coroas e reinados, algumas tinham um esquema de quotas, onde a burguesia que começava a nascer podia adquirir uma cerca quota e ter lucros se a expedição voltasse para a Europa tendo descoberto ouro e prata no alem mar. Isso significa que cinco séculos antes de Eike Batista realizar suas famosas aberturas de capitais na Bovespa e ser criticado porque suas empresas ainda são pré-operacionais, as capitais européias medievais adotavam um esquema que lembrava rudimentarmente o conceito de Eike, apesar de ainda não terem dominado o marketing e sendo certo que o navio Santa Maria, do navegador Cristovão Colombo, que descobriu as Américas não se chamava Santa Maria X ou coisa parecida. Voltando então a idade média, ao mesmo tempo que europeus desenvolviam nas grandes navegações as primeiras noções do conceito de mercado de capitais, ou seja, a aquerencia de um quinhão em um empreendimento que poderia ou não gerar lucros futuros, no Japão agricultores desenvolviam os primeiros sinais de um mercado de preços futuros. Como o arroz é um item tão fundamental na vida daquele país, em fins do século XVI agricultores e compradores concordaram com um sistema onde para acabar com as incertezas, preços futuros para a próxima colheita eram previamente acordados. Logo, é claro, e como existe até hoje, os mercados futuros de arroz atrairiam especuladores que procuravam ganhar dinheiro com as oscilações nos preços. Existem relatos de que ainda no Japão medieval famílias desenvolveram sofisticados sistemas de comunicações via bandeiras no topo de montanhas distantes, onde comunicavam chuvas e monções vindas do oceano, e que certamente fariam os preços cair. Certo é que os mercados futuros viriam a se tornar outra inovação indispensável ao funcionamento da economia moderna, pois nunca poderia existir por exemplo um AmBev ou uma Nestlé sem que existissem contratos futuros de Cevada ou Cacau para que estas empresas possam se organizar, planejar e adquirir com o tempo o desenvolvimento e tamanho que adquiriram. Com estes desenvolvimentos surge então a companhia das Índias Ocidentais, em 1602, que é tida pela maioria como a primeira verdadeira empresa aberta, e logo para as bolsas como as conhecemos hoje. Também ao mesmo tempo, na Europa Ocidental, surge a figura do banqueiro. Não podemos nos esquecer de que a Europa vivia sob o regime do feudalismo. Cada feudo possuía seu soberano, suas leis e sua própria moeda! Alguns comerciantes perceberam que mercantes e andarilhos que vagavam pelas perigosas estradas tinham de, ao invés de serem pagos em moedas, que não significavam nada para eles, receber uma espécie de carta de crédito, que poderia ser trocada pela própria moeda do reino de origem. Assim ganhava-se em segurança e praticidade. 6 Carta Mensal Março de 2011 Equipe FCL: Fernando Araujo Gustavo Prado Felipe Marcondes Besmar Lino Telefone: (55) (21) 3268-7918 E-mail: [email protected] FCLCapital Impérios financeiros que existem até hoje assim surgiram na Europa antiga. Mas talvez o capítulo mais sensacional da história viria a acontecer do outro lado do Atlântico. Poucos iriam supor que cerca de 24 corretores, que se reuniam diariamente desde os idos do ano de 1792 embaixo de uma figueira para comprar e vender títulos de bens, direitos e empresas viriam a ser um capítulo a parte nesta historia. Aos poucos os negócios cresceram e da rua eles foram para dentro de um prédio. A primeira sala que eles ocuparam possuía cerca de 150 metros quadrados e ficava no final da então deserta e agrária rua de Wall Street, no sul da ilha de Manhattan. Surgiu então a necessidade de regras e de uma certa formalização. Foi escrita então uma espécie de constituição, um código de procedimento. Aquele não seria um simples mercado a céu aberto. Não seria uma casa de leilões. Aquela seria uma bolsa de valores. Surge assim, no ano de 1817 o que viria a se tornar e é até hoje o cérebro de todo o sistema capitalista mundial: a bolsa de valores de Nova York. 2) Panorama atual - 24 horas sem parar Nos últimos 90 dias o mundo das bolsas de valores mundiais esteve em plena ebulição. Tradicionalmente menos inovadoras do que as empresas listadas