DESNUTRIÇÃO INFANTIL, ASSOCIADA A BAIXA RENDA Antônio Augusto de Castro Maciel1; Talitha Araujo Faria 2 RESUMO Introdução: A desnutrição é uma doença causada por dieta inapropriada, hipocalórica e hipoprotéica; também pode ser causada por má-absorção de nutrientes. Tem influência de fator social, psiquiátrico ou simplesmente patológico. Acontece principalmente em indivíduos de baixa classe social e principalmente as crianças de países subdesenvolvidos1. Objetivo: Retirar a criança do quadro de desnutrição infantil, buscando alternativas diferentes a não ser aumento de renda da casa. Metodologia: Um estudo do tipo descritivo em estudo de caso de uma menina com caso de desnutrição infantil desde o nascimento, associada à baixa renda familiar, realizada na área do PSFJK, da cidade de Paracatu no período de Maio de 2006 a Novembro de 2007. Resultados: Não obtivemos resultados positivos, pois o quadro permaneceu o mesmo, tendo uma certa acomodação por parte da família. Conclusão: Os objetivos não foram alcançados em completo, pois não conseguimos através de instruções, conscientizar a família da necessidade da criança ganhar peso. PALAVRAS-CHAVE: desnutrição infantil; baixa renda familiar; família 1 Acadêmico de Medicina da Faculdade Atenas – Paracatu – MG, Rua Rio Grande do Sul, 924, e-mail: [email protected] 2 Professora do curso de Medicina da Faculdade Atenas. 1 - INTRODUÇÃO 1.1) ESTADO DA ARTE Existem importantes diferenças nas prevalências de desnutrição infantil entre os países. Fatores como nível de desenvolvimento econômico, distribuição de riquezas, estabilidade política, prioridades nos gastos públicos e padrão sociocultural de um país podem influenciar estes diferenciais (Granthan-MacGregor, 1984). Além das variações internacionais, existem diferenças entre regiões, entre populações urbanas e rurais, entre famílias vivendo em uma mesma comunidade e entre crianças da mesma família 4. Para tal entendimento, é necessário dispor-se de um modelo conceitual que explicite as relações entre os fatores de risco a serem estudados (Beghin et al. 1989; Valente, 1986) (Figura 1). Partiu-se do pressuposto de que, mesmo dentro de comunidades pobres, existem diferenciais socioeconômicos (Reichenheim & Harpham, 1990) que são hierarquicamente superiores a outros fatores de risco e que podem agir direta ou indiretamente sobre o estado nutricional. De acordo com o nível hierárquico de determinação, a seguir viriam os fatores reprodutivos e ambientais, que, por sua vez, podem influenciar o peso ao nascer. Todos os fatores acima podem afetar a amamentação e os cuidados maternos (inclusive a utilização de serviços de saúde, aspecto que não foi abordado diretamente no presente estudo). Finalmente, todas estas variáveis poderiam interferir no estado de saúde da criança e, conseqüentemente, determinar seu estado nutricional. Fatores biológicos tais como sexo e idade, podem afetar direta ou indiretamente a amamentação, os cuidados, a morbidade e o estado nutricional 4. A diferenciação entre fome, desnutrição e pobreza ficará possivelmente mais clara por meio de exemplificações. Um indivíduo pode ser pobre sem ser afetado pelo problema da fome, bastando que sua condição de pobreza se expresse por carências básicas outras que não a alimentação – o instinto de sobrevivência do homem e de todas as outras espécies animais faz com que suas necessidades alimentares tenham precedência sobre as demais. A situação inversa, ocorrência da fome na ausência da condição de pobreza, não ocorre ou ocorre apenas excepcionalmente e por tempo limitado por ocasião de guerras e catástrofes naturais. Fome e desnutrição tampouco são equivalentes, uma vez que, se toda fome leva necessariamente à desnutrição – de fato, a uma modalidade de desnutrição: a deficiência energética crônica – nem toda deficiência nutricional se originam do aporte alimentar insuficiente em energia, ou, sendo mais direto, da falta de comida. Ao contrário, são causas relativamente comuns de desnutrição, sobretudo na infância, o desmame precoce, a higiene