Abraham Lincoln Ferreira Cardoso Aldenir Brandão da Rocha (coordenador) Miguel Gerônimo da Nóbrega Neto Nivaldo Adão Ferreira Júnior Sara Teixeira Santos Shelley Stela Galvão Valadares Lobby no Congresso Regras, atuação, dificuldades, expectativas Brasília, 2014 IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título LOBBY Regras, atuação, dificuldades, expectativas 1. COMPONENTES Abraham Lincoln Ferreira Cardoso [email protected] Lattes: http://lattes.cnpq.br/1332260889830713 Aldenir Brandão da Rocha [email protected] Lattes: http://lattes.cnpq.br/3761606376475630 Telefone: 55.61.3215.9180 Miguel Gerônimo da Nóbrega Netto Telefone: 55.61.3216-5005. Email: [email protected] Lattes: http://lattes.cnpq.br/6960986151458691 Nivaldo Adão Ferreira Júnior: [email protected] Lattes: http://lattes.cnpq.br/3160659352663443 Telefones: 55.61.3215.9180 e 55.61.8422.2537 Sara Teixeira Santos [email protected] CV: http://lattes.cnpq.br/7223069348842398 Shelley Stela Galvão Valadares: [email protected] Lattes: http://lattes.cnpq.br/8501524280437221 2 Instituição: Câmara dos Deputados Linha Temática: Processos Políticos do Poder Legislativo Resumo: A pesquisa a ser empreendida pretende trilhar por dois eixos principais: em um primeiro plano, perscrutaremos a questão da carência de marco legal para o lobby no Brasil – razões, empecilhos à regulamentação, propostas em tramitação e estágio de discussão. Em um segundo momento, buscaremos a compreensão do modelo de atuação efetiva do lobby no Congresso Nacional – regras informais atuantes, arranjos institucionais existentes, interesses, forma de atuação e grau de influência no processo legislativo. A junção desses dois panoramas possibilitará uma visão global do fenômeno, tanto em relação à sua existência, atuação e importância para o processo de decisão política, quanto em relação às perspectivas de seus atores e do Congresso Nacional, dificuldades decorrentes da não regulamentação, formas de sobrevivência à margem do ordenamento legal. 2. OBJETIVOS Gerais: descrever e Compreender a atuação do lobby no Congresso Nacional; mapear as instituições que realizam lobby no Congresso Nacional; identificar as regras comuns a elas e às duas Casas Legislativas; compreender os caminhos dos processos de decisão no processo legislativo. Específicos: 1) Definir lobby e entidades lobistas e criar tipologia para as suas formas de sua atuação no legislativo federal brasileiro; 2) Mapear as instituições cadastradas e não cadastradas que regularmente realizam lobby e dividi-las segundo a tipologia a ser criada, inicialmente separando-as em lobistas de instituições públicas e lobistas privados; 3 3) Levantar as possíveis dificuldades para a atuação das entidades em um panorama de desregulamentação institucional; 4) Verificar a razão e as barreiras para a não existência de legislação específica para o tema; 5) criar modelos para medição da influência do Lobby na Câmara dos Deputados; 6) Verificar a influência da Lei 12.846, de 2013 sobre a atuação dos grupos de Lobby e a expectativa dos lobistas acerca da aplicação desta lei, no que tange à maior ou menor necessidade de regulamentação da atividade após a edição do texto normativo; 7) Relacionar o lobby com o presidencialismo de coalizão; 8) 1. METODOLOGIA A pesquisa será de natureza híbrida, utilizando-se de métodos qualitativos e quantitativos. Conterá elementos de pesquisa bibliográfica, exploratória, documental, descritiva. A etapa exploratória e documental buscará delimitar o objeto de estudo, enquanto que do levantamento bibliográfico, serão extraídos elementos teóricos para construção das primeiras hipóteses e para base comparativa dos resultados da pesquisa. Quando necessário, descrições das etapas do processo legislativo ilustrarão a pesquisa. Para a consecução dos objetivos específicos, poderão ser utilizadas técnicas, como estudo de caso (GEORGE e BENNETT, 2005); métodos comparativos (para a definição de lobby, valendo-se, por exemplo, da literatura americana acerca do tema, uma vez que nos EUA o Lobby é aceito e regulamentado); entrevistas com representantes de entidades lobistas, com o provável o uso de técnicas específicas como grupo focal, entrevistas estruturadas e semiestruturadas. Por base epistemológica, adotar-se-á a teorias institucionalistas confrontadas com abordagem sistêmica do processo de tomada de decisão política no Parlamento Brasileiro, compreendida como a percepção de que as políticas públicas são fruto da interação de diversos atores, condições, regras formais e informais, determinantes contextuais. 