AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DOS AGENTES COMUNITÁRIOS
DE SAÚDE
Adna Nascimento Souza1
Layne de Paiva Sousa 1
Francisca Aline Arrais Sampaio Santos2
Maria Aparecida Alves de Oliveira Serra 2
Thamyres da Silva Martins1
RESUMO
O objetivo desse estudo é avaliar a qualidade de vida dos agentes comunitários de saúde
do Município de Imperatriz – MA. Estudo quantitativo, do tipo transversal.
Participaram 153 Agentes Comunitário de Saúde, que foram captados nas unidades de
atenção primária do município. Utilizou-se o questionário de qualidade de vida SF-36
formado por 36 itens, englobados em oito domínios, que são: capacidade funcional,
limitações por aspectos físicos, dor, estado de saúde geral, vitalidade, aspectos sociais,
limitações por aspectos emocionais e saúde mental. Cada domínio apresenta um escore
de 0 (zero) á 100, em que quanto maior o valor melhor o estado de saúde. Os princípios
éticos foram respeitados. Quanto aos resultados, verificou-se que a maioria dos
participantes era do sexo feminino (80,4%), com idade média de 42 anos (±8,0). Todos
os domínios mostraram valores maiores que cinquenta, porém o domínio dor foi mais
comprometido com o menor escore (média 52) e o domínio limitações por aspectos
emocionais apresentou a melhor apreciação (média 66). Quanto às condições de saúde
atual, os 41,2% dos participantes acreditam que sua saúde é considerada boa. Portanto,
verificou-se que as condições relacionadas ao trabalho do Agente Comunitário de Saúde
interferem na saúde e qualidade de vida desses trabalhadores.
Palavras-chave: Agentes Comunitários de Saúde. Qualidade de vida. Avaliação em
saúde.
1
Aluna do Curso de Graduação de Bacharel em Enfermagem da Universidade Federal do MaranhãoUFMA.
2
Enfermeira. Professora Assistente do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do MaranhãoUFMA.
INTRODUÇÃO
O novo contexto político e econômico mundial de globalização exige do
trabalho em saúde uma prática ampliada, critica e reflexiva, voltada para compreensão
holística do ser cuidado e não mais reduzida às questões biológicas do processo de
adoecimento, contribuindo dessa forma para maior exposição dos trabalhadores de
saúde a fatores de risco ocupacional. Em decorrência dessas mudanças do trabalho, o
estudo das dimensões físicas e psicossociais do trabalhador em saúde tem aumentado
em importância nas últimas décadas 1.
O modelo de atenção primaria de saúde no Brasil representa uma proposta de
aproximar o serviço de saúde da população, a fim de reconhecer as necessidades da
comunidade de forma precoce, prevenindo e controlando os agravos de saúde. Para
atender aos princípios básicos do modelo atual de atenção à saúde a organização do
trabalho nesse cenário deve aliar a demanda local com as atividades dos diferentes
programas de saúde que regem o processo de trabalho das equipes, pautados
principalmente, no cumprimento de metas 2.
Dentre os trabalhadores desta área, o Agente Comunitário de Saúde (ACS) é o
principal responsável pelo elo entre os serviços de saúde e as demandas da comunidade.
Sua importância no contexto das ações do Sistema Único de Saúde (SUS) encontra-se
no seu papel de promotor de encontros entre duas realidades distintas, onde estão
expostos diretamente a tensões e conflitos cotidianos e sociais, que precisam ser
administrados por esses profissionais, a fim de permitir o acontecimento desses
encontros 3.
Sabe-se que os diversos aspectos de saúde dos Agentes Comunitários de Saúde
(ACS) e dos demais profissionais de saúde sofrem diferentes influências negativas. A
excessiva carga de trabalho, o ambiente físico, a exposição ao cuidado com indivíduos,
a dor musculoesquelética, as exposições ao sol, entre outros, geram efeito insalubre à
saúde e consequentemente à qualidade de vida destes profissionais da saúde 4.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, qualidade de vida é a percepção do
indivíduo sobre sua vida diante dos aspectos culturais e valores nos quais ele está
inserido e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações 5.
Assim, é essencial avaliar a qualidade de vida dos agentes comunitários de
saúde, pois tal tarefa é fundamental na busca por melhorias nas condições de saúde e de
trabalho desses profissionais. A reflexão dos aspectos positivos e negativos referente à
qualidade de vida dos ACS pode implicar na revisão ou reforço de condições
satisfatórias no que diz respeito à execução das funções de trabalho dos agentes.
