1º Ten Al JACQUELINE RIBEIRO SANTOS
OS RECURSOS MIDIÁTICOS COMO FERRAMENTA NO PROCESSO DE ENSINO
APRENDIZAGEM
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à Comissão de Avaliação de
Trabalhos Científicos da Divisão de
Ensino da Escola de Formação
Complementar do Exército, como
exigência parcial para a obtenção do
título de Especialista em Aplicações
Complementares às Ciências Militares.
Aprovado em: _________/______________________/2011.
________________________________________________________
SELMA IARA GOMES LOPES TAVARES – Maj – Presidente
Escola de Formação Complementar do Exército
_______________________________________________________
NADJA DE ASSIS MENDONÇA – Cap – 1º Membro
Escola de Formação Complementar do Exército
________________________________________________________
RUDNEY FERREIRA GOMES – 1º Ten – 2º Membro
Escola de Formação Complementar do Exército
OS RECURSOS MIDIÁTICOS COMO FERRAMENTA NO PROCESSO DE ENSINO
APRENDIZAGEM
2
Jacqueline Ribeiro Santos¹
Resumo:
Este artigo tem por finalidade realizar uma análise nos processos de utilização dos
recursos midiáticos como ferramenta no processo de ensino aprendizagem, buscando entender de
que maneira é realizada essa integração. Para tanto, toma como referencial teórico os autores Moran
e Masetto. Pretende-se discutir o papel do professor nesse processo de ensino por meio dos recursos
midiáticos, usando sempre argumentos que possam comprovar que a presença do professor é
imprescindível, apesar das vantagens que as tecnologias trazem. A discussão deste artigo mostra
como é possível trabalhar de maneira interdisciplinar utilizando os recursos midiáticos disponíveis. E
ainda, observar aulas de algumas disciplinas do Colégio Militar de Salvador e dar algumas sugestões
por intermédio de profissionais da área educacional para a melhoria do processo pedagógico. O tema
analisado reveste-se de extrema importância na medida em que houve uma expansão dos meios de
comunicação e esses influenciam os nossos jovens na maneira de apreender os conteúdos. Através
de profissionais da área educacional citados neste trabalho foi possível constatar o quanto é produtivo
do ponto de vista pedagógico a utilização das mídias no ambiente escolar, sendo assim, este trabalho
objetiva sugerir o uso cada vez mais frequente pelos educadores das mídias disponíveis a fim de
tornar o processo de ensino ainda mais atraente, acreditando-se que os alunos podem aprender, e de
fato aprendem, mediados pelas informações veiculadas no jornal, televisão, revistas, internet, blogs,
etc.
Palavras Chaves: Recursos Midiáticos, Educação, Conhecimento.
Abstract: This article aims to perform an analysis in the process of use of media resources as a tool
in teaching-learning process, seeking to understand how this integration is performed. For this, it is
used the authors Moran and Masetto. It is intended to discuss the role of teacher in this learning
process through the media resources, always using arguments that can prove that the teacher's
presence is essential, despite the advantages that technology brings. The discussion of this article
shows how you can work in an interdisciplinary way using the media resources available. And yet,
observe classes in some disciplines at the Colégio Militar de Salvador and give some suggestions by
professionals in the education area for the improvement of the educational process. The topic
discussed is of extremely important for the extent that there was an expansion of the media and they
influence our young people in the way of grasping the content. Through educational professionals
cited in this study, we prove how productive is the pedagogical point of view the use of media in the
school environment, so this paper aims to suggest the increasingly frequent use by educators of
media available to make the teaching more attractive, believing that students can learn, and in fact
learn, mediated by information carried in the newspaper, television, magazines, internet, blogs, etc..
Key Words: Media Resource, Education, Knowledge.
1. Introdução
Ao se reportar sobre a importância
da inserção dos recursos midiáticos no
processo de ensino aprendizagem é
imprescindível trazer o conceito desta
ferramenta tão importante, para que se
torne mais clara a compreensão do que se
pretende explorar.
Segundo
Ferreira
(2011)
midiático – [ De mídia + - ático] Adjetivo
comum. 1. Que concerne à mídia. 2.
Transmitido pela mídia.
