EG ID O PE LA LE I DE DI R EI TO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA AU TO RA L INSTITUTO A VEZ DO MESTRE EDUCAÇÃO DO CU M EN TO PR OT O USO PEDAGÓGICO DO AUDIOVISUAL NA Gisella Maria Soares Bezerra de Mello Rio de Janeiro 2011 Gisella Maria Soares Bezerra de Mello O USO PEDAGÓGICO DO AUDIOVISUAL NA EDUCAÇÃO Apresentação da monografia Universidade Candido Mendes à como requisito parcial para obtenção do grau de licenciado em Pedagogia. Orientadora: Profª Ms. Andressa Maria Freire da Rocha Arana Rio de Janeiro 2011 TERMO DE APROVAÇÃO O USO PEDAGÓGICO DO AUDIOVISUAL NA EDUCAÇÃO Monografia defendida por Gisella Maria Soares Bezerra de Mello, apresentada ao curso de Licenciatura em Pedagogia do Instituto a Vez do Mestre e aprovado em (dia) de (mês) de (ano) pela banca examinadora constituída professores: _________________________________________________ Orientador: Professora Andressa Maria Freire da Rocha Arana _________________________________________________ _________________________________________________ pelos Aos educadores que, como artistas, fazem de suas aulas e do ensino, com sua imaginação verdadeiras obras e que dedicação; divertem levando sonhos, emoções, desejos, consciência e Educação. O cinema é um modo divino de contar a vida. Frederico Fellini. AGRADECIMENTOS À Regina de Assis, pela sua trajetória como educadora e pela grande contribuição com informações em seu curso sobre Mídia-educação que tive o prazer de participar: Ao Prof. Dr. João Luís de Almeida Machado, consultor pedagógico e redator do “Curta na Escola” pelos ensinamentos e dedicação ao audiovisual na sua prática pedagógica e profissional Ao Fernando Gouveia, professor do IAVM, a quem não conheci pessoalmente, mas me fez perceber outra forma de ensinar, cheia de irreverência, humor e dedicação. METODOLOGIA A metodologia aplicada foi sendo criada a partir do próprio desenvolvimento da pesquisa. Apesar dos poucos títulos disponíveis sobre o tema deste trabalho, um primeiro passo foi dado à leitura de livros na área de filosofia, semiótica e lingüística, além dos específicos da Arte cinematográfica. Outras inúmeras fontes em diversas publicações atuais como cadernos de informática, matérias sobre educação em jornais diários e revistas especializadas, como Revista de Educação, Nova Escola, Filosofia, e as semanárias: Veja, Época, Isto é. Atualmente o Brasil tem discutido muito e eficácia de sua Educação gerando vários artigos esclarecedores. A leitura de algumas teses publicadas na área de cinema e educação, adquiridas em livrarias ou postadas por professores ao longo do curso; também como em seminários promovidos pela Faculdade de Educação da UFRJ, foram de bastante valia. Estes livros e textos diversos, apesar de se concentrarem mais no Cinema, atividade mais nobre do gênero audiovisual, quase nunca abrangiam os outros meios de comunicação como a TV e Internet. Foi extensa a pesquisa iconográfica em observação e seleção de TVs de cunho educativas, a programação em canais de televisão abertos e a cabo, principalmente na TV Futura, Canal Multirio e TV Brasil. Os programas da TV Globo citados foram vistos ao longo de minha infância e vida adulta e foram revistos em sites na Internet e revistas da TV do Jornal O Globo. As entrevistas com pessoas da área pedagógica e audiovisual de escolas, sites e TV’s foram fundamentais para entender e diversificar o tema, Diante da riqueza de informações práticas das entrevistas, que podem auxiliar pessoas que venham a se interessar pelo tema, decidimos deixá-las na íntegra para consulta nos anexos. A pesquisa de campo em algumas escolas do Rio Janeiro como a CEI e o projeto ligado a escola de ensino médio integral: NAVE foi também de fundamental importância, para entendermos as aplicações práticas no Ensino Fundamental e Médio. Tive uma oportunidade de realizar um estágio no site “Curta na Escola”, onde obtive preciosas informações da utilização de curtas metragens e seus desdobramentos. Ali foi onde tomei conhecimento do programa “Cinema para Todos”, que gerou uma longa entrevista com seus realizadores que não consta no anexo, além de material bibliográfico para sustentar e orientar o projeto, cujo teor é muito próximo ao que gostaria de demonstrar com este trabalho. Por ser um tema muito atual, não me servi de teóricos da pedagogia que são estudados à exaustão em nosso curso, pois se tratam mais da educação infantil, um aspecto ao qual não me ative aqui. Tentei buscar fontes nos teóricos mais contemporâneos que citam as novas tecnologias. Depois de uma primeira consulta, porém, chega a ficar irônico o fato de alguns termos citados como exemplos de novas mídias, já estarem em desuso pelo caráter extremamente inovador e veloz da informática. A cada ano, novas modas e manias de internautas vão mudando ou transformando, fazendo termos como ICQ, por exemplo, nos parecer hoje antiquado. Sendo assim, me ative mais no aspecto audiovisual; rememorando e analisando bibliografia, programas de TV e, sobretudo, alguns singelos e importantes filmes que tocam o tema da Educação, analisados com carinho neste trabalho. Por fim, minha vasta experiência no ramo Audiovisual, tendo participado em 40 longas metragens nacionais e estrangeiros, dirigido curtas, medias e longa metragem, minha formação em Comunicação pela PUC - Rio e na extensão da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, onde também trabalhei em filmes, me deu a intimidade com este tema cuja paixão pela arte cinematográfica foi compartilhada com diversos autores aqui citados. Pela minha formação pouco ortodoxa, certa informalidade no trabalho e no seio familiar, peço desculpas por minha dificuldade no trato da linguagem acadêmica, fato ressaltado por minha orientadora, sendo um aspecto muito particular deste trabalho. RESUMO O objetivo do trabalho é mostrar aos estudantes, profissionais do Ensino e da mídia em geral como o Audiovisual pode ser utilizado em sala de aula como uma bela e significante linguagem para o aprendizado. A pesquisa apresenta um painel da situação atual da educação a partir de algumas escolas do Rio de Janeiro e tenta mostrar como as rápidas mudanças tecnológicas, que são paulatinamente incorporadas por todos nós, a diferença entre gerações, já nascidas neste novo ambiente, a aplicação de novos conceitos e transformação no uso de ferramentas atuais, que falam a mesma língua que os jovens, podem interferir no resultado final do aprendizado. O entendimento sobre o processo ensino-aprendizagem será realizado a partir da análise de três filmes longa-metragem. Consideramos, ainda, as mídias eletrônicas, a história da televisão e seus programas de entretenimento educativo. No âmbito da internet procuramos ferramentas que aliam o audiovisual para educação no formato de curta metragem, com disponibilidade gratuita em sites. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................ 11 2 2.1 2.2 2.3 2.4 O USO DO AUDIOVISUAL PARA A EDUCAÇÃO ........................ MIDIA-EDUCAÇÃO ....................................................................... COMO MOTIVAR ALUNOS PARA NOSSAS AULAS ................... BONS EXEMPLOS NA LITERATURA AUDIOVISUAL.................. FAZENDO NOSSA PARTE .......................................................... 19 22 23 26 30 3 3.1 3.2 3.3 MÍDIA-EDUCAÇÃO OU ENTRETENIMENTO? ............................ UM POUCO DE HISTÓRIA DA TELEVISÃO ................................ E O ESTADO, COMO FAZIA? ...................................................... ESTIMULANDO A LITERATURA NAS TVS ABERTAS AS MINISSÉRIES ....................................................................... E NA INTERNET, NÃO VAI NADA? ........................................... ESTIMULANDO O CINEMA VISTO NA TELA GRANDE............. JÁ EM SÃO PAULO ..................................................................... MAIS HISTORIA, O CINE EDUCATIVO ..................................... 32 32 33 34 36 37 42 43 4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6- O PIONEIRISMO DO CINEMA COMO LINGUAGEM AUDIOVISUAL .............................................................................. A FABRICAÇÃO DAS IMAGENS PELOS ALUNOS ...................... ONDE SE PRATICA ESTAS NOVAS LINGUAGENS .................... FESTIVAIS DE CINEMA QUE EXIBEM VÍDEOS MIRINS ........... EVOLUÇÃO DOS PROGRAMAS INFANTIS NA TV PUBLICA...... NAS UNIVERSIDADES E SUAS ESCOLAS DE APLICAÇÃO ...... O CARATER ONÍRICO DAS NARRATIVAS AUDIOVISUAIS......... 45 48 49 51 51 52 54 5 CONCLUSÃO ................................................................................. 57 6 APÊNDICE ...................................................................................... 62 7 7.1 7.2 ANEXO ........................................................................................... 69 ENTREVISTA DE REGINA DE ASSIS ........................................... 69 ENTREVISTA DE COORDENADORES PEDAGÓGICOS DO SITE ............................................................. 73 ENTEVISTA DOS DONOS OU COORDENADORES DE ESCOLAS .................................................................................. 76 ENTREVISTA DO DIRETOR DA PROGRAMÇÃO DA TV ESCOLA ............................................................................... 78 RELATO DE PROFESSOR ENVIADO AO SITE “CURTA NA ESCOLA” .................................................................... 79 RANKING DE FILMES NO PROGRAMA. “CINEMA PARA TODOS” ................................................................ 82 3.4 3.5 3.6 3.7 4 7.3 7.4 7.5 7.6 8 REFERÊNCIAS ................................................................................ 84 1 – INTRODUÇÃO 1.1 - Uma imagem vale mais que mil palavras... Segundo matéria publicada pela Revista Época (julho de 2010), o Brasil é o segundo país do mundo em horas dedicadas a ver conteúdo audiovisual através de aparelhos de TV, 3 horas por dia, só perdendo para os EUA em razão de meia hora. Atualmente, jovens e crianças dispensam grandes quantidades de horas diante de uma tela, seja de TV, celular ou computador, em casa ou em lan-houses. É um comportamento típico da contemporaneidade, da falta de espaços ao ar livre, da insegurança, de pais que trabalham fora de casa, enfim da violência em geral, sobretudo, em grandes centros urbanos. Há, na mídia de hoje, inúmeros casos escabrosos de perversões como a pedofilia e bullying, tanto em instituições públicas, religiosas e escolas como dentro de casa. Se estas anomalias sociais são mais freqüentes hoje, não sabemos. Talvez, como sinais dos novos tempos, sejam mais divulgadas e atacadas socialmente quando antes eram abafadas. Decerto sabemos que a internet é um meio para captura de pedófilos já que também a utilizam para seus fins. As crianças hoje não têm mais tanta ingenuidade como antes por terem todas estas informações. Apesar disto, a internet é a grande fonte de diversão e socialização que elas preferem. Dificilmente as crianças urbanas poderão brincar em quintais e ruas fora do ambiente da Escola, da sua comunidade, no seu prédio ou apartamento. Sua rede de contatos vai muito além de seus pares ou de amigos que se conhecem fisicamente. Ela se realiza no âmbito mundial extrapolando bairros, cidades e países, se dando através das tecnologias de informação e comunicação (Tics) como computadores, celulares, jogos eletrônicos, TV, cinema e algum lazer de fim-de-semana com parentes ou colegas. Isto vem conseqüentemente acarretando um fosso entre gerações tanto no âmbito corporativo, profissional como no familiar. É a chamada geração “Y” como a própria mídia já cunhou. Adolescentes e mesmo crianças desprendem horas em facilidades de comunicação como redes sociais, blogs, e-mail e SMS. Na matéria publicada pela Revista Época esta mudança no comportamento é verificada em vários lares que possuem computador, onde pais têm que forçar filhos a socializar em família pelo menos nas refeições em comum, o que já vem sendo uma dificuldade, sobretudo com adolescentes, viciados em internet e games. O diálogo real e presencial tem sido cada vez mais difícil, sem falar em pais que também se viciam através dos filhos para desespero de suas esposas! Além da ampliação das facilidades de comunicação e de pesquisa que estas novas tecnologias oferecem, o uso destes elementos em sala de aula como ferramentas no auxílio da aprendizagem e cognição tem se tornado uma tendência, para não dizer quase uma obrigação, tendo em vista que os alunos usufruem destas novas linguagens e têm dificuldades em lidar com ferramentas tradicionais. É muito comum, nos dias atuais, o diagnóstico errôneo de que tantas crianças sofram de hiperatividade ou de Síndrome de Déficit de Atenção, as anomalias “da moda”. Sem desmerecer o excesso de energia que elas possuem, sua capacidade em usar várias mídias ao mesmo tempo nos surpreende e espanta nos levando a pensar que somos “jurássicos”. Esquecemos, porém, que já fomos seres “multimídias” quando ouvíamos vitrola, rádio e TV, lendo gibi. Será que nós, educadores, é que não estamos atentos? Devemos refletir até que ponto os recursos das aulas expositivas com o despejo de enormes quantidades de conteúdo, cadernos, textos, cópias e apostilas são suficientes para a real aprendizagem, ou seja, aquela que permanecerá sendo assimilada e acionada na posterior construção dos diversos saberes ou práticas profissionais. A Pedagogia vem ao longo de décadas, acrescentando novos teóricos, experiências e pesquisas mesmo quando ainda não existia como uma disciplina estruturada e estudada. Porém, o modelo professor em pé, giz e quadro negro, alunos sentados em fileiras com cadernos e apostilas vem há algum tempo reinando como padrão, mesmo com tantas novas descobertas e saberes da moderna psicologia, neurociência, biologia e psicopedagogia. Será que não estamos conseguindo atrair a atenção destes alunos por estarmos defasados em relação às constantes mudanças que o mundo vem passando? O advento das novas Tics (tecnologias de informação e comunicação) vem constituindo uma verdadeira revolução comparável à Revolução Industrial do séc. XIX. Nós vivemos hoje os estágios iniciais de uma revolução tecnológica similar à da primeira Renascença, e talvez ainda maior. O computador é infinitamente mais ‘amistoso’ do que o livro impresso, especialmente para crianças. Sua paciência é ilimitada. Não importa quantos erros o usuário possa cometer, o computador está sempre pronto para outra tentativa. Ele está sob o comando do aluno de uma maneira que nenhum professor em sala de aula pode estar. Numa sala de aula movimentada, um professor raramente tem tempo para uma criança em especial. O computador, por sua vez, está sempre disponível, não importando se a criança é rápida, lenta, ou normal para aprender, não importando se ela acha essa matéria fácil e aquela difícil, não importando se ela deseja aprender coisas novas ou se deseja rever algo já visto anteriormente. E, ao contrário do livro impresso, o computador permite uma variação infinita. Ele é divertido. (DRUCKER. 1989. p. 213). Por que não utilizar recursos audiovisuais como programas de TV, filmes de curta ou longa-metragem, vídeo, celular e internet e seus desdobramentos como: ferramentas de busca, textos colaborativos, blogs, sites de vídeos como youtube, games, websites, redes sociais? Dirigentes de escolas, educadores e professores podem ter em mente que estes recursos já estão ao alcance das crianças em suas residências ou lazer e que não são recomendáveis para a transmissão de conteúdo porém, o poder público oferece, há algum tempo, recursos pedagógicos audiovisuais para auxílio de professores em suas diferentes disciplinas, bem como vem favorecendo a formação de platéias em centros culturais. Temos hoje TVs públicas educativas com conteúdo exclusivo para sala de aula (TV ESCOLA) e com programação totalmente voltada para o ensino, aliadas a projetos como o da “Programadora Brasil” que agrega temas em filmes de longa, curta e documentários em DVDs destinados às instituições culturais e pontos de cultura. Há também iniciativas privadas como o site “Curta na escola” (http//:www.curtanaescola.com.br), embora seja realizado pela Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) Tamanduá, é totalmente patrocinado pela empresa estatal Petrobrás. Estes são alguns exemplos de fontes onde se encontram farto material praticamente gratuito para o professor utilizar em sala de aula. Mas há também a televisão e, com ela, todo um mundo de pedagogia visual. Há mais horas de pedagogia comprimidas em um comercial de trinta segundos do que a maioria dos professores conseguem colocar em um mês de lecionar. O assunto, ou matéria, de um comercial de TV é bastante secundário; o que importa é a habilidade, o profissionalismo e o poder de persuasão que nele existem. Portanto, as crianças chegam hoje à escola com expectativas que fatalmente serão desapontadas e frustradas. Elas esperam dos professores um nível de competência muito além do que a maioria deles poderão jamais oferecer. As escolas serão cada vez mais forçadas a usar computadores, televisão, filmes, fitas de vídeo e fitas de áudio. O professor será cada vez mais um supervisor e um mentor — talvez aproximando-se bastante do que ele era na universidade medieval vários séculos atrás. O trabalho do professor será ajudar, orientar, servir de exemplo, incentivar. É bem possível que o seu trabalho deixe de ser primordialmente transmitir a matéria em si. (DRUCKER. 1989. p. 213). O uso destas ferramentas é uma forma de falar a mesma linguagem que o aluno utiliza no seu cotidiano e que o mantém atualizado com os novos tempos, pois o giz, livro, a girafa com transparências, slides e outros recursos que foram amplamente utilizados na educação das gerações passadas, já não são mais suficientes para satisfazer este aluno contemporâneo. Em sua dissertação de mestrado M. Eneida Fachini Saliba estudou um dos autores pioneiros que, tendo sido também cineasta na sua juventude nos anos 20, publicou em 1931 um livro sobre cinema educativo intitulado “Cinema contra Cinema”, que advogava a favor de um bom cinema que fosse amplamente utilizado na educação. Devemos salientar que naquela década, somente o cinema era a atividade audiovisual conhecida e ainda bastante nova e revolucionária para a época. O cinema substitui as descrições verbais ou escritas de quaisquer figuras concreta de coisas, fatos ou fenômenos. Embora o faça com indiscutível superioridade porque é o melhor processo de representações de imagens, ainda não exclui a necessidade da palavra do professor... Nos casos em que o cinema pode substituir o quadro negro, o mapa, as descrições verbais é, também, indispensável o comentário do professor para ajustá-lo as peculiaridades e disposições físicas da classe. (ALMEIDA, 1931 apud SALIBA, 2003, p. 115). A máxima “uma imagem vale mais que mil palavras” está diretamente relacionada ao valor simbólico que uma imagem (foto, desenho, charge, pintura) reflete. Palavras e textos, muitas vezes, não são capazes de traduzir o que uma imagem é. No Canal Futura, TV a cabo de cunho educativo capitaneado pela Fundação Roberto Marinho com empresas privadas, foi transmitido um documentário produzido pela BBC versando apenas sobre a força e poder de uma pintura que se tornou símbolo da França: “ A Liberdade” de Delacroix. Trata-se da famosa figura da mulher com o seio descoberto e empunhando a bandeira francesa em meio a destroços. A grande gama de saberes e interpretações proferidas pelos intelectuais, historiadores e artistas por esta imagem realizada em plena ebulição da Revolução Francesa, sem contar com o quase desaparecimento desta obra de valor inestimável. Por ser um tanto moderna e revolucionária para sua época, abriu assunto para um documentário de uma hora de duração onde foram abordados temas interdisciplinares como História, Estética, Sociologia, Filosofia, Artes e ainda uma biografia do famoso pintor. Delacroix, A liberdade. Fonte: Wikipédia. Os recursos tradicionais se baseiam, em geral, na linguagem escrita, incluindo gráficos e leitura, limitando desta forma, impressões e uma gama de interpretações que a imagem poderia alcançar. Uma mesma imagem pode ser interpretada e utilizada de diversas maneiras. O Cinema e a publicidade já fazem uso dessa artimanha há tempos. Não é sem razão que as artes plásticas e o cinema tenham tanto espaço na mídia ou, mesmo informalmente, entre espectadores, pois cada um trará uma diferente visão sobre a mesma obra, o que não é tão comum na literatura, artes dramáticas ou no jornalismo. Vivemos numa era de grandes transformações tecnológicas que mudam radicalmente a face do mundo e suas relações, sobretudo nas gerações mais novas e na educação. Há um grande debate sobre o imediatismo da Internet, seu lado raso e superficial que culmina na falta de leitura, e no baixo rendimento escolar, principalmente para o aprendizado da língua portuguesa, sua ortografia, gramática, sintaxe, léxico. Isto se reflete, obviamente, em outras disciplinas que são