AGRICULTORES FAMILIARES E A POLÍTICA PÚBLICA DE INCENTIVO A CADEIA PRODUTIVA DO LEITE NO TERRITÓRIO DA CIDADANIA SERRA GERAL Fernando Gomes Silva (Graduando Agronomia/Bolsista CNPq - [email protected]), Lize de Moraes Vieira da Cunha (Eng. Agrônoma e Mestre em Prod. Veg. no Semi-Árido Docente UNIMONTES - [email protected]); Renato Fernandes Silva (Graduando Agronomia/Bolsista CNPq – [email protected]), Ana Cecília Mariana de Aguiar (Graduando Agronomia [email protected]), Luana Maria dos Santos (Graduando Agronomia [email protected]), Mateus Alves Rodrigues (Graduando Agronomia [email protected]). Introdução A produção de leite é fortemente disseminada na agricultura familiar brasileira, e isso se justifica por uma série de razões dentre estas, o fato de ser um produto muito utilizado para consumo interno como também para comercialização ou processamento, permite a obtenção de uma renda mensal, dentre outros fatores. Contudo, as transformações na cadeia produtiva do leite têm elevado a pressão para a especialização dos produtores de leite, colocando em risco a continuidade de muitos agricultores familiares na atividade. O Brasil tem enfrentado nas últimas duas décadas uma série de transformações, ou um processo de reestruturação na cadeia produtiva do leite, que tem gerado uma série de conseqüências para os diferentes elos envolvidos na mesma. Uma das características desse processo de transformação da cadeia do leite, é que, a produção primária tem se tornado crescentemente dependente da indústria, perdendo autonomia sobre seus processos produtivos e escala de produção (WILKINSON; BORTOLETO, 1999). Assim, quem mais estaria suscetível aos impactos dessas transformações seriam os produtores de leite da agricultura familiar e suas organizações, à medida que este segmento teria maior dificuldade de acompanhar o processo de especialização que vem ocorrendo na atividade. A Cadeia Agroindustrial do Leite se configura como uma das mais importantes do agronegócio brasileiro, tanto sob a ótica econômica como social. Segundo Gomes (2001), a Cadeia Produtiva do Leite, em abrangência nacional, vem desempenhando um relevante papel no suprimento de alimentos, na geração de empregos e de renda para a população. Dados do IFCN (International Farm Comparison Group) utilizando informações oficiais dos diversos países indicam que, no período entre 2006 e 2010, o Brasil foi o segundo país em aumento absoluto na produção de leite, ficando atrás apenas da Índia (Milkpoint, 2011). Passando para uma análise estadual, o Estado de Minas Gerais lidera o ranking da produção de leite no País e continua líder no número de propriedades produtoras de leite, tendo aumentado a sua participação em comparação aos anos anteriores, passando de 45% em 2009 para 48% em 2010 (Milkpoint, 2011). As principais regiões produtoras são Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro (24,82%), Sul e Sudoeste (16,84%), Zona da Mata (9,5%), Oeste Mineiro (8,5%), Central Mineira (8,5%) e outras (32,84%). Mesmo sendo responsáveis por grande parte da oferta de leite, os pequenos produtores familiares, em geral, dispõem de parca base de conhecimentos e tecnologias que permitam o seu desenvolvimento. Como conseqüência, as propriedades leiteiras, principalmente as de pequeno porte, apresentam baixa produtividade e renda reduzida (CAMARGO, 1999). Várias restrições à produção leiteira podem ser enumeradas para explicar o quadro de dificuldades imposto aos produtores (ABDALLA et al.,1999), constando desde questões gerenciais, sanitárias e de manejo (SPEXOTO; OLIVEIRA; OLIVAL, 2005), de capacidade de investimento (ESPÍRITO SANTO, 2001), até questões de estresse ambiental, como quanto aos níveis de conforto térmico (PIRES et al., 2005; CAMPOS et al., 2005). O objetivo desse trabalho foi conhecer a trajetória da pecuária leiteira no Brasil de forma a melhor compreender os avanços e limitações desta