Mídia – 1. Designação genérica
dos meios, veículos e canais de
comunicação, como, por ex., jornais,
revista, rádio, televisão, outdoor, internet,
blogs, etc. 2. Setor de agência de
propaganda responsável pela veiculação de
anúncios na mídia (1)
(FERREIRA,
2004, p.553).
3
Entendemos dessa maneira que
Recursos Midiáticos envolvem todos os
veículos e/ou canais responsáveis pela
transmissão de informação, e neste
contexto as novas tecnologias têm tido
papel fundamental no processo de
propagação da informação.
Com o desenvolvimento de novas
mídias e tecnologias, como a internet e a
TV a cabo, mudam os conteúdos e a
maneira de lecionar, a linguagem midiática
é, sem dúvida, um novo tipo de conteúdo
com o qual o professor terá que saber lidar.
As mídias estão oferecendo oportunidades,
informações, recursos, técnicas, agilidade e
atração. Elas têm a capacidade de fascinar,
envolver, alucinar, e distrair.
Segundo Moran (2010, p. 61) é
pertinente pensar que:
Na sociedade da informação, todos
estamos reaprendendo a conhecer, a
comunicar-nos,
a
ensinar;
reaprendendo a integrar o humano e o
tecnológico; a integrar o individual, o
grupal e o social. É importante
conectar sempre o ensino com a vida
do aluno. Chegar ao aluno por todos
os
caminhos
possíveis:
pela
experiência, pela imagem, pela
representação
(dramatizações,
simulações), pela multimídia, pela
interação on-line e off-line.
Diante desse contexto, urge saber
se o uso da linguagem midiática nas salas
de aula do ensino fundamental do Colégio
Militar de Salvador tem sido empregado de
maneira eficaz, na tentativa de confirmar
ou não a hipótese de que a utilização de
tais recursos é relevante no sentido de
tornar o processo ensino aprendizado mais
atraente; além disso, pretende-se investigar
o papel do professor no tocante à aplicação
dos recursos midiáticos no âmbito escolar.
Partindo da compreensão de que
os recursos midiáticos representam uma
ferramenta
poderosa
no
contexto
educacional, este artigo tem como objetivo
geral: Discutir o tema “Os Recursos
Midiáticos como ferramenta de ensino
aprendizagem e a importância da mídia
como instrumento para o aprendizado
dentro de qualquer ambiente de ensino”. A
fim de alcançar este objetivo procedeu-se a
análise da contribuição dos recursos
midiáticos
no
processo
ensino/aprendizagem do 6º ano do CMS,
a observação dos resultados positivos e os
possíveis óbices encontrados nesse
processo de análise e a elaboração de
algumas propostas de melhoria de uso dos
mesmos, nos ambientes ora analisados.
Para a composição deste artigo
foram elaboradas seis seções, distribuídas
da seguinte maneira: na subseção 2.1,
abordou-se o papel do professor no
contexto de utilização das mídias,
buscando chamar a atenção para o fato de
que nesse processo o professor tem e
sempre terá um papel importante.
Na subseção 2.2, tratou-se da
relevância da utilização das mídias nos
dias atuais, observando o que é
preconizado pelos documentos oficiais que
norteiam a educação, no caso aqui – os
Parâmetros
Curriculares
Nacionais
(PCNs).
A seção 3 trata dos procedimentos
metodológicos usados para a confecção
deste artigo.
Na seção 4, foram feitas algumas
considerações no que tange à integração
dos recursos midiáticos e a atividade
pedagógica, com a preocupação de mostrar
que o uso da mídia somente terá
importância se for adequada para facilitar o
alcance dos objetivos.
Na subseção 4.1, apresentou-se o
tema
interdisciplinaridade,
e
sua
vinculação com a mídia, dialogando com a
possibilidade
de
se
trabalhar
interdisciplinarmente com os conteúdos
que a mídia nos proporciona.
E na seção 5,
foram feitas
algumas considerações quanto ao uso dos
4
recursos midiáticos no Colégio Militar de
Salvador a partir da observação de aulas
ministradas nesse estabelecimento de
ensino.
E finalizando este artigo as nossas
considerações finais acerca de tudo que se
observou.
2. Os Recursos
Educação
Midiáticos
e
a
Nesta seção será abordado o
tópico “Recursos Midiáticos e a
Educação”, com especial ênfase no papel
desempenhado pelo professor neste
processo, e ainda, a relevância do uso das
mídias no contexto educacional.
