Mestrado Integrado em Medicina Veterinária
Ciências Veterinárias
CLÍNICA, CIRURGIA E REPRODUÇÃO EM VACAS LEITEIRAS.
CONTRIBUTO PARA O ESTUDO DE QUISTOS OVÁRICOS NA REGIÃO DE
ENTRE O DOURO E MINHO
Maria Goreti Gaspar de Oliveira Cardoso
Orientador:
Professor Doutor Filipe da Costa Silva
Co-orientador:
Dr. António Martins Giesteira
UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO
VILA REAL, 2009
RESUMO
Os quistos ováricos são considerados uma importante disfunção em vacas leiteiras, afectando
a sua eficiência reprodutiva. Um folículo ao falhar a ovulação, torna-se quistico, permanecendo
no ovário. Uma falha no eixo Hipotálamo-Hipófise-Ovários tem sido apontada como causa,
permanecendo por clarificar a patogénese subjacente a esta falha. Considera-se que a vaca numa
tentativa frustrada de adaptação à elevada produção leiteira no pós parto, entre em balanço
energético negativo (BEN), com consequências endócrinas. É especulado que serão os animais
de maior potencial produtivo os mais afectados. A imprevisibilidade do desenvolvimento de
quistos ováricos tem dificultado o seu estudo em situações de campo. O objectivo deste estudo
foi retratar a ocorrência de Quistos Ováricos na bacia leiteira de Entre o Douro e Minho, pela
recolha de dados em múltiplas explorações. O diagnóstico de quistos ováricos representou 6,9%
de todos os animais sujeitos a controlo reprodutivo, com uma maior incidência em vacas de
segunda lactação (27,5%) e com baixa prevalência em primíparas. Estes animais encontravam-se
a uma distância ao parto média de 150 dias, com uma produção leiteira média de 31 kg. Metade
destes animais apresentavam-se anestricos, com uma baixa taxa de ninfomania e em parte
considerável destes o quisto ovárico representaria o seu primeiro estro no pós parto. As vacas já
inseminadas representavam 43% da amostra, sendo que representavam 3,6% de todos os animais
sujeitos a diagnóstico de gestação. A incidência de patologias típicas do pós parto não apresentou
valores significativamente afastados da população base. Num intento de avaliar o BEN nestes
animais, foi calculado um rácio TB/TP, que não apresentou desvios dos animais sem quistos
ováricos, ao contrário do volume produtivo, com produções em média 16% superiores. Tendo-se
avaliado apenas a segunda lactação, a produção leiteira dos animais com quistos ováricos seria
consideravelmente superior, mas sem grandes variações nos teores proteico e butírico. Pela
estimativa do pico de lactação, observou-se que os valores produtivos na periferia do diagnóstico
se encontravam próximos do pico estimado, apesar de afastados deste em tempo. A
heritabilidade calculada para a amostra foi de 0,043 e a repetibilidade 0,065. Perante estes
resultados, considera-se que apesar de ser uma disfunção de relevo, com perdas económicas
associadas, a sua relevância na infertilidade não aparenta ser tão significativa como tem sido
considerado. Outros estudos mais aprofundados serão uma mais valia para o estudo da disfunção.