atividade, bem como descrever a realidade local dos agricultores familiares participantes de um projeto de melhoria da cadeia produtiva do leite em parceria com a Empresa Júnior de Assistência Técnica e Extensão Rural da UNIMONTES. Metodologia 1. Trajetória da Pecuária Leiteira do Brasil e as Políticas Públicas Historicamente, a pecuária leiteira no Brasil foi caracterizada pela baixa produtividade dos fatores de produção – terra, mão-de-obra e capital. Essa característica, somada à alta sazonalidade da oferta e à falta de qualidade do leite in natura, colocava o País no rol dos atrasados em produção leiteira. A grande mudança começou a acontecer em 1997, quando as grandes indústrias de laticínios iniciaram efetivamente a incentivar o processo de resfriamento do leite na propriedade e o seu transporte a granel. Com certeza, o trabalho de difusão de tecnologia e de qualificação de produtores e trabalhadores na atividade leiteira, realizado anteriormente pela Embrapa, Emater, departamentos de extensão das indústrias, Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e Federações da Agricultura, foi crucial para preparar um grande número de pecuaristas para a modernização em curso (Embrapa, 2007). Hoje, cerca de 70% da matéria-prima que chega ao mercado formal passou por um tanque de resfriamento na fazenda e foi transportada a granel. As dez maiores indústrias e cooperativas de laticínios do País estão com praticamente 100% do leite coletado em caminhões com tanques isotérmicos. Há cinco anos, menos de 10% do leite produzido era refrigerado na propriedade, o que representava perda de qualidade. Vale ressaltar que essa revolução em direção à melhoria da qualidade - 50 anos em 5 - seria difícil sem o apoio do Ministério da Agricultura, que atendeu várias solicitações da iniciativa privada, especialmente com relação a crédito rural (Embrapa, 2007). Outra importante contribuição do Ministério da Agricultura para a modernização do setor foi ter dado início à elaboração do Programa Nacional de Melhoria da Qualidade de Leite (PNQL). Depois de dois anos de trabalho de vários profissionais do Governo e das Universidades, no mês de maio de 1998, o Ministério da Agricultura apresentou à iniciativa privada uma proposta de Programa. Na oportunidade, o setor pediu prazo para analisar o Programa e avaliar seus impactos para a atividade leiteira nacional. Assim, em setembro de 1998, os representantes da cadeia produtiva da pecuária de leite que compõem o Grupo de Trabalho constituído pela Portaria MAA n.º 166/98, entregaram ao então Ministro Francisco Turra sua proposta para o Programa de Modernização do Setor Produtivo de Leite e Derivados e de Aumento de sua Competitividade. A proposta, que teve sua elaboração coordenada pela CNA, objetiva inserir o Brasil no contexto dos países avançados na produção leiteira, dotando-o de padrões higiênico-sanitários mínimos para o leite in natura, como condição primeira para a melhoria da qualidade dos produtos lácteos ofertados no mercado interno e com possibilidades de comercialização no mercado externo (Embrapa, 2007). Finalmente, no dia 18 de setembro de 2002, o PNQL foi regulamentado com a publicação da Instrução Normativa n° 51. O Ministério da Agricultura precisa, ainda, aparelhar a Rede Brasileira de Controle de Qualidade do Leite, como pré-condição para que o Programa comece de fato a funcionar (Embrapa, 2007). No que diz respeito às políticas públicas destinadas à agricultura familiar, o Pronaf é, de longe, a mais importante política social para os agricultores familiares brasileiros. O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) é a primeira política pública diferenciada em favor dos agricultores familiares brasileiros, que permite a massificação ou socialização do acesso ao crédito de custeio para considerável número de agricultores familiares. 