2.1 O Papel do educador/professor no
uso dos Recursos Midiáticos
Ao pensar na organização da
classe, não se pode esquecer o conceito de
mediação,
centro
do
pensamento
Vygotskyano. Interagir com outra pessoa,
adulto ou colega é a melhor maneira de a
criança/adolescente
avançar
no
aprendizado. Essa mediação pode, nos dias
atuais, ser feita também com a internet,
livros, revistas, DVDs e CDs nas
atividades de construção do conhecimento.
O uso de qualquer tecnologia em
sala de aula – do giz à Internet – precisa
ser entendido não como milagrosa solução
das dificuldades de aprendizagem, ou um
novo método de ensino, mas como um
meio para atingir um fim no qual o
professor tem e sempre terá um papel
importante nesse processo de construção.
De acordo com Masetto (2010, p.
163)
Nem é preciso comentar que a
riqueza desses recursos nem de longe
deverá substituir a presença e a ação
do professor com os alunos. Essas
técnicas deverão, isto sim, colaborar
para ações conjuntas de professor e
alunos em busca da aprendizagem.
Neste processo, os professores
continuarão a ser os responsáveis em
avaliar e decidir como as mídias poderão
ser utilizadas como ferramenta na sala de
aula. Segundo Masetto (2006) apud Torres
e Cavalcante (2009), “ a mediação
pedagógica significa a atitude, o
comportamento do professor que se coloca
como um facilitador, incentivador e
motivador da aprendizagem.”
Ainda nesta perspectiva Behrens
(2010, p.96) nos declara o seguinte
Com a visão de que a tecnologia está
a serviço do homem e pode ser
utilizada como ferramenta para
facilitar o desenvolvimento de
aptidões para atuar como profissional
na sociedade do conhecimento, os
professores precisam ser críticos para
contemplar
em
sua
prática
pedagógica o uso da informática,
oferecendo os recursos inovadores
aos alunos.
Quando se pensa no uso da mídia
para fins educativos, sabemos das
vantagens que seus produtos levam sobre a
escola devido ao tipo de envolvimento
emocional que os recursos das linguagens
presentes na mídia têm à disposição. Ao
usar da ficção como filmes comerciais e
jogos em multimídia para tratar de
conteúdos de um determinado currículo,
seja ele, Geografia, Português, Língua
Estrangeira, etc., tem-se o objetivo mais
amplo e profundo que o de criar um
ambiente agradável, envolvente e, por
consequência atrativo o suficiente para
prender a atenção dos alunos. O objetivo
seria o de inserir nos alunos o estudo sobre
essas linguagens presentes em seu
cotidiano para que sejam capazes de fazer
uma leitura mais crítica e elaborada de sua
realidade cotidiana e de interferirem
conscientemente nela.
5
Nesse contexto cabe ressaltar a
compreensão que Freire (1996, p.52) tem
acerca do ensino. Em uma perspectiva
progressista, ele diz que “saber ensinar não
é transferir conhecimento, mas criar as
possibilidades para a sua própria produção
ou a sua construção.”
2.2 A Mídia e a sua relevância
Cientes de que as mídias têm um
papel importante e são um instrumento
essencial para o aprendizado, porque
nossos jovens precisam dominar as
linguagens que se entrecruzam em seu
cotidiano cada vez mais globalizado, os
Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs
(1998) indicam como objetivos do ensino
fundamental que os alunos sejam capazes,
dentre outras coisas, de saberem utilizar
diferentes fontes de informação e recursos
tecnológicos para adquirir e construir
conhecimentos.” E ainda, em linhas gerais
os PCNs caracterizam-se por: “apontar a
necessidade do desenvolvimento de
trabalhos que contemplem o uso das
tecnologias da comunicação e da
informação, para que todos, alunos e
professores, possam delas se apropriar e
participar, bem como criticá-las e/ou delas
usufruir.”
A integração dos meios de
comunicação na escola são relevantes pois,
segundo Masetto (2010, p. 33)
Antes de a criança chegar à escola, já
passou por processos de educação
importantes...
A criança também é educada pela
mídia, principalmente pela televisão.
