CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE BENTO
GONÇALVES
CURSO DE TECNOLOGIA EM VITICULTURA E ENOLOGIA
A VITICULTURA COMO ALTERNATIVA DE DESENVOLVIMENTO
PARA SANTO AUGUSTO
Paula Cristiane Vicentini
Orientador Professor Doutor Eduardo Giovannini
Bento Gonçalves
2007
A VITICULTURA COMO ALTERNATIVA DE DESENVOLVIMENTO
PARA SANTO AUGUSTO
Paula Cristiane Vicentini
Trabalho
de
conclusão
apresentado ao Curso de Tecnologia
em Viticultura e Enologia pelo Centro
Federal de Educação Tecnológica de
Bento Gonçalves CEFET–BG.
Orientador: Professor Doutor Eduardo Giovannini
Bento Gonçalves
2007
2
DEDICATÓRIA
Dedico
este
trabalho
às
pessoas mais importantes da minha
vida,
àquelas
que
não
mediram
esforços para que eu chegasse onde
estou hoje, meus pais Claudio e Ivanir
e
aos
meus
irmãos
Tamiris
e
Alexandre.
3
AGRADECIMENTOS
Meus agradecimentos à Equipe
da EMATER/ASCAR – Santo Augusto,
na pessoa do Senhor Romeu Rohde; à
Equipe de ATRs da EMATER Regional
de Ijuí, em especial ao Senhor Neimar
Peroni; aos meus professores do
CEFET-BG,
em
especial
meu
orientador Doutor Eduardo Giovannini;
à
Doutora
Coordenador
Ana
do
Maria
Curso
Diniz;
ao
Professor
Jesus Borges e ao Professor Mestre
Onorato Jonas Fagherazzi.
4
“Sem suor no rosto, não haverá alegrias na mesa!”.
Lema Pregado pelo Grupo de Extensionistas Rurais – Dec.70.
5
SUMÁRIO
SUMÁRIO ........................................................................................................... 6
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 8
2 DA REALIDADE SÓCIO-RURAL DE SANTO AUGUSTO ............................. 10
3 DA EXTENSÃO RURAL VITIVINÍCOLA COMO UM INSTRUMENTO DA
SOLUBILIDADE DO PROBLEMA DA MONOCULTURA DE SANTO AUGUSTO
A PARTIR DO CULTIVO DE UVAS .................................................................. 17
3.1 Da extensão rural vitivinícola ...................................................................... 18
3.2 Dos pressupostos teóricos de vitivinicultura ao extensionista rural
vitivinícola ......................................................................................................... 23
3.2.1 Fatores geográficos influntes no cultivo da videira .................................. 23
3.2.1.2 Clima ..................................................................................................... 24
3.2.1.3 Temperatura.......................................................................................... 24
3.2.1.4 Pluviosidade .......................................................................................... 24
3.2.1.5 Solos ..................................................................................................... 24
3.3 Clima, Solo e Relevo da Região Noroeste.................................................. 25
3.4 Das práticas de manejo do solo .................................................................. 27
3.5 Das variedades de uva ............................................................................... 30
3.6 Da Poda ...................................................................................................... 33
6
3.7 Da Enxertia ................................................................................................. 33
3.8 Dos Sistemas de Condução........................................................................ 34
3.9 Das Moléstias.............................................................................................. 34
3.10 Da Qualidade da Uva ................................................................................ 37
3.11 Da Colheita e da Vinificação ..................................................................... 37
4 A VITICULTURA COMO ALTERNATIVA DE DESENVOLVIMENTO PARA
SANTO AUGUSTO ........................................................................................... 43
4.1 Ações trabalhadas pela extensão ............................................................... 44
4.2 Dos resultados dos projetos de extensão rural realizados no escritório da
Emater de Santo Augusto..................................................................................49
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................50
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................54
7
1 INTRODUÇÃO
A partir da década de 50, a agricultura da Região Noroeste do Rio
Grande do Sul, onde se situa o município de Santo Augusto, sofreu profundas
transformações como conseqüência da chamada modernização agrícola, que
se caracterizaram pela introdução de insumos químicos industrializados,
sementes melhoradas e pela moto-mecanização.
As novas tecnologias, combinadas com o crédito subsidiado e com a
política de incentivo às exportações, proporcionaram novas formas de
ocupação do espaço agrícola e o aumento da produtividade do trabalho. Com
isso, a produção diversificada e de subsistência cedeu lugar à produção de
grãos em larga escala, com predominância da cultura da soja, provocando
intenso êxodo rural e concentração de terra.
Os impactos negativos do novo modelo, principalmente quanto à
expulsão da mão-de-obra do campo, e o risco da monocultura frente às
possíveis variações climáticas e de mercado, desencadearam o interesse por
novas alternativas visando à diversificação de culturas. Segundo Brum (1988),
os primeiros movimentos neste sentido ocorreram no final dos anos 70,
quando, em função de frustrações de safras, elevação dos juros, queda dos
preços agrícolas e aumento do preço dos insumos, ocorreu a primeira crise do
modelo com base na monocultura.
A crise se agrava nos anos 80 em decorrência do esgotamento do solo
e da conseqüente estagnação do preço do produto final, até mesmo a queda
8
da produtividade nas lavouras de soja e trigo, e esses fatores reforçam ainda
mais a necessidade de se mudar o rumo da agricultura regional e diversificar
sua produção, principalmente entre os pequenos agricultores, notadamente os
mais atingidos pelo modelo em curso.
A partir da crise do modelo e das propostas de diversificação da
produção, a fruticultura passa a ser apresentada como alternativa, surgindo
diversas iniciativas que visam sua introdução e expansão na região. Estas
iniciativas favoráveis à fruticultura consideram que se trata de uma atividade
que pode proporcionar adequada ocupação da terra, uso mais intensivo de
mão-de-obra e, conseqüentemente, maior renda aos agricultores.
Com isso, surgiram vários planos e programas que, de forma direta ou
indireta passaram a apoiar a atividade visando à reconversão dos sistemas de
produção, como: Programa de Fruticultura Tropical da Região Noroeste do Rio
Grande do Sul, Plano Desenvolvimento Regional Rural, Plano Estratégico de
Desenvolvimento da Região Noroeste do Rio Grande do Sul e Programa de
Desenvolvimento
da
Fruticultura na
Região
do
Vale
do
Rio
Turvo
(Fundaturvo/DS), dirigidos pelo Governo Estadual, Embrapa (Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Emater (Empresa de Assistência
Técnica e Extensão Rural) e Conselhos Regionais e Municipais de
Desenvolvimento.
Este trabalho tem como objetivo discutir o problema gerado pela baixa
diversificação no setor agrícola e apontar soluções para o desenvolvimento
deste setor.
A viticultura nasce como opção a partir do momento em que o projeto
piloto de um agricultor do município começa se destacar por ter resultados
satisfatórios.
9
2
DA REALIDADE SÓCIO–RURAL DE SANTO AUGUSTO
O município de Santo Augusto, situado no noroeste do Planalto do RS,
faz parte atualmente da autodenominação Região Celeiro. Situadas sobre
derrames fissurais de rochas basálticas de natureza alcalina, que foram
estratificadas ao longo de sucessivos “eventos”, as terras locais são produtos
de alta meteorização e lenta dissecação de um Planalto imenso a partir do
período Cretáceo.
Regionalmente, o modelamento fisiográfico do Planalto, que começou
por intensos processos de intemperização das rochas, foi muito brando nas
formas erosivas de construção do relevo. Localmente, as formas brandas do
relevo, situadas a sudoeste lembram um relevo suave ondulado, composto
pela individualização de pequenas chapadas com aspectos mamilonares, de
encostas suaves e extensas. As depressões de drenagem iniciam nas
nascentes do Rio Turvo e Rio Inhacorá, e se inter-relacionam com as
chapadas. São vales largos, rasos, antigos e com baixos declives, próprios de
processos erosivos brandos de planeo-climas que modelam as chapadas.
Santo Augusto compreende terras com relevo ondulado. Trata-se de
conseqüências de uma ativação constante do processo erosivo, que
modelou o relevo de chapadas, em formas estreitas e alongadas. [...]
São chapadas que se estreitaram para formar espigões aplainados,
longos e muito pouco sinuosos, que se assemelham as coxilhas do Sul.
(Brasil, 2004, p. 21)
10
As elevações, que se assemelham às coxilhas do Sul, formam um relevo
ondulado, por se situarem próximas aos rios principais onde estão submetidas
aos processos erosivos naturais mais intensivos. Os vales depressivos
estreitos, com cortes abruptos nas encostas, formam drenos naturais. Esses
vales são produtos das formas erosivas mais ativas de transformação do relevo
antigo, que modelou as superfícies, antes aplainadas, e produziu formas
alongadas de espigões.
A vegetação composta inicialmente por floresta denominada como
Floresta Estacional Decidual Montana em contato com a Estepe GramíneoLenhosa, está praticamente extinta, com restos ocasionais de pequenas áreas
isoladas nos vales de drenagem. As culturas, principalmente de soja, trigo,
milho, azevém, aveia e girassol, cobrem a paisagem em sucessivos cultivos.
A terra tem sido usada com culturas intensivas de soja, milho e trigo, em
sistema de plantio direto em uma agricultura muito desenvolvida. A adição de
insumos relativos ao controle de doenças e pragas das plantas, além dos
herbicidas para controle da vegetação invasora, se apresenta como um
questionamento da sua sustentabilidade.