2. Atuação acadêmica por meio da empresa Junior A empresa Júnior de Projetos e Consultoria da UNIMONTES, composta por acadêmicos dos cursos de agronomia e zootecnia busca entender a realidade local através de um projeto com bases em pesquisas de campo com questionários e diagnósticos para o levantamento da real situação de cada pequeno produtor de leite. O projeto visa mobilizar os agricultores familiares e estimular o desenvolvimento econômico e social desta cadeia produtiva, aproveitando as suas potencialidades, mediante o processo de construção do conhecimento coletivo e uso de tecnologias sustentáveis aos produtores de leite da região Serra Geral. O programa conhecido como Geral Leite surgiu em virtude de uma demanda percebida pelos pequenos pecuaristas leiteiros, cuja carência nos âmbitos produtivos e qualitativos, não permitiram viabilizar novas tecnologias e assistências técnicas particulares. Considerações Finais A partir de um contexto histórico-econômico pode-se verificar quais as oportunidades que a pecuária leiteira oferece à agricultura familiar local, pois com a abertura comercial na década de 90, a desregulamentação do mercado, o processo de estabilização monetária e a estagnação tecnológica facilitaram as importações de produtos lácteos e de equipamentos para a indústria. Este cenário acirrou a concorrência e revelou as ineficiências do setor. As políticas públicas rurais ligadas à pecuária leiteira no sentido de apoiar a agricultura familiar podem ser evidenciada por meio de programas como Leite Fome Zero e Pronaf. Conhecer a efetividade destes programas por meio de uma análise integradora a partir dos produtores de leite, laticínios e consumidores pode traçar uma realidade desconhecida para maioria dos estudantes e futuros profissionais do setor rural. Estudos sobre a pecuária leiteira no norte de Minas Gearais enfatizam que os baixos níveis tecnológicos estão associados à falta de ATER - assistência técnica e extensão rural. Serviços estes garantidos por lei aos agricultores familiares de forma gratuita e que não são disponibilizados. Agradecimentos Ao CNPq pela concessão das bolsas e aos agricultores familiares pecuaristas assistidos pelo projeto Geral Leite. Bibliografia ABDALLA, A. L. et al. Constraints do milk production in grazing dairy cows in Brazil and management strategies for improving their productivity. Preventive Veterinary Medicine, v. 38, p. 217-230, 1999. CAMPOS, A. T. de. et al. Zoneamento da pecuária leiteira da região sudeste. In: EMBRAPA GADO DE LEITE. Disponível em: <http://www.cnpgl.embrapa.br/>. Acesso em: 13 de Abril, 2012. CAMARGO, A. C. de. A viabilidade da pequena propriedade leiteira e a inviabilidade do pequeno produtor de leite. In: SEMINÁRIO NORDESTINO DE PECUÁRIA - PROFISSIONALISMO E TECNOLOGIA, 3., 1999, Fortaleza, CE. Anais... Fortaleza, CE: FAEC/SENAR, 1999. p. 52-76. CAMARGO, A.C.; NOVAES, N.J.; NOVO, A.L.M.; MENDONÇA, F.C.; MANZANO, A.; ESTEVES, S.N.; FAVARETO, M.R.M.; MARQUES, W.; TOSCANO, J.F.; SANCHES, I.C.; RIBEIRO, W.M.; FARIA, V.P. Projeto Balde Cheio: Transferência de tecnologia na produção leiteira - Estudo de caso do sítio São José, de Nhandeara, SP. São Carlos: Embrapa Pecuária Sudeste, 2006a. 8p. (Embrapa Pecuária Sudeste, Comunicado técnico 74). EMBRAPA – Agência de Informações. Disponível em: (http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Agencia8/AG01/arvore/AG01_34_2172003923 58.html). Acesso em: 13 de Abril, 2012. MILKPOINT – Dados Gerais. Disponível em: (www.milkpoint.com.br/mn/mercadoleite/artigo) Acesso em: 13 de Abril, 2012. PIRES, M. de F. A. et al. Horas de estresse para gado de leite na região sudeste. In: EMBRAPA GADO DE LEITE. Disponível em: <http://www.cnpgl.embrapa.br/>. Acesso em: 13 de Abril, 2012. RIBEIRO, Hilton Manoel Dias; LIRIO, V. S.. DESEMPENHO DA CADEIA PRODUTIVA DE LEITE DO MUNICÍPIO DE BOM DESPACHO MG. In: XII Seminário sobre a economia mineira, 2006, Diamantina. XII Seminário sobre a Economia Mineira, 2006.