AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE Adna Nascimento Souza1 Layne de Paiva Sousa 1 Francisca Aline Arrais Sampaio Santos2 Maria Aparecida Alves de Oliveira Serra 2 Thamyres da Silva Martins1 RESUMO O objetivo desse estudo é avaliar a qualidade de vida dos agentes comunitários de saúde do Município de Imperatriz – MA. Estudo quantitativo, do tipo transversal. Participaram 153 Agentes Comunitário de Saúde, que foram captados nas unidades de atenção primária do município. Utilizou-se o questionário de qualidade de vida SF-36 formado por 36 itens, englobados em oito domínios, que são: capacidade funcional, limitações por aspectos físicos, dor, estado de saúde geral, vitalidade, aspectos sociais, limitações por aspectos emocionais e saúde mental. Cada domínio apresenta um escore de 0 (zero) á 100, em que quanto maior o valor melhor o estado de saúde. Os princípios éticos foram respeitados. Quanto aos resultados, verificou-se que a maioria dos participantes era do sexo feminino (80,4%), com idade média de 42 anos (±8,0). Todos os domínios mostraram valores maiores que cinquenta, porém o domínio dor foi mais comprometido com o menor escore (média 52) e o domínio limitações por aspectos emocionais apresentou a melhor apreciação (média 66). Quanto às condições de saúde atual, os 41,2% dos participantes acreditam que sua saúde é considerada boa. Portanto, verificou-se que as condições relacionadas ao trabalho do Agente Comunitário de Saúde interferem na saúde e qualidade de vida desses trabalhadores. Palavras-chave: Agentes Comunitários de Saúde. Qualidade de vida. Avaliação em saúde. 1 Aluna do Curso de Graduação de Bacharel em Enfermagem da Universidade Federal do MaranhãoUFMA. 2 Enfermeira. Professora Assistente do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do MaranhãoUFMA. INTRODUÇÃO O novo contexto político e econômico mundial de globalização exige do trabalho em saúde uma prática ampliada, critica e reflexiva, voltada para compreensão holística do ser cuidado e não mais reduzida às questões biológicas do processo de adoecimento, contribuindo dessa forma para maior exposição dos trabalhadores de saúde a fatores de risco ocupacional. Em decorrência dessas mudanças do trabalho, o estudo das dimensões físicas e psicossociais do trabalhador em saúde tem aumentado em importância nas últimas décadas 1. O modelo de atenção primaria de saúde no Brasil representa uma proposta de aproximar o serviço de saúde da população, a fim de reconhecer as necessidades da comunidade de forma precoce, prevenindo e controlando os agravos de saúde. Para atender aos princípios básicos do modelo atual de atenção à saúde a organização do trabalho nesse cenário deve aliar a demanda local com as atividades dos diferentes programas de saúde que regem o processo de trabalho das equipes, pautados principalmente, no cumprimento de metas 2. Dentre os trabalhadores desta área, o Agente Comunitário de Saúde (ACS) é o principal responsável pelo elo entre os serviços de saúde e as demandas da comunidade. Sua importância no contexto das ações do Sistema Único de Saúde (SUS) encontra-se no seu papel de promotor de encontros entre duas realidades distintas, onde estão expostos diretamente a tensões e conflitos cotidianos e sociais, que precisam ser administrados por esses profissionais, a fim de permitir o acontecimento desses encontros 3. Sabe-se que os diversos aspectos de saúde dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e dos demais profissionais de saúde sofrem diferentes influências negativas. A excessiva carga de trabalho, o ambiente físico, a exposição ao cuidado com indivíduos, a dor musculoesquelética, as exposições ao sol, entre outros, geram efeito insalubre à saúde e consequentemente à qualidade de vida destes profissionais da saúde 4. Segundo a Organização Mundial de Saúde, qualidade de vida é a percepção do indivíduo sobre sua vida diante dos aspectos culturais e valores nos quais ele está inserido e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações 5. Assim, é essencial avaliar a qualidade de vida dos agentes comunitários de saúde, pois tal tarefa é