Nessa perspectiva, as condições de vida e trabalho dos ACS precisam ser
valorizadas, conhecendo os principais riscos, sinais ou sintomas que estes apresentam
em relação ao desenvolvimento de suas práticas laborais, oferecendo a atenção primária
em saúde subsídios para melhor conduzir os ACS no desenvolvimento de suas
atividades e produzir conhecimentos a respeito do funcionamento do serviço,
colaborando para o direcionamento de políticas e melhoria no cuidado dos usuários dos
serviços de saúde.
Portanto, este estudo teve como objetivo avaliar a qualidade de vida dos agentes
comunitários de saúde do município de Imperatriz – MA, através do questionário de
qualidade de vida The Medical Outcomes Study 36-Item Short Form Health Survey (SF36).
MATERIAL E MÉTODO
A pesquisa caracteriza-se como um estudo transversal e quantitativo. A coleta de
dados foi realizada entre os meses de abril e maio do ano de 2014 com os ACS das
equipes de saúde da família do município de Imperatriz (MA). Para realização do estudo
foi selecionada uma amostra do total de ACS que trabalham no município referido.
Segundo dados disponibilizados pela Secretaria de Saúde deste município, no período
da coleta existiam 321 profissionais atuando.
A análise estatística utilizada para o cálculo amostral foi à determinação do
tamanho da amostra com base na estimativa da proporção populacional. Considerando o
intervalo de confiança de 90% e o erro máximo de estimativa de 5%, o tamanho da
amostra foi de 176 ACS. Foram incluídos na amostra os ACS que trabalham nas
equipes de saúde da família de Imperatriz e que aceitaram, voluntariamente, participar
da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram
excluídos da pesquisa, os ACS que não estiveram presentes no momento da coleta ou
que se recusaram a participar da mesma.
Não foi possível alcançar o número ideal de 176 sujeitos devido os fatores
limitantes, como encontrar o ACS em seu local de trabalho, a larga distribuição
geográfica das Unidades Básicas de Saúde do município, a incompatibilidade de horário
e alguns ACS estavam de férias. Assim, o quantitativo real de sujeitos foram 153
indivíduos.
Para a aplicação do instrumento de pesquisa, foi utilizada a forma tradicional,
com distribuição dos questionários pessoalmente e posterior recolhimento dos mesmos.
Antes do início da coleta foi apresentada a finalidade do trabalho e o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. Posteriormente, os voluntários responderam a
versão brasileira do questionário de qualidade de vida SF-36.
O questionário utilizado foi composto por duas partes: a primeira referente ao
perfil do ACS, ou seja, idade, sexo, estado civil, anos de estudo, tempo de trabalho
como ACS, renda familiar e número de membros na família; e a segunda parte referiuse ao questionário SF – 36. Este instrumento de avaliação é de fácil administração e
compreensão. Consiste em um questionário multidimensional formado por 36 itens,
englobados em 8 domínios, que são: capacidade funcional que avalia se há limitação em
realizar todas as atividades físicas como banhar-se, vestir-se, caminhar; Aspectos físicos
que investiga se há problemas com o trabalho ou outras atividades diárias como
resultado da saúde física; Dor que averigua se há presença de dor e limitação; Estado
geral da saúde que avalia se sua saúde é excelente, muito boa, boa, ruim e muito ruim;
Vitalidade que verifica o quanto o indivíduo sente-se cheio de vigor, energia, esgotado
ou cansado todo o tempo; Aspectos sociais que analisa se há interferência nas atividades
sociais ocasionado por problemas físicos ou emocionais; Aspectos emocionais que
avalia problemas com o trabalho ou atividades diárias como resultado de problemas
emocionais e por fim o domínio Saúde mental que verifica se os indivíduos têm
sentimentos de calma, paz, felicidade, nervosismo, depressão todo o tempo.
O SF-36 apresenta um escore final de 0 (zero) á 100 (obtido por meio de cálculo
do Raw Scale), em que o zero corresponde ao pior estado geral de saúde e o 100
corresponde ao melhor estado de saúde, ou seja, quanto menor o escore maior o
comprometimento. As respostas estiveram dispostas no formato de escala de Likert, em
que o participante deverá marcar apenas uma opção. Após o processo de análise dos
dados todos os questionários foram extintos.
