PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO: UM MODO DE SER, PENSAR E AGIR NO
CONTEXTO ESCOLAR
GUARDA, Nara Maria da Silva Foss1
RIBAS, Ana Paula2
ZANOTTO, Marijane3
Sendo resultado da disciplina Prática de Ensino II, realizada no ano de 2006, em uma
escola pública municipal da periferia do município de Cascavel-PR., este artigo tem como
objetivo, apontar a importância dos diversos tipos de planejamento e sua articulação ao
Projeto-Político-Pedagógico. O trabalho partiu de estudos teóricos e realização de encontros
com os professores na escola onde se trabalhou textos previamente lidos pelos docentes e
discutidos em reuniões pedagógicas, com o auxílio de dinâmicas e trabalho em grupos.
A disciplina de Prática de Ensino II, tem grande importância como momento de
formação teórico-prático, proporcionando aos discentes a vivência de práticas pedagógicas
relacionadas à função do Orientador Educacional, do Supervisor Educacional e do
Coordenador Pedagógico, ou seja, das especialidades. Na organização escolar é fundamental
construir categorias de análise para a reflexão e o desenvolvimento de planejamentos
educacionais articulados com o Projeto-Político-Pedagógico.
1.
HISTÓRIA DO PLANEJAMENTO
Pode-se dizer que o Planejamento faz parte da vida humana, porém, de forma
sistematizada “O planejamento nasceu no final do século XIX dentro da Revolução Industrial,
em um primeiro momento na Inglaterra, depois se irradiou para os outros países,
industrializados ou não” (TOSI, 2001, p. 84).
Na produção corporativista, as famílias burguesas da Idade Média eram encarregadas
de manufaturar os produtos necessários para consumo próprio e assim detinham o
conhecimento de toda a produção. Esse processo foi substituído pela indústria onde o trabalho
passa a ser coletivo, em série e especializado, conseqüentemente mais rápido e lucrativo.
Porém nesse processo, o homem deixa de conhecer o todo da produção, pois não havia
necessidade de pensar sua ação, apenas realizá-la mecanicamente. A educação assegurava
esse papel, repassando conteúdos que atendiam a esse modelo, já que para operar as máquinas
1
Graduanda do 4º ano de Pedagogia Matutino – UNIOESTE: [email protected]
Graduanda do 4º ano de Pedagogia Noturno – UNIOESTE: [email protected]
3
Docente do Curso de Pedagogia – UNIOESTE: [email protected]
2
eram necessários apenas conhecimentos básicos. Com a manufatura ficando de lado, a
indústria criou várias sessões dentro dos seus estabelecimentos, exigindo-se para esses
departamentos especialistas em cada setor, pois, no início obteve-se grandes despesas e perdas
por produtos mal feitos. A partir disso Tosi (2001, p. 84) relata que,
Dois administradores (profissão também emergente à época), Taylor e Fayol,
trabalhando em dois países diferentes, raciocinaram, observaram, levantaram
hipóteses, colocaram em prática suas idéias e, após notarem sucessos e insucessos
que a nova prática administrativa trazia, escreveram as bases teóricas da
administração científica, com a qual traçaram as linhas mestras da administração
atual e dentro do planejamento.
Frederick Winslow Taylor, foi um dos primeiros a utilizar um método de organização
objetiva do trabalho, conhecido no Brasil, a partir dos anos 30, pela Organização Científica do
Trabalho (OCT), ou simplesmente Taylorismo. Iniciou o seu estudo observando o trabalho
dos operários. Sua teoria seguiu um caminho de baixo para cima, e das partes para o todo;
dando ênfase na tarefa, onde cada trabalhador executava uma parte da produção. Para ele a
administração tinha que ser tratada como ciência.
Quase na mesma época do desenvolvimento da organização taylorista do trabalho,
estabelecia-se na França, por Henry Fayol, uma doutrina de estruturação administrativa da
empresa (rigidez militar da via hierárquica), sempre com o objetivo de obter o máximo
rendimento. Contudo, os trabalhadores conservavam um papel passivo e deveriam obedecer a
ordens, cujas razões eles mal compreendem, cria-se, então, a gerência administrativa.
