FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO DE CURVELO FELIPE LACERDA DINIZ LEROY1 SAULO AUGUSTO RODRIGUES SOUZA2 O IMPACTO DA CRISE ECONÔMICA NA CIDADE DE CURVELO UMA ABORDAGEM PELA TEORIA DO CRESCIMENTO ECONÔMICO UTILIZANDO UM MODELO DE VETORES AUTO-REGRESSIVOS (VAR) CURVELO 2009 1 Doutorando em Teoria Econômica – Centro de Desenvolvimento e Planejamento Econômico/UFMG, Economista e Pesquisador do NUPIA/FAC e Professor da Faculdade de Administração de Curvelo (FAC) > e-mail: [email protected] 2 Bacharelando em Administração de Empresas – Faculdade de Administração de Curvelo (FAC), Estagiário e Pesquisador do NUPIA/FAC > e-mail: [email protected] 1 RESUMO O presente artigo usou a teoria do crescimento econômico, o efeito spillover e o modelo VAR para analisar o comportamento dos indicadores econômicos da cidade de Curvelo frente aos prejuízos causados pela grande crise mundial no Brasil e em Minas Gerais. O estudo mostra qual foi o período em que a crise afetou diretamente a economia e o emprego da cidade, bem como revela alguns números do período recessivo de que a cidade experimentou. Para isso foram utilizados dados secundários disponíveis em sites oficiais do Governo Federal e em estudos semelhantes realizados a nível interestadual. O período amostral compreendeu de agosto de 2008 a agosto de 2009, uma vez que esse compreendeu desde os primeiros sinais da crise até a retomada das atividades do país. Palavras-chaves: Crise econômica; crescimento econômico; efeito spillover. 2 1. INTRODUÇÃO A recente Crise Econômica Mundial, responsável por insolver os maiores bancos norteamericanos, grandes empresas hipotecárias do planeta e a maior empresa seguradora do mundo, ao contrário do que foi noticiado pelos meios de comunicação, foi resultado de um processo de constantes ações do modelo capitalista de mercado. A crise do setor imobiliário americano foi apenas um reflexo oriundo das baixas de juros anuais, fácil acesso ao crédito e especulação financeira. De proporções continentais, essa crise veio para contrapor o mito da não-intervenção do Estado na economia e expor a fragilidade das empresas privadas quando responsáveis pela operação do sistema econômico, conforme Keynes (1936) havia exposto na Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. Contudo, enquanto havia estabilidade financeira, os lucros e a renda estavam apenas à disposição dos capitalistas, e, de maneira contraditória, ao primeiro sinal de queda nos indicadores, quase que instantaneamente o resto da população é chamada para compartilhar os efeitos do prejuízo econômico. Para entender o impacto dessa crise sobre o crescimento econômico brasileiro, faz-se necessário explicar os reais motivos que a provocaram. Para isso, remetemo-nos ao cenário econômico mundial de anos anteriores, especificamente na década de 60, quando os lucros dos países centrais começaram a diminuir. Segundo Costa (2008), na tentativa de regular essa queda, medidas importantes foram tomadas, principalmente nos EUA, das quais se destacam: busca por vantagens econômicas e mão-de-obra barata por setores industriais americanos, em lugares como a Ásia e as Américas Central e do Sul; retirada do domínio do Estado da economia com uma significativa transferência de seus bens para o setor privado – privatização –; política de criação de riquezas pautada em capitais fictícios, como endividamento financeiro generalizado das famílias e da dívida pública. Ao invés de promover aumento nos lucros, essas medidas vieram a reduzir o poder de compra da população norte-americana e a fomentar o início da Crise Mundial. 3 O baixo poder de compra da sociedade deu início a uma grande procura por crédito, principalmente após 2001, ano em que o governo reduziu significativamente as taxas de juros anuais, gerando um processo inflacionário de grandes proporções nos EUA. Para controlar a situação, em 2006 novamente os juros foram elevados, dificultando o pagamento para muitos clientes, principalmente os denominados “subprimes”, que em dificuldades, tornaram-se inadimplentes. Esse conjunto de ações implicou em prejuízos financeiros para grandes operadoras de crédito e para todo um segmento de investidores e especuladores que compravam e vendiam os títulos das dívidas negociadas. No Brasil, a crise atingiu o sistema financeiro de forma mais reduzida. Entretanto, apesar dos esforços do Banco Central para regular as taxas de juros, a crise internacional refletiu no país, produzindo resultados inevitáveis à economia. De forma mais específica, a crise provocou impactos adversos que ampliaram e atingiram a produção e o mercado de trabalho brasileiro. (LANZANA e LOPES, 2009) A recessão dos países desenvolvidos afetou as exportações, visto que essas atividades estavam voltadas a abastecer a demanda dos países emergentes. Quando esses, pressionados pela recessão, reduziram as importações, os preços das commodities caíram, afetando assim as exportações brasileiras. Assim, o caminho natural foi a queda na produção e no número de empregos, pois empresas exportadoras haviam investido no país acreditando na valorização da moeda nacional, e o câmbio, embora altamente desvalorizado, não beneficiava naquele momento as exportações brasileiras, pois, a crise superava a competitividade dos produtos nacionais no mercado externo. O Estado de Minas Gerais, que possui uma pauta de exportação pouco diversificada, sofreu impacto direto causado pela crise. Cidades como Sete Lagoas e Curvelo, situadas na região central do Estado, que abrigam grandes siderúrgicas e empresas de reflorestamento, registraram alto grau de demissões e significativa queda no volume de exportações. 