1º Ten Al JACQUELINE RIBEIRO SANTOS OS RECURSOS MIDIÁTICOS COMO FERRAMENTA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Comissão de Avaliação de Trabalhos Científicos da Divisão de Ensino da Escola de Formação Complementar do Exército, como exigência parcial para a obtenção do título de Especialista em Aplicações Complementares às Ciências Militares. Aprovado em: _________/______________________/2011. ________________________________________________________ SELMA IARA GOMES LOPES TAVARES – Maj – Presidente Escola de Formação Complementar do Exército _______________________________________________________ NADJA DE ASSIS MENDONÇA – Cap – 1º Membro Escola de Formação Complementar do Exército ________________________________________________________ RUDNEY FERREIRA GOMES – 1º Ten – 2º Membro Escola de Formação Complementar do Exército OS RECURSOS MIDIÁTICOS COMO FERRAMENTA NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM 2 Jacqueline Ribeiro Santos¹ Resumo: Este artigo tem por finalidade realizar uma análise nos processos de utilização dos recursos midiáticos como ferramenta no processo de ensino aprendizagem, buscando entender de que maneira é realizada essa integração. Para tanto, toma como referencial teórico os autores Moran e Masetto. Pretende-se discutir o papel do professor nesse processo de ensino por meio dos recursos midiáticos, usando sempre argumentos que possam comprovar que a presença do professor é imprescindível, apesar das vantagens que as tecnologias trazem. A discussão deste artigo mostra como é possível trabalhar de maneira interdisciplinar utilizando os recursos midiáticos disponíveis. E ainda, observar aulas de algumas disciplinas do Colégio Militar de Salvador e dar algumas sugestões por intermédio de profissionais da área educacional para a melhoria do processo pedagógico. O tema analisado reveste-se de extrema importância na medida em que houve uma expansão dos meios de comunicação e esses influenciam os nossos jovens na maneira de apreender os conteúdos. Através de profissionais da área educacional citados neste trabalho foi possível constatar o quanto é produtivo do ponto de vista pedagógico a utilização das mídias no ambiente escolar, sendo assim, este trabalho objetiva sugerir o uso cada vez mais frequente pelos educadores das mídias disponíveis a fim de tornar o processo de ensino ainda mais atraente, acreditando-se que os alunos podem aprender, e de fato aprendem, mediados pelas informações veiculadas no jornal, televisão, revistas, internet, blogs, etc. Palavras Chaves: Recursos Midiáticos, Educação, Conhecimento. Abstract: This article aims to perform an analysis in the process of use of media resources as a tool in teaching-learning process, seeking to understand how this integration is performed. For this, it is used the authors Moran and Masetto. It is intended to discuss the role of teacher in this learning process through the media resources, always using arguments that can prove that the teacher's presence is essential, despite the advantages that technology brings. The discussion of this article shows how you can work in an interdisciplinary way using the media resources available. And yet, observe classes in some disciplines at the Colégio Militar de Salvador and give some suggestions by professionals in the education area for the improvement of the educational process. The topic discussed is of extremely important for the extent that there was an expansion of the media and they influence our young people in the way of grasping the content. Through educational professionals cited in this study, we prove how productive is the pedagogical point of view the use of media in the school environment, so this paper aims to suggest the increasingly frequent use by educators of media available to make the teaching more attractive, believing that students can learn, and in fact learn, mediated by information carried in the newspaper, television, magazines, internet, blogs, etc.. Key Words: Media Resource, Education, Knowledge. 