GESTÃO DA PECUÁRIA LEITEIRA - GPL
ROTEIRO DE ANÁLISE DE GRUPO DE PROPRIEDADES
Sistema de produção de leite à pasto
Odilio Sepulcri
Milton Satoshi Matsushita
Airton Luiz Empinotti
Marco Aurélio Viechnieski
O desempenho, a performance e os resultados de uma empresa/ propriedade rural
poderão ser medidos e analisados, comparativamente, definindo e selecionando previamente
indicadores de desempenho, conforme os objetivos do produtor/ empresário. A análise
comparativa poderá ser feita com o seu próprio desempenho, ao longo dos anos, dentro de
uma série histórica, verificando-se sua evolução ou involução, a cada ano.
Pode-se, também, compará-la a propriedades com certo grau de homogeneidade, as
quais se situam numa mesma microrregião, possuam estruturas semelhantes e desenvolvam as
mesmas explorações, num mesmo período, utilizando-se dos mesmos indicadores para a
referida análise comparativa.
ELEMENTOS PARA ANÁLISE DA PRODUÇÃO LEITEIRA:
1. Lucro = (Quantidade Produzida x Preço) – Custo Total
Quantidade Produzida (QP) x Preço (P) = Renda Bruta (RB)
Logo: Lucro = Renda Bruta - Custo Total (CT)
Lucro pode ser definido como sendo o que sobra no final de um determinado período,
mantendo-se a empresa com o patrimônio do mesmo valor do início desse período.
Algumas questões a serem respondidas pelo produtor de leite:
• Qual é o objetivo e a meta de sua produção de leite?
• Quanto lucro ele espera de sua produção de leite ?
• Quanto lucro sua produção de leite está gerando ?
• Quanto está custando o litro de leite produzido?
• Quais os "gargalos" que estão impedindo atingir o lucro esperado?
• O que fazer para atingir o lucro esperado?
Para aumentar o lucro pode-se aumentar a Renda Bruta (quantidade produzida x
preço) ou reduzir o custo de produção, ou ainda, a combinação de ambos.
2. PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE:
2.1.
No curto prazo (período de um ano):
a) Análise da Margem Bruta (MB)
MB=RB-CV ( custo variável)
O parâmetro ou referência de todos os indicadores de desempenho a serem utilizados
deverá ser extraído do próprio grupo de produtores, sendo escolhido entre as melhores
e-mail: [email protected]
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do grupo, fazendo sempre a correlação com resultados já obtidos, por outros
produtores semelhantes, na área em estudo, para não ficar restrito somente ao grupo.
Indicadores de medida para Margem Bruta:
• MB/ litro;
• MB/ vaca/ ano;
• MB/ ha/ ano1 ;
• MB total/ ano.
Passos para a análise do desempenho da Margem Bruta:
Selecionar a referência desejada, que deverá ser a melhor do grupo do período anterior
de análise
• Se a MB unitária for maior que a referência, examiná-la com atenção, pois é
possível que se constitua numa nova referência;
• Se a MB unitária for menor que a referência, caracteriza-se que há problema
com a empresa/ propriedade. Passar ao exame da Renda Bruta.
b) Análise da Renda Bruta:
RB = Quantidade Produzida x Preço
Na determinação da renda bruta, em um rebanho estabilizado, considera-se todo o leite
produzido (consumido e vendido), todos os derivados produzidos (consumidos e
vendidos), venda de animais descartados e venda de outros subprodutos.
Passos para a análise do desempenho da Renda Bruta:
Selecionar a referência para a Renda Bruta.
• Se a Renda Bruta é mais alta, não deve ser a causa do problema;
• Se mais baixa, as razões deverão estar relacionadas à produtividade (eficiência
gerencial, tecnológica, operacional e de insumos). Passar então para a
quantidade produzida por unidade (produtividade).
b.1) Quantidade produzida:
Em um rebanho com aptidão leiteira e sadio, a quantidade de leite produzida
anualmente depende do tamanho do rebanho (número de vacas) e de sua
produtividade. A produtividade por vaca depende do atingimento dos índices
reprodutivos (idade da primeira cria, intervalo entre partos, % de vacas em lactação),
da persistência de lactação e da quantidade e qualidade de alimentos recebidos (anexo
1).