Os dados obtidos foram armazenados em um banco de dados no programa
Microsoft Office Excel 2007®. Foi utilizada estatística descritiva para avaliação das
variáveis dicotômicas e categóricas. Foram calculadas as medidas de tendência central e
de dispersão em que foram considerados todos os indicadores de qualidade de vida.
O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da
Universidade Federal do Maranhão. Todos os ACS que concordaram em participar da
pesquisa assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme
Resolução do Conselho Nacional de Saúde 466/2012.
RESULTADOS
A seguir os principais resultados obtidos pela amostra estão apresentados em
tabelas.
Tabela 1: Perfil socioeconômico do Agente Comunitário de Saúde. Imperatriz – MA,
2014.
Variável
Nº
%
Feminino
123
80,4
Masculino
30
19,6
Total
153
100,0
Casado (a)
108
70,6
Solteiro (a)
34
22,2
Viúvo (a)
6
3,9
1. Sexo
2. Estado Civil
Divorciado (a)
3
2,0
Não informado
2
1,3
Ensino Fundamental
15
9,8
Ensino Médio
112
73,2
Ensino Superior Incompleto
11
7,2
Ensino Superior Completo
5
3,3
Não informado
10
6,5
3. Escolaridade
Tabela 2: Perfil socioeconômico do Agente Comunitário de Saúde. Imperatriz-MA, 2014.
Média
Mediana Moda
Desvio-Padrão
4. Idade
42,0
42
42
8,0
5. Nº de pessoas em domicílio
4,0
5,3
4
1,3
6. Renda Mensal*
1,4
1,6
1
0,5
7. Renda familiar
2,4
2,6
2
0,6
8. Tempo de trabalho
12,8
13
15
4,5
Foram avaliados 153 agentes comunitários de saúde do município de Imperatriz
– MA. A análise do perfil socioeconômico dos agentes comunitários de saúde (Tabela
1) evidencia que a maioria dos participantes era do sexo feminino (80,4%) e casado (a)
(70,6%), com escolaridade máxima predominante referente ao ensino médio (73,2%).
Os participantes possuíam média de idade de 42 anos (± 8,0). Quanto ao número
de pessoas no domicílio, a média foi de quatro pessoas (±1,3) por residência. A renda
mensal foi 1,4 salários por pessoa sendo a referência atual de R$ 1.013,60 por
indivíduo. No que diz respeito à renda familiar, esta foi de 2,4 salários, o que
corresponde a R$ 1.737,60. Quanto ao tempo de trabalho, a média era de 12,8 anos
variando de 8,3 para 17,3 anos (±4,5) (Tabela 2).
Tabela 3: Avaliação dos domínios de qualidade de vida conforme o questionário SF-36
dos Agentes Comunitários de Saúde, Imperatriz – MA, 2014.
Domínio
Média
Mediana
Moda
Desvio Padrão
Capacidade
Funcional
64,2
65
100
25,4
Limitações por
Aspectos
Físicos
59,3
75
100
35,0
Dor
52,0
51
41
22,1
Estado Geral
de Saúde
56,1
57
52
21,0
Vitalidade
58,3
60
60
20,0
Aspectos
Sociais
65,0
62,5
62,5
23,0
Limitação por
Aspectos
Emocionais
66,0
67
100
38,0
Saúde Mental
62,0
60
44
20,2
Segundo a Tabela 3, todos os domínios mostraram valores maiores que
cinquenta por cento. Porém, observa-se que o domínio de dor, quando comparado com
os outros, apresentou o menor valor médio de 52,0, desvio-padrão de ±22,1 e mediana
51. Apesar dos valores médios dos domínios capacidade funcional, limitações por
aspectos físicos e limitações por aspectos emocionais terem sido satisfatórios com
médias de 64,2, 59,3 e 66, respectivamente, apresentaram moda de 100, ou seja, total
satisfação.
Verificando o domínio estado geral de saúde, entendeu-se que o resultado foi
pouco satisfatório uma vez que os valores de média, mediana e moda foram muito
próximos de 50, ou seja, 56,1, 57, 52 respectivamente, com ± 21.
Considerando o domínio vitalidade que avalia quatro itens (relacionado a vigor,
energia, esgotamento e cansaço) apresentou uma média 58,3, mediana 60 e desviopadrão ±20.
