PARACOCCIDIOIDOMICOSE – APRESENTAÇÃO DE CASO CLÍNICO COM O USO DE FLUCONAZOL E MICONAZOL 173 PARACOCCIDIOIDOMICOSE – APRESENTAÇÃO DE CASO CLÍNICO COM O USO DE FLUCONAZOL E MICONAZOL * PARACOCCIDIOIDOMICOSIS – CLINICAL CASE PRESENTATION WITH THE USE OF FLUCONAZOL AND MICONAZOL Marcos Mauricio CAPELARI ** Ângelo Antonio DETONI *** Clóvis MARZOLA **** João Lopes TOLEDO FILHO ***** _____________________________________________ * Monografia apresentada como requisito parcial da Disciplina de Metodologia de Ensino e Pesquisa para a obtenção do título de especialista em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial, promovido pela UNINGÁ – Regional Bauru. ** Professor do Curso de Especialização em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial promovido pela UNINGÁ – Regional Bauru e orientador da monografia. *** CD concluinte do Curso e autor da monografia. **** Professor Coordenador do Curso de Especialização em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial promovido pela UNINGÁ – Regional Bauru. ***** Professor do Curso de Especialização em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial promovido pela UNINGÁ – Regional Bauru. PARACOCCIDIOIDOMICOSE – APRESENTAÇÃO DE CASO CLÍNICO COM O USO DE FLUCONAZOL E MICONAZOL 174 RESUMO Trata-se da Revista da Literatura e relato de caso clínico sobre Paracoccidioidomicose realizada com o objetivo de discutir o diagnóstico e o tratamento da Paracoccidioidomicose. A partir dos resultados obtidos, considerando-se a literatura pertinente sobre Paracoccidioidomicose, pode-se constatar que o pulmão é o órgão mais freqüentemente acometido e dá origem a manifestações clinicas de maneira muito insidiosa. As lesões da mucosa oral, faringe e laringe são muito comuns e com freqüência são a causa de consulta a dentista ou ao clínico geral. Para tal considera-se o manejo terapêutico da paracoccidioidomicose, deve obrigatoriamente compreender além da utilização de drogas antifúngicas, o emprego de medidas que melhorem as condições gerais do paciente, e acompanhamento pós-terapêutico. Os principais medicamentos utilizados são a associação trimetropim/sulfametoxazol (co trimoxazol), itraconazol e cetoconazol. O diagnóstico definitivo desta micose é obtido com a demonstração do agente etiológico em fluidos biológicos ou tecidos, principalmente por exame micológico direto e/ou histopatológico. ABSTRACT This paper is a Literature review and clinical case report on the subject of Paracoccidioidomycosis made with the objective of discussing the diagnosis and the treatment of Paracoccidioidomycosis. From the results obtained, considering that the pertinent literature about Paracoccidioidomycosis, it can be said that the lung is the organ more frequently competed and gives beginning clinic demonstrations in a insidious way. The injuries from the mucosa buccal, flour and larynx are very and frequently are the cause as of consult to a dentist or to a general clinic. For this purpose it is considered: The manner therapeutic of the Paracoccidioidomycosis, must comprehend besides the application of antifunghic drugs, the application of manners that improve the patient general conditions, and accompaniment post - therapeutic. The main medications are the association of: trimetoprim sulfametoxazol co trimoxazol Itraconazol, Cetoconazol and Fluconazol. In related to miconazol, no articles were found. The definitive diagnosis of this mycosis is obtained with the demonstration of the etiologic agent into biologic fluids or tissues, mainly by mycological direct analysis and / or histopathology. Unitermos: Paracoccidioidomicose; Exame Histopatológico; Antifúngicas; Blastomicose Sul Americana; Fluconazol. Drogas Uniterms: Paracoccidioidomycosis; Histopathology examination; Antifunchics Drugs; South-American Blastomycosis; Fluconazol. INTRODUÇÃO A Paracoccidioidomicose, também conhecida como blastomicose brasileira, blastomicose sul americana ou moléstia de Lutz, foi observada pela primeira vez no Brasil em 1908, por Adolpho Lutz, a quem chamou a atenção as lesões encontradas na boca dos pacientes. É uma micose sistêmica causada por PARACOCCIDIOIDOMICOSE – APRESENTAÇÃO DE CASO CLÍNICO COM O USO DE FLUCONAZOL E MICONAZOL 175 um fungo dimórfico, autóctone (natural do país em que habita e proveniente das raças que ali sempre habitaram) da América Latina, encontrada principalmente no Brasil, Colômbia e Venezuela (MARQUES, 2003). Em nosso país, sua incidência é maior na Região Sul, Sudeste e Centro-Oeste. No Paraná, assim como em outros estados brasileiros, a doença é endêmica entre a população da zona rural, sendo importante sob o ponto de vista de saúde pública, por acometer indivíduos em sua fase de plena atividade produtiva. É mais freqüentemente encontrada em pessoas entre a quarta e quinta décadas de vida, sendo uma patologia predominantemente do sexo masculino, em indivíduos