ii
ABSTRACT
Ovarian cysts are an important reproductive failure, affecting the reproduction efficiency on
dairy cattle. By missing the ovulation, the follicle becomes cystic, persisting in the ovary. A
disruption in the Hypotalamo-Pituitary-Gonadal axis, has been pointed as the cause, but the
pathogenesis underneath it is still unclear. It is considered that the recent calved cow, trying to
meet the demands of the milk yield, becomes in negative energy balance, with repercussions in
the endocrine system. It as been speculated that this animals have a higher yield potential. By
being unpredictable, its study as been difficult in field conditions. The aim of this study was to
reflect the occurrence of ovarian cysts in the Entre Douro e Minho milk region, using data from
several herds. 6,9% of all animals in the veterinary reproduction control were diagnosed with
ovarian cysts, with a bigger incidence in the second lactation (27,5%) and the lower in the first
calvers. The cows were in average 150 days after the parturition, producing, in average, 31
kilograms of milk. Half of the animals were anoestrus, few of them were nymphomaniac, and in
a considerable part this was apparently its first ovarian cycle after calving. 43% of the cows were
already inseminated, which represents 3,6% of all animals that were checked for pregnancy. The
incidence of the early lactation pathologies was apparently no different from the not cystic
population. To try measuring the negative energy balance, the protein to fat ratio in milk was
calculated, which had no significant difference to the non cystic cows. By the other hand, the
milk yield was in average, 16% higher. By evaluating second lactation cows, the milk yield of
the lactation was higher in the cystic cows, but with no significant difference in the protein and
fat contents. After predicting the peak milk yield, it was confirmed that the values measured near
by the diagnose were very close to it, besides far way in time. The calculated heritability was
0,043 and the repeatability 0,065. It’s concluded that besides it is an important pathology, with a
big loss of profitability associated, it won’t be that significant in the reproductive failure in dairy
cattle of this region. Other studies would bring a clearer insight of the occurrence of ovarian
cysts in Portugal.
iii
ÍNDICE GERAL
PÁGINA
Resumo
ii
Abstract
iii
Índice Geral
iv
Lista de Figuras e de Tabelas
vii
Índice de Figuras
vii
Índice de Quadros
vii
Lista de Acrónimos e Abreviaturas
viii
Agradecimentos
x
1. Introdução
1
1.1. Quistos Ováricos em vacas leiteiras: Revisão bibliográfica
2
1.1.1. Caracterização e definição
2
1.1.2.Etiologia
4
1.1.2.1. Fisiopatologia
4
1.1.2.2. Alimentação e desequilíbrios metabólicos
6
1.1.2.3. Produção Leiteira
7
1.1.2.4. Outros Factores
8
1.1.2.5. Patologias pós-parto
8
1.1.2.6. Heritabilidade
9
1.1.3. Diagnóstico
10
1.1.4. Tratamento
10
1.2. Objectivos do trabalho
11
2. Material e Métodos
13
2.1. Recolha de dados
13
2.1.1. Dados obtidos no momento do diagnóstico do QO
13
2.1.2. Dados gerais da consulta de monitorização reprodutiva
13
2.1.3. Dados de reprodução retrospectivos
13
2.2. Análise Estatística
14
2.2.1. Dados obtidos no momento do diagnóstico
14
2.2.2. Dados de reprodução retrospectivos
15
2.2.2.1. Rácios Teor Butiroso / Teor Proteico e Produção Leiteira
15
2.2.2.2. Análise de dados de produção comparativa entre vacas diagnosticadas com QO e vacas
sem diagnóstico de QO para a segunda lactação
15
iv
2.2.2.3. Estimativa do pico de lactação e análise comparativa com dados de contraste na