ensinadas na tradição oral-escrita. Por outro lado, há pesquisas que apontam para uma maior abrangência da leitura através da internet pelo seu fácil acesso a inúmeras fontes gratuitas de publicações e artigos, ao passo que antes, cada livro teria que ser comprado, ou fotocopiado, dispensando alto custo financeiro, sem falar no tempo despendido em procurálos no mercado, quando havia. Podemos imaginar cidades tão remotas que mal tenham uma escola, que dirá biblioteca. Desta forma, as novas tecnologias democratizam o saber levando a pontos mais longínquos oportunidades de informação e obras-primas da humanidade. Ou seja, para aqueles que querem aprender, a internet será uma grande aliada como um dia já foram os livros e a imprensa, rádio e TV com seus programas de alfabetização. Também os romances já foram considerados alienantes e fantasiosos que levavam imoralidades aos jovens leitores, sendo muitas vezes proibidos. Não se trata do uso indiscriminado de novas tecnologias e demonizando técnicas didáticas tradicionais, mas sim afirmando uma complementação interdisciplinar destas linguagens, levando um painel mais amplo para alunos que têm, por exemplo, dificuldades de concentração com leitura de textos, mas que apreendem melhor o conteúdo através de imagens. Os recursos audiovisuais também despertam maior interesse pela obra escrita ou pelo assunto tratado levando alunos a procurar em outras fontes de pesquisa. Não seria o caso, portanto, de ensinar somente com o que o educando esteja familiarizado, mas poder mesclar os recursos tradicionais como textos e gráficos, dentro dos próprios meios tecnológicos recentes como Internet, ferramentas colaborativas de texto, vídeos, artes gráficas, fotos, entre outros. Seria como colocar um remédio amargo rejeitado pela criança em sua comida predileta, o aluno terá contato com texto, mas de forma que ele saiba manejar e apreciar, sem achar “chato” ou “maçante”. Não se pode deixar de mencionar que inúmeros trabalhos acadêmicos são disponibilizados diariamente na rede, auxiliando o professor em suas pesquisas e conseqüentemente, sua didática. Então, se as tecnologias atuais são boas para quem ensina, porque não seria para quem aprende? Neste trabalho foram pesquisadas escolas que possuem um histórico de longa utilização destas novas ferramentas e que já produziram resultados e ainda projetos que lidam com o Audiovisual com fins educativos. Conforme o título do trabalho, nosso foco será no Audiovisual, no entanto, não devemos ignorar o fato que as Tics estão convergindo para os meios tradicionais de comunicação, por exemplo: assistir um programa de TV na internet no horário que desejar ou participar de debates online de mídias diversas e blogs, comentando seus conteúdos. Através de estudos de dois casos bem sucedidos, em escolas tradicionais do Rio de Janeiro (Colégio CEI – Centro Educacional Integrado e o CAP da UFRJ – Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Em outros projetos sociais de caráter profissionalizante como o NAVE – Núcleo Avançado em Educação, no Colégio Estadual José Leite Lopes foi pesquisado o aspecto de criação das imagens audiovisuais feito pelos alunos. Da mesma maneira que podem elaborar textos para a educação tradicional, podem também produzir, em linguagem audiovisual, documentários, vídeos e filmes educativos. E por último, a formação de platéia e de público para as mídias educativas em diversos canais de TV, o programa governamental de exibição gratuita de filmes “Cinema para todos” e o site de exibição de curtas metragens nacionais, “Curta na Escola”, festivais e sessões para crianças e adolescentes em diversos projetos que visam educar através do audiovisual. Não há aqui, estudos sobre os didáticos “telecursos” em rádio e TVs e nem do ensino à distância na internet, trata-se de uma complementação ao ensino, seja ele presencial ou não. A intenção deste trabalho é apontar para uma tendência e informar ao educador como pode encontrar boas ferramentas, dentro do universo dos recursos audiovisuais, a serem utilizados na sua prática pedagógica. Através de iniciativas que estão despontando cada vez mais para esta vertente, é possível ampliar o uso destes recursos para maior compreensão, amadurecimento e consciência dos alunos que aprendem enquanto se divertem. Instalações da NAVE – Núcleo Avançado em Educação. (Arquivo pessoal) 2 - O USO DO AUDIOVISUAL PARA A EDUCAÇÃO A mídia, termo bastante difundido para significar os diversos meios de informação: rádio, TV, jornais e revistas, internet, publicidade em suas variadas formas: impressa ou eletrônica, está hoje em toda parte. Não somente nos meios de comunicação: jornais e revistas, TV, rádio, computadores, celulares; nos transportes: elevadores, ônibus, metro, além de bares e restaurantes. A essência da mídia é a simplificação do fato à notícia e, pelo seu caráter urgente e de grande abrangência, falar uma linguagem simples, objetiva e direta. É essa linguagem que os jovens têm familiaridade. A língua é uma entidade viva, mutante, variável e a mídia, em geral, quando não é segmentada, tenta minimizá-la a um denominador comum para atingir todas as classes sociais, diferenças regionais, culturais e de sotaques. Gírias e dialetos são gerados em diferentes áreas ou guetos das metrópoles denotando as origens de cada cidadão. É dever da Escola mostrar ao aluno que o português corrente, bem falado e escrito, lhe trará mais oportunidade e empregabilidade. Alimentando-se de grandes audiências e da publicidade, a mídia nem sempre se compromete com uma programação de qualidade ou com fatos verdadeiros. Os assuntos priorizados serão sempre os mais populares, muitas vezes sensacionalistas, mas que vendem, divertem, causam escândalos em detrimento dos assuntos mais educativos. Neste aspecto, podem incluir programas contendo cenas de extrema violência, linguagem de baixo calão, sensualidade exacerbada para horários e audiências não recomendados. Os criticados “enlatados” que nada informam e não têm vínculo com nenhuma cultura, são produtos essencialmente voltados para consumo globalizado, ou seja, promovem verdadeira “deseducação”. São muitas as pesquisas que revelam que a violência na televisão é uma fonte importante de aprendizagem de comportamentos agressivos; constitui uma forma privilegiada de difusão da normatividade deste tipo de comportamentos; contribui para uma dessensibilização à violência e às suas conseqüências; e facilita uma representação paranóide do mundo - um mundo que não é possível confiar nos outros, onde a probabilidade de ser vitimado é elevada, onde se justifica o uso da força. (VALA; LIMA; JERÔNIMO. 1997, p. 15) Neste sentido, se percebe a importância da mídia de qualidade, ou seja, a que é voltada para os interesses de entretenimento educativo e com a preocupação da boa informação de valores morais e éticos, do bem falar e do conhecimento. Este lado “bom” tratará, prioritariamente, de temas menos divulgados, mas que geram conhecimentos universais, não necessariamente de fatos atuais que já são amplamente cobertos pela mídia tradicional. Canais educativos nacionais a cabo como a TV Futura, cujo programa jornalístico intitulado “Jornal da Futura”, em horário nobre, cobre assuntos gerais de temas variados e não os do dia, como se espera de um jornalismo propriamente dito. Na verdade, é um programa de variedades que contem diversos temas de interesse relevante, quase sempre com a opinião ou entrevista de algum especialista no assunto. A mídia educativa tem um viés mais propositivo, divulgando boas iniciativas, um caráter pró-ativo e empreendedorista, uma consciência crítica e cidadã. Esse tipo de programação prioriza um lado menos dramático e escandaloso da vida sem, no entanto, deixar de mostrar certos assuntos tabus e injustiças sociais. A grife internacional de programa infantil dos mais bem sucedidos e longevos do mundo, Muppets, já visto em diversos canais abertos, mas agora exibido no Brasil pela TV Futura tem critérios pedagógicos bastante rígidos de conteúdo e de vendas alertando aos seus expectadores, por exemplo, sobre os perigos da pedofilia na Internet A partir do momento que conquistamos a liberdade de imprensa e que os meios de comunicação visam grandes lucros, cabe ao Estado cuidar para garantir canais de TV e rádio, publicações, eventos, filmes, peças, livros que visem qualidade dos conteúdos e reflitam as diversas culturas, que muitas vezes, não estão ao alcance do grande público. A massa de espectadores é bombardeada cotidianamente com atrativos e marketing que lhes prende a atenção, pois a mídia tradicional usa todas as formas de persuasão: da religiosidade a temas picantes, violência gratuita e criação de desejos através da publicidade. A Escola pode orientar e selecionar as boas iniciativas geradas pelos produtores destes conteúdos audiovisuais de caráter educativo e cultural, mesmo daqueles voltados para o entretenimento, mas que se relacionem com temas transversais estudados nos projetos escolares. Não ignoramos a pesquisa que ao longo de trinta anos tem evidenciado os efeitos indiretos da televisão, como aqueles que se relacionam com a violência. A pesquisa não só tem mostrado estes efeitos como também tem mostrado que a televisão cria um mundo imaginário, onde a seleção toma lugar do todo, e onde a ficção é objetivada como realidade. A discussão deste problema no nosso e em outros países tem sido enviesada por interesses corporativos, por interesses econômicos, por teorias implícitas fantástica sobre a psicologia dos humanos, pelo cientismo ingênuo e até por valores morais conservadores. (VALA; LIMA; JERÔNIMO. 1997, p 15) O Brasil foi escolhido como local para sediar, em 2004, a Quarta Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes no Rio de Janeiro. Uma iniciativa da Secretaria de Educação da Prefeitura, este evento trouxe todos os grandes atores que fazem esta atividade, da BBC até produtores e educadores da África, Austrália, Europa e EUA da América. Foi um interessantíssimo fórum de discussão de inúmeros assuntos relacionados à mídia-educação com o advento da participação ativa e política de adolescentes do mundo inteiro, nesta versão carioca. (Vide DVD em anexo produzido pela prefeitura do Rio de Janeiro). A professora Regina de Assis, ex-Secretária Municipal de Educação do Rio de Janeiro, criadora da TV Educativa Municipal do Rio de Janeiro e do portal da Internet, Canal MULTIRIO (Empresa Municipal de Mídia e Multimeios) foi a responsável pelo evento. Como um dos objetivos da criação do canal ela cita, em entrevista concedida a este trabalho: Criar e produzir audiovisuais e produtos impressos e digitais com e para Crianças, Adolescentes seus Familiares e Professores de modo a possibilitar diferentes concepções e formas de expressar valores, conhecimentos, curiosidades, desejos, sonhos e fantasias. Desta maneira, viabilizar através destes produtos, meios de trabalhar as diferentes áreas de conhecimento nas Escolas, ligadas à concepção de sociedade que desejamos, no cenário da MULTIEDUCAÇÃO. O Brasil possui uma mídia eletrônica bem estruturada e, portanto, é um dos países onde há vários aspectos a serem estudados e pesquisados levando-se em conta suas disparidades regionais que ora se assemelham a países africanos, ora a países de primeiro mundo. A educação formal é bastante precária em nossa cultura, no sentido da importância social e política. Sendo assim, a mídia, como espaço de entretenimento bastante popular no país, sobretudo a de radiodifusão, pode e deve cumprir uma agenda educativa e esclarecedora, já que o padrão de programação é bastante controverso. Nos anos sessenta, e de par com a difusão da televisão, assistese ao nascimento e expansão de uma corrente de conceptualização crítica da relação entre os media e a sociedade. Autores como T. Adorno, E. Morin, H. Marcuse, L. Althusser, e, ainda hoje, N. Chomsky, olharam par os media como instrumento de dominação social. E mais importante, contribuíram para fundamentação de uma analise institucional dos media, mostrando como este campo da vida social não pode ser subtraído a reflexão problematizante de que tem sido objeto outras instituições sociais como a família, a religião ou o sistema político. (VALA; LIMA; JERÔNIMO. 1997, p. 22). . Nas escolas de Comunicação e Filosofia muito já se estudou e teorizou sobre os malefícios da mídia comercial, portanto, não se trata aqui, de estudar este aspecto e sim de mostrar e propor o que podemos encontrar ou produzir hoje nos meios de comunicação e informação. Algumas novas pesquisas demonstram que as audiências já não são tão manipuláveis ou passivas: A partir do início dos anos 80 os estudos da recepção ou interpretação de audiências começaram a questionar essa concepção, alegando que, por trás de chamado receptor existe um sujeito social dotado de valores, crenças, saberes, e informações próprias de sua(s) cultura(s), que interage, de forma ativa, na produção dos significados das mensagens. Pesquisas realizadas nessa área mostraram que o espectador não é vazio, nem muito menos tolo; suas experiências, sua visão de mundo e suas referências culturais interferem no modo como ele vê e interpreta os conteúdos da mídia. Sob este ponto de vista, passou-se então, a tentar compreender os mecanismos sociais, culturais e psicológicos que participam deste processo. (DUARTE, 2002, p. 65) 2.1 - Mídia-Educação A mídia-educação, como é cunhada nos termos da comunicação social, não pretende substituir o educador nem o professor, mas despertar interesse, complementar uma aula, ilustrar, justificar uma tese, provocar debate ou, simplesmente, entreter de forma menos nociva. A criança hoje, quando descobre um novo assunto e quer se aprofundar, tem à mão uma infinidade de informações em várias fontes de conhecimento e pesquisa que poderão auxiliála em sua investigação. Falar que crianças não têm acesso à rede mundial de computadores não se justifica, pois mesmo as que não possuem computador em casa, sabem como acessá-la em lan houses, escolas, bibliotecas ou até mesmo em celulares. A internet talvez seja o canal favorito deste seres da chamada geração “Y”, tão distintos de nós, que fomos educados na base do quadro negro e giz, lápis e papel, disciplina e cobrança. Através da internet as crianças se correspondem com diversos amigos, jogam, lêem histórias e notícias, vêem filmes, pesquisam, acessam suas fotos e dos outros, enfim, é uma janela infindável visionada através da tela do computador, impossível desprezar tal instrumento assim como foi o jornal, rádio, TV, Teatro e Cinema. Não podemos somente demonizar a internet sob acusação de que há mais interesse em redes sociais e sites pornográficos. Temos que admitir que a internet é uma fonte infinitamente mais democrática do que as clássicas enciclopédias. Cabe ao educador incentivar a pesquisa e ensinar como melhor explorá-la: acessando sites valiosos em termos educacionais - além da Wikipédia que não tem nenhum compromisso científico-acadêmico, criando atividades, usando redes sociais, ferramentas colaborativas de Web 2.0, enfim, usar sua imaginação para atrair o jovem ou criança para o estudo dirigido a partir do seu mundo de interesses. Para a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Léa da Cruz Fagundes, de 80 anos, pioneira do uso da Informática educacional no Brasil, estamos vivendo uma revolução mundial, segundo ela: Para as crianças é natural, pois nasceram nesta cultura. A escola não pode querer atendê-las como atendia aos nossos pais. Pelas nossas pesquisas eles criam pesquisam produzem, temos de mudar os modelos de ensino. Não se pode dar aulas a alunos com computador como se fazia quando tinha lápis e caderno. (REVISTA TV ESCOLA, 2010, p 28) 2.2 - Como motivar alunos para nossas aulas? Um bom filme adaptado de uma obra literária desperta o interesse do espectador para transformar-se depois, no ‘leitor’ daquela mesma obra. O professor pode usar as Tics como isca para prender a atenção do aluno e desta forma passar o conteúdo de maneira que haja efetiva aprendizagem. Não há nesta prática, nenhum problema moral ou ético. Os livros didáticos, literatura e apostilas já faziam o mesmo, cabem a nós, educadores, acompanhar a evolução dos tempos, principalmente aqueles que lidam com as novas gerações. O professor que se recusa a usar novas tecnologias pode estar fadado ao fracasso profissional, não que seja obrigatório usá-las, porém, o professor tem que ter um carisma muito especial que não prescinda desses “artifícios”. Neste aspecto há sempre em nossas memórias, professores que nos marcaram na juventude, e que nunca esquecemos, devemos tentar entender o porquê desse não esquecimento. Foi somente o professor ou também sua matéria? Ou foram os dois? Será que poderemos separar um do outro? Os educadores podem encastelar-se no âmbito da escola, indiferentes ao que se desdobra lá fora; devem, antes ter permanentemente diante dos olhos a consideração das forças psicológicas que surgem, crescem e agem espontânea e inconscientemente na sociedade, em colaboração ou detrimento da obra escolar. (ALMEIDA, 1931 apud SALIBA, p. 142-3) O programa “Profissão Repórter”, da TV Globo, apresentado pelo jornalista Caco Barcelos, mostrou, recentemente, o perfil de uma realidade escolar vista na periferia de Florianópolis, em Santa Catarina. O programa mostrou adolescentes rebeldes de baixa renda ridicularizando o professor que era chamado de “branco” e “chato”, por uma sala vazia, quase sem alunos. Sua aula era expositiva, com grandes conteúdos colocados no quadro negro. No mesmo programa, havia uma senhora, negra e corpulenta, que subia na comunidade onde a maior parte dos alunos morava e conhecia seus parentes, vendo-os em seus afazeres e lazer fora do ambiente da Escola. Esta senhora ensinava Artes e sua aula era muito freqüentada e participativa na mesma Escola que o outro professor. Ela sabia o nome de cada aluno e um pouco da suas vidas, mas não era do tipo “Tia”, ou seja, não os tratava como crianças mas se dirigia a eles de forma direta e franca, comentando o que achava errado e levando-os a refletir sobre suas atitudes. O repórter deixa a questão para os alunos e espectadores: porque eles freqüentavam a aula desta senhora enquanto faltavam ou faziam bagunça na de outros professores? É comum, no meio pedagógico, uma crítica talvez um pouco maliciosa do professor “Show”. O professor não precisa ser um apresentador de TV, nem humorista ou carrasco, mas é conveniente ter poder de comunicação. Na monografia baseada em mídia-educação para o curso de Comunicação Social (PUC–Rio) de Bianca Berardo Nin, “Aprendendo a aprender, como as novas tecnologias revolucionam a educação”, redigida em forma de matéria jornalística para uma revista, destaca-se: Na opinião de Ilana Eloá, doutorando em Educação e professora do curso de especialização em Mídia, Tecnologias da Informação e Novas Linguagens Educacionais da CCE – PUC – Rio, os alunos de Comunicação Social deveriam ter uma disciplina de mídia educação integrada ao currículo, mesmo que eletiva. O currículo de Pedagogia da PUC–Rio já aderiu essa idéia e a USP, inclusive já criou uma habilitação específica em Educomunicação. Para ela, a oferta de cursos na pós– graduação também precisa ser ampliada. (NIN, 2010. p. 11) O professor deve ter interesse real no aprendizado dos seus alunos, mesmo que não saiba o nome de cada um, já que as classes hoje estão cada vez mais numerosas, fato constantemente denunciado pelos professores como um agravante à qualidade de ensino. A falta de interesse profissional pelos motivos expostos anteriormente, e a apatia poderão “minar” a sua prática profissional. Esta é a pior “praga” que acomete alunos e professores, sendo em nosso país, a regra, e não a exceção. São muito comuns infelizmente, alunos desmotivados e professores faltosos, carentes de atenção e estímulo, seja financeiro como moral. Será então que devemos creditar esta problemática somente nas costas do Estado? Será que poderíamos, como educadores, fazer alguma diferença? Poderíamos tentar, junto à direção da escola ou ao poder público promover meios para que este quadro mudasse? No filme “Pro dia nascer feliz“ de João Jardim, um documentário que nos fornece um amplo painel sobre a educação brasileira, percebemos uma realidade muito assustadora. Até quando iremos somente ver e constatar o que já sabemos? Não podemos tentar quebrar estes paradigmas? Afinal não foi assim que fizeram Vygotski, Piaget, Freinet, Freire, Montessori, Nietzsche, Schopenhauer entre outros educadores, cientistas e pensadores que são nossas referências? Há um interessante caso do professor canadense David Gilmour que viu seu filho abandonar a escola e a casa da mãe, onde morava, depois de perder completamente o interesse em freqüentar as aulas. Este professor fez um trato com seu filho como condição para morar com ele: veriam juntos três filmes por semana, e depois os debateriam. David, o pai, fez uma bela seleção dos melhores filmes de todos os tempos e, sendo roteirista e crítico, debatiam a fundo o tema, a história e o trabalho do diretor, elenco e técnicos. O rapaz, mesmo sem interesse a princípio, começou a tomar gosto pelas sessões e pelo cinema acabando por regressar à escola. Este episódio acabou transformandose num belo livro, “O clube do filme”, onde o pai e autor relata a fundo esta experiência que os aproximou e terminou por mostrar um possível caminho ao filho, que hoje é cineasta. 