Qual é a Equanimidade?
Shinzen Young
Qual é a Equanimidade?
Introdução
A equanimidade é uma capacidade fundamental a ser desenvolvida no campo da auto-exploração e da
inteligência emocional. Trata-se de um conceito profundo e sutil, frequentemente mal entendido e facilmente
confundido com a supressão de emoções, ou ainda com a apatia ou falta de expressão.
A palavra equanimidade deriva do latim aequus, que significa equilibrado, e animus, que significa espírito ou
estado interno. Como passo inicial para compreender esse conceito, consideremos durante um momento o seu
oposto: o que acontece quando uma pessoa perde o equilíbrio interno.
No mundo físico dizemos que uma pessoa perde o equilíbrio se cai para um lado ou para o outro. De igual
maneira, uma pessoa perde o equilíbrio interno se cai para um ou outro lado das seguintes reações contrárias:


Supressão (repressão): Um estado mental/emocional surge e tentamos fazer-lhe frente anulando-o,
negando-o, bloqueando-o, etc.
Identificação: Um estado mental/emocional surge e nós o fixamos, nos agarramos a ele indevidamente,
não permitindo que ele apareça, se espalhe e se dissolva ao seu ritmo natural.
Entre a supressão, por um lado, e a identificação, por outro, existe uma terceira possibilidade, o estado
equilibrado de não-interferência conosco mesmos... a equanimidade.
Como Desenvolver a Equanimidade
O desenvolvimento da equanimidade inclui os seguintes aspectos:



Criar intencionalmente equanimidade no corpo
Criar intencionalmente equanimidade na mente
Perceber quando você “cai” espontaneamente em estados de equanimidade.
Como Criar Intencionalmente Equanimidade no Corpo
Isto equivale essencialmente a tentar manter um estado contínuo de relaxamento à medida que as sensações
(agradáveis, desagradáveis, fortes, sutis, físicas, emocionais) se vão manifestando.
Como Criar Intencionalmente Equanimidade na Mente
Isto equivale a procurar abandonar os juízos negativos sobre aquilo que estamos experimentando e substituí-los
por uma atitude de amável aceitação e suave naturalidade.
Deixe-me dar um exemplo palpável de como a equanimidade pode ser criada no corpo e na mente. Digamos
que você tem uma forte sensação em alguma parte do corpo. Ao enfocar sua atenção no que está acontecendo
em todo o corpo, observa que está cerrando os dentes, apertando os punhos, contraindo o estômago e
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Qual é a Equanimidade  Created: 11/23/2010  Modified: 11/24/2010
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torcendo os ombros. Cada vez que percebe uma tensão em algum lugar, você intencionalmente a relaxa na
medida do possível. Momentos mais tarde, pode notar que a tensão recomeça em outra área; você a relaxa
novamente com suavidade, na medida do possível. Se existirem áreas que não podem ser relaxadas, nem muito
nem pouco, procure aceitar as sensações de tensão e limite-se a observá-las.
Como resultado de manter esse estado de relaxamento em todo o corpo, você pode começar a notar “sabores”
sutis de sensação espalhando-se a partir da área local de maior intensidade e percorrendo o corpo inteiro. Estas
são as sensações que antes você tinha camuflado através da tensão. Agora que elas estão a descoberto, procure
criar uma atitude mental de receptividade, sem julgá-las. Observe-as com doce naturalidade, permitindo que
façam sua dança, que fluam como queiram pelo seu corpo.
Perceber Quando Você “Cai” Espontaneamente em Estados de Equanimidade
De vez em quando, ao passarmos por diferentes experiências, nós “caímos” espontaneamente em estados de
relativa equanimidade. Se permanecermos atentos a este fato quando ele ocorrer e o utilizarmos como uma
oportunidade para explorar a natureza da equanimidade, então esta última ocorrerá mais frequentemente no
futuro, e durante períodos mais longos. Por exemplo, digamos que você tem estado trabalhando com algum
incômodo físico. Em algum momento você percebe que, embora o nível de mal-estar propriamente dito não
tenha se alterado, parece que de alguma maneira isso não o preocupa tanto quanto antes. Investigando melhor,
você compreende que “caiu” espontaneamente em um estado de doce naturalidade. Permanecendo alerta a
esse estado e explorando-o, você estará treinando o subconsciente para produzi-lo com mais freqüência.
Os Efeitos da Equanimidade
A equanimidade contradiz o adágio segundo o qual “você não pode manter um bolo na mão e comê-lo
também”. Quando se impregna as sensações desagradáveis de equanimidade, estas fluem mais facilmente e,
por conseguinte, produzem menos sofrimento. Quando se impregna as sensações agradáveis da mesma
equanimidade, também estas fluem mais facilmente e produzem como resultado uma satisfação mais profunda.
Isto é, a mesma habilidade vai afetar positivamente ambos os extremos da gama de sensações. Por isso,
podemos propor a seguinte equação:
Purificação Psico-espiritual = (Dor x Equanimidade) + (Prazer x Equanimidade)
Mais ainda: quando as emoções são vividas com equanimidade, fica assegurada sua função apropriada como
motivadoras e orientadoras do comportamento, em vez de levarem a um comportamento compulsivo e
deturpado. Assim, a equanimidade desempenha um papel crucial na tarefa de corrigir comportamentos
negativos tais como tóxico-dependências, alcoolismo, comer compulsivo, ira, violência, etc.
Equanimidade, Apatia e Supressão
A equanimidade tem que ver com a não-interferência no fluxo natural das sensações subjetivas. A apatia, pelo
contrário, implica uma atitude de indiferença perante o resultado controlável de circunstâncias objetivas. Assim,
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embora aparentemente similares, equanimidade e apatia são, na realidade, dois opostos. A equanimidade libera
a energia interna para responder a situações externas. Por definição, a equanimidade tem que ver com uma
radical permissão para sentir e, como tal, ela é o oposto da supressão. Naquilo que se refere à expressão
externa das emoções, a equanimidade interna dá a qualquer pessoa a liberdade de expressar ou não expressar
externamente suas emoções, conforme seja ou não apropriado na situação específica que atravessa. (Para ver
uma tabela esquemática dessas relações, veja o artigo How Should a Meditator Express Emotion? neste
website)
Paixão e “Despaixão”
Paixão é uma palavra ambígua com, pelo menos, quatro significados:




Profunda percepção do sentir
Expressão sem restrições de sentimentos profundos
Comportamento dinâmico que se baseia em sentimentos profundos
Sofrimento e desvio do comportamento causado por emoções que não foram vivenciadas
completamente (isto é, que foram não foram vividas com suficiente equanimidade).
Devido a esta ambigüidade, poderíamos afirmar em boa justiça que as pessoas se tornam mais apaixonadas à
medida que aprendem a ser desapaixonadas.
Analogias Físicas para a Equanimidade
Desenvolver equanimidade é análogo a:
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Reduzir a fricção em um sistema mecânico (Equanimidade = 1/F)
Reduzir a viscosidade em um sistema hidrodinâmico (Equanimidade = 1/V)
Reduzir a resistência em um circuito DC (Equanimidade = 1/R)
Reduzir a impedância em um circuito AC (Equanimidade = 1/Z)
Reduzir a rigidez de uma mola (Equanimidade = 1/K)
Uma solução tixotrópica por oposição a reopéctica
Ampliando as metáforas, a equanimidade perfeita seria análoga a tornar-se um superfluido supercondutor.1
Outro Sinônimo de Equanimidade
Amor.
A Equanimidade no Cristianismo
Os cristãos primitivos e medievais atribuíam grande valor à equanimidade. Na verdade, ela era considerada
como uma das virtudes cardeais do cristianismo. Isto se deve a que o cristianismo era considerado como uma
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Supercondutor: Metal, liga, etc.que tem propriedade caracterizada pelo quase total desaparecimento da resistência, abaixo de certa
temperatura. (N. do T.)
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senda de purificação radical (katharsis), sendo a equanimidade a ferramenta principal para alcançar essa meta.
Os patriarcas da Igreja, que escreviam primordialmente em grego, usavam três palavras para a equanimidade:
Nepsis: “Sóbria observação”
Ataraxia: “Ser livre de perturbação”.
Apatia: “Atitude desapaixonada”
(N.B. Apathia não é o mesmo que apatia!)
No cristianismo, a teoria da purificação através da equanimidade constituía um ramo importante do estudo
espiritual, conhecido como “teologia ascética”.
A Equanimidade no Judaísmo e no Islã
A palavra hebraica para equanimidade é hashlamah, diretamente relacionada com a palavra paz (shalom) e com
a palavra integridade (schlemut). De certa maneira, toda a senda espiritual está contida nas três letras do
hebreu shin-lamed-mem (sh-l-m): Quando estamos plenamente presentes (shalem) e somos equânimes
(hashmalah) face àquilo que é, então aquilo que é se apresenta como a paz de Deus (shalom).
O termo Islam é habitualmente interpretado como a paz resultante da renúncia (ou da entrega). Ela é o cognato
árabe do hebreu haslamah. Muçulmano é, literalmente, “aquele que se tornou equânime”.
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