4 Contudo, o objetivo deste artigo é mensurar os impactos da crise econômica em Curvelo e demais cidades circunvizinhas. Para isso serão abordados os efeitos sobre os principais indicadores macroeconômicos, relacionando o crescimento da cidade com a interdependência existente entre os demais municípios, conforme a Teoria das Vantagens Comparativas e sua aplicabilidade na região, que aborda a “existência de uma relação de interdependência entre regiões, baseando na afirmativa de que as trocas mútuas entre os diversos mercados proporcionam a expansão dos mesmos, permitindo assim o crescimento das economias envolvidas nestas transações”. (GUIMARÃES apud LEROY e VIEIRA, 2007, p.1) Baseado no artigo de Maia & Lima (2001), utiliza-se um modelo semelhante de vetores autoregressivos, com a finalidade de mensurar a interdependência entre as regiões circunvizinhas e o efeito “spillover” (transbordamento) do crescimento econômico entre as regiões. 2. CRESCIMENTO ECONÔMICO A literatura descreve a importância da Teoria do Crescimento Econômico e a necessidade de se debater as disparidades de crescimento entre os países. Concomitantemente, se discute a importância de investimentos em exploração de recursos naturais e apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico – vantagens comparativas estáticas e dinâmicas – que estimulam a expansão e a modernização de sua estrutura produtiva. (MEDEIROS, 2002) Para Mankiw (2004), crescimento econômico representa progresso tecnológico, novos produtos, melhor qualidade, variedade e maiores quantidades. Investimentos em melhoria de condições de produção de um Estado por meio de inovações tecnológicas, financiamento, capacitação de mãode-obra, etc, favorece o aumento da capacidade produtiva, fundamental requisito para o desenvolvimento de uma economia. Quanto à Solow (1956), analisando os motivos que provocam o crescimento da economia, demonstrou em um modelo que o crescimento cessa a menos que a tecnologia produtiva aumente exponencialmente. Por ele também foi possível demonstrar como o crescimento do estoque do 5 capital, o crescimento da força de trabalho e os avanços tecnológicos interagem, e como afetam a produção total de bens e serviços de uma economia. Outros autores afirmam que, o crescimento também está associado às externalidades dos investimentos nos fatores de produção de economias geograficamente próximas – efeito spillover – . Segundo Neto (2001), mesmo que tais investimentos estejam restritos aos limites geográficos das economias, os efeitos e contribuições podem ser absorvidos pelas economias vizinhas. Os investimentos regionais em capital físico e humano afetam o progresso técnico de determinada região, atuando diretamente na sua função de produção. O crescimento de um Estado também é descrito por alguns modelos econômicos, considerando-se para isto o contexto macroeconômico. Harrod-Domar, um dos mais conhecidos, expressa o papel da oferta e da demanda de bens no crescimento de uma economia. Neste, para que haja equilíbrio no crescimento, é necessário que o produto do Estado cresça à taxa de garantia. Se o produto crescer abaixo, pode haver subprodução, isto é, excesso de demanda sobre a oferta, e se crescer acima, pode resultar em superprodução. A principal contribuição do modelo é a conclusão de que o fator gerador de crescimento é a criação de oferta, e que a demanda agregada, em conseqüência, se ajustaria de modo a absorver a capacidade produtiva. (SIMONSEN & CYSNE, 1995) O modelo Bissetorial de Mahalanobis analisa o crescimento econômico sob outro ponto de vista. Nesse modelo verifica-se que, quanto maior for à propensão marginal a poupar de um Estado, maior será a relação incremental no capital/produto no longo prazo. Porém, esse modelo não se aplica a todas as economias. Para Simonsen & Cysne (1995, p.497): A mensagem central do modelo de Mahalanobis – a de que crescer menos a curto prazo, investindo pesadamente na produção de bens de capital, pode ser o preço necessário para crescer mais a longo prazo – é fortemente prejudicada pela restrição do exercício a uma economia fechada. Uma economia aberta com escassez de capital poderia exportar bens de consumo e importar bens de capital, e, com isso, melhorar o seu crescimento tanto a curto quanto a longo prazo. O principal interesse do modelo é revelar que uma alteração significativa na propensão marginal a poupar pode exigir uma mudança na composição setorial dos investimentos, e, com isso, alterar a relação capital/produto da economia. 