| POLÍTICA | PAINEL RENATA LO PRETE Na tentativa de amenizar a revolta de Nelson Jobim (Defesa) e dos comandantes militares com o Programa Nacional de Direitos Humanos do ministro Paulo Vannuchi, Lula tem procurado convencê-los de que o texto polêmico é, na verdade, fruto de conferência realizada sobre o tema, e não uma decisão de governo propriamente dita. No lançamento do programa, em 21 de dezembro, o presidente já havia feito um esforço para acalmar os descontentes, sugerindo que nem tudo o que está escrito será mantido. Em seu discurso, disse que ‘vamos tentar trabalhar outra vez, transformar em projeto de lei aquilo que for projeto de lei, mandar para o Congresso debater’. Detalhes. Ainda no discurso, revelador da linha tênue em que caminhava naquele dia, Lula observou que ‘não é fácil fazer um documento como este’, pois ‘os interesses pelas palavras são enormes’ e ‘as vírgulas ganham dimensão extraordinária’. Prorrogação Porcos 2 Quem conhece o presidente diz que esse não é um dos que temas que mais o mobilizam. O que explica, em parte, o fato de ele só ter entrado na história com a polêmica já instaurada. Entre as maiores cidades do país, a campeã em verbas federais foi Nova Iguaçu (RJ), de Lindberg Farias (PT): R$ 22 por habitante, contra R$ 10 de Duque de Caxias, que tem população similar, mas é do PSDB. São Paulo, do DEM, conseguiu R$ 2,25. Já Guarulhos, do PT, R$ 7,57. Controle aéreo Forcinha Jaques Wagner (PT) preparou uma lista para mostrar a Lula, tão logo ele chegue de folga à Bahia, com empresas que poderiam investir no Estado e gerariam empregos em ano eleitoral. Na tela A Secretaria de Comunicação do Planalto abriu concurso para seleção de projetos voltados à produção de séries de TV que abordem a temática: ‘histórias de um Brasil que dá certo’. Carteirinha O senador Tião Viana conseguiu uma sessão vip da cinebiografia de Lula, com estreia prevista para amanhã, num cinema do Acre, somente para filiados ao diretório local do PT. Porcos 1 Na contramão da fala de Lula, segundo quem ‘não se pode deixar de dar comida a um porco porque não gosta do dono do porco’, os números da CGU mostram que municípios administrados pelo PT ‘comeram melhor’ em 2009. | GESTÃO | Prefeito lusitano mostra como associativismo pode beneficiar municípios como Natal Folha de São Paulo Fazer o quê? FAB e Itamaraty se estranharam sobre o envio de aeronave para resgatar brasileiros no Suriname. A FAB queria levar jornalistas no voo. Mas o secretário-geral e chanceler interino, Antonio Patriota, vetou. Natal, domingo, 31 de janeiro de 2010 | NOVO JORNAL | 5 Alma do negócio Quem percorreu as principais avenidas de Maceió notou a profusão de placas com propagandas do Minha Casa, Minha Vida, instaladas no final do ano. Renda O PAC da Copa, que será anunciado em janeiro, prevê R$ 8 bi para o Ministério das Cidades. São recursos que ficarão sob a rubrica de mobilidade urbana. No caso, corredores expressos e VLT (veículo leve sob pneus). Arena No apagar das luzes, o Congresso deu aval à destinação de R$ 40 mi para erguer uma vila olímpica que será usada nos jogos mundiais militares, em 2011, no Rio. Prioridades Deputados e senadores também endossaram o pagamento de R$ 30 mi à UNE a título de indenização pela destruição de sua sede no Rio durante o regime militar. Nós Fernando Haddad (Educação) prometeu entregar até março proposta de reforma na administração dos 42 hospitais universitários. A ideia é transformá-los em fundações de direito privado. TIROTEIO Isso só confirma o que eles proclamam: o Exército é o mesmo. Parece que não mudou nada com a redemocratização. De CRIMÉIA ALICE DE ALMEIDA, integrante