No concernente ao domínio aspectos social que é composto por dois itens,
problema físico e emocional na interferência das atividades sociais, esse apresentou
média de 65,0, mediana 62,5 e desvio-padrão 23.
E por fim, o domínio Saúde mental teve uma média de 62,0, porém com uma
moda de 44 e desvio-padrão de ±20,2.
Tabela 4: Questões referentes à concepção de sua saúde geral segundo os Agentes
Comunitários de Saúde, Imperatriz, 2014.
Questão
Saúde atual
Saúde ano
anterior
Excelente
Muito Boa
Boa
Ruim
Muito
Ruim
14
33
63
39
4
Muito
Melhor
Um Pouco
Melhor
Quase
mesma
Um Pouco
Pior
Muito Pior
24
44
54
26
5
A tabela 4 revela uma avaliação comparativa entre as condições de saúde atual e
a de um ano anterior. Em relação às condições de saúde atual, 63 participantes (41,2%)
referiram considerar sua saúde como boa, em contrapartida de 43 pessoas (28,1%) que
consideraram a concepção de saúde como ruim e muito ruim.
Comparado há um ano atrás, 54 dos participantes (35,3%) consideraram que a
saúde está quase a mesma e 44 dos participantes (28,7%) afirmam que sua saúde está
um pouco melhor. Apenas 24 (15,7%) pessoas opinaram no conceito muito melhor.
Tabela 5: Questões referentes à avaliação da dor segundo os participantes. Imperatriz,
2014.
Questão
Nenhuma
Muito Leve
Leve
Moderada
Grave
Muito
grave
12
20
33
62
20
6
De maneira
nenhuma
Um pouco
Moderadamente
Bastante
Extremamente
32
45
42
31
3
Intensidade
dor
Dor
interfere
no trabalho
Na tabela 5 há uma comparação entre a intensidade da dor nas últimas quatro
semanas e se a dor interfere no trabalho normal durante as quatro semanas. Ao se
analisar a intensidade da dor, a maioria dos sujeitos relatou dor no corpo moderada 62
(40,5%). Em relação a interferência da dor no trabalho 45 participantes (29,4%)
confirmam que a dor interfere um pouco no trabalho normal, evidenciando assim que,
os ACS podem não apresentar um rendimento esperado no campo de trabalho. Além
disso, 42 dos participantes (27,4%) afirmam que a dor interfere moderadamente no seu
trabalho normal.
DISCUSSÃO
A análise dos dados deste estudo revelou que, dos 153 ACS, a maioria era
feminina (80,4%), corroborando com pesquisa realizada em outra realidade com
resultados igualitários a este estudo, em que 89,3% eram mulheres 6. A predominância
das mulheres atuando como ACS pode ser atribuída ao aumento da participação das
mulheres no mercado de trabalho, possibilitando o incremento da renda familiar e o
avanço social dessas. Assim como pelo fato de desempenharem, institivamente o papel
do cuidador na sociedade; bem como pela resistência da comunidade ao agente do sexo
masculino em função do constrangimento das famílias em revelar particularidades do
universo feminino 1.
Quanto à idade encontrou-se a média 42 anos ±8,0, o que caracteriza este grupo
em fase de envelhecimento, ao contrário de outra pesquisa que afirma que a média de
idade em seu estudo foi de 33,5 anos ±9,2 5. Sabe-se que quanto maior a idade, maior a
possibilidade para o surgimento de dor musculoesquelética que limita a mobilidade
física e a disposição para as atividades diárias e para o trabalho cotidiano 7.
Referente ao estado civil, o estudo evidenciou que 108 (70,4%) dos indivíduos
são casados, o que torna concordante com a faixa etária dos entrevistados, ou seja, já
possuem família constituída corroborando com outros estudos 8-10.
Quanto ao nível educacional, a maioria, ou seja, 112 ACS (73,2%), apresentou
escolaridade máxima de ensino médio. O nível educacional mais baixo, ensino
fundamental, foi relatado por apenas 15 ACS (9,8%) 6, 1, 11.