fundamental na busca por melhorias nas condições de saúde e de trabalho desses profissionais. A reflexão dos aspectos positivos e negativos referente à qualidade de vida dos ACS pode implicar na revisão ou reforço de condições satisfatórias no que diz respeito à execução das funções de trabalho dos agentes. Nessa perspectiva, as condições de vida e trabalho dos ACS precisam ser valorizadas, conhecendo os principais riscos, sinais ou sintomas que estes apresentam em relação ao desenvolvimento de suas práticas laborais, oferecendo a atenção primária em saúde subsídios para melhor conduzir os ACS no desenvolvimento de suas atividades e produzir conhecimentos a respeito do funcionamento do serviço, colaborando para o direcionamento de políticas e melhoria no cuidado dos usuários dos serviços de saúde. Portanto, este estudo teve como objetivo avaliar a qualidade de vida dos agentes comunitários de saúde do município de Imperatriz – MA, através do questionário de qualidade de vida The Medical Outcomes Study 36-Item Short Form Health Survey (SF36). MATERIAL E MÉTODO A pesquisa caracteriza-se como um estudo transversal e quantitativo. A coleta de dados foi realizada entre os meses de abril e maio do ano de 2014 com os ACS das equipes de saúde da família do município de Imperatriz (MA). Para realização do estudo foi selecionada uma amostra do total de ACS que trabalham no município referido. Segundo dados disponibilizados pela Secretaria de Saúde deste município, no período da coleta existiam 321 profissionais atuando. A análise estatística utilizada para o cálculo amostral foi à determinação do tamanho da amostra com base na estimativa da proporção populacional. Considerando o intervalo de confiança de 90% e o erro máximo de estimativa de 5%, o tamanho da amostra foi de 176 ACS. Foram incluídos na amostra os ACS que trabalham nas equipes de saúde da família de Imperatriz e que aceitaram, voluntariamente, participar da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídos da pesquisa, os ACS que não estiveram presentes no momento da coleta ou que se recusaram a participar da mesma. Não foi possível alcançar o número ideal de 176 sujeitos devido os fatores limitantes, como encontrar o ACS em seu local de trabalho, a larga distribuição geográfica das Unidades Básicas de Saúde do município, a incompatibilidade de horário e alguns ACS estavam de férias. Assim, o quantitativo real de sujeitos foram 153 indivíduos. Para a aplicação do instrumento de pesquisa, foi utilizada a forma tradicional, com distribuição dos questionários pessoalmente e posterior recolhimento dos mesmos. Antes do início da coleta foi apresentada a finalidade do trabalho e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Posteriormente, os voluntários responderam a versão brasileira do questionário de qualidade de vida SF-36. O questionário utilizado foi composto por duas partes: a primeira referente ao perfil do ACS, ou seja, idade, sexo, estado civil, anos de estudo, tempo de trabalho como ACS, renda familiar e número de membros na família; e a segunda parte referiuse ao questionário SF – 36. Este instrumento de avaliação é de fácil administração e compreensão. Consiste em um questionário multidimensional formado por 36 itens, englobados em 8 domínios, que são: capacidade funcional que avalia se há limitação em realizar todas as atividades físicas como banhar-se, vestir-se, caminhar; Aspectos físicos que investiga se há problemas com o trabalho ou outras atividades diárias como resultado da saúde física; Dor que averigua se há presença de dor e limitação; Estado geral da saúde que avalia se sua saúde é excelente, muito boa, boa, ruim e muito ruim; Vitalidade que verifica o quanto o indivíduo sente-se cheio de vigor, energia, esgotado ou cansado todo o tempo; Aspectos sociais que analisa se há interferência nas atividades sociais ocasionado por problemas físicos ou emocionais; Aspectos emocionais que avalia problemas com o trabalho ou atividades diárias como resultado de problemas emocionais e por fim o domínio Saúde mental que verifica se os indivíduos têm sentimentos de calma, paz, felicidade, nervosismo, depressão