precária na preparação dos alimentos, o déficit específico da dieta em vitaminas e minerais e a incidência repetida de infecções, em particular doenças diarréicas e parasitoses intestinais. Ainda que também não equivalentes, os terrenos da pobreza e da desnutrição infantil são os que mais se aproximam, pois o bom estado nutricional da criança pressupõe o atendimento de um leque abrangente de necessidades humanas, que incluem não apenas a disponibilidade de alimentos, mas também a diversificação da dieta, condições salubres de moradia, o acesso à educação e a serviços de saúde, entre outras. Ainda assim, a presença da pobreza torna mais freqüente, mas não compulsória, a presença da desnutrição na criança, sendo extremamente importante a modulação que pode ser exercida por programas bem planejados de assistência integral à saúde infantil. Em suma, embora igualmente graves e indesejáveis e ainda que compartilhem causas e vítimas, fome, desnutrição e pobreza não são a mesma coisa. A Figura 2 procura representar espacialmente os domínios próprios e comuns desses três problemas em uma população hipotética 3. Podemos destacar 3 tipos de fatores de risco que levam à desnutrição: Fatores de risco na comunidade: Estrutura política e política governamental; propensão catástrofes naturais; catástrofes humanas (guerras, violência social); exploração político-econômica; pequena disponibilidade de alimentos por produção; distribuição e armazenamento inadequado; alto custo de implementos e fertilizantes, esgotando a produção; alteração climática que se reflete na produção (secas, inundações e chuvas); alta prevalência de doenças transmissíveis na população inadequação de serviço de saúde, em quantidade e qualidade, determinando baixa cobertura; altos níveis de desemprego e subemprego 2 Fatores de risco na família: Presença de nível educacional inferior ao da comunidade; desemprego ou subemprego do responsável pela família; condições sanitárias ruins; baixa renda familiar; família numerosa com alta promiscuidade por unidade de área; rompimento da unidade familiar por morte, separação de um dos membros do casal; alcoolismo e drogas; história anterior de DEP na família; inferiorizarão étnica, religiosa ou social; trabalho materno, determinando o abandono do aleitamento natural e cuidado precário com a população lactente ou pré-escolar; más condições de uso da moradia. 2 Fatores de risco individuais: Ausência de cuidados pré-natais; intervalo paritário menor que dois anos; idade inferior a 18 anos ou superior a 35 anos (menos importante) baixo peso ao nascimento (< 2,500g); gemelaridade; inferioridade física e mental; desmame precoce e introdução de alimentos de complementares inadequados; baixos níveis de imunização; infecções agudas e crônicas ou de repetição (diarréia agudas); hospitalização no primeiro ano de vida. 2 1.2) CONTEXTUALIZAÇÃO Identificação: E.P., 5 anos e 2 meses (DN: 03/ 05/ 03), sexo feminino, parda, natural e procedente de Paracatu MG, estudando na escola do bairro, está com as vacinas em dia. Identificação dos pais: Mãe: D.P., 36 anos, parda, separada, natural e procedente de Paracatu MG, primeiro grau incompleto, atualmente trabalha como doméstica; Pai: R., 43 anos, branco, separado, natural e procedente de Paracatu MG, primeiro grau incompleto, no momento está preso no presídio de Unaí. A criança vive com a mãe, 2 irmãos e a avó materna no bairro JK. Características do domicílio: casa de tijolo construída no terreno do domicilio da avó materna, em rua com pavimentação, com 5 cômodos (sala, dois quartos, cozinha e banheiro), água encanada, luz elétrica e rede de esgoto. A chefe de família é a mãe e a renda familiar = R$415, 00, a avó ganha uma aposentadoria, no valor de R$415, 00, totalizando R$830, 00. E.P. dorme no mesmo cômodo que a mãe e os irmãos, mas em cama separada. A mãe é fumante, porém não há usuários de bebidas alcoólicas no domicílio. A mãe conseguiu o emprego a pouco tempo, sendo que antes eles tinham como renda somente a aposentadoria da avó, D.P. já passou por outros empregos, porém não conseguiu se firmar, pois ficava muito preocupada com os filhos, sendo que ela pede que eles não fiquem muito tempo na ruas, pois o bairro é perigoso, com vários jovens mexendo com entorpecentes. A família recebe bolsa-família e bolsa-escola, porém o valor não nos foi informado. 