da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos, sobre a pressão de militares para que Lula reveja trechos do terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos. CONTRAPONTO Pré-pago Pré-candidato ao governo gaúcho, Tarso Genro (Justiça) se reuniu com Lula no Palácio da Alvorada, ontem, para discutir o lançamento do programa Bolsa Olímpica. Ao sair, mandou que parasse o carro e perguntou na portaria: - Onde estão os jornalistas? Os assessores informaram o ministro que só havia fotógrafos e cinegrafistas, para quem ele improvisou uma entrevista. Mas, para que Tarso não perdesse a viagem, um assistente sugeriu: - Tem uns turistas ali que gostariam de dar uma palavrinha com o senhor... O ministro aceitou a ideia na hora. Exemplo que vem de Portugal ARGEMIRO LIMA/NJ Rafael Duarte, do Novo Jornal REZA O DITADO popular que a união faz a força. E há quem siga à risca a velha máxima brasileira bem longe da América do Sul. Em Portugal, por exemplo, a união entre os municípios pequenos tem rendido às prefeituras locais dividendos importantes. É o caso de Arruda dos Vinhos, vila portuguesa localizada a Oeste de Lisboa. Com 14 mil habitantes distribuídos em 77,9 quilômetros quadrados, a cidade tem se organizado com os municípios vizinhos de forma estratégica para buscar alternativas e se fortalecer na hora de lutar por recursos ou outros tipos de vantagens. O orçamento anual da cidade varia entre 12 e 15 milhões de euros. Embora Lisboa também tenha uma região metropolitana da qual Arruda dos Vinhos faz parte, o prefeito do município, Carlos Lourenço, 53 anos, ressalta a importância da necessidade de se fortalecer independente da capital. “Quando existem objetivos comuns e você tem uma identidade própria, a união através de associações desse tipo só traz benefícios”, diz o prefeito, que esteve em Natal a passeio, e também preside a associação de Municípios do Oeste de Portugal. Exemplo clássico desse benefício, Lourenço trouxe na bagagem. Ele conta que há alguns anos, a região oeste de Lisboa estava prestes a ganhar um aeroporto. No entanto, de última hora, o projeto mudou de lugar e os municípios que esperavam lucrar com a obra se uniram para reivindicar compensações diante da perda. Qualquer semelhança com a perda, no Rio Grande do Norte, da refinaria de petróleo para Pernambuco é mera coincidência. “Os municípios iriam ganhar uma grande infraestrutura e, com a perda, sairíamos todos prejudicados. Mas tivemos força para lutar pelas compensações, tanto que ganhamos obras nas áreas de esportes, comunicação. Se estivéssemos sozinhos, separados, ninguém ganharia nada”, reflete, lembrando que uma prova de como a associação é um modelo forte na região é o fato dos próprios produtores de vinho se organizarem seguindo o modelo. Quatro mandatos Carlos Lourenço está no quarto mandato consecutivo como prefeito de Arruda dos Vinhos, uma cidade predominantemente rural na qual, como sugere o próprio nome, tem a economia baseada na produção de vinhos. Ele encerra a gestão em 2013 para, em seguida, se dedicar a projetos pessoais. “Quando entrei a reeleição era liberada, mas no ano seguinte a Câmara Municipal votou uma lei que restringia para três mandatos”, disse. Como no Brasil, as eleições para prefeito em Arruda dos Vinhos são realizadas ao mesmo tempo que as da Câmara Municipal. A diferença é que lá o vereador mais votado pelo povo é, automaticamente, eleito presidente da Casa. Carlos Lourenço, prefeito de Arruda dos Vinhos DIVULGAÇÃO Acompanhando Natal de longe A relação de Carlos Lourenço com Natal vem de um contato com o empresário Ricardo Abreu, que conheceu na travessia do caminho de Santiago de