A divisão técnica ou fragmentação trabalho, é conseqüência da contradição entre
capital e trabalho, no qual o trabalhador é fundamental no modo de reprodução do capital, e
para isso torna-se necessário organizar e disciplinar o indivíduo. E a escola que deveria ser
um espaço de acesso e apropriação do conhecimento científico, criação, recriação, e
discussão, por conta de uma estrutura maior, torna-se um espaço de conservação e valorização
do capital. Conforme declara Kuenzer (2002, p. 53):
A escola, por sua vez, se constitui historicamente como uma das formas de
materialização dessa divisão, ou seja, como o espaço, por excelência, do acesso ao
saber teórico, divorciado da práxis, representação abstrata feita pelo pensamento
humano, e que corresponde a uma forma peculiar de sistematização, elaborada a
partir da cultura de uma classe social... Assim, a escola, fruto da prática
fragmentada, expressa e reproduz essa fragmentação, por meio de seus conteúdos,
métodos e formas de organização e gestão.
Portanto, a escola vem desempenhando sua função nessa perspectiva de
disciplinamento para a vida social e produtiva, desenvolvendo competências necessárias ao
trabalho, através de seus conteúdos, métodos e formas de organização e gestão. Com este
enfoque o planejamento passa a ser utilizado na educação e serve como instrumento de
controle para o cumprimento da cartilha liberal-capitalista.
Após a Segunda Guerra Mundial o planejamento tem sido tema constante para debate
nas diversas esferas da sociedade, sendo considerado um procedimento capaz de auxiliar no
desenvolvimento econômico e social. As demandas do capitalismo na produção do capital,
tem exigido critérios científicos nas tomadas de decisões, e o conhecimento tem oferecido
cada vez mais métodos e técnicas como meio de intervenção sobre a realidade social. Assim,
tanto o Estado como a iniciativa privada, adotam o planejamento como uma das suas
atividades mais racionais, para se chegar aos objetivos esperados administrando os recursos e
minimizando os riscos de ação. Esse fato reflete também na escola, uma vez, que a mesma é
pensada e articulada através daqueles que dominam o capitalismo com fins únicos de
reprodução do sistema e produção do capital.
2. PLANEJAMENTO EDUCACIONAL NO BRASIL
Dentro do sistema educacional público no Brasil, tem-se como primeira etapa
planejadora a Constituição Federal, que estabelece os princípios norteadores, comuns a toda
nação e que regulamenta e objetiva os níveis, declarando quem serão seus respectivos
financiadores (governo federal, estadual ou municipal).
Até 1930 a estrutura de ensino não estava organizada à base de um sistema nacional e
o que existia eram os sistemas estaduais sem articulação com o sistema central, porém essa
centralização se deu lenta e gradualmente no ensino secundário e universitário com a Reforma
Francisco Campos, enquanto o ensino primário só se centralizou em 1946 com a reforma
Capanema. É importante salientar que somente as diretrizes do ensino são centralizadas
enquanto o financiamento fica, em sua maioria, a cargo das esferas estaduais e municipais.
Promulgada em 1961, a Lei nº 4.024 – Lei de Diretrizes e Bases (LDB) -, de
inspiração liberal, é a primeira que estabelece exigências de reformulação e
implementação da educação num instrumento planejado. O Plano Nacional de
Educação, que nasce entre 1962-65, inspirado na LDB, tem um período efêmero. A
LDB é revogada pela Constituição da ditadura em janeiro de 1967. (CALAZANS,
1996, P. 25).
Portanto, em 1962 é criado o Plano Nacional de Educação e o Programa Nacional de
Alfabetização, pelo Ministério da Educação e Cultura, inspirado no Método Paulo Freire.
Outro aspecto importante que contribuiu para fermentar a idéia de democratização do ensino,
foi os chamados movimentos de educação popular. Tais movimentos, surgidos no início da
década de 1960, tinham como fundamento inserir a população adulta na vida política do país.