6 Lucas (1988) apud Amorim; Scalco; Braga (2009, p.359) inclui o capital humano nos fatores que geram crescimento econômico, estabelecendo-o como “variável explicativa na função de produção, sob a hipótese de que a exclusão dessa variável superestimaria a magnitude do efeito da acumulação de capital físico sobre o crescimento”. Dessa forma, o crescimento também seria estimado pelo acúmulo de capital físico e humano, bem como a inovação em conhecimento gerado por meio de desenvolvimento e pesquisas. Confirmando algumas das teorias apresentadas, certos fatos do passado que envolvem crescimento de economias podem ser analisados. Historicamente temos exemplos de países que após desastres ou anos de paralisação no crescimento, conseguiram ressurgir. O Japão, por exemplo, elevou suas rendas de um estágio muito baixo para um estágio relativamente alto, maior até mesmo do que a dos EUA, em um dado espaço de tempo, após a Segunda Guerra Mundial. Não obstante, isso foi conseguido com melhorias em infra-estrutura e tecnologia. Tecnicamente, apesar de o Japão possuir naquele momento capital inicial baixo, seus estoques de capitais de estado estacionário eram altos, devido às suas elevadas taxas de poupança. Como a taxa de poupança está ligada a estoque de capital, por conseguinte a capacidade produtiva, os resultados foram altos níveis de crescimento, experimentado pelo país nas décadas subsequentes à guerra. Gerschenkron (1952) apud Jones (2000, p.52) conclui que em certos momentos, países menos desenvolvidos tendem a crescer numa intensidade maior que países mais desenvolvidos. Esse fator, conhecido como convergência, também foi observado por Baumol (1986) apud Jones (2000, p.52) quando comparou o desenvolvimento do Produto Interno Bruto (PIB) da Austrália, Reino Unido, EUA, Alemanha e Japão, no período compreendido de 1885 a 1994. Seu estudo mostrou que, em 1870, Austrália e Reino Unido tinham os mais altos índices de PIB per capita no mundo ocidental, mas por serem relativamente ricos, cresciam a um ritmo mais lento. No final do século, os EUA, que estavam atrás, tinham ultrapassado todos os demais, assumindo a “liderança”. O Japão, que era considerado relativamente pobre, também cresceu rapidamente. Economias menos desenvolvidas crescem a taxas mais elevadas, porém esse alto nível de crescimento não se mantém periodicamente. No prazo de alguns anos é natural o declínio do índice de crescimento. Dessa forma, a posição relativa de um país na economia mundial tende a 7 ser mutável; podem passar de “pobres” para “ricos”, e vice-versa. É nessa perspectiva que encontramos base para a análise de como os EUA, por exemplo, conseguiu surgir no cenário econômico mundial. (JONES, 2000) Em qualquer tempo, ao analisar economias distintas, nota-se que cada uma cresce a um ritmo singular, apresentando quedas e elevações em momentos diferentes. Essas variações, além de determinar o produto, representam o crescimento e possibilitam a análise dos fatores que motivaram essas mudanças. Essas taxas de crescimento são objeto de estudo de inúmeras pesquisas no mesmo tema, e a resposta desse fenômeno possibilita a orientação para as políticas voltadas para a promoção do crescimento de Estado. Existem divergências entre economistas sobre a melhor forma de introduzir políticas públicas que resultem em crescimento econômico. Muitas delas estão enraizadas em diferentes opiniões, tais como o quanto deve ser destinado ao progresso tecnológico, ao aumento da poupança privada, em investimentos em capital público (infra-estrutura, estradas, pontes e sistemas de saneamento), capital físico (mão-de-obra) e capital humano (conhecimentos e habilidades adquiridos por meio da educação, desde os programas no início da infância, até treinamento no emprego para adultos na força de trabalho). Contudo, especialmente o aumento do capital humano, possibilita o desenvolvimento da capacidade de um país de produzir bens e serviços. De acordo com Mankiw (2004), elevar o nível do capital humano, apesar de exigir investimento em formação de professores, bibliotecas e tempo para estudar, é tão importante quanto às outras formas de investimento, pois esse é um dos diferenciais que países desenvolvidos apresentam nos padrões de vida de sua população. Entretanto, o diferencial de crescimento entre os países e regiões pode ser explicado por diversas variáveis econômicas, ou até mesmo pelas políticas públicas adotadas pelas autoridades no sentido de promover crescimento. No entanto, estudar a inter-relação entre as economias dos países e regiões e o impacto que o crescimento de uma região tem sobre a outra torna relevante, visto que regiões vizinhas crescem com a “força” e “sentido” de crescimento das economias situadas no seu entorno. 8 Para tanto, apresenta-se em seguida um modelo empírico estimado pelo método de Vetores AutoRegressivos, com o objetivo de mensurar a inter-relação econômica existente entre as regiões “efeito spillover” e explicar as diferentes taxas de crescimento econômico existente entre estas. 