Compostela. De uma visita à cidade, a filha mais nova do prefeito resolveu ficar para cursar Odontologia na Universidade Potiguar (UnP). Sobre a capital, diz que vem acompanhando o crescimento da cidade. “Vejo que Natal está se transformando, ganhando empreendimentos. Parece-me que está no caminho certo. O problema é que quanto maior a cidade, maiores também são os problemas”, comparou. Da cultura brasileira, o prefeito de Arruda dos Vinhos cita Martinho da Vila, Maria Bethânia e Nelson Ned como artistas preferidos. Acha o atacante português Cristiano Ronaldo um craque, é fanático pelo Benfica, onde jogam os brasileiros Aírton (ex-Flamengo) e Ramirez (ex-Cruzeiro) e diz que nunca na história recente de Portugal houve um sentimento nacionalista igual ao despertado pelo brasileiro Luís Felipe Scolari, no tempo em que treinou a seleção lusa. “Nunca vi aquilo na minha vida. O povo com bandeiras nas janelas, torcendo. O Felipão conseguiu contagiar o país”, afirmou. Lourenço admite que ampliou a visão de mundo sobre o Brasil. Comparando tempos distintos, destaca o país no cenário internacional. “Antigamente quando a gente falava no Brasil vinha na mente o samba, a cachaça e o futebol. Hoje o vejo como uma das maiores potências mundiais. É um país em expansão, com um povo alegre. No Brasil, por exemplo, não se viu a crise como na Europa”, disse. Localizada a 36 Km de Lisboa, Arruda dos Vinhos é um importante polo de produção vinícola de Portugal Entre o comércio e a política Filhos de agricultores, Carlos Lourenço nasceu numa vila próxima a Arruda dos Vinhos, para onde se mudou aos 9 anos de idade. Aos 17, conseguiu o primeiro trabalho numa empresa de contabilidade na qual dois anos mais tarde seria promovido a chefe do setor. Ele lembra as dificuldades da adolescência, em meio ao goARGEMIRO LIMA/NJ verno do ex-ditador Antônio de Oliveira Salazar, quando conseguiu escapar do Exército. “Na época do Salazar a maior preocupação dos pais era ver um filho saindo para a guerra. Ninguém tinha a percepção de como estava o país, mas ir para a guerra ninguém queria. Eu consegui escapar”, conta. De funcionário a patrão foi um pulo. Mesmo sem ter se formado em contabilidade, abriu uma empresa na área aos 22 anos de idade. Diz que nunca achou que te- ria vocação para a política, mas se filiou ao Partido da Social Democracia aos 25 anos. “Cheguei a perder uma eleição para vereador, depois fui eleito. Aí o partido me colocou o desafio de tentar a prefeitura”, narra. Indagado sobre o grande atrativo de Arruda dos Vinhos, o prefeito se despe da roupa de homem público e responde como um bom português. “Em Arruda, temos o melhor bacalhau do mundo”, encerra. Oásis do vinho em meio às serras Isso ocorreu até o ano 711, quando passou a se chamar “Al Ruta” após a invasão muçulmana a Península Ibérica. O nome Arruda dos Vinhos só aparece em documentos a partir de 1828 por conta da qualidade e abundância dos vinhos e da vinha na região. Além de ser um importante pólo de produção vinícola, o município também tem a tradição de fazer parte da rota comercial do produto. Tanto que, em novembro, Arruda dos Vinhos recebe turistas de todo o mundo para a já tradicional festa anual da ‘Vinha e do Vinho’. Localizada a 36 quilômetros da capital Lisboa, Arruda dos Vinhos fica num vale cercado por serras e montes. Ao Norte é limitada pelo município de Alenquer, ao Sul pelo de Loures, a leste pelo de Vila Franca de Xira e a Oeste pelo de Sobral. A origem da cidade está ligada à história agrícola da região, onde sempre existiu uma erva medicinal com um cheiro muito forte. Assim, a Arruda, ou “Ruta”, batizou durante algum tempo a região.