2.3 - Bons exemplos na literatura audiovisual Há, na literatura audiovisual, bons exemplos de filmes de longa metragem que versam sobre algumas destas questões e que são filmes absolutamente atuais. Dois destes filmes foram laureados com as premiações máximas do cinema, o Festival de Cannes e o Oscar. O primeiro é francês e chama-se “Entre os muros da Escola” (França, 2008). O filme mostra o dia-adia do professor de língua francesa de uma turma de adolescentes de escola pública dos arredores de Paris; todos imigrantes, árabes, negros, latinos. A história se transcorre no decorrer de um ano letivo com grandes conflitos entre professores, alunos e coordenação; enfim, mostra um painel bastante realista da profissão de quem pretende ensinar. Mais curioso é que ele foi escrito e interpretado pelo próprio professor que viveu e escreveu estas experiências. Por sorte, caiu nas mãos de um bom cineasta que o filmou como se fosse um filme documentário e ao assisti-lo nos perguntamos se de fato não é um, tamanha a veracidade das cenas. O diretor teve a felicidade de escolher os próprios alunos como atores do filme, quebrando, assim, paradigmas de que só atores profissionais podem interpretar; o que enfatiza a tênue linha que separa ficção da realidade. O resultado foi uma obra incrivelmente simples, mas de forte densidade dramática, por se passar, como sugere o título, totalmente dentro dos muros da escola, sem contar com nenhuma cena de contexto familiar. Muito menos esperado foi um filme sem estrelas ou diretor famoso ganhar o Festival de Cannes, o maior festival mundial da arte cinematográfica, que já nos premiou em 1962, com o filme “O Pagador de promessas”, de Anselmo Duarte, baseado na obra de Dias Gomes. Uma láurea neste festival atrai imenso interesse de distribuidores do mundo todo, mas estes filmes ainda são exibidos em circuitos de arte pouco divulgados, ao contrário dos famosos blockbusters (tradução literal: arrasa-quarteirão), filmes de grande apelo de marketing dos estúdios americanos. “Ente os muros da Escola”, porém, foi exibido exaustivamente nos canais a cabo da Globosat, TV Futura e Telecine Cult. O longa metragem americano Preciosa (Precious, 2009), de Lee Daniels ganhador do Festival de Sundance, o maior festival de cinema independente do mundo, não foi financiado por um grande estúdio, mas que contou com uma grande mecenas: a apresentadora e jornalista Oprah Winfrey, hoje das mulheres mais poderosas do mundo, que possui seu próprio canal de TV. Ela ajudou a produzi-lo por ser, como a protagonista do filme, de origem semelhante: negra, pobre e com problemas familiares e ainda brigando eternamente com a balança... Os filmes nos EUA não são, como no resto do mundo, financiados pelo Estado. Para quem não a conhece, Oprah Winfrey tem um programa diário visto em dezenas de países do mundo e já fez inúmeras doações para África em forma de projetos e programas para educação de mulheres e crianças. Assim como seus entrevistados, desde o cidadão comum até as maiores estrelas do showbizz, ela consegue arrancar confissões das mais profundas, não uma simples a fofoca, mas aquelas que só se contam ao terapeuta ou psicanalista, como estupros ou preferência sexual. Talvez pela sua sinceridade em falar de si mesma como vítima de violação na infância, seu programa se tornou um sucesso atingindo milhões de espectadores no mundo. Oprah não se tornou uma apresentadora de gueto ou étnica, em sua platéia há mais brancos que negros e no seu sofá passam todas as grandes estrelas de Hollywood. Não trouxemos este aparte ao acaso: em seu programa, muitas vezes Oprah toca na questão que diz respeito aos perigos que concerne às crianças como a pedofilia, o bullying e abuso sexual familiar, fazendo reportagens muito profundas, pois não se trata somente de um talk show. Seu prestígio é tão grande que a família de Michael Jackson: pais, sobrinhos e filhos; confiou-lhe uma longa entrevista exclusiva. Foto do filme “Precious”. Fonte: www.cinepop.com.br Voltando ao filme, “Preciosa”, estamos falando de um personagem de uma moça que aos 16 anos estuda, sem a menor vontade ou atenção numa escola pública de gueto. Ela é chamada pela direção da escola, pois está novamente grávida. A diretora tenta obter alguma confissão da protagonista já que ela é uma garota incomum, muito gorda e de poucos atrativos femininos. Precious, o nome da personagem em inglês, já tem um filho de pai desconhecido e isto faz com que a diretora recomende uma escola especial, pois desconfia que atrás da resposta dela à diretora: “estou grávida por que fiz sexo”, há outras mazelas escondidas. Desta forma, Precious vai para uma escola especial onde há somente moças com problemas de aprendizagem e dificuldades de todas as espécies desde drogas até relações conflituosas na família. Ao contrário do que se passava na outra escola, onde ela sonhava acordada com belos professores transformados em príncipes encantados, não poderá mais ficar à parte do ensino, pois a sala conta com poucas alunas. Então, nós espectadores, finalmente somos informados que Preciosa ainda não sabe nem ler, ou seja, era uma analfabeta funcional como tanto ocorre aqui em nosso país. A amável instrutora se interessa pelo caso dela tratando-a com dignidade, ao contrário de sua família e consegue que ela tome gosto pela sua própria educação, aumentando assim sua auto-estima. A professora e sua companheira convidam Preciosa para freqüentar sua casa, tratando-a com um carinho que sempre lhe foi negado. Desta forma, descobrem todo o passado da problemática moça cujos filhos são do pai abusador, com a aquiescência de sua intratável e infeliz mãe. Enfim, uma história trágica como a de muitas pessoas, mas nem sempre com o final feliz e de superação como neste filme. Relato estas duas obras por serem exemplos de filmes sobre educação que podem fazer pensar a nós educadores, sobre nossas práticas pedagógicas: em como um simples filme pode nos trazer todo um mundo de emoções e conceitos que talvez nunca tivéssemos a oportunidade de conhecer. Através deles, refletimos como podemos fazer uma mudança em nossos alunos, inclusive levando uma saída para seus problemas de aprendizagem que, muitas vezes, decorre de problemas na família. Não podemos negar que, em certos casos, temos mais contato com a criança ou adolescente do que seus próprios pais. Não somos responsáveis em cuidar e conhecer todas as mazelas de nossos alunos, mas devemos sempre alertar pais, coordenadores e supervisores daquilo que percebemos através do comportamento deles, de seu estado físico através de nossa sensibilidade e cuidado com as turmas. Ainda na tese de Saliba as palavras de Canuto Mendes de Almeida, em 1931: Sua missão (do professor) em face dos modernos postulados em pedagogia, e resume em reforçar e sistematizar para o sentido educativo, a ação destas forças psicológicas exteriores. Nunca obstruí-las, opor-lhes diques, capazes antes, de provocar inundações do que dominá-las e sempre em desperdício de energia que as correntes impetuosas, devidamente canalizadas, podem produzir. (ALMEIDA, 1931 apud SALIBA, 2003, p 89) As obras dramáticas ajudam estudantes a se identificarem com situações semelhantes vividas por eles, reveladas em filmes, peças ou em aulas de teatro e apontam soluções para seus problemas reais, com ajuda ou não de terceiros. A escola, portanto, quando é um local de conforto psicológico e mental para alunos pode ser transformadora para suas vidas. Aquelas situadas em áreas de risco e zonas de guerra, são um alento, embora alguns alunos venham com atitudes violentas, por ser o padrão a que estão acostumados em casa ou em suas comunidades. No curso ministrado anualmente sobre mídia-educação por Regina de Assis no Pólo de Pensamento Contemporâneo (POP) no Rio de Janeiro, ela nos mostrou uma animação feita com alunos do complexo do Alemão nos idos de 90, onde todas as histórias são repletas de tiros, sangue e morte, mesmo quando personagens estavam sonhando. Em nosso curso de Pedagogia vimos um filme chinês de longa metragem chamado: “Nenhum a menos” de Zhang Yimou, de 1999. Num pequeno vilarejo no interior paupérrimo da China, uma pré-adolescente é requerida para tomar conta de uma classe de pequenos alunos, pois seu professor terá que se ausentar por um breve período de tempo. O professor ressalta o problema da evasão escolar e enfatiza que, quando ele voltar, não poderá ter nenhum aluno a menos, como no título do filme. A menina, uma pessoa ainda em formação, mas que já demonstra total desprezo pela sua função, fica vendo o tempo passar, sem menor interesse pelas crianças e pela responsabilidade de seu cargo. Numa certa ocasião, ao contar seus alunos, ela percebe que falta um. Pela motivação do salário - não seria remunerada caso algum aluno evadisse a escola - empreende uma jornada inacreditável para uma pessoa com tamanha apatia que demonstrou ter no início do filme. O périplo que ela vive para encontrar este aluno irá lhe ensinar uma grande lição, dando-lhe maturidade que ainda não tinha alcançado. 2.4 - Fazendo a nossa parte Seria uma utopia pensar que todos os professores são engajados e dedicados ao que fazem ou que alunos serão grandes teóricos ou revolucionários. Educadores e escolas que realmente possuem um compromisso com seu fazer pedagógico, fazem a diferença. Vemos alguns destes exemplos em resultados de pesquisas de excelência em educação oficiais. Além das tradicionalmente conhecidas, há surpresas em escolas públicas em locais pobres, mas com resultados inesperados que deveriam ser copiadas e divulgadas. Estas escolas, quando analisadas, mostram sempre um diferencial, seja na leitura, numa solução criativa ou no compromisso de seus funcionários ou dirigentes. Na recente pesquisa do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) patrocinado pela PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e divulgado pelos jornais, o Brasil ficou em septuagésimo terceiro lugar no ranking mundial. Este estudo leva em consideração acesso à saúde, educação, renda e qualidade e expectativa de vida. Não é mistério que nossa herança cultural nunca se primou pela boa formação escolar e educação plena, como em outras partes da América, a não ser para uma elite privilegiada econômica e culturalmente. A Austrália e a Nova Zelândia, entre outros países, também sofreram colonização, como no Brasil, mas suas taxas de analfabetismo são quase nulas. A Europa sofreu inúmeras guerras devastadoras e se reergueu diversas vezes das cinzas. Até a segunda grande guerra, países como Portugal e Itália tinham enormes taxas de analfabetismo e pobreza. Pessoas trabalhavam por um simples prato de comida. Mesmo que sejamos ainda um país em desenvolvimento, não podemos mais fechar os olhos para esta situação. A educação está na ordem do dia, todos falam, mas praticamente nada muda em termos de políticas públicas de governo. Um dos pioneiros do manifesto da Educação Nova, Fernando de Azevedo, nos comprova que o mesmo problema nacional vem se arrastando há anos sem solução: Um primeiro aspecto a ser ressaltado foi o reconhecimento cabal da educação como o mais importante e decisivo problema do país. A questão se configurava assim no Manifesto: “na Hierarquia dos problemas nacionais, nenhuma sobreleva em importância e gravidade o da educação. Nem mesmo os de caráter econômico lhe disputam a primazia nos planos de reconstrução nacional. (SALIBA, 2003. p. 48) Desculpas não preencherão vagas de emprego nem farão do estudante um trabalhador qualificado, um pesquisador, cientista ou um empreendedor. Políticos não possuem interesse em educar e dotar de poder crítico uma massa que pode ser manipulada conforme seus interesses, portanto, cabe a nós que trabalhamos com educação, mídia e arte tentar fugir de uma situação crônica para o bem das futuras gerações, quer sejam nossos filhos ou não. 3 - MÍDIA-EDUCAÇÃO OU ENTRETENIMENTO? 3.1 - Um pouco de História da televisão... Como exemplo prático do uso de recursos audiovisuais na educação, poderíamos enumerar alguns programas, além dos didáticos telecursos. Os programas matinais como o saudoso “Vila Sésamo”, da franquia Sesame Street, tem um alta preocupação com suas versões em países do mundo inteiro, levando a seus franqueados extensas pesquisas na área de mídiaeducacão através de uma das instituições mais respeitadas no mundo, como Unicef. Pode-se discordar que “Vila Sésamo” seja educativo, mas se o comparamos com os programas vespertinos atuais, vemos que foi uma iniciativa memorável e que marcou época, com seus personagens-bonecos Garibaldi, Enio e Beto, ainda em atividade “artística” como Muppets até hoje, sem falar nos atores protagonistas que habitaram a vila: Sonia Braga e o saudoso Armando Bógus. A dupla mais tarde, protagonizou a telenovela “Gabriela Cravo e Canela”, de Walter George Durst, que foi um marco na teledramaturgia brasileira como adaptação da obra do escritor Jorge Amado. A inserção extremamente bem sucedida da dramaturgia na TV, já começou de uma incrível aceitação e estrondoso sucesso de rádionovelas que detectaram o gosto dos brasileiros por este formato em capítulos que acabou transformando-se nas telenovelas que hoje são o “carro-chefe” dos canais abertos, grande case de sucesso de formato da TV brasileira. Nos idos de 50, havia teatro ao vivo com Sérgio Brito e Fernanda Montenegro, dentre outros grandes nomes, levando obras de consagrados autores clássicos do teatro internacional, mas sem inovações na linguagem, apenas aproveitando espetáculos já montados que já haviam entrado em cartaz. Um pouco mais tarde veio o advento da fita de video-tape, em que se poderiam gravar as cenas, repeti-las, cortá-las e montá-las. Desta forma, as gravações externas se tornaram possíveis, como já vinha sendo feito pelo cinema com suas câmeras mais portáteis, e assim foi formado o gênero predileto da nossa cultura audiovisual, a telenovela. Sendo basicamente igual à novela radiofônica, em forma de folhetim, foi tomando os corações e mentes dos brasileiros. Hoje a telenovela pode ser vista sem sequer olhar para a tela, somente escutando aos diálogos. Toda a cena é empreendida assim, pois é totalmente baseada na trama falada e repetida, sendo uma obra aberta e de fácil compreensão para atingir às múltiplas audiências. Devemos ressaltar que este é um gênero que se afeiçoou ao gosto genuinamente latino e nosso país se especializou em grandes produções, até com linguagens bastante arrojadas, que marcaram época. “O Rebu”, cuja trama se passava toda numa mesma noite, “O Casarão”, que contemplava três tempos distintos e três gerações de protagonistas e ainda “Beto Rockfeller” um estrondoso sucesso com linguagem muito moderna e jovial. 3.2 - E o Estado, como fazia? Todas estas obras foram produzidas pela TV Globo, mas não podemos esquecer as outras emissoras. Nos anos 70, na antiga TVE (Televisão Educativa, 1967) hoje renomeada TV Brasil, houve uma bela dobradinha: “Os Batutinhas” e “Daniel Azulay”. O primeiro era um programa em preto-e-branco sobre uma turminha de crianças muito bagunceira e foi tão popular que atravessou décadas encantando até aquelas que já nasceram com a TV colorida. O segundo ensinava a brincar com dobraduras, materiais caseiros como papel, tesoura e cola, numa linguagem despretensiosa, sendo ele o apresentador, exibia novos e antigos programas infantis em seu programa de fim de tarde. A seguir, já na década de 80, vieram outros exemplos mais dramatúrgicos, ainda na TVE com “Uma professora maluquinha” de Ziraldo e na TV Cultura com “Castelo Rá-Tim-Bum”, este foi um dos programas mais bem sucedidos de nossas TVs públicas que acabou gerando um belíssimo filme de longa-metragem e hoje batiza um canal de TV específico para o público infantil. Não sendo didáticos, estes programas citados usaram da linguagem da ficção para exibir entretenimento de qualidade que era, ao menos, uma opção ao programas infantis tradicionais. Se formos questionar sua eficácia no quesito educação, ao menos não deseducavam... Após o advento da transmissão via cabo e seus inúmeros canais segmentados, inaugurou-se a TV Futura, em 1997 patrocinada por várias empresas e capitaneadas pela Fundação Roberto Marinho com caráter exclusivamente educativo-cultural. Nela encontramos variados programas “de linha”, ou seja, fixos na grade de programação e uma vasta gama de assuntos tratados por eles. “Língua Afinada”, apresentado pelo roqueiro-escritor Toni Belloto, versa sobre língua portuguesa, literatura e música. Disciplinas como Geografia associado à Sociologia, Antropologia e Política são tocadas através de programas de viagens, destacamos o “Passagem para”, onde o apresentador Luis Nachbin viaja sozinho mostrando suas impressões pessoais entrevistando pessoas anônimas locais, ensinando ao final, dicas do ofício de jornalista. Ainda na TV Futura, na área de cinema, temos o programa “CineConhecimento”, que exibe filmes clássicos e cults. Estas obras nem sempre possuem campanha de marketing, mas fizeram suas carreiras pelas suas qualidades artísticas e temáticas. Na apresentação do programa é realizada uma completa resenha do filme explicando sua história, aspectos técnicos e de linguagem, informando características de seu diretor, carreira e premiações. 3.3 - Estimulando a literatura nas TVs abertas, as minisséries: Em formatos mais enxutos para abraçar obras fechadas de renome foi criado o formato minissérie, ou seja, uma, duas ou até 14 semanas de duração, em capítulos diários. Diversas obras da literatura nacional foram adaptadas para TV como “Grande Sertão Veredas”, de Guimarães Rosa, “O Tempo e O Vento”, de Erico Veríssimo, “Memorial de Maria Moura” de Raquel de Queiroz, todas entre as décadas de 70-80. Ainda hoje vemos algumas em iniciativas da Rede Globo através de núcleos dos diretores Guel Arraes e Luis Fernando Carvalho que adaptaram Ariano Suassuna, “A Pedra do Reino”, “Auto da Compadecida”, e Machado de Assis “Capitu” baseado em Dom Casmurro e ainda para não ficarmos somente no “bairrismo” da cultura brasileira, Eça de Queiroz com “Os Maias”. Na TV Globo, o diretor Luis Fernando Carvalho passou a investir em grandes textos nacionais para fazer produtos de altíssima qualidade e refinamento estético incomparáveis com qualquer outro no Brasil. No caso da mini-série: “Hoje é dia de Maria”, de 2002, baseada em Luis Alberto Soffredini, o diretor mostrou um lado mais ingênuo e rural da nossa ficção, mesmo que em roupagem bastante arrojada, misturando diferentes linguagens. ”Hoje é dia de Maria”. Acervo Rede Globo. A série alcançou uma enorme reputação no meio pedagógico sendo estudada em Universidades como UCLA (Universidade da Califórnia – Los Angeles). Alunos americanos foram obrigados e vê-la por inteiro, segundo exigência do professor Scott Randall, relatado no curso sobre a obra de Luis Fernando Carvalho, ministrado na Casa do Saber, no Rio de Janeiro, em 2010. Na série baseada em Machado de Assis, “Capitu”, mais uma vez a ousadia resultou numa obra bastante moderna. Sendo praticamente toda gravada em estúdio e no mesmo cenário; traz invenções estéticas e de linguagem como elementos cênicos rabiscados em giz no chão, mistura de passado/presente ou ainda o uso de documentários e cenários reais, com objetos de cena modernos sem disfarçar, diferenciando das obras “de época”. Estes produtos estão disponíveis para compra em DVD também pela internet. Exibindo-os em aula, pedagogos e professores podem solicitar trabalhos baseados na comparação da escrita literária com a audiovisual, por exemplo, contrastando estas linguagens. Desta forma, incentiva-se à leitura de clássicos nacionais, grande vilão dos adolescentes que hoje não tem paciência para o português antigo e bem falado. Séries e programas em canais exclusivamente educativos fazem também uma programação diversificada para várias faixas etárias, como o canal da Prefeitura do Município do Rio de Janeiro, MULTIRIO, que recentemente inaugurou programas de minisséries de ficção, para alunos do ensino médio, que tratam de assuntos curriculares como ciências, matemática e português com linguagem visual moderna usando animação e blogs entre outros recursos. O Canal Multirio não vende seus programas mas permuta ou franqueia a instituições. “Detetives da Ciência” série tv Multirio.