Aprende a informar-se, a conhecer –
os outros, o mundo, a si mesma -, a
sentir, a fantasiar, a relaxar, vendo,
ouvindo, “tocando” as pessoas na
tela, pessoas estas que lhe mostram
como viver, ser feliz e infeliz, amar e
odiar. A relação com a mídia
eletrônica é prazerosa – ninguém
obriga que ela ocorra; é uma relação
feita através da sedução, da emoção,
da exploração sensorial, da narrativa
– aprendemos vendo as histórias dos
outros e as histórias que os outros nos
contam. Mesmo durante o período
escolar a mídia mostra o mundo de
outra forma – mais fácil, agradável,
compacta – sem precisar fazer
esforço. Ela fala do cotidiano, dos
sentimentos, das novidades. A mídia
continua educando como contraponto
à educação convencional, educa
enquanto estamos entretidos.
A evolução ocorrida nas últimas
décadas nos meios de comunicação são de
tal envergadura que se tornou impossível
para a escola ignorar tal realidade. Mas,
não foram apenas as transformações
ocorridas nos meios de comunicação, os
estudantes mudaram radicalmente a
maneira
como
apreender
os
conhecimentos.
3 Procedimentos Metodológicos
A metodologia do trabalho aponta
em duas direções complementares entre si
e essenciais para a confirmação das
hipóteses aventadas. Inicialmente, através
de
uma
comparação
bibliográfica
procurou-se observar o atual estágio de
conhecimento do tema, optando-se por um
referencial teórico claro, no caso, Moran e
Masetto e seus trabalhos sobre a mediação
pedagógica e uso de novas tecnologias.
Em segundo lugar, assistiu-se a
aulas de variadas disciplinas com o fito de
analisar criticamente o uso ou não do
arsenal midiático como ferramenta
pedagógica; suas implicações positivas
e/ou insucessos (no caso de existirem).
A observação das aulas tiveram
como propósito para este trabalho
contribuir com propostas que auxiliem na
melhoria do processo pedagógico, trazendo
esclarecimentos e sugestões de trabalho de
profissionais da área educacional.
4. A Integração dos Recursos Midiáticos
no Contexto Escolar
6
Na perspectiva de integração
entre as mídias e a atividade pedagógica,
faz-se
necessário
conhecer
as
especificidades dos recursos midiáticos,
com vistas a utilizá-los nos objetivos
didáticos do professor, de maneira que
possa enriquecer com novos significados
as situações de aprendizagem vivenciadas
pelos alunos.
Dessa maneira afirma em
entrevista, Regina Scarpa, coordenadora
pedagógica da Revista Nova Escola que
... só vale levar a tecnologia para
a classe se ela estiver a serviço dos
conteúdos. Isso exclui por exemplo,
as apresentações em Power Point que
apenas tornam as aulas mais
divertidas (ou não!), os jogos de
computador que só entretêm as
crianças ou aqueles vídeos que
simplesmente cobrem buracos de um
planejamento malfeito. Do ponto de
vista
do
aprendizado
essas
ferramentas devem colaborar para
trabalhar conteúdos que muitas vezes
nem poderiam ser ensinados sem
elas.
Em consonância com a afirmação
de Regina Scarpa, Masetto (2010, p.144)
declara
É importante não nos esquecermos de
que a tecnologia possui um valor
relativo: ela somente terá importância
se for adequada para facilitar o
alcance dos objetivos e se for
eficiente para tanto. As técnicas não
se justificarão por si mesmas, mas
pelos objetivos que se pretenda que
elas alcancem, que no caso serão de
aprendizagem.
Durante anos, o professor vem
desenvolvendo sua prática pedagógica,
principalmente, dando aulas passando o
conteúdo no quadro, corrigindo exercícios
e prova dos alunos. Mas, este panorama
começou ( e continua) a ser alterado com o
acesso aos diversos tipos de mídias pelos
alunos.
Diante desse cenário, com o
acesso e a inserção de diversas mídias no
processo de ensino aprendizagem, surge
uma nova demanda para o professor: saber
como usar pedagogicamente as mídias,
nesta perspectiva, este “como” envolve
saber “o quê”, “o porquê” usar tais
recursos.