Tabela 1. Uso do solo no município de Santo Augusto, RS:
Usos
Hectares
% da área municipal
Urbano
468,65
1,0
Barragens e açudes
234,33
0,5
Florestal
5.155,19
11,0
Agropecuário
35.570,83
75,9
Indiferenciado
5.436,38
11,6
TOTAL
46.865,38
100,0
Fonte: Prefeitura municipal de Santo Augusto, RS (2004)
Até onde registra a história, essa região teve ciclos distintos na sua
economia, que tiveram início com a exploração da erva-mate pelos jesuítas,
11
com o trabalho indígena. Com o domínio português, houve um progressivo
incremento da pecuária com o desmatamento ocasional e gradativo da floresta
densa e exuberante, para o pastoreio (Oliveira, 2000). Posteriormente, as
grandes fazendas foram cedendo espaço a um processo de “colonização”,
onde
a
agricultura intensiva,
em
médias
e
pequenas
propriedades,
estabeleceu-se com o cultivo de trigo, milho e soja, além da criação de aves e
suínos. Essa evolução drástica das atividades do uso da terra trouxe, na
época, além das variações econômicas positivas próprias dessas culturas,
gradativamente, uma contribuição de aspectos negativos, como infestação de
doenças e saturação do mercado pelos seus produtos. No geral houve um
desenvolvimento econômico regional pelas atividades relativas à intensidade
do uso da terra, mas o surgimento acentuado dos processos erosivos foi um
grave problema para a economia regional da época.
Regionalmente, Santo Augusto tem liderado os movimentos que se
propõem a aprimorar as tecnologias agrícolas ou modificar os tratos culturais
com o objetivo de aumentar a produtividade. Atualmente, isso se verifica com
início do processo de irrigação de culturas anuais de verão e introdução de
uma fruticultura diversificada.
Conforme CONSELHO (2004), atualmente os valores adicionados à
agropecuária são baixos devido à baixa agregação de valores no setor
primário. A não transformação dos produtos primários remete a uma situação
de descapitalização da região, ocasionando êxodo rural e urbano, a diminuição
da população municipal, a baixa arrecadação, o que leva ao empobrecimento e
enfraquecimento dos setores econômicos.
Segundo AGROANALYSIS (2004), a comercialização da produção de
cereais e oleaginosas da safra 2004/2005 correu fora da normalidade. O
aumento da colheita interna e mundial desencadeou uma crise aguda de
preços e, como se não bastasse, a estiagem castigou os campos do Rio
Grande do Sul e alguns estados da região Sul. Também houve aumento nos
12
preços, numa média de 20,93% para os principais insumos utilizados entre
junho de 2003 e junho de 2004. Vejamos as tabelas 2 e 3.
Tabela 2. Preço dos principais insumos na cultura da soja:
insumos
unidade
Jun/2004
Jun/2003
Acréscimo
Semente de soja
50Kg
85,24
63,98
33,23%
calcário dolomítico a
T
54,65
44,84
21,89%
Adubo 00-20-20
T
780,70
641,48
21,70%
Adubo 00-30-20
T
924,08
724,58
27,53%
Adubo 02-20-20
T
787,89
668,83
17,80%
Baculoviros nitral
20g
3,22
2,33
38,09%
Azodrin
L
28,25
24,35
16,03%
Dimilin
Kg
189,97
149,05
27,45%
Standak
L
682,89
554,82
23,03%
Endosulfan 350 CE
L
24,67
Bulldock 125 sc
250 ml
80,61
70,60
14,17%
Larvin 800 WG
Kg
141,12
111,18
26,93%
Sumithion 500 CE
L
45,17
39,11
15,49%
Orius 250 CE
L
136,09
119,85
13,55%
Folicur CE
L
117,08
103,25
13,39%
Palisade
500 g
94,43
71,65
31,79%
Vatavax- thiram 200
L
60,47
56,08
7,83%
Score
L
258,30
227,45
13,56%
Derosal 500 SC
L
62,82
53,90
16,55%
Cercobin 500 SC
L
51,96
42,97
20,93%
Flex
5L
352,73
295,32
19,44%
Classic
300 g
225,96
220,77
2,35%
Scepter
5L
357,89
288,60
24,01%
Spidet 840 GRDA
240 g
473,70
395,18
19,87%
Pacto
240 g
472,38
341,45
38,34%
granel (tipo c)
Fertilizante
Inseticidas
Fungicidas
20,44
20,67%
SC
Herbicida
13
insumos
unidade
Jun/2004
Jun/2003
Acréscimo
Aroundup WG
Kg
29,68
25,02
18,63%
Podium S
L
69,69
57,75
20,68%
20,93%
Média geral
Fonte: Embrapa Soja - PR (2004)
A colheita de grãos na safra 2005/2006 ocorreu em ambiente de crise no
campo, talvez a mais aguda dos últimos 20 anos. Houve um aumento de
custos e os preços de mercado estão aquém da real necessidade, o preço da
saca era de R$ 35,00. A perda de força é decorrente, em grande parte, da
valorização do real frente ao dólar. Os resultados ficaram no vermelho,
principalmente nas regiões de fronteira. O endividamento do campo é elevado
e
compromete
a
oferta
de
novos
recursos
para
o
crédito
rural
(AGROANALYSIS, 2006).
Análises
profundas
do
sistema
econômico
agrícola
revelam
a
inviabilidade do cultivo de soja em área menor a 150 hectares. Estima-se que
mais de 80% das propriedades da região possuem área inferior a este
patamar. Isso explica o empobrecimento gradativo das pequenas propriedades
que sofrem com a falta de alternativas viáveis de diversificação, principalmente
devido à descapitalização (CONSELHO, 2004).
Tabela 3. Preços das máquinas, implementos, mão-de-obra, transportes
e arrendamentos:
Fatores de produção
Unidade
Jun/04
Jun/03
Acrésc.
Tratores e
John Deere 5600(75 CV)
Unidade
78.896,2
66.657,8
18,36%
colheitadeiras
(4x2)
Valtra 785C (75 CV) (4x2)
Unidade
68.747,6
60.267,9
14,07%
Valtra BH (180 CV) (4x4)
Unidade
178.767,2 152.675,0
17,09%
Agrale 6150 BXSH (135 CV)
Unidade
140.991,1 114.860,4
22,75%
Unidade
290.452,8 233.445,4
24,42%
turbo (4x4)
MF 3640 (125 CV)
14
Implementos
New Holland TC59 (240)
Unidade
435.316,9 342.095,8
27,25%
Grade niveladora 36 discos
Unidade
5.787,5
5.059,9
14,38%
Unidade
43.696,8
36.005,9
21,36%
Pulv. De barra cap. 2000L
Unidade
33.449,3
28.660,2
16,71%
Carreta de calcário de
Unidade
9.692,4
8.233,4
17,72%
Unidade
12.605,0
11.072,6
13,84%
Hora
53,1
41,7
27,23%
Colheitadeira de soja
Saca
3,6
2,3
55,27%
Gerente/ administrador
Mês
1.576,9
1.475,3
6,89%
Motorista (permanente)
Mês
775,3
703,8
10,16%
Trabalhador rural polivalente
Mês
501,3
465,5
7,69%
Tratorista/ operador de
Mês
688,8
628,9
9,53%
Diarista (serviços gerais)
Dia
18,3
15,5
18,19%
Trans. De cereais diversos
Tonelada
12,4
9,88
25,91%
Hectare
403,3
358,14
12,62%
20 polegadas
Semeadora 15 linhas de
arrasto PD c/ adubadeira
arrasto 2 rodas cap 2,5 T
Distrib. De calcário de
arrasto 4 rodas cap. 5,5 T
Aluguel
Trator de pneu médio (71 a
86 HP)
Mão-de-obra
colhedora (permanente)
(granel) 30Km
Arrendamento de terra
mecanizada – por safra
Média geral
19,07%
Fonte: Embrapa Soja - PR (2004)
15
Tabela 4. Custos de produção na safra 2004/2005:
Município
Produtividade
Custo variável
Custo total
sacas/ha
US$/saca
US$/saca
40
8,42
10,53
Tupanciretã – RS
40
8,48
10,60
Cascavel – PR
53
7,01
8,76
Campo Mourão – PR
53
7,92
9,90
Sinop – MT
56
8,64
10,80
Sorriso – MT
56
8,98
11,23
Diamantino – MT
51
7,92
9,90
Primavera do Leste – MT
54
7,68
9,60
Rio Verde – GO
53
7,76
9,70
Itumbiara – GO
46
8,89
11,11
Palmeira das Missões –
RS
Fonte: Embrapa Soja – PR (2004)
16
3 DA EXTENSÃO RURAL VITIVINÍCOLA COMO UM
INSTRUMENTO DE DIVERSIFICAÇÃO DA AGROPECUÁRIA
DE SANTO AUGUSTO
2.1
Da Extensão Rural
Desde a fundação da ACAR (Associação de Crédito e Assistência
Rural), em Minas Gerais, em 1948, outras instituições de extensão rural foram
criadas em todo o Brasil, seguindo um modelo difundido pelo governo norteamericano. A fundação da ASCAR (Associação Sulina de Crédito e Assistência
Rural), no Rio Grande do Sul, em 1955, ocorreu após a assinatura de um
convênio entre os governos norte-americano e brasileiro para a criação dos
Escritórios Técnicos de Cooperação entre os dois países. Em 1956, foi criada a
ABCAR (Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural), em âmbito
nacional, à qual as associações estaduais se filiaram.
