HOM E NAGEM O que inspira o RH? Em homenagem ao Dia do RH, profissionais falam sobre quem serviu de exemplo em suas carreiras vitoriosas. Em 3 de junho de 1976, foi fundada a WFPMA (World Federation of People Management Associations), data considerada por todas as federações internacionais como o dia em homenagem ao profissional de Recursos Humanos. O mesmo aconteceu no Brasil, quando o fundador da extinta Associação Paulista de Administração de Pessoal, hoje ABRH-SP, Genézio Lucone, decidiu tornar o dia um marco para esses profissionais. Em homenagem a essa comunidade, que tem feito cada vez mais diferença nas organizações e a cada dia tem refletido que o seu papel é mais importante do que antes se acreditava ser, a revista profissional&negócios questionou alguns desses profissionais sobre quem os inspirou a se tornarem quem são hoje. Muitos levaram os créditos por isso, mas em todas as histórias uma pessoa foi unânime: o líder inspirador. Veja os depoimentos. Trainees, CEO e os propósitos Amigo e Guru “Muitas pessoas me inspiraram em minha carreira, cada uma num momento específico e para coisas diferentes, mas lembro-me especialmente de José Augusto Minarelli, a quem chamo até hoje de meu guru. Minarelli me inspirou por sua generosidade e paciência. No início de minha carreira como consultora, foi uma pessoa que me recebeu e conversou comigo sobre a atividade de consultoria, me ensinou e me orientou. Sempre foi alguém que deu exemplos, que praticou o que pregava e que conquistou seu espaço de respeito e reputação pela ética, caráter e profissionalismo com que conduz seu trabalho. Um profissional de RH, com DNA de RH. Um homem admirável, brilhante e um grande amigo. Obrigada por toda a ajuda!” “Muitas pessoas me inspiraram na vida. Não seria justo eu dar a uma só essa função. Com 28 anos de carreira e na função de RH, vi muitas pessoas crescerem, e muitas me inspiraram, desde o trainee até a presidência. Mas o atual CEO da EY, Jorge Menegacci, sempre me inspirou. Ele foi meu chefe na maior parte do tempo e continua sendo, e eu o admiro muito. Sua ética, seus valores e sua agenda profissional, que sempre está acima da pessoal, me inspiram não só como profissional, mas também como pessoa. Mas ele não é o único. Numa organização como a nossa, em que contratamos cerca de 800 trainees por ano, vi diversas gerações passarem por aqui: Baby Boomer, X, Y e Milleniun. E essa renovação de gerações me inspira muito. Me faz perceber o quanto o mundo é diferente sob o olhar desses trainees. Além disso, trabalhar numa empresa que tem um propósito forte, que é construir um mundo melhor, faz com que eu diga, com certeza, que não só pessoas, mas também propósitos e causas, inspiram, e isso acontece comigo.” 41 HOMENAGEM Encontrando inspiração em todos os momentos da vida “Inicialmente, o que influenciou minha carreira foi a educação que recebi de meus pais e família. Logo cedo me dediquei a trabalhos voluntários e contei com o estímulo e apoio de duas instituições para liderar projetos em prol de pessoas: o Rotary Club, que criou o Interact Club no colégio em que eu estudava e que, quando eu tinha 16 anos, me possibilitou mobilizar estudantes para melhorar e dinamizar nossa escola; e a ACM (Associação Cristã de Moços), que me convidou aos 16 anos para o Corpo de Líderes que atuava em acampamentos e até em trabalhos em favela. Foi assim que aprendi que podemos influenciar a vida das pessoas, despertando-as nas suas capacidades de sonhar, agir e transformar. Amigos, colegas de escola e professores também fizeram sua parte. Destaco os professores Peter Spink, do Instituto Tavistock de Londres e da PUCSP e meu orientador de mestrado; Joe DiStefano, do IMD; e Gabriel Bitran, do MIT, que aportaram muito mais que conhecimentos, pois deram exemplo e inspiração para fazer o melhor com pessoas e empresas. Foram mestres muito especiais que tinham a consciência de que cuidar, capacitar, mobilizar e reconhecer pessoas leva as empresas a resultados superiores. Demonstravam que a convergência de interesses pessoas-empresa era possível e determinante para se construírem organizações inovadoras e sustentáveis. Além disso, contei, na minha vida profissional, com líderes inspiradores por excelência. Destaco Oscar Motomura, Norberto Odebrecht, Firmin António e Bernardo Gradin, que sabiam e sabem encantar as equipes com a força dos seus sonhos, com a solidez de seus valores e com a determinação inabalável de construir um mundo melhor, em que pessoas pudessem ser tratadas com respeito, dignidade e autonomia. Finalmente, minha família estendida, englobando minha mulher e filhas, que estiveram sempre ao meu lado desafiando, refletindo e motivando.” Meu pai, minha inspiração! “Escolhi minha carreira baseada na experiência do meu pai, muito mais do que na experiência profissional. O que aprendi desde criança e depois levei para minha trajetória – e trago comigo até hoje – são os valores essenciais como dedicação, humildade e autenticidade, além de uma forte paixão pelo que faço. E na minha profissão em Recursos Humanos, procuro aplicar esses valores todos os dias. Isso faz parte da minha essência. Nesses