3. MODELO EMPÍRICO Muitos fenômenos econômicos acontecem simultaneamente e não isoladamente, e uma metodologia condizente com esta ótica leva em consideração o estudo de duas ou mais séries no tempo. Dessa forma, é feita uma análise multi-variada que procura captar a relação dinâmica entre as variáveis de análise. Segundo Enders (1995), um modelo de Vetores auto-regressivos pode ser representado como: Bxt 0 1xt 1 t (1) esta equação representa um modelo de Vetores Auto-regressivos (VAR) na forma primitiva, em que: 12 1 b12 y b B ; xt t ; 0 10 ; 1 11 ; t yt b21 1 21 22 zt b20 zt (2) B representa a matriz dos parâmetros contemporâneos do sistema; Ã0 é a matriz das constantes; Ã1 é a matriz dos parâmetros das variáveis defasadas. Multiplicando ambos os lados da equação (1) por B-1, obtêm-se a seguinte forma padrão para o modelo VAR: B 1 Bxt B 1 0 B 11xt 1 B 1 t (3) xt A0 A1 xt 1 et em que: A0 B 1 0 ; A1 B 11 e et B 1 t (4) 9 Em (4): xt é o vetor das variáveis contidas no modelo; A0 é o vetor de interceptos; A1 é a matriz dos coeficientes; et é o vetor de erros (com E(et) = 0 , Var(et) = 2 e Cov (et) = 0). Na formulação geral, o modelo Auto-regressivo que será usado neste trabalho é dado por: (5) MGt b10 b11MGt k b12 SPt i b13 RJ t i MGt SPt b20 b21MGt i b22 SPt k b23 RJ t i sp k 1, 2,3,...., n RJ t b30 b31MGt i b32 SPt k b33 RJ t k rj i 0,1, 2,3,..., n em que MGt , SPt , RJ t são, respectivamente, os PIB´s industriais dos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. 3.1. IDENTIFICAÇÃO Um dos maiores problemas encontrados no processo de modelagem de Vetores Auto-regressivos é a sua identificação. Uma maneira de identificar a ordem de um modelo VAR consiste em ajustar sequencialmente modelos Auto-regressivos Vetoriais de ordens 1, 2,..., k e testar a significância dos coeficientes (matrizes). Consideremos os seguintes modelos: X t 0(1) 1(1) X t 1 at1 X t 0(2) 1(2) X t 1 2(2) X t 2 at2 (6) X t 0( k ) 1( k ) X t 1 k( k ) X t k atk Os parâmetros destes modelos podem ser estimados por Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), que fornecem estimadores consistentes e eficientes. As hipóteses a serem testadas são: H 0 : k( k ) 0 H1 : k( k ) 0, k 1, 2,..., n (7) 10 O teste da Razão de Verossimilhanças é baseado nas estimativas das matrizes de covariância dos resíduos dos modelos ajustados. Para a k-ésima equação, considere: ^k ^ (k ) ^k a t X t 0 1( k ) X t 1 ... k X t k (8) A matriz de covariância dos resíduos pode ser dada por: ^ 1 k T K T ^k ^ (k ) a t ( a t )' , K 0 , (9) t k 1 ^ (0) em que, para K=0, a t X t X . A estatística da razão de verossimilhanças para o teste (8) é dada por: ^ RV (k ) (T k ) ln k 1 (10) ^ k cuja distribuição é qui-quadrado com n 2 graus de liberdade, 2 (n 2 ) . Outra maneira de identificar a ordem de um modelo VAR é usar algum dos critérios de informação descritos abaixo: ^ AIC (k ) ln k 2 2kn / T ^ BIC (k ) ln k 2 kn ln(T ) / T ^ HQC (k ) ln k Akaike Schwarz 2 kn ln(ln(T )) / T Hannan Quinn 11 11 3.2. ESTIMAÇÃO Identificado o valor de e supondo at ~ N (0, 2 ) , podemos estimar os coeficientes por Máxima Verossimilhança. Neste caso, os estimadores de MQO são equivalentes a estimadores de Máxima Verossimilhança condicionais. No caso de um modelo VAR, como descrito em (1), os estimadores de Máxima Verossimilhança3 condicionais são obtidos maximizando-se a expressão abaixo: l n T 1 2 ln(2 ) T 1 ln 2 1 1 T ( X t X t 1 ) ' 1 ( X t X t 1 ) 2 t 2 (12) em que obtemos: ^ t T X t X t 1 ' X t 1 X t 1 ' t 2 t 2 1 (13) ^ ^ ^ 1 at (at ) ' T t 1 T ^ (14) ^ a t X t X t 1 (15) No caso geral de um modelo de Vetores Auto-regressivos, os EMV condicionais são obtidos por métodos de maximização numérica. 3.3. DIAGNÓSTICO 3 Doravante definiremos a expressão Estimadores de Máxima Verossimilhança por EMV. 12 Para testar se o modelo VAR é adequado, usamos os resíduos para construir a versão multivariada característica de Box-Ljung-Pierce, dada por: ^ ^ 1 ^ ^ tr ( ) ' (0)1 ( ) (0) 1 ) 1 T m Q ( m) T 2 (16) que admite como Hipótese nula que a série a t é um ruído branco e possui uma distribuição quiquadrado da forma 2 (n 2 (m p )). Para que o número de graus de liberdade seja positivo, devemos ter m p . 3.4. TESTE DE ESTACIONARIEDADE: RAIZ UNITÁRIA Uma questão amplamente discutida na literatura é a questão da estacionariedade das séries, ou seja, se a série econômica apresenta ou não raiz unitária. Segundo Fava e Cati (1995), a origem da discussão sobre a existência de raiz unitária nas séries econômicas está no debate sobre a estacionariedade ou não da tendência. A tendência estocástica se diferencia da tendência determinística no que diz respeito aos efeitos. Se uma série possui uma tendência determinística, então na ocorrência de um choque esta série apresenta um efeito permanente, enquanto na tendência estocástica este mesmo choque pode provocar um efeito temporário. Em econometria, a utilização de séries com raiz unitária (não estacionárias) pode causar problemas de regressão espúria, que ocorrem devido à existência de uma tendência crescente ou decrescente entre as séries, levando à obtenção de um alto valor de R 2 , sem contudo haver uma relação apropriada entre as séries. Além disso, séries econômicas com raiz unitária não possuem tendência para retornar ao seu caminho “determinístico de longo prazo”, causando problemas de previsão (Libanio, 2005). Um teste amplamente utilizado para verificar a estacionariedade das séries é o de Dickey e Fuller (1981). Considere a equação abaixo: 13 Z1 0 Z t 1 at , com at ~ RB (0, 2 ) (17) caso o modelo expresso por (17) possua média zero, temos: (18) Z t Z t 1 at em