todo o tempo. O SF-36 apresenta um escore final de 0 (zero) á 100 (obtido por meio de cálculo do Raw Scale), em que o zero corresponde ao pior estado geral de saúde e o 100 corresponde ao melhor estado de saúde, ou seja, quanto menor o escore maior o comprometimento. As respostas estiveram dispostas no formato de escala de Likert, em que o participante deverá marcar apenas uma opção. Após o processo de análise dos dados todos os questionários foram extintos. Os dados obtidos foram armazenados em um banco de dados no programa Microsoft Office Excel 2007®. Foi utilizada estatística descritiva para avaliação das variáveis dicotômicas e categóricas. Foram calculadas as medidas de tendência central e de dispersão em que foram considerados todos os indicadores de qualidade de vida. O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Maranhão. Todos os ACS que concordaram em participar da pesquisa assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme Resolução do Conselho Nacional de Saúde 466/2012. RESULTADOS A seguir os principais resultados obtidos pela amostra estão apresentados em tabelas. Tabela 1: Perfil socioeconômico do Agente Comunitário de Saúde. Imperatriz – MA, 2014. Variável Nº % Feminino 123 80,4 Masculino 30 19,6 Total 153 100,0 Casado (a) 108 70,6 Solteiro (a) 34 22,2 Viúvo (a) 6 3,9 1. Sexo 2. Estado Civil Divorciado (a) 3 2,0 Não informado 2 1,3 Ensino Fundamental 15 9,8 Ensino Médio 112 73,2 Ensino Superior Incompleto 11 7,2 Ensino Superior Completo 5 3,3 Não informado 10 6,5 3. Escolaridade Tabela 2: Perfil socioeconômico do Agente Comunitário de Saúde. Imperatriz-MA, 2014. Média Mediana Moda Desvio-Padrão 4. Idade 42,0 42 42 8,0 5. Nº de pessoas em domicílio 4,0 5,3 4 1,3 6. Renda Mensal* 1,4 1,6 1 0,5 7. Renda familiar 2,4 2,6 2 0,6 8. Tempo de trabalho 12,8 13 15 4,5 Foram avaliados 153 agentes comunitários de saúde do município de Imperatriz – MA. A análise do perfil socioeconômico dos agentes comunitários de saúde (Tabela 1) evidencia que a maioria dos participantes era do sexo feminino (80,4%) e casado (a) (70,6%), com escolaridade máxima predominante referente ao ensino médio (73,2%). Os participantes possuíam média de idade de 42 anos (± 8,0). Quanto ao número de pessoas no domicílio, a média foi de quatro pessoas (±1,3) por residência. A renda mensal foi 1,4 salários por pessoa sendo a referência atual de R$ 1.013,60 por indivíduo. No que diz respeito à renda familiar, esta foi de 2,4 salários, o que corresponde a R$ 1.737,60. Quanto ao tempo de trabalho, a média era de 12,8 anos variando de 8,3 para 17,3 anos (±4,5) (Tabela 2). Tabela 3: Avaliação dos domínios de qualidade de vida conforme o questionário SF-36 dos Agentes Comunitários de Saúde, Imperatriz – MA, 2014. Domínio Média Mediana Moda Desvio Padrão Capacidade Funcional 64,2 65 100 25,4 Limitações por Aspectos Físicos 59,3 75 100 35,0 Dor 52,0 51 41 22,1 Estado Geral de Saúde 56,1 57 52 21,0 Vitalidade 58,3 60 60 20,0 Aspectos Sociais 65,0 62,5 62,5 23,0 Limitação por Aspectos Emocionais 66,0 67 100 38,0 Saúde Mental 62,0 60 44 20,2 Segundo a Tabela 3, todos os domínios mostraram valores maiores que cinquenta por cento. Porém, observa-se que o domínio de dor, quando comparado com os outros, apresentou o menor valor médio de 52,0, desvio-padrão de ±22,1 e mediana 51. Apesar dos valores médios dos domínios capacidade funcional, limitações por aspectos físicos e limitações por aspectos emocionais terem sido satisfatórios com médias de 64,2, 59,3 e 66, respectivamente, apresentaram moda de 100, ou seja, total satisfação. Verificando o domínio estado geral de saúde, entendeu-se que o resultado foi pouco satisfatório uma vez que os valores de média, mediana e moda foram muito próximos de 50, ou seja, 56,1, 57, 52 respectivamente, com ± 21. Considerando o domínio vitalidade que avalia quatro itens (relacionado a vigor, energia, esgotamento e cansaço) apresentou uma média 58,3, mediana 60 e desviopadrão ±20. No concernente ao domínio aspectos social que é composto por dois itens, problema físico e emocional na interferência das atividades sociais, esse apresentou média de 