RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Conselho Editorial Conselho Cientifico Iranilse Pinheiro (Diretora Geral-ESMAC) Ana Claudia Hage (Diretora de Ensino – ESMAC) Sandra Christina F. dos Santos (UEPA) Veridiana Valente Pinheiro (ESMAC) Ilton Ribeiro Santos (ESMAC ) Maria Augusta Neves (SEDUC) Mário Pinheiro (ESMAC) Natalia Evangelista (ESMAC ) Francisca Fontenelle (ESCOLA BOSQUE) Helena Lima (ESMAC) Tânia Sarmento-Pantoja (UFPA) Ana Lilia Rocha (UFPA) Sandra Christina F. dos Santos (UEPA) Veridiana Valente Pinheiro (ESMAC) llton Ribeiro Santos (ESMAC) Maria Augusta Neves (SEDUC) Mário Pinheiro (ESMAC) Natalia Evangelista (ESMAC ) Francisca Fontenelle (ESCOLA BOSQUE) Helena Lima (ESMAC) Coordenador da Divisão de Pesquisa do ISE SANDRA CHRISTINA F. DOS SANTOS Vice - Coordenador da Divisão de Pesquisa do ISE VERIDIANA VALENTE PINHEIRO Projeto Gráfico da Revista VERIDIANA VALENTE PINHEIRO Ilustração da C apa SANDRA CHRISTINA F. DOS SANTOS Revisão VERIDIANA VALENTE PINHEIRO ILTON RIBEIRO SANTOS Editoração eletrônica ASCOM VERIDIANA VALENTE PINHEIRO Editores: SANDRA CHRISTINA F. DOS SANTOS VERIDIANA VALENTE PINHEIRO ILTON RIBEIRO SANTOS Bibliotecária MARIANA ARAÚJO RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ........................................................................................................................ 5 ARTES O JOGO ELETRÔNICO COMO OBJETO DE ESTUDO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES. (ESMAC) Edson Ney da PAIXÃO .................................................................................................. 6 FENOMENOLOGIA: CAMPO DE POSSIBILIDADES EPISTEMOLÓGICAS E METODOLÓGICAS. Jaime Barradas DA SILVA ........................................................................................... 19 3 PONTOS-LINHAS - ALUNO, PROFESSOR E CRIAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA EDUCATIVA NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO ESTÉTICA. Sandra Christina F. dos SANTOS ................................................................................. 31 ADMINISTRAÇÃO O PROCESSO REVERSO NA LOGÍSTICA EMPRESARIAL: UMA ANÁLISE NA EMPRESA BRASILEIRA DE DISTRIBUIÇÃO LTDA. Mário Jorge Santos PINHEIRO Andréa Rodrigues de Silva MELO ............................................................................... 44 EDUCAÇÃO FISICA FOLCLORE E CULTURA POPULAR: UMA ANALISE A PARTIR DAS CIÊNCIAS SOCIAIS. Natalia EVANGELISTA ................................................................................................. 57 LETRAS MODERNIDADE EM BELÉM: ENCONTROS, COMBATES E MUDANÇAS NA AMAZÔNIA – 1960. Ilton Ribeiro SANTOS .................................................................................................. 71 PERCEPÇÕES DO TEMPO MEDIADAS PELA MEMÓRIA DO CORPO Veridiana Valente PINHEIRO ...................................................................................... 89 PEDAGOGIA A ARTE MILENAR DA CERÂMICA MARAJOARA E TAPAJÔNICA: DESENVOLVENDO E VALORIZANDO A IDENTIDADE CULTURAL DO DISTRITO DE ICOARACI Maria Augusta Lima das NEVES ................................................................................. 96 RESENHA SOUZA, Roberto Acízelo de. A Insti tui ção dos Es tudos Li terá rios no Brasil. In: SOUZA, Roberto Acízelo de. O Império da eloquência. Rio de Janei ro, RJ: EdUERJ/EdUFF, 1999. p. 17-37. Veridiana Valente PINHEIRO .................................................................................... 109 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 INICIAÇÃO CIENTIFICA MULTILETRAMENTOS NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO A PARTIR DA LINGUAGEM VISUAL. Paula Cristina Do Nascimento Chaves Sandra Christina F. dos Santos (Orientadora) ......................................................... 113 EDUCAÇÃO COMO PROCESSO DE RESSOCIALIZAÇÃO Rosineide Oliveira do Nascimento Maria Augusta Lima das Neves (Orientadora) ........................................................ 118 RUMOR DA ARTE Obra: Impressão: Es cri tura do corpo. Artis ta : Sônia Garcia ................................................................................................. 131 Obra: Entre Noesis e Noema , Corpo Artis ta : Jaime Barradas ............................................................................................. 133 Obra: Mes tiça gem Artis ta : Mauricio Pensador ....................................................................................... 134 Obra: A cada tempo Artis ta : Tadeu Nunes ................................................................................................ 135 Obra: Um olha r sobre o corpo Artis ta : Bárbara Freire .............................................................................................. 136 Obra: Habi ta r, Corpo-Transiti vo Artis ta : Sanchris Santos ............................................................................................ 137 Obra: Depois do Wha ts App Artis ta : Edson Paixão ................................................................................................ 139 Obra: A inexa tidão da verdade Artis ta : SAINT'CLAIR .................................................................................................. 140 Obra: Corpo cidade cubos Artis ta : Lindalva ........................................................................................................ 142 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 APRESENTAÇÃO: O número primei ro da Revis ta Revise contempla ques tões relacionadas ao Ensino Superior, a pa rti r de uma lei tura hibrida em que vá ri os campos de i nves tiga ção propõem alguns resul tados de inves tiga ções realizados no pri mei ro semestre de 2014. Compreendemos que é preciso discuti r o ensino, assim como as diferentes formas de es tra tégias e aborda gens utilizadas pelo uni vers o a cadêmico. Dessa forma , nosso propósito com es te volume é contempla r ques tões vol tadas às alterca ções de pesquisas vol tadas a o ensino s uperior em di ferentes á reas do conheci mento a fi m de sus ci ta r reflexões es clarecedoras pa ra ressigni fi car o ensino. Nesse sentido, a Revise surge com o i ntui to de pensarmos que, em um uni verso cujo meio de lei tura es tá cada vez mais i merso em tecnologias digi tais. É urgente e pertinente que novas formas de refleti r o ensino superior possibilitem, o uso de ferramentas tecnológi cas, no intuito de permi ti r a o professor/pesquisador e ta mbém aos alunos novos olha res a cerca dos conhecimentos lançados pelas insti tuições de ensino superior a fi m de ma ximiza r as formas de a cesso a essas novas informações. Pensando a cerca des ta óti ca propomos o dossiê Diálogos entre as graduações que conta com as contribuições de pesquisadores como: Edson Ney da Pai xão, Jaime Ba rradas da Sil va , Ma ria Augusta Lima das Neves, Má ri o Jorge Santos Pinhei ro, Andréa Rodrigues de Sil va Melo, Na talia Evangelista, Sandra Christina F. dos Santos (Sanchris Santos) e Veridiana Valente Pi nhei ro. Fechando a revista ainda temos a resenha de Veridiana Valente Pinhei ro e um segundo i tem denominado O rumor da arte que surge i ntrínseco a propos ta da revista com um espa ço de publi cações pa ra a rtistas que elabora m a pa rti r de suas exposi ções dossiês sobre suas obras . Enfim, nes ta edi ção serão a presentados alguns dossiês e ensaios a rtís ticos dos a rtistas : Sônia Ga rcia com a obra Impressão: Escritura do corpo, Jaime Ba rra das com a obra Entre Noesis e Noema, Corpo, Mauri cio Pensador com a obra Mestiçagem, Tadeu Nunes com a obra A cada tempo, Bá rba ra Frei re com a obra Um olhar sobre o corpo, Sanchris Sa ntos com a obra Habitar, Corpo-Transitivo e Edson Pai xã o com a obra : Depois do WatsApp. Contudo ressaltamos que o volume de tra balho recebido superou as expecta ti vas . Agradecemos a todos os colabora dores (as), por tona rem real este sonho. Ananindeua , Outubro/2014 Os organizadores 5 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 O JOGO ELETRÔNICO COMO OBJETO DE ESTUDO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES (ESMAC) Edson Ney da PAIXÃO1 RESUMO: Es te tra balho é baseado em uma pesquisa que vem sendo i mplementada há dois anos . Ela tem como propos ta o desenvol vimento e cria ção de interfa ce em jogos eletrôni cos e educati vos , que tem como motor de sua plata forma o progra ma de power point, por se tra ta r de um progra ma comum e geralmente ins talado em computadores por conta do pa cote office. Vale lembra r que tal progra ma pode ser tra nsformado pa ra base de Linux. A propos ta nas ce a pa rti r das ideias de alguns pesquisadores que es crevem sobre os jogos e sua possível aplica ção em educa ção, Huizi nga (2001) Vi gotsky (1984) e Lucia Santaella (2009) , nes ta perspecti va pensamos na apli cação des ta proposta de criaçã o de interfa ce de jogos dentro da forma ção de professores , pa ra desenvol ver nes te futuro profissional a ideia de hábi to e conta to com o mundo cibernéti co em uma visão ra cional de criaçã o e produçã o autoral , não somente o que é sugerido, mas uma forma de apropriar-se do que es ta pos to. PALAVRAS-CHAVE: Interfa ce; Jogo eletrôni co, Power point. RESUMEN: En es te traba jo se basa en la investi ga ción que se ha i mplementado desde ha ce dos años . Ella es la propues ta de desarrollo y la creaci ón de interfa z en los juegos electrónicos y educa ti vos , que tiene como pla taforma el progra ma de punto de potencia del motor, ya que es un programa común y por lo general instalado en los equipos debido a la sui te de ofi cina . Recuerde que un progra ma de es te tipo puede ser transformado a la base de Linux. La propues ta viene de las ideas de algunos inves tigadores que escriben sobre los juegos y s u posible a plica ción en la educa ción, Huizinga (2001) Vygotsky (1984) y Lucia Sa ntaella (2009), es ta perspecti va creemos que la apli ca ción de esta propues ta de crea ción de i nterfaz de juego dentro de la forma ción del profesorado, el desarrollo de este futuro profesional la idea de la costumbre y en conta cto con el mundo cibernéti co en una visión ra cional de la crea ción y la producci ón del autor, no sólo lo que se sugiere, sino una manera de toma r posesión de este post. PALABRAS CLAVE: Interfaz; Juego de Electronic, Power point. Considerações Iniciais A ideia concei tual do jogo eletrôni co enqua nto objeto de es tudo surge pela possibilidade a tra ti va na tural que grande pa rte dos jovens tem pelo jogo, comentando sua visão de cunho antropológi co o autor Hui zinga (2001) assegura que o jogo é um elemento incorpora do a cul tura , que desenvol ve toda uma analise e interpretações lógi cas, Vi gotsky (1984) a fi rma a sua i mportâ ncia pa ra o desenvol vimento, aprendi zagem quando mobiliza a sua ação intelectual . Assim, observamos como o professor da rede pública pode utiliza r os jogos como possibilidade. Dessa forma , na grande necessidade de a malgama entre jogos 1 Master en Ciencias de la Educacion pelo Universidad Autonoma de Asuncion, Paraguai(2010). Professor titular da Escola Supe rior Madre Ce leste, Brasil. 6 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 eletrônicos e educa ção, uma poss ível ferra menta , quando a plicada de manei ra coerente e respei tando os níveis de ensino, aprendiza gem e apli caçã o da tecnologia, se veri fi ca que será preciso desmisti fi ca r o uso do computador não apenas como uma simples ferra menta educati va que pode ser utilizada no auxilio ao aprendente2, mas também como estra tégia que se estende ao professor. Observa ções sobre a i mportância do jogo na relação com o cresci mento psi cológi co e cogni ti vo alguns aspectos são ressaltados por autores em rela ção o jogo e a educação. Lucia Sa ntaella, organizou em 2009, cinco a rtigos sobre o tema : Novas mídias computa cionais e teorias interdisci plinares “Mapa do Jogo: A di versidade cul tural dos ga mes”, ci ta Stewa rt Culi n (1887), Huizinga(1938), Roger Caillois (1958), Elliot Avedon e Brian Sutton-Smi th (1971), Chris Crawford(1982, 2003), Leblanc (2000), Salen e Zimmerman (2003), Da vidson (2008; 2009), Arsenault e Perron (2009), Perron e Wolf (2009), e Schell (2009). Esses estudiosos des ta cam a importância do jogo em pa rceria com ensino e aprendiza gem, i nfelizmente pa ra alguns aprendentes exis te somente a visão do encanto, do a tra ti vo, do lazer sem frontei ras, criando mil possibilidades, no campo da brincadei ra , que envol ve verdadei ramente o aspecto de influencias e efei tos do principal foco, esses aspectos somati zados pelas gra ndes empresas que desenvol vem essas pla taformas tecnológi cas , envol vem principalmente a expansão das rela ções mercadológi cas e consumis tas. Tal concei to de jogo liga do somente ao li vre lazer e di vertimento no va zio, permanece vi vo no âmbito da educa ção. Assim, pensamos que cabe a o professor orientador como ponto de pa rtida a análise e reconfigura ção de mudanças provocadas pela tecnologia da informa ção a fim de procura r desa rti cula r os pensamentos pri má rios em relação ao uso da interface do jogo eletrônico como objeto de estudo é o que busca mos enquanto conhecimento específi co de sua apli cabilidade embasado em teóri cos da comuni cação em que concluo que a educaçã o nos remete a forma ção de professores diante do surgi mento de novas necessidades e competências com o perfil profissional fa vorá vel a cul tura da mídia e tecnologia , profissionais que apontam pa ra o futuro e veem a possibilidade da a rti culaçã o e es tra tégias de se trabalha r o jogo eletrôni co como objeto de estudo, de forma a potencializa r e construi r novas perspecti vas e possibilidades de enfrenta mento diante mundo digi tal , que se 2 Incorporamos o te rmo aprendente no lugar de aluno por s ua conotação mais ativa e participativa. O emprego do te rmo aprendente-ensinante ( alicia Fernández,1990). 7 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 evoluem de forma mutá vel , dinâ mica , sonora e progra má vel , ca ra cterís ti cas que estã o presentes nos jogos eletrôni cos como a presenta Santaella (2009), no desenvol vi mento do seu a rti go, quando denomina o jogo como uma “a rte des te sécul o”. Pensa mos que pa ra es te futuro profissional em educa ção podemos tra balhar essa possibilidade propos ta a tra vés do jogo eletrônico, como objeto de es tudo, será preciso uma adapta ção nesse contorno educa cional diante do concei to de jogos em educa ção, e sua liga ção com a li ngua gem computa cional, concei tos que devem se i nterliga r, e coaduna r caminhos e propostas ampa radas no conheci mento que possam responder a essa problemá ti ca que deve ser debati da e aplica da no desenvol vimento des te tra balho que envol ve a pesquisa da apli cabilidade da interfa ce do jogo eletrôni co como objeto de es tudo na formação de professores na Es cola de Ensino Superior Madre Celeste (ESMAC). Com a amplitude e o desenvol vimento ambientes vi rtuais educa ti vos que surgem sistemati ca mente em grandes números na á rea de ensino e a prendi zagem em di versos níveis , nes te ca mpo especifi co de interfa ces pa ra jogos eletrôni cos é possível perceber a grande demanda , pois existe um hiato que precisa ser satura do, discutido e apresentado como uma mediação pedagógi ca e o uso da mídia-educati va a ser apresentada como uma propos ta que possibilite amplia r e di versi fica r esse conhecimento sendo que a abordagem será desenvol vida sobre mídias e pa ra mídias e com o uso das mídias de teor cri ti co e construti vo ao futuro profissional em educação. A concepção de a mbientes plurais que abrangem o mundo vi rtual , intera ti vo e hipemidia tico, ma rca o uso das tecnologias como uma cons tante dentro da educa ção, são cos tumes que se integram ao tra nsmi ti r conteúdos didá ti cos em sala de aula e des ta forma será possível conduzi r es te futuro profissional em educa ção de manei ra segura a es te ambiente vi rtual computa cional e sua dissemina ção e a plicabilidade a pa rti r da interface do jogo eletrônico vol tado pa ra o ensino e educa ção, mediante uma i ntera ção com o uso da mídia e tecnologia a mpliada pa ra a a tua ção pra ti ca como futuro profissional. Será preciso dedi ca ção e es tudo, pois esse trabalho exige uma conquista diária , pa ra o domínio da interface do jogo eletrônico que se apresenta a sua disposi ção, dei xando sempre mui to cla ro que o futuro profissional em educa ção é a peça principal na efeti va prepa ra ção do sujeito cidadã o aprendente. 8 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Ha rdwa re, softwa re, progra mas, tudo es tá à disposi ção de quem quiser e todos os dias surgem em nosso cotidiano, de a cordo com Nusdeo (2001), essa oferta de produtos pautados por l uta de capi tais com compra e venda de ações entre sociedades de negócios , que é uma propos ta desenvol vi da com o objeti vo de administra r um grupo de empresas pa ra competi r no mercado capi tal e possível perceber algumas propos tas que as gra ndes empresas que tra balham di reta mente com tecnologia, lança m no mercado na bus ca de lucros e ci rculação e massifica ção de seus produtos e pa ra isso criam, i mplementam e impõem novas necessidades, segundo o texto de Robson Paz (2007), “Globaliza ção, a vanço tecnológi co e a necessidade”, comenta essa es tra tégia das empresa de cons tante mudança e inova ção, sempre pa ra competi r e diferencia r-se de seus concorrentes , utilizando as di versas possibilidades como a tra vés de inúmeras campanhas publi citá rias nas mídias massivas , envol vendo, televisão, jornais, revis tas , outdoors , internet, fa ce book, bl ogs , fórum de dis cussão, a mídia que es ti ver a disposição, será utilizada, nes tas mensagens os fabri cantes apontam e demonstra m o computador trans formando a vida dos homens , a pa rti r de ideias de poder de controle, tudo ao toque dos dedos, sem es forço nenhum, a presentando a ma quina tecnológica como um objeto s ublime, al go que signifi ca s ta tus a ser conquistado a todo cus to, uma bandei ra a ser conduzi da em nome de um pa ra si próprio, algo que al cança o momento profissional, familiar e afeti vo. Pa ra Gade (1998), são desejos internalizados , que fluem a pa rti r do consumo, são fa to da sociedade moderna que pessoas possuem pa ra sa tisfazer s uas necessidades e a tecnologia tem se des ta cado nes te percurs o de interesse, consumista e o cientis ta social Diego Vi centi n3, comenta sobre “o enca nto da tecnologia ” uma sedução s obre a realidade, que envol ve o a vanço tecnológico que exerce sobre as pessoas um poder projetado em busca por novos lançamentos promovi dos pela indústria tecnológi ca . O consumo de tais mercadorias eletrôni cas (ha rdwa re, softwa re) está desaguando nos mercados e nas ruas e tem al cançados nossos jovens e es correndo pa ra as salas de aulas em conjunto com os softwa res , mais a cessíveis a qualquer um original ou pi ra teado, essa nova cul tura que se apresenta , nes te ins tante segundo Santaella (2003) surge a repli cabilidade da informa ção, eu tenho e você ta mbém, nas ce a posse e o a cesso, o que força uma nova ati tude do ser social que envol ve os aprendentes . 3 Texto está disponível em: www.saladeaulainterativa.pro.br. Acesso em: 10/07/14. 9 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Essa realoca ção do social em cons tantes muda nças, e amplia sua funcionalidade e apli cabilidade na cons trução de s ua identidade, segundo (BAUMAN, 2005, p. 11) “a internet fa cili ta a expressão de identidades prontas pa ra serem usadas”. Al go como um talk-show, todos procuram jus tifi ca r o que querem ser e se apresenta m na forma de um a va ta r, segundo o autor nes te sentido desprende-se a “corrosão do ca rá ter” uma ma nifes taçã o presente na sociedade moderna, são projetos elabora dos elegidos e colocados em prá ti ca cotidiana . Sã o es tra tégias adqui ridas e absorvi das pelo ser moderno como pa rte dessa cul tura , determinadas por Pa rson (1954) como um intercâ mbio entre indi víduos de um meio comum, uma rede de conexões, devem desperta r no professor possibilidades de cres cimento e desenvol ver novas pra ti cas e pensamentos rumo ao futuro. Pensamos na possibilidade do uso comum do computador na subs ti tui ção do quadro do pincel e a folha do papel, como bem lembra Valente. “Essa abordagem tem suas ra ízes nos métodos de ins truçã o progra mada tra di cionais, porém ao invés do papel ou do li vro, é usado o computador.” Dando voz a essa ques tão, o Ma rcos Sil va4, em um seminá rio da Capes online, afi rmou que o uso das tecnol ogias em sala de aula é uma exigência da cibercul tura e que envol ve novos a mbientes comuni ca cionais e cul turais a pa rti r de uma junção de sociabilidade, organi zação, informa ção e troca de conhecimento. Is to demons tra o desenvol vi mento de uma tendência mundial mediante uma vertente comum na globalizaçã o que se torna rá comum em um ambiente compa rtilhado de conta to com comunidades e cul turas di versas que envol vem ensino e aprendizagem. A ideia de “i nterfa ce” em detrimento de “ferramenta” surge com o pensamento mais extenso e depurado no trabalho de se apli ca r e representar si mboli camente informações na tela digi tal des ta forma segundo Johnson (2001), a pala vra “ferra menta ” é dispos ta como um termo pouco eluci dada por autores o que destoa para menos ou pa ra mais em sua definiçã o teóri ca não abrange novas possibilidades de mundos imersi vos presente nos textos de Sa ntaella (2004), um perfil cogni ti vo associado à cibercultura que envol vem a comuni caçã o verbal, visual e sonoro, a brangendo a hipermídia dominante e presentes em jogos eletrônicos que dispa ra o funciona mento dos sentidos percepti vos humano, e envol vem pri ncipalmente a visão espa cial pluga da di reta mente a o pensamento, ca ra cteri zando o que 4 Prof. Dr. da Faculdade de Educação da UERJ, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Es tácio. 10 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 autora des creve como “a prontidão percepti va do i nternauta ” essa na vega ção inter semióti ca que invadem e transi tam por mundos digi tais e espa ços cibernéti cos , necessita m de novas interfa ces de leitura fá cil e cercadas de a talhos distintos e que possam ser apli cadas, as infovias do ciberespa ço de forma interli gadas a sis tema tecnológi cos conectados a tela disponibiliza ndo suas possibilidades de tra nsito disponíveis ao receptor interligando a o espectador como progra mas CAD( computer aided design), Cabri-Geometre, Sketchpad,wi-fi, on line, w.w.w, links, web, hipertextos, hipermídia, alem de aplicativos como VRML (virtual reality modeling languagem) comuns e inovadoras em nosso cená rio high tech di gi tal contemporâneo que envol vem o vi rtual , o tridi mensional e intera ti vos conectados ao toque dos dedos sobre a tela de cris tal liquido touch full screen. A “i nterfa ce” quando apresentada como termo básico de ferramenta, absorve tão somente a ideia de uma extensão do bra ço uma manufa tura que detém suas possibilidades mínimas utilitá rias. Com a i deia de “interfa ce” será poss ível estende-la pa ra uma amplidão simbólica que envol ve, i magem, som, bits, desktop, Windows, links, textos, hipertextos e update virtual, podem ser des cri tas como possibilidades de a tualiza ções de al guns sis temas opera cionais automa ti camente produzida pela empresa, sem a possibilidade de i ntervençã o do usuá rio, ampliação de um a mbiente de realidade vi rtuais, quase infini to tendo como ei xo central um espa ço de uni verso pa ralelo sintéti co compos to por linguagem eletrôni ca que envol ve pi xel , códi gos biná rios de zeros e uns , Steven Johns on (2001), comenta sobre uma colisão nes ta tercei ra cul tura , ala rdeada por John Brockman (1959), que envol ve mente cria ti va e mente técni ca . Os elementos na produção de um visual com ca ra cterís ti cas vi rtuais, envol vem inúmeros profissionais compos tos por equipes de inventores e a rtistas unidos em ta refas intera ti vas e mul tidisci plinares , submergidas e integradas em promover es tra tégias em uma situa ção de cria ção, desenvol vimento, gerenciamento controle e a companhamento a pa rti r do uso da tecnologia a ser utilizada , em conjunto com a cons truçã o de um enredo ou tra ma que serve como motor pa ra a construção da interfa ce intera ti va (FEIJÓ et al . 2001), a metodologia empregada é i mporta nte delineadora do caminho a ser percorrido no desenvol vi mento das interfa ces e de jogos , deve ser adequada e cíclicas , começo, meio e fi m, além de obedecerem cri térios de etapas na produçã o e cria ção, prazos e cronogramas 11 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 isso propos to, pa ra evi ta r des ca rrila r sobre possíveis ideias de incertezas no desenvol vi mento dos projetos . Esses conceitos sobre metodologia apresentadas de formas pra ti ca, didá tica e es clarecedora , são apontadas por Brancher (2004) como necessárias no desenvol vi mento de projetos de interfa ces e jogos eletrôni cos , pelo fomento da intera ção, usabilidade cotidiana ou na cons truçã o do processo de ensino aprendiza gem. Metáforas da interfa ce devem ser valori zadas, segundo Levy (2000), ocorre com a apropria ção de di versos termos utilizado no mundo vi rtual , o que se transforma em um impa cto pa ra produção e i mplementa ção de hipermídia , que pa ra Gos ciola, (2003) a i nterfa ce se apresenta como uma propos ta de imersão do usuá rio e permi te al cança r a intera ti vidade, envol vendo-se nos conteúdo a tra vés da hipermídia. Diante des te plano de interfa ces uma ideia ori ginal de intera ti vidade mediada por metáforas , termos relacionados ao mundo vi rtual de computador são conduzidos por funções da interface, que de a cordo com Bra ga (2004), o uso de nomes de ambientes e tecnologias , serão conheci dos a té por quem di fi cilmente utiliza o meio tecnológi co, criando uma ponte intera ti va entre s ujei to e espa ço vi rtual, desenvol vendo uma simbiose além ma quina . Intera ti vi dade torna-se uma sugestã o mui to forte e apela ti va deve ser uma coloca da em um pa ta mar de suma i mportâ ncia no caminho da apli cabilidade di reta , simples e pontual , des te modo, pensar na cria ção, planejamento e desenvol vi mento de interfa ces pra ti ca que fa cilitem e auxiliem a condução do jogo, como identifi ca r nas teclas funcionalidades de cada a ção propos ta , opções de a talhos di reto ao menu, sa ída , áudio e objeti vos pri mári os e secundá rios , como incenti vo propulsor sempre a amos tra do interlocutor. A tecnologia na cons trução de uma i nterfa ce pressupõe segundo, Johnson (2001) o equi valente cultural da construção de um romance, uma obra de grande relevância cria ti va e his tóri ca , e o foco deve ser sustentado com planejamento detalhado de cada espa ço de ma nei ra indi vi dual, introduzindo uma di nâmi ca a cada i nforma ção a ser al cançado, centra r de manei ra di reta o seu publico al vo, porta nto devemos nos apossa r de uma pesquisa exaus ti va sobre o tema a ser abordado. São etapas sucessivas que exigem uma a tençã o redobrada no procedimento e cria ção de novas interfa ces , leves e pra ti cas ao al cance de todos (JOHNSON, 2001, p. 18), explica que é um produto com ca ra cterís ti cas de sabedoria 12 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 a celerada, com design da interfa ce, segundo ele é a a rte fundida a tecnologia , no caso de contexto es cola r devem ser percebidos elementos que envol va m a possibilidade prima ria da construção do conheci mento, envol vendo a aprendi zagem e a necessidade de tenta r compreender e interpreta r a sua realidade al terada em que vi vemos (KENSKI, 2009, p. 27). Nos anos 60 quando Douglas Engelbert um tecnólogo a meri cano, fez a primei ra demons tra ção da utiliza ção do som e da i magem em tempo real o uso do pri mei ro mouse de computador, desenvol veu-se a sintaxe de uma ideia da introdução do texto e hipertexto sendo traduzidas pa ra uma linha de comando pa ra uma propos ta de leitura digi tal , são inova ções que compõem o uni verso da i nformá ti ca e vã o se es truturando e ampliando suas possibilidades ima gina ti vas na era da cria ção e inova ção constante. Algumas ques tões s obre este tema es tão sendo apresentadas como forma de problemá ti cas que nascera m com as nossas inquietações e observa çã o enquanto professor na á rea de tecnologia na Es cola de Ensino Superior Madre Celeste (ESMAC). Dessa forma , nos perguntamos como reconhecer a não centralidade socioeconômi co-tecnológi co baseada na informa ção digi talizada que envol ve a educa ção? Como a mpliar a mbiências , possibilidades e flexibilidades diante dessas ambiências informa cionais e a lógi ca comunica cional que se apresentam e envol vem o espa ço educa cional? Como não refletir que diante des te novo jogo es tra tégico do poder econômi co capi tal, que envol ve a capa cidade da rede interli gada permanentemente no modo online, recebendo e repassando informa ções , algo que Ha vey des creveu como conceito de modernidade “destrui ção criati va ” o novo nas ce a pa rti r das ci nzas do anterior. Porém, exis ti o contra ditório presente pouco difundido que é a possibilidade verdadei ra da exclusão di gital a qual se refere (LEVY, 1999, a pud WARSCHAUER, 2006) ou conhecido como analfabetismo digi tal, ci tado pelo jornalista Gilberto Dimens tein (1997), e também pelo historiador contemporaneo Roger Cha rtier (2013)5, esse pesquisadores apresenta m dois termos conhecidos na área da informá ti ca, brecha di gital ou fissura digi tal , situa ção corriquei ra que se torna basta nte gra ve em rela ção as possibilidades perdidas por jovens e adultos, is to causa uma profunda des continuidade no desenvol vi mento de suas cidadanias. Assim, o a to de apenas fornecer as máquinas , infelizmente não será o sufi ciente pa ra resga ta r o sujeito desta condi ção em que ele es ta pos to. 5 Publicado em NOVA ESCOLA Edição 262, Maio 2013. Título original: “Nossa sociedade está vendo nasce r um novo modelo de ana lfabetismo: o digital”. 13 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Nesta percepção não reflexi va de excesso de informação, mui to mais que a falta , torna-se um a contecimento mais amplo e complexo de dissociação entre posse do computador e utilizaçã o do computador enquanto usuá rio, a cessa r sem saber utilizá -la de fa to. Assim, é inútil e perigoso à bus ca , cria ção e decodifi ca ção de novos conhecimentos se apenas se deseja mini miza r por demais a relação do aprendente com a internet e a uni versalizaçã o de a cesso as redes comuni ca cionais em se tra tando de competência e qualidade, tal rotina é classificada por Eco (1996) como uma fal ta no desenvol vimento das habilidades sobre o sujei to no saber es colher e dis crimina r os conteúdos a cessados. Neste mundo de tecnologia , informaçã o e comuni caçã o, incorporadas ao cotidiano; o sujei to passa cons tantemente por um processo de upgrade permanente em s ua i nteligência integra ti va de sentidos complexos, baseada na teoria ecológi ca da percepção (GIBSON, 1996), corpos e mentes que obri ga toriamente passam a desenvol ver inva ria velmente novas competências, distingui r e decodi fi car cada informa ção a cessada na rede, consequentemente es ta remos regis trando o perfil do potencial aberto no campo do sensório percepti vo pa ra poder trabalha r de forma sis têmi ca e interdis ciplina r em curto espa ço de tempo, sub-emergindo em uma “aldeia global ” de informa ções uni versais a qual se refere McLuha n, segundo Sa ntaella, comenta sobre percepção e sentido sobre a cessos na internet publi cada em 2004, são “corpos ca rnais e corpos al terna ti vos ”. Passam a serem as adapta ções diante de novas regras i mpos tas pel o gera ti vo labi rínti co da linguagem cibernética . Arlindo Ma chado (1993) defende a proposta da unifi ca ção de vertentes como a organi za ção, a estrutura ção e a produção em consonância com a mídia como dispositi vo ma terial , podendo ser aplicada inva ria velmente em seu trabalho pra ti co cotidiano. O professor Ma rco Sil va , dis corre s obre a não passi vidade de intervenção e a li vre criaçã o ca ra cterísti ca da cibercultura , a ti tude comum encontrada no s ujei to receptor a berto a o dialogo, ao confronta-se com a informa ção repassada pelo sujei to emissor. Essa coadunação intera ti va possível entre formação, educaçã o e jogos a caba ram possibilitando a introdução do jogo eletrôni co como conteúdo básico na forma ção de professores na ESMAC. Essas possibilidades estra tégi cas apresentadas no curso cria m novas questões problemáti cas , s obre a i ntera ção de modo cri ti co e construti vo no uso do computador como ferramenta pedagógi ca na forma ção dos professores. 14 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Ques tões problemá ti cas que se desdobra ram em indaga ções prelimina res, sob forma de perguntas tais como: De que manei ra podemos nos apropria r dessas ferramentas; e como da r a elas um enfoque mais amplo no contexto e refletindo a aprendi zagem em conjunto com o ensino mais produti vo e efica z, produzindo uma signifi ca ti va melhoria no desenvol vi mento do profissional em educa ção mediante as tecnologias da informa ção? Neste sentido, pensamos o projeto como al go próxi mo da realidade, aliado do aluno e do professor, pois como des creve Valente em seu a rti go “Diferentes usos do Computador na Educa ção”, pa ra ela a diversidade que esta sendo criada e imposta pela sociedade cada dia mais consumista e tangida pelo menor esforço, físico e mental, tudo pronto e acabado. A mudança da função do computador como meio educa cional a contece juntamente com um questionamento da função da es cola e do papel do professor. A verdadei ra função do apa ra to educa cional não deve ser a de ensina r, mas sim a de cria r condi ções de aprendiza gem. Is to si gnifi ca que o professor deve dei xa r de ser o repassador do conhecimento — o computador pode fazer is to e o faz muito mais efi cientemente do que o professor — como expli ci ta Lyota rd (1998) ao utiliza r uma frase es clarecedora que a firma ser “explosi va exteriori za ção” pa ra demons tra r que o que es ta pos to agora não é a quantidade de informa ção adqui rida , mas o uso dessa informa ção em sua pra ti ca. Com isso, percebemos que o signifi ca ti vo cami nho será o professor passar efeti va mente do grau de repassador pa ra o grau de criador de ambientes de aprendi zagem e o facili tador do processo de desenvol vi mento intelectual do aluno. As novas tendências de uso do computador na educaçã o mos tra m que ele pode ser um importante aliado nes te processo que esta mos começando a entender. Nesse sentido, o autor des taca , que a ideia de progresso inevi tá vel, pois não somente o aluno é sujei to e predi cado nesta possibilidade de mundo novo possibilitado pela tecnologia que veem sendo i mplantadas e repassadas de manei ra vil , pois percebemos que a tecnologia cria uma ba rrei ra excl udente pa ra profissionais, princi palmente dentro da educaçã o, que por algum moti vo, ou obs tina ção ferrenha não conseguem es ta r próximo e pa rti cipa r desta onda tecnologisti ca que são apresenta das todos os dias, s obre pensamento nega ti vo que minam alguns professores . Asmann (2005) comenta, que essa resistência dos professores em se apropria r dessa tecnologia em sala de aula , nas ce a pa rti r de observa ções 15 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 da insegurança do domínio pessoal, aliada ao falso temor de es ta r sendo substi tuído por um novo ins trumento tecnológi co inovador. Porta nto, em nossa pra ti ca dentro da ESMAC, percebemos que infelizmente ainda não há uma convi vência ha rmoniosa entre máquina , programa , professor e aluno. Esse dis tanciamento e/ou desconhecer da apli cabilidade do jogo como propos ta de ensino e aprendiza gem pa ra esse futuro profissional nos pa rece problemáti co por conta do público que esse futuro profissional vai convi ver e intera gi r com propostas de a mbientes vi rtuais de aprendiza gem (AVA). Percebemos que a introdução de novas mídias no ensino são mais frequentes e se tornam corriquei ras pri ncipalmente no ensino a dis tancia como o progra ma “open-source” a tra vés do sistema de administra ção de a ti vidades educa cionais , que trabalha com um modelo colabora ti vo, que bus ca no aluno uma a ção mais ati va pa ra o desenvol vi mento do seu próprio aprendizado o MOODLE. Pensa mos que é possível o próprio educador cria r com a a juda da i nterfa ce eletrônica , o seu próprio repertório autoral , de manei ra fá cil e dinâmi ca , procurando se a jus ta r diante de ca da necessidade surgida dentro de seu trabalho como educador a ti vo. Essa inquieta ção foi propulsora para a cria ção do projeto no segundo semestre de 2010 “O computador como suporte no ensino, a tra vés dos jogos eletrôni cos criados em Power Point”. O Power Point segundo a empresa que cri ou o progra ma é um a plica ti vo que a companha um programa maior, cuja função bási ca aplica da é auxilia r a pessoa a desenvol ver e monta r suas apresenta ções de manei ra pra ti ca e profissional, na forma de uma sequencia de telas pa ra projeções . Atra vés dele, você poderá cria r apresenta ções de forma simples e rá pida. As telas podem ser compos tas por textos , grá fi cos , sons e ima gens . Es tas apresenta ções podem ser exibidas na tela do computador ou em apa relho de projeçã o (TV, Da ta show, telões , canhão de luz), como também em papel, slides, transpa rências . O forma to na ti vo da ferramenta PowerPoint é ma rcado pelas letras PPT, pa ra a rqui vos de apresentações, e o forma to em PPS, são pa ra apresenta ções di retas . A empresa que comercializa esse softwa re mudou s ua aplicabilidade a pa rti r da versão 2007 do progra ma , introduziu um novo formato mais complexo o PPTX. Jus tamente Pa ra executa r o Power point em máquinas que não o tenham ins talado, outra va ntagem que surge pa ra ampliar novas possibilidades, porem é necessária usa r um novo softwa re o PowerPoi nt 16 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Viewer, uma vez que infelizmente o PowerPoint não possui suporte nati vo pa ra outros forma tos como o SWF, o PDF e mesmo o programa Open Document Forma t. Os a rqui vos do PowerPoint em geral são lidos sem problemas por outros softwares similares como o Impress, e agora podem ser lidos no sistema opera cional Linux, por um codec especifi co que faz essa trans muta ção, como os recém lançados mi crosoft-offi ce-2010i con-pa ck-linux, assim como o programa wware 2.0.4, Com o progra ma exis te uma especifi ca ção mais abrangente wvWa re você poderá abri r a rqui vos todos os a rqui vos do Word 2000, 97, 95 e outros 6 tipos de formatos no seu Linux. Por essa pra ti cidade, permutabilidade, adaptabilidade, passamos a ter as suas possibilidades ampliadas, neste caso a ideia do projeto surge como proposta metodológi ca simples e pra ti ca dentro da forma ção dos professores, pois es te progra ma já exis te e vem ins talado em quase todos os computadores ofertados e adqui ridos no merca do, por conseguinte onde houver um computador li gado exis te a possibilidade de es ta r instalado na ma quina , esse progra ma , que traz em s ua apresenta ção uma excelente interfa ce, fácil de ma nusea r e não muito pesado em termos compa ra ti vos de consumo de memória . Ampliando suas qualidades especi ficas , tra ta-se de uma ferra menta relati va mente fá cil de aprender e ensina r, e a caba por encanta r, pois suas possibilidades envol vendo som, movi mento e progra ma ção autoral, podem ser ampliadas e desenvol vidas para além de um simples uso comum de programa básico de apresenta ção de slides. O projeto procura cria r uma interli ga ção entre pontos di ferentes na sua execução a pa rti r de três momentos. Pri mei ro surge à ideia do jogo educa ti vo a tra vés de aulas teóri cas e pesquisas e apresenta ção de trabalho teóri co. Segundo o aluno desenvol ve seu projeto de jogo educa ti vo, envol vendo, dina mismo, simula ção etc. e tercei ro momento surge com a fi naliza ção do projeto apresentado a comunidade que exis te em torno da ESMAC e a pa rti cipa ção da comunidade a cadêmi ca . Nesta nova perspecti va contemporâ nea ca ra cteri zada pelas disputas a ci rradas em que se encontra o mercado de trabalho, ressaltamos que a forma ção do profissional em educaçã o nã o pode ser vis ta como um mero repassador de informação Pa ra muda r esse cená rio será preciso bus car uma evolução ordenada na orienta ção des te profissional , pa ra um criador, um moti vador, um sistemati zador de novos ca mpos de pesquisas que envol va m 17 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 pri ncipalmente a ideia de a mbientes vi rtuais de aprendi zagem e um fa cilitador criati vo e cri ti co no processo de desenvol vimento do seu futuro aluno. Sã o possibilidades que es tão sendo apresentadas e que busca m novas concepções de ampliar o ensino-aprendiza gem não apenas do futuro profissional, mas também uma forma de lida r com o seu cotidiano diá rio mediante as modalidades que envol vem a ma nipulaçã o de equipa mentos de tecnol ógi cos mais básicos . Tal forma ção deve ser baseada em desenvol vi mento de interface de jogos educati vos em consonância com a ha bilidade de adapta ção e coerência interventi va como mediador críti co de uma realidade natural que se apresenta no momento em que es teja contida , nes te sentido de a plicabilidade da tecnologia que envol va criação, contextualizaçã o e pra ti ca o computador se distancia de ser apenas um mero objeto de es tudo por si só, acríti co, instrumental e mecâni co, passam a ser vis to como um ca talisador e transformador de expressão e cria ti vidade em consonância com o aprendizado e o ensino baseado na cons trução do seu próprio conhecimento. Referências BAIRON, Sérgio. 