Indicadores de medida de produtividade:
• Litros/ vaca em lactação/ mês (300 litros);
• Litros/ vaca total do rebanho/ ano (3000 litros);
• Litros/ ha/ mês e por ano (500 litros/ mês);
• Produção total de leite (litros/ mês e por ano).
Passos para a análise do desempenho da Quantidade Produzida (QP):
Analisar a produtividade anual de leite do rebanho:
• Produtividade por vaca/ ano:
• Produção por lactação (300 dias/ ano);
1
Indicador para ser comparado com outras explorações.
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• Persistência de lactação (10 meses);
• Idade do primeiro parto (24 meses);
• Intervalo entre partos (12 meses);
• % de vacas em lactação (80%);
• % de vacas no rebanho (65%) para sistemas que criam as matrizes de reposição;
• % de mortalidade (< 5% bezerros);
• Produtividade das pastagens (forragens):
• Kg de matéria seca/ ha/ ano;
• Litros de leite/ ha/ ano.
Ao examinar os itens acima e se a produtividade por vaca continuar baixa, verificar o
balanceamento da dieta alimentar fornecida às vacas (quantidade e qualidade), conforme a
produção e seu estágio de lactação e a raça (aptidão, potencial e adaptabilidade).
Checar também a saúde dos animais (vacinações, controle de parasitas, exames de
rotina e complementares) e o conforto dos animais (local seco, limpo e macio para repousar,
pastos com sombra e água próximos, de fácil acesso, horário de ordenha) e outras atividades
que poderão provocar estresse nas vacas.
Verificar, ainda, a produtividade e a qualidade das pastagens e o balanço entre oferta e
demanda.
A seguir, a tabela1 apresenta exemplos de produtividade de dois rebanhos, utilizando
os indicadores citados. O exemplo 1 apresenta o desempenho com os indicadores desejados.
O exemplo 2 apresenta os resultados de uma propriedade acompanhada pela EMATER – PR,
no ano de 1999, cuja renda bruta equivale a cerca de 10% do exemplo 1, devido a seus
indicadores de desempenho serem bem menores.
Tabela1 – número total de animais no rebanho, % de vacas no rebanho, % de vacas em
lactação, produção por lactação, produção total (l/ano), preço (R$/l) e renda bruta total
(R$/ano).
Exemplo
1
2
Rebanho %Vacas %Vacas Produção/ Produção
Preço R.BTotal
total N.º rebanho lactação lactação
total(l/ano) (R$/l) (R$/ano)
30
65
80
3000
46.800
0,25
11.700
30
21
40
2.100
5.292
0,25
1.323
Observa-se na tabela 1, um rebanho com o mesmo número de unidades animais (U.
A.). A diferença apresentada na renda bruta total é proveniente do % de vacas no rebanho
(65% e 21%), da diferença do % de vacas em lactação (80% e 40%), e da diferença de
produção de leite por lactação (300 l/mês em 10 meses e 300 l/mês em 7 meses de lactação).
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b.2) Preço (mercado)
Fazer uma análise sobre os itens a seguir:
• Que mercado existe para o leite?
• Quem são os compradores (clientes)?
• Qual a qualidade exigida;
• Que qualidade está obtendo em seu leite?
• Qual o preço médio do leite no último ano?
• Qual o preço praticado no mercado atualmente, comparado com o preço
recebido?
• Se existe diferença de preço, quais as razões?
• Quais as atitudes a serem tomadas em função da presente análise?
c) Análise do Custo Variável
O custo variável é proveniente da quantidade de insumos e serviços utilizados na
produção de leite, multiplicada pelos seus preços.
Para o produtor de leite todos os custos são ruins, porém não é isto que ocorre.
Existem os custos bons, estratégicos, que são aqueles que agregam valor ao produto e à
propriedade (aqueles cujo produto marginal é positivo) e os custos ruins que são aqueles que
não agregam valor (retrabalho, desperdício, má qualidade, operador despreparado, ociosidade
e outros). Um bom gerente deve saber distinguí-los, pois, ao reduzir os custos, deverá fazer os
cortes somente dos custos ruins, para não diminuir o valor agregado.
Passos para a análise do custo variável:
Selecionar a referência para custo variável
• Custo variável/ litro/ mês e por ano;
• Custo variável total/ ano.