65,0, mediana 62,5 e desvio-padrão 23. E por fim, o domínio Saúde mental teve uma média de 62,0, porém com uma moda de 44 e desvio-padrão de ±20,2. Tabela 4: Questões referentes à concepção de sua saúde geral segundo os Agentes Comunitários de Saúde, Imperatriz, 2014. Questão Saúde atual Saúde ano anterior Excelente Muito Boa Boa Ruim Muito Ruim 14 33 63 39 4 Muito Melhor Um Pouco Melhor Quase mesma Um Pouco Pior Muito Pior 24 44 54 26 5 A tabela 4 revela uma avaliação comparativa entre as condições de saúde atual e a de um ano anterior. Em relação às condições de saúde atual, 63 participantes (41,2%) referiram considerar sua saúde como boa, em contrapartida de 43 pessoas (28,1%) que consideraram a concepção de saúde como ruim e muito ruim. Comparado há um ano atrás, 54 dos participantes (35,3%) consideraram que a saúde está quase a mesma e 44 dos participantes (28,7%) afirmam que sua saúde está um pouco melhor. Apenas 24 (15,7%) pessoas opinaram no conceito muito melhor. Tabela 5: Questões referentes à avaliação da dor segundo os participantes. Imperatriz, 2014. Questão Nenhuma Muito Leve Leve Moderada Grave Muito grave 12 20 33 62 20 6 De maneira nenhuma Um pouco Moderadamente Bastante Extremamente 32 45 42 31 3 Intensidade dor Dor interfere no trabalho Na tabela 5 há uma comparação entre a intensidade da dor nas últimas quatro semanas e se a dor interfere no trabalho normal durante as quatro semanas. Ao se analisar a intensidade da dor, a maioria dos sujeitos relatou dor no corpo moderada 62 (40,5%). Em relação a interferência da dor no trabalho 45 participantes (29,4%) confirmam que a dor interfere um pouco no trabalho normal, evidenciando assim que, os ACS podem não apresentar um rendimento esperado no campo de trabalho. Além disso, 42 dos participantes (27,4%) afirmam que a dor interfere moderadamente no seu trabalho normal. DISCUSSÃO A análise dos dados deste estudo revelou que, dos 153 ACS, a maioria era feminina (80,4%), corroborando com pesquisa realizada em outra realidade com resultados igualitários a este estudo, em que 89,3% eram mulheres 6. A predominância das mulheres atuando como ACS pode ser atribuída ao aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho, possibilitando o incremento da renda familiar e o avanço social dessas. Assim como pelo fato de desempenharem, institivamente o papel do cuidador na sociedade; bem como pela resistência da comunidade ao agente do sexo masculino em função do constrangimento das famílias em revelar particularidades do universo feminino 1. Quanto à idade encontrou-se a média 42 anos ±8,0, o que caracteriza este grupo em fase de envelhecimento, ao contrário de outra pesquisa que afirma que a média de idade em seu estudo foi de 33,5 anos ±9,2 5. Sabe-se que quanto maior a idade, maior a possibilidade para o surgimento de dor musculoesquelética que limita a mobilidade física e a disposição para as atividades diárias e para o trabalho cotidiano 7. Referente ao estado civil, o estudo evidenciou que 108 (70,4%) dos indivíduos são casados, o que torna concordante com a faixa etária dos entrevistados, ou seja, já possuem família constituída corroborando com outros estudos 8-10. Quanto ao nível educacional, a maioria, ou seja, 112 ACS (73,2%), apresentou escolaridade máxima de ensino médio. O nível educacional mais baixo, ensino fundamental, foi relatado por apenas 15 ACS (9,8%) 6, 1, 11. No que diz respeito a renda mensal, neste estudo, a média foi de 1,4 salários por pessoa, ou seja, uma renda considerada baixa, e esta possivelmente pode estar relacionado à desmotivação. Diante disso, pode-se refletir: será que o ACS considera-se bem remunerado frente as suas atividades de trabalho? Uma vez que o ACS além de executar suas atribuições, também participa da execução das atividades administrativas e da recepção da UBS. Ademais, tal profissional enfrenta riscos de violência e de adoecimento durante a realização da visita domiciliar. Logo, a sobrecarga de trabalho, assim como o valor de seu pagamento de trabalho, por sua vez, pode interferir a qualidade de vida destes profissionais. Quanto à renda familiar a média foi de 2,4 