Toda e qualquer profissão exige
de seus profissionais uma formação
constante até mesmo porque o mundo está
em constante evolução. Com os
profissionais da Educação isso não seria
diferente. Diante dessa realidade, é
necessário que cada um invista tempo,
dedicação e recursos em sua formação
continuada para que possa fazer a
diferença no processo educacional.
As instituições de ensino estão,
no século XXI, sendo desafiadas a
repensarem seu currículo de forma a
integrarem os novos recursos midiáticos,
sem contudo abandonarem os antigos, no
processo de ensino aprendizagem. Dentro
dessa realidade a tecnologia tem sido usada
como ferramenta para aprendizagem
oferecendo recursos inovadores aos alunos,
como diz Behrens (2010, p. 96)
Com a visão de que a tecnologia está
a serviço do homem e pode ser
utilizada como ferramenta para
facilitar o desenvolvimento de
aptidões para atuar como profissional
na sociedade do conhecimento, os
professores precisam ser críticos para
contemplar
em
sua
prática
pedagógica o uso da informática,
oferecendo recursos inovadores aos
alunos.
Neste contexto várias instituições
e cursos de formação de docentes vêm se
preocupando em capacitar professores a
fim de que estejam afinados com essa
realidade, como por exemplo, o curso
fornecido pelo Ministério da Educação e
Cultura (MEC) – Mídias na Educação, que
é um programa de educação a distância,
7
com estrutura modular, que visa
proporcionar formação continuada para o
uso pedagógico das diferentes tecnologias
da informação e da comunicação – TV e
vídeo, informática, rádio e impresso.
4.1 A Interdisciplinaridade e o Uso da
Mídia
A Interdisciplinaridade surgiu na
França e na Itália em meados da década de
60, num período marcado pelos
movimentos estudantis que, dentre outras
coisas, reivindicavam um ensino mais
sintonizado com as grandes questões de
ordem social, política e econômica da
época.
No final da década de 60, a
interdisciplinaridade chegou ao Brasil e
logo exerceu influência na elaboração da
Lei de Diretrizes e Bases Nº 5.692/71.
Desde então, sua presença no cenário
educacional brasileiro tem se intensificado
e, recentemente, mais ainda, com a nova
LDB Nº 9.394/96 e com os Parâmetros
Curriculares (PCN).
O termo Interdisciplinaridade
tem um conceito de caráter polissêmico,
entretanto, para a nossa discussão não se
faz necessário dissecar as suas variantes,
apenas em linhas gerais expor o seu
conceito, para que haja uma melhor
compreensão
da
relação
interdisciplinaridade e mídia.
palavra
respeito
– ação
(dade –
ação.).
Interdisciplinaridade deriva da
primitiva disciplinar (que diz
a disciplina), por prefixação (inter
recíproca, comum) e sufixação
qualidade, estado ou resultado da
Interdisciplinaridade, como o
próprio conceito recomenda, não anula as
disciplinas, mas pede que as mesmas
dialoguem entre si numa perspectiva
educacional em busca de inovação, assim,
duas ou mais disciplinas relacionam seus
conteúdos
para
aprofundar
o
conhecimento. Dessa forma, o professor de
Geografia, ao falar da localização do Pão
de Açúcar, poderia utilizar um texto
poético, assim como o de Ciências
analisaria a história da ocupação da cidade
para entender os impactos ambientais no
entorno.
Cavalcante (2005) relatou em seu
artigo, “Interdisciplinaridade: um avanço
na educação”, a experiência vivida por seis
professores do Colégio Santa Maria, de
São Paulo. A crise de energia que obrigou a
população a racionar energia e fez com que
o Brasil buscasse fontes alternativas foi
mostrada à exaustão nos noticiários, e
passou a ser o centro das discussões nas
salas de aula. Os professores do Colégio
Santa Maria se reuniram em torno de um
projeto interdisciplinar. Desde então, os
alunos estudam fontes alternativas de
energia, produzem aquecedores solares e
ensinam a população a utilizá-los. Segundo
Cavalcante (2005) “ o sucesso do projeto
se explica principalmente porque os
conteúdos de Ciências, Matemática,
Geografia, Língua Portuguesa, História e
Ensino Religioso foram colocados a
serviço da resolução de um problema real,
de forma integrada.”
As
informações
veiculadas
através da mídia não têm a pretensão de
dissecar conteúdos curriculares nem tão
pouco é sua função fazê-la, mas sim
exercer o seu papel principal que é de
informar.
