Expressão, purificação e cristalização da endo- e exo-α α-1,5-L-arabinanases obtidas de uma biblioteca metagenômica Bolsista Maria da Conceição M. F. da Costa Estudante de Biomedicina da Universidade Federal de Pernambuco Orientador Prof. Dr Mário Tyago Murakami Dra Camila Ramos dos Santos LNBio 2 Expressão, purificação e cristalização da endo- e exo-α α-1,5-L-arabinanases obtidas de uma biblioteca metagenômica Bolsista Maria da Conceição M. F. da Costa Estudante de Biomedicina da Universidade Federal de Pernambuco Orientador Prof. Dr Mário Tyago Murakami Dra Camila Ramos dos Santos LNBio 2011 3 “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daquele que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo seu propósito.” Romanos 8:28. 4 Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus, o autor e consumador da minha fé, que me conduziu até aqui. Sem Ele eu nada sou e nada posso fazer. Aos meus queridos pais, que me ajudaram, incentivaram e lutaram comigo pra chegar até aqui. Aos meus amigos, todos que me apoiaram e estiveram comigo, ainda que de longe se fizeram perto. Agradeço a todos do grupo BBE que me deram o apoio, bancada e que tiraram dúvidas durante todo o “bolsas de verão”. Aos meus orientadores Dr. Mario Murakami e Dra. Camila Santos, os quais me ensinaram muito, e me permitiram vivenciar toda a experiência do “bolsas de verão” com muita intensidade. Agradeço também a todos que organizaram o programa e tiveram a visão de proporcionar a difusão de conhecimento e experiências, não apenas entre diversas partes do país, mas por vários países da América latina. Quero agradecer aos bolsistas pelo apoio mútuo, compreensão e paciência por todo o período que longe de casa estivemos. 5 Resumo A busca por fontes alternativas de energia tem estimulado de maneira significativa o mercado mundial de biocombustíveis. Sabe-se hoje que resíduos gerados na produção de etanol, como a palha e o bagaço de cana, são ricos em polissacarídeos que podem ser utilizados na produção do chamado etanol de segunda geração. Para utilização da celulose, a fonte de açúcar fermentável, é necessária a sua a adequada liberação, a qual pode ser efetuada através de métodos físicos, físico-químicos e químicos. Métodos biológicos, que utilizam enzimas para hidrólise da parede celular vegetal, vêm sendo estudados. Nesse caso, se faz necessária uma gama de enzimas, devido à variedade de polissacarídeos que compõem a parece celular. Entre elas, estão as arabinanases, que clivam ligações α-1,5 entre resíduos de L-furanosil presentes nas pectinas. Neste trabalho escolhemos como objeto de estudo uma endo e uma exoarabinanase obtidas através de metagenômica de microbiota de rúmen de vaca. A endo-α-1,5-L-arabinanase (ARN2) degrada o esqueleto de L-arabinofuranosil de arabinanas de modo aleatório, resultando em arabino-oligossacarídeos, enquanto a exo-α-1,5-L-arabinanase (ARN3) cliva regiões terminais das arabinanas, liberando sempre resíduos de arabinose. A ARN3 apresenta somente um domínio, que se enovela em um β-propeller, ao passo que a ARN2 apresenta dois domínios, um em b-propeller e um em barril β, conforme predito por modelagem por homologia. O objetivo principal desse trabalho é a cristalização das proteínas escolhidas visando à determinação da sua estrutura tridimensional. Esses resultados com certeza contribuirão para o conhecimento sobre arabinanases, enzimas que são de grande interesse biotecnológico, porém com poucos estudos na área estrutural. Além disso, nosso trabalho pode impulsionar a bioprospecção no Brasil, pois embora existam projetos de metagenômica no país, até o momento nenhuma estrutura de proteína oriunda desta abordagem foi determinada. As proteínas foram expressas em fusão com tiorredoxina no N-terminal e com uma cauda de 6 resíduos de histidina no Cterminal, em Escherichia coli. Elas foram purificadas por cromatografia de afinidade e exclusão molecular. Espalhamento dinâmico de luz indicou amostras monodispersas e monoméricas. As proteínas foram cristalizadas pelo método de 6 difusão de vapor usando gota sentada. Após refinamento das condições iniciais, foram obtidos cristais adequados aos experimentos de difração de raios X. Os dados coletados permitiram a determinação da estrutura usando o método de substituição molecular para solução do problema das fases. 7 Sumário Agradecimentos ................................................................................................................................ 4 Resumo ................................................................................................................................................ 5 1. Introdução...................................................................................................................................... 9 Biocombustíveis de Segunda Geração................................................................................. 9 Parede Celular de Vegetais ................................................................................................... 10 Degradação da matéria lignocelulósica ........................................................................... 12 Arabinanases ............................................................................................................................. 13 Metagenômica ........................................................................................................................... 14 Endo-α-1,5-L-arabinanase (ARN2) ................................................................................... 14 Exo-α-1,5-L-arabinanase (ARN3) ...................................................................................... 16 2. Objetivo ........................................................................................................................................ 17 3. Materiais e métodos ................................................................................................................ 18 3.1 Transformação de Cepas de Escherichia coli.......................................................... 18 3.2 Mini preparações plasmidiais ...................................................................................... 18 3.3 Expressão protéica ........................................................................................................... 19 3.3.1 Indução ......................................................................................................................... 19 3.3.2 Cultura permanente ................................................................................................ 20 3.3.3 Eletroforese de proteínas ...................................................................................... 20 3.4.1 Cromatografia de afinidade .................................................................................. 21 3.4.2 Teste de proteólise limitada das proteínas recombinantes ..................... 22 3.4.3 Cromatografia de Exclusão molecular.............................................................. 