1. Introdução Ao se reportar sobre a importância da inserção dos recursos midiáticos no processo de ensino aprendizagem é imprescindível trazer o conceito desta ferramenta tão importante, para que se torne mais clara a compreensão do que se pretende explorar. Segundo Ferreira (2011) midiático – [ De mídia + - ático] Adjetivo comum. 1. Que concerne à mídia. 2. Transmitido pela mídia. Mídia – 1. Designação genérica dos meios, veículos e canais de comunicação, como, por ex., jornais, revista, rádio, televisão, outdoor, internet, blogs, etc. 2. Setor de agência de propaganda responsável pela veiculação de anúncios na mídia (1) (FERREIRA, 2004, p.553). 3 Entendemos dessa maneira que Recursos Midiáticos envolvem todos os veículos e/ou canais responsáveis pela transmissão de informação, e neste contexto as novas tecnologias têm tido papel fundamental no processo de propagação da informação. Com o desenvolvimento de novas mídias e tecnologias, como a internet e a TV a cabo, mudam os conteúdos e a maneira de lecionar, a linguagem midiática é, sem dúvida, um novo tipo de conteúdo com o qual o professor terá que saber lidar. As mídias estão oferecendo oportunidades, informações, recursos, técnicas, agilidade e atração. Elas têm a capacidade de fascinar, envolver, alucinar, e distrair. Segundo Moran (2010, p. 61) é pertinente pensar que: Na sociedade da informação, todos estamos reaprendendo a conhecer, a comunicar-nos, a ensinar; reaprendendo a integrar o humano e o tecnológico; a integrar o individual, o grupal e o social. É importante conectar sempre o ensino com a vida do aluno. Chegar ao aluno por todos os caminhos possíveis: pela experiência, pela imagem, pela representação (dramatizações, simulações), pela multimídia, pela interação on-line e off-line. Diante desse contexto, urge saber se o uso da linguagem midiática nas salas de aula do ensino fundamental do Colégio Militar de Salvador tem sido empregado de maneira eficaz, na tentativa de confirmar ou não a hipótese de que a utilização de tais recursos é relevante no sentido de tornar o processo ensino aprendizado mais atraente; além disso, pretende-se investigar o papel do professor no tocante à aplicação dos recursos midiáticos no âmbito escolar. Partindo da compreensão de que os recursos midiáticos representam uma ferramenta poderosa no contexto educacional, este artigo tem como objetivo geral: Discutir o tema “Os Recursos Midiáticos como ferramenta de ensino aprendizagem e a importância da mídia como instrumento para o aprendizado dentro de qualquer ambiente de ensino”. A fim de alcançar este objetivo procedeu-se a análise da contribuição dos recursos midiáticos no processo ensino/aprendizagem do 6º ano do CMS, a observação dos resultados positivos e os possíveis óbices encontrados nesse processo de análise e a elaboração de algumas propostas de melhoria de uso dos mesmos, nos ambientes ora analisados. Para a composição deste artigo foram elaboradas seis seções, distribuídas da seguinte maneira: na subseção 2.1, abordou-se o papel do professor no contexto de utilização das mídias, buscando chamar a atenção para o fato de que nesse processo o professor tem e sempre terá um papel importante. Na subseção 2.2, tratou-se da relevância da utilização das mídias nos dias atuais, observando o que é preconizado pelos documentos oficiais que norteiam a educação, no caso aqui – os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). A seção 3 trata dos procedimentos metodológicos usados para a confecção deste artigo. Na seção 4, foram feitas algumas considerações no que tange à integração dos recursos midiáticos e a atividade pedagógica, com a preocupação de mostrar que o uso da mídia somente terá importância se for adequada para facilitar o alcance dos objetivos. Na subseção 4.1, apresentou-se o tema interdisciplinaridade, e sua vinculação com a mídia, dialogando com a possibilidade de se trabalhar interdisciplinarmente com os conteúdos que a mídia nos proporciona. E na seção 5, foram feitas algumas considerações quanto ao uso dos 4 recursos midiáticos no Colégio Militar de Salvador a partir da observação de aulas ministradas nesse estabelecimento de ensino. E finalizando este artigo as nossas considerações finais acerca de tudo que se observou. 