(Acervo Pessoal) 3.4 - E na Internet, não vai nada? A leitura parece ser um grande impedimento para o desenvolvimento dos nossos jovens, o que resulta, invariavelmente, numa escrita pobre e repleta de erros. Devemos, como educadores, tentar cobrir esta falha cultural brasileira cujo povo se adapta muito bem ao audiovisual, em detrimento da escrita. Isto gera inclusive, maus professores no sentido da má formação e não do seu empenho. Em pesquisa no site “Curta na Escola”, que dispõe de enorme acervo de curtas metragens educativos, existe uma sessão de relatos dos professores que exibiram em sala de aula alguns filmes (via internet ou pelo DVDs), das coleções de melhores curtas que o site desenvolve para premiações e estímulos como concursos diversos. Destes relatos, a cada mês um é escolhido e premiado para ajudar na divulgação e adesão ao site, incentivando o uso de curtas. Estes relatos são o que mais interessa pela forma criativa que são elaboradas as aulas, mostrando como cada um pode usufruir desta experiência, agregando atividades e temas transversais. Segundo a gerente do site, Vanessa Souza, mesmo sendo escrito por professores, pode-se notar inúmeras falhas ortográficas, gramaticais e de concordância, o que faz com que os textos passem por uma revisão antes de serem publicados. Neste caso, é o Prof. Dr. João Luís de Almeida Machado, consultor pedagógico e redator do ‘Curta na Escola’ que se encarrega de todos os assuntos relacionados ao aspecto educativo-pedagógico. Curadoria, pareceres pedagógicos até a renovação semanal da homepage, ele indica novos filmes, estimulando professores e usuários com concursos de relatos, críticas e filmes. Machado é um militante do uso do audiovisual por já ter utilizado-o tanto em sua pratica pedagógica. Contava para isso, com os curtas do pioneiro ‘PortaCurtas’ - site somente de curtas brasileiros que surgiu muito antes do fenômeno Youtube - onde teve origem o ‘Curta na Escola’. Ele atua em diversas publicações via internet e seu entusiasmo pela causa é incessante, como pode ser verificado na longa entrevista disponibilizada nos anexos ao final deste trabalho. Através de estatísticas disponibilizadas pelo site verificamos que o DVD “Curta na Escola”, volumes I e II, com cerca de 15 curtas, é bem mais utilizado do que os filmes disponíveis online. O uso desta ferramenta é dirigido pelo professor que exibe o filme em sala de aula através de datashow ou monitor de TV em detrimento da escolha dos alunos que poderiam assisti-los pelo computador. Conclui-se então, que alunos pouco acessam o acervo de curtas do site para fins didáticos ou de pesquisa escolar. Este enorme manancial de temas e obras não é franqueado aos alunos com a intermediação do professor, gerando pouco proveito desse acervo inestimável de filmes. Segundo João Worcman, sócio do site, “não há um só dia que não se venda um DVD do Curta na Escola”, para escolas públicas ou particulares, o que comprova o interesse pelo formato audiovisual mais curto. 3.5 - Estimulando o cinema visto na tela grande. Raramente os alunos e professores da rede pública de ensino freqüentam salas de cinema. O sucesso em nosso país do DVD pirata, ou seja, aquele que é copiado sem licença do detentor dos direitos autorais não é por acaso. Devido aos avanços da tecnologia, existe no mercado dezenas de softwares que copiam ou fazem download de filmes pela internet, o que constitui crime previsto por lei, sem falar na facilidade de se encontrar tais produtos à venda em bancas improvisadas pelas ruas das cidades. Em nosso país, estas práticas não são vistas com maus olhos, mesmo que sejam consideradas ilegais, vêm sendo usadas em casa por alunos e pais, em ambientes acadêmicos e até em simpósios e seminários. A relação custobenefício entre comprar um ingresso para ver um filme no cinema é bem maior se comparado ao custo do DVD pirata que pode ser utilizado inúmeras vezes. Há várias formas de se ver um filme além da sala de cinema: por download em computador mesmo antes da estréia, no aluguel de DVDs, pela TV, disponíveis em vários canais abertos e pagos. É preciso considerar que inúmeras salas de cinema foram fechadas no Brasil desde a década de 80 quando paulatinamente novas tecnologias como TV a cabo, internet, vídeo cassete e DVD foram surgindo. O cinema teve que se sofisticar para atrair mais público, o que acarretou em um aumento no valor do ingresso, transformando o lazer popular em um hábito da classe média. Inovações técnicas como surround, telas grandes e agora o 3D encareceram o espetáculo que começou sua história na virada do século XX nos nickelodeons, aparelhinhos à base de inserção de moedas para visualizar filmes de curta metragem mudos, em preto e branco. Várias etapas foram cumpridas para se chegar ao alto nível tecnológico que hoje temos nas salas mais sofisticadas. Todas estas razões, a busca pela formação de público para cinema nacional e principalmente seu uso pedagógico, foram as molas propulsoras do projeto “Cinema para Todos”. Criado nas Secretarias de Educação e Cultura do Rio de Janeiro a partir de 2000, o programa oferece bilhetes gratuitos para alunos, professores e coordenadores da rede pública para que possam assistir a filmes nacionais em salas de cinema. Cada aluno ganha dois bilhetes, válido por um ano, e pode escolher o filme nacional que esteja em cartaz. Para informá-los um animador cultural vai até a escola apresentando os filmes e estimulando os professores e coordenadores a ver e empreender atividades pedagógicas a partir dos títulos em questão. Por ser um programa da esfera estadual, somente os alunos do ensino médio, e em cidades que possuem salas de cinema, têm direito ao ingresso. Há possibilidade de se solicitar sessões privadas para escolas nas salas e até para filmes que já saíram de cartaz. Desta forma, mesmo as cidades que não possuem sala de cinema, podem usufruir do programa, dependendo do agendamento escolar junto à coordenação do programa. As sessões podem ser exclusivas de uma ou mais escolas e em horários não comerciais da sala de exibição. Foram feitas parcerias com cinemas independentes e cadeias de exibidores e distribuidores em todo o Estado do Rio de Janeiro numa iniciativa pioneira que gerou “certa desconfiança a princípio por parte de alguns destes elementos-chave para o sucesso da empreitada”. Mas hoje, nos diz Renato Herzog, do Instituto Cinema em Movimento e coordenador do Cinema para Todos, “o programa tem agradado muito”. Contudo, há alguns casos de cidades onde o programa encontrou mais dificuldade e algumas explicações empíricas para tanto. Segundo entrevista gravada e concedida para este trabalho, ele afirma: Tivemos dificuldades em Petrópolis desde a adesão de salas de exibição até a aceitação das escolas, e uma vez por causa de um trailer de filme nacional, levamos um pito das professoras da escola por ter sido proferido um palavrão pelo personagem. Deve ser por um motivo de conservadorismo, mas já tentamos de tudo em Petrópolis e infelizmente não é das nossas melhores praças...entretanto há outras localidades que ninguém daria nada e filmes super independentes e desconhecidos como “Doce de Coco” fez um tremendo sucesso sem explicação. Depois verificamos que a cidade sempre foi dada a atividades culturais e folclóricas. Herzog é bastante otimista quanto ao êxito do programa, considera que em certos locais o dono do cinema diz que, se não fosse pelo programa, eles já teriam fechado suas portas. Em certas cidades, o programa é uma benção para todos os beneficiários: donos de salas, alunos e professorado, cineastas e governo. Consideramos a iniciativa um acerto na formação de platéia, uma vertente pouco visada pelas políticas públicas, mas fundamental a toda a cadeia produtiva desta indústria tão dependente de verbas públicas. Nosso cinema foi perdendo público por uma série de fatores que não vale aqui enumerar, mas ainda é muito difícil concorrer com o produto estrangeiro, sobretudo o norte-americano, que há décadas domina o mercado cinematográfico no mundo inteiro. Para os educadores é fundamental que o aluno se perceba em sua própria cultura. E o cinema, principalmente o gênero documentário, aproxima o aluno de sua realidade, ao contrário das telenovelas que, visando sucesso de público, acabam por deturpá-la ao criar um mundo irreal. Desde a famosa retomada, que se inicia no período pós governo Fernando Collor de Mello, o cinema nacional fez as pazes com o grande público, destacando-se os títulos “Cidade de Deus” de Fernando Meirelles e “Tropa de Elite” de José Padilha. Não por acaso estes filmes, campeões de bilheteria no Brasil e com carreira internacional, demonstram uma realidade que faz parte da vida de muito jovens de periferia, mas que as novelas nunca mostraram, até então. Após estes êxitos, a TV começou a retratar estas realidades, antes ignoradas. Filmes “de favela” acabaram virando um gênero em si como um dia foi o cangaço, outra de nossas mazelas históricas vividas pelos nordestinos, que geraram interesse em todo o país e no mundo. No rastro do enorme sucesso do clássico de nosso cinema “O Cangaceiro”, sucesso no Festival de Cannes de 1953, vendido para vários países do mundo, foram produzidos inúmeros filmes de cangaço. O pesquisador e crítico de cinema Salvyano Cavalcanti de Paiva (1923-2000) batizou este movimento de Nordestern, numa alusão ao gênero tipicamente americano Western. Podemos dizer que até hoje, ele ainda é tema de filmes recentes como “Corisco e Dada” e “Baile Perfumado”. Há também filmes históricos que despertam interesse do público e de professores, como “Canudos”, “Carlota Joaquina” e “Mauá, o Imperador e o Rei”, sem falar nos mais antigos que foram grandes sucessos como “Independência ou Morte” ou “Descobrimento do Brasil” de Humberto Mauro (conforme anexo). No caso da violência do Rio de Janeiro, filmes como “Tropa de Elite1”, vítima de extrema pirataria e tema de grandes debates nacionais. O programa “Cinema para Todos” aproveitou este sucesso para fazer uma apostila de referência aos educadores, com a temática do filme no segundo episódio. Fazendo uso da conjuntura de guerra na cidade, o filme atraiu a maior adesão ao programa, sendo responsável por uma ótima percentagem de ingressos no total da bilheteria do mesmo. Nesta apostila, há várias formas de se tratar o tema e empreender atividades pedagógicas. Pode ser chocante o fato de filmes violentos estarem na programação do projeto, mas qualquer professor de escolas de áreas de risco sabe que, a realidade, é ainda pior do que vista nos filmes. Na cidade do Rio de Janeiro, conviver intimamente com a violência urbana é uma rotina para muitos cidadãos como foi visto recentemente, ao vivo para todo o Brasil, a reconquista do Complexo do Alemão. O filme “Cinco vezes favela, agora por nós mesmos” (2010) de vários autores moradores de comunidades do Rio de Janeiro também foi outro sucesso do programa. Entretanto, o filme fez poucos ingressos na zona sul da cidade, onde prevalecem as classes A e B, mesmo com comunidades superpopulosas como a da Rocinha. A maciça propaganda mundial e a extrema eficácia técnica dos filmes norte americanos os impelem a investir seus poucos recursos para assistirem aos blockbusters em detrimento dos filmes nacionais. Já com um ingresso gratuito, o aluno e professor irão dispor somente de seu tempo para tanto. Os professores podem escolher temas a partir dos filmes em cartaz e desta forma ainda tirar mais proveito da experiência única e individual que o cinema causa no expectador. Na apostila elaborada pelo programa aos Educadores tem orientações: Uma vez escolhido o tema o educador desenvolve com o grupo de alunos uma atividade de problematização, suscitando uma roda de conversa em que todos possam expressar livremente o que sentem e o que sabem sobre o assunto. Depois se faz o convite para assistir ao filme, individualmente ou em sessão coletiva. Após e exibição o educador/mediador incentiva o grupo, por meio de um roteiro de perguntas previamente elaborado, a fazer uma leitura das imagens, do conteúdo assistido. Inicialmente a função do educador é provocar a expressão dos interesses e sentimentos despertados no grupo; como mediador, ele estabelece conexões entre as idéias que vão sendo apresentadas sem expor suas próprias opiniões e nem apresentar teorias consagradas. (ESPIRITO SANTO; LINS; CASTRO. 2010, p, 18). O programa além de estar formando público, fomenta mais abertura de salas, principalmente nas cidades que ainda não as possuem, propiciando assim, uma maior periodicidade para o filme nacional. Parece então uma equação onde todos saem ganhando e quem paga a conta é o Estado. Não é um programa barato, pois demanda boa infra-estrutura, trabalhadores qualificados e um alto investimento, da ordem de uns 3 milhões mensais, dependendo do volume de ingressos usados. Porém, se não for o Estado a fazê-lo, não tem concorrer com forças tão poderosas, e quem sai ganhando em primeiro lugar são os alunos, além da indústria cinematográfica nacional. O Estado está, portanto, cumprindo seu papel de fomentador de políticas públicas que geram criatividade, conhecimento, cultura e educação. Dar as costas ao cinema brasileiro é uma forma de cansaço diante da problemática do ocupado e indica um dos caminhos de reinstalação na ótica do ocupante. A esterilidade do conforto intelectual e artístico que o filme estrangeiro prodiga faz da parcela de público que nos interessa uma aristocracia do nada, uma entidade em suma muito mais subdesenvolvida do que o cinema brasileiro que desertou. (GOMES, 1996, p. 111) 3.6 - Já em São Paulo... Embora este trabalho de conclusão de curso discorra sobre aspectos da cidade do Rio de Janeiro, não podemos ignorar algumas iniciativas em outros estados e, mesmo sem poder pesquisar a fundo, gostaríamos de citar um programa semelhante ao “Cinema Para Todos”, mas localizado em São Paulo, capital. O “Programa Cine-Educação” é uma vasta parceria com poder público entre prefeituras, Ministério da Cultura e empresas particulares como patrocinadores principais e outros apoiadores como empresas midiáticas, envolvendo um vasto número de colaboradores. O programa consiste em ver filmes na Cinemateca Brasileira onde há o maior acervo de filmes nacionais e estrangeiros de todos os tempos no Brasil. Em parceria com várias Secretarias Municipais de Educação do Estado e da Fundação Victor Civita e da Secretaria do Audiovisual, um encarte dentro da revista Nova Escola informa sobre toda a carreira e aspectos técnicos e artísticos do filme junto a outras atividades pedagógicas possíveis. O programa se dá em 6 etapas distintas: 1. Seleção de filmes: somente 5 filmes nacionais de longa metragem e 3 de curta com critérios pedagógicos e cinematográficos 2. Encontro de formação de professores: sensibilização, entrega de material de apoio 3. Preparação de alunos: despertar interesse para as sessões 4. Sessões: experiência de ir ao cinema 5. Atividades em sala de aula: atividade interdisciplinar proposta pelo professor 6. Encontro final: exposição de trabalhos, troca de experiências Este programa, infelizmente, não foi uma política continuada, mas somente pontual. Estas duas propostas, contudo, comprovam que o poder público finalmente reconhece e importância tanto da qualidade do cinema nacional como do uso pedagógico de ferramentas audiovisuais para atrair o alunado e facilitar o processo ensino-aprendizagem. 3.7 - Ainda mais história: o cinema educativo. O INCE (Instituto Nacional do Cinema Educativo), fundado em 1937 durante o governo Vargas, foi o órgão responsável pelo cinema educativo, pois desde então já se podia prever a força e eficácia desta nova linguagem. Só um instituto desse gênero nos dará, além da censura educativa criteriosa, boas fitas educativas. E ante milhares de telas em funcionamento em todo o país não dormirão mais esquecidos nos arquivos de repartições públicas os rolos de celulóide que tanto dinheiro custaram ao Tesouro. Por que o governo terá aí, os meios positivos para divulgação do cinema oficial. (ALMEIDA, 1931 apud SALIBA, 2003, p. 173) Seu grande mestre e diretor mais profícuo na nossa história cinematográfica, o mineiro Humberto Mauro, foi diretor do órgão junto a Roquette Pinto, considerado pai da radiodifusão do país. Mauro era um cineasta já de extensa carreira e foi pioneiro no sentido do uso de radioamador - que era a internet da época - e por ter tido a audácia de construir estúdios em sua terra natal, Cataguases, iniciativa hoje copiada em cidades com grandes verbas de petróleo que investem no cinema como Paulínia, no estado de São Paulo. O INCE promoveu a produção de uma série de filmes educativos de curta e longa-metragem. Foram feitos centenas de filmes entre institucionais, curtas e longas metragens, hoje em poder da CTAV (Centro Técnico Audiovisual) Este legado é uma fonte inesgotável de pesquisa iconográfica, registrando com qualidade e beleza estética, uma infinidade de assuntos brasileiros em 35 mm que hoje servem a inúmeros filmes como imagens de arquivo. Uma pena que não tenhamos mais um órgão que promova o cinema educativo, ficando este encargo hoje com as TVs educativas e seus programas de linha ou a produção independente feita através de editais temáticos ou aquisição normal de obras audiovisuais. Um dos melhores filmes de Mauro remonta a esta fase, o curta: “A velha a fiar”. Como bom mineiro, retratou muito bem as origens do seu estado natal, Minas Gerais. No site “Curta na Escola” encontra-se este clássico além de ser um dos filmes das coletâneas do DVDs produzidos pelo site, é dos mais vistos e relatados por professores ainda que o curta seja em preto e branco e remonta à vida rural. Apesar disto, os relatos dos professores demonstram que o filme é ainda universal e atemporal, pois as crianças o adoram e sua exibição rende belas aulas e depoimentos, conforme exemplo no anexo na página 79. A seguir está a letra música do filme, considerado o primeiro vídeo-clipe nacional! (fonte: www.wikipedia.org) Estava a velha no seu lugar Veio a mosca lhe fazer mal A mosca na velha e a velha a fiar Estava a mosca no seu lugar Veio a aranha lhe fazer mal A aranha na mosca, a mosca na velha e a velha a fiar Estava a aranha no seu lugar Veio o rato lhe fazer mal O rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha e a velha a fiar Estava o rato no seu lugar Veio o gato lhe fazer mal O gato no rato, o rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha e a velha a fiar Estava o gato no seu lugar Veio o cachorro lhe fazer mal O cachorro no gato, o gato no rato, o rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha e a velha a fiar Estava o cachorro no seu lugar Veio o pau lhe fazer mal O pau no cachorro, o cachorro no gato, o gato no rato, o rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha e a velha a fiar Estava o pau no seu lugar Veio o fogo lhe fazer mal O fogo no pau, o pau no cachorro, o cachorro no gato, o gato no rato, o rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha e a velha a fiar Estava o fogo no seu lugar Veio a água lhe fazer mal A água no fogo, o fogo no pau, o pau no cachorro, o cachorro no gato, o gato no rato, o rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha e a velha a fiar Estava a água no seu lugar Veio o boi lhe fazer mal O boi na água, a água no fogo, o fogo no pau, o pau no cachorro, o cachorro no gato, o gato no rato, o rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha e a velha a fiar Estava o boi no seu lugar Veio o homem lhe fazer mal O homem no boi, o boi na água, a água no fogo, o fogo no pau, o pau no cachorro, o cachorro no gato, o gato no rato, o rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha e a velha a fiar Estava o homem no seu lugar Veio a mulher lhe fazer mal A mulher no homem, o homem no boi, o boi na água, a água no fogo, o fogo no pau, o pau no cachorro, o cachorro no gato, o gato no rato, o rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha e a velha a fiar Estava a mulher no seu lugar Veio a morte lhe fazer mal A morte na mulher, a mulher no homem, o homem no boi, o boi na água, a água no fogo, o fogo no pau, o pau no cachorro, o cachorro no gato, o gato no rato, o rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha e a velha a fiar! 4 - O PIONEIRISMO DO CINEMA COMO LINGUAGEM AUDIOVISUAL. Raramente vi uma tão completa definição do cinema como a de Canuto Mendes Almeida, descoberta recente, citado na tese de Saliba: Domina o tempo e o espaço, o movimento e a extensão. Sabe concentrar doze horas num só minuto, com a mesma perícia com que estende um século num dia. Na mesma área da tela, projeta micro organismos e cadeias de montanha. Acelera retrai e até imobiliza o movimento. Diminui e aumenta o tamanho das cousas. E nessas imagens mágicas coordena-as a vontade sem restrições de espécie alguma. Porque o cinema está sucessivamente em qual quer parte, possui o dom da ubiqüidade, acha-se ao mesmo tempo em lugares diferentes, tudo pode ligar, separar, juntar, intercalar, encadear, no sentido mais útil ao ensino. Não é de admirar, pois que de há muito se venha dando considerações ao ensino pelo cinema. (ALMEIDA 1931, apud SALIBA, 2003. p. 126) O cinema ainda é a grande fonte de encantamento, emoções e magia para o ser humano e sua fruição muitas vezes remonta aos sonhos, sendo uma fonte de mensagens lúdicas, morais e educativas quando bem usado. A imagem na base da linguagem cinematográfica tem a força de fazer reviver um universo próximo ao estado de sonho, de memória, bem como da nossa própria imaginação produtora. Enquanto na percepção conhecemos os objetos a partir do contato direto com eles, a imaginação (ou representação) evoca objetos em sua ausência. Diante de uma produção simbólica de um filme estas duas dimensões se complementam como forma de conhecimento e ações ajustadas. Para um cineasta como Pasolini, por exemplo, o cinema é de uma “qualidade onírica profunda”. (ESPIRITO SANTO; LINS; CASTRO. 