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PALABRAS CLAVE: Fenomenología. Enfoque metodológi co. Pos tura éti ca. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Pa ra que possamos compreender a relevâ ncia da Fenomenologia é necessário es tabelecermos uma linha de inves ti gação que contemple des cri ção, redução e compreensão como pa rte de uma postura éti ca em ciências humanas , bem como pa rte da necessidade de homens e mulheres em contempla r, trans forma r e propor um conhecimento válido, por meio da fenomenologia como decorrentes do rees tabelecimento da relaçã o entre filosofia e ciência . Inega velmente, ao considera rmos que sendo entre as funções da pesquisa em ciências humanas , a de contribui r pa ra a compreensão de um novo ser humano que pensa , sente e age, si tuado em um tempo e espa ço his tóri co-cul tural, não se pode ol vida r que s ua postura de pesquisador consista em es tabelecer diálogos cons tantes e mediá-los rompendo ou dialogando com o fami gerado pa radigma ra cional ca rtesiano, que enfati ze novas metáforas e trânsi tos nos diálogos cons ti tuídos por modos de ver, pensa r, senti r e agi r no mundo e com o mundo. Neste sentido que a fenomenologia surge no século XIX, tendo como bases etimológi cas duas pala vras gregas: phainomenon e logos, respecti vamente, o que se mos tra , se manifes ta e se revela ; e discurso, ciência e es tudo. Embora , na defini ção mais es tri ta 6 Possui graduação em Pedagogia pela Universidade do Es tado do Pará (2005) e História Bachare lado e Licencia tura pe la Univers idade Federal do Pará (2009); Especialista em Arte-Educação pe lo Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão. Especialista em Estudos Contemporâneos do Corpo, pelo Instituto de Ciências da Arte – UFPA (2012). Mestre em Artes pelo Instituto de Ciências da Arte/UFPA. Trabalha atualmente com o professor do Instituto Superior de Educação da Escola Superior Madre Celeste. Email: [email protected] 19 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 denomi na-se fenomenologia ao es tudo e/ou discurso dos fenômenos. A que nos interessa aqui , refere-se a um movimento do pensa r e inves tiga r situando-se na tendência filosófi ca do idealismo subjeti vo, tida pelos críticos como metafísi ca7 (NUNES, 2004). 1. Fenomenologia como abordagem epistemológica A conforma ção às ca ra cterís ticas hoje conhecidas , da fenomenologia foi confi gurada pelo filósofo alemão Edmund Husserl (1859-1938), no século XIX que no conjunto de suas obras a sistema tiza como movi mento filosófi co e metodológi co. Juntamente com outros filós ofos que pos teriormente a a perfei çoara m-na como Merleau-Ponty, Ma rtin Heidegger, Jean Paul Sa rtre entre outros que asseguram a convergência de objeti vo des ta abordagem ao considerá -la como “inves tiga ção di reta e a descri ção dos fenômenos que são experienciados pela consciência , sem teorias sobre a sua expli ca ção causal e tão li vre quanto possível de pressupostos e preconcei tos ” (MARTINS, 1992, p. 50). Nota -se que o elemento de diferenciaçã o com a aborda gem posi ti vista é a não preocupa ção com a bus ca de expli ca ções das causalidades e regularidades dos fenômenos . No campo da gnoseologia8 e da epis temologia9, a fenomenologia como filosofia aborda a ques tão da possibilidade do conheci mento válido pa ra o sujeito. Husserl (a pud TRIVIÑOS, 2009, p. 43) assim expõe a ques tão: “Como pode o conhecimento esta r certo de sua consonância com as coisas que existem em si , de as a tingi r?”. Petrelli (2004) corrobora com a problema tiza ção a cima ao enfa tiza r as ques tões gnosiológi cas quanto à possibilidade do conhecimento expressar o real e não confundi r-se com o devanei o. É possível uma correspondência no conhecimento entre o que Eu conheço como que o Outro, os Outros conhecem? De que forma se dá a correspondência da objetividade, da subjetividade e da intersubjetividade? Como compor as exigências de um conhecimento que reúne em categorias universais a dispersão caótica dos fenômenos com as exigências de colher 7 Considerada pelo positivismo como pura especulação. A metafísica procura a verda deira essência e condições de exis tência do se r, tentando descrever os fundamentos os fundamentos, as condições, as le is, a estrutura básica, as causas ou princípios, bem como o sentido e a finalidade da realidade como um todo ou dos seres em geral. 8 Ramo da filosofia que se pre ocupa com a validade do conhecimento em função do suje ito cognosce nte, ou seja, daquele que conhe ce o obje to. Este é ques tionado pe la ontologia que é o ramo da filos ofia que se preocupa com o ser. 9 Refere-se ao estudo do conhecimento rela tivo ao campo de pesquisa, em cada ramo das ciências. 20 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 em cada fenômeno delimitado, no tempo e no espaço, o seu próprio significado único e exclusivo? Enfim, o que é verdade? (Op. Cit. p. 10). Pei xoto (2003) aponta que a Fenomenologia es tabelece dialeti camente10 na es trutura do fenômeno do conhecimento a relação homem-mundo, s ujeito-objeto e exis tência-signifi ca ção ao problema ti za r posi ções epis temológi cas di cotômi cas e reducionis tas: ra cionalista (a ra zão como fonte do conhecimento), empi rista (a experiência como ori gem do conheci mento) e posi ti vis ta (objeti vidade, neutralidade e comprova çã o empíri ca). A Fenomenologia como filosofia, objeti va segundo Husserl (1965) se cons ti tui r em uma “ciência do ri gor” que bus ca pela des cri ção, redução e compreensão dos fa tos , supera r os pré-conceitos, as apa rências, o imedia tismo e ser fidedigna ao real . Segundo Gi orgi (2010, p. 387) “Analisa r essas estruturas [da cons ciência] sob seus aspectos concretos e materiais (social e cul turalmente funda mentados ) torna a fazer da fenomenol ogia , científi ca ; analisá-los sob seus aspectos mais funda mentais e tenta r a tingi r seu sentido úl timo, uni versal, torna a fa zer da fenomenologia, filosófi ca ”. Para a fenomenologia, o impulso para a reflexão filosófica não deve partir das concepções já elaboradas, preestabelecidas, dos pré-conceitos, mas das próprias coisas, dos próprios fenômenos. É por isso que a filosofia enquanto fenomenologia é uma autêntica exigência ética, comprometida com a verdade, que rejeita a manipulação da realidade (PEIXOTO, 2003, p. 19). Assim, a fenomenologia apresenta -se como filosofia e como ciência enquanto uso adequado e coerente de método pa ra obter um conhecimento rigoroso, pois segundo Husserl (1965, p. 72) “[...] não é das Filosofias que deve pa rti r o impulso da investi gaçã o, mas , sim, das coisas e dos problemas [...]”. Como ciência , signi fica : o estudo sistemático de tudo o que se apresenta à consciência, exatamente como isso se apresenta; ou, em outras palavras, a fenomenologia é o estudo das estruturas da consciência, o que inclui uma correlação entre os atos da consciência e seu objeto (o compreendido em sua extensão a mais geral possível) e os diversos estilos e modalidades de presença, manifestados pela consciência (GIORGI, 2010, p. 387). 10 Movimento racional que nos perm ite supe rar uma contradição. Não é um método, mas um movimento conjunto do pensamento e do real (Hegel apud NUNES, 2004). 21 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Nesta concepção de ciência na rela ção do ser humano com o mundo, a consciência assume um papel fundante e fundamental por consti tui r-se: Um estado de alerta para o mundo e por isso é sempre consciência de alguma coisa, está dirigida para. É o que denominamos de intencionalidade (visée de La coscience) ou visada da consciência. Está, pois a consciência sempre voltada para algo, tentando vê-lo; está, pois intencionalizada (MARTINS, 1992, p. 56). Segundo Da rti gues (1973) a intencionalidade é um dos princípi os básicos da fenomenol ogia , pois , a cons ciência é sempre "cons ciência de alguma coisa", esta ndo di ri gida pa ra um objeto. Por sua vez, o objeto ta mbém é sempre "objeto-pa ra-um-sujeito". Há , portanto, uma correla ção entre Cons ciência e objeto, “[...] Se a cons ciência é sempre cons ciência de alguma coisa e se o objeto é sempre objeto pa ra a cons ciência, é inconcebível que possamos sair dessa correla ção, já que, fora dela, não ha veria nem consciência nem objeto” (DARTIGUES, 1973, p. 26), pois este não seria percebido, compreendido e aquela não seria afetada e intenci onada . 2. Da Categorização do Estudo das Essências à Abordagem Metodológica A fenomenol ogia , ao inves ti gar os fenômenos, vol ta -se não somente pa ra a esfera da realidade percebida pelos senti dos , inclui a realidade compreendida , os elementos subjeti vos, como a cons ciência , o senti mento, o desejo e a vontade. Para Husserl, fenômenos são as coisas materiais que percebemos e tocamos; as coisas naturais estudadas pelas ciências da natureza (física, química, astronomia, biologia...); as coisas ideais, aquilo que é estudado pela matemática (números, figuras geométricas, conceitos como identidade, necessidade...) e as coisas criadas pela cultura, pela ação e pela prática humanas (crenças, valores morais, artes, técnicas, instituições sociais e políticas...). Todas essas coisas são fenômenos, ou seja, significações ou essências que aparecem à consciência e que são também consciência. Portanto, a fenomenologia é a descrição de todas as essências (eidos) ou significações de todas as realidades materiais, naturais, ideais e culturais; é a descrição de todos os fenômenos (PEIXOTO, 2003, p. 17-18). Pei xoto (2003) explica que na fenomenol ogia o fenômeno é a essência (eidos) e que consiste na signi fi cação ou o sentido que apreendemos de um ser, pois essência vi ncula-se à exis tência . A rela ção cons ciência-objeto mos tra -se como o campo de análise da fenomenol ogia em que segundo Ma rtins (1992) duas ca tegorias se rela cionam noesis- 22 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 noema. Fi g. 1 – Relação Fenomenológi ca Noema Eidos Noesis Fonte: Elaboração pessoal usando prog rama smartart da microsoft word Em que noesis signifi ca o a to intencional da cons ciência, ou seja , a disposi ção do sujei to pa ra ver um objeto e noema signifi ca aquilo que é vis to. Des ta relação pa ra análise fenomenol ógi ca i mporta a noesis vis to tra tar-se da consciência de um sujeito que a tribui sentido a algo que ver. Des te movi mento há uma modifi ca ção em termos de experiência signi fi cati va que pode gera r uma nova a tribui ção de si gni ficado que é compreensão da essência, o eidos. Adotando a tra nsposi ção da figura 1 podemos por a nalogia propor uma experiência fenomenol ógi ca pa ra efei tos de compreensão. Fi g. 2 – Experiência Fenomenológi ca Sentido 1 - Decoração 2 - Alimentação 3 - Analogias Bule Xícara Pires Fonte: Elaboração pessoal usando prog rama smart art da microsoft W ord Imagem: Bule e Xícara de chá rosas. Disponível em http://porcelana rinaammar.com.br. Os três objetos consistem no noema, numa a ti tude na tural vemos como al go real e apa rentemente distintos vis tos isoladamente ao que Os trower (2004) define como ordena ção de grupo temos o bule, o pi res e a xíca ra que respecti vamente podem ter também dis tintas funções. Visto, no entanto, pela ordena ção de ca mpo nota-se semelhanças signi fi cati vas que convergem para a função utilitá ria que o conjunto assume. Dependo do olha r noéti co, ele pode apresenta r di versos signi fi cados dependendo da intenci onalidade que lhe será di recionada , podendo a domi nante ser uma utilidade específi ca que lhe é a tribuída : uso decora ti vo e uso na alimenta ção por conter e ser canal de 23 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 a cesso à alimenta ção. No conjunto, o pi res pode assumi r função a cessória ou a cidental , nã o sendo determinante pa ra a composi ção. Exceto, se ao i nvés de ser suporte e a mpa ro, da xíca ra , ele ser suporte pa ra outro alimento, além de ser decora ti vo. Dependendo do sujei to que o percebe, o conjunto poderá assumi r três possibilidades de signi fi cação: decora ção, alimenta ção e analogias pa ra uma dada si tua ção e interpretada por uma consciência des ta possibilidade inferida , por exempl o, o bule podendo signi fi ca r o a rtista , o conteúdo sua produção a rtís ti ca , a xíca ra o públi co receptor e o pi res, o campo de mediaçã o entre os demais elementos, contudo, nã o sendo determi nante pa ra a relaçã o a rtista -obra -públi co. A fenomenologia es tá a rti culada à existência da pessoa humana , sendo des ta cada a sua cons ciência como pa rte do processo de sua relação no e com o mundo. A experiência vi vi da pelo sujei to é algo que lhe é si gnifi ca ti vo. Tudo que sei do mundo, mesmo através da ciência, eu o sei a partir de uma visão que é minha e de uma experiência de mundo sem a qual os símbolos da ciência não querem dizer coisa alguma. Todo o universo da ciência é construído sobre um mundo vivido (MARTINS, 1992, p. 53). O que i mplica que a fenomenologia ta mbém é uma a ti tude ou pos tura , pois ao apreender o objeto do conhecimento de modo crítico, suspende as noções sem fundamentos e nã o possíveis de ra dicalidade e uni versalidade – quando se entende que o que percebo, compreendo pode ser percebido e compreendido pelo outro ser. Como pos tura ética , ao vi vencia r e ter consciência de minhas experiências possibilito que o outro ta mbém a tenha, pois não es tou insulado ou isolado no mundo, cons ti tuo-me como um ser-no-mundo e pa ra-o-mundo, ou seja, me a cei to, me encontro, me reconheço e prossigo dando sentido às coisas. 3. O método fenomenológico O método fenomenológi co segundo Gil (2014) proporciona a base lógica de inves ti gação cuja aborda gem de a cordo com Mel o (1980), consiste no es tudo das essências imediatas , ou seja , a signi fica ção do dado, des crevendo-as como são dadas di retamente à consciência trazendo à luz a es trutura do dado pela des cri ção e redução dos aspectos a cidentais – os elementos que não interessam à inves tiga ção sem se preocupa r com expli ca ções , generaliza ções e i mplica na diferenciaçã o de outro dado mencionando os 24 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 a tributos específicos, por mei o da va ria ção eidéti ca , técni ca que dá ao pensamento a certeza de que será retido apenas o essencial do fenômeno, conforme me vislumbrou na figura 2. Assim, inferem-se todas as va riações que o fenômeno poderia sofrer, aos elementos presentes e ausentes, chegando-se àquilo que não poderia ser supri mido sem a des truiçã o do própri o fenômeno - o que, prova velmente, pertence à sua essência (DARTIGUES, 1973). Com es ta técni ca, bus ca-se compreender os atri butos , singularidades , fundamentos e pri ncípios recorrentes pela redutibilidade do fenômeno em que se busca compreender a es trutura própria e específica do objeto pela suspensão do objeto sem a interferência de outros elementos va riá veis que não lhes sejam cons ti tuti vos. Pa ra isto, um dos aspectos do método fenomenológi co a considera r é o reconheci mento de que o dado (fenômeno) cons titui-se por unidades de signi fi caçã o que deve ser captadas pelos ei xos procedimentais da des cri ção, redução e compreensão. Ma rtins (1992) apresenta , tendo como base a fenomenologia de Merleau-Ponty, três momentos do método fenomenológi co: 3.1. A descrição: Momento cons ti tuído pela percepção que assume pri mazia no processo reflexi vo; Consciência, que se di reciona pa ra a cons ciência do corpo vi vido e que é a des coberta da subjeti vidade e da intersubjeti vi dade; Sujeito, pessoa ou indi víduo que se vê capaz de experencia r o corpo vi vido por meio da cons ciência (conexão entre o indi víduo, os outros e o mundo); A fenomenologia não explica ou a nalisa os fa tos mentais e comportamentais , mas descreve as essências das vi vências subjeti vas e intersubjeti vas . Bus ca obter a des cri ção da experiência vi vida pelo ser humano no mundo sem preocupa ção com as explica ções causais e generaliza ções (PEIXOTO, 2003, cf. p. 24). E que Descrever si gni fica “i r às coisas mesmas ”, a tra vés do mundo vi vi do, ou seja , por meio da experiência de vida do ser humano. E pa ra efeti va r-se a des cri ção do fenômeno que se deseja conhecer há necessidade de se “col oca r entre pa rênteses”, em suspensão (epoché) as crenças, os pré-concei tos sobre o fenômeno inves ti gado. O trabalho da fenomenologia, após haver colocado o fenômeno entre parênteses, consistirá em descrevê-lo tão precisamente quanto possível, procurando abstrair-se de qualquer hipótese, pressuposto ou teorias. 25 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Busca-se exclusivamente aquilo que se mostra analisando o fenômeno na sua estrutura e nas suas conexões intrínsecas (MARTINS, 1992, p. 56). 3.2. A redução: Momento que objeti va determina r, seleciona r as pa rtes da descri çã o consideradas essenciais e aquelas que nã o o são, ou seja , as pa rtes da experiência que são vinculadas à consciência das que são simplesmente supos tas. Consiste em uma mudança da a ti tude na tural pa ra a ati tude fenomenol ógi ca , que nos permite i ntencionalmente perceber o mundo e o sujei to como fenômenos, como pertencentes a uma totalidade em que ambos são fenômenos dotados de signi fica ções. A reduçã o consiste na "epoché" que signifi ca coloca r "entre pa rênteses" as crenças, pressupostos ou teorias a cerca do fenômeno que es tá sendo interrogado. Assim, o fenômeno é colocado "em suspensão", sendo buscado aquilo que se mos tra , a essência Consiste ainda na i ntui ção da essência, na “apreensão di reta , imediata e a tual , de uma ideia na sua realidade indi vidual” (MARTINS, 1992, p. 56). Es ta apreensão é possível pela intencionalidade da consciência , ou seja , a consciência é sempre cons ciência de algo que se cons ti tui no fenômeno. A intencionalidade não é sinônimo de ação proposital [...] é o movimento da consciência de expandir-se para o mundo e de abarcá-lo nos atos vivenciais e de abarcar esses próprios atos reflexivamente; [...] Quando dizemos que o objeto é intencionalizado não dizemos que ele é produzido pela consciência, mas que ele não existe em si, separado, isolado da consciência; ele é sempre objeto abarcado pela consciência (PEIXOTO, 2003, p. 27). Nã o se afi rma o que a coisa é, mas como ela se apresenta à cons ciência . O que se busca na pesquisa fenomenol ógi ca é o ca rá ter da signifi cabilidade pelo qual os signi fica dos se revelam a pa rti r das des cri ções que os sujei tos atri buem à sua experiência vi vi da ; e que podem ser obtidas por meio de inúmeras técni cas de coleta de dados , como a entrevis ta e o rela to. A ca ra cterís ti ca da signi fi cabilidade na fenomenologia, pela qual segundo Husserl (apud MELO, 1980), baseia-se na experiência vi vida entre s ujei to e o objeto mediante seu apa recer por meio de suas ca ra cterís ti cas e si gnifi cados essenciais, pois nenhum objeto é intei ramente simples, mas extrema mente complexo. 26 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Neste processo, há o ca rá ter da interpenetra bilidade em que os sujei tos que pa rti cipam em experiências vi vi das em comum, pa rtilham compreensões , interpreta ções , comunica ções, esta belecendo-se a es fera da intersubjeti vidade (MARTINS & BICUDO, 1989, cf. p.45). A i nterpenetra bilidade, que consiste na a ti vidade do objeto manifes ta r-se ao sujei to no ato do conhecimento. É por meio das experiências do sujeito que é possível ques tiona r o mundo ao redor em bus ca dos signi fi cados atri buídos à experiência vi vida e revelados a pa rti r da des cri ção di reta da experiência, reduçã o e compreensão que ma rca a fenomenol ogia como um método descri ti vo dos dados ori giná rios da experiência . 3.3. A compreensão: Momento que envol ve uma interpreta ção e consiste na especi fi ca ção do “signi fi cado” do fenômeno es tudado, por exemplo, nas unida des de signifi ca ção que se mos tram signi fi cati vas nos própri os termos (lingua gem) do sujei to que descreve o fenômeno numa a ti tude na tural e espontânea pa ra o pesquisador que a ciona também sua experiência e consciência que possui do fenômeno, transformando aquela em ati tude fenomenológi ca por meio de termos e ca tegorias do dis curso que fundamenta m a investi gaçã o, e sintetiza m as unidades de signi fi ca ção encontrada a parti r da análise das des cri ções dos vá rios sujei tos da pesquisa, sendo busca das, então, suas singula ridades , convergências, di vergências e idiossincrasias (GIORGI, 2010). A teori za ção se constrói com base nos dados e ca tegorias que assim se cons ti tui com interpreta ção de conteúdos manifes tos nas unidades ou ques tões que vão se delineando e algumas vezes la tentes , em um movi mento de i r e vi r das a tribui ções de sentidos tomados a pa rti r dos termos da rela ção sujeito-objeto-sujeito. Pa rte-se do pri ncípio de que o conheci mento é cons trução sobre o mundo vi vi do, considerando-se a experiência e a concepção i mpregnada de senti do pelo homem em suas vi vências diárias, por isso, não necessariamente se recorre às teorias ou explica ções a pri ori , mas é por meio das experiências do sujei to que é possível ques tiona r o mundo a o redor em busca dos signifi cados a tribuídos à experiência vi vi da e revelados a parti r dos ei xos procedi mentais adotados . Neste toca nte, a pos tura do pesquisador consiste em uma a ti tude processual, 27 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 dialógica não apenas pa ra ter, mas pa ra ser, tendo em vis ta que pesquisa coincide com cria r e emancipa r a pa rti r da disponibilidade e compromisso para discuti r e i ntervi r (DEMO, 2012, cf. p. 17). Boa ventura Santos (1999) defende es ta pos tura i nterferente ao propor a rela ção ciência e bom senso, em sua tese de um conhecimento prudente pa ra uma vida decente, compreendendo-se que o modo como se vê o mundo são a fetados por a queles e que se compreendidos /des velados pode-se opera r mudanças signifi ca ti vas na realidade em nível de experiência totalizante. Considerações Finais Na perspecti va fenomenológi ca certas generaliza ções não podem ser des cobertas visando os uni versais cul turais , portanto a compa ração é sempre relati va , pois a abordagem considera que embora haja objetos semelhantes , o signi ficado não o é, visto que as coisas no mundo sempre se renovam, e o conheci mento não é es tanque, pronto e a cabado na medida em que a experiência que temos deles será sempre renovada . A fenomenologia ainda que não considere a história como elemento determinante pa ra si tua r o fenômeno em sua histori cidade, como filosofia nos fa z refleti r sobre o conhecimento humano como ruptura de visões epis temol ógi cas dicotômicas , reduci onistas e polari zadas como o ra ci onalismo e o empi rismo, para a compreensão de uma rela ção de conhecimento dialéti ca entre o sujei to e o objeto, a cons ciência e a realidade percebida . O sujei to, cuja cons ciência intencionada ao mundo, é capaz de apreendê-lo e atri bui r-lhe signi fi cado. Ao se cons ti tui r sujei to, pesquisador, o ser revela que o conheci mento construído, tecido, formado é proporcional à sua relaçã o com o mundo pos to que a cons ti tui ção da experiência se da r no diálogo entre ra zão e percepçã o, ou formas de subjeti va ção e singularida des que por sua vez, requer a apreensão e a comuni cação do sentido em que as rela ções são construídas no mundo. Tendo apreendi do os sentidos , os interdi tos e os silêncios, des velado as coisas pos tas no mundo, cabe sim ao pesquisador propor novos modos de ver tais rela ções não mais dissociadas das influências e transforma ções que se sucedem ou se sucederão às des cobertas, cria ções e invenções . 28 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Acredi to que a postura do pesquisador é eminentemente troca entre sua visão de mundo a tra vessada e a rti culada por outras visões , que revela que nã o há neutralidade, que aquele é influenciado por seu tempo e espa ço social. Sua postura é também a de ser um condensador e capta dor da complexidade dada pela rela ti vidade dos contextos e situa ções , bem como pelo ca ráter cons truído da realidade e ou objeto de es tudo. Es ta compreensão reforça a pesquisa como i nterpreta ção no sentido de pos tura filos ófi ca e metodológi ca que, por sua vez, i mpli ca em compreender que não é possível ser neutro e alienado do conheci mento e experiência produzido. O pesquisador não pode se capsula r em seu pa radi gma , mas reverter em fa vor da realidade contri buindo pa ra a gera çã o de conhecimento e des velamento da realidade, tendo em vista que ser ético em pesquisa não consiste apenas em es tabelecer a proporci onalidade entre ris co-benefício, salva gua rda de integridade, mas estabelecer níveis das mais va riadas utilidades históri cas , cul turais, políti cas , a rtís ti cas e es téti cas. Referências DARTIGUES, A. O que é a fenomenologia? Trad. de Ma ria José J.G. de Almeida . Rio de Janei ro: Eldora do Ti juca , 1973. DEMO, Pedro. Pesquisa. Pri ncípio Científi co e Educa ti vo. 14ª ed. São Paulo: Cortez, 2012. GIL, Antônio Ca rlos . Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6ª Ed. São Paulo: Atlas, 2014. GIORGI, Amedeo. Sobre o método fenomenológi co utilizado como modo de pesquisa qualita ti va nas ciências humanas : teoria , prá ti ca e a valiaçã o. In. POUPART, Jean et. Al . a Pesquisa Qualitativa. Enfoques epistemológicos e metodológicos . (Tradução. Ana Cris tina Arantes Nasser). 2ª ed. Petrópolis: Vozes , 2010, p. 386-409. HUSSERL, Edmund. A filosofia como ciência do rigor. Coi mbra : Atlânti ca, 1965. MARTINS, Joel ; BICUDO, Ma ria Apa recida Viggiani. A pesquisa qualitativa em psicologia: fundamentos e recursos básicos. São Pa ulo: Moraes , 1989. MARTINS, Joel . Um enfoque fenomenológico do currículo: educa ção como poíesis. São Paulo: Cortez, 1992. MELO, Ma ria Lúcia . “Fenomenol ogia do Conhecimento”. In. Introdução à Metodologia Científica. Belém: Edi tora Sa grada Família, 1980. NUNES, Benedito. “As Filosofias da Vida e a Fenomenologia”. In. Filosofia Contemporânea. 29 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Revista e Atualizada . Belém: Edi tora Uni versi tá ria UFPA, 2004. p. 81-144. PEIXOTO, Adão José. A origem e os funda mentos da fenomenologia : uma breve incursão pelo pensamento de Husserl . In. PEIXOTO, Adã o José (Org.) Concepções sobre fenomenologia. Goiânia: Edi tora UFG, 2003. PETRELLI, Rodolfo. Fenomenologia: teoria , método e prá ti ca . Goiânia : Editora UCG, 2004. TRIVIÑOS, Augus to Nibaldo Sil va . Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualita ti va em educa ção. São Paulo: Atlas , 2009. SANTOS, Boa ventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. 11.ª Porto: Afrontamento, 1999. 30 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 3 PONTOS-LINHAS - ALUNO, PROFESSOR E CRIAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA EDUCATIVA NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO ESTÉTICA Sa ndra Chris tina F. dos Santos11 RESUMO: Es te arti go enfoca a prá ti ca educa ti va como um fenômeno centrado na percepçã o sensível ma terializada pela experiência a rtísti ca interli gada pelas disci plinas: Percepção na Cria ção Artís ti ca, Pesquisa em Poéti cas Visuais/Tecnologia e Trabalho de Gra dua ção. Essas dis ciplinas têm como aprendiza gem em fluxo e ci rcula r, o corpo e a reeduca ção dos senti dos pa ra que o saber adqui rido seja si gnifi ca ti vo ao aluno e a o professor a genciador dessa condi ção, na medida em que podem construi r um dis curso autoral a parti r da cria ção/recria ção/es cri ta de si . PALAVRAS-CHAVE: Educa ção Es téti ca ; Aprendiza gem em Fluxo; Criação/recria ção/es crita de si. RESUMEN: Es te a rtículo se centra en la prá cti ca educa ti va como un fenómeno centrado en la percepción sensa ta ma terializado por la experiencia a rtís tica por dis ciplinas interconectadas : Percepción de Crea ción Artísti ca , Visual Poética Investi gaci ón / Tecnología y Gra do Tra bajo. Es tas disciplinas es tán aprendiendo a flui r y ci rcula r en el cuerpo y la reeduca ción de los sentidos pa ra que el conoci miento adqui rido sea signifi ca ti vo pa ra el es tudiante y el proxeneta profesor de esta condici ón, ya que pueden construi r un discurso autoral de la crea ción / recrea ción / es cri tura us ted. PALABRAS CLAVE: Educa ción Es téti ca ; Aprender de flujo; Creaci ón / recrea ción / escri tura en sí. Considerações Iniciais Ao l ongo de minha prá xis como a rtis ta-educadora e/ou educadora-a rtis ta venho desenvol vendo uma prá ti ca educa ti va no ensino superior pelo curso de Artes Visuais da Es cola Superi or Madre Celes te nas dis ciplinas de Percepção na Cria ção Artís ti ca , Pesquisa em Poéti cas Visuais e Trabalho de Gradua ção, em que tenho como princípio o corpo como espa ço-lugar sensorial , percepti vo e ima giná rio, do qual os alunos se expandem e retraem com experiências signi fi cati vas , agenciadoras de suas cria ções e do discurso que delas vã o tra çando como uma linha que os a tra vessa a té a finaliza ção desse percurs o na disciplina de Trabalho de Gra dua ção. 11 Professora Doutora em Ciências da Educação/ UAA; Coordenadora do Instituto Supe rior de Educação da Escola Superior Madre Celeste; Professora das disciplinas Fundamentos da Linguagem Visual; Percepção na Criação Artística, Pesquisa em Poéticas Visuais/Tecnologia e Trabalho de Gra duação pelo curso de Artes Visuais; Artista-Plástica e Coorde nadora do Grupo de Pesquisa Artística Igarahart; Professora Efetiva do Departamento de A rtes da Univers idade do Estado do Pará. 31 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Pa ra melhor representa r essa si tua ção fa rei um recorte temporal nesses mais de vinte e dois (22) anos de a tua ção. Como aporte reflexi vo, utilizo as experiências e produções de dois alunos : Ma urício Pensador12 e Samy Bra ga13, por considerá-los representa ti vos na rela ção que tra çamos entre aluno, professor e cria ção, a rti culados pelas três disci plinas, pa ra as quais tra ço uma linha de tempo no que concebo como plano de a ção/ensinoaprendiza gem, prá ti ca educa ti va . Quadro 01: Finalidade das dis ciplinas segundo a perspecti va e prá tica da professora 4º semestre do curso Percepção na Criaçã o Artística Finalidade: Produz ir e refletir sobre a expe riência de produção na pers pectiva da arqueologia de criação, da gênese e de suas conexões. 7º semestre do curso 8º semestre do curso Pesquisa em Poéticas Trabalho de Gradua ção Visuais/Tecnologia Finalidade: Articular as Finalidade: Produzir a refle xão-te xtual experiê ncias vividas com a criação daquilo que cons truiu nas e xpe riências autoral para a criação de um vividas com a criação autoral para a repertório sensível-inte ligível criação de um repertório sensívelsobre a expe riência de criação inteligível sobre a experiência de artística com o autobiográfica. criação a rtís tica como autobiográfica. Quadro 01: Finalidade das disciplinas segundo a pe rspectiva e prá tica da profess ora. Fonte: Criação da autora, 2014. Um dos fa tores que me impulsionou a toma r tal di reção foi primei ra mente como os alunos chega ra m à disci plina de Percepçã o: com o discurso pessoal fra gmentado sobre as suas experiências a rtísti cas , des considerando o fa to de já terem vi venciado outras disciplinas no 1º, 2º e 3º semes tres , envol vendo produção, leitura , críti ca e história da a rte. Nas conversa ções situa va m trabalhos de a rtistas renomados locais, na cionais e es trangei ros , mas quando s olici tados a falarem das i mpressões que fa ziam de s uas produções di ziam nã o identi fi ca r nada ; alguns silencia vam e outros bus ca vam associa r a si tua ções/coisas vinculadas às suas emoções /sentimentos, mas sem reflexão. Acredi to que as experiências a rtís ti cas são dos meios que possibilitam ao indi víduo se mover e se fa zer no seu senti r-pensar-exprimi r o mundo, compreendendo que essa ação nã o é unila teral e, sim, ci rcula r (termo utilizado por Merleau-Ponty), pa ra expli ca r as vol tas que o indi víduo faz em torno de si mes mo. E, é assim que me vejo e me rela ciono com o aluno(a) – professor(a) – criação artística nas trocas pa ra juntos cons trui rmos o conhecimento no contexto da sala de aula . Nesse sentido, refleti r a cerca da a rte como expressão e comuni ca ção, a pa rti r da perspecti va de Merleau-Ponty (2001) e Duffrene (2008) é que considero a manifes ta ção da 12 13 Concluiu o curso de Artes Visuais em 2013. Concluiu o curso de Artes Visuais em 2014. 32 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 intenci onalidade do corpo no mundo, na vida , pois para esses autores , se quisermos pensa r as a ções vi venciadas na prá ti ca educa ti va como um uni verso da ciência, é preciso considerá las como um mundo de vi vências , apreciando os sentidos que são tra çados nesse contexto e busca r o entendimento daquilo que imerge e emerge nas produções e nos dis cursos dos alunos que necessita riam retorna r às coisas mesmas , ou seja, aquilo que os moveu, ainda no campo das sensações, antes dos mesmos se torna rem discurso inteligível . Pa ra os autores , é necessá rio querer a preender o mundo vi vido, ca usado pelas impressões antes dessas se torna rem ma téria da ra zão. Os mesmos nos fazem pensa r que há nesse saber sensível , inelutá vel , primi ti vo, o ser fundador de todos os demais conheci mentos . O saber sens ível é um saber direto, corporal e anterior às representa ções simbólicas que fa vorecem os processos ra cionais/reflexi vos . Acredi to que as sensações signifi cadas pelos alunos quando chegam à disciplina de Percepção14, ainda são dispersi vas, fragmentadas , , pois quei ramos ou não, esses alunos já se a presentam como uma educa ção adqui rida de suas experiências fora e dentro do curs o que cabem, signifi ca ti vamente, na especi fi cidade da vi vência tra çada pa ra as três disciplinas , mais especifi ca mente nas de Pesquisa em Poéti cas Visuais/Tecnologia15 e Trabalho de Gradua ção16, porque fa zem emergir a reeduca ção dos sentidos ou da sensibilidade pa ra redi reci ona r e ampliar as aprendiza gens por meio da percepção, ima ginação e da razão, as experiências sensíveis pa ra abranger a condi ção de conhecimentos/saberes reflexi vos , precisam es tar fundamentados em aportes teóri cos que colaborem pa ra que os alunos retomem o tecido de suas experiências e com elas possam fazer o corpo vibrar naquilo que podem tecer como produção a utoral . O termo “corpo vibrá til ” de Rolnik (2006), faz referência a uma políti ca de subjeti va ção a companhada de um regi me cul tural/econômi co/social, mediante um contexto his tóri co, que via todos os níveis da forma ção do indi víduo no que se refere à produçã o de subjeti vidade, corpo, a rte, pol íti ca com o foco, a qui , di ri gido pa ra a ques tão da formaçã o a cadêmi ca em Artes Visuais. Ao se tra ta r de Arte no contexto da formação do Ba cha rel e do Li cenciado, creio que posso liga r o fa zer a rtísti co à vida de quem a produz, tomando o entorno com a sua dimensão ma cro e micropolíti cas exercendo profundas interferências na 14 4º semestre do curs o, que equivale ao 2º ano. 7º semestre do curs o, que equivale ao 2º ano. 16 8º semestre do curs o, que equivale ao 2º ano. 15 33 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 textura do tecido sens ível , nos levando a compreender que as forças que movem a invençã o de poss íveis novas manei ras de ser/es tar se integrem ao mapa de sentido vigente que o aluno tra z, des cons trói e recons trói nos saberes tra mados nas disciplinas. 