2. Os Recursos Educação Midiáticos e a Nesta seção será abordado o tópico “Recursos Midiáticos e a Educação”, com especial ênfase no papel desempenhado pelo professor neste processo, e ainda, a relevância do uso das mídias no contexto educacional. 2.1 O Papel do educador/professor no uso dos Recursos Midiáticos Ao pensar na organização da classe, não se pode esquecer o conceito de mediação, centro do pensamento Vygotskyano. Interagir com outra pessoa, adulto ou colega é a melhor maneira de a criança/adolescente avançar no aprendizado. Essa mediação pode, nos dias atuais, ser feita também com a internet, livros, revistas, DVDs e CDs nas atividades de construção do conhecimento. O uso de qualquer tecnologia em sala de aula – do giz à Internet – precisa ser entendido não como milagrosa solução das dificuldades de aprendizagem, ou um novo método de ensino, mas como um meio para atingir um fim no qual o professor tem e sempre terá um papel importante nesse processo de construção. De acordo com Masetto (2010, p. 163) Nem é preciso comentar que a riqueza desses recursos nem de longe deverá substituir a presença e a ação do professor com os alunos. Essas técnicas deverão, isto sim, colaborar para ações conjuntas de professor e alunos em busca da aprendizagem. Neste processo, os professores continuarão a ser os responsáveis em avaliar e decidir como as mídias poderão ser utilizadas como ferramenta na sala de aula. Segundo Masetto (2006) apud Torres e Cavalcante (2009), “ a mediação pedagógica significa a atitude, o comportamento do professor que se coloca como um facilitador, incentivador e motivador da aprendizagem.” Ainda nesta perspectiva Behrens (2010, p.96) nos declara o seguinte Com a visão de que a tecnologia está a serviço do homem e pode ser utilizada como ferramenta para facilitar o desenvolvimento de aptidões para atuar como profissional na sociedade do conhecimento, os professores precisam ser críticos para contemplar em sua prática pedagógica o uso da informática, oferecendo os recursos inovadores aos alunos. Quando se pensa no uso da mídia para fins educativos, sabemos das vantagens que seus produtos levam sobre a escola devido ao tipo de envolvimento emocional que os recursos das linguagens presentes na mídia têm à disposição. Ao usar da ficção como filmes comerciais e jogos em multimídia para tratar de conteúdos de um determinado currículo, seja ele, Geografia, Português, Língua Estrangeira, etc., tem-se o objetivo mais amplo e profundo que o de criar um ambiente agradável, envolvente e, por consequência atrativo o suficiente para prender a atenção dos alunos. O objetivo seria o de inserir nos alunos o estudo sobre essas linguagens presentes em seu cotidiano para que sejam capazes de fazer uma leitura mais crítica e elaborada de sua realidade cotidiana e de interferirem conscientemente nela. 5 Nesse contexto cabe ressaltar a compreensão que Freire (1996, p.52) tem acerca do ensino. Em uma perspectiva progressista, ele diz que “saber ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.” 2.2 A Mídia e a sua relevância Cientes de que as mídias têm um papel importante e são um instrumento essencial para o aprendizado, porque nossos jovens precisam dominar as linguagens que se entrecruzam em seu cotidiano cada vez mais globalizado, os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs (1998) indicam como objetivos do ensino fundamental que os alunos sejam capazes, dentre outras coisas, de saberem utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos.” E ainda, em linhas gerais os PCNs caracterizam-se por: “apontar a necessidade do desenvolvimento de trabalhos que contemplem o uso das tecnologias da comunicação e da informação, para que todos, alunos e professores, possam delas se apropriar e participar, bem como criticá-las e/ou delas usufruir.” A integração dos meios de comunicação na escola são relevantes pois, segundo Masetto (2010, p. 33) Antes de a criança chegar à escola, já passou por processos de educação importantes... A criança também é educada pela mídia, principalmente pela televisão. Aprende a informar-se, a conhecer – os outros, o mundo, a si mesma -, a sentir, a fantasiar, a