que * 1. Podemos obter o Estimador de Mínimos Quadrados (EQM) de * por meio da regressão de Z t sobre Z t 1 . Temos que H 0 : 1; H 1 : 1 é equivalente a: H 0* : * 0 (19) H1* : * 0 Supondo-se at ~ i.i.d. (0, 2 ), temos: ^ N ( M Q 1) D 1 / 2([W (1)] 2 1) 02 [W ( r )] 2 dr (20) em que W (r ) é o Movimento Browniano (MB) padrão, ou seja, para cada t, W(t) ~ N(0,t). Em particular, W (1) 2 ~ 2 (1) e, como P ( 2 (1) 1) 0,68 , de (20) temos que a probabilidade de que o lado esquerdo de (20) seja negativo converge para 0,68 quando N . Dessa forma, mesmo que tenhamos um passeio aleatório ( 1) , simulando-se muitas amostras de tal processo, em aproximadamente 2/3 delas o estimador é diferente do caso estacionário: ^ MQ O p ( N 1 ). Sob a mesma suposição do teorema anterior, ^ D 1 / 2 ([W (1)] 2 1) ( 10 [W ( r )] 2 dr ) 1 / 2 (21) Os testes (20) e (21) são chamados testes de Dickey-Fuller (DF), cujas distribuições das estatísticas correspondentes são tabuladas. 14 3.5. TESTES DE CO-INTEGRAÇÃO Harris (1995) interpreta economicamente a co-integração quando duas ou mais variáveis possuem uma relação de equilíbrio de longo prazo, ou seja, mesmo que as séries possam conter tendências estocásticas (isto é, serem não estacionárias), elas irão mover-se juntas no tempo e a diferença entre elas será estável (isto é, estacionária). Em suma, o conceito de co-integração indica a existência de um equilíbrio de longo prazo para o qual o sistema econômico converge no tempo. Considera-se que o vetor z t ( MGt , SPt , RJ t ) tem uma relação de equilíbrio de longo prazo se esta relação é dada por ' z t 1MGt 2 SPt 2 RJ 0 . Em geral, é plausível supor que a economia encontra-se mais freqüentemente fora do equilíbrio do que em equilíbrio. Dessa forma, pode ocorrer que em algum período tenhamos ' z t v t , em que vt é uma variável estocástica e representa o desvio do equilíbrio. Se existe alguma relação de co-integração entre os componentes do vetor xt , é razoável supor que vt seja estacionário. Então, os componentes do vetor z t são co-integrados (Maia e Lima, 2001). Greene (2001) evidencia que a maioria dos estudos de macroeconomia empírica inclui variáveis não estacionárias e com tendências, tais como renda, consumo, demanda de moeda, taxa de câmbio e PIB. Desta maneira, o modo adequado de trabalhar com tais séries, conforme mencionado anteriormente, é tirando a primeira diferença. Considere a especificação completa do modelo de regressão como sendo: Yt x t t (22) em (22) está implícita a hipótese de que os resíduos t são ruído branco (i.i.d). Isto provavelmente está certo quando x t e y t são séries integradas. Geralmente, se duas séries são integradas para diferentes ordens, as combinações lineares de ambas estarão integradas para a mais alta ordem. 15 Assim, se x t e y t são I(1), então normalmente esperaríamos que y t xt seja I(1), seja qual for o valor de . Se x t e y t movem ambas para cima com suas próprias tendências, então, a menos que haja alguma relação entre estas tendências, a diferença entre elas deveria estar crescendo com outra tendência adicional. Assim, deve haver algum tipo de inconsistência no modelo. Por outro lado, se as séries são ambas I(1), pode existir um tal que o erro abaixo seja I(0): t y t xt (23) Intuitivamente, se as séries são I(1), a diferença entre elas tem que ser estável em torno de uma média fixa. A implicação é que as séries cresceriam simultaneamente e aproximadamente à mesma taxa. Duas séries que satisfazem estes requisitos estão co-integradas e o vetor 1, é um vetor de co-integração. Neste caso, podemos distinguir entre uma relação de longo prazo entre y t e xt , ou seja, a forma como as variáveis crescem, e a sua dinâmica de curto prazo. Podemos também decidir a relação entre os desvios de y t e os desvios de xt no que diz respeito às suas tendências de curto prazo. Se este é o caso, uma diferenciação das séries seria contraproducente, pois poderia obscurecer a relação de longo prazo entre y t e xt . Um teste de co-integração formalmente utilizado é o procedimento de Johansen, que é baseado nos seguintes passos: i. Verificar a ordem e integração das séries envolvidas; verificar a existência de tendências lineares; ii. Especificar e estimar um modelo VAR para X t , que supomos ser I(1); iii. Construir testes da Razão de Verossimilhanças (RV) para determinar o número de vetores de co-integração, que, por sua vez, sabemos ser igual ao posto de ; iv. Dados os vetores de co-integração (normalizados apropriadamente), estimar o Modelo de Correção de Erros (MCE) via Estimação por Máxima Verossimilhança. 