PAPER 1/5 Title Metodologia Regulatória de Cálculo de Perdas Técnicas do Cabeamento Primário de Redes de Distribuição - Aderência e Ajustes Registration Nº: (Abstract) Authors of the paper Country Brasil e-mail [email protected] Jussara Farias Fardin(2) Brasil [email protected] Lucas Frizera Encarnação(3) Brasil [email protected] Name Clainer Bravin Donadel(1) (1) Universidade Federal do Espírito Santo/Instituto Federal do Espírito Santo. Avenida Vitória, 1.729 - Jucutuquara - Vitória - ES - CEP: 29.040-780 - Telefone: +55 (27) 3331-2190. (2) Universidade Federal do Espírito Santo. Av. Fernando Ferrari, 514 - Campus Universitário Goiabeiras - Vitória - ES - CEP: 29.075-910 - Telefone: +55 (27) 40092868 - Fax: +55 (27) 4009-2644. (3) Universidade Federal do Espírito Santo. Av. Fernando Ferrari, 514 - Campus Universitário Goiabeiras - Vitória - ES - CEP: 29.075-910 - Telefone: +55 (27) 40092644 - Fax: +55 (27) 4009-2644. Key words Perdas Técnicas; Cabeamento Primário; Redes de Distribuição RESUMO INTRODUÇÃO As ações das concessionárias de serviço público de distribuição de energia elétrica brasileiras são reguladas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) que, dentre outras atribuições, estabelece os procedimentos para o cálculo da revisão tarifária periódica, visando ajustar as tarifas à estrutura de custos e de mercado da concessionária. Um dos elementos constituintes deste estrutura de custos são as perdas técnicas de energia elétrica, cujo segmento de cabeamento de média tensão possui metodologia de estimativa com acentuada influência probabilística, sendo dependente da estratificação "tronco/ramal". Desta forma, este trabalho tem por objetivo avaliar a adequação da metodologia de cálculo de perdas do cabeamento de média tensão regulatória e recomendar ajustes que permitam melhorar sua aderência. As ações das concessionárias de serviço público de distribuição de energia elétrica brasileiras são reguladas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) através de normativas denominadas Procedimentos de Distribuição (PRODIST) e Procedimentos de Regulação Tarifária (PRORET), que normatizam e padronizam as atividades técnicas e os processos tarifários, respectivamente [1]. O PRORET, em seu sub-módulo 2.1 [2], estabelece os procedimentos para o cálculo da revisão tarifária periódica das concessionárias de serviço público de distribuição de energia elétrica, realizados em intervalos de 3 a 5 anos, dependendo dos termos constantes nos contratos de concessão assinados com o poder público. Na revisão tarifária periódica devem ser consideradas as alterações na estrutura de custos e de mercado da concessionária, os níveis de tarifas observados em empresas similares no contexto nacional e internacional, bem como os estímulos à eficiência e à modicidade tarifária. Um dos elementos constituintes da estrutura de custos destas concessionárias são as perdas técnicas de energia elétrica [3], definidas pela ANEEL como sendo o 1/5 PAPER 2/5 montante de energia elétrica dissipada no sistema de distribuição, decorrente das leis físicas relativas aos processos de transporte, transformação de tensão e medição, correspondendo à soma das parcelas joule, corona e magnética [4]. A metodologia de apuração dos valores de perdas técnicas de energia é apresentada pelo PRODIST em seu Módulo 7 [5], e contempla os principais segmentos dos sistemas de distribuição de energia elétrica: medidores; ramais de ligação; cabeamento de baixa tensão; transformadores MT/BT; e cabeamento de média tensão. A metodologia regulatória apura o montante de perdas técnicas de energia a partir dos montantes de perdas técnicas de potência de cada segmento. Tal metodologia é de cunho fortemente probabilístico, haja vista o cenário elétrico atual brasileiro, no qual ainda há concessionárias de energia elétrica que não possuem informações detalhadas sobre suas redes de distribuição. Dentre os segmentos listados, o cabeamento de média tensão é um dos que possuem acentuada influência probabilística em sua determinação. A perda de potência neste segmento é calculada por regressão linear múltipla, a partir dos comprimentos de tronco e ramal do alimentador, bem como da impedância característica do tronco do alimentador [5]. A separação "tronco/ramal" é fortemente vinculada aos valores das cargas adotados no estudo de fluxo de potência, tornando a metodologia de cálculo de perdas técnicas inconstante. Desta forma, este trabalho visa avaliar a adequação da metodologia de cálculo de perdas do cabeamento de média tensão utilizada pelo agente regulador e recomendar ajustes que permitam melhorar sua aderência, em relação às metodologias de referência (fluxo de potência completo). APLICAÇÃO DA REGULATÓRIA METODOLOGIA O modelo de regressão