2 - Pontos-Linhas: Maurício Pensador; Sâmara Braga e a Professora Sanchris Santos: Aquilo que os Atravessa, a Criação Artística como Escritas de Si. Maurício Pensador a presenta em suas experiências, a reflexão analíti ca das ra ízes do sobrenome Pensador, a concepção de identidade, memória e a his tória que o envol ve. A problemá ti ca pa ra Pensador se i nstala na delimi ta ção temá tica da crise de i dentidade na busca de des vela r esse indi víduo Pensador. Pa ra isso, retomamos em suas produções a a rti cula ção, não só das três dis ciplinas, mais também na associaçã o com o que ha via produzido na dis ciplina Arte, Cul tura e Sociedade17, na qual cons truiu um memorial sobre as ra ízes genealógi cas da sua família que, segundo o depoimento de Pensador “[...] foi um desafio porque descrever essa regressão da á rvore da família foi compli cado, porque quando me ques tionei , enquanto pesquisador s obre a origem do sobrenome Pensador, entrevistando meus pais, os mesmos não sabia m a respei to da origem do nome e pa ralelo desenvol vi uma investi ga ção com autores e a rtis tas que discutia m as di versas concepções de identidade na contemporaneidade e sua fragmenta ção ao longo da his tória da a rte e os desdobramentos nas produções a rtís ticas ”18. Pensando em como a produção poderia ser criada e que metodologia poderia ser empregada na investi ga ção, à mesma foi se desenhando e, dentre os seus aportes teóri cos , Ba uman (2005), Hall (2005) e Dua rte Jr (2000) fora m os autores que melhor s ubsidiara m seu es tudo. Bauman (2005) e Hall (2005) como filósofos que dis cutem sobre o surgi mento da crise de identidade na modernidade e os efei tos causados pela gl obaliza ção como processo de mudança desse indi víduo em rela ção à sua identidade. A abordagem de Dua rte Jr (2000) é compreendida como o período em que na pós-modernidade, como na moderni dade ta rdia , veio operando a sepa ra ção do corpo, da mente, infl uenciada pelo pensamento de Des ca rtes , o que acabou por nos a ca rreta r uma série de problemas que repercutem a té os dias a tuais . Essa crise consiste em sepa ra r o sujeito e objeto, corpo e mente, ma téria e 17 Ofertada no 6º semestre do curso, na época ministrada pela professora Meire da Piedade Torres. Resultado das a notações quando das orie ntações para a construção de seu trabalho de graduação em Bacharelado e 2013, no 1º semes tre. 18 34 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 pensamento. A di visão ainda a presenta seus efei tos no pensamento ocidental, colocando os egos sepa rados do corpo, mas presentes , exis tentes “dentro” desse corpo, como se fossem algo dissociado da subjeti vidade, ou seja , dos modos de como o i ndi víduo se coloca enquanto ser/es ta r no mundo. Mas essa di visão ca rtesiana resultou em confusão a cerca da rela ção entre mente, cérebro e corpo. Dua rte Jr realiza um estudo s obre o nosso cotidiano, tra zendo à tona problemas emergentes da rela ção entre homem e s ociedade pela óti ca de que é possível , a pa rti r da compreensão do sens ível por uma di mensão es téti ca, abri r-se pa ra novas perspecti vas de inves ti gação sobre as rela ções entre a educa ção e a es téti ca , tendo na prá ti ca educati va a gênese dessa cria ção. Mas pa ra que isso ocorra é necessária à a rti cula ção entre o conhecimento inteligível e o saber sens ível pa ra que realmente o saber seja tra nsformador, em detrimento de um conhecimento que se edifi cou na moderni dade como ins trumental , mecâni co e que “i mpli cou numa pretensa excl usi vidade do intelecto sobre as formas sensíveis do saber” (DUARTE JR, 2001, p. 55). Esse tem sido o pa radoxo porque se perdeu o sentido de senti r e: “a tra vessamos hoje uma crise do modo moderno de ser, a qual, sem dúvida , precisa ser pensada , equa cionada e resol vida pa ra que se encontrem novos rumos a té um porvi r mais equâni me pa ra o gênero humano” (Op Ci t.,p. 71). É necessá ria a ruptura com essa forma de pensa r e agi r, a pontando pa ra a i mportância da experiência es téti ca, da es tesia, como forma de produzi r sentido ao indi víduo, naquilo que constrói e na sua forma de intervi r no mundo. Pa ra o autor é preciso tomar o sensível como fundamento de um processo educacional, o que não tem a ver apenas com os níveis elementares da educação, com a formação da criança e do jovem exclusivamente, mas pode se estender ao longo da vida dos indivíduos e da sociedade como um todo (Op Cit.,p. 157). Maurício, ao investi ga r em sua história de vida as memórias da fa mília, os relatos de seus pais e a vós , i niciou as suas produções a rtís ti cas com o uso de técni cas como desenho, anima ção grá fica e digi tal se apropriando das ca ra cterísti cas físi cas, étnicas do ros to de seus entes familiares , usando nas técni cas de composi ção a fusão de i magens com transpa rências pa ra que pa rtes dos ros tos se misturassem, hibri dizassem. 35 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Figura 01: Obras da Expos ição Identidades, Multifaces realizada no período de 24 a 30/04/2014. Fonte: Acervo de Santos, 2014. Pa ra Sâma ra Bra ga, a pesquisa apresentou-se também como uma autobiogra fia, expondo como por meio de seu percurso a cadêmi co foi fa zendo uma radiogra fia de sua vida , da ansiedade e confli tos , extraindo reflexões daquilo que a i ncomoda va no ca mpo a rtísti co, pessoal-social . Segundo ela: “[...], como não conceber essa pesquisa como desa fio que me a tra vessou, confundiu em determinados momentos, desalinhou da forma como pensa va antes a a rte e me impôs a reinvenção daquilo que tenho me tornado. Atual mente, me ocorre que, tal vez, essas di ferentes formas do que fui, do que sou e do que ainda vi rei a ser nunca desapareça m, mas como potência, me leve à compreensão do que se move no meu interior e se reproduz, me meta forseando”19. Esta pesquisa teve início a partir de uma necessidade em tentar compreender a mim mesma de maneira mais profunda. À procura pela compreensão do meu eu interior levou-me a iniciar uma abordagem sobre o conceito de interioridade. Esta se caracteriza aqui como algo singular, próprio, que existe dentro do ser humano, como sendo algo que está dentro de nós e se revela aquilo que realmente somos. Encontrei na arte uma maneira de metaforizar esta ideia de reflexão interior humana que, por meio de produções artísticas, tornou possível a expressão dessa interioridade. E para que a relação se fizesse entre forma (aparência) e conteúdo (tema) utilizei do suporte Raio-X, que com sua transparência deixa translúcido o que nele é impresso (BRAGA, 2014, p.15). Na sua metodologia durante a coleta de dados a rti culou os concei tos de interiori dade, memória episódi ca e processos de cria ção no mapa concei tual , contri buindo 19 Depoimento realizado no dia 26/08/2014, as 19h30, quando de sua de fesa na Jornada de T rabalho de Graduação, sala 07, bloco D, da Escola Supe rior Madre Celeste. 36 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 pa ra melhor delinea r aquilo que foi consti tuído como ca rtografia . Figura 02: Mapa Conceitual da pesquisa Fonte: Criação de Sanchris Santos, 2014. No concei to de interi oridade toma como referência os fatores pa rti cula res as suas percepções , sensa ções/emoções de fatos/a contecimentos vi vidos. Nos processos de criaçã o expressou o que sentia no retorno às memórias, consideradas como episódicas que es ta va m gua rdadas no seu “eu” interior. Compreendendo a interli ga ção dos três concei tos , compondo uma ci rcularidade, fazendo pa rte daquilo que definia como a interioridade do ser. Mas há, segundo Bra ga, uma ci rcula ridade que se move de dentro pra fora por meio dos processos de cria ção, pois ma terializam a exis tência do indi víduo por meio do corpo. [...] Quando transformo em obra de arte aquilo que é percebido e representado por meu corpo, estou de certa maneira dando forma a minha própria vida, construindo uma estética da existência. A construção de uma linha poética para a pesquisa se deu por meio de vários experimentos, diferentes meios de expressão que esses caminhos oferecem. Durante as fases iniciais, foram instigadas teorias que colocaram como objeto de estudo as nossas experiências vividas que mais nos causaram impacto, uma recordação forte que por meio de uma linguagem poética/artística pudéssemos colocar em prática. O s uporte de suas produções fora m chapas de raio X que, a seu ver, melhor metafori za vam a interi oridade/o íntimo. Esses aspectos Interferem nas mesmas rela ções com as i mpressões realizadas com correti vo branco, bastão, lápis ou caneta ; outras vezes , coloca va -as em exposição na galeria De La Rocque Soa res20 com convi te ao públi co pa ra que nelas interferissem fa zendo desenhos , es crevendo pala vras, frases que ti vessem rela ção com 20 Galeria De La Rocque do curso de Artes Visuais, da Escola Superior Madre Celeste/ESMAC. 37 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 ao que a imagem remetesse. Figura 03, 04, 05 e 06: Obras artísticas de Sâmara Braga Fonte: Criação de Sanchris Santos, 2014. Minhas experimentações e, ocasionalmente, meus desenhos nas superfícies das radiografias foram os meios de linguagem que encontrei para expressar meus sentimentos e todas as intensidades que perpassavam por meu corpo, materializando esta ideia e encontrando novos meios para explicar isto, dando a outras pessoas novas formas de ver e interpretar este pensamento (BRAGA, 2014, p. 79). Fa zendo relação com a qua rta obra na Figura 06: Nesta obra utilizei a radiografia do lado lateral da costela. Como havia a silhueta bem grande de uma bexiga na imagem, interferi fazendo uma mancha vermelha para representar um orgão do corpo, sem especificá-lo. Então, utilizei tinta que, com a reflexão da luz e observado os detalhes, é possivel enxergar suas texturas. A luz da cor azul em seu interior evidencia a imagem, além de contrastar com a cor vermelha do orgão, para dar a ideia de unidade. Abaixo da imagem escrevo a palavra “Interioridade”. Como as letras são praticamente ilegíveis, fazem o observador se confudir com a palavra “Intimidade”. A intenção é de mostrar a propria noção de interioridade, como qualidade do que é interior, algo que está dentro de nós, nossa identidade, particularidade, a nossa história de vida. Algo único, representado com a metáfora de um orgão interno do corpo aliado à palavra. A obra se refere a importancia daquilo que é sentido e vivido pelo corpo, e que muitas vezes não é possivel traduzir em palavras (Op. Cit., p.65). Vale ressalta r que nesses dois anos venho fazendo al guns desdobramentos de mi nhas produções a rtís ti cas : um tra balho mais soli tá rio, a companhando de a contecimentos que fora m transformando o corpo de minha mãe. A convales cência i mplica da pela doença modi ficou a s ua vi va cidade em um processo de a cei ta ção, com al tos e bai xos [...] esmorecimentos! A dor mútua precisa va ser enca rada com a mesma força que vejo nela . Sonhos de perda , de ouvi -la gemer de dor de alguma manei ra ressoa va m e ainda ecoa m dentro de mim, me engessando em certos momentos e desde 2007 pensei que a úni ca forma de enca ra r seria tra nsformando os meus sentimentos em metá foras , começando com a Ins talação “Óvulo-Ovo-Ová ri o”, apresentada na exposi ção do Grupo Iga raha rt no Museu 38 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 do Forte do Presépio. A obra se cons ti tuiu de uma rede de pes cador dispos ta no forma to de trouxa , es tendida na verti cal , abai xo da ponte, simulando um ová ri o contendo em seu interior, pedras bra ncas com nomes de Ma rias e, entre essas, pregos enferrujados . Abai xo e em seu entorno ha via outras pedras e pregos . E entre elas ha via outras pedras bra ncas que o público poderia pega r e ins crever nomes de outras Ma rias. No ano de 2008 produzi o vídeo-a rte, “Exegese, s obre ela e todas as coisas” pa ra a exposição Desencai xe. No vídeo, a câ mera percorria o corpo nu de uma mulher envelhecida e como simula cro do som associado à músi ca de batuque e o ca nto a gorento do pássaro “rasga -mortalha” remetia à es tranha alucinaçã o de que a dor pode leva r à loucura . Em 2009, pa ra a exposi ção Ressonâncias, na galeria de Arte da Uni versidade da Amazônia, a presentei a ins talação “Às ma rgens do rio-ma r-luga r [...] Tautol ogia de Ma ria ”, com objetos e um vídeo-a rte projetado sobre uma rede de pescador, dispos ta no forma to de trouxa (contendo em seu interior folhas , galhos a rrumados como ninho e no seu interi or uma pedra bra nca ins cri ta “Ma ria Ma cho”, fazendo alusão à força da mulher), es tendida à verti cal do teto, fi ca ndo distante do chão 80 cm; abai xo se encontra va m um alguida r bra nco, envelhecido com água e três pedras brancas . Intencionalmente, a projeção do vídeo que mos tra va a ima gem de pa rte do corpo de uma mulher envelhecida era transpassado por crianças bri ncando sobre uma ponte, de onde se desloca vam pa ra se banha rem no rio. A figura da mulher remetia à Mãe D’água que em suas memórias via os filhos a brinca r. Essa ins talaçã o tinha ta mbém no chão folhas secas de manguei ras . O público, ao passar, pisaria nessas folhas e senti ria o a roma , como o ambiente do quintal de minha infância no qual adora va bri nca r, correr, me joga r, me suja r. Figura 07: Obra instalação artís tica “As margens do riomar-lugar [...] Tautologia de Maria” com objetos na 2.5 x 3.0 m Fonte: Foto acervo da Pesquisadora/2009. 39 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Atualmente venho desenvol vendo em minhas produções com fotografias montagens de fotos com detalhes de pa rtes do corpo dela agregado a objetos , coisas e a superfície com texturas envelhecidas que tenho fotogra fado em mi nhas viagens e aqui por Belém. Tenho, a pri ncípio, inti tulado esse tra balho de “Ruína [...] es cri ta do tempo”. Esse es tudo deu ori gem a outro, denominado de “Corpo enca rnado” dando ênfase nas impressões do efeito do tempo sobre a superfície do corpo como morada que com o tempo ruiu ou pode ruir. A produção resul ta de uma alquimia fabri cada não só de fotografias , mais também de desenhos que são re-fotografados e reforça dos por meio de fil tros pa ra da r ênfase às fusões e transpa rências pa ra que as superfícies , com suas ma terialidades e di ferenças , possam se complementa r e ter visibilidade a o se infiltra rem. Sinto necessidade de dei xa r que as formas desses elementos fotografa dos apa reçam, porém, não em s ua totalidade. Há no des gaste e na sobreposi ção de ima gens , texturas, a sensação de que o tempo se apresenta com s ua vontade de potência, força que se contra põe à vontade de poder inumano. O corpo-casa é cidade de coisas que invis íveis e despercebidas fi cam a esmo, à mercê de suas sortes e daqueles que entre elas podem habita r. Figuras 08,09, 10, 11 e 12: Obras dos e nsaios de fotomontagem “Ruína...escrita do tem po” e “Corpo encarnado”. Fonte: Acervo da Pesquisadora desde 2007/14. Acredi to que essas rela ções de ensino-aprendi zagem nos poli tizam sobre as formas de senti r, entender e disseminar as experiências de aprendizagens como potência , não só da professora com os alunos , mas desses em rela ção à professora . Ambos , por meio da experiência a rtísti ca e estéti ca , abrem um fei xe de signifi cados que se consti tuem em formas 40 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 de enuncia ção de ser/es tar no mundo, por serem modos transiti vos que, associados aos dis cursos e prá ti cas, possibilita ram que neste exercício aprendêssemos : • Identifi ca ção de subjeti vidades e referencialidades, conferindo singula ridades artís ti cas e como essas dão lugar à fluidez sensível pa ra a imagina ção criadora , se o indi víduo ouvi r aquilo que move o seu corpo-mente; • Percepção do que se apresentou como a conteci mento, devi r, logos, conferi ndo o sentido de pertenci mento ao que fa ziam em suas poéti cas e convertia m em dis curs otextual; • Compreensão de como as experiências de professora e al unos a gencia vam s uas prá ti cas de produção que se trans forma vam no ser/es ta r a rtis ta inventi vo. A ideia que me moveu es ta inves tiga ção foi a de me lança r nas águas e ser pes cadora e pei xe, na condi ção de professora -artis ta , me conduzindo a interrogar as experiências e conhecimentos que se fi xa ram e outros que se descolam de nossos corpos-mentes ao longo dessa rela ção de sala de aula , como um espa ço de troca e de invenções. No entanto, pa ra se lança r nas á guas, pa ra além dos terri tórios da certeza , do que era seguro, do conhecido, foi necessá ria uma pos tura éti ca comigo mesma e com o outro no enfrenta mento dos a conteci mentos , na cons trução das rela ções que emergi ram durante as produções. Deleuze; Gua tta ri (2005), ao ques tiona rem o domínio das hegemonias , definem os sujei tos como má quinas desejantes , biná rias porque es tão sempre ligadas a outros (a uma ideia , pala vra , pessoas, coisas). Acredi to que na fase dessas pescas foi necessário sepa ra r o que associa vam l hes pertencer e como esse pertenci mento se processava em si e poderiam ser terri torializados , des terri torializados e retorri torializados . Nesse sentido, é aqui que a credi to se realça r o que denomi no de singula ridades : esta r em si ; fa zer pa rte de si; o que não signi fica es tagna r, es ta r es tá vel . Nesse sentido, pa rti do princípio de que a identidade na produção dos alunos e da professora é o estado de a colhimento em que há equi valências, mas ta mbém fl uidez por dentro e por fora do corpo. A busca do recria r por dentro e por fora os levou a organi za rem um procedimento em que pudesse evi dencia r o movi mento/ci rcularidade do fluxo das experiências de manei ra que reabi tassem as memórias , as lembranças, culmina ndo na produçã o que faziam e engendra vam pela quando da seleção e organiza ção do que poderia ser i nteressante pa ra a 41 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 cria ção a rtís ti ca em seu sentido es téti co, o que classifi co como momentos de ci rculari dade, em três fases: pulsa r, infiltra r e engendra r as a prendi zagens em fluxo. Figura 13: Esquema da aprendizagem em fluxo: pulsar, infiltrar e engendra r, fluxo Fonte: Elaboração própria Os processos de entendi mentos e desdobra mentos das experiências nas produções es téti cas (modos de a preciação)/a rtís ti cas (modos de produçã o) dos alunos e da professora , são pa rtes de seus corpos e se não forem sentidos , difi cilmente, poderã o ser considera dos como situaçã o sine qua nom pa ra a construção da produção autoral. A cria ção, o aluno e o professor são pontos-linhas . Ponto, considerado como o elemento mais simples da gramá ti ca plásti ca-visual , que comporta em si os sentidos de grandeza ; quantidade; situaçã o e trans forma ção; e a linha , é a extensão do ponto, que possibilita com suas ca ra cterísti cas a expressão do movi mento, volume e espa ço, com a a rti culaçã o dessas ca ra cterísti cas compreendo que aluno e professora se apresenta m como a genciadores da cria ção/recria ção/es cri ta de si . REFERÊNCIAS BAUMAN, Zygmunt. Identidade. 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Má rio Jorge Santos Pinheiro21 Andréa Rodri gues de Sil va Melo22 RESUMO: O atual cenário organizacional, extremamente competitivo e com fornecedores e consumidores mais exigentes, principalmente no que diz respeito à sustentabilidade, forçam empresas a se adequarem continuamente para manterem-se no mercado. A logística reversa, processo inverso da logística direta, surge e enquadra-se perfeitamente nestas exigências de mercado, colaborando com o meio ambiente. As empresas que antes se preocupavam apenas com o fluxo direto de seus produtos aos clientes, atualmente precisam lidar com o fluxo reverso do que foi vendido. Este artigo analisa a logística reversa na Empresa Brasileira de Distribuição Ltda (EBD). Buscando propor a EBD melhorias no processo reverso adotado, para que o mesmo se tornasse mais ágil e eficaz, gerando ao mesmo tempo menos custos ao distribuidor e mais satisfação aos seus clientes. PALAVRAS-CHAVE: Sus tenta bilidade, Logísti ca Reversa , EBD. RESUMEN: El entorno de la organiza ción a ctual , alta mente competiti vo y con los proveedores y l os consumi dores más exi gentes , sobre todo en lo que respecta a la sos tenibilidad, lo que obligó a las empresas a mantener conti nuamente a s í mismos a ptos pa ra el mercado. Logís ti ca inversa, reverti r el proceso de logís ti ca surge di recta y enca ja perfecta mente en es tas necesidades del mercado, colaborando con el medio ambiente. Las empresas que anteriormente estaba n preocupados sólo con la corriente di recta de sus productos a los clientes en la a ctualidad tienen que lidia r con el flujo inverso de lo que se vendió. Es te a rtículo examina la l ogís tica inversa en la dis tribución brasileña Company Ltd. (EBD). Tra tando de proponer mejoras adoptadas el proceso EBD en reversa, por lo que se ha ce más ágil y eficiente, al tiempo que genera un menor cos to pa ra el distribuidor y más satis facci ón a sus clientes . PALABRAS CLAVE: Sos tenibilidad, logís ti ca inversa, EBD. INTRODUÇÃO As intensas extra ções de ma térias-primas , junta mente com a polui ção ambiental, causam a o meio a mbiente a degrada ção. Esses aspectos somados ao cres cimento popula cional desordenado e o consumo em excesso são temas recorrentes na a tualidade por causa rem di versas preocupa ções na sociedade, vis to que a natureza não consegue mais se regenera r e retorna r ao natural dos seus ecossistemas . Nes ta realidade de problemas causados ao mei o e es cassez de determinados recurs os, muitas organiza ções e indús trias são rotinei ramente cobradas, tanto pelo consumidor como pelos órgãos responsá veis, pa ra 21 MSc. em Planejamento, Esp. em Economia Regional e Desenvolvimento, Economista; Escola Superior Madre Celeste – ESMAC; [email protected] 22 Administradora; Empresa Brasileira de Distribuição – EBD; 44 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 incenti va r uma produção e um consumo mais sus tentá vel , pois são responsá veis pela produçã o em al ta es cala, reti rando assim gra nde quantidade de ma téria-prima do mei o ambiente e gerando ta mbém vas ta quantidade de res íduos. Levando em considera ção essas realidades , tornou-se necessário busca r medidas al terna ti vas, que prejudi cassem menos o meio ambiente. A logís ti ca reversa surgiu como uma opçã o, onde a tualmente a mesma tornou-se realidade em muitas organi zações . Pa ra entender a logís ti ca reversa é necessá rio compreender a logís ti ca di reta , desde o seu surgimento a té o contexto empresarial , analisando ta mbém seu processo evoluti vo, assim como o gerenciamento da cadeia de supri mentos , visto que os processos l ogís ti cos são amplos e abrangem di versas temá ti cas e ci rcuns tancias. Em pri mei ra ins tância , normalmente, a logísti ca é conhecida pelo fl uxo de ma teriais do ponto de ori gem (fornecedor) a té o ponto de consumo, no entanto, exis te o fluxo logís ti co reverso, que surge do ponto do consumidor a té o ponto de origem nova mente. O ci clo de produtos na cadeia de supri mentos não termina quando os bens ou produtos chegam a té o consumidor fi nal, e sim quando os mes mos retorna m a indús tria, quando necessá rio, pa ra serem reutiliza dos , reci clados ou des manchados . Tais ques tões tem sido o foco no mei o empresa rial, pois mui tos fatores , cada vez o des ta cam mais, esti mulando a responsabilidade da empresa sobre o fim da vida útil do seu produto. O processo reverso de bens e produtos envol vem di versos fa tores es tra tégi cos , econômicos, legais , a mbientais e sociais, que serão desenvol vidos no decorrer do trabalho. Lei te (2003) completa o assunto, a fi rma ndo que a l ogís ti ca reversa é pa rte da logís ti ca empresa rial, que planeja opera e controla o fluxo e as informa ções logísti cas correspondentes , do retorno dos bens de pós-venda e pós-consumo ao ci clo dos negóci os e ao ci clo produti vo, por meio dos canais de dis tribui ção reversos. A intensa preocupa ção com as questões a mbientais fazem com que as indús trias e grandes organi za ções busquem novas alternati vas pa ra reduzi r os impa ctos a o mei o. Assim, mui tas empresas ini ciara m di versas modifi ca ções no seu processo produti vo, a tra vés do aperfei çoamento da mão-de-obra , substi tui ção de insumos , redução na gera ção de res íduos e ra cionaliza ção de consumo dos recursos naturais. A procura por alterna ti vas que diminua m os i mpa ctos nega ti vos do bem ou produto gerado no período pós-consumo força o setor fa bril a inves ti r em soluções que refletem na economia e mel horia da competi ti vidade. 45 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Neste contexto, bus cou-se explora r o papel das empresas no pós-venda e pósconsumo, atra vés do processo logís ti co reverso de produtos , demons trando a importância da logís tica reversa nos planos de a çã o das organi zações e como este processo vem ga nhando des taque como forma de diminui r os impa ctos ambientais, a tendendo as leis , agregando valor ao produto e melhorando a i magem das empresas, tornando-as mais competi ti vas com possibilidades de obter mais ganhos financei ros . Devido à relevância do assunto para o bem social e a mbiental , os cus tos , difi culdades e benefícios enfrentados pelas empresas que a dotam es te processo reverso, determinou-se como objeto de es tudo a Empresa Brasileira de Distri bui ção Ltda (EBD), situada em Ananindeua , Pa rá . A EBD é uma empresa de grande porte que a tua no ramo de distribuiçã o de alimentos , bebidas e produtos de limpeza , e a tua em di versos es tados do Brasil , entreta nto as análises fora m realizadas em sua ma tri z, localizada em Ananindeua. Es colheuse este objeto de es tudo, pois a mesma possui um sis tema próprio que realiza tanto a logís ti ca di reta quanto a reversa , e tra balha nes te ramo há mais de 30 anos , passando por alguns problemas e di fi culdades diárias rela cionadas ao processo reverso tanto com seus clientes quanto com os fornecedores. Pa ra que a l ogís ti ca reversa a tinja seus objeti vos na cadeia produti va é necessário que o processo não se torne extremamente lento e nem onere al tos cus tos pa ra as empresas que a adota, e levantando essa problemá ti ca este a rtigo tem o objeti vo de veri fi ca r como o processo de logís tica reversa pode se torna r mais á gil e sa tisfa tório aos clientes da dis tribuidora com menos cus tos pa ra a mesma . A metodologia utiliza da compreende a pesquisa bibliográ fi ca e também a pesquisa de ca mpo em que fora m trabalhadas as técni cas de observa ção intensi va e análise in locu na á rea de l ogís ti ca da empresa , visando compreender o funciona mento do setor logísti co di reto e reverso. Além disso, foram coletadas informa ções atra vés da observa ção di reta extensi va e também a pa rti r de uma entrevista com colabora dor responsá vel pelo processo reverso de bens e produtos. Vale ressalta r que os resulta dos aqui des cri tos serã o apresentados posteri ormente neste trabalho. LOGÍSTICA REVERSA De a cordo com Leite (2003) a logísti ca empresarial possui quatro á reas operacionais de atua ção, entre elas pode-se cita r a logísti ca de suprimentos , com a responsabilidade das ações 46 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 necessárias para suprir a empresa dos insumos materiais; a logísti ca de apoio à manufatura responsá vel por planejamento, armazenamento e controle de fluxos internos; a logís tica de distribuição, que basicamente se ocupa da entrega dos pedidos recebidos ; e a logís tica reversa, que será abordada de forma mais aprofundada a partir deste momento, responsável pelo retorno dos produtos de pós-venda , pós-consumo e de seu endereçamento a diversos destinos. Quando um produto chega ao seu consumidor final e não possui mais utilização, porque está quebrado ou obsoleto signifi ca que ele deve entrar no processo logís tico reverso, esse processo deve levar o produto pa ra o fornecedor a fim de ser adequadamente descartado, reparado ou reaproveitado. O conceito de logísti ca reversa para Leite (2005 apud PEREIRA et al 2012, p. 14) é definido como: Área da logística empresarial que planeja, ope ra e controla o fluxo e as informaçõe s logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e pós-consum o a o ciclo de negócios ou ao clico produtivo, por me io dos canais de distribuiçã o reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, e cológico, de imagem corporativa, entre outros. Mueller (2007 apud PEREIRA et al 2012, p. 14) apresenta m outra definiçã o sobre [a] logística reversa pode ser classificada com o sendo apenas uma versão contrária da logística como a conhecemos. A logística reversa utiliza os mesmos processos que um plane jamento convencional. Ambos tratam de nível de serviço e estoque, armazenagem, transporte, fluxo de mate riais e sistema de informação. Na visão de Stock (1998 apud ARAÚJO, 2007) a logís ti ca reversa se refere ao papel da logís ti ca na devolução de produtos , redução de ma teriais e energia , reci clagem, s ubs tituiçã o e reutilização de ma teriais, tra ta mento de resíduos , subs ti tui ção de concerto ou remanufa tura . Ai nda segundo o autor, o processo reverso é um modelo de negóci o sistêmi co que aplica os melhores métodos de engenha ria e adminis tra ção logís ti ca na empresa, de forma a fecha r l ucra ti vamente o ci clo da cadeia de supri mentos . Pa ra Campos (2006), a logís ti ca reversa tornou-se um processo fundamental devi do o aumento das opera ções reversas nos úl timos anos e ao fa to da sociedade de forma geral passar a da r mais a tenção pa ra esse tema . A i mportância do processo revers o de a cordo com o autor baseia-se em alguns fa tores , entre eles ci ta : Os clientes de va rejo, cada vez mais exi gentes e com mais opções de compra, tem transformado a devolução rotinei ra, tanto é que em grandes organiza ções há setores que tra tam somente das devoluções e das formas 47 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 de reembolsar e não prejudi ca r o cliente; A evoluçã o ininterrupta e apressada da tecnologia que torna os produtos em pouco tempo obsoletos, o que obri ga o consumidor e a empresas des ca rta rem ou reaprovei ta rem tais produtos também de forma a celerada ; A opção de reuso de ma térias por meio de reci clagem ou reaprovei tamento; E as i mposi ções legais que o governo federal determina . Ainda pa ra Campos (2006), a não implanta ção da logís ti ca reversa em mui tas empresas se dá pelo moti vo de que a utiliza ção errada des te processo tende a ser cus toso pa ra as empresas, porém com o devido es tudo e aperfei çoamento, pode se trans forma r em uma grande vantagem competi ti va . A maioria dos pa íses, desenvol vidos e em desenvol vi mento, apresentam normas e legisla ções envol vendo o processo reverso, e tornando-o des ta forma obri ga tório em alguns momentos , responsabilizando não só as empresas e indús trias, mas ta mbém o consumidor final, devido o al to consumo de produtos que podem ser reci clá veis. Lei te (2003) afi rma que qua ndo as condições naturais nã o propi ciam equil íbrio eficiente entre fluxos diretos e reversos, torna-se necessá ria a intervenção do poder publi co por meio de legislações governamentais que permi tam a al teraçã o de condi ções e melhores formas de retorno dos bens de pós-consumo e seus ma teriais cons tituintes, incluindo também as embalagens . Assim, segundo os autores, é evidente a necessidade de cumpli cidade entre poder público, empresas e a sociedade pa ra elabora r mecanismos de regulamenta ção e controle, pa ra assim ha ver o cumprimento das normas pa ctuadas. Diante do expos to é percepti vo o quanto o processo revers o contribui na ameniza ção dos impactos ambientais, e como cada vez mais aumenta as preocupa ções e cobranças em rela ção ao consumo sus tentá vel , influenciados também devido às legisla ções ambientais cada vez mais rígidas, por isso as empresas e i ndús trias adota m o processo revers o não só como algo obriga tório, mas como um di ferencial competi ti vo que es tá em al ta no mercado na cional e interna cional , tra zendo consigo benfeitorias a i magem ins ti tucional das organi za ções e gerando di versos benefícios econômi co-financei ros a mesma . Na visão de Filho e Berté (2009), em termos de concorrência , implanta r progra mas de logís ti ca reversa gera ganhos de ima gem pelo fa to de que os clientes valori zam empresas que apresenta m pol íticas de retorno de produtos (mesmo que tal pos tura seja uma exi gência da legislação de defesa do consumidor), no caso de riscos de danos ao mesmo; 48 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 bem como i nicia ti vas de cria ção de pontos pa ra coleta de i nservíveis que exi gem des tinaçã o especial e de coleta de embalagem que podem ser reci cladas para reutiliza ção nos processos produti vos . Ainda segundo o autor, programas como esses são chamados de ganhos proporci onados pelo marketing s ocioambiental. Dessa forma , para Stock (2001 apud FILHO E BERTÉ, 2009), as organi za ções devem pensar em como ti ra r provei to dessa si tua ção e a gi r de forma a ga ranti r alguma va ntagem competi ti va . Pa ra os autores , é um pecado não reconhecer que a logísti ca reversa representa fa tor que cria vantagens competi ti vas . Entre essas vanta gens ci tam a di ferencia ção no nível de servi ços perante a concorrência e a diminui ção dos cus tos , pela economia gera da pela reutiliza ção de ma térias-pri mas e embalagens. Quando a borda -se sobre logís ti ca reversa, torna -se necessá rio ci ta r as duas ca tegorias de canais de dis tribui ção reversos , o de pós-venda e o de pós-consumo. De a cordo com Perei ra et al (2012), o canal de distribui ção reverso pós-venda cons tituem-se pelas diferentes modalidades de retorno de uma pa rcela de bens /produtos com pouca ou nenhuma utiliza ção a sua ori gem pelo simples fa to de defeitos, não conformidades , erros de emissão de pedido, entre outros . O canal de dis tribui ção pós -consumo é o retorno da pa rcela de bens/produtos ou de seus ma teriais cons ti tuintes a pós o fim de sua vida útil , nes te caso o mesmo pode ser reutilizado, desma nchado ou reci clado. A LOGÍSTICA REVERSA NA EBD A pa rti r da pesquisa de campo, coleta de dados e entrevista com gerente de Logís tica da EBD Ma tri z, cons ta tou-se que a dis tribuidora possui um depa rtamento de logís ti ca em pleno processo de moderni za ção, ampliação e cres ci mento. É um setor es truturado, organi zado, com frota de ca minhões próprios e funcioná rios competentes com o conhecimento adequado pa ra a realiza ção de suas funções com êxi to. É relevante segui r a ordem cronológi ca dos processos logísti cos, devi do a isso se faz necessá rio expor os procedimentos e o modo de trabalho que a EBD utiliza em s ua logís ti ca di reta pa ra depois tra ta r-se da logísti ca reversa, vis to que os procedi mentos e opera cionaliza ção utilizados nas a ções de ida (processo di reto) influenciam di retamente quando há necessidade de retorno e/ou devoluções. A logís ti ca da EBD Ma tri z possui atualmente uma frota própria de trinta e dois (32) caminhões e uma equipe de noventa e oi to (98) colaboradores, que se di vide entre: um (1) 49 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 gerente, dois (2) supervisores , um (1) auxiliar administra ti vo, um (1) auxiliar de depósito, um (1) a uxiliar de frota , oi to (8) conferentes , dezoi to (18) sepa radores, qua tro (4) ca ma ristas , vinte e oi to (28) motoris tas e trinta e cinco (35) auxilia res de entrega . Esta equipe compõe dois a mbientes da logís ti ca, vis to que os produtos a rma zenados em es toque se di videm em duas linhas, linha de produtos secos e linha de produtos frios (pi colés e s overtes da Kibon). Os produtos secos são a rma zenados em estoque com cli ma ambiente e o os produtos frios a rmazenados em uma câma ra específi ca com tempera tura entre -19 ºC a -28 ºC. O processo de trabalho ini ciasse desde as 20h00min de cada dia útil, onde cada pedido vendido pela equipe comercial é disponibilizado para a logísti ca realizar as entregas no dia seguinte. Após libera ção do pedido, o sistema AGE (desenvol vido pelo Depa rtamento de Informá ti ca da EBD) realiza a rotei riza ção que cada caminhão deve seguir, a tendendo o menor espaço de tempo entre um cliente e outro a fim de pa ra oti miza r os custos . Atualmente a dis tribuidora possui nove (9) rotei ros urbanos pa ra linhas secas e seis (6) pa ra linhas frias, além das rotas do i nterior do estado. Após realiza ção das rotas , são elabora dos os romaneios pa ra que seja m feitas a sepa raçã o e conferência dos produtos , em sequência emiti r as notas fiscais, pa ra depois realiza r o ca rrega mento nos cami nhões , onde as 08h00min do dia seguinte os motoris tas serão liberadas na porta ria pa ra realiza r as devidas entregas . A EBD possui uma excelente es trutura na realiza ção do processo di reto da logís ti ca. A equipe de colaboradores são especializados e devida mente treinados antes de executa r suas funções, os equipamentos de trabalho dão suporte pa ra realiza rem um trabalho com excelência , mesmo quando ocorrem problemas e/ou erros há interesse e rapidez pa ra solucioná-los sem que o cliente seja prejudi cado. O ambiente de tra balho des te depa rtamento é totalmente vol tado para que a logís ti ca di reta seja rápida , efica z e pa ra que a devol ução de bens ou produtos pós-venda seja pra tica mente zero. A EBD es tipula metas entre seus motoris tas e vendedores pa ra que não haja devoluções na pós-venda , o ideal é que todos os produtos colocados no ca minhão seja m entregues pa ra seus clientes. Quando exis te retorno à logís ti ca pelo moti vo do motoris ta nã o consegui r entrega r na hora a cordada com o cliente ou algum outro erro do motoris ta , o mesmo é chamado pelo gerente pa ra que o problema seja resol vido, caso persista o mesmo poderá até ser desligado do grupo. Quando há retornos porque o cliente afi rma não ter fei to 50 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 determinado pedido ou devi do o vendedor ter enviado o pedido com produtos errados, o vendedor ta mbém poderá ser desligado do grupo, caso problemas como es tes venha m a contecer nova mente e com frequência. Exis tem também nas devoluções de pós-venda , situa ções onde o cliente se recusa a receber a mercadoria em determinado dia por fal ta de dinhei ro, esse caso ocorre quando a venda é a vis ta , e pa ra soluciona r esses episódios a EBD possibilita a reentrega no dia seguinte, entretanto se a entrega não for fei ta nova mente na segunda tenta ti va, a nota fiscal de venda será cancelada , e se o cliente vier a devol ver mercadorias com mui ta frequência o mesmo será visitado pel o supervisor de vendas e se o problema não for solucionado, possivel mente o mesmo dei xa rá de ser a tendido. Todo esse procedimento ocorre porque a EBD entende que qualquer devoluçã o de produtos é prejudi cial às suas fi nanças. Qualquer devolução, seja por erro da empresa ou do cliente, gera um custo a mais e são prejudiciais fi nancei ramente a distri buidora . É compreensi vo que toda devolução cause determinados trans tornos tanto ao cliente como a o fornecedor, e é por esse moti vo que a l ogís ti ca da EBD es tipula e planeja es tra tégias pa ra não ha ver devoluçã o de pós -venda em sua logísti ca , entretanto quando há necessidade de devoluçã o de produtos após o seu consumo ou porque os produtos venceram e/ou a va ria ra m no es toque do cliente, a a tenção e o procedimento deveriam ser di ferenciados , pois envol verá toda a cadeia produti va , incl usive, quando necessário, o retorno desses produtos , que não serão mais utilizados pelo consumidor final , à i ndús tria , pa ra que a mesma possa reutiliza r, reci clar ou repa rá-lo e inseri r nova mente em sua fa bri ca ção. Na ca deia de suprimentos o dis tribuidor está intermediando a rela ção da indústria /fabri cante com o ata cadis ta, va rejista e/ou supermercados. O processo di reto de entrega de produtos da indústria ao distribuidor e do dis tribuidor ao seu cliente a contece dentro de um tempo hábil previa mente a cordado, portanto o processo reverso, de devoluções , deveria ocorrer dentro do mes mo tempo hábil, a té chega r à i ndús tria novamente. É saluta r ressalta r que es te tempo hábil poderá ocorrer dentro de um prazo com anteci pações ou a trasos . O gra nde problema é a demora nesse retorno de produtos imprópri os pa ra consumo do cliente ao distribuidor e do distribuidor a indús tria, o que compromete o ci clo da cadeia de supri mentos . 