22 3.5 Espalhamento Dinâmico de Luz (DLS) ..................................................................... 23 3.6 Concentração de amostras ............................................................................................ 23 3.6.1 Medidas de concentração de proteína ............................................................. 23 3.7 Ensaios de Cristalização ................................................................................................. 24 3.8 Coleta e processamento dos dados de difração .................................................... 25 3.9 Determinação da estrutura tridimensional ............................................................ 25 4. Resultado e discussão............................................................................................................. 26 4.1 Extração plasmidial.......................................................................................................... 26 4.2 Expressão Protéica ........................................................................................................... 26 4.3 ARN2 ...................................................................................................................................... 27 4.3.1 Cromatografia de afinidade .................................................................................. 27 4.3.2 Proteólise limitada ................................................................................................... 29 4.3.3 Cromatografia de exclusão molecular .............................................................. 29 4.3.4 Espalhamento dinâmico de luz (DLS) .............................................................. 31 8 4.3.5 Ensaios de Cristalização......................................................................................... 32 4.3.6 Coleta e processamento de dados ...................................................................... 34 4.3.7 Determinação da estrutura cristalográfica..................................................... 35 4.4 ARN3 ...................................................................................................................................... 37 4.4.1 Cromatografia de afinidade .................................................................................. 38 4.4.2 Cromatografia de exclusão molecular .............................................................. 40 4.4.3 Espalhamento Dinâmico da Luz (DLS) ............................................................. 41 4.4.4 Ensaios de Cristalização......................................................................................... 41 5. Conclusão .................................................................................................................................... 42 6. Referências ................................................................................................................................. 43 9 1. Introdução Biocombustíveis de Segunda Geração Desde 1751 aproximadamente 337 bilhões de toneladas de carbono foram liberadas na atmosfera a partir do consumo de combustíveis fósseis e produção de cimento. Metade dessas emissões ocorreu desde meados dos anos 70. Dentro deste cenário, a busca por uma fonte renovável de combustível tem impulsionado o mercado mundial de combustíveis (Boden, 2010). Os biocombustíveis constituem uma excelente alternativa ao petróleo. Contudo, até meados dos anos 70 sua produção para fins energéticos era irrisória. O panorama mundial mudou em 1975 com o programa de incentivo brasileiro – Proalcóol (Programa nacional do álcool) – o qual impulsionou a indústria dos biocombustíveis. Entretanto, os combustíveis renováveis, em especial os advindos de cereais, podem gerar um conflito com a agroindústria pela terra (Rosa, 2010). É, portanto, de fundamental importância a total utilização dos insumos gerados pela produção de álcool, a fim de produzir cada vez mais biocombustível sem a necessidade da expansão do cultivo. A produção do etanol de primeira geração consiste na fermentação do caldo de cana-de-açúcar por leveduras. Esses microorganismos hidrolisam as moléculas de sacarose em glicose e frutose e utilizam a glicose em seu processo de respiração anaeróbica, produzindo etanol. O etanol de segunda geração utiliza como matéria-prima os resíduos gerados na produção do etanol de primeira geração, como palha e bagaço da cana-de-açúcar. Atualmente, esses resíduos têm sido usados na geração de energia elétrica e para cobertura do solo, a fim de evitar a erosão e repor nutrientes (Martins-Filho, 2009; Goldemberg, 2007). 10 Parede Celular de Vegetais A parede celular vegetal é bastante complexa (Fig. 1), sendo rica em alguns tipos de polímeros – celulose, hemicelulose, pectina e lignina, os quais estão ligados através de ligações químicas covalentes e não-covalentes – formando uma matriz altamente recalcitrante bastante importante na proteção do vegetal contra agentes externos (Pérez, 2002). Figura 1 – Parede celular secundária de vegetais. (Fonte: http://www.ccrc.uga.edu/~mao/intro/ouline.htm) A celulose é um polímero linear de resíduos D-glicose, ligados entre si através de ligações glicosídicas do tipo β-1,4. As moléculas de celulose se agrupam em microfibrilas através de ligações de hidrogênio e força de van der Waals. Essas microfibrilas podem se apresentar na forma cristalina ou na forma 11 amorfa, sendo que a segunda é mais suscetível à degradação enzimática. Entre as microfibrilas de celulose estão a hemicelulose e lignina. A hemicelulose é um polímero complexo de polissacarídeos, com peso molecular mais baixo que a celulose. Consiste de D-xylose, D-mannose, Dgalactose, D-glucose, L-arabinose, 4-O-methyl-glucuronico, D-galacturonico e ácido D-glucuronico, ligados através de ligações do tipo β-1,4 e ocasionalmente β-1,3. A lignina, juntamente com a celulose, é o polímero mais abundante na natureza. Estruturalmente é um heteropolímero amorfo, não solúvel em água e opticamente inativo. Consiste de unidades de fenilpropano unidas por diferentes tipos de ligação (Pérez, 2002). Figura 2 – Componentes da parede celular vegetal. (a) celulose, (b) hemicelulose e (c) lignina. (Fonte: http://www.ceres.net/AboutUs/AboutUs-Biofuels-Carbo.html) As pectinas ou substâncias pécticas são um dos componentes majoritários da parede celular primária e presente em menor quantidade nas paredes secundárias. São constituídas por um complexo polissacarídico heterogêneo e ramificado, o qual possui regiões planas de homogalacturanos e regiões ramificadas de xilogaracturanos e ramnogalacturanos (Fig. 3), cujos componentes são cadeias de açúcares neutros como arabinanas, galactanas e arabinogalactanas (Wong, 2008a). 