salários, o que corresponde a R$ 1.737,60. Dentro desse contexto, considera-se que para ter qualidade de vida satisfatória, tendo como parâmetro o salário mínimo necessário para suprir as demandas diárias, o ideal seria um valor superior a R$ 2.000,00. No que diz respeito ao tempo de trabalho dos ACS, este apresentou a média de 12,8 anos, variando de 8,3 para 17,3 anos (±4,5). Ao contrário de uma pesquisa em que o tempo de atuação como ACS variou de 0,5 a 9 anos, com média de 4 anos ±2,8 5. Conforme os resultados apresentados na tabela 3 notou-se que o domínio dor apresentou o menor escore, com uma média de 52 (±22,1). Sabe-se que a dor promove impacto desfavorável na qualidade de vida (QV) dos indivíduos, interferindo nas atividades diárias de até dois terços dos sujeitos, especialmente na capacidade de realizar exercícios, praticar esportes, desempenhar tarefas da vida diária, bem como executar atividades laborais 4. Já o domínio limitações por aspectos físicos apresentou um valor médio aproximado do domínio de dor (59,3 ±35,0), o que se pode prever que a dor possa interferir diretamente nas limitações por aspectos físicos dos ACS, podendo comprometer este profissional de executar suas funções laborais. Sabe-se que a dor, que é um domínio avaliado, compromete o domínio físico. É importante destacar que essa variável está diretamente relacionada com este domínio. Entretanto, é de suma importância ressaltar que, no trabalho do ACS, as longas caminhadas, o uso dos materiais e a necessidade de permanecerem sentados em posições incorretas durante as visitas domiciliares, consistem em fatores biomecânicos e, consequentemente, numa fonte potencial de dor 4. Um dos aspectos a ser considerado em relação ao maior acometimento do domínio limitações por aspectos físicos entre ACS do sexo feminino é o fato da existência de diferença entre os sexos quanto à sua composição corporal, massa muscular e estatura, podendo representar para esse grupo, um fator de risco predisponente para a sintomatologia dolorosa 12. Observando em particular o domínio capacidade funcional, pôde-se perceber que este apresentou um valor médio de 64,2 ±25,4. Os resultados mostraram-se satisfatórios, pois a capacidade funcional é definida como a capacidade do indivíduo desempenhar as atividades da vida diária, que são as atividades de cuidados pessoais básicos como vestir-se, banhar-se, levantar-se e sentar-se, utilizar o banheiro, comer e caminhar pequenas distâncias, mantendo assim sua autonomia 13. A partir do exposto, observou-se que o domínio capacidade funcional apresentou um escore satisfatório, porém ficou obscura sua pontuação, pois se sabe que este domínio está diretamente relacionado com os domínios citados de dor e limitações por aspectos físicos. Quanto ao domínio estado geral de saúde, o mesmo apresentou o valor médio de 56,1 ±21,0. Estado geral de saúde significa ter uma boa condição de bem-estar que inclui o bom funcionamento do corpo, o vivenciar a sensação de bem-estar psicológico e principalmente uma boa qualidade nas relações que o indivíduo mantém com as pessoas e o meio ambiente Neste estudo, o domínio vitalidade apresentou uma média de 58,3. Vitalidade é a capacidade que o corpo humano tem de se manter unido e animado por meio de ações automáticas, instintivas, irracionais, irrefletidas, sujeitas às leis orgânicas do corpo incapaz de agir segundo a razão e a reflexão. No que diz respeito ao domínio limitações por aspectos emocionais, este apresentou o melhor escore, com uma média de 66. Este domínio avalia se o sujeito teve algum problema com seu trabalho ou outra atividade regular diária, como consequência de algum problema emocional, como se sentir deprimido ou ansioso. Já o domínio saúde mental apresentou o valor médio de 62,0, apesar de que o valor que representa a resposta mais repetida foi de 44. A saúde mental é bastante representativa para mensurar qualidade de vida, pois é a partir do equilíbrio mental que o ser humano aproveita plenamente suas aptidões cognitivas, afetivas e sociais. Apesar do estresse ser um componente presente nos trabalhadores da atenção primária de saúde e