ASN - Agência Sebrae de Notícias - DF
24/09/2008 - 17:33
Mulher que trabalha em incubadora ocupa cargo de chefia
Dado é de pesquisa da Anprotec, divulgado durante 'XVIII Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras
de Empresas'; maioria delas tem pós-graduação
Giovana Perfeito, enviada especial da ASN
As mulheres estão ocupando lugar de destaque à frente de instituições
Mateus Major
como as incubadoras de empresas. É o que revela pesquisa inédita
realizada pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de
Empreendimentos Inovadores (Anprotec) e divulgada nesta quarta-feira
(24), durante o XVIII Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e
Incubadoras de Empresas em Aracaju (SE).
No painel 'Gênero e economia: empreendedorismo de batom', foram
apresentados os dados da pesquisa que será transformada em
publicação. O estudo, que verificou a participação profissional das
Gonçalo Guimarães, coordenador da Incubadora Tecnológica de
mulheres em incubadoras do País, revelou que a maioria das mulheres
Cooperativas Populares, apresenta dados da pesquisa durante evento
(46,8%) que trabalha nessas instituições tem cargo de coordenação,
em Aracaju
direção ou gerência, seguido também de cargo administrativo (13,9%). Além disso, a faixa etária varia de 25 a 35 anos.
"Esse dado revelou um cenário pouco usual no País, especialmente, se compararmos com o padrão brasileiro de inserção das
mulheres no mercado de trabalho. Dos 30 aos 40 anos de idade, há uma queda na participação das mulheres nesse mercado,
principalmente em campos ditos de predominância masculina”, destacou Gonçalo Guimarães, coordenador da Incubadora
Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP/Coppe/UFRJ), que esteve à frente da pesquisa.
O levantamento mostra também que a renda da maioria dessas mulheres (35,4%) varia de R$ 415 a R$ 1,5 mil (um e três salários
mínimos); 19% recebem entre quatro e seis salários mínimos (de R$ 1,5 mil a R$ 2,5mil) e 17% entre seis e oito salários mínimos
(de R$ 2,5 mil a R$ 3,5 mil). E, que 33% delas se consideram responsáveis pelo domicílio, o que seria ter participação nas despesas
da casa, como o pagamento de contas de condomínio, luz, água, telefone.
Com relação ao nível de escolaridade, a maioria revelou ter pós-graduação. Nesse quesito foi verificada uma grande evolução. Isso
porque a pesquisa também questionou o nível de escolaridade das mães dessas mulheres. "Em uma mudança de geração já
pudemos verificar a melhoria no nível escolar. Levantamos que 32,9% das pesquisadas declararam que o nível mais elevado de
escolaridade de suas mães é o primeiro grau completo", constatou Gonçalo.
A maior parte das trabalhadoras de incubadoras é casada (41,8%), seguida das solteiras (41%). Das mulheres pesquisadas, 48,1 %
são mães e 51,9% ainda não tiveram essa experiência. Elas revelaram na pesquisa que já vivenciaram dilema por conta da relação
família X trabalho. Há relatos de pessoas que perderam empregos por causa de filhos. As participantes da pesquisa também
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ressaltaram que não existe nas incubadoras uma política formal para o fortalecimento do empreendedorismo feminino.
Além disso, há também o preconceito que ainda é forte. Cerca de 45% das entrevistadas disseram já ter ouvido ou sofrido. A maioria
destaca que o preconceito ocorreu por conta da idade e em seguida por conta de serem mulheres. "Elas também relataram que as
mulheres ocupam pouco os cargos de direção em áreas tecnológicas e que a tomada de decisão e as questões financeiras são
delegadas, em sua maioria, aos homens", destaca Gonçalo.
"Os dados da pesquisa nos revelam que estamos vivendo um processo de mudanças com novos comportamentos dos papéis
masculinos e femininos diante das novas transformações produzidas pelas relações de trabalho", diz Gonçalo.