relaxar, vendo, ouvindo, “tocando” as pessoas na tela, pessoas estas que lhe mostram como viver, ser feliz e infeliz, amar e odiar. A relação com a mídia eletrônica é prazerosa – ninguém obriga que ela ocorra; é uma relação feita através da sedução, da emoção, da exploração sensorial, da narrativa – aprendemos vendo as histórias dos outros e as histórias que os outros nos contam. Mesmo durante o período escolar a mídia mostra o mundo de outra forma – mais fácil, agradável, compacta – sem precisar fazer esforço. Ela fala do cotidiano, dos sentimentos, das novidades. A mídia continua educando como contraponto à educação convencional, educa enquanto estamos entretidos. A evolução ocorrida nas últimas décadas nos meios de comunicação são de tal envergadura que se tornou impossível para a escola ignorar tal realidade. Mas, não foram apenas as transformações ocorridas nos meios de comunicação, os estudantes mudaram radicalmente a maneira como apreender os conhecimentos. 3 Procedimentos Metodológicos A metodologia do trabalho aponta em duas direções complementares entre si e essenciais para a confirmação das hipóteses aventadas. Inicialmente, através de uma comparação bibliográfica procurou-se observar o atual estágio de conhecimento do tema, optando-se por um referencial teórico claro, no caso, Moran e Masetto e seus trabalhos sobre a mediação pedagógica e uso de novas tecnologias. Em segundo lugar, assistiu-se a aulas de variadas disciplinas com o fito de analisar criticamente o uso ou não do arsenal midiático como ferramenta pedagógica; suas implicações positivas e/ou insucessos (no caso de existirem). A observação das aulas tiveram como propósito para este trabalho contribuir com propostas que auxiliem na melhoria do processo pedagógico, trazendo esclarecimentos e sugestões de trabalho de profissionais da área educacional. 4. A Integração dos Recursos Midiáticos no Contexto Escolar 6 Na perspectiva de integração entre as mídias e a atividade pedagógica, faz-se necessário conhecer as especificidades dos recursos midiáticos, com vistas a utilizá-los nos objetivos didáticos do professor, de maneira que possa enriquecer com novos significados as situações de aprendizagem vivenciadas pelos alunos. Dessa maneira afirma em entrevista, Regina Scarpa, coordenadora pedagógica da Revista Nova Escola que ... só vale levar a tecnologia para a classe se ela estiver a serviço dos conteúdos. Isso exclui por exemplo, as apresentações em Power Point que apenas tornam as aulas mais divertidas (ou não!), os jogos de computador que só entretêm as crianças ou aqueles vídeos que simplesmente cobrem buracos de um planejamento malfeito. Do ponto de vista do aprendizado essas ferramentas devem colaborar para trabalhar conteúdos que muitas vezes nem poderiam ser ensinados sem elas. Em consonância com a afirmação de Regina Scarpa, Masetto (2010, p.144) declara É importante não nos esquecermos de que a tecnologia possui um valor relativo: ela somente terá importância se for adequada para facilitar o alcance dos objetivos e se for eficiente para tanto. As técnicas não se justificarão por si mesmas, mas pelos objetivos que se pretenda que elas alcancem, que no caso serão de aprendizagem. Durante anos, o professor vem desenvolvendo sua prática pedagógica, principalmente, dando aulas passando o conteúdo no quadro, corrigindo exercícios e prova dos alunos. Mas, este panorama começou ( e continua) a ser alterado com o acesso aos diversos tipos de mídias pelos alunos. Diante desse cenário, com o acesso e a inserção de diversas mídias no processo de ensino aprendizagem, surge uma nova demanda para o professor: saber como usar pedagogicamente as mídias, nesta perspectiva, este “como” envolve saber “o quê”, “o porquê” usar tais recursos. Toda e qualquer profissão exige de seus profissionais uma formação constante até mesmo porque o mundo está em constante evolução. Com os profissionais da Educação isso não seria diferente. Diante dessa realidade, é necessário que cada um invista tempo, dedicação e recursos em sua formação continuada para que possa fazer a diferença no processo educacional. As instituições de ensino estão, no século