16 Segundo Johansen (1995), os termos determinísticos de xt 0 Dt ' X t 1 F1 X t 1 ... F p 1 X t p 1 a t – em que 1 ... p I n e Dt contém termos determinísticos (constantes, tendência) – podem ser reescritos da forma: 0 Dt t 0 1 t (24) Para verificarmos os efeitos dos termos determinísticos no modelo VAR consideremos o caso especial abaixo: xt 0 1t ' X t 1 a t (25) em que 0 e 1 são ambos vetores n x 1. Decompondo estes dois vetores em relação à média das relações de co-integração e em relação às médias das taxas de crescimento, ou seja: 0 0 c0 1 1 c1 (26) Então, podemos escrever: xt 0 c0 1t c1t ' X t 1 at 1 ( 0 , 1 , ) t c0 c1t at x t 1 ' (27) ou ainda: 0' xt 1' xt*1 c0 c1t at * com X t 1 (1, t , X t*1 (1, t , X t'1 )' (28) 17 Podemos escolher 0 e 1 tais que o erro de equilíbrio ( * ) ' X t* v t tenha média zero, logo: E (X t ) c 0 c1t (29) Note que, se c 0 0 , temos um crescimento constante, ao passo que, se c1 0 , temos uma tendência linear nas diferenças ou tendência quadrática nos níveis das variáveis. Há cinco casos a considerar: Caso 1 - Constante nula, t 0 ; neste caso, 0 1 0 e o modelo não possui qualquer componente determinístico, com X t ~ I (1) sem “drift” (não há crescimento) e as relações de co-integração têm média zero. A menos que X 0 0 , este caso tem pouco interesse nas aplicações práticas; Caso 2 - Constante restrita, t 0 0 ; neste caso, 1 0 , c 0 0 , mas 0 0 , portanto, não há uma tendência linear nas variáveis, e as relações de co-integração têm média 0 ; Caso 3 - Constante irrestrita, t 0 ; aqui 1 0 , as séries de X t são I(1) sem “drift” e as relações de co-integração podem ter médias diferentes de zero; Caso 4 - Tendência restrita, t 0 1t ; neste caso, c1 0 , mas c 0 , 0, 1 são irrestritos. As séries são I(1) com “drift” e as relações de co-integração têm uma tendência linear; Caso 5 - Tendência irrestrita, t 0 1t ; não há nenhuma restrição sobre 0 e 1 , as séries são I(1) com tendência linear (logo tendência quadrática nos níveis) e as relações de co-integração têm tendência linear. Previsões podem ser ruins, portanto, deve-se ter cuidado em se adotar esta opção. Sabemos que o posto de fornece também o número de autovalores não-nulos de ; suponha que os ordenemos da forma 1 2 .... n . Se as séries são não co-integradas, ( ) 0 e todos os autovalores serão nulos, ou ainda ln(1 i ) 0 , para todo i. Um teste da Razão de Verossimilhança para verificar o posto de é baseado na Estatística do Traço, 18 ^ n traço (r0 ) T (30) ln(1 ), i i ro 1 ^ onde i são os autovalores estimados de . Para este teste temos as duas hipóteses abaixo: H 0 : r r0 (31) H1 : r r0 ^ ^ em que r é o posto de . Se ( ) = r0 , então r 0 1 ,..., n são aproximadamente nulas e a estatística (30) será pequena; caso contrário, será grande. Como dissemos acima, a distribuição assintótica de (30) é uma generalização multivariada da distribuição DF e depende da dimensão n r0 e da especificação dos termos determinísticos. Os valores críticos podem ser encontrados para os casos 1 a 5 acima, com n r0 1,...,10. Johansen também usa a estatística do Máximo Autovalor, que é: ^ (32) max (r0 ) T ln(1 r 01 ) As hipóteses a serem testadas são: H 0 : r r0 (33) H1 : r r0 1 A distribuição assintótica de (32) também depende de n r0 e da especificação de termos determinísticos. Supondo-se que o posto de é r, Johansen (1988) prova que o estimador de ^ ^ ^ ^ Máxima Verossimilhança de é dado por MV (v 1 ,..., v r ) , onde v i é o autovetor associado ao 19 ^ autovalor i , e os estimadores de Máxima Verossimilhança dos parâmetros restantes são obtidos por meio de uma regressão multivariada com sendo substituído pelo EMV4. 3.6. MODELOS DE VETORES AUTO-REGRESSIVOS COM CORREÇÃO DE ERROS O modelo de Correção de Erros (VEC) faz a ligação entre os aspectos relacionados com a dinâmica de curto prazo e os de longo prazo, isto é, permite combinar as vantagens de se modelar tanto nas diferenças quanto em nível. Segundo Harris (1995), o modelo de Correção de Erros possui várias vantagens. Primeiro, assumindo que x e y são co-integradas, o modelo de Correção de Erros incorpora os efeitos de curto e de longo prazo. Uma segunda vantagem deste modelo é que todos os seus termos são estacionários, considerando que as variáveis y e x são co-integradas e que os termos 1 e 2 foram estimados. Por fim, uma terceira característica do VEC é que o mesmo está de acordo com o conceito de cointegração de Engle & Granger (1982). Assim, a formulação deste modelo está imune ao problema da regressão espúria. Enders (1995) generaliza o VEC da seguinte forma: ^ ^ A(l ) y t B ( L ) x t (1 ) y t p 0 1 x t p u t (34) em que: A(l ) 1 1 L 2 L2 ... p Lp B( L) 1 1 L 2 L2 ... p Lp (35) 1 1 2 ... p corresponde ao seguinte modelo dinâmico: A( L)y t B( L)xt u t 4 Johansen (1995) mostra a normalidade assintótica dos estimadores de (36) com uma taxa de convergência de T 1 . 20 O Modelo de Correção de Erros pode ser estendido para um contexto multivariado, em que o vetor de variáveis é dado por xt , como abaixo: xt A1 xt ... Ak xt k u t (37) Maia e Lima (2001) apresentam um VEC para os estados do Paraná (PR), Rio Grande do Sul (RS) e Santa Catarina (SC). Tal modelo pode ser adaptado para as cidades de Curvelo, Três Marias e Sete Lagoas, utilizando a série de erros , como a seguir: MGt a10 a y ( ) a11MGt 1 a12 SPt 1 a13 RJ t 1 e1t SPt a20 am ( ) a21SPt 1 a22 MGt 1 a23 RJ t 1 e2t (38) SPt a30 am ( ) a31SPt 1 a32 MGt 1 a33 RJ t 1 e3t Onde: ( 1 MGt 1 2 RJ t 1 3 SPt 1 ) (39) A equação (38) representa um Modelo de Vetores Auto-regressivos restrito ou VEC, em que se assume um termo de “drift” ( A0 0) e ausência de constante e tendência na equação de correção de erros. O Vetor de co-integração ( ) acima pode ser normalizado com relação a uma das cidades de análise, ou seja, aquela cidade que recebe o impacto de todas as variáveis