51 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 O processo reverso de pós-consumo na EBD ocorre conforme apresentado no quadro 01, e somente após a conclusão deste passo a passo o ci clo da cadeia de supri mentos es ta rá concluído. Quadro 01 – Descri ção do processo revers o na EBD PASSO A PASSO DESCRIÇÃO O cliente da EBD separa os produtos invendáveis em s ua loja. Emite uma nota fiscal de A (cliente) devolução contra a EBD. Solicita que a EBD re colha seus produtos via contato telefônico ou e-mail dire tamente com a logística. A EBD recolhe os produtos do cliente. Lança a nota fiscal de devolução em seu sistema e B (Distribuidor) programa pagamento da nota ao cliente depois de um de terminado pe ríodo. A EBD solicita que a indústria responsável por aqueles produtos venha recolhê-los. A EBD C (Distribuidor) emite uma nota fis cal contra a indústria e também aguardará reembols o. A indústria responsável programa recolha, reembolsa o distribuidor, e reutilizará parte D (Indústria) daqueles produtos, seja na fa bricação de novos produtos, ou na reciclagem, entre outros. Fonte: Elaboração dos autores a partir dos dados da pesquisa de campo, 2014. A EBD entende que o processo reverso gera cus to devi do os gas tos com tempo, mãode-obra , combus tível , e com a obriga toriedade de ter que reembolsa r o cliente, em espécie ou com produtos, pelo que ele não vendeu a o consumidor final . Por esse moti vo não há um inves ti mento maior nes ta á rea na EBD, tornando-se, des ta forma , um processo lento devido apenas um (1) colaborador, o gerente de l ogís ti ca, ter autoridade e condições pa ra resol ver os problemas des tinados a es ta á rea reversa, inclusi ve o de agenda r recolha des tes produtos aos clientes e o de marca r com o fornecedor uma da ta pa ra que esses mesmos produtos vol tem à indús tria. Outro problema identifi cado é o fa to de não existi r contas a paga r na EBD que progra me automa tica mente o paga mento das devol uções aos clientes, esse pa gamento só ocorre após cobrança . Ou seja, se não houver cobrança não há paga mento. E esse procedi mento es tabelecido na EBD a ca rreta certa insa tisfa ção aos seus clientes e abre espa ço pa ra a concorrência . Torna-se evidente que se houver outra empresa, dis tribuidora de produtos semelhantes ao da EBD, com um processo de logísti ca reversa efi caz, com rapidez e interesse em reembolsar seus clientes por tudo que foi recolhido e que volta rá a fa bri ca, os clientes i rão preferi r compra r des ta outra dis tribuidora e terão a EBD como opçã o secundá ria. A EBD ainda não conseguiu perceber o lado posi ti vo que a logís ti ca reversa a grega pa ra a empresa que o adota , o dis tribuidor interpreta a mesma apenas como uma obriga toriedade. Ainda não fi cou cla ro pa ra a dis tribuidora que a l ogís ti ca reversa gera : ga nhos de imagem, aumento da competi ti vidade, redução de impactos ambientais, reduçã o de custos na cadeia produti va , entre outros , que tornam o distri buidor diferenciado entre as 52 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 demais empresas (concorrência) do mesmo ra mo. Os es tudos realizados por Hernández et al (2007) evidencia m que a maioria das empresas possuem uma visão errônea da logís ti ca reversa , não a enxergam como uma vanta gem, assim como ocorre com a EBD, os autores afi rma m que a logís ti ca reversa precisa ser entendida pelas empresas como uma oportunidade de adi ciona r valor, tanto pela oferta de servi ços que gera m va ntagens competi ti vas como pela ima gem da empresa junto à sociedade com relaçã o aos aspectos ambientais e a sua responsabilidade social. Apesar do objeti vo principal das empresas é a obtençã o de lucros , a o mesmo tempo elas podem contribui r pa ra o cumprimento dos objeti vos sociais e ambientais mediante a integra ção da responsabilidade social no núcleo da sua es tra tégia empresa rial. Exis tem di vers os exemplos de empresas que foram além do simples cumpri mento da lei e assim aumenta ram a sua competi ti vidade, entre os principais exemplos pode-se ci ta r: Na tura , Accor, Amanco, Ita ú, Philips , Unilever, Pã o de Acuça r, Banco do Brasil, etc. A pa rti r das informa ções supra ci tadas tornou-se evidente que pa ra resol ver os problemas de a trasos na logís ti ca reversa da EBD pa ra seus clientes , o dis tribuidor precisa ter interesse e conheci mento dos benefícios que a mesma tra rá a sua empresa, pois somente após esse conheci mento o mesmo i nves ti rá nes te setor, de forma a contra ta r funcioná rios específi cos pa ra realiza rem essa função, implanta r dentro do sis tema uma á rea vol tada pa ra a tender as demandas que o processo reverso exi ge, e des ta forma es trei ta r la ços entre clientes e fornecedores. Outro fa tor releva nte a ser verifi cado é o des tino desses produtos recolhidos dos clientes da EBD. Pa ra que o ci clo da ca deia de suprimentos seja fechado é necessário que tais produtos retornem a indús tria que os fabri ca ra m. Atra vés da pesquisa de ca mpo consta tou-se que após recolha dos produtos invendá veis dos clientes da EBD os mesmos são sepa rados por indús tria fabri cante. Há indústrias , como a Mondelez do Brasil e a Ferrero do Brasil , nas quais tem suas linhas de produtos distri buídas pela EBD, que disponibiliza m caminhões e ca rretas pa ra vi r a té o distribuidor e assim recolher os produtos nã o comercializados pelos clientes da EBD. Dessa forma , pa rte dos produtos recolhi dos , são reaprovei tados , reci clados e/ou remanufa tura dos e o ci cl o da cadeia produti va é finalmente concluído. Um problema observa do, no processo de recolha dos produtos não comercializados 53 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 da indústria pelo dis tribui dor, di z respei to a demora pa ra a mes ma ser realizada , e a di fi culdade de reembolso da indús tria para o distribuidor. As reclama ções e di ficuldades apontadas pelos clientes da EBD são as mes mas que a EBD desta ca pa ra seus fornecedores . Logo, percebe-se, de forma geral , que a logís ti ca reversa nã o é bem a ceita na EBD e com seus fornecedores devido os apa rentes custos gerados pelo processo. Há ta mbém outras indústrias como a Nissin, Kelloggs , Red Bull, etc. que não realizam a recolha no dis tribuidor, por algum moti vo confidencial da indústria , portanto é es tipulado em contra to um valor defini do em percentual pa ra paga mento ao distri buidor referente às devoluções do merca do consumidor. É preferível es tipula r quantias em contra tos e pa ga r o dis tribuidor mensalmente ou anualmente do que des tina r um veículo apropriado que venha recolher os produtos a va riados na EBD. Os moti vos pelos quais tais indús trias não realizam a logís ti ca reversa de pós-consumo não são di vul gados , mas pressupõe-se que sejam pelos cus tos gerados devido às distâncias entre es tados e regiões, e ta mbém pel o produto fa bri cado por essas indústrias não poderem ser reutilizados nova mente na cadeia produti va . Devido tais produtos inservíveis ao consumo não serem reutilizados pelas suas indústrias , a EBD de forma sustentá vel os reaprovei tam. Conforme ressaltado no his tóri co do Grupo EBD, o dis tribui dor a tua fortemente no ra mo do agronegócio por meio da Fazenda Promissão localizada em Pa ra gominas-PA, e esses produtos invendá veis que a indús tria nã o possui interesse em recolher são destinados a fazenda do grupo, onde após sepa ra ção, são utilizados como adubo da planta ções e também na fabri ca ção caseira de ra ção animal . De a cordo com o estudo e informa ções levantados foi consta tado que embora a logís ti ca reversa não seja colocada em prá ti ca por todas as indústrias dos produtos dis tribuídos pela EBD, a mes ma se enca rrega de reaprovei ta r esses produtos, desti nando os mesmos a um l ocal onde serã o reutilizados de manei ra adequada e correta . E assim o objeti vo da logísti ca reversa torna -se al cançado, devido tais produtos não serem despeja dos de qualquer forma no meio, evi tando que mais li xos se acumulem no meio a mbiente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Es te a rtigo a valiou a apli ca ção prá ti ca da logís ti ca reversa na Empresa Brasileira de Dis tribui ção, procurando identi fica r os problemas rela cionados aos a trasos nes te processo assim como a possibilidade de di minui ção dos cus tos rela cionados à logís ti ca reversa de pós - 54 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 consumo. Observou-se que a EBD es tá muito bem es truturada no mercado, o depa rtamento logís ti co vi ve um cons tante processo de moderniza ção e cres cimento, entretanto ainda há erros, problemas e difi culdades no processo reverso tanto com seus clientes como com os fornecedores . Os problemas identi ficados ocorrem devido a EBD não ter i mplantado a logís tica reversa da manei ra adequada . O processo reverso de produtos após o consumo é lento, ocasionando uma demora a mais pa ra que o ci clo da cadeia produti va seja concluído, devido o próprio dis tribuidor identi fi car este processo como um custo sem retorno, ou seja , apenas como uma obri ga toriedade. Os gastos com a logís ti ca reversa não devem ser identi fica dos como uma despesa, e sim como um investi mento, assim como os investi mentos no depa rtamento de marketing, vis to que é a i magem da empresa que sairá benefi ciada quando o processo adequado for coloca do em prá ti ca . Somente com o devido estudo e aperfei çoamento dos gestores de logís tica es te processo poderá se torna r uma gra nde va ntagem competi ti va a fa vor da organi za ção. Na verdade, o débi to (cus to) ocasionado pela logís ti ca reversa gera um crédi to (vanta gem) mais a frente, na imagem corpora ti va da empresa pera nte o mercado, pois impa ctos ambientais es tão sendo ameni zados , e mais um di ferencial será apresentado pela empresa , aumentando sua competi ti vidade perante o mercado. É necessário que seja criada pel o depa rta mento de informá ti ca , uma á rea dentro do sistema utilizado pela EBD vol tado apenas pa ra a tender a á rea reversa da logís tica , onde tudo aquilo que é feito manualmente, como o agendamento de recolhas, a rota do motoris ta que irá realiza r o processo, entre outros , possa ser realizado a tra vés de um sistema i nforma ti zado. Dessa forma , devido à integra ção de informa ções , as falhas e a trasos serão mais ra ros de ocorrer, e a rela ção entre o dis tribuidor e o cliente no processo revers o se torna rá mais próxima . Outra proposta seria a des centrali zação do poder de res olução dos assuntos reversos somente com o gerente de logís tica , o ideal seria contra ta r funcioná rios pa ra tra ta r especifi ca mente das soli cita ções, procedimentos e problemas revers os, ou que toda a equipe adminis tra ti va da logís ti ca tenha conhecimento e treinamento sufi ciente pa ra a tender os clientes que entram em conta to pa ra realizar soli ci ta ções ou rela ta r problemas ocorridos com a logísti ca reversa de pós-venda e/ou pós -consumo. 55 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Diante do es tudo realizado, tornou-se cla ro que a logís tica reversa não é apenas uma novidade pa ra aperfei çoa r os sistemas logís ticos, ela torna as empresas mais responsá veis e preocupa das com o meio ambiente, di minuindo os i mpa ctos ambientais. REFERÊNCIAS ARAÚJO, Paulo Roberto do Nasci mento. 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Obtendo como resul tado que a cul tura é di nâmi ca e se modifi ca de a cordo com os interesses e a nseios do seu grupo. Por isso, Cul tura deve ser considerada como o conjunto dos tra ços distinti vos espi ri tuais e ma teriais, intelectuais e afeti vos que ca ra cteriza m uma sociedade ou grupo social e que abrange, além das a rtes, o modo de vida , os sistemas de valores , o sistema organi za cional de uma sociedade, a linguagem, as tradi ções e as crenças , pois todos esses elementos expli cam a lógi ca da Cul tura de cada grupo social . E, a Cul tura Popula r e o Fol clore surgem como a rmas de resistência e trans forma ção social , contra o sistema capi talista e suas formas de domina ção. Finalmente compreender que a Cul tura Popula r e o Fol clore podem servi r de ins trumentos de preserva çã o do patri mônio e fortalecimento da identidade de um povo, contra a dominaçã o e manipulação dos pa íses do primei ro mundo. PALAVRA-CHAVE: 1. Cul tura ; 2. Fol clore; 3. Cultura Popula r ABSTRACT: This essa y will deal wi th an anal ysis of the contributions from the social s ciences about the Culture , Popula r Cul ture and Folklore . Aiming to unders tand the process by whi ch the Culture runs in this New World Order , where rei gns the ca pi talis t s ys tem, a nd to unders tand how this s ys tem influences the Folklore and Popula r Culture , a nd understa nding i ts dynami cs in the cul tural context . For the production of this work we used the li tera ture review . The resul t being tha t culture is dynami c and changes a ccording to the interests and desi res of your group . Therefore , cul ture should be considered as a set of s pi ritual , ma terial , intellectual and a ffecti ve disti ncti ve features tha t cha ra cteri ze a society or social group and tha t includes , besides the a rts , wa y of li fe , value s ys tems , the organi za tional s ys tem of a society , language , tradi tions and beliefs , because all these elements explain the logi c of the cul ture of ea ch social group And , Popula r Culture and Folklore a rise as weapons of resistance and social transformation , agains t the capi talist s ys tem and i ts forms of domina tion . Finall y unders tand that the Folklore and Popular Cul ture ca n serve as ins truments for heri tage preserva tion and s trengthening the identi ty of a people , a gains t the domina tion and manipula tion of fi rs t worl d countries . KEYWORD: Culture; Folklore; Popula r Cul ture. Considerações Iniciais Dis cuti r a cerca do Fol clore e da Cultura Popula r ainda é nos dias atuais mui to polemi co, pois para autores conserva dores são termos com si gnifi cados e ideologias 23 Especialis ta, Escola Superior Madre Ce leste, Ananindeua, Pará. E-mail: [email protected] 57 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 totalmente diferentes , mas que andam próxi mos devidos as suas mani festa ções. Já pa ra os autores mais “modernos ” são sinônimos e tem os mesmos signi fi cados . Por isso, es te ensaio tem como propósito analisar a evolução históri ca e epistemológi ca desses termos com base na sociologia e na antropologia . No sécul o XIX, o termo Fol clore surge com o objeti vo de ca tegoriza r as classes sociais, sepa ra r o grotes co do refinado, a classe superior (letrada ) da classe inferior (iletrada ), contribuindo dessa forma pa ra a consolida ção da rela ção de poder na sociedade. Ao longo de todo o processo históri co dos es tudos e pesquisas realizados sobre o Fol clore, identifi camos a luta cons tante tanto dos mes tres e grupos cul turais, quanto dos pesquisadores em prol da preserva çã o e valori za ção das tradi ções popula res , fi rmando cada vez mais a identidade cultural da sociedade. Além disso, os pesquisadores almejam a tra vés de seus es tudos , ofi cializar perante a comunidade cientifi ca o Fol clore enquanto ciência que es tuda as tradi ções popula res de uma determinada sociedade. Na verdade as tradi ções popula res não são bem vis tas pela comunidade cientifi ca , uma vez que estas não se ori ginam no meio cientifi co e sim na sociedade de maneira geral , a tra vés de s ua espontaneidade e da necessidade de expressarem seus sentimentos e angús tias, produtos de seus cotidianos . Logo, todo esse conhecimento é considerado um saber proveniente do censo comum, empíri co, sem funda menta ção cientifi ca e por isso os es tudos realizados sobre e Fol clore não podem ser considerados ciência. Pa ra a comunidade cientifi ca o Folcl ore não tem autonomia enquanto á rea do conhecimento, portanto, qualquer estudo realizado nessa á rea deve está embasada nas ciências sociais (Antropologia e/ou Sociologia). Assim, o Fol clore a caba também não sendo bem acei to nos currículos escolares e de graduação como um ins trumento educaci onal. Na realidade a tual da escola o Fol clore e a Cultura Popular somente são lembra dos em da tas comemora ti vas como: fes ta junina e o Dia do Fol clore (22 de agos to). Como se fosse um assunto do passado, pertencentes aos ances trais, pa rtes da história e que não fa z pa rte da realidade dos alunos , é algo es tranho, que não é familiar. E, consequentemente as ma nifes ta ções fol clóri cas não expressam qualquer signi fi cado pa ra os alunos , l ogo, grada ti vamente os mesmos vão dei xando de lado sua cul tura , e absorvendo cada vez mais de maneira alienada a cultura do(s) outro(s ). Assim, um povo sem identidade cul tural , sem 58 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 fol clore, perde s ua cul tura e passa ser qualquer outra , ou seja , perde-se a raiz, a ori gem do seu povo. Na verdade, Fol clore é uma á rea do conhecimento que pode ser trabalhada nas es colas de forma inter, tra ns e mul tidis ciplina r, por se tra ta r de um saber cons truído cul tural mente e, portanto se encontra em mui tas á reas cienti fi cas. Mas pa ra isso, os professores precisam ter funda menta ção teóri ca sobre o assunto, caso contrá rio se torna rá di fícil ou i mposs ível desenvol ver qualquer a ti vidade educa ti va utiliza ndo os elementos fol clóri cos . O Fol clore pode e deve ser trabalhado em todos educa cionais. Na educaçã o infantil, a criança pode ser introduzida no mundo fol clóri co atra vés das bri ncadei ras popula res, das canti gas de roda, dos bri nquedos cantados e do própri o brinquedo (objeto). Contri buindo dessa forma no desenvol vimento cogni ti vo, afeti vo e motor da criança . No ensino funda mental , o Fol clore deve ser tra balhado pela intenção forma ti va e pela construção do ca rá ter de na cionalidade, pois mui tas disciplinas estão fortemente rela cionadas ao Fol clore, podendo servi r como excelente meio pa ra transmissão do conhecimento e ao mesmo tempo revelador da cultura do povo. Já no ensino médio, o Fol clore passa pa ra o plano informati vo, no sentido de conscientiza r os alunos de que toda cul tura tem uma dignidade, um valor, porta nto, devem ser protegidos, valori zados e respei tados em sua di versidade, pois todas as cul turas fazem pa rte do patri mônio da humanidade. E, no ensino s uperior, principalmente nos cursos da li cencia tura , já que são esses profissionais que a tua rão na educa ção da sociedade. O Fol clore deve ser uma dis ciplina autônoma que venha contribui r na forma ção docente dos a cadêmi cos , com o objeti vo de apreenderem o Fol clore e seus objetos de estudos , adqui rindo a habilidade de intervi r pedagogi camente utiliza ndo o Fol clore como um i nstrumento fa cilitador do processo ensinoaprendiza gem. Ainda assim, todas as correntes peda gógi cas sempre propuseram um conjunto de fundamentos que orientasse a prá ti ca docente, que refletisse a visão de mundo e um conjunto de valores a serem cons truídos junto aos alunos . Com isso, o Pa râ metro Curri cula r Na ci onal – PCN propõe os temas trans versais: éti ca, meio ambiente, orientação sexual , pluralidade cul tural e saúde. Com o intui to de aproxima r os conteúdos es cola res da 59 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 realidade soci ocul tural dos alunos . Esse ensaio auxilia rá o leitor a compreender melhor o Fol clore e a cultura popular, bem como sua contri bui ção na educa ção e na forma ção de uma sociedade. E, perceber como ele pode ser um ins trumento educa cional determinante na forma ção de ci dadãos. CULTURA: MÚLTIPLAS EM CONSTANTE TRANSFORMAÇÃO. Pa ra ini cia rmos uma dis cussão a cerca des te tema tão polêmi co, fa remos um passeio his tóri co pel os caminhos que o termo Cul tura percorreu a té os dias atuais. Pa rtindo da ori gem da palavra , Cul tura surge do la tim e es tá associada às a ti vidades agrícolas. Vem do verbo la tim COLORE que signi fica cul ti va r. No entanto, a pa rti r das necessidades e interesses de grupos humanos ao se rela ciona rem com outros grupos e, de consta ta rem a va riedade de modos de vi da entre povos e na ções, houve a necessidade de di ferencia r-se. Assim, pensadores romanos antigos , por exemplo, ampliaram esse concei to pa ra referi r-se ao refina mento pessoal , a educa ção elaborada , ao nível de conhecimento adqui rido (SANTOS, 1994, p.27). Então, a pa rti r da expansão merca ntilista europeia , na explora ção de terras des conhecidas da Áfri ca e das Améri cas, surgem os primei ros ques tionamentos sobre a va riedade de modos de vida , costumes e prá ti cas de grupos humanos diferentes , ha vendo a necessidade de uma expli ca ção pa ra esses processos. Ocorrendo as primei ras análises no século XVI, é somente no século XVIII que essas análises se organiza rão pa ra um es tudo mais aprofunda do. No ini cio do século XIX, surgiu à teoria evolucionis ta, de Cha rles Da rwi n em A Origem das Espécies (1859), mas é no fi nal do século XIX com Morgan, que ele dis tingue os três es tágios da evolução humana em: sel vageria , barbá rie e ci vili zação, pa ra explica r a di versidade cultural (LAPLATINE, 1988). [...] sociedades indígenas da Amazônia poderiam ser classificadas no estagio da selvageria; reinos africanos, no estágio da barbárie. Quanto a Europa classificada no estágio de civilização, considerava-se que ela já teria passado por aqueles outros estágios. (SANTOS, 1994, p.14). Com isso, entendeu-se que a di versidade no modo de vida de alguns povos esta va associada à fase evol uti va pela qual es te grupo humano se encontra va , além disso, a credi ta va -se que todos os povos passariam por todas as fases a té chega r à ci vili zação. Pa ra 60 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 saber a fase em que cada grupo se encontra va , utiliza va -se como cri tério o nível tecnológi co de cada grupo. Pa ra alguns pensadores da época , não ha via a compreensão de que cada grupo humano tinha (tem) a sua especi fi cidade e por isso nã o existia (e não existe) uma Cultura superi or à outra . “Assim a moderna preocupação com a Cul tura nasceu associada tanto à necessidade do conheci mento qua nto as realidades da domina ção pol ítica ” (SANTOS, 1994, p.30). No enta nto é necessá rio entender que, é a pa rti r da lógica interna existente em cada grupo humano, que surge a di versidade cultural, a tra vés das necessidades e interesses encontrados por ca da grupo. A forma de ma nipulaçã o de recursos na turais , a manei ra de organi za r e trans forma r a vi da em s ociedade, de s upera r os confli tos de interesse e tensões geradas na vida social , tornam-se heterogêneas . E é isso que faz com que os povos se di ferenciem uns dos outros , ca da um com as suas pa rti cula ridades, formando assim a di versidade cultural. Pa ra Santos (1994, p. 15), “a di versidade das cul turas exis tentes a companha a va riedade da his tória humana , expressa possibilidades de vida social organizada e regis tra graus e formas di ferentes de domínio humano sobre a na tureza.”. A pa rti r das Ciências Sociais, surgem duas concepções básicas sobre cul tura : a pri mei ra refere-se à Cul tura como todos os aspectos de uma realidade social, ou seja , tudo aquilo que expli ca a existência de um povo; já a segunda concepção entende a Cultura especifi ca mente ao conheci mento, as ideias e crenças de um povo, ou seja , as manei ras como eles exis tem na vida social . Assim, devemos apreender que a cultura é dinâmi ca , passa por transforma ções de a cordo com a realidade vi vi da por cada sociedade. A cultura é o conjunto de comportamentos, saberes e saber-fazer característicos de um grupo humano ou de uma sociedade dada, sendo essas atividades adquiridas através de um processo de aprendizagem, e transmitidas ao conjunto de seus membros (LAPLATINE 1988, p.120). Em es tudos elaborados sobre Cul tura , verifi ca -se a exis tência a mpla de visões sobre seu conceito, sendo pa ra alguns autores como Mello (2007), como um processo de simbologia , pois é a tra vés dele que as experiências são a cumuladas e transmi tidas ; pa ra Sa ntos (1994) a Cul tura é um conjunto da obra humana , além de ser um terri tóri o pa ra as lutas das classes sociais pa ra uma condi ção de vida melhor; para Ca nclini (1983), além de ser 61 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 simbólica a cul tura também é uma prá ti ca econômi ca , e englobam a adminis tra ção, a políti ca , a economia , a tecnologia e outros ; pa ra La raia (2006), a cul tura é dinâmi ca pel o simples fato de um sis tema cultural ter conta to com outros sis temas ocasionando assim um “choque” de cul turas . Pa ra os antropólogos a Cul tura é uma obra do homem, que exis te pa ra o homem, é uma ta refa social e não indi vidual, pois a Cul tura é formada pelo conjunto de experiências vi vi das pelo homem. Acredi ta mos que a Cul tura é tudo aquilo que ca racteri za um grupo humano, seja na sua organiza ção social, na a rte, na políti ca , na lingua gem, pois são esses elementos que expli ca rão a lógica exis tente em cada grupo. Além de influencia r no comportamento do homem, a Cul tura também é influenciada pelo homem, por ser produto da coleti vi dade humana . “Ou seja, a Cultura não é algo na tural , não é uma decorrência de leis físicas ou biológi cas. Ao contrá rio, a Cul tura é um produto coleti vo da vi da humana .”(SANTOS, 1994, p. 44). Culturas são sistemas (de padrões de comportamento socialmente transmitidos) que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos. Esse modo de vida das comunidades inclui tecnologias e modos de organização econômica, padrões de estabelecimento, de agrupamento social e organização política, crenças e práticas religiosas, e assim por diante. (SAHLINS, et al. apud SANTOS 1994, p. 59). Assim percebemos relaciona das à cul tura todas as ins tâncias e modelos de comportamento de uma forma ção social (a organiza ção econômi ca , as rela ções sociais, as es truturas mentais , as prá ti cas a rtísti cas , etc.) sem cons trui r uma hiera rquia que leve em consideraçã o o peso de cada uma . Sendo que, todas essas ins tâncias e modelos é que dã o lógi ca ao sistema organi za cional de uma sociedade, por es tarem em constante intera ção. O QUE É FOLCLORE? Antes de pensarem no surgi mento da pala vra Fol clore, já ha viam his toriadores , li teratos, músi cos erudi tos , a rqueólogos, antropólogos, antiqua ris tas, lingüistas , sociólogos , outros especialistas e curiosos que es tuda vam os cos tumes e as tra dições popula res . (BRANDÃO, 2006, p. 26). Somente em 1946, o termo Fol clore foi criado por William John Thoms e publi cado pela revista The Atheneum, em Londres no dia 22 de agosto. 62 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Etimologi camente falando, Folcl ore é uma pala vra oriunda do i nglês “FOLK”, que signi fi ca povo, naçã o, ra ça ; e “LORE” que signifi ca conhecimento, saber, educaçã o, ins trução. Ini cialmente esse termo s urge na tenta ti va de sistema tiza r e ca tegori za r as tradi ções popula res pela cultura erudi ta , a fim de se apropria r delas e continua r monta ndo es tra tégias de domina ção sociopol ítico. Além disso, o termo vem pa ra dar conta do es tudo e da preserva çã o das chamadas “anti guidades popula res”, chamadas também de litera tura popula r, mas na verdade essas anti guidades eram o próprio saber do povo e mui to mais que a li tera tura . Pa ra Gra ms ci apud Ara ntes (1990, p. 22), “o folcl ore é um aglomerado indiges to de fragmentos ”, pois ele é pensado como algo que es tá fora da realidade das pessoas, como algo que es tá perdido no contexto social . Porém o fol clore es tá vi vo no cotidiano da sociedade, mesmo que eles não tenha m a cons ciência de que vi vem o fol clore, pois es tá presente nas coisas mais simples do dia-a -dia . No Brasil, o es tudo do Fol clore foi introduzido na segunda metade do sécul o XIX, por Celso de Magalhães (1849/1879), Sil vio Romero (1851/1914) e João Ribei ro (1860/1934). Segui ra m-lhe Arthur Ra mos (1903/1949), Amadeu Ama ral (1875/1929), Ma rio de Andra de (1893/1945), Rena to Almeida (1895/1981) e Edílson Ca rnei ro (1912/1972). Posteri ormente, Joaquim Ribei ro, Al ceu Ma yna rd e Luis da Câma ra Cas cudo, considerado um fol cloris ta mestre. (FRADE, 2002, p. 02). Os pri mei ros es tudos no Brasil vol ta ram-se pa ra a poesia popular. Porém, Almeida sugere em 1974 no seu “A inteligência do folclore” que, além da li tera tura , pudessem es tuda r aspectos da vida social, ma teriais e concretos como o a rtesana to, as indumentá rias , os ins trumentos musi cais, além das formas de execução, as coreografias, os componentes ri tuais, e ainda as considera ções econômicas , políti cas , históri cas e geográ fi cas. Percebemos que, pa ra Almeida , no entendimento do Fol clore deve-se considera r “o comporta mento do grupo social onde existe e as formas que revestem o fa to”. (ALMEIDA apud FRADE, 2002, p. 03). Pos teriormente, após ci rcunstâncias his tóri cas como a necessidade de organiza r es tudos sobre o Fol clore e o contexto pós-guerra , quando aumenta a preocupa ção com o Fol clore junto a UNESCO em prol da paz mundial , Almeida resol ve então, assumi r a 63 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 presidência do Ins ti tuto Brasileiro de Educa ção, Ciência e Cultura (Ibecc), pertencente a o Minis tério do Exteri or e vinculado à UNESCO, fundando assim, em 1946 a Comissão Na cional do Fol clore (CNF). Essa comissão tinha como objeti vo fa vorecer o es tudo e a valori zaçã o do Fol clore Brasileiro. Então, em 1951 é publi cada uma documenta ção inti tulada Carta do Folclore Brasileiro, no I Congresso Brasileiro do Fol clore, ocorrido no Rio de Janei ro, objeti va ndo sistema tiza r o concei to e o objeto de estudo do Fol clore (FRADE, 2002, p. 03). Assim es tabelecia o seguinte: […] reconhece os estudo do Folclore como integrante das ciências antropológicas e culturais, condena o preconceito de só considerar como folclórico o fato espiritual e aconselha o estudo da vida popular em toda sua plenitude, quer no aspecto material, quer no aspecto espiritual. […] constituem o fato folclórico as maneiras de pensar, sentir e agir de um povo, preservadas pela tradição popular e pala imitação e que não sejam diretamente influenciadas pelos círculos eruditos e instituições que se dedicam ou à renovação e conservação do patrimônio cientifico e artístico humanos ou à fixação de uma orientação religiosa e filosófica (COMISSÃO NACIONAL DO FOLCLORE apud BENJAMIN, 2002, p. 01). Em 1995, a conteceu o VIII Congresso Brasileiro de Fol clore, pa ra a a tualiza ção, considerando as contribuições das ciências humanas , bem como adoção de novas tecnologias , decidiu-se re-concei tuar o Fol clore e seu objeto de estudo, definindo que: “Folclore é o conjunto das criações culturais de uma comunidade, baseado nas suas tradições expressas individuais ou coletivamente, representativas de sua identidade social. Constituem-se fatores de identificação da manifestação folclórica: aceitação coletiva, tradicionalidade, dinamicidade, e funcionalidade” (COMISSÃO NACIONAL DO FOLCLORE apud BENJAMIN, 2002, p. 01). Segundo Andra de (2002), Fol clore signifi ca , correlata mente, o es tudo ou ciência que tem por objeto de es tudo a Cul tura Popula r. Já pa ra outros autores Fol clore é sinônimo de Cul tura popular, porém dis cuti remos isso mais adiante. Pa ra efeito sistemati zador e analíti co, o fa to folcl óri co é di vi dido em 10 (dez) grupos , que são: fes tas , bailados, mi tos e lendas , danças , recrea ção, músi ca, ri tos , sabença , linguagem, a rtes popula res e técni cas tradi cionais. Bra ndão (2006) ao analisar o Folclore, considera -o como tradicional, pois é a tra vés dela que prevalece a resistência contra a domina ção, a coloni zaçã o, ma ntendo suas ori gens e tudo a quilo que ca ra cteriza um povo; coletivizado, onde a tra vés da a cei taçã o é conhecido 64 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 e reproduzido sofrendo modi fica ções de grupo pa ra grupo, de a cordo com cada realidade; identidade de um povo, pois são os elementos fol clóri cos que i rão diferencia r um povo do outro, resistindo à domina ção; criativo, sendo uma das maiores capa cidades do homem de cria r, recria r, inova r, recupera r, i ncorpora r o velho no novo, retoma r o a ntigo a tradi ção; anônimo, porque mesmo que saibamos seus autores , depois de al gum tempo sua autoria cai em domínio públi co, e assim, a pa rti r de cada realidade ele ganha rá uma nova interpretaçã o, um novo signi ficado; dinâmico, pois com o passar do tempo, a cada tra nsforma ção social, ele ga nha rá uma nova roupagem, uma nova manei ra de representa ção como es tra tégia pa ra ma nter a preserva ção e a valori za ção do Fol clore, pois as pessoas só valori zam e cul ti va m aquilo que tem si gnifi cado pra elas; persistente, pois pa ra manter-se vi vo e signifi ca ti vo, o Fol clore incorpora elementos novos da realidade sendo recriado pa ra continua r conservando-se de gera ção para gera ção, de grupo pa ra grupo; funcional, pois ele tem um signi fi cado, um valor imensurá vel pa ra quem o produz, é o cami nho pa ra fortalecer sua exis tência, s ua origem. Além disso, seu aprendi zado ocorre a tra vés da oralidade e da imitação, ou seja , nã o precisamos i r a uma Es cola ou a uma Uni versidade, como fa zemos pa ra nos apropria r da cultura erudi ta de forma sistemati zada , pa ra aprendermos o Fol clore e a Cul tura Popular, pois seu aprendi zado ocorre nas relações interpessoais, nas si tua ções que ocorrem no dia-a -dia das pessoas. Des ta manei ra , entende-se que o Fol clore es tá contido num processo his tóri co, pois os elementos do fa to fol clóri co existem pa ra expli ca r nossa ori gem, nosso passado e consequentemente, explica r o presente. Esses elementos só continuarã o a se perpetua r e fa zer pa rte no nosso cotidiano, se neles exis ti rem valor e si gnifi cado pa ra quem os vi ve, pois , caso contrá rio, serão dei xados de lado, vi ra ndo apenas uma lembrança em nossas memórias . O QUE É CULTURA POPULAR? Há algum tempo vêm-se polemizando o signi ficado de Cul tura Popula r e Fol clore, pois es tudiosos da á rea tem visões diferenciadas sobre seus signifi cados. Assim, por exemplo, Aretz da Venezuela (1972) ou Corta za r na Argentina (1959) a firmam que Cultura Popula r é a mesma coisa que Cul tura de massa em contra posiçã o ao Fol clore; pa ra Ma rgulis na Argentina , Cultura Popular é um conjunto onde também encontra seu luga r o Fol clore, como tal es te conjunto é contraposto à Cul tura de massa e só ele pode almeja r legi timi dade 65 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 a converter-se em cul tura na cional (apud, CARVALHO, 1992); pa ra Fra de (2002) Cultura Popula r é sinôni mo de Folclore, tanto que em seu a rtigo i ntitulado Folclore/Cultura popular: Aspectos de sua História, ela al terna o uso dos termos pa ra fazer referência e explica r a mesma coisa; pa ra Brandã o (1994, p. 24), “Fol clore é o nome mais conservador daquilo de que Cul tura Popula r é o nome mais progressista ”. Segundo Arantes (2006, p.16), Um grande número de autores pensa a ‘cultura popular’ como ‘folclore’, ou seja, como um conjunto de objetos, práticas e concepções (sobretudo religiosas e estéticas) consideradas ‘tradicionais’. (…) alguns pesquisadores mais sofisticados concebem essas manifestações culturais ‘tradicionais’ como resíduos da cultura ‘culta’ de outras épocas (às vezes de outros lugares), filtrada ao longo do tempo pelas sucessivas camadas de estratificação social. Nesse sentido, diz-se: ‘o povo é um clássico que sobrevive’. E Brandão (2006, p. 23) ainda sobre essa polêmi ca , complementa : Na cabeça de alguns, folclore é tudo que o homem do povo faz e reproduz como tradição. Na de outros, é só uma pequena parte das tradições populares. Na cabeça de uns, o domínio do que é folclore é tão grande o do que é cultura. Na de outros, por isso mesmo folclore não existe e é melhor chamar de cultura, cultura popular o que alguns chamam de folclore. É de fato para algumas pessoas as duas palavras são sinônimos e podem sucederse sem problemas no mesmo parágrafo. Assim, a Cul tura Popula r é entendida como manifes ta ções cul turais populares opos tas e di ferentes da cul tura dominante, que es tão fora das ins ti tui ções , que exis tem independentemente delas e que são usadas como forma de resistência à dominaçã o pela cul tura erudi ta. Ainda pa ra Ara ntes (2006, p. 08), […] por um lado a cultura popular concebida por contraste ao termo genérico cultura em seu uso corrente e, por outro, como suporte de uma idealização romântica da tradição, que é uma perspectiva frequentemente encontrada nas teorias de muitos folcloristas, além de ser amplamente difundida entre diversos setores da sociedade. Porém, percebe-se que é isso mes mo que enxergamos na mídia e no dia-a-dia quando se referem ao Fol clore, esses meios de comunica ção e di vul ga ção utilizam o termo Cul tura Popular pa ra fa zer referência ao próprio Fol clore. Mas se analisarmos a pala vra em si, observa remos que se torna a té um pleonasmo fala r em Cul tura Popular, pois a Cul tura vem do povo, é produzida pelo povo, atra vés de suas 66 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 rela ções com outros povos , e relações sociais com indi víduos de uma mesma comunida de. Pois povo, além de signifi ca r plebe, vulga r, ta mbém pode ser sinôni mo de na ção, por isso a Cul tura só pode ser popula r, já que pa ra isso precisa ha ver coleti vidade e principalmente a cei tação coleti va . Assim, não podemos a fi rma r que somente a ca mada mais desfa vorecida da sociedade, por não obter conhecimento científi co é ca paz de produzi r a Cul tura Popula r, uma vez que, a elite a caba fa zendo pa rte desse processo quando há a cei ta ção coleti va ; e também não podemos continua r com a visão preconcei tuosa de que tudo que é popula r é vul ga r, pois o que vem do povo a contece de manei ra espontânea e é cheia de signi fica dos , que geralmente expressam seus anseios , suas angús tias, sua personalidade e sua liberdade de expressar seus sentimentos . Pa ra Arantes (2006, p.78), Neste sentido, fazer teatro, música, poesia ou qualquer outra modalidade de arte é construir, com cacos e fragmentos, um espelho onde transparece, com as suas roupagens identificadoras particulares, e concretas, o que é mais abstrato e geral num grupo humano, ou seja, a sua organização, que é condição e modo de sua participação na produção da sociedade. Esse é a meu ver, o sentido mais profundo da cultura ‘popular’ ou outra’. Podemos a firma r que a Cul tura Popula r es tá contida nas coisas mais simples do nosso dia-a -dia como: na alimenta ção, na manei ra de des cansar após o almoço, nas músi cas que toca m na rádi o, nas fes tas , em ri tuais religiosos , dentre outros . Mas qual a diferença entre Cul tura Popula r e Folclore? Essa di ferença se dá pela tradicionalidade, sendo o principal funda mento pa ra continuar a exis ti r dentro de um contexto históri co-cul tural . Mas, a mbos passam pelo processo di nâmi co que a Cul tura passa constantemente. Com isso, na medida em que ocorrem as transforma ções sociais, lhes são a tribuídos novos signi fi cados , novos valores, porém sem perder sua essência. Mes mo com essa tenta ti va de eli minação, a Cul tura Popula r está sempre se renovando, sendo recria da, pois a cul tura é dinâ mi ca e é a tra vés dessa dina mi cidade que ela se mantém vi va e se adapta as novas transformações sociais pa ra conti nua r sendo preserva da e impedindo o domínio total da elite na Cul tura . A Cul tura Popular surge entã o com o propósi to de mos tra r a di versidade cul tural e denuncia r a desigualdade social exis tente em nossa na ção e com isso forti fi ca r e concreti za r sua i dentidade cul tural , além de trans forma r sua vi da socialmente. Assim, a pós toda essa discussão sobre a polêmica na terminologia das palavras 67 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Cul tura Popula r e Fol clore, entende-se que o Fol clore faz pa rte da Cul tura Popular, porém nem todas as manifes tações da Cultura Popula r são fol clóri cas, devido sua tra diçã o enquanto manifes ta ção. Já que a Cultura Popular vai pa ra além da tra dição popula r, uma vez que, ela representa as formas de pensa r, agi r, senti r e vi ver no mundo, ou seja , a própria realidade do povo, produzida e tra nsformada por ele. CONSIDERAÇÕES FINAIS Atra vés desse ensaio compreende-se que cada grupo humano possui sua própria Cul tura , pois é ela que expli ca a lógi ca e a his tória pela qual passou ao longo dos anos, além de preserva r sua existência a tra vés do pa trimônio e da identidade cul tural . A di versidade cultural exis te pelo fa to de que, cada na ção passou por um processo his tóri co diferente, atra vés das necessidades e interesses encontrados por eles . As formas de mani pulação de recurs os na turais , a manei ra de organi za r e transforma r a vi da em sociedade tornam-se heterogêneas, fazendo com que cada grupo humano possua a sua pa rti cula ridade, sua Cul tura . Entende-se então que Cultura é um conjunto de sis temas (pol íti cos , econômi co, tecnológi co, a rtísti co, religioso, etc.) que expli ca a lógica i nterna das nações, sendo um produto da coleti vi dade humana. A cul tura é fra gmentada, sendo ca tegori zada em Erudi ta, Popular, de Massa, de Folk, dentre outros , como uma estra tégia da elite dominante de manipula r e ra cionaliza r as ma nifes ta ções e os a conteci mentos exis tentes na sociedade, mantendo assim sua hegemonia no poder. Com o mundo cada vez mais globalizado, as cul turas mundiais, pri ncipalmente das etnias subordinadas, sã o amea çadas pela troca desigual de valores e concepções que sã o alheios a sua Cul tura , em detri mento de um sistema capi talista que é imposto violentamente pelos pa íses do Pri mei ro Mundo, a tra vés da indústria cul tural junta mente com meios de comunica ção. Por conta da manipula ção as manifes ta ções da Cul tura popula r e o Fol clore encontra m-se marginalizados cada vez mais, diminuídos a função de entreter as pessoas em eventos públi cos . Por isso, são necessá rias políti cas públicas que incenti vem e promova m eventos de ca rá ter popula r, a fim de educa r as pessoas sobre a i mportâ ncia da preserva çã o 68 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 de nossas manifes ta ções popula res , pa ra que não percamos nossa identidade enquanto na ção, povo. Es te trabalho teve como pretensão contribui r pa ra um deba te na á rea da Educa ção, pa ra a reflexão no desenvol vi mento do processo ensino-aprendiza gem, promovendo a forma ção total dos alunos como cida dãos críti cos e cons cientes da sua realidade e do seu papel enquanto gua rdião pa ra a preserva ção e valori za ção do nosso Pa tri môni o Cul tural e, consequentemente fortalecer nossa identidade enquanto na ção. Por isso, nós, enquanto profissionais e educadores precisamos repensa r nossas a ções pedagógi cas quando trabalhamos com o Folclore e a Cul tura Popula r em nossas aulas pa ra que nossos alunos tenham a cons ciência de que vi vemos diariamente os fa tos folcl óri cos popula res de nossa sociedade, pois são eles que expli cam nossa exis tência , a organi zaçã o social, o presente, a a tual condi ção do homem na sociedade, nossa corporeidade e etc. Além de preserva r a i dentidade e a essência de uma na ção, jus ti ficando a di versidade cul tural e a pa rti cula ridade de cada grupo humano. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. ANDRADE, Pa ulo de Ta rso. Conhecendo o Nosso Folclore - Belém: 2002. 154p.:il . APPOLINÁRIO, F. Metodologia da Ciência: filosofia e prática da pesquisa. Sã o Paulo: Pioneira Thompsom Lea rning, 2006. ARANTES, Antônio Augus to. O que é Cultura Popular. 14ª ed. São Paulo. Brasiliense, 1990. AYALA, Ma rcos e Ma ria Novais. 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O que é Cultura. - 14. ed.- São Paulo: Brasiliense Ed., 1994. 70 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 MODERNIDADE EM BELÉM: ENCONTROS, COMBATES E MUDANÇAS NA AMAZÔNIA – 1960 Ilton Ribeiro Santos 24 Resumo: Es te a rti go tem como objeti vo esboça r um ligei ro panorama cul tural na década de 1960, em Belém, capi tal do Pa rá (Amazônia), apontando que essas mudanças estã o rela cionadas à uma possível úl tima fase da modernidade, considerando a ci dade como labora tóri o dessa experiência . Como referência teóri ca recorre-se a estei ra do ma terialismo dialético de Berman (1998), como também os desdobramentos sobre modernidade de Fernandes (2009). O estudo teve como orientação históri cas nas a rtes e li tera tura em Belém alguns es tudos realizados na década de 1960, como o de Penteado (1968), além de consul tas à suplemento de jornais e entrevis tas realizadas pelo autor. Palavras-chave: Modernidade, Artes e li teratura , Belém, 1960. Resumen: En es te a rtículo se pretende esboza r un panora ma cul tural ligero en la década de 1960, en Belém, capi tal de Pa rá (Ama zonas), lo que indi ca que estos cambi os está n rela cionados con una posible etapa final de la modernidad, considerando la ciudad como un labora tori o de esa experiencia. Como referencia teóri ca utiliza para ras trea r el ma terialismo dialéctico de Berman (1998), así como las consecuencias de la moderni dad Fernandes (2009). El es tudio ha sido la orienta ción his tóri ca en las a rtes y la li tera tura en Belén algunos es tudios realizados en la década de 1960, como Penteado (1968), así como las consul tas pa ra complementa r los periódicos y las entrevis tas realizadas por el autor. Palabras clave: Modernidad, las a rtes y la litera tura , de Belém, 1960. Considerações Iniciais A his tória da modernidade está di vi dida em três grandes fases , segundo Ma rshall Berman (1986). A pri mei ra do i nício do século XVI a té o final do século XVIII, segundo autor uma fase ta teante da experiência da vida moderna . A segunda fase a conteceu com a grande Revolução Francesa , em 1790. A tercei ra e úl tima fase começa no início do século XX e aba rca vi rtualmente o mundo todo. É necessário a visa r a o lei tor que o termo modernismo é um concei to li gado a a rte e li teratura , enquanto que modernidade es tá relaci onado ao modo de pensa r a vi da. E fi nalmente o termo moderno engloba tanto as ideias de modernidade quanto às de modernismo (FERNANDES, 2009). Pa ra localiza r as poss íveis modifi ca ções das ideias es téti cas modernas em Belém, é necessá rio tra ça r li geira mente o panorama econômico e cul tural de Belém nos idos dos a nos 24 Mestre em Arte pela Universida de Federal do Pará, Especialista em Semiótica e Graduado em Le tras – Professor da Escola Superior Madre Ce leste. 71 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 1960. Os es tudos apontam que somente a pa rti r dessa década foi que se percebeu sinais mais bem visíveis de seu progresso econômi co, agora não mais ligado ao ciclo econômico da borracha, mas decorrente do fator primordial da qual a cida de ti ra va provei to, a excelente posição geográ fi ca como centro urba no capa z de organi za r e comanda r uma vas ta região (PENTEADO, 1968). Segundo Lourei ro (1992), somente em 1960 é que Belém alcançou a Renda Interna Regional perdida a pa rtir de 1910. No ano 60, pa ralelo às mudanças econômi cas e sociais por quais passa va Belém, houve a va nços na interna cionaliza ção do capi tal na mercantiliza ção das rela ções sociais. A Rodovia Belém-Brasília, por exemplo, fora cons truída com recurs os interna cionais . Mui to se a vançou também no uso da mídia . Por essa ra zão, combater esses a vanços tornou-se a ordem do dia, pois mui tos entendiam que a i mposi ção cul tural norte-a meri cana inva di ra o Brasil e, portanto, defendiam o recha ça mento do Imperialismo; era preciso neutraliza r as formas merca ntis e industriais de cul tura e afas ta r o antina cionalismo da burguesia, pois se a credi ta va que era uma maneira de coloca r em evidência a verdadeira cul tura na cional. O desenvol vimento cul tural belenense é fi rmado numa época de intensa movi menta ção pol íti ca na região e no pa ís. O Pa rá precisa va solidifi ca r al gumas a ções organi zadas nos anos 60, como a implanta ção de salões de a rtes uni versi tári os, cursos li vres de a rte e a bus ca de a rtistas e críticos renomados pa ra realiza rem debates e palestras em Belém. Ha via um quadro críti co social e educa cional na região. Era pa tente a fal ta de bibliotecas locais a tualizadas . Quem possuía certa condi ção financei ra compra va seus li vros no Rio de Janei ro, cidade onde sempre as fa mílias pa raenses passava m as férias (NUNES, 2001). Ma rinilce Coelho nota que nos a nos 40 ainda se lia mui tos li vros do século XIX; esse fa to se jus tifi ca va pela difi culdade de a cesso ao que esta va sendo publicado no Brasil e no mundo (COELHO, 2005). Outro fa to que complicou esse panora ma educa cional de lei turas era o des caso a dminis tra ti vo com a educa ção em todos os níveis ; o número de analfa betos na idade escolar (7 a 10 anos) em Belém, nos anos 60, chega va a 75% da populaçã o (PENTEADO, 1968). Isso pode explica r certa indiferença a livros e revis tas a tualizados . Somente em 1962 foi que chegou a primei ra banca de revis ta na cidade de Belém pelas li vra rias Ma rtins e Vi tória25 (PINTO, 2008). 25 O comércio de revistas em Belém enfrentou principalmente as ideias baratistas, que achavam que as bancas eram extremamente perigosas por facilitar a distribuição material subversivo. Houve algumas tentativas de 72 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Desse modo, tornou-se á rduo pensa r uma nova es téti ca numa cidade que não possuía nenhum sis tema de ensino a rtísti co e li terá rio superiores e onde os deba tes a rtísti cos ou curs os li vres de a rte ainda era m mui to incipientes pa ra os habi tantes (a rtistas e público geral) da região. No entanto, paulatina mente, nova ideia es tética se configurou na Região Norte do pa ís e ma rcou, desse modo, a consolidação da modernidade em seus múl tiplos aspectos na cidade de Belém. A nova es téti ca é observada nos novos modos em que o a rtista pa raense começou a pensa r sua prá ti ca a rtísti ca ; ta mbém notada nas modi fica ções físicas do panorama urba no; ma rcada também, nas tra nsforma ções topográ fi cas da região. Em Belém, as inquieta ções artís ti cas pa ra uma nova es téti ca plásti ca se ma nifes ta ram, sobretudo a pa rti r dos anos 40, com a tenta ti va de se rees tabelecer no calendá rio da cidade os salões de a rtes . Entretanto, somente a pa rti r dos anos 60, com a implanta ção de novas políti cas cul turais no sentido de a tualizar o meio cul tural (sobretudo a rtes visuais e tea tro). Vá rias a ções fora m promovi das nessa década no sentido de a balar e renova r o potencial cria ti vo da região. Entre essas novas a ções cul turais, es ta vam as visi tas de a rtis tas e críticos de a rtes que eram convidados pa ra contri bui r nas dis cussões a rtísti cas da cidade de Belém. Tal vez isso explique porque o pri mei ro li vro de Ma x Ma rtins , publi cado em 1952, foi inti tulado “O es tranho”, pois , no poema homônimo, existe uma a tmos fera de que coisas diferentes es ta vam a contecendo na cidade Belém. É um reconhecimento do encontro com vozes es tranhas , com as quais o a rtis ta mora dor da cidade não se furta se es tabelecer novas rela ções : Não entenderás o meu dialeto/ Nem compreenderás os meus costumes./ Mas ouvirei sempre tuas canções/ E todas as noites procura rás meu corpo./ Terei as carícias dos teus seios brancos./ Iremos amiúde ver o mar./ Muito te beijarei/ E não me amarás com o estrangeiro (MARTINS, 1952). As transa ções de novas ideias e prá ti cas estabelecidas entre os via jantes (críti cos de a rte) e os a rtis tas moradores da cidade, assim ta mbém como intera ções de cos tumes e novas poéti cas plásti cas , tra ceja va m um novo cená rio a rtís ti co em Belém. As mudanças no modo de pensar, de agi r e de ver as a rtes plásti cas começa ram a ma rca r um novo momento instalá-las em Be lém antes de 1962, mas elas, por volta das horas escuras, sumiam misteriosamente (PINTO, 2008). 73 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 que se contrapunha aos modelos tradi cionais (a cadêmi co) i mpregnado nas prá ti cas artís ti ca da região desde o século XIX. No momento em que o exercício da li tera tura se confronta com os valores estéti cos a cadêmi cos, vem em pauta o termo “modernismo”, mas se sabe que esse movi mento a conteceu incipientemente nas regi ões distantes dos centros cul turais do pa ís ; esse modernismo foi bem mais sens ível em Belém na á rea literá ria ; essa va ga rosidade nas trans forma ções e transi ções do pensamento modernista pelos quais se envereda va a a rte foi , em grande pa rte, resultado da difi cul dade econômica26, pela qual passara a capi tal pa raense, como já fora menci onado. A a tmosfera a rtís ti ca que se ins talou nos tempos mais tenebrosos da crise econômi ca a ca rretou consequências a o meio social, políti co e, sobretudo, cultural, ma rcado por forma ções de grupos pa rcialmente isolados de intelectuais , a rtistas , escri tores e poetas. Ainda se via , até o meado do século, a presença mui to forte dos ideais românti cos , pa rnasianos e impressionistas presentes na prá ti ca do fa zer a rtís ti co em vá rias á reas do conhecimento humano27. Sa be-se que a a rte moderna , ini ciada no começo do século XX, com mani festos e movi mentos , representou um não ao passado, um recha ço às regras anti gas e castra doras defendidas pelas i nsti tui ções de ensino oi tocentista , sobretudo pelas a cademias de a rte. Surgem, portanto, revol tas ante o convencionalismo da a rte, e bus ca-se a liberdade do novo (SANTOS, 1988 p. 32). Apesa r de vá rios movimentos de va ngua rdas terem ocorri dos nas duas pri mei ras décadas do século XX, o discurs o sobre o “novo” (ou “novidade”) não se apresenta abrupto, como um simples corte sincrôni co; o “novo” tem uma velha história, nã o nasceu a rbi tra riamente, mas é uma es ta ção do desdobra r cíclico da his tória ; nesse caso, percebe-se o “novo” como renova do, de tal modo que a tra dição é questionada pelo presente e revi talizada pela antevisão do futuro (PORTELA, 1978). Essa revolução provocada pel os abalos que o novo pensamento provocou em mui tos 26 Entre o grande núme ro de pessoas que saíram de Belém, a partir de 1910, por conta da crise econômica, encontram-se Farias Brito, Humberto de Campos, Alves de Souza, Carlos D. Fernandes, João Lúcio de Azevedo, Ferreira de Castro, além de muitas famílias que levaram seus filhos para educá-los fora da região, como Jayme Ovalle, Iberê de Lemos, Ismael Ne ry, Osvaldo Goeldi, Quirino Cam pofiorito, Osvaldo Orico, Che rmont de Brito e Peregrino Júnior. (SALLES, 1998, p. 23) 27 Conforme Coelho, ainda nos anos de 1940, havia uma atmosfera romântica e parnasiana que empolgava o discurs o dos vete ranos intele ctuais de Be lém. Havia, em muitos, uma pos tura crítica de resis tência a o modernismo. (COELHO, 2005, p. 62) 74 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 centros a rtís ti cos do mundo e em tão a celerado tempo i rrompeu um caudaloso deba te sobre o que poderia vi r após o modernismo. Trans vangua rdismo, pós-modernismo ou a rtecontemporânea? Qualquer que fosse o termo escolhido era necessário perceber que mui ta coisa ha via mudado: o interesse por um estilo local (não mais uni versal como pensa vam os modernistas); a pesquisa de novos e velhos materiais ; o interesse pelo passado; a obediência da lingua gem a rquitetôni ca à forma e à fantasia; assim como a presença de um forte ecletismo nas novas propos tas es téticas (SANTOS, 1988). Porta nto, os anos 60 em Belém trouxera m uma nova cena após a celeuma modernista , um segundo momento a pós a deflagra ção do novo nas a rtes visuais em Belém; não um momento estanque, mas, pelo contrá rio, uma consciência mais límpida de que a transi ção e a transformação fi zeram pa rte do jogo em que se cons truiu o pensamento naqueles anos . Pa ra tanto, é preciso que se busque a cons ciência de que sempre esteve ins talada uma a tmos fera de a gita ção e turbulência ; não exis te algo s ólido em que se possa se apega r. As expansões das possibilidades de experiência que se apresentam ta mbém tra zem um clima de des trui ção de certezas e de modelos a rtísti cos . Vá rias ba rrei ras são detonadas e algumas afi rmações que balizam o modo de pensar, elas são esfa celadas a cada trans forma ção do pensamento (BERMAN, 1986). Des te modo, Benedito Nunes a firma que em Belém esse novo momento se torna bem mais definido, sobretudo a pa rti r do ano de 1946, quando se começou a publi ca r o suplemento de a rte e litera tura Folha do Norte (19461951), publicado e di ri gido pelo es critor Ha roldo Ma ranhão (NUNES, 2001). O periódico da Folha do Norte trouxe mui tos ensaios críti cos , assim como i magens de mui tas obras de a rte, entre as quais aquelas de Paes Torres , Lula Ca rdos o Ayres (perna mbucano 1910-1987), Celso Antônio de Menezes (Ma ranhense 1896-1984), Ga ribaldi Brasil (pa raense 1906 - ?), Cândi do Portina ri (paulista 1903-1962), Julio Gi rona (cubano 1914-2002), Al ton Pi ckens (a meri cano 1917-1991), Romain Rolland (fra ncês 1866 – 1944), Sa nta Rosa (paraibano 1906 - 1956), Pa blo Pi casso (espanhol 1881-1973), Ma rc Chagall (russo 1887-1985), Orlando Teruz (ca rioca 1902-1984), J. Kouts ky , Ernest Turlach (c.19061996), Bruno Giorgi (paulista 1905-1993), Sal va dor Dali (espanhol 1904-1984), Diego de Ri vera (mexi cano 1886-1957), Morba ch (paraense 1911-1981), Lasa r Segall (russo 18911957), Anton Refregier (russo 1905-1979), Iberê Ca ma rgo (gaúcho 1914-1994), entre outros . 75 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 A riqueza ma terial do s uplemento de a rte e li tera tura Folha do Norte se tornou uma fonte ines gotá vel pa ra se pesquisar o pensamento a rtís ti co e filosófico, vi gente em Belém naqueles anos ; são ensaios principalmente sobre pintura , tea tro moderno, poesia , romances , filosofia e religião. Ainda na á rea a rtís ti ca, houve surgimento de grupos como o Clube de Artes Plás tica da Amazônia (CAPA), fundado em 1960, cujas reuniões a conteciam semanalmente nos al tos do antigo Ca fé da Pa z, que, após sua demolição, fa ria com que o CAPA se reunisse nas residências dos própri os a rtis tas. Eles leva vam suas últi mas produções pa ra aprecia ção e críti ca . Lindanor Celina era uma das a rtistas (escri tora) que vá rias vezes abriu s ua casa pa ra esses encontros (RICCI, 2004). Mesmo depois de muda r para Pa ris pa ra ministra r aulas na Uni versidade de Lille, no norte da França , mantinha em seu rotei ro de férias à cidade de Belém, onde se reencontra va com a rtistas pa ra conversas a rtís ti cas atualizadas (PENNA, 2004). Essa a tmos fera de mudança nas prá ti cas a rtís ti cas gera va vá ri os movimentos cul turais , como é o caso do Grupo Amazônico28, pelos i dos dos anos 1960. Esse grupo defendia o potencial a rtís ti co e cultural encontrado na Ama zônia . Pa ra tanto, ele desenvol veu algumas a ções como expedições interiora nas pelo es tado do Pa rá e cursos de fol clore regional aberto ao públi co. Essas a ções se jus ti fica va m por uma busca das ra ízes e por um levanta mento de material autóctone pa ra alimenta r a músi ca , a dança e a pintura . Pertenciam ao grupo Avelino Vanetta do Vale, Ma ria Lúcia Ma rtins (Lulucha ), Luiz Dillon Fi guei redo, Roberto Guedes , Ca rlos Rena to Almeida (Denys ), Simão Robson Ja tene, Lúci o Flá vi o Pinto, José Serra , Ma ria Ida Bernardes Normando e Raimundo Cordei ro. Outro fa tor que contri buiu pa ra a renova ção do pensamento moderno na cidade foi a presença da li vra ria Dom Qui xote, que começou em Belém ainda nos anos de 1940. Propriedade de Ha roldo Ma ra nhão (1927-2004), esse espaço tornou-se importante pa ra a cidade, pois era um ponto em Belém onde se promovia encontros li terá rios e lançamentos de li vros a tualizados29. 28 A formação do Grupo Amazônico se de u em 1967, na tentativa de se criar um núcle o de pesquisa que estimulasse estudos e práticas artís ticas com o material s imbólico da Amazônia. Fonte: Um Grupo Amazônico para arte e cultura. A Província do Pará, outubro de 1967. 29 Um e xemplo dessa atualização foi à noite de autógrafo com a presença de filósofo fra ncês Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir no início dos anos 60 na livraria Dom Quixote, em Belém (COIMBRA, 2004, p. 105). 76 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Diante das mudanças pelas quais o cená rio a rtís ti co cul tural de Belém passa va, é necessá rio lembra r que ha via se instalado um tempo de crise, provocado pela difi cul dade econômica que a região ainda enfrenta va . Belém nunca foi um ponto geográ fi co sem comba tes . Nela , sempre se movimentou um turbilhão de paradoxos , desintegra ções , mudanças, ambi guidades , lutas e contra di ções . Ha via uma ausência de pol íti ca educa cional no estado do Pa rá , empenhada em minimi za r os alarmantes índi ces de a nalfabetismo que emergiam dos grá fi cos , sobretudo na pri mei ra metade do século XX. Diante desse quadro, extremamente a gitado por novida des, uma nova es tética (novas es téticas ) foi lançada aos habi tantes da cidade (a rtis tas, es cri tores , professores , críti cos e público geral ). Essa(s) estéti ca(s ) era (m) provocada(s ) por um novo pensamento a rtísti co provocado pelos salões de a rtes , pelas ofi cinas, conferências e deba tes sobre a rtes abertas a todos, pelas modi fi cações dos desenhos das plantas a rqui tetônicas e pelas al terações dos mapas que dema rca vam a região. Essas trans forma ções certifi ca va m que a contecera uma ruptura nos pa radigmas estéti cos da cidade de Belém. O primei ro tra ço que certifi cou as transações, transi ções e tra nsforma ções do pensamento estéti co em Belém se fez por meio do movimento físico-humano, ou seja , pessoas (a rtis tas, es cri tores, a rqui tetos , poetas, críti cos ) procedentes de di versos luga res no mundo vieram pa ra Belém trazendo em suas ba gagens novas ideias e prá ti cas concernente às a tualiza ções a rtís ti cas. Foi , sobretudo a pa rti r de 1940, que alguns nomes importantes noti fi cara m a movi menta ção de novas ideias, como foi caso da residência em Belém de Robert Stock (1923 -1981) 30 e Frederi co Ba rata (1900-1962), assim como a es tada também de Waldema r da Cos ta (1905 – 1982) e de Qui rino Ca mpofiori to (1902 – 1993). A presença do poeta ameri cano Robert Stock (1923 – 1981) teve grande i mportâ ncia pa ra a a tualiza ção es téti ca li terá ria. Stock chegou a Belém pelos anos de 1950 e traduziu, em pri mei ra mão pa ra l íngua portuguesa , vá rios poetas importantes da li tera tura uni versal como, por exemplo, T. S. Eliot (1888 – 1965), Ezra Pound31 (1885 – 1972), Ri cha rd Eberha rdt 30 Cf. com índice biográfico nos ane xos des ta pesquisa. Conhecido como o Pai da Poesia Moderna, anunciou em 1912 os princípios de um novo movimento poético que chamou de Imagismo. Influenciado pela poesia oriental, haiku, terá grande importância para poetas de Belém como Max Martins e Age de Carvalho. Pound também contribuiu com o modernism o nas artes plásticas 31 77 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 (1904 – 2005), Robinson Jeffers (1885 – 1962), Ma rianne Moore (1887 – 1972), W. H. Auden (1907-1973), Dylan Thomas (1914 – 1953), Elisabeth Bishop (1911 – 1979), William Ca rlos Williams (1883 – 1973) e E. E. Cummings (1894 – 1962). Essas tra duções , geralmente, era m publica das na revis ta Norte, assim como no Suplemento de Arte e Li tera tura da Folha do Norte. Entende-se que Bob Stock, como era chama do pelos ami gos em Belém, trouxe nas malas : a Beat Generation, os es tudos do zen-budismo e do Tao-te chi ng, o gos to de anda r pelas ruas e perambular pelas es tradas. Possuía uma caixa de madei ra onde gua rda va seus li vros , com alguns poemas tra duzidos para língua portuguesa, e uma úni ca cal ça quadri culada , o que obri ga va o poeta a des marca r encontros, caso a mesma es ti vesse molhada (CRUZ, 2002). A li tera tura l ocal era impa ctada pelo modo de pensa r por meio da poesia em sua nova es trutura textual . Os novos poetas e novos a rtis tas se envol viam na propos ta de uma nova poéti ca. Ma x Ma rtins foi um desses a rtistas que pa rti cipou do grupo Ges tal t, movi mento cultural mul tidis ciplina r que se ocupou com o renovo es téti co li terá rio e plásti co em Belém. Figura 1 Foto de Robe rt Stock na capa do livro Selected Poems 1947-1980. Ed. Crane& Hopper. 1980. Ace rvo do poeta Max Martins. Outro momento importante pa ra a tualiza ção es téti ca em Belém foi a residência de Frederi co Ba ra ta (1900-1962); no ano de 1947, o jornalista e críti co de a rte ama zonense assumiu a superintendência do jornal A Província do Pará. Ba ra ta também era membro da Association Internacionale des Critiques d’Art e da Societé des Americanistes, a mbas sediadas em Pa ris, o que fez com que ati vasse o exercício da críti ca a rtís ti ca na cida de. e na música. Cf. POUND, Ez ra. Do caos à ordem, visões de sociedade dos cantares de Ezra Pound. T rad. Luisa M. L. Q. Campos e Daniel Perlma n. Lisboa: Assírio & Alvim, 1993, p. 9. 78 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Desenvol veu também mui tos es tudos na á rea cerâ mi ca de Santa rém, além de outros (ROCQUE, 1968). Frederi co Ba rata também contribui u como colecionador de a rte, pois disponi bilizou seu a cervo aos jovens a rtistas e críti cos paraenses; na sua coleção de a rte, podiam se encontra r obras de Porti na ri, Vis conti , Pancetti , Os waldo Goeldi , Roaul , Balloni , Burle Ma rx, Qui rino Campofi orito e cerâ mi ca de Pi casso. (MOKARSEL, 2000). Figura 2 Cabeça de F rederico Barata, s.d, escultura João Pinto. Fonte: Revista Espaço, Ano 1, Nº 03, dezembro de 1977. p. 26). Waldema r da Cos ta foi outra i mportante visita que Belém recebeu próximo dos anos 40. Esse a rtis ta , de volta a sua terra depois de quase tri nta a nos , trouxe em sua ba gagem uma moderna exposição coleti va de a rtis tas de Sã o Pa ulo (MOKARZEL, 2000). Outra presença si gnifi ca ti va foi a de Qui rino Ca mpofiori to, que pa rtici pou como júri , conferencis ta e críti co nos dois salões uni versi tári os do Pa rá (1963-1965), organizados por Benedi to Nunes32. A ci ta ção desses escri tores , a rtistas e críti cos que transi tara m por Belém es teve mais vinculada a exemplifi ca r o movimento humano na região, no período da retomada do desenvol vi mento a rtís ti co da cidade. Nã o se abordou o movimento físico-humano, no sentido de dentro pa ra fora , ou seja , a saída e os impa ctos dos a rtistas pa raenses com outros centros a rtís ti cos como as Bienais em São Pa ulo33. Nos anos 60 em Belém, o movimento humano se realizou em novos fluxos de ci rcula ção cul tural , a ções mais di recionadas, como cursos , palestras , críti cas e exposi ções , por meio dos que vinha m como convi dados . Essas medidas a gita ra m o panora ma a rtís tico da cidade com a ci rcula ção de vá rios profissionais do ramo a rtís ti co. 32 O crítico Be nedito Nunes pode ser um exemplo de autor que transitava pela crítica de arte e sobretudo literá ria em Belém na década de 1960. 33 Esse impacto ge rado pelo deslocamento do artista de dentro (de seu lugar) para fora (outros centros culturais) será tratado nos capítulos 5.1 e 5.2, quando se abordará sobre os artistas Valdir Sarubbi e Branco de Melo. 79 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Mes mo reconhecendo que no Brasil da década de 60 se ins tala uma crise de diálogos e encontros por todas as es feras do conhecimento humano, sobretudo na cul tura , pois é mui to frequente o exílio e o êxodo de mui tos intelectuais do Brasil em decorrência do regime mili ta r i mpos to no país . (AMARAL, 2006). Apesa r de uma políti ca contrá ria a o diálogo, intelectuais, a rtis tas e críti cos força ram intera ções culturais entre algumas capi tais, de modo que não mais exis tiu uma só via ofi cial (as a cademias) pa ra essa a tualiza ção a rtís ti ca na modernidade. As potências criadoras fora m alimentadas por novos fluxos de ci rcula ção cul tural – uma intercul turalidade – de fa ces dolorosas, mas dinâ mica (CANCLINI, 312). Na cidade de Belém, algumas aberturas de diálogos (Salões uni versi tári os, I Cul tural do Pa rá , Pré-Bienal etc.) foram apresentadas como provoca ções e transa ções de ideias salutares para o desenvol vimento de uma postura estéti ca local integra da num diálogo mais amplo com um panora ma a rtís ti co global. O movimento físico-urbano é um sub-tópi co entendido aqui como modi fica ções a rquitetôni cas de Belém, sobretudo na segunda metade do século XX, com a retomada de cres cimento demográ fi co, momento em que se fi rma ram na ci dade as construções dos pri mei ros a rra nha-céus34. As propos tas dos desenhos a rquitetôni cos vi gentes em Belém, principal mente depois da cria ção da es cola de engenha ria, es ti veram i nseridas num caudaloso confronto de linguagens absorvidas e tra duzidas em di versas cons truções do meado do século XX, na capi tal pa raense. Contudo, já se encontra m, a pa rti r dos anos 40, as linhas verti cais que aproxima riam a linguagem a rqui tetôni ca dos tra ços vi gorante da Arqui tetura Moderna Brasilei ra. Entre 1930 – época da criação da primeira escola de engenha ria – e 1964 – ano da fundação da Faculdade de Arquitetura na Universidade Fede ral do Pará (UFPA), com jovens profess ores gaúchos já filiados ao m odernismo dominante – a produção arquitetônica de Belém foi marcada pela convivência entre o ecle tism o tardio, o neocolonial, o Art Déco, o racionalismo clássico, ecos do m odernism o internaciona l e obras já filiadas àquela que se ria conhecida como Arquite tura Moderna Brasileira (SARQUIS et al, 2003, p. 30). Uma dessas edi fi cações que ma rca riam a modernidade nas cons truções belenense nos a nos 60 foi o Edi fício Manuel Pi nto da Sil va , que começou a ser cons truído entre 1948 e 34 O jornal O Libera l, Domingo 17 de abril de 1960, p. 04, apresenta o Convite de Inauguração do E difício Manuel Pinto da Silva. Publicado num domingo de páscoa, na época ficava entre as 12 torres mais a ltas do mundo e era entendido como “símbolo de uma idade nova que se anuncia para esta cidade, cidade da Planície Amazônica, ansiosas as duas de galgar planos superiores de civilização”. 80 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 1950, portanto, antes da i mplanta ção da Es cola de Arqui tetura . Pri meira mente, foi construído o pri mei ro bl oco; a pa rti r de 1952, começou a cons trução do segundo e tercei ro bloco, os quais fora m inaugurados em 1960 (SOBRAL, 2002). O empreendimento i mobiliári o era entendido como: “O edi fíci o que retra ta um ca rá ter – em linha reta pa ra o alto, da planície pa ra o céu – aonde chega o ideal , quando a fé o sus tenta e o trabalho realiza – e Belém ganhou um cus toso adereço útil pa ra exibi r-se nos fes ti vais do progresso”35. O edifício Manuel Pinto da Sil va foi projetado pelo a rqui teto pa raense Feli ciano Sei xas , fi ca va entre, as doze torres mais al tas do mundo, e era apresenta do como símbolo de uma “idade nova ” que se anuncia va para cida de de Belém, cidade da Planície Amazôni ca , ambas (cidade e planície) a nsiosas pa ra galga r planos superiores de ci vili zaçã o, conforme di zia um periódi co da época36. De qualquer forma tornou-se indiscutível em Belém a importância da s transformações cons trutivas de cunho racionalis ta, enquanto signatá rias do processo de verticalização (tardio) da cidade, ainda que sem uma orie ntaçã o artística claramente definida. Obras e profissionais e ngajados num espírito de modernidade pragmática trouxeram inovações e avanços projetuais pa ra a cidade, mesmo sem a organização de grupos ou publicações, e sem uma completa identificação com as formas e idéias das vanguardas internacionais e brasileiras. Os profissionais be lenenses ainda transitavam entre o autodidatismo pessoal e o desejo cole tivo por algo novo, que abriria caminho para a consolidação de inicia tivas e preceitos associados ao modernismo propriamente dito (SARQUIS et al, 2003, p. 40-41). . Feli ciano Sei xas, a rqui teto contemporâneo de Os ca r Niemeyer na Es cola de Na cional de Belas Artes no Rio do Ja neiro, decla ra va sua gra tidão à a rquitetura e à “filosofia ” de Le Corbusier, a rquiteto modernista , que defendia as questões rela cionadas à economia e à funcionalidade da cons trução a rqui tetônica . No enta nto, a forma sinuosa surge como um elemento exterior de seu edifício. Sei xas dina miza as fa chadas desse edi fício de forma plás tica , uma vez que concebeu suas sacadas espa çosas, i mpa ctando a forma cons truída em uma á rea desprovida de grandes construções (VIDAL, 2008). Ergue-se a torre entre casas construídas no século XIX e á rvores que delinea vam a planície da cidade. Belém, a pa rti r de então, es ta va pronta pa ra vi ver sua tra gédia de modernidade, num sentido bermaniano (confrontos dramá ti cos de interminá veis mudanças). Não se sabe quantas pessoas se joga ram do prédio, se for considera r a morte na tural . Entretanto, tal vez, aqui caiba pensa r a morte daqueles que não consegui ra m 35 Esses anúncios foram publicados Jornal O Liberal, sexta- feira, 22 de abril de 1960. Os anúncios apresentavam referências detalhadas da construção do Edifício Manuel Pinto da Silva, assim como convite a todos para a inauguração. Jornal O Libe ral, Domingo, 17 de abril de 1960 36 81 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 continua r vi vos no turbilhão da modernidade. Não fora m poucos , al guns ainda continua ra m a encena r os limi tes da tensão interior. É mui to peri goso saber que não há pa ra onde fugi r, pois a vida é um jogo diabóli co sem trégua . Nesse sentido, veri fi camos que Wal ter Benjami n afi rma que a modernidade contrapõe obstá culos desproporci onais ao entusiasmo e à força produti va na tural do ser humano. Entende-se que ha ja fra casso, e mui tos vã o se refugiar-se na morte (1991). A modernidade deve es tar sob o s igno do suicídio, que apõe o seu selo a um que re r heróico que não faz concessões à atitude que lhe é hostil. Tal suicídio não é desistência, mas heróica paixão. É a conquista da mode rnidade no âmbito da s paixões (BENJAMIN, 1991, p.99). Figura 3 - Convite de Inauguração do Edifício Manuel Pinto da Silva. Publicado dia 17 de abril de 1960, domingo de páscoa, no Jorna l O Libe ral. Deve-se pensa r o s uicídi o quase como uma alegoria da modernidade em Belém, não como uma provoca ção contra a vida na tural , mas uma ruptura contra a própria experiência do fa zer a rtís tico. Mui tos a rtis tas que experenciara m ins crever tra balhos em Salões de Artes desde os anos de 1940 desapa receram nas décadas seguintes , toma ra m outros rumos , suicidaram-se. Pa ra se ter uma ideia, o primei ro Salão da Uni versidade, em 1963, classifi cou sessenta e cinco a rtistas , enquanto que, dois anos depois, o mes mo Salão da Uni versidade classificou apenas trinta e cinco. Se não foi uma morte voluntá ria, ou seja , uma autocons ciência a rtísti ca clamando pa ra que não continuassem, pode ter sido a chegada de novas perspecti vas se i mpondo como modelo rígido. Desse modo, um prédio moderno de quase cem metros de al tura a fincado no meio da ci dade de casa rões do século XIX pode ser entendido como uma alegoria do terrível presságio de coisas catas trófi cas. 82 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 A funda ção do edifício Ma nuel Pinto da Sil va ma rcou simbolica mente o fim da gera ção (nasci da nos úl ti mos decênios do século XIX) que ha via usufruído da opulência econômica belenense, minguada nos anos 10. Como a modernidade oferecia novos desenhos em novas linhas , os móveis e imóveis passara m a ser refutados . Quem compra va seu novo apa rtamento recusava -se a leva r seus móveis antigos pa ra a nova vi da, e no bojo iam também as velhas bibliotecas, as obras de a rtes , regis tros fonográfi cos etc.37. As modifi ca ções na paisagem urbana toma ram fôlego com a i mplanta ção da Escola de a rquitetura da Uni versidade Federal do Pa rá, em 1964. O ensino se interliga rá aos saberes e aos fazeres da engenha ria, da pintura e da a rqui tetura , contribuindo pa ra que as a rtes plásti cas também comecem a vi ver um novo momento na região. Pa ra compor a primei ra equipe de professores , fora m convi dados cinco profissionais ori undos do Rio Grande do Sul . Quem rela ta esse fato é o professor Jorge Derenji : “Era , fomos cinco os a rqui tetos que vieram i ni cialmente de lá : Amilca r Montenegro, Enio Wol f Li vi , Bohdan Bujnovski , Hélio Veríssimo, Baldur Krapf e eu. [...] Não! Nós éra mos cinco ini cialmente: o Helio Veríssimo veio um pouquinho depois, foi o sexto. Depois , no ano seguinte, teve a qui mais o Cris tiano Mi randa38 Figura 4 Inauguração da Escola de a rquitetura na Universidade Federal do Pa rá em 1964. Fonte: Biblioteca Central da UFPA 37 38 Cf. com a prática dos leilões em Belém, na página 20. Entrevista com Jorge De renji foi realizada dia 04 de jane iro de 2011 83 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Figura 5 – Alguns nomes que ma rcaram essa época: 01 - Antônio Boez, 02 - Lúcia Daltro de Viveiros, 03 – Milton Montes, 04 – Enio Wolf Livi, 05 – Robe rto de La Rocque Soares, 06 - Bohdan Bujnovski, 07 – Rosa Tavares, 08 – Alcyr Meira, 09 – Jorge Dere nji. Fonte: Biblioteca Central da UFPA. A primei ra turma de a rqui tetos no Pa rá se formou em 1966. Integra ra m esse grupo: Al cyr Mei ra , Ca milo Porto de Oli vei ra , Lúcia Dal tro de Vi vei ros , Mil ton Montes , Roberto de La Rocque Soa res e Rui Viei ra (PINTO, 2008). Ha via na forma ção desses novos profissionais a vi vência trazida pelos professores gaúchos na área das a rtes plásti cas, pois, como disse Derenji (2011): É preciso conside rar que, minha formação foi numa faculdade em Porto Alegre, cuja ênfase eram as técnicas e a prática projetual. Em Porto Alegre havia uma escola de Belas-Artes, onde se deu inicialmente, o ensino de arquitetura. Posteriormente foi criada a faculdade de Arquitetura na UFRGS. Portanto, a interação da a rquitetura com as artes plás ticas, aqui aconteceu de forma diferente, as coisas se e ntre laçaram por muito tempo, até que as artes plásticas seguiram se u caminho. 39 . As aulas prá ticas de a rte na Es cola de Arqui tetura na Uni versidade Federal do Pa rá , assim como a promoção de salões de a rte, que tra ziam em seus progra mas o trânsi to de experiência a rtísti ca por meio de trocas de ideias, palestras , cursos li vres e exposi ções es timula rão, sobremanei ra, as discussões sobre a a tualiza ção artís ti ca ao longo da segunda metade do mes mo século na região; grande pa rte dos a rtistas que se projeta rão nas três úl timas décadas do século XX estudou na Es cola de Arqui tetura , como é o caso de Dina Oli vei ra (1951), Emanuel Nassar (1949), Os ma r Pi nhei ro (1950-2006), Valdi r Sa rubbi (19392000) etc. Porta nto, o movimento urbano tra ta das modifi ca ções da cida de, suas novas propos tas de moradias, seus novos ângulos de contemplação urbana , novas linhas retas 84 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 verti cais a parti r das novas ideias dos projetis tas pa raenses agi tados pelas inquieta ções da modernidade. As modifi ca ções ocorridas no plano movimento regional são cons tata das pelas al terações visuais na paisagem topográfi ca da região. A linha reta tra çada no meio da fl ores ta era um evi dente sinal ta mbém da modernidade, de modo que a Flores ta Amazôni ca se tornou um cenári o pa ra os peri gosos golpes de ma chados, tra tores e outras maquina rias pesadas pa ra o rasgo de 2.772 km, dos quais 450 km foi dentro da sel va ama zôni ca , uma via expressa que fere os es tados de Goiás, Tocantins , Ma ranhão e Pa rá . O engenhei ro responsá vel, o ca rioca Berna rdo Sa yão (1901-1959), foi tra gado pela própria força que começa ra o desma ta mento. Seu nome, como fa to da modernidade, foi aprovei tado pa ra da r nome à a venida de 7,5 km, que liga o primei ro esboço da ci dade de Belém a outro s ímbol o da moderni dade, a Uni versidade Federal do Pa rá . Figura 6 – As prime iras fotografias aé reas da Rodovia Be lém-Brasília, em 1959. Fonte: RODOVIA Belém-Brasília. Cadernos Belém Brasília 2. Superinte ndência do Plano de Valorização da Amazônia – SPEVEA. Rio de Janeiro. 