Aproveitando-se
dessa
característica a escola tem muito a ganhar
utilizando-se da informação para educar, e
fazendo uma conexão entre a informação e
os conteúdos que se pretende transmitir.
Atualmente, os educandos chegam ao
ambiente escolar com uma bagagem
informacional bastante atualizada, pela
facilidade que tem hoje à informação,
assim cabe ao educador fazer o aluno
enxergar a informação de forma crítica de
forma que ela possa sempre mudar a
realidade em que vive.
Como forma de ilustrar a maneira pela qual
8
um Recurso Midiático pode ser tratado de
maneira interdisciplinar reproduzo a
entrevista da Gerente de Projetos
Educativos do Itaú Cultural, Flávia Aidar,
ao site da Educação Pública do Rio de
Janeiro, publicado em 01 de Fevereiro de
2011. Aidar aponta as vantagens de utilizar
o jornal em sala de aula e dá algumas
sugestões de como ele pode servir como
recurso pedagógico.
Eventos esportivos que envolvem
países de todo o mundo, como as
Olimpíadas e a Copa do Mundo,
podem ter suas notícias utilizadas em
disciplinas como Educação Física;
História (estudo da origem de cada
país e das diferenças culturais entre
eles);
Geografia
(localização,
características físicas e econômicas
de cada nação); Matemática (no caso
das Olimpíadas, pode-se fazer a
contagem das medalhas e os
diferentes valores atribuídos às
medalhas de ouro, prata e bronze; na
Copa do Mundo, pode-se utilizar a
Matemática para fazer a contagem
dos pontos de cada seleção); Física (a
trajetória da bola, a leis da gravidade
que os atletas olímpicos por vezes
parecem desafiar, a aceleração dos
corpos etc.); Filosofia (a origem dos
jogos olímpicos na Grécia Antiga e
sua relação com a mitologia). Como
se vê, tais acontecimentos podem
mesmo se tornar grandes projetos
interdisciplinares.
Desequilíbrio ecológico, desastres
ambientais e outros danos à natureza
estão a toda hora nos jornais e podem
ser estudados com propriedade em
Biologia e Geografia, assim como a
recente tragédia ocorrida na Região
Serrana do Rio de Janeiro. O
episódio envolveu diversos aspectos
relacionados a essas disciplinas,
como desgaste do solo, deslizamento
de terras, erosão, força das chuvas e
ocupação humana desorganizada nas
áreas de risco, entre outras coisas que
podem ser discutidas utilizando
notícias. E, devido ao grande espaço
que tal catástrofe tomou na mídia, é
quase certo que vá despertar grande
interesse dos alunos.
Estes
são
apenas
alguns
exemplos pontuais de como utilizar as
notícias do jornal em sala de aula.
5. O Colégio Militar de Salvador e os
Recursos Midiáticos
O Sistema Colégio Militar do Brasil
(SCMB), subordinado à Diretoria de
Ensino Preparatório e Assistencial (DEPA),
é um dos subsistemas de ensino do
Exército e tem a cargo ministrar a
educação básica, nos níveis fundamental
(6º ao 9º ano) e médio.
O Sistema Colégio Militar do Brasil
possui doze Colégios espalhados pelo país,
oferecendo educação de alta qualidade a
jovens dependente de militar do Exército
Brasileiro (EB) e também a jovens que se
integram ao sistema através de concurso
público federal que ocorre anualmente para
o 6º ano do Ensino Fundamental e 1º ano
do Ensino Médio, ou por amparo legal, de
acordo com o Regimento Interno 69 (RI
69).
As práticas didático-pedagógicas em
vigor nos Colégios Militares subordinamse às normas e prescrições do Sistema de
Ensino do Exército e, obedecem também à
Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDBEn), principal referência
que estabelece os princípios e finalidades
da educação nacional. De acordo com a
LDBEn todos os estabelecimentos de
ensino do país devem possuir uma
proposta
pedagógica
própria
em
consonância com os objetivos e orientação
que imprimem à ação educacional.
A proposta pedagógica seguida pelos
Colégios Militares são regulamentadas de
acordo com o Regimento Interno dos
Colégios
Militares
(RI/CM).
