Rendimento de grãos de milho, soja e feijão em função de estratégias de adubação no Planalto 1 Sul Catarinense 2 3 4 Pandolfo, C.M. ; Veiga, M. ; Zoldan, S.R. Introdução O município de Campos Novos está localizado no Planalto Sul Catarinense e respondeu pelo plantio de 15.500 ha de milho, 44.500 ha de soja e 11.500 ha de feijão na safra de 2012/2013 (IBGE, 2014), com cultivo predominantemente em Nitossolos, Latossolos e Cambissolos, solos de maior ocorrência na região (Dufloth et al, 2005). As plantas retiram do solo grande parte dos nutrientes necessários para o seu crescimento e desenvolvimento. Para uma boa produção das culturas, é necessário que o solo apresente disponibilidade desses nutrientes em proporções adequadas e que as condições de absorção sejam favoráveis. Os solos da região Sul do Brasil são originalmente ácidos e de baixa fertilidade, principalmente com relação ao teor e disponibilidade de fósforo, macronutriente essencial às plantas (Bissani et al., 2008). No entanto, o uso agrícola desses solos, com aplicação de corretivos e fertilizantes, tem propiciado características químicas mais adequadas ao crescimento das plantas (Bissani et al., 2008). Isso também tem sido constatado no município de Campos Novos, onde as lavouras utilizadas para produção de grãos normalmente apresentam boa fertilidade do solo. Apesar da existência de um sistema de recomendação de adubação consolidado para os estados de SC e RS que reúne, há mais de 60 anos, resultados de experimentos de adubação e calagem para os principais solos e culturas (Sociedade..., 2004), em muitas situações, como é o caso do Planalto Sul Catarinense, são utilizadas estratégias regionalizadas de recomendação de adubação (Pandolfo & Veiga, 2012). Essas estratégias incluem, muitas vezes, fertilizantes produzidos regionalmente, com recomendação de dose específica para cada cultura. O objetivo deste trabalho foi avaliar o rendimento de grãos de milho, soja e de feijão, cultivados na safra 2013/14, comparando-se as estratégias de adubação mais utilizadas no Planalto Sul Catarinense, envolvendo adubos minerais e um fertilizante organomineral produzidos regionalmente. Material e métodos O experimento foi conduzido na safra 2013/14 no município de Campos Novos/SC, região do Planalto Sul Catarinense, em um Nitossolo Vermelho. O solo apresentava, na camada de 0-10 cm, teor alto de fósforo (P) e de potássio (K) e teor médio de matéria orgânica (MO) (Sociedade... 2004). Os tratamentos, que se constituíram em estratégias de adubação com P e K praticadas na região do Planalto Sul Catarinense, foram: T - Testemunha, sem aplicação de P e K - Aplicação de nitrogênio (N) na base e em cobertura no milho e feijão, conforme recomendação da Sociedade... (2004). AS - NPK Recomendado - Dose de adubo solúvel recomendado conforme Sociedade... (2004), definido para cada cultura a partir do resultado da análise do solo e expectativa de produção, utilizando-se o adubo formulado com melhor ajuste à recomendação e uma expectativa de -1 rendimento de 9.000, 4.000 e 3.000 kg ha de grãos para o milho, soja e feijão, respectivamente. OM1 - NPK Organomineral_1 - O dobro da dose física do tratamento AS para o milho, soja e feijão. OM2 - NPK Organomineral_2 - Dose de organomineral recomendados pelo fabricante para o milho, soja e feijão. AFA - NPK Agricultores - Dose e fórmula de adubo mais utilizada pelos agricultores da região para o milho, soja e feijão. As quantidades de N, P e K aplicadas por tratamento e safra são apresentadas na tabela 1. O delineamento experimental foi blocos completos casualizados, com quatro repetições em parcelas subdivididas. Nas parcelas principais (5 x 25 m) foram semeadas as culturas de milho, soja ou feijão em rotação, e nas sub-parcelas (5 x 5 m) foram aplicados os tratamentos de estratégias de 1 Trabalho conduzido com recursos da EPAGRI e COPERCAMPOS. Eng. Agr., Dr. em Ciência do Solo, EPAGRI/EECN, 89.620-000, Campos Novos, SC, [email protected]; [email protected]. 