1959. p. 20. Figura 7 – Na construção da Rodovia Belém-Brasília, a Floresta Amazônica é rasgada a machado. Fonte: RODOVIA Belém-Brasília. Cade rnos Belém Brasília 2. Superintendência do Plano de Valorização da Amazônia – SPEVEA. Rio de Jane iro. 1959. p. 08. 85 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Ao a nalisar a modernidade, Ma rshal Berman ci ta o episódio quando Robert Moses (1888-1981), engenhei ro norte-a meri cano, um dos personagens da Aventura da Modernidade, decla rou que quando você a tua em uma metrópole superedi ficada , tem de abri r seu caminho a golpes de cutelo. “Eu vou simplesmente continua r cons truindo. Vocês fa ça m o que puderem pa ra impedi -lo, falou o engenhei ro, um dos maiores criadores de formas simbólicas da modernidade em Nova Iorque dos anos de 1910” (BERMAN, 274). De semelhante modo, Jus celino Kubi tschek foi eleito a nunciando 50 anos em 5. No dis curso pol íti co, as pala vras “desenvol vimentismo e progresso” eram o lema . Brasília é construída . Niemeyer, Lúcio Costa , Reidy e outros fundam um novo cânone a rqui tetôni co, pontuando a vida urbana com símbol os do futuro planejado. Nas a rtes e na a rqui tetura , o moderno é consagrado, numa série de a venturas modernas como a cria ção dos Museus de Arte Moderna em vá rias capi tais. Em 1951, Francis co Ma ta razzo Sobrinho insti tui u a Bienal de São Paul o, e novos caminhos são abertos pa ra as a rtes plásti cas no país . É nessa nova a tmosfera da cons trução de uma nova na ção que ta mbém o âmbito da cul tural ofereceu suas inova ções formais ; no ei xo Rio-São Pa ulo, surge a Bossa Nova , o cinema é o Cinema Novo, a a rte e a poesia concreta assinalam, desse modo, modernas normas de ruptura (SANT’ANNA, s/d). Tra ça r pelo meio da Flores ta Amazôni ca uma linha reta que ligasse simboli camente a Região Norte à a gi ta ção cul tural das cidades do Centro-Oes te, mais desenvol vidas economica mente, como Rio de Janei ro e São Paul o, pa recia um projeto importante pa ra a modernidade de Belém. Por isso, muitos entendiam que era necessário fa zer a rodovia dentro do próprio terri tóri o na cional , unindo norte s ul, les te oes te, no sentido de se bus ca r novas rotas , novas possibilidades e novas a venturas . Toda via , ficou cla ro também que não existe mais uma única di reção para a modernidade e nunca existiu, de modo que, ao abri r novos caminhos pa ra a modernidade é perceber a destrui ção, o perigo, a ca tástrofe (BERMAN). Houve mui tos outros movi mentos (humanos , urbanos e regionais) que se ins taura ram nos anos 60 na capi tal do Pa rá e confi rma ram a inclusão da cidade num novo tempo nã o menos terrível e cheio de a ventura , que os es tudiosos chama m de modernida de. Nã o é objeti vo des ta pesquisa mapea r todos aspectos mais signi fica ti vos dessa trans forma ção do pensamento a rtísti co da cidade, mas certi fi ca r que se tornou vi gente uma 86 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 nova experiência de vida na cidade de Belém, nas entranhas da floresta ama zôni ca , e que de algum modo, ta rdio que fosse, houve repercussão dessa modernidade nas ideias e nos gestos locais. REFERÊNCIAS AMARAL, Aracy. Textos do Trópico de Capricórnio: artigos e ensaios (1980 – 2005)- vol. 1: Modernismo, arte moderna e o compromisso com o lugar. São Paulo: Ed. 34, 2006. BENJAMIN, Walter. Rua de mão única, obras escolhidas II. Trad. Rubens Rodrigues Torres Filho e Carlos Martins Barbosa. 5ª edição. São Paulo. Editora brasiliense. 1995. ____________________. Walter Benjamin: Sociologia. Organizador e Tradutor Flávio R. Kothe. Coordenador Florestan Fernandes. 2ª edição. São Paulo. Editora Ática. 1991. BERMAN. 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RESUMEN: El presente ensayo tiene como objeti vo Envisions algunos pensamientos sobre memorial ísti cas recuerdos que el tiempo se expresa en número de fotomontajes titulada O corpo encarnado 2 (2014), el a rtista Sanchris Santos . Estas obras reflejan de una manera única , el envejecimiento de la ma teria , el espaci o urbano. PALABRAS CLAVES: a rte; tiempo; Memoria . Considerações Iniciais Para que nossa memória se auxilie com a dos outros, [...] é necessário [...] que haja bastantes pontos de contato entre uma e outras para a lembrança que nos recordam possa ser construída sobre um fundamento comum. (HALBWACHS, 1990, p.34) A rela ção entre memória e recorda ção susci ta m pontos de referências que a realidade tra ta como tra ço ma rcante de um tempo reelaborado pela a rte a pa rti r da his tória . No conjunto de fotomontagens inti tuladas O corpo encarnado 2 (2014), da a rtis ta plásti ca Sa nchris Santos podemos visualiza r de manei ra representa ti va esses tra ços de memória a pa rti r do esboço, delineamento e impressão enquanto elemento sinalizante do tempo em rela ção as experi menta ções da vi da. Vale ressalta r que na a rte de Sanchris Santos os ves tígios e indícios são elementos fundamentais pa ra a reflexão memorialís tica proposta pelas fotomonta gens . Diante do expos to, observa mos que pa ra recorda r a lembrança de um passado fotografado pela memória foi indispensá vel trazer a ci taçã o a cima , pois segundo Mauri ce Halbwachs é necessá rio que fundamentemos nossas lembranças em auxílios di versos , que se funda m mediante uma rela ção signi fi cati va de cons truções pessoais e a feti vas pa ra que não nos cesse a vontade de lembra r. 40 Doutoranda e Mestre em Estudos Literários, ambos pe lo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Pa rá. Graduada em Letras pela Universida de Federal do Pa rá (UFPA). 89 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 É pensando sobre es te prospecto que o presente ensaio tem como objeti vo a reflexão a cerca das recorda ções memorial ísti cas que o tempo expresso no conjunto de obras da a rtis ta plásti ca Sanchris Santos (2014), reflete de manei ra singula r, o envelhecimento do sujei to no espaço-tempo mediante um tra balho de reelabora ção da ima gem do corpo expresso na a rte. Bus camos atra vés da a rte, observa r a representa ção da escri ta tendo em vis ta os tra ços que a envol ve em uma técni ca pa rti cula r. Veri fi camos que o a to de compor um objeto a rtísti co aba rca vá rias intervenções rela cionadas às normas e convenções de linguagem, que pa recem de fa to dis cuti r o pensamento críti co que envol ve as vá rias formas de a rte. Antes de ini cia rmos com as percepções acerca das obras i remos rapida mente fazer uma teoriza ção sobre a memória . 2. Alguns elementos constituintes do conceito de memória No texto intitulado O rastro e a cicatriz: metáforas da memória, Jeanne Ma rie Ga gnebin (2002), assevera que a escrita, letras, fragmentos de texto, rascunhos invadem as artes plásticas como se o gesto de gravar, rabiscar, bordar caracteres escritos ajudasse a reinventar os gestos miméticos tradicionais, como os de desenhar e de pintar, por sua vez totalmente colocados sob suspeita. E, como observou uma amiga curadora, a crítica especializada, quando tenta refletir a respeito das práticas artísticas contemporâneas, muitas vezes decifra, traduz, lê as obras, usando um vocabulário hermenêutico, mesmo filológico, tomado de empréstimo às ciências da escrita e do texto (GAGNEBIN, 2002, p. 128). Averi gua mos , mediante a afi rmaçã o propos ta por Gagnebin, que a escri ta meta rreflexi va advinda das a rtes , em pa rticular, das a rtes plás ti cas, é compos ta por tra ços e des cri ções temporais advi ndos da memória . Nesse sentido, o que Gagnebin define ser o emprés timo da es cri ta pa ra realiza r um tra balho com a memória ; podemos dizer ser de certa forma os tra ços memorialís ti cos mediados por uma linguagem simbóli ca de representaçã o que a a rte se apropria para poder representa r a di cção. Assim, a o fazermos um tra balho de revisi ta ção da memória a fim de aprimora rmos nossa percepção atra vés dos fra gmentos insinuantes que o conjunto de fotomonta gens inti tulados O corpo encarnado 2, da a rtis ta plás tica Sandra Sa ntos , esta mos de certa forma realizando uma via gem nos indícios ma rca dos pelos tra ços da memória que o espa ço-tempo permite reelabora r. Esse processo elaborado pelo tempo e representado pelo corpo é cons truído cons trói mediante a 90 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 decomposição/ou envelhecimento do corpo41 que a a rte expressa nas pinturas da a rtis ta representa. Outro a utor que propõe uma definição de memória é Jacques Le Goff (1990), pa ra ele [a] memória, como propriedade de conservar certas informações, remetenos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como passadas (LE GOFF, 1990, p. 423). A pa rti r dessa perspecti va cons tata mos que o estudo s obre memória está vol tado às questões rela cionadas à psique humana , assim como o a to de rememora r o passado a fi m de ressigni fica r o presente. De a cordo com o a utor, é a pa rti r dos fenômenos de memória , que tanto em seus aspectos biológi cos quanto psicológicos, que os resul tados de sis temas dinâ mi cos de organiza ções existem “na medida em que a organi za ção os mantém ou os recons titui” (LE GOFF, 1990, p. 424). Ainda segundo o autor há outra forma de memória ligada à es cri ta é o que ele define como “documento es cri to” que ao longo da história foi sendo apri morado desde as “tenta ti vas sobre osso, estofo, pele, como na Rússia anti ga ; folhas de pal meira , como na índia ; ca rapa ça de ta rta ruga, como na China ; e finalmente papi ro, perga minho e papel” (LE GOFF, 1990, p. 433). Diante disso, Le Goff ressalta que todo “documento tem em si um ca rá ter de monumento”. Pa ra o autor esse tipo de documento apresenta uma es cri ta mediante duas funções . A primei ra consiste no a rma zenamento de informa ções , que a tra vés do tempo e do espa ço permi te que se realize comunica ção, com isso, esse tipo de memória fornece ao homem um processo de “ma rca ção, memoriza ção e regis tro”. A segunda inci de em assegura r a passagem da esfera audi ti va pa ra a visual , com o intui to de “reexa mina r, reordena r, retifi ca r frases e a té pala vras isoladas”. Mediante o expos to, observamos ta mbém que o es tudo realizado por Le Goff a cerca da memória urbana, al vi tra a ideia de que “a cidade capi tal se torna o ei xo do mundo celes te e da superfície humanizada ” [pa ra o autor a ci dade se torna o ponto] “focal de uma pol íti ca da memória ” (LE GOFF, 1990, p. 434), ou seja , a cidade se cons titui enquanto centro e ponto de referência no processo de cons trução e re-elabora ção memorialís ti ca do espa ço urbano. Assim, as cidades permi tem, sobretudo, fei tos e fa tos na rrados nos mais di versos objetos a rtís ti cos que nos permi tem a tra vés da lei tura uma rela ção com a his tória que de 41 Neste caso o corpo aqui é pe nsado enquanto matéria orgânica que com o tempo se decompõe. 91 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 certa forma é ma téria prima pa ra o tra balho com a memória . Após este breve percurso pelos elementos cons ti tuintes da defini ção de memória , va mos agora as análises das qua tro fotomonta gens que compõem o conjunto de obras inti tuladas O corpo encarnado 2. Nosso maior objeti vo aqui é teoriza r a cerca das percepções que nos permi tem fazer uma relei tura da história e da memória narra da pelos tra ços e ves tígios do tempo que a a rtista plásti ca Santos buscou representa r. 3 - Análises das telas Fig. 01: Fotomontagem “Sem título” Figura 01: Obra do conjunto intitulado O corpo encarnado 2. Fonte: Acervo de Santos, 2014. A tela pode ser observada a tra vés de três aspectos . O pri mei ro aspecto observa do na fotomontagem aci ma é o trabalho com a cor. O vermelho pode ser lido como se fosse às pa rtes externas do corpo inci dentalmente sujei tas a maior a fluência sanguínea que o tempo tra ta de conges tiona r. Verifi camos que é uma cor no espectro visível cuja radia ção apresenta uma condição de prejuízo pa ra um i ndi víduo que percebe o tempo passar a tra vés do afoga mento da dor. O segundo aspecto observado na fotomonta gem é o espa ço tema tiza do pela janela, 92 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 nes te caso a janela está fechada o que i mpede a entrada de luz e a r, este aspecto nos permi te inferi r a seguinte lei tura, percebemos um corpo expos to a tra vessado pel o tempo e refletido pelo asfi xiamento do tempo sem ar, mergulhado na dor decompos ta pelo tempo da ma téria que combina redução com profunda al tera ção. O tercei ro aspecto di z respei to ao sombrea mento da cor bra nca visto de duas perspecti vas . Na primei ra o vermelho é mui to intenso, is to nos passa a ideia de que a memória do corpo ainda é vi va z e a segunda é são os trecos s ombreados de branco que passam a percepção de compor um conjunto de pequenos ins tantes que o tecido visual ainda não foi decompos to pelo processo de degenera ção. Fig. 02: Fotomontagem “Sem título” Figura 02: Obra do conjunto intitulado O corpo encarnado 2. Fonte: Acervo de Santos, 2014. A fotomonta gem ta mbém pode ser observa da a pa rti r de três aspectos. O pri mei ro fa z referência também à cor vermelha mais es cura que é visualizada como algo em processo de des gaste e ruína que o tempo tem feito o tra balho de deteriora r. O segundo aspecto que nos chama a atenção no processo de percepçã o é o fa to de que a a rtis ta plás tica Sanchris Santos trabalha r nesta obra com os ves tígios das pa rtes internas do corpo, a i mpressão que temos é que o objeti vo maior da representa ção é al cança r ou aproxi ma r a a rte da pa rte mais intima que é a essência. O tercei ro aspecto mos tra os indícios como forma de representa r os tra ços de 93 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 experi menta ção e vi vência. Eles servem de percurso no processo de aproxi ma ção da a rte com a realidade, uma vez que es te percurso pode ser fei to pelos ves tígios das relações entre vá rios tra ços que pa ra não serem perdidos necessita m da a rte pa ra traduzi -los. A cor bra nca no centro da fotomonta gem sus ci ta a ideia de representação da luz. Ela é provoca ti va em rela ção à manutençã o da memória. Podemos inferi r a ideia de que tal vez essa luz sirva como ma téria de cria ção e experimenta ção da a rtis ta, pois o bra nco representa entre outras coisas, a espi ri tualidade, pa z e fres cura , no que ta nge um reestabelecer do equilíbri o interior. Fig. 03: Fotomontagem “Sem título” Figura 03: Obra do conjunto intitulado O corpo encarnado 2. Fonte: Acervo de Santos, 2014. A fotomontagem também pode ser observada a pa rti r de três aspectos que contrasta m um limiar entre o tempo passado e o tempo presente. O primei ro fa z referência ao tempo passado em que a ima gem representa uma percepção de vá rios fragmentos de memória observados mediante vá rias perspecti vas . Na pa rte superior do lado esquerdo visto de frente verifi camos um espa ço li mitado pelo horizonte e reelabora ção de nossas memórias . O hori zonte, neste caso, nos permi te olha r o passado tendo em vis ta o plano em que a cor branca se encontra . Assim, veri fi camos que o hori zonte pode ser a possibilidade de preenchimento do va zio pelas memórias que por vezes a dor preenche. Outro aspecto que reelabora o passado é a porta , ela insinua a ideia de fa zer pa rte de um conjunto de 94 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 lembranças que podem ser inferidas atra vés da reflexã o de que tudo teve i ni cio ali, na quele luga r e nesse mesmo luga r foram vi venciados momentos e sensações di versas . O tercei ro aspecto es tabelece uma rela ção com o tempo presente em que a memória fotogra fa e ao mesmo percebe o definha mento do corpo que o tempo tra ta de definha r, na medida em que temos em vis ta a sucessão dos anos i nstaura dos no ins tante em que a a rte captura a i magem. A memória nes te caso realiza um trabalho de a rmazena mento, cuja efeti va ção é dada pela pluma gem da ima gem. Fig. 04: Fotomontagem “Sem título” Figura 04: Obra do conjunto intitulado O corpo encarnado 2. Fonte: Acervo de Santos, 2014. Nesta úl tima fotomonta gem observamos a memória da cidade a pa rti r do efei to da bri colagem de ima gens sobrepostas ancora das pela rela ção entre o presente e o passado, evidenciados pelas tonalidades de sangue que a gora estão mais es curos em função do processo de degenera çã o do corpo. Embora a cor bra nca ainda apa reça , veri fi camos que ela agora se apresenta com menos intensidade do a parece nas fotomontagens anteriores . Assim, o branco nes te caso, também pode está associado ao câncer que é uma doença degenera ti va , cujo tumor maligno a comete a des trui ção de todas as células do corpo. Tendo em vis ta es te elemento podemos inferi r também que nesta úl tima fotomontagem o branco persiste enquanto elemento de 95 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 ruína e destrui ção do sangue que antes era vi vaz a gora es tá totalmente contaminado e putrefa to, por esse moti vo o vermelho apa rece como uma cor quase que totalmente es curecida . Porta nto, observa mos que o vermelho e o branco são i ndícios cons tantes do a to de rememora r e reelabora r a dor de uma perda que o corpo vai representando no decorrer do tempo. Com isso, a a rte emerge nesse processo com a finalidade de coleta r e representa r o des gaste do corpo que só é possível de ser mapeado por quem se permi te a experimentaçã o do trabalho de tra dução e reelabora ção, das i mpressões memorialís ti cas, que o corpo encarnado em matéria aos poucos se flexiona e se subdi vide em espa ços de recordações42 que a memória tra ta de fi xa r. Mediante o exposto pensamos que as obras de Sanchris Santos são cri ti camente reflexi vas, pois elas permi tem problema tiza ções a cerca da história e da memória que o corpo cos tura no decorrer da vida . Dessa forma , o corpo enquanto suplemento pa ra a a rte realiza pequenos prospectos fragmentá rios dos espa ços . Ele permi te um processo meta rreflexi vo da matéria que o cons ti tui . Assim, refleti r sobre a a rte é na realidade uma forma de realiza ção do tra balho com a memória dos dados representa ti vos, pel os quais os tra ços e adornos a tribuídos pela a rtis ta Sanchris Santos, nos permi te uma possibilidade ou um modo de compreender as limi ta ções da vi da em rela ção ao corpo. REFERÊNCIAS ASSMANN, Aleida. Espaço da Recordação: formas e transformações da memória cultural. Traduçã o: Pa ulo Soethe. Campinas , São Paulo. Edi tora da Unica mp, 2011. GAGNEBIN, Jea nne Ma rie. O rastro e a cicatriz: metáforas da memória. Pro-Posi çóes - vol . 13, N.3 (39)- set./dez. 2002. HALBWACHS, Mauri ce. A Memória Coletiva. São Paulo: Vérti ce, 1990. LE GOFF, Ja cques . História e memória. Tradução: Berna rdo Lei tão [et al .]. 5ª edi ção Capi nas-SP: Edi tora da UNICAMP, 2003, p. 419. A ARTE MILENAR DA CERÂMICA MARAJOARA E TAPAJÔNICA: DESENVOLVENDO E VALORIZANDO A IDENTIDADE CULTURAL DO DISTRITO DE ICOARACI 42 Termo empregado por Ale ida Assmann. 96 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Ma ria Augusta Lima das Neves43 RESUMO: Es te a rti go apresenta uma dis cussão históri ca a cerca das i nfluências nas ofi cinas de produçã o da cerâ mi ca Ma ra joa ra e Tapa jônica pa ra o desenvol vimento local e valori zaçã o da identi dade cul tural na comunidade do Distri to de Icoara ci -Pa rá . Assim, i nves tigou-se as tecnologias utilizadas na produção da cerâ mi ca ma ra joa ra e ta pajôni ca e regis trou-se o trabalho da preserva ção do meio - ambiente para forma ção de uma cons ciência a mbiental , tendo em vista a valori zaçã o da cul tura local . Adotou-se nesse estudo uma pesquisa bibliográfi ca , his tóri ca e documental , as fontes consul tadas , pa ra efeti va ção des te es tudo se consti tuíra m de registros documentais como: decretos, leis, rela tóri os e disserta ções . Utili zou-se a técni ca de observa ção assistemáti ca e análise dos registros i conográ fi cos , visando o des velamento das contri bui ções que es tes vêm proporciona ndo à comunida de. Como resul tado dos es tudos realizados, consta ta ram-se no tocante as ola rias, pois es tas se consti tuem i nstrumentos que propi ciam o desenvol vi mento local bem como a consolidaçã o da identidade cul tural do Dis tri to de Icoa ra ci . PALAVRAS-CHAVE : Desenvol vi mento. Cul tura . Identidade. Mei o-a mbiente. ABSTRACT: This presents articles analysis the influences of the Marajoara and Tapajônica ceramic teaching to the local development and to value the cultural identity of the ceramista in the community Paracuri, Icoaraci District in Pará. To take the information it was identified the teaching forms in the workshops to capacitating the students, investigating the technologies used to produce Marajoara and Tapajônica ceramics and registered the environmental preservation politic to form an environmental conscience valuing the local culture. It was used a bibliographic, historic and documental research aiming to analyze the contribution of these facts to the community. The information were obtained by bibliographic research and by documents like the politic-pedagogic project, laws, decrees, reports and papers. Agreeing to the obtained information it was contacted that the workshops give abilities and competences in different forms of ceramic to the students. So it´s concluded that these teaching and cultural activities offer to the Icoaraci Community the possibility to integral student´s formation qualifying them to the job and to the local development. KEY-WORDS: Development. Cul ture. Identi ty. Envi ronmental . CONSIDERAÇÕES INICIAIS O estudo vi nculou-se a investi ga ção das a ti vidades desenvol vidas nas ola rias localizadas em Icoa ra ci , especi fi camente, no Bairro do Pa rcurí, centro de referência de produçã o da cerâ mi ca Ma ra joa ra e Tapa jôni ca. A pesquisa visa identifi ca r como a produçã o de cerâ mi ca contribui no desenvol vimento local e na val oriza ção da identida de cul tural da comunidade do Dis tri to de Icoa ra ci/Pa rá . Evidenciara m-se também as di versas formas e es tilos que estã o sendo trabalhadas na 43 Mestra em Gestão e Desenvolvimento Regional, Especialista em Gestão Escola r, Coordenadora pedagógica da SEDUC, professora da ESMAC, Conselheira da Câmara de Legislação Normas e Planejamento (CLNP) do Conselho Municipal de Educação - CME Ananindeua. Email: [email protected] [email protected] 97 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 a rte do fa zer cerâmi ca ma ra joa ra e tapa jôni ca des velando esses fa zeres e saberes que visam assegura r o desenvol vimento e preserva çã o da cul tura local, uma vez que es ta se tra duz como referencia históri ca de uma cul tura milena r. Percebeu-se com isso a necessidade do desenvol vi mento de um es tudo bibliográ fi co, his tóri co e documental sobre i dentidades e cotidiano dos a rtesãos de Icoa ra ci, cujo trabalho es tá sendo opera cionalizado nas olarias do Pa racuri , procurando pontua r a dinâmi ca das rela ções sociais e os di versos espaços de produção dessa cerâmi ca . Assim, es te es tudo, consiste na importância de registra r as ati vi dades efeti va das nesses espaços como forma de contri bui r pa ra o a cervo antropológi co local , nacional e internacional. Uma vez que a inves ti gação i ncidiu-se por delinear as al terna ti vas pa ra o desenvol vi mento sus tentá vel , que em se tra tando de um panora ma mundial é um problema que envol ve a todos. O espa ço denominado Pa ra curi , surge como perspecti va de desenvol vi mento tanto no campo educa cional, econômi co, social e cul tural , quanto na geraçã o de emprego e renda pa ra a comunidade em seu entorno. Cons ti tuindo-se nas pala vras de Souza (2002) em um espa ço de estudo, pesquisa e extensão pa ra as di ferentes á reas do saber como, a antropologia, sociologia , ciência pol íti ca, ciência econômi ca , a rqui tetura , engenha ria quími ca , educa ção a rtís ti ca e outros . Nessa perspecti va tornou-se impres cindível o reconhecimento pela sociedade do espa ço do Pa ra curi como um ambiente, que necessita ser preservado, para que a cultura o desenvol vi mento local e a sustentabilidade possam ga ranti r os di reitos fundamentais do homem. Es te tópi co evidencia as dis cussões das teorias dos autores que fundamenta ram a pesquisa. Nessa dis cussão fa z-se a confluência de idéias sobre o tema em es tudo ini ciando pela análise da ca ra cteri za ção do local da pesquisa dando ênfase no res gate históri co, social e cultural do Distri to de Icoa raci , em seguida aborda-se a tra jetória da cerâ mi ca utilitá ria , a rtísti ca . Outro ponto de análise é o processo de confecção da cerâ mica , no qual se des creve as vá rias etapas da produçã o. A segui r focaliza-se a i mportâ ncia da cul tura dos ri tuais, das lendas e das religiões que contribuem pa ra o desenvol vimento l ocal e final mente dis cutemse os impa ctos a mbientais da ba cia hidrográfi ca do iga rapé do Pa ra curi , Belém-Pá . 98 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 2 - RESGATES HISTÓRICOS, SOCIAIS E CULTURAIS DO DISTRITO DE ICOARACI Icoa ra ci possui aproxi madamente 320.000 habi tantes . Sua l ocalização pri vilegiada às ma rgens do Rio Pa rá , com a Bacia do Ma ra jó lhe confere ca ra cterís ticas especiais. O Distri to de Icoa ra ci si tua -se a 18 km do centro de Belém, é exemplo de um modo de vida regional , representado por uma di versidade de paisagens , de ati vi dades, de hábitos e cos tumes peculiares . Nas úl timas décadas, foi desenvol vida a cul tura da cerâ mica i cora ciense, répli cas das pri mi ti vas peças ma ra joa ras e tapa jônicas e outras . Pela fa cilidade de aquisição de a rgila e pela grande a cei taçã o do produto no mundo intei ro, a produçã o do a rtesana to a cabou se tornando uma i mportante a ti vidade social e fina ncei ra, passando a ser fonte de renda pa ra mui tas fa mílias, contribui ndo assim pa ra o desenvol vimento do Dis tri to. Pensando assim Fi guei redo e Ta va res (2006, p.27) ressaltam: Se o autor consegue traduzir todo o deslumbramento provocado pelo contato com a cerâmica produzida na Ilha de Marajó no século XIX, é mister citá-lo na história de Icoaraci, pois segundo Mestre Cabeludo, em entrevista realizada em 1996, foi no livro “Planícies Amazônicas” de Raimundo Moraes, que encontrou a referência de um exemplar de uma urna indígena, mudando a partir daí os caminhos da produção de cerâmica em Icoaraci. Sendo assim, observa-se que ao longo de sua trajetória históri ca a cerâ mi ca que ini cialmente tinha um ca rá ter mera mente utili tá rio, com o a vanço tecnológi co esta produçã o passou a a tender novas demandas sociais, de ca rá ter cul tural , como mercado i nterno e externo. 2.1 A Cerâmica utilitária e artística A a rte da cerâ mi ca segundo Cos ta (2002) é um capítulo a pa rte na história de Icoa ra ci , é um aspecto cultural de suma i mportâ ncia, por retra ta r o eixo da cul tura pa raense, hera nça de seus antepassados que em mãos talentosas fora m se transformando em verdadei ras obras de a rte. Assim, a tra di ção indígena e a herança dos col onizadores europeus , especialmente os portugueses, são fortes e ma rcantes nas peças produzidas pelos cera mistas locais . Vale ressalta r que antes do Distri to de Icoara ci se torna r localidade produtora de cerâ mica Ma ra joa ra , já se produzia um tipo de cerâ mi ca destina da ao consumo local , 99 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 conhecida como: bilhas, potes , pra tos, panelas Essa não tinha um valor a rtísti co, e sim valor utili tá rio. Esse tipo de cerâ mi ca era produzida em ola rias. Xa vier (2000, p.35) em sua pesquisa acadêmi ca mos tra como surgi ram às pri mei ras ola rias com suas respecti vas fi nalidades. Nos idos de 1710, os Ca rmeli tas Cal çados monta ram uma ola ria pa ra fabri ca r telhas e ti jolos a serem usados nas obras do Convento e a té pa ra a comercializa ção. Qua ndo do seu es tabelecimento l ocal, os Ca rmelitas reuni ram os olei ros da época e ga ranti ram que o esforço deles teria um preço de mercado, da va -se início à cerâ mi ca comercial . Em 1909, o espanhol João Croelhas trouxe pa ra a Vila de Pinhei ro a produção da cerâ mica lisa utilitá ria. Essa fa mília es tá na 5ª gera ção de a rtesãos. Mui tas outras famílias sitiadas à ma rgem do Iga rapé do Li vra mento se dedi ca vam a esse tipo de cerâmi ca . Es ta cerâ mica vai predomina r a té o início da déca da de 60 quando se ini cia uma nova fase de produçã o cerâ mi ca, já no estilo Ma ra joa ra . Pa ra Dalglish (1996), verifi cou-se que essa nova fase da cerâmi ca em Icoa raci , só ga nha verdadei ra representa ti vidade com os tra balhos de “Mes tre Ca rdoso”, no início da década de 70 quanto es te passa a reproduzi r os ori ginais das peças ma ra joa ras que fazia m pa rte do a cervo do Museu Emílio Goeldi . É i mporta nte a forma ção de valores quanto à produção de uma cerâ mica de qualidade que retra te o compromisso do a rtesão não somente com a comercializa ção, mas , também com a preserva ção da i magem da cul tura expressa nas peças produzidas. Essa misci gena ção de tra ços culturais dá origem a uma cerâ mi ca tipi camente i coa ra ciense al tamente consumida pela popula ção local, não se tra ta de réplicas , pois , agrega m os tra ços indígenas milena res, os moti vos florais esta mpados em vasos modelados com as formas tra di cionais da cerâ mi ca ama zônica . Seus desenhos retra tam o sol , a lua , as montanhas, rios e outros elementos. Esse ma rco da cerâmi ca ma ra jora e ta pajôni ca em Icoa ra ci segundo Xa vier (2000) e Dal glish (1996) contou com a pa rti cipa ção de duas figuras ilus tre no mundo dessa a rte, o “Mes tre Cabeludo” e “Mestre Ca rdoso”, os dois já falecidos , ca da um dentro de seu es tilo, fora m considerados os “renascentistas ” da cerâ mica ma ra joa ra no Dis tri to de Icoa ra ci . A cerâ mi ca Ma ra joa ra e Tapajôni ca são consideradas uma a rte milena r. A ci viliza ção ma ra joa ra não dei xou pa ra pos teridade ci dades e obras a rqui tetôni cas , porém legou uma 100 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 cerâ mica pela qual pode ser reconstruída toda a sua história . O desenvol vimento da cerâ mica , com o passar dos anos , apresentou uma evolução es téti ca , técni ca e econômi ca que na contemporaneidade ampliou as frontei ras da confecçã o cera mista ma ra joa ra . Pa ra des crever essa tra jetória em Icoa ra ci , Souza (2002, p.41), ressalta : o artesanato de cerâmica marajoara com novos traços, surgiu quando Antônio Farias Vieira, pintor de letras, mais conhecido como Cabeludo vindo da Cidade da Vigia para Icoaraci um dia folheando o livro intitulado” Na Planície Amazônica”, de autoria de Raymundo Moraes, deparou-se com fotografias de peças de cerâmica indígena marajoara. Que mesmo não sabendo moldar peças em torno resolveu reproduzir, e com isso inicia uma nova fase da cerâmica em Icoaraci. As peças antes utili tá rias, lisas e sem pinturas passara m a ceder espa ço à cerâ mica a rtísti ca com gra va ções e desenhos, as mudanças ocorridas na produção des ta nova era no saber fazer cerâmi ca , onde surgem novos tra ços e um colori do ainda desconhecido nas peças tradi cionais pelos ceramis tas. Sã o poucos os a rtesãos que domina m o saber-fazer des tas peças, pois as répli cas exi gem um conhecimento mais aprimora do em ca da uma das etapas de produção, bem como há toda uma seleti vidade nas técni cas de pintura envelhecida , a tenção aos detalhes como o ta manho e espessura das bordas, al ças e outras observa ções, es tas peças são as mais valorizadas tanto no aspecto econômico como no social. Pa ra a dentra r por esse mundo de tra çados e formas se fa z necessário o conhecimento minucioso do local em que se desenvol ve essa ati vidade a rtesanal - o bai rro do Pa racuri em Icoa ra ci . Este é entrecortado pelos i ga rapés do Uxi , Pa ra curi e Li vra mento, rios que corta m a região e são considerados de suma importância pa ra a comuni dade ba rrei rense denomina ção a tri buída às pessoas responsá veis pela extra ção, benefi ciamento e comercializa ção da a rgila, a ti vidade de onde vêm à sua sobrevi vência . Atualmente, a produção de cerâmi ca do Pa ra curi se di versi ficou e a mpliou, o que antes era produção de peças utilitá ria , lisa e tradi cional, hoje se produzem peças es tilizadas , de estilo vereda . Es te es tilo migrou do sudes te brasileiro, no final da década de 80, ca ra cteriza ndo-se pela pintura com diferentes tonalidades, formando uma paisagem indefinida aplicada à superfície das peças lisas. O a rtis ta, por sua vez, embora trabalhe com suas mãos , não opera pa ra cria r al go utili tá rio, segue um impulso da i magina ção, que o leva a produzi r al go distinto do que 101 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 habi tual mente é fei to, colocando a ori ginalidade entre suas ca ra cterísti cas . Observa -se no comentá rio da autora a distinção que há entre o fa zer do a rtesão e do a rtista es te úl timo desenvol ve a cria ti vidade na produçã o de suas peças sem a preocupa ção do seu ca ráter utili tá rio. Nessa di ferença entre as a ti vidades opera cionais do a rtesão e do a rtis ta fi ca evidente o tra balho ma nual do primei ro e a preocupa ção es téti ca do segundo. Vi ves (1983) concei tua o a rtesão tra di cional como aquele que emprega e transmi te, em seu trabalho, valores técni cos e si gnos amadurecidos e a cei tos no sistema cul tural a que pertence. Nes te contexto a autora reconhece a importância do a rtesão tra di cional pa ra a sociedade, uma vez que se torna o interprete das técni cas herdada dos seus antecessores . Outro ponto a dis correr nesse es tudo se refere às fases percorri das pelo a rtesão na confecçã o das peças . 2.2 O Processo de Confecção da Cerâmica O processo de confecção da cerâmi ca percorre di versas fases a começa r pela reti rada da a rgila das falésias as quais têm uma va riedade de cores, os locais de fabri ca ção estã o localizados na ilha do Outei ro, próxi mo de Icoa ra ci . Na ma rgem dos rios encontram-se as jazidas de argila matéria -pri ma pa ra a confecção das peças de cerâmi ca . A primeira fase desse processo refere-se ao tra nsporte da a rgila pelos barrei renses pessoas responsá veis pela extra ção, benefi ciamento e comercializa ção da a rgila, a ti vidades da qual obtêm a sua sobrevi vência. Ainda hoje, os ba rrei renses enfrenta m difi cul dades de acesso ao ba rrei ro, que está situado em á rea de i gapó, cortada pelos rios e iga rapés . Eles necessita m de força físi ca pa ra extrai r o ba rro e deslocá-lo para a canoa e des ta pa ra os furos de desca rregamento. Nela há três furos de desca rregamento: des tes furos o ba rro é tra nsportado pa ra o benefi ciamento. As pesadas “ba rras”, ganham forma após o corte fei to com uma pá cha mada “bas tilha”. A segunda fase a a rgila passa por um processo de limpeza e puri fi ca ção, quando é observado a qualidade e o ponto de seca gem dessa a rgila . Tem início o processo de purifi ca ção, quando a a rgila passa por uma máquina de tri tura ção e pela seleção em peneiras , extraindo as impurezas como raízes , bolhas de a r que prejudi cam o a cabamento das peças. 102 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 A terceira fase é des tinada ao leva ntamento da peça a qual é fei ta em vá rias etapas. Ini cialmente se fa z a defini ção do volume de a rgila a ser utili zado para a mesma , a plicandose a es cala que determina rá a al tura da peça ; em seguida a a rgila é aprumada no torno em rota ção lenta. Esse levantamento é fei to em vá rias seções , obedece à sensibilidade e ha rmonia com a rota ção do torno. A quarta fase, a pós a peça ter passado por um período de seca gem ao a r li vre, ini ciase esse processo denominado de agrega ção, que consiste em a grega r vá rios valores as peças . Como o próprio nome sugere se ca racteri za pelo uso de moti vos fol clóri cos do ima giná rio pa raense e de es tudos his tóri cos dos a chados a rqueológi co, nes te momento sã o inseridos os a cessórios que completam a peça como al ças, tampas e outros. O processo de gra vura é outra etapa qua ndo a peça ainda úmida recebe das mãos do desenhista os tra ços . É o trabalho que consis te na composi ção ha rmoniosa da peça , considerando a la rgura e a profundidade de tra ço a dequado pa ra o conjunto. São usados es tiletes , compassos, trans feridor, prumo, es cala flexível para prepa ra r a peça antes da queima . Es ta etapa é importante pa ra que a peça possa posteri ormente receber o engobamento que co9nsiste no processo em que a peça passa antes da queima, é envol vida por um l íquido de a rgila branca ou vermelha Só após o engodamento é feita a seleção das peças pa ra o enfornamento. Após a seleção das peças, es tas são organizadas no forno que é coberto com ca cos de telhas, o qual deve es ta r com a tempera tura entre 750ºC a 1000ºC e o tempo de quei ma , va ria entre oi to a doze horas as peças são assadas em fornos de forma primi ti va . Terminada a queima há a necessidade de que o resfriamento das peças se dê paula tinamente durante, pelo menos , o mesmo tempo de sua dura ção. Só após a tempera tura bai xa r a té cerca de 200o C é que se poderá entreabri r a porta do forno. Só a pós es te processo as peças es ta rão prontas pa ra receber a pintura . A quinta fase des tinada à pintura final das peças é fei ta de a cordo com o es tabelecido na qualifi ca ção ini cial, objeti vando pos teriormente a comercializaçã o. Sem al tera r as ca racterís ti cas da imagem ori ginal da cerâmi ca Ma rajoa ra e Tapajôni ca , o a rtesão a es tiliza dentro da nova visão contemporânea i coa raciense. 103 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 A produção de réplicas ou peças com detalhes do gra fismo da cerâmi ca tapajôni ca ou ma ra joa ra cumprem um papel singula r de di vul ga ção dessas culturas milena res que desapa receram, dei xando sua identidade i mpingida na cerâmi ca . Dentre as fases classificadas pelos a rqueólogos desta ca m-se: Fase Marajoara: fase que teve dura ção aproxi madamente entre 400 a 1350 d.c. na qual os povos ma rajoa ras torna ra m-se conhecidos pela produçã o de uma cerâ mi ca al tamente elaborada . Esses povos cria ram e desenvol vera m a técni ca de excisão (relevo), empregada na produção de peças de cerâ mi ca, tanto pa ra o uso domés tico como ri tual ísti co. Entre suas peças , nas quais aplica va m desenhos alta mente elaborados e sofisti cados , sobressaem às tangas, urnas funerá rias, vasos e es ta tuetas. Esse povo desapa receu por vol ta de 1530 d.c., dei xando um legado ines timá vel de sua arte. Fase Aruã: que vai de 1350 a 1820 d.c, coincide com a chegada dos portugueses ao Brasil . O coloniza dor encontrou na ilha de Ma rajó uma cerâmi ca pobre, sem qualquer resquício da beleza que ca ra cteri za va as peças da fase Ma rajoa ra . Os a ruãs produzi ra m uma cerâ mica simples , quase sempre utilitá ria desprovida de formas ou ca racterís ti cas próprias . Foram encontrados vasos a ruã associados a pequenas contas de vidros de origem européia , o que veio confi rma r o conta to daquele povo com os portugueses . Segundo Mes tre Ca rdoso (1996), a cerâmi ca Ma ra joa ra foi e ainda é al tamente disputada pelos pesquisadores e colecionadores de todo mundo, pois os melhores exempla res estã o hoje em museus interna cionais, levados por a rqueólogos es trangei ros quando em visi ta ao Museu Emilio Geldi , o que se confi gura na a cei ta ção dessas obras . Expli ca-se, portanto a milena r tradi ção da cerâmi ca nessa á rea , devido à facilidade de a cesso à ma téria - pri ma pa ra confecção de peças de alta qualidade na região. A segui r fa z-se o des velamento desse patri mônio natural que exerce grande influência na manutenção da cul tura , ri tuais , lendas e religiões no desenvol vimento local . 