XXI, sendo desafiadas a repensarem seu currículo de forma a integrarem os novos recursos midiáticos, sem contudo abandonarem os antigos, no processo de ensino aprendizagem. Dentro dessa realidade a tecnologia tem sido usada como ferramenta para aprendizagem oferecendo recursos inovadores aos alunos, como diz Behrens (2010, p. 96) Com a visão de que a tecnologia está a serviço do homem e pode ser utilizada como ferramenta para facilitar o desenvolvimento de aptidões para atuar como profissional na sociedade do conhecimento, os professores precisam ser críticos para contemplar em sua prática pedagógica o uso da informática, oferecendo recursos inovadores aos alunos. Neste contexto várias instituições e cursos de formação de docentes vêm se preocupando em capacitar professores a fim de que estejam afinados com essa realidade, como por exemplo, o curso fornecido pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) – Mídias na Educação, que é um programa de educação a distância, 7 com estrutura modular, que visa proporcionar formação continuada para o uso pedagógico das diferentes tecnologias da informação e da comunicação – TV e vídeo, informática, rádio e impresso. 4.1 A Interdisciplinaridade e o Uso da Mídia A Interdisciplinaridade surgiu na França e na Itália em meados da década de 60, num período marcado pelos movimentos estudantis que, dentre outras coisas, reivindicavam um ensino mais sintonizado com as grandes questões de ordem social, política e econômica da época. No final da década de 60, a interdisciplinaridade chegou ao Brasil e logo exerceu influência na elaboração da Lei de Diretrizes e Bases Nº 5.692/71. Desde então, sua presença no cenário educacional brasileiro tem se intensificado e, recentemente, mais ainda, com a nova LDB Nº 9.394/96 e com os Parâmetros Curriculares (PCN). O termo Interdisciplinaridade tem um conceito de caráter polissêmico, entretanto, para a nossa discussão não se faz necessário dissecar as suas variantes, apenas em linhas gerais expor o seu conceito, para que haja uma melhor compreensão da relação interdisciplinaridade e mídia. palavra respeito – ação (dade – ação.). Interdisciplinaridade deriva da primitiva disciplinar (que diz a disciplina), por prefixação (inter recíproca, comum) e sufixação qualidade, estado ou resultado da Interdisciplinaridade, como o próprio conceito recomenda, não anula as disciplinas, mas pede que as mesmas dialoguem entre si numa perspectiva educacional em busca de inovação, assim, duas ou mais disciplinas relacionam seus conteúdos para aprofundar o conhecimento. Dessa forma, o professor de Geografia, ao falar da localização do Pão de Açúcar, poderia utilizar um texto poético, assim como o de Ciências analisaria a história da ocupação da cidade para entender os impactos ambientais no entorno. Cavalcante (2005) relatou em seu artigo, “Interdisciplinaridade: um avanço na educação”, a experiência vivida por seis professores do Colégio Santa Maria, de São Paulo. A crise de energia que obrigou a população a racionar energia e fez com que o Brasil buscasse fontes alternativas foi mostrada à exaustão nos noticiários, e passou a ser o centro das discussões nas salas de aula. Os professores do Colégio Santa Maria se reuniram em torno de um projeto interdisciplinar. Desde então, os alunos estudam fontes alternativas de energia, produzem aquecedores solares e ensinam a população a utilizá-los. Segundo Cavalcante (2005) “ o sucesso do projeto se explica principalmente porque os conteúdos de Ciências, Matemática, Geografia, Língua Portuguesa, História e Ensino Religioso foram colocados a serviço da resolução de um problema real, de forma integrada.” As informações veiculadas através da mídia não têm a pretensão de dissecar conteúdos curriculares nem tão pouco é sua função fazê-la, mas sim exercer o seu papel principal que é de informar. Aproveitando-se dessa característica a escola tem muito a ganhar utilizando-se da informação para educar, e fazendo uma conexão entre a informação e os conteúdos que se pretende transmitir. Atualmente, os educandos chegam ao ambiente escolar com uma bagagem informacional bastante atualizada, pela