Economia, Política e Desenvolvimento VOLUME1• NÚMERO 2• JULHO 2010 CAP - CENTRO DE ANÁLISE DE POLÍTICAS DA FLCS / UEM Revista Científica Inter-Universitária Economia, Política e Desenvolvimento VOLUME1 NÚMERO 2 JULHO 2010 Economia, Política e Desenvolvimento Revista Científica Inter-Universitária ECONOMIA, POLÍTICA E DESENVOLVIMENTO ECONOMIA, POLÍTICA E DESENVOLVIMENTO FICHA TÉCNICA DA REVISTA ÍNDICE Director: Eduardo J. Sitoe ([email protected]) Editor: Gerhard Liesegang ([email protected]) Sub-editor: Gil Lauriciano ([email protected]) Revisor Linguístico: Gilberto Matusse ([email protected]) Nota Introdutória 1 Prefácio do II Número da Revista Científica Inter-Universitária 3 Reforma do Sector Público: Tendências Contemporâneas Boas Práticas no Quadro de Reformas do Sector Público Moçambicano GELASE MUTAHABA 7 Conselho Científico Presidente: José Paulino Castiano ([email protected]) Adriano Niquice ([email protected]) João Mosca (joã[email protected]) Vitória de Jesus Langa ([email protected]) Boris Tanana José J. da Silva ([email protected]) Carlos Shenga ([email protected]) Hilário Langa ([email protected]) Thomas Kring ([email protected]) Alice Madeira ([email protected]) Silvério Ronguane ([email protected]) - U.Pedagógica (UP) - U.Pedagógica (UP) - A Politécnica - A Politécnica - ISCTEM - ISCTEM - ISAP - ISAP - PNUD - PNUD - ISRI Secretariado Técnico Nobre de Jesus Canhanga ([email protected]) Francisco da Conceição ([email protected] ) Sáula Pinto ([email protected]) - UEM-CAP - UEM-CAP - UEM-CAP Produção: Centro de Análise de Políticas (CAP), Faculdade de Letras e Ciências Sociais, Universidade Eduardo Mondlane (FLCS/UEM) Apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) N.º de Registo: 046/GABINFO-DEC/2009 Tiragem 1000 exemplares Impressão: Académica, Lda. O Orçamento de Investimento de Iniciativa Local e a Dinamização da Economia Rural em Moçambique: Resultados, Desafios e Perspectivas SALIM CRIPTON VALÁ 27 Participação dos Cidadãos nos Conselhos Locais e na Monitoria do Plano-Económico-sociale Orçamento Distrital - PESOD MANUELA RICO E ARMINDO TOMO 53 Registo de Crianças em Brigadas Móveis: Uma Lição da Aproximação da Administração da Justiça às Comunidades MANUEL DIDIER MALUNGA 65 Contextualização do Sector Micro Financeiro em Moçambique Período 2000 A 2006 JACQUELINE A. H. HAFFNER E ODEISSE DE MIRA MATILDE DANIEL 83 Referências 101 Economia, Política e Desenvolvimento ÍNDICE Nota Introdutória 1 Prefácio do II Número da Revista Científica Inter-Universitária 3 Reforma do Sector Público: Tendências Contemporâneas Boas Práticas no Quadro de Reformas do Sector Público Moçambicano GELASE MUTAHABA 7 O Orçamento de Investimento de Iniciativa Local e a Dinamização da Economia Rural em Moçambique: Resultados, Desafios e Perspectivas SALIM CRIPTON VALÁ 27 Participação dos Cidadãos nos Conselhos Locais e na Monitoria do Plano-Económico-sociale Orçamento Distrital - PESOD MANUELA RICO E ARMINDO TOMO 53 Registo de Crianças em Brigadas Móveis: Uma Lição da Aproximação da Administração da Justiça às Comunidades MANUEL DIDIER MALUNGA 65 Contextualização do Sector Micro Financeiro em Moçambique Período 2000 A 2006 JACQUELINE A. H. HAFFNER E ODEISSE DE MIRA MATILDE DANIEL 83 Referências 101 Economia, Política e Desenvolvimento Economia, Política e Desenvolvimento NOTA INTRODUTÓRIA No Plano Quinquenal do Governo moçambicano (2004-2009), “Boa Governação” foi vista como a capacidade de aproximar os serviços aos cidadãos e, nesse sentido, o Governo preconizou a realização de actividades que reduzam a distância entre o Estado e a sociedade e que, por essa via, promovam formas de democracia participativa. Ao coordenar a organização da Conferência Nacional da Administração Pública, o ISAP (Instituto Superior de Administração Pública) pretendia criar uma oportunidade para disseminar as boas práticas na prestação de serviços enquadradas no âmbito da implementação da Reforma do Sector Público. Optamos pela Conferência, inspirados no significado do conceito: conversação entre pessoas sobre assunto de interesse comum, público ou internacional. Daí o tema: “Boas Práticas no âmbito da Reforma do Sector Público em Moçambique”. A missão do ISAP (Escola de Governo) é formar e capacitar em Administração Pública os dirigentes e quadros em funções de direcção e chefia com vista à Boa Governação. À semelhança de outras Instituições de Ensino Superior, o ISAP também se deve distinguir pelo Ensino, pela Investigação e pelas actividades de Extensão que realiza. Pretendíamos, com a Conferência Nacional, ser a plataforma giratória de assuntos relacionados com a Administração Pública moçambicana. Impunha-se, perto do fim da II Fase da Reforma do Sector Público em Moçambique, realizar o exercício de balanço e preparar outra reflexão mais académica sobre a formação em Administração Pública. A Conferência Nacional funcionou, assim, como um sistema de vasos propulsores: permitiu a retrospectiva sobre a Reforma do Sector Público e lançou as sementes de um outro evento, também concebido pelo ISAP e projectado para o último terço de 2010. Trata-se do Simpósio Internacional sobre “Formação em Administração Pública para a Boa Governação”, que deverá congregar escolas de governo, especialistas e instituições académicas que formam em Administração Pública. Há, por conseguinte, um nexo de sentido que se prolonga para além do evento que foi a Conferência. A Conferência Nacional foi uma miscelânea de acontecimentos. À solenidade emprestada pela presença do Chefe do Estado, Armando Guebuza, quer na Sessão de Abertura, quer na Inauguração da Exposição, combinou-se a reflexão endógena e a participação de convidados estrangeiros. O debate de ideias, a partilha de vivências e as amostras patentes nos pavilhões conferiram tonalidades outras ao Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano. A relevância das instituições, qualquer que seja a sua natureza, (com acuidade particular para as que têm o dever de transformar o Homem e o seu modus vivendi) constrói-se também através dos eventos que realiza, com os factos que propicia, pela visão que desenha, no conhecimento que produz e faz circular e pelo impacto que tem sobre a sua sociedade e sobre o seu tempo. 1 Economia, Política e Desenvolvimento A colectânea das Comunicações que ora se apresenta ao público, nas asas da Economia, Política e Desenvolvimento, primeira revista científica inter-universitária moçambicana, tem um duplo significado: consagra o diálogo saudável entre Instituições de Ensino Superior em Moçambique; coloca o ISAP, por via dessa condição e da divulgação do conhecimento propiciada pela Conferência, na senda da reflexão académica e universitária sobre as opções e experiências em matéria de Administração Pública no país (com enfoque na Reforma do Sector Público). Há neste conjunto de textos a celebração do poder e da força das ideias, construídas na experiência diária, inspiradas nas atribulações quotidianas. Há também a combinação possível entre o pensar académico, livresco e aquele saber de experiência feito. Os organizadores pretendiam que a Conferência Nacional da Administração Pública fosse esse híbrido. Almiro Lobo, Director-Geral do Instituto Superior de Administração Pública 2 Economia, Política e Desenvolvimento PREFÁCIO DO II NÚMERO DA REVISTA CIENTÍFICA INTER-UNIVERSITÁRIA A filosofia da Revista Científica Inter-Universitária Economia, Política e Desenvolvimento, que agora aparece no seu segundo número, consagra a possibilidade de, nalgum dos seus números a publicar, por ano, serem contemplados textos que tenham como origem um seminário ou uma conferência nacional, regional ou local, independentemente do tema abordado em tais eventos, desde que se enquadrem no perfil editorial da Revista. Este é o caso do número que têm agora nas mãos! O objectivo desta determinação é duplo: (a) assegurar que importantes comunicações que surjam nestes ambientes, com audiências a propósito seleccionadas e/ou direccionadas, atinjam um público mais diversificado e vasto (sobretudo aquele mais associado a contextos académicos); e (b) garantir que os estudantes e investigadores tenham acesso a documentos de informação/análise mais ou menos oficiais e oficiosos, com referenciais empíricos abundantes e pormenorizados, geralmente lavrados por intervenientes directos nos processos em questão. Não raro, surgem (ou podem surgir!) em seminários e/ou conferências da índole supra tipificada obras com um estatuto académico inquestionável. Mas também aparecem (ou podem aparecer!) simples apontamentos de experiências/vivências profissionais quotidianas, sem pretensões de rigor científico e/ou filosófico: todos estes documentos são igualmente relevantes para o empreendimento que a Revista decidiu abraçar. Neste número, são trazidos cinco documentos que resultaram da 1ª Conferência Nacional da Administração Pública em Moçambique, realizada em 2009 na Cidade de Maputo. O primeiro texto, da lavra de Gelase Mutahaba, professor de Administração Pública da Universidade de Dar-es-Salaam, Tanzânia, disserta sobre as reformas do sector público (ou da administração pública) inseridas no âmbito do que se convencionou designar de Nova Administração Pública (ou New Public Management – NPM - na sua versão Inglesa), destacando a natureza das pressões que lhes deram origem, os seus traços fundamentais – quer nos países desenvolvidos, quer nos seus contornos específicos nos países em desenvolvimento como Moçambique –, apresentando, por fim, o resultado de uma pesquisa acerca do estágio da implementação deste tipo de reformas em 10 (dez) países da África Austral e Oriental, que inclui, entre outros países para além de Moçambique, Tanzânia, Zâmbia, Malawi e África do Sul, só para citar aqueles que têm contiguidade fronteiriça com o nosso país. Nesta última dimensão analítica, e especificando o caso de Moçambique, o estudo assinala: “ …(em termos formal e legal) o país tem uma agenda de reforma esclarecedora, que inclui todas as recentes medidas da Nova Administração Pública – NPM – mas, no terreno, muito pouco parece estar a ocorrer”. O estudo aponta depois as razões para esta constatação, anotando, contudo, a eventualidade de tal facto ter sido, contra os argumentos sugeridos pelo modelo do NPM, motivo para o sucesso relativo do Governo moçambicano na realização do que a pesquisa considera “reforma básica e adequada ao contexto”. 3 Economia, Política e Desenvolvimento O segundo documento resulta da contribuição dada por Salim C. Valá, na altura Director Nacional no Ministério da Planificação e Desenvolvimento, que relata a génese, tipificação, evolução, regulamentação, exercício e impacto do Orçamento de Investimento de Iniciativa Local (o OIIL). Valá movimenta-se aqui num território que lhe é bastante familiar – a julgar pela natureza de referências que evoca para a validação dos seus argumentos – e discorre sobre conceitos/termos que se tornaram incontornáveis no discurso político actualmente em voga no País acerca dos “7 milhões”, o “distrito como unidade de planificação/orçamentação” e/ou como “pólo de desenvolvimento”, o papel dos “conselhos consultivos locais (CCL) ” e o desafio do “combate à pobreza”. Sobre estes aspectos o autor faz transparecer uma convicção inabalável: (a) “…os ‘7 milhões de MT’ são uma das mais corajosas decisões políticas tomadas pelo governo do Presidente Armando Guebuza”; (b) “O OIIL está a contribuir para mudar Moçambique no sentido de assegurar mais produção de alimentos, maior geração de emprego e renda acrescida para as famílias rurais”; (c) “…os CCL constituem um dos mais inovadores actores institucionais que emergiram no ano 2006”; e outros exemplos que ilustram a avaliação positiva que o autor faz sobre a implementação do programa que analisa. São muitos os estudantes (e estudiosos!) que presentemente se preocupam com o tipo de matérias que Salim Valá aborda no seu texto que poderão beneficiar do arsenal de informação factual/regulamentar cronologicamente sistematizado e pormenorizado que consta do seu documento, ainda que não comunguem do seu entusiasmo em relação ao desempenho e impacto dos processos associados ao OIIL. A Província de Inhambane, no seu relato sobre uma experiência – bem sucedida – de participação dos cidadãos através das Comissões de Trabalho dos Conselhos Consultivos Locais (CCL) na monitoria do Plano Económico e Social Distrital (PESOD) parece corroborar as anotações de Valá acerca da utilidade/actualidade/pertinência destas instâncias/instituições de participação comunitária nos processos de governação local. O documento, proveniente de Inhambane, com o seu autor colectivo, Manuela Rico, na altura Secretária Permanente da Província de Inhambane e Armindo Tomo, Acessor de Planificação e Finanças Descentralizadas em Inhambane, também consta no presente número da Revista. Outros dois textos seleccionados para este número da Revista são da autoria de Manuel Didier Malunga, na altura Director Nacional dos Registos e Notariado no Ministério da Justiça, que apresenta um apontamento sobre a concepção, decurso e resultados de um projecto/programa de registo de crianças feito por intermédio de brigadas móveis em várias zonas do País, e de duas economistas, uma oriunda do Brasil, Jacqueline Haffner e outra de Moçambique, Odeisse Matilde Daniel, que dissertam sobre o sector de micro finanças em Moçambique, oferecendo dados/análises sobre a formação das instituições que oferecem serviços de micro finanças, o impacto das suas intervenções particularmente nas zonas rurais, a relevância deste sector no desafio de combate à pobreza no País, bem como aspectos mais gerais atinentes à dinâmica do mundo financeiro/bancário em Moçambique. 4 Economia, Política e Desenvolvimento Renovamos o nosso convite para que estudantes, investigadores, fazedores de políticas, formadores de opinião e outros cidadãos atentos se engajem nesta Revista, contribuindo com textos e/ou interagindo com as obras nela constantes, para que se desate um amplo movimento de debate cívico/académico sobre desafios/problemas/problemáticas de desenvolvimento, sobretudo enquadrados numa perspectiva socioeconómica e/ou política que possa contribuir para o bem-estar material, intelectual e moral da sociedade moçambicana. À direcção do Ministério da Função Pública (MFP) especialmente Instituto Superior de Administração Pública (ISAP), dignos organizadores da Conferência Nacional da Administração Pública, de onde retiramos o conjunto de textos inseridos nesta Revista, o nosso muito obrigado! Eduardo J. Sitoe, Director da Revista 5 Economia, Política e Desenvolvimento 6 Economia, Política e Desenvolvimento Reforma do Sector Público: Tendências Contemporâneas Boas Práticas no Quadro de Reformas do Sector Público Moçambicano Gelase Mutahaba1 Maputo, Moçambique 5-6 Junho, 2009 1 - Professor de Administração Pública, Universidade de Dar-es-Salaam, Tanzânia 7 Economia, Política e Desenvolvimento Introdução Vários governos estão concentrados em processos de reformas. Estes iniciaram a bastante tempo e já foram discutidas por políticos, académicos, investigadores que têm apontado algumas inovações2 significativas do processo. A despeito deste longo processo, nos anos 80, os governos a escala mundial mostraram-se cada vez mais preocupados em reforçar a eficácia e eficiência dos seus serviços públicos e, consequentemente, tomaram medidas formais para reformar a governação e o desempenho das instituições administrativas. Este artigo aborda as reformas do sector público iniciadas nos anos 1980, e em processo neste momento, a qual passou sendo conhecida por reformas da Nova Administração Pública). O artigo está dividido em cinco secções, que incluem a introdução e a conclusão. Na secção 2, identificamos as pressões que deram origem ao movimento de reformas dos anos 80, as suas principais características e o enfoque estratégico, tal como ilustrado pelas experiências dos velhos países da Commonwealth (Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia), que foram os pioneiros destas reformas. A secção 3, cobre a experiência dos países em desenvolvimento referentes à adopção das reformas resultantes da crise económica dos anos 1980 a 1990, dado que eles estavam também a implementar os seus Programas de Reajustamento Estrutural (PRE). Na secção 4, debatem-se as tendências sobre o período actual, com base em trabalhos de investigação que foram realizados pelo autor e colegas, em matérias sobre a reforma estatal no sector público na África Austral e Oriental (2000-2006). A concluir, apresentam-se lições para Moçambique a partir das experiências documentadas nas secções 3 e 4, uma vez que o país traça a sua rota e caminho para o futuro no prosseguimento da reforma do sector público. As Pressões para Reformar e as Respostas Apresentadas pelos Países Desenvolvidos Muitos estudos sugerem que o movimento de reformas do sector público que iniciou com a crise dos anos 80 foi posteriormente baptizado de New Public Management – NPM (Nova Administração Pública) resultou de dois factores: Primeiro, o início dos anos 1980 viu um mundo mergulhado numa crise global de recessão económica, em que muitas nações enfrentaram problemas com a sua balança de pagamentos, termos de translações comerciais voláteis e uma grande erosão do poder de compra dos governos. Os Governos recorriam em grande medida a empréstimos como uma fonte de rendimentos, o que resultou em endividamentos internos e externos. Nessa altura, o endividamento em alguns países eram maiores do que os seus PIB. Os níveis da dívida anual atingiram os 80% do total do orçamento do Estado. Ao notar este desenvolvimento alarmante retiraram, tardiamente, as facilidades de créditos. Como consequência, por volta de meados dos anos 80 os créditos esgotaram-se dramaticamente. 2 - Vide obras de Max Weber, Woodrow Wilson, Gerard Caiden, para citar alguns. 8 Economia, Política e Desenvolvimento Durante longo tempo, muitos governos tinham investido no desenvolvimento económico e social, incluindo nas infra-estruturas, e haviam expandido o tamanho do sector público. Este investimento no seu todo necessitava de ser mantido, o que envolvia um nível crescente de despesas recorrentes numa altura em que os rendimentos do governo estavam a decrescer. A necessidade de reduzir as despesas do sector público era urgente e inevitável. No entanto, e de modo muito significativo, o desempenho do sector estatal em crescimento estava aquém do exigido. Esta situação estava a corroer a confiança que se tinha na capacidade do governo e do sector estatal de providenciar bens e serviços aos cidadãos, e, num período de poucas décadas, a nível internacional, os serviços públicos/ governamentais haviam adquirido uma reputação negativa. Nos países democráticos, os cidadãos expressavam a sua insatisfação através de revoltas tributárias, e as questões relativas à prestação de serviços moldavam de modo crescente a agenda eleitoral. A máquina do governo não poderia ser tomada de ânimo leve, e a natureza e qualidade dos serviços tornaram-se um tópico da reforma. Segundo, a vaga de pressões veio do colapso do processo ou sistemas económicos de planificação centralizada do bloco do leste, que tinha os piores resultados em termos de desempenho na prestação de serviços públicos a nível mundial, e demonstrou que as soluções para os problemas de provimento de maus serviços exigia, por um lado, um repensar sobre como as operações do governo são geridas, e, por outro, a reavaliação do papel do governo no que toca às políticas económicas e à provisão de serviços e bens públicos, mostrando que o consenso pós-guerra concernente à divisão de actividades entre o governo, o sector privado e as organizações não governamentais se havia tornado rapidamente nublado. A liderança das instituições da Bretton Woods, foram também decisivas ao pressionar a agenda da reforma nos países em desenvolvimento onde a adopção de políticas económicas neo-liberais era a condição exigida para ter acesso à ajuda ao desenvolvimento. Dadas as condições da crise em que estes países se encontravam, eles não tinham a musculatura suficiente para resistir à pressão, por isso, tiveram que adoptar as reformas mesmo que estas não fossem adequadas. As pressões exercidas geraram uma nova abordagem sobre as causas dos fracassos nos serviços públicos. Tradicionalmente, os fracassos na prestação de serviços eram vistos como sendo problemas de organização que requeriam uma liderança política e uma gestão determinada. A nova abordagem atribui os problemas à natureza do governo. O governo, tinha chamado a si demasiadas responsabilidades e havia-se tornado demasiado grande – a solução era reduzir o seu tamanho. O movimento da reforma dos serviços públicos que havia sido encabeçado pelo Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia esteve coberto da necessidade de pensar de forma diferente sobre o papel do governo no contexto da governação social. Foram tomadas medidas que tinham como objectivo fazer com que o Governo deixasse de ser o principal veículo para atingir o desenvolvimento socio-económico para se tornar um meio de direcção e facilitador do processo de de9 Economia, Política e Desenvolvimento senvolvimento. Os pacotes que constituíram as intervenções da reforma para alcançar a concepção anterior do papel do governo, incluíam: • Um governo com um enfoque na formulação de políticas, estabelecimento de padrões e regulamentação dos outros actores. • Uma maior partilha de responsabilidades de desenvolvimento e prestação de serviços com actores não governamentais através da privatização, contratação e arranjos de parcerias, e • Uma descentralização da responsabilidade da provisão de serviços a instituições de governo locais controladas pelos cidadãos ou a agências autónomas subsidiárias do governo. Os países pioneiros da reforma reconheceram que a redefinição do papel do governo, em si mesma, poderia resultar na melhoria da prestação de serviços, por isso, adoptaram um número de reformas paralelas e correspondentes dentro do governo central. Os temas mais comuns neste aspecto são: • Adoptar medidas de reformas de modo a garantir que o Governo tenha a capacidade de eficientemente jogar o seu novo e principal papel de desenvolver políticas e estabelecer um regime regulatório sólido. • Adoptar medidas com o objectivo de distinguir as responsabilidades políticas e de gestão dentro das novas estruturas públicas. Isto inclui a separação da actividade de formulação de políticas de implementação, como um meio de reforçar a prestação de contas. Na Austrália, Reino Unido e Nova Zelândia, este aspecto está relacionado com a criação de agências executivas, que podem operar em extensão a partir de ministérios, sem que sejam constrangidas por regras burocráticas. • Adoptar pensamento diferente sobre o pessoal. Esta medida exige a revisão das políticas tradicionais de gestão dos recursos humanos do sector público, apoiada por uma monitoria apertada dos números totais de funcionários e custos, acompanhada de um processo consciente de comprometimento dos funcionários no processo de mudança. Na Nova Zelândia, por exemplo, os funcionários, especialmente a nível superior, passaram a ser recrutados em termos de contrato, ao invés do sistema de emprego para toda a vida que vigorava no passado. • Adopção de medidas do sector privado, de modo a fazer com que as instituições de prestação de serviços do sector público pensassem sobre as necessidades dos utentes e fazer com que estas instituições prestassem contas a estes mesmos utentes, através da adopção da carteira de clientes e de cidadãos, tal como no caso da Nova Zelândia e do Reino Unido. • À medida que os governos se distanciam da preocupação de fazer coisas para se virarem para a preocupação de assegurar que as coisas sejam feitas, o enfoque tem-se afastado dos processos formais para se direccionar cada vez mais para o alcance de resultados. Esta mudança notável no estilo de gestão, denominada ‘empresariado governamental’, tem sido muito forte nos países desenvolvidos e, até certo ponto, nos países recentemente industrializados. Durante a década de 90, a revisão e análise dos resultados destas reformas sobre a prestação de serviços nos países desenvolvidos produziu marcos muito elevados. Os serviços públicos de saúde e do sector da educação melhoraram no Reino Unido sob a política/ 10 Economia, Política e Desenvolvimento instrumento “next steps”. Por seu turno, a introdução dos contratos com base no desempenho na Nova Zelândia resultou numa melhoria notável, como mostram os estudos levados a cabo sob os auspícios da Commonwealth Association for Public Administration Management (CAPAM), nos meados dos anos 1990 (Kaul:1995). Os cidadãos estavam satisfeitos com os resultados, o que é ilustrado pelo facto de a Senhora Margareth Thatcher ter sido Primeira-Ministra do país por três mandatos consecutivos. No entanto, a situação em termos de benefícios resultantes da reforma não é linear. Duas décadas após o seu início, os resultados das avaliações são variados. Primeiro, sob a tendência geral dirigida a estruturas administrativas ‘leaner and meaner’, existem muitas correntes na direcção oposta. A liberalização económica traz consigo uma demanda aumentada de actividades regulatórias. Igualmente, uma pressão forte direccionada a serviços orientados para o utente pode resultar em exigências de mais ao invés de menos governo, com uma ênfase sobre a transparência e prestação de contas ao invés do tamanho do governo. Este foi o caso no Reino Unido, tal como o Governo Trabalhista veio a perceber quando tomou o poder em 1997. Em segundo lugar, a separação da actividade de formulação de políticas de implementação tem trazido desafios relativos à prestação de contas entre os políticos e os secretários permanentes, por um lado, e por outro, os chefes executivos de agências autónomas. Sobre este dilema a questão que se colocava era de saber quem fica com os louros quando as coisas correm como deve ser e quem deve ser culpabilizado quando elas correm mal? Será o formulador de políticas ou o implementador? A questão continua sendo um grande ponto de interrogação para os países pioneiros da reforma no sector público e levanta questões sobre a eficiência das agências executivas como instrumentos de governação nos países democráticos3. Em terceiro lugar, as reformas relativas à contratação de funcionários públicos seniores e à troca de funcionários entre os sectores privado e público estão a trazer maiores desafios aos valores e tradições do sector público, incluindo a possibilidade de um princípio de cometimento sobre uma neutralidade e anonímia do sector público. Mais subtilmente, as reformas são vistas como tendo subestimado os produtos menos tangíveis do sector público, tais como o aconselhamento sobre políticas, regulamentação e manutenção da lei, que estão em segundo plano em relação à preocupação concreta que se tem com a prestação de serviços. 