No que diz respeito a renda mensal, neste estudo, a média foi de 1,4 salários por
pessoa, ou seja, uma renda considerada baixa, e esta possivelmente pode estar
relacionado à desmotivação. Diante disso, pode-se refletir: será que o ACS considera-se
bem remunerado frente as suas atividades de trabalho? Uma vez que o ACS além de
executar suas atribuições, também participa da execução das atividades administrativas
e da recepção da UBS. Ademais, tal profissional enfrenta riscos de violência e de
adoecimento durante a realização da visita domiciliar. Logo, a sobrecarga de trabalho,
assim como o valor de seu pagamento de trabalho, por sua vez, pode interferir a
qualidade de vida destes profissionais.
Quanto à renda familiar a média foi de 2,4 salários, o que corresponde a R$
1.737,60. Dentro desse contexto, considera-se que para ter qualidade de vida
satisfatória, tendo como parâmetro o salário mínimo necessário para suprir as demandas
diárias, o ideal seria um valor superior a R$ 2.000,00. No que diz respeito ao tempo de
trabalho dos ACS, este apresentou a média de 12,8 anos, variando de 8,3 para 17,3 anos
(±4,5). Ao contrário de uma pesquisa em que o tempo de atuação como ACS variou de
0,5 a 9 anos, com média de 4 anos ±2,8 5.
Conforme os resultados apresentados na tabela 3 notou-se que o domínio dor
apresentou o menor escore, com uma média de 52 (±22,1). Sabe-se que a dor promove
impacto desfavorável na qualidade de vida (QV) dos indivíduos, interferindo nas
atividades diárias de até dois terços dos sujeitos, especialmente na capacidade de
realizar exercícios, praticar esportes, desempenhar tarefas da vida diária, bem como
executar atividades laborais 4.
Já o domínio limitações por aspectos físicos apresentou um valor médio
aproximado do domínio de dor (59,3 ±35,0), o que se pode prever que a dor possa
interferir diretamente nas limitações por aspectos físicos dos ACS, podendo
comprometer este profissional de executar suas funções laborais.
Sabe-se que a dor, que é um domínio avaliado, compromete o domínio físico. É
importante destacar que essa variável está diretamente relacionada com este domínio.
Entretanto, é de suma importância ressaltar que, no trabalho do ACS, as longas
caminhadas, o uso dos materiais e a necessidade de permanecerem sentados em
posições incorretas durante as visitas domiciliares, consistem em fatores biomecânicos
e, consequentemente, numa fonte potencial de dor 4.
Um dos aspectos a ser considerado em relação ao maior acometimento do
domínio limitações por aspectos físicos entre ACS do sexo feminino é o fato da
existência de diferença entre os sexos quanto à sua composição corporal, massa
muscular e estatura, podendo representar para esse grupo, um fator de risco
predisponente para a sintomatologia dolorosa 12.
Observando em particular o domínio capacidade funcional, pôde-se perceber que
este apresentou um valor médio de 64,2 ±25,4. Os resultados mostraram-se satisfatórios,
pois a capacidade funcional é definida como a capacidade do indivíduo desempenhar as
atividades da vida diária, que são as atividades de cuidados pessoais básicos como
vestir-se, banhar-se, levantar-se e sentar-se, utilizar o banheiro, comer e caminhar
pequenas distâncias, mantendo assim sua autonomia 13.
A partir do exposto, observou-se que o domínio capacidade funcional apresentou
um escore satisfatório, porém ficou obscura sua pontuação, pois se sabe que este
domínio está diretamente relacionado com os domínios citados de dor e limitações por
aspectos físicos.
Quanto ao domínio estado geral de saúde, o mesmo apresentou o valor médio de
56,1 ±21,0. Estado geral de saúde significa ter uma boa condição de bem-estar que
inclui o bom funcionamento do corpo, o vivenciar a sensação de bem-estar psicológico
e principalmente uma boa qualidade nas relações que o indivíduo mantém com as
pessoas e o meio ambiente
Neste estudo, o domínio vitalidade apresentou uma média de 58,3. Vitalidade é a
capacidade que o corpo humano tem de se manter unido e animado por meio de ações
automáticas, instintivas, irracionais, irrefletidas, sujeitas às leis orgânicas do corpo
incapaz de agir segundo a razão e a reflexão.
No que diz respeito ao domínio limitações por aspectos emocionais, este
apresentou o melhor escore, com uma média de 66. Este domínio avalia se o sujeito teve
algum problema com seu trabalho ou outra atividade regular diária, como consequência
de algum problema emocional, como se sentir deprimido ou ansioso.