comumente ligados à atividade agrícola, podendo também ocorrer em crianças de ambos os sexos e adolescentes (FORNAJEIRO; MALUF; TAKAHACHI et al., 2004). A doença envolve primariamente os pulmões pela inalação, podendo posteriormente disseminar-se para vários órgãos e sistemas, originando lesões secundárias que ocorrem freqüentemente nas mucosas, nos linfonodos, na pele e nas adrenais. As regiões da boca e pescoço constituem áreas importantes da manifestação da doença, visto que a mucosa bucal fornece substrato à vida saprófita do fungo em solo unicamente rico em proteínas, em locais onde as variações climáticas são mínimas. Nesses ambientes, os fungos crescem na fase micelial, produzindo conídeos que sobrevivem por vários meses, possibilitando a dispersão aérea. Inalados pelo homem, chegam até os alvéolos pulmonares, dando origem a uma infecção sub-clínica que poderá disseminar-se para outros órgãos por via linfohematogênica (VERLI; MARINHO; SOUZA et al., 2005). A manifestação clínica mais comum é a ocorrência da doença crônica em pacientes do sexo masculino, na proporção de 10 homens para uma mulher, entre 30 e 50 anos de idade, quase sempre fumantes e/ou etilistas crônicos, de condições higiênicas, nutricionais e sócio-econômicas precárias, sendo que a baixa imunidade favorece o avanço da doença. A diferença de incidência por sexo é atribuída a fatores hormonais (VALLE; COIMBRA; LINARES et al., 1991). As lesões da mucosa oral, faringe e laringe são muito comuns e resultam da disseminação hematogênica, a partir do foco primário pulmonar. Na boca, nota-se estomatite moriforme, também denominada pápulo-erosiva. Tratase de estomatite de evolução lenta, exulcerada, com fundo de aspecto de finas granulações vermelhas e múltiplas. Às vezes podem apresentar-se também sob a forma de ulceração mais profunda. Predominam nas regiões labiais da mucosa jugal, gengivais, língua e palato, sobrevindo além das lesões exulceradas, dores, sangramento, mobilidade dos dentes, sialorréia, edema. As lesões iniciais, principalmente na língua podem simular carcinoma. O exame microscópico é obrigatório para o diagnóstico definitivo e diferencial. A identificação do agente etiológico pode ser obtida por visualização da fase leveduriforme do fungo em material colhido por raspagem das lesões, no escarro ou por biópsia, sendo este sem dúvida, o método mais confiável. Diversas técnicas de coloração histológica são utilizadas, entre elas a Hematoxilina-Eosina (HE), Periodic Acid Schiff (PAS) e a impregnação pela prata (Grocott) (BISINELI; TELLES; JOSIAS et al., 2001). REVISTA DA LITERATURA PARACOCCIDIOIDOMICOSE – APRESENTAÇÃO DE CASO CLÍNICO COM O USO DE FLUCONAZOL E MICONAZOL 176 No período de junho de 1983 a fevereiro de 1986, 9 casos de pacientes com paracoccidioidomicose foram tratados no Centro de Saúde I, Município de São Carlos, Estado de São Paulo, com cetoconazol, pelo período de um ano. O diagnóstico etiológico da micose foi estabelecido através do quadro clínico, exame radiológico, exame direto de material oriundo de secreção ou das lesões e exame histopatológico. A dose diária do cetoconazol administrada por via oral foi de 400 mg, em uma única tomada (RIPAS, 1988). Em um estudo retrospectivo de correlação diagnóstica anatomoclínica a partir de casos de necrópsias realizadas no Departamento de Anatomia Patológica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM-UNICAMP), durante os anos de 1980 a 1982. Em relação a paracoccidioidomicose houve alto índice de diagnósticos clínicos sem confirmação anatomopatológica (57,14%), sendo que destes casos 50% eram portadores de tuberculose (ALMEIDA; COUTO; SILVA et al., 1989). Relatou-se um caso de Paracoccidioidomicose num indígena da tribo Suruí do Estado de Rondônia. Trata-se de um paciente adulto, gênero masculino, tendo sido o diagnóstico confirmado com base em exame micológico, sorológico e radiográfico. Fora instituída terapêutica com associação de sulfametoxazol 800 mg + trimetropina 160 mg a cada doze horas (VALLE; COIMBRA; LINARES et al., 1991). Foi realizado um inquérito epidemiológico, visando avaliar diversos aspectos relacionados à paracoccidioidomicose e seu agente etiológico, Paracoccidioides brasiliensis, para o qual, ainda não se conhece o habitat natural e o ciclo biológico. A correlação epidemiológica entre os indivíduos reatores a paracoccidioidina com antecedente de participação em lavoura de café e com aqueles indivíduos que referiam como atividade principal, aquela de apanhar o grão, mostrou associação estatisticamente significativa (VERGARA, 1997). Relataram-se três casos de paracoccidioidomicose do tipo aguda (juvenil), sendo a ênfase dada às manifestações orais, em especial ao envolvimento do periodonto. Os três diagnósticos de paracoccidioidomicose foram feitos pela observação de P. brasiliensis, em exame microscópico de amostras obtidas de pele e lesões orais. Os