Dentre eles podemos citar, os Centros Populares de Cultura, os Movimentos de Cultura
Popular e o Movimento de Educação de Base. Com a ditadura militar, instaurada em 31 de
março de 1964, o planejamento educacional no Brasil, teve sua credibilidade abalada, e como
afirma Garcia (1996, p. 41),
A legislação educativa é toda reformulada, economistas de plantão passam a fazer
sucesso como educadores e em nome da eficiência de todo sistema são elaborados
planos de toda sorte. Do primário à pós-graduação, nada fica sem o dedo dos
planejadores. A grandiosidade das propostas, em contraposição aos modestos
resultados obtidos, acelera a crise de credibilidade do Planejamento Educacional e
dos planejadores, de tal sorte que a consciência dessa inadequação se dá muito
antes da percepção da crise global do modelo de desenvolvimento. O mobral se
propunha a eliminar o analfabetismo do país até 1980. Os planos setoriais falavam
em extensão da escolaridade, adoção de novas tecnologias, melhorias da qualidade,
etc.
Assim, os militares ao tomarem o poder, viam em cada professor ou especialista da
educação um inimigo em potencial. Num regime político de contenção, o planejamento passa
a ser altamente eficaz para o controle e ordenamento de todo o sistema educativo. Os
movimentos de educação popular são extintos e,
[...] com o esgotamento do processo de substituição de importações, assume
progressivamente as características de capitalismo de mercado associadodependente, torna-se a própria universidade o palco e o alvo das reivindicações
reformistas. Em contrapartida, o governo tomava algumas medidas visando
enquadrar o movimento estudantil e a universidade nas diretrizes do novo regime.
(SAVIANI, 2002, P. 73-74).
Dessa forma, o governo instituiu um grupo de trabalho para que em trinta dias
apresentassem o projeto da reforma universitária que resultou na Lei 5.540/68 e foi aprovado
pela maioria no congresso constituindo expressão típica do regime militar e, como afirma
Saviani (2002, p. 87),
[...] eis como a Lei n. 5.540/68 cumpriu seu papel de reformular o ensino superior
brasileiro, definindo-se pela aplicação, nesse campo particular, de estratégia do
“autoritarismo desmobilizador” acionada em função da implantação da
“democracia excludente” .
Para garantir a continuidade da ordem sócio-econômica houve uma ruptura política
considerada necessária pelo grupo que exercia o poder alimentada pela ideologia do
nacionalismo desenvolvimentista, o que exigia adequações no âmbito educacional,
implicando em mudanças na legislação. Porém, o governo não editou por completo uma nova
LDB, mas ajustou a organização do ensino ao quadro político, isso aconteceu através da Lei
5.540/71 que reformulou o ensino de primeiro e segundo graus e alterou sensivelmente a
estrutura do ensino em vigor. Em lugar de um curso primário com duração de quatro anos
seguido de um de um ensino médio subdividido em um curso ginasial de quatro anos e um
curso colegial de três anos, passou a ter um ensino de primeiro grau com duração de oito anos
e um ensino de segundo grau de três anos, como regra geral.
As modificações e ajustes introduzidos na organização educacional brasileira que
aconteceram através das leis 5.540/68 e 5.692/71 visaram garantir a continuidade da ordem
sócio-econômica, fazendo com que as aspirações populares que desejavam a transformação da
estrutura política ficassem excluídas das mudanças educacionais.
A partir do final da década de 1970 surgiu uma mobilização no âmbito educacional
dando origem à varias iniciativas de interesse popular, especialmente por parte de estados e
municípios. É neste contexto que foi se impondo cada vez mais fortemente uma mudança
educacional, implicando uma mudança na legislação em vigor. Essa oportunidade surgiu com
a instalação de um governo civil dentro da Nova Republica e a elaboração da Constituição de
1988.
Após anos de discussão é elaborada a LDB 9.394 em 1996, que “[...] traz muitos
pontos novos, tendo a flexibilidade e a autonomia como aspectos principais. É uma Lei que
une os diversos níveis de ensino e suas diferentes modalidades”. (GRINSPUN, 2001, p. 148).