2010, p, 24). Há uma cena no filme “O piano”, de Jane Campion, 1993, onde alunos brancos fazem um espetáculo de teatro amador ao final de ano escolar e convidam os aborígenes daquela terra, ainda recém colonizada, a Nova Zelândia. Na cena, o espetáculo teatral tem um jogo de sombras de silhuetas atrás de um grande lençol, como num pré-cinema, onde um personagem “mata” o outro com um machado. Os nativos ficam inconsoláveis e começam a protestar, confundindo dramatização com realidade, ainda através de sombras, acreditando que um ser humano estivesse ali morrendo, ao vivo, já que ainda não tinham contato com esta linguagem representativa. Assim quando entramos em contato com um filme fazemos uma espécie de pacto com o cinema, permitimos que sejam apagadas temporariamente as fronteiras que separam verdade de ficção. Não é que nos deixemos “enganar” pela técnica cinematográfica, como sugerem alguns autores, apenas consentimos em “fingir” que tudo aquilo é verdade (dentro de certos limites, é claro) para que a experiência de assistir ao filme seja prazerosa e, em última instância, bem sucedida. (DUARTE, 2002, p.70) Da mesma forma, o cinema causa esta mesma impressão de ilusão, tal qual o sonho onde vivenciamos uma realidade imaginada, quase como a linguagem cinematográfica, dentro das nossas mentes, sentindo emoções reais. A diferença é que em nos sonhos essas emoções são fruto de nosso inconsciente, ao passo que na obra audiovisual a criação é alheia, embora ambos nos causem o mesmo efeito. Cada indivíduo irá receber aquela mensagem ou sensação de forma distinta e nunca igual. Como criadores audiovisuais, podemos prever algumas reações, mas nunca saberemos como uma obra será compreendida - amada ou rejeitada - ainda que fórmulas e clichês comprovem os êxitos. No que diz respeito ao cinema, identificar-se com a situação que está sendo representada e reconhecer-se de algum modo, nos personagens que a vivenciam é o que constitui o vínculo ente espectador e a trama. Os cineastas costumam dizer que sem identificação não há filme. ... para que a história faça sentido e conquiste a atenção do espectador até o final, é preciso que haja nela elementos dos quais o espectador possa reconhecer e\ou projetar seus sentimentos, medos, desejos expectativas. (DUARTE, 2002, p. 71) Por isto, a importância de se exibir filmes para educação que saiam do puro entretenimento. Filmes que retratem alguma dada realidade como documentários ou ainda aqueles eminentemente educativos são em geral, de difícil acesso. Provou-se que o cinema é útil à educação. Utilíssimo. Provou-se mais ainda: é necessário a fita como fator educativo. O cinema mercantil é capaz às vezes, de educar: mas quase sempre deseduca...É preciso assim que a Educação reaja com as mesmas armas, “olho por olho, dente por dente”. “Contra o mau cinema, só o bom cinema”. (ALMEIDA, 1931 apud SALIBA, 2003, p. 141) Na apostila do programa “Cinema para Todos” é ressaltado o fato de que o cinema é sempre visto como puro entretenimento assim como a TV, ficando talvez somente o teatro livre desta concepção. Seus autores alertam para o fato que um educador que saiba “tirar proveito das potencialidades motivadoras de um texto imagético para além da fronteira do entretenimento (...) encontrará caminhos para conciliar aspectos racionais e emocionais dos conteúdos”. Desde os seus primórdios, o cinema sempre usou de seu poder de sedução para criar suas platéias. Não sem protestos, nos anos 30 há muitas discussões sobre as regulamentações das audiências e censuras aos produtores e até mesmo à má influência de cultura externa, principalmente a norte-americana, na maioria das “fitas” que aqui chegavam. Na época o cinema, sem concorrência direta de outras fontes audiovisuais, era extremamente popular. Neste mesmo contexto, continua a apostila ensinando a seduzir para o aprendizado: O uso de recursos Audiovisuais é um meio de apresentar mensagens de forma atrativa e sedutora mas é preciso lembrar que estes recursos são apensa um meio. De nada valerá utilizar mensagens audiovisuais se o estilo de nossa ação comunicativa não for adequado ao público a quem nos dirigimos. Precisamos buscar uma sintonia com o interlocutor, estabelecer empatia com ele e seduzi-lo com a mensagem transmitida, embutir nela representações de seus interesses e desejos.(...) parte do fascínio se relaciona ao fato de que ela, (...)que ela reflete aspectos de nossa imagem, traz a tona nossas esperanças, desejos e temores . (ESPIRITO SANTO; LINS; CASTRO. 2010, p. 12). É necessário pensar sempre na audiência que irá ser o receptor destas mensagens. Não foi por acaso que o filme “Tropa de Elite 2” foi o maior sucesso de bilheteria até hoje no Brasil, superando filmes que vieram com uma máquina de promoção como “Avatar”, sucesso mundial de James Cameron, o hitmaker, diretor de Titanic. O programa “Cinema para todos” se aproveitou desta afluência de alunos e trabalhou exaustivamente o filme com seu públicoalvo, adolescentes da rede pública: Precisamos partir de temas geradores, como propõe Freire, temas que toquem a emoção dos sujeitos envolvidos e, assim que os motivem para a reflexão e ação. . O mediador deve buscar formas de incentivar a identificação dos espectadores com as personagens da narrativa audiovisual. Promover esta identificação do público através de uma dinâmica que, além do dialogo, favoreça o “espelhamento”, a identificação entre o que se vê na tela e os atores envolvidos na comunicação, contribui para o processo educativo de forma que as pessoas façam associações com a sua realidade e, a partir disso, percebam alternativas de pensar e fazer diferente. (ESPIRITO SANTO; LINS; CASTRO. 2010, p, 13). 4.1 - A fabricação das imagens pelos alunos. O homem, portanto, sempre concebe a fita. Não só no cinema dramático (...) mas também no cinema documental. Enquanto o preocupa a verdade, concebe-a fiel. Enquanto preocupa a estética, concebe-a bela. (ALMEIDA, 1937). Ainda na concepção de Canuto Almeida, nos anos 30, o cinema é alçado à condição de Arte, mesmo sendo considerado inicialmente como uma representação fotográfica da realidade, como nos primeiros filmes de seus inventores, os irmãos Lumière onde vemos operários saindo da fábrica ou um trem chegando às estações, o que na época provocou susto em seus expectadores. A mediação entre o homem e a máquina fotográfica ou cinematográfica, uma evolução da primeira, segundo Saliba (2003, p. 88) “encerra apenas propriedades físicas e químicas, não pensa, não tem inteligência nem vontade”, há a concepção, a intencionalidade e a criação humana. Seja num filme documental ou ficcional, as escolhas de atores, cenários, assuntos e enquadramentos seguindo ou não uma história, enredo ou roteiro préestabelecido, consiste, em parte, da direção da obra. Quem sabe fazer drama e quer realizar uma fita deve antes de tudo, ser um bom cinematografista, o que quer dizer que não lhe basta conceber um belo enredo (...) o cinema sonoro é movimento, fotografia e fonografia.(...) cenas que não se deslocam, não evoluem livremente, personagens que não se mexem com desembaraço, nada disso pode dar boa fita. (ALMEIDA, 1931 apud SALIBA, 2003, p. 100) Hoje não se discute que a fotografia fixa e que filme, que é fotografia em movimento, estão em pé de igualdade com outras artes e o fato do cinema fazer parte de uma imensa indústria, não lhe tira suas qualidades estéticas e educativas. No livro organizado por Adriana Fresquet destacamos: Diversos Cineastas consideram o cinema como herdeiro de todas as Artes (Aumont, 2004). Essa idéia do cinema como superioridade, como síntese das Artes, (que podemos considerar, representa o pensamento desde Einsenstein até Godard,) foi justificada em razão de ele solicitar todos os sentidos e todas as emoções e ser, por isso, considerado uma arte múltipla, plural. Concebe-se como uma arte do espaço e tempo, arte da narrativa e da descrição, arte do diálogo e da arte musical, arte da dança e a postura escultural, do desenho e da cor. (...) Podemos resumir o pensamento deste grupo de teóricos do cinema com a seguinte afirmação: O cinema é uma arte total que contém todas as artes. (FRESQUET, 2007, p. 39-40) 4.2 - Onde se pratica estas novas linguagens A maior parte da literatura utilizada neste trabalho enfatiza a exibição e discussão de filmes como atividade pedagógica. Não obstante, começa-se a usar, devido aos avanços tecnológicos que fizeram a indústria eletrônica - o vídeo como forma de expressão nas escolas, promovendo a leitura das imagens pelos próprios alunos. Embora as facilidades técnicas sejam hoje acessíveis a todos, as narrativas, conteúdos e concepções artísticas é que irão dar estilo e consistência ao trabalho. Costumo dizer aos alunos que qualquer criança pode fazer filmes, mas não é qualquer um que faz bons filmes. Não se deve pedir aos alunos que façam vídeos como mais um meio de trabalho de classe, mas para levar a eles noções de linguagem audiovisual, na qual eles já foram educados, contudo, nunca antes analisados. Ainda da antiga, porém válida concepção de Canuto Almeida, citado por Saliba. Não imobilizar a objetiva, não é espetáculo teatral, isso torna a fita monótona, (...) muitas vezes o cinema sincronizado, o autor se deixa pelo efeito literário dos diálogos ou efeitos musicais se esquece do valor da fotografia e movimento. (ALMEIDA, 1931 apud SALIBA, 2003, p. 88) Escolas-modelo como a Nave – Núcleo Avançado em Educação, no bairro da Tijuca no Rio de Janeiro, é uma parceria do Governo do Estado junto à empresa de telefonia Oi, excelência de nível técnico e em ensino integral, voltada para as comunicações, telecomunicações e artes em geral, sendo o interesse da empresa diretamente na formação de mão de obra qualificada. A escola é uma das mais modernas da cidade do Rio de Janeiro e é totalmente voltada para as tecnologias de informação e profissões do futuro. Possui instalações que compreendem estúdios de gravação, salas de informática, computadores de primeira linha, corpo docente ligado as áreas de interesse e não somente os titulados. Para entrar é bastante concorrido: em 2009 foram 6.000 alunos para 130 vagas. Segundo Nin (2010, p. 45), todo este investimento acarretou na eleição da escola em vigésimo sétimo lugar de escola mais inovadora do mundo pela Microsoft. Estúdio gravação do projeto Nave(Acervo Pessoal) Junto ao escritório de design de Jair de Souza, um dos mais notáveis de nosso país, a escola promove nos finais de semana, concursos e projetos extra-escolares que socializam com o jovem, principalmente o de baixa renda. Como o bairro é cercado de favelas, o Nave lhes dá acesso a pessoas que são profissionais de renome do mercado, acadêmicos e líderes de projetos sociais bem sucedidos como Guti Fraga, do grupo e escola de teatro “Nós do Morro”, da comunidade carioca do Vidigal. Os alunos do Nave têm oportunidades que os da rede particular talvez nunca terão. Produzem programas, usam todas as ferramentas de ponta e podem ser analisados e vistos por notáveis. Também no grupo “Nós do Morro”, de onde saíram vários atores que hoje estão na mídia e com carreiras sólidas, o ensino é todo voltado para o fazer cinematográfico. Seus alunos, mesmo os pequenos, aprendem todas as etapas de construção de um filme, e vários autores de curtas feitos lá são hoje cineastas profissionais. Em geral são também atores e trabalham nestas duas funções. A “escola” conquistou patrocínio fixo da Petrobrás, é concorridíssima e atende crianças e adolescentes da comunidade do Vidigal e adjacências. 4.3 - Festivais de Cinema que exibem os vídeos “mirins”. O grupo Estação, uma rede de cinemas de arte do Rio de Janeiro, tem durante o Festival do Rio, um programa chamado “Mostra Geração”. Este programa deu um aspecto educativo ao Festival que somou a sua extensa programação uma pequena mostra de produções de alunos e confraternização entre professores e educadores. A idéia nasceu de Felícia Krumholz e atinge dezenas de crianças. A mostra não é somente para exibir vídeos e filmes, mas também para treinar, ensinar a fazer e trocar experiências. No ano passado a mostra foi dividida em quatro vertentes: um programa Internacional, um encontro de Educadores, Programa Vídeo Fórum e Oficina Geração. Dentre os inúmeros festivais que brotaram por todo o país desde o renascimento recente do nosso cinema chamado de “Retomada”, ressaltamos o festival de Cinema Infantil, o FICI (Festival Internacional de Cinema Infantil) que exibe filmes independentes infantis, geralmente excluídos da grande mídia. O festival acontece no Rio de Janeiro e em Brasília. Dentro do festival acontece o programa: “Tela na Sala de Aula” que leva crianças da rede pública para assistir filmes, as sessões contam com 10.000 alunos, só na sua edição em Brasília. O programa “Cinema para Todos” também promove a exibição dos vídeos dos alunos da rede estadual, em parceria com o site “Curta na Escola”, foram exibidos, este ano, 56 obras de estudantes e foram premiados os melhores através de votação online, estimulando-os a produzirem mais. 4.4 - Evolução dos programas infantis na TV pública A TV Brasil, rede nacional de TV pública, subsidiária da EBC Serviços (Empresa Brasileira de Comunicação) antiga TVE do Rio de Janeiro e hoje mais conhecida como a “TV do Lula” está saindo na dianteira num programa jornalístico feito por crianças chamado “TV Piá”, palavra indígena que significa: menino. A emissora conta com uma programação infantil, mas este programa difere dos demais, por ser totalmente apresentado por crianças. Um dos episódios foi gravado no Instituto Benjamim Constant, tradicional instituição de educação para deficientes visuais, fundado em 1854 por D. Pedro II. Por incrível que pareça, estes alunos cegos jogam futebol com uma série de inovações e artifícios eletrônicos para que possam se guiar em pleno gramado. As crianças-entrevistadoras acabam jogando também em equidade de condições, ou seja, com olhos vendados. Estão programados episódios no Congresso Nacional e em todo o Brasil. O programa, além de dar voz aos pequenos, ainda mostra um belo exemplo de inclusão, de aceitação do diferente, temas muito mais presentes hoje na educação do que nas gerações passadas. Isto é um exemplo de boa mídia-educação que faz o aluno querer se aprofundar nos assuntos mostrados já que, crianças se comunicam na sua linguagem, onde o vocabulário é mais acessível. Não se pode negar que, quando crianças, adorávamos programas infantis, repelindo os noticiários por se tratar de “coisa de gente grande”. São assuntos, linguagens e fatos que não apetecem àqueles que ainda não tem preocupações políticas sociais e econômicas, tornando o jornalismo enfadonho tanto para crianças quanto adolescentes. 4.5 - Nas Universidades e suas escolas de aplicação (CAPs): Um coletivo de aficionados por cinema e educação encontra-se anualmente nos Seminários promovidos pelo Grupo de Pesquisa e Extensão CINEAD da UFRJ. Junto a Faculdade de Educação da UFRJ, promovem encontros em que tive a honra em participar de duas edições. São convidados palestrantes de vários países que exibem suas experiências com o ensino do Audiovisual com crianças, discutidos por cineastas, pedagogos, filósofos, intelectuais até mesmo funcionários do governo dos órgãos de normatização e fomento audiovisual. Nestas ocasiões, foram exibidos filmes emocionantes sobre educação na Índia, onde professores alfabetizam crianças em barracos-escolas em que o quadro negro é o chão de areia; o apagador, o braço delas e o giz os dedos. Os professores ditam e as crianças escrevem desta forma rapidamente repetindo o alfabeto em voz alta. São filmes antigos, mas ainda eficazes para sentirmos outras formas de ensinar em diferentes culturas, que contrastam com nossa concepção ocidental, mesmo tendo pontos em comum. A produção de afetos gera-se quase espontaneamente, ao assistir a alguns filmes. Acontece o que denomina “experiência estética”. Atualmente, assistimos à imposição de ideais estéticos padronizados, globalizados, uniformes. Porém, a palavra estética deriva de uma raiz temática do prego que significa sensação (próprio dos sentidos). Diversas sensações despertam diante de algumas cenas. As emoções e os sentimentos que se sacodem frente à tela grande transcendem o momento presente. Levamnos de passeio a nosso próprio passado e, as vezes, perduram, fazendo-nos pensar, sentir, e pré-sentir o futuro. (FRESQUET, 2007, pg. 45-46). Vídeos bem elaborados de projetos extra-escolares com crianças em Barcelona, Espanha foram exibidos. Dos Colégios de Aplicação da UFRJ, vimos documentários realizados e apresentados pelos alunos sobre a vida de pescadores mirins na Lagoa Rodrigo de Freitas, como vivem e trabalham. Naturalmente as crianças falam entre si, entrevistador e sujeito, de forma mais autêntica do que com um adulto, são mais naturais, sendo divertido e diferente vê-las em ação, sem precisar imitar o padrão televisivo. Nestes seminários são sempre exibidos e discutidos filmes estrangeiros e nacionais como “Mutum”, de Sandra Kogut, baseado em Guimarães Rosa e problematizados questões estéticas e pedagógicas num discurso bastante filosófico. Deste grupo de pesquisa, destacamos da publicação organizada pela professora que promove os seminários, Adriana Fresquet: Entender o cinema como de pensamento libera-nos de pensá-lo de modo determinado, como forma acabada. Trata-se, simplesmente de uma de suas tantas formas possíveis. É curioso que o cinema como pensamento, permite-nos refletir sobre o verbo pensar e até brincar com ele. Diferentes sujeitos e objetos. Assim, como sujeito do verbo pensar poderíamos propor à mente, o coração, a memória, os sentidos ”pensando“ idéias, cores, costumes, cheiros, valores, texturas, culturas, sentimentos, vivências, presente, passado, futuro, lugares reais e imaginários. (FRESQUET, 2007. p.45) 4.6 - O caráter onírico das narrativas audiovisuais No conto de Julio Cortázar chamado “Instruções para subir uma escada”, as dificuldades já começam na descrição dos degraus, mas o próprio autor nos avisa para não confundirmos pé (direito) com pé (esquerdo), evitando “levantar o mesmo pé e pé”. Este conto ilustra bem o que Max Black outro filósofo norte americano quer dizer ao afirmar que não se podem explicar verbalmente todas as regras e que só nos resta ensiná-las através de exemplos. (SARTORI, 2006, p. 25). A humanidade tem uma preferência para retratar fatos e costumes, desde as cavernas com as inscrições rupestres, como as chamamos hoje, ilustravam cenas de seu cotidiano, dando-lhes asas à imaginação, recheando paredes de pedra e transformando-as em “telas” e “livros” para outras gerações. São as formas narrativas que formam as bases teológicas das maiores religiões, com parábolas, contos, evangelhos, hai-kais, livros, as escrituras sagradas enfim, que vem de milhares de anos até os dias de hoje. O exemplo ou a mensagem, perpassado em outras vidas e outros seres, outras eras e outros locais, são a forma mais usual de impor mitos, moralidades e regras, tradições e costumes, as bases da civilização. As narrativas épicas de guerras helênicas e do teatro grego estão na origem de qualquer dramaturgia contemporânea. O homem, desde criança, dorme ou faz adormecer contando histórias, vendo novelas, filmes ou lendo romances. Nossos sonhos, embora por vezes caóticos, também são formas narradas imageticamente. Somos animais que têm nas linguagens e memória, pressupostos para narrativas diversas; sendo fonte de prazer, conhecimento e normatização. Precisamos ver através do outro, sentir como outro, espelhando-nos para apreender. Desta forma as histórias são a melhor forma de vivermos outros personagens, reais ou imaginários, fatos e situações pelos quais nunca passamos, mas que podemos apreender com reações e desdobramentos, as mensagens e os exemplos. O cinema é o que há de mais semelhante aos sonhos. Se “vivemos” o sonho, também vivenciamos o filme, ao menos durante sua projeção. Na literatura semiótica temos análises profundas desta relação em autores como Jung, Cristian Metz, Aumont e Paulo Emílio Salles Gomes que seriam cabíveis num trabalho em que pudéssemos nos estender. Destaco aqui uma observação de Tânia Rivera, em Cinema, Imagem e Psicanálise: [...] por vezes, é verdade, sabemos que estamos sonhando e guardamos uma espécie de distância disso que nos apresenta. Mas o sonho possui uma “fragilidade”, como diz Sartre, que faz com que sequer possa ser tomado como uma percepção. Não somos, em geral, espectadores de nossos sonhos como filmes projetados em uma tela bidimensional. Há algo óbvio e, no entanto, freqüentemente esquecido a respeito do sonho: seja ou não nítido, o sonho é vivido.” (RIVERA, 2008 , p 32) Sem aprofundarmos muito a questão psicológica, o que nos interessa como educadores seria usar as narrativas como forma de atração ou como artifício de aprendizagem, já que estas são tão caras ao ser humano. A tragédia, a comédia, o épico, o lírico, todas as formas conhecidas são instrumentos de sedução e moralização. O drama carrega a mensagem em seu bojo. Assim, como já fazem a arte e a literatura e seus desdobramentos há anos, desde as pinturas rupestres, imagens religiosas que contam o calvário de Jesus, por exemplo, até as telenovelas. Um bom filme permanece na memória afetiva e tem o poder de transformação. A educação, para muitos teóricos, gera uma mudança de comportamento, por sua capacidade de ir além do consciente, como nos sonhos, uma obra dramatúrgica que perdura vale como “espelho” para infringir valores éticos. Por isso, o cuidado com as escolhas das obras exibidas para educação de ser redobrado. A afirmação de que um sonho seria tão real que pareceria um filme é, por outro lado, escandalosa, ao trazer como critério de fidedignidade o cinema, e não a realidade. Como já vimos com Ítalo Calvino, o cinema é, de fato, mais realista do que a própria realidade. Merleau-Ponty já havia notado que “jamais no real a forma percebida é perfeita, há sempre tremidos, rebarbas, e uma espécie de excesso de matéria. O drama cinematográfico possui, por assim dizer, um grão mais cerrado que os dramas da vida real”.