paciente foram tratados variavelmente e conforme o grau de resposta do organismo e o tempo de latência da infecção fúngica, com Cetoconazol de 200 a 400mg dia. 400 mg / dia durante 40 dias de liberação lenta sulfonamidas. AmphotericinB AmB (320mg/total) (MIGLIARI; SUGAYA; MIMURA et al., 1998). É relatado o primeiro caso autóctone de paracoccidioidomicose disseminada aguda/subaguda ocorrido em uma criança no Rio Grande do Sul. A doença iniciou com adenomegalias superficiais generalizadas, seis meses antes da internação hospitalar. O diagnóstico foi realizado através de biópsia de gânglio cervical (COLARES; MARCANTÔNIO; ZAMBONATO et al., 1998). No período de janeiro de 1985 e julho de 1996, observaram-se cento e dois casos de paracoccidioidomicose no hospital de Belém, PA. O diagnóstico da micose foi fundamentado no achado de formas características de Paracoccidioides brasiliensis ao exame microscópico de espécime clínico montado em solução de potassa a 20% ou de cortes histológicos de material obtido por biópsia. Em alguns casos o diagnóstico foi complementado pelo isolamento do fungo em cultivo (FONSECA; PARDAL; SEVERO, 1999). PARACOCCIDIOIDOMICOSE – APRESENTAÇÃO DE CASO CLÍNICO COM O USO DE FLUCONAZOL E MICONAZOL 177 A partir da análise de noventa e dois prontuários, realizou-se um estudo epidemiológico de pacientes acometidos com paracoccidioidomicose crônica no período de 1982 a 1997, na região endêmica do Triângulo Mineiro nas Minas Gerais. Foram realizados raspados bucais em dezesseis pacientes e, as lâminas obtidas foram coradas pela técnica de impregnação pela prata (GomoriGrocott). As lâminas de oito pacientes internados e de um paciente em tratamento de suporte revelaram a presença do fungo revelando a eficácia da técnica de impregnação pela prata (Gomori-Grocott) para o diagnóstico diferencial de paracoccidioidomicose (ARAÚJO, 1999). Realizou-se uma revisão de 187 prontuários médicos de pacientes provenientes do Serviço de Infectologia do Ambulatório de Micoses Profundas do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná em Curitiba, Estado do Paraná, Brasil, no período de maio de 1985 a março de 1998. O local com maior incidência de lesões foi a região de lábios, seguida da orofaringe e do palato duro. Além disso, foi também observado o aparecimento de mais de um tipo de lesão em um mesmo paciente. O envolvimento pulmonar foi predominante em 160 (51,78%) dos casos analisados. Na histopatologia, a técnica da coloração pela prata (GROCOTT) mostrou-se mais sensível (BISINELI; TELLES; JOSIAS et al., 2001). Estudou-se retrospectivamente 26 prontuários de pacientes com manifestações otorrinolaringológicas da PCM atendidos no período de outubro de 1998 a setembro de 2001. O diagnóstico pode ser realizado através do isolamento do fungo, provas sorológicas e microscópicas. A radiografia simples do tórax é também de grande valor. Derivados sulfamídicos, Anfotericina B e derivados imidazólicos, como o Cetoconazol, o Itraconazol e o Fluconazol são citados com bons resultados terapêuticos (PALHETA; MOREIRA; MARTINS et al., 2003). No decorrer do ano de 1998, foram estudados, oito pacientes que se encontravam internados com diagnóstico prévio de PCM crônica. O estudo foi realizado nas enfermarias da Unidade de Isolamento Hospitalar e da Clínica Médica do Hospital Escola, raspando-se firmemente as regiões periodontais superiores e inferiores, mucosa jugal e labial e, em áreas com lesões bucais clinicamente detectáveis. Os esfregaços de todos os 8 pacientes demonstraram formas do P. brasiliensis, claramente visíveis nas cores negra e marrom. Os esfregaços de citologia esfoliativa oral realizados em pacientes com diagnóstico prévio de PCM, corados pela impregnação pela prata, permitiram identificar com nitidez o fungo P. brasiliensis em todos os oito casos estudados (ARAÚJO; SOUSA; CORREIA, 2003). Do total de 102 casos de paracoccidioidomicose diagnosticados entre 1985 e 1996 e, relatados pela Clínica de Doenças Infecciosas e Parasitárias do Hospital Universitário da Universidade Federal do Pará, 13 da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro da cidade de Uberaba, MG e na Unidade de Diagnóstico Estomatológico do Hospital Odontológico da Universidade de Uberlândia, MG. Todos os pacientes eram do gênero masculino, com idade variando de 29 a 54 anos (média de 44,1). A citologia esfoliativa foi realizada a partir de esfregaços orais obtidos com espátula pacientes (12,7%) (MARQUES, 2003). Empregou-se uma metodologia de alta sensibilidade, usando o teste de ELISA clássico, com o objetivo de avaliar os níveis de anticorpos antifúngico de Paracoccidioides brasiliensis em indivíduos saudáveis, residentes na região Noroeste do Paraná. Torna-se possível admitir que o teste de ELISA, poderia ser PARACOCCIDIOIDOMICOSE – APRESENTAÇÃO DE CASO CLÍNICO COM O USO DE FLUCONAZOL E MICONAZOL 178 indicado para substituir, com