Nesta LDB evidencia-se a necessidade de desburocratizar a educação, promovendo a
descentralização do sistema e imprimindo maior autonomia aos estados, municípios e às
escolas. Essas medidas facilitaram o alcance de alguns objetivos, como: promover a
integração do aluno na rede cultural e tecnológica da atualidade, à medida que procura
oferecer condições que potencializem as capacidades humanas e disponibilizem recursos para
uma escola mais eficaz.
Visando a essa integração, a LDB dispõe sobre a responsabilidade da escola em
promover amplas condições e oportunidades de aprendizagem, estabelecendo a possibilidade
de avanço nos cursos, nas séries e nos ciclos, escolas de tempo integral, capacitação de
profissionais da educação, aceleração para alunos com atraso escolar, estudos de recuperação
e maior autonomia das escolas de ensino básico e das universidades. Ao mesmo tempo em
que reforça a necessidade de propiciar a todos a formação básica comum, confere maior
flexibilidade no trato dos componentes curriculares. É nessa perspectiva que os Parâmetros
Curriculares Nacionais - PCNs estabelecem o princípio da base nacional comum, a ser
complementada por uma parte diversificada em cada sistema de ensino e escola. Em síntese,
os PCNs contemplam uma concepção de currículo tanto para o ensino fundamental quanto
para o ensino médio, que deve propiciar oportunidades para o estudo da língua portuguesa
falada e escrita, da matemática, do mundo físico e natural e da realidade social e política,
enfatizando o conhecimento do Brasil. Reafirma-se o ensino da Arte e da Educação Física
como necessariamente integrado à proposta pedagógica e o ensino de pelo menos uma língua
estrangeira moderna como obrigatório a partir da quinta série do ensino fundamental.
Em seus avanços e retrocessos, o planejamento em vigor na educação brasileira,
permeado pelas as contradições presentes no capitalismo, apresenta: uma educação dualista,
voltada para os interesses da minoria, e que serve, em sua maioria, à manutenção do
capitalismo.
3. CONCEITO E FUNÇÕES DO PLANEJAMENTO
Ao contrário da perspectiva liberal-capitalista, planejar pode ser uma tarefa que inclui
tanto a previsão das atividades em termos de organização e coordenação dos objetivos
propostos quanto a sua revisão, avaliação e adequação no decorrer de sua realização, sendo
também um momento de pesquisa e reflexão. Como afirma Gandin (1985, p. 19),
a.
b.
c.
No planejamento temos em vista a ação, isto é, temos consciência de que a
elaboração é apenas um dos aspectos do processo e que há necessidade da
existência do aspecto execução e do aspecto avaliação;
No planejamento temos em mente que sua função é a de tornar clara e precisa a
ação, de organizar o que fazemos, de sintonizar idéias, realidade e recursos
para tornar mais eficiente nossa ação;
Temos como definitiva e em vivência a idéia de que todo o autoritarismo é
pernicioso e que todas as pessoas que compõe o grupo devem participar (mais
ou menos, de uma forma ou de outra) de todas as etapas, aspectos ou
momentos do processo.
Neste sentido, é necessário adotar essas premissas para que o planejamento seja algo
concreto e possível de realizar-se. As metas devem ser definidas e preparadas pelo grupo,
fundamentadas em opções político-pedagógicas e que tenham as seguintes funções, conforme
afirma Libâneo (1994, p. 223),
a)
Explicitar princípios, diretrizes e procedimentos do trabalho docente que
assegurem a articulação entre as tarefas da escola e as exigências do contexto
social e do processo de participação democrática.
b) Expressar os vínculos entre o posicionamento filosófico, político-pedagógico e
profissional e as ações efetivas que o professor irá realizar na sala de aula,
através de objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas do ensino.
c) Assegurar a racionalização, organização e coordenação do trabalho docente, de
modo que a previsão das ações docentes possibilite ao professor a realização de
um ensino de qualidade e evite a improvisação e a rotina.
