História sob a designação de Nuberu Bagu. Para isso, estudei obras dos cineastas japoneses que mais contribuíram para o clareamento programático da fotografia (e a consequente fuga à estética da sombra), e daqueles que mais drasticamente inverteram os paradigmas cromáticos em vigor na arte japonesa em geral. W: Nos últimos dois anos assistimos à perda de três grandes mestres do cinema novo japonês (Kaneto Shindō, Nagisa Ōshima e Koji Wakamatsu) mas também uma referência incontornável, o crítico, cinéfilo e historiador Donald Richie. Tem algum comentário a fazer acerca destes desaparecimentos? DPB: Desde a morte de Truffaut em 1984 que o cinema tem vindo a perder os protagonistas das grandes revoluções dos anos 60. É, naturalmente, triste assistir ao desaparecimento 58 progressivo desta geração, cuja obra deixa de ser um work in progress e passa a constituir um conjunto de filmografias fechadas, pertencentes aos livros, linearmente estudáveis e livres de mudanças de direcção futuras por parte dos seus autores. De entre as figuras que mencionou, percebo o destaque que atribuiu a Donald Richie. Às actividades que enumerou, no entanto, é necessário acrescentar o seu espantoso trabalho enquanto cineasta experimental. Apesar de uma filmografia curta, Richie aproveitou o seu carácter “mestiço”, a cavalo entre duas culturas, para realizar uma série de curtasmetragens excêntricas e provocadoras, das quais se destacam Boy with Cat (1966) e Cybele (1968). Do ponto de vista teórico, o seu A Hundred Years of Japanese Cinema, uma das várias Histórias que escreveu ao longo da vida, continua a ser, a par do Le Cinéma Japonais de Max Tessier, a obra que recomendo a quem quer ler uma introdução concisa e omnividente ao cinema nipónico. W: O final dos anos 60, princípio dos anos 70 viram chegar uma quantidade de realizadores inovadores que se pautavam por uma radicalização estética e uma ética quase transgressiva (os filmes da Art Theatre Guild, as produções independentes, etc.). Como apresentaria estes filmes estranhos a alguém que nunca ouviu falar deles? DPB: Há efectivamente dois tipos de filmes que fogem aos estúdios no período que refere: aqueles que são realizados por empresas detidas pelos próprios cineastas, como no caso de Shindô e Teshigahara, e os que são financiados pela Art Theatre Guild. Esta instituição, com efeito, além de ter gerido uma significativa rede de cinema de arte e ensaio que permitiram a entrada,