em seu domínio, as bolsas costumavam ocupar um papel adormecido no mundo das finanças globais. Este sempre foi um negocio de monopólio, quase como uma companhia de água ou luz, ao mesmo tempo, as bolsas de valores eram mais vistas como uma funcionalidade que como um negócio em si. O panorama antigo era conhecido: os investidores de cada país basicamente investiam dentro de suas fronteiras, comprando papeis e títulos ali negociados. Cada mercado nacional era geralmente representado por uma bolsa de valores, provavelmente uma outra bolsa de mercadorias e futuros e talvez algumas bolsas regionais menores. Assim era por exemplo o caso do Brasil, onde aos poucos a bolsa de valores do Rio de Janeiro foi dando lugar a bolsa paulista até desaparecer por completo. Por mais que se lembre do caso do especulador Nagi Nahas, que teria acelerado este processo, é certo que isso provavelmente teria acontecido de uma forma ou de outra. É claro, o mundo possui investidores mais sofisticados, já algumas décadas, sobretudo nos Estados Unidos e Europa, que saltam facilmente fronteiras dos países e investem em papeis ao redor do mundo. Se olharmos rapidamente os principais acionistas de famosas empresas brasileiras como Vale do Rio Doce, Petrobras, Natura, etc. veremos que muitos deles são fundos de ações globais sediados nos mercados desenvolvidos. Há muito se fala também que os investidores caminhariam de dezenas de mercados regionais para um mercado global ligado 24 horas por dia. A idéia era que os papeis das principais empresas fossem negociados continuamente, passando da bolsa de Nova York para a de Londres para a de Tóquio ou Honk Kong e novamente recomeçando em Nova York. E de fato, isso aconteceu. Ao analisarmos papéis de empresas como General Electric, Microsoft, ou mesmo 7 Carta Mensal Março de 2011 FCLCapital empresas brasileiras como Bradesco e Vale, veremos que elas são listadas em diversas bolsas pelo mundo. Equipe FCL: Fernando Araujo Gustavo Prado Felipe Marcondes Besmar Lino Telefone: (55) (21) 3268-7918 E-mail: [email protected] A negociação destes papeis não para nunca. Poucos investidores brasileiros sabem também que existe uma outra Bovespa dentro da bolsa de Nova York. A negociação de ADRs, títulos de ações brasileiras dentro da bolsa americana, possui um volume que rivaliza com o da própria Bovespa. A novidade é que as bolsas deixaram de ser um elemento passivo na história. Este processo passou por algumas etapas. Primeiro houve a chamada desmutualização, isso é, as bolsas ao invés de propriedade das corretoras por meio de títulos se tornaram empresas, cujos donos passaram a possuir ações. E assim muitas bolsas pelo mundo se transformaram em empresas bilionárias. Logo, as próprias bolsas fizeram algo impensável, lançaram seus próprios IPOs em suas próprias bolsas! Hoje bolsas como a NYSE e a BMFBOVESPA são empresas que valem bilhões de dólares e têm suas próprias ações negociadas, respectivamente, na NYSE e na BMFBOVESPA. Passamos então para uma nova e previsível fase na onda de consolidação das bolsas: elas pela primeira vez começaram a se tornar multinacionais. Uma onda de fusões e aquisições tem sido vista nos últimos meses pelos quatro cantos do mundo. Hoje a bolsa de Mercadorias e Futuros de Chicago (CME) a maior do mundo em valor de mercado é uma das donas da BMFBOVESPA que por sua vez já possui acordos de cooperação com diversas bolsas latino americanas para no futuro fazer com que as ações de empresas da região sejam negociadas em plataformas de liquidez regionais. Isso tornaria possível por exemplo a um investidor brasileiro investir em ações 8 Carta Mensal Março de 2011 Equipe FCL: Fernando Araujo Gustavo Prado Felipe Marcondes Besmar Lino Telefone: (55) (21) 3268-7918 E-mail: [email protected] FCLCapital mexicanas sem a necessidade de enviar seus recursos para fora do país (um processo complicado para um investidor pessoa física) e vice-versa. Do outro lado do mundo a bolsa de Singapura acaba de se unir a bolsa australiana e a bolsa de Frankfurt fez uma oferta pela bolsa de ações de Nova York (NYSE) que poderá criar a maior bolsa do mundo. Isso se a Nasdaq Euronext, que