12 Figura 3 – Estrutura básica da pectina. (Fonte: http://www.ccrc.uga.edu/~mao/intro/ouline.htm) Degradação da matéria lignocelulósica A primeira etapa no processamento biomassa lignocelulósica para a produção de etanol de segunda geração é o pré-tratamento. Este pode ser realizado através de métodos físicos, químicos e biológicos. A metodologia mais comum é a explosão de vapor, no qual a biomassa triturada é tratada com vapor (saturado, 160°-260° C) seguido de uma rápida descompressão. O processo causa a degradação da hemicelulose e a transformação da lignina devido à alta temperatura. Desse modo, há um aumento na potencial hidrólise da celulose. As vantagens do método incluem a baixa energia requerida comparada com a moagem mecânica. Contudo, há destruição de uma porção de xilana, além da ruptura incompleta da lignina e geração de compostos que podem inibir os microorganismos utilizados na fermentação (Rosa,2010; Sun, 2002). Ácidos concentrados tais como H2SO4 e HCl tem sido usado no tratamento da matéria lignocelulósica. Entretanto, ácidos concentrados são tóxicos e corrosivos, além do que devem ser recuperados após hidrólise para tornar o processo economicamente viável (Sivers, 1995). Ácidos diluídos têm sido usados 13 com sucesso no pré-tratamento da biomassa, e podem aumentar significativamente a hidrólise da celulose. Contudo, ainda possui um custo alto quando comparado às outras metodologias. O uso dos ácidos requer a neutralização do pH previamente à fermentação, o que também encarece o processo. A metodologia aplicada ultimamente no pré-tratamento da matéria lignocelulósica, tem demonstrado desvantagens que acabam por impulsionar a busca por métodos mais econômicos e integrados. Por esse motivo tem-se estudado o pré-tratamento biológico, no qual são usadas enzimas produzidas por microrganismos como fungos e bactérias que são capazes de degradar a matéria lignocelulósica. Entre elas, lignina peroxidases, peroxidase manganês- dependente, polifenol oxidases, laccases, arabinanases, arabinofuranosidases, xilases, etc. Cada enzima tem a capacidade de quebrar ligações específicas de diferentes substratos. A principal vantagem do pré-tratamento biológico está em requerer baixa energia e leves condições ambientais (Sun, 2002). Apesar de trazer inúmeras vantagens, o alto custo da redução de polissacarídeos complexos da biomassa para açúcares fermentáveis impede que essa tecnologia seja empregada. Os custos de celulases e hemicelulases contribuem substancialmente para o preço do bioetanol e, por isso, novos estudos visando a compreensão e o melhoramento da eficiência e da produtividade dessas enzimas são de fundamental importância. Arabinanases São enzimas que podem ser encontradas em várias bactérias e fungos, assim como em sementes germinativas de plantas (Wong, 2008b). As arabinanases são glicosidases que hidrolizam ligações glicosídicas do tipo α-1,5 entre resíduos arabinofurasil encontrados no polímero de arabinana, os quais estão presentes nas pectinas. São membros da família 43 de hidrolases glicosídicas (GH43), de acordo com a classificação do CAZy (Carbohydrate-Active enZymes, http://www.cazy.org/). Membros desta família catalisam suas reações através do mecanismo de inversão anomérica do carbono quiral. Possuem sítio ativo 14 com três resíduos catalíticos essenciais, sendo que dois destes resíduos são aminoácidos carboxilados que atuam como ácido e base, respectivamente, na inversão anomérica. O terceiro resíduo age, em geral, mantendo o correto alinhamento do resíduo ácido em referencia ao substrato e modulando o pKa (Alhassid, 2009). As arabinanases são enzimas ainda pouco estudadas, quando comparado a outras hidrolases como celulases ou xilanases. Contudo, elas têm atraído à atenção em decorrência de sua aplicação em diversas áreas, tais como na indústria alimentícia, síntese orgânica e degradação de matéria lignocelulósica para a produção de biocombustível. Metagenômica Esta é uma abordagem que busca descobrir novas enzimas através do screening de cepas bacterianas. Para tal, é feita a clonagem direta de genomas coletivos extraídos de uma microflora ambiental. É um eficaz meio de explorar a diversidade e complexidade de variados genes e enzimas de microrganismos não-cultiváveis (Lorenz, 2002). O uso da metagenômica permite uma nova forma de estudo e exploração dos recursos naturais biológicos: a bioprospecção. Esta pode ser definida como: o método ou forma de localizar, avaliar e explorar sistemática e legalmente a diversidade de vida existente em determinado local (Santos, 2002). A bioprospecção tem como principal finalidade a busca de recursos genéticos e bioquímicos para fins comerciais. Endo-α α-1,5-L-arabinanase (ARN2) A ARN2 é uma endo-α-1,5-L-arabinanase obtida através de metagenômica de microbiota de rúmen de vaca. Essa proteína contém 585 resíduos de aminoácidos incluindo um predito peptídeo sinal de 19 resíduos de aminoácidos. A proteína madura, de 566 resíduos, tem um peso molecular predito de 64.816,5 Da, com um ponto isoelétrico (pI) de 6,07. A molécula não possui linker rico em Ser/Gly ou módulo de ligação a carboidrato (CBM) comumente encontrado em hidrolases modulares. 15 A estrutura primária da ARN2 a classifica como membro da família GH43. Modelagem por homologia da ARN2 com a hidrolase glicosídica YxiA de Bacillus licheniformis (código PBD: 3LV4, 37% de identidade) indica que essa proteína possui dois domínios, sendo um em five-bladed β-propeller e outro em barril-β (Fig. 4). Além de apresentar 7 inserções, sendo as maiores de 19 resíduos localizadas entre a 1ª e 2ª folha β, e entre a 2ª e 3ª folha β, ARN2 possui um Cterminal estendido, com 44 resíduos adicionais, quando comparado com a proteína de B. licheniformis. Alinhamento de seqüências indica que Asp29 atua como base e o Glu278 atua como ácido catalítico. Figura 4 – Modelo da ARN2 indicando a presença de dois domínios. Cada uma das 5 folhas β do propeller está colorida de uma cor. Os resíduos catalíticos estão mostrados em destaque, em modelo ball-and-sticks. O domínio em barril-β está colorido em cinza escuro. A enzima recombinante possui máxima atividade catalítica em pH 6,0-7,0, e é relativamente estável na faixa de pH entre 5,0-8,0. Sua temperatura ótima encontra-se entre 40-50°C, e demonstra estabilidade acima de 40°C, sendo completamente inativa quando incubada a 55°C. Sua atividade de endoarabinanase foi demonstrada experimentalmente, pela presença de oligômeros 16 de cadeia curta nos menores tempos de hidrólise e acúmulo de arabinotriose e arabinotetraose com progressão da reação. A ARN2 demonstra alta atividade para arabinanas que foram desrafimicadas, entretanto, dados cinéticos indicam que sua especificidade não se encontra na diferença de afinidade de ligação com o substrato, mas nas etapas químicas subseqüentes à ligação (Wong, 2009). Exo-α α-1,5-L-arabinanase (ARN3) A ARN3 é uma Exo-α-1,5-L-arabinanase de 347 resíduos de aminoácidos obtida da extração do genoma total da microbiota presente no líquido de rumem de vaca. Sua porção N-terminal possui um peptídeo sinal com 20 resíduos de aminoácidos contendo seis resíduos de Leucinas com um sítio predito de clivagem entre a Ala20 e a Gln21. A estrutura primária não revela um linker rico em Ser/Gly ou um CBM, típicos de hidrolases modulares. A proteína madura tem seu peso molecular calculado em 37.300,8 Da e um pI de 7,13. ARN3 é composta por apenas 1 domínio, que se enovela em fivebladed β-propeller (Fig. 5). A modelagem por homologia usando a α-Larabinanase 43A de Cellvibrio japonicus revelou que ARN3 contém uma seqüência extra de resíduos de aminoácidos (195 a 201, KGEPKTI), tornando maior o loop que conecta a terceira e a quarta fitas da terceira folha β. Um segmento adicional de resíduos de aminoácidos (223 a 226, NQAP) alongou o loop que liga a terceira e quarta folhas β. Análise de alinhamento de seqüência com outras arabinanases sugere que o ácido e a base catalíticos da ARN3 consistem do Glu234 e do Asp40, respectivamente. 