Desse período até o início dos anos 60, as famílias e as comunidades
foram o foco das ações extensionistas. A extensão desenvolvia-se através de
um técnico em Ciências Agrárias e uma mulher com capacitação para atuar no
campo da "Economia Doméstica". O objetivo da extensão, estabelecido a partir
de enfoques teóricos sobre desenvolvimento rural, visava diminuir a pobreza
rural, vista como decorrência da desinformação e da resistência às mudanças
que caracterizariam os agricultores. Do ponto de vista da produção agrícola, o
foco estava na conservação do solo e na adoção do Crédito Rural
Supervisionado. De forma complementar, as economistas domésticas, através
17
da organização de Grupos do Lar, e dos Clubes 4-S (para os jovens),
difundiam
conhecimentos
sobre
saúde,
alimentação,
saneamento,
abastecimento de água, além de apoiar as mulheres nas suas atividades
domésticas (alimentação, confecção de roupas, móveis, colchões, cuidados
com as crianças).
Entre os anos 60 e final dos anos 70, a Assistência Técnica e Extensão
Rural (ATER) estatal teve por objetivo o aumento da produção agrícola através
da transferência das tecnologias ditas modernas _ insumos químicos e
mecanização _ a denominada Revolução Verde. O aumento da renda das
famílias estaria na decorrência direta do aumento da produtividade. Essa
política visava ainda o aumento da produção de alimentos e de produtos de
exportação. Em 1972 foi criada a Embrapa, Empresa de Pesquisa
Agropecuária, e em 1974, a Embrater, consolidando um sistema nacional de
pesquisa, extensão rural e assistência técnica.
Desde o golpe militar de 1964, passou a se reprimir toda e qualquer
ação de organização da população (em grupos, associações), assim como
ações de formação de lideranças. A ATER passou a ser mais individualizada,
dirigida aos "chefes" das propriedades rurais (homens). As mulheres sequer
eram vistas como agricultoras. Seu espaço continuava a ser o das "ações
sociais", mas essas não eram privilegiadas. Em 1977, chegou a ser proposto
pelo então presidente da ASCAR a extinção do trabalho social. Apesar dessas
restrições, em muitas regiões esses trabalhos de organização de mulheres
(Clubes de Mães e de Senhoras) e de jovens (Clubes 4-S) continuaram a ser
realizados, e se transformaram numa "marca" do trabalho da extensão.
Na década seguinte, de 1980 a 1990, ocorreu a reorganização dos
movimentos sociais, inclusive no campo, e o trabalho da extensão rural pode
se rearticular. Tomaram corpo as críticas ao modelo tecnológico adotado pela
Revolução Verde, tanto do ponto de vista ambiental (questionamentos ao uso
de agrotóxicos, à mecanização, à monocultura), como do ponto de vista sócioeconômico,
pela
diferenciação
social
ocorrida
no
período,
com
o
18
empobrecimento de segmentos significativos da agricultura familiar, processos
crescentes de expulsão da terra, aumento do vínculo de submissão dos
agricultores às grandes agroindústrias, entre outros, mostrando o lado perverso
do "milagre econômico".
Nesse período surgiu o movimento "Repensar da Extensão Rural",
propondo refletir criticamente sobre o papel que a extensão vinha
desempenhando nessa realidade. Foi também o período em que proliferaram
as organizações não governamentais (ONGs) de prestação de serviços no
meio rural. Estas, em muitos lugares, passaram, desde então, a disputar com a
extensão rural a legitimidade de ações e propostas.
O Serviço de Extensão Rural brasileiro, ante seu tríplice
compromisso, toma a organização dos agricultores como fundamento.
Atuará no sentido de contribuir para o aperfeiçoamento e o fortalecimento
econômico e sócio-político das formas associativas, através de uma ação
educativa dos seus membros, de forma a torná-los mais participantes e
conscientes de suas realidades, bem como de seus deveres e direitos, e
de suas possibilidades. É, pois, no desenvolvimento das organizações
rurais, no estímulo ao associativismo, que o Serviço de Extensão Rural
pretende concentrar suas ações, apoiando os agricultores com a finalidade
de viabilizar o seu desenvolvimento tecnológico e sócio-econômico e
democratizar os instrumentos da política agrícola oficial.(FAGHERAZZI,
2005, p. 61)
A interação entre empresa e mulheres rurais caracterizava-se pela
organização
de
grupos
(clubes
de
mães,
de
senhoras,
e
outros),
acompanhados pelas extensionistas de bem estar social. Estas ações
serviram, em muitas regiões, como embrião do envolvimento das mulheres em
outros movimentos (sindicatos de trabalhadores rurais, pastorais, associações
e cooperativas). No entanto, havia muitas críticas (e ainda há) a esse trabalho,
devido a seu caráter "tutelador". Ademais, os grupos, muitas vezes, serviam
como reforçadores de uma visão conservadora do papel da mulher na
sociedade. De forma geral, os grupos ajudavam a consolidar a idéia de que
havia um lugar separado entre as mulheres e os homens no meio rural,
reforçando uma divisão sexual do trabalho que, na prática, negava às mulheres
seu papel produtivo na agricultura. Essa ação contribuiu para excluir as
19
mulheres dos espaços onde se tratava das questões tecnológicas e de
financiamento da produção agrícola, embora elas sempre tenham participado
ativamente dessas atividades e sobre elas recaíssem as conseqüências das
mudanças ocorridas.
Houve também, nesse período, a consolidação do trabalho com a
juventude rural, em que a criação do CEJUR, Conselho Estadual dos Jovens
Rurais e, subseqüentemente, os Conselhos Regionais e Municipais, assim
como a consolidação dos Jogos Rurais, constituíram-se como alguns dos
marcos mais importantes. Em muitos locais essas organizações existiam
vinculadas de tal forma ao trabalho da EMATER/RS-ASCAR, que se repetiam
aqui os problemas anteriormente mencionados. Os profissionais da extensão
passavam a substituir, eventualmente, as lideranças dos movimentos, em
atuação "paternalista" cujas propostas despolitizadas (principalmente voltadas
ao lazer) pouco contribuíam para a formação cidadã.
O tripé básico da área de “Bem Estar Social” continuava assentado nos
temas saúde, alimentação e habitação. Incorpora-se, gradativamente, a busca
de tecnologias adaptadas aos agricultores familiares, definidos como público
preferencial da extensão. Iniciam-se, nesse período, as propostas de
planejamento participativo.
Dos anos 90 até o momento atual, a extensão rural vem vivenciando
grandes mudanças, com destaque especial para a preocupação com as
questões ambientais, assim como a busca de formas de enfrentamento às
crises sócio-econômicas e aos seus impactos sobre o meio rural.
Quanto às ações sociais, houve, por um lado, maior preocupação com a
geração de renda, através do desenvolvimento de atividades como
agroindústrias, artesanato, turismo rural, entre outras. Multiplicaram-se,
também, ações voltadas para a "ecologização" do meio rural, ampliando-se os
planos de gestão/educação ambiental, o estímulo à utilização de tecnologias
menos agressivas ao meio ambiente, ações de saneamento básico e ambiental
apoiadas em projetos de financiamento como o Pró-Guaiba, o PASS, o RS-
20
Rural, entre outros. Adicionalmente, vem se dando ênfase cada vez maior aos
trabalhos de resgate de conhecimentos tradicionais e, em particular, ao
trabalho com plantas medicinais. Esses trabalhos vêm sendo realizados,
fundamentalmente, pelas extensionistas de bem estar social.
No que se refere às questões organizativas, ocorreram (e ocorrem)
pressões cada vez maiores por parte do público, articulado em movimentos
sociais diversos, para que a extensão incorpore a participação social na
execução das políticas públicas. Por outro lado, a proliferação de Conselhos,
Fóruns, e outros espaços de definição de políticas, vem conduzindo a
instituição rumo a uma nova postura com relação às parcerias – órgãos
públicos, ONGs e instituições de representação do público beneficiário, entre
outras. Neste contexto, o papel dos profissionais da extensão vem sofrendo
importantes mudanças: devem ser mediadores e facilitadores de processos de
mobilização e organização de diferentes grupos de interesses, e não
propriamente os agentes propulsores/condutores desses processos. Essa nova
postura não foi ainda totalmente assimilada por parte significativa desses
profissionais.
A Extensão é a educação informal e extra-escolar para quem não teve
escola técnica, tanto para adultos como para adolescentes. Um programa de
Extensão, devido à sua abrangência, objetiva contribuir para a elevação do
nível de vida das famílias e comunidades rurais, através do incremento da
renda líquida familiar, do aumento da produção e da qualidade do produto
agropecuário, mediante a utilização de processos educativos. Alguns sistemas
de ensino se destinam às intervenções em setores específicos, como os da
saúde e da agricultura, tais como o sanitarismo e assistência técnica à
agricultura. Outros são mais abrangentes e menos setorizados, como o
desenvolvimento de comunidades, a organização comunitária, a educação de
base e a própria extensão rural (BICCA, 1992).
Na missão da EMATER/RS-ASCAR apresenta-se uma proposta de
desenvolvimento vista como um conjunto de melhorias para o campo
21
(econômicas, culturais, ambientais, sociais, políticas) nas quais as populações
envolvidas, apoiadas pelos agentes de extensão rural, devem ter um papel
protagônico. Essa missão foi definida como:
promover a construção do desenvolvimento rural sustentável, com base
nos princípios da Agroecologia, através de ações em assistência técnica e
extensão rural, mediante processos educativos e participativos, objetivando
o fortalecimento da agricultura familiar e suas organizações, de modo a
incentivar o pleno exercício da cidadania e a melhoria da qualidade de vida
(EMATER, 2002, p. 61).
Essas propostas têm um forte conteúdo de mobilização e organização
social, explicitados nas suas estratégias: privilegiar o uso de metodologias
participativas; valorizar os distintos saberes (científico e popular); incorporar
uma visão holística (que compreenda os processos sócio-econômicos em sua
relação com o ambiente); estimular dinâmicas de participação ativa das
populações, através de diagnósticos e planejamentos em conjunto; estimular
parcerias em todos os níveis; estimular formas associativas; respeitar as
diferenças de gênero, de culturas, de grupos de interesses; buscar a inclusão
social; tomar o agroecossistema como uma unidade básica de análise,
planejamento e avaliação dos sistemas de produção agrícola; apoiar a
implementação da Reforma Agrária e o fortalecimento da Agricultura Familiar.