Análise do custo variável por unidade de fator:
• Se mais alto, ou igual à referência, combinado com a Renda Bruta mais baixa,
caracteriza-se ineficiência econômica e buscam-se as razões para tal;
• Se mais alto, deve-se buscar as razões desse custo alto analisando a composição
percentual de cada item de custo mais expressivo, incluindo preço dos insumos,
quantidade, produtos substitutos, etc.
2.2. No médio(2 a 3 anos) e no longo prazo (4 a 10 anos)
Analisar os custos totais, a adequação da estrutura da propriedade (instalações, máquinas,
equipamentos, implementos, etc.) frente aos objetivos propostos.
Indicadores a analisar:
• Custos fixos;
• Custos operacionais totais: compreendem todos os custos desembolsados,
depreciação e remuneração da mão-de-obra familiar (não considera aqui a
remuneração do capital, da terra e do empresário);
• Custos totais: compreendem todos os custos operacionais totais e a remuneração do
capital, da terra e do empresário rural (custos de oportunidade);
• Escala mínima de operação (ponto de equlíbrio)
PE = Custo fixo total / M. bruta unitária;
• Lucro (RB – CT);
• Rentabilidade = Lucro / Capital Total;
• Lucratividade = Lucro / Renda Bruta.
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Após a análise, havendo necessidade de fazer ajustes, estes podem ser feitos com o
aporte de conhecimento e de capital. Para o caso de uso de capital deve-se analisar a projeção
do fluxo de caixa atualizado, para verificar sua viabilidade.
2.3. Conclusões da análise dos resultados (diagnóstico)
Concluídas as análises anteriores, procede-se a conclusão do diagnóstico, organizando
as informações referentes aos aspectos de dentro e fora da propriedade.
a) Dentro da propriedade
• Identificar os pontos fortes;
• Identificar os pontos a serem melhorados e que restringem os resultados
(gargalos).
b) Fora da propriedade (ambiente)
• Identificar os riscos e as ameaças à obtenção dos resultados;
• Identificar as oportunidades de negócios que poderão ampliar as receitas.
3. Plano de melhorias e sugestões
Uma vez concluído o diagnóstico, elabora-se o plano de melhorias da renda da
produção, mantendo-se os pontos fortes, melhorando-se os pontos fracos, reduzindo-se
os riscos e aproveitando-se as oportunidades.
Passos sugeridos:
• Definir onde o produtor quer chegar e o que falta para chegar lá?
• Definir metas;
• Manter os pontos fortes;
• Melhorar, aprimorar os pontos a serem melhorados (gargalos)
• Desenvolver ações que aproveitem as oportunidades;
• Desenvolver ações que minimizem os riscos e as ameaças;
• Definir o processo tecnológico e operacional;
• Fazer orçamento e cronograma de ação;
• Capacitar os executores;
• Monitorar (medir, comparar e corrigir) os indicadores de desempenho em
tempo real;
• Registrar as informações ;
• Avaliar os resultados frente aos objetivos propostos;
• Praticar a aprendizagem e a melhoria contínua.
REFERÊNCIAS
GOMES, Aloísio Teixeira; CASTRO, Flávio Guilhon de; ASSIS, Airdem Gonçalves de.
Análise técnico-econômica de sistemas de produção de leite. Coronel Pacheco.
EMBRAPA - CNPGL, 1986 (30), 34p.
LEUVRE, Chombart de. Nouvelle gestions de les explotations agricolle. Paris. Editora
Dunod, 1965.
TURRA, Flávio Emir. Análise de diferentes métodos de cálculos de custos de produção na
agricultura brasileira. Piracicaba, 1990, 86p.
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Anexo 1
FLUXOGRAMA DE FATORES QUE AFETAM A PRODUÇÃO
Lucro = Quantidade Produzida X Preço – Custos (L = QP x P – C)
Rebanho
Raça
Tamanho do rebanho
N.º de vacas no rebanho
(65% de vaca)
Investimento
Produtividade
por
Vaca
Custeio
Mortalidade (%)
Reprodução
Alimentação
Idade da 1ª cria
(24 meses)
Dieta por animal
(conforme produção)
Intervalo entre partos
(12 meses)
Nº e % de vacas em
lactação (80%)
Produção anual
por vaca total
Produtividade por vaca
(pesagem 2 vezes/mês)
Persistência de
lactação (10 meses)
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