1.3) JUSTIFICATIVA O trabalho se justifica, por mostrar uma família de baixa renda, com um integrante tendo desnutrição infantil desde que nasceu, e as alternativas possíveis a se tomar para resolver esse problema, o que é um quadro que ocorre em várias locais em um país de grandes dimensões e desigualdades como o Brasil, e que provavelmente iremos nos deparar no decorrer da carreira. 1.4) OBJETIVOS 1.4.1 OBJETIVO GERAL: Ajudar E. a sair do quadro de desnutrição infantil, buscando alternativas diferentes a não ser o aumento de renda da família. 1.4.2 OBJETIVO ESPECÍFICO: Conseguir uma renda que garanta a aquisição de comida para uma vida saudável e compra de bens necessários para a existência social do indivíduo enquanto cidadão; Formação e informação através de uma educação mínima, criando oportunidades para uma vida melhor, o que ajuda os indivíduos a cuidar bem de seus filhos; Orientar a família quanto ao quadro da menina, indicando o “estado” de desnutrição da criança, para que assim estejam aptos a evitarem os males da doença. 2– METODOLOGIA 2.1 TIPO DE ESTUDO: Um estudo do tipo descritivo em estudo de caso de uma menina com caso de desnutrição infantil desde o nascimento, associada à baixa renda familiar, realizada na área do PSF-JK, da cidade de Paracatu. 2.2 METODOLOGIA: O estudo foi feito a partir de visitas que realizamos à família, no decorrer da matéria Interação Comunitária. Acompanhamos esta família no período de 19/05/2006, 02/06/2006, 23/06/2006, 11/08/2006, 25/08/2006, 06/10/2006, 10/11/2006, 17/11/2006, 24/11/2006, 01/03/2007, 12/04/2007, 24/05/2007, 14/06/2007, 30/08/07, 20/09/07, e 25/10/07, totalizando 16 visitas realizadas. Sendo do 1° ao 4° Período acadêmico cursado. As pessoas que nos passavam a informação de como estava a família era a mãe e a avó de E. 2.3 CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DOS SUJEITOS O professor de Interação Comunitária pediu para que uma das agentes comunitária do PSF-JK de Paracatu escolhesse algumas famílias para que os acadêmicos de medicina estivessem acompanhando no decorrer da matéria, a escolha não foi aleatória, dando prioridade a famílias mais carentes, que passam por muitas dificuldades no momento, no qual possamos estar intervindo para a melhora da mesma. 2.4 INSTRUMENTOS UTILIZADOS: Foi usado como instrumentos o diário de bordo (que era utilizado como caderno de anotações sobre cada visita realizada, segundo o cronograma da matéria ministrada), projeto de intervenção da família de D. P., e informações colhidas no PSF JK com enfermeira, agentes comunitárias e médica responsável. 3– RESULTADOS 3.1 DESCRIÇÃO Os resultados com a família não surtiram efeito, pois após auxiliarmos sobre o estado de nutrição da criança, nenhuma atitude foi tomada pela família, sendo que há uma certa aceitação, achando normal estar magro e de baixa estatura, pensando ser uma característica da família, sendo que todos são magros. 1. – DISCUSSÃO 4.1 INTERPETRAÇÃO DOS RESULTADOS Nossos objetivos não foram alcançados, apesar de que alguns dos nossos propósitos terem surtido efeito, o objetivo principal de tirar E. do quadro de desnutrição não foi alcançado. 4.2 COMPARAÇÃO COM OUTROS ESTUDOS O estudo restringiu-se à população de baixa renda, o que poderia limitar sua validade externa. No entanto, os déficits nutricionais são problemas de saúde pública quase que exclusivamente restritos ao tipo de população estudada (Monteiro, 1988; Victora et al., 1989) 4. O déficit de altura/idade é considerado um retardo de crescimento linear. Em menores de dois anos, este déficit pode refletir o estado nutricional atual, isto é, a criança pode estar enfrentando um atraso no crescimento, potencialmente reversível. Já em crianças maiores, a baixa estatura passa a ser um reflexo de déficit de crescimento no passado (Beaton et al., 1990) de difícil reversão4. A escolaridade paterna, além de refletir a classe social, é um dos determinantes da renda familiar, influindo diretamente no consumo familiar. Já a escolaridade materna atuaria principalmente a nível de cuidados preventivos (alimentação, higiene, imunizações, etc.) e curativos (manejo doméstico das doenças e busca precoce de atendimento) (Victora et al., 1986). 