Os objetivos definidos destacam o caráter social deste trabalho: a
sustentabilidade, a estabilidade, a produtividade, a eqüidade e a qualidade de
vida.
22
3.2
Dos Pressupostos Teóricos de Vitivinicultura ao Extensionista
Rural Vitivinícola
A existência do cultivo de uva nesta região data de 1940, ano em que
alguns italianos se instalaram na região de Ijuí. As variedades trazidas por eles
foram: Concord, Isabel, Goethe e mais tarde as cultivares Bordô e a Niágara
branca e rosada. Os parreirais eram de tamanho significativo. Com a falta de
recursos para o combate das pragas e moléstias, em pouco tempo o cultivo se
tornou inviável, o que ocasionou a eliminação dos parreirais afetados,
reduzindo a plantação a um índice insignificante. Não se tem registro da
presença de cultivares viníferas nesta época (DEROSSO, 1992).
O cultivo da videira para fins comerciais se deu há pouco mais de 15
anos, destacando-se a cidade de Santo Augusto com uvas comuns e
experimentos de uvas finas, como Cabernet Sauvignon, Merlot e Chandonnay,
tendo ótimos resultados.
3.2.1 Fatores geográficos influentes no cultivo da videira
"As videiras podem ser cultivadas entre as latitudes 10o e 50o e se
adaptam a várias altitudes. Pode ser cultivada tanto em terrenos planos quanto
em encostas. Quanto maior for a exposição à luz solar, melhor será a uva. Nas
condições do Rio Grande do Sul, o vinhedo deve ficar voltado ao norte”
(GIOVANNINI, 2005).
23
3.2.1.2
Clima
A região sul do Brasil encontra-se em área considerada inadequada para
o cultivo, devido à grande umidade presente no ar. No entanto, há regiões que
possibilitam o cultivo através de práticas de manejo e cultivares que se
adaptam ao macroclima predominante.
3.2.1.3
Temperatura
A temperatura ideal para o desenvolvimento da videira varia de cultivar
para cultivar. A média ideal gira em torno de 25oC, a mínima está entre 7o e
9oC e a temperatura máxima é de 40o C. Vale citar que a temperatura mínima
mortal é de –15oC e a máxima mortal é de 55oC (GIOVANNINI, 2005).
3.2.1.4
Pluviosidade
A videira prefere clima seco, com precipitações anuais entre 400 a 600
mm anuais, mas suporta pluviosidades maiores. Também pode ser cultivada
em locais que apresentam baixos índices de pluviosidade desde que
compensados os índices hídricos por irrigação (GIOVANNINI, 2005).
3.2.1.5
Solos
A videira se adapta a diferentes tipos de solo, com exceção aos muito
úmidos, aos muito compactados e aos turfosos. Quanto mais profundos os
solos melhor será a qualidade da uva. A textura ideal é aquela composta por
partes semelhantes de argila, silte e areia. Em geral, solos escuros são mais
férteis que os demais (GIOVANNINI, 2005).
24
3.3
Clima, solo e relevo da Região Noroeste
Santo Augusto situa-se na região noroeste do estado do Rio Grande do
Sul. Seu clima é considerado bom para o cultivo de videiras, como podemos
ver nas tabelas 6, 7 e 8.
Tabela 6. Temperaturas médias (oC) da região Noroeste do Estado do
Rio Grande do Sul:
Mês
Média Máxima
Mínima
Mínima a 5 cm do
Máxima a 5 cm
solo coberto
do solo desnudo
Janeiro
22,9
29,8
17,8
15,9
17,2
Fevereiro
22,5
28,0
17,6
16,8
17,9
Março
21,0
27,8
16,2
16,3
17,1
Abril
17,5
23,9
13,0
12,4
14,3
Maio
15,2
21,4
11,2
10,0
11,1
Junho
13,4
19,2
10,1
5,6
7,9
Julho
13,1
19,4
8,8
7,9
8,4
Agosto
14,7
20,6
10,1
9,4
9,7
Setembro
16,2
22,3
11,4
8,0
9,1
Outubro
18,0
23,4
13,1
11,7
12,0
Novembro
20,3
26,2
4,5
13,8
14,2
dezembro
21,9
29,2
16,1
14,8
15,2
Fonte: Instituto de Pesquisas Agronômicas-RS (1989)
25
Tabela 7. Dados climáticos (médias) da região Noroeste do Estado do
Rio Grande do Sul:
Mês
Precipitação mm
Umidade
Radiação
Horas de
relativa do ar
solar
insolação
Janeiro
166
71
488
237,3
Fevereiro
148
73
469
213,2
Março
148
74
392
218,2
Abril
148
77
325
201,0
Maio
165
77
255
178,5
Junho
195
82
211
136,7
Julho
152
77
225
159,8
Agosto
141
72
262
163,4
Setembro
203
75
338
173,0
Outubro
191
73
422
214,5
Novembro
117
67
472
245,0
Dezembro
145
65
496
237,5
Ano
1919
74
363
2.378,1
Fonte: Instituto de Pesquisas Agronômicas-RS (1989)
Tabela 8. Horas de frio em período médio:
Temperatura
Maio a agosto
Maio a setembro
7OC
234
253
10OC
563
631
Fonte: Instituto de Pesquisas Agronômicas-RS (1989)
26
3.4
Das práticas de manejo do solo
Para a viticultura o ideal é solo de pH 6. Entretanto, há produção de
vinhos em solos de pH 5,5 a 8. Deve ser levada em conta a profundidade de
incorporação a ser feita e a qualidade do calcário empregado, para que
possam ser ajustadas as dosagens. Após cinco anos, deve ser feita nova
análise para verificar a necessidade de recorreção de pH. A aplicação de
calcário deve ser feita, no mínimo, seis meses antes do plantio das mudas,
baseada em análise de solo, cujo resultado pode ser interpretado com o auxílio
da tabela 9.
Tabela 9 – Recomendação de calagem em t/ha (calcário com PRNT
100%) com base no método SPM, para acidez de solos do Rio Grande do Sul
e Santa Catarina, para a aplicação na camada de 0 a 20 cm:
Índice SMP
pH em água a atingir
5,5
6,0
6,5
<4,4
15,0
21,0
29,0
4,5
12,5
17,3
24,0
4,6
10,9
15,1
20,0
4,7
9,6
13,3
17,5
4,8
8,5
11,9
15,7
4,9
7,7
10,7
14,2
5,0
6,6
9,9
13,3
5,1
6,0
8,3
12,3
5,2
5,3
7,5
11,3
5,3
4,8
6,8
10,4
5,4
4,2
6,1
9,5
5,5
3,7
5,4
8,6
5,6
3,2
4,8
7,8
5,7
2,8
4,2
7,0
5,8
2,3
3,7
6,3
5,9
2,0
3,2
5,6
6,0
1,6
2,7
4,9
27
6,1
1,3
2,2
4,3
6,2
1,0
1,8
3,7
6,3
0,8
1,4
3,1
6,4
0,6
1,1
2,6
6,5
0,4
0,8
2,1
6,6
0,2
0,5
1,6
6,7
0,0
0,3
1,2
6,8
0,0
0,2
0,8
6,9
0,0
0,0
0,5
7,0
0,0
0,0
0,2
7,1
0,0
0,0
0,0
Fonte: Giovannini (2005)
A adubação corretiva é aplicada antes do plantio das mudas visando
corrigir os teores de Fósforo e Potássio para elevar os teores no solo. As doses
de P e K devem seguir as tabelas 10 e 11. Os produtos devem ter solubilidade
lenta e ser uniformemente distribuídos em todo o perfil. Em alguns solos
poderá ter deficiência de Boro, devendo-se, nestes casos, aplicar-se de 50 a
70 Kg/ha de bórax (Giovannini, 2005).
Tabela 10– Recomendação de adubação de correção de P e K em
Kg/ha, com base na análise de solo:
P Mehlich (mg/Kg)
9,0
9,0 a 14,0
K trocável (mmol/Kg)
>14,0
<1,5
P2O5
200
100
1,5 a 2,1
B água quente (mg/Kg)
> 2,1
<0,6
0,6 a 1,0
K2O
0
90
60
>1,0
B
0
9,5
5,0
0
Fonte: Giovannini (2005)
A adubação de plantio é a aplicação de adubo nitrogenado feita por
ocasião do plantio ou das estacas ou das mudas de videira. Deve se basear no
resultado da análise de solo, cuja interpretação é dada na tabela 11.
28
Tabela 11 – Adubação nitrogenada, em Kg/ ha, de plantio ou de
crescimento:
Matéria orgânica
Dose de nitrogênio
<25
50
25 – 50
30
>50
0
Fonte: Giovannini (2005)
Na adubação de manutenção ou de produção se incorpora adubos
nitrogenados a partir da brotação até após o florescimento, fracionando a dose.
Os adubos fosfatados e potássicos podem ser incorporados após a colheita da
uva, no outono, devendo-se ter o cuidado de manter as folhas em bom estado
sanitário para que os mesmos possam ser absorvidos ainda antes do inverno.
(GIOVANNINI, 2005).