superioridade, as intradermorreações utilizadas em estudos de inquéritos epidemiológicos sobre PCM (MALUF; PEREIRA; TAKAHACHI et al., 2003). São descritas as características clínicas e epidemiológicas de 422 casos de paracoccidioidomicose atendidos no Hospital Universitário da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil, no período de Janeiro de 1980 a Agosto de 1999. Para o diagnóstico, foram utilizados o exame micológico direto em 365 pacientes e o microscópico em 302, com positividade de 50,7% e 97,3%, respectivamente. O tratamento antifúngico preferencial foi a associação de sulfametoxazol e trimetoprim (cotrimoxazol), utilizado em 90,3% dos doentes. Seqüelas foram observadas em 30,3% e óbito em 7,6% dos casos (PANIAGO; AGULAR; CUNHA et al., 2003). Numa revisão, em protocolos de 757 casos de paracoccidioidomicose PCM, diagnosticados em Porto Alegre (RS), foram encontrados 11 (1,5%) pacientes que previamente haviam sido submetidos à gastrectomia no período de 1966 a agosto de 2002. O diagnóstico da micose foi fundamentado no encontro dos elementos fúngicos multibrotantes característicos do fungo Paracoccidioides brasiliensis nos espécimes clínicos. No tratamento, foram usados cetoconazol, itraconazol e sulfametoxazol trimetoprim. Sugere-se que à semelhança do que ocorre na tuberculose, os indivíduos submetidos à gastrectomia apresentam maior risco para o desenvolvimento dessa infecção (SILVA; OLIVEIRA; SEVERO, 2003). Investigou-se por meio de um estudo caso-controle, a influência do tabagismo e do alcoolismo no desenvolvimento da forma crônica da paracoccidioidomicose. Dados sobre a ocupação, moradia e hábitos de vida foram obtidos de 70 doentes e 180 controles. A chance de adoecer foi 14 vezes maior entre os fumantes e 3,6 vezes maior entre os que bebiam acima de 50g/dia de álcool. Na regressão logística, foram significativas as variáveis do consumo de tabaco por mais de 20 anos. O estudo concluiu que o tabagismo constitui fator de risco para o desenvolvimento da paracoccidioidomicose e, o alcoolismo atuaria como um co-fator, associado ao tabagismo (SANTOS; SILVA; PASSOS et al., 2003). Relatam dois casos de paracoccidioidomicose da região ocular e, o diagnóstico foi confirmado por exame microscópico da lesão palpebral que evidenciou infiltrado inflamatório granulomatoso com a presença do fungo. Na radiografia de tórax não foram encontradas alterações. No segundo caso, ao exame dermatológico apresentava lesão ulcerada com fundo discretamente vegetante, pontos hemorrágicos e bordas infiltradas, arredondadas e translúcidas, nas pálpebras superior e inferior direita. O exame micológico direto mostrou numerosas células arredondadas com brotamentos múltiplos. Nos dois casos foi instituído tratamento com itraconazol 200mg/dia durante um mês, posteriormente reduzindo-se a dose para 100mg/dia, sendo mantida durante seis meses e, obtendo-se rápida regressão da lesão sem seqüelas (GERVINI; VETTORATO; LECOMPTE et al., 2004). Amostras foram obtidas a partir da Clínica do Hospital, UNICAMP, Campinas, São Paulo, Brasil. Analisaram-se os anticorpos específicos anti-P. brasiliensis e sua distribuição em subclasses para adquirir mais conhecimento sobre a resposta imune humoral nesta micose. Os achados PARACOCCIDIOIDOMICOSE – APRESENTAÇÃO DE CASO CLÍNICO COM O USO DE FLUCONAZOL E MICONAZOL 179 mostraram que a resposta de anticorpos naturais não é acentuada na PCM quando comparada com outras infecções por parasitas sendo restrita a poucas especificidades, sugerindo que o P. brasiliensis estimula moderadamente as células B CD5+. O anticorpo antiactina foi a principal especificidade encontrada na PCM e, os anticorpos específicos para P. brasiliensis, nos pacientes crônicos, eram, principalmente, da subclasse IgG1 (UNTERKIRCHER; LEÃO; BLOTTA et al., 2004). Numa analise de 70 episódios de Paracoccidioidomicose em 63 crianças com menos de 15 anos de idade com uma variação de 2 a 15 anos, media = 8 anos, no período de fevereiro de 1981 a maio de 2001. A droga de escolha para o tratamento foi à associação sulfametoxazoltrimetoprina, sendo empregada isoladamente em 50 episódios, revelando melhora significativa após o primeiro e sexto mês de admissão (PEREIRA; BUCARETCHI; BARISON et al., 2004). Num estudo retrospectivo, consistindo de 61 prontuários de pacientes examinados e acompanhados no Serviço de Estomatologia e Prevenção do Câncer, Buco Maxilo Facial do Hospital São Lucas da PUCRS, em Porto Alegre, RS, no período entre junho de 1976 a junho de 2004, em todos os casos, os pacientes apresentaram lesões mucosas de PCM, onde as manifestações estomatológicas foram o motivo da primeira consulta. O diagnóstico dos casos foi obtido a partir de exame clínico associado à biópsia incisional e, em alguns casos, também ao esfregaço citológico da lesão. Todos os casos apresentavam manifestações estomatológicas, sendo que as lesões