3 - Como aconteceu no Reino Unido, quando presos escaparam da prisão em 1996 e os ministros e o Chefe dos Serviços Prisionais se acusaram mutuamente, cada um dos partidos dizendo que a culpa não era sua.. 11 Economia, Política e Desenvolvimento A resposta dos Países em Desenvolvimento à Crise dos Anos 1980 Como foi referenciado atrás, as respostas políticas dos países em desenvolvimento à crise económica dos anos 80 foi forjada pelos doadores, na sequência das estratégias de reformas neo-liberais, que foram sendo seguidas nos países desenvolvidos. As opções políticas principais giraram à volta da redução do papel do governo e da criação de actores não governamentais no processo socio-económico e de governação. A adopção de tais políticas de resposta a crise no sector público foi baseada na premissa de que esta emergiu do crescimento e da expansão demasiada do Estado e, por conseguinte, a solução da crise passava pela contenção e redução dos gastos públicos. Neste sentido, as medidas tomadas incluem o controlo do crescimento da despesa pública, reduzindo os custos operacionais relativos à gestão das operações governamentais e contendo as despesas com os salários. As medidas relativas à contenção das despesas com os salários incluíram i) fazer avaliações funcionais, ii) recensear os serviços públicos para detectar “funcionários fantasmas”, iii) reforçar o estabelecimento de controlo sobre os pagamentos de modo a prevenir o aumento anual de funcionários e a proliferação de orçamentos atinentes a folhas de pagamentos. Foram também feitos esforços para reduzir a proliferação de subsídios, incorporando-os, na medida do possível, no pagamento e aumento da remuneração total. As medidas relacionadas com este aspecto incluíram a privatização das empresas públicas ou o seu encerramento, quando não havia compradores, incluindo aquelas que providenciavam serviços estratégicos. Se as reformas tiveram um impacto positivo na prestação de serviços nos países desenvolvidos, tal como vimos na secção anterior, nos países em desenvolvimento os resultados não foram positivos. Primeiro, nos países desenvolvidos as reformas foram sendo implementadas dentro de instituições do sector público consolidadas e estabelecidas, onde as instituições burocráticas do tipo Weberiano estavam plenamente desenvolvidas. As reformas tinham como intenção a resolução dos problemas da eficiência e eficácia das suas operações. Nos países em desenvolvimento, por outro lado, os sistemas de administração e as instituições do estado eram fracos e os quadros estruturais burocráticos não tinham ainda sido enraizados. Tentar remediá-los em tempo de crise apresentava uma grande probabilidade de gerar uma crise mais grave no sector público sem antes ser resolver o problema. Em segundo lugar, as medidas tomadas para reduzir o tamanho e as despesas do estado não foram sustentáveis. Muitos dos funcionários que foram alvo da redução estavam a trabalhar no sector de provisão de serviços – educação, saúde, fornecimento de água, etc. A sua redução resultou na deterioração dos padrões de prestação de serviços e veio numa altura em que a política liberalista estava à porta: os políticos tinham de reverter as suas decisões para sobreviver. Por exemplo, no Quénia, o número de crianças em idade escolar estava a crescer rapidamente, o que levou a que o congelamento em termos de contratação fosse removido apenas um ano após a imposição desta medida. No Ghana, as agências para-estatais e subsidiárias providenciaram uma porta de cavalo para a reentrada para o serviço governamental de funcionários que haviam sido despedidos dos ministérios e departamentos governamentais, os quais, na sua maioria, mantinham, os 12 Economia, Política e Desenvolvimento seus pacotes de indemnizações. Do modo como isto aconteceu, a redução dos números de funcionários públicos foi uma miragem. Mais importante ainda é que as medidas não só tiveram resultados desapontadores em termos do alcance dos objectivos pretendidos, como também, tiveram nalguns casos, um impacto adverso e desastroso sobre a saúde e a capacidade do sector público. Ao fazer com que as instituições públicas (em especial, as que são responsáveis pela saúde, educação, geração de emprego, manutenção da lei e ordem e justiça administrativa) ficassem sem agentes e recursos financeiros, tornou difícil a manutenção de padrões de qualidade na provisão de serviços. Mais ainda, para além da redução ou eliminação de incentivos estabelecidos para motivação do pessoal, os aspectos de custo-efectividade do sistema da administração pública, agravaram a crise de valores éticos e fragilidade do sentido de responsabilização agravaram a crise no sector público que os países africanos já vinham enfrentando. No momento crucial das reformas do sistema da administração pública que os serviços testemunharam um aumento de actividades desenvolvidas a nível do sector informal, inflação da moeda e nos preços dos produtos da primeira necessidade, suborno e corrupção (Balogun, 1989). As reformas no sistema da administração pública foram responsáveis pelo desmantelamento das instituições de serviços públicos sem deixar quaisquer alternativas viáveis (Adedeji, 1992a). As Reformas do Sector Público na África Austral e Oriental: Questões e Desafios Os resultados desapontadores do programa de ajustamento estrutural conduzido pelas reformas nos países em desenvolvimento fizeram com que, os governos e doadores repensassem no final do Século XX, se o quadro de reformas era apropriado para resolver os problemas de provimento de serviços do sector público nos países em desenvolvimento. No Relatório de Desenvolvimento Mundial publicado em 1998, o Banco Mundial admitiu que tinha errado ao concentrar-se no desmantelamento das instituições. A África precisava de construir instituições ao invés de destruí-las. No início do ano 1989, no auge da implementação da reforma do sector público um estudo perspicaz conduzido por Mutahaba at all (1989), já havia levantado preocupações relacionadas com as razões de África estar a destruir os alicerces da burocracia antes de ter tido a oportunidade de desenvolver e tornar-se eficientes (Mutahaba et all, 1989). Tendo tirado lições desta experiência amarga, no dealbar da década 2000-2010, muitos países em desenvolvimento, maioritariamente africanos, perceberam que tinham de repensar as suas estratégias de reforma no sector público. Nesta secção revisitam-se às tendências emergentes nas abordagens dos países em desenvolvimento para a reforma do sector público, prestando atenção particular aos países da África Austral e Oriental. O autor do artigo liderou entre os anos 2005/2006 um projecto de investigação sobre o estágio das reformas do sector público a nível da África Austral e Oriental, o qual envolveu investigadores e peritos da região, incluindo Moçambique. Este artigo apresentase como uma oportunidade de partilhar os resultados com os líderes do sector público de Moçambique, funcionários, estudantes, pesquisadores e académicos. O estudo comparativo teve como objectivo responder às seguintes questões: 13 Economia, Política e Desenvolvimento • Quais são as forças motrizes que guiam as reformas do sector público nos países em desenvolvimento? Haverá alguma tendência emergente nesses países? • Quais são os principais enfoques estratégicos que a reforma quer atingir e como é que estes estão relacionados com o quadro da Nova Administração Pública? • Até que ponto a agenda da reforma é concebida internamente ou dirigida pelos doadores? • Até que ponto a gestão das reformas é pertença dos países e que arranjos foram feitos de modo a melhorar a administração local? • Até que ponto as reformas planificadas estão a ser implementadas e como é que o nível de eficiência pode ser explicado? • Estarão as reformas a produzir algum impacto sobre a eficiência e eficácia da prestação de serviços públicos? • Qual a classificação destes 10 países? • Como se podem explicar as variações em termos de eficácia de implementação das reformas? Cobertura e Enfoque: Comparação dos Países As tabelas 1 e 2 reflectem as respostas por país no tocante à prioridade atribuída às questões da reforma no sector público, em 2001 e 2005, respectivamente. Os números indicam que os dez países estão de modo progressivo a distanciar-se do enfoque posto na contenção de gastos e o alcance de um governo orientado para responder às preocupações relativas à melhoria da prestação de serviços públicos. Enquanto em 2001, todos os países classificavam as medidas de contenção de custos (controlo do emprego, privatização e desenvolvimento do sector público) como uma prioridade, já em 2005 apenas três dos dez países atingiram uma alta classificação na categoria deste indicador. Por outro lado, em 2005, todos os países não só deram uma prioridade elevada à melhoria da prestação de serviços públicos, como também mais de 80% deles fez da realização das reformas do sector público o seu principal objectivo. 14 Economia, Política e Desenvolvimento Tabelas 1 e 2: Classificação do Enfoque sobre a Reforma do Sector Público por País – 2001 15 Economia, Política e Desenvolvimento No entanto, as discussões – bem como as evidências resultantes das visitas de campo –, revelam que existem grandes variações entre as intenções de levar a cabo reformas, tal como está patente nos documentos oficiais, e a sua implementação. A tabela 3 apresenta informação sobre o âmbito e cobertura das reformas dos serviços públicos em dez países estudados em 2005. Existem alguns países onde o cometimento prevalece apenas no papel, enquanto noutros as respectivas medidas foram implementadas de modo intensivo. Na secção que segue, fazendo uso de dados da tabela 3, faz-se a avaliação do grau de envolvimento dos países participantes nas áreas mais importantes da reforma, incluindo uma avaliação dos níveis da intensidade de implementação. Os elementos da reforma são agrupados sob os seguintes sete subtítulos: • Reformas básicas ou fundamentais, incluindo a reestruturação e o controlo do tamanho e custo dos serviços públicos; • Melhoramento da prestação de serviços em resultado das reformas; • Reformas para reforçar a boa governação; • Descentralização e governo local; • Exploração das Tecnologias de Informação e Comunicação; • Incentivos e reforma salarial; • Procura de economia e controlo de gastos. Tabela 3 Enfoque do PSRP Sub-enfoque Ruanda Quénia Malawi Moçambique África Tanzânia Uganda Zâmbia Namíbia Botswana do Sul Reformas Racionalização & Reestruturação básicas/fundamentais de ministérios. 3 1 1 1 3 3 2 1 2 3 3 1 1 1 0 3 1 1 2 3 1 1 1 0 3 3 1 1 2 2 2 1 1 1 3 3 2 1 2 3 3 1 1 1 2 3 1 1 1 1 0 1 1 1 3 3 1 1 2 3 0 1 1 0 3 3 2 1 1 2 2 1 1 1 3 2 1 2 3 3 1 1 1 1 3 3 2 1 2 3 1 Racionalização de agências públicas Reforma da formulação de políticas / processos do Conselho de Ministros/Governo Gestão dos sistemas de informação/registos Melhoria da Privatização das empresas prestação de serviços públicas Resultados orientados para a gestão/melhoria do desempenho Parceria Público-Privado Melhoria da capacidade dos recursos humanos Desenvolvimento da Liderança & Gestão Reformas para Representatividade & acção reforçar a boa afirmativa governação 1 1 1 1 3 3 3 1 1 Democratização 2 1 1 1 3 2 2 2 1 1 Anti-Corrupção 2 1 2 1 2 2 1 2 1 1 Reforço das instituições do 1 1 1 1 2 2 2 1 1 1 governo Descentralização e governo local Descentralização/reforço do 2 1 1 1 3 2 2 1 1 1 2 1 1 1 3 2 2 1 2 3 2 1 1 1 2 2 1 1 2 3 governo local Exploração das Governo electrónico Tecnologias de Informação e Comunicação Incentivos e Incentivos & pagamento da pagamentos reforma 16 Economia, Política e Desenvolvimento A Tabela mostra os níveis intensivos e a consistência da implementação das reformas nos países; 0 significa que não houve acção, enquanto 3 significa o nível mais alto de acção. Enfoque sobre reformas básicas ou fundamentais Muitos países continuam a braços com as reformas básicas, o que o Banco Mundial designa de ‘reformas dos fundamentos do sistema administrativo público – “reform of the fundamentals of the public administrative system” (David Steadman, 2001). Isto envolve o controlo de números e custos do emprego no sector público. Por um lado, tal implica o desenvolvimento e a instalação de sistemas que asseguram a racionalização das despesas públicas e da mão-de-obra. Por outro lado, apesar de muitos países conseguiram passar teoricamente de um nível de reformas de ajustamento estrutural lideradas pelas Instituições de Bretton Woods, as quais tinham como base a redução dos serviços públicos, poucos destes conseguiram estabelecer mecanismos eficientes de controlo do crescimento e custo do emprego no sector público. O falhanço resulta do retrocesso dos ganhos respeitantes à redução do tamanho do sector público. Os serviços públicos que haviam sido reduzidos voltaram a alargar-se. O Quénia e o Uganda são casos notáveis, onde a recente expansão do emprego no sector público pode ser um indicador do regresso à era do fenómeno do ‘funcionário fantasma (Oyugi, 1994). No entanto, quatro países Botswana, Moçambique, Namíbia e Tanzânia, tomaram medidas muito firmes para controlar o crescimento do emprego no sector público. As medidas parecem estar a surtir um efeito relativamente eficaz. Na Namíbia, por exemplo, todos os novos postos de trabalho têm de ser aprovados a nível central. Embora este processo cause ocasionalmente algumas demoras, parece que está a funcionar sem sobressaltos. Na Tanzânia, a aprovação para o estabelecimento de postos de emprego financiados no seu todo pelo sector público é feita a nível central todos os anos e durante o processo de elaboração do orçamento. Contudo, antes que os postos sejam ocupados, é exigida uma adicional autorização central. Mais ainda, o posto de emprego e a gestão do seu pagamento são monitorados através de Sistema Informático de Gestão de Informação de Capital Humano (Human Capital Management Information System - HCMIS), que é controlado conjuntamente pelo Gabinete do Presidente – Gestão do Sector Público – e pelo Ministério das Finanças. Esta medida fez com que o problema relacionado com “funcionários fantasmas” se tornasse coisa do passado. O outro elemento da agenda da reforma básica que é transportado dos tempos da contenção de custos do ajustamento estrutural é a racionalização e reestruturação dos Ministérios, Departamentos e Agências. Quase todas as apresentações relataram que, apesar das decisões de descentralizar e ter ministérios centrais concentrados no desenvolvimento de políticas, estabelecimento de padrões para avaliação e monitoria, as sedes dos ministérios ainda são desnecessariamente pesadas. No Uganda, existem mais de setenta ministros, o mesmo acontece no Quénia onde depois da remodelação do Governo constituiu-se um governo com mais de setenta ministros. Na Tanzânia, há críticas que dizem que, após as recentes eleições, o Presidente não deveria ter nomeado um governo com sessenta 17 Economia, Política e Desenvolvimento ministros e vice-ministros, numa altura em que a implementação deveria estar a ser feita a nível do governo local. Melhorias na Prestação de Serviços face à Reforma Uma outra área fundamental e comum da reforma em que os países em questão estão empenhados é a que envolve a adopção e introdução de uma multiplicidade de medidas tendentes a melhorar a prestação de serviços. Estas medidas derivam de um número de factores, em que se incluem a necessidade de mostrar ganhos visíveis resultantes da reforma, após as perdas impostas pelo período de reforma e ajustamento estrutural, respondendo assim à demanda pública que clamava por uma responsabilização e prestação de contas, transparência, influência das ‘novas ideias de reforma da gestão do sector público, bem como mudança para uma economia de mercado e um desenvolvimento económico liderado pelo sector privado, dentre outros aspectos. Um tecto comum da reforma que tem sido adoptado pela maioria dos países é o Sistema de Gestão do Desempenho. O seu objectivo é o de melhorar a prestação de serviços através de um quadro de gestão de desempenho orientado para resultados e numa cultura de enfoque nos resultados ao invés de processos. A chave reside na medição dos resultados e numa abordagem estratégica da planificação. Este sistema providencia um quadro de alocação de recursos, prestação de contas, monitoria e avaliação do desempenho. O sistema de avaliação de desempenho não é apenas a chave para o desempenho com recursos limitados, é também a chave para a produção de relatórios para o governo. Este sistema integra os planos, os recursos e as actividades num único conjunto, tornando a prestação de contas mais fácil. Os elementos chave do sistema de avaliação do desempenho consistem no estabelecimento de metas, resultados, indicadores de desempenho e de monitoria. Contudo, a situação no terreno está aquém do ideal, dado que a maior parte dos países parece ter adoptado partes e pedaços do quadro de avaliação de desempenho e não tem uma abordagem integrada para a sua implementação. O Uganda, por exemplo, reclama ter um quadro de avaliação de desempenho operacional, existem questionamentos de que estes não estejam atingindo os níveis ministeriais e distritais. De acordo com Byarugaba, não existe uma evidência plausível, a nível do topo da liderança do Uganda, concernente à sua compreensão ou ao seu cometimento relativamente ao quadro da avaliação de desempenho, e em nenhum momento o Governo alocou recursos tangíveis para suportar a implementação deste mecanismo (Byarugaba, 2005). Bwalya observa que apesar da Zâmbia ter iniciado a implementação de um conjunto de reformas no final dos anos 1990, até agora apenas o plano estratégico se tornou evidente e firmemente estabelecido nos ministérios. Mesmo assim, os exercícios foram considerados inconsequentes, pois os planos são raramente implementados, devido ao financiamento ad hoc e inadequado adoptado ao longo do processo de aprovação (Byarugaba, 2005). Apesar da fragilidade dos sistemas de avaliação dos funcionários públicos países como Botswana, Tanzânia e África do Sul alcançaram sucessos relativos. O Governo do Botswana tornou o sistema de avaliação de desempenho como principal instrumento para o alcance dos objectivos do país plasmados na Visão 2016 – e na sua agenda nacional 18 Economia, Política e Desenvolvimento de desenvolvimento. O Governo aprovou a implementação, o Chefe de Estado lançou este projecto à nação e fez pronunciamentos concernentes ao cometimento e à produção de resultados com base em metas, e os ministros estão neste momento preocupados em garantir a implementação deste quadro nos seus ministérios. Todo o Conselho de Ministros participou num workshop que tinha como objectivo capacitar os membros a perceber e analisar o sistema de avaliação de desempenho. Para além disso, o Parlamento para além de aprovar do orçamento foi lhe atribuído a responsabilidade de apreciar o sistema de avaliação de desempenho do pessoal na função pública. De modo a reforçar a eficácia do sistema de avaliação de desempenho foi adoptado um conjunto de instrumentos. Estes incluem um sistema de premiação baseado no desempenho (performance based reward system - PBRS), que liga o desempenho aos prémios e reconhece ambos, quer a nível individual, quer a nível institucional, contratos de emprego que pretendem gerir o desempenho e o baixo desempenho a nível sénior e proporcionar flexibilidade ao Governo para que este possa estender estes mesmos níveis, bem como o cartão de registo de equilíbrio e mapas de estratégia. A Tanzânia decidiu adoptar o quadro referente ao sistema de administração com base no desempenho como o instrumento fulcral para o programa da reforma do sector público, que foi lançado pelo Presidente em 2001. As outras componentes do programa de reforma do sector público, incluindo a adopção de princípios meritocráticos na gestão da coisa pública, têm como objectivo apoiar o processo avaliação do desempenho do pessoal. Tal como no Botswana, os esforços têm como objectivo induzir melhorias na prestação de serviços pelas instituições públicas, fazendo com que elas se concentrem em resultados. O quadro e o seu instrumento auxiliar – a planificação estratégica – foram estabelecidos e estão, até um extremo significativo, a liderar e a guiar as operações do Governo. Contudo, tal como foi revelado por (Byarugaba, 2005) a adopção dos instrumentos que é a planificação estratégica foi inicialmente ensombrada pela sua não efectiva ligação ao exercício de alocação do orçamento, negando-se-lhe daí quaisquer impactos. Consequentemente, isto não permitiu que as medidas da reforma fossem levadas com a necessária seriedade. Esta situação já foi rectificada com a recente integração da planificação estratégica. A África do Sul investiu somas consideráveis de recursos financeiros na instalação de sistemas integrados de gestão com base em desempenho e instrumentos associados nas suas instituições públicas. Este país aborda a melhoria do desempenho usando o conceito de Bantho Pele, que significa ‘o povo primeiro’, o qual também vê os cidadãos como clientes. Este instrumento está a produzir bons resultados no que toca à prestação de serviços. Mesmo assim, tal como acontece com qualquer inovação, o Relatório Governamental sobre o Sector Público (2005) parece trazer dúvidas sobre se o Bantho Pele está mesmo a produzir bons resultados na melhoria da prestação de serviços, porque o enfoque dos Relatórios Departamentais, que são a principal fonte de dados na preparação do Relatório sobre o Estado do Sector Público, tende a prestar mais atenção ao processo e às actividades, ao invés de se centrar no desempenho e nos resultados (Kuye, 2006). 19 Economia, Política e Desenvolvimento Reformas para Reforçar a Boa Governação Reconhece-se agora que existe uma ligação entre as reformas do sector público e a boa governação. Um elemento primário da boa governação é garantir que o cidadão tenha uma opinião sobre como está a ser governado, isto é, ter um quadro democrático em funcionamento aos níveis nacional e local, e, criar espaços para que os cidadãos possam dizer quais os serviços de que precisam e quais os padrões de qualidade desses mesmos serviços. Isso significa fazer com que os provedores de serviços sejam responsabilizados pela prestação dos mesmos aos cidadãos. Os países reclamam que têm como parte das suas reformas, uma agenda para aumentar o âmbito do reforço da boa governação. Para não variar, as medidas incluem o estabelecimento de sistemas de governação descentralizados abaixo do nível central, quer através de sistemas federais de governação, como na África do Sul, quer através da devolução da governação e das responsabilidades concernentes à prestação de serviços aos governos locais, como foi feito no Uganda, na Tanzânia, no Quénia e no Ruanda. Contudo, dos quatro países, o Uganda parece ser o que está a implementar a descentralização através da política de devolução com mais eficiência. Mais ainda, os outros países, incluindo a Zâmbia, o Malawi, a Tanzânia e o Quénia, têm uma agenda para a descentralização do poder para as áreas locais, mas, na prática, as medidas parecem ter como objectivo a criação de oportunidades para que o centro possa sondar a opinião dos cidadãos e tomar decisões controladas a nível central, dando uma imagem de que houve consulta às bases ou participação destas a nível local, ao invés de partilhar o poder com elas. Muitos arranjos desta natureza não envolvem a partilha com as autoridades locais das decisões sobre os impostos ou matérias sobre a alocação de recursos, bem como a contratação ou despedimento de funcionários. Na Zâmbia, por exemplo, as instituições para a descentralização foram estabelecidas sem ter um cunho legal sólido, uma situação que reduziu a sua autoridade e enfraqueceu a sua capacidade de levar a cabo actividades para o desenvolvimento local (Byarugaba, 2005). Como parte dos esforços para reforçar a boa governação, muitos países, incluindo a Namíbia, a África do Sul e a Tanzânia, têm vindo a aprofundar os mecanismos para tornar as instituições de serviços públicos e seus oficiais responsáveis perante os cidadãos, quer de modo directo (através de instrumentos como a carteira de serviços ao cliente, etc.), quer indirectamente (através de relatórios ao Parlamento). Já foram tomadas as medidas para reinstituir a conduta ética, a integridade e a credibilidade dos serviços públicos, que estão sob três áreas gerais. A primeira foi a introdução de um novo ou melhorado código de conduta ética na Tanzânia, no Uganda e na África do Sul. Como parte dessas medidas no Uganda, o gabinete do Inspector-geral do Estado – que faz a supervisão e controlo das actividades dos oficiais do governo para verificar transgressões e excessos não éticos – continuou a fazer um trabalho louvável, embora haja reclamações segundo as quais, nos últimos tempos, o gabinete tem relaxado a sua vigilância (Byarugaba, 2005). Em Segundo lugar, a prestação de contas e a transparência no que tange à maneira como os recursos públicos são usados expandiu-se para além das preocupações relativas as preocupações tratadas pelos sectores de Inspecção ou Auditor Geral. 20 Economia, Política e Desenvolvimento Elas incluem hoje questões de equidade, valor para o dinheiro e uso de recursos de modo a obter resultados. O exemplo mais ilustrativo vem da Tanzânia, onde os intervenientes são envolvidos no processo de elaboração do orçamento através do mecanismo apropriados, bem como através da publicação dos desembolsos financeiros para os governos locais. No Botswana, ao gabinete do Inspector/Auditor Geral foram alocados mais recursos, quer em termos de pessoal, quer em termos financeiros, e está a fazer auditorias para apurar o valor do dinheiro aplicado, para além de dar enfoque à provisão financeira. Terceiro, as medidas para reforçar a prestação de contas por oficiais públicos seniores, que apenas poucos países haviam mencionado ter adoptado nos princípios dos anos 2001, estão agora a ser activamente utilizadas em muito mais países. Estas medidas incluem a eliminação faseada das progressões nas carreiras profissionais com base no tempo de serviço e a introdução de contratos de tempo determinado baseados no desempenho – um afastamento dos antigos sistemas de avaliação de pessoal baseados em relatórios subjectivos e confidenciais fechados para abrir sistemas participativos e objectivos. Enquanto em 2001 apenas o Uganda e o Zimbabwe haviam relatado ter elementos concernentes às medidas acima mencionadas, em 2005, outros países, incluindo a Tanzânia, a África do Sul e o Malawi, relataram ter adoptado alguns dos elementos ou então estar em processo de se movimentarem nessa direcção. Porém, em certos países a realização dos objectivos pretendidos é constrangido pelo ambiente político, gestão de aspectos culturais e fracos pacotes de incentivos. Devido a este facto, tal como Kithinji Kiragu sugere, a sua adopção poderia, a certa altura, tornar-se contraproducente ou resultar em consequências não intencionadas. Descentralização, Governo Local e Pluralismo Institucional na Prestação de Serviços As reformas nesta área incluem o estabelecimento de sistemas de governação descentralizados abaixo do nível central, quer através de sistemas de governo federal, quer através da devolução da governação e responsabilidades pela prestação dos serviços públicos aos governos locais, através da transferência das responsabilidades de prover serviços para as agências autónomas, bem como através do trabalho em parceria com o sector privado e organizações não governamentais. Quanto à adopção de arranjos de governação descentralizados, eles parecem estar a ganhar mais popularidade do que em 2001. Enquanto em 2001 apenas poucos países haviam adoptado arranjos federais (África do Sul) ou arranjos de descentralização efectiva (Uganda e Gana), recentemente, certos países, que incluem Malawi, Quénia, Tanzânia, Ruanda e Zâmbia, têm uma agenda de descentralização do poder para o governo local. Contudo, a situação no terreno não condiz com a retórica. Com a excepção do Uganda, da Tanzânia e da África do Sul (que é um caso único), as medidas de descentralização parecem ter o objectivo de criar oportunidades para o centro co-optar os cidadãos para um arranjo de tomada de decisões controlado a nível central, de modo a dar uma imagem de consulta e participação, ao invés de partilhar o poder de modo equilibrado com o governo local. Muitos arranjos desta natureza não envolvem a partilha com as autoridades locais das decisões sobre os impostos ou matérias sobre a 21 Economia, Política e Desenvolvimento alocação de recursos, bem como a contratação ou o despedimento de funcionários. Na Zâmbia, por exemplo, as instituições para a descentralização foram estabelecidas sem ter um cunho legal sólido, uma situação que reduziu a sua autoridade e enfraqueceu a sua capacidade de levar a cabo actividades para o desenvolvimento local (Byarugaba, 2005). A criação de Agências Executivas para provimento de serviços públicos também captou a atenção dos países e tem sido hoje em dia uma medida muito popular. O Uganda, a Zâmbia e a Namíbia estabeleceram Agências Executivas para lidar com o provimento de serviços nas obras públicas, na saúde e na educação. A Tanzânia foi provavelmente quem deu passos mais visíveis nesta direcção nos anos 2001 e 2005, tendo estabelecido mais de vinte e cinco agências similares até Novembro de 2005. Isto melhorou os níveis dos serviços públicos de modo significativo (Governo da Tanzânia, 2004). Uma outra área que veio à ribalta nos tempos recentes e que mostra ter um grande potencial para melhorar a prestação de serviços é o envolvimento do sector privado no desempenho de funções não nucleares para o governo na prestação de serviços públicos. Embora todos os países tenham iniciado a aplicação destas medidas, a África do Sul e a Tanzânia são os que têm sido mais activos e têm o maior número de iniciativas neste âmbito. Neste sentido, uma recente avaliação à implementação das reformas no sector público realizada na Tanzânia, mostra que os arranjos resultaram numa melhoria na qualidade dos serviços prestados, para além de libertar os gestores dos serviços públicos dessas ocupações diárias, dando-lhes tempo para se concentrarem no desenvolvimento de políticas. Exploração das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) Desde 2001 que a África do Sul está muito avançada em relação aos outros países na aplicação da Tecnologia de Informação para melhoria das operações e o desempenho das instituições do sector público. Só a África do Sul é que desenvolveu uma estratégia que é hoje conhecida como sendo o e-government ou governo electrónico. Quatro anos depois, todos os governos deram alguns passos com o intuito de explorar e dominar as tecnologias de informação e comunicação – TIC –, mas essas medidas ainda estão concentradas no uso de computadores de mesa (desktop) para substituir as máquinas de dactilografar e informatizar o pessoal e os sistemas de gestão financeira. Os países que desenvolveram grandes estratégias para a aplicação das TIC de modo a melhorar as operações governamentais e a prestação de serviços são a África do Sul (que iniciou cedo), a Tanzânia, o Quénia, o Uganda, o Botswana e a Namíbia. A Tanzânia informou aos outros participantes que o Conselho de Ministros havia aprovado uma política e uma estratégia de desenvolvimento do e-government, que é gerida a partir do Gabinete do Presidente. O trabalho concernente ao desenvolvimento de infra-estruturas, incluindo o edifício para a sede do e-government e as capacidades relacionadas com os recursos humanos já havia sido iniciado. A Namíbia estabeleceu um quadro de e-government sob a égide do Gabinete do Primeiro22 Economia, Política e Desenvolvimento Ministro, de modo a oferecer uma plataforma abrangente para facilitar o acesso e a partilha de informação de uma maneira transparente. Incentivos e Reforma Salarial A questão da reforma salarial foi listada pelos países participantes como um item no topo da agenda. Com a excepção da África do Sul, da Namíbia e do Botswana, o pagamento de salários baixos no sector público continuava a ensombrar os outros esforços feitos no âmbito da reforma, incluindo a capacitação institucional, a gestão do desempenho, e tal factor foi destacado como sendo responsável pelo aumento da prática da pequena corrupção em quase todos os países. A Tanzânia adoptou recentemente uma política e estratégia de reforma salarial a médio prazo, e parece que o país está disposto a resolver o problema. Muitos países, incluindo Gana, Quénia, Malawi, Moçambique, Uganda e Zâmbia estavam no processo de realização de estudos ou a caminhar nesse sentido para apoiar o desenvolvimento de políticas na área de reforma salarial. Quatro anos depois, os estudos planificados foram realizados em todos os seis países. Neste momento, o Botswana, a Zâmbia, o Malawi, a Tanzânia, o Quénia e o Ruanda adoptaram políticas de reforma salarial para o sector civil ou público. Contudo, a tradução dos documentos em acções aconteceu apenas no Botswana e na Tanzânia, enquanto o Ruanda deverá iniciar a sua implementação a qualquer momento (Ted Valentine, 2005). É significativo notar que mesmo a Tanzânia, que nos últimos cinco anos tem mostrado estar a prosseguir na agenda salarial de modo estável, no âmbito da reforma da política salarial a médio prazo, o percurso tem sido difícil nos últimos tempos e a suplementação do Selective Accelerated Salary Enhancement (SASE) para pagar os graus profissionais, técnicos e de gestão está confinado a quatro ministérios, e o seu futuro é indefinido. Apesar destes reveses, o governo continua seriamente comprometido com a reforma salarial, tal como ficou evidente quando o Presidente disse que “reforçar o salário para os funcionários do sector público será a prioridade principal do seu regime (“enhancing pay for public service employees is going to be a major priority of his regime”)” (URT, 2005). Procura de economia e redução de gastos Todos os países são pobres, excepto a África do Sul, o Botswana e a Namíbia, até certo nível, e são significativamente dependentes dos doadores para financiar as reformas do sector público, bem como o seu desenvolvimento em geral. Dada a situação, poder-seia esperar que estes países adoptassem medidas para economizar o uso de recursos e controlar o esbanjamento. Alguns países tomaram, em algumas ocasiões, medidas esporádicas para controlar os custos de transportes (Botswana, Tanzânia, etc.). O único país que tomou medidas para lidar de modo sistemático com o esbanjamento de recursos públicos é o Ruanda, que tomou três medidas sólidas. A primeira, lida com o transporte do governo – onde toda a frota de transporte do governo foi leiloada e espera-se que os oficiais públicos usem os seus próprios veículos para assuntos pessoais e de serviço, providenciando o governo um subsídio para tal. A medida poupou ao Estado milhões de dólares americanos no seu primeiro ano de implementação. 