facilidade que tem hoje à informação, assim cabe ao educador fazer o aluno enxergar a informação de forma crítica de forma que ela possa sempre mudar a realidade em que vive. Como forma de ilustrar a maneira pela qual 8 um Recurso Midiático pode ser tratado de maneira interdisciplinar reproduzo a entrevista da Gerente de Projetos Educativos do Itaú Cultural, Flávia Aidar, ao site da Educação Pública do Rio de Janeiro, publicado em 01 de Fevereiro de 2011. Aidar aponta as vantagens de utilizar o jornal em sala de aula e dá algumas sugestões de como ele pode servir como recurso pedagógico. Eventos esportivos que envolvem países de todo o mundo, como as Olimpíadas e a Copa do Mundo, podem ter suas notícias utilizadas em disciplinas como Educação Física; História (estudo da origem de cada país e das diferenças culturais entre eles); Geografia (localização, características físicas e econômicas de cada nação); Matemática (no caso das Olimpíadas, pode-se fazer a contagem das medalhas e os diferentes valores atribuídos às medalhas de ouro, prata e bronze; na Copa do Mundo, pode-se utilizar a Matemática para fazer a contagem dos pontos de cada seleção); Física (a trajetória da bola, a leis da gravidade que os atletas olímpicos por vezes parecem desafiar, a aceleração dos corpos etc.); Filosofia (a origem dos jogos olímpicos na Grécia Antiga e sua relação com a mitologia). Como se vê, tais acontecimentos podem mesmo se tornar grandes projetos interdisciplinares. Desequilíbrio ecológico, desastres ambientais e outros danos à natureza estão a toda hora nos jornais e podem ser estudados com propriedade em Biologia e Geografia, assim como a recente tragédia ocorrida na Região Serrana do Rio de Janeiro. O episódio envolveu diversos aspectos relacionados a essas disciplinas, como desgaste do solo, deslizamento de terras, erosão, força das chuvas e ocupação humana desorganizada nas áreas de risco, entre outras coisas que podem ser discutidas utilizando notícias. E, devido ao grande espaço que tal catástrofe tomou na mídia, é quase certo que vá despertar grande interesse dos alunos. Estes são apenas alguns exemplos pontuais de como utilizar as notícias do jornal em sala de aula. 5. O Colégio Militar de Salvador e os Recursos Midiáticos O Sistema Colégio Militar do Brasil (SCMB), subordinado à Diretoria de Ensino Preparatório e Assistencial (DEPA), é um dos subsistemas de ensino do Exército e tem a cargo ministrar a educação básica, nos níveis fundamental (6º ao 9º ano) e médio. O Sistema Colégio Militar do Brasil possui doze Colégios espalhados pelo país, oferecendo educação de alta qualidade a jovens dependente de militar do Exército Brasileiro (EB) e também a jovens que se integram ao sistema através de concurso público federal que ocorre anualmente para o 6º ano do Ensino Fundamental e 1º ano do Ensino Médio, ou por amparo legal, de acordo com o Regimento Interno 69 (RI 69). As práticas didático-pedagógicas em vigor nos Colégios Militares subordinamse às normas e prescrições do Sistema de Ensino do Exército e, obedecem também à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEn), principal referência que estabelece os princípios e finalidades da educação nacional. De acordo com a LDBEn todos os estabelecimentos de ensino do país devem possuir uma proposta pedagógica própria em consonância com os objetivos e orientação que imprimem à ação educacional. A proposta pedagógica seguida pelos Colégios Militares são regulamentadas de acordo com o Regimento Interno dos Colégios Militares (RI/CM). Os fundamentos que compõem a sua proposta pedagógica são: I - oferecer ao aluno condições de acesso ao conhecimento sistemático universal, considerando a realidade de sua vida, proporcionando uma formação integral para o seu 9 desenvolvimento nas áreas cognitiva, afetiva e psicomotora; II - capacitar o aluno à absorção de conteúdos programáticos qualitativos e de pré-requisitos essenciais ao prosseguimento de seus estudos, com base no domínio da leitura, da escrita e das diversas linguagens utilizadas pelo homem, permitindo-lhe analisar, sintetizar e interpretar dados, fatos e cálculos, para resolver situações