bucais ocorreram predominantemente com aspecto ulcerado e moriforme, observadas em vários locais anatômicos. As evidências radiográficas de lesões pulmonares estavam presentes em 32 (65,3%) das radiografias avaliadas (VERLI; MARINHO; SOUZA et al., 2005). A fim de realizar um inquérito epidemiológico sobre PCM na região noroeste do Paraná através de intradermorreação, com gp43 que é uma glicoproteína secretada pelo fungo P. brasiliensis durante sua fase patogênica, podendo ser usada por meio de cultura para o reconhecimento de anticorpos séricos em pacientes com PCM. A positividade foi de 43%, o que aliado às condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento do fungo vieram reforçar que essa região seja endêmica para paracoccidioidomicose e, também área de Paracoccidioides brasiliensis (FORNAJEIRO; MALUF; TAKAHACHI et al., 2004). Num relato da taxa de mortalidade por paracoccidioidomicose no estado do Paraná, Brasil, no período de 1980/1995 verificou-se 551 mortes. A taxa de mortalidade média anual foi 3,48 por milhão de habitantes, mostrando uma tendência para estabilizar durante o período de análise. A Paracoccidioidomicose foi a quinta causa de mortalidade encontrada entre as doenças infecciosas crônicas, sendo a mais elevada taxa de mortalidade entre as micoses sistêmicas. A Paracoccidioidomicose foi observada em 184 municípios no Estado do Paraná, Brasil e, a maioria das mortes foI registradas na região norte e central (BITTENCOURT; OLIVEIRA; COUTINHO, 2005). Elaborou-se um documento com o objetivo de estabelecer as diretrizes para o consenso da abordagem clínica, diagnóstica e tratamento da PCM. Afirmou-se que o padrão ouro para o diagnóstico de PCM é o encontro de elementos fúngicos sugestivos de P. brasiliensis em exame a fresco de escarro ou outro espécime clínico (raspado de lesão, aspirado de linfonodos) e/ou fragmento PARACOCCIDIOIDOMICOSE – APRESENTAÇÃO DE CASO CLÍNICO COM O USO DE FLUCONAZOL E MICONAZOL 180 de biopsia de órgãos supostamente acometidos. Além do tratamento antifúngico específico, o paciente recebeu assistência para as condições gerais como desnutrição, tratamento odontológico, doença de Addison e co-morbidades (tuberculose, AIDS, enteroparasitoses, infecções bacterianas pulmonares) (YASUDA; TELLES; MENDES et al., 2006). Numa pesquisa, apresentou-se 45 casos de portadores de manifestações estomatológicas decorrentes de infecção fúngica causada por Paracoccidioides brasiliensis, que investigados no período de 1992 a 1994, no Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná. Foi realizada a biópsia incisional para a pesquisa do fungo através do exame microscópico e micológico, bem como a sorologia PCM, em todos os pacientes. Fizeram uso de Sulfametoxasol - Trimetropin, 29 pacientes (64,45%) os 45 pacientes analisados (MARZOLA; BISINELLI; FERREIRA, 2006). Foi relatado um caso clínico sobre um homem de 36 anos com passagem quatro anos antes pela selva amazônica. Admitido após seis meses do aparecimento progressivo de tetraparesia, ataxia de marcha, disfagia, disartria, dispnéia e soluço. O estudo anatomopatológico revelou paracoccidioidomicose e, o tratamento proposto foi realizado com anfotericina B até 2100 mg, e sulfametoxazol-trimetoprim por três meses, além de fisioterapia. O paciente voltou às atividades após seis meses do término do tratamento (LEAL; BORGES; SILVA et al., 2006). No intuito de revisar e determinar a incidência dos achados radiológicos mais importantes da paracoccidioidomicose foram revistos 173 casos consecutivos de paracoccidioidomicose, atendidos no período de 1970 a 1980 no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Foram encontrados 94 casos de acometimento pulmonar isolado e 38 de acometimento pulmonar associado a lesões ganglionares, viscerais, ósseas e à tuberculose. Os principais achados radiológicos da forma pulmonar foram a opacidade intersticial reticular e nodular bilateral, seguida por consolidação, também bilateral. (TRAD; TRAD; ELIAS et al., 2006). Num estudo de 38 crianças com paracoccidioidomicose até 14 anos de idade no período de 1977 a 2000, realizou-se o tratamento das mesmas no período de 24 a 30 meses, com um derivado sulfamídico ou cetoconazol, desde o início do tratamento ou em seguida ao uso da anfotericina B. Dados laboratoriais à admissão foram analisados e comparados com exames seqüenciais até 30 meses de acompanhamento (NOGUEIRA; ANDRADE; TONELLI, 2006). Caso incomum de paracoccidioidomicose diagnosticado em maio de 2005 no setor de Pneumologia do Hospital Otávio Freitas (PE) Recife, Brasil, num paciente de 47 anos de idade, do gênero masculino com ulcerações na cabeça e nariz. Para o diagnóstico, foi realizado exame microscópico direto de secreção da úlcera e amostras de pele e, o material coletado fora tratado com hidróxido de potássio. O tratamento estipulado foi de cetoconazol (200mg/dia) e a terapêutica foi