2.3- Cultura- rituais- lendas e religiões: contribuindo para o desenvolvimento local A pluralidade sócio-cul tural es tá presente no contexto de Icoa ra ci , a presença do cabocl o a mazôni co, dos portugueses, dos negros e índios é mui to forte tra zendo pa ra essa popula ção uma di versidade que ao longo dos anos foi sendo a gregada a cul tura local podendo-se di zer que ali foi gerado um hibridismo cul tural , que impera no cotidiano. 104 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Atualmente o mundo vi ve um processo acelerado e devas tador, preserva r o passado é fundamental , pri ncipalmente num país como o Brasil onde a cultura é tão di versifi cada . Afi nal resga ta r a história cul tural de um país é fundamental pa ra que as novas gera ções tomem conheci mento de sua identidade. O povo brasileiro possui uma cultura popula r ri ca e di versi ficada . Sua identidade tem ori gem em vá rias raízes , é dessa pluralidade que surgi ram manifes ta ções cul turais que refletem nossas ori gens . Em todo país exis tem as mais diferentes cul turas , entretanto mui to já se perdeu pela ausência de regis tros his tóri cos, mas permanecem vi vas na memória do povo. Segundo Guima rães (1996) “Vila Sorriso” é um espa ço em que mui tas mani festa ções da a rte popula r se mantêm e se enriquecem, numa sucessão incessante de a rtistas e produtores de cultura , que vão além da a rte de fazer cerâ mi ca à dança do ca ri mbo, passando pelas festas de santos , dos cordões de pássaros, bois -bumbás, de todas as formas do i maginá rio da Ama zônia . Expli ca-se, portanto a necessidade de cria r-se mecanismos pa ra tra ta r essa cul tura como um patri mônio. E a cima de tudo faz-se necessário realiza r pesquisas sobre essas obras. Porta nto entende-se que todas as mani festa ções cul turais do dis tri to de Icoa ra ci, são fundamentais pa ra o desenvol vimento local e conseguintemente regional uma vez que es tas contribuem pa ra gera ção de emprego e renda bem como pa ra a preserva çã o da cultura . 2.4 - Impactos Ambientais da Bacia Hidrográfica do Igarapé do Paracuri, Belém-PA A degrada ção do meio a mbiente tem sido moti vo de cons tante preocupa ção por pa rte da comunidade, das autoridades dos órgãos responsá veis pelas pol íticas públicas ambientais, bem como os meios de comunica ção que denunciam prá ti cas devas tadoras noci vas no planeta . A ba cia do iga rapé do Pa racurí está situada no Dis tri to de Icoa ra ci , o qual faz pa rte da Região Metropoli tana de Belém, es te é um exemplo da degrada ção de suas á reas alagá veis e dos problemas sóci o-a mbientais, onde os mora dores das ci rcunvizinhanças sofrem com as mudanças a mbientais como também são responsá veis pela mes ma. As áreas de vá rzea des ta ba cia apresentam-se como um dos aspectos a mbientais 105 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 mais explorados e degradados, consequência do aumento popula cional desordenado concentrando-se as ma rgens dos rios e de seu entorno, contribuindo para a deteriori zaçã o da á rea . Os a terros fei tos com ca roços de a ça í, li xo e extra ção de a rgila nas ma rgens dos afluentes do Pa ra curi , são fa tores que contribuíra m pa ra o a celerado processo erosi vo nas á reas alagá veis da ba cia . Embora , não exis ta uma gra nde concentra ção de indús trias e empresas nas ma rgens do Pa ra curi , os es gotos domés ti cos são os gra ndes vilões responsá veis pela polui ção da á rea , por serem consequências da fal ta da rede de esgotos de saneamento básico e coleta de li xo no local, observa -se que gra nde pa rte da popula ção que reside nas ma rgens dos i ga rapés constroem sani tá rios sobre o leito do rio, corrobora ndo a concepção de que o rio é um depósito de li xo a céu aberto. Os di vers os usos que a população fa z da á gua do Iga rapé, quer seja pa ra o uso domés ti co, quer seja pa ra outras ati vi dades, resul ta na produção de res íduos líquidos , os quais vol tam nova mente ao a mbiente por meio do ci clo hidrológi co, causando poluiçã o tanto das águas superficiais quanto das á guas subterrâneas. 3- Procedimentos metodológicos No tocante a organi za ção deste estudo, a pesquisa bibliográ fi ca e documental possibilitou o leva ntamento de documentos como Leis Ambientais, Anuári o Es ta tísti co, documentos estes funda mentais pa ra a análise do contexto pesquisado. A pesquisa explora tória propi ciou o conhecimento de todas as etapas do processo de produçã o das peças de cerâ mi ca produzida pelos olei ros do Pa ra curí. Pa ra investi gaçã o dessa realidade utilizou-se a técni ca de observa ção assistemá tica por não exigi r do pesquisador, ins trumentos previamente es truturados e registros i conográ fi cos possibilitando maior liberdade na explora ção e documenta ção da realidade inves ti gada. 3.1 Discutindo os Resultados da Pesquisa Tra tando-se de uma pesquisa históri ca – documental se fez necessário à utiliza ção de registros documentais dos a rqui vos das insti tui ções públi cas consul tadas, nas quais foi consta tada por meio de observa ção a ca rência de fontes documentais sobre o tema em foco. 106 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Isso de certa forma comprometeu os resul tados des te es tudo, quando tentou-se retra ta r na sua totalidade o contexto da realidade inves tigada , entretanto os da dos coletados exis tentes servi ra m de subsídios pa ra responder os objeti vos propos tos . Como resultado deste es tudo conclui -se que: - A herança dei xada pelo mestre Raimundo Ca rdoso é considerada um ma rco na história da cerâ mica ama zôni ca no Es tado do Pa rá ; - A produçã o da cerâ mica vem assegurando a cul tura e o desenvol vimento local ; - Prepara ndo o caminho pa ra um processo de s ustentabilidade, por meio da intera ção do homem com o meio ambiente e a cul tura , preserva ndo a biodi versidade e a pluralidade cul tural . - As olarias se cons ti tuem um espa ço de cons trução de novos saberes , agregado aos saberes his tori camente cons truído. - A pers pecti va de gera ção de emprego e renda . Considerações finais Com base nos resul tados obtidos na pesquisa conclui-se que as olarias localizadas no bai rro do Pa ra curí – Icoa ra ci tem contribuido pa ra alavanca r o desenvol vi mento local a o mesmo tempo em que preserva a cul tura l ocal atra vés da produçã o de répli cas de vá rias peças , que são comercializadas entre a popula ção local e a té mes mo de outros estados e pa íses, es te fa to, deve-se a grande a cei tação da produçã o das peças de cerâ mi ca Ma ra joa ra e Tapajôni ca. Outro fa tor relevante é a preocupa ção com a degrada ção do mei o a mbiente que tem sido moti vo de cons tante preocupa ção por parte da comunidade, das autori dades dos órgãos responsá veis pelas pol íti cas públi cas a mbientais. A a rte da cerâmi ca é uma ma téria a pa rte na história de Icoa ra ci , é um aspecto cul tural de s uma importância , por retra ta r o ei xo da cul tura pa raense, herança de seus antepassados que em mãos talentosas foram se trans formando em verdadei ras obras de a rte. Porta nto, es te es tudo embora seja da maior relevância não es gota a temá ti ca ora pesquisada, as la cunas aqui exis tentes servi rão de moti va ção pa ra novas pesquisas que i rão responder a novas i ndaga ções . REFERÊNCIAS 107 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 COSTA, Raimundo Augusto Ta va res da . O Liceu-Escola de Artes e Ofícios Mestre “Raimundo Cardos o” e os Impactos no Trabalho Artesanal dos Oleiros. DALGLISH, Lalada. Mes tre Ca rdoso: a arte da cerâmica amazônica. Belém-Pa rá . Del ta , 1996. FIGUEIREDO, Sil vio Li ma e TAVARES Auda Piani , Mestres Ceramistas. Belém: EDUFPA, 2006 GUIMARÃES, Juni or. Icoaraci: A monogra fia do Mega Distri to. Belém-Pa . Del ta 1996 LAKATOS, E. M. e MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. Sã o Paulo: Atlas, 1991. SOUZA, Ma rzane Pinto de. Olarias do Paracuri: cotidiano e espa ço simbóli co 2002. 67 fol . Disserta ção de Mes trado apresentada ao curs o de Antropologia da Uni versidade Federal Fl uminense, 123 fls . VIVES, Vera de, “A Beleza do Cotidiano. In RIBEIRO, Berta (org) O Artesão tradicional e seu papel na sociedade contemporânea. Ri o de Janei ro: FUNARTE/Ins tituto na cional do Fol clore,1983, p.133-148 XAVIER, Leandro Pinto. Fazendo Arte: a rela ção entre o valor simbóli co e o valor utili tári o da cerâ mica o Distri to de Icoa ra ci-Pa . 2000, Disserta ção de Mes trado a presentado a o Curso de Ciências Sociais da Uni versidade da Amazônia UNAMA, 108 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 RESENHA SOUZA, Roberto Acízelo de. A Insti tui ção dos Es tudos Li terá rios no Brasil. In: SOUZA, Roberto Acízel o de. O Império da eloquência. Rio de Janei ro, RJ: EdUERJ/EdUFF, 1999. p. 17-37. Veridiana Valente PINHEIRO44 No texto “A Ins ti tui ção dos Es tudos Li terá rios no Brasil” Roberto Souza (1999), faz um es tudo mediante o processo de des cri ção dos elementos que contri buíram pa ra a ins taura ção da ins ti tui ção dos es tudos li terá rios no Brasil. A pesquisa de Souza tem como fonte a produçã o dos autores José Veríssimo, Arthur Motta , Antônio Câ ndido, José Aderaldo Cas telo e Wilson Ma rtins . O período contemplado pela pesquisa de Souza são os séculos XVII e XVIII. Embora o a utor afi rme que é no século XIX, “que a a ti vidade intelectual geralmente resumida a expressão crítica literária ganha entre nós seu contorno pleno” (SOUZA, 1999, p. 17), Souza , admite que as manifes ta ções li terá rias tem ini cio com os es tudos seiscentis tas e setecentistas . Dessa forma a i nves tiga ção do autor bus ca si tua r panorami camente a produçã o desse período, a pa rti r de três elementos : as a cademias, os poetas e o ensino. Respecti va mente apresento os três elementos des cri tos por Souza . O pri mei ro apresenta diz respeito a ideia de que era comum no século XVII “a congrega ção de intelectuais em insti tui ções cha madas a cademias ” (SOUZA, 1999, p. 18), uma vez que as colônias refletiam a prá ti ca renas centis ta da Europa , mais especifi camente da Itália. Assim, no Brasil, a palavra a cademia se jus tifi ca pela função que es te termo tinha , pois o lugar é utilizado pelos autores para que pudessem proferi r discursos e elogios em louvor de al guém e ta mbém a decla maçã o de poesia. Vale resalta r que esses eventos eram fei tos de manei ra isolada, seja pa ra homenagea r uma autoridade, seja pa ra eventos religi osos. Os resulta dos dos mesmos eram forma tados e publi cados . De a cordo com Souza as a cademias tinha m interesses em um campo de estudo amplo, principalmente os campos : poesia, his tória e ciências na tureza . Além disso, as a cademias no Brasil tinham interesse por temas de forma tação cultis ta e científi ca . A título de dado históri co Souza des creve a ins taura ção das a cademias em diferentes es tados do Brasil, elas são da tadas entre os anos de 1752 (Academia dos seletos no Rio de 44 Doutoranda e Mestre em Estudos Literários, ambos pe lo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Pa rá. Graduada em Letras pela Universida de Federal do Pa rá (UFPA). 109 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Janei ro) a 1810 (Sociedade Bahiense dos Homens de Letras). Essa cronologia temporal dei xa cla ro nes te primei ro momento o período dema rcado por Sousa nes te texto. Pa ra Souza essas a cademias se formara m mediante um “espíri to associa ti vo da a ti vidade intelectual”, cujo propósito consistia em um programa de trabalho intelectual coleti vi zado dos “Acadêmi cos Renas cidos ”, com dis tribui ção de ta refas entre os associados e produçã o indi vidual dos mesmos . Este prelúdio apresentado por Sousa sobre as a cademias toma como base José Aderaldo Castelo que afi rma “i mpunha-se severa dis ciplina e censura aos trabalhos dos sóci os: não podiam di vulgá -los sem a permissão da Academia ” (CASTELO, p. 306 a pud SOUZA, 1999, p. 19). Com essa afi rma ti va , Souza mos tra o quanto o controle da produçã o indi vi dual dos associados dessas a cademias setecentis tas era ri goroso e os tensi vo em rela ção a disciplina e a censura . Por outro lado José Veríssimo, de a cordo com Souza , apresenta uma cri ti ca pautada mais de censura do analíti co, ou seja , “os pri meiros ensaios fora m [...] apresentados sôbre trabalhos sujei tos à sua aprecia ção. Continua va m êsses pa receres a cos tumes português ” (VERÍSSIMO, 1916, 270-1 apud SOUZA,1999, p. 19). O posi cionamento de Veríssimo com rela ção as Academias dos Renascidos, abre alguns ques tionamentos apontado por Souza, quando ele afi rma que “orienta r a retóri ca clássica não era , no século XVIII brasileiro, a ti tude perfei tamente a finada com os valores da época. Concordo com o questionamento de Souza , em rela ção as modalidades formais os tensi vas que os membros das a cademias se submetiam, as regras cons tituídas com tom ri goroso foram necessá rias pa ra as forma ções dessas a cademias; contribuindo assim pa ra o que hoje temos como produção li terá ria. O segundo elemento nomeado por Souza di z respei to a o papel dos poetas, cujo levanta mento surge com a emergente cri tica de Veríssimo comentadas anteriormente. Souza ci ta três poetas : Sil va Ava renga, Claudio Manuel da Costa e Bas ílio da Gama , es tes representam singula rmente a críti ca em rela ção ao papel dos poetas setecentis tas. As obras desses poetas refletem os princípios , os es tilos, e as teori za ções versifi cadas da cri ti ca li terá ria do período ci tado. O úl timo elemento que serve de base pa ra analisar a produção literá ria desse período é a papel do ensino, cujo propósito diz respeito a o ensino eclesiásti co, com vis tas a o processo de doutrina ção dos cristã os novos pelos jesuítas. O ensino utilizado pelos jesuítas 110 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 era pa rti culari zador tendo como elemento principal a compreensão precisa da ideia humanís ti ca, a pa rti r dos substanti vos humanidades e humanismo. De a cordo com Souza o concei to de humanismo surge enquanto processo de va zão pedagógi ca , designado a forma ção integral do homem, cujo objeti vo era prepa ra r o indi víduo pa ra o exercício de ta refas especializadas. Com isso, o ensino humanísti co se ca ra cteriza va por “consolida r e transmi ti r um a cultura geral” (SOUZA,1999, p. 22). Diante desse viés verifi ca-se na pesquisa de Souza , a pa rti r do ponto de vis ta históri co o ensino humanis ta prende-se a à educa ção helenista que contribui subs tancialmente pa ra a experiência ocidental fi xada nos séculos III e II a . C. No Brasil colônia, a Companhia de Jesus promulgou em 1594 a Ratio Studiorum, organi zados em duas ordens . A primei ra ordem de nível inferior e a segunda de nível uni versitá rio. Vale salienta r que o es tudo tanto no inferior, quanto no uni versitá rio era di vi dido em três classes. No nível inferior eram es tudos a gramá ti ca , a humanidade e a retóri ca. No nível uni versi tá rio os estudos eram vol tados a matemá ti ca, filosofia , ciências na turais . Pa ra Souza esse modelo de educa ção foi utiliza do durante mui to anos . O sinal de des gaste desse modelo apenas é possível de ser observado com o Renasci mento com o surgimento das sociedades cienti ficas , cujos representantes foram Ba con, Desca rtes e Locke. Esse modelo de educaçã o propunha o a crés cimo de outras dis ciplinas no currículo a pa rti r da publica ção da Dida cti ca Ma gna . Segundo Souza , a pa rti cula ridade no Brasil-Colônia se dá pela tradi ção li terá ria da pedagogia humanista , em que o ensino nesse período teve como predominância alguns campos específi cos como o lati m e sua litera tura , gra máti ca portuguesa e retóri ca , etc.. Mas , foi no século XIX que ocorreu de fa to a cons olidação das primei ras escolas superiores do tipo profissional no Brasil. De a cordo com o texto de Souza essas es colas foram consolidadas em dois planos, o pri mei ro é o li terá rio e o segundo é o cul tural com a abertura dos portos, a i mplanta ção da imprensa , a cria ção da Biblioteca Real, o Teatro Real , a Academia das Belas-Artes e a implanta ção do curso superior. Com a independência a cria ção de um ensino na cional e empenho de expressão li terá ria própria ganhou força a pa rti r das intensas a ti vidades cul turais . Nesse processo de consolida ção a críti ca literá ria no Brasil oi tocentista segue a 111 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 tendência mundial de a cordo com Souza , pois ela pri vilegia o modelo histori cista de a nálise. Um problema levantado por Souza em rela ção a essa cri ti ca é que ela elege a ideia de que as produções dessa época são do ponto de vis ta li terá rio pobres , pois de a cordo com a afi rma ção de Antônio Cândido ci tado por Souza , essa pobreza se pauta justa mente na inconsistência da evolução es tilís tica e métri ca . Souza objeti va com seu texto resga ta r a vertente retóri co-poéti ca , na medi da em que vai desmonta ndo as respos tas cons truídas pelos críticos literá ri os. Assim, o a utor procura evidenciar que a produçã o desse período condi z com o modelo histori cista utilizado. A úl tima abordagem de Souza faz rela ção com processo de consolida ção do ensino bási co no Brasil. Pa ra ele is to ocorre na década de 30 quando é admitido “o nível uni versitá rio, com a i mplanta ção das Fa culdades de Filosofia , Ciências e Letras ” (SOUZA,1999, p. 29). Pa ra elucida r essa abordagem o autor, exemplifi ca com o currícul o utilizado no colégio Pedro II, nessa época . A forma ção ba cha rel em letras, advinha de dois momentos . No pri meiro os estudos da va m ênfase “a gra máti ca na cional , ao lati m compreendendo a gra má ti ca, a cons trução de períodos curtos e temas : francês, inglês , etc. [...] e o segundo vol tado à alta lati nidade e versão para o lati m de trechos clássi cos portugueses : grego, alemão, etc.” (PERRONE-MOISÉS, 1988, p. 64-65, a pud SOUZA, 1999, p. 30-31). Uma considera ção presente na pesquisa do autor é que no sistema de ensino ha via um processo de colisão entre duas vertentes de es tudo: a histori cista e a retóri co - poéti ca . Pa ra tanto, Souza conclui seu texto apresentando a periodi cidade dos es tudos da l íngua portuguesa, a pa rti r do modelo de currículo e também da forma como os programas eram organi zados no antigo Imperial Colégio de Pedro II, em que era m incluídos as modalidades dis cursi vas e seus respecti vos representantes do ca mpo li terá rio. Com isso,o autor revi taliza o a val dos estudos literá rios , com relação ao ensino, no âmbi to social. 112 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 INICIAÇÃO CIENTIFICA MULTILETRAMENTOS NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO A PARTIR DA LINGUAGEM VISUAL Pa ula Cris tina Do Nas cimento Cha ves45 Sa ndra Chris tina F. dos Santos (Orientadora - UEPA) 46 RESUMO: Es te a rtigo apresenta uma proposta de trabalho que pri vilegia a análise de textos ima géti cos nas aulas da disciplina de Língua Portuguesa no Ensino Médio. A propos ta pa rte do fa to de que há necessidade de desenvol ver mul tiletra mentos , des tacando as ima gens como essenciais no mundo em que vi vemos . Pa ra ampa rá -la, apresenta -se uma lei tura de dois documentos ofi ciais: os Pa râ metros Curri cula res Na cionais pa ra o Ensino Médio PCNEM - e as Ma tri zes de Referência que orienta m o Exame Na cional do Ensino Médi o ENEM, bem como de outros pontos de vis ta teóri cos de autores que defendem a lei tura de ima gens como necessá ria pa ra a completa alfabetiza ção visual. Os resul tados serã o utilizados pa ra uma rees trutura ção na metodologia desenvol vida em sala de aula por grande pa rte dos professores , além de ressalta r a necessidade de estuda r língua portuguesa sobre vertente da valori za ção da li ngua gem não-verbal e es tudo da linguagem visual nos ambientes es cola res, contribui ndo no processo de a prendi zagem dos alunos . PALAVRAS-CHAVE: Mul tiletra mentos ; alfabeti za ção visual; ensino médio. ABSTRACT: This academi c a rti cle presents a work proposal whi ch pri vileges the analysis of ima gisti c texts in Portuguese Langua ge classes in the high s chool . This proposal sta rts from the fa ct tha t there is a need of mul tiletra cy development, deta ching the i mages as essentials in the world we li ve. To support i t, it shows the reading of two offi cial documents : the Pa râmetros Curri culares Nacionais pa ra o Ensino Médio (PCNEM) [High s chool na tional curri culum pa ra meters] and the Ma tri zes de Referência que orienta m o Exame Na cional do Ensino Médio (ENEM) [Referencial Ma tri x that guide the Na tional exam of hi gh s chool], as well others teori c points of views from authors that advoca te image readi ng as necessary for a complete visual li tera cy. The resul ts will be used to rebuild the developed methodology i n classroom for a grea t number of tea chers , besides, i t will emphasize the need of the Portuguese language s tudy a bout the valuati on of nonverbal language line and the s tudy of visual langua ge in s chool envi roments , contributing to s tudents ’ lea rning process . Key-word: Mul tiletra cy, li tera cy visual, hi gh s chool. Considerações Iniciais O mundo contemporâneo é ca racteri zado pela mul tipli cidade cul tural que se expressa e se comuni ca por meio de textos mul tissemióti cos (i mpressos ou digi tais), ou seja , 45 Graduanda, Univers idade do Estado do Pará, Belém, Pará. E-mail: paulacris [email protected] Professora Doutora em Ciências da Educação/ UAA; Coordenadora do Instituto Supe rior de Educação da Escola Superior Madre Celeste; Professora das disciplinas Fundamentos da Linguagem Visual; Percepção na Criação Artística, Pesquisa em Poéticas Visuais/Tecnologia e Trabalho de Gra duação pelo curso de Artes Visuais; Artista-Plástica e Coorde nadora do Grupo de Pesquisa Artística Igarahart; Professora Efetiva do Departamento de A rtes da Univers idade do Estado do Pará. 46 113 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 textos que se cons ti tuem por meio de uma mul tipli cidade de linguagens (fotos , vídeos e gráfi cos , lingua gem verbal oral ou es cri ta, sonoridades) que fazem signifi ca r estes textos . A veloci dade de informa ção e a gra nde exposi ção a propa gandas, que fazem pa rte da realidade dos alunos, pedem uma nova postura por pa rte dos professores. Se leva rmos em consideraçã o que todo tipo de lingua gem expressa sentido, seja verbal ou não-verbal , a apropria ção da lei tura se mos tra essencial à forma ção do aluno. Os mul tiletra mentos nos propi ciam pensa r em novas tecnologias da informação, os hipertextos e hipermídias podem muda r o que se entende, na es cola , por ensina r e aprender. Diante disso tem-se como possibilidade desenvol ver de forma efeti va nos espa ços educa cionais, as prá ti cas de letramentos contemporâneos que envol vem: a mul tipli cidade da linguagem, lei tura visual e mídias envol vidas na cria ção de signi fi caçã o dos textos multi modais. A pa rti r desse ca ráter de admiti r as possibilidades de letramentos , i rei des taca r uma em especial , a Alfabeti zaçã o Visual, que segundo Dondis (1991, p. 230): o “alfabetismo signi fi ca a capaci dade de expressar-se e compreender, e tanto a capa cidade verbal quanto a visual pode ser aprendida por todos . E deve sê-lo”, ou seja , a pa rti r do sentido do que seria a alfabeti za ção e como é desenvol vido a pa rti r da lei tura . Dessa forma , o objeti vo é propor uma metodologia pa ra a leitura de i magens em sala de aula . Assumindo essa necessidade como determinante pa ra o completo desenvol vimento do aluno – o mundo do aluno, penso ser essencial uma postura que pri vilegie esse tipo de lei tura em sala de aula . A pa rti r da i magem cons truímos signi fi cados e opi niões que podem ser expressos tanto a pa rti r de novas ima gens , como de textos escri tos. O i mporta nte é desenvol ver a ti vidades que permita m ao aluno a primora r suas formas de expressão dura nte sua formaçã o es cola r. MATERIAIS E MÉTODOS A reflexão apresentada em ques tão não tem ca ráter de desmerecer a i mportâ ncia da expressão linguís ti ca verbal , longe disso, apenas i rá se prender nos aspectos com menores proporções de análise, o que cons ti tui a linguagem visual , a pa rti r do es tudo não-verbal. Em considera ção a esse contexto visual tão predominante enfa tizado pelas autoras Dondis (2007) e Ba rbosa (2007), ambas ressalta m a i mpres cindível necessidade de discutiçã o sobre a ima gem em sala, incenti vando o hábi to da leitura da ima gem como prá ti ca de ampliação, não só da capa cidade percepti va , como cogni ti va , emocional e crítica . 114 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Além disso, Lúcia Santaella (2012, p.11) 47 , a fi rma em “Lei tura de Imagens ” que exis te, o lei tor da ima gem no desenho, na pi ntura , a gra vura e na fotogra fia . Há o leitor de jornal, revistas . Há o lei tor da cidade, s ímbolos e sinais que se converteu a cidade moderna . Há o lei tor- telespectador da ima gem movi mento, no cinema, televisão e vídeo; Leitor das ima gens evanes centes do grafismo computadorizado e o lei tor do texto es cri to, que no papel , saltou a superfície das telas eletrôni cas. Nesse nível de complexidade, ainda exis te o leitor das telas eletrônicas , das informa ções computadori zadas em redes . Potencializa r esse dinamismo que compreende o uni verso visual se fa z necessário e pautado nos própri os Pa râ metros Curri culares Na cionais pa ra o Ensino Médi o - PCNEM e o Exame Naci onal do Ensino Médio- ENEM passara m a defender o es tudo abrangente, o es tudo em contexto, a dinami cidade da leitura de textos verbais e não-verbais. Tal como se observa : O conhecimento sobre a linguagem, a ser socializado na escola, deve ser visto sobre o prisma da mobilidade da própria linguagem, evitando-se os apriorismos. O espírito crítico não admite verdades sem uma investigação do processo de sua construção e representatividade. O exame do caráter histórico e contextual de determinada manifestação da linguagem pode permitir o entendimento das razões de uso, da valoração, da representatividade, dos interesses sociais colocados em jogo, das escolhas de atribuição de sentidos, ou seja, a consciência do poder constitutivo da linguagem (PCNEM, 2000, p. 7). Os Pa râmetros Curri cula res Na cionais pa ra o Ensino Médio e as Ma tri zes de Referência do Exa me Nacional de Ensino Médio são documentos que norteiam o funcionamento do ensino em nível Médio. São eles que devem orientar uma reflexão que leve ao desenvol vimento de amplas ha bilidades nos alunos , a perspecti va de trabalho, abrangendo leitura verbal e não-verbal , es tá contemplada nesses referenciais, tornando-se essenciais pa ra desenvol vi mento tanto dos alunos, quanto dos professores . Observa -se que o assunto é des cri to nas páginas de a mbos os documentos de referência ao ensino médio, como algo possível, necessário e desejado de ser a tingi dos . Por que, então, difi cilmente vemos essa tenta ti va em sala de aula? Tal vez um dos gra ndes problemas seja jus tamente na tomada de “referencias” que as equipes pedagógi cas (professores , orientadores, assessores), admitem como ponto de pa rtida pa ra desenvol ver 47 Lucia Santaella – Professora Titular da PUC-SP, Doutora em Teoria Lite rária pela PUC-SP e Livre-docência em Ciências da comunicação pe la ECA/USP. Diretora do Centro de Mídias Digita is, do Programa de pós-graduaçã o em Comunicação e Semiótica da PUC-SP. 115 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 suas metodol ogias nas aulas. O que é i mportante desta ca r é que nesses referenciais cons ta uma preocupa ção com ensino responsá vel pela formação de cidadãos pensantes e a ti vos no mundo que compõem. As Ma trizes de Referência do ENEM a tentam pa ra a di versidade do nosso pa trimônio cul tural , vis to que é notá vel a preocupa ção com a cul tura . Os alunos deveriam ser capa zes de i dentifi ca r diferentes mani festa ções e representações e ainda ter a capa cidade de identi fi cá-los e compara -los . A forma ção desse alunado, deveria dá-lo condi ções de conhecer sua própria cul tura e a cul tura que o cerca , permitindo-lhe aponta r diferenças e semelhanças entre elas , presentes muitas vezes nas ima gens , pi nturas e esculturas nas provas . Nota -se, inclusi ve, uma presença forte e cres cente desse elemento nas provas do ENEM, já que tem apresentado questões específi cas que exi gem do aluno a identifi ca ção de prá ti cas sociais ou aspectos da cul tura de determinada época ou espa ço, a pa rti r das lei turas das i magens , o documento prevê que o aluno possa relaciona r informa ções , identi fi ca r di ferentes tipos de lingua gem e desenvol ver posi ção críti ca em rela ção ao que estuda e vi ve. ALGUNS RESULTADOS PARCIAIS DA PESQUISA Dessa forma, o objeti vo des te tra balho é propor a existência de uma metodologia pa ra a lei tura de i magens em sala de aula. Assumindo essa necessidade como determi nante pa ra o desenvol vimento do aluno – o mundo do aluno é mui to mais imagéti co que es cri to – A a proxi ma ção dessa forma de comuni ca ção, tão recorrente na vi da, pode guiar a uma maior apropria ção da linguagem verbal , capa z de expressar senti mentos e opiniões pessoais rela ti vas às ima gens . É a pa rti r dessas considerações que defendo, nes ta propos ta , a leitura de i magens como complementa res ao es tudo de Língua Portuguesa . Por a credi ta r que a linguagem visual pode afeta r de maneira mui to posi ti va os alunos , que a lei tura de qualidade das ima gens que podem supri r ás necessidades abstra ti vas que a leitura verbal não tem al cançado com tanta fa cilidade. Esse processo pretende oferecer ferra mentas de análises pa ra que se faça , no ambiente es cola r, uma aprendiza gem mais sistema tizada do que se poderia chama r de uma alfabeti zação visual. A finalidade de desenvol ver uma recepçã o 116 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 críti ca das imagens que permi ta dis cuti r as prá ti cas de produçã o, ci rcula ção e construção de sentidos a tribuídos a elas . REFERÊNCIAS BRASIL. MEC. Secreta ria da Educa ção Média e Tecnológi ca - Pa râ metros curri cula res na cionais: ensino médio. Brasília : MEC/Secreta ria da Educa ção Média e Tecnológica , 2000. BRASIL. Mi nistério da Educa ção. Secreta ria de Educa ção Média e Tecnológi ca. DONDIS, Donis A. – Sinta xe da Lingua gem Visual – São Paulo: Ma rtins Fontes, 1991. Ins ti tuto Na cional de Exa mes e Pesquisas Educa cionais Anísio Tei xei ra . MATRIZ DE REFERÊNCIA PARA O ENEM 2009. Brasília : MEC/INEP, 2009 ROJO, Roxane. Escola conectada : os mul tietramentos e as TICS. São Paulo: Pa rábola, 2013. ROJO, Roxane; MOURA, Edua rdo (orgs.). Mul tiletra mentos na es cola . São Pa ulo: Pa rá bola Edi torial , 2012. 117 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 EDUCAÇÃO COMO PROCESSO DE RESSOCIALIZAÇÃO Rosineide Oli vei ra do Nascimento48 Ma ria Augusta Lima das Neves49 RESUMO: O presente estudo desenvol veu-se a tra vés de três etapas: leva ntamento e es tudo dos referenciais teóri cos, estudo de campo, utilizei como técni ca de coleta de dados , a observa ção di reta do trabalho peda gógico realizado na Peni tencia ria , entrevista com as professoras , alunos/recuperados e coordenadora pedagógi ca . A pesquisa objeti vou inves ti gar a propos ta educa cional desenvol vida no sis tema peni tenciá rio do Pa rá focalizado as possibilidades de contribui ção des ta a ção pa ra o processo de recupera ção e ressocializa ção das pessoas que cumprem pena em regime de pri va çã o de liberdade. PALAVRAS - CHAVE: Educa ção Ca rcerá ria . Ressocializa ção. Reintegra çã o social. Sistema Penal . ABSTRACT: The present s tudy i t was developed through three s tages : survey and s tudy of the theoreti cal references; field s tudy; e the anal ysis of collection da ta, the di rect comment of the ca rried through pedagogi cal work in the prison; interview wi th the teachers , alumnus/recupera tes and peda gogi cal coordina tion. The resea rch in provided them proposal educati onal developed in the peni tentia ry s ys tem of Pa rá focusing the possibilities of contribution of this action for the recovery process and ressocialização of the people who fulfill penalty i n regi men of freedom pri va tion. KEY WORDS: Educa tion. Ressocializa ção. Social Reintegrati on. Cri minal. CONSIDERAÇÕES INICIAIS O presente a rti go, cujo tema “Educa ção como processo de ressocializa ção do apenado”, tem como objeti vo, inves tiga r como a educa ção no sis tema penal contribui pa ra ressocializa ção do apenado e suas impli ca ções sobre o condenado. Ressalto ta mbém sobre os di rei tos dos presos , tanto no que preconi za a Lei de Execução Penal, quanto na Cons ti tui ção Federal . Igualmente, busca as possíveis soluções pa ra que o recluso al cance a efeti va ressocializa ção. A pesquisa tem como relevância social a possibilidade de amplia r as discussões a cerca da i mportâ ncia da educa ção ca rcerá ria na ressocializaçã o do apenado. O estudo se realizou por meio de pesquisa bibliográfi ca , onde se buscou fundamentos teóri cos dos autores que já possuem uma discussão sobre o tema em foco, permi tindo assim amplia r os conheci mentos da educa ção ca rcerá ria. Adotou-se o método 48 Graduada em Pedagogia, Profª da Creche Casulo Municipal de Ananindeua – Pará. Mestre em Educação, Profª da Escola Superior Madre Celeste, Ananindeua, Pará. [email protected] 49 E-mail: 118 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 des cri ti vo analíti co uma vez que a preocupa ção es tá vol tada com a des cri ção de dados e ca ra cterísti cas de uma popula ção. A meta é a aquisição de dados reais, precisos e sistemáti cos. A mes ma tem como a borda gem a pesquisa qualita ti va , têm ca ráter expl ora tório, es timulam os entrevistados a pensa r e falar li vremente sobre um determinado assunto. E quanti ta ti va , por ser mais s adequadas pa ra apura r opiniões e a titudes explíci tas e conscientes dos entrevistados, pois utilizam i nstrumentos padroni zados (ques tioná rios ), consti tuídos de perguntas objeti vas e subjeti vas. 2 - Conhecendo o contexto histórico do sistema penal O antecedente históri co da prisão era o cá rcere que signifi ca va masmorra , subterrâ neo ou torres . Os indi víduos da época vi via m a montoados a gua rdando seu jul gamento ou pena que eram cas tigados corporais suplíci os, morte. Era um tempo pretéri to quando na organiza ção social humana não ha via lei escri ta e nem noção de Es tado es trutura da . Os grupos , tribos , vi viam sob leis di vinas advindas de crenças com jul gamento ori undo dos céus . As decisões cabiam aos patria rcas , sacerdotes ou anciões . O cá rcere era usado como l ocal de retenção provisória, não era pena . Es tá surgiu na idade média por influência da i greja Ca tóli ca , sendo aplica da no século V. A pala vra peni tencia nos primórdios do cris tianismo signifi ca volta sobre si mesmo, com o espíri to de compunção, pa ra reconhecer os próprios pecados ou delitos , abomina -los e propor-se a não torna r a reincidi r. Peni tenciários eram os enviados por juízes por terem violado as leis da igreja , as pri mei ras peni tencia rias fora m cons truídas na Europa . A pa rti r do século XVI surgi ram as casas de forças onde os mendigos, va gabundos , pros titutas, jovens ladrões internados pa ra trabalha r imedia tamente a sua condena ção. No século XVII e XVIII, surgi ram outros esta beleci mentos pa ra abri ga r detentos , mas sem obedecer nenhum sistema peni tenciá rio. Aos detidos era m apli cadas penas corporais e recebiam tra balhos penosos , alimenta ção precá ria , não ha via condi ção de higiene e nem morais. No século XVIII, em Florença , cria -se a prisão celula r. O sis tema da Filadélfia , foi criado no século XVIII, fazia uso do isolamento celula r absoluto, permitindo ao condenado o passeio isolado em um pá tio ci rcular, sem trabalho ou visi tas. Era es timulada a lei tura da Bíblia. A prisão da Ma rinha Inglesa- experi mentou o Ma rk Sys tem, em uma ilha chamada 119 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Norfok. A ideia era de que a pena seria preventi va e não cura ti va, olha va -se pa ra o futuro e não pa ra o passado. Vi gora com isolamento, com sepa ra ção noturna dos detentos e trabalho em comum durante o dia . Lá o preso a cumulava vales ou ma rcas e passava de um es tági o pa ra o outro. Es te sistema demons trou resul tados posi ti vos e após algumas modifi ca ções foi utilizado por todo o terri tório inglês. O sis tema progressi vo, sem dúvi da, trouxe a fi nalidade da recupera ção do preso, ao fi nal do século XIX. Surgiu assim a pala vra considera da cha ve da execução penal : resocializa ção, que em termos educa cionais pode chama r-se liberta ção. A nova ideia nã o afas tou a prevenção e a prevenção e a repressão ao crime da finalidade da pena . Es te sistema prisional progressi vo é adotado no Brasil. O apenado ini cia o cumpri mento da pena pri va ti va de liberdade por etapas . Em conformidade com o delito pel o qual foi condenado, cumpre a pena em regime aberto, semiaberto ou fechado. Caso condenado a pena pa ra comprimento em regime aberto, fi ca na rua dura nte o dia e recolhese ao es tabelecimento prisional no horá rio noturno, a os finais de semana e feriados . Já no regime semiaberto o apenado pode sai r da casa prisional pa ra trabalha r, retornando pa ra dormi r e recolhendo-se aos finais de semana e feriado á casa. No regi me fechado começa a cumpri r apenas em sua cela . Focaul t (2002) observa que o Di rei to Penal Moderno não ousa mais di zer que pune cri me, ele pretende readapta r delinquente, fazendo com que os processos jurídicos e correcionais sejam de tal forma humanos que não apa reça como moti vo de vergonha , o que outrora ocorria diante de um julgamento da cons ciência históri ca da ci viliza ção. 3 - A educação no cárcere A educa ção ca rcerá ria ini ciou-se no sécul o XX, que levou a i nstala ção da primei ra Peni tenciaria , que foi no es tado do Pa ra ná, em 1905. A cidade es ta va a caminho do progresso e s urgi u a necessidade de manutenção de uma cidade dis ciplina r, e de um es tado dis ciplinador. No entanto apesar da visão pa cifi ca da cidade e de seus habita ntes, surgiu a Peni tenciaria do Es tado em Curi tiba no bairro do Ahú, em 1905. Com o propósi to inicial de abri ga r somente os julgados i nsanos. A pa rti r de 1909, es te local passa a a briga r os cri minosos de toda a ordem. A utilidade da pena a parti r des te momento é a fi m de readapta r o criminoso, ressocializá-lo. Es ta concepção educa ti va da puni ção teve no sistema prisional moderno um campo pri vilegiado pa ra o surgi mento de novas regras, que 120 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 a credi ta va m contri bui r pa ra a redução do interno. A indi gência e a delinquência chega ra m a um es tágio i nsuportá vel , surgindo a oportunidade da cria ção de novas casa peni tencia rias e a cria ção de forças e hospi tais gerais, a companhando o mesmo princípi o das cidades europeias do século XVIII, em que se organi za vam uma i nsti tui ção fechada que se propusera m em reeduca r o delinquente. Constrói nesse momento, as penitenciarias industrial e colonial a grícolas, tanto na Europa como na Améri ca do Norte (no final do sécul o XVIII). Algumas dessas ins ti tui ções fora m inspi radas por grupos de igrejas reformadas . Des ta ca-se o trabalho, educa ção, como vi rtudes necessá rias e moralizantes pelas igrejas reformadoras que se generalizou em todas as ins ti tui ções puni ti vas e também nas ins ti tucionais . 