já é produto de uma fusão global não fizer um lance ainda maior. Ou seja, é fato de que de bolsas locais estamos caminhando para uns cinco ou seis grandes grupos globais de bolsas de valores. E isso em um momento onde cada pequena economia se esforça para ter sua bolsa. Os terminais da Bloomberg não nos deixam mentir, algumas das bolsas de melhor performance nos últimos 12 meses são de lugares onde a ultima coisa que imaginamos é um mercado financeiro, como Laos, Camboja e Mongólia. O certo é que hoje para a grande maioria dos investidores financeiros de ações, commodities e moedas, a primeira pergunta ao se acordar não é mais como será o dia e sim "como está o dia na Europa?" no caso de um investidor americano, ou "como está o dia na Ásia" no caso de um investidor europeu, ou ainda "como foi o dia nos Estados Unidos" no caso de um investidor asiático. Sem dúvida as consequencias são imensas. Não importa que se trate de um comprador de contratos futuros de trigo ou de um especulador com ações, o negócio muda completamente de figura quando os preços do mesmo contrato de trigo ou da mesma ação em bolsas como Chicago ou Londres deixam de ser uma informação distante para se tornar um dado que influencia completamente o panorama dos negócios. E é para esse mundo que estamos caminhando. Um mundo que passará a possuir não mais diversos mercados financeiros, mas apenas um mercado financeiro. um mercado 24 horas por dia. 3) O futuro das bolsas - Uma constelação inexplorada Ha cerca de 2 anos a equipe da FCL Capital levou um susto: havíamos sido comunicados, junto com todos os outros investidores da BMFBOVESPA de um forte reajuste nos valores de custódia e emolumento da bolsa. Isso começou a nos mostrar o outro lado de ter uma bolsa desmutualizada. Como defensores do livre mercado, pagamos e não reclamamos, até porque é claro, não tínhamos a opção de fazer nada alem disso. Certo é que a BMFBOVESPA ocupará um lugar de destaque neste cenário de consolidação global das bolsas e é forte candidata a centralizar a liquidez financeira na negociação de moedas, commodities e ações da America latina. Certo também é que hoje, graças ao fato de ser a única bolsa do Brasil e a principal da região ela possui margens bem mais altas do que se poderia supor. Ao lermos o balanço da bolsa percebemos que ela é quase um negócio dos sonhos: margens altas, negocio com escala e em franco crescimento, sem concorrentes (apesar de que a concorrência bastante atenta notou o mesmo e puxou para cima o valuation do papel e a FCL Capital nunca foi nem está em vias de se tornar acionista da BMFBOVESPA). 9 Carta Mensal Março de 2011 Equipe FCL: Fernando Araujo Gustavo Prado Felipe Marcondes Besmar Lino Telefone: (55) (21) 3268-7918 E-mail: [email protected] FCLCapital Diante deste fato uma noticia tem percorrido o mundo das finanças do pais: a Claritas, renomada gestora de recursos teria se unido a BATS, um grupo internacional de bolsas e negociação eletrônica de ações para lançar no Brasil uma concorrente a BMFBOVESPA. Não se sabe ainda na prática como será a operação desta nova bolsa mas imagina-se que seja um ambiente de negociação diferenciado, mais voltado a ordens eletrônicas de grandes investidores. Seja como for parece que os dias de reinado absoluto e solitário da bolsa brasileira estão perto do fim. Mas isto tudo ainda é apenas o começo: a regulação brasileira também está mudando. Recentemente a CVM baixou um novo conjunto de regras, que aos poucos começa a ser explorado pelos fundos nacionais, permitindo pela primeira vez que uma parte do caixa e das aplicações dos fundos domiciliados no Brasil seja aplicada no exterior. Assim, fundos de ações e fundos Multimercados poderão respectivamente aplicar 10% e 20% de seu patrimônio em ativos estrangeiros e uma nova categoria de fundos , denominados superqualificados, poderá aplicar até 100% de seu patrimônio em ativos fora do Brasil. Isso não é um mero capricho: a possibilidade de comprar ativos no exterior facilitará em muito a vida dos gestores brasileiros em tarefas de diversificação e controles de risco. Basta pensar por exemplo em um gestor de fundos long short que terá um universo muito maior de concorrentes, podendo realizar por exemplo operações entre Natura e a Avon, Gerdau e Arcelor Mittal e uma infinidade de outros casos. Mas se quisermos realmente libertar a imaginação e imaginar o futuro, provavelmente a idéia mais empolgante está nas bolsas privadas de quotas e direitos.