Sindicalismo docente na sociedade de controle Vânia Tanira Biavatti (Depto. Educação/Universidade Regional de Blumenau) [email protected] Este trabalho tem como objeto de estudo a formação do sindicalismo nacional e as transformações por que passa especialmente na realidade coeva, pontuadas a partir do sindicalismo especificamente docente. A historiografia sindical oficial costuma abordar a formação do sindicalismo como um mero efeito dos diferentes arranjos nos modos de produção. Tal forma de ver confia às condições político-econômicas uma localização que as faz determinante. Em sentido inverso, por entender que as condições político-economica-sociais são também fruto de sofisticações de mecanismos de relações de poder e de controle, esta pesquisa aborda a história do movimento sindical brasileiro entendendo-a tanto quanto as condições econômicas como uma decorrência de especificas condições de possibilidades. Neste enredo, tendo sindicatos como dispositivos de poder típicos da sociedade disciplinar, foca-se o papel do anarco-sindicalismo de modo a explicitar como outras correntes socialistas sindicais, especialmente o comunismo, destituíram o anarco-sindicalismo e como isto se projetou na história do movimento sindical nacional, especialmente na vertente docente. Desta forma, fazendo uso das contribuições de Edgar Rodrigues, o objetivo é apontar algumas diferenças na historiografia sindical oficial expondo como nas altercações entre as forças sindicais em luta, o anarco-sindicalismo desempenhou papel crucial não só na consolidação da classe operária brasileira, mas principalmente no abalo que causou e causa - até hoje -, na representatividade, bem como seus efeitos. A partir da literatura anarquista, os acontecimentos, os desaparecimentos e as ocorrências que na historiografia sindical oficial não se fazem vistos ou não são abordados de modo a que se consiga perceber como chegaram a ser o que são, se fazem então possíveis. É nesta perspectiva que se torna factível explicitar como a história contada do sindicalismo, omitindo o que o embate das forças sindicais construiu, dá por única uma delas, instituindo-a universal. Trata-se de um trabalho que operando genealogicamente a partir das ferramentas de Michel Foucault aborda a contemporaneidade do sindicalismo docente na sociedade de controle que enquanto força sindical emerge em pleno declínio do sindicalismo operário, lançando nova forma à história sindical. Investiga-se nestas relações de poder, como as forças que estiveram em jogo, nestas disputas, subsidiaram a formação de modos de subjetivação docente engajadas numa implicação que leva em conta a superposição do binômio utilidade/docilidade do corpo da sociedade disciplinar pela utilidade/participação da sociedade de controle, bem como as diferenças na participação que o neoliberalismo enquanto arranjo em escala planetária providencia. Nesta mutação, a fratura que o mundo marcado pelas perspectivas liberais traz às formas de enquadramento onde o investimento do poder passa da rigidez, da constância e da meticulosidade a um poder mais tênue, cuja ênfase é fundamentalmente colocada na regulação das escolhas dos cidadãos e não mais nos regimes disciplinares, nem nos espaços de confinamento. Deste modo, como decorrência desta pesquisa, tem-se a constituição de uma perspectiva de análise que até onde as publicações sobre o tema apontam se faz inusitada, na medida em que indaga sobre qual a localização da resistência sindical docente na atual sociedade de controle questionando sobre quais modos de subjetivação são forjados e como estes participam dos jogos de governo.