problemas simples ou complexas, valorizando o seu desenvolvimento pessoal; III - utilizar procedimentos didáticos e técnicas metodológicas que conduzam o aluno a ocupar o centro do processo ensino-aprendizagem e a construir com a mediação do professor, o próprio conhecimento, fruto de abordagens seletivas, contextuais, interdisciplinares, contínuas e progressivas; IV - estimular no aluno o desenvolvimento de atitudes críticoreflexivas, espírito de investigação, criatividade, iniciativa e respeito às diferenças individuais, conduzindo-os a aprender a aprender e aprender a pensar; V - conduzir o aluno a compreender o significado das áreas de estudo e das disciplinas, enquanto participante do processo histórico da transformação da sociedade e da cultura, desenvolvendo a sua autonomia, valorizando o conhecimento prévio, suas experiências e as relações professor-aluno e aluno-aluno, conscientizando-os de que a aprendizagem adquirida é mais importante que a avaliação educacional de aferição escolar; e VI - desenvolver no aluno atitudes, valores e hábitos saudáveis à vida em sociedade, num ambiente no qual todos possam: a) compreender e respeitar os direitos e deveres da pessoa humana, do cidadão patriota, da família, dos grupos sociais, do estado e da nação brasileira; b) acessar e dominar recursos científicos relevantes que lhes permitam situar-se criticamente diante da realidade, assumindo responsabilidades sociais; c) preparar-se para participar produtivamente da sociedade, no exercício responsável de sua futura atividade profissional; e d) praticar a atividade física buscando o seu desenvolvimento físico e a criação de hábitos saudáveis para o corpo, inclusive com a prática de esporte. Ao observarmos o que diz o Regimento Interno do Colégio Militar, verificamos que ainda não há um direcionamento para o uso de recursos midiáticos na prática pedagógica, embora já seja possível verificar o uso dos mesmos por professores, ora observados no Colégio Militar de Salvador (CMS). Para complementar a nossa reflexão escolhemos, por questões práticas, o Colégio Militar de Salvador (CMS), um dos integrantes do Sistema Colégio Militar do Brasil (SCMB). A missão do CMS consiste em ministrar a educação básica de qualidade, nos níveis fundamental (6º ao 9º ano) e médio (1º ao 3º ano), em consonância com a legislação federal da educação nacional, obedecendo às leis e aos regulamentos em vigor, segundo valores, costumes e tradições do Exército Brasileiro, visando a assegurar a formação do cidadão e despertando vocações para a carreira militar. Para que se pudesse fazer considerações acerca da utilização de recursos midiáticos no Colégio Militar de Salvador foram observadas 5 aulas de disciplinas diferentes, no tempo de aula 10 normal no turno da manhã, com alunos do 6º ano. Foi possível constatar nas aulas observadas que o uso das mídias já é uma realidade, porém ainda se apresenta de forma tímida. Ao analisar 5 aulas, apenas dois professores se propuseram a utilizar algum tipo de recurso midiático. A professora de Português que ministrou aula de redação foi muito feliz na sua proposta para a classe ao escolher uma música pop, que esteve entre as mais pedidas nas rádios para desenvolver a assunto Lendas. A música trazida foi dos cantores Sandy e Júnior, cujo nome é “A Lenda”. Os alunos que já conheciam a música, cantaram-na acompanhados por um CD Player, estavam atentos a letra que foi distribuída, e faziam questionamentos que tinham pertinência com o que a professora estava se propondo a transmitir. Houve uma interação muito grande entre os alunos, e aluno – professor, em um clima agradável os alunos pareciam estar muito à vontade com a dinâmica. A aula foi toda ministrada por meio de uma discussão onde cada aluno contribuiu com a sua ideia. Por fim, com a autorização da professora, um aluno voluntário se colocou a frente da sala e fez o relato de uma lenda, com uma riqueza de detalhe que impressionou a quem ouvia. Ao ser questionado pela professora onde ele tinha adquirido tais informações, ele respondeu: “ – na internet, professora”. De fato, com a internet dispomos de um recurso atraente, dinâmico, atualizadíssimo, de