d) Prever objetivos, conteúdos e métodos a partir da consideração das exigências
impostas pela realidade social do nível e preparo das condições sócio-culturais
individuais dos alunos.
e) Assegurar a unidade e a coerência do trabalho docente, uma vez em que torna
possível inter-relacionar, num plano, os elementos que compõem o processo de
ensino: os objetivos (para que ensinar), os conteúdos (o que ensinar), os alunos
e suas possibilidades (a quem ensinar), os métodos e técnicas (como ensinar) e
a avaliação, que está intimamente relacionada aos demais.
f) Atualizar o conteúdo do plano sempre que é revisto, aperfeiçoando-o em
relação aos progressos feitos no campo de conhecimento, adequando-o às
condições de aprendizagem dos alunos, aos métodos, técnicas e recursos de
ensino que vão sendo incorporados na experiência cotidiana.
g) Facilitar a preparação das aulas: selecionar o material didático em tempo hábil,
saber que tarefas professor e alunos devem executar, planejar o trabalho frente
às novas situações que aparecem no decorrer das aulas.
Percebe-se assim, que o planejamento é um guia que orienta a prática pedagógica e
que está sempre em movimento frente às condições reais que se apresentam. Desta maneira,
para planejar é necessário que o professor esteja embasado por uma concepção de sociedade,
escola e aluno que tem e que pretende formar e que, se sirva dos conhecimentos do processo
didático e das metodologias, bem como de sua própria experiência prática e cotidiana.
4. ALGUNS TIPOS DE PLANEJAMENTO
Dentre os vários tipos de planejamento podemos citar: Plano Nacional de Educação,
Projeto Político-Pedagógico e o Plano de Aula.
4.1 Plano Nacional de Educação
A Lei nº 10.172, de 09 de janeiro de 2001, que institui o PNE, determina, em seu art.
2º, que os estados, o distrito federal e os municípios, com base no Plano Nacional de
Educação, elaborem planos decenais correspondentes. É um desdobramento lógico do PNE,
uma vez que as metas nacionais representam um quadro possível e necessário para todo o
país, mas que, em cada ente federativo, se dá diferentemente, em decorrência do estágio em
que se encontra em cada um dos níveis e modalidades de ensino e das questões
administrativas, financeiras e técnicas da educação em seu território e sua rede de ensino.
Considerando que o Brasil é uma República Federativa constituída de entes autônomos -
estados e municípios - com sistemas de ensino próprios, cada um terá que elaborar seu plano
decenal, em consonância com o nacional, expressando diretrizes, objetivos e metas. O PNE
tratou de todos os níveis de ensino e de todas as modalidades de educação, do magistério da
educação básica, da gestão da educação e de seu financiamento e, ainda, acrescentou um
capítulo sobre acompanhamento e avaliação do plano. Os Planos Estaduais e Municipais, em
princípio, poderiam não tratar de todos esses assuntos, por exemplo, no que se refere aos
níveis e modalidades, uma vez que existem competências distintas entre os entes federados
frente ao direito à educação e à responsabilidade pública em atendê-lo.
4.2 Projeto Político-Pedagógico
A LDB, Lei nº 9.394/96, prevê no seu art. 12, inciso I, que “os estabelecimentos de
ensino, respeitadas as normais comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de
elaborar e executar sua proposta pedagógica”. A partir daí, cada escola iniciou o desafio de
planejar coletivamente, com finalidades sistematizadas para a educação que se deseja.
O projeto político-pedagógico é o fruto da interação entre os objetivos e prioridades
estabelecidas pela coletividade, que orienta, através da reflexão, as ações necessárias à
construção de uma nova realidade. É, antes de tudo, um trabalho que exige comprometimento
de todos os envolvidos no processo educativo: professores, equipe técnica, alunos, seus pais e
a comunidade como um todo. Conforme Veiga (1995, p. 14),
A principal possibilidade de construção do projeto político-pedagógico passa pela
relativa autonomia da escola, de sua capacidade de delinear sua própria identidade.