do sistema (Maia e Lima, 2001). O modelo pode ser generalizado da seguinte forma: zt A0 zt 1 A1zt 1 t ; com ' (40) Existem (n x r) matrizes e com rank r, tal que ' z t seja estacionária. Logo, r é o número de equações de co-integração, é o coeficiente de velocidade de ajustamento do sistema quando incorporadas as informações de equilíbrio de longo prazo, e cada coluna de corresponde a um vetor de co-integração. Como a estimação da matriz impõe restrições por equação, não 21 podemos usar o método dos Mínimos Quadrados Ordinários para obter os parâmetros e . Assim, os cálculos serão feitos diretamente através do uso do Procedimento da Máxima Verossimilhança. Como o rank de uma matriz é igual ao número de suas raízes características diferentes de zero, o teste de co-integração pode ser feito tomando como base essas raízes características estimadas e utilizando a hipótese (40) e o fato de que ' (Maia e Lima, 2001). 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1. ANÁLISE DESCRITIVA – EFEITO SPILLOVER Para a estimação dos dados foram levantados valores dos PIB per capita das cidades de Curvelo Sete Lagoas e Três Marias, com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do período compreendido entre 1999 e 2006. Na tabela 1 estão expressos valores dos PIB’s ao longo do período analisado: Tabela 1 - PIB per capita Municípios de Curvelo, Sete Lagoas e Três Marias – expresso em R$ 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Curvelo 2.888,00 3.249,00 3.261,00 3.526,00 4.562,00 5.459,00 5.695,00 6.080,00 Sete lagoas 5.658,00 5.920,00 7.795,00 7.740,00 8.671,00 12.882,00 12.953,00 13.134,00 Três Marias 12.271,00 14.738,00 12.859,00 15.979,00 22.041,00 28.287,00 32.458,00 42.005,00 FONTE: Ministério do Trabalho e Emprego - 2009 Tomando como base o trabalho desenvolvido por Leroy & Vieira (2007), onde foi analisada a interdependência dos PIB’s Industriais dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, e a influência da variação do PIB de uma determinada região sobre o crescimento econômico das outras, foi feita uma aproximação dos resultados em nível de municípios. Pela metodologia de vetores auto-regressivos (VAR), Leroy & Vieira (2007) ilustraram essa ligação e a influência exercida por São Paulo na seguinte figura: 22 Figura 1 – Função impulso-resposta: efeito em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais dado um choque em São Paulo plot of responses to dsp 1.0 dsp dmg drj 0.8 0.6 0.4 0.2 0.0 -0.2 -0.4 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 FONTE: Artigo Crescimento Econômico Local e impactos interestaduais: o caso dos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. (LEROY E VIEIRA, 2007, p.18) Constatou-se a sensibilidade entre as economias dos três Estados, a ponto de nenhum deles ficar isento a influências exercidas pelos demais. A nível municipal, a evolução dos PIB’s se deu da seguinte forma: Gráfico 1 – Relação Crescimento do PIB versus Tempo PIB per capita R$ 45.000,00 R$ 40.000,00 R$ 35.000,00 R$ 30.000,00 R$ 25.000,00 R$ 20.000,00 R$ 15.000,00 R$ 10.000,00 R$ 5.000,00 R$ 0,00 99 19 00 20 01 20 Curvelo 02 20 03 20 Sete Lagoas 04 20 05 20 06 20 Três Marias Curvelo, representada pela linha azul, apresentou uma estacionariedade no crescimento de seu Produto Interno Bruto, ao passo que Três Marias registrou altos níveis de desenvolvimento para o mesmo período. Sete Lagoas, numa posição intermediária, mostrou-se com um comportamento diferenciado das outras cidades; permaneceu semelhante à estacionariedade de Curvelo e o alto desempenho de Três Marias. No estudo de Leroy & Vieira (2007), o crescimento do PIB Industrial de São Paulo influenciou o seu próprio crescimento, bem como o de Minas Gerais. Três Marias, a nível municipal, causou 23 mesmo efeito em relação a Sete Lagoas. Por outro lado, os PIB’s Industriais de Minas Gerais e Rio de Janeiro afetaram somente eles mesmos, similar ao comportamento de Curvelo e Sete Lagoas – fraca expressão do efeito spillover –. Por fim, destaca-se a não-influência do crescimento do PIB de Três Marias sobre o de Curvelo. Apesar de tudo, mesmo com a ausência de causalidade entre as variáveis, qualquer medida de impacto implementada por uma das cidades pode ser transmitida para todo o sistema. 4.2. RESULTADOS DA CRISE De maneira semelhante ao tópico 4.1, foram levantados no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED/MTE) dados sobre o estoque de empregos das regiões do Brasil, no período compreendido entre o início dos impactos da crise até a data em que foi notado o fim do período de recessão brasileira. Tabela 2 – Saldo de empregos (admissões – demissões) Ago/08 Set/08 Out/08 Nov/08 Dez/08 Jan/09 Fev/09 Brasil 239.123 Minas Gerais Curvelo 19.770 55 Mar/09 Abr/09 Mai/09 Jun/09 282.841 61.401 -40.821 -654.946 -101.748 91.79 34.818 106.205 131.557 12.040 -29.438 -33.921 -88.062 -26.800 -869 9.399 15.602 37.518 17 124 -57 -191 -223 -120 -63 -150 -353 Jul/09 Ago/09 119.495 138.402 242.126 45.596 29.83 8.613 175 101 301 FONTE: CAGED/MTE No município de Curvelo, algumas ponderações são de destaque: O mês de setembro de 2008, período em que a bolha inflacionária surgia na economia mundial, Curvelo ainda não havia sentido