mantida por mais cinco meses, até a remissão dos sinais e sintomas (NEVES; MAGALHÃES; LACERDA, 2007). RELATO DE CASO CLÍNICO PARACOCCIDIOIDOMICOSE – APRESENTAÇÃO DE CASO CLÍNICO COM O USO DE FLUCONAZOL E MICONAZOL 181 Paciente C. B. de 43 anos de idade, leucoderma, gênero masculino, deu entrada no ambulatório do Serviço de Cirurgia e Traumatologia BucoMaxilo-Facial do Hospital de Base da Associação Hospitalar de Bauru, SP, Brasil. O paciente apresentava múltiplas lesões ulcerativas de boca, em região de lábios, mucosa jugal (Fig. 1), sulco gengivo-labial, gengiva inserida (Fig. 2) e mucosa palatina (Fig. 3). As ulcerações tinham aspecto moriforme e pontilhados hemorrágicos, o paciente queixava-se de dor e ardência; com evolução do quadro clínico de mais ou menos três meses. O paciente relatou ser lavrador (plasticultor) e relatou o hábito de mascar folhas (hortelã crua entre outros). Realizado Raio-x de tórax, apresentou velamento parcial em ambos os pulmões (Fig. 4). Em hemograma completo, discreta eosinofilia. Foi efetuada biópsia incisional de duas lesões, obtendo-se o diagnóstico microscópico de Paracoccidioidomicose (Blastomicose SulAmericana) (Fig. 5). O tratamento proposto iniciou-se logo após a constatação do diagnóstico com Fluconazol 150mg dois comprimidos a cada semana (300mg, 1x por semana) e, aplicação tópica de Daktarin gel (miconazol) cinco vezes ao dia, colutório a base de água oxigenada 10 vol, bochechos 5x ao dia, tratamento este mantido e endossado pela clínica médica pela qual o paciente passou por avaliação. O tratamento medicamentoso cursou por seis meses, quando já não havia mais sintomatologia clínica e em imagens radiográficas em raios-x de tórax que comprometessem os pulmões. Assim o paciente obteve alta do serviço da CTBMF e clínica médica, sendo liberado para dentisteria e reabilitação oral protética (Fig. 6). Fig. 1 – Blastomicose na mucosa jugal e retromolar evidenciando úlceras pontilhado moriforme característico. PARACOCCIDIOIDOMICOSE – APRESENTAÇÃO DE CASO CLÍNICO COM O USO DE FLUCONAZOL E MICONAZOL Fig. 2 – Blastomicose na gengiva inserida. Fig. 3 – Blastomicose na mucosa palatina. 182 PARACOCCIDIOIDOMICOSE – APRESENTAÇÃO DE CASO CLÍNICO COM O USO DE FLUCONAZOL E MICONAZOL 183 Fig. 4 – Raio – X de tórax evidenciando comprometimento pulmonar pelo fungo paracoccidioidomicose. Fig. 5 – Diagnóstico microscópico da paracoccidioidomicose PARACOCCIDIOIDOMICOSE – APRESENTAÇÃO DE CASO CLÍNICO COM O USO DE FLUCONAZOL E MICONAZOL 184 Fig. 6 – Pós-operatório com 6 meses evidenciando completa cicatrização das lesões bucais. DISCUSSÃO Na grande maioria dos casos relatados assim como no caso clínico descrito neste trabalho, os pacientes eram oriundos de regiões agrícolas coincidentes com a literatura descrita. Nas lesões sistêmicas da forma crônica da micose, os pulmões e os linfonodos, além da mucosa oral e orofaringe, são as regiões mais envolvidas. A maior incidência das lesões, nos lábios, gengivas, palato e língua estão em concordância com a literatura e com nosso caso clínico (BISINELI; TELLES; JOSIAS et al., 2001; BITTENCOURT; OLIVEIRA; COUTINHO, 2005 e FORNAJEIRO; MALUF; TAKAHACHI et al., 2005). Os resultados apontam, como uma importante perspectiva em Saúde Pública, o tratamento da paracoccidioidomicose, com cetoconazol, tratamento proposto também no caso clínico relatado, muito embora outros estudos controlados sejam pacientes, em longo prazo, visando maior segurança no critério de cura (ALMEIDA; COUTO; SILVA et al., 1989). Após a obtenção dos resultados, pode-se constatar que a freqüência da patologia em relação à idade, na quarta e quinta décadas da vida, está de acordo com os achados dos 45 pacientes estudados, 35 (77,80%) apresentaram lesões sistêmicas clínicas, sendo observado que a seqüela mais comum foi o comprometimento pulmonar. Nas lesões secundárias da boca, foi verificada uma maior incidência de lesões no palato, com 15 pontos de lesões, sendo que apenas 03 pacientes não apresentaram lesões. Verificou-se que entre as drogas utilizadas PARACOCCIDIOIDOMICOSE – APRESENTAÇÃO DE CASO CLÍNICO COM O USO DE FLUCONAZOL E MICONAZOL 185 no tratamento da Paracoccidioidomicose, o maior índice de utilização foi para o sulfametoxasol-trimetropin (64,45%). Pela remissão das lesões estomatológicas em 42 (93,33%) dos pacientes, portanto, observa-se que a doença poderia facilmente ser controlada com drogas à base de sulfas. Em nosso caso clínico observou-se também o comprometimento pulmonar, e a presença do fungo na região de palato duro. Quanto à droga proposta houve discordância sendo que utilizamos derivado imidazólico, fluconazol via sistêmica (MARZOLA; BISINELLI; FERREIRA, 2006). A correlação epidemiológica entre os indivíduos reatores à paracoccidioidina com antecedente de participação em lavoura de café e com aqueles indivíduos que referiam como atividade principal, aquela de apanhar o