17 Figura 5 – Modelo da ARN3 em que cada uma das 5 folhas β do propeller está colorida de uma cor. A ARN3 recombinante tem um pH ótimo de 6,0-7,0, é relativamente estável na faixa de pH 3,0-7,0, sua maior estabilidade é obtida em pH 5,0. Sua temperatura ótima é aos 50°C, e a enzima se mostra estável em temperatura menor ou igual a 45°C. Sua atividade de exo-arabinanase foi comprovada em ensaios nos quais foi observado o acúmulo de arabinose durante a reação sem a presença de oligômeros intermediários. A enzima recombinante não cliva arabinanas ramificadas. Possivelmente as cadeias laterais de arabinofuranosil causam impedimento estérico, afetando a ligação do substrato no sítio ativo da enzima (Wong, 2008b). 2. Objetivo O principal objetivo deste trabalho é cristalizar as enzimas de interesse biotecnológico endo-α-1,5-arabinanase e exo-α-1,5 -L-arabinanase provenientes de uma biblioteca metagenômica de microbiota de rúmem de vaca. 18 3. Materiais e métodos 3.1 Transformação de Cepas de Escherichia coli Foi realizada transformação por eletroporação da cepa BL21 (DE3) de Escherichia coli com a construção plasmidial pET32b/ARN2 e pET32b/ARN3. O plasmideo usado foi escolhido porque leva à expressão da proteína de interesse em fusão com a tiorredoxina na porção N-terminal, visando aumentar sua solubilidade. Além disso, a proteína contém uma cauda de 6 resíduos de histidina no seu C-terminal, que visa facilitar a purificação da proteína de interesse. A eletroporação foi iniciada com a adição de 1 µL de cada plasmídeo (pET32b/ARN2 ou pET32b/ARN3) a 40 µL de células competentes. Esse material foi transferido para uma cubeta que foi submetida a um pulso elétrico de 2,5V usando o Gene Pulser II (BioRad). As células foram cultivadas em 1 mL de meio Luria-Bertani – LB (1% (p/v) de triptona, 1% (p/v) de cloreto de sódio e 0,5% (p/v) de extrato de levedura) sob agitação de 200 rotações por minuto (rpm) por 1 hora a 37°C. Após esse período 100 µL de células foram plaqueados em meio LB sólido contendo ampicilina (100 µg/mL). As placas foram mantidas por 16 horas em estufa a 37°C. Foi também realizada a transformação por choque térmico da cepa DH5α de E. coli, com o objetivo de aumentar o número de cópias das construções pET32b/ARN2 e pET32b/ARN3. Foi misturado 1 µL das respectivas construções com 40 µL de células quimicamente competentes, estes foram incubados por 30 minutos no gelo, seguido de 30 segundos a 42°C e em seqüência 5 minutos no gelo. As células foram cultivadas em 1 mL de meio LB por 1 hora a 37°C/200rpm. Após esse período 100 μL de células foram plaqueados em meio LB sólido contendo ampicilina. As placas foram mantidas por 16 horas em estufa a 37°C. 3.2 Mini preparações plasmidiais As colônias crescidas da cepa de E. coli DH5α foram inoculadas em 5 mL de meio LB líquido com ampicilina, e incubados por 16h a 37°C/200rpm, para em 19 seguida serem realizadas minipreparações plasmidiais. As minipreparações plasmidiais foram realizadas através do kit QUIAprep® Spin Miniprep (QUIAGEN – Lot 130188489), segundo protocolo descrito pelo fabricante. As extrações plasmidiais foram analisadas através de eletroforese em gel de agarose 1% e visualização em transiluminador de luz ultra-violeta. Foi realizada a quantificação desse material através de espectrofotômetro NanoDrop™ 2000 (Thermo Fisher Scientific). 3.3 Expressão protéica 3.3.1 Indução O protocolo de expressão para as proteínas ARN2 e ARN3 já estava estabelecido (Wong, 2008b). Com intuito de confirmar os resultados anteriores, durante a expressão em larga foram retiradas 3 alíquotas, em diferentes tempos. A metodologia empregada está descrita a seguir. Colônias advindas da transformação de E. coli BL21 (DE3) com as construções pET32b/ARN2 e pET32b/ARN3 foram transferidas para 10 mL de meio LB líquido e incubados por 16 h a 37°C/200rpm. A cultura foi inoculada em 500 mL de meio LB líquido contendo antibiótico ampicilina, e incubada a 37°C/200rpm até atingir a OD600nm = 0,7. A indução foi realizada a 30°C com a adição de IPTG (isopropil-β-D-tiogalactosídeo) na concentração final de 0,1 mM. Alíquotas foram retiradas em diferentes tempos (t0=10 mL, t2h=7 mL e t4h=5 mL), centrifugadas a 3184g/15min/4°C e armazenadas a -20°C. Após 4 horas de indução os 500 mL de cultura foram centrifugados a 6000g/15min/4°C e o pellet guardado a -20°C. As células de 500 mL foram ressuspendidas em Tampão A (0,5 M de NaCl, tampão 0,5 M de fosfato de sódio pH 7,5, 0,5 M de imidazol) contendo 1 mM de PMSF e 5 mM de benzamidina e incubadas durante 1 hora com lisozima (80 µg/mL). Em seguida, foram lisadas através de sonicação no equipamento Vibracell™ VCX 500 (Sonics & Materials Inc.) com pulsos de 15 s, intervalos de 45 s, usando amplitude de 30%. Logo após, as amostras foram centrifugadas a 20 16900g/30 min/4°C e o sobrenadante aplicado em coluna de cromatografia de afinidade. As alíquotas coletadas durante a indução foram ressuspendidas em 1 mL de Tampão A contendo PMSF e benzamidina e lisadas por sonicação com pulsos de 5 s e intervalos de 15 s, com amplitude de 20%. As amostras foram centrifugadas a 20817g/30min/4°C, os sobrenadantes foram transferidos para novos tubos e os pellets ressuspendidos em 1 mL do mesmo tampão. Amostras de pellet e sobrenadante foram aplicadas em SDS-PAGE 13%. 3.3.2 Cultura permanente Foram também realizadas culturas permanentes das construções pET32b/ARN2 e pET32b/ARN3 em BL21 (DE3), com o objetivo de manter uma fonte segura para a obtenção de bactérias transformadas, além de tornar maior a chance de reprodutibilidade das expressões. Com o mesmo pré-inoculo usado na indução foi feita uma cultura permanente. Foram adicionados 600 µL de glicerol 100% estéril a 400 µL de células e o material foi estocado a -80°C. 3.3.3 Eletroforese de proteínas A análise da indução, da proteólise e dos procedimentos de purificação foi realizada pela técnica de SDS-PAGE (eletroforese em gel de poliacrilamida docecil sulfato de sódio), o qual é um método de baixo custo, reprodutível e rápido para quantificar, comparar e caracterizar proteínas. Este método separa proteínas baseado primeiramente em seus pesos moleculares (Laemmli, 1970). O SDS liga nas porções hidrofóbicas da proteína, perturbando sua estrutura tridimensional e permitindo que ela exista de forma estável em solução, em conformação estendida. Como resultado, o comprimento do complexo proteínaSDS é proporcional ao seu peso molecular. Foi utilizado um gel composto por duas fases: uma de empilhamento, que apresenta uma menor concentração de poliacrilamida permitindo que haja o empilhamento e entrada homogênea das proteínas no gel de resolução, no qual as proteínas serão efetivamente separadas. 