periferia do diagnóstico
16
2.3. Análise Genética
16
2.3.1. Estimativa de heritabilidade
16
2.3.2. Cálculo de coeficientes de parentesco e consanguinidade
17
3. Resultados
18
3.1. Dados obtidos no momento do diagnóstico do QO
3.1.1. Dados gerais recolhidos na consulta de monitorização reprodutiva
3.2. Dados de reprodução retrospectivos
18
20
21
3.2.1. Rácios Teor Butiroso / Teor Proteico e Produção Leiteira
21
3.2.2. Análise de dados de produção comparativa entre vacas diagnosticadas com QO e vacas
sem diagnóstico de QO para a segunda lactação
22
3.2.3. Estimativa do pico de lactação e análise comparativa com dados de contraste na periferia
do diagnóstico
22
3.3. Análise genética
23
3.3.1. Estimativa de heritabilidade
23
3.3.2. Cálculo de coeficientes de parentesco e consanguinidade
23
4. Discussão
24
4.1. Dados obtidos no momento do diagnóstico do QO
24
4.2. Dados de reprodução retrospectivos
28
4.3. Conclusão
32
5. Referências bibliográficas
34
6. Anexos
41
6.1. Anexo 1 - Casuística
41
6.1.1. Pele e tecido subcutâneo
41
6.1.2. Sistema Musculo-esquelético
41
6.1.3. Aparelho reprodutor
42
6.1.4. Aparelho respiratório
42
6.1.5. Glândula mamária
42
6.1.6. Doenças metabólicas
43
6.1.7. Aparelho digestivo
43
6.1.8. Aparelho cardiovascular
44
6.1.9. Vitelos
44
6.1.10. Outros
44
6.2. Anexo 2 – Casos clínicos
45
6.2.1. Dermatite Clostrídica
45
6.2.1.1. Motivo da consulta
45
v
6.2.1.2. Anamese
45
6.2.1.3. Exame Físico
45
6.2.1.4. Diagnóstico
46
6.2.1.5. Tratamento
46
6.2.1.6. Prognóstico
46
6.2.1.7. Evolução Clínica
46
6.2.1.8. Discussão teórica
47
6.2.2. Deslocamento Anterior de Abomaso
48
6.2.2.1. Motivo da consulta
48
6.2.2.2. Anamese
48
6.2.2.3. Exame Físico
48
6.2.2.4. Diagnóstico
48
6.2.2.5. Tratamento
48
6.2.2.6. Prognóstico
49
6.2.2.7. Evolução Clínica
49
6.2.2.8. Discussão teórica
49
6.2.3. Deslocamento de Abomaso à Esquerda com Peritonite
51
6.2.3.1. Motivo da consulta
51
6.2.3.2. Anamese
51
6.2.3.3. Exame Físico
51
6.2.3.4. Diagnóstico
51
6.2.3.5. Tratamento
51
6.2.3.6. Prognóstico
52
6.2.3.7. Evolução Clínica
52
6.2.3.8. Discussão teórica
53
6.2.4. Referências Bibliográficas
54
6.3. Anexo 3- Folha de Campo 1
55
6.4. Anexo 4 – Folha de Campo 2
55
vi
LISTA DE FIGURAS E DE TABELAS
ÍNDICE DE FIGURAS
PÁGINA
Figura 1. Região geográfica de Entre o Douro e Minho.
1
Figura 2. Ovário bovino em que se evidencia a presença de um quisto
ovárico.
3
Figura 3. Gráfico de distribuição de vacas diagnosticadas com QO em
função dos dias de lactação.
18
Figura 4. Gráficos de distribuição dos diferentes parâmetros de acordo com
a ordem de lactação.
20
Figura 5. Inflamação da vulva.
Figura 6. Gangrena dérmica do úbere. Vista ventral.
45
Figura 7. Evolução 25 dias após diagnóstico.
45
Figura 8. Evolução 110 dias depois.
46
Figura 9. Vaca em estação, não evidenciando peritonite.
46
Figura 10. Ascite de cheiro fétido bastante evidente na abertura da
51
cavidade abdominal.
52
Figura 11. Extensa deposição de fibrina nas vísceras abdominais.
42
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1. Valores de Produção Leiteira diária (PL) e de distância ao parto
(DL) para os animais diagnosticados com QO, aquando das visitas reprodutivas.
19
Tabela 2. Valores de Correlações de Pearson para diferentes parâmetros
avaliados nos animais aquando do diagnóstico de QO.
19
Tabela 3. Teste t-student para os Ratios TB/TP e PL entre as vacas com
QO e respectivas contemporâneas nos dois momentos considerados.
21
Tabela 4. Descrição comparativa entre os diferentes parâmetros de
produção mensurados para as vacas problema (Q) e as controlo (SQ) para a
ordem de lactação 2.