Nas práticas de manejo do solo, devemos observar as condições do
solo. Em locais onde as disponibilidades de água e nutrientes sejam poucas, a
vegetação espontânea exerce concorrência com a videira, não sendo
recomendável ter o solo sempre coberto com vegetação. Em locais declivosos,
em climas chuvosos, podem ser empregados, pois as perdas para a vegetação
serão menores do que as devidas à erosão. No entanto esta vegetação pode
ser mantida roçada periodicamente, a cada 40 dias, no mínimo (Hidalgo,
2002).
Caso o solo estiver sempre limpo, haverá maior possibilidade de
desenvolvimento às videiras, porém isso somente ocorrerá em situações não
sujeitas à erosão. Locais planos e irrigados por gotejamento, podem adotar
este tipo de manejo, podendo acoplar à água de irrigação os fertilizantes e
mesmo os herbicidas.
A cobertura do solo é uma prática que tem dado bons resultados tanto à
produção quanto controle de erosão. É possível empregar vários tipos de
29
cobertura, desde a manutenção da vegetação nativa roçada até a semeadura
de misturas de gramíneas e leguminosas.
3.5
Das variedades de uva
Para a elaboração de vinhos comuns, normalmente são utilizadas uvas
de cultivares americanas. Estas em geral são mais rústicas e mais produtivas,
portanto de custo de produção inferior ao da vinífera.
O vinho apresenta características que agradam ao consumidor
brasileiro, ou seja, o gosto “foxado”, que é desdenhado pelo europeu, é
apreciado pelo brasileiro. O padrão do vinho tinto comum nacional é de Isabel.
No branco se destaca o Niágara.
Da uva americana Herbemont e da híbrida Couderc 13 nascem vinhos
neutros, que servem para a vinificação em branco visando obter vinho base
para vermute e para destilaria.
O suco de uva preferido pelo mercado mundial é o da uva americana
Concord, mas no mercado interno o suco da variedade Isabel é muito
apreciado.
A seguir são descritas algumas variedades americamas de interesse:
Couderc 13: Uva branca. Brota de 05/09 a 15/09 e amadurece de 23/02
a 05/03. Sua produtividade é de 25 a 30 t/ha, com teor de açúcares de 14 a 16°
Brix e acidez total de 60 a 80 meq/L. É altamente resistente à antracnose, ao
oídio e ao míldio, sendo resistente às podridões (GIOVANNINI, 2005).
Herbemont: Uva tinta de pouca cor vinificada em branco. Também
chamada de Borgonha ou Champanha. Brota de 25/08 a 10/09 e amadurece
de 05/02 a 25/02. É resistente à antracnose, tolerante ao míldio e altamente
sensível às podridões. Sua produtividade é de 25 a 35 t/ha, com teor de
açúcares de 14 a 16° Brix (GIOVANNINI, 2005).
Isabel: Uva tinta conhecida internacionalmente como Isabella. No
Uruguai é chamada de Frutilla, Brasilera e Brasileña. Na Itália é conhecida
como Uva Fragola. Brota de 23/08 a 06/09 e amadurece de 19/02 a 05/03. É
30
altamente resistente à antracnose e às podridões, sendo tolerante ao míldio.
Sua produtividade é de 20 a 25 t/ha, com teor de açúcares de 15 a 16° Brix.
(GIOVANNINI, 2005).
Concord: também conhecida como Francesa. Brota de 27/08 a 11/09 e
amadurece de 25/01 a 08/02. É resistente à antracnose e às podridões, sendo
tolerante ao míldio. Sua produtividade é de 15 a 20 t/ha, com teor de açúcares
de 15 a 16° Brix. (GIVANNINI, 2005).
Niágara Branca: Também chamada de Francesa Branca. Brota de 25/08
a 06/09 e amadurece de 22/01 a 05/02. É resistente à antracnose e ao míldio,
sendo altamente resistente às podridões (exceto Glomerella cingulata). Sua
produtividade é de 25 a 30 t/ha, com teor de açúcares de 15 a 17° Brix.
(GIOVANNINI, 2005).
Niágara Rosada: Uva de mesa comum, brota de 25/08 a 06/09 e
amadurece de 22/01 a 05/02. Sua produtividade é de 25 a 30 t/ha, com teor de
açúcares de 15 a 17° Brix. É resistente à antracnose, ao míldio e às podridões
(GIOVANNINI, 2005).
A seguir são descritas algumas cultivares de Vitis vInífera L.de interesse:
As cultivares Vitis vinífera L. são as mais importantes no mundo,
responsáveis pela maior parte da produção de vinhos, uvas de mesa e passa.
No Brasil são chamadas de uvas finas e somente desta espécie pode-se obter
vinho fino, de acordo com legislação.
Cabernet Franc: Uva tinta, brota de 01/09 a 10/09 e amadurece de 10/02
a 20/02. Sua produtividade é de 18 a 23t/ha, com teor de açúcares de 06 a 08°
Brix e acidez total de 70 a 90 meq/L. É moderadamente sensível à antracnose,
sensível ao oídio e resistente ao míldio e às podridões (GIOVANNINI, 2005).
Cabernet Sauvignon: Uva tinta, brota de 05/09 a 15/09 e amadurece de
20/02 a 02/03. Sua produtividade é de 15 a 20t/ha, com teor de açúcares de 16
a 18° Brix e acidez total de 80 a 100 meq/L. É moderadamente sensível à
antracnose, sensível ao oídio, ao míldio e às podridões.
31
Merlot: Uva tinta, brota de 03/08 a 13/08 e amadurece de 10/02 a 20/02.
Sua produtividade é de 20 a 25t/ha, com teor de açúcares de 17 a 19° Brix e
acidez total de 90 a 110 meq/L. É sensível à antracnose, altamente sensível ao
míldio e resistente às podridões (GIOVANNINI, 2005).
Chardonnay: Uva branca aromática, brota de 10/08 a 20/08 e
amadurece de06/01 a 15/01. Sua produtividade é de 8 a 13t/ha, com teor de
açúcares de 15 a 17° Brix e acidez total de 80 a 100 meq/L. É resistente à
antracnose, sensível ao oídio e às podridões e moderadamente sensível ao
míldio (GIOVANNINI, 2005).
Gewürztraminer: Uva de película rosada geralmente vinificada em
branco, brota de 28/08 a 07/09 e amadurece de 20/01 a 30/01. Sua
produtividade é de 7 a 12 t/ha, com teor de açúcares de 16 a 18° Brix e acidez
total de 80 a 100 meq/L. É moderadamente sensível à antracnose e ao míldio,
sensível ao oídio e altamente sensível às podridões (GIOVANNINI, 2005).
Moscatos : Uva branca aromática, brota de 18/08 a 28/09 e amadurece
de 25/02 a 06/03. Sua produtividade é de 25 a 30 t/ha, com teor de açúcares
de 14 a 16° Brix e acidez total de 110 a 130 meq/L. É resistente à antracnose,
moderadamente sensível ao oídio, sensível ao míldio e altamente sensível às
podridões.
Malvasias: Uva branca aromática, brota de 04/09 a 14/09 e amadurece
de 18/02 a 28/02. Sua produtividade é de 13 a 18 t/ha, com teor de açúcares
de 16 a 18° Brix e acidez total de 100 a 110 meq/L. É moderadamente sensível
à antracnose, ao míldio e às podridões, sendo sensível ao oídio (GIOVANNINI,
2005).
Itália (coloração branca) e suas mutações somáticas ‘Rubi’ (película
rosada), ‘Benitaka’ (de coloração rosa intensa), ‘Brasil’ (coloração rosada
escura à tinta) e ‘Redimeire’ (coloração rosada): Uva de mesa, brota de 01/09 a
25/09 e amadurece de 05/02 a 25/02. Sua produtividade pode atingir 40 t/ha,
com teor de açúcares de 16 a 18° Brix. É moderadamente sensível à
32
antracnose e ao oídio e sensível ao míldio e às podridões (GIOVANNINI,
2005).
3.6
Da Poda
A poda de formação é feita visando fornecer o desenvolvimento do
tronco e dos braços primários da planta. É realizada nos anos anteriores à
entrada em produção das videiras. Consiste na eliminação de todos os cachos
de uva que porventura existam, bem como todos os brotos em excesso.
A poda de produção é feita quando a planta já atingiu um determinado
desenvolvimento e iniciou a produção de frutos. É realizada anualmente, no
inverno, antes que as plantas tenham iniciado sua brotação.
A poda verde é uma operação realizada durante o ciclo vegetativo, no
tecido em estado herbáceo. Essa poda consiste na eliminação total ou parcial
de gemas, brotos, folhas, flores, cachos e bagas da videira.
O objetivo
principal é equilibrar o desenvolvimento vegetativo e a produção visando a
melhoria da qualidade da uva.
3.7
Da Enxertia
A enxertia é empregada sempre que se tenha alguma característica de
solo que a torne necessária. Isto pode ser a presença de filoxera (caso mais
comum), a presença de nematóides, de salinidade, ou condições físicas e/ou
químicas especiais de solo.
A enxertia de campo pode ser feita no viveiro onde se enraízam os
cavalos (porta-enxertos), ou no local definitivo. Usualmente é usada a
garfagem de fenda simples.
A enxertia de mesa envolve, para a formação do calo de enxertia, o
processo de forçagem em câmara quente. É um processo que permite ganhar
tempo, mas requer algumas técnicas que são, normalmente, empregadas
somente por viveiristas profissionais.
33
A enxertia verde é feita por garfagem herbácea, durante a primavera
quando os brotos estão em pleno desenvolvimento vegetativo. Devido à alta
atividade metabólica, a percentagem de pegamento dos enxertos é alta
(GIOVANNINI, 2005).
3.8
Dos Sistemas de condução
O sistema latada é conhecido também por pérgola ou caramanchão.