4 Eng. Agr., M.Sc. Produção Vegetal, EPAGRI/EECN, Campos Novos, SC, [email protected]. 2,3 2 2 2 adubação. A área útil foi 10 m para o milho, 6 m para a soja e 9 m para o feijão. As cultivares utilizadas na safra 2013/14 foram a P30F53YH para o milho, NA 5909 RG Nidera para a soja e IPR Tangará para o feijão. A semeadura das culturas foi realizada com semeadora para plantio direto após a dessecação da cultura de inverno (aveia preta + vica/milho; aveia preta/soja; trigo/feijão), utilizando-se espaçamento entre linhas de 50 cm para todas as culturas. Os tratamentos fitossanitários foram realizados sempre que necessários, utilizando-se os produtos e doses recomendados para as culturas. Os rendimentos obtidos na área útil de cada parcela foram corrigidos -1 para 13% de umidade e transformados para kg ha . Para possibilitar a análise conjunta das culturas, os dados de rendimento grãos são apresentados como rendimento relativo, considerando-se como 100% a maior produção física obtida em uma das parcelas da respectiva cultura. Os resultados foram submetidos à analise de variância (P<0,05) e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. Tabela 1. Quantidade de N, P2O5 e K2O adicionada em cada tratamento para o milho, soja e feijão cultivados na safra 2013_14. 1 Cultura/Estratégias N base N cobertura N total P2O5 K2O -1 -------------------------------- kg ha -------------------------------2 Milho T 40 100 140 AS 41 100 141 148 54 OM1 45 100 145 90 90 OM2 27,5 100 128 55 55 AFA 41 100 141 148 54 3 Soja T AS OM1 OM2 AFA 0 7 1 1 0 0 0 0 0 0 0 7 1 1 0 0 70 84 42 80 0 70 84 42 60 20 24 30 19 30 40 40 40 40 40 60 64 70 59 70 60 60 37 78 60 60 37 45 4 Feijão T AS OM1 OM2 AFA 1 O nitrato de amônio foi a fonte nitrogenada utilizada em todos os tratamentos para o milho e feijão; 2Fontes por tratamento para o milho: AS-9-33-12; OM1 e OM2 Organomineral - 5-10-10; AFA-9-33-12; 3Fontes por tratamento para a soja-AS 2-20-20; OM1 e OM2 Organomineral 0-12-12; AFA 0-20-15; 43Fontes por tratamento para o feijão- AS - 8-20-20; OM1 e OM2 Organomineral 5-10-10; AFA11-26-15. Resultados e discussão As estratégias de adubação não diferiram entre si em relação ao rendimento de grãos de milho e de soja na safra estudada (Tabela 2), o que pode ser atribuído à boa condição de fertilidade do solo onde o experimento foi conduzido, já que o solo apresentava, na camada de 0-10 cm, teor alto de P, muito alto de K e médio de MO (Sociedade... 2004). No entanto, para a cultura do feijão, embora não tenha havido diferenças significativas das estratégias de adubação propriamente dita, essas se diferenciaram da testemunha (sem aplicação de P e K), com maior rendimento de grãos. A testemunha produziu 59,9% do rendimento relativo, enquanto a média das quatro estratégias estudadas foi de 82,7% de rendimento de grãos de feijão. Uma menor resposta à adição de nutrientes é esperada quando o solo apresenta boa condição de fertilidade, mesmo que o aporte de P e de K, de maneira geral, tenha sido menor na estratégia OM1 em relação às demais (Tabela 1). Isso também pode ser verificado na Ttestemunha, sem aplicação de P e K, onde se observa que os rendimentos de grãos de milho e de soja não se diferenciaram em relação às outras estratégias com aporte de P e K. Esses resultados estão de acordo com os obtidos por Pandolfo et al. (2012), que verificaram que as produções de massa seca de aveia preta+azevém e de sorgo não foram influenciadas pelas doses de um fertilizante organomineral fosfatado em Latossolo com alto teor de P. No entanto, é provável que o uso continuado de estratégias com menor aporte de nutrientes leve a um decréscimo de produtividade das culturas se a adição de P e de K for menor do que a exportação desses nutrientes pelos grãos das culturas, em função da redução dos teores disponíveis no solo. As diferenças de rendimento relativo de grãos de feijão entre a testemunha e as demais estratégias indicam que o feijão é mais exigente em nutrientes em relação às demais culturas estudadas. Os rendimentos médios de grãos na safra 2013/14 foram de 8.236 (amplitude de 7.849 a -1 -1 -1 8.765 kg ha ), 3.700 (amplitude de 3.573 a 3.787 kg ha ) e 2.341 kg ha (amplitude de 1.796 a 2.535 -1 kg ha ) para o milho, soja e feijão, respectivamente. Considerando-se que, em média, são -1 -1 -1 exportados através dos grãos 8 kg t de P2O5 e 6 kg t de K2O pelo milho; 14 kg t de P2O5 e 20 kg t 1 -1 -1 de K2O pela soja e 10 kg t de P2O5 e 15 kg t de K2O pelo feijão (Sociedade..., 2004), na safra -1 -1 avaliada foram exportados, na média de todos os tratamentos, 66 kg ha de P2O5 e 49 kg ha de K2O -1 -1 -1 -1 pelo milho; 37 kg ha de P2O5 e 55 kg ha de K2O pela soja e 33 kg ha de P2O5 e 47 kg ha de K2O pelo feijão. De uma forma geral, a estratégia OM2 foi a que aportou quantidades de P e de K próximas às exportações de P e de K pelos grãos das culturas, enquanto as demais estratégias aportaram quantidades maiores do que a removida pelos grãos (Tabela 1). No entanto, mesmo não havendo respostas diferenciadas entre as estratégias para as três culturas avaliadas, é provável que o uso continuado de estratégias de adubação que aportem quantidades de P e K muito próximas ao que é exportado pelos grãos e que não estejam embasadas em uma análise do solo, possa resultar na redução dos teores de P e de K ao longo do tempo, com diminuição da fertilidade do solo, refletindo-se no rendimento das culturas ao longo do tempo. Assim, o uso de estratégias que pressupõem a recomendação de P e de K baseada em análise do solo e na reposição ou expectativa de rendimento da cultura continua se constituindo na de menor risco no médio e longo prazo. Tabela 2. Rendimento de grãos de milho, feijão e soja na safra 2013/14 em função de estratégias de adubação (médias de quatro repetições). Rendimento relativo de grãos Tratamentos/estratégias Feijão Milho Soja -1 -------------------------------------- kg ha ------------------------------------------T AS OM1 OM2 AFA NS 82,2 90,9 88,1 85,4 95,4 NS 85,6 88,3 87,3 86,8 83,3 CV (%) 59,9 B 84,6 A 83,6 A 80,5 A 82,1 A 8,8 Letras iguais na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade de erro. NS: diferenças na coluna não significativas. Conclusões As culturas de milho e soja cultivadas em solos com boa fertilidade não responderam às estratégias de adubação utilizadas. A cultura do feijão também não respondeu às estratégias de adubação, mas essas estratégias resultaram em maiores rendimentos relativos de grãos em relação à testemunha, sem aplicação de P e K. Referências bibliográficas 1. BISSANI, C. A.; GIANELLO, C.; CAMARGO, F. A. O. et al. Fertilidade dos solos e manejo da adubação de culturas. Porto Alegre: Metrópole, 2008. 344p. 2. DUFLOTH, J.H.; CORTINA, N.; VEIGA, et al. (Org.). Estudos básicos regionais de Santa Catarina. Florianópolis: Epagri, 2005. CD-ROM. 3. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: IBGE Cidades@; Santa Catarina, Campos Novos. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/temas.php?lang=&codmun=420360& idtema=123&search=santa-catarina|campos-novos|lavoura-temporaria-2012>. Acesso em: 29 abr 2014. 4. PANDOLFO, C.M. & VEIGA, M. Estratégias de adubação para a produção de grãos em rotação de culturas de 2 a 3 anos no Planalto Sul Catarinense. Revista Agropecuária Catarinense, 25(1):47- 50, 2012. 5. PANDOLFO, C.M.; VEIGA, M.; ZOLDAN, S.R., Hennigen, F.J. Teores de fósforo no solo e produção de fitomassa de culturas em resposta à aplicação de fertilizante organomineral fosfatado e superfosfato triplo. In: REUNIÃO SUL-BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO, 9., 2012. Resumos expandidos. Lages: SBCS/NRS, 2012. 6. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO - SBCS. Comissão de Química e Fertilidade do Solo – RS/SC. Manual de adubação e calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. 10 ed., Porto Alegre/RS: SBCS/NRS, 2004. 400p.