23 Economia, Política e Desenvolvimento A segunda medida, relaciona-se com a habitação para os funcionários públicos. Tradicionalmente, o Governo providencia habitação aos oficiais seniores, o que se torna dispendioso, pois as casas não são geralmente muito bem mantidas e perdem o seu valor de mercado muito rapidamente. As inovações incluíam leiloar todos os edifícios governamentais e facilitar a compra destes imóveis pelos funcionários públicos que neles habitavam. Espera-se que o esquema poupe milhões de dólares ao governo e acrescente valor no que toca à motivação dos funcionários públicos. Apesar de os outros países terem tomado medidas variantes das acima expostas, elas não têm sido sistemáticas. A medida final, está relacionada com espaços para acomodar escritórios. Esta medida envolve a consolidação de todo o espaço sob a gestão do Ministério das Infra-estruturas e o arrendamento de tais espaços a outros ministérios a preços competitivos. Esta medida instigou o sentido de economia entre os ministérios, e quase todos ocupam agora metade dos espaços que antes usavam. Os ministérios que arrendavam espaços de privados passaram para edifícios pertencentes ao Estado. Explicação das Variações da Eficiência na Implementação O facto de todos os dez países subscreverem as mesmas questões gerais da reforma não é surpreendente e tal factor é consistente com outros países que têm o mesmo nível de desenvolvimento em outras partes do mundo. As reformas são indispensáveis se os dez países quiserem alcançar os objectivos de desenvolvimento do milénio. Porém, existe uma variação sonante entre os vários países no que toca aos níveis de seriedade ao abordar estas reformas. A África do Sul parece ser um caso aparte, comparada com os outros, em termos da variedade das reformas que estão a ser levadas a cabo neste país e da intensidade dos esforços postos nessas reformas. Existem duas razões principais que justificam esta situação. Primeiro, tendo sido libertada há muito pouco tempo, a África do Sul teve de embarcar em múltiplas reformas para resolver os problemas herdados do Apartheid e dar início à construção de uma nova nação. Quando os outros países se tornaram independentes, tiveram a mesma atitude de atacar com vigor e determinação a reforma do sector público. No entanto, quando a África do Sul foi liberta, as suas circunstâncias eram peculiares. A sua administração foi balcanizada: consistente com a filosofia do Apartheid, a administração teve de ser integrada num único serviço, mas dentro de um quadro de sistema de governo federal. Consequentemente, foram necessárias actividades de reforma múltiplas, que causaram a impressão de que o país estava a atacar as reformas de forma mais séria e vigorosa do que os outros países, por um lado, e, por outro, pareceu que a sua abordagem da reforma era caótica. Contudo, em termos de eficácia, tal como se pode ver pelos dados colhidos em visitas de estudo ao terreno, realizadas pelos editores deste relatório, muitas das reformas pretendidas foram implementadas. Este facto é real, especialmente no que toca às medidas tomadas para integrar os vários serviços públicos da era do Apartheid e os esforços para melhorar a prestação de serviços e de contas. Segundo, a África do Sul teve uma melhor base de recursos para financiar as reformas em relação aos outros países e não hesitou em nenhum momento em fazer o seu uso. 24 Economia, Política e Desenvolvimento Em terceiro lugar, o regime tinha um elevado grau de legitimidade e podia daí tomar medidas mais ousadas, que um regime com menos garantias não podia tomar. No nosso ponto de vista, isto explica a razão por que a África do Sul foi capaz de prosseguir a sua agenda abrangente de reformas de modo mais consistente e com muito mais vigor, como tem vindo a fazer na última década. Existe um outro grupo de países, composto pelo Botswana, Tanzânia, Namíbia e mais recentemente o Ruanda, que continuou de modo sistemático a reforma. Enquanto estes países tentaram adoptar as reformas concernentes à Nova Administração Pública – NPM –, incluindo os sistemas de gestão com base no desempenho – PMS –, a carteira de clientes, etc., eles continuaram simultaneamente a tratar de questões básicas da reforma. Contudo, esforços concernentes à reforma estavam sendo implementados de uma maneira não coordenada, não integrada, o que tornou a sua gestão um tanto desajustada. As reformas foram realizadas e geridas do topo das hierarquias político-administrativas e tiveram lugar no ambiente político onde os governantes gozavam de algum nível de legitimidade, o que lhes permitiu dar passos ousados neste processo. Um outro factor é o facto de, durante a última década, os quatro países terem gozado de uma economia estável e boas relações com a comunidade internacional, o que lhes permitiu financiar as iniciativas da reforma a partir de suas próprias fontes ou apoios de parceiros de desenvolvimento que se presumem estáveis e previsíveis. Um terceiro grupo de países, composto pela Zâmbia, Malawi, Quénia e mais recentemente Uganda, tem encontrado dificuldades na sua agenda da reforma. Estes países têm um projecto de reforma muito bom, mas por um número de razões, os seus projectos parecem não estar a ser implementados de maneira sistemática, consistente e vigorosa. O zelo ugandês, que era muito alto até ao final dos anos 90, parece ter-se desvanecido possivelmente, devido à sua preocupação com questões de segurança nas regiões norte e ocidental do país. Este factor negou a possibilidade de os líderes políticos do topo se concentrarem na reforma, o que, por sua vez, reduziu a sua capacidade de angariar fundos para financiar as actividades da reforma a partir de fontes internas ou externas. A Zâmbia, o Malawi e o Quénia estão ensombrados pelos relativos níveis de instabilidade dos regimes, uma situação que tem, por sua vez, afectado a estabilidade das suas economias. Nestas circunstâncias, fazer com que haja recursos disponíveis para financiar a reforma de modo consistente tornou-se um luxo. O que está disponível vai para o financiamento de operações regulares do governo. Para além disso, onde os fundamentos macroeconómicos são problemáticos, torna-se também difícil garantir parceiros de desenvolvimento seguras para financiar a reforma. Tal como a África do Sul, Moçambique forma também a sua classe, na medida em que este país fez o menor número de movimentos de reforma comparativamente aos outros. Em papel, o país tem uma agenda da reforma esclarecedora, que inclui todas as mais recentes medidas da Nova Administração Pública – NPM –, mas, no terreno, muito pouco parece estar a ocorrer. Tal facto não deve ser surpreendente, dadas as pobres bases da sua infra-estrutura administrativa (em termos de capacidades e habilidades, infra-estruturas, etc.) desde a sua independência, associadas à grande destruição e distúrbios causados durante a guerra civil e uma baixa capacidade de recursos humanos e financeiros para 25 Economia, Política e Desenvolvimento manusear e lidar com os tipos de reforma mais inovadoras que o país formulou recentemente. Contudo, o seu falhanço em caminhar em direcção às medidas do tipo ‘nova administração pública propostas pode ser considerado uma bênção disfarçada, pois tem dado ao governo espaço para que se concentre numa reforma básica e adequada ao contexto. Conclusões do artigo Da reflexão feita torna-se plausível verificar que existe um número de condições e prérequisitos para as reformas no sector de serviços públicos nos quais se deve concentrar de modo consistente para daí atingir os resultados pretendidos. Primeiro, o reconhecimento da necessidade da realização da reforma deve ser partilhado pelos cidadãos, lideranças políticas e burocráticas. Quanto mais esta visão for partilhada, maiores serão as facilidades de sustentar as reformas ao longo do tempo. Segundo, o que pode estar relacionado com a condição anterior, é o facto de que esforços para uma reforma consistente só são possíveis quando o regime no poder tem um mínimo de legitimidade e espaço político para se concentrar numa agenda consistente da reforma, mesmo quando as reformas são duras. Terceiro, realizar reformas no sector público é um exercício caro que exige recursos. Uma economia instável e/ou estagnada não pode financiar reformas por um período sustentável e, por conseguinte, haverá retrocessos em situações destas. Por um lado, uma economia estável e/ou em crescimento pode conseguir financiar os custos das reformas e, onde ela não poderá ter a capacidade de o fazer com os seus recursos próprios, a comunidade internacional poderá sentir-se motivada a apoiar os seus esforços de uma forma consistente e previsível. Finalmente, muitas reformas de serviços públicos são de nível técnico e requerem conhecimento especializado. Um país que queira levar a cabo este tipo de reformas numa base de necessidades a longo prazo precisa de uma massa pensante e crítica local com tais conhecimentos especializados. A reforma não pode ser sustentável com o uso de peritos externos e ou recrutados do estrangeiro, que vêm e se vão embora sem deixar uma memória institucional. Os países que parecem ter conseguido portarem se bem e que têm um folha de serviço que mostra terem implementado as reformas de maneira consistente e eficiente são os que podiam ser classificados no topo, se tomarmos em linha de conta os quatro factores. Se os países da região quiserem melhorar os seus esforços concernentes à reforma, deverão, no futuro, tomar em conta os elementos acima discutidos. 26 Economia, Política e Desenvolvimento O Orçamento de Investimento de Iniciativa Local e a Dinamização da Economia Rural em Moçambique: Resultados, Desafios e Perspectivas Salim Cripton Valá4 Maputo, Moçambique 5-6 Junho, 2009 4 - O texto foi escrito a apresentado quando o autor desempenhava a função de Director Nacional do Desenvolvimento Rural no Ministério da Planificação de Desenvolvimento, onde actualmente desempenha a função de Secretário Permanente. 27 Economia, Política e Desenvolvimento Introdução Dados apresentados pelo Inquérito de Agregados Familiares (2002/2003) revelaram que cerca de 69% da população moçambicana vive nas zonas rurais, onde o nível de pobreza é mais generalizado e atinge maioritariamente as mulheres. Para além destes dados, o documento do Plano de Acção para Redução da Pobreza Absoluta confirma que nos últimos 6 anos os índices da pobreza passaram de 69,4% (1996-1997) para 54,1% (20022003), sendo que, por áreas de residência, no mesmo período, passou de 62,0% para 51,5%, nas áreas urbanas, e de 71,3% para 55,3%, nas rurais. Estes avanços acontecem no contexto em que o governo tem estado a desenvolver iniciativas nos distintos sectores das actividades políticas, económicas e administrativas, promovendo a descentralização e desconcentração e o amplo envolvimento das comunidades no processo de desenvolvimento da economia local. As experiências de planificação e finanças descentralizadas desenvolvidas ao longo do país e as múltiplas iniciativas de desenvolvimento rural levadas a cabo desde 1995 culminaram com reformas na governação e com o desenvolvimento económico local, visando contribuir para o combate à pobreza por via da provisão de bens e serviços em resposta às demandas e prioridades das comunidades. A despeito destes esforços, o acesso ao crédito no país é ainda limitado. As instituições financeiras formais servem menos de 15% da população, beneficiando maioritariamente as zonas urbanas. Do total de crédito concedido à economia pelos bancos comerciais, apenas cerca de 20%, em média, é direccionado para o sector da agricultura onde é absorvido quase na totalidade pelas grandes explorações agrícolas. Por conseguinte, o Programa Quinquenal do Governo (2005-2009) propunha, entre outras acções, “criar condições e ambiente que ofereçam oportunidades de crédito para a criação de micro e pequenas empresas familiares, priorizando a promoção do aproveitamento dos produtos agrários e recursos naturais e do surgimento e desenvolvimento de mercados para produtos processados”. Para materializar os princípios preconizados nos instrumentos de políticas e estratégias e para impulsionar o desenvolvimento económico e social dos distritos de forma a torná-los unidades orçamentais e pólos de desenvolvimento do País, o governo decidiu alocar o Orçamento de Investimento de Iniciativa Local (OIIL), a ser usado de forma descentralizada. A Estratégia de Desenvolvimento Rural (EDR) refere que apesar de os recursos alocados serem ainda escassos relativamente às necessidades dos agentes económicos nos Distritos, esses recursos estão já a trazer impactos consideráveis no desenvolvimento distrital. O mesmo documento refere que “O OIIL a partir de 2006 o governo passou a atribuir directamente aos distritos para que, de forma participativa e inclusiva, as prioridades de desenvolvimento fossem definidas localmente, é uma acção concreta de fortalecimento da capacidade do Distrito como unidade de planificaçãoorçamentação e como actor activo na condução e implementação do desenvolvimento local” (MPD, 2007). Este texto apresenta as experiências da Implementação do Orçamento de Investimento de Iniciativa Local (OIIL), entre 2006 e 2008, procurando expor os principais resultados 28 Economia, Política e Desenvolvimento obtidos, os desafios e perspectivas futuras. O documento aborda o quadro de referência que justifica a alocação de recursos do Estado para financiar empreendedores dos distritos, os fundamentos do estabelecimento do OIIL, o seu enquadramento no processo de descentralização de instrumentos de planificação e orçamentação em curso no país, a coberto da Lei 08/2003 (Lei dos Órgãos Locais do Estado - LOLE) de 19 de Maio. Inicialmente, este orçamento foi concebido para financiar a construção e reabilitação de infra-estruturas locais. Por força das decisões da 19ª Sessão do Conselho de Ministros alargada aos directores nacionais, governadores provinciais, administradores distritais e outros quadros do Estado5, aquela decisão original foi modificada, e o orçamento passou a ser alocado para financiar iniciativas económicas, com vista a promover a renda, comida e criação de emprego a nível local. Encontros de balanço têm sido realizados para avaliar os resultados alcançados nos primeiros anos da implementação do OIIL. Muito recentemente o governo, através do Ministério da Planificação e Desenvolvimento, conjuntamente com os Ministérios das Finanças, da Administração Estatal, da Agricultura, do Trabalho, das Pescas, da Indústria e Comércio e do Turismo, reuniu-se na Ilha de Moçambique para fazer o balanço da implementação do OIIL (2006-2008). Para além destas instituições, estiveram presentes os Governadores Provinciais de Nampula, Niassa, Tete e Gaza, os Conselheiros do Presidente da República para os assuntos económicos e para os assuntos gerais, o Secretário Permanente do Ministério do Trabalho, Directores Nacionais (Ministério da Planificação e Desenvolvimento, Ministério das Finanças, Ministério da Administração Estatal, Ministério da Agricultura, Ministério do Trabalho), Directores Provinciais do Plano e Finanças, da Agricultura, Administradores Distritais, Directores dos Serviços Distritais de Actividades Económicas, representantes da Sociedade Civil, do Sector Privado e das Instituições Académicas, bem como representantes dos Conselhos Consultivos Locais, das Equipas Técnicas Distritais e os beneficiários do OIIL. Em princípios de 2009, a cidade da Matola acolheu uma outra reunião, que juntou técnicos superiores do governo, especialmente aqueles que acompanharam, em 2008, a Presidência Aberta e Inclusiva, e outros quadros de nível central. As duas reuniões tinham o propósito de auscultar os participantes sobre a proposta de relatório-balanço e a implementação do Orçamento de Investimento de Iniciativa Local no triénio 2006-2008. As contribuições dos eventos foram depois sistematizadas e estão reflectidas neste texto e noutros instrumentos preparados por um grupo de trabalho interministerial criado para o efeito. O referido grupo é composto, além do MPD, por representantes dos Ministérios das Finanças, Administração Estatal, Indústria e Comércio, Agricultura, Trabalho e Pescas. Este texto mostra que o OIIL é uma das mais corajosas decisões de política tomadas pelo governo, sobretudo porque enfrenta de forma frontal um dos maiores problemas da economia rural no pós-independência, que é fazer com que os pobres economicamente activos possam ter uma ferramenta calibrada para si de forma a envolverem-se mais ac5 - Este evento teve lugar nos dias 11, 12 e 13 de Agosto de 2006. 29 Economia, Política e Desenvolvimento tivamente no processo de desenvolvimento económico nacional6. Essa decisão “quebrou um dos mitos” erguidos desde meados dos anos 1980, de que o Estado não deve intervir na economia, nem mesmo quando o mercado não encontra solução. A conclusão imediata é de que os três primeiros anos de implementação da iniciativa apresentam resultados positivos e impactos assinaláveis em todos os Distritos, muito embora haja uma grande margem para melhorar a engenharia de gestão dos recursos, apostar seriamente na capacitação institucional, fortalecer a monitoria dos projectos financiados, incrementar os reembolsos, alinhar melhor os projectos financiados com as prioridades constantes no Plano Estratégico de Desenvolvimento dos Distritos (PEDD), entre outros desafios. O OIIL está a contribuir para mudar Moçambique, no sentido de aumentar a produção de alimentos, gerar emprego e renda acrescida para as famílias rurais. A perspectiva futura deverá orientar-se para articular melhor o OIIL com outros instrumentos de políticas e estratégias de desenvolvimento rural, em particular os relacionados com as infra-estruturas económicas e sociais que atraem investimentos para o campo, a promoção de ligações de mercados, a assistência técnica relevante e de qualidade para todos os produtores, o uso mais racional, sustentável e rentável da terra e outros recursos naturais para a criação de riqueza, a melhoria da prestação de serviços fundamentais ao cidadão e do ambiente de negócios nos Distritos e o estabelecimento de plataformas de complementaridade e partilha de sinergias com outros mecanismos de financiamento ao desenvolvimento (bancos comerciais, instituições micro financeiras, Fundos de Fomento públicos, caixas locais de poupança e crédito auto-geridas, etc.). O Quadro institucional para a Intervenção do Estado no Financiamento às PME nos Distritos Na maioria dos países em desenvolvimento, os serviços financeiros só estão disponíveis para uma minoria da população. Embora os sectores financeiros se estejam ampliando, à medida que essas economias crescem, os activos usualmente permanecem concentrados nas mãos de poucos beneficiários. A maioria das pessoas pobres não tem acesso ao crédito fornecido por uma instituição formal, não tem um local seguro para guardar as suas poupanças, muito menos tem apólice de seguro. O uso limitado dos serviços financeiros nesses países se converteu numa preocupação política internacional. Os Chefes de Estado e de Governo que se reuniram na Cimeira Mundial de Setembro de 2005, nas Nações Unidas, declararam reconhecer a necessidade de acesso aos serviços financeiros, em particular para os pobres, por meio das micro finanças e o micro crédito. Na verdade, esse reconhecimento era a expressão concreta da importante contribuição que pode realizar um sector financeiro de base larga para o desenvolvimento económico e o combate à pobreza (ONU, 2006). 6 - Actualmente, uma parte significativa da população de baixa renda funciona ao nível da economia informal. Mosca (2009) argumenta que as transformações a operar não são apenas de natureza legislativa, de capacitação do Estado, de investimentos em infra-estruturas ou de natureza estrutural e de modernização desses sectores, mas também de estratégias de desenvolvimento global, de natureza comportamental e cultural de longo prazo. 30 Economia, Política e Desenvolvimento A experiência internacional e nacional tem evidenciado a retracção generalizada dos bancos clássicos no atendimento às necessidades dos pequenos produtores desprovidos de capacidade de oferecer garantias e contrapartidas na busca de financiamentos. O formato desses bancos é pouco apropriado para que eles consigam estabelecer uma relação durável com a população de baixa renda, ou seja, vivendo próximo à linha de pobreza. No entanto, essas populações possuem uma imensa necessidade de liquidez e são capazes de gerar renda num montante suficiente para honrar os seus compromissos financeiros. A população rural moçambicana caracteriza-se pela sua dispersão geográfica, agravada pela insuficiência de transportes e comunicações e, em casos significativos, pela sua pobreza e marginalidade. Serviços financeiros apropriados às condições e necessidades das famílias rurais (poupança, crédito7, transferências, leasing, seguros, etc.) podem ter um grande impacto em termos de geração de oportunidades e redução das suas vulnerabilidades. O combate à pobreza assenta na estabilização macroeconómica, na revitalização do mercado, da produção e construção de infra-estruturas e serviços de educação, saúde, água e saneamento e na criação de oportunidades de emprego e auto-emprego, especialmente nas áreas rurais. Um dos instrumentos principais para a realização desse objectivo é o sistema financeiro. Um sistema financeiro apropriado e inclusivo é aquele que não apenas sirva os grandes e médios empresários e empregadores, mas que também contribua para uma maior integração no mercado da população de baixa renda, “fornecendo o oxigénio” para a emergência e o desenvolvimento das micro e pequenas empresas rurais. A esse segmento sócio-económico pertencem, com efeito, milhares de micro-iniciativas, geralmente domésticas e de auto-emprego produtivo, actualmente dependentes de prestamistas e da inter-ajuda familiar, de carácter informal e precário (Chidzero et al, 1998). A maioria dos governos enfrenta pressões no sentido de conceder crédito para financiar o sector rural, que se está consolidando em muitas economias em transição como a moçambicana. Tal como a maioria dos bancos especializados, os bancos rurais ou agrícolas carecem de liquidez, muitas vezes estão falidos e provavelmente sairão de uma reforma bastante fragilizados. Em geral, os novos bancos são relutantes em financiar o sector da agricultura, porque consideram que os riscos são altos e os lucros baixo. Para além disso, as fichas cadastrais são curtas ou não existem, e a terra carece de registo adequado ou é difícil de oferecer como garantia. 7 - O acesso ao crédito tem-se caracterizado por muitas dificuldades, devido a factores como elevados custos de juros, exigências de garantias ou colaterais e insuficiência em quantidade e qualidade dos serviços financeiros no país, em geral, e nos distritos, em particular. Como consequência desta situação, o empresariado moçambicano tende a realizar os seus investimentos com recurso a fundos próprios e empréstimos de amigos ou familiares, facto que reduz as suas oportunidades de crescimento e sucesso (CPI, 2007: 4). 31 Economia, Política e Desenvolvimento A falência quase generalizada dos grandes sistemas financeiros estatais e o desinteresse dos bancos privados em lidar com as populações vivendo próximo à linha de pobreza permitiram que aumentasse o interesse por novas formas institucionais de organização do acesso ao crédito no meio rural. Os casos mais conhecidos e hoje já estudados são os asiáticos: o Grameen Bank, do Bangladesh; o Bank for Agriculture and Agricultural Cooperatives, da Tailândia; os “Village Banks” do Bank Rakyat, da Indonésia, bem como a experiência do Banco Sol, da Bolívia. Mas em todo o mundo acumula-se uma importante experiência de construção de novas modalidades de financiamento às actividades económicas no meio rural, incluindo experiências bem sucedidas na América Latina e na África Sub-Sahariana (Yaron et al, 1997). Nas últimas três décadas assistiu-se a uma mudança paradigmática no respeitante aos serviços financeiros. A perspectiva teórica dos anos 1960, que desencorajava as instituições financeiras formais de expandir os serviços financeiros para as zonas rurais, alegando os elevados custos e riscos, defendeu a adopção de crédito concessionário dirigido para fins específicos, clientes e sectores pré-determinados. Esse modelo, que subalternizou os mecanismos de mercado para a mobilização de poupanças e alocação de recursos, encarou o papel dos serviços financeiros como um instrumento de política para se alcançar objectivos essencialmente não financeiros, como por exemplo: o aumento da produção, garantia da segurança alimentar, adopção de novas tecnologias e redistribuição equitativa de rendimentos. Este paradigma ignorou, na prática, que o pobre economicamente activo é bancável, ou seja, é capaz de poupar e suportar os custos do crédito e de outros serviços financeiros. Em oposição, o “novo paradigma”, que emergiu nos finais dos anos 1980 e ganhou maior expressão nos meados dos anos 1990, é assente na “revolução micro financeira” (Yaron et al, 1997, DNPDR, 2007b e Yunus, 2002). Esta nova abordagem reconhece que os pobres economicamente activos são bancáveis e são como clientes e não como beneficiários de ajuda, considerando que os serviços financeiros são um meio valioso para expandir mercados e integrar a economia rural no resto da economia. Aos governos cabe o papel de criar o ambiente favorável, implantar infra-estruturas que atraiam investimentos, facilitar a circulação de informação e capacitação institucional e assegurar estruturas de supervisão e regulamentação do sistema financeiro (DNPDR, 2007b:)8. Em Moçambique, os sistemas financeiros são caracterizados pela co-existência e funcionamento, lado a lado, dos sectores formal e informal, expressando uma situação típica de “dualismo financeiro”. Uma observação relevante é de que o sector formal está relativamente mais bem organizado, mais orientado para as zonas urbanas, visando as actividades monetarizadas da economia. 8 - Na verdade, o novo paradigma, assente na visão neo-liberal está-se alterando. Nos últimos tempos, os argumentos em defesa da intervenção mínima do Estado têm sido questionados, defendendo alguns autores que se o mercado não consegue resolver problemas relacionados com extremas disparidades sociais, pobreza e miséria extremas e fragilidade das instituições financeiras, o Estado pode e deve intervir com instrumentos apropriados. 32 Economia, Política e Desenvolvimento Por outro lado, o sector informal ocupa-se das esferas tradicional, rural e não monetarizadas da economia9. A existência de um mercado financeiro informal activo justifica-se como uma reacção natural do mercado às dificuldades do sector formal em providenciar os serviços financeiros procurados, especialmente o crédito rural, pelos pequenos produtores. Os agentes informais preenchem uma lacuna deixada pela sua contraparte do sector formal (Valá, 2007). O custo elevado e a falta de disponibilidade de crédito constitui um dos maiores obstáculos para o desenvolvimento e a lucratividade das empresas moçambicanas, em particular as micro, pequenas e médias empresas (MPME). Os bancos moçambicanos actualmente cobram taxas reais de juros de dois dígitos para empréstimos. Além disso, a margem de juros entre a poupança e os depósitos, e o empréstimo é percebida como excessiva (mais de 10% segundo o estudo do Banco Mundial). O desenvolvimento económico e social de Moçambique requer e depende de um sistema financeiro viável, acessível, inclusivo e com custos regionalmente competitivos (LaFleur, 2007). Não obstante o rápido processo de urbanização que está ocorrendo há 15 anos, o sector rural continua fundamental para o desenvolvimento do país, e concentra mais de 65% da população total e é um dos principais geradores de emprego. No entanto, encontram-se no sector rural os problemas mais graves de pobreza do país. A maior parte da população rural não tem os serviços básicos, e muitos habitantes se vêem obrigados a ir para as cidades em busca de melhores condições e oportunidades de vida. Ainda que haja o reconhecimento de que no meio rural desenvolvem-se múltiplas actividades, as agro-pecuárias continuam sendo fundamentais no desempenho do sector rural. Dentro do sector rural, como acontece em outros sectores das economias subdesenvolvidas, os pequenos produtores agrários e pesqueiros desempenham um papel protagónico (MPD, 2007). Na perspectiva da “Agenda 2025: Visão e Estratégias da Nação”, as empresas necessitam de fundos concessionais, capacitação e controle gestionário que facilitem o investimento produtivo a médio e longo prazos, algo que o sistema bancário não está capacitado para fazer. O documento defende que a carência de fundos para investimentos pode ser superada através da constituição de um banco de desenvolvimento e de fundos de garantia ao crédito e de sociedades de capitais de risco, orientados para o investimento produtivo, envolvendo o sector público e privado e, ainda o estabelecimento de linhas de crédito. Um banco de desenvolvimento pode ser importante para a captação da poupança rural (Comité de Conselheiros, 2003). A ênfase dada à constituição da banca de desenvolvimento resulta da constatação de que não existem instituições especificamente voltadas ao financiamento ao sector agrário e rural em Moçambique. No entanto, é importante frisar que nos últimos dois anos tem havido a tendência de alguns bancos se orientarem para os distritos, como é o exemplo do BCI, do Standard Bank e do recém-criado Banco Terra, além de outras instituições como a Procredit, Gapi, Tchuma, Banco Oportunidade 9 - O sistema financeiro informal caracteriza-se por uma grande variedade de práticas que se podem transformar e adaptar com uma extrema facilidade. Caracteriza-se também pela preponderância das relações pessoais entre os prestamistas e os que pedem os empréstimos, o que exclui a presença de um intermediário (Ellis & Fauré, 1995). 