Esse sistema é muito difundido no Brasil e proporciona altas produções,
permitindo grande expansão vegetativa à planta. É um sistema cuja
desvantagem está no alto custo de implantação, na dificuldade de
mecanização de algumas operações e na exposição do viticultor aos produtos
fitossanitários.
No sistema espaldeira a ramagem fica exposta de forma vertical. A
construção desse sistema é semelhante à uma cerca e mais simples que a
latada. Ele apresenta a desvantagem da baixa produtividade, entretanto a
graduação de açúcares da uva é maior que a produzida em sistema latada.
A lira aberta é um sistema desenvolvido na França, que visa manter ou
aumentar a produtividade dos vinhedos, obtendo, apesar disso, uva de melhor
qualidade. As videiras são conduzidas em dois planos inclinados a fim de
captarem maior quantidade de energia solar. A desvantagem de tal sistema
está no alto custo de sua implantação e na necessidade de mão-de-obra
especializada.
3.9
Das Moléstias
A antracnose é uma moléstia causada pelo fungo Elsinoë ampelina (de
Bary) Shear, originário da Europa, conhecida também por “varola” na região
colonial italiana. O fungo se desenvolve em temperatura de 2°C a 32°C, sendo
os ataques mais severos com temperaturas entre 15°C e 18°C, associados a
alta umidade relativa do ar. Os sintomas inicias da moléstia são pontos de
aspecto clorótico, evoluindo para necrose de tecido. Os produtos indicados
34
para o controle são: Captan, Chlorothlonil, Difenoconazole, Dihianon, Folpet,
Imibenconazole e Thiophanate, além de misturas entre eles.
A escoriose é causada pelo fungo Phomopsis viticola. Este se
desenvolve bem em temperaturas moderadas e umidade acima de 98%. Os
sintomas podem ser observados em toda parte aérea da planta, são manchas
marrom-escuras com as bordas amareladas. Os produtos eficazes para o
controle são: Dithianon, Enxofre e Mancozeb.
O oídio é causado pelo fungo Uncinula necator. Na região colonial
italiana é também chamado de “mufetta”.
Seus poros germinam em
temperaturas entre 6°C e 32°C e clima seco, embora possa se desenvolver
em alta umidade relativa do ar.
Aparecem manchas brancas e as folhas
dobram as margens para cima e, aos poucos vão ganhando a coloração
marrom ou amarelada. O enxofre previne a infestação. Para o controle da
moléstia recomenda-se o uso de fungicidas a base de Difenoconazole,
Fenarimol, Pyrazophos, Triadimefol e Tebuconazole.
A podridão ácida é causada por uma associação de microrganismos e
insetos. Caracteriza-se por um odor ácido de uva avinagrada. Esta só aparece
em frutos danificados. Não há controle químico eficiente, devendo ser tomadas
medidas preventivas, como o controle de insetos e pássaros.
A podridão amarga é causada pelo fungo Greeneria uvicola. O sintoma
mais característico é o escurecimento da baga e, com lesões úmidas que se
desenvolvem nos frutos maduros. Os fungicidas usados para o controle de
moléstias comuns, são efetivos para o controle desta podridão: Captan,
Dithianon, Folpet e Mancozeb.
A podridão da uva madura é causada pelo fungo Glomerella cingulata.
O sintoma primário é o apodrecimento dos frutos maduros. Há uma formação
de massa rosada mucilaginosa, que são os conídios do fungo. A remoção dos
frutos mumificados da safra anterior reduz a fonte de inóculo. O controle
químico é feito com fungicidas a base de Captan, Folpet, Mancozeb e
Tubeconazole.
35
A podridão cinzenta é causada pelo fungo Botrytis cinerea. É
caracterizada por manchas circulares de cor lilás nas bagas e, se a umidade
persistir o fungo toma a baga madura e ganha um aspecto de mofo
acinzentado. Ocorrendo o período de vindima em tempo chuvoso à perda pode
ser total. Os produtos químicos utilizados são: Folpet, Iprodione, Procymidone,
Pyrimathanil e Thiophanate Methyl.
A ferrugem se caracteriza pela manifestação do fungo Phakopsora
euvitis, ocorrendo com maior freqüência em climas tropicias. O fungo ataca as
folhas, onde surgem pontuações pulvurulentas amarelo-alaranjadas, com
manchas necróticas na fase superior da folha. Não há controle químico
específico.
A fusariose é causada pelo fungo Fusarium oxysporum. Este afeta as
raízes da planta, causando lesões. O fungo é capaz de sobreviver em solos
secos, assim como também resiste aos solos úmidos e às temperaturas altas
de baixa umidade relativa. O controle deve ser preventivo: evitar a implantação
de vinhedos em local onde tenha sido constatada a presença desta moléstia,
usar mudas sadias, evitar solos maldrenados e evitar ferimentos.
O míldio ou peronóspora é causado pelo fungo Plasmopara vilticola.
Também chamado de muffa. Há presença de mofo branco. Para o controle,
Calda
Boralesa,
Azoxystrobin,
Benalaxyl,
Captan,
Dithianon,
Folpet,
Fenamidone e Mancozeb.
A pérola-da-terra é uma cochonilha subterrânea que infesta raiz de
videira. Vive, também, em outras plantas. Nutre-se da seiva e paralelamente
injeta uma toxina que diminui o vigor da planta, que vai definhando com o
passar do tempo, apresentando folhas com coloração amarelada entre as
nervuras, com os bordos voltados para baixo. Está em fase de teste um
inseticida específico que mostrou controle eficaz da praga. Recomenda-se o
uso de porta-enxerto resistente.
36
3.10
Da qualidade da uva
A qualidade da uva depende dos teores e da proporção dos
componentes da mesma. Os principais componentes da uva são: água,
açúcares,
ácidos
orgânicos,
polifenóis
(taninos
e
antocianinas),
polissacarídeos, minerais e aromas.
Qualidade da uva pode ser definida como aqueles atributos da uva, que
tornam atrativa ao paladar a fruta fresca ou para bebê-la como vinho. A
concentração absoluta de açúcares e ácidos assim como a relação entre estes,
desempenham um papel importante no sabor das uvas. Após a fermentação o
açúcar é convertido a álcool. Isso determina se o vinho será magro e aguado
ou capitoso e alcoólico. A acidez excessiva na uva produz vinhos ácidos, mas
a sua falta produz vinhos chatos e de sabor desinteressante. A acidez também
está envolvida na inibição de oxidação e deteriorações, e é um fator favorável
na estabilidade dos vinhos.
Os fenóis determinam a cor em quase todos os vinhos e são os
principais fatores no sabor dos vinhos tintos. Contribuem com um desejável
sabor amargo e com adstringência ao vinho. São extraídos principalmente das
sementes, mas também da película e da polpa.
Os aminoácidos servem como importantes fontes de nitrogênio para o
desenvolvimento das leveduras durante a fermentação.
Os compostos aromáticos, que são importantes para o sabor do vinho,
provêm tanto da uva como da fermentação. Isoladamente nenhum composto é
responsável pelo sabor característico (GIOVANNINI, 2004).
Para a elaboração de um vinho de qualidade a uva tem que ser fresca
(colhida na temperatura adequada e conduzida imediatamente ao lagar), sã
(isenta de podridões e limpa) e madura.
3.11
Da Colheita e da vinificação
Deve ser feita de maneira cuidadosa a fim de obter bagas sem ruptura e
sem fermentação prematura. Sobre a película existe uma população
37
microbiana de bactérias acéticas, leveduras e mofos que em caso de ruptura
da baga a infectarão, produzindo etanol, ácido acético e outros compostos que
contribuirão para a queda da qualidade do produto final. A colheita deve ser
feita, preferencialmente, cedo da manhã, quando a uva ainda está fria. No
momento da colheita, também deve ser feita a seleção dos cachos e bagas,
separando aqueles em más condições. É indicada a colheita somente das
uvas que sofreram completo amadurecimento.
Transporte da uva: As caixas devem ser plásticas de até 20Kg, com
perfurações facilitando a saída da água e do possível mosto.
Determinação do °Brix: Os cachos devem ser escolhidos aleatoriamente.
Esmagam-se os cachos e com o mostímetro se verifica a graduação de açúcar
para mais tarde fazer a correção do açúcar do mosto (chaptalização).
Desengaçamento: Separação dos engaços. Recomendado para a
obtenção de vinhos de qualidade, tanto brancos quanto tintos.
Ruptura da baga: Coloca o mosto em condições de fermentar. Libera
maior quantidade de mosto e favorece a maceração dos fragmentos da
película no mosto na vinificação em tinto.
A esmagadeira mais comum é a de cilindros. Existem dois tipos: um que
retira o engaço antes de esmagar a uva (ideal) e, outro que esmaga e depois
tira o engaço.
Na vinificação em tinto a uva é esmagada e enviada para os tanques de
fermentação. Na vinificação em branco a uva é enviada para os esgotadores
ou para a prensa.
Esgotador é um recipiente que possui uma malha perfurada inclinada,
que deixa fluir o mosto e, no fundo, retém as partes sólidas. É realizado pelo
simples repouso da massa. Pode ser de aço inoxidável ou plástico.
Uvas brancas em ótimo estado de sanidade podem ser colocadas direto
na prensa – com engaço – para a extração do mosto. Existem vários tipos de
prensa: vertical com rosca sem fim hidráulico (pressão de baixo para cima) ou
com torno (pressão de cima para baixo); horizontais hidráulicas (pressão por
38
dispositivos
hidráulicos)
ou
eletrônicas
(com
duas
portas
circulares);
pneumática (uma bolsa - inflável - comprime contra uma jaula cilíndrica) e de
ação contínua (apresenta um parafuso “sem-fim” helicoidal que pressiona o
bagaço contra uma comporta).