(RIVERA, 2008 , p 32). Devemos ressaltar o caráter educativo e imprescindível do cinema impressões, os resultados, levando à consciência o que está presente no discurso do autor, seja fruindo, exibindo ou criando a obra. O poder do filmes documentários advém deles serem baseados em fatos, não em ficção. Isso não quer dizer que seja objetivos, A exemplo de qualquer forma de comunicação, seja falada escrita pintada ou fotografada, fazer filmes documentários envolve o comunicador em uma rede de escolhas que devem ser feitas. Por esta razão, ele é inevitavelmente subjetivo, não importa quão equilibrada ou neutra seja a apresentação. (BERNARD, 2008, p. 4-5). Quando vemos as obras-primas de Leni Riefenstahl, cineasta predileta do Terceiro Reich, entendemos o poder das imagens e da estética para propaganda de um Estado ou sistema político. Por isso, a importância da discussão com educandos de todos os aspectos subjetivos de uma obra, dando-lhes maior consciência crítica. No âmbito dessa subjetividade, contudo, existem algumas diretrizes básicas para a filmagem de documentários. O público confia nos documentários- e essa confiança é a chave para o poder e relevância do filme. Traia essa confiança, insinuando que acontecimentos importantes aconteceram de forma que não aconteceram, selecione apenas os fatos que venham a sustentar esse argumento ou empreste aos fatos determinado viés, a serviço de uma história mais dramática e você estará sabotando o formato documental. (BERNARD, 2008, p. 5). E recomendável iniciar os alunos no fazer audiovisual com o gênero documental para depois se passar às narrativas mais sofisticadas como a ficção. Não que um seja mais fácil que o outro, porém de realização mais simples. Hoje há subgêneros, mistura de gêneros, falsos documentários, reportagens, vídeos arte, reality shows, de modo que o rótulo está cada dia mais abrangente. 5 - CONCLUSÃO Se é função da educação preparar o indivíduo para uma vida plena (...), o cidadão para o exercício de seus direitos e deveres, e o profissional para o trabalho, se é inegável (...) que a sociedade em que o indivíduo vai viver, exercer a sua cidadania e trabalhar está permeada pela tecnologia, e se é fato que a escola é o principal agente da educação na sociedade, parece lógico esperar que a escola estivesse extremamente interessada e envolvida nesses desenvolvimentos, pois, doutra forma, correria o risco de rapidamente se tornar uma “fábrica de obsoletos” (que é o que o jornalista Gilberto Dimmenstein diz que ela já é 18). Por que a escola parece sempre tão disposta a resistir a mudanças? Mesmo numa sociedade apenas "emergente" como a nossa, não ainda plenamente desenvolvida, a tecnologia entrou sem maiores resistências e sem grandes dificuldades em quase todas as áreas em que normalmente se divide a sociedade. Hoje temos produção industrial mediada pela tecnologia, comércio mediado (...) pela tecnologia, serviços bancários mediados pela tecnologia, atendimento médico mediado pela tecnologia, comunicação mediada pela mais alta tecnologia, e até entretenimento mediado pela tecnologia. No entanto, estamos ainda muito longe de uma educação mediada pela tecnologia — pelo menos no que diz respeito à educação formal ministrada pela escola. (CHAVES. 1998, p. 19). Recentemente foi divulgado com amplitude pela mídia pesquisas do PISA (Programme for Internacional Student Assessment) onde o Brasil ficou em lamentáveis índices, abaixo dos vizinhos latino-americanos e igualáveis a países paupérrimos subdesenvolvidos. Esta é mais uma ferramenta para verificar o descuido com a má formação e a conseqüente péssima remuneração de professores do nosso país, principalmente no ensino básico. Esta é uma realidade muito triste e séria que ainda não foi sanada pelos vários governos de diferentes tendências que nos governaram, haja vista nossos concursos domésticos e seus resultados. O Brasil está sempre em péssimas posições no ranking de pesquisas mundiais de educação, uma lástima para um país tão rico em sua diversidade cultural. Também já se começa a sentir dificuldades de convencer jovens a seguir a carreira do magistério pela baixa remuneração e incentivo. Há uma enorme dificuldade de atrair a atenção do alunado em sala de aula com a concorrência com inúmeras atrações que lhes apetece do mundo físico ou virtual, sem falar na luta da sobrevivência que leva à evasão do aluno de baixa renda. Nietzsche, em seu tempo, já alertava autoridades em seu país, pela apresentação de Noéli Correia de Mello Sobrinho: Uma alternativa viável para esta solução desoladora dos estabelecimentos de ensino alemães de então exigiria uma nova concepção da educação e uma nova orientação pedagógica que desse a eles novos e diferentes objetivos e métodos, conteúdos e formas. Na visão de Nietzsche, os parâmetros e diretrizes educacionais que deveriam vigorar nas escolas e nas Universidades não deveriam ter origem em estruturas burocráticas nem ser matéria de discussão de burocratas antes deveriam ser obras daqueles que ele chama “legisladores de educação rotineira , isto é daqueles homens superiores porque, dotados de grande cultura, maturidade e experiência, cuja primeira atitude seria , portanto, colocar-se em oposição política direta dos idólatras da atualidade, estes obedientes servidores de demandas funcionais e utilitárias que não tinham absolutamente nada a ver com a educação e cultura, mas que eram os responsáveis pelo empobrecimento da educação e da cultura vigente nos estabelecimentos de ensino alemães. (SOBRINHO, 2009. p 16-17 ) Portanto inovar parece mister num país que ama as novas tecnologias e é campeão em várias modalidades no uso das Tics, mesmo tendo disparidades de renda absurdas, não somente regionais como na própria metrópole urbana. Uma influência de concepção empirista podemos encontrar no livro de Alfred North Whitehead, nos fins da educação, no qual o matemático e filósofo inglês propõe um ensino baseado na alegria da descoberta para combater o que chama de ensino das idéias inertes, que nada mais é do que o conhecimento livresco que muitas vezes ainda é ensinado em nossas escolas. (SARTORI, 2006, p. 23). A boa formação de jovens professores, bem como a reciclagem dos mais antigos, fomentada pelas novas tecnologias como o Ensino à Distância, está criando uma demanda para formação continuada e cursos de graduação ou pós-graduação em Pedagogia seja presencial ou EAD. Não se pode mais lecionar somente os grandes teóricos do ensino menosprezando o uso destas novas ferramentas sob pena de prestarem um desserviço aos seus alunos. Houve uma grande transformação nas tecnologias de comunicação e informação e quem não acompanhar este movimento, estará em defasagem e não mais encontrará lugar no mercado de trabalho. Em nosso curso, aprendemos ferramentas como blogs, vídeos e sites, textos colaborativos entre outras formas de apresentação de trabalhos. Mesmo diante das dificuldades inerentes à nossa geração, que não foi criada com elas, fomos obrigadas a nos informar, quebrando bloqueios e tabus. Antes mesmo de aprender a ler e escrever, muitas crianças aprendem a manipular o mouse e o teclado, a jogar joguinhos no computador, a buscar brincadeiras na internet. Mesmo quando são de classes menos favorecidas - o que antes era uma barreira para o acesso às caras tecnologias - muitas já estabeleceram contato com esse mundo digital desde cedo: freqüentam lan houses, jogam videogames, fazem seu perfil no Orkut. (REVISTA TV ESCOLA, 2010, pg.27) O(a) pedagogo (a) hoje encontra campo de trabalho bem mais amplo que apenas a escola ou a educação tradicional. Ele (a) poderá assessorar inúmeras atividades e iniciativas não governamentais assim como programas educativos empresariais, canais de TV e programas do governo. Podem trabalhar em sites da internet, Organizações Não Governamentais e empresas que estão cada vez mais voltadas para educação, já que o Estado é falho até para assegurar a educação básica. Iniciativas individuais de professores, associadas a instituições governamentais e não governamentais que promovem atividades de exibição e discussão de filmes para alunos da rede de ensino fundamental e médio vêm ajudando a construir uma cultura de valorização do cinema em instituições de ensino. Além disso, o crescimento vertiginoso das tecnologias de informação nas ultimas décadas acentuou o interesse pelos meios de comunicação e trouxe a televisão, o videocassete e os computadores dentro da prática pedagógica. (DUARTE, 2002, p. 86) Portanto, a proliferação de novos empreendimentos que visam formar jovens - principalmente os de situação de risco como os que habitam próximo ou em favelas dominadas pelo tráfico de drogas - adultos e profissionais estão na ordem do dia, uma vez que nosso país vem se desenvolvendo muito rápido nas ultimas décadas, sem ter uma mão de obra qualificada e com boa formação de base. Isto será certamente um gargalo que viveremos ainda por uns dez anos, caso nada seja feito para mudar este estado de coisas desde agora, no ano de 2010. Segundo Pierre Lévy (1999) o futuro da Escola será mais para o que hoje chamamos de museus, com várias linguagens concomitantes e interatividade. Esta pergunta foi feita a todos os entrevistados deste trabalho, que não desprezaram as novas tecnologias em suas respostas. Infelizmente a maior parte dos professores e coordenadores que já utilizam o cinema como ferramenta de aprendizagem ainda se serve de títulos de filmes americanos, boa parte deles bastante conhecida do grande público e encontrada nas locadoras. Há na nossa cinematografia inúmeros títulos recentes e mais antigos que nos dão um painel da nossa história e cultura e que nos diz muito mais respeito. Cabe questionar ainda por que o desconhecimento de obras e autores importantes da literatura é visto como um grave problema a ser enfrentado pelos meios educacionais, enquanto o fato de a maioria dos brasileiros ignorar a existência de incontáveis obras da nossa cinematografia (algumas delas incluídas entre as melhores do mundo). É tratado como algo totalmente irrelevante mesmo por nós professores que muitas vezes desmerecemos esta produção. (...) Precisamos estar dispostos e atentos a pedagogia do cinema, suas estratégias e os recursos de que ela se utiliza para seduzir de forma tão intensa, um considerável contingente de pessoas, sobretudo jovens. Para isso é necessário nos dispormos a conhecer o cinema sua linguagem e sua história. (DUARTE, 2002, pg. 21) Porém, pela própria falha no quesito distribuição e exibição de filmes de ficção e de documentários brasileiros muitos professores desconhecem títulos que um programa da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura vem tentado sanar através da “Programadora Brasil”. Nele há uma seleção de mais de 200 filmes entre longas de ficção, documentários e curtas metragens que vêm em coleções de DVDs temáticos, com preço bastante subsidiado para escolas, centros culturais e afins. Há desde clássicos até os mais recentes da já citada Retomada, onde o cinema nacional renasceu das cinzas chegando hoje, na sua melhor fase de produção diversificada e reconhecimento internacional, muito embora, ele sofra ainda com tantos preconceitos. Mas o consumo mais ou menos regular de filmes por parte dos alunos e professores e a existência de aparatos técnicos para exibi-los não determina o modo como eles são utilizados. Embora valorizado o cinema ainda não é visto pelos meios educacionais como fonte de conhecimento(... ) mas temos dificuldade de reconhecer como arte(...) pois estamos impregnados da idéia de que cinema é diversão e entretenimento, principalmente , o saber que acreditamos estar contido em fontes mais confiáveis.se comparado as artes mais nobres. Imersos numa cultura que vê a produção audiovisual como espetáculo de diversão, a maioria de nós, professores, faz uso dos filmes apenas como recursos didáticos de segunda ordem, ou seja, para ilustrar de forma lúdica e atraente. (DUARTE, 2002, p. 87). Cabem então a nós, educadores, pesquisar estando mais atentos à cultura e boa informação repassando aos nossos alunos, material de alta qualidade. Não podemos estar alienados do mundo em que vivemos, nos valendo de desculpas. Estar em conformidade com a atualidade, será o nosso diferencial, caso quisermos crescer profissionalmente. Não basta ficar somente resmungando a velha ladainha da falta de tempo e remuneração. Temos às nossas mãos hoje, milhares de fontes de informações impressas, audiovisuais e eletrônicas que podem nos reciclar, alimentando alma e espírito. O professor deve sempre se desafiar a ir além, ensinando e aprendendo, sendo um ciclo eterno e retroalimentado. Não há docente que possa comparar suas aulas atuais às do início de suas carreiras. Caso não houve evolução, está mais que na hora de rever seus conceitos ou preconceitos. A primeira tarefa do professor é colocar seus alunos em guarda contra si mesmos, tanto no que diz respeito à sua juventude, quanto no sentido de livrá-lo de uma admiração prematura e irrefletida em relação aos seus mestres e guias. Em outras palavras, a tarefa do verdadeiro mestre é “purificar a cultura” e despertar nos alunos a força da visão diante de novas tendências que devem superar a mediocridade de então. Nietzsche exige, além disso, rigor na relação pedagógica entre professor e aluno: nem o primeiro deve ser tão complacente e indiferente a ponto de se isentar na prática de sua tarefa educativa nem o segundo deve ser conservado de sua jovem tagarelice pretensiosa a propósito de qualquer coisa. (SOBRINHO, 2009, p.33). 6 - APÊNDICE Como um facilitador para aqueles que se interessem em aumentar seus conhecimentos na área audiovisual, indicarei uma pequena amostra de títulos que possam auxiliar, principalmente aos alunos do ensino médio, onde encontramos maior parte de filmes interessantes. O filme documentário “Pro dia nascer feliz”, de João Jardim, 2003, nos mostra uma dura realidade das diferenças da educação no Brasil, desde o interior do sertão, onde jovens ficam até duas horas dentro de um ônibus para estudarem à noite e nem sempre encontram seus professores, até as melhores escolas de São Paulo onde alunos, ansiosos, muito exigentes e exigidos, tomam calmantes temendo não passarem nos exames e decepcionarem seus pais que pagam altas mensalidades de suas escolas sofisticadas. O filme traça um painel bastante complexo da educação brasileira atual e faz docentes e discentes, pedagogos e políticos refletirem sobre nossa situação educacional. Poderíamos enumerar alguns documentários nacionais que deveriam ser obrigatórios para o ensino em nosso país. Alguns títulos são complementos para disciplinas como História, Língua Portuguesa, Ciências Sociais, Antropologia, Pedagogia. A saber: - “Cabra marcado para Morrer”, de Eduardo Coutinho, versa sobre o período militar desde a decretação do golpe até o início da democracia onde uma mãe viúva de um sindicalista, perde contato com todos os seus nove filhos e o cineasta vai ajudando-a a encontrar cada um após a abertura política brasileira. - “Os Anos JK” & “Jango”, de Silvio Tendler. Filmes obrigatórios para entender nossa recente história, tão escondida das escolas. - “Palavra encantada”, de Helena Solberg, é um documentário sobre a poesia em letras de música, com entrevistas de nossos grandes poetas-letristas Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque - “Juízo”, documentário de Maria Augusta Ramos, mostra a realidade de encarceramento de jovens infratores e seus julgamentos pelas varas de direito, uma verdadeira aula para pais de jovens, estudantes de direito e sociedade em geral. - “Conterrâneos velhos de guerra”, 1991, e "O Engenho de Zé Lins do Rego” documentários de Vladimir Carvalho, o primeiro trata da memória traumática da construção de Brasília e o segundo retrata a vida do escritor José Lins do Rego. - “Lages a força de um povo”, documentário de Tetê Moraes, que mostra como uma cidade mobilizada resolveu diversos problemas estruturais e como seu povo teve papel fundamental nestas conquistas. - “Só 10% é mentira”, de Pedro Cezar, fala com muito humor e carinho do poeta Manoel de Barros sendo um filme agradável e acessível assim como a poesia do grande Mestre. - “Janela da Alma”, de João Jardim e Walter Carvalho, fala de forma bastante poética sobre ver e olhar - “Ônibus 174”, documentário de José Padilha, investigação sobre o trágico episódio real que parou o Rio de Janeiro. - “Viva São João”, de Andrucha Waddington e Gilberto Gil, faz um painel da festa e culturas juninas pelos diversos rincões do Nordeste. - “Pro dia nascer feliz”, de João Jardim, filme relatado neste trabalho sobre educação no Brasil até os idos de 2010 Em termos de cinema documentário, inúmeros títulos poderiam fazer parte desta seleção. Há diversos filmes sobre personalidades brasileiras, seja do mundo da arte, literatura, da história, política, ou mesmo o cidadão comum. Outros são mais específicos e temáticos e neste trabalho, pretendo apenas sugerir alguns exemplos para facilitar quem pretende usar audiovisual na educação. O produtor Thomas Farkas produziu com grandes documentaristas nos anos 50, a Caravana Farkas, que hoje se encontram a venda no mercado de DVDs. São verdadeiras pérolas de registros históricos da nossa e história audiovisual e cultura nacional como samba, capoeira e folguedos. Para quem queira se aprofundar, sugerimos pesquisar no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, Museu da Imagem e do Som, no Rio de Janeiro, Cinemateca Brasileira em São Paulo, o site e publicações da agência reguladora: Ancine e da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura - MINC. Já nos filmes de ficção, há clássicos de todas as décadas e de todos os temas, citaremos alguns, com uma variedade estética e temática, com ênfase educativa para gerar discussões e debates. Destacaremos, portanto, alguns títulos com assuntos correlacionados para facilidade do educador. Quem se interessar em usar filmes nacionais menos comerciais que nem sempre estão disponíveis no mercado, sejam projetados ou em DVD, poderá encontrá-los na Cinemateca do MAM, no CTAV e na coleção em DVDs da “Programadora Brasil” do Ministério da Cultura. Há ainda distribuidoras especializadas com bons catálogos como Videofilmes, Pipa produções e locadoras bastante conhecidas dos cinéfilos como Cavídeo, Macedônia. Obviamente todos estes programas, estabelecimentos e instituições podem não mais existir quando este trabalho estiver sendo lido. CAUSA INDIGENA - “Tainá”, de Tânia Lamarca. Dificilmente as crianças não viram esta série que já irá para o terceiro episódio, mas seria um belo exemplo para as turmas mais novas. SOCIAL- EXCLUSÃO - “Pixote”, de Hector Babenco e “Quem matou Pixote”, de José Jofilly. O primeiro foi um clássico que fez milhares de espectadores no Brasil e no exterior e mostra uma situação que até hoje não foi sanada, o descaso com o menor infrator na nossa cultura que gera casos como os deste personagem que acabou levando seu ator a ter o mesmo destino de marginalidade e conseqüentemente, assassinado. - “Assalto ao trem Pagador”, de Roberto Farias. Obra-prima do Cinema Nacional, que poderia ser o Cidade