Já o domínio saúde mental apresentou o valor médio de 62,0, apesar de que o
valor que representa a resposta mais repetida foi de 44. A saúde mental é bastante
representativa para mensurar qualidade de vida, pois é a partir do equilíbrio mental que
o ser humano aproveita plenamente suas aptidões cognitivas, afetivas e sociais.
Apesar do estresse ser um componente presente nos trabalhadores da atenção
primária de saúde e que afeta diretamente sua saúde, sua qualidade de vida, sua
eficiência no trabalho, quanto à concepção de saúde geral do ACS, que revela uma
avaliação comparativa entre as condições de saúde atual e há de um ano anterior, a
maioria referiu a condição de saúde atual como boa. Comparando sua saúde há um ano
atrás, 54 dos participantes (35,3%) consideraram que a saúde está quase a mesma.
Apenas 24 (15,7%) pessoas opinaram no conceito muito melhor.
Quanto a variável de concepção de dor, que faz um comparativo entre a
intensidade da dor e se a dor interfere no trabalho normal, neste estudo, 62 participantes
(40,5%) afirmaram ser moderada a intensidade da dor e 45 dos participantes (29,4%)
confirmam que a dor interfere um pouco no trabalho normal. A impossibilidade de
controlar a dor pode ocasionar sofrimento físico e psíquico. Sabe-se que a alteração dos
aspectos psicológicos gera tensão, ansiedade, estresse, entre outros distúrbios, o que
pode influenciar na satisfação da saúde por parte dos indivíduos acometidos 1.
Diante do exposto, verificou-se vários aspectos que interferem na qualidade de
vida dos agentes comunitários de saúde a partir da aplicação do questionário SF-36 e
percebeu-se a partir da visão dos sujeitos e discussão na literatura o quanto as condições
e forma de trabalho destes profissionais implicam na sua saúde e qualidade de vida.
Embora esta pesquisa apresente algumas limitações, como a aplicação do
instrumento de forma transversal, a não captação do quantitativo de amostra estimável,
e os poucos estudos referentes à qualidade de vida do ACS, foi possível desenvolver os
parâmetros avaliados.
CONCLUSÃO
Foi possível através do questionário SF-36 verificar a qualidade de vida dos
ACS.
Verificou-se que a maioria dos participantes era do sexo feminino (80,4%), com
idade média de 42 anos (±8,0). Segundo os domínios que avaliam a qualidade de vida
dos ACS, verificou-se que o domínio da dor foi o de menor escore apresentando uma
média de 52. Já os domínios capacidade funcional, limitações por aspectos físicos e
limitações por aspectos emocionais terem sido satisfatórios com médios de 64,2, 59,3 e
66, respectivamente, apresentaram moda de 100, ou seja, total satisfação. Verificando o
domínio estado geral de saúde os valores de média, mediana e moda foram muito
próximos de 50, ou seja, 56,1, 57, 52 respectivamente, com ± 21. Considerando o
domínio vitalidade, este apresentou uma média 58,3. No concernente ao domínio
aspectos sociais, esse apresentou média de 65. E por fim, o domínio Saúde mental teve
uma média de 62,0, porém com uma moda de 44 e desvio-padrão de ±20,2.
Em relação às condições de saúde atual, 63 participantes referiram considerar
sua saúde como boa. Comparando com um ano atrás, 54 dos participantes (35,3%)
consideraram que a saúde está quase a mesma. No que se refere a concepção de dor, que
faz um comparativo entre a intensidade da dor nas últimas quatro semanas e se a dor
interfere no trabalho normal, 62 participantes (40,5%) afirmaram que a intensidade da
dor foi considerada moderada e 45 dos participantes (29,4%) confirmam que a dor
interfere um pouco no trabalho normal.
Espera-se que este estudo venha contribuir com a literatura nacional sobre o
tema, dando subsídios para novos estudos e futuros programas que contemplem a
qualidade de vida dos ACS.
Uma vez que o ACS reside na área de território do enfermeiro, salienta-se que
esse é também cliente da UBS e posteriormente receberá assistência do profissional de
enfermagem. Assim, é crucial que o enfermeiro possa refletir e observar melhor o
desenvolvimento do ACS dentro da unidade básica de saúde, sendo também moderador
para auxiliar no que tange a qualidade de vida destes profissionais.
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Download

avaliação da qualidade de vida dos agentes comunitários de saúde