fácil acesso, que possibilita o ingresso a um número ilimitado de informações, acrescente-se a essas vantagens a comodidade do acesso que se faz de casa, da biblioteca, da Lan House. A outra aula que foi bastante envolvente foi a aula de Língua Inglesa, ministrada aos alunos do primeiro nível. O professor ao trabalhar com “membros da família” em inglês, levou um DVD que continham cenas, com teor cômico, onde uma amiga apresentava seu álbum familiar para outra, e as cenas iam se desenrolando. Com o riso os alunos se envolveram, aprenderam os novos vocábulos e repetiam em uníssono por própria vontade os vocábulos com entonação. As demais aulas assistidas não utilizaram nenhum tipo de recurso midiático. Ao compararmos as aulas que utilizaram e as que não utilizaram nenhum recurso midiático foi possível constatar o nível de envolvimento dos alunos com a dinâmica de aula proposta. Os alunos expostos à utilização da mídia se mostraram mais envolvidos e motivados. Do ponto de vista pedagógico, a aula foi ministrada com um alto índice de aproveitamento. Os professores precisam se envolver com o potencial das mídias, que, se usado de maneira a despertar a criatividade, curiosidade, capacidade de criação, motivação e tantas outras habilidades pode tornar-se um colaborador no processo de ensino aprendizagem. Os resultados comprovados a partir da prática mostram que vale a pena se aliar as mídias para sermos eficientes e eficazes no processo educacional. 6. Considerações Finais Quando decidimos refletir sobre os recursos midiáticos no processo de ensino aprendizagem, tínhamos em mente discutir de que maneira esses recursos influenciavam no ensino, descobrir em que grau de evolução essas mídias influenciavam nossos educandos, também chamar a atenção para a presença e a influência que a tecnologia tem hoje na sociedade contemporânea e, principalmente, na educação. Durante o nosso trajeto reflexivo, discutimos o papel do professor com o uso dos recursos midiáticos e concluímos que o 11 professor tem papel fundamental como mediador no processo de ensino aprendizagem, pois a despeito da utilização da mídias, é o professor quem seleciona, planeja e organiza os recursos disponíveis com o propósito de atingir os seus objetivos. oteca/educacao/0281.html Na discussão da integração dos recursos midiáticos no ambiente escolar, os autores ora citados defenderam que o uso da tecnologia só terá valor se estiver a serviço dos conteúdos. Constatamos, através de exemplos, como os conteúdos midiáticos podem se tornar projetos interdisciplinares. prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, Nas aulas observadas no Colégio Militar de Salvador podemos constatar, que embora ainda tenha que avançar na utilização dos recursos midiáticos na sala de aula, os professores observados já estão conectados à realidade do uso das tecnologias. Esperamos que as discussões levantadas neste trabalho, direcionadas mais especificamente aos professores, possam contribuir no enriquecimento de suas práticas pedagógicas. CAVALCANTE, em: Pedagogia da 28/06/2011 FREIRE, Paulo. Autonomia: saberes necessários à 1996. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio. 6º ed. Curitiba: Editora Positivo, 2004. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível em www.dicionariodoaurelio.com. Acesso em 26/04/2011. MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas 7. Referências Bibliográficas Acesso Tecnologias e Mediação Pedagógica. 17 ed. Campinas, SP: Papirus, Meire. 2010. Interdisciplinaridade: um avanço na educação. Disponível em: POLATO, Amanda. Tecnologia + http://revistaescola.abril.com.br/ciencias/fu Conteúdos = Oportunidades de Ensino. ndamentos/interdisciplinaridade-avanco- Revista Nova Escola. Ano XXIV – nº 223 educacao-426153.shtml. - p. 50- 58 – Junho/Julho 2009. Acesso em: 02/06/2011 TORRES, Gilvani A. Pilé; CRUZ, Mariana. Jornal como Recurso CAVALCANTE, Patrícia Smith. Mediação Pedagógico. Pedagógica em Blog no Ensino Médio. Disponível em http://www.educacaopublica.rj.gov.br/bibli Disponível http://www.conahpa.org/wp- em: 12 content/themes/Conahpa/papers/final152.p df. Acesso em: 26/04/2011.