de Deus ou Tropa de Elite, mostra a vida de um grupo de bandidos após o grande assalto - “Quase Dois Irmãos”, de Lucia Murat. Saga de dois amigos que se conhecem nas prisões da ditadura, um negro que se torna chefe de facção e um guerrilheiro branco que se torna político - “Maré, nossa história de amor”, de Lucia Murat. Adaptação livre e musical com Hip Hop, street dance e ballet contemporâneo de Romeu e Julieta para a realidade das favelas cariocas - “Ônibus 174”, de Bruno Barreto, ficção do episódio do seqüestro do ônibus. - “Bróder”, de Jefferson Dee. - “O Contador de Histórias”, de Luiz Villaça. Vida de um menor infrator que se tornou um dos maiores contadores de histórias do Brasil REGIONALISMO - “Barravento”, de Glauber Rocha, ficção, de 1963. Um dos primeiros filmes deste cineasta que mostra a realidade de uma aldeia de pescadores da Bahia. - “Narradores de Javé”, de Eliane Caffé. José Dumont faz o papel do malandro mentecapto e seus seguidores do pequeno vilarejo que será inundado. - “Bye Bye Brasil”, de Cacá Dieques. Aventura da trupe mambembe Caravana Hollidei pelos confins do Brasil. - “A marvada Carne”, de Andre Klotzel. Saga da menina caipira que quer casar e seu pretendente que só pensa em comer carne um dia na cidade - “Corisco e Dada”, de Rosemberg Cariri. Saga do casal de cangaceiros e seus filhos no período que acompanharam o bando de Lampião. - “Baile Perfumado”, de Lírio Ferreira e Paulo Caldas. Conta a saga do fotógrafo que conheceu Lampião e foi o único a registrar imagens do bando. METALINGUAGEM - “Saneamento Básico”, ficção de Jorge Furtado. Além de ser uma aula de cinema, é uma hilariante comédia sobre como usar do audiovisual para se conseguir verbas políticas para sanear um vilarejo. - “Cinema Aspirina e Urubus”, de Marcelo Gomes. Um sertanejo e um alemão percorrem o sertão do Nordeste vendendo aspirinas através do cinema ambulante, a mídia da época. Dali nasce uma forte amizade. HISTÓRIA - “Gaijin” e “Parahyba Mulher Macho”, de Tizuka Yamasaki, falam de momentos significantes de nossa história, a imigração japonesa e o coronelismo do Nordeste. - “Carlota Joaquina”, de Carla Camuratti, mostra de forma humorística a personagem título da nossa história numa grande atuação de Marieta Severo. - “O cangaceiro”, de Lima Barreto, clássico que ganhou prêmios no festival de Cannes e foi vendido a diversos países com a famosa música Mulher Rendeira. - “A cor de seu destino”, de Jorge Duran. Um jovem, cujos pais foram assassinados pela ditadura, vai a trás das verdades dos fatos - “Canudos”, saga de Antonio Conselheiro no sertão da Bahia onde uma comunidade seguia seu guia desafiando o Estado. - “Mauá, o Imperador e o Rei”, de Sergio Resende, sobre o empresário que trouxe a primeira linha férrea para o país e abriu o Banco do Brasil. - “Independência ou Morte”, de Carlos Coimbra. Saga de D Pedro I na luta pela independência do Brasil. - “Ação entre amigos”, de Beto Brant. Filme relata o período da ditadura militar entre um grupo de amigos. - “Quando meus pais saíram em férias”, de Cao Hambúrguer. Um casal fugitivo da ditadura deixa seu filho pequeno aos cuidados dos avós e um senhor judeu lhe faz amizade. - “Pra frente Brasil”, de Roberto Farias. Saga sobre os porões da ditadura militar durante o período em que a seleção brasileira triunfava no terceiro campeonato Mundial de Futebol. SAÚDE MENTAL- ARTES - “O Senhor do Labirinto”, de Gisella de Mello e Geraldo Motta Filho, conta a vida e obra de Arthur Bispo do Rosário, esquizofrênico que viveu por 12 anos na Colônia Juliano Moreira e fez toda sua obra a partir de sucata inaugurando esta vertente na arte contemporânea. Sua obra é hoje vista nos melhores Museus do mundo como Tate Modern e Guggenheim. - “Bicho de 7 cabeças”, de Laís Bodanski, mostra um jovem cujo comportamento rebelde faz com que seu pai lhe interne num hospício pelos anos de sua terna juventude. O filme mostra a realidade manicomial do Brasil antes da reforma. LITERATURA & DRAMATURGIA - “Ópera do Malandro”, de Rui Guerra, baseado na peça de Chico Buarque de Holanda, gênero pouquíssimo explorado pelo nosso cinema, o musical. Grande sucesso desde sua estréia no teatro, uma obra-prima. - “Vidas Secas” e “Memórias do Cárcere”, de Nelson Pereira dos Santos, nosso cineasta imortal, baseados na obra de Graciliano Ramos, o primeiro relata a vida de retirantes e o último fala do período do integralismo quando diversos intelectuais foram presos durante a ditadura de Getúlio Vargas. - “Eles Não Usam Black-Tie”, de Leon Hirzmann, baseado numa peça de Gianfrancesco Guarnieri, vencedor do Festival de Veneza, conta história de um operário em greve e seu filho pelego. - “O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte, baseado no Dias Gomes. Clássico do nosso cinema premiado no festival de Cannes de 1963, obra indispensável para nossa cultura mostrando poder da Igreja e devoção do fiel. - “Mutum”, de Sandra Kogut, baseado em Guimarães Rosa conta a vida de dois meninos irmãos e seu rude pai no Vale do Jequitinhonha. - “Vida de Menina”, de Helena Solberg. O primeiro trata de uma obra literária clássica nacional que até hoje encanta “Diário de Helena Morley” e fala das transformações de uma menina em mulher no interior de Minas Gerais de 1890 sendo que ler a obra e ver o filme seria bastante recomendado. - “Memórias do Cárcere”, de Nelson Pereira dos Santos. Graciliano Ramos relata suas vivências entre os porões da Ditadura Varas e seus companheiros - “Brás Cubas”, de Andre Klotzel. Obra-prima de Machado de Assis adaptada pelo cinema. - “O enfermeiro”, de Mauro Farias. Conto de Machado de Assis muito bem levado pelos atores: Paulo Autran e Mateus Nachtergaele. - “Quincas Berro D´agua”, de Sergio Machado. Obra de Jorge Amado recriada pelo cinema com grande elenco. - “A hora e a vez de Augusto Matraga”, de Roberto Santos, baseado na obra de Guimarães Rosa. INFANTIL - “Castelo Ra tim bum”, de Cao Hambúrguer. - “A dança dos Bonecos”, de Helvécio Ratton, um clássico do cinema infantil com bonecos do grupo mineiro Giramundo. - “Menino Maluquinho”, de Helvécio Ratton, um sucesso nas histórias em quadrinhos de Ziraldo transposto para as telas. ADOLESCENTE - “As melhores coisas do Mundo”, de Laís Bodansky. - “Houve uma vez dois verões”, de Jorge Furtado. Discussão e amores adolescentes, gravidez e maturidade. - “Podes Crer”, de Arthur Fontes. Amigos de um mesmo colégio vivem aventuras adolescentes. Esta é uma pequena seleção de longas metragens de diversas épocas que indicaríamos, a partir de nossa experiência com o cinema e a pedagogia, para ter uma amostra variada entre clássicos de várias épocas que tratam de diversos assuntos. Obviamente, o professor tem que atentar para temática e as classificações etárias de cada um ao usá-los. Não há muitos títulos de filmes infantis nesta seleção por este mercado ser bastante desprezado pelos nossos produtores, ficando grandes estrelas de TV como Xuxa e Renato Aragão, encarregados de explorar este filão, em geral. Em termos de curta metragem seriam tantos títulos que a melhor solução é ver o site do “curta na escola”, já citado, onde há um trabalho prévio, feito pela equipe de pedagogos, com a classificação por temas, disciplinas e faixa etária, além de relatos de experiências de professores. Still do filme Assalto ao trem pagador, ator: Reginaldo faria (fonte: www.telacritica.org) 7. ANEXOS 7.1 - ENTREVISTA DE REGINA DE ASSIS. Como surgiu a idéia e efetuação do canal MultiRio? Já era uma predestinação do Prefeito ou da Secretaria? A MULTIRIO, Empresa Municipal de Multimeios, Ltda. não é um canal, mas foi concebida como uma Produtora Pública de produtos de mídia para as 1061 Escolas Municipais do Rio, e como um Centro de disseminação de conhecimentos sobre Educação e Mídia para os cerca de 37.000 Professores Municipais. Ao dirigir a MULTIRIO por oito anos (2001 a 2008), após criá-la em 1993, pela Lei Municipal No. 2029 de 18/10/1993, publicada no Diário Oficial do Município/ DOM Nº153, Ano VII de 22/10/1993 – quando fui Secretária Municipal de Educação do Rio ( 1993 a 1996 ), já acreditava e trabalhava pelo direito de acesso de estudantes e professores às linguagens das mídias audiovisuais, digitais e impressas integradas às suas práticas pedagógicas nas Escolas. Isto porque, como Professora, Pesquisadora e Produtora de Mídias, já antevia o imenso potencial destas linguagens integradas aos Projetos Político/Pedagógicos em nossas Escolas Municipais do Rio. Qual era o objetivo? Ao desenvolver com nossa Equipe do Órgão Central da SME e os Professores da Rede Municipal, nosso Núcleo Curricular Básico MULTIEDUCAÇÃO, em 1996 articulamos Princípios Educativos com Núcleos Conceituais, para criar campos de intercessão entre as diferentes áreas de conhecimento e nossa visão da responsabilidade política e social da Escola Pública, como lugar de constituição de conhecimentos e valores para uma vida cidadã. Assim entendíamos os 200 dias letivos como um espaço e um tempo em que os Princípios Educativos do Meio Ambiente, do trabalho, da Cultura e das linguagens (expressivas, literárias, musicais, cênicas, plásticas e as das mídias áudio/visuais, impressas e digitais) se entrecruzariam com os Núcleos Conceituais do Espaço, do Tempo, da Identidade e da Transformação, para contextualizar as noções, conceitos e conhecimentos das várias áreas das ciências humanas, exatas e sociais, representadas pela Língua Portuguesa, pela Língua Materna (para os povos indígenas e imigrantes), Matemática, História, Ciências, Geografia, Educação Física e Espiritual, ou seja, o núcleo básico do currículo. A MULTIRIO é por isto, uma conseqüência desta perspectiva de política educacional para a educação infantil, o ensino fundamental, a educação especial e o programa de jovens e adultos. Quando fui dirigi-la em 2001, propus como Política Pública de Criação e Produção de Mídia, a nossas Equipes das áreas de criação e produção audiovisual, impressa e digital o seguinte: 1. Aprender a trabalhar de maneira multi, inter e trans/disciplinar, isto é, os profissionais da educação estudarem e entenderem as complexidades da criação e produção de mídia e os profissionais de mídia estudarem e entenderem as complexidades da constituição de conhecimentos e valores entre crianças, adolescentes e seus professores. Imenso desafio, gerador de tensões e de maravilhosas ações e produtos de mídia, criados e desenvolvidos para e, muitas vezes, com nosso público alvo nas Escolas Municipais do Rio! 2. Definir distintos gêneros de produção áudio visual, digital e impressa. No caso da produção audiovisual criar e produzir os gêneros de documentários, docu/dramas, animações, vinhetas, séries, inter/programas e programas de entrevistas em interação com o público. 3. Definir distintas possibilidades de narrativas para diferentes públicos/alvo, considerando as diversas faixas etárias, gêneros, etnias, portadores de necessidades especiais, variedade e desigualdade de situações familiares, sociais e econômicas, de modo a atingir a maioria da população presente em nossas Escolas Municipais. 4. Criar e produzir audio visuais e produtos impressos e digitais com e para Crianças, Adolescentes seus Familiares e Professores de modo a possibilitar diferentes concepções e formas de expressar valores, conhecimentos, curiosidades, desejos, sonhos e fantasias. Desta maneira viabilizar através destes produtos , meios de trabalhar as diferentes áreas de conhecimento nas Escolas, ligadas à concepção de sociedade que desejamos, no cenário da MULTIEDUCAÇÃO. 5. Criar grupos focais com os distintos públicos para iniciar e testar propostas de produtos audiovisuais. Isto nem sempre foi possível, mas no caso do audio/visual Uni, Duni, TV, fizemos um início do intento com as crianças entre 4 e 6 anos. 6. Avaliar os resultados do impacto dos produtos, junto ao público/alvo para o qual se dirigia. Fizemos entre 2006/2007 uma pesquisa de impacto mais amplo, com uma amostra representativa da rede: “Estudo Analítico do Impacto dos Produtos da MULTIRIO sobre os Professores da Prefeitura do Rio de Janeiro“ Mimeo, MULTIRIO, 2007. Os resultados são valiosos, porém exigiriam desdobramentos de análises e estudos de caso e isto não foi possível realizar pela premência do tempo. Mas, esperamos que outras pesquisas possam investigar e avançar mais com estes conhecimentos. 7. De todo modo, ao realizar a transição com a mudança de governo municipal, recomendamos à nova administração da MULTIRIO, a partir de 2009, que levasse adiante esta análise, o que, pelo que sabemos ainda não foi feito. Constatamos ainda que grande parte do que foi produzido foi descontinuado e no caso do Portal da MULTIRIO e do RIOMÍDIA textos, pesquisas entrevistas, relatos foram deletados. Ainda lutamos para restaurar este patrimônio, que pertence à Educação Municipal do Rio de Janeiro. 8. Desenvolver um Seminário Interno para nossa Equipe Multidisciplinar, a fim de aprofundar conhecimentos teórico/práticos mútuos e desenvolver análise crítica sobre nossos produtos em todas as linguagens de mídia, o que foi feito durante 2007 e 2008 com muito êxito. Os resultados destes múltiplos esforços foram reconhecidos pela maioria dos Professores e um grande número de Estudantes Municipais do Rio de Janeiro e pela crítica de instituições e júris especializados no Brasil e no exterior, como os da UNESCO, UNICEF, Prêmio do Japão, Anima Mundi, Prix Jeunesse Ibero/Americano, entre outros, que foram outorgados a vários produtos e ações que desenvolvemos. Para registrar isso tudo produzimos em 2008 o livro “Nós da Escola criando Mídia e Educação”, que é uma publicação da MULTIRIO/ RIOMÍDIA, Secretaria Municipal de Educação e Prefeitura do Rio de Janeiro, ISBN 978 85 60354 047, contendo encartado um DVD com relatos preciosos de Professores e Estudantes da SME e de nossas Equipes da MULTIRIO / RIOMÍDIA, além de clips sobre os produtos. Houve resistência, qual foi a verba? Resistência sempre há, seja por parte de alguns vereadores que, no entanto, votaram a favor da criação, por unanimidade, com exceção do Vereador Wilson Leite Passos, que alegava que o Prefeito Cesar Maia, o então 1º. Presidente da MULTIRIO, Walter Clark e eu, então Secretária de Educação, iríamos privatizar a Empresa e vendê-la para a Globo; e por parte da imprensa que desconfiava das intenções, mas depois se rendeu a seu bom trabalho . Uma minoria de professores criticou no início, mas com o passar do tempo, tornou-a e a seus produtos “objeto de desejo“ da Rede Municipal e apoio para suas práticas pedagógicas. O orçamento da MultiRio representa um pequeno fragmento, cerca de 1,5 % dos 25% do orçamento municipal que , constitucionalmente os Prefeitos são obrigados a gastar com Educação. Quando chegamos em 2001, o Prefeito da época gastava com Educação abaixo do que devia e o orçamento encontrado naquele ano era de R$ 11.000.000,00 (onze milhões de reais) , que conseguimos aumentar para R$ 24 milhões a partir de 2002 e até 2008. Em 2004 tivemos um reforço de mais R$ 2 milhões para realizarmos a 4ª. Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes, em parceria com a World Summit on Media for Children Foundation/ WSMCF e a ANDI , Agência Nacional dos Direitos da Infância em Brasília. A Cúpula Mundial, realizada em Abril de 2004, projetou a MULTIRIO em todo o mundo, pois tivemos representantes de 70 países e 150 adolescentes dos cinco continentes, que durante cinco dias participaram de múltiplas atividades, sob o tema “Mídia de Todos, Mídia para Todos”. As avaliações feitas pelo Board Internacional da WSMCF foram de que esta foi a melhor de todas as Cúpulas Mundiais já realizadas, por seu conteúdo, qualidade dos participantes e keynote speakers, organização e resultados compilados nas Cartas do Rio de Janeiro. Estas cartas contiveram as conclusões do evento e foram encaminhadas às autoridades nacionais e internacionais, para que se comprometessem com os direitos de crianças, adolescentes, jovens e seus educadores a mídia de qualidade. Em que termos podemos aplicar as teorias de Vygotsky e Piaget para mídia / educação? Esta é uma pergunta muito ampla e até certo ponto, antagônica, porque as teorias da psicologia genética de Piaget e da corrente histórico/social de Vygotsky e seus companheiros Luria, Leontiev e em outra dimensão Bakhtin, têm origens epistemológicas e até políticas distintas. Analisá-las levaria muito tempo e espaço. Mas posso dizer que Vygotsky e, em outras perspectivas, Walter Benjamin, contribuem muito por suas reflexões teóricas sobre educação e cultura, como fruto das relações entre pensamento e linguagem e o lugar da arte e da cultura na constituição de conhecimentos e valores presentes, diria eu, nas linguagens audiovisuais, digitais e impressas. Esta sua pergunta merece alguns bons cursos.... Parece-me que dentre as mídias–educação você tem uma boa queda para o audiovisual, por quê? Aqui, novamente, há muito que dizer, mas tentarei resumir em dois pontos: A. Mídia/Educação é um campo novo de aplicação das linguagens audiovisuais, digitais e impressas às práticas pedagógicas nas escolas. A linguagem audiovisual é talvez a mais rica e promissora, porque contem e pode ser contida tanto pelas linguagens impressas, quanto pelas digitais. Ou seja, as narrativas impressas sempre serão uma das matérias/primas das linguagens audiovisuais, fazendo-as universais, atraentes e interessantes. Os recursos digitais jamais prescindirão de narrativas audiovisuais, mesmo que experiências táteis, olfativas e gustativas sejam possíveis. O que quero clarificar é que ao apelar para olhos e ouvidos trabalharemos com a imaginação, a criatividade, o raciocínio, a lógica, a memória, o prazer e a curiosidade, entre outras possibilidades humanas. É evidente que isto é essencial para o campo da educação que se valendo das várias linguagens de mídia, em distintos suportes, transforma corações e mentes de crianças, adolescentes, jovens e adultos, constituindo conhecimentos e valores importantes e indispensáveis à vida cidadã, quando bem aplicados. Como vê o futuro da Escola? Como um lugar bastante diferente do que temos agora ainda em nosso País. Vejo que ela dependerá de menos Professores, porém muito mais qualificados do que atualmente. Penso que as Teorias de Jogos terão grande importância para as práticas pedagógicas e que as mídias e suas convergências facilitarão a constituição de conhecimentos e valores, sempre intermediados por professores competentes e comprometidos. Espero que haja maior rigor do Ministério Público e dos conselhos de educação, câmaras municipais e assembléias Legislativas para evitar o abandono irresponsável de políticas públicas de educação e mídia, como as que desenvolvemos e que atualmente estão paralisadas ou descartadas por mesquinhas e medíocres razões político/partidárias ou de ambições menores. Oxalá e vejamos este dia chegar em breve. 