valores pessoais, pude me identificar muito com os próprios valores e fundamentos da Electrolux, empresa em que trabalho há 15 anos. Respeito, ética e integridade fazem parte dos pilares da empresa, e assim consigo fazer uma perfeita identificação entre valores pessoais e o da organização, o que torna a minha profissão muito mais fácil de ser executada aqui dentro. Um livro que trata desse tópico é o 'Como – por que o COMO fazer algo significa tudo nos negócios (e na vida)', do autor Dov Seidman. Nesse livro podemos identificar que não somente os resultados são importantes, mas também a forma ‘como’ eles são atingidos, principalmente por meio dos exemplos das lideranças. Também posso destacar um aprendizado que tive com um líder da Electrolux que também pôde me ensinar na prática, por meio de um processo de coaching, como aplicar esses conceitos em um ambiente corporativo.” 42 HOM E NAGEM A primeira gestora direta de RH “Tive muitas inspirações, mas uma delas me fez optar por entrar na área de RH. Quando me formei na faculdade de Economia, concorri a um programa de captação de novos talentos do antigo Banco Nacional. Naquela época tinha a motivação de trabalhar na área financeira, que tinha relação direta com o que eu havia estudado. Naquele programa os candidatos selecionados eram já alocados nas áreas, e me informaram que fui aprovado e seria alocado no RH. Fiquei muito surpreso, mas aceitei pensando que, na pior das hipóteses, eu buscaria uma transferência interna posteriormente. Foi a Vera Bernardino, gerente de RH, que na época ficou com a responsabilidade de me acompanhar, sendo minha superiora direta. Ela me ensinou os primeiros passos do que é uma área de RH, do que é o foco nas pessoas, a importância delas nas organizações e o que é trabalhar em equipe. Foi então que fui me apaixonando pela função de RH, na qual me desenvolvi com tantos outros líderes com os quais, posteriormente, tive a oportunidade de trabalhar em diferentes estágios da minha carreira. Creio que essas primeiras experiências que tive, ainda como uma espécie de trainee, foram fundamentais e marcaram decisivamente não somente minha opção de carreira, mas também a crença na possibilidade transformadora das pessoas e das lideranças.” Desafios que vieram como surpresa, mas também como aprendizado e inspiração. “Costumo dizer que tive muita sorte na vida. Sorte por ter encontrado líderes que me inspiraram pelo interesse e pela dedicação que demonstraram, em relação ao meu desenvolvimento, não apenas pessoal, como também profissional. Outro dia mesmo contei a um amigo a história de Mila Bitel man, hoje atuando como psicanalista em consultório, que foi minha supervisora no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) quando eu era ainda estagiário. Ela, minutos antes de iniciarmos mais uma sessão de testes para seleção de estagiários do Instituto, designou-me: ‘Hoje é sua vez de conduzir’. Diante de meu espanto e de minha negativa inicial, explicou-me, fazendo uso de uma lógica irrefutável: “Aproveite esta oportunidade, em que você tem o controle da situação – apesar de não parecer. Por que você tem o controle? Não estou pedindo para você fazer uma apresentação à Diretoria da empresa, que nunca você nem sequer viu antes. Você já me acompanhou realizando este trabalho, basta fazer do jeito como eu fiz. Quanto ao público, não se esqueça: eles estão mais nervosos que você, pois vieram aqui para participar de um processo seletivo no qual VOCÊ é o ‘chefe’, a pessoa que, para eles, decidirá se serão ou não aprovados. Está mais confortável, assim, para você?’. Claro, depois desse episódio, aprimorei-me, principalmente na Arthur Andersen, que foi minha grande escola. Hoje sou professor e ensino meus alunos a fazerem apresentações em público – tarefa que, certamente, é muito mais facilitada quando alguém o orienta, da mesma forma como eu fui pela Mila. Na própria Arthur Andersen, cito um segundo caso. Ana Teresa Moreira De Marchi Apolaro, hoje a principal executiva de RH do McDonald’s, foi minha primeira encarregada quando lá iniciei minha carreira, em 1991. Ao final do primeiro dia de trabalho, em meu primeiro cliente, já no estacionamento, de pé mesmo, ela investiu alguns preciosos minutos para me orientar sobre como eu deveria me comportar para me destacar na empresa, entrando em detalhes sobre o que a cultura corporativa valorizava. Além da integração formal, que é responsabilidade da área de Recursos Humanos organizar, a atitude de um líder, de complementar esse discurso e reforçar, no cotidiano, aquilo que é primordial, a fim de garantir que seu pessoal seja bem-sucedido, faz realmente toda a diferença. Não por outro motivo, Ana Teresa chegou aonde está, e eu, com suas dicas, permaneci longos anos na Andersen, onde igualmente virei executivo da área de Recursos Humanos, em 2000. Agora, é claro, bons professores se realizam quando encontram bons alunos. Fiz a minha parte, como aprendiz. E procuro reproduzir esses e outros modelos bem-sucedidos de comportamento organizacional para, com orgulho, dizer que também formei, nos meus já longos 25 anos de carreira profissional, muita gente competente.” 43