Isto significa resgatar a escola como espaço público, lugar de debate, do diálogo,
fundado na reflexão coletiva. Portanto, é preciso entender que o projeto políticopedagógico da escola dará indicações necessárias à organização do trabalho
pedagógico, que inclui o trabalho do professor na dinâmica interna da sala de aula.
Essa prática de construção de um projeto deve estar amparada por concepções teóricas
sólidas e supõe o aperfeiçoamento e a formação de seus agentes. Só assim serão rompidas as
resistências em relação a novas práticas educativas. Os agentes educativos devem sentir-se
atraídos por essa proposta, pois só assim terão uma postura comprometida e responsável.
Trata-se, portanto, da conquista coletiva de um espaço para o exercício da autonomia.
4.3 Plano de Aula
Mesmo para um professor experiente, não é impossível entrar em classe sem antes
planejar a aula. É por isso que os profissionais que entendem profundamente de didática
insistem na idéia de planejamento como algo que requer horário, discussão, esquematização,
finalidades e certa formalidade. Agindo assim, tem-se uma garantia maior, de que as aulas
vão ganhar em qualidade. Tecnicamente, plano de aula é a previsão dos conteúdos e
atividades de uma ou de várias aulas que compõem uma unidade de estudo. Ele trata também
de assuntos aparentemente miúdos, como a apresentação da tarefa e o material que precisa
estar à mão.
O plano de aula se articula com o planejamento - a definição do que vai ser ensinado
num determinado período, de que modo isso ocorrerá e como será a avaliação. O
planejamento, por sua vez, se baseia na proposta pedagógica, que determina a atuação da
escola na comunidade. Portanto, o plano de aula se encontra na ponta de uma seqüência de
trabalhos. Esse encadeamento torna possível uma prática coerente e homogênea, além de bem
fundamentada.
Antes de partir para o plano de aula, é preciso dividir em etapas o planejamento de um
determinado período (bimestre ou quadrimestre, por exemplo). Com uma idéia do todo, fica
mais fácil preparar o plano conforme o tempo disponível. Não há modelos certos ou errados.
Os planos de aula variam segundo as prioridades do planejamento, os objetivos do professor e
a resposta dos estudantes. Mesmo assim, é possível indicar os itens que provavelmente
constarão de um plano de aula.
Um dos primeiros tópicos da lista deve ser o próprio assunto/conteúdo a ser tratado.
Logo em seguida vêm os objetivos dos conteúdos e que atividades serão desenvolvidas para
alcançá-los. As possíveis intervenções do professor (como perguntas a fazer), o material que
será utilizado e o tempo previsto para cada etapa são outros itens básicos.
Finalmente, é preciso diagnosticar a apropriação do conteúdo trabalhado. A foram de
fazer isso é avaliando. O critério de avaliação também é flexível. Da avaliação resultam os
ajustes a serem feitos no processo ensino – aprendizagem. Eles são fundamentais para que a
aula se desenvolva adequadamente e que se garanta a qualidade da aquisição dos saberes
escolares.
Planejar dá mais experiência para antecipar o que pode acontecer. Com base nisso, o
professor se preparam para os possíveis caminhos que a atividade vai tomar. Não é necessário
prever cada minuto da aula. Os planos vão se construindo a cada etapa, dependendo do que
foi percebido na etapa anterior. Se o plano de aula não prevê tempo e espaço para os alunos se
manifestarem, a possibilidade de indisciplina é grande e, de aprendizado problemático
também. Os alunos não são os únicos modificados pelo aprendizado, o professor também
aprende ao ensinar. Reservando um tempo depois da aula para refletir sobre o que foi feito, o
professor tem a oportunidade de rever sua prática pedagógica. Se o trabalho for acompanhado
por um orientador ou coordenador pedagógico, tem-se um dos melhores meios de formação
em serviço. Portanto, o plano de aula é uma bússola para orientar o dia-a-dia do profissional
da educação e para melhor efetivar os objetivos a serem atingidos na aula.