É uma categoria ainda nascente, representada por novas bolsas como Second Market (www.secondmarket) e Sharespost (www.sharespost.com). A novidade é que elas são empresas que organizaram uma série de regras, procedimentos de conduta e formas de negociação exclusivamente voltadas a quotas de empresas, títulos e patentes privadas. Isso quer dizer que nestes sistemas se dá por exemplo a negociação de quotas de empresas fechadas, cujo capital ainda não foi lanado em nenhuma bolsa de valores. Recentemente o SecondMarket caiu em evidência mundial por ser neste mercado que diversos funcionários e investidores iniciais do site Facebook negociam as quotas que possuem na empresa. O Facebook e algumas outras empresas de destaque fizeram o Second Market decolar nos Estados Unidos e é através desta ferramente que podemos por exemplo inferir o valor que o mercado tem concedido a esta incrível empresa: pelo valor das últimas negociações de quotas que tem trocado de mãos podemos calcular e dizer que o mercado tem estimado um valor aproximado de U$ 50 bilhões de dólares para o Facebook. E é através deste mercado que diversos fundos que desejam ter exposição a esta e outras promissoras empresas consegue comprar as quotas mesmo diante do fato destas empresas ainda não terem lançado seu capital em nenhuma bolsa de valores. Isso tudo é muito inspirador para a FCL como gestora, e ao mesmo 10 Carta Mensal Março de 2011 FCLCapital tempo nos exige humildade. Exploramos um universo incrivelmente pequeno, o das cerca de 600 empresas que possuem capital aberto listado na Bovespa. Equipe FCL: Fernando Araujo Gustavo Prado Felipe Marcondes Besmar Lino Telefone: (55) (21) 3268-7918 E-mail: [email protected] Julgamos que desempenhamos esta tarefa com algum sucesso mas nos preparamos e nos concentramos para o dia onde com as novas regulações da CVM poderemos passar deste universo para o universo das cerca de 35.000 empresas de capital aberto ao redor do mundo. Mas ainda isso será uma gota no oceano. Traçando um paralelo com a astronomia, a humanidade ao longo dos séculos vem cada vez mais descobrindo o quão pequena é. De centro do universo em nossa própria concepção, passamos com Galileu a nos considerar tão somente um planeta que girava ao redor de sua estrela, o sol. Mas ao menos o sistema solar era o centro do universo! Foi então que descobrimos que o sol nada mais era que uma entre milhões de estrelas da Via Láctea. Mas isso ainda era o começo: com as descobertas de Edward Hubble por volta de 1920 descobrimos que a Via Láctea não era o universo, mas apenas uma galáxia entre outras incontáveis galáxias. E se nosso ego ainda resistir, cientistas nos últimos 20 anos têm dado cada vez mais crédito e plausibilidade para a teoria de que o nosso universo não é o único, mas apenas um entre infinitos universos que se expandem e contraem, como se fossem bolhas de sabão. Assim voltando ao mundo das finanças, caberá aos gestores de recursos a tarefa de sempre expandir seu universo, das 600 empresas da Bovespa (e cujo universo explorado pela maioria dos gestores diga-se de passagem, não passa de 50 empresas) para as cerca de 35 mil empresas abertas no mundo para então, graças a novos mercados de negociação com o Second Market, para as cerca de 60 milhões de empresas de capital fechado que existem ao redor do globo. Este será o universo das próximas gerações de investidores. 