33 Economia, Política e Desenvolvimento de Moçambique, entre outros. No tocante ao sistema financeiro, as políticas financeiras têm em vista modernizar o sistema e adequá-lo às necessidades de crescimento da economia nacional, focalizando a atenção nos seguintes pontos principais: i) reforçar a regulamentação e supervisão do sistema financeiro; ii) incentivar e promover a entrada de novas instituições financeiras, aumentando a concorrência e diversificação de produtos; iii) expandir os serviços financeiros para as zonas rurais; iv) adoptar medidas que contribuam para o aumento da poupança nacional; v) promover o surgimento de instituições de crédito vocacionadas às micro finanças e desenvolver serviços financeiros acessíveis às micro, pequenas e médias empresas, e; vi) contribuir para aumentar o grau de monetarização da economia nacional (PARPA II, 2005). A estratégia do governo de tornar o Distrito no pólo de desenvolvimento sócio-económico do país coloca, obviamente, vários desafios ao sector financeiro. Torna-se, pois, necessário expandir os serviços financeiros à escala nacional e, de modo particular, para as zonas rurais. Nestes níveis encontram-se o grande potencial de desenvolvimento do país, e estão lá presentes os potenciais empresários que podem transformar os recursos existentes em riqueza. O Banco de Moçambique tem estado a tomar medidas no sentido de impulsionar a bancarização da economia, quer abrindo mais agências pelo território nacional (como são os casos de Maxixe, Quelimane, Tete, Pemba e Lichinga)10, quer facilitando, através de incentivos de vária ordem, a abertura de instituições financeiras e balcões nas zonas peri-urbanas. No âmbito da legislação, o Banco de Moçambique tem estado a aprovar (ou induzir a aprovação) instrumentos jurídico-legais que incentivam o surgimento de novas instituições consentâneas com a realidade sócio-económica do país, satisfazendo a procura de novos produtos e serviços, quer nas zonas urbanas, quer nas rurais11. Em Julho de 2005, o Banco de Moçambique solicitou aos onze bancos que na altura operavam no país para que preenchessem um inquérito apontando os principais constrangimentos que impediam a sua extensão para as zonas rurais. Como resultado, os bancos comerciais apontaram os problemas seguintes: i) ausência de infra-estruturas (estradas, telecomunicações e electricidade); ii) elevados custos operacionais e de investimento necessários para a instalação e operação de balcões; iii) custos decorrentes da política monetária, dado o regime e coeficiente de reserva obrigatória em vigor; iv) economia rural de dimensão reduzida; v) ineficiência do sistema de compensação; vi) falta de sucursais do Banco de Moçambique pelo território nacional, e; vii) mão-de-obra local sem o perfil exigido (Banco de Moçambique, 2007). Com base nessa informação, o Governo está tomando as seguintes medidas inter-relacionadas: a) investimento público para reabilitar, modernizar e expandir a rede de infra-estruturas, particularmente no domínio das estradas, telecomunicações e energia; b) 10 - Já existiam, além da sede, em Maputo, delegações na Beira e em Nampula. 11 - A Estratégia de Desenvolvimento Rural reconhece a importância de olhar de forma integrada para o sistema financeiro moçambicano, em que o OIIL encontra o seu espaço situacional, em interacção com os bancos comerciais, instituições micro financeiras, Fundos de Fomento públicos, cooperativas de crédito, caixas comunitárias de poupança e crédito auto-geridas, entre outras entidades. Cf. MPD, 2007. 34 Economia, Política e Desenvolvimento alocação de recursos financeiros para o fomento de iniciativas distritais de geração de renda, promoção do emprego e produção de alimentos12; c) implementação de reformas no Sistema de Administração Financeira do Estado (SISTAFE); d) implementação, desde Setembro de 2005, do Programa de Apoio às Finanças Rurais (PAFR), e; e) em curso, processo de preparação da Campanha Nacional de Promoção da Poupança. Para além destas medidas, contam-se outras iniciativas de vulto, como o trabalho com os Fundos de Fomento públicos no sentido de assegurar a complementaridade dos mesmos, adoptar abordagens concertadas, racionalizar recursos e alargar o seu impacto directo nos Distritos13. O sistema financeiro moçambicano ainda não é inclusivo sob o ponto de vista social, territorial e sectorial. Os países industrializados e alguns países emergentes, como o Brasil, África do Sul, China, Índia, Indonésia, Malásia, possuem bancos de desenvolvimento, geridos com eficiência, que assumem um papel vital no crescimento vigoroso das suas empresas e que as torna competitivas. Em Moçambique, grosso modo, as micro PME não possuem essas facilidades financeiras, e, em nome do neoliberalismo, não é permitido que instituições idênticas de desenvolvimento sejam criadas. Ratilal (2007) advoga que o novo paradigma deve facilitar o desenvolvimento e que os fundos canalizados para a ajuda se dirijam cada vez mais para o sector empresarial para suprir as falhas do mercado interno, que sabemos ser fragmentado e distorcido. Ratilal (2007) defende que os fundos devem, cada vez mais, ser canalizados para a reestruturação do tecido económico e social, com ênfase sobre as micro, pequenas e médias empresas que geram riqueza e, consequentemente, promovem uma redistribuição de rendimentos por via do emprego e auto-emprego. Num período transitório, poder-se-iam combinar os recursos dos donativos com os recursos do mercado, de forma a conceder às micro PME recursos concessionais, com juro bonificado e reembolsos com prazos mais dilatados. 12 - No dia 18 de Dezembro de 2007, realizou-se na Praia de Xai-Xai um Seminário Regional de Auscultação sobre a Estratégia de Finanças Rurais. No evento, participaram representantes das Províncias de Maputo, Gaza e Inhambane. Alguns presentes, especificamente representantes de IMF e de instituições bancárias, referiram que o OIIL está promovendo a concorrência desleal com as instituições financeiras e que cabe ao governo repensar o assunto e encontrar uma solução urgente. Por outro lado, em visita de trabalho realizada na Província de Inhambane, nos Distritos de Homoíne, Morrumbene, Jangamo, Vilanculos e Massinga, constatou-se que os fundos de iniciativa local alocados pelo governo estão a trazer uma “lufada de ar fresco” à economia local, e o seu impacto na promoção de micro e pequenas empresas é já visível e significativo, mesmo tendo em conta que os vulgarmente denominados “7 biliões” iniciaram apenas em 2006. Outrossim, o Governo decidiu que a partir de 2008, além dos fundos para a geração de renda, promoção de emprego e produção de comida, cada distrito terá uma verba de 2.3 milhões de meticais para infra-estruturas fundamentais consideradas prioritárias pelo distrito e aprovadas pelo Conselho Consultivo Distrital (CCD). Para Artur (2007: 10-12), a concessão de “7 milhões de Mt” para cada Distrito é uma medida considerada necessária, acertada e que vai ao encontro dos anseios da população. Todavia, ela beneficia mais as zonas urbanas dos Distritos e das províncias, em virtude da fragilidade institucional da maior parte dos Distritos (capacidade técnico-humana e de gestão, serviços, infra-estruturas, etc). Ele entende que a decisão foi tomada tendo em conta a pobreza nas zonas rurais. Se assim é, então por que o ponto de entrada não é o pobre mas o Distrito? A visão do autor é que é preciso clarificar o ponto de entrada – o pobre, o rural ou o Distrito –, porque se pode com essa intervenção estar a homogeneizar o distrito como rural e como pobre. Ele refere que “pensar que focalizar no distrito pode ter efeito multiplicador ao nível das zonas rurais pode ser uma falácia e uma estratégia que não leva em conta a grande heterogeneidade e luta de classes aí existentes (..) ” (ibidem: 11). 13 - Nos dias 21 e 22 de Junho de 2007, na Barragem dos Pequenos Libombos (Boane), e no dia 17 de Dezembro de 2007, em Maputo, realizaram-se reuniões dirigidas por S. Excia. O Ministro da Planificação e Desenvolvimento, onde participaram os dirigentes de todos os Fundos de Fomento públicos e quadros do MPD, Ministério das Finanças e Banco de Moçambique. Esse trabalho está permitindo mapear as intervenções dos Fundos de Fomento nos Distritos do País, permitindo uma mais eficaz monitoria dos resultados alcançados. 35 Economia, Política e Desenvolvimento Naturalmente, em paralelo será essencial criar condições para o aumento da qualidade de gestão, melhoria da base tecnológica e devida inserção no mercado. Foi perante um novo cenário económico internacional (marcado pelas fraquezas do paradigma clássico), a situação concreta das PME nos distritos de Moçambique (demanda de financiamento em condições de acessibilidade para os pequenos empreendedores) e em resposta às políticas de desenvolvimento económico e social com bases largas que o governo tomou a ousada decisão de alocar recursos para financiar a economia dos Distritos, claramente dominada pelos agentes económicos de pequena dimensão, sem garantias reais nem comparticipação, que no passado bem recente eram considerados como não sendo dignos de crédito. Génese do OIIL e Evolução dos Recursos Disponibilizados O OIIL é resultado do aprofundamento de processos de descentralização e desconcentração em curso no país. A iniciativa tem abrigo na Lei 8/2003, de 19 de Maio, e no regulamento 11/2005, de 10 de Junho, onde está definido que o distrito é a unidade territorial principal da organização e funcionamento da administração local do Estado e base da planificação do desenvolvimento económico, social e cultural da República de Moçambique. O OIIL veio reforçar o princípio de que o distrito é o pólo de desenvolvimento e assegurar um instrumento concreto de intervenção, permitindo que os pequenos agentes económicos dos distritos possam viabilizar as suas ideias de negócios. Este orçamento é resultado de um processo de aprofundamento e aperfeiçoamento da política de descentralização e desconcentração do governo com vista ao empoderamento das populações, impulsionando deste modo o desenvolvimento local e do país, com a participação directa das comunidades. Antes de o distrito ser considerado unidade orçamental, os governos distritais (Administrações) recebiam somente transferências para o seu funcionamento. As direcções distritais recebiam recursos transferidos dos seus respectivos sectores provinciais de tutela. Nestas condições, as capacidades financeiras do distrito eram bastante limitadas. As dotações recebidas a partir das Direcções Provinciais de Plano e Finanças (DPPF) cobriam um conjunto de despesas correntes, como salários dos funcionários afectos às administrações distritais, e algumas despesas de funcionamento, tais como água, energia e material de expediente. As despesas de investimento eram inscritas a partir das antigas Direcções Provinciais de Apoio e Controlo, cobrindo essencialmente pequenas reabilitações e reposição de infra-estruturas da administração local. O investimento público na área social era realizado a partir de dotações sectoriais muito dependentes dos planos elaborados centralmente, além daquele que provinha de Organizações não Governamentais (ONG), muitas vezes desenquadradas das prioridades localmente definidas. Entretanto, em algumas províncias (Cabo Delgado, Nampula, Zambézia, Tete, Manica e Sofala), existiam orçamentos de investimento alocados para construção e reabilitação de 36 Economia, Política e Desenvolvimento infra-estruturas locais. Estes orçamentos eram implementados no âmbito dos Projectos de Planificação e Finanças Descentralizadas (PPFD), tutelado pelo Ministério da Planificação e Desenvolvimento, através das Direcções Provinciais do Plano e Finanças. Os Governos distritais sempre foram a razão do sucesso da aplicação dos recursos atribuídos pelos parceiros acima indicados, em estreita colaboração com as comunidades, representadas a nível dos Conselhos Consultivos Locais (CCL). Entretanto, os recursos disponibilizados pelos parceiros não cobriam a promoção e o financiamento directo de empreendimentos económicos de iniciativa privada, quer de forma singular, quer por via de associações ou cooperativas. A partir de 2006, todos os Governos distritais passam a receber dotações orçamentais como unidade orçamental, sendo a Secretaria Distrital a gestora do orçamento a este nível. As demais entidades, designadamente os serviços distritais, beneficiam de dotações orçamentais a partir da Secretaria distrital. O OIIL na forma como se apresenta hoje constitui um avanço em relação ao modelo implementado em forma de projectos com apoio de parceiros de cooperação internacionais, assegurando que o Estado assuma um papel activo na dinamização da economia rural, como, aliás, vem patente na Estratégia de Desenvolvimento Rural. No contexto da crise mundial de 2006/08, cuja face visível no país foi representada pela subida galopante dos preços de combustível e de produtos alimentares básicos, o OIIL é, sem dúvida, um factor preponderante de mitigação e de capacidade de resposta numa perspectiva desenvolvimentista, com ênfase para o meio rural. Em resultado da implementação do OIIL há registo de distritos que passaram a vender a sua produção para fora dos seus limites geográficos na decorrência do aumento da produção local, mesmo que a cadeia de valor dos projectos não tenha sido suficientemente explorada na altura da aprovação dos mesmos. Podem ser citados como exemplos os distritos de Malema, na Província de Nampula, Govuro e Inharrime, na Província de Inhambane, e Changara, na Província de Tete. Quando, em 2006, foram alocados recursos do orçamento de investimento de iniciativa local, o Conselho Consultivo Distrital passou a constituir um fórum privilegiado para a orientação da sua alocação, e a Secretaria Distrital passou para a gestão orçamental, com a colaboração próxima dos Serviços Distritais de Actividades Económicas e da Equipa Técnica Distrital (ETD). Os recursos atribuídos ao OIIL partiram de um total de 910 milhões de meticais, em 2006, para 1323 milhões de meticais, em 2008, representando um crescimento de 68%. No período de 2006 a 2008, os valores são de 3250 milhões de meticais alocados para o OIIL em todos os 130 distritos, incluindo Catembe e Inhaca (Distrito Municipais com características rurais na Cidade de Maputo). Os valores atribuídos aos distritos na componente de investimento de iniciativa económica local correspondem a 3% do total do investimento interno do país. Quando foi tomada a decisão de atribuir estes recursos aos distritos, a percentagem canalizada para este nível territorial era inferior a 1,5%. 37 Economia, Política e Desenvolvimento Gráfico 1: Evolução dos Recursos 2006-2008 (Milhões de MT) 3.250 3.500 3.000 2.500 2.000 1.500 910 1.017 1.323 1.000 500 0 2006 2007 2008 Total Critérios de Atribuição do OIIL e Mudanças Introduzidas no Processo Dada a necessidade de alocar os recursos de decisão local em 2005 e também a escassez de tempo, não foi possível apresentar os indicadores de diferenciação por distrito para 2006. Assim, o critério foi a distribuição de sete milhões de meticais a todos os distritos. Em 2007 foram introduzidos critérios de diferenciação, designadamente (i) o número da população, com um peso ponderado de 35% (ii) o índice de pobreza, com 30% (iii) a extensão do território, com 20%, e ainda (iv) factores ligados à capacidade de colecta de receitas públicas, com 15%. Como foi atrás referido, o OIIL é resultado do aprofundamento do processo de descentralização e desconcentração em curso no país. A sua aplicação no terreno visa responder às necessidades primárias das comunidades locais, definidas localmente e inscritas nos documentos de planificação distrital participativa. No âmbito da Presidência Aberta e Inclusiva e no cumprimento das decisões da 1ª Sessão do Conselho de Ministros alargada aos Governadores Provinciais, Administradores Distritais e outros quadros do Estado, em Agosto de 2006, o OIIL foi orientado para acções mais específicas de combate à pobreza absoluta nos distritos, mais concretamente na produção de comida e criação de emprego, gerando, assim, renda para as famílias e comunidades locais. Entretanto, em 2006, ano inicial de execução do OIIL, os recursos foram, preferencialmente, aplicados em infra-estruturas e bens duradouros e, menos em projectos de produção de alimentos e geração de emprego. Em média, os valores foram aplicados na proporção de 70% para infra-estruturas e 30% para projectos de produção de comida e criação de postos de trabalho. A título de exemplo, houveram casos em que apenas 5% dos recursos foram aplicados para os projectos produtivos (comida e trabalho), como foi o caso do distrito de Manjacaze na província de Gaza. 38 Economia, Política e Desenvolvimento Na província de Maputo, apenas 9,2% foi aplicado em projectos de produção de comida, enquanto os restantes foram para a construção e reabilitação de infra-estruturas, equipamento e apetrechamento de residências. As províncias de Sofala e Maputo aplicaram a totalidade dos recursos na construção, reabilitação de infra-estruturas, equipamento e residências. Em 2007, durante a Presidência Aberta e Inclusiva foi vincada a orientação para que os recursos do OIIL passassem a ser aplicados de forma exclusiva para projectos localmente priorizados e decididos pelo Conselho Consultivo visando produzir mais alimentos, criar empregos e deste modo garantir mais rendimento às comunidades locais. Os critérios de selecção, priorização, procurement, modalidade de financiamento e outros aspectos de natureza similar, considerando o carácter inovador do OIIL, eram ainda incipientes. Por esta razão, o cadastramento dos projectos, incluindo os documentos de suporte da atribuição de recursos, não foi bem feito um pouco por todas as províncias do País. Na verdade, o facto de os recursos serem reconhecidamente de iniciativa local fez com que não houvesse a preocupação do governo central em estabelecer normas rígidas e prescritivas para todos os distritos, limitando-se apenas a elaborar regras gerais e a aguardar que a experiência prática e concreta de trabalho de cada distrito permitisse que despontasse mais bases normativas e de regulamentação a serem seguidas por todos os distritos, desde que se mostrassem exequíveis, pragmáticas e sustentáveis em Moçambique hoje. Articulação entre o OIIL e a Estratégia de Desenvolvimento Económico Distrital O OIIL não pode ser encarado, de forma alguma, como uma iniciativa isolada de conceder financiamento aos agentes económicos que pretendem viabilizar os seus negócios. Ele tem em vista atingir o segmento das micro PME dos distritos, financiar sectores que tradicionalmente estão marginalizados no acesso ao crédito e garantir a inclusão social, económica e geográfica no acesso ao financiamento. É pertinente tomar em linha de conta que a institucionalização do OIIL teve como objectivo determinante a criação de um instrumento concreto para incrementar o desenvolvimento económico e social dos distritos, ou seja, é uma medida política visando fazer do distrito o efectivo pólo de desenvolvimento do país, tendo explicitamente uma orientação pró-pobre14 e pró-distrito. Nesse prisma, mostra-se pertinente encarar a operação de crédito não como um fim em si mesmo, mas como um instrumento com a finalidade de promover empregos, incrementar a produção e produtividade, gerar renda acrescida e promover o bem-estar dos agregados familiares. Por outras palavras, é necessário questionar permanentemente se os objectivos da iniciativa estão a ser atingidos, no sentido de ser relevante, com impacto visível, sustentável e 14 - Chichava (2009) aponta que o combate à pobreza é uma agenda definida internacionalmente pelos doadores dos países pobres, questionando até que ponto um país tão dependente da ajuda internacional pode estabelecer de forma soberana a sua agenda de desenvolvimento. Esse posicionamento controverso do autor não encara o outro lado da moeda, que é marcado pela pobreza absoluta de parte significativa da população do país, em particular a população que vive nas zonas rurais. 39 Economia, Política e Desenvolvimento que ajude a promover o desenvolvimento humano na sua plenitude. No marco de uma visão de longo prazo e tendo como referência inspiradora o modelo de desenvolvimento endógeno, devem-se articular os elementos vitais duma estratégia de desenvolvimento económico distrital, que a seguir se arrolam: (i) Capacitação e educação vocacional, assistência técnica, extensão e comunicação rural (com prioridade para as PME, as mulheres e os jovens); (ii) Implantação de infra-estruturas sócio-económicas que atraíam investimentos (públicos e privados, nacionais e estrangeiros) para os Distritos, com amplo envolvimento das comunidades na operação e manutenção das mesmas; (iii) Extensão dos serviços financeiros para as zonas rurais e para os clientes de baixa renda, para garantir a integração sectorial, de género, geográfica e social; (iv) Promoção de ligações de mercado, estímulo à agro-indústria rural e prioridade orientada para as exportações (o papel da ciência, tecnologia e inovação é determinante); (v) Planeamento para o mercado, ordenamento territorial (incluindo maior integração entre as zonas urbanas e rurais) e gestão rentável e sustentável dos recursos naturais. Estabelecendo uma combinação mais profunda entre o OIIL e outros instrumentos de financiamento ao desenvolvimento, bem como outros domínios estratégicos apontados anteriormente, os resultados a obter serão, certamente, de impactos mais notórios na vida dos agregados familiares. Como áreas transversais que merecem uma atenção especial, enumeramos a necessidade de travar a expansão do HIV/SIDA e outras doenças endémicas nos Distritos (como a malária, a cólera e a tuberculose), o fortalecimento das instituições locais de estímulo à economia e uma melhor resposta institucional e das famílias aos efeitos nefastos das calamidades naturais cíclicas. O assunto “economia” deve estar no lugar cimeiro das prioridades da governação e operacionalizado através de medidas concretas e programáticas em cada distrito. Tendo como referência o Plano Estratégico de Desenvolvimento Distrital (PEDD), é vital não apenas identificar os vectores de desenvolvimento distrital, mas também, e principalmente, levar a cabo acções que permitam explorar os principais potenciais do território15. Nessa perspectiva, é metodologicamente recomendável prestar atenção às áreas de foco em termos de análise das vantagens comparativas e competitivas de cada zona e sector de actividade, bem como assegurar que as intervenções sejam feitas ao nível da cadeia de valor e com explícita orientação para o mercado. Instituições de apoio ao desenvolvimento de negócios são um imperativo para o crescimento económico contínuo dos Distritos e para o seu desenvolvimento integrado e sus15 - É de encorajar que cada Distrito tenha a capacidade de proceder ao “marketing territorial”, permitindo que, com base na consciência comunitária sobre a existência de múltiplas potencialidades a explorar, os principais actores locais possam disseminar essa imagem positiva do seu território e interessar parceiros para se envolverem no esforço de desenvolvimento do Distrito. 40 Economia, Política e Desenvolvimento tentável. É nessa linha que se afiguram pertinentes instituições como as Agências de Desenvolvimento Económico Local (ADEL), as Incubadoras de Empresas, os Centros de Prestação de Serviços para as Empresas, os Parques Tecnológicos ou Centros de Inovação, as instituições de apoio às PME, os Centros Multimédia Comunitários, as “Vilas do Milénio”, as Caixas Locais de Poupança e Crédito Auto-geridas, os Conselhos Consultivos Locais (CCL), as Rádios Comunitárias (RC), os Bancos de Cereais, entre outras instituições que têm em vista fortalecer a economia dos Distritos. O Papel dos Conselhos Consultivos Locais como Promotores do Desenvolvimento Distrital Actualmente, a participação comunitária e os fóruns de desenvolvimento local têm sido cada vez mais aceites como parte indispensável do processo de desenvolvimento, apesar de não serem conceitos, mecanismos ou preocupações novas no desenvolvimento rural em Moçambique. Convém recordar que nas Cooperativas Agrícolas, Aldeias Comunais, Grupos Dinamizadores16, Assembleias do Povo, Comités de Desenvolvimento Local e/ou Comunitários e diversas intervenções de desenvolvimento rural comunitário preconizavam formas colectivas de produção, organização e de vivência comunitária onde era enfatizada a participação e a concertação de posições entre os actores sociais. Contudo, as estratégias visando essa participação eram definidas centralmente, sem atender à heterogeneidade das comunidades rurais, as suas lógicas de funcionamento, os seus universos culturais distintos e os seus saberes múltiplos. Qualquer que seja o ponto de vista sob o qual se pretenda abordar o assunto, é forçoso reconhecer que os CCL constituem-se como um dos mais inovadores actores institucionais que emergiram no ano de 2006. Uma questão prévia pode ser colocada: por que é que, sendo entidades relativamente recentes, os CCL ganharam grande protagonismo nas práticas desenvolvimentistas e de participação comunitária dos distritos moçambicanos? É fundamental reconhecer, primeiro, que os CCL respondem a uma necessidade imperiosa de desenvolvimento actual em que o processo de descentralização e desconcentração é já um processo irreversível no País. Esses entes institucionais mantêm a sua acuidade em virtude de: i) responderem aos anseios intrínsecos das pessoas de, ao participarem, se envolverem mais activamente em assuntos que lhes dizem respeito, assegurando a sua auto-realização; ii) propiciarem um mecanismo de interacção permanente e regular entre o Estado e “as forças vivas da comunidade local”; iii) permitirem fiscalizar a acção governativa ao nível local e dizer ao poder: “sim concordamos”, “não concordamos” ou “mas”; iv) estimularem o exercício de cidadania ao nível local e aprofundarem a democracia participativa ao nível de base, e; v) fortalecerem a auto-estima por via da sua participação na tomada de decisões sobre a alocação dos recursos e outros eixos das políticas públicas. 16 - Chichava (1999: 31) retrata na sua obra o papel dos Grupos Dinamizadores (GD) no processo de consciencialização política das populações, instâncias de auscultação e veículo de transmissão das orientações do Partido Frelimo e o meio através do qual os problemas e preocupações das comunidades chegavam ao conhecimento da cúpula política e as suas sugestões consideradas. 41 Economia, Política e Desenvolvimento A despeito de tudo o que se possa referir sobre as deficiências no funcionamento dos CCL, a experiência empírica demonstra que o que se verificou nos três anos pelos Distritos do país foi um período de aprendizagem e de capacitação, tendo-se atestado a pertinência e relevância do seu papel ao nível distrital, que é já inquestionável. Dito doutra forma, os CCL “pavimentaram” uma nova institucionalidade e alteraram a correlação de forças ao nível local, a tal ponto que alguns especialistas questionam a denominação “consultivo”. Os Conselhos Consultivos Locais são forúns de consulta híbridos, constituídos por representantes do Estado e da sociedade civil, que se debruçam sobre assuntos relacionados com o desenvolvimento local (ao nível distrital, do posto administrativo, da localidade e da comunidade). Eles procuram ser instrumentos para a materialização da democracia representativa e da democracia directa e participativa. Essas “instituições mistas” são um eixo vital para demonstrar que ao nível local é mais fácil implantar a democracia participativa que nos níveis hierarquicamente superiores. Os CCL são a prova da mudança em curso em Moçambique, duma lógica de gestão governamental, em que as decisões eram tomadas unilateralmente pelo Estado, para um padrão de gestão compartilhada entre o Estado e a sociedade civil17. A experiência de três anos e meio dos CCL em Moçambique está ancorada na necessidade de envolver os actores sociais locais nos processos de discussão, elaboração e controle de políticas públicas, garantindo a expressão dos interesses e demandas dos principais grupos sociais que intervém no desenvolvimento ao nível de base. Os Conselhos Consultivos são espaços privilegiados para a participação e consulta, satisfazendo uma perspectiva segundo a qual respostas adequadas aos sistemas sócio-económicos e políticos abaixo do nível distrital devem considerar ao máximo a realidade local, tendo sempre como referência as potencialidades, os constrangimentos, os sistemas de produção, a cultura, as instituições e a lógica política, os saberes e as soluções adoptadas ao nível local. Como bem chama a atenção Silva & Marques (2004), a introdução de inovações democráticas tais como os Conselhos Consultivos não se resume a um mero exercício de “engenharia institucional”. De contrário, mudanças na estrutura e na dinâmica institucional sempre implicam alterações na correlação de forças entre actores (sociais, políticos, institucionais), trazendo, necessariamente, resistências, conflitos e pressões (nem sempre explícitos, mas nem por isso menos efectivos e significativos). 