4 2. CRONOGRAMA Ano de 2014 abr mai Jun jul Ago Set out nov dez Reunião de pesquisa Revisão bibliográfica Coleta e tabulação de dados Apresentação dos primeiros resultados em seminários internacionais e nacionais acerca da percepção que os grupos públicos e privados de assessorias parlamentares têm da própria atuação e das suas práticas mais usuais. Produção de artigos Relatório Ano de 2015 Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Nov Dez Reunião de pesquisa Revisão bibliográfica Coleta tabulação e extrapolação de dados Apresentação de resultados em seminários internacionais e nacionais acerca das tentativas de regulamentação do Lobby no Brasil. Produção de artigos Relatório Ano de 2016 Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Reunião de pesquisa Compilação dos resultados e revisão dos objetivos da pesquisa já alcançados Verificação da necessidade de coleta de mais dados Produção de artigo Apresentação dos resultados finais Relatório final 5 3. JUSTIFICATIVA O projeto parte da premissa de que o lobby no Brasil, a despeito da carência de lei que o regulamente, existe; atua no processo de tomada de decisão política, tanto no Legislativo, quanto no Executivo; é prática adotada por instituições privadas e pelo próprio Estado, por meio das assessorias parlamentares espalhadas por vários órgãos, em diversos escalões do Governo. Parte, ainda, de hipótese de pesquisa de que a falta de lei autorizativa da atuação lobista gera e/ou é decorrência de certo grau de preconceito em relação ao lobby, quiçá fruto da tradição patrimonialista brasileira. A pesquisa se localiza no campo do estudo dos grupos de interesses e de pressão e sua influência no processo decisório (já clássico nas Ciências Políticas), permeando as áreas de estudos do processo legislativo: representatividade, representação; accountability, advocacy, transparência. Dialoga, ainda, com áreas pouco exploradas, como a da influência de regras informais no processo decisório e a da consolidação institucional. Necessariamente se vincula, ainda, aos estudos de organização e atuação institucional parlamentar, para os quais são modelos doutrinários os estudos de correntes informacionais da escolha racional (DOWNS, 1999), da conexão eleitoral (MAYHEW, 1974), da teoria partidária (COX e MCCUBBINS, 1993), entre outras que buscam esmiuçar a lógica político processual do legislativo. O estudo da influência dos grupos de interesses na atuação de legisladores conecta-se com temas da representação e representatividade porque lobistas nada mais são do que atores que realizam a intermediação entre representantes e representados – logicamente com por meio de canais e práticas diferenciadas em relação ao cidadão comum. No Brasil, devido ao ranço sempre presente do patrimonialismo e da confusão público/privado, nota-se aversão ao uso do termo lobby, que no ideário popular traz conotação negativa de conjunto de práticas que leva à corrupção ou à troca de favores. Essa é, aliás, uma premissa da qual parte a presente pesquisa: a dificuldade na regulamentação tem sede, em parte, no preconceito vinculado à atividade lobista. Justamente neste ponto, o da vinculação de grupos de interesse a práticas e à possibilidade de usos escusos das práticas de pressão em um panorama de não regulamentação da atividade lobista, surge a necessidade de se incluir o eixo transversal da transparência na presente pesquisa, alinhando-se o tema à prática de advocacy e aos resultados de accountability oriundos desta e da atuação lobista mais estrita. 