Os
fundamentos que compõem a sua proposta
pedagógica são:
I - oferecer ao aluno condições de
acesso ao conhecimento sistemático
universal, considerando a realidade
de sua vida, proporcionando uma
formação integral para o seu
9
desenvolvimento nas áreas cognitiva,
afetiva e psicomotora;
II - capacitar o aluno à absorção de
conteúdos programáticos qualitativos
e de pré-requisitos essenciais ao
prosseguimento de seus estudos, com
base no domínio da leitura, da escrita
e das diversas linguagens utilizadas
pelo homem, permitindo-lhe analisar,
sintetizar e interpretar dados, fatos e
cálculos, para resolver situações
problemas simples ou complexas,
valorizando o seu desenvolvimento
pessoal;
III - utilizar procedimentos didáticos
e técnicas metodológicas que
conduzam o aluno a ocupar o centro
do processo ensino-aprendizagem e a
construir com a mediação do
professor, o próprio conhecimento,
fruto de abordagens seletivas,
contextuais,
interdisciplinares,
contínuas e progressivas;
IV - estimular no aluno o
desenvolvimento de atitudes críticoreflexivas, espírito de investigação,
criatividade, iniciativa e respeito às
diferenças individuais, conduzindo-os
a aprender a aprender e aprender a
pensar;
V - conduzir o aluno a compreender o
significado das áreas de estudo e das
disciplinas, enquanto participante do
processo histórico da transformação
da sociedade e da cultura,
desenvolvendo a sua autonomia,
valorizando o conhecimento prévio,
suas experiências e as relações
professor-aluno
e
aluno-aluno,
conscientizando-os
de
que
a
aprendizagem adquirida é mais
importante
que
a
avaliação
educacional de aferição escolar; e
VI - desenvolver no aluno atitudes,
valores e hábitos saudáveis à vida em
sociedade, num ambiente no qual
todos possam:
a) compreender e respeitar os direitos
e
deveres da pessoa humana, do
cidadão patriota, da família, dos
grupos sociais, do estado e da nação
brasileira;
b) acessar e dominar recursos
científicos relevantes que lhes
permitam
situar-se
criticamente
diante da realidade, assumindo
responsabilidades sociais;
c) preparar-se para participar
produtivamente da sociedade, no
exercício responsável de sua futura
atividade profissional; e
d) praticar a atividade física buscando
o seu desenvolvimento físico e a
criação de hábitos saudáveis para o
corpo, inclusive com a prática de
esporte.
Ao observarmos o que diz o
Regimento Interno do Colégio Militar,
verificamos que ainda
não há um
direcionamento para o uso de recursos
midiáticos na prática pedagógica, embora
já seja possível verificar o uso dos mesmos
por professores, ora observados no Colégio
Militar de Salvador (CMS).
Para complementar a nossa reflexão
escolhemos, por questões práticas, o
Colégio Militar de Salvador (CMS), um
dos integrantes do Sistema Colégio Militar
do Brasil (SCMB).
A missão do CMS consiste em
ministrar a educação básica de qualidade,
nos níveis fundamental (6º ao 9º ano) e
médio (1º ao 3º ano), em consonância com
a legislação federal da educação nacional,
obedecendo às leis e aos regulamentos em
vigor, segundo valores, costumes e
tradições do Exército Brasileiro, visando a
assegurar a formação do cidadão e
despertando vocações para a carreira
militar.
Para que se pudesse fazer
considerações acerca da utilização de
recursos midiáticos no Colégio Militar de
Salvador foram observadas 5 aulas de
disciplinas diferentes, no tempo de aula
10
normal no turno da manhã, com alunos do
6º ano.
Foi possível constatar nas aulas
observadas que o uso das mídias já é uma
realidade, porém ainda se apresenta de
forma tímida. Ao analisar 5 aulas, apenas
dois professores se propuseram a utilizar
algum tipo de recurso midiático.
A professora de Português que
ministrou aula de redação foi muito feliz
na sua proposta para a classe ao escolher
uma música pop, que esteve entre as mais
pedidas nas rádios para desenvolver a
assunto Lendas. A música trazida foi dos
cantores Sandy e Júnior, cujo nome é “A
Lenda”. Os alunos que já conheciam a
música, cantaram-na acompanhados por
um CD Player, estavam atentos a letra que
foi distribuída, e faziam questionamentos
que tinham pertinência com o que a
professora estava se propondo a transmitir.