linear múltipla adotado pelo agente regulador na estimativa das perdas técnicas de potência no cabeamento primário dos alimentadores primários [5] é dado pela Equação (1): ∆ = 0,95 [ ] (1) alimentador [ohm/km]; Comprimento do condutor ramal do alimentador [km]. (+ O condutor tronco é definido em [5] como sendo "(...) o trecho de alimentador que parte da subestação até o ponto mais próximo desta onde a maior corrente a jusante é menor ou igual à maior corrente de qualquer ramal a montante". De forma complementar, o condutor ramal é definido como sendo os trechos que não foram classificados como tronco. A classificação dos trechos em "tronco" ou "ramal" é comumente feita a partir dos resultados de fluxo de potência do alimentador (em específico, dos valores das correntes passantes em cada trecho do alimentador), utilizando-se na determinação das cargas a demanda/energia faturada em cada unidade consumidora, ajustada pela corrente trifásica máxima medida no início do alimentador (saída da subestação de distribuição). A resistência do condutor tronco é obtida pela média ponderada da resistência dos condutores classificados como tronco [5], conforme Equação (2): +) = ∑4 .56-(). / () 01 × +. / 01 3 [7ℎ9/ 9] Onde: +) ; (). +. / () / 01 01 Resistência do condutor tronco [ohm/km]; Número de trechos classificados como tronco []; Comprimento do trecho < classificado como tronco [km]; Resistência do trecho < classificado como tronco [ohm/km]; Comprimento total dos trechos classificados como tronco [km]. Neste trabalho, a metodologia proposta pelo agente regulador [5] foi aplicada a 4 alimentadores de distribuição em 11,4 kV, obtidos em [6, 7], que possuem a mesma topologia e correntes muito próximas. A única diferença significativa entre eles é o perfil de distribuição da carga. A topologia destes alimentadores está apresentada na Figura 1. A caracterização dos alimentadores e os resultados da aplicação da metodologia regulatória estão mostrados na Tabela 1 e na Tabela 2, e serão discutidos a seguir. Onde: & * ∆ % () +) (2) −6,34 1,82#$ % 0,77#$ () 0,39#$ +) 0,16#$ (+ Perda de potência do alimentador [kW]; Corrente média do alimentador [A]; Comprimento do condutor tronco do alimentador [km]; Resistência do condutor tronco do 2/5 PAPER 3/5 Tabela 1 - Caracterização dos Alimentadores #1 e #2 e Resultados da Aplicação da Metodologia Regulatória Descrição do Parâmetro Corrente Média do Alimentador [A] Perdas Técnicas de Potência - Fluxo de Potência [pu] Comprimento do Tronco [m] Resistência Equivalente do Tronco [ohm/km] Comprimento dos Ramais [m] Perdas Técnicas de Potência - Metodologia Regulatória [pu] Valor do Parâmetro para o Alimentador #1 112,69 Valor do Parâmetro para o Alimentador #2 112,67 1 pu 1 pu 2.076,96 2.882,42 0,39556 0,46578 9.193,45 8.387,99 2,38 pu 2,71 pu Tabela 2 - Caracterização dos Alimentadores #3 e #4 e Resultados da Aplicação da Metodologia Regulatória Descrição do Valor do Valor do Parâmetro Parâmetro Parâmetro para o para o Alimentador Alimentador #3 #4 Corrente Média do 112,84 112,67 Alimentador [A] Perdas Técnicas de 1,83 pu 0,85 pu Potência - Fluxo de Potência [pu] Comprimento do Tronco 2.731,65 2.731,65 [m] Resistência Equivalente 0,45508 0,45508 do Tronco [ohm/km] Comprimento dos 8.538,76 8.538,76 Ramais [m] Perdas Técnicas de 2,66 pu 2,66 pu Potência - Metodologia Regulatória [pu] Tabela 3 - Dados dos Condutores Utilizados nos Alimentadores #1, #2, #3 e #4. Descrição do Condutor 1/0 AWG CA 1/0 AWG CAA 185 mm² 2 AWG CA 2 AWG CAA 336,4 MCM CA 4 AWG CA 4 AWG CAA 50 mm² Extensão do Condutor nos Alimentadores [m] 1.155 704 460 1.689 1.583 1.617 585 2.489 934 (a) (b) Os condutores utilizados estão mostrados na Tabela 3. A representação gráfica do tronco dos alimentadores avaliados, definidos pela metodologia regulatória, é mostrada na Figura 1. (c) 3/5 PAPER 4/5 (d) Figura 1 - Representação Gráfica do Tronco dos Alimentadores, definidos pela Metodologia Regulatória: (a) Alimentador #1 (b) Alimentador #2 (c) Alimentador #3 e (d) Alimentador #4. Numa primeira comparação, pode-se observar os alimentadores #1 e #2, cujas perdas de potência calculadas através de fluxo de potência são iguais. Entretanto, seus valores de comprimento do tronco, resistência equivalente do tronco e comprimento dos ramais são significativamente diferentes, representando uma variação de 14,0% nos valores de perdas técnicas obtidas pela metodologia regulatória entre os alimentadores #1 e #2. Além disso, a metodologia regulatória sobredimensiona o valor das perdas técnicas no cabeamento primário nos dois casos, quando comparado ao valor de perdas obtido por fluxo de potência (metodologia de referência), resultando em diferenças de 138 % e 171 %, respectivamente. Por outro lado, ao se comparar os