11 Carta Mensal Março de 2011 FCLCapital “O presidente da Vale presidirá? Equipe FCL: Fernando Araujo Gustavo Prado Felipe Marcondes Besmar Lino Telefone: (55) (21) 3268-7918 E-mail: [email protected] - O Estado de S.Paulo Escolhido para assumir a presidência da Vale, a maior companhia privada brasileira, o executivo Murilo Ferreira terá de atender a dois objetivos possivelmente incompatíveis - cuidar do crescimento da empresa e de sua rentabilidade e, ao mesmo tempo, agradar ao governo. Se for obediente à presidente Dilma Rousseff e aos políticos por ela autorizados a dar palpites, comprometerá o desempenho econômico da Vale e perderá a confiança dos acionistas privados. Se assumir a função como um preposto do Palácio do Planalto, acabará entrando no jogo do aparelhamento partidário e do empreguismo. Mas, se levar em conta só os critérios profissionais e se concentrar na gestão dos negócios, entrará em conflito com o Palácio do Planalto, ficará sujeito a pressões políticas e terá de lutar duramente, como lutou seu antecessor, Roger Agnelli, para não ser defenestrado. Poderá resistir até por muito tempo, mas a derrota será quase certa. Ao escolher o nome do executivo Murilo Ferreira, os controladores da empresa levaram em conta esse duplo desafio. O administrador foi funcionário do grupo, presidiu a Vale Inco, no Canadá, e é conhecido no mercado. Ontem mesmo já houve manifestações de investidores a favor de seu nome. Além disso, ele presidiu a Albrás, empresa fabricante de alumínio e grande consumidora de eletricidade. Nessa condição, reuniu-se várias vezes com a então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff. Murilo Ferreira, segundo fontes confiáveis, era o nome preferido da presidente da República para a sucessão de Roger Agnelli. O problema do novo presidente da Vale, no entanto, não consistirá apenas em manter um difícil equilíbrio entre as demandas do mundo político e as do mercado. Muitos empresários importantes são forçados, ocasionalmente, a levar em conta os dois tipos de interesse. Mas o caso da Vale é especial. Como empresa privada, cresceu firmemente, multiplicou seus lucros e alcançou posições cada vez mais importantes no mercado global. Alimentou o Tesouro Nacional com volumes crescentes de impostos e tornou-se um fator de enorme importância estratégica para o País. Sem a Vale, a economia brasileira seria muito menos dinâmica e as contas externas, muito menos seguras. Em outras palavras, a Vale, tal como foi administrada a partir da privatização, assumiu um papel cada vez mais importante para a realização dos objetivos nacionais. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, parece desconhecer esse fato. Segundo ele, a Vale "precisa contribuir mais fortemente para os interesses do País". "A produção de aço no País", acrescentou, "é conveniente, é necessária ao povo brasileiro e à sociedade." Ele não explicou a diferença entre o povo brasileiro e a sociedade, mas esse pormenor é pouco relevante, no meio desse discurso lamentável. A produção de aço é importante, de fato, mas a siderurgia brasileira tem cumprido bem esse papel - e com sobras, porque há capacidade ociosa no setor. 12 Carta Mensal Março de 2011 Equipe FCL: Fernando Araujo Gustavo Prado Felipe Marcondes Besmar Lino Telefone: (55) (21) 3268-7918 E-mail: [email protected] FCLCapital O ministro parece ignorar também esse fato. Isso é compreensível. Reconduzido ao cargo por influência do senador José Sarney, ele deve preocupar-se com assuntos muito mais importantes, como a sujeição da Vale aos interesses políticos do Planalto e de seus aliados. O simples fato de o ministro Edison Lobão falar a respeito das obrigações da Vale é preocupante não só para os acionistas privados, mas para todos os brasileiros sérios. A ocupação do setor elétrico estatal pelo PMDB é fato bem conhecido. Outras estatais têm sido usadas, também, para servir aos aliados do governo. As consequências tornaramse públicas, em alguns casos, depois da exibição de vídeos gravados durante sessões de bandalheiras. Será esse o destino da Vale? A pergunta é mais que razoável, diante da experiência brasileira. Mas as perspectivas já são assustadoras, mesmo sem a hipótese da distribuição predatória de cargos. O governo quer forçar a companhia a investir segundo critérios voluntaristas - por exemplo, aumentando a capacidade ociosa do setor siderúrgico ou substituindo o Grupo Bertin no consórcio da Hidrelétrica de Belo Monte. Terá o novo presidente algo razoável para dizer sobre essas pretensões?” Texto retirado do jornal “O estado de São Paulo” 06 de abril de 2011 13