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22 jan 2015 O Globo RENATO GRANDELLE renato. grandelle@ oglobo.com. br
Revista científica chinesa: poluição não é nociva
Pesquisadores americanos e britânico são autores de artigo criticado por especialistas em meio ambiente
O homem não precisa gastar um centavo sequer no combate às mudanças climáticas. O carbono é um gás inofensivo, cuja emissão deveria ser
estimulada. As declarações controversas são defendidas em um estudo publicado esta semana na revista “Science Bulletin”, da Academia Chinesa de Ciências.
Os quatro pesquisadores que assinam o trabalho, todos ocidentais, discordam da tese defendida por 97% da comunidade científica internacional, que
atribuem o aquecimento do planeta à ação humana.
PHILIPPE LOPEZ/AFP
Diversão.
De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a emissão de gases­estufa aumentará a temperatura da Terra em cerca
de 3,3 graus Celsius até o fim do século. No entanto, os autores da nova pesquisa — três americanos e um britânico — asseguram que os termômetros
subirão, no máximo, 1 grau Celsius.
A opção por uma revista chinesa provoca ainda mais desconfiança sobre os resultados. Afinal, trata­se do país mais poluidor do mundo. De acordo com
especialistas, o estudo poderia ser usado em Pequim como uma tentativa de justificar as emissões crescentes de carbono na atmosfera. Ao contrário dos
países desenvolvidos, a China não anunciou um cronograma para reduzir sua liberação de gases­estufa.
— A Academia chinesa é a maior do mundo, e seus editores estão dispostos a analisar um estudo que levanta questões contra a posição científica oficial
sobre o aquecimento global, ao contrário das publicações ocidentais — explica Christopher Monckton, autor principal da pesquisa e conselheiro­chefe de
política do Ins­
Roda gigante envolta na poluição de Hong Kong: segundo os pesquisadores, a China é receptiva a estudos que contrariam teses sobre aquecimento global
tituto de Ciências e Políticas Públicas de Londres. — A ciência ainda é feita de forma correta na China. O que já vimos é que não precisamos gastar um
centavo sequer no combate às mudanças climáticas. Todas as custosas conferências e negociações do IPCC, em locais exóticos como o Brasil, são
desnecessárias.
‘IPCC É ALARMISTA’
Mais de 9,2 mil estudos foram analisados na composição do último relatório do IPCC, divulgado no ano passado. O resultado, segundo Monckton, foi um
documento equivocado e alarmista. Em vez da pilha de textos produzida por cientistas de cerca de 80 países, a resposta correta pode vir de “um estudante de
graduação com uma calculadora de bolso”.
O estudo publicado pela Academia chinesa considera a diferença entre a quantidade de energia absorvida pela Terra e a energia perdida ou refletida para o
espaço. O IPCC amplia o cálculo com dezenas de outras variáveis, como questões relacionadas à cobertura do gelo, à temperatura do oceano e danos à
biosfera.
— Há décadas o IPCC prevê altas temperaturas, e elas são menores do que alardeavam — condena William Briggs, professor adjunto de Estatística da
Universidade de Cornell e coautor da pesquisa. — Você confiaria em um meteorologista que sempre prevê uma onda de calor quando, na verdade, vai nevar?
Coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Energia do WWF­Brasil, André Nahur avalia que o grupo de Monckton usou métodos “simples” e que
“não pode ser comparado” ao IPCC.
— Documentos como o publicado esta semana só são feitos para chamar atenção da mídia — critica. — A temperatura do planeta já aumentou 0,85 grau
Celsius desde a era pré­industrial. Ainda existe quem acredite que, quanto mais carbono na atmosfera, maior será sua captação pelas florestas. Mas os
estudos mostram como o gás pode alterar processos geológicos e ambientais. A mata não tem como estocar quantidade ilimitada de CO2.
MEDO DE ERA GLACIAL
Monckton parte de um princípio oposto: quanto mais carbono na atmosfera, melhor:
— A temperatura era maior no Antigo Egito e na Idade Média, por exemplo. Agora, porém, ela está à deriva, e isso é preocupante. Para o bem de todos,
precisamos levar CO2 suficiente para o ar e afastar a próxima Era Glacial — alerta. — Apesar de toda a propaganda, um clima mais quente é um grande
negócio. Uma nova Idade do Gelo mataria bilhões.
Marcos Heil Costa, ex­coordenador­geral de Mudanças Climáticas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, acredita que o estudo na publicação
chinesa menospreza novas pesquisas sobre o aquecimento global. E contesta, também, os cálculos adotados pelos cientistas para corroborar suas teses.
— Não houve apenas um relatório do IPCC. Houve outras edições, e todas são atualizadas e trazem projeções cada vez mais corretas — defende. — Estes
cientistas podem ter escolhido cálculos que levam a um aumento mais modesto da temperatura global.
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