grão, mostrou associação estatisticamente significativa. A inter-relação mostra que o cultivo de café pode propiciar circunstancialmente a transmissão de Paracoccidioides brasiliensis, especialmente entre os apanhadores do grão. Relatórios orais sobre manifestação do PCM são essencialmente limitados ao adulto (BISINELI; TELLES; JOSIAS et al., 2001). Como foi descrito neste estudo, o envolvimento da mucosa oral é muito freqüente, tendo muita importância para o diagnóstico clínico e, desde a sua fase oral os sinais são muito característicos. Na maioria das vezes as manifestações orais da doença se dão através de ulcerações cobertas por uma pequena granularidade de tecido como é relatado, contendo hemorragias, sendo os principais aspectos orais para esta doença. Parece não haver local específico da mucosa para a sua manifestação, embora o periodonto e tecidos sejam significativamente afetados, uma vez que o fungo é freqüentemente isolado neste local, mesmo na ausência de lesões gengivais (BITTENCOURT; OLIVEIRA; COUTINHO, 2005). O conhecimento da paracoccidioidomicose apresenta grande interesse estomatológico, uma vez que até recentemente acreditava-se ser a orofaringe a porta de entrada do fungo, devido às inúmeras manifestações aí encontradas. Por essa razão, na maioria dos casos, os primeiros sinais e sintomas da doença irão conduzir o paciente ao dentista ou ao otorrinolaringologista. Por não ser uma doença de notificação compulsória, torna-se difícil estabelecer a correta prevalência da paracoccidioidomicose no Brasil. Os dados existentes sobre sua distribuição geográfica e epidemiológica são fragmentários. Sua forma clínica mais comum reside nas lesões crônicas com alteração progressiva do estado geral, afetando com freqüência os pulmões e a cavidade oral. Daí, o conhecimento adequado desta micose pela classe otorrinolaringológica e odontológica ser relevante, sendo que o polimorfismo do seu quadro clínico implica em dificuldades no diagnóstico. Nos resultados encontrados, o gênero, a idade, a procedência e a profissão foram fatores determinantes na descrição do perfil epidemiológico e demográfico da doença, vindo de encontro ao relato de caso clínico do nosso estudo, sendo comparável com a literatura pertinente (GERVINI; VETTORATO; LECOMPTE et al., 2004 e FORNAJEIRO; MALUF; TAKAHACHI. et al., 2005). A PCM ocorre na maioria dos casos, em indivíduos que, podendo ser encontrado o hábito de mascar folhas e vegetais, usar talos e gravetos para palitar os dentes e apresentar as mãos sujas de terra. Casos onde a toalete anal é feita com agentes vegetais, onde as condições de higiene, nutricionais e sócioeconômicas são precárias, confirmando a análise comparativa com o caso clínico PARACOCCIDIOIDOMICOSE – APRESENTAÇÃO DE CASO CLÍNICO COM O USO DE FLUCONAZOL E MICONAZOL 186 exposto (ALMEIDA; COUTO; SILVA et al., 1989; COLARES; MARCANTÔNIO; ZAMBONATO et al., 1998; MIGLIARI; SUGAYA; MIMURA et al., 1998; ARAÚJO, 1999; FONSECA; PARDAL; SEVERO, 1999; BISINELI; TELLES JOSIAS et al., 2001; MALUF; PEREIRA; TAKAHACHI et al., 2003; MARQUES, 2003; PALHETA; MOREIRA; MARTINS et al., 2003; GERVINI; VETTORATO; LECOMPTE et al., 2004; BITTENCOURT; OLIVEIRA; COUTINHO, 2005; FORNAJEIRO; MALUF; TAKAHACHI et al., 2005; LEAL; BORGES; SILVA et al., 2006 e NEVES; MAGALHÃES; LACERDA,2007). As biópsias de lesões orais de PCM extensas, ulcerativas e dolorosas são pouco comuns na rotina da odontologia, o que leva muitos casos da micose ser diagnosticados tardiamente; levando a sérios prejuízos para o doente. Diferentemente do ocorrido em nosso caso clínico, onde fora realizada uma biópsia incisional, alguns estudos indicam que a citologia esfoliativa oral é um exame útil e válido na PCM, devido à simplicidade na sua execução, de baixo custo operacional, que não apresenta efeitos indesejáveis, podendo ser utilizado como exame de rotina ambulatorial no diagnóstico de lesões orais suspeitas (VERGARA, 1997). O tratamento da paracoccidioidomicose persiste como desafio não totalmente resolvido. Diferentes serviços seguem regras e preferências próprias, conseqüência da ausência de trabalhos que propiciem evidências científicas irrefutáveis, alguns autores relataram o uso de o itraconazol (50-100mg/dia), cetoconazol (200-400mg/dia), vindo de encontro ao tratamento proposto, e a sulfadiazina (150mg/kg/dia fixos), restritos a casos clínicos moderados da paracoccidioidomicose. A variabilidade de dose utilizada, a manutenção póstratamento com sulfamídicos de lenta eliminação e o curto tempo de acompanhamneto, limitam a interpretação dos dados. Nenhum artigo revisto nesta literatura relatou o uso de fluconazol e miconazol como o proposto no caso clínico relatado, mas relataram o uso de cetoconazol que pertence à mesma classe farmacológica (imidazólicos) (MARQUES, 2003; VERLI; MARINHO; SOUZA et al., 2005 e YASUDA; TELLES; MENDES et al., 2006). No caso relatado e