alimentadores #3 e #4 percebe-se que as perdas de potência calculadas através de fluxo de potência (metodologia de referência) são significativamente diferentes (1,83 pu versus 0,85 pu). Entretanto, seus valores de comprimento do tronco, resistência equivalente do tronco e comprimento dos ramais são iguais, resultando em valores iguais de perdas técnicas de potência obtidos pela metodologia regulatória. Novamente a metodologia regulatória sobredimensiona o valor das perdas técnicas no cabeamento primário tanto para o alimentador #3 quanto para o alimentador #4, resultando em diferenças de 45 % e 212 %, respectivamente. ADEQUAÇÃO E AJUSTES RECOMENDADOS É importante destacar que no cenário elétrico brasileiro atual há uma tendência de aplicação de metodologias de cálculo de perdas técnicas a partir de fluxo de potência (semelhantes à utilizada neste trabalho como metodologia de referência), haja vista a crescente utilização de sistemas de informações geográficas por parte das distribuidoras, seja para melhorar a gestão sobre o ativos ou para atender aos requisitos de envio de dados estabelecidos pelo órgão regulador [8]. Enquanto metodologias mais precisas não são implementadas para promover a melhoria do cálculo de perdas técnicas de potência, as metodologias de cunho probabilístico adotadas devem ser ajustadas para que não hajam grandes discrepâncias entre os valores apurados pelo órgão regulador e os valores apurados pelos métodos de referência. Tais discrepâncias interferem diretamente nos valores de tarifas de energia elétrica, podendo causar desequilíbrios financeiros nos contratos de concessão. Assim, recomenda-se a reformulação do modelo adotado pelo agente regulador na estimativa das perdas técnicas de potência no cabeamento primário dos alimentadores primários, a fim de incorporar novos parâmetros (como a capacidade de condução dos trechos), que permitam maior aderência do modelo às diferentes realidades das concessionárias de serviço público de distribuição de energia elétrica brasileiras. CONCLUSÕES Um dos principais elementos constituintes da estrutura de custos das concessionárias de serviço público de distribuição de energia elétrica brasileiras são as perdas técnicas de energia elétrica, cujo segmento de cabeamento de média tensão possui metodologia de estimativa que não é aderente à realidade das distribuidoras. Este trabalho avaliou a adequação da metodologia de cálculo de perdas do cabeamento de média tensão regulatória e recomendou ajustes. A partir dos resultados pode-se concluir que a estratificação "tronco/ramal" proposta pelo agente regulador não consegue representar corretamente o comportamento dos alimentadores, gerando resultados discrepantes quando comparado com metodologias de referência, baseadas em fluxo de potência completo. Assim, recomenda-se a substituição da metodologia adotada por outros métodos baseados em fluxo de potência completo, afim de melhorar o cálculo de perdas técnicas de potência. Enquanto metodologias mais precisas não são implementadas, as metodologias de cunho probabilístico adotadas devem ser ajustadas para que não hajam grandes discrepâncias entre os valores apurados pelo órgão regulador e os valores apurados pelos métodos de referência, por meio da incorporação de novos parâmetros (como a capacidade de condução dos trechos). 4/5 PAPER 5/5 REFERÊNCIAS [1] Resolução Normativa ANEEL nº 234, de 31 de Outubro de 2006, 2006. [2] Procedimentos de Regulação Tarifária - Módulo 2: Revisão Tarifária Periódica das Concessionárias de Distribuição / Sub-módulo 2.1 - Procedimentos Gerais, de 11 de Novembro de 2011, 2011. [3] Procedimentos de Regulação Tarifária - Módulo 2: Revisão Tarifária Periódica das Concessionárias de Distribuição / Sub-módulo 2.6 - Perdas de Energia, de 18 de Novembro de 2013, 2013. [4] Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional - Módulo 1: Introdução, de 14 de Dezembro de 2012, 2012. [5] Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional - Módulo 7: Cálculo de Perdas na Distribuição, de 05 de Abril de 2013, 2013. [6] C. Donadel, J. Anicio, M. Fredes, F. Varejao, G. Comarela, and G. Perim, "A methodology to refine the technical losses calculation from estimates of non-technical losses," in Electricity Distribution Part 1, 2009. CIRED 2009. 20th International Conference and Exhibition on, 2009, pp. 1-4. [7] C. B. Donadel, "Influência da Fraude e da Clandestinidade nas Perdas Técnicas de Energia Elétrica," Mestrado em Engenharia Elétrica, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2010. [8] Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional - Módulo 2: Planejamento da Expansão do Sistema de Distribuição / Sub-módulo 2.4: Sistema de Informação Geográfica Regulatório, de 05 de Abril de 2013, 2013. 5/5