7.2 - ENTREVISTA DO COORDENADOR PEDAGÓGICO DO SITE Responsável pelas respostas: Prof. Dr. João Luís de Almeida Machado, Consultor pedagógico e redator do Curta na Escola. Quais as séries que podem fazer uso destes conteúdos? O “Curta na Escola” tem acervo amplo que possibilita o uso de curtasmetragens por estudantes de todas as faixas etárias, da educação infantil a universidade, sendo possível e estimulado o seu uso também entre os profissionais de educação, em seus momentos de formação e Hora de Trabalho Pedagógico. Como foi despertado o interesse de fazer um site exclusivo com ferramentas e conteúdos audiovisuais para educação? Como foi recebida a idéia pelo patrocinador? O Curta na Escola surgiu a partir do Porta Curtas Petrobras, numa iniciativa com finalidades educacionais pensada por seus realizadores como sendo viável e necessária diante do rico acervo de informações contidas nestes filmes e em sua possibilidade de utilização, por conta de suas características principais (produções brasileiras, tempo de exposição curto e adequado a uma hora-aula, possibilidade de disponibilizar pela web ou DVDs...) e também como uma forma de promover e estimular ainda mais a ação de brasileiros nesta seara cultural. Tem sido, desde então, um grande sucesso, estimulado pelo site e por suas iniciativas, que a todo o momento tentam (e conseguem) atrair mais e mais professores e estudantes a visualizar seus filmes. O principal patrocinador do projeto é a Petrobras que é a maior financiadora de ações culturais e educacionais do país e que, tendo se tornado parceira do Porta Curtas, se interessou pela iniciativa do Curta na Escola pela possibilidade de tornar o caminho entre a escola e a produção cinematográfica ainda mais possível, rápido e curto. E a recepção por parte dos coordenadores, proprietários de escolas e da rede pública de ensino? E com o MEC/Inep? Tem sido a melhor possível. O site tem uma grande quantidade de acessos diários, está se integrando às redes sociais (Facebook e Twitter) para tornar a interatividade uma de suas marcas. Aumenta mensalmente a quantidade de filmes disponibilizados, oferece a assistência de assessoria pedagógica qualificada e comprometida com o uso de filmes em sala de aula e estimula os professores a usarem promovendo ações de divulgação e concursos em que premia os melhores usos destacados através de relatos enviados ao site. E quanto aos professores como foi e receptividade?Foi necessário algum treinamento para os usuários- professores poderem lidar com novas tecnologias? A rapidez com que as novas tecnologias de informação e comunicação estão adentrando a sociedade e a escola facilitou a incorporação e utilização dos filmes do Curta na Escola em sala de aula. A experiência prévia dos usuários, derivada do contato com o Porta Curtas e, depois com o YouTube e outras ferramentas similares, facilita a compreensão e o uso dos filmes em aula em laboratórios de informática ou projetados em telas ou paredes por datashows acoplados a computadores e caixas de som (ou aparelhos de DVD, no caso do uso dos filmes da coleção Curta na Escola). A metragem dos filmes é igualmente um grande atrativo, além dos pareceres oferecidos no site e dos relatos de outros professores, de todo o país, que os motivam muito a também tentar criar suas práticas em aulas. Houve alguma resistência por conta da demanda financeira para comprar equipamentos e conteúdos audiovisuais? As escolas públicas (e as privadas certamente) estão equipadas. Os governos, federal, estaduais e municipais, têm provido as escolas com computadores, aparelhos de TV e DVD, além de acesso a rede mundial de computadores e isso está ajudando a mudar a realidade das escolas e da educação no país. Projetos como o Curta na Escola vem reforçar esta nova realidade oferecendo materiais de qualidade e assessoria de primeira. Como você vê a pirataria escolar? Ainda é uma realidade. Há camelôs com banquinhas vendendo filmes, softwares, CDs e tantos outros produtos que são resultado de anos de pesquisa, investimento, trabalho e suor de artistas, produtores e empresas como se isso não representasse prejuízo algum para a sociedade e sabemos o quanto isso pesa para que novas iniciativas surjam e talentos floresçam, uma grande pena. Você acha que haveria menos aceitação caso estes conteúdos não fossem gratuitos? Certamente que sim. Se houvesse cobrança pelo acesso ao acervo diminuiria consideravelmente a procura. A cultura da internet tem sido construída desde o seu surgimento associada a idéia de que os produtos tem que ser oferecidos gratuitamente. É claro que há custos e a ação dos sites tem que ser feita no sentido de associar-se a parceiros ou então fazer publicidade de anunciantes para se manter. Qual o critério para aquisição do acervo de filmes? O principal critério é a qualidade. Além dele a possibilidade pedagógica de utilização em sala de aula, associada a conteúdos escolares e a necessidade de diferentes anos escolares e faixas etárias. Como é feito o feedback da utilização da ferramenta por parte dos usuários professores? Alunos? Autoridades? Patrocinadores? O feedback tem sido feito através de e-mails, redes sociais, comentários no site e também pelo envio de relatos de uso. Pode-se comprovar a eficácia do uso do audiovisual para educação? E para reforço de aprendizagem? Advogo, pessoalmente, o uso dos filmes em sala de aula desde que comecei a lecionar e isso resultou em livro, dissertação de mestrado, site pessoal na internet, artigos, entrevistas e a criação de coluna especializada em portal educacional (a mais acessada entre todas as oferecidas pelo portal) e agora por minha participação no Curta na Escola. A eficácia pode ser comprovada pela intensa procura e integração cada vez maior destas ferramentas ao cotidiano escolar, depoimentos de alunos e professores e, em nosso caso, pelo crescimento significativo dos acessos ao Curta na Escola. Você acha possível hoje educar sem fazer uso destas novas tecnologias de informação e ferramentas culturais? Possível sempre é, mas ficaria muito mais difícil. Os estudantes do século XXI e toda a sociedade estão integrando-se rapidamente ao cotidiano tecnológico e o visual é extremamente marcante nesta nova realidade. Não pensa que já existem em demasia estes conteúdos nos canais educativos e diversões culturais? Até existem, mas carecem da orientação especializada e trabalho exaustivo por parte da equipe do Curta na Escola para oferecer materiais que sejam destinados ao uso em sala de aula, com informações, dados, estratégias e idéias focadas na realidade de nossas escolas. Seria então papel da escola ou professor estimular o consumo destes conteúdos? Esperamos que os professores entendam o poder destes recursos e os agreguem a sua prática, tornando-se parceiros desta iniciativa que pode serlhes muito útil. Há alguma ênfase de critérios nos conteúdos escolhidos como mensagens morais, temas transversais? Contemplamos conteúdos, temas transversais e procuramos seguir aquilo que o MEC/Inep espera e advoga para as diferentes faixas etárias. Procuramos também valorizar a cultura e a identidade nacional sempre. O uso destes conteúdos não prejudicaria o cumprimento das grades curriculares? Não devem ser utilizados na contramão do que a escola ensina e sim como elementos que complementam, enriquecem, estimulam e reforçam as grades curriculares e os temas transversais preconizados pelo MEC. Ainda há lugar para o modelo professor- aluno-quadro- caderno? Uma iniciativa não invalida ou anula a outra. A aula expositiva continuará existindo e é necessária. Agregar novas tecnologias e recursos e, ao mesmo tempo, estimular a leitura, por exemplo, é o que se espera nestes novos tempos para a educação. Como você vê o futuro da escola? E do professor? A educação no país tem que realmente se tornar prioridade, caso contrário, corremos o sério risco de sofrermos o temido apagão de mão de obra. Há políticas públicas indicando que a médio e longo prazo teremos esta valorização de fato. Isso significa aparelhar as escolas, oferecer educação de qualidade e valorizar o professor, dando-lhe melhores condições de trabalho, salários e dignidade. 7.3 - ENTREVISTA DOS DONOS OU COORDENADORES DE ESCOLA Centro Educacional Espaço Integrado. Rua Prof. Ferreira da Rosa, 150 - Barra da Tijuca. Site: www.cei.g12.br. Luciana Paschoal Soares, Diretora Pedagógica. Qual a faixa estaria dos alunos desta escola? Há inclusão? Atendemos a alunos a partir de 2 anos de idade até o final do Ensino Médio (por volta dos 18 anos). Há alunos de inclusão. Como foi despertado o desejo de incluir ferramentas e conteúdos audiovisuais nas aulas? Entendemos que esta área é fundamental no mundo contemporâneo, não só como acesso aos conhecimentos como instrumento para que os alunos expressem aquilo que aprenderam. Assim, é comum nesta escola que após um Estudo de Campo os alunos produzam um documentário ou um telejornal sobre o tema. Uma escola realmente interessada em formar alunos sintonizados com seu tempo precisa necessariamente incluir esta disciplina no seu currículo. E a recepção por parte dos professores, partiu deles também a demanda? Houve alguma resistência? Na verdade, a inclusão desta disciplina (Tecnologia da Comunicação e da Informação - TCI), a partir do 1º ano, existia na escola desde a sua implantação. Assim sendo, quando os professores iniciaram aqui isto já fazia parte do nosso Projeto Pedagógico da escola. Foi necessário algum treinamento para os professores poderem lidar com novas tecnologias? Sim, tínhamos um assessor para esta área que deu cursos para os professores. Aos poucos, além dos professores de turma fomos tendo professores especializados com uma experiência maior na área. Por parte dos alunos, houve algum problema? E para crianças especiais, conseguiram acompanhar? De um modo geral não houve problema, ao contrário, os alunos costumam gostar muito desta área. Para os alunos com necessidades especiais, normalmente temos um currículo adaptado e dependendo do caso, eles vão participar das atividades propostas da forma que puderem ou tiverem condições. Houve uma demanda financeira muito alta para comprar equipamentos e conteúdos audiovisuais? Sim, é claro que os equipamentos são caros e necessitam de investimentos constantes. Sua escola faz uso de algum conteúdo educativo oficial do Estado como TV Escola, Programadora Brasil, e particular como Curta na Escola? Não de forma regular, porém eventualmente um professor pode usar um ou outro programa como recurso pedagógico para a sua aula. Pode-se comprovar a eficácia do uso do audiovisual para educação? E para reforço de aprendizagem? Vivemos num mundo da imagem e é lógico que o audiovisual é um recurso muito eficaz para promover a aproximação do aluno com o conhecimento. Aqui todas as salas de aula a partir do 1º ano do Ensino Fundamental têm televisores e aparelhos de DVD o que facilita muito a utilização deles como recurso pedagógico. Você acha possível hoje educar sem fazer uso destas novas tecnologias de informação e ferramentas culturais? Atualmente acho quase impossível. Não pensa que já existem em demasia nos canais educativos e diversões culturais? Não em um país com as carências educacionais como o nosso, quanto maior o número de oportunidades de acesso aos bens culturais, melhor! Seria então papel da escola estimular o consumo destes conteúdos? Claro, muitas vezes os professores daqui “encomendam” que os alunos assistam determinado programa para que seja comentado e/ou trabalhado em sala depois. Como podem estas ferramentas estimular a leitura? O texto? Acho que pode estimular na medida em que pode se trabalhar com a intertextualidade, ou seja, como as diferentes linguagens expressam o mundo. Por exemplo, é comum a professora de literatura trazer vídeos/filmes de livros que estão sendo lidos pelos alunos. O uso destes conteúdos não prejudica as grades curriculares? É claro que não! Ao contrário, eles estão dentro do currículo. Ainda há lugar para o modelo professor- aluno- quadro- caderno? Há, mas cada vez mais em menor freqüência. Uma bela aula expositiva ainda tem o seu lugar, mas sempre com a preocupação de incluir os alunos na discussão do tema. Como você vê o futuro da escola? A escola no geral como instituição tem que se reformular e ficar mais afinada ao seu tempo. 7.4 – ENTREVISTA DO DIRETOR DA PROGRAMAÇÃO DA TV ESCOLA Qual seu nome, cargo e sua formação? Eduardo Nunes, diretor de programas, formado pelo Curso de Cinema da UFF. Trabalho na TV Escola, na mesma função, desde 1999. Como surgiu a idéia e efetuação do TV ESCOLA? Em que governo, ano, ministério? Dotação orçamentária? Está vinculado ao MEC certo? Não saberia dizer como surgiu a idéia da TV Escola, mas – acredito – que teve como modelo a proposta de educação a distância que já existia em outros países. A TV Escola completa em 2011, 15 anos de existência. Surgiu em 1996, durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Não saberia dizer o valor dos gastos anuais da TV Escola, mas a TV sempre foi vinculada e esteve no orçamento do MEC. Qual era o objetivo? O objetivo da TV Escola é o de fornecer material audiovisual (documentários, ficção e jornalismo) que funcionem como complemento ao conteúdo dado em sala de aula, no Ensino Infantil, Fundamental e Médio. A aplicação deste material audiovisual é sugerida pela revista e pelo site; e também por programas e cabeças de apresentação que antecedem os documentários e dão dicas de como o material pode ser usado em sala de aula. Como funciona? As escolas públicas (federais, estaduais e municipais) recebem um kit da TV Escola, com antena parabólica, TV e videocassete (agora DVD). No principio a idéia era apenas a de fornecer – através da transmissão por satélite – o audiovisual para que fosse gravado nas escolas e formasse uma videoteca que pudesse ser usada pelos professores independente da programação do dia. Mas, através de pesquisas, foi descoberto que a TV Escola era mais vista como uma “TV normal”, ou seja, sua programação era acompanhada não só nas escolas, mas também dentro de casa. Com isso, a programação foi assumindo um caráter de faixas por horários, estréias, reprises, chamadas, etc. Como uma programação de TV a cabo educativa. Como é o critério de programação? A programação é comprada em feiras internacionais e possui documentários recentes exibidos pelas mais importantes TV’s educativas do mundo. Também são produzidos audiovisuais de conteúdo brasileiro através de editais. Boa parte da produção da TV Escola é terceirizada através dos editais. A programação sempre visa cobrir as diferentes áreas de ensino nas faixas de ensino infantil, fundamental e médio. Como se verifica a utilização deste recurso? O MEC realiza pesquisas anuais para saber a resposta de professores, gestores e alunos. E a programação pode mudar conforme a demanda. Como conseguir aplicar os recursos do audiovisual ao conteúdo obrigatório? Através de programas como “Salto para o futuro”, as dicas de aplicação dos recursos audiovisuais ao conteúdo obrigatório são discutidas entre professores e gestores de todo o país. O programa é diário e possui a participação (por telefone ou internet) de escolas de todo o país. Há algum indicador de melhoria na aprendizagem? As pesquisas realizadas pelo MEC demonstram que as escolas que usam a TV Escola, percebem ali, uma importante ferramenta de complementação aos estudos e desperta o interesse dos alunos. Como você vê o futuro da escola? E da mídia? Ou mídia-educação? O futuro da escola, da TV Escola e da mídia educação está totalmente vinculado a internet, em pouco tempo não poderemos falar de TV sem falar de internet, será apenas uma única coisa. E acho que poderá ser usada como uma ferramenta especial na educação. 7.5 - RELATO DE PROFESSOR ENVIADO AO SITE: CURTA NA ESCOLA Título deste relato: Projeto Curta na Escola Filme utilizado: A Velha a Fiar Data da experiência: 01/10/2008 Autor do relato: ELIS FERNANDA DA SILVA Ponto de contato responsável: Instituição: APAE DE IGARACU DO TIETE Município/Estado: IGARACU DO TIETE/SP Rede: Particular Localização: Urbana Nível de ensino da turma: Educação de Jovens e Adultos Faixa etária da turma: de 14 a 18 anos Disciplina / Temas transversais: Artes, Cidadania, Ciências Sociais, Educação Ambiental, Geografia, História, Língua Portuguesa, Matemática, Meio ambiente, Música, Teatro Como exibiu aos alunos pela Internet Nº de alunos que assistiram a esta sessão: 30 Objetivos do uso do filme: Utilizar de recursos audiovisuais como ferramenta para facilitar a aprendizagem; integrar os alunos e professores no processo de multidisciplinaridade; adquirir conhecimentos através de depoimentos, pesquisas, rodas de conversas e filmes de curta metragem; diferenciar filmes de curta metragem e filmes comum; proporcionar ambientes diferenciado para o desenvolvimento e elaboração das práticas educativas; colaborar na construção de conceitos de ética e cidadania; analisar e estudar o ambiente em que se vive; conceituar a geração da vida animal; classificar os animais mamíferos; despertar o interesse pela Arte e expressão corporal; desenvolver a criatividade e coordenação motora; conscientizar sobre a importância da qualidade de vida e da reciclagem; promover a inclusão social. Sequência de atividades envolvendo o filme: No desenvolvimento do projeto, fizemos uso da internet para a apresentação dos filmes, transformamos o pátio da escola em um cinema onde projetamos os filmes na parede e teve até pipoca. Trabalhamos os conceitos de filme e curta metragem. Aproveitando o período eleitoral,apresentamos 4 curtas e os alunos puderam conhecer, votar e depositar seu voto na urna. O mais votado foi A Velha a fiar. Fizemos um mural constando os nomes dos personagens. Os alunos memorizaram muito rápido a letra da música e por essa razão trabalhamos esse texto, circulando as palavras que os alunos compreendiam. Fizemos o uso do alfabeto móvel para montar os nomes dos animais. Dentre os personagens do filme, enfocamos o gato pois, os alunos estão aprendendo e trabalhando com a letra G. Do personagem gato trabalhamos seu cilclo de vida e habitat. Aproveitamos também para classificar os animais mamíferos, construindo um painel de recortes e colagens dos mesmos. Enfatizamos também a área rural e urbana, onde os alunos construíram uma maquete representando cada área, ambas com materiais recicláveis. Focamos também a questão familiar justamente pela personagem Velha, fazendo um levantamento e montando um gráfico da árvore genealógica. Trabalhamos a questão ambiental onde fizemos um passeio até a praça, discutimos a importância da reciclagem e fizemos uma pequena coleta de jornais e garrafas pets para a construção de fantoches. Contamos com a participação da professora de artes que nos auxiliou no processo de construção e apresentação do teatro dos fantoches. Como tivemos a participação de quase 60 alunos, os dividimos em grupos onde um ficou responsável pela encenação e o outro pelo acompanhamento musical, fazendo uso da voz e utilizando Coquinhos como instrumento musical. Foi feita a apresentação para todos os alunos da escola e, inclusive, tivemos convites para estar apresentando em outras escolas! Comente os resultados da experiência, inclusive mencionando aspectos lúdicos de reações dos alunos: Por ser uma escola de educação especial estendemos uma aula para o desenvolvimento de um projeto, pois haveria mais tempo para o desenvolvimento das atividades que por serem alunos especiais, e não desenvolverem mais de 2 ou 3 tipos de atividades no dia. Durante 30 dias os alunos participaram, elaboraram, desenvolveram e apresentaram tudo aquilo que eles aprenderam nesse período. Muitos dos alunos "conheceram um notebook", pois ele fez parte das nossas aulas nesse período. A inovação foi um sucesso, alcançamos todos os nossos objetivos e já temos em nossas metas para o ano de 2009 a realização do projeto Curta na Escola já no início do ano. Esse tipo de projeto, além de incentivar o aluno, proporciona métodos e técnicas diferenciadas que auxiliam no processo ensino-aprendizagem, além de colaborar para a inclusão social. A participação dos alunos foi 100%, coletaram materiais recicláveis para a construção dos seus próprios fantoches, confeccionaram com todo o cuidado todos os personagens do filme, e como o filme estava preto e branco, fizeram uso da imaginação dando cores e formas aos personagens confeccionados. Foi um desfile de roupas e penteados até chegarem ao definitivo! Como a turma era grande, nós os dividimos e mesmo assim, trabalho não faltou. Quem não confeccionou os fantoches, fez parte do coral, memorizando e cantando a música da velha, enquanto os outros alunos e seus fantoches se apresentavam. Sobrou serviço até para os mais tímidos que ficaram com a parte instrumental, construindo um instrumento diferenciado feito com coquinhos de árvore seca. Com tudo pronto, fizemos a apresentação para o restante dos alunos e para a equipe da escola, e com certeza, foi um sucesso. Todos adoraram e pediram bis. No final da apresentação fomos convidados a apresentar nosso projeto em outras escolas. É com satisfação que pretendemos ir divulgar essas idéias, promovendo uma interação entre as escolas e acabando com as barreiras do preconceito. Imagem do Curta metragem: A VELHA A FIAR (fonte: www.portaldoprofessor.mec.gov.br) 7.6 - Ranking de filmes no programa “Cinema para todos”. 8 - REFERÊNCIAS FILMES O PIANO. Direção de Jane Campion, 1993, Drama, França, son., color, 121’. PRECIOSA. Direção de Lee Daniels, 2009, Drama, EUA, son., color, 110’. NENHUM A MENOS. Direção de Zhang Yimou. 1999, Drama, China, son., color, 106’. ENTRE OS MUROS DA ESCOLA. Direção de Laurent Cantet, 2007, Drama, França, son., color, 128’. TROPA DE ELITE. Direção de José Padilha. 2007, Drama, Brasil, son., color, 115’. PRO DIA NASCER FELIZ. Direção de João Jardim. Brasil, son., color, 88’. 2006. Documentário, A VELHA A FIAR. Direção de Humberto Mauro. 1964. Documentário, Brasil, preto e branco, 6’. LIVROS BERNARD, Sheila Curran. Documentário: técnicas para uma produção de alto impacto. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. CHAVES, Eduardo O. C. Tecnologia e educação: o futuro da escola na sociedade da informação. Mindware, São Paulo, Editora Campinas, SP 1998. DUARTE, Rosália. Cinema e Educação. Belo Horizonte, Autêntica, 2002. DRUCKER, Peter. As Novas Realidades. São Paulo, Livraria Pioneira Editora, 1989. FRESQUET, Adriana. Imagens do Desaprender, uma experiência de aprender com o Cinema. Rio de Janeiro, UFRJ, CINEAD, LISE, 2007 GILMOUR, David. Clube do Filme. Rio de Janeiro, Intríseca, 2009. LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo, Editora 34, 1999. NIETZCHE, Friedrich. Escritos sobre Educação. Tradução, apresentação e notas de Noéli Correia de Melo Sobrinho. PUC-Rio, Edições Loyola, 1998. RIVERA, Tania. Cinema Imagem e Psicanálise, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2008 GOMES, Paulo Emilio Sales. Cinema: trajetória no subdesenvolvimento. São Paulo, Ed. Paz e Terra, 1996. SALIBA, Maria Eneida Fachini . 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