17 - Um aspecto que merece referência especial é o facto de os CCL estarem a ser estimulados pelo quadro institucional e legal vigente e não por parceiros de cooperação internacionais. É bem verdade que experiências piloto foram levadas a cabo com fundos de organismos multilaterais e ONG. Podemos referir, a título de exemplo, a experiência de planificação distrital realizada em Nampula com o apoio do PNUD, UNCDF, Embaixada do Reino dos Países Baixos e a ONG Holandesa SNV, na Região MAMM (Moma, Angoche, Mogincual e Mogovolas). Para mais informações, vide República de Moçambique, 2006; República de Moçambique, 2005a; República de Moçambique, 2005b; República de Moçambique, 2004; República deMoçambique, 2001; MAE, MPF & MADER, 2003; MAE & MPF, 1998, bem como o Decreto no 15/2000 (Estabelece as formas de articulação dos órgãos locais do Estado com as autoridades comunitárias), o Diploma Ministerial no 107-A/2000 (Aprova o Regulamento do Decreto no 15/2000), a Lei no 9/2002 (Cria o Sistema de Administração Financeira do Estado- SISTAFE), o Decreto no 17/2002 (Aprova o Regulamento do SISTAFE), o Decreto no 54/2005 (Aprova o Regulamento de contratação de empreitada de obras públicas, fornecimento de bens e prestação de serviços ao Estado) e o Decreto no 6/2006 (Aprova a estrutura tipo da orgânica do Governo Distrital e seu Estatuto Orgânico). 42 Economia, Política e Desenvolvimento O papel dos Conselhos Consultivos Locais (CCL) tem sido positivamente surpreendente, constituindo-se num palco preponderante para a interacção entre as iniciativas do Governo e as aspirações das comunidades locais, na gestação dos processos de desenvolvimento local e na procura de respostas que contribuam para melhorar condições de vida das populações. São estes os órgãos que definem as prioridades e se responsabilizam pela garantia da transparência dos fundos. A Lei abriu espaço para uma melhor interacção entre o Governo Distrital e as Comunidades através dos Conselhos Consultivos, e a implementação do OIIL conferiu uma dinâmica sem precedentes à estruturação e participação destes órgãos de consulta comunitária. O conhecimento e domínio do meio onde vivem tem permitido debates profundos em torno das prioridades, objectivos, mecanismos e beneficiários dos recursos atribuídos pelo Estado. O sucesso deste programa passa, indubitavelmente, pela maior integração destes órgãos, incluindo a nível da sua capacitação, de modo a conferir maior fiabilidade, isenção e impacto do OIIL nas comunidades rurais. Os Conselhos Consultivos Locais ultrapassam a dimensão meramente consultiva em relação aos chamados sete milhões de meticais. É nos Conselhos Consultivos onde se processa a aglutinação da maior parte dos interesses das comunidades a nível local; é a partir destes órgãos que se processa a articulação das vontades das comunidades locais com os interesses do Estado, assegurando, assim, a legitimidade do exercício do desenvolvimento local participativo e sustentável. Os CCL não podem nem devem substituir os beneficiários na aquisição de meios de produção, nem devem ser eles a adquirir os meios de produção, incluindo tractores. Deve ser da iniciativa dos próprios beneficiários a identificação das suas necessidades, pedido de financiamento e aquisição dos bens e serviços contidos no seu projecto, como forma de eles se apropriarem da sua gestão e se responsabilizarem pelo reembolso do empréstimo. Aos vários níveis, eles devem prestar contas à população sobre a gestão dos sete milhões de meticais e informá-la sobre os projectos aprovados, incluindo as razões dessas decisões, bem como apresentar publicamente os beneficiários e os valores a estes concedidos18. O compromisso público dos beneficiários sobre o reembolso destes valores é já um passo para a sua devolução, de acordo com o plano de reembolsos aprovado. Concretamente, o Conselho Consultivo Local cumpre, no âmbito da implementação do Orçamento de Investimento de Iniciativa Local, entre outras, as seguintes funções19: a) Divulgar, em coordenação com as autoridades distritais, a existência do Orçamento de Investimento de Iniciativa Local; 18 - Os CCL devem assegurar que os “7 milhões de MT” sejam geridos de forma transparente, devendo, por conseguinte, primar pelo diálogo com os potenciais beneficiários de financiamento e a população em geral para prestação de contas. Por outro lado, é imperioso garantir o maior envolvimento da população, no geral, e dos CCL aos vários níveis, em particular, no processo de planificação e na produção de resultados de impacto na acção governativa. Importa referir que os CCL devem estar envolvidos não apenas nos “7 milhões de MT”, mas em todos os fundos descentralizados concedidos para a gestão do Distrito. 19 - O detalhe de funções/tarefas consta do Guião sobre a Organização e o Funcionamento dos Conselhos Locais, aprovado no dia 30 de Novembro de 2008 por Despacho Ministerial Conjunto dos Ministros da Administração Estatal e da Planificação e Desenvolvimento. 43 Economia, Política e Desenvolvimento b) Anunciar o limite orçamental alocado para cada Posto Administrativo e as prioridades definidas para a produção de mais comida e criação de mais postos de trabalho; c) Participar no processo de priorização dos projectos com impacto a nível local, tendo em conta o Plano Estratégico de Desenvolvimento Distrital (PEDD); d) Decidir, de forma transparente, com base numa avaliação imparcial sobre os projectos submetidos (tendo em conta a viabilidade económica, social e ambiental) e analisar a idoneidade dos beneficiários do financiamento; e) Fazer a monitoria participativa dos processos de utilização dos fundos, de modo a que os recursos sejam aplicados nos projectos para os quais são concedidos, incluindo a monitoria do plano de reembolso; f) Apreciar e aprovar o relatório da execução global do Orçamento de Investimento de Iniciativa Local. Entretanto, ainda que os instrumentos regulem a actuação dos Conselhos Consultivos Distritais no âmbito dos “7 milhões” (cf. Dec. 11/2005), as funções dos Conselhos Consultivos são mais abrangentes, intervindo também nos seguintes domínios: 1. Cívico: educação cívica e patriótica, convivência e justiça social; 2. Social: saúde pública, educação, cultura e solidariedade; 3. Económico: a segurança alimentar, abertura e manutenção de vias de acesso, fomento de produção e comercialização agrícola e pecuária, pesca, comércio, indústria e outras oportunidades para o emprego e negócios locais; 4. Recursos naturais: uso e aproveitamento da terra, recursos hídricos, florestas, fauna bravia e meio ambiente. De todos os domínios acima mencionados, com a implementação dos “7 milhões de MT”, os Conselhos Consultivos estão a especializar-se no domínio da gestão económica, relegando, muitas vezes, para plano secundário outros domínios não menos importantes na governação e desenvolvimento económico local. Depois de 42 meses de funcionamento dos CCL, como órgãos de gestão e tomada de decisão sobre o OIIL, pode-se referir que o seu contributo foi decisivo para o alcance dos resultados obtidos, e principalmente porque as comunidades locais, congregando distintos segmentos e sensibilidades, estão no comando do desenvolvimento económico dos distritos e estão assegurando mais democraticidade, transparência e prestação de contas sobre o uso de recursos públicos ao nível local. Por outro lado, a experiência de trabalho recomenda que se alargue o âmbito de intervenção dos CCL para poderem decidir e monitorar a implementação do OIIL e de outras políticas públicas que têm impacto a nível dos Distritos de Moçambique. Os “OIIL destinam-se aos cidadãos que, não tendo garantias reais exigidas pelos bancos, têm, contudo, a honestidade, a integridade e a dedicação ao trabalho como a sua garantia e têm o CCL como avalista. 44 Economia, Política e Desenvolvimento Principais Realizações Em 2008, foi introduzida uma verba adicional dentro do orçamento de investimento de iniciativa local, para a cobertura de despesas de decisão local relacionadas com infraestruturas de pequeno porte, manutenção e aquisição de bens duradoiros. Esta verba alocada inicialmente em 2008, no valor de dois milhões e trezentos mil meticais, subiu para dois milhões e quinhentos mil meticais em 2009. Nos anos que se seguem, estes valores irão sempre crescer, enquanto a primeira linha de financiamento (7 milhões de MT) gradualmente concorre para a sua autonomia e retrofinanciamento através dos recursos disponibilizados nos anos anteriores e reembolsados pelos mutuários. As duas verbas são complementares entre si e assim são encaradas e programadas na maior parte dos distritos. Há registo de distritos que ao programarem as actividades económicas para os “7 milhões de MT”, relacionadas com a produção de comida e geração de emprego, recorreram aos “2,5 milhões de MT” para a aquisição de motociclos destinados às acções de monitoria e supervisão dos projectos financiados. Em Maganja da Costa, por exemplo, o Governo Distrital estabeleceu o que chama de “projectos de iniciativa do governo distrital”, cobrindo áreas que a priori não são de interesse de potenciais beneficiários individuais. Deste modo, foram construídas represas e diques para a retenção e irrigação de campos agrícolas pertencentes aos beneficiários dos projectos do OIIL. Essas novas infra-estruturas complementam as acções financiadas pelo OIIL e ajudam os seus beneficiários na prossecução dos objectivos traçados. O outro complemento vem das verbas que estão a ser gradualmente descentralizadas para os distritos a partir dos sectores centrais e provinciais. Com efeito, desde 2008, há registo de verbas atribuídas aos distritos para os sectores de águas, estradas, agricultura, educação e saúde. Por exemplo, só nas estradas, cada distrito recebe um milhão de meticais por ano para decisão exclusivamente da responsabilidade do Governo Distrital, em consulta com os conselhos consultivos locais. O Ministério da Planificação e Desenvolvimento elaborou um conjunto de manuais de apoio à Planificação Distrital, que são usados para acções de formação e capacitação de técnicos, membros dos Conselhos Consultivos Locais e beneficiários em todo o País, designadamente: • Diagnóstico Distrital; • Estratégias de Desenvolvimento Distrital; • Plano de Acção; • Plano Económico e Social do Distrito – PESOD; • Monitoria e Avaliação da implementação do PESOD e do PEDD; • Estabelecimento, organização e Funcionamento dos Conselhos Locais; • Planificação e Projectos Comunitários; • Monitoria e Avaliação; • Instruções Obrigatórias do Tribunal Administrativo; • Manutenção de Edifícios; • Fiscalização de Obras. 45 Economia, Política e Desenvolvimento Adicionalmente, 2008 foi marcado também pela multiplicação de visitas multidisciplinares de monitoria aos projectos financiados pelo OIIL, as quais proporcionaram um aprofundamento da situação e mecanismos subjacentes à aplicação do OIIL por todo o território nacional. Entre as constatações no terreno são de destacar, três: a) As populações estão mobilizadas e satisfeitas com a implementação do OIIL, pese embora alguma apreensão relacionada com a necessidade de melhorar a transparência na selecção e priorização dos projectos. b) Embora o nível de consciência dos mutuários seja alto quanto à necessidade de devolver os recursos de modo a beneficiar mais pessoas, a taxa de reembolsos ainda é baixa. Há factores que podem explicar esta situação: a inexistência de suporte documental claro e vinculativo na altura da concessão dos recursos, incluindo a ausência de um plano de reembolsos com cronograma acordado entre as partes; limitados conhecimentos de gestão financeira de projectos; fraca viabilidade técnica e económico-financeira dos projectos para enfrentarem situações de risco (cheias, secas, etc.), e situações de puro absentismo e má fé da parte de alguns beneficiários. São reportados alguns casos de mudança de projectos pelos beneficiários sem comunicação prévia, distorcendo os prazos para a execução dos mesmos, com reflexos nos níveis de reembolsos c) Fraco nível de associativismo, marcado por fragilidade na sua constituição, incluindo acções de formação, registo e formalização a nível dos distritos, requerendo a tomada de medidas pontuais para a reversão desta situação. Por exemplo, nos distritos de Cahora Bassa e Tsangano, em Tete, e Pebane, na Zambézia, dentre outros, foram reportados casos de associações formadas e imediatamente desfeitas após a recepção de recursos do OIIL. Tabela 1: Nº de Projectos Financiados & Postos de Trabalho 2006-08 no País PROVÍNCIA PROJECTOS FINANCIADOS POSTOS DE EMPREGO Niassa 1,229 6,332 Cabo Delgado 4,319 10,000 Nampula 4,300 6,332 Zambézia 2,983 14,810 Tete 1,404 6,775 Manica 2,183 5,882 Sofala 2,110 15,697 Inhambane 469 25,536 Gaza 6,092 4,571 Maputo 854 5,685 Cidade de Maputo (Inhaca e Catembe) 55 236 TOTAL 25,998 109,737 Fonte: compilação feita na DNP-MPD e INEFP-MITRAB a partir de relatórios Provinciais, 2009 46 Economia, Política e Desenvolvimento Gráfico 2: Representação Gráfica de Projectos Financiados e Empregos Criados 120,000 100,000 80,000 60,000 40,000 20,000 C .M ap ut o (In ha c a e TO TA L C at em be ) ap ut o M az a G ba ne In ha m So fa la ca an i M Te te a bé zi a pu l am N Za m do el ga D C ab o N ia ss a 0 Proj. Financiados Empregos Criados Impacto Positivo do OIIL no Desenvolvimento dos distritos É consensual a ideia segundo a qual o estabelecimento do orçamento de investimento de iniciativa local é benéfico para os distritos e suas populações, sendo uma das grandes medidas de impacto tomadas pelo governo nos últimos quatro anos. Entre os pontos fortes e oportunidades criadas desta medida são de destacar: a. A colocação de recursos muito próximo das comunidades locais, onde elas podem influenciar a sua aplicação em benefício próprio, contribuindo deste modo para a redução dos índices de pobreza absoluta no Distrito e no País; b. O papel-chave dos Conselhos Consultivos na decisão sobre os projectos, os montantes a alocar e o perfil dos beneficiários; c. A criação de oportunidades para o despertar do empreendedorismo a nível dos distritos; d. A criação de emprego e aumento da produção de bens essenciais de consumo; e. O (re) despertar do interesse das populações em torno da acção participativa nos assuntos de interesse comum e orientados para o desenvolvimento local; f. A injecção de recursos financeiros na economia local, criando bases para a monetarização do meio rural no País, tem constituído também um factor de atracção de 47 Economia, Política e Desenvolvimento instituições financeiras privadas para os Distritos, com vista à captação de poupanças resultantes do dinamismo económico criado; g. A transparência e prestação de contas foram induzidas em todos os distritos do país, estando a propiciar acções de monitoria participativa de acções de desenvolvimento local implementadas pelo Governo. Principais Constrangimentos A implementação do OIIL tem também os seus constrangimentos, entre os quais figuram os que a seguir são apresentados: a. O carácter pioneiro da iniciativa, constituindo uma aprendizagem para os actores envolvidos, num processo de “aprender fazendo” a todos os níveis, levou a que, obviamente, ocorressem desvios, imprecisões, lacunas e/ou fragilidades técnico-administrativas e deficiências no fluxo de comunicação; b. A não definição clara, desde o início, da alocação dos fundos em 2006 e dos seus objectivos prioritários levou a que muitos Governos distritais “aproveitassem” o OIIL para mudar a face dos edifícios (infra-estruturas) e adquirir novas mobílias. c. Nota-se a ausência de acções de monitoria e acompanhamento sistemático dos projectos financiados, um pouco por todo o país, pelo nível central, provincial e mesmo distrital; d. Observa-se um deficiente desenho e viabilidade dos projectos submetidos para a aprovação, aliado à falta de experiência dos beneficiários na gestão de negócios; e. A inexistência de uma rede bancária e de outras instituições financeiras na maior parte dos distritos faz com que valores monetários circulem informalmente, de mão em mão; f. Revela-se uma limitada capacidade dos órgãos envolvidos no processo de selecção e aprovação de projectos viáveis; g. A ausência de contratos, por parte dos distritos, com os mutuários resulta na ausência do plano de reembolso e na disparidade de fixação da taxa de juros, sendo que, onde existem, eles não são claros quanto às obrigações dos mutuários; h. Notam-se dificuldades nos reembolsos em geral, considerando o carácter (inédito e inovador) do OIIL, aliado ao fraco domínio de prática de actividades que envolvem sistemas de crédito por parte das autoridades locais; i. A falta de observância de elementos de ligação, sinergias e consistência entre projectos resulta numa frágil cadeia de valor da produção e consequente subaproveitamento do potencial de oportunidades que o OIIL oferece para o desenvolvimento do distrito; 48 Economia, Política e Desenvolvimento j. A fraca ligação entre os projectos aprovados e os Planos Estratégicos de Desenvolvimento Distritais (PEDD) faz com que a influência dos projectos no desenvolvimento dos distritos seja reduzida20; k. Nota-se pouco ou nenhum envolvimento dos Conselhos Consultivos Locais nas acções de monitoria e controlo nas respectivas áreas de jurisdição; l. Observa-se uma falta de provedores de insumos de produção na maioria dos distritos; m. Revelam-se dificuldades na interpretação e operacionalização do Decreto 54/2005, de 13 de Dezembro, sobre a Contratação de Empreitada de Obras Públicas, Fornecimento de Bens e Prestação de Serviços ao Estado. Desafios, Perspectivas e Considerações Finais Considerando que os relatórios de algumas províncias se limitava a aflorar os aspectos meramente financeiros, sem análise sobre o tipo de projectos financiados, beneficiários, seu impacto, sustentabilidade, apresentam-se lacunas inerentes ao seguimento e potenciamento da cadeia de valor da produção gerada em torno da implementação do OIIL. Diante deste cenário, que perspectivas devem ser tomas em consideração? • O OIIL, sendo um eixo da política inovadora do governo em prol da economia rural multi-sectorial, deve incrementar a contribuição dos sectores relevantes no apoio ao desenvolvimento dos Distritos, a saber: Ministério da Planificação de Desenvolvimento, Ministério das Finanças, Ministério da Administração Estatal, Ministério da Agricultura, Ministério da Industria e Comercio, Ministério do Trabalho, Ministério das Pescas e Ministério do Turismo, entre outros, facilitando a assistência técnica e capacitação no desenho, implementação e monitoria das acções. É de reconhecer a necessidade de manter em funcionamento o grupo técnico sobre o OIIL, constituído por quadros seniores dos Ministérios de índole económica. • Acções de formação devem ser intensificadas e organizadas para envolver quadros do nível central, provincial e distrital, tanto para os Conselhos Consultivos Locais, como para os Governos Distritais, Equipes Técnicas Distritais e beneficiários. • Nas Províncias, o apoio aos distritos na implementação do OIIL não pode ser responsabilizado somente às Direcções Provinciais de Plano e Finanças, como tende a acontecer, mas a todas as Direcções Provinciais, principalmente aquelas que podem facilitar assistência técnica especializada em actividades económicas. 20 - Forquilha (2009), por exemplo, refere que a não integração do OIIL nos PEDD, mais do que as baixas taxas dos reembolsos constitui o verdadeiro “calcanhar de Aquiles do processo de execução do OIIL”. 49 Economia, Política e Desenvolvimento • É preciso reforçar o papel das delegações do Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissional (Ministério do Trabalho), da Direcção nacional de Planeamento e Ordenamento Territorial (Ministério para coordenação e acção Ambiental), e do Instituto de Comunicação Social, tanto a nível central, como ao nível provincial e distrital, para que concedam apoio na implementação do OIIL. • O Distrito de Nipepe, por exemplo, tem uma experiência interessante de uso intensivo do seu Centro de Formação Profissional, que deve ser estimulada de forma a assegurar uma aposta inequívoca na formação-acção e no reforço da experiência dos beneficiários e das entidades de apoio. • É necessário continuar a sistematizar as boas práticas para que sirvam de matéria de divulgação, não só como estudos de casos nas capacitações, mas também nas visitas, tanto de nível central, como provincial. • Está em curso um estudo de avaliação de impacto do OIIL, incluindo a estrutura produtiva (produção agrícola e criação de empregos), comercial e de preços, considerando que os beneficiários directos e indirectos reduziram a sua pressão sobre os produtos básicos provenientes de fora dos Distritos de origem. • Ainda é necessário continuar a preparar a transformação do OIIL em Fundo do Desenvolvimento Distrital, permitindo uma melhor flexibilização e adequação à Legislação em vigor. Esta proposta carece ainda de discussão aprofundada. • É preciso divulgar a experiência de alguns distritos no que diz respeito à formação de subcomissões de Membros do Conselho Consultivo, para visitar e dialogar com os beneficiários, permitindo assim inteirar-se do ponto de situação dos projectos e as dificuldades identificadas. Uma equipa multisectorial do Governo preparou os instrumentos de operacionalização do OIIL, que foram posteriormente enviados para os Distritos, com vista a apoiar os Conselhos Consultivos, os distritos e os beneficiários no desenho, avaliação, afectação de recursos e controle de gastos. No concernente às perspectivas, é necessário desenhar acções voltadas para: a) Criação de oportunidade de inclusão económica e social da população local através da provisão de serviços financeiros ao nível local; b) Abertura duma “janela de oportunidade” para o desenvolvimento das potencialidades produtivas e comerciais dos pequenos empreendedores dos distritos visando a geração de riqueza; c) Aperfeiçoamento do exercício da participação, consulta comunitária, responsabilização dos actores locais, transparência e prestação de contas sobre as decisões em torno dos recursos alocados; 50 Economia, Política e Desenvolvimento d) Promoção do associativismo, como uma alternativa ao desenvolvimento de negócios individualmente, materializando o princípio de que a união faz a força; e) Incremento da produção (e produtividade) de alimentos, o que contribuiu para garantir a segurança alimentar e nutricional e o aumento do rendimento pelos agregados familiares; f) Criação de mais postos de emprego a nível das comunidades rurais, como resultado duma mais rentável e racional exploração dos recursos naturais disponíveis; g) Disseminação de experiências de “boas práticas” na utilização dos fundos em alguns distritos, em termos de impacto, sustentabilidade, aumento da produtividade na agricultura, produção orientada para o mercado, adequado sistema de agro-processamento, ; h) Abertura de uma ampla oportunidade para a bancarização dos empreendedores, a monetarização da economia e a captação de poupança ao nível dos distritos; i) Harmonização da iniciativa com os Fundos de Fomento, num exercício de articulação dos diferentes instrumentos financeiros disponíveis para a promoção da economia rural; j) Envolvimento de instituições vocacionadas para a capacitação e treinamento dos beneficiários directos dos recursos e dos Conselhos Consultivos Locais (CCL). Conclusões do artigo Para terminar, é importante referir que actualmente todos os Distritos do País estão em efervescência, como resultado da “lufada de ar fresco” induzida pela injecção de recursos financeiros do Estado para financiar micro e pequenas empresas locais. Por todos os distritos onde temos estado, como por exemplo, Chókwè, Bilene, Manjacaze, Xai-Xai, Monapo, Ilha de Moçambique, Nacala, Nipepe, Marrupa, Maúa, Changara, Mutarara, Ile, Mocuba, Maganja da Costa, Pebane, Morrumbala, Vilanculos, Massinga, Morrumbene, Inharrime, Boane, Namaacha, Magude e Marracuene, a população tem reconhecido o impacto positivo do OIIL no desenvolvimento da economia distrital e o papel determinante dos CCL como catalizador do desenvolvimento participativo, inclusivo, descentralizado e democrático. O OIIL está a contribuir para atrair mais investimentos para os Distritos, e um dos exemplos marcantes é o movimento de implantação de bancos nos distritos, em que o Banco Comercial de Investimentos e o Standard Bank estão na dianteira, a estimular o alargamento da base tributária e a fortalecer a bancarização dos empreendedores rurais. Com a disponibilização de recursos do OILL aos distritos, é a cultura de trabalho que se pavimenta, e a auto-estima “vem ao de cima”, porque se alargam as oportunidades, e os moçambicanos (mulheres e homens) criativos e inconformados libertam-se das “algemas” e do pesado fardo da pobreza. 51 Economia, Política e Desenvolvimento 52 Economia, Política e Desenvolvimento Participação dos Cidadãos nos Conselhos Locais e na Monitoria do Plano-Económico-social e Orçamento Distrital - PESOD Manuela Rico21 e Armindo Tomo22 Maputo, Moçambique 5-6 Junho, 2009 21 - O texto foi escrito e apresentado quando a autora desempenhava a função de Secretária Permanente da Província de Inhambane e actualmente desempenha a função de Secretária Permanente no Ministério da Cultura. 22 - Assessor de Planificação e Finanças Descentralizadas em Inhambane 53 Economia, Política e Desenvolvimento Resumo Este texto apresenta os aspectos práticos da constituição e capacitação das Comissões de trabalho nos Conselhos Locais e a sua participação na Monitoria do Plano Económicosocial e Orçamento Distrital – PESOD. De acordo com o processo de funcionamento, em cada Conselho Consultivo da Localidade são constituídas cinco Comissões de Trabalho, nomeadamente: a) Comissão de Trabalho para Actividades Económicas; b) Comissões de Trabalho para Saúde Mulher e Acção Social; c) Comissões de Trabalho para Planeamento e Infra-estruturas; d) Comissões de Trabalho para Educação, Juventude e Tecnologia; e e) Comissões de Trabalho para Governação e Segurança Pública. As Comissões de Trabalho devem garantir uma ligação e coordenação entre os cidadãos e o Estado a nível do Distrito. A experiência de Inhambane revelou que um dos desafios é a capacitação das Comissões de Trabalho em matérias relevantes para a promoção de diálogo com as instituições do Governo Local e sociedade civil. Um eficiente diálogo é importante para a recolha de informação sectorial desagregada por diferentes unidades administrativas (Localidade e Postos Administrativos), que são a base de verificação e prestação de contas. Por isso, os modelos originais foram modificados e orientados para a recolha de informação a nível das Localidades e Postos Administrativos. Depois disto forma divulgados em todos os sectores a nível da Província. Para além dos modelos apresentados, o texto discute a adequação e divulgação dos modelos de recolha de informação sectorial que já existem mas com algumas limitações que dificultam o alcance do nível de eficiência na recolha de informação. Em seguida, o texto descreve o processo de implementação da monitoria participativa do PESOD conduzido através das Comissões de Trabalho constituídas e capacitadas a nível local e descreve os modelos de recolha de informação a nível da Localidade. O sucesso deste processo depende sobremaneira da existência de estruturas de coordenação multissectorial a nível dos Governos Provincial e Distrital, nomeadamente o Conselho Técnico Provincial -CTP e o Conselho Técnico Distrital – CTD. Por isso, os CTD e CTP desempenham papel importante no processo de recolha de informação em cada Localidade e Posto Administrativo. O resultado desta implementação é a elaboração do balanço do PESOD, que depois é apresentado na Sessão do Conselho Consultivo Distrital. Ao finalizar o texto apresenta-se o impacto alcançado com o processo de monitoria do PESOD, os resultados, as lições aprendidas e as conclusões do processo dos últimos anos. Introdução Nos últimos anos em Moçambique, o Sistema de Governação e Administração Pública tem registado avanços significativos, na direcção de uma maior desconcentração e descentralização de competências, tarefas, recursos e responsabilidades, transferidas do nível central para os níveis provincial e distrital. A despeito dos avanços alcançados, os desafios ainda persistem. Por exemplo, a primeira fase da Estratégia Global da Reforma do Sector Público de 2001-2011 coloca uma meta ao Estado para estabelecer uma Administração Pública voltada para o cidadão, melhorar a qualidade dos serviços públicos e aperfeiçoar as respostas administrativas oferecidas à sociedade. 