4 4.3 DIFICULDADES E LIMITAÇÕES A nossa maior dificuldade foi que a família acha que a criança está bem, não se interessando em melhorar o estado da mesma, considerando como normal, dizendo que a criança estava comendo “normal”, dificultando de se colher informações, sendo que a criança também não freqüenta o PSF com freqüência. Algumas dificuldades enfrentadas durante o estudo, foi o desencontro com a família, impossibilitando a consulta de novos dados. O fato do informante também não ser a mãe da criança, impossibilitou também em algumas entrevista de ser obter informações, como exemplo nas vezes que o turno foi trocado, e tínhamos de entrevistar a avó da criança. Com o troca de turno a cada período, tínhamos também a dificuldade de encontrar com a criança, pois ela estudava no período da tarde. 5– CONCLUSÃO 5.1 SÍNTESE DOS PRINCIPAIS RESULTADOS Os nossos objetivos não foram alcançados em completo, pois não conseguimos através de instruções, conscientizar a família da necessidade da criança ganhar peso, porém algumas medidas foram tomadas para suprir a baixa renda, como o início de uma horta nos fundos da casa, e a conscientização da mãe em aumentar a renda da casa, procurando um emprego, podendo assim resolver o problema financeiro. 5.2 SUGESTÕES DE NOVAS PESQUISAS Uma questão que levantamos durante a visita, seria se um fator genético poderia influenciar no estado nutricional da criança, só que não dispomos dos recursos necessários para realizar uma pesquisa desse patamar. AGRADECIMENTOS Agradeço a contribuição que as enfermeiras Juliana e Laura, as tutoras Claudirene e Lucileila, aos professores Helvécio Bueno, Evanir e Íris, a médica Flávia, as agentes comunitárias, e a todos os outros funcionários do PSF-JK que contribuirão para o nosso aprendizado. ABSTRACT Introduction: Malnutrition is a disease caused by inappropriate diet, calorie and hipoproteica; can also be caused by poor-absorption of nutrients. It has influence factor of social, psychiatric or simply pathological. It happens mainly in individuals of low social class and mainly the children of countries subdesenvolvidos4. Objective: Remove the child of the framework of child malnutrition, looking for different alternatives unless increase in rent of the house. Methodology: A descriptive study of the type in the case study of a girl with cases of child malnutrition since birth, associated with low family income, held in the area of FHP-JK, the city of Paracatu in the period May 2006 to November 2007. Results: We have not achieved positive results, because the picture remained the same, with some accommodation by the family. Conclusion: Objectives were not achieved in full, because we could not through instructions, the family awareness of the need for child gain weight. KEY WORDS: child malnutrition, low family income, family REFERÊNCIAS 1 Enciclopédia livre wikipedia, disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Desnutrição >. Acesso dia 23 de junho de 2008. 2 SOCIEDADE MINEIRA DE PEDIATRIA, disponível em: < http://www.smp.org.br/atualizacao/download/Desnutricao_infantil.pdf>. Acesso dia 22 de junho de 2008 3 MONTEIRO, C. A. "A dimensão da pobreza, da fome e da desnutrição no Brasil". São Paulo, Estudos Avançados, vol. 9, n. 24, 1995, p. 195-207. Acesso dia 6 de junho de 2008. 4 OLINTO, M. T. A.; VICTORA, C. G.; BARROS, F. C. & TOMASI, E. Determinants of Malnutrition in a Low-Income Population: Hierarchical Analytical Model. Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 9 (supplement 1): 14-27, 1993. Acesso dia 4 de junho de 2008.