21 3.4 Purificação 3.4.1 Cromatografia de afinidade A cromatografia de afinidade é baseada na específica afinidade entre a proteína e o ligante ligado à matriz. O ligante pode ser biologicamente específico, tais como peptídeos, anticorpos ou ácidos nucléicos, ou pode explorar interações não específicas com lectinas ou corantes. Quando a amostra é aplicada na coluna apenas os componentes com afinidade ao ligante presente na resina permanecerão adsorvidos à matriz, sendo o restante da amostra retirado por meio das lavagens realizadas. A dissolução da ligação entre o ligante e a proteína pode ser realizada através de alteração do pH ou por competição com outras espécies doadoras de elétrons. Neste trabalho, foi utilizada a técnica denominada cromatografia de afinidade por íons metálicos imobilizados. Em tal técnica a afinidade ocorre em função de ligações reversíveis formadas entre um íon metálico aderido à resina, o níquel (Ni2+), e o anel imidazólico de resíduos de histidina. A ligação ocorre em função da doação de elétrons do aminoácido para o íon metálico. O desligamento da proteína da coluna por sua vez ocorrerá com a adição de imidazol, que compete com as histidinas pela ligação ao metal. Esta técnica só foi possível devido ao fato de que há uma seqüência de seis histidinas presentes no C-terminal da proteína de interesse, como já foi anteriormente descrito. Foi utilizada a coluna HiTrap™ Chelating de 1 mL (GE Healthcare) acoplada ao sistema ÄKTA™ FPLC™ (GE Healthcare) e um fluxo de 1 mL/min. A coluna foi previamente carregada com solução 100 mM de sulfato de níquel e equilibrada com tampão A. Após aplicação da amostra, a coluna foi lavada com tampão A até a A280nm estabilizar. A eluição da proteína de interesse foi feita através de gradiente de imidazol de 0 a 500 mM em 20 volumes de coluna. A concentração de imidazol foi mantida constante durante a eluição de cada pico. 22 3.4.2 Teste de proteólise limitada das proteínas recombinantes Foi realizada proteólise limitada com as proteínas recombinantes, com o objetivo de clivar a tiorredoxina fusionada às proteínas de interesse. Foi utilizada a enzima tripsina na concentração final de 0,01 mg/ml, em presença de 1 mg/mL da ARN2 ou ARN3 purificadas. Alíquotas foram coletadas em diferentes tempos de digestão, e após cada coleta foi adicionado PMSF (fluoreto de fenilmetilsulfonil), inibidor de serino proteases incluindo a tripsina, na concentração final de 1 mM. Em seguida, analisou-se a degradação através de gel SDS-PAGE e definiu-se a melhor condição de clivagem. 3.4.3 Cromatografia de Exclusão molecular A cromatografia de exclusão molecular, também denominada de filtração em gel, é o único método de separação que não requer ligação de proteínas à matriz. Deste modo, reduz significativamente o risco de perda da proteína devido a ligações irreversíveis ou inativação protéica. Neste método separam-se proteínas de acordo com seu tamanho. A matriz da cromatografia de exclusão molecular contém poros que permitem que o tampão e as pequenas proteínas entrem, mas excluem grandes proteínas e agregados protéicos. Assim, grandes proteínas migram ao redor das partículas da matriz e são eluídas da coluna antes das proteínas menores. As amostras da cromatografia de afinidade consideradas puras por SDSPAGE foram juntadas e concentradas por filtração em Amicon® Ultra-4 Centrifugal Filter (Millipore) com poros de 30 kDa para a ARN2 e 10 kDa para ARN3, centrifugando-se a 3184g a 4°C até obter-se 2 mL. A cromatografia foi realizada em sistema ÄKTA™ FPLC™ (GE Healthcare), usando-se coluna Superdex 75 16/60 (GE Healthcare), previamente equilibrada com tampão 20 mM de fosfato de sódio pH 7,5, 150 mM de NaCl, a um fluxo de 0,5 mL/min. 23 3.5 Espalhamento Dinâmico de Luz (DLS) É ideal que a amostra a ser cristalizada seja homogênea. O DLS é uma técnica que permite estimar a distribuição de tamanho das populações de partículas que estão presentes na solução, o que se trata de heterogeneidade estrutural – diferentes estados de oligomerização da mesma proteína ou a formação de agregados protéicos. A análise por DLS foi feita em todas as amostras consideradas puras após cromatografia de exclusão molecular e analisadas por SDS-PAGE. As amostras foram previamente centrifugadas por 30 minutos a 20817g a 4°C, e foram realizadas 100 aquisições de 5 segundos a 18°C. Somente as frações consideradas monomodais (1 população) e monodispersas (até 25% de polidispersividade), foram utilizadas para cristalização, pois há relatos na literatura mostrando que amostras monodispersas têm maior chance de cristalização. 3.6 Concentração de amostras Visando uma maior chance de cristalização a amostra é concentrada o máximo possível, ou seja, até o momento em que comecem a surgir pequenos pontos de precipitado. Para isso, as frações da cromatografia de filtração gel que se apresentaram puras através de SDS-PAGE e monomodais e monodispersas por DLS foram reunidas e concentradas pelo método de filtração. Foi usado Amicon® Ultra-4 Centrifugal Filter (Millipore) com poro de 30 kDa para ARN2 e 10 kDa para ARN3, centrifugando-se a 3220 g a 4°C até obter-se 0,5 - 1 mL. Durante a concentração o tampão da proteína foi trocado por 20 mM de Hepes pH 7,5. 3.6.1 Medidas de concentração de proteína A absorbância da solução contendo a proteína foi lida a 280 nm em espectrofotômetro DU 640 (Beckman Coulter) utilizando-se cubeta de quartzo de 1 cm de caminho óptico. 24 A concentração da proteína foi calculada segundo a equação de BeerLambert: Α =ε × c ×l Onde A é a absorbância em 280 nm, ε é o coeficiente de extinção em M-1 cm-1, c é concentração em M e l é o caminho óptico da cubeta em cm. O ε teórico da ARN2 e ARN3 com cauda de histidinas e Trx foi calculado pelo programa ProtParam (http://us.expasy.org/tools/protparam.html) e é de 154590 e 106800 e M-1 cm-1, respectivamente. Após obter a concentração molar, a concentração em mg/mL foi obtida dividindo-se esse valor pelo peso molecular da proteína, que é de 76207.6 Da e 50257.5 Da, respectivamente. 