54 Economia, Política e Desenvolvimento A segunda fase da Reforma do Sector Público pretende, dentre vários resultados, o fortalecimento e funcionamento eficiente e eficaz dos órgãos Locais do Estado e órgãos de Poder Local. Os resultados deste processo serão medidos através da percepção das comunidades beneficiárias sobre a qualidade das instituições e dos serviços de participação comunitária. Por seu turno, o número 1 do artigo 103 do decreto 11/2005 de 10 de Junho estabelece que os Planos de Desenvolvimento Distrital são elaborados com a participação da população residente através dos Conselhos Consultivos Locais e visam mobilizar recursos humanos, materiais e financeiros adicionais para a resolução dos problemas do Distrito. Com efeito, o decreto supracitado atribui várias funções aos Conselhos Locais, donde se destaca a participação no processo de preparação, implementação e monitoria dos planos estratégicos provinciais, monitoria dos planos distritais de desenvolvimento e apreciação dos relatórios sobre a planificação, destacando a qualidade de participação das comunidades locais e dos grupos de interesse. Neste contexto de metas e desafios, o Governo Provincial, através da Secretaria Provincial, tomou a iniciativa de constituir as Comissões de Trabalho nos Conselhos Consultivos Locais como forma de consolidar a estrutura e funcionamento dos Conselhos Consultivos Locais. Estes órgãos devem participar no ciclo de planificação operacional distrital, que culmina com a elaboração, implementação e monitoria do Plano Económico e Social e Orçamento Distrital. Na província de Inhambane, a Secretaria Provincial, em coordenação com a Direcção Provincial do Plano e Finanças (DPPF), decidiram aplicar os modelos simplificados de levantamento de informação sectorial por Localidade a nível distrital como o primeiro passo da monitoria trimestral do PESOD. A informação é recolhida nos sectores através dos modelos pelos técnicos que integram o Conselho Técnico Provincial e os Conselhos Técnicos Distritais. O resultado final do processo conduz à elaboração do Relatório de Balanço do PESOD. Assim, a realização da monitoria participativa do PESOD através das Comissões de Trabalho dos Conselhos Locais constitui a boa prática que é descrita e apresentada através deste documento. Apresentação do Projecto e o Problema O processo de elaboração e implementação do Plano Económico-social e Orçamento Distrital implica a ligação às orientações e metodologias nacionais e a consulta às comunidades locais através dos Conselhos Locais. Ao longo da implementação do PESOD, decorre a monitoria que permite o acompanhamento sistemático da eficiência dessa implementação. No contexto de boa governação esta monitoria deverá ser participativa, garantindo o envolvimento activo das comunidades através dos Conselhos Locais. Para compreender o desafio do processo, identificam-se três momentos da monitoria participativa do PESOD: i) recolha de informação sectorial através dos modelos apropriados; ii) consulta às comunidades através dos Conselhos Locais e iii) elaboração do relatório trimestral do balanço do PESOD e aprovação pelo Conselho Consultivo Distrital. Estes momentos levantam algumas questões que ao todo corporizam o problema 55 Economia, Política e Desenvolvimento central e a base para a reflexão: • Como podem os Conselhos Consultivos Locais participar activamente na elaboração, implementação, monitoria e avaliação do PESOD sem Comissões de Trabalho especializadas e que possam garantir a ligação e coordenação com as instituições do Governo Distrital? • Como é que o Governo Distrital pode reduzir a distância entre si e os cidadãos quando nos Conselhos Locais não existem Comissões de Trabalho com funções directamente ligadas aos Serviços Distritais? • Como é que se pode garantir a fidelidade da informação sectorial quando os modelos da sua recolha não estão desagregados em Localidades? • Como é que o relatório de balanço trimestral do PESOD pode ser validado na Sessão do Conselho Consultivo Distrital quando é apresentado em termos globais ao invés de apresentação por Localidades? Com estas questões pode-se ver que paralelamente ao desafio de organização e funcionamento dos Conselhos Consultivos Locais, regista-se também a falta de um modelo simplificado para o levantamento da informação sectorial e o fraco fluxo de informação estruturada sobre o desempenho da execução do PESOD. Também registam-se várias actividades de monitoria realizadas em cada serviço distrital ou Direcção Provincial, mas sem integração no contexto de desenvolvimento Distrital. Um dos grandes desafios é a forma como é realizada a monitoria de actividades do PESOD, uma vez que nem sempre a informação é recolhida ao nível das Localidades devido à exiguidade de recursos financeiros. Para corrigir estes desafios e, por conseguinte, aumentar a eficiência nos processos acima referidos, desenhou-se um conjunto de acções que consistiram em: a) Constituir e capacitar as Comissões de Trabalho nos Conselhos Consultivos Locais; b) Melhorar e difundir os modelos de levantamento da informação sectorial; c) Implementar a monitoria participativa do PESOD; d) Compilar o Balanço do PESOD e apresentá-lo à Sessão do Conselho Consultivo Distrital. Que resultados este tipo de intervenção trouxe ao processo de planificação participativa? Trata-se do Projecto de Participação dos cidadãos através das Comissões de Trabalho dos Conselhos Consultivos Locais na Monitoria Participativa do Plano Económico e Social e Orçamento Distrital. Nele participaram a Secretaria Provincial, os Governos Distritais e os Conselhos Locais. A Secretaria Provincial tem o mandato de coordenar e orientar as discussões do Conselho Técnico Provincial até que este, por sua vez, produza propostas técnicas que ao serem aprovadas são encaminhadas aos Governos Distritais para a análise e aplicação. 56 Economia, Política e Desenvolvimento Os membros do Conselho Técnico Provincial são também participantes no processo de recolha e compilação da informação a nível das Localidades. Os Governos Distritais através dos Conselhos Técnicos Distritais analisam as propostas técnicas, testam, aplicam e reportam para o nível provincial os resultados e lições aprendidas. Os Conselhos Locais através das Comissões de Trabalho reportam aos técnicos dos Conselhos Técnicos Provincial e Distritais sobre o desempenho qualitativo dos projectos e serviços públicos ou privados localizados em cada uma das Localidades onde residem. Para além disso, também procedem à verificação preliminar da informação quantitativa contida nas fichas preenchidas pelos Serviços Distritais. O primeiro passo na operacionalização dos Conselhos Consultivos Locais consiste em constituir e capacitar as Comissões de Trabalho nos Conselhos Consultivos Locais. Em conformidade com os Termos de Referência das Comissões de Trabalho dos Conselhos Consultivos Locais e com a supervisão dos membros dos Conselhos Técnicos Distritais, realizam-se eleições a nível da Localidade para encontrar os membros que constituirão as referidas comissões. Os membros eleitos devem ser idóneos, confiados a nível da comunidade e com experiência ou forte interesse na área da comissão a que se candidatam. Assim, preenchem-se lugares para as Comissões de Trabalho de Actividades Económicas; Saúde, Mulher e Acção Social; Planeamento e Infra-estruturas; Educação, Juventude e Tecnologia e; Governação e Segurança Pública. Em seguida realiza-se a capacitação dos membros destas comissões. Cumprida esta fase seguiu-se o melhoramento e difusão dos modelos de levantamento da informação sectorial. Com recurso aos modelos de levantamento de informação sectorial compilados pela Direcção Provincial do Plano e Finanças, procedeu-se à transformação do enfoque distrital para o enfoque da Localidade, facilitando o levantamento de informação de todos os sectores neste nível da administração do Estado. Os modelos modificados foram discutidos e aprovados a nível do Conselho Técnico Provincial para efeitos de disseminação a nível distrital. A nível dos distritos, os novos modelos dão maior enfoque ao processo de planificação nas Localidade. Estas alterações de enfoque são enormes e implicam que os dados para o balanço do PESOD sejam levantados a nível da Localidade e não agregados por Distrito como habitualmente se pratica. Uma das lições aprendidas deste processo é que o envolvimento dos cidadãos deve ter um carácter de obrigatoriedade, partindo da Localidade e não apenas através do Conselho Consultivo Distrital. Uma outra lição é a de que os técnicos, tanto do nível provincial, como distrital, devem trabalhar no nível da Localidade, estabelecendo contacto directo com os membros das Comissões de Trabalho. As condições logísticas são determinantes para o sucesso deste trabalho. Por isso, meios circulantes, materiais, financeiros como viaturas, combustíveis, ajudas de custo, devem ser assegurados para facilitar o trabalho dos técnicos. 57 Economia, Política e Desenvolvimento É importante reconhecer que as experiências revelaram que os ganhos deste processo são grandes. Só para exemplificar, actualmente, os instrumentos de recolha de dados do balanço estão cada vez mais simplificados, regista-se um maior contacto com a população, o que permite melhor conhecimento dos desafios existentes e o alargamento do espaço para um mútuo cometimento entre as comunidades locais e o Governo Distrital. Implementação da Monitoria Participativa do PESOD O esquema de monitoria participativa apresentado a seguir serve para mostrar que ao longo do processo realiza-se uma discussão e concordância em relação ao modelo ou metodologia de monitoria participativa a nível do Conselho Técnico Provincial. A seguir a esta fase, cada um dos técnicos desloca-se para os Distritos indicados, onde juntamente com os técnicos do Conselho Técnico Distrital discutem detalhadamente a aplicação dos modelos de levantamento de informação sectorial e o procedimento a ser seguido para a recolha de informação qualitativa a nível das Localidades que é complementar à informação quantitativa sectorial. Nesta fase, são envolvidos no mínimo 5 técnicos do Conselho Técnico Distrital, representando os Serviços Distritais de Planeamento e Infra-estruturas, Actividades Económicas, Saúde, Mulher e Acção Social, Educação, Juventude e Tecnologia e a Secretaria Distrital. Para além destes, é também envolvido um técnico do Conselho Técnico Provincial, totalizando seis técnicos que se deslocam para as Localidades do Distrito. Em cada uma das Localidades, cada técnico distrital discute os assuntos referentes ao seu sector com os membros das Comissões de Trabalho correspondentes. O técnico provincial que acompanha os trabalhos tem responsabilidade de dar o devido suporte em relação ao processo de recolha de informação, incluindo a explicação clara sobre os propósitos do exercício, para que não seja em nenhum momento confundido com um processo de busca de informação que questiona o desempenho do Governo Distrital. Este exercício é basicamente uma oportunidade de troca mútua de informação entre membros da Administração Pública a nível do Distrito e as comunidades locais e que também é utilizado para reflexão conjunta sobre opções de solução dos vários problemas que afectam as comunidades locais através de iniciativas locais (por exemplo, alfabetização de adultos, participação em Conselhos de Escolas e Comités de Gestão de Água, disponibilidade de mão-de-obra voluntária para projectos comunitários, sensibilização sobre queimadas descontroladas, violência doméstica, HIV/SIDA, entre outras). Feito o levantamento a nível de localidade, segue-se a compilação do Balanço do PESOD e a sua apresentação na Sessão do Conselho Consultivo Distrital. Depois de recolhida a informação, segue um momento de reunião entre todos os técnicos envolvidos. Nela elabora-se uma síntese das constatações obtidas por Localidade e Serviço Distrital com base nos respectivos modelos dos Serviços Distritais. Esta síntese é encaminhada à apreciação do Secretário Permanente Distrital, e este, ao Administrador Distrital. Depois de análise, em Sessão do Governo Distrital, é elaborado um relatório preliminar de balanço do PESOD. Este relatório é o objecto da Sessão do Conselho Consultivo Distrital. Neste Conselho, discutem-se as propostas de solução dos problemas identificados e a 58 Economia, Política e Desenvolvimento divisão de responsabilidades entre o Governo e a população através dos seus representantes no Conselho Consultivo Distrital. Os principais pontos discutidos nesta sessão são incluídos na acta de reunião do Conselho Consultivo e publicados nas vitrinas da Administração e dos Postos Administrativos. Depois, é definitivamente compilado o Relatório Final de Balanço do PESOD, onde são sublinhados em particular os desafios que carecem de apoio do nível provincial. A perspectiva é a de que este relatório seja suficiente como Relatório Trimestral do Governo Distrital e não haja espaço para outros balanços paralelos, pois abrange todos os projectos sectoriais que decorrem no Distrito, incluindo as actividades de actores não governamentais. Este é o relatório que deve ser enviado à Secretaria Provincial e a qualquer interessado. A Secretaria Provincial, através do Conselho Técnico Provincial, fará a compilação do Relatório de Balanço do PESOP, bastando incluir aquelas acções que por razões de separação de competências não podem ser incluídas no relatório distrital, como é o caso das acções de nível provincial e nacional. Análise dos Indicadores de Avaliação do Projecto Os esforços para avaliação de indicadores enquadram-se no processo de Reforma do Sector Público e visam o melhoramento dos instrumentos e processos de gestão. Antes das actividades desenvolvidas a nível dos Conselhos Locais, não existiam Comissões de Trabalho. Esta situação era ainda mais grave no contexto em que as estruturas de coordenação multissectorial, como o Conselho Técnico Provincial e o Conselho Técnico Distrital, não estavam consolidadas. Por isso, os Conselhos Consultivos não tinham a sua parte operacional. Nestas condições, o seu funcionamento não tinha a efectividade desejada. Para superar esta situação, a província de Inhambane constituiu e capacitou as Comissões de Trabalho mediante Termos de Referência previamente elaborados e testados. As intervenções realizadas revelam que estão sendo alcançados resultados positivos. Uma nova metodologia foi preparada para a monitoria do PESOD. As informações são recolhidas a nível das localidades e depois partilhadas por uma equipa multisectorial. O nível de envolvimento das comunidades locais aumentou. Anteriormente, os diferentes sectores efectuavam monitorias específicas conforme áreas de intervenção. O processo de coordenação era bastante fraco. Isto enfraquecia largamente o conceito de “Governo Distrital” preconizado na Lei 8/2003 de 19 de Maio. A nova metodologia adoptada a nível da província de Inhambane reforça o processo de conjugação de esforços, sinergias e recursos, ao mesmo tempo que garante o fortalecimento dos mecanismos de coordenação multissectorial, fortalecimento da governação local, da democracia participativa, evita duplicações de esforços e de recurso se reforça os pilares básicos da descentralização. No contexto da descentralização, fortaleceu-se a capacidade dos Governos Distritais para a consolidação da sua estrutura orgânica, permitindo a realização cabal das atribuições e tarefas para eles desconcentradas pelos níveis provincial e central. A cadeia de impacto que se segue resume a sequência de acontecimentos desde os recursos aplicados até ao 59 Economia, Política e Desenvolvimento impacto desejado com este projecto. Secretaria Provincial de Inhambane Cadeia de Impacto: Monitoria Participativa do PESOD Objectivo/Benefício directo Utilização dos produtos/ serviços Produto/serviços Actividades Recursos A distância entre o Governo Distrital e a população diminui; aumenta o conhecimento mútuo dos desafios reais para a melhoria dos serviços públicos ao cidadão; é clarificada a separação de responsabilidades entre o Governo e os cidadãos; são estabelecidos e institucionalizados os canais de prestação de contas entre o Governo e os cidadãos criando bases para a transparência nos processos administrativos Os Conselhos Técnicos Provincial e Distritais em representação dos respectivos Governos aplicam o modelo de levantamento de informação sectorial nos procedimentos acordados e com envolvimento da população através dos Conselhos Locais; Os representantes da população usufruem da oportunidade de exprimir a sua percepção sobre o desempenho do Governo, propor soluções para os problemas identificados assim como tomar responsabilidade sobre certas acções para a solução desses problemas As propostas de modelo de levantamento de informação sectorial e do procedimento de recolha dessa informação são aprovados e há consenso para o início da sua aplicação; O envolvimento das Comissões de Trabalho dos Conselhos Locais é aprovada e há consenso para o início do processo Elaborar a proposta de utilização do modelo melhorado para o levantamento da informação sectorial para a monitoria do PESOD; Elaborar a proposta de aplicação dos modelo modificados com envolvimento das Comissões de Trabalho dos Conselhos Locais das Localidades; Efectuar a discussão das propostas elaboradas. Técnicos, recursos materiais, acordos financeiros Resultados, Desafios e Lições Aprendidas Com a aprovação dos instrumentos de recolha de dados sectoriais e procedimentos de monitoria participativa desenvolvidos com o envolvimento activo das comunidades locais e com o apoio das Comissões de Trabalho dos Conselhos Locais, já foram abrangidos todos os Distritos. 60 Economia, Política e Desenvolvimento O quadro a seguir resume de forma analítica os pontos fortes, oportunidades, fraquezas e ameaças. PONTOS FORTES • Disponibilidade de técnicos qualificados dentro das Direcções Provinciais que integram o Conselho Técnico Provincial de Inhambane • Disponibilidade de recursos financeiros que possibilitam a testagem de instrumentos elaborados e ou aperfeiçoados. • Existência de mecanismos de coordenação multi-sectorial – Conselhos Técnicos Provincial e Distrital que facilitam a rápida disseminação de novas práticas. OPORTUNIDADES • Existência de parceria entre o Governo Provincial e o Programa de Descentralização-GTZ. • Existência de Conselhos Consultivos Locais dinâmicos e com experiência de participação na governação. FRAQUEZAS • Falta de conhecimento sobre experiências similares de monitoria participativa do PESOD sendo esta prática uma iniciativa da Província de Inhambane. • Falta de complementaridade com outros mecanismos de governação participativa como por exemplo o Observatório de Desenvolvimento Provincial. Para este caso estão sendo tomadas acções visando a inclusão. AMEAÇAS • Vulnerabilidade perante ao surgimento de conflitos entre os Governos Distritais e a população devido a ausência da cultura de prestação mútua de contas: O Governo é sempre visto como a entidade que deve satisfazer as necessidades da população a todo o custo. • Vulnerabilidade perante possível aproveitamento político: o facto que a população levanta livremente falhas reais da actuação da Administração Pública pode ser utilizado como indicador de descrédito e incapacidade do Governo ou mesmo negligência face as necessidades do povo. As principais constatações e lições aprendidas deste processo compreendem: • Para o sucesso da monitoria participativa do PESOD, é indispensável que esteja criado e funcional um mecanismo de coordenação multissectorial. No caso da Província de Inhambane, foi decisiva a existência do Conselho Técnico Provincial, colectivo criado pelo Governo Provincial, à luz da Resolução No 3/2006, de 20 de Dezembro, da Autoridade Nacional da Função Pública. Este colectivo facilita a discussão e disseminação de práticas novas dentro das Direcções Provinciais e também facilita a transferência de recursos e competências para os Distritos. • A nível distrital, à semelhança do nível provincial, a existência dos Conselhos Técnicos Distritais desempenhou um papel decisivo para o sucesso da monitoria participativa do PESOD. • É fundamental a existência de consenso sobre os objectivos, relevância e procedimentos da monitoria do PESOD entre os técnicos das diferentes instituições provinciais e distritais. Também deve ser garantida informação atempada sobre este processo aos Administradores e Secretários Permanentes Distritais, pois a sua decisão e apoio é indispensável para o sucesso do processo. 61 Economia, Política e Desenvolvimento • Aos membros das Comissões de Trabalho nos Conselhos Consultivos Locais deve-se explicar com antecedência os objectivos da monitoria, para que não o confundam com um processo de confirmação de fraquezas ou virtudes no desempenho do Governo Distrital. • Em cada uma das Localidades que constituem cada Distrito, deverão previamente existir Comissões de Trabalho capacitadas para dialogar com o Governo Distrital através do Conselho Técnico Distrital. Ao lado disto, também os técnicos devem ter capacidade profissional de auscultar, tolerar e encorajar as exposições dos membros das comissões. • Foi confirmado que a cobertura dos serviços públicos básicos oferecidos, como educação, saúde, água, melhorou substancialmente desde que a planificação participativa iniciou em 2003. • Apesar da satisfação demonstrada, foram apontados casos de atrasos e irregularidades em relação ao desempenho do Governo Local e das Organizações Não-Governamentais. • Em todos os encontros foi referido haver satisfação da população em relação ao processo de planificação e monitoria participativas. Este facto foi também confirmado pelos técnicos dos Serviços Distritais. • Nenhuma Localidade tinha a parte do PESOD correspondente ao seu território. Esta situação levou a que os membros das Comissões de Trabalho entrevistados avaliassem o grau de implementação do PESOD na generalidade, isto é, sem considerar as acções planificadas para determinada Localidade. • Nos casos em que as comunidades não tiveram desempenho satisfatório no cumprimento das suas obrigações, como, por exemplo, funcionamento dos comités de água, mobilização das pessoas para participarem na alfabetização de adultos, prestação de contas dentro das associações, os membros das comissões de trabalho foram solicitados a apresentarem propostas de soluções. • Também nos casos de fraco desempenho dos serviços públicos, os técnicos foram solicitados a apresentarem propostas de soluções até à próxima monitoria do PESOD. • Para implementar a monitoria participativa uma vez em cada trimestre durante o ano, um Distrito na Província de Inhambane necessita de um valor aproximado de 130.000,00 MT (Cento e trinta mil meticais). Este valor é insignificante quando comparado à situação em que cada Serviço Distrital faz a sua monitoria individualmente. É ainda insignificante quando comparado com a vantagem de que, tanto o Governo Distrital, como os cidadãos terão à sua disposição informação actualizada sobre o desempenho da implementação do PESOD e sobre o grau de satisfação pelos serviços oferecidos, tornando assim possível a correcção de possíveis falhas. 62 Economia, Política e Desenvolvimento Conclusões do artigo As abordagens enquadradas no processo de Reforma do Sector Público concentram-se na necessidade de consolidação das instituições e serviços de participação comunitária, de oferta de modelos simplificados de levantamento de dados sectoriais por Localidade e de adopção de uma nova forma de realizar a monitoria do Plano Económico e Social e Orçamento Distrital. Estes enfoques são parte integrante da agenda da segunda fase da Reforma do Sector Público em Moçambique. Assim, os aspectos mais importantes que a nova abordagem e metodologia trouxe como contributo para a melhoria dos serviços públicos e boa governação são: • Com a constituição das Comissões de Trabalho, os Conselhos Consultivos Locais ganharam maior capacidade de intervir nos assuntos de governação, porque os seus membros discutem assuntos concretos que fazem parte do seu domínio. O facto de as Comissões de Trabalho estabelecerem correspondência directa com os Serviços Distritais e a Secretaria Distrital confere mais estabilidade ao circuito de prestação de contas do Governo Distrital para a comunidade e vice-versa. Em suma, o contacto entre o Governo e a comunidade está estabelecido, institucionalizado e está garantida uma das condições básicas para a boa governação. • Com a disponibilização e aplicação dos modelos simplificados de recolha de informação sectorial, reduziu-se o esforço que cada técnico tinha de realizar para sistematizar a informação do seu sector. Com o enfoque da recolha de informação para a Localidade, aumenta a sua validade e confiança. Por outro lado, ela torna-se mais verificável, porque o nível territorial é relativamente pequeno quando comparado com o do Distrito. O enfoque nas Localidade permite ao Governo visualizar as diferenças e assimetrias na capacidade individual das Localidades, facilitando, assim, a orientação dos projectos de desenvolvimento. • A presença dos técnicos dos Serviços e Secretaria Distritais nas Localidades na monitoria participativa do PESOD, a elaboração e apresentação de relatórios das Localidades nos Conselhos Consultivos Distritais, onde também participam membros dos Conselhos Consultivos das Localidades, permite a verificação e controlo social, que são indicadores importantes da transparência na acção governativa. 63 Economia, Política e Desenvolvimento 64 Economia, Política e Desenvolvimento Registo de Crianças em Brigadas Móveis: Uma Lição da Aproximação da Administração da Justiça às Comunidades Manuel Didier Malunga23 Maputo, Moçambique 5-6 Junho, 2009 23 - O texto foi escrito e apresentado quando o autor desempenhava a função de Director Nacional dos Registos e Notariado no Ministério da Justiça, onde actualmente desempenha a fnção de Inspector Geral. 65 Economia, Política e Desenvolvimento Resumo Este texto apresenta os fundamentos da concepção do processo de estabelecimento de Brigadas Móveis do Registo de Crianças. Esta iniciativa procura suprir a grande distância que separa os serviços do registo de nascimento das populações residentes nas zonas rurais. O impacto que as distâncias causam no processo de registo não se limitam aos aspectos físico-geográficos, como também integram uma componente sociocultural associada às práticas tradicionais e à falta de conhecimento sobre a importância do registo oficial da cidadania. Ao estabelecer brigadas móveis que se deslocam às comunidades, o Ministério da Justiça colocou perante a sua missão dois grandes desafios: por um lado, permitir às comunidades residentes nas zonas recônditas um maior acesso aos serviços públicos, facilitando assim o registo de nascimento das crianças, o que lhes confere direito à cidadania e às múltiplas formas de protecção perante as leis nacionais; e, por outro, vencer gradualmente a fraca educação jurídica, associada aos problemas culturais que não motivam o registo voluntário à nascença. Os resultados alcançados até ao momento sugerem mais desafios, nomeadamente a pertinência de expandir a rede registral para os locais recônditos pela criação de postos fixos de registo. Na componente referente ao reforço da educação jurídica às populações, constata-se a problemática da não documentação, ou seja, casos em que as pessoas foram registadas mas não conservam a documentação e, consequentemente, duplicam a declaração de nascimento sempre que pela zona passe uma brigada de registo. Embora o registo de crianças em brigadas móveis seja uma prática que remonta ao período pós-guerra civil, ela foi relançada em fase experimental em 2004. A fase piloto compreendeu uma campanha de registo de nascimento em dois distritos da Província de Gaza (Bilene e Chókwé), onde em dois meses de trabalho se logrou registar cinquenta e três mil crianças. Em 2005, o processo foi estendido a onze distritos, ou seja, um distrito por província, onde se conseguiu registar, em dois meses, cerca de cem mil crianças. Desde o ano 2006 até ao presente, cerca de três milhões de crianças foram registadas num agregado de cerca de cento e dez distritos de todo o país. Os dados reportados revelam que o estabelecimento de brigadas móveis do registo de nascimento gera resultados tangíveis no seio das comunidades locais. Esta constatação mostra que o país enfrenta os desafios da não total cobertura do vasto território nacional pela administração pública, agravada por uma fraca cultura jurídica das populações sobre o valor e os efeitos da documentação jurídica. Introdução Em Moçambique, um dos imperativos da Reforma do Sector Público é levar a administração pública para mais próximo do cidadão, através de adopção de medidas que reduzam a distância e o tempo de espera dos utentes na satisfação de diversas preocupações da sua vida privada. O acesso à justiça, entendido como uma sub-componente do acesso à administração pública, tem sido o guião de trabalho na área dos registos e notariado, visando suprir a distância que estes serviços têm em relação às comunidades e regiões 66 Economia, Política e Desenvolvimento mais recônditas do país. Assim, foi desenhado o projecto do registo de crianças através de brigadas móveis, que, na prática, se traduz na deslocação dos serviços ao encontro das comunidades locais. Este é um esforço para solucionar dois lados negativos da mesma problemática: distâncias físicas e psico-culturais. As distâncias físicas compreendem-se pelo facto de a rede registral ainda não abarcar as localidades situadas fora da sede dos postos administrativos. Por sua vez, o lado psicocultural justifica-se pelo desconhecimento do valor, importância e efeitos do registo da criança, o que está associado a questões de ordem cultural que determinam a atribuição tardia do nome às crianças após o nascimento (ritos tradicionais, consultas espirituais diversas, etc.). O comportamento mais comum das comunidades locais é a preocupação pela documentação jurídica somente quando é necessário usá-la para matrículas escolares, pensão de sobrevivência, regularização da herança, etc. Através de Registo de Crianças em Brigadas Móveis, o Ministério da Justiça está a desenvolver esforços para combater este espírito por meio de medidas mais concretas. Esta iniciativa justifica-se pela pertinência de inverter a situação. A iniciativa de Registo de Crianças em Brigadas Móveis traduz-se na criação de brigadas a partir das comunidades onde são recrutados jovens que são submetidos à formação de curta duração em matéria técnica de recolha de dados registrais. A iniciativa é elaborada de acordo com as preocupações de cada local e envolve as comunidades, governos locais e é precedido de uma forte consulta comunitária. Os brigadistas são formados não só em matéria técnica registral, como também, lhes é transmitida a componente de mobilização social (factor chave para que os beneficiários mudem de mentalidade e repliquem o conhecimento aos outros membros da comunidade). Nesta componente aprendem-se matérias sobre o género e HIV-SIDA, como elementos que devem estar associados à educação cívica. Com as brigadas móveis do registo de nascimento é possível superar as grandes barreiras que impossibilitam o registo atempado das populações sobretudo as que se encontram em zonas recônditas ou remotas. Um dos factores de sucesso das brigadas móveis é o maior envolvimento das comunidades na mobilização social sobre a importância do registo de nascimento, para que cada membro da sociedade perceba que a prova da idade proporcionada por