5. ETAPAS DO PROCESSO DE PLANEJAR
O planejamento para ser realizado de forma eficaz precisa passar sistematicamente por
algumas etapas inter-relacionadas.
Na primeira etapa é necessário fazer um estudo do contexto social em que a escola
está inserida caracterizando-se o universo sociocultural do aluno para identificar o que eles já
conhecem, seus desejos e como vivem.
Na segunda etapa é necessário definir os objetivos que deverão ser alcançados como
afirma Lopes (2004, p. 60),
[...] é essencial que os diferentes níveis de aprendizagem a serem atingidos sejam
contemplados: a aquisição, a reelaboração dos conhecimentos. É importante
ressaltar ainda que, em um processo educativo que se propõe transformador, os
objetivos de ensino deverão estar voltados predominantemente para a reelaboração
e a produção do conhecimento. Para tanto deverão expressar ações, tais como a
reflexão, a curiosidade, a investigação e a criatividade.
Na terceira etapa a definição dos conteúdos, que estarão previamente estruturados no
currículo escolar, devem ser analisados criticamente apontando aqueles que são realmente
necessários, levando em consideração a realidade histórico-social do aluno e que os conduza à
problematização e a análise crítica.
Na quarta etapa devem ser analisados os procedimentos metodológicos que atendam
os diferentes níveis de aprendizagem, como a reflexão, a curiosidade, a investigação e a
criatividade que leve o aluno à reelaboração e a apropriação conhecimentos. Para que isso se
realize é importante que o aluno participe das atividades propostas pelo professor que será o
mediador entre o aluno e o conhecimento.
Na quinta e última etapa será a sistematização do processo de avaliação da
aprendizagem que leve todos aqueles que participaram do planejamento a ajustar e adaptar o
que for necessário ou mesmo corrigir no decorrer de seu percurso.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sendo a educação uma atividade sistematizada é necessário um planejamento rigoroso
para que não haja improvisos, seja na área administrativa ou pedagógica. Assim, a natureza da
educação, do trabalho educativo é o ato de produzir direta e intencionalmente, em cada
individuo singular a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos
homens. São dois os aspectos da natureza educativa então, o da identificação dos elementos
culturais a serem assimilados, e a descoberta das formas adequadas ao desenvolvimento do
trabalho pedagógico (SAVIANI, 1992).
Ainda que as algumas regras gerais já venham determinadas é importante que a escola
defina as formas mais adequadas para o ensino-aprendizagem, levando em conta as suas reais
necessidades tornando-se, assim o planejamento algo significativo para alunos, professores e
todos aqueles que fazem parte do cotidiano escolar.
A escola enquanto parte integrante da sociedade e, de uma estrutura da qual fazem
parte, os órgãos centrais do sistema educacional, tem em relação a eles, uma autonomia
relativa. Não é uma dependência absoluta ou completa, mas é uma interdependência. E é
nessa situação que os educadores são desafiados a refletir e definir suas ações, organizando
suas práticas pedagógicas.
Os projetos que se organizam nas unidades escolares atenderão às exigências
específicas de cada uma delas, levando em conta seu contexto social, e estando conectados
com outros projetos, que se definem no conjunto da sociedade.
O desafio para os educadores está na busca de explorar o mais eficazmente possível as
condições para a construção de uma educação escolar que suscite o aluno a refletir e
reelaborar os conteúdos aprendidos para que contribua na produção de novos conhecimentos.
Nesta perspectiva, é importante considerar os limites e possibilidades acerca do planejamento
escolar na sociedade capitalista e, o compromisso do pedagogo, como articulador do trabalho
pedagógico, diante do planejar.
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de 1988.São Paulo: Saraiva 2000.
_______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394, de 20 de dezembro
de 1996. Curitiba: APP Sindicato, 1997.
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M. J. C, GARCIA, W. São Paulo: Cortez, 1996.
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GARCIA, W. E. Planejamento e educação no Brasil: a busca de novos caminhos. In:
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Ferreira, N.; Aguiar, M.. (Org.). Para onde vão a orientação e a supervisão educacional?.
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