6 Por fim, será também eixo condutor o fato de que a atuação lobista necessariamente se molda em termos informais, uma vez que não há norma que sirva de lastro ou limites para as suas práticas e que o suposto preconceito negativo à sua existência causa a quase obrigação de os atores e instituições envolvidas não aceitarem o termo “lobistas” preferirem ser identificados como assessorias e assessores parlamentares ou como órgãos de relações governamentais. O lastro teórico para esta parte do estudo será a recente literatura institucionalista capitaneada por Mejía (2006), Helmke e Levistsky (2009), sem contudo, abandonar o pioneirismo de Bachrach e Baratz (1962 e 1963), Lindblom (1986) e vários outros no delineamento do processo decisório político. A pesquisa tem justifica sua consecução pelo ainda pequeno número de estudos acerca dos fenômenos das instituições informais, e do Lobby, no Brasil, seja, para este, no aspecto de sua existência, consolidação, práticas adotadas; seja pelo prisma dos projetos de lei e dos estudos para a construção de um marco legal. Porém, ao mesmo tempo em que serve de justificativa, a carência de estudos e de regulamentação se mostra também como uma barreira ao pesquisador. Serão necessárias ferramentas metodológicas que tornem possível a tarefa de desbravar terreno ainda pouco explorado. Dessa sorte, para a consecução da pesquisa, buscaremos a compreensão do fenômeno, testando suas práticas e estratégias, limites, consequências de sua atuação no processo decisório. Utilizaremos, nesse momento, estudo comparado do frame americano, uma vez que nos Estados Unidos (EUA), o lobby de há muito é regulamentado, fazendo parte da cultura política daquela nação. A introjeção na cultura pode ser percebida, por exemplo, por vários manuais, patrocinados pela Academia, exteriorizando estratégias de atuação para a consecução dos objetivos defendidos pelas instituições especializadas em realizar pressão nos congressistas em busca da satisfação de seus interesses. Nesse sentido, citamos a obra The Lobbying Strategy HandBook, 10 steps to advancing any cause effectively (Libby e associados, 2012), editada pela Universidade de San Diego, em que se defende a existência de advocacy e de lobby e a necessidade de realização de ambos por agências sem fins lucrativos e pelos cidadãos em geral. No mesmo caminho, há outros manuais acadêmicos que descrevem a forma de atuação dos atores do lobby ou a maneira da construção das decisões naquele cenário, como as obras de Godwin (2013), Kerwin e Furlong (2011). Após estudo comparado, em que se buscará a compreensão do fenômeno nos Estados Unidos da América, se utilizará de mapeamento de práticas lobistas naquele país e buscar-se-á verificar se as mesmas práticas ocorrem também aqui no Brasil, o que, se 7 verdadeiro, poderia indicar regras próprias do campo de estudo (FLIGSTEIN e MACADAM, 2012). Se comprovado o fenômeno da similitude na atuação das assessorias parlamentares dos dois países, essas regras informais poderão subsidiar os legisladores na demarcação legal da atuação do Lobby no Brasil. Para a percepção das regras e práticas utilizadas aqui, imagina-se a adequação do uso de grupos focais e entrevistas estruturadas e semiestruturadas como ferramentas metodológicas aptas a promover o primeiro contato com o tema e com os atores desse campo de estudo. Por fim, como outro eixo de pesquisa, há a faceta normativa, em que se buscará mapear as proposições que tencionam a regulamentação da atividade e compreender as razões da ainda não aprovação da norma. Também se propõe a verificar a influência da recente lei anticorrupção (Lei nº 12.846/2012) na atuação dos lobistas e legisladores. Para esse momento, entende-se que estudos de caso, por meio da ferramenta de process tracing, sejam os modelos metodológicos mais adequados para a percepção do fenômeno (Bennet, 2006). 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACOSTA, Andrés Mejía. Informal coalitions and policymaking in Latin America. Nova York: Routledge, 2009. AINSWORTH, Scott (2002). 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