uma certidão de nascimento oferece um grau de protecção à criança contra uma série de abusos relacionados com a idade, entre os quais casamento prematuro, formas de trabalho prejudicial e inadequado, exploração sexual infantil, instauração de uma acção judicial segundo os procedimentos aplicáveis a adultos, e detenção em instalações destinadas a adultos. Numa outra perspectiva, o registo atempado de crianças pode proporcionar à criança, a protecção contra abusos com base na identidade, especialmente tráfico de menores. Dependendo dos dados agregados sobre registo que forem disponibilizados ao Instituto Nacional de Estatística, o registo de nascimento de crianças pode ser uma fonte de infor67 Economia, Política e Desenvolvimento mação necessária para a boa governação, podendo proporcionar ao governo dados sobre as tendências demográficas em que se pode apoiar o desenvolvimento de políticas e a tomada de decisão sobre a distribuição dos recursos do Estado. Apresentação do Projecto O projecto foi concebido como uma estratégia do governo para permitir o acesso de todas as crianças aos seus direitos de cidadania através do seu registo à nascença. O projecto foi motivado pela necessidade de levar o registo de nascimento até junto das populações que se encontram em pontos mais distantes da Administração do Estado. As brigadas móveis são constituídas para a deslocação permanente aos locais com maior concentração das populações e trabalham orientadas na componente de mobilização social das populações sobre a importância de registar as crianças logo a nascença. A ideia de registar em brigadas móveis teve o seu início a seguir aos acordos de Paz em 1992 mas ganhou maior abrangência como projecto, a partir de 2005 e os objectivos do mesmo são fazer o registo universal da criança, permitindo lhe o acesso aos seus direitos de personalidade (nome e nacionalidade), à educação escolar, à assistência médica e protecção legal. Os principais problemas que o projecto visa resolver são: a) a falta de documentação de identificação das crianças sobretudo nas zonas rurais; e b) a falta do conhecimento completo pelo Estado sobre o crescimento da população e a protecção das crianças em todos os aspectos de legalidade (herança, paternidade e maternidade, educação, saúde e outros). O aspecto inovador do projecto comparando com a situação anterior, circunscreve-se no facto de ao invés de a Administração Pública esperar que as populações se desloquem à porta dos serviços (Conservatórias e Postos do Registo Civil). Estas unidades técnicas se desdobram entre as povoações com uma dupla missão: a) registar as crianças; e b) depositar uma mensagem pedagógica às comunidades sobre o valor, importância e efeitos do registo de nascimento tanto para o cidadão como para o Estado. Neste último ponto, foi desenvolvida uma estratégia para a eliminação de barreiras culturais e elevação do conhecimento das populações sobre a importância do registo à nascença, instrumento valioso para o acesso das crianças à justiça, à protecção legal e serviços sociais básicos. O processo de mobilização social observa uma abordagem multi-sectorial, envolvendo parceiros que, pelo seu papel estratégico na sociedade, podem contribuir para a mudança de atitudes da população em matérias do registo de nascimento. Grande parte da população, sobretudo nas zonas rurais, seguem práticas tradicionais locais que não permitem atribuir o nome de crianças logo à nascença, consequentemente, o seu registo é feito tardiamente. A aprovação do novo Código do Registo Civil em 2004, e o aumento do prazo de registo de nascimento obrigatório de 30 para 120 dias, por si só, não surtiu os efeitos desejados, pois as populações não conhecem a importância do registo para o benefício da criança. Por isso, é necessário incrementar outras medidas para a mudança da atitude. Foram identificados vários parceiros estratégicos para o processo de advocacia de modo a ser possível centrar a mobilização social nas pessoas e nas comunidades: i) instituições 68 Economia, Política e Desenvolvimento do Estado; ii) com destaque para pessoal de saúde e educação; ii) organizações da sociedade civil; e iv) pessoas de influência local: líderes comunitários, tradicionais e religiosos. Através do fortalecimento da mobilização social pretende-se conseguir que o índice de registos voluntários seja crescente, decorrendo do conhecimento e responsabilidade das populações sobre o direito ao registo de nascimento como chave para o acesso aos demais direitos de cidadania. Verificámos que os papéis dos parceiros devem ser definidos e assentes nos resultados a alcançar na remoção de barreiras que distanciam as populações dos serviços dos registos com maior expressão para as de natureza cultural e falta do uso do documento do registo (certidão e cédula) nos serviços sociais básicos. Foi fundamental mobilizar as pessoas sobre a importância e os efeitos do simples uso de documentos do registo, o que tem contribuído para a melhoria da valorização destes e mesmo a sua correcta conservação por parte das populações. Os funcionários públicos, com destaque para educação e saúde, têm um papel de facilitar o registo de nascimento nas instalações de saúde ou educação pelo agente fixo de registo em datas previamente determinadas (nos dias de vacinação e de matricula nas escolas, etc.). As populações devem ser consciencializadas de que, em princípio, só com o registo de nascimento as crianças poderão gozar dos seus direitos básicos de cidadania (a própria nacionalidade, a saúde, a educação, a protecção contra violação de direitos e outros). O comprometimento do Governo em matérias do registo de crianças está patente em vários instrumentos de intervenção política dos últimos tempos. Um dos exemplos é o empenho do Governo na aprovação de instrumentos valiosos sobre o direito de crianças e que em todos está inserida a obrigatoriedade de registar a criança logo a nascença. Ao nível de cooperação e coordenação interministerial, deparámos ainda o trabalho do Governo em apoio a criança através de Grupo Técnico das Crianças Órfãs e Vulneráveis (ou o Conselho de Criança que está sendo constituído) no âmbito do Plano de Acção para Crianças Órfãs e Vulneráveis. Apresentámos, de seguida, dois quadros ilustrando as linhas orientadoras para a definição da estratégia de parceria multi sectorial com base em lições aprendidas durante a implementação do registo em campanhas na componente de mobilização social. 69 Economia, Política e Desenvolvimento Tabela 1: Linhas Orientadoras para a Definição da Estratégia de Parceria Multisectorial ao Nível das Instituições do Estado Ministério das Finanças/ Ministério da Planificação e Desenvolvimento Ministério da Saúde 70 Incumbidos de esforços para dotar orçamento às instituições governamentais envolvidas nas actividades relacionadas com o registo de nascimento Por uma economia de recursos, aliar as campanhas de vacinação com o registo de nascimento para promover e reforçar a ligação inter sectorial Exigir o documento do registo sempre que haja uma assistência médica à criança: vacinações e outro tipo de controlo hospitalar mas sem excluir e pelo contrário, mobilizando. Não tendo o documento, incentivar os pais para a declaração do registo. Facilitar acções de registo nas instalações dos serviços de saúde. Ministério da Educação Exigir o documento do registo para todo o tipo de matrículas escolares. Nestes termos, o conselho de escola promoverá o registo de nascimento assegurando, desta forma, o acesso fácil à educação das crianças e criando ligações com os agentes fixos ou postos dos registos. O Conselho de escola facilitará o registo das crianças durante o período de matrículas ou dentro do primeiro semestre escolar. Ministério da Justiça Garantir a efectivação de registos junto das populações através dos agentes do registo fixo, assegurando recursos humanos e financeiros bem como a formação e capacitação para o registo de nascimento. Coordenar todas as actividades relativas ao registo. Assegurar a cooperação entre o agente fixo de registo ao nível de localidade e o posto fixo ao nível do posto administrativo ou conservatória e garantir fundos para tal. O Ministério da Justiça vai participar activamente na mobilização de apoios financeiros propondo a cooperação com outros Governos, organismos nacionais e internacionais. Economia, Política e Desenvolvimento Ministério da Justiça Garantir a efectivação de registos junto das populações através dos agentes do registo fixo, assegurando recursos humanos e financeiros bem como a formação e capacitação para o registo de nascimento. Coordenar todas as actividades relativas ao registo. Assegurar a cooperação entre o agente fixo de registo ao nível de localidade e o posto fixo ao nível do posto administrativo ou conservatória e garantir fundos para tal. Ministério da Justiça vai participar activamente na mobilização de apoios financeiros propondo a cooperação com outros Governos, organismos nacionais e internacionais. Ao nível interno, o Ministério da Justiça vai assumir a coordenação do processo e garantir a articulação com os Governos locais na identificação de prioridades em termos de expansão do registo por meio implantação de Postos Fixos. Fazer diligencias políticas para que as províncias tenham dotação orçamental para a criação e implantação de mais Postos Fixos do Registo Civil. Ministério da Administração Estatal Articular com as autoridades locais e tradicionais e incentivar que a população faça o registo civil (incluindo de óbito). Ministério da Mulher e Acção Social Identificar as crianças órfãs e vulneráveis e facilitar o registo de nascimento. Tabela 2: Linhas Orientadoras para a Definição da Estratégia de Parceria Multisectorial ao Nível das Instituições Não-Governamentais Parceiros Estratégicos ONG´s e Organizações religiosas Líderes de opinião Vantagem Comparativa Identificar crianças não registadas e facilitar o registo (em grupos), facilitando a ligação com o agente do registo ao nível de localidade ou o posto fixo. Facilitar transporte no caso de actuar na mesma área de trabalho Incentivar a população sobre a importância do registo civil. 71 Economia, Política e Desenvolvimento Análise dos Indicadores de Avaliação do Projecto Os indicadores de avaliação foram desenhados dentro da estratégia da participação multissectorial envolvendo instituições do Estado, sociedade civil e as próprias comunidades. O grau de satisfação das populações nos locais onde decorre a campanha é avaliado através de consulta comunitária feita em visitas de supervisão por equipas da Direcção Nacional dos Registos e Notariado que também auscultam os líderes locais. As falhas mais comuns no processo relacionam-se com a tendência de as populações duplicarem o registo. Neste ponto, reforçamos a educação jurídica das populações para que valorizem a documentação pessoal. Resultados, Desafios e Lições Os êxitos do projecto expressam-se através do aumento considerável de crianças registadas, sobretudo nas zonas rurais, e os seus desfechos nos últimos dois anos revelam-se no registo de cerca de três milhões de crianças em brigadas móveis contra cerca de quinhentas mil registadas junto aos serviços, ou seja, sem o projecto não se teria logrado o registo de três milhões de crianças. Desde o início do projecto em 2005, já foram abrangidos cerca de 110 distritos dos 138, projectando-se que até ao final de 2010 sejam abrangidos os restantes para, a partir daí, estabelecer-se um sistema de rotina de registo ao qual as populações possam voluntariamente aderir, com verificação periódica e incentivo por parte dos funcionários residentes nos locais. Os grandes desafios enfrentados pelo projecto resumem-se na necessidade de expandir a rede registral fixa através do aumento dos postos do Registo Civil em áreas mais remotas distantes das sedes distritais. Este processo tem sido implementado com dificuldades, atendendo às limitações orçamentais. No entanto, sublinham-se algumas iniciativas visando suprir essas fraquezas, como é o caso do recurso ao material local e, muitas vezes, ao apoio das próprias populações para a construção de postos de registo. Os desafios enfrentados pelo projecto incidem na necessidade de vencer, não só as barreiras físicas que separam as comunidades locais dos serviços registrais, mas, sobretudo, os aspectos culturais associados ao desconhecimento que muitas pessoas têm, principalmente nas zonas rurais, sobre a importância do registo civil. As grandes lições aprendidas a partir do projecto fundamentam-se na necessidade de privilegiar mais a educação cívica e jurídica das populações sobre a matéria do registo de nascimento e ainda a necessidade de criar a base dos serviços ao nível local, porque as brigadas são uma medida extraordinária, havendo que assentar os serviços permanentes junto das populações para permitir a sua normalização junto das mesmas. As brigadas do Registo Civil associam-se às da Saúde, como forma de juntar dois objectivos: Registar e Vacinar as Crianças, criando, deste modo, um elemento de atracção adicional – vacinação e registo –, beneficiando as populações e ao mesmo tempo tornando eficaz a mensagem de que só a partir da identidade da criança pelo registo é possível ao Estado aperceber-se da sua existência e orientar para ela todo o benefício para um sadio e harmonioso crescimento. 72 Economia, Política e Desenvolvimento A componente da comunicação social foi uma estratégia sempre presente no processo e, com efeito, o foco das actividades de mobilização comunitária do Registo de Nascimento foi, durante a implementação, direccionado para a consciencialização a nível comunitário através dos activistas de comunicação, com uma forte participação de líderes comunitários e religiosos e das escolas. Os mobilizadores comunitários tiveram um papel muito importante na disseminação das mensagens em língua local relativas ao registo e no esclarecimento das dúvidas apresentadas pela comunidade. Estas actividades foram ainda acompanhadas pela divulgação de informação sobre o registo através de spots nas rádios comunitárias, unidades móveis do Instituto de Comunicação Social e peças teatrais com o apoio do Grupo de Teatro do Oprimido. Foram ainda desenvolvidos materiais de suporte, tais como posters e panfletos informativos a serem utilizados pelos activistas de mobilização social e pelos professores durante as aulas. Desta maneira, pretendeu-se sensibilizar e mobilizar as comunidades dos distritos abrangidos a aderirem à iniciativa. Pretende-se também que os pais e encarregados/cuidadores sejam mobilizados no sentido de fazerem o registo dos seus filhos ou crianças à sua guarda. 73 Economia, Política e Desenvolvimento Eis uma tabela ilustrando os resultados do registo de crianças em brigadas móveis (campanha do registo de crianças). Província Distritos 2006 1. Maputo Gaza Inhambane Sofala Manica Zambézia Tete Nampula Cabo Delgado Niassa Maputo Cidade TOTAL 74 População Numero estimada em estimado de 2005 crianças Resultado final Matutuíne 2.322 2.322 Manhiça 1 200 1 200 Chicualacuala 12 500 12 500 Xai-Xai 62 062 74 000 Inharrime 22 710 22 710 Homoine 31 793 31 793 Nhamatanda 38 000 34 751 Gorongosa 23 000 23 781 Gondola 65 000 83 820 Barué 58 000 41 980 Milange 175 083 175 083 M. da Costa 126 873 126 873 Moatize 25 000 25 000 Cabora Bassa 23 886 34 000 Muecate 45 314 45 314 154 237 154 237 Montepuez 40 039 40 039 Chiúrre 83 000 83 832 Nipepe 12 846 19 823 Mecula 9 447 10 277 6 000 4 000 Moma Dist. Urbanos 3,4 e 5 1 047 338 Economia, Política e Desenvolvimento População Número estimada em estimado de 2006 crianças Resultado final 2007 Província Distritos 2. Maputo Marracuene 24 600 7 300 Gaza Guijá 38 000 9 000 Inhambane Morrumbene 67 000 33 824 Buzi 147 000 73 500 Caia 120 000 50 000 72 880 36 440 Mossurize 137 594 68 797 Zambézia Gilé 210 000 190 000 Tete Mutarrara 77 400 38 700 Nampula Murrupula 141 000 70 500 C. Delgado Mueda 165 000 84 000 Niassa Sanga 47 000 23 350 1 247 474 685 411 Sofala Manica TOTAL Tambara 75 Economia, Política e Desenvolvimento Província Distritos 2008 3. Maputo Gaza Inhambane Sofala Manica Zambézia Tete 76 População Numero estimada em estimado de 2007 crianças Resultado final Namaacha 5 100 5 114 Magude 7 800 7 800 Boane 49 482 4 025 Moamba 56 335 2 195 Mabalane 16 020 16 105 Manjacaze 83 244 11 788 7 819 8 244 Chibuto 98 607 51 000 Panda 23 973 21 117 Zavala 69 808 41 018 Funhalouro 18 963 13 376 Inhassoro 24 269 15 344 Machanga 25 928 39 100 Marromeu 59 859 80 124 Manga 150 000 150 000 Dondo 71 194 55 500 Manica 106 603 107 930 Guro 34 263 34 300 Machaze 52 304 19 085 Sussundenga 64 926 50 461 Chinde 60 587 43 200 Mopeia 57 807 57 600 Pebane 93 165 90 900 Ile 146 252 113 908 Angonia 167 904 61 250 Tsangano 85 398 41 834 Changara 78 369 60 100 Zumbo 28 652 6 500 Maravia 41 395 33 881 Massangena Economia, Política e Desenvolvimento Nampula Mogincual 65 781 66 438 Malema 84 517 84 900 Angoche 138 706 138 706 Mecuburi Cabo Delgado Niassa 52 326 Muidumbe 36 729 36 729 M. Praia 47 099 47 000 P. Metuge 32 783 10 123 Macomia 40 604 33 256 Muembe 14 542 0 Lichinga 24 775 37 282 Marrupa 29 342 24 000 Mavago 10 154 10 500 2 311 058 1 784 059 TOTAL Distritos População Abrangidos Total Nr. Agentes Nr. de Registos 37 Matituine 165.00 de Registos 18 583.00 14 79 1.º Sem. Manhiça 159 812.00 906.00 48 68 Marracuene 136 784.00 392.00 42 100 Maputo 2.º Sem. Matola 675 422.00 000.00 Sub-Total 1.º Sem. 98 196 977.00 489.00 Sub-Total 2.º Sem. 190 62 168 812 206.00 392.00 232 77 Economia, Política e Desenvolvimento 63 Mabote 867.00 25 000.00 21 50 1.º Sem. Govuro 135 710.00 000.00 45 Inhambane 101.00 Vilanculos 809.00 22 551.00 34 Inhambane 2.º Sem. 16 17 405.00 Sub-Total 1.º 14 75 Sem. 199 577.00 Sub-Total 2.º 000.00 79 Sem. 910.00 Chigubo 576.00 956.00 Bilene 334.00 30 5 788.00 84 1.º Sem. 63 39 11 Gaza 42 6 42 167.50 26 2.º Sem. Sub-Total 1.º 95 Sem. 910.00 47 955.50 32 Sub-Total 2.º Sem. 26 27 Macossa 245.00 13 623.00 10 71 1.º Sem. Manica C. Chimoio 213 206.00 068.67 2.º Sem. Sub-Total 1.º Sem. 62 84 240 451.00 691.67 72 Sub-Total 2.º Sem. 78 62 Economia, Política e Desenvolvimento 65 Chemba 107.00 32 554.00 75 1.º Sem. Maringue 089.00 Muanza 229.00 Cheringoma 133.00 37 545.00 25 2.º Sem. 24 12 614.50 34 Sofala 21 8 17 066.50 Sub-Total 1.º 10 70 Sem. 104 196.00 Sub-Total 2.º 099.00 59 Sem. 362.00 29 681.00 74 Chiuta 534.00 45 32 37 267.00 24 56 1.º Sem. Macanga 112 551.00 276.00 70 Magoe 614.00 34 35 307.00 23 50 Tete 2.º Sem. Chifunde 101 811.00 906.00 Sub-Total 1.º 31 93 Sem. 187 085.00 543.00 Sub-Total 2.º 58 86 Sem. 172 425.00 213.00 Alto Zambezia Molocue 57 139 278 064.00 032.00 30 151 1.º Sem. Morrumbala 302 948.00 474.00 91 Inhassuge 989.00 45 994.00 81 Form 0 mm Num Num Start Align after 12,7 63 2.º Sem. Namarroi 127 651.00 826.00 Sub-Total 1.º Sem. 290 581 012.00 506.50 Sub-Total 2.º Sem. 39 30 109 219 640.00 820.50 81 79 Economia, Política e Desenvolvimento 53 Rapale 106 454.00 227.00 94 1.º Sem. Ribaue 882.00 33 47 441.00 29 78 Monapo 156 438.00 219.00 80 Nampula 2.º Sem. Meconta 236.00 40 118.00 Sub-Total 1.º 25 100 Sem. 201 336.00 668.00 Sub-Total 2.º 62 118 Sem. Cabo Delegado 46 236 674.00 337.00 75 89 1.º Sem. Namuno 179 992.00 996.00 53 63 Balama 126 116.00 058.00 63 Nangade 739.00 38 31 870.00 21 54 2.º Sem. Ancuabe 109 792.00 896.00 Sub-Total 1.º 33 153 Sem. 306 108.00 054.00 Sub-Total 2.º 91 86 Sem. 173 531.00 766.00 65 Ngauma 436.00 32 718.00 22 1.º Sem. Metarica 772.00 59 21 11 386.00 7 68 Mandimba 136 238.00 119.00 38 78 Niassa 80 2.º Sem. Mecanhelas 157 976.00 988.00 44 For 0m Num Num Star Alig afte 12,7 Economia, Política e Desenvolvimento Sub-Total 1.º Sem. 88 208.00 44 104.00 Sub-Total 2.º Sem. Total Total 147 294 214.00 1.º Semestre 107.00 82 1 058 2 477 311.00 110.67 2.º Semestre 28 480 786 1 753 748.00 272.50 736 184 438 TOTAL 4 231 059.00 317.00 1216 Conclusões do artigo As conclusões tiradas depois da implementação do projecto vão promover melhorias contínuas nas comunidades por três vias estratégicas: • A primeira, através do envolvimento das comunidades na arena educacional jurídica das populações através da liderança local – líderes comunitários, chefes tradicionais e estruturas administrativas locais que reforçam, sobretudo, a componente de mobilização social para que as populações sejam mais participativas, tanto na identificação de crianças não registadas, como na realização do próprio registo, através de formação de jovens que apoiem as brigadas na recolha de dados e distribuição de cédulas pessoais. • A segunda linha de sustentabilidade recai sobre a gradual criação de postos fixos do Registo Civil, em substituição de brigadas móveis, como forma de colocar os serviços permanentes do Estado à disposição das comunidades locais nas áreas rurais. • A terceira, a iniciativa é replicada através da intervenção das próprias comunidades que levam a informação para os locais onde seja difícil aceder por parte dos serviços. 81 Economia, Política e Desenvolvimento 82 Economia, Política e Desenvolvimento Contextualização do Sector Micro Financeiro em Moçambique -Período 2000 A 2006 Jacqueline A. H. Haffner24 e Odeisse de Mira Matilde Daniel25 Maputo, Moçambique 5-6 Junho, 2009 24 - Economista, Pós-Doutorada em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Professora do Curso de Ciências Económicas. 25 - Economista Formada pela Universidade Luterana do Brasil. 83 Economia, Política e Desenvolvimento Resumo O objectivo deste trabalho é analisar o sector micro- financeiro em Moçambique. Para tal, são apresentadas informações gerais sobre a formação das Instituições de Micro Finanças (IMF), o impacto que elas causam sobre as zonas rurais, assim como informações sobre o nível da pobreza do país e a importância da expansão dos serviços micro financeiros para as regiões onde ainda não existem instituições bancárias. Palavras-chave: Micro finanças, Crédito, Pobreza. Introdução A situação económica de Moçambique, agravada pelos elevados índices de analfabetismo, consequentemente gerador de pobreza, tem levado o governo, a sociedade civil e as Agências de Desenvolvimento à preocupação com o desenvolvimento fortalecido do sector de micro finanças, em particular nas regiões rurais, com vista à redução da pobreza absoluta e ao desenvolvimento do sector privado como um todo. A concessão de crédito pelos bancos tradicionais e pelas Instituições de micro Finanças tem sido tema de grande discussão e é prioritário na agenda do governo, tanto no âmbito económico, quanto no político, com vista à expansão dos serviços financeiros às regiões menos favorecidas, designadas “Distritos”, assim como para o país em geral, dada a importância destes serviços para o crescimento e desenvolvimento económico de Moçambique. Nesses moldes, os distritos, áreas actualmente consideradas como pólos de desenvolvimento e onde habita a maior parte da população pobre, tornam-se estratégicos para o crescimento e desenvolvimento deste sector. As micro finanças, no seu conceito, referem-se à concessão de micro créditos em pequena escala à população carente e ao micro empreendedor sem acesso aos recursos no sistema financeiro tradicional, por ausência de garantias reais. Desta forma, as micro finanças consistem na prestação de serviços financeiros essencialmente em operações de reduzida e média dimensão, podendo os operadores ser entidades singulares ou colectivas que se dedicam, com carácter habitual e profissional, a essa actividade. Os operadores de micro finanças em Moçambique são regidos pelo Regulamento das Micro Finanças (RMF), aprovado pelo Decreto nº 57/2004, de 10 de Dezembro, dividindo-se em dois grandes grupos: os micro bancos e as cooperativas de crédito (Banco de Moçambique, 2007). De acordo com um estudo de caso realizado pela Oikos em 2006, as micro finanças foram definidas como a concessão de um conjunto de serviços financeiros de pequena escala a famílias pobres, podendo ser assumidos em forma de poupança, créditos, seguros, transferências e capital de risco. Entretanto, nota-se a distinção entre os serviços de concessão de micro crédito praticado pelas Instituições de Micro Finanças e o crédito concedido pelas Instituições Bancárias Tradicionais. Para alguns autores, como é o caso de Parente (2002), as micro finanças (micro crédito) visam a sustentabilidade, priorizando operações com crédito em pequena escala, como uma política social, na qual os juros reflectem o custo operacional, e na sua maioria os activos são concedidos sem nenhuma garantia real, baseando-se na relação de confiança 84 Economia, Política e Desenvolvimento mútua. Nas Instituições de Micro Finanças, as transacções são efectuadas com pouca formalidade e trâmite ágil. Os agentes é que procuram os clientes e funcionam como elo permanente entre eles e a instituição. A terminologia e atendimento são acessíveis aos clientes, mediante uma relação contínua. Para além disso, as operações de micro finanças enfatizam o desenvolvimento de rede de apoio mútuo entre empreendedores e avaliam de forma ponderada as suas características, as suas actividades e as garantias disponíveis (Parente 2002). Já os bancos tradicionais operam de forma diferente; visam o lucro, dando prioridade, sobretudo, às operações de maior vulto, sem acrescentar as funções sociais do crédito. A avaliação do tomador é feita mediante informações contáveis, plano de negócio e liquidez de garantias. O juro e taxas aplicadas são condicentes com a infra-estrutura pesada e a alta tecnologia para a terminologia e o atendimento técnico (Idem, loc.cit). Este artigo estuda a implantação do micro crédito em Moçambique e verifica o desempenho das instituições operadoras de crédito, partindo da análise do quadro das maiores Instituições de Micro Finanças e associações que vêm operando no país. O estudo é importante pelo facto de as micro finanças serem instrumento de combate à pobreza absoluta. Formação do Sector Micro Financeiro em Moçambique O surgimento das Micro Finanças em Moçambique, segundo aponta Vlatter (2006), data do ano de 1989, aquando da criação do fundo de crédito para empresas urbanas através do Programa de Reabilitação Urbana (PRU) do Banco Mundial, em parceria com o Gabinete de Promoção de Emprego (GPE), que concedeu pequenos empréstimos para uma variedade de actividades urbanas, usando fundos desembolsados pelo antigo banco estatal, o Banco Popular de Desenvolvimento (BPD). Entretanto, os primeiros debates sobre o papel das micro finanças em Moçambique surgiram em 1992, logo após assinatura do Acordo Geral de Paz. O programa de crédito era destinado aos regressados da Alemanha, de onde tinham sido repatriados cerca de 18.000 trabalhadores moçambicanos. Após este processo, em 1993, a World Relief implantou as primeiras operações de micro finanças para a população mais pobre, especialmente para as mulheres das vilas do país. Esta acção foi desenvolvida por intermédio de pequenos bancos comunitários. No entanto, por ter sido a primeira experiência no país, a ideia gerou inicialmente muita desconfiança entre a população. Contudo, os resultados dessa iniciativa foram impressionantes, atingindo taxas de recuperação próximas de 100% (Vlatter, 2006). Dois anos depois, (1995/1996) o Banco Internacional de Moçambique (BIM) e a Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), através de financiamento suíço, iniciaram um projecto-piloto para a criação da Tchuma, cooperativa dedicada às micro finanças. Em seguida, o Institute de Recherche d’Aplications des Methodes de Dévelopment (IRAM), em parceria com o Banco de Moçambique, lançou, em 1997, para as regiões de Maputo e Chokwé, o programa Caixa Comunitária de Crédito e Poupança (CCCP), espécie de banco comunitário formado por associação de grupos solidários, denominados Caixas Comunitárias. 85 Economia, Política e Desenvolvimento Com este programa, o IRAM promoveu a criação de 40 associações, uma união no formato das CCCP. Em 1998, foi constituída a SOCREMO, como o primeiro programa de micro finanças, da qual 94% das acções estavam a cargo do Governo de Moçambique. Em seguida, em 1999, uma instituição financeira especializada em crédito rural, denominada Gabinete de Apoio à Pequena Indústria (GAPI SARL), iniciou um mecanismo de segundo escalão (por atacado) para conceder empréstimos em micro créditos, que até aqui constitui a única fonte de fundos que é dirigida as IMF. Dentre os clientes da GAPI, encontramos a Cooperativa de Poupança e Crédito – Tchuma, Sociedade de Créditos Moçambique –, SOCREMO, União Geral das Cooperativas (UGC), Fundo de Crédito Comunitário (FCC) e associações de comerciantes e agricultores. Ainda neste período, as actividades da Tchuma foram estendidas para a concessão de créditos a pequenos empreendedores (Vlatter, 2006). Em 2000, através do Project Consult, foi constituído o Novo Banco, como parte da rede mundial Procredit, com categoria de microbancos, detendo o BIM 30% das acções, a rede Procredit Holding AG 25% e o restante dividido entre os outros parceiros do banco. O Novo Banco opera actualmente com a denominação de banco Procredit Moçambique. Entretanto, como resultado do crescimento das ONG nacionais, nasceu em 2004 o Fundo de Desenvolvimento da Mulher (FDM), a partir do Project Group Guarantee Loan and Savings (GGLS) da ONG Internacional Save the Children (EUA). No mesmo período, a CARE estabeleceu o programa da PCR, que provocou uma mudança “dramática na natureza e localização das micro finanças, sobretudo com relação à poupança”. Foram criados cinco operadores, sendo três através do financiamento do PNUD pelos programas da CRER, ILRP e o próprio apoio da CARE, fundando assim a CARE Poupanças e Empréstimos a nível comunitário (VSL), na Província da Zambézia, Ophavela, em Nampula, e Kukula, em Inhambane. As duas restantes ADEM e AKSM estão localizadas na província de Manica (Vlatter, 2006). De acordo com o Banco de Moçambique (BM), existe também ao serviço da indústria micro financeira quatro tipos de micro bancos, nomeadamente: 1. Caixa Geral de Poupança e Crédito, que usa um capital mínimo de cinco milhões de meticais, tendo como principais operações a concessão de crédito e a captação de depósitos do público. 