3.7 Ensaios de Cristalização Os ensaios de cristalização foram realizados através do método de difusão de vapor. Para que ocorra a formação dos cristais é necessário que a solução fique supersaturada, que nesse método ocorre em função do aumento gradual da concentração dos componentes da gota através da difusão de vapores que ocorre no interior da placa de cristalização, entre a solução presente no reservatório e a gota, constituída de proteína e solução precipitante. Não se sabe ao certo o que leva a formação de bons cristais, contudo existem etapas críticas, como a obtenção de proteína pura e em sua máxima concentração. Nessa situação de supersaturação pode haver tanto a formação de núcleos para a formação dos cristais, quanto a formação de precipitados amorfos de proteínas. Ensaios de cristalização foram realizados usando gota sentada a 18°C com a proteínas fusionadas à Trx no N-terminal e à cauda de histidinas no C-terminal, nas concentrações de 5,8 mg/ml, para ARN2, e 11,05 mg/ml para ARN3, em tampão 20 mM de Hepes pH 7,5. Foram utilizadas placas de 96 poços. As gotas foram preparadas pelo robô de cristalização Honeybee 963 (Genomic Solutions). No reservatório foram aplicados 80 μL de solução; na gota aplicou-se 0,5 μL de proteína e 0,5 μL de solução do reservatório. Os kits utilizados foram: Crystal Screen e Crystal Screen 2 (Hampton Research), Wizard Screens I e II (Emerald Biosystems), PACT (Nextal/QUAIGEN), JCSG (Nextal/QUAIGEN), SaltRx (Hampton Research) e Precipitant Synergy (Emerald Biosystems). 25 Quando apareceram cristais, foi feito refinamento da condição, isto é, foram feitas novas gotas de cristalização, usando soluções semelhantes à condição inicial, porém, com variação da concentração do agente precipitante. Foram preparadas placas com gota sentada, pelo robô, da mesma forma que anteriormente. As mesmas soluções também foram utilizadas no preparo manual de placas pelo método de gota pendurada. As gotas continham 1,0 μL de proteína e 1,0 μL de solução do reservatório, e o reservatório continham 200 μL da solução. Para esta metodologia foram utilizadas placas de 24 poços. 3.8 Coleta e processamento dos dados de difração Os cristais obtidos foram resfriados a 100 K com fluxo de nitrogênio gasoso. Os dados de difração foram coletados na linha de luz W01B-MX2 do LNLS usando detector MAR 225 CCD (Mar Research). Foi utilizado o método de rotação, com varredura de 1°. O processamento dos dados foi realizado no programa HKL2000 (Otwinowski, 1997). 3.9 Determinação da estrutura tridimensional A resolução da estrutura quimérica, ARN2-Trx, foi realizada através do método de substituição molecular, utilizando o programa MolRep (Vagin, 2010). O BLAST (http://blast.ncbi.nlm.nih.gov/Blast.cgi) foi utilizado como ferramenta de busca de sequências similares à ARN2 e cuja estrutura estivesse resolvida, selecionando-se como banco de dados o PDB. A proteína YxiA de Bacillus licheniformis (código PDB: 3LV4), que possui 37% de identidade com a ARN2, e a tiorredoxina de E. coli (código PDB: 2TRX) foram utilizadas como estruturas moldes para a substituição molecular. O modelo YxiA foi previamente modificado usando a opção last common atom do programa CHAINSAW (Stein, 2008). 26 27 esperado, de cerca de 76 kDa para ARN2-Trx e 50 kDa para ARN3-Trx. Embora houvesse proteínas na fração insolúvel, a quantidade de proteínas na fração solúvel era suficiente para seguir com o trabalho. Figura 7 – Avaliação da expressão da ARN2-Trx e ARN3-Trx, em diferentes tempos de indução com IPTG, através de gel SDS-PAGE 13%. PM marcador de peso molecular. P pellet obtido após sonicação e centrifugação. S sobrenadante recuperado após sonicação e centrifugação. 5.3 ARN2 4.3 ARN2 4.3.1 Cromatografia de afinidade As células provenientes de 500 mL de meio foram ressuspendidas e lisadas por métodos químicos e físicos. O sobrenadante obtido foi aplicado em coluna de cromatografia de afinidade (Fig. 8). A eluição foi realizada mediante a aplicação de gradiente linear de imidazol. Contudo, a concentração foi mantida constante durante a eluição de cada pico. 28 Figura 8 – Gráfico da cromatografia de afinidade a metal da ARN2-Trx, mostrando a absorbância em 280 nm (azul), a condutividade (marrom) e a concentração de imidazol (verde). O cromatograma mostrou a existência de dois picos, os quais foram avaliados através de gel SDS-PAGE 13% (Fig. 9). As frações a partir da metade do primeiro pico até o final do segundo continham proteína com peso molecular correspondente a ARN2, com poucos contaminantes. Figura 9 – Eletroforese em gel SDS-PAGE 13% das frações coletadas durante a cromatografia de afinidade da ARN2-Trx. PM marcador de peso molecular. P pellet obtido após sonicação e centrifugação. S amostra aplicada na coluna. 29 4.3.2 Proteólise limitada Foi realizada proteólise limitada da fração 25 da cromatografia de afinidade a metal da ARN2. Alíquotas coletadas nos diferentes tempos de digestão foram avaliadas através de gel SDS-PAGE (Fig. 10). Os resultados indicam que a incubação com tripsina não levou à clivagem da quimera ARN2-Trx, pois não se observa redução do peso molecular da proteína. Figura 10 – SDS-PAGE 13% das alíquotas coletadas durante proteólise limitada da ARN2-Trx. Linha 1 corresponde à amostra não digerida; as linhas de 2-6 correspondem a proteólise realizada durante 5, 15, 30, 60 e 120 minutos, respectivamente. M marcador de peso molecular Devido ao fato que não houve clivagem da Trx durante a proteólise limitada, fizemos a opção de continuar trabalhando com a proteína quimérica ARN2-Trx. 4.3.3 Cromatografia de exclusão molecular As frações 14 a 26 obtidas por meio da cromatografia de afinidade a metal foram juntadas e concentradas através do método de filtração. A amostra foi aplicada na coluna de exclusão molecular. O gráfico gerado demonstra dois picos, 30 indicando a presença de contaminantes ou a proteína em diferentes estados oligoméricos (Fig. 11). Figura 11 – Gráfico da cromatografia de exclusão molecular. A absorbância em 280 nm é mostrada em azul, a condutividade em marrom. SDS-PAGE das frações (Fig. 12) revelou que havia uma única proteína em ambos os picos. Medidas de DLS indicam as proteínas do pico 1 e do pico 2 apresentam diferentes conformações ou estados oligoméricos, devido à diferença de raio hidrodinâmico observado (Tabela 1). Figura 12 – Eletroforese das frações coletadas durante a cromatografia de exclusão molecular da ARN2-Trx. M marcador de peso molecular. S amostra aplicada na coluna. 31 4.3.4 Espalhamento dinâmico de luz (DLS) Logo após a cromatografia de exclusão molecular e a avaliação de sua eficiência mediante SDS-PAGE, as frações do pico maior foram submetidas a medidas de DLS, com a finalidade de se obter informações sobre a polidispersividade (Tabela 1). Tabela 1 – Dados obtidos através de DLS das frações provenientes da crometografia de exclusão molecular. R Pd PM Massa (nm) (%) (kDa) (%) 6 5,1 14,6 153 100 10 4,3 30,4 103 100 11 3,8 17,3 77 100 12 3,9 17,1 79 100 13 3,7 1,5 73 100 14 3,9 19,5 83 100 15 4,2 28,9 96 100 Fração R raio hidrodinâmico, Pd polidispersividade, PM peso molecular As frações com menos polidispersividade (11-14) foram misturadas e concentradas, e o tampão trocado para 20 mM de Hepes pH 7,5. Em seguida, foram realizadas novamente as medidas de DLS, o qual mostrou que a amostra possuía 23% de polidispersividade e um raio hidrodinâmico de 3.9 nm (Fig 13). Esta amostra foi então submetida aos testes de cristalização. 32 Figura 13 – Histograma representativo das populações presentes na amostra de proteína ARN2-Trx concentrada. Que apresentou um raio hidrodinâmico de 3,9 nm e 23% de polidispersividade. 