O Dióxido de Enxofre - SO2 - tem efeito antioxidante e antimicrobiano.
Também dissolve os compostos fenólicos facilitando a extração destes
compostos, em especial, as antocianinas, responsáveis pela coloração do
vinho. Comercialmente encontra-se em forma de metabissulfito de potássio,
em pó. Este deve ser dissolvido em água antes do uso. Tem rendimento de
50g/100g de SO2. A dosagem depende da sanidade da uva. Quando sadia,
utiliza-se de 30 a 60 mg/L, em caso de uva com podridão, usa-se de 70 a 100
mg/L.
Após a extração do mosto da uva branca é indispensável que se faça a
clarificação do mosto, pois este se encontra turvo devido à presença de
suspensões, como fragmentos de película, engaço, polpa, terra, leveduras
selvagens e dispersões coloidais, como polissacarídeos, proteínas e polifenóis.
O processo mais comum é por decantação, onde a separação é feita
naturalmente pela gravidade. Este exige altas doses de dióxido de enxofre
(SO2). Outra forma é o uso de agentes clarificantes, o que exige o emprego de
filtros.
A correção do açúcar do mosto é feita pela prática de adição de
sacarose, chamada de chaptalização. A legislação brasileira permite a adição
de sacarose para aumentar até 3% em álcool. A dissolução do açúcar não
deve ser feita diretamente no mosto dentro do tanque, pois se depositará no
fundo. O ideal seria dissolver o açúcar em água aquecida a 40°C para que
houvesse a quebra das moléculas de sacarose. Mas como não é desejável a
adição de água, dissolve-se em um pouco de mosto reservado em uma
mastela (recipiente semelhante a uma panela grande com capacidade variada,
de 25 a 100 litros). A chaptalização deve ser feita no início da fase tumultuosa,
homogeneizando em seguida. A literatura afirma que 17g de sacarose
39
corresponderão a 1°GL, mas na prática, se levarmos em consideração que o
açúcar que normalmente é usado (cristal) tem certo grau de impureza, se
admite 18g para 1° GL.
Para o bom andamento da fermentação são utilizadas leveduras
selecionadas da espécie Saccharomyces cerevisiae. A dosagem é indicada na
embalagem, geralmente varia de 20 a 25 g para cada 100 L de mosto. A
levedura deve ser hidratada em água aquecida a, no máximo, 40°C. Após estar
totalmente dissolvida (a levedura vem em forma de grãos pequeninos),
acrescenta-se mosto para alimentá-las e acostumá-las a temperatura do
mosto. O pé-de-cuba é adicionado somente depois de constatar que as
leveduras estão se multiplicando (aparece em suspensão uma espécie de
espuma).
Acabada a fermentação alcoólica no vinho branco é feito um
resfriamento e a trasfega, que consiste em trocar de tanque para a separação
das possíveis borras. O vinho branco é um vinho para consumo jovem e por
isso tem necessidade de envelhecimento.
Na vinificação em tinto, as uvas esmagadas são fermentadas com o
mosto, por um período que depende da sanidade da uva, quanto mais sadia,
mais tempo poderá o mosto ficar em contato com a casca. Depois o bagaço é
retirado e prensado. Esta separação é chamada de descuba. Depois o vinho
entra em processo de fermentação malolática, conduzida por bactérias lácticas,
que convertem o ácido málico (agressivo ao paladar) em ácido láctico (menos
agressivo que o primeiro) e CO2.
Terminada a fermentação malolática, que é percebida quando não há
mais liberação de gás carbônico (CO2), é hora de fazer a estabilização
tartárica. Esta pode ser feita com o auxilio de um processo de resfriamento. O
resfriamento no vinho proporciona a cristalização do bitartarato de potássio,
também chamado de “grupula”, e a sua deposição no fundo. O frio do inverno é
um ótimo agente estabilizador. Faz-se a trasfega e, se o vinho tiver estrutura,
40
pode ser armazenado por longo tempo em tanques de inóx. Em geral os vinhos
tintos brasileiros devem ser consumidos no seu segundo ano.
A temperatura de vinificação ideal para os brancos é de no máximo
15°C, em função da sua sensibilidade oxidativa. Os tintos não são muito
exigentes, podendo chegar a 30° C durante o processo de sua elaboração, em
função da liberação de energia.
Para a extração de cor, ganho de corpo e aroma, no vinho tinto, faz-se
remontagens, que consistem em macerar o bagaço por várias vezes. A
quantidade de remontagens por dia é determinada pela qualidade da uva.
Quanto melhor a uva, mais vezes pode-se fazer esta maceração.
O envelhecimento do vinho tinto fino bem estruturado pode ser feito em
barricas de carvalho, o que dará um aroma amadeirado com toques de café e
baunilha. O custo das barricas é muito elevado, tornando o seu uso inviável
para pequenas cantinas. A solução seria a utilização de chips de carvalho, que
são pedacinhos da madeira. Estes podem ser deixados em contato com o
vinho durante o tempo desejado. O ideal é acompanhar fazendo a degustação
para determinar o momento de se retirar os chips.
O vinho, assim, é a bebida obtida pela fermentação alcoólica do mosto
simples de uva sã, fresca e madura. Vinhos finos ou nobres são provenientes
de uvas Vitis vinifera L. Eles apresentam um completo e harmônico conjunto de
qualidades organolépticas próprias. Vinho comum ou de consumo corrente é o
vinho que não é fino nem especial obtido de cultivares americanas ou híbridas.
O vinho é sensível às impurezas e contaminações do ponto de vista
sensorial e microbiológico. Absorve com facilidade aromas e sabores dos
recipientes. O mais indicado é que seja utilizado, tanto para a fermentação
quanto para a estocagem, tanques de inóx. Na impossibilidade destes, podese utilizar barricas de madeira com revestimento de parafina e lavagem com
solução de metabissulfito.
41
Devido a essa sensibilidade, também deve ser feita a limpeza e a
desinfecção de toda a cantina antes do inicio das vinificações, com detergentes
à base de cloro.
42
4
A VITICULTURA COMO ALTERNATIVA DE
DESENVOLVIMENTO PARA SANTO AUGUSTO
Os colonizadores de Santo Augusto, e da Região, que se fixaram a partir
da década de 1940, entre eles, italianos, alemães, negros e outros, trouxeram
na sua bagagem cultural e étnica costumes que passaram de geração para
geração.
Os italianos trouxeram a videira, produziram derivados, como sucos,
doces, vinho e licores. A tecnologia adotada na época era rudimentar, familiar,
passada de geração para geração. Os pomares eram na maioria domésticos.
Não
havia
pomares
comerciais
implantados.
A
produção
de
vinho,
principalmente, tinha baixa tecnologia em relação àquelas exigidas pelo
mercado nacional e consumidor.
A partir de um estudo de situação Emater (1998) verificou na Região a
baixa remuneração por área cultivada de soja, milho e trigo, o abandono das
culturas de subsistência e de produção de frutas. A transformação da
agricultura, através da “revolução verde”, produziu uma mudança no ambiente,
produziu o êxodo rural e o abandono de valores culturais, poluiu o ambiente,
degradou áreas de preservação permanente, poluiu rios, solo e ar, introduziu o
binômio trigo e soja e hoje a monocultura. Os agrotóxicos foram usados de
forma desenfreada e sem responsabilidade social. Muitos defensivos, como o
2.4 D, foram utilizados generalizadamente, e isso produziu efeito devastador
nos pomares de videiras. Os pomares foram aos poucos sendo abandonados.
43
Em 1992, inicia-se uma busca de recuperação da fruticultura,
incentivando-se os produtores interessados. Alguns poucos produtores
surgiram para iniciar a atividade, conscientes de que com a área pequena que
possuíam não sobreviveriam com produção de grãos. Na viticultura, surge o
produtor Claudio Valdir Vicentini, que adotou uma postura de observador. Na
sua propriedade foi instalado um pomar de observação das variedades de
mesa e para vinho, com o intuito de verificar seu desempenho na região, e
pomar comercial de 1,0 ha para que, economicamente pudesse demonstrar a
rentabilidade/ha. A propriedade também cultivou 1,0 ha de pêssego e 1,0 ha de
laranja.
Foram implantados em 2005 dois vinhedos para fins comerciais. Um de
propriedade do Senhor Paulo Antonow e outro de propriedade do Senhor
Aparício Domingues Mafalda. Os vinhedos são de 0,5 hectares. As variedades
plantadas foram Isalel, Bordo, Niágaras e Cabernet Sauvignon.
Outros vinhedos menores estão em fase de estudo.
4.1
Ações Trabalhadas pela Extensão:
O papel da Extensão Rural exercida pela Emater/Ascar Santo Augusto
foi explanar os prós e contras das novas culturas, incentivar os produtores
interessados atravez da disponibilização de recursos financeiros junto a
entidades bancarias para a implantação dos pomares, capacitação dos
produtores e acesso a informações sobre as culturas, além de garantir
mercado para os produtos.
O projeto de vitivinicultura teve como mentalizador o Sr. Cláudio Valdir
Vicentini com o auxilio da Emater/ Ascar Santo Augusto e Regional de Ijuí.