2. Caixa Financeira Popular, que opera com um capital mínimo de 1.200.000.000, 00 MT para actividades com obrigação de focalizar pelo menos metade (50%) da sua actividade no meio rural. 3. Caixa Económica, que opera nos moldes da Caixa Geral de Poupança e Crédito, com um capital mínimo de 2.400.000.000,00 MT. Esta instituição só pode contratar depósitos até 1 ano. Constitui obrigação da Caixa Económica ser uma instituição sem fins lucrativos ou de solidariedade social, que mantêm uma relação de domínio (controlo). 4.Caixa de Poupança Postal, que opera com um capital mínimo de 1.800.000.000,00 MT nos mesmos moldes da Caixa Geral de Poupança e Crédito, mas sem conceder crédito. Os fundos recebidos em depósito do público apenas podem ser aplicados em investi86 Economia, Política e Desenvolvimento mentos, em títulos e depósitos a prazo, e, operações similares (de baixo risco). A Caixa de Poupança Postal deve ter entre os seus sócios uma empresa de prestação de serviços postais ou similares, que com ela mantenha uma relação de domínio (controlo). Ambas enquadram-se na categoria A (Banco de Moçambique, 2007). As cooperativas de crédito e os operadores de micro crédito também fazem parte da abrangência dos serviços de micro finanças. As primeiras enquadram-se na categoria B, e os últimos na categoria C. As cooperativas de créditos captam depósitos e concedem crédito apenas aos membros. Só concedem empréstimos ao público mediante autorização prévia de outros serviços financeiros (pagamentos, aluguer de cofres, guarda de valores, etc.). Um dos requisitos para a constituição de uma Cooperativa de Crédito é a existência de um elo de ligação entre os associados, baseados numa relação preexistente (terem a mesma profissão ou ocupação, serem membros da mesma associação ou organização). O Capital Mínimo estabelecido é de 200.000.000,00 Mt. Os operadores de micro crédito concedem crédito ao público, pessoas singulares ou pessoas colectivas (Associações, Fundações), excepto sociedades comerciais. O capital mínimo exigido é de 75.000.000.00Mt (Banco de Moçambique, 2006). No mesmo período (2005), a subcategoria de banco micro-financeiro que exigia um capital mínimo de vinte e cinco biliões de meticais foi abolida. Em resposta, foram criados três bancos comerciais empenhados na prestação de serviços de micro finanças (Novo Banco, SOCREMO e BOM). As demais cooperativas de crédito estavam ainda a avaliar a melhor categoria com estatuto de micro banco (Vlatter, 2006). Abaixo, apresenta-se o quadro resumo ilustrando a tipologia dos operadores de micro finanças e os capitais necessários para início das actividades em Moçambique. TABELA 1 Resumo dos operadores de micro finanças: Tipologia, Capital Mínimo e Operações Permitidas OPERADORES DE MICROFINANÇAS CAPITAL OPERAÇÕES PERMITIDAS MÍNIMO* Captação de Depósitos Do Apenas Público dos Créditos Ao Público membros Sujeitos a Micro Caixa Geral de Poupança supervisão bancos e crédito prudencial 5.000.000.000,00 Mt Sim n/a Outras Concessão de Apenas aos membros Sim n/a Sim** Caixa Financeira Rural 1.200.000.000,00 Mt Sim n/a Sim n/a Idem Caixa Económica 2.400.000.000,00 Mt Sim n/a Sim n/a Idem Caixa de Poupança 1.800.000.000,00 Mt Sim n/a Não n/a Idem Postal Sujeitos a Monitorização Cooperativa de Credito 200.000.000,00 Mt Não Sim Não Sim Sim* Organizações de Poupança e 150.000.000,00 Mt Não Sim Sim Não*** Não 75.000.000,00 Mt Não Não Sim n/a Não n/a Sim n/a Não n/a Não Empréstimos Operadores de Micro Crédito Intermediários de Captação de Poupança Fonte: Banco de Moçambique, 2007. 87 Economia, Política e Desenvolvimento Obs. *Consoante a instituição esteja sedeada fora dos grandes centros urbanos, o Capital Mínimo pode ser reduzido em até 50% (Lichinga) ou até 70 % (Outras capitais, excepto Maputo, Matola, Xai-Xai, Beira, Quelimane). ** Dentro de certos condicionalismos, e mediante autorização a conceder caso a caso pelo BM, os microbancos e as cooperativas de créditos poderão ser autorizados a prestar outros serviços financeiros. *** A concessão de crédito pelas Organizações de Poupança e Empréstimo pode, em princípio e salvo a estipulação em contrário nos estatutos da organização, ser extensiva a não membros. A tabela seguinte apresenta o número de agências bancárias existentes no país até 2005. Este número remete à percepção da dificuldade de obtenção do crédito e do acesso às instituições bancárias no País. Tabela 2 Distribuição Geográfica de Agências de Bancos Comerciais em Moçambique: 1995-2005 Províncias 1995 2004 2005 Maputo (Província +Cidade) 93 109 114 Gaza 20 15 14 Inhambane 15 10 12 Sofala 16 19 22 Manica 33 7 12 Tete 11 8 8 Zambézia 16 10 10 Nampula 23 16 16 Cabo Delgado 14 7 7 Niassa 8 3 4 Total 249 204 219 Fonte: DSB, 2005, in Domingo, 29 Janeiro 2006 apud (Silva Francisco; Margarida Paulo, 2006.) Até ao ano de 2005, existiam apenas 219 agências bancárias no país. Entretanto, não existem dados actualizados sobre o número de pessoas com acesso à Banca. A partir do pequeno número de balcões e agências dos bancos comerciais distribuídas pelo País, é possível ter uma ideia da fraca cobertura bancária existente. Operadores de Micro Finanças em Moçambique Segundo Vlatter (2006), quando as primeiras experiências com o micro crédito iniciaram, os fundos usados provinham de ONG’s internacionais com experiências no sector financeiro. Entretanto, com o crescimento das ONG’s, associações e cooperativas moçambicanas operando em âmbito nacional, as ONG’s estrangeiras começaram a apresentar declínio na avaliação do desempenho da carteira. A contribuição dessas ONG’s 88 Economia, Política e Desenvolvimento para a abertura do mercado micro financeiro em Moçambique foi de extrema importância, mormente porque ocorreu numa altura crítica de desenvolvimento do país. Considerando-se a fraca cobertura dos bancos, a existência de Instituições de Micro Finanças em Moçambique torna-se necessária, não somente para cobrir as áreas em que a banca ainda se faz ausente, como para prover crédito de forma ágil e sustentável à população de baixa renda. Segundo as informações do Banco de Moçambique, em 2005 existiam 45 instituições micro financeiras em Moçambique; este número aumentou para 72 em 2008, mas como algumas estavam vinculadas à rede CCCP – CCOM, o número das IMF de 2005 reduziu para 32. Estas informações podem ser comprovadas na tabela seguinte (Banco de Moçambique, 2007). Tabela 2.1: Cobertura da Rede de Instituições Financeiras (*) Fonte: Banco de Moçambique, COMUNICADO Nº 11/2008 Observando a tabela acima, nota-se que atendendo ao universo de 20.530.714 pessoas no país (INE, Censo 2007), o número de balcões existentes por província continua sendo insuficiente para responder à demanda e à oferta de crédito no país. Note-se que existem apenas 298 balcões, sendo que a grande concentração é verificada na cidade de Maputo, onde há 131 balcões e apenas 5 para a província de Niassa. Dos 128 distritos existentes, apenas 36 possuem cobertura bancária. A Tabela abaixo mostra três IMF que, ao longo dos anos, apresentam estabilidade financeira, quando comparadas com os três maiores bancos comerciais de Moçambique. 89 Economia, Política e Desenvolvimento Tabela 2.2: IMF Melhor Estabelecidas em Moçambique no período: 2003 a 2007 Início das Operações Período PROCREDIT SOCREMO TCHUMA 2002/03 1998/09 1998/09 2003/2004 2006/2007 2003/2004 2006/2007 2003/2004 2006/2007 Nr. de Agências 6 12 5 8 3 6 Portfólio (Milhões de USD) 2,8 13,4 2 5,1 1,3 4,1 Nr de empréstimo em mora 8,178 26,738 5,931 2.042 6,154 493 347 859 331 400 217 497 16,125 97,258 415 26,526 1,117 9,755 2,2 3,1 0,3 1,2 2,9 2,8 Tamanho do Tamanho médio do empréstimo em USD Nr. de Clientes de Depósito Portfólio em risco (%) Fonte: Vlatter, 2006. Os dados acima mostram que, no período de 2003 a 2007, o número de agências do Banco Procredit (NOVOBANCO) e da Tchuma aumentou em 100%. Ainda no período em referência, o percentual de inadimplência da PROCREDIT foi maior, chegando a 3,1% de seu portfólio em risco, podendo ser justificado pelo maior número de empréstimos em mora que o banco apresenta. Já em termos de risco, a SOCREMO, em 2003, apresentava a carteira com apenas 0,3% do portfólio e continuou num patamar menor em relação às demais IMF. Isso se deve também ao menor número de empréstimos em mora. Na tabela a seguir faz-se uma comparação das três maiores Instituições de Micro Finanças em relação aos três maiores bancos que operam em Moçambique. Tabela 2.3: Comparação das três maiores Instituições de Micro financeiras em relação dos três maiores bancos comerciais. Standard BIM BCI Bank Procredit Socremo Tchuma 1) Rendimento 2740 1340 1249 171 98 36 2) Lucro Líquido 1156 512 452 38 3 5 24671 14038 13380 437 364 77 4) Fundos dos Accionistas 2620 1348 1130 103 97 48 5) Custos Operacionais 1505 567 692 120 94 31 6) Empregados 1386 637 524 297 254 109 2 2,1 2,4 0,6 0,4 0,3 Custo/Rendimento (%) 54,9 42,3 55,4 70,2 95,9 86,1 Fundos do Lucro/Accionistas 42,1 38 40 36,3 2,9 10,4 3) Recursos Líquidos Rendimento por Trabalhador Fonte: DNPO – KPMG. Obs. 90 os valores são em milhões de MZM Economia, Política e Desenvolvimento Observa-se nos dados acima que os três maiores bancos captam mais recursos líquidos, recebem mais valores dos seus accionistas e que os custos operacionais com os quais operam são elevados, ao contrário do que ocorre nas IMF, que conseguem ter um percentual maior em termos de custos sob rendimentos, apesar de operarem com quantias pequenas. E das três IMF, o Banco Procredit (NovoBanco) é que capta maior volume de recursos e tem o lucro líquido maior. A seguir, apresenta-se a tabela do desempenho das três maiores Instituições que operam crédito em Moçambique de 2003 a 2007. Tabela 2.4: Desempenho das Instituições Operadoras de Crédito PROCREDIT/ NOVO SOCREMO BANCO Período 2003/04 2006/07 110 120 24 4,8% a 5,9% 2003/04 TCHUMA 2006/07 2003/04 131 120 65 60 12 48 12 24 2% a 6,5% 5,5% a 6,3% 2,7% a 5% 5% 5% Volume dos Empréstimos (Mínimo em USD) Prazo do Empréstimo Máximo Taxa de Juros Mensal Outras Taxas 2% do 1% a 2% do tamanho do tamanho do empréstimo empréstimo Nenhum A cobertura de 120% pode A cobertura ser de 120% Colateral pode ser reduzida para bons clientes reduzida para bons clientes 1% a 2% A cobertura de 50% a 200% Pode ser reduzida para bons clientes USD 4,00 2006/07 Nenhum Min Fixo USD 4,00 A cobertura de 120% pode ser reduzida para bons Nenhuma política colateral clientes Fonte: DNPO/MPD. Obs.: Para 2003/04 os dados foram colectados de Vletter (2006), e para 2006/07 foram colectados pelas IMF Taxas de Câmbio: 2006/07 = 25 Mt p/ 1 USD. Na tabela anterior, observa-se que os empréstimos das três instituições não ultrapassam 200,00 Dólares. Sendo a média de USD109,00. Para Vletter (2006), no ano de 2005, apenas quatro operadores tinham empréstimos médios entre 500 a 1000 USD, nomeadamente o NovoBanco, com 827,00USD, e a SOCREMO, com 624,00 USD. Em relação ao custo de transacção das operações, em Moçambique ainda existe uma grande dispersão das taxas de juros aplicadas pelos bancos comerciais para depósitos e empréstimos. Estes aplicam taxa de juros nominais para empréstimo entre 22% e 24% a.a. E a taxa de juros real entre 11% e 14% com inflação a 8,2% a.a. 91 Economia, Política e Desenvolvimento No entanto, estas taxas vêm caindo desde 2002, quando atingiam 22%, para 11,1% em 2007. Ou seja, as taxas de juro aplicadas pelas Instituições de Micro Crédito têm sido, no geral menores, que as taxas aplicadas pelos bancos comerciais. E o volume de crédito, com excepção da Tchuma, não difere muito entre o concedido pela SOCREMO e pelo Banco Procredit. Captação de Poupança em Moçambique De acordo com Vletter (2006), “as poupanças foram frequentemente esquecidas nas discussões do sector micro financeiro em Moçambique”. Nos anos 90, as micro empresas e os pobres economicamente activos recorriam a uma série de sistemas tradicionais e informais para adquirir empréstimo. No modelo informal, maior parte da população toma empréstimo de amigos e familiares. Este sistema é denominado “Xitique”. No sistema tradicional, o crédito, além de restrito, é concedido a taxas de juros muito elevadas (Chidzero, at al, 1998). O Xitique é uma espécie de crédito rotativo concedido por meio de depósito diário, semanal ou mensal em pequenas quantias, estipulado pelo próprio grupo participante. O crédito (xitique) pode ser em espécie (bem ou animal) ou em valor monetário, dependendo da finalidade requerida pelo grupo constituinte. No geral, os grupos são compostos por um número que varia entre 4 e 10 pessoas do mesmo sexo, e os fundos são captados sob forma de poupança e concedidos aos membros de forma individual, onde cada membro tem a sua vez de receber. Este sistema vigorou por muito tempo e ainda é usado pela maioria da população moçambicana, tanto nas áreas rurais como nas urbanas, entre assalariados e entre trabalhadores informais. Entretanto, a região sul é que mais faz uso desta prática (Chidzero, at al, 1998). Ressalva-se que, na economia, aqueles que fazem poupança muitas vezes aplicam-na nos seus próprios negócios, nas suas necessidades. Entretanto, se há uma sobra de dinheiro eles não sabem como aplicá-lo. Em uma economia em que os recursos não são mobilizados, isso se perde; em uma economia que se aplica sua poupança fora do país, também. A poupança no momento em que é aplicada se transforma em capital. (...) E para que se torne capital, precisa ser aplicada em actividades económicas (Pretto, 2003, p.11). Nesses moldes, vale dizer que inicialmente a poupança era o principal produto micro financeiro nas zonas rurais, iniciado pelos grupos de PCR, os quais, em Junho de 2005, tinham cerca de 25000 poupadores rurais, o que correspondia a 40% de todos os poupadores micro financeiros do país (Vletter, 2006). Em 2000, a Tchuma, em colaboração com a CARE, iniciou um esquema piloto de captação de poupanças baseado em selos, e, em 2003, introduziu a caderneta de poupança. O NovoBanco e a SOCREMO também introduziram estes serviços, sendo o primeiro em 2001, exigindo um capital mínimo de 4,00 Dólares, e o segundo em 2005 (Vlatter, 2006). 92 Economia, Política e Desenvolvimento A tabela abaixo, mostra a distribuição dos clientes e da carteira de crédito activa no país até 30 de Junho de 2005. Tomadores activos REGIÃO Maputo/ Matola Nr. % Poupadores activos Nr. Carteira activa (USD) % 34.164 50,80% Província de Maputo 3.478 5,2 *** Gaza 2.624 3,9 *** Inhambane 6.050 9 6.000 Beira 3.554 5,3 129 58% *** 859.303 5,2 *** 266.519 1,6 9,4 616.977 3,7 6.172 9,7 1.750.000 10,6 0,2 645 1 5.160 0,03 3.207 4,8 1.873 2,9 748.000 4,5 924 1,4 2.730 4,3 53.760 0,3 Tete 1.631 2,4 238.000 1,4 Zambézia 1.888 2,8 6.050 9,5 240.370 1,5 Cidade de Nampula 1.433 2,1 6.274 9,8 548.000 3,3 Província de Nampula 2.684 4 9.122 14,3 441.720 2,7 Cabo Delgado 5.246 7,8 *** *** 887.000 5,4 300 0,4 *** *** 200 1,2 Chimoio Província de Manica Niassa Totais 67.312 39,10% % 9.555.700 Província de Sofala 24.927 Nr. 63.793 16.210.709 Fonte: Vlatter, 2006. Tabela 2.5: Distribuição Geográfica dos Clientes Activos e da Carteira Activa das IMF por todo o País até 2005. Esta tabela reflecte o grau de disparidade entre as províncias do nosso pais na provisão dos serviços micro financeiro. Nota-se que algumas províncias, como é o caso de Sofala, Niassa e Manica, apresentam número relativamente menor de tomadores activos e têm carteiras activas muito pequenas. E em termos de poupança, quatro províncias não apresentam poupadores activos (Cabo Delgado, Niassa, Gaza, Província de Maputo). A grande concentração de agências bancárias e IMF na região de Maputo/Matola influencia para um maior número, tanto de tomadores, poupadores, assim como de carteiras activas. Esse número é justificável também pela grande concentração de negócios na capital e na região industrial da Matola. Conforme afirma Pretto (2003), a transformação da sobra de alguns em capital através do circuito financeiro é um dos elementos imprescindíveis para que o desenvolvimento aconteça. Dessa forma, torna-se necessária a concessão de crédito sem muita burocracia, ou seja, fornecido na base da confiança (Pretto, 2003). A necessidade de crédito demonstra também a necessidade do serviço de poupança como produto de micro finanças para se alcançar a sustentabilidade do sistema financeiro moçambicano. 93 Economia, Política e Desenvolvimento Extensão dos Serviços de Micro finanças as zonas rurais de Moçambique Com vista à necessidade crescente da captação de poupança por parte dos bancos, e a necessidade de as pessoas guardarem os seus capitais de forma segura, as autoridades financeiras em conjunto com o Governo de Moçambique, vêm incentivando o desenvolvimento da rede dos serviços financeiros no país, de forma a beneficiar a camada da população empreendedora que, na sua maioria, é constituída pela população pobre e residente em áreas rurais, como afirma o Portal do Governo de Moçambique em 2008. Essas pessoas, até então, tinham as suas pequenas quantias enterradas em latas ou guardadas em saquinhos, tendo dificuldades de ampliar os seus negócios devido à escassez de crédito e das instituições concedentes nessas regiões. Deste modo, o desenvolvimento da rede dos serviços financeiros em zonas rurais tem sido prioritário e é feito por meio das instituições de Micro Finanças que operam com o apoio da FARE, do Banco de Moçambique e através do financiamento de ONG Internacionais, não somente em forma de capital, mas também em treinamentos, de modo a expandirem as suas operações de maneira sustentável, atingindo por meio do micro crédito a população de baixa renda. Assim, os planos do Governo nesta área, além de visarem o melhoramento das condições de vida da população moçambicana, o que passa por reduzir os índices de pobreza absoluta ainda verificados no país, têm também como estratégia incentivar o sector privado a tomar pequenos empréstimos (micro crédito) nas IMF, de forma a ampliar as capacidades produtivas, possibilitando o crescimento deste sector no país. A importância da Concessão de Crédito para o sector informal em Moçambique A economia moçambicana é dominada pelo sector informal. Do total dos 20.226.296 milhões de habitantes (censo /2007), cerca de 75% da população economicamente activa (PEA) exerce actividade informal, sendo 25,2% no norte, 34,3% no centro e 15,6% no sul. A maioria da população empregada no sector informal compreende a faixa etária dos 25 aos 34 anos, dos quais 26,1% são dominados essencialmente por mulheres. Segue a faixa dos 15 aos 24 anos, com 24,4%, dos quais 15,7% é composto por mulheres entre 25 a 34 anos e 15,2% entre 15 a 24 anos. Em termos gerais, cerca de 90,9% dos trabalhadores informais praticam a agricultura. Na área rural, 83,6% na agricultura e na área urbana 77,9%, no comércio e turismo (INE, 2006). Entretanto, a grande maioria empregada no sector informal sofre fortes influências com relação à inflação e câmbio, que contribui negativamente na rentabilidade dos seus negócios. Este facto é verificado principalmente naqueles que cruzam a fronteira sul-africana em busca de mercadorias de preço mais baixo. E, para além dos impostos, salvo nos casos de contrabando, que são comuns, ou de mercadorias não declaradas às alfândegas, o aumento da taxa de câmbio em relação ao metical tem prejudicado em muito a população, não somente os vendedores, em termos de receita, como também o consumidor final, pelo facto de os custos serem repassados directamente às mercadorias no acto da venda. As tabelas seguintes mostram as médias anuais da taxa de câmbio e da inflação acumulada. Na tabela 2.5.1, observam-se as médias anuais das taxas de câmbio para transacções feitas em Dólares, assim como em Randes (moeda sul-africana), moeda muito usada na 94 Economia, Política e Desenvolvimento fronteira de Moçambique com a África do Sul. Tabela 2.5.1: Taxas de Câmbio no Período: 2001 - 2006 Período Moedas Média Anual USD (EUA) 2001 20,704.37 Rand 2,535.41 USD (EUA) 2002 23,665.38 Rand 2,373.69 USD (EUA) 2003 23,782.27 Rand 3,187.68 USD (EUA) 2004 22,513.36 Rand 3,523.43 USD (EUA) 2005 22,844.64 Rand 3,583,36 USD (EUA) 2006 24.99 Rand 3,72 Fonte: Banco de Moçambique Nota-se que no período de 2001 a 2004 houve uma estabilidade em relação ao câmbio. E a inflação para o mesmo período apresentou grande volatilidade (ver a tabela 2.5.2). Entretanto, desde o ano de 2006, o metical vem sofrendo desvalorização face ao Dólar. A tabela abaixo mostra a variação acumulada da inflação no período 2000 a 2006. Para o período de 2001, a inflação acumulada ficou em 22,3%, taxa bastante elevada quando comparada ao período anterior, o de 2000, e a variação positiva em termos de decréscimo para o ano de 2002. Essas variações afectam, não só a rentabilidade dos negócios, como a alta do preço das mercadorias. Uma vez que os comerciantes atravessam a fronteira em busca de produtos mais baratos, presume-se que no período analisado os preços dos produtos comercializados tenham sofrido uma subida por influência da valorização da moeda sul-africana (ver tabelas 2.5.1 e 2.5.2.). Tabela 2.5.2: Inflação acumulada em Moçambique: 2000 a 2006 Período Inflação Acumulada (%) 2000 10.5 2001 22.3 2002 9.1 2003 11.4 2004 9.3 2005 13.1 2006 8.1 Fonte: Banco de Moçambique 95 Economia, Política e Desenvolvimento Em 2006, a inflação atingiu o nível mais baixo, chegando a 8,1%. Essa queda deveuse também ao facto do país ter começado a apresentar níveis estáveis de inflação, bem como a sua redução para um dígito. Nível de Pobreza em Moçambique Moçambique é considerado um dos países mais pobres do mundo. Cerca de 80% da população vive da agricultura de subsistência. A pobreza é uma questão que vem sendo debatida pelo governo, ONG’s nacionais e internacionais e, mesmo assim, ainda existe um número significativo de moçambicanos a viver com menos de 1 USD por dia. E, embora o país apresente grande potencial para o desenvolvimento da agricultura, comércio e turismo, os sectores apresentam crescimento insignificante e não respondem à demanda de emprego no país. Tabela 2.5.3: mostra as Taxas de Desemprego da População de 15 e Mais Anos (Definição Nacional) por Sexo: 2004 – 2005 DESEMPREGO SEXO Homens Mulheres Total 14.7 21.7 18.7 25.6 35.7 31.0 9.1 15.7 12.9 Total Área de Residência Urbana Rural Fonte: INE – IFTRAB, 2004/05, acesso: 25/05/2009. Tabela 2.5.3. Taxas de Desemprego da População de 15 e Mais Anos Os dados acima apresentados mostram a taxa de desemprego total do país para a população de 15 anos e mais. No ano de 2005, a percentagem da população desempregada atingiu 18,7% e permanece nos mesmos níveis até à actualidade. O percentual maior de desempregados é verificado no sexo feminino, sendo de 21,7% contra 14,7% para os homens. Na tabela seguinte, os dados reflectem a Distribuição Percentual da População dos 15 e mais anos por Condição de Actividade Económica (CAE), onde é possível observar que 91,8% da população do país economicamente activa (PEA), tem apenas o ensino primário do 1° grau como nível de escolaridade. 96 Economia, Política e Desenvolvimento Tabela 2.5.4: Distribuição Percentual da População de 15 e mais anos por Condição de Actividade Económica: 2004 – 2005. Características Seleccionadas Condição de Actividade PEA PNEA Total 91.8 8.2 100.0 Urbana 84.3 15.7 100.0 Rural 95.8 4.2 100.0 Norte 93.6 6.4 100.0 Centro 92.7 7.3 100.0 Sul 88.4 11.6 100.0 Niassa 94.2 5.8 100.0 Cabo Delgado 92.0 8.0 100.0 Nampula 94.2 5.8 100.0 Zambézia 94.1 5.9 100.0 Tete 94.9 5.1 100.0 Manica 89.9 10.1 100.0 Sofala 89.9 10.1 100.0 Inhambane 92.3 7.7 100.0 Gaza 90.1 9.9 100.0 Maputo Província 90.3 9.7 100.0 Maputo Cidade 80.6 19.4 100.0 Total Área de Residência Região Províncias 97 Economia, Política e Desenvolvimento Tabela 2.5.5: Incentivo a Educação Nível de Educação Nenhum 94.1 5.9 100.0 Primário do 1º Grau 95.0 5.0 100.0 Primário do 2º Grau 85.9 14.1 100.0 Secundário e mais 79.2 20.8 100.0 Solteiro (a) 76.5 23.5 100.0 Casado(a) 96.1 3.9 100.0 União Marital 97.5 2.5 100.0 Divorciado(a)/Separado(a) 95.2 4.8 100.0 Viúvo(a) 86.0 14.0 100.0 Estado Civil Fonte: INE, IFTRAB, 2004/05 Observando a tabela acima, estes dados remetem à análise da necessidade continuada de políticas públicas e de incentivo à educação, visto que os índices de analfabetismo continuam sendo elevados e constituem entrave ao crescimento e desenvolvimento do país. A introdução das micro finanças no país é também um dos meios encontrados pelas autoridades moçambicanas (Financeiras e do Governo) com apoio de financiamentos externos para elevar o nível de actividade económica através de concessão de micro créditos ou crédito à população de baixa renda e ao micro empreendedor. Dessa forma, as operações das Instituições de Micro Finanças no país visam o desenvolvimento económico sustentável e a expansão dos serviços financeiros à população economicamente activa, incluindo os pobres e os micro empreendedores. Nesses moldes “... as IMFs são um instrumento institucional de redução e eliminação da pobreza, qualquer que seja a abrangência das insuficiências consideradas (necessidades fisiológicas básicas para a sobrevivência; ou as primeiras mais o acesso a serviços sociais básicos de saúde, educação, etc; ou as primeiras mais o acesso aos direitos jurídicos, «informacionais», etc., que são paradigmáticos de um estádio civilizacional) (Dias; Psico, 2008)”. O desenvolvimento económico torna-se uma das condições necessárias conducentes à redução dos níveis de pobreza absoluta verificados no país. Psico (2008) aponta como um dos desafios a expansão do sistema financeiro, especialmente no que concerne ao micro crédito para a população empreendedora do país. 98 Economia, Política e Desenvolvimento Segundo Sousa (1993), o “desenvolvimento económico refere-se à existência de crescimento económico contínuo em ritmo superior ao crescimento demográfico, envolvendo mudanças de estruturas e melhoria de indicadores económicos e sociais per capita, sendo, portanto, um fenómeno de longo prazo, que implica uma economia nacional fortalecida, com nível elevado de produtividade e ampliação da economia de mercado”.Portanto, enquanto as condições básicas da população não forem supridas e o país não apresentar um crescimento contínuo, este país passa longe de estar em desenvolvimento. É assim que O Governo de Moçambique e os doadores têm despendido esforços e recursos consideráveis no desenvolvimento económico e redução da pobreza. Embora isto tenha conduzido a melhorias em termos de um crescimento económico de 8% anual ao longo dos últimos dez anos (Arndt et al. 2006) e a uma redução de 69 para 54% da proporção de Moçambicanos a viver na pobreza (INE 2004), os indicadores chave sócio-económicos são ainda muito graves: o PIB per capita é de USD 1.117, a taxa de alfabetização entre adultos é de 46,5% e a esperança de vida à nascença é de 41,9 anos (Banco Mundial 2006; UNICEF 2007). Isto coloca Moçambique no 172º lugar, entre 177 países, do Índice de Desenvolvimento Humano do PNUD, ou seja o país menos desenvolvido da África Austral, SARPN (Tvedten, Paulo e Rosário 2006). Assim, o acesso aos serviços financeiros por parte da população de baixa renda tornase necessário para combater a pobreza que ainda assola o país. E parte destes serviços devem ser concedidos em forma de micro crédito, de forma a estimular o consumo antecipado por parte da população economicamente activa, que devido a restrições do sistema financeiro tradicional tem dificuldades de captar recursos para produção e, consequentemente, para poupar e para investir ou consumir no futuro. 99 Economia, Política e Desenvolvimento Conclusão do artigo O objectivo do Governo de Moçambique é a redução dos níveis de pobreza absoluta e a promoção do crescimento económico rápido, sustentável e abrangente. Dessa forma, uma das acções que o Governo tem vindo a implementar com vista a promover o desenvolvimento económico e social das áreas rurais tem sido, a nível político e administrativo, a conversão do Distrito em pólo de desenvolvimento sócio económico do país, e, a nível da descentralização das finanças públicas, a atribuição de parte dos fundos orçamentais públicos à gestão directa dos responsáveis distritais, através do Orçamento de Investimento de Iniciativas Locais. Contudo, é necessário que as políticas sejam também direccionadas para incentivar maior qualidade do ensino, para que o país possa beneficiar de um crescimento sustentável nesses pequenos negócios, uma vez que grande maioria da população empregada no sector informal não possui conhecimento de gestão. A formação das IMF, no que concerne à indústria de micro crédito ainda é pouco desenvolvida, o que implica a necessidade de medidas mais arrojadas por parte do Governo e das Instituições de Micro Finanças na concessão e difusão destes serviços. Isto também deve-se ao facto de o sistema financeiro moçambicano ainda ser caracterizado por falhas e ser tido como fraco e apertado, devido à existência de poucas instituições financeiras, poucos bancos a dominarem o sector e cerca de 80% dos activos totais pertencerem aos três maiores bancos comerciais (BIM, BCI, Standard Bank). Estes factores contribuem para o gargalo na aquisição do crédito, constituindo, consequentemente, um dos principais obstáculos para o desenvolvimento das zonas rurais, incluindo o sector privado em Moçambique (DNPO, 2009). Apesar do notável esforço do governo para a expansão destes serviços financeiros às zonas rurais (distritos), o desenvolvimento da indústria micro financeira em Moçambique ainda carece de um ambiente favorável, que estimule a sua oferta e procura. Em torno dessas dificuldades, a multiplicação de experiências bem sucedidas vem provando que podem ser servidos os que até aqui não tinham acesso aos bancos, começando-se a olhar com interesse para este nicho de mercado (população das zonas rurais). Algumas Instituições de Micro Finanças já estudam formas de criação de uma união nacional para abrangência destes serviços sem restrições à população de baixa renda. Acredita-se que partindo da base, onde as instituições financeiras são auto-sustentáveis ou com sustentabilidade a longo prazo, a disponibilidade de crédito será menos burocrática e menos restrita aos reais necessitados destes serviços. 100 Economia, Política e Desenvolvimento Referências ADAMOLEKUN, A. 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