4.3.5 Ensaios de Cristalização Os ensaios iniciais de cristalização foram feitos por meio do robô de cristalização Honeybee 963 (Genomic Solutions), utilizando 6 diferentes kits. Foram obtidos cristais no primeiro dia após o preparo da gota, na condição contendo 2,1 M de malonato de sódio pH 7,0 (Fig. 14). Figura 14 – Fotografia dos cristais iniciais da quimera ARN2-Trx, obtidos na condição com 2,1 M de malonato de sódio. 33 Em seguida, foi realizado o refinamento dos cristais, utilizando o robô Honeybee, diminuindo a concentração do agente precipitante. Foram obtidos cristais nas concentrações de 2,1 M, 2,0 M, 1,9 M e 1,8 M, com 1, 2, 3 e 4-5 dias, respectivamente (Fig. 15). A B C D Figura 15 – Fotografias dos cristais da ARN2-Trx obtidos em cada condição de refinamento: 2,1 M (A), 2,0 M (B), 1,9 M (C) e 1,8 M (D). Os cristais apresentam dimensões máximas de 75 (A), 125 (B), 400 (C) e 450 µm (D). O mesmo refinamento foi realizado através de difusão de vapor em gotas penduradas preparadas manualmente (Fig. 16). A B C D Figura 16 – Fotografias de cristais da ARN2-Trx obtidos após refinamento em gota pendurada utilizando o malonato de sódio como agente precipitante: a 2,1 M (A), 2,0 M (B), 1,9 M (C) e 1,8 M (D). Os cristais apresentam dimensões máximas de 400 µm (C) e 500 µm (D). Pode-se observar que os cristais formados em gotas penduradas foram maiores que os formados em gotas sentadas. 34 4.3.6 Coleta e processamento de dados Os cristais da figura 16C e 16D foram utilizados nos experimentos de difração de raios X. O cristal formado na condição com malonato de sódio 1,9 M (Fig. 16C) apresentou difração de até 2.8 Å, e por isso foi coletado um conjunto de dados. Contudo, o cristal formado na presença de 1,8 M de malonato de sódio (Fig. 16D) difratou até 2,6 Å (Fig. 17), por isso foi coletado um novo conjunto de dados. Os conjuntos foram processados, através do programa HKL2000. Na Tabela 2 estão mostradas as estatísticas do segundo conjunto de dados coletados, que apresentou dados melhores e a mais alta resolução. Figura 17 – Padrão de difração do cristal da ARN2-Trx formado na presença de 1,8 M de malonato de sódio. À direita, zoom da região de mais alta resolução, mostrando em destaque um spot a 2,6 Å. 35 Tabela 2 – Processamento de dados do 2° conjunto de dados da proteína ARN2-Trx Comprimento de onda (Å) 1,3591 Temperatura (K) 100 Número de imagens coletadas 140 Grupo espacial P212121 Parâmetros da célula unitária (Å,°) a=98,42 b=113,56 c=166,61 α=β=γ=90 Resolução (Å) 30,00-2,60 (2,69-2,60) Mosaicidade (°) 0,6 I/σ(I) 12,8 (3,6) Completeza (%) 99,4 (98,6) Multiplicidade 5,3 (5,3) Rmerge (%) 11,0 (41,7) Reflexões únicas totais 57.767 (5.642) Reflexões totais 303.718 Valores em parênteses se referem à camada de mais alta resolução. Os cristais da ARN2-Trx pertecem ao grupo espacial P212121, apresentando os seguintes parâmetros da célula unitária a=98,42 b=113,56 c=166,61 Å, α=β=γ=90°. O calculo do coeficiente de Matthews, usando o peso molecular de 76 kDa, resultou em 3,06 e 2,04 Å3 Da-1, indicando a possibilidade de 2 ou 3 moléculas de proteína quimérica dentro da unidade assimétrica, com 60 ou 40% de solvente, respectivamente. 4.3.7 Determinação da estrutura cristalográfica A estrutura foi resolvida pelo método de substituição molecular utilizando o programa MolRep. Através da ferramenta BLAST foi encontrada a proteína YxiA de B. licheniformis (código PDB: 3LV4), com 37% de identidade com a ARN2, que foi utilizada como modelo de busca para a ARN2. Como a tiorredoxina de E. coli já possui estrutura resolvida (código PDB: 2TRX), esta foi utilizada como modelo de busca para a Trx. Para a resolução da estrutura foi primeiramente realizada a procura de uma molécula de ARN2 utilizando o programa MolRep. Em uma segunda etapa, a 36 molécula ARN2 encontrada foi fixada e procurou-se a molécula de Trx. Após encontrar ambas, utilizamos a estrutura quimérica como molde para encontrar as moléculas dentro da unidade assimétrica, que nesse caso foram 2 (Fig. 18a). A análise da organização tridimensional das moléculas de ARN2-Trx no cristal (Fig 18b) indica a presença de somente 2 monômeros dentro da unidade assimétrica, embora o coeficiente de Matthews indicasse a possibilidade de até 3 monômeros. Figura 18 – Estrutura cristalográfica da quimera ARN2-Trx. A Dois monômeros da proteína quimérica ARN2-Trx encontrados na unidade assimétrica. Em azul e verde estão as ARN2, e em rosa e amarelo estão representadas as moléculas de Trx. B organização tridimensional dos monômeros, mostrando as faces C, B e A da célula unitária, respectivamente. Foi realizado um primeiro ciclo de refinamento (através do programa REFMAC), o qual tinha por objetivo verificar o Rfactor, Rfree e a figura de mérito (FOM). Esses fatores mostram o percentual de erro existente em sua estrutura resolvida com relação aos dados experimentais e dão indícios se a substituição molecular teve sucesso. Além disso, é gerado um mapa de densidade eletrônica, que pode ser visualizado através do programa COOT (Fig 19). Todos esses valores (Rfactor= 0,416; Rfree= 0,477; FOM= 0,546) e a análise do mapa de densidade eletrônica indicam que a estrutura da proteína quimérica ARN2-Trx foi resolvida. Ainda há muitos erros nessa estrutura, os quais serão solucionados 37 através de diversos ciclos de refinamento, que consistem da análise do mapa de densidade eletrônica e da modificação manual do modelo. Figura 19 – Parte do mapa de densidade eletrônica da ARN2-Trx mostrando a estrutura protéica como stiks e a densidade eletrônica em azul. 4.4 ARN3 Com esta proteína foram realizadas duas abordagens. Em uma primeira etapa, a proteína purificada por cromatografia de afinidade foi submetida à proteólise limitada (Fig. 20). A redução de peso molecular de cerca de 10 kDa indicou a clivagem da proteína tiorredoxina. Por isso, a amostra foi submetida à cromatografia de exclusão molecular, que permitiu a separação da ARN3 e da tiorredoxina. A amostra de ARN3 clivada foi então submetida aos testes de cristalização. Esses testes resultaram em gotas com precipitados e gotas claras. 38 Figura 20 – SDS-PAGE 13% da ARN3-Trx clivada com tripsina. Linha 1 corresponde a amostra protéica sem clivagem, linhas 2-4 corresponde a alíquotas da proteína clivada em 5, 15, 30, 60 e 120 minutos, respectivamente. Bandas com cerca de 35 kDa correspondem à ARN3 e as bandas com cerca de 14 kDa correspondem à Trx. A partir de 30 minutos toda a proteína da amostra já havia sido clivada, sendo este o tempo estabelecido para a proteólise limitada. Sendo assim, passamos à outra abordagem que utilizava a proteína quimérica inteira, ARN3-Trx. Foram realizadas as cromatografias de afinidade e exclusão molecular e após estes passos seguiu-se com os ensaios de cristalização. Estes novos testes com a proteína quimérica produziram cristais na condição que continha como agente precipitante o PEG 400 em uma solução tamponada em pH 9,5 com CHES (ácido N-ciclohexil-2-aminoetanosulfonico). São estes os resultados que estão descritos a seguir. 