Houve uma interação muito grande entre
os alunos, e aluno – professor, em um
clima agradável os alunos pareciam estar
muito à vontade com a dinâmica. A aula foi
toda ministrada por meio de uma discussão
onde cada aluno contribuiu com a sua
ideia. Por fim, com a autorização da
professora, um aluno voluntário se colocou
a frente da sala e fez o relato de uma lenda,
com uma riqueza de detalhe que
impressionou a quem ouvia. Ao ser
questionado pela professora onde ele tinha
adquirido tais informações, ele respondeu:
“ – na internet, professora”.
De fato, com a internet dispomos de
um
recurso
atraente,
dinâmico,
atualizadíssimo, de fácil acesso, que
possibilita o ingresso a um número
ilimitado de informações, acrescente-se a
essas vantagens a comodidade do acesso
que se faz de casa, da biblioteca, da Lan
House.
A outra aula que foi bastante
envolvente foi a aula de Língua Inglesa,
ministrada aos alunos do primeiro nível. O
professor ao trabalhar com “membros da
família” em inglês, levou um DVD que
continham cenas, com teor cômico, onde
uma amiga apresentava seu álbum familiar
para outra, e as cenas iam se desenrolando.
Com o riso os alunos se envolveram,
aprenderam os novos vocábulos e repetiam
em uníssono por própria vontade os
vocábulos com entonação.
As demais aulas assistidas não
utilizaram nenhum tipo de recurso
midiático. Ao compararmos as aulas que
utilizaram e as que não utilizaram nenhum
recurso midiático foi possível constatar o
nível de envolvimento dos alunos com a
dinâmica de aula proposta. Os alunos
expostos à utilização da mídia se
mostraram mais envolvidos e motivados.
Do ponto de vista pedagógico, a aula foi
ministrada com um alto índice de
aproveitamento.
Os professores precisam se
envolver com o potencial das mídias, que,
se usado de maneira a despertar a
criatividade, curiosidade, capacidade de
criação, motivação e tantas outras
habilidades pode tornar-se um colaborador
no processo de ensino aprendizagem.
Os resultados comprovados a partir
da prática mostram que vale a pena se aliar
as mídias para sermos eficientes e eficazes
no processo educacional.
6. Considerações Finais
Quando decidimos refletir sobre os
recursos midiáticos no processo de ensino
aprendizagem, tínhamos em mente discutir
de
que
maneira
esses
recursos
influenciavam no ensino, descobrir em que
grau
de
evolução
essas
mídias
influenciavam nossos educandos, também
chamar a atenção para a presença e a
influência que a tecnologia tem hoje na
sociedade
contemporânea
e,
principalmente, na educação.
Durante o nosso trajeto reflexivo,
discutimos o papel do professor com o uso
dos recursos midiáticos e concluímos que o
11
professor tem papel fundamental como
mediador no processo de ensino
aprendizagem, pois a despeito da utilização
da mídias, é o professor quem seleciona,
planeja e organiza os recursos disponíveis
com o propósito de atingir os seus
objetivos.
oteca/educacao/0281.html
Na discussão da integração dos
recursos midiáticos no ambiente escolar, os
autores ora citados defenderam que o uso
da tecnologia só terá valor se estiver a
serviço dos conteúdos. Constatamos,
através de exemplos, como os conteúdos
midiáticos podem se tornar projetos
interdisciplinares.
prática educativa. São Paulo: Paz e Terra,
Nas aulas observadas no Colégio
Militar de Salvador podemos constatar, que
embora ainda tenha que avançar na
utilização dos recursos midiáticos na sala
de aula, os professores observados já estão
conectados à realidade do uso das
tecnologias.
Esperamos que as discussões
levantadas neste trabalho, direcionadas
mais especificamente aos professores,
possam contribuir no enriquecimento de
suas práticas pedagógicas.
CAVALCANTE,
em:
Pedagogia
da
28/06/2011
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www.dicionariodoaurelio.com. Acesso em
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Tecnologia
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http://revistaescola.abril.com.br/ciencias/fu
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1º Ten Al JACQUELINE RIBEIRO SANTOS OS RECURSOS