na maioria das casuísticas de PCM, os pacientes, em sua maioria, são homens adultos, tabagistas; e apresentam a forma crônica da doença. Destaca-se a proporção de casos agudos/subagudos (15,4%) que em nossa série foi maior do que a observada em outros países americanos. Lesões oro-faringo-laringeanas ocorreram com maior freqüência nas formas crônicas, tal como tem sido observado. O presente estudo demonstra bem esse fato, pois as lesões pulmonares foram significativamente mais freqüentes nos casos crônicos. No diagnóstico da micose, quando há lesão acessível (cutânea, mucosa ou linfonodo superficial), o exame microscópico direto de material obtido das lesões deve ser o preferido por sua simplicidade e acurácia. Na terapêutica, o co-trimoxazol, por sua eficácia, tolerabilidade e fornecimento gratuito pela rede pública de saúde, diferentemente do tratamento proposto pelo presente estudo (PALHETA; MOREIRA; MARTINS et al., 2003). As lesões orais estavam presentes em todos os pacientes da amostra deste estudo, sendo a maioria observada em mais de um sítio anatômico. A incidência de manifestações orais da PCM é consideravelmente alta e o tratamento é multidisciplinar (SANTOS; SILVA; PASSOS et al., 2003). PARACOCCIDIOIDOMICOSE – APRESENTAÇÃO DE CASO CLÍNICO COM O USO DE FLUCONAZOL E MICONAZOL 187 O paciente deve permanecer em tratamento e acompanhamento até a obtenção dos critérios de cura, com base nos parâmetros clínicos, radiológicos e sorológicos. Além do tratamento antifúngico específico, o paciente deverá receber assistência para as condições gerais como desnutrição, tratamento odontológico, doença de Addison e co-morbidades (tuberculose, AIDS, enteroparasitoses, infecções bacterianas pulmonares), corroborando todos os achados deste trabalho (TRAD; TRAD; ELIAS et al., 2006). A comprovação diagnóstica pode ser realizada mediante exame micológico direto do exsudato das lesões ou fragmento de tecido, em que se observa o fungo com seu aspecto característico em "roda de leme". O exame microscópico também é bastante útil, especialmente quando há poucos microorganismos. O tratamento é realizado com medicações sistêmicas, havendo várias possibilidades, entre as quais os derivados sulfamídicos, a anfotericina B e os derivados imidazólicos. Esses são os mais freqüentemente utilizados, sendo o itraconazol considerado a droga de escolha por alguns autores, devido ao tempo de tratamento mais breve em relação a outras drogas administradas por via oral (de três a seis meses), menor ocorrência de efeitos colaterais e menor taxa de recidiva (PANIAGO; AGULAR; CUNHA et al., 2003). O tratamento com antifúngicos tem sido muito diversificado, aliado a complementação com trimetoprim-sulfametoxazol. A anfotericina B, o itraconazol e o trimetoprim-sulfametoxazol são opções terapêuticas, sendo a anfotericina B uma das principais, mesmo sendo considerada a possibilidade da nefrotoxidade, uma complicação possível, que aliado ao estado de imunossupressão a que estão sujeitos estes pacientes possa vir a influir no resultado final. A administração precoce de anfotericina B, associada ou não a novos antifúngicos tem sido indicada para evitar a evolução desfavorável da doença (UNTERKIRCHER; LEÃO; BLOTTA et al., 2004). CONCLUSÕES Com base na revista da literatura e considerando-a pertinente sobre a Paracoccidioidomicose pode se constatar que: 1. O diagnóstico definitivo desta micose é obtido com a demonstração do agente etiológico em fluidos biológicos ou tecidos, principalmente por exame micológico direto e/ou histopatológico. 2. O manejo terapêutico da paracoccidioidomicose, deve obrigatoriamente compreender além da utilização de drogas antifúngicas, o emprego de medidas que melhorem as condições gerais do paciente, e acompanhamento pós-terapêutico. 3. Os principais medicamentos utilizados são; associação trimetropim/sulfametoxazol (co trimoxazol), itraconazol e cetoconazol (derivados imidazólicos). Para tanto se sugere o tratamento relatado com êxito e o mesmo mantido por no mínimo 6 meses: Fluconazol 150mg na dose semanal de 300mg; Datares gel (miconazol), aplicação tópica 5 vezes ao dia; Bochechos com água oxigenada 10 vol., 5 vezes ao dia. 4- É de suma importância à adequada anamnese e exame físico dos pacientes, realizadas pelos diversos profissionais de saúde, sobretudo CirurgiõesDentistas e Médicos, visando obter informações quanto à procedência dos PARACOCCIDIOIDOMICOSE – APRESENTAÇÃO DE CASO CLÍNICO COM O USO DE FLUCONAZOL E MICONAZOL 188 doentes, por vezes oriundos de regiões endêmicas, bem como perceber a existência de lesões localizadas e sistêmicas. REFERÊNCIAS * ALMEIDA, M. C.; COUTO, L. A. A. M.; SILVA, L. H. F. et al., Correlação Diagnóstica Anatomoclínica, Aferição Retrospectiva do Diagnóstico Clínico em Necrópsias. Rev. Saúde Públ., v. 23, p. 285-91, abr., 1989. ARAÚJO, M. S. 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