4.4.1 Cromatografia de afinidade A cromatografia de afinidade a metal produziu dois picos de eluição (Fig. 21). As frações provenientes de ambos os picos foram analisadas através de SDSPAGE (Fig. 22). 39 Figura 21 – Cromatografia de afinidade da ARN3-Trx. Absorbância em 280 nm mostrada em azul, condutividade em marrom e concentração de imidazol em verde. Figura 22 – SDS-PAGE das frações coletadas durante a eluição da ARN3-Trx da cromatografia de afinidade. M peso molecular. Frações 4-9 correspondem ao pico 1, fração 19 corresponde ao pico 2. Através da análise por SDS-PAGE das frações coletadas pode-se observar que havia bastante proteína, com pouco contaminante, a partir da metade do primeiro pico até o fim do segundo pico. 40 4.4.2 Cromatografia de exclusão molecular As frações 5 a 20 da cromatografia de afinidade foram juntadas e concentradas através do método de filtração. Em seguida, foram aplicadas em coluna de cromatografia de exclusão molecular (Fig. 23). As alíquotas coletadas durante a eluição da amostra foram analisadas através de SDS-PAGE (Fig. 24). Todos os picos contêm a proteína de interesse pura, em diferentes concentrações, e em diferentes estados oligoméricos. Figura 23 – Gráfico gerado durante cromatografia de exclusão molecular da ARN3-Trx. Absorbância em 280 nm (azul). Figura 24 - SDS-PAGE 13%. Alíquotas coletadas durante cromatografia de exclusão molecular da ARN3-Trx. M marcador de peso molecular. Fração 3: pico 1, fração 10: pico 2, frações 15-24: pico 3. 41 4.4.3 Espalhamento Dinâmico da Luz (DLS) As frações de 16 a 21 provenientes da cromatografia de exclusão molecular foram juntadas, concentradas e tiveram seu tampão trocado por 20 mM de HEPES pH 7,5. Em seguida, foram realizadas as medidas de DLS. Os resultados indicam que a amostra possuía 16% de polidispersividade e raio hidrodinâmico de 3,5 nm (Fig. 25). Figura 25 – Histograma representativo das populações presentes na amostra da proteína quimérica ARN3-Trx concentrada, que apresentou raio hidrodinâmico de 3.5 nm e 16% de polidispersividade. 4.4.4 Ensaios de Cristalização Os ensaios iniciais de cristalização foram feitos por meio do robô de cristalização Honeybee 963 (Genomic Solutions), utilizando 6 diferentes kits. Foram obtidos cristais no sexto dia após o preparo da gota, na condição contendo 100 mM de CHES/NaOH pH 9,5 e 30% (v/v) de PEG-400 (Fig. 26). 42 Figura 26 – Fotografia dos cristais da quimera ARN3-Trx formados na condição com 30% de PEG-400 e 100 mM de CHES pH 9,5, que apresentam dimensão máxima de 50 µm. O refinamento dos cristais foi realizado diminuindo-se a concentração do agente precipitante, o PEG 400. O refinamento foi realizado em gota sentada, no robô, e gota pendurada, manualmente. Até o presente momento não foi observada a formação de novos cristais. 5. Conclusão Neste trabalho as duas proteínas de interesse, ARN2 e ARN3 foram eficientemente expressas na fração solúvel em E. coli, fusionadas à Trx no Nterminal e a uma cauda de 6 histidinas no C-terminal. As proteínas foram purificadas por cromatografias de afinidade e de exclusão molecular, alcançando alto grau de pureza e homogeneidade estrutural. O objetivo principal do trabalho, que era cristalizar as proteínas de estudo, foi alcançado. Ambas as proteínas foram cristalizadas na sua forma quimérica, isto é, em fusão com a Trx. Os objetivos foram ainda ultrapassados, pois realizamos refinamento dos cristais da ARN2-Trx, experimentos de difração de raios X com estes cristais, processamento dos dados de difração e determinação da estrutura cristalográfica dessa quimera a 2,6 Å. Esse trabalho traz diversas novidades, como a cristalização da proteína de interesse em fusão com outra (Trx) que geralmente é usada somente para 43 aumento de solubilidade; primeira estrutura de metagenômica do Brasil, o que é um passo além no âmbito da bioprospecção no país; traz maior conhecimento acerca de arabinanases, contribuindo para um melhoramento direcionado dessas enzimas de ampla aplicação biotecnológica. 6. Referências Alhassid, A., Ben-David, A., Tabachnikov, O., Libster, D., Naveh, E., Zolotnitsky, G., et al. Crystal structure of an inverting GH 43 1,5-alpha-L-arabinanase from Geobacillus stearothermophilus complexed with its substrate. The Biochemical journal, 422(1), 73-82, 2009. Boden, T.A., Marland, G., Andres, R.J.. Global, Regional, and National Fossil-Fuel CO2 Emissions. Carbon Dioxide Information Analysis Center, Oak Ridge National Laboratory, U.S. Department of Energy, Oak Ridge, Tenn., U.S.A., 2010. Goldemberg, J., Lucon, O. Energy and environment in Brazil. ESTUDOS AVANÇADOS, 21 (59), 7-20, 2007. Laemmli, U. K. Cleavage of structural proteins during the assembly of the head of bacteriophage T4. Nature, 227(5259), 680-685, 1970. Lorenz, P., Liebeton, K., Niehaus, F., & Eck, J. Screening for novel enzymes for biocatalytic processes: accessing the metagenome as a resource of novel functional sequence space. Current opinion in biotechnology, 13(6), 5727, 2002. Martins-Filho, M. V., LICCIOTI,T. T., Pereira, G.T., Marques-Júnior, J., Sanchez, R. B. Perdas De Solo E Nutrientes Por Erosão Num Argissolo Com Resíduos Vegetais De Cana-De-Açúcar. Eng. Agríc., 29, 8-1, 2009. Otwinowski, Z., Minor, W. Processing of X-ray Diffraction Data Collected in Oscillation Mode. Methods in Enzymology, 276, 307-326, 1997. Pérez, J., Muñoz-Dorado, J., Rubia, T. de la, & Martínez, J. Biodegradation and biological treatments of cellulose, hemicellulose and lignin: an overview. International microbiology, 5(2), 53-63, 2002. Rosa, S.E. S., Garcia, J.L. F. O etanol de segunda geração : limites e oportunidades, 117-155, 2010. Disponível em: < www.bndes.com.br >. Acesso em: 25 jan. 2011. 44 Santos, A. S. R. dos. Biodiversidade, bioprospecção, conhecimento tradicional e o futuro da vida. 2002. Disponível em: <http://www.revista.unicamp.br/infotec/artigos/silveira.html >. Acesso em: 10 fev, 2011. Sivers, M.V., Zacchi, G.. A techno-economical comparison of three processes for the production of ethanol from pine. Bioresour. Technol., 51, 43–52, 1995. Stein, N. 2008. CHAINSAW: a program for mutating pdb files used as templates in molecular replacement. Journal of Applied Crystallography, 41, 641-643. Sun, Y., Cheng, J. Hydrolysis of lignocellulosic materials for ethanol production: a review. Bioresource technology, 83(1), 1-11, 2002. Vagin, A., Teplyakov, A. Molecular replacement with MOLREP. Acta Crystallographica Section D Biological Crystallography, 66(1), 22–25, 2010. Wong, D. Enzymatic deconstruction of backbone structures of the ramified regions in pectins. The protein journal, 27(1), 30-42, 2008a. Wong, D. W. S., Chan, V. J., Batt, S. B. Cloning and characterization of a novel exoalpha-1,5-L-arabinanase gene and the enzyme. Applied microbiology and biotechnology, 79(6), 941-949, 2008b. Wong, D. W. S., Chan, V. J., McCormack, A. a. Functional cloning and expression of a novel Endo-alpha-1,5-L-arabinanase from a metagenomic library. Protein and peptide letters, 16(12), 1435-1441, 2009.