22
Tabela 5. Valores relativos à estimativa para os picos de lactação, e a sua
comparação com os valores obtidos no contraste anterior ao diagnóstico de QO.
vii
22
LISTA DE ACRÓNIMOS E ABREVIATURAS
ACTH – Hormona Adrenocorticotrópica
AINE – Anti-Inflamatório Não Esteróide
BCS – Condição Corporal
CL – Corpo Lúteo
COD – Doença Ovárica Quística
DAD – Deslocamento de Abomaso à Direita
DAE – Deslocamento de Abomaso à Esquerda
DL – Dias de lactação
FSH – Hormona Folículo-Estimulante
GnRH – Hormona Libertadora de Gonadotropinas
GP – Rácio Gordura/Proteína
GPG – Protocolo Hormonal GnRH – PGF2 – GnRH
h2 – Heritabilidade
hCG – Gonadotrofina Coriónica Humana
IA – Inseminação Artificial
IGF-I – Factor I de Crescimento semelhante a Insulina
IM – Intramuscular
IV – Endovenoso
LH – Hormona Luteinizante
MG – Matéria Gorda
MP – Matéria Proteica
N – Numero de indivíduos da amostra
NEB – Balanço Energético Negativo
NEFA – Ácidos Gordos Não Esterificados
ºC – Graus Celcius
OL – Ordem de Lactação (número de partos)
PGF2 – Prostaglandina F2
PL – Produção leiteira diária (em Kg/dia)
PT – Produção total na lactação (em kg)
QF – Quisto Folicular
QL – Quisto Lúteo
viii
QO – Quisto Ovárico
re – Repetibilidade
S/C1 – Sem observação de comportamento de estro após o parto (Primeiro cio pós-parto)
S/CQ – Sem observação de cio antes do diagnóstico (correspondente ao desenvolvimento do
quisto ovárico).
SPSS – Software SPSS 14.0 for Windows Evaluation Version.
SQ – Sem diagnóstico de quisto ovárico (indivíduos controlo)
TB – Teor Butiroso
TP – Teor Proteico
… C – Relativo a vaca contemporânea de vaca diagnosticada com quisto ovárico
…Q – Relativo a vaca diagnosticada com quisto ovárico
 2
 pe – Variância Fenotípica para efeitos ambientais permanentes.

 p – Variância Fenotipica.
 2
 A – Variância Genética Aditiva.
 2
 e – Variância Residual.
% – Por cento
® – Marca registada
ix
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Doutor Filipe da Costa Silva, por ter aceite orientar o meu estágio, pela
disponibilidade, pela dedicação, pelos conselhos e toda a ajuda prestada na redacção desta
dissertação.
À Professora Doutora Rita Payan Carreira pela imensa disponibilidade, preciosos
esclarecimentos e constante simpatia.
Ao Professor Doutor Jorge Colaço, Professor António Mário Silvestre e Mestra Ângela
Martins, pela indispensável ajuda na obtenção de resultados e valiosos esclarecimentos.
Ao Dr. António Martins Giesteira, por ter aceite co-orientar este estágio, por todos os
conhecimentos transmitidos, pelo exemplo, pela disponibilidade, por toda a ajuda, pela paciência
e compreensão, pelo incentivo, e pela sincera amizade.
Aos produtores que tanta disponibilidade demonstraram em colaborar neste estudo, em
especial ao Sr. António Balazeiro.
Ao corpo clínico do Diergeneeskundig Centrum Midden Salland, pela hospitalidade e
conhecimentos transmitidos. A todos os elementos do Hospital Veterinário do Baixo Vouga, que
tão bem me acolheram.
Aos meus pais, por todo o apoio na realização de um sonho, e por tudo o que representam na
minha vida. Aos meus irmãos e cunhados, por todo o apoio, ajuda, amizade e por tudo mais que
não é possível descrever. À Beatriz, por ser fonte inesgotável de alegria na minha vida.
Aos meus amigos, à Marta, por tudo o que tu bem sabes. Ana, Nuno, Margarida, Carina,
Maria, Elisa, Cátia e Maartje, pela amizade, apoio e bons momentos. Filipa, Túlia, por toda a
ajuda e amizade nesta fase. Ao Filipe, por toda a ajuda. A todos os colegas pelo companheirismo
e pelos longos anos de convivência.
A todos o meu profundo e sincero agradecimento, por toda a contribuição na concretização
deste objectivo.
x
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CLÍNICA, CIRURGIA E REPRODUÇÃO EM VACAS LEITEIRAS.