impactos diretos. Seu saldo de contratações era de 12 (admissões – demissões), sendo um total de 696 novos empregos e 679 desligamentos; Outubro de 2008, enquanto o Brasil registrava significativa redução no saldo de contratações (de 282.841 em setembro para 61.401 em outubro) e Minas Gerais assumia números negativos (-29.438), Curvelo se via em um aumento no número de empregos, 24 chegando a um saldo de 124, resultado que pode ser explicado pela manutenção dos empregos formais feito por uma das maiores empresas da cidade, responsável por gerar grande número relativo de empregos (V&M Florestal); Em novembro e dezembro de 2008, período em que os prejuízos da crise se espalhavam pelo Brasil e por Minas, foram os meses em que Curvelo apresentou queda nos indicadores, assumindo números negativos no estoque de empregos com carteira assinada (-57 e -191). A reação de Curvelo frente à crise se deu de forma singular. Nos gráficos 2, 3 e 4 é possível visualizar o caminho que sua oferta de trabalho se comportou em relação ao Brasil e a Minas Gerais. É importante ressaltar que essa análise leva em conta somente o aspecto temporal e o movimento que a curva de empregos percorreu, haja vista que as escalas em números dos níveis Federais e Estaduais são muito superiores ao do município. Gráfico 2 – Saldo de empregos no Brasil 400000 200000 0 Gráfico 3 – Saldo de empregos em Minas Gerais 09 Brasil / ago -800000 09 -600000 jul/ /09 jun 9 i/0 ma /09 abr 09 9 r/0 ma / fev /09 jan 8 z/0 de 8 v/0 no 8 t/0 ou /08 set 08 -400000 / ago -200000 25 100000 50000 0 / ago 09 08 09 jul/ /09 jun 9 i/0 ma /09 abr 9 r/0 ma /09 fev /09 jan 8 z/0 de 8 v/0 no 8 t/0 ou /08 set / ago -50000 -100000 Minas Gerais Gráfico 4 – Saldo de empregos em Curvelo 400 200 0 /09 ago /09 jul /09 jun 9 i/0 ma 9 r/0 ab 9 r/0 ma /09 fev /09 jan 8 z/0 de 8 v/0 no 8 t/0 ou /08 set /08 ago -200 -400 Curvelo Os prejuízos sobre o nível de empregos foram similares no Brasil e em Minas Gerais. Passado o período crítico (novembro e dezembro de 2008), os dois entes assumiram posições de crescimento, reação esta que se manteve até meados do mês de maio. Em junho e julho de 2009, o estoque de empregos em Minas e Curvelo caiu subitamente. Essa queda está relacionada à grande baixa do nível de atividade siderurgia. Já Curvelo, se comparado ao Brasil e a Minas Gerais, postou-se tardiamente aos efeitos, tanto nos reflexos negativos quanto na reação diante deles, visto que no período onde já era notada uma retomada no desenvolvimento, tanto a nível federal quanto estadual, a cidade começava a transparecer em seus indicadores as baixas geradas pela crise. 26 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pelas baixas nos indicadores, elevado nível de demissões, concordatas, falências, entre tantos prejuízos econômicos, foi possível provar que a onda causada pela crise mundial foi bastante severa, provando, entre outras palavras, que ela esteve longe de ser somente uma crise de curto prazo. Constata-se o quanto estamos vulneráveis às variações econômicas ocorridas no resto do mundo. Numa análise mais aplicada, procuramos compreender melhor o comportamento e impactos causados da crise mundial sobre o Brasil, Minas Gerais e principalmente Curvelo. A partir da análise empírica de dados sobre situação econômica, produto interno bruto, estoque de empregos e número de rescisões de contratos de trabalho foi possível chegar à conclusão que a cidade sofreu e reagiu em um ritmo distinto de Minas Gerais e Brasil. De acordo com dados do CAGED, Curvelo aumentou o número de empregos quando existia um viés de baixa nas contratações e apresentou um comportamento recessivo justamente quando os outros entes analisados apresentavam sinais de reação. De forma resumida, a cidade contratou quando todos estavam demitindo e vice-versa. Por fim, pelos resultados encontrados, do quais fazemos questão de destacar que constituem uma base de dados rica e muito pouco explorada, Curvelo, por possuir poucas atividades econômicas geradoras de renda, sempre que houver algum tipo de turbulência nesses setores, os resultados imediatamente refletirão na economia local. Portanto, como forma de orientar políticas econômicas futuras, é imprescindível que os governos e representantes da administração pública tenham ciência dos efeitos macroeconômicos e as influências causadas por estes, a fim de reduzir os impactos causados por efeitos externos e promover o tão “sonhado” crescimento econômico. 27 6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA AMORIM, Airton Lopes; Scalco, Paulo Roberto; Braga, Marcelo José. Crescimento Econômico e Convergência de Renda nos Estados Brasileiros: Uma Análise a partir dos Grandes Setores da Economia. REN – Revista Econômica do Nordeste. Vol.39, Nº3 Julho – setembro de 2008. COSTA, Edimilson. A crise mundial do capitalismo e as perspectivas dos trabalhadores. Acesso em 17 de junho de 2009 <http://www.pcb.org.br/crise.pdf> ENDERS, Walter. Applied Econometric Times Series. New York: John Wiley & Sons, Inc, 1995a. ENDERS, Walter. Rats Handbook for Econometric Time Series. New York: John Wileyand Sons, Inc, 1995b. ENGLE, R.; GRANGER, W. J. 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