3.1 A sociedade e as regras de convivência Um homem pa ra convi ver em sociedade, precisa de regras para que possa ga ranti r o a rdem social e moral. Quem trans gride as ordens recebe puni ção que será es tipulada legalmente que podem leva-lo ao a fasta mento da sociedade sendo confinado em local previamente dispos to a es te fim. Es tes locais cons ti tuem o sistema prisional criado e ma ntido pela sociedade. O detento, o trans gressor deve receber orienta ção enquanto pa ga a sua dívida pela infra ção que prati cou. Assim, no sistema penal de nossos pais, em tese, a puniçã o reveste-se de ca rá ter sancionador e educa ti vo. A execução penal tem como objeti vo, em e uma visão educa cional , fa zer com que o preso possa refleti r trabalha r, aprender e desenvol ver condi ções pa ra o retorno ao convívio social. O desenvol vimento de ati vi dades durante o enca rcera mento deve ocupa r , de forma cons truti va , o tempo ocioso do detento permiti ndo cria r condi ções de reformula r sua visão de sociedade, tra zendo-lhe esperança de termi nar mais cedo o confina mento, e melhorando a vida ca rcerá ria e promovendo sua liberta ção social. Des te modo, a educaçã o deve ser pos ta ao al cance dos mais necessitados por ela. Todos “os homes são seres ontol ogi camente iguais, fini tos , ina cabados , capazes de proceder a críti ca e autenti camente, sofrendo, portanto, os condi cionamentos da realidade, mas reunindo condi ções de transforma -la porque são seres his tóri cos ” (FREIRE,1980 p.58). Sa bemos que a educaçã o enquanto aprimora mento do homem reúne condi ções de produzi r mudanças sociais desde que do simples ades tramento do mais fra co pelo mais 121 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 forte. Entretanto, a credi tamos no papel re – socializador(ressocializa ção), termo utilizado na á rea jurídica , que signi fi ca prepa ra r pa ra o retorno a sociedade, da educa ção e que busca mos contri bui r com as reflexões a cerca da /inclusão/ liberta ção daquela pessoa no sistema ca rcerá rio. Nesse sentido, pa ra que haja es ta integra ção ha rmôni ca a conteça é necessá ria à a tua ção do estado, concretizado um dos fins da pena pri va ti va de liberdade, ou seja, a ressocializa ção do apenado. A educa ção cons titui-se em di rei to do apenado, conforme determina a lei de execuções Penais, dora vante mencionada como LEP. Segundo Focaul te (2002), é gra nde o fra casso da jus tiça penal porque nã o di minui a ta xa de criminalidade, provoca reincidência e fabri ca delinquentes pelo ti po de exis tência que faz os detentos leva r. Dentre as determinações legais da LEP, quais as possibilidades e limi tes da educaçã o de pessoas presas pa ra diminui r os índi ces de reincidência cri minal. 3.1.1 Educação carcerária processo de ressocialização A educação, dentro do sistema ca rcerá rio, deve trabalha r com concei tos fundamentais, como família, amor, dignidade, liberdade, vida , morte, cidadania, elei ções , misérias, governo, elei ções , misérias, comunidade, dentre outros. Nesse aspecto, Gadotti (1990), salienta a necessidade de desenvol ver nos educando a capa cidade de reflexã o, fa zendo- os compreender a realidade pa ra que de posse dessa compreensão possam entã o deseja r sua transforma ção, ou seja, uma educa ção voltada pa ra a autonomia i ntelectual dos alunos , oferecendo condi ções de análise e compressão da realidade prisional , humana e social em que vi vem. O sistema peni tenciá rio necessita de uma educa ção que se preocupe pri ori taria mente em desenvol ver a capa cidade críti ca e criadora do educa ndo, ca paz de alerta-lo para as possibilidades de es colhas e a pa ra a sua vida e conseguintemente a do seu grupo social. Sobre isso Gadotti (1990) diz que “Educa r é liberta r”, dentro da prisão, a pala vra e dialogo continuam sendo a princi pal a rma . A Úni ca força que move um preso é a liberdade, ela é a grande força que faz pensar. Di ferente do trabalho, a parti cipa ção em a ti vidade educa cional , esporti va e cul tural , legalmente não proporciona ao interno o di rei to a remi ção da pena de a cordo com a lei de execução Penais , a qual s ó determina que a tra vés da ocupa ção laboral, o detento terá di rei to a o benefício, não ostentando á educa ção, porem no Es tado do Pa rá já ocorre es ta remi ção, a pa rti r da resolução 005/2003 da cons titui ção do Pa rá . 122 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Cabe assinalar que a importância da educa ção nos pres ídios é da r a o condenado á oportunidade de, em uma futura liberdade, dispor de uma opção para o exercíci o de alguma a ti vidade profissional, pa ra a qual seja um mínimo de escolari za ção, o trabalho e a educaçã o penal é que poderão muda r a tra jetória de exclusão que este homem es teve submetido na sociedade. A maioria dos presos que fazem pa rte da popula ção dos empobreci dos , produzidos por modelos econômi cos excl udentes e pri vados de seus di reitos fundamentais de vi da. Ideologica mente, como os “pobres ”, aqueles são jogados em um confli to entre as necessidades básicas vi tais e os centros de poder e decisões que as nega m. São com certeza , produtos da segrega ção e do desajuste social, da miséria e das drogas, do egoísmo e da perda de valores humanitá rios . “Por “sua condi ção de presos , seu luga r na pi râmide social é reduzido à ca tegoria de ma rginais ” bandidos ”, duplamente excluídos, massacra dos , odiados . As prisões se ca ra cteri zam como teias de rela ções sociais que promovem violência e despersonaliza ção dos indi víduos. As condições de exis tência no cá rcere, a começa r por s ua a rquitetura , a centuam a repressão, as a meaças , a desumani dade, a falta de pri va cidade, a depressão. Em síntese, o lado sombrio e subterrâneo da mente humana, denominada pel o superego onipotente e severo. Nas celas lúgubres , úmidas e es curas , repete-se ininterruptamente a voz da condena ção, a culpabilidade, da desumanidade. Por isso se a estada do internado é mui to longa , pode ocorrer a caso ele volte pa ra o mundo exterior, o que já foi denominado “des cul tura mento“, is to é, “des tronamento” o que o torna temporamente incapa z de enfrenta r al guns aspectos de sua vida diá ria. Há que se considera r, portanto, que a prisão como ins ti tui ção fechada , tornando a si o enca rgo de apli car técnicas correti vas sobre seus tutelados e bus cando recompô-los , segundo os pressupos tos básicos da vida que l hes quer incutir, supõe a violência porque a caba de deses truturá -lo fisicamente e psi cologi camente. Diante dos dilemas e contra di ções do ideal educa ti vo e do real puni ti vo, de tanto valores que obs ta culizam a forma ção pa ra a vida social em liberdade, longe das grandes , cabe pergunta r: o Processo de educaçã o contribui pa ra a sua ressocializa ção. Frei re (1995, p. 96), afi rma que “a melhor afi rmaçã o pa ra o al cance da pra tica educati va em fa ce dos limi tes a que se submete é a seguinte: não podendo tudo, a pra ti ca educati va pode alguma coisa”. E ao pensa r na educa ção do homem preso, não se pode dei xa r de considera r que o homem é i naca bado, que se consti tui a o longo de sua exis tência 123 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 e que tem voca ção de ser mais, o poder de fa zer e refa zer, cria r e recria r. 4 - Aspectos legais Os di reitos dos presos es tão pres cri tos, na Lei de Execuções Penais (LEP), nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Es ta lei consagra ta mbém seus deveres . Logo, a vida na uni dade prisional é outra fonte de experiências signifi ca ti vas a tra vés da qual desenvol verá seus valores enquanto es ti ver preso e molda rá sua conduta. Ao consul ta rmos a Lei de Execuções Penais Brasileira , considerada uma das mais a vançadas do mundo, veri fi camos que se cumpri da integralmente na pra tica , certamente propi cia ria uma reeduca ção signifi ca ti va da popula ção ca rcerá ria. A lei de execução penal no seu Título I, a rt. 1º e 3º, pres creve os seus objeti vos fundamentais “efeti va r as decisões de sentença ou decisão criminal e proporciona r condi ções pa ra a ha rmôni ca i ntegra ção do condenado e do internado [...] ao condenado e a o internado serã o assegura dos todos os di reitos nã o assistidos pela lei ”. Acres centa no pa rágra fo úni co deste a rtigo, que não ha verá qualquer distinçã o de na tureza ra cial , social, religiosa ou políti ca . E ainda no seu a rt. 4º “O Es tado deverá recorrer à coopera ção da comunidade nas a ti vida des de execução da pena ou da medida de segurança ”. No capítulo II seção I da Assistência , das disposi ções gerais no Art. 10, é determinado que “a assis tência ao preso e ao internado é dever do Es tado, objeti vando preveni r o cri me e orientar o retorno à convi vência em socieda de”. Já no Art. 11, a lei determina que a assistência Educa cional: compreenderá a i nstrução es colar e pa rtindo-se desse entendimento, vê-se que um bom tra tamento penal não pode residi r apenas na abs tençã o da violência físi ca ou na ga rantia de boas condições pa ra cus todia do i ndi víduo, em se tra tando de pena pri va ti va de liberdade. Na seção que tra ta da assistência Educa cional, Art. 17, determina que a assistência educaci onal compreendera a instrução es cola r e a formação profissional do preso e o internado. No Art. 18, o ensino de pri mei ro grau será obri ga tório, integra ndo-se no sistema es cola r da unidade federa ti va. Art. 19, o ensino profissional será minis trado em nível de ini ciaçã o ou de aperfei çoamento técni cos . Art. 20, as a ti vidades educa cionais podem ser objetos de convenio com entidades públicas ou parti culares , que ins talem es colas ou ofereça m cursos especializados . 124 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 É sabido que as profissões que gra vi ta m em torno da execução penal, como no caso dos agentes, di ri gentes e segmentos da sociedade ci vil , não dispõem da formaçã o educaci onal previa ao i ngresso no sis tema . Por essa razão, a educa ção ca rcerá ria detém um papel proeminente de organi za r todo programa de forma ção desse contingente. As a ções de rei ntegra ção s ocial podem ser definidas como “um conjunto de intervenções técni cas, pol íticas e gerenciais levadas a efei to durante e após o cumpri mento de penas ou medidas de segurança , no intui to de cria r interfa ces de aproxi ma ções entre Es tado, comunida de e as pessoas benefi cia rias, como forma de lhes ampliar a resiliência e reduzir a vulnera bilidade frente ao sistema penal ”. Pa rtindo desse entendimento, vê-se que um bom “tra tamento penal” nã o pode residi r apenas na a bstenção da violência físi ca ou na ga rantia de boas condi ções pa ra a cus todia do indi víduo, em se tra tando de pena pri va ti va de liberdade, deve, antes disso, consisti r em um processo de supera ção de uma história de confli tos , por meio da promoçã o de seus di rei tos e da recomposição dos vínculos com a sociedade, visando cria r condi ções pa ra sua autodeterminaçã o responsá vel . 4.1 - Legislação que ampara a educação carcerária Cons trui r uma sociedade com qualidade de vi da é papel i mporta nte de educadores , que tem como desfio permanente discuti r, rever, refa zer o sentido his tóri co da inova ção e humani za ção do apenado e egresso, assumindo a i dentidade de tra balhadores cul turais , envol vidos na produção de uma memória históri ca e de sujei tos sociais que cria m e recria m o espa ço e a vida social. Os problemas na á rea da educa ção são complexos e não existem respos tas imediatas , ou soluções rá pidas pa ra eles, o que justi fi ca a necessidade de es tudos. Reflexões especialmente a formula ção de projetos sociais e educa cionais vol tados pa ra os “excluídos ”, “ma rginais”, “insa tisfei tos ”, “não clientes ”, ou seja, as maiorias perdedoras . A Lei 9094/96, es tabelece as Di retrizes e Bases da Educa ção Na cional expressa de ma nei ra cla ra os pri ncípios que devem nortea r a educa ção brasileira , Este a rti go ra ti fica o que está pos to no a rt. 205 da consti tui ção Federal do Brasil de 1988, considerando como pri ncípios funda mentais; “a educa ção di rei to de todos, dever do Es tado e da fa mília , promovida e incenti va da com a colabora ção da sociedade, visando ao pleno 125 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 desenvol vi mento da pessoa , seu prepa ro pa ra o exercíci o da ci dadania e sua qualifi caçã o pa ra o trabalho”. Logo, se por um lado o inciso I, do a rt. 3º da LDB repete integral e li teralmente o que es tá escri to no i nciso I do a rt. 206 da Cons tituiçã o Federal, por outro lado seria a LDB enquanto Lei federal que regulamenta os dispositi vos cons titucionais referentes a educaçã o, o, local mais correto, adequado e pri vilégios no deveria cons ta r, especialmente, não s ó os pri ncípios, mas principalmente a obri gatoriedade do es tado em ga ranti r “igualdade de condi ções pa ra o a cesso e permanência na escola” O inciso II, do Art. 3º da LDB, aborda a ques tão relacionada a liberdade em relação ao aprender, ensina r, pesquisar e di vulga r a cultura , o pensamento, a a rte e o saber”. Esse inciso também repele, integra r e literalmente, o inciso II do Art. 206 da Cons ti tui ção Federal . Consideramos esse pri ncipio como funda mental na medida em que, se a educa ção nã o consegui r cumpri r esse papel não seria verdadei ramente educa ção. O i nciso IV do 3º da LDB, coloca com princípio a “ga rantia do padrã o de qualidade”. Li teralmente i gual ; esse principi o também es tá presente no i nciso VII do Art. 206 da consti tui ção Federal . O inciso I do a rt. 4º da LDB (assim como no inciso I, do a rt. 208 da Cons ti tui ção Federal), afi rma que deve ga ranti r “Ensino Fundamental , obri ga toriamente e gra tui to, inclusi ve pa ra os que ele não teve a cesso na idade própria ”. O inciso VII do a rt. 4º da LDB, não es tá contemplado pel o Art. 208, da cons ti tui ção Federal. Tal inciso afi rma que é dever do es tado a oferta de educa ção escolar regula r pa ra jovens e adultos com ca ra cterís ticas e modalidades adequadas as suas condi ções e permanência na es cola . Na resolução nº 005/2003, da cons tituiçã o do Pa rá os cri térios de a valiação pa ra remi ção de Pena a tra vés da educa ção, é jus to que pa ra efei to de remi ção de pena serã o considerados os processos de ensino, a cadêmico, profissional e a ti vidade complementa res . De a cordo com o a rt. 3º des ta resoluçã o, o recuperado que desenvol ver a ti vidade laboral remunera do na unidade Peni tencia ria poderá ter ca rga hora ria de trabalho reduzido pa ra 20 horas semanais, quando es ti ver ma tri culado e cursando algumas a ti vidades educaci onais. No a rt. 4º a remi ção será concedida atra vés da a valia ção quanti ta ti va e qualita ti va dos aspectos . 126 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 1) 75% de frequência nas atividades educativas: para cada 12 horas de participação nas atividades educativas corresponderá 1 (da) remido da pena. 2) Desempenho nas atividades: o desempenho nas atividades educativas serão avaliados de forma continua e processual, registrados através de fichas de avaliação global, nos seguintes aspectos: 2.1) Desempenho cognitivo; ou seja, o nível de conhecimento demonstrando no processo ensino aprendizagem, bem como, pelo nível de participação do recuperando nas atividades complementares promovidas dentro das Unidades Penitenciarias. A média mínima para a aprovação do aluno deverá ser de (06 pontos), salvo a alfabetização conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), pois a mesma não concebe avaliação quantitativa e sim no aspecto qualitativo. O Art. 5º di z que, o desempenho dos recuperados nas a ti vidades educa cionais será a companhada e a valiado de manei ra global pelo conselho técni co es cola r em a rti culaçã o com o depa rtamento de a ti vi dade educa cional da SUSIPE (Superintendência do Sistema Penal ) Setor responsá vel pelas casas penais O Art. 6º, O regis tro de frequência será es cri tura do a tra vés de diá rio de classe do professor de ensino a cadêmi co e fi cha de frequência de ins trutor de curs o profissionalizante bem como das a ti vidades complementa res , assinados pelo referi dos profissionais e pel o di retor da unidade peni tencia ria . O Art. 7º, a a valiação do desempenho dos recuperados será fei ta em fi cha de a valiação educa cional , junta mente com o pa recer do Conselho Es cola r, enca minhado a o depa rtamento de a ti vidades educa cionais . 1 - O histórico de aproveitamento e boletim escolar será emitido pelo departamento de atividades educacionais, mediante a documentação encaminhada pelo conselho escolar, para efeito de validade na remição de penas posterior encaminhamento ao juiz (a ) da Vara 2.de Execução Penal, para efeito de julgamento e execução do processo. 2- As reuniões do Conselho Escolar deverão ser procedidas de forma ordinária, anualmente, e extraordinário, quantas vezes se fizeram necessária, desde que convocadas pelo Presidente do Conselho Escolar e Diretor (a) do Departamento de Atividades Educacionais Unidades e unidades Penitenciarias. O Art. 8º di z que a pra ti ca de qualquer falta gra ve prevista no Art. 50 e no inciso da LEP é devi damente a purado a tra vés de procedimentos administra ti vos, a ca rreta a perda do tempo a ser remido, conforme o dispos to no a rt. 127 da Lei em referência . “No caso de 127 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 desistência por pa rte do aluno, o mesmo, deverá assina r um tempo de desistência de es tudo, anexado no prontuá rio es cola r, tendo em vis ta que a o assina r o referido termo, o mesmo implica ra a perda do benefíci o”. Logo, a a tual legislação penal prevê que a “assistência educa cional ” compreendera a ins ti tui ção escolar e a forma ção profissional do preso e do interno peni tenciá rio. Ins titui como obri ga tório o ensino funda mental, i ntegra ndo-se no sis tema es colar da uni dade federa ti va . Já o ensino profissional deverá ser minis trado em nível de ini ciaçã o ou aperfei çoamento técni co. 4 - Método e procedimentos A presente pesquisa foi realizado por meio de uma pesquisa de campo, que é a observa ção in loco, dos fa tos tal como ocorrem e bibliográ fi ca que segundo Severino (2008) se cons titui a pa rti r do registro disponível , decorrente de pesquisas anteri ores , em documentos impressos , como livros , a rti gos , teses , etc. A pesquisa que aqui se apresenta foi realizada numa abordagem quanti ta ti va e qualita ti va , tendo em vis ta que a intençã o não é somente quanti fica r os dados coletados e representá-los es tatis ti camente. A respei to da pesquisa quanti ta ti va e qualita ti va , Neves (1996) afi rma que os es tudos quanti tati vos seguem com rigor um plano previamente es tabelecido, considerando as hipóteses e va riá veis que podem ser opera cionalizadas enquanto que a pesquisa qualita ti va não bus ca enumera r ou medir eventos , nem emprega ins trumentos esta tísti cos pa ra análise de da dos , pois seu foco de interesse é a obtenção de dados descri ti vos mediante o conta to di reto e intera ti vo do pesquisador com a situaçã o objeto de estudo. A pesquisa teve como lócus o Centro de Recupera ção do Coquei ro, localizado na Rodovia Ma ri o Covas , KM 09, no Conjunto Sa télite, bai rro do Coquei ro, Belém-Pa . Pa ra realiza ção da pesquisa fora m apli cados questioná rios cons ti tuídos de ques tões objeti vas e subjeti vas professoras e detentos . Severino (2007, p.125) corrobora escla recendo que o questioná rio é compreendido como conjunto de questões, sistematicamente articuladas, que se destinam a levantar informações escritas por parte dos sujeitos pesquisados, com vistas a conhecer a opinião dos mesmos sobre os assuntos em estudo. [...] Podem ser questões fechadas ou questões abertas. No primeiro caso, as respostas serão escolhidas dentre as opções pré-definidas pelo 128 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 pesquisador; no segundo, o sujeito pode elaborar, com suas próprias palavras, a partir de sua elaboração pessoal. O autor faz referência ao fa to de que os ins trumentos usados possibilita m ao entrevistado expor suas opiniões referentes às perguntas , seja por meio da alternati va que melhor se relaciona com a sua opinião sobre o assunto, no caso de ques tões fechadas ; ou pela expressão de s ua opinião sobre o tema de forma des cri ti va , no caso das ques tões abertas . CONSIDERAÇÕES FINAIS Pensa r a educa ção es cola r no âmbi to do presídio é necessá rio refleti r s obre sua contribui ção na vi da dos enca rcerados e da sociedade em geral , por meio da aprendi zagem pa rti cipa ti va e da convi vência baseada na valori za ção e desenvol vimento do outro e de si mesmo. Signi fi ca, ainda pensa r uma educa ção es cola r ca paz de fazer do preso um homem informado e pa rti cipante do mundo em que vi ve, adqui rindo consciência críti ca que fa voreça a capa cidade de questi ona r e problema tiza r o mundo, condi ção necessária para a prá ti ca social trans formadora . Acredi ta mos que a educa ção assume papel de desta que na reinserção social do apenado, pois além dos benefícios da i nstrução es cola r, oferece a o i nterno a possibilidade de pa rti cipa r de um processo de modifi ca ção capaz de mel hora r sua visão de mundo, contribuindo pa ra a forma ção de um censo cri ti co que auxilia no entendi mento de um valor da liberdade e melhora ndo o comportamento na vi da ca rcerá ria . Quaisquer que seja m os papeis possíveis apontados pa ra a “es cola ca rcerá ria” preencher o tempo, distrai r a mente, sai r das celas, conquista r benefícios jurídi cos , aprender a ler, escrever e fazer contas, ser aprovado nas provas – ela é percebida pelo aluno como algo posi ti vo pa ra suas vidas dentro das peni tencia rias. É um luga r onde vi vem experiências numa situa ção de intera ção em que existe a possibilidade de cons trução de respei to mútuo, da troca e da coopera ção, o que contribui pa ra que a pena possa ser vi vida de manei ra mais humana . REFERENCIAS BRASIL. Constituição da Republica Federativa, promul gada em 05 de outubro de 1988. 129 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 ________ Lei 9.394, 20 de dezembro de 1996. Lei de diretrizes e bases da Educação Nacional. Dia rio Ofi cial da ; União. Brasília. DF. 1996 _______ Lei 7.210, 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Presidência da Republica . FOUCAULT, M. Vigiar e punir: história da violência nas prisões . Petrópolis ; Vozes 1987. FREIRE. Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17º ed. Rio de Ja neiro: Paz e Terra ,1987, Ri o de Janei ro: Pa z e Terra , 1983. NEVES, José Luis . Pesquisa qualitativa – características, usos e possibilidades. Disponível <http://s chola r.google.com.br/s chola r?q=abordagem+quanti ta ti va +e+qualita ti va &hl =pt-BR>. Acessado em: 3jun. 2014 SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. rev. a tual . Sã o Paulo: Cortez, 2007. 130 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 RUMOR DA ARTE Obra : Impressão: Escritura do corpo. Artis ta : Sônia Garcia Técni ca : Gra vura digi tal “Nada menos de duas almas. Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para de ntro” (ASSIS, p. 10) A gra vura digi tal “Impressão: Escritura do corpo” tra z como referencia o texto, Estética da existência de Foucaul t, que dis cute a ques tão da a rte enqua nto forma de vida . Assim, ele parte do princi pio de que [...] o sujeito se abre para o mundo por meio de práticas da imanência ao entender que o olhar e a escuta do outro promove o olhar e o escutar a si (BARRADAS, p. 2). Nesse sentido, a obra nos faz refleti r sobre a nossa na tureza dualis ta aquela que está no centro da experiência humana , e expressa o conflito entre quem somos e quem queremos ser. Essa na tureza se encontra no âma go de nossas lutas , manifes tando s ua força em todas as fa cetas da vida , se apresentando anta goni camente na rela ção vi da e morte, bem e mal, esperança e resignaçã o, forças que coexis tem em todas as pessoas . E nos fa z questiona r sobre: Que estra nho habi ta dentro de nós? A obra retra ta a necessidade de exa mina rmos nossa vida , nosso eu mais obscuro, o eu s ombrio, onde es tá es condido nosso poder esquecido, esse ‘EU’ que se esconde na vergonha , nos becos escuros , nas passagens secretas e nos sótãos fantasmagóri cos de nossa consciência. Mostra ndo que ter um ‘EU’ sombrio não é possuir uma falha mais ser um ser completo. Pois segundo Ma chado de Assis em pri mei ro luga r, não há uma só alma, há duas : uma exterior, outra , interi or. A alma exteri or não é sempre a mesma , modi fi ca-se com as ci rcunstâncias . As duas juntas, meta fisicamente, se completam, quem perde s ua alma exterior vi ve incompletamente. A Gra vura di gi tal “Impressão: Escritura do corpo” compos ta de duas fotogra fias plotadas em PVC contém a figura de um ros to dupli cado montadas uma de cos ta pa ra a outra , apresentando as mes mas ca ra cterís ticas , como as de i rmãs gêmeas uni vi telinas, em outro momento as i magens se fundem forma ndo um úni co ros to. Nelas apa rece a poesia 131 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 CORPO OCO DURO DE ROER, a qual é dispos ta nas i magens representando o conflito exis tente na cons ciência humana . 132 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Obra : “Entre Noesis e Noema, Corpo”. Artis ta : Jaime Barradas Técni ca : Fotografia de Performance. A proposi ção a rtís tica esta belece uma rela ção de proxi midade entre as noções de presença e ausência em que o corpo ma terializa . Seja porque a proposi ção a rtís ti ca é o registro da performance a rtís tica Estados da Alma em que o sentido de presença é fundamental pa ra a a ção. Ao passo que a fotografia ao registra r o dado ins tante gera um es tado de corporalidade que a ciona pa radoxalmente na ausência a presença ou um es tado de corpo que se vela e se des vela, remetendo-nos à visão corpórea , exis tencial trans ves tida entre o a to intencional da cons ciência (noesis) e aquilo que é vis to (noema). De modo a ha ver uma modifi ca ção em termos de experiência signi fica ti va gera da por nova a tribuiçã o de sentido: o que é o corpo. “Por essa anexa ção, a di versidade das ima gens é unifi cada na profundida de espaço interior. Fórmula decisi va entre a i mensidade do espa ço do mundo e a profundida de do ‘espaço interi or” (BACHELARD, 1993, p. 209). Adota-se referência às ca tegorias fenomenológi cas (MARTINS, 1992) pa ra metafori za r alguns aspectos de nossa exis tência : início-fi m-início, ou cons ciência da fini tude em busca de uma continuidade existencial do corpo sentido/percebido e não mecani zado e dis ciplinado. 133 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Obra : Mestiçagem Artis ta : Mauricio Pensador Técni ca : Fotomonta gens As fotomontagens híbri das inti tuladas MESTIÇAGEM tra zem a fusão de identidades , de corpos tra ves tidos da genealogia Pensador. Nessas produções tra go a reflexão sobre a concepção de mesti çagem fa zendo um es tudo étni co de mi nha família. Meu pai e a vô que tem descendência quilombola , minha mãe europeia e indígena . Esse patri môni o mul ticul tural me fez es tuda r o tema Identidade como objeto de cria ção em minhas produções a rtís ticas . 134 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Obra : A cada tempo Artis ta : Tadeu Nunes Técni ca : Autoins talação “Tempo”, registra , dema rca , trans forma, não se vê, se percebe, sua velocidade é constante assim como as ma rcas e ou tra nsforma ções percebidas por sua passagem. Nã o consegui mos pa rá-lo ou se quer reduzi r sua velocidade. Não conseguimos al cançá-l o, na obra sua representa ção é dada pelo relógio ao centro da cai xa , que, se encontra s obre um espelho que reflete a i magem de quem olha a obra , e ao mes mo tempo torna o observador, pa rtícipe da instala ção e de sua própria representa ção, o tempo. Os pregos sinaliza m a impossibilidade de a tingir o tempo (relógio), e do mesmo modo, são regis tros de que tudo se tra nsforma a o sofrerem oxida ção, um desgas te na tural do metal em conta to com a umidade presente no a r, e que se torna mui to mais visível, com o passar do tempo. O vi dro é uma analogia, a o mesmo tempo em que vemos o tempo passar, não podemos toca r, apenas observa r e senti r suas transformações. 135 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Obra : Um olhar sobre o corpo Artis ta : Bárbara Freire Técni ca : Fotografia Durante meu processo de cria ção da ima gem, me proponho a compreender as mudanças que ocorrem ao l ongo do tempo. Relacionando o mundo real com os processos subjeti vo que compõem minhas i deias, percepções, intui ções e senti mentos ao vi vencia r situa ções que registro em meus momentos de cons truçã o ima gética . Meu tra balho tra ta de reuni r corpos velados , cobertos que se colocam em poucas visualidades , podendo ressalta r tradi ções que são comba tidas, des truídas em longos processos de perdas ou des venturas pa ra alguém ou pa ra al go. Em outra ima gem vemos aquele alguém ao longe, que se apresenta em uma penumbra , contra luz apenas por uma freta imprimida em uma janela, com reflexos , sobreposi ções e sensações mistura das ao tempo presente, passado e futuro que es tá por vi r em novas configura ções. Uma composi ção da história ou de vá rias histórias que estã o ma rca das nas texturas e efei tos inseridos em um processo de cria ção de observa ção e percepção da a rtista . Tenho vi vi do rela cionando minhas experiências e sentimentos pa ra conduzi r meu processo de cria ção e expressão na linguagem fotográ fi ca , ca da novo l uga r em di ferentes tempos tem me possibilitado um ri co e di versi ficado modo de intui r e cria r minha produçã o pa ra novos ensaios fotográ ficos. 136 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Obra : Habitar, Corpo-Transitivo Artis ta : Sancris Santos Técni ca : Fotomonta gem Na série “Habita r, Corpo-Transi ti vo” trago fotomontagens de minha mãe na tercei ra idade, como um convi te pa ra que o públi co possa visita r a sua morada . É o convi te que me fa ço, pois creio que ao olhá -la assim questi ono a minha condi ção humana e o que MERLEAUPONTY (2001, p. 278)50 nos fa z pensa r sobre o sentido do corpo: Nós reaprendemos a sentir nosso corpo, reencontramos, sob o saber objetivo e distante do corpo, este outro saber que temos dele porque ele está sempre conosco e porque nós somos corpo. Da mesma maneira, será preciso despertar a experiência do mundo tal como ele nos aparece enquanto estamos no mundo por nosso corpo, enquanto percebemos o mundo com nosso corpo. Mas, retomando assim o contato com o corpo e com o mundo, é também a nós mesmos que iremos reencontrar, já que, se percebemos com nosso corpo, o corpo é um eu natural e como que o sujeito da percepção. Nas sociedades ocidentais o corpo tem sido considerado o l uga r, terri tóri o da semelhança e da di ferença . No entanto, à medida que esse corpo vai sofrendo as intempéries do tempo, chegando à tercei ra idade, a vulnerabilidade se torna tão presente pela fra gilidade físi ca e pela convales cência advi nda com as doenças e, em alguns casos , somada à violência social . Nas fotomonta gens há o tra ta mento plásti co da cor sépia , das camadas de i magens sobre i magens com fusão e tra nspa rência , remetendo ao interi or de uma casa envelhecida que se es tende e lembra o enrugamento da pele nos detalhes do corpo e no semblante da mulher. Os planos em detalhe, aproxi mado e em pl ongée (de cima pa ra bai xo) reforçam o sentido de proteção, como uma redoma , o interior do espa ço da casa ou da ideia de útero, a exemplo da pri meira e da úl tima foto; a fusão e tra nspa rência das camadas de texturas que se apresentam na primei ra e últi ma foto sugerem a sensa ção de uma placenta , um corpo contido nesses espa ços interiores, ora casa-corpo e ou corpo-espaço-útero, em que a figura se encontra às vol tas consi go mesma , com suas memórias/lembranças, relicá rios de fé/crendi ce, potencializando sua força . Além desses aspectos , essa pesquisa artís ti ca confronta os processos que leva m à 50 MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da Percepção 2. ed. trad. de Carlos Albe rto Ribe iro de Moura. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 137 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 perda da sensibilidade e à desumani zação dos sentidos na sociedade contemporânea em rela ção ao Ser humano, pois com advento da moderni dade e a ênfase na prima zia da razã o, o corpo veio se tornando ca da vez mais uma máquina , dis tanciando o humano da capa cidade sensível . Na sociedade de consumo val oriza -se o pensamento ra ci onalista , di cotomi zando corpo e mente; razão e emoção/sensibilidade. O tema que emerge desse confronto é o de compa rtilha r a ideia de que o saber sensível e o conheci mento inteligível podem, pela a rte, se atra vessar e conta mina r, se a compreendermos como saber simbóli co que pode fazer aquele que produz e o que aprecia inventores de si, li vres pa ra cria r como um a rtis ta , segundo Deleuze51. Entã o, pensa r é habi ta r, cons trui r a i manência daquilo que se concebe como necessário pa ra vi ver, sendo feliz, entendendo que pra isso é preciso construi r a ponte entre o sensível e o inteligível e a a rte se a presenta como uma a ntítese pa ra a sociedade com os seus pa radoxos , possibilitando que, ao reabita r esse corpo presente nas i magens , percebamos como seres sensíveis-inteligíveis a passagem/movimento do tempo, as ma rcas i mpressas e a beleza es tranha , diferente, humana [...] demasiadamente humana . 51 DELEUZE, G; GUATTARI, F. O que é a filosofia? Tradução de Bento Prado Jr. e Alberto Alonso Muñoz. São Paulo: Ed. 34 Le tras, 2005. 138 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Obra : Depois do WhatsApp Artis ta : Edson Paixão Técni ca : Fotografia/ Intervenção di gi tal Trans ves tidos corpos não a pa rentes , eis nossa mutabilidade protogenéti ca sendo trans mutadas, dissol vidas por a ções inferenciais, que surgem agora em um ri tmo inumano, sinestési co, observe ao seu lado, a pessoa aga rra da ao seu apêndi ce tecnológi co, i mersi va perdida em um olha r traga do pelo vi rtual, dis traído pa ra o mundo real, dependendo de gestos frenéti cos de polega res performa ti vos , ligei ros , resfolegando-se e dissolvendo-se sobre uma tela frontal de cristal liquido LCD, uma inter-rela ção exterocepti va , na bus ca pela informa ção, plugados ao hi-fi interligado ao ciberespa ço. Um novo perfil que s urge e adapta-se ao sis tema a ele impos to, um delinea mento que exige um perfil sensório-percepti vo um polissensiati vo, envol vidos em mecanorreceptores , quimiorreceptores além de fotorreceptores , al tamente desenvol vi dos , novos sujei tos integra ti vos imersi vos cibernautas, prepa rados pa ra receber doses ma ci ças de informa ções intera ti vas permanentemente. Apresenta mos os novos humanos , ina ti vos, i mobilizados , semi mortos , frutos de uma de uma conexão indissolúvel , inconsútil, sincroni zados apenas com opera ção mental , mecanismo a bsorventes , extrema mente veloz, um input sensório segundo Sa ntaella, o caso de uma na vega ção supra -intera ti va . Um prospecto aplica do à realidade vi rtual tridi mensional , recomputando-se informa cionalmente e concei tualmente, em um es timulo processo de cons tante evolução e adapta ção. 139 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Obra : A inexatidão da verdade Artis ta : SAINT'CLAIR Técni ca : Vídeo Arte “Não é ao objeto físico que o corpo pode ser comparado, mas antes à obra de arte”. Merleau-Ponty, 1994, p. 208. Com es te vídeo a rte procurou-se a pa rti r de Merleau-Ponty uma reflexão sobre o corpo em duas perspecti vas ; na pri mei ra , uma fenomenologia do corpo inspi rada no ima giná rio de Ponty a pa rti r de Cézane e na segunda a rela ção dessa fenomenologia com a educaçã o, considerando a inexa tidão da verdade, a pa rti r de Ma tisse. Refletindo a pa rti r do movimento do olha r sobra a obra de a rte e considerando o corpo como tal , a fenomenologia pontyana ul trapassa o limi te do vis ível projetando-se sobre os símbolos , sobre o imaginá rio, sobre a história sobre a sexualidade, dentre mui tas outras á reas de gestão da vida e do conhecimento. Neste sentido, o vídeo “A inexa tidão da verda de”, usa o corpo humano como suporte, numa pers pecti va fenomenológi ca que não se encerra como objeto; indo mui to além dessa ideia em busca da experiência vi vi da, na profundidade dos ins tintos , da sexualidade, da rela ção com o outro. Ao se apropria r do desenho de linhas que se alternam e nunca se repetem remete a Ma tisse (2007, p.194) onde, “a evidente inexa tidão, ana tômica , orgâni ca dos desenhos nã o prejudi cam a expressão, do ca ráter ínti mo da verdade essencial do personagem, mas a o contrá rio, ajudam a exprimi -lo”; assim como, a utiliza ção de uma associação de espelhos que lembram a queles utilizados por Ma tisse na produção de seus auto retra tos procurando mos tra r, segundo ele, que a exa tidão do desenho não representa , necessa riamente, a verdade. Os blocos que pulsam, gi ram, expandem e contraem, movi mentam o olha r como numa provoca ção ao corpo e a alma a ul trapassarem os limi tes do visível ; assim como as ima gens , os volumes dos corpos , as proporções, a ampli tude das formas , a liberdade do corpo no uso do espaço que tanto influencia ram Merleau-Ponty em seus ensaios. Por fim, o vídeo “A inexa tidão da verdade” propõe outra visão sobre o tempo e sobre o ser humano; corpos tra ns vestidos que remetem a Ponty na pintura , na poesia e nas ima gens do cinema , como outros modos de se ver a ciência e a filosofia . 140 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 REFERÊNCIAS MATISSE, Henri . Escri tos e reflexões s obre a rte. Tradução Denise Bottmann. Sã o Paulo: Cosa c Naify, 2007. MERLEAU-PONTY, Ma uri ce. Fenomenologia da percepção. Tradução de Ca rlos Alberto Ri beiro de Moura . São Pa ulo: Ma rtins Fontes , 1994. 141 RevISE-RevistaInterdisciplinardoInstitutoSuperiorde EducaçãodeAnanindeua(online) V.1, n.1, 2014 Obra: Corpo cidade cubos Artis ta : Lindalva Técni ca : Desenho Sã o desenhos sobre papel expos tos dentro de recipientes de vidro (cai xas) com 6 vis tas. São cinco cubos de vidros em mi niaturas 10 cm X 10 cm X 10 cm. O Tema abordado é o Corpo-Cida de, mas a obra me fez pensa r no li vro No Interior do Cubo Branco de Brian O’Doherty. Nessa li tera tura o autor fa z reflexões que nos a juda m a entender mais as rela ções visíveis e i ntrínsecas presentes dentro dos espaços expositi vos , galerias, museus [...} com apontamentos que dis cutem o contexto em que as mesmas se fi rma ra m a pa rti r do modernismo. Penso que o pa ralelo com as obras de Lindal va , es tá na relação que as cidades engessadas, terri torializa m não só espaços, mas sujeitos, que nas obs curidades das sombras se apresentam passi vos a espera de que al guém os des cubra . A relação do públi co com suas obras exi ge a parti cipa ção não só com os olhos/visão, mas ta mbém com o corpo quando da ma nipula ção pa ra toca r/ver o que nelas es tá contido. 142