que afeta diretamente sua saúde, sua qualidade de vida, sua eficiência no trabalho, quanto à concepção de saúde geral do ACS, que revela uma avaliação comparativa entre as condições de saúde atual e há de um ano anterior, a maioria referiu a condição de saúde atual como boa. Comparando sua saúde há um ano atrás, 54 dos participantes (35,3%) consideraram que a saúde está quase a mesma. Apenas 24 (15,7%) pessoas opinaram no conceito muito melhor. Quanto a variável de concepção de dor, que faz um comparativo entre a intensidade da dor e se a dor interfere no trabalho normal, neste estudo, 62 participantes (40,5%) afirmaram ser moderada a intensidade da dor e 45 dos participantes (29,4%) confirmam que a dor interfere um pouco no trabalho normal. A impossibilidade de controlar a dor pode ocasionar sofrimento físico e psíquico. Sabe-se que a alteração dos aspectos psicológicos gera tensão, ansiedade, estresse, entre outros distúrbios, o que pode influenciar na satisfação da saúde por parte dos indivíduos acometidos 1. Diante do exposto, verificou-se vários aspectos que interferem na qualidade de vida dos agentes comunitários de saúde a partir da aplicação do questionário SF-36 e percebeu-se a partir da visão dos sujeitos e discussão na literatura o quanto as condições e forma de trabalho destes profissionais implicam na sua saúde e qualidade de vida. Embora esta pesquisa apresente algumas limitações, como a aplicação do instrumento de forma transversal, a não captação do quantitativo de amostra estimável, e os poucos estudos referentes à qualidade de vida do ACS, foi possível desenvolver os parâmetros avaliados. CONCLUSÃO Foi possível através do questionário SF-36 verificar a qualidade de vida dos ACS. Verificou-se que a maioria dos participantes era do sexo feminino (80,4%), com idade média de 42 anos (±8,0). Segundo os domínios que avaliam a qualidade de vida dos ACS, verificou-se que o domínio da dor foi o de menor escore apresentando uma média de 52. Já os domínios capacidade funcional, limitações por aspectos físicos e limitações por aspectos emocionais terem sido satisfatórios com médios de 64,2, 59,3 e 66, respectivamente, apresentaram moda de 100, ou seja, total satisfação. Verificando o domínio estado geral de saúde os valores de média, mediana e moda foram muito próximos de 50, ou seja, 56,1, 57, 52 respectivamente, com ± 21. Considerando o domínio vitalidade, este apresentou uma média 58,3. No concernente ao domínio aspectos sociais, esse apresentou média de 65. E por fim, o domínio Saúde mental teve uma média de 62,0, porém com uma moda de 44 e desvio-padrão de ±20,2. Em relação às condições de saúde atual, 63 participantes referiram considerar sua saúde como boa. Comparando com um ano atrás, 54 dos participantes (35,3%) consideraram que a saúde está quase a mesma. No que se refere a concepção de dor, que faz um comparativo entre a intensidade da dor nas últimas quatro semanas e se a dor interfere no trabalho normal, 62 participantes (40,5%) afirmaram que a intensidade da dor foi considerada moderada e 45 dos participantes (29,4%) confirmam que a dor interfere um pouco no trabalho normal. Espera-se que este estudo venha contribuir com a literatura nacional sobre o tema, dando subsídios para novos estudos e futuros programas que contemplem a qualidade de vida dos ACS. Uma vez que o ACS reside na área de território do enfermeiro, salienta-se que esse é também cliente da UBS e posteriormente receberá assistência do profissional de enfermagem. Assim, é crucial que o enfermeiro possa refletir e observar melhor o desenvolvimento do ACS dentro da unidade básica de saúde, sendo também moderador para auxiliar no que tange a qualidade de vida destes profissionais. REFERÊNCIAS 1. Mascarenhas, C. H. M.; Prado, F. O.; Fernandes, M. H. Fatores associados à qualidade de vida de agentes comunitários de saúde. Ciênc. saúde coletiva, 2013; 18(5): 1375-1386. 2. Filgueiras, A. S.; Silva, A. L. A. Agente Comunitário de Saúde: um novo ator no cenário da saúde do Brasil. Physis, 2011; 21(3): 899-915. 3. Costa, S. L.; Carvalho, E. N. 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