A seguir, algumas das ações da Emater/Ascar:
44
a) Unidade de Observação:
A escolha de um produtor, dedicado, esforçado, disposto a participar de
capacitações, em busca de novos aprendizados, foi importante para esta
atividade. Foi escolhido o Sr. Claudio Valdir Vicentini. Na Unidade de
Observação foram introduzidas a maioria das variedades pesquisadas pela
Embrapa Uva e Vinho, para mesa e viníferas, com objetivo de observar o
comportamento, adaptação, produção e resistência as doenças. Este trabalho
seria um norteador da recomendação para a região, quanto ao plantio,
cuidados, variedades adaptadas, rendimentos e período de podas. Também,
serviria como unidade para realizar Demonstração de Métodos- DM, através de
dias de campo e, aos poucos, fazer a discussão da viabilidade, da sua
importância, dos fatores limitadores da região, das potencialidades e das boas
práticas de produção.
b)Cursos de Capacitação:
Foram realizados cursos teórico-práticos em julho de 2005, coordenado
pelo
Engenheiro
Agrônomo
e
Assistente
Técnico
Regional
da
EMATER/ASCAR Regional de Ijuí Gilberto Pozzobon, e em outubro de 2005,
coordenado pelo Engenheiro Agrônomo Gilberto Bortolini no CETREB – Centro
de Treinamento de Bom Progresso, tendo como público alvo, técnicos e
produtores, abordando a escolha do terreno, uso de barreira vegetal (quebravento), adubação e calagem, controle de formigas, uso de porta-enxerto,
enxertia, enxertia verde, podas de formação e de frutificação, identificação
econtrole de moléstias e pragas.
c)Excursões:
Técnicos e produtores realizaram excursões para as regiões produtoras
do Estado, com o objetivo de visualizar, trocar experiências, aprender, observar
e contatar com mercado. Tais realizações se deram, em setembro de 1996 em
viagem para Pinto Bandeira; em dezembro de 1999 ao Vale dos Vinhedos e a
45
Embrapa Uva e Vinho de Bento Gonçalves, tendo o acompanhamento técnico
dos Engenheiros Agrônomos responsáveis pela EMATER/ASCAR de Santo
Augusto, Jandir Luiz Pedroni e Neuri Frozza. Em novembro de 2000 foram
visitadas as cidades de Iraí e Sarandi e, em junho de 2004, as visitas foram
realizadas às cidades de Antônio Prado e Farroupilha com o acompanhamento
do Técnico Agrícola da EMATER/RS-ASCAR de Santo Augusto Sr. Romeu
Rohde.
d)Dias de Campo:
Foram realizados dias de campo, ocasião de demonstração de práticas
importantes como tratamento com caldas, oportunidades em que se produziu a
calda bordalesa e sulfocálcica, poda seca e poda verde.
Estes encontros para troca de experiências ocorreram na propriedade do
Sr. Claudio Valdir Vicentini em abril e novembro de 2002, janeiro de 2003 e
agosto de 2004, sob a coordenação do Técnico Agrícola da EMATER/ASCAR
Santo Augusto, Sr. Romeu Rohde e do anfitrião.
e)Formação de Comitê Municipal de Fruticultura:
Técnicos, produtores e instituições municipais reuniram-se com o
objetivo de discutir os problemas, apontar soluções, integrar o grupo de
produtores para, a partir do envolvimento grupal, gerar o desenvolvimento local
e regional.
O Comitê reúne-se a cada dois meses e ou sempre que necessitar tomar
decisões, discutir assuntos técnicos, da produção, da comercialização e da
fabricação de vinhos, sucos, derivados da uva e de outras frutas.
f) Implantação de vinhedos:
Os produtores foram incentivados para implantarem novos vinhedos
através da busca de recursos de investimentos, com projetos técnicos
elaborados para ser utilizada a melhor tecnologia de plantio como o uso de
46
correção e conservação do solo, uso de quebra-ventos, de porta-enxertos de
qualidade e de variedades viníferas, controle de pragas e moléstias, melhor
sistema de condução e adequados tratos culturais, com a coordenação do ATR
de Ijuí, Eng° Agrônomo Gilberto Pozzobon e o Técnico Romeu Rohde, com o
apoio prático do vitivinicultor Claudio Valdir Vicentini e da então estagiária da
EMATER/ASCAR Santo Augusto a acadêmica do Curso Superior de
Tecnologia em Viticultura e Enologia e também autora desta obra.
g) Feiras:
Com o comitê Municipal em plena atividade, surge a necessidade de
comercializar
frutas
e
derivados,
organiza-se
a
Feira
Municipal
de
Hortifrutigranjeiros, que inicia suas atividades no ano de 1993. Hoje, 30
agricultores produtores participam da feira dividida em dois grupos fornecendo
frutas e verduras de qualidade de sua produção.
h) Organização de Jantares:
Incentivar o resgate das culturas locais foi o objetivo principal de reunir
comunidades, discutir seus valores históricos e realizar ações comunitárias
para valorizar o saber local. Foram organizados em localidades do interior do
município o Jantar Italiano, Jantar do Peixe e o Jantar da Colônia, todos
regados a vinho produzidos dentro do município de Santo Augusto.
i) Elaboração de Vinho:
A base do saber foi obtida junto a Embrapa Uva e Vinho de Bento
Gonçalves, de vitivinicultores da região do Vale dos Vinhedos, de regiões
vizinhas e da literaturas. Foram, entretanto, os anos de observação do
comportamento tanto da uva quanto do vinho os que mais ensinaram e acabou
por criar uma maneira diferenciada de se elaborar vinhos, sucos e derivados.
47
j) Fundação Vale do Rio Turvo Para o Desenvolvimento Sustentável FUNDATURVO/DS:
É uma organização voltada para a promoção do desenvolvimento
regional, e que trabalha com o objetivo de monitorar a região para usar
instrumentos e tecnologias inovadoras, buscando soluções regionais para a
educação profissional, a fruticultura e o desenvolvimento social. Através dela
foram assinados vários convênios com instituições como: Ministério da
Educação e Cultura - MEC, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério
de Integração Nacional, Embrapa, Emater, Fundação Estadual de Pesquisa
Agropecuária - Fepagro, Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul - Unijuí, Universidade Federal de Pelotas - Ufpel e outros, para
buscar a integração entre a pesquisa e o campo, bem como recursos
econômicos
para
realizar
o
desenvolvimento
com
melhor
educação,
conhecimento, mais emprego, renda e inclusão social com melhor qualidade
de vida para a população.
l) Palestras:
A Emater Regional, com sede em Ijuí, solicitada, promoveu duas
palestras sobre vinificação, em processo artesanal, nos dias 04 e 05 de Janeiro
de 2006, uma na cidade de Boa Vista do Cadeado e outra na cidade de
Pejuçara. Foi realizada explanação abrangendo desde o plantio da videira até
a estocagem do vinho, para um melhor entendimento dos agricultores
produtores de uva e eleboradores de vinho e seus derivados.
Essas palestras foram coordenadas pela então Assessora Técnica da
Fundaturva/DS e autora desta obra, com o apoio do Eng° Agrônomo ATR de
Agroindústria da EMATER/ASCAR Regional de Ijuí, Neimar Perin.
48
4.2
Dos Resultados do Projeto de Extensão Rural, Realizados no
Escritório da EMATER de Santo Augusto
Foram muitos os anos de luta até o primeiro cacho de uva de um pomar
comercial ser colhido em solo santoaugustense. No princípio havia uma certa
rejeição e, por que não dizer, uma certa desconfiança por parte de alguns
agricultores. A grande maioria cresceu plantando e colhendo soja. Não era de
fácil entendimento a troca de uma cultura por outra de práticas e manejos
totalmente diferentes.
A fruticultura “foi vista com outros olhos” a partir do momento em que o
Sr Claudio Valdir Vicentini pôde desligar-se totalmente da cultura da soja,
passando a sobreviver comercializando pêssego, laranja, uva e vinho.
Hoje, em Santo Augusto, são 7,3 hectares de vinhedo de propriedade da
Agropecuária Irmãos Polo, 0,5 hectare de propriedade de Paulo Antonow, 0,5
hectare de propriedade de Aparício Domingues Mafalda e 1,0 hectare de
propriedade de Claudio Valdir Vicentini, que também é produtor de mudas, a
partir de material obtido da Embrapa Uva e Vinho de Bento Gonçalves e
reproduzido em pequena escala em estufa, e responsável pela enxertia dos
vinhedos implantados.
49
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A mesma evolução que trouxe o progresso, trouxe consigo o desgaste
da agricultura familiar. São tantas as tecnologias e tantas são as famílias que
abandonam o campo para buscar na cidade o que a ‘’terra’’ já não pode dar
mais.Uma realidade cruel que encontramos numa região que por “produzir“
muitas riquezas, foi batizada de Região Celeiro do estado do Rio Grande do
Sul.
A viticultura nasceu como alternativa para o desenvolvimento do
município a partir do momento em que o projeto piloto de um agricultor obteve
ótimos resultados.
Embora a viticultura seja uma cultura de alto custo de implantação e de
retorno não imediato, o que exige muita paciência e muita dedicação, bem ao
contrário da soja, seu retorno é certo. A uva pode ser comercializada “in
natura”, em forma de suco, vinagre vinho ou geléia, enquanto a soja não
permite ao pequeno produtor a agregação de valores.
Os resultados até agora apurados demonstram que os bons rendimentos
proporcionados pela vitivinicultura são suficientes para considerá-la uma
alternativa para o pequeno produtor que trabalha com mão-de-obra familiar.
50
6
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Brasília: Codevasf, 1998.
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do Estado do Rio Grande do Sul. Recife, 1973.
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Alegre: EMATER/RS, 1994.
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(Doutorado) – Programa de Doctorado en Agroecología, Campesinado e
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54
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Augusto: COMUDESA, 2004.
CONSELHOS
MUNICIPAIS
DE
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DA
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EMATER, 1996.
EMATER. Rio Grande do Sul. Diretrizes para ação de desenvolvimento rural na
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FAGHERAZZI, O. J. (org). Extensão rural. (Apostila do Curso Acadêmico de
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56
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Paula Cristiane Vicentini