O questionário foi enviado pela Anprotec a todas as Incubadoras e Parques Tecnológicos associados, com a recomendação de que
fossem respondidos espontaneamente pelas mulheres que compõem os quadros dessas instituições e enviados para um endereço
de correio eletrônico criado especialmente para a pesquisa. Foram considerados válidos 79 questionários respondidos por mulheres
que trabalham nas incubadoras.
Academia
Nos países desenvolvidos, a realidade não é muito diferente da constatada no Brasil. Henry Etzkowitz, diretor do Grupo Triple Helix
da Universidade Newcastle e coordenador do projeto 'As mulheres na inovação, ciência e tecnologia' da Inglaterra, apresentou
dados de pesquisa realizada para demonstrar o posicionamento das mulheres na ciência.
Em seus estudos, que serão publicados em breve nos Estados Unidos, foi verificado que o próprio ambiente acadêmico e sua forma
de funcionamento também são responsáveis pelo número reduzido de mulheres no mundo da ciência. A exigência de mudança de
cidade ou a exigência de permanência na mesma cidade de conclusão da graduação para a realização de mestrado e doutorado,
por parte das universidades, já são pontos limitadores da presença da mulher nesse ambiente.
Há também os longos anos de estudo que acabam coincidindo com o período fértil da mulher. "É um sistema contrário ao relógio
biológico da mulher", destacou Henry. Soma-se a isso o excesso de carga emocional provocada pelo ambiente de trabalho
desfavorável, responsabilidades domésticas desproporcionais e déficit de capital social. "A reação é entender essa carga como
inaceitável e as mulheres acabam reduzindo a ambição profissional. Nos EUA vemos muitas cientistas que estão trabalhando como
professoras de escolas primárias. Elas desistiram da universidade e da pesquisa", completou.
Henry destaca a necessidade de mudança desse modelo acadêmico para reverter o quadro. "Talvez a única saída seja por meio de
políticas fortes como o modelo escandinavo", exemplifica. Naquele país, no parlamento e nas diretorias de empresas metade das
posições devem ser ocupadas por mulheres. "Parece que as pessoas capacitadas existem, mas se não houver um empurrão como
esse, as coisas não acontecem. Essa é uma atitude forte e poucos lugares no mundo estão dispostos a fazer isso", disse.
Mas o desaparecimento das mulheres na ciência também está relacionado ao surgimento delas no setor de empreendedorismo,
incubação e transferência tecnológica (TIE). As características da mulher como habilidades de articulação e socialização dão ao
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gênero vantagens nos campos emergentes de TIE, sigla em inglês. "Essa é uma profissão emergente, em processo de formação.
Ainda não há educação para se ocupar espaço em setores TIE. Para atuar nesse espaço é necessária formação ampla com
habilidade técnica, científica e cultural, com treinamento em inovação e empreendedorismo", destacou.
Preconceito
Durante o painel, também houve relato da artesã Maria Maviniê Mota, fundadora do 'Sindicato dos Artesãos Autônomos do Ceará –
Areia Colorida' e vencedora do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios 2007. Maria contou um pouco da trajetória do grupo, composto
em maior parte por mulheres, destacou as vitórias e ainda os desafios.
O grupo que começou em 1990 com cinco mulheres hoje conta com 43 artesãos, produz 1,3 mil peças diárias e já exporta para 11
países. "Ainda sofremos discriminação para exportar. Para fazer negócio com a Síria e Jordânia, só conseguimos através de
homens. Eles não negociam com mulheres", ressaltou.
Também participaram do debate a diretora-geral da Fundação Parque Tecnológico da Paraíba (ParqTcPB) e diretora da Anprotec,
Francilene Garcia, e a presidente da Federação das Associações das Mulheres de Negócios e Profissionais do Brasil, Arlete Zago.
O 'XVIII Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas' é realizado pela Associação Nacional de
Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) e pelo Sebrae. Os debates seguem até sexta-feira (26), no
Centro de Convenções de Sergipe.
Serviço:
Agência Sebrae de Notícias - (61) 3348-7494 e 2107-9362
Evento - XVIII Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas - de 22 a 26 de setembro, no Centro de
Convenções de Sergipe, em Aracaju (SE)
Site - www.seminarionacional.com.br
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