ID: 41433323
24-04-2012
Tiragem: 46977
Pág: 41
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 27,21 x 30,32 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 1
Faltar ao jogo com o Feirense significa
a descida de divisão da União de Leiria
Nem um alargamento da I Liga para 18 clubes salvará a equipa leiriense se os jogadores concretizarem a
greve ontem anunciada. Clubes preocupados com integridade da competição, em altura decisiva da época
FERNANDO VELUDO/NFACTOS
Futebol
Hugo Daniel Sousa
Os jogadores da União de Leiria entregaram ontem um pré-aviso de
greve para os jogos das últimas três
jornadas da I Liga, que só será levantado se o clube pagar três dos quatro
salários em atraso. Se a equipa faltar
mesmo ao jogo de domingo com o
Feirense, a consequência imediata
será a descida de divisão, mesmo que
o campeonato principal venha a ser
alargado para 18 clubes.
“Se a União de Leiria faltar a algum dos últimos três jogos da Liga
será punida com a pena de descida
de divisão”, diz José Manuel Meirim,
citando o número 2 do artigo 60.º
do regulamento disciplinar da Liga
Portuguesa de Futebol Profissional.
Na opinião deste jurista, a descida à II
Liga será irreversível, mesmo que venha a ser aprovado o alargamento para 18 clubes e a realização de uma “liguilha”, matéria sobre a qual não se
pronuncia, por razões profissionais.
Certo é que a falta de comparência
(e consequente descida de divisão)
impedirá a União de Leiria de participar numa eventual “liguilha”, a disputar entre os dois últimos da I Liga
e os 3.º e 4.º classificados da II Liga,
destinada a atribuir as duas vagas extras na I Liga — o alargamento voltará
a ser apreciado em assembleia geral
da Liga na próxima semana, dependendo também de uma aprovação da
Federação Portuguesa de Futebol.
O cenário de greve em Leiria terá
consequências imediatas para o clube (que perderá ainda os jogos em
causa e fica sujeito a uma multa até
50 mil euros), mas também para a
competição. O PÚBLICO sabe que
alguns clubes envolvidos na luta
pela manutenção já expressaram a
sua preocupação com este cenário,
temendo, por exemplo, que o Feirense arrecade três pontos sem sequer
entrar em campo. A União de Leiria
tem ainda de defrontar o Benfica e o
Nacional até ao fim do campeonato.
O impacto nas contas do campeonato poderia ainda ser maior se o
clube desistisse (algo mais improvável, já que implica a saída das provas
profissionais), porque nesse caso terminaria com zero pontos e a pontuação das outras 15 equipas teria de ser
revista, deixando de contar com os
resultados frente à União de Leiria —
Jogadores da União de Leiria entregaram ontem pré-aviso de greve para jogos das últimas três jornadas da Liga
Rigor nas contas e internacionalização
As soluções para fazer o futebol crescer
E
manuel Medeiros, director
executivo da Associação
Europeia de Ligas de
Futebol (EPFL) e da
Associação das Ligas Mundiais
(WLA), disse ontem em Lisboa
que as chaves do crescimento
do futebol são a gestão
equilibrada dos clubes e a
exploração de novos mercados
internacionais.
“Ser fiel à máxima de não
gastar mais do que se tem,
nem viver à custa dos outros”,
é fundamental, disse Medeiros,
após uma reunião com Mário
Figueiredo, presidente da
Liga, e António Laranjo, que
foi nomeado representante
da Liga portuguesa junto da
EPFL e da WLA pelo seu antigo
adversário eleitoral. Além
de salientar que é preciso os
clubes viverem de acordo
com as suas possibilidades,
Emanuel Medeiros destacou
que “o desenvolvimento passa
em boa medida por deixar de
viver fechado sobre si próprio,
deixar de estar circunscrito
à sua dimensão geográfica
e à debilidade do seu tecido
económico”. Uma opinião
partilhada por António Laranjo:
“Há cada vez mais que sair
deste rectângulo. É nesse
mundo globalizado que temos
de ir à procura de soluções”,
disse o ex-responsável pelo
Euro 2004, referindo-se às
potencialidades dos países da
Lusofonia.
o Braga, por exemplo, seria um dos
beneficiados, porque perdeu com a
equipa do Lis.
O pré-aviso de greve dos jogadores leirienses surge numa altura em
que têm quatro meses de salário em
atraso e depois de uma semana em
que não houve nenhuma perspectiva
de solução: “Os jogadores sentem-se
abandonados. A greve é quase inevitável, a não ser que haja um milagre”, disse ao PÚBLICO Joaquim
Evangelista, presidente do Sindicato
dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), que ontem esteve reunido
com os futebolistas leirienses.
Confrontado com a hipótese de a
greve pôr em causa a integridade da
competição, o líder do SJPF respondeu: “Por certo que o responsável
não sou eu, nem os jogadores da
União de Leiria. A responsabilidade
é do clube e logo depois da Liga. Se
os clubes escapam ao licenciamento
e chegam a este ponto, então a Liga tem de ter um mecanismo para
ajudar os jogadores nestes casos”,
queixa-se Evangelista.
Mário Figueiredo, presidente da
Liga, não quis ontem pronunciar-se
sobre o caso particular da União de
Leiria, alegando que é “um problema
que atravessa vários clubes”. O líder
do organismo garantiu que está a trabalhar em soluções “no silêncio dos
gabinetes”, mas não disse quais. E
qualificou os salários em atraso como
algo que não é exclusivo de Portugal
e que resulta de dificuldades conjunturais, “num cenário de crise profunda”, “de aumento de impostos” e de
dificuldades de as autarquias e empresas cumprirem os compromissos
assumidos com os clubes.
Confrontado com o facto de o sistema de licenciamento da Liga não
ter evitado situações de salários em
atraso, Mário Figueiredo admitiu
que está a “trabalhar em formas de
evoluir os mecanismos de licenciamento”, mas recusou a ideia